Ficha técnica + Sinopse - Deus e o Diabo na terra do Sol

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Ficha Técnica

Gênero: drama

Tempo de duração: 110 min.

Ano de lançamento (Brasil): 1964

Direção: Glauber Rocha

O filme de Glauber Rocha trás com grande complexidade assuntos como a miséria e o

fanatismo religioso, ambos assunto que permeiam a sociedade nordestina.

Deus e o Diabo na terra do sol foi filmado entre 1963-64, um momento de verdadeira

crise e reflexão social. A história nos é contada de uma forma muito expressiva. É uma

ótima opção para se mostrar/exemplificar como a miséria combinada com o abandono

leva as pessoas a extremos.

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O filme conta a saga de um jovem casal, Manuel e Rosa. Manuel, sertanejo, após uma

discussão com o coronel da região na hora da partilha do gado passa a ser perseguido,

por esse motivo foge com sua esposa. A partir desse momento será a história passa a ser

contada com personagens fictícios mas que em alguns casos remetem a personagens de

fundo histórico. Digo isso a respeito da alusão feita à comunidade religiosa de Canudos

que é tratada no filme com a presença de um “novo Antônio Conselheiro” o beato

Sebastião e de um cangaceiro – Corisco – que muito lembra Lampião.

Os elementos constituintes do povo sertanejo estão claramente representados: a extrema

religiosidade, a miséria, o latifúndio, o coronelismo e o banditismo social. A

ingenuidade do sertanejo também surge com os momentos em que Manuel sempre tem

esperança que no futuro ele melhorará de vida e uma sensação de isolamento, pois não

existe por parte de Manuel uma consciência de que o mesmo ocorre com outros

sertanejos.

Podemos observar no filme que os protagonistas estão em uma “espécie de transe”

durante quase toda a narrativa, depois de fugirem da fazenda, Rosa e Manuel irão

transitar durante a história como pessoas que sofrem com esse mundo e não acham seu

lugar. O final deixa-nos ainda mais perplexos por não apresentar uma conclusão exata.

O filme nos apresenta diversas críticas, das quais se destacam, entre outras, a cena da

partilha do gado entre o vaqueiro Manuel e o coronel Morais, interessantíssima, pois é

possível ver a tensão existente entre as classes, com o mais fraco sofrendo as penas pelo

gado ter morrido devido ao clima árido. Outro detalhe interessante é o ataque repentino

do coronel sobre o vaqueiro, é uma cena em que fica bem claro a posição em que se

considera estar o coronel, ele trata Manuel como se fosse uma de suas propriedades,

como se fosse o próprio bicho que pode receber punições por contrariá-lo e o desfecho

surpreende, pois em um ato inusitado o vaqueiro reage àquela violência e por ter se

levantado contra a classe opressora terá que pagar com a morte da própria mãe e depois

com a interminável fuga.

O filme mostra também uma crítica ao fanatismo calcado em dogmas quando fala sobre

a comunidade religiosa. Cabe destacar as cenas que representam Monte Santo. Elas

estão embriagadas de um sentimento complexo e confuso. Na narrativa também está

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presente o momento do massacre de Canudos, os protagonistas são salvos para

registrarem o fato e servirem como testemunha dessa crueldade.

O título Deus e o Diabo na terra do Sol nos trás novos questionamentos. Nessa

complexa obra seria possível classificar quem é o mal e quem é o bem? Na terra do Sol,

o sol escaldante que não deixa o verde crescer, fica a dúvida de quem estaria do lado de

Deus nesse vai e vem de emoções, ora o fanático religioso que se mostra cruel, ora o

cangaceiro justiceiro que quer trazer a justiça ao sertão, fazer a revolução. O fim do

filme também deixa muitas dúvidas. A fala “um dia o mar se tornará sertão e o sertão se

tornará mar” se perde e se mistura com a fuga de Manuel e Rosa essa que se perde

durante a corrida deixando a dúvida “Será que ele a abandonou? Por quê?”, “Será que

alcançaram o mar?”. Dúvidas que não são respondidas, mas só pelo fato de suscitarem

um questionamento já se tornam interessante.