Fichamento LA BOÉTIE - Discurso Sobre a Servidão Voluntária

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Fichamento de La Boétie, E. Discurso da Servidão Voluntária . São Paulo, 1987. Editora Brasiliense. 4ª edição. p.1 !Por hora "ostaria apenas de entender como pode ser #ue tant $ur"os, tantas cidades, tantas naç%es suportam &s 'e(es um tirano poderio #ue eles lhe dão, #ue não tem o poder de pre*udi 'ontade de suport+ lo, #ue não poderia a(er lhes mal al"um senão toler+ lo a contradi(- lo. /oisa e0traordin+ria, por certo e por2 de'e mais lastimar se do #ue espantar se ao 'er um milhão de homens ser'ir misera'elmente, com o pescoço so$ o *u"o, não o$ri"ados por uma o al"um modo 3ao #ue parece encantados e en eitiçados apenas pelo n #uem não de'em temer o poderio pois ele 2 s), nem amar as #ualidad desumano e ero( para com eles.5 p.16 !Então, #ue monstro de ' cio 2 esse #ue ainda não merece o t não encontra um nome eio o $astante, #ue a nature(a ne"a se ter recusa nomear 5 p.14 ! o entanto, não 2 preciso com$ater esse :nico tirano, não 2 se anula por si mesmo, contanto #ue o pa s não consinta a sua ser tirar lhe coisa al"uma, e sim nada lhe dar 3... 5 !Portanto são os pr)prios po'os #ue se dei0am, ou melhor, se fazem dominar , pois cessando de ser'ir estariam #uites 2 o po'o #ue se su*eit tendo a escolha entre ser ser'o ou ser li're, a$andona sua ran#ui consente seu mal ; melhor di(endo, persegue-o. 5 p.1< !Para ad#uirir o $em #ue #uerem, os audaciosos não temem o p não re*eitam a dor os co'ardes e em$otados não sa$em suportar o $em, limitam se a aspir+ los, e a 'irtude de sua pretensão lhes 2 por nature(a ica lhes o dese*o de o$t- los. Esse dese*o, essa 'o as coisas #ue, uma 'e( ad#uiridas, os tornariam eli(es e contente sensatos e aos indiscretos, aos cora*osos e aos co'ardes.5 =nstauração da alta. > homem despenca de sua li$ inculcação de um dese*o de su$missão #ue torna os homens co'ardes, ser pleno , e torna se dese*o daquilo que lhe falta ... p.1? !Por con*ectura procuremos então, se pudermos achar, como enraizou-se tão antes essa o$stinada 'ontade de ser'ir #ue a"ora parece #ue o pr)prio am tão natural.5 p.17 !... ; não se de'e du'idar de #ue se*amos todos naturalmente livres , pois somos todos companheiros e não pode cair no entendimento de nin"u2m #u posto al"um em ser'idão, tendo nos posto todos em companhia.5

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Fichamento do Discurso sobre a servidão voluntária, do filósofo Etienne de La Boétie.

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Fichamento de La Botie, E. Discurso da Servido Voluntria. So Paulo, 1987. Editora Brasiliense. 4 edio.p.12 Por hora gostaria apenas de entender como pode ser que tantos homens, tantos burgos, tantas cidades, tantas naes suportam s vezes um tirano s, que tem apenas o poderio que eles lhe do, que no tem o poder de prejudic-los seno enquanto tm vontade de suport-lo, que no poderia fazer-lhes mal algum seno quando preferem toler-lo a contradiz-lo. Coisa extraordinria, por certo; e porm to comum que se deve mais lastimar-se do que espantar-se ao ver um milho de homens servir miseravelmente, com o pescoo sob o jugo, no obrigados por uma fora maior, mas de algum modo (ao que parece) encantados e enfeitiados apenas pelo nome de um, de quem no devem temer o poderio pois ele s, nem amar as qualidades pois desumano e feroz para com eles.p.13 Ento, que monstro de vcio esse que ainda no merece o ttulo de covardia, que no encontra um nome feio o bastante, que a natureza nega-se ter feito, e a lngua se recusa nomear?p.14 No entanto, no preciso combater esse nico tirano, no preciso anul-lo; ele se anula por si mesmo, contanto que o pas no consinta a sua servido; no se deve tirar-lhe coisa alguma, e sim nada lhe dar (...) Portanto so os prprios povos que se deixam, ou melhor, se fazem dominar, pois cessando de servir estariam quites; o povo que se sujeita, que se degola, que, tendo a escolha entre ser servo ou ser livre, abandona sua franquia e aceita o jugo; que consente seu mal melhor dizendo, persegue-o.p.15 Para adquirir o bem que querem, os audaciosos no temem o perigo, os avisados no rejeitam a dor; os covardes e embotados no sabem suportar o mal nem recobrar o bem, limitam-se a aspir-los, e a virtude de sua pretenso lhes tirada por sua covardia; por natureza fica-lhes o desejo de obt-los. Esse desejo, essa vontade de aspirar a todas as coisas que, uma vez adquiridas, os tornariam felizes e contentes, comum aos sensatos e aos indiscretos, aos corajosos e aos covardes. Instaurao da falta. O homem despenca de sua liberdade na servido, inculcao de um desejo de submisso que torna os homens covardes, o desejo deixa de ser pleno, e torna-se desejo daquilo que lhe falta...p.16 Por conjectura procuremos ento, se pudermos achar, como enraizou-se to antes essa obstinada vontade de servir que agora parece que o prprio amor da liberdade no to natural.p.17 ... no se deve duvidar de que sejamos todos naturalmente livres, pois somos todos companheiros; e no pode cair no entendimento de ningum que a natureza tenha posto algum em servido, tendo-nos posto todos em companhia.p.18 ...em verdade de nada serve debater se a liberdade natural, pois no se pode manter algum em servido sem malfazer e nada h mais contrrio ao mundo que a injria, posto que a natureza completamente razovel. a fabricao, pelo corpo social, de um lugar de servido algo claramente mal e contrrio natureza, no sentido de que impor servido, submisso, obedincia, algo claramente restritivo, ao passo que o movimento natural das coisas (o movimento bom das coisas) se d no sentido da expanso, da ampliao...Os bichos valha-me Deus! se os homens no se fizerem de surdos, gritam-lhes: viva a liberdade!O cavalo, por exemplo, se serve, no por sua vontade, mas por nossa imposio. (mais exemplos de animais nessa pgina)p.19 ...se todas as coisas que tm sentimento, assim que os tm, sentem o mal da sujeio e procuram a liberdade; se os bichos sempre feitos para o servio do homem s conseguem acostumar-se a servir com o protesto de um desejo contrrio que mau encontro foi esse que pde desnaturar tanto o homem, o nico nascido de verdade para viver francamente, e faz-lo perder a lembrana de seu primeiro ser e o desejo de retom-lo?H trs tipos de tiranos......se porventura nascesse hoje alguma gente novinha, nem acostumada sujeio nem atrada pela liberdade, que de uma e de outra nem mesmo o nome soubesse, se lhe propusessem ser servos ou viver livres, com que leis concordaria? No h dvida de que prefeririam somente razo obedecer do que a um homem servir Ser livre = somente razo obedecer; o servo sempre servo de outro homem etc.p.20 Para que todos os homens deixem-se sujeitar preciso um dos dois: que sejam forados ou que sejam iludidos. coero, represso ou ludibriamento, trapaa, efeito ideolgico etc...p.20 incrvel como o povo, quando se sujeita, de repente cai no esquecimento da franquia tanto e to profundamente que no lhe possvel acordar para recobr-la, servindo to francamente e de to bom grado que ao consider-lo dir-se-ia que no perdeu sua liberdade e sim ganhou sua servido. efeito de inverso ou perverso fetichista: o tirano no me tira a liberdade, mas sim me concede benevolamente a possibilidade de viver enquanto servo, por isso sou grato a Ele, posto que Ele quem permite minha existncia e minha durao...

Os costumes nos ensinam a servir:Mas o costume, que por certo tem em todas as coisas um grande poder sobre ns, no possui em lugar nenhum virtude to grande quanto a seguinte: ensinar-nos a servir e como se diz de Mitridates que se habituou a tomar veneno para que aprendamos a engolir e no achar amarga a peonha da servido....maldita seja a natureza se se deve confessar que ela tem em ns menos poder do que o costume pois por melhor que seja, o natural se perde se no cultivado e que o alimento sempre nos conforma sua maneira. O costume nos tira a potncia antinatural da natureza de criar, livremente, realidades com o corpo e o pensamento, o costume exige dos corpos uma remisso a estados de corpo anteriores, e padres, tidos como normais etc... Pensar a tica pela imagem (explorada por Nietzsche) de uma dieta que molda os homens, suas sociabilidades e costumes...

p.23 ...em todas as regies, em todos os ares, amarga a sujeio e aprazvel ser livre...***Nunca se lamenta o que nunca se teve e o pesar s vem depois do prazer; e com o conhecimento do mal sempre est a lembrana da alegria que passou. A natureza do homem mesmo de ser franco e querer s-lo; mas, tambm sua natureza tal que naturalmente ele conserva a feio que a educao lhe d.p.24 ...assim, a primeira razo da servido voluntria o costume...p.25 frmula da sabedoria prtica da poltica: ...porque pensaram virtuosamente, afortunadamente executaram... virtu e fortuna em Maquiavel.1) a primeira razo porque os homens servem de bom grado que nascem servos e so criados como tais.2) Desta decorre uma outra: que sob os tiranos as pessoas facilmente se tornam covardes e efeminadas.p.26 Perde-se a liberdade e a valentia. Gente subjugada, sem coragem, sem vivacidade Ora, certo, portanto, que com a liberdade se perde de uma s vez a valentia. A gente subjugada no tem jbilo nem furor no combate: parte para o perigo quase como que amarrada, toda por demais embotada, e no sente ferver em seu corao o ardor da liberdade que faz desprezar o perigo e d vontade de ganhar a honra e a glria numa bela morte entre seus companheiros. Entre gente livre porfia, cada qual melhor, cada um pelo bem comum, cada um por si; todos esperam ter sua parte no mal da derrota ou no bem da vitria; mas a gente subjugada, alm dessa coragem guerreira, tambm perde a vivacidade em todas as outras coisas e tem o corao baixo e mole, incapaz de todas as grandes coisas. Disso muito bem sabem os tiranos, e ao v-la tomando essa feio, ainda a ajudam para que afrouxe mais.

p.27 ... maravilhoso como cedem rpido, contanto que lhes faam ccegas teatros, jogos, farsas, espetculos etc. = as iscas da servido, o preo da liberdade, as ferramentas da tirania.p.28 ...dava pena ouvir gritar: Viva o rei! Os broncos no percebiam que apenas recobravam parte do que era seu e que at mesmo no que recobravam o tirano no lhes teria dado se antes no lhes tivesse tirado. polticas que adoam a servido...p.29 sobre os dspotas que escondem o Rosto Os reis da Assria e tambm, depois deles, os de Mdia s apresentavam-se em pblico o mais tarde que podiam, para fazer a populaa se perguntar se no eram algo mais que homens e deixar nesse devaneio a gente de bom grado imaginativa para com as coisas que no pode julgar com os olhos. Assim, com esse mistrio, tantas naes, que durante muito tempo pertenceram ao imprio assrio, acostumavam-se a servir e serviam com mais boa vontade por no saberem que senhor tinham nem a muito custo se tinham, e todos temiam acreditando em um que ningum jamais vira. Os primeiros reis do Egito s se mostravam portando ora um gato, ora um ramo, ora fogo sobre a cabea, e desse modo mascaravam-se e fingiam-se de mgicos. E assim, pela estranheza da coisa, suscitavam em seus sditos alguma reverncia e admirao; mas, no meu entender, teriam apenas se prestado ao passatempo e troa na gente que no tivesse sido tola ou sujeita demais.Sobre a instituio das crenas supersticiosas:O prprio povo tolo sempre faz as mentiras para depois acreditar nelas...28-29 - A religio como anteparo que anestesia os efeitos miserveis da servido:Os prprios tiranos achavam bem estranho que os homens pudessem suportar um homem fazendo-lhes mal; queriam muito pr a religio na frente, como anteparo, e se possvel, tomar emprestada alguma amostra da divindade para o mantimento de sua miservel vida.*** tentculos da tirania p.31-32: Mas agora chego a um ponto que em meu entender a fora e o segredo da dominao, o apoio e o fundamento da tirania. (...) No so os bandos de gente a cavalo, no so as companhias de gente a p, no so as armas que defendem o tirano; de imediato, no se acreditar nisso, mas com certeza verdade. So sempre quatro ou cinco que mantm o tirano; quatro ou cinco que lhe conservam o pas inteiro em servido. Sempre foi assim: cinco ou seis obtiveram o ouvido do tirano e por si mesmos dele se aproximaram; ou ento por ele foram chamados para serem os cmplices de suas crueldades, os companheiros de seus prazeres, os proxenetas de suas volpias, e scios dos bens de suas pilhagens. (...) Esses seis tm seiscentos que crescem debaixo deles e fazem de seus seiscentos o que os seis fazem ao tirano. Esses seiscentos conservam debaixo deles seis mil, cuja posio elevaram; aos quais fazem dar o governo das provncias ou o manejo dos dinheiros para que tenham na mo sua avareza e crueldade e que as exeram no momento oportuno; e, alis, faam tantos males que s possam durar sua sombra e isentar-se das leis e da pena por seu intermdio.logo que um rei declarou-se tirano, (...) toda a escria do reino (...) que so manchados por ambio ardente e notvel avareza (...) renem-se sua volta e o apiam para participarem da presa e serem eles mesmos tiranetes sob o grande tirano.32-33 nas escalas do eixo vertical da dominao, dominantes subjugam dominados e dominados subjugam os ainda mais dominados, assim por diante: Assim o tirano subjuga os sditos uns atravs dos outros e guardado por aqueles de quem deveria se guardar, se valessem alguma coisa; mas, como se diz, para rachar lenha preciso cunhas da prpria lenha. Eis a seus arqueiros, seus guardas, seus alabardeiros; no que eles mesmos s vezes no sofram por causa dele; mas esses perdidos e abandonados por deus e pelos homens ficam contentes de suportar o mal para faz-lo, no quele que lhes malfez, mas queles que suportam como eles e que nada podem fazer.***Isso viver feliz? Chama-se a isso, viver? H no mundo algo menos suportvel do que isso, no digo para um homem de corao, no digo para um bem-nascido, mas apenas para um que tenha o senso comum ou nada mais que a face de homem? Que condio mais miservel que viver assim, nada tendo de seu, recebendo de outrem sua satisfao, sua liberdade, seu corpo e sua vida?p.34 as pessoas de bem... a no poderiam durar; preciso que compartilhem do mal comum e que sintam a tirania em seus propsitos.p.35 No pode haver amizade onde est a crueldade, onde est a deslealdade, onde est a injustia; e entre os maus, quando se juntam, h uma conspirao, no uma companhia; eles no se entre-amam, mas se entre-temem; no so amigos, mas cmplices.p.36 seria difcil encontrar um amor seguro em um tirano, pois, estando acima de todos e no tendo companheiro, j est alm dos limites da amizade, cuja verdadeira presa a igualdade...Concluso, p.37 1) Que sofrimento, que martrio, Deus do cu! Seguir noite e dia pensando em aprazer a um e no entanto tem-lo mais que a homem do mundo, ter o lho sempre espreita, a orelha escuta para espiar de onde vir o golpe, para descobrir as emboscadas, para sentir a fisionomia de seus companheiros, para avisar quem o trai, rir para cada um e no entanto temer a todos; no ter nenhum inimigo aberto nem amigo certo, tendo sempre o rosto sorridente e o corao transido; no poder ser alegre e no ousar ser triste.2) Aprendamos pois uma vez, aprendamos a fazer o bem; levantemos os olhos para o cu ou para nossa honra e para o prprio amor da virtude; ou, para falar cientemente, para o amor e honra de deus todo-poderoso que testemunha segura de nossos feitos e juiz justo de nossas faltas. De minha parte creio, e no estou enganado, que l embaixo ele reserva parte para o tirano e seus cmplices alguma pena particular pois nada mais contrrio a deus, de todo liberal e bonacho, que a tirania.