Fies Impactos de Curto e Longo Prazo

30
1 FIES: IMPACTOS FISCAIS DE CURTO E LONGO PRAZO Samuel de Abreu Pessoa Vinícius de Oliveira Botelho Novembro de 2014

description

O presente estudo tem por objetivo avaliar os impactos do FIES nas contas públicas, com foco nos impactos tributários do aumento de renda das pessoas.

Transcript of Fies Impactos de Curto e Longo Prazo

  • 1

    FIES: IMPACTOS FISCAIS DE CURTO E

    LONGO PRAZO

    Samuel de Abreu Pessoa

    Vincius de Oliveira Botelho

    Novembro de 2014

  • 2

    Sumrio Executivo

    Desde a dcada de 80 at hoje o nmero de ingressantes por ano no ensino superior (ES)

    cresceu mais de um milho de alunos. Apesar de isso contratar, para as prximas dcadas,

    aumentos substanciais na proporo da populao com alguma formao superior, esse

    movimento ainda insuficiente para que sejam atingidos os padres educacionais dos pases

    desenvolvidos. Alm disso, o Brasil tem hoje uma das piores posies no ranking da educao

    superior, mesmo quando comparado somente com os seus pares da Amrica Latina. Portanto,

    apesar dos aumentos esperados na escolaridade do terceiro grau, certamente ainda h espao

    para a criao de polticas pblicas que reforcem esse movimento.

    Porm, a sustentabilidade de uma poltica de expanso do ES via financiamento requer a

    existncia de um amplo contingente de pessoas que poderia frequent-lo (i.e. concluindo o

    ensino mdio) e que no o faz unicamente por necessidade financeira. Esse contingente

    existe? Na comparao dos estoques, at 2010 o Brasil era, entre os seus pares, um dos pases

    com menor proporo de pessoas com alguma formao superior em relao ao nmero de

    pessoas com ensino mdio completo, de acordo com a base de dados internacional de

    educao Barro e Lee (2014). Por outro lado, os dados de fluxo do Censo Educacional indicam

    que o nmero anual de formandos do ensino mdio tem se tornado cada vez mais

    incompatvel com o atual ritmo de ingressos no ES, de forma que o aumento de estudantes no

    ES tem sido cada vez mais explicado pela existncia de um grande estoque de pessoas com

    ensino mdio completo do que por um aumento de formandos com essa qualificao.

    Consequentemente, sem que haja uma expanso no nmero de concluintes no ensino mdio,

    o atual ritmo de entrada de alunos em instituies de ensino superior parece insustentvel.

    Combinando todas as evidncias, parece haver, ao menos nas prximas dcadas, um dficit de

    alunos no ES brasileiro e, concomitantemente a esse dficit, vrios dados e estudos indicam

    que o ES brasileiro gera um alto prmio salarial, de mais de 100%. Logo, os efeitos tributrios

    da expanso da educao superior, dado que o Brasil tributa mais de 30% da renda total da

    economia, no so desprezveis. Inclusive, so geralmente muito maiores do que as despesas

    educacionais incorridas para gerar esse resultado. Nesse sentido, subsidiar a educao

    superior pode ser uma poltica superavitria para o governo (mesmo com emprstimos

    concedidos a 3,4% de juros nominais ao ano), alm dos seus efeitos no aumento da mobilidade

    social e na distribuio de renda.

    Porm, o supervit do programa requer que a qualidade da educao fornecida seja suficiente

    para garantir a empregabilidade e o prmio salarial dos estudantes em relao ao ensino

    mdio: como parte significativa da renda tributada, o alto prmio salarial faria com que a

    arrecadao governamental fosse maior do que os gastos com educao a valor presente.

    Alm disso, essa seria uma fonte de aumento de produtividade da economia, elevando o ritmo

    de crescimento econmico.

    No atendidos esses critrios, o programa tende a ser deficitrio: desconsiderando a

    inadimplncia, em funo do subsdio no emprstimo o valor presente dos pagamentos

    somente 62% do valor presente do custo de captao do Tesouro. Alm disso, se o programa

    no gerar impacto na renda ele tende a apresentar maiores taxas de inadimplncia. Portanto,

  • 3

    existe uma clara dicotomia de resultados em que o resultado do programa (melhorar a vida da

    populao que no tem acesso ao ensino superior) e o seu impacto econmico-financeiro

    esto intrinsecamente ligados: gerando impactos educacionais o programa superavitrio e

    cumpre sua funo social, sem gerar impactos educacionais o programa deficitrio e no

    melhora a vida dos estudantes.

    Como experimento de poltica pblica, a manuteno desse programa no patamar de 580 mil

    alunos entrantes por ano durante os prximos anos deve fazer com que a despesa do FIES

    atinja rapidamente a marca de 0,3% do PIB. Dada a restrio fiscal do futuro prximo e a

    necessidade de aumento de carga tributria vislumbrados para reequilibrar as contas pblicas,

    o programa tem um volume de despesas bastante alto.

    Como consequncia dessa anlise, existem dois fatores cruciais para a sustentabilidade

    econmica e o sucesso social do FIES:

    A garantia de padres mnimos na relao custo-qualidade da educao fornecida A capacidade do programa para identificar os alunos com real necessidade de auxlio

    financeiro (i.e. na ausncia do programa no cursariam o ES)

    Ambos esses pontos so atualmente atacados pelo desenho do programa, mas de forma

    insuficiente: o requisito de que as instituies de ensino superior (IES) que usam o FIES tenham

    nota superior a trs no ENADE visa atender padres mnimos de qualidade, enquanto que os

    critrios de renda familiar visam identificar os alunos com real necessidade de auxlio

    financeiro.

    A primeira restrio, de que somente as instituies com nota superior a trs no ENADE

    podem participar do FIES, garante um padro mnimo de qualidade no ensino, mas no

    fornece incentivos adequados para a melhoria educacional e nem capaz de premiar os

    melhores cursos. Para isso seria necessrio distinguir as instituies com nota maior do que

    esse limite, atrelando, por exemplo, a qualidade da educao fornecida pela IES ao seu limite

    de crdito global e ao valor mximo de mensalidade financiado: inclusive, a garantia do

    equilbrio econmico-financeiro do programa requer que o valor mximo de mensalidade

    financiado seja funo da empregabilidade e do salrio dos formandos. Por sua vez, os limites

    globais de crdito poderiam ser atribudos com base nas notas do ENADE. Dessa maneira seria

    possvel compatibilizar os incentivos de alunos e governo (que querem uma educao melhor)

    com o das instituies de ensino (que maximizam o valor presente de seus lucros). Isso no

    seria uma inovao brasileira: o sistema de financiamento americano, na administrao

    Obama, passou por mudanas para alinhar a concesso de financiamentos por instituio com

    o desempenho dos alunos no mercado de trabalho.

    Por sua vez, a segunda restrio, que envolve a concesso de emprstimos com base na renda

    familiar, mope. Alm de a necessidade financeira real requerer uma anlise no s da renda,

    mas das despesas de cada candidato, a informalidade ainda bastante comum no Brasil.

    Adicione-se a isso o fato de que a capacidade financeira de um indivduo pode ser influenciada

    pelo seu patrimnio e tambm pela renda e pelo patrimnio de pessoas fora do ncleo

    familiar mais restrito. Nota-se que a necessidade financeira real uma informao privada e a

    anlise de crdito, portanto, deve considerar a existncia dessa assimetria de informao.

  • 4

    Assim faz a experincia australiana, oferecendo incentivos para que o indivduo revele a sua

    real capacidade de pagamento: possvel, por exemplo, dar descontos para quitao

    antecipada dos emprstimos. Isso funciona como um mecanismo para compatibilizar os

    incentivos do emprestador (que s quer emprestar recursos para quem realmente precisa

    deles) e do tomador (que teria vantagem financeira em ser elegvel ao programa e no acion-

    lo, ou acion-lo somente parcialmente).

    Afora os fatores mencionados para equilibrar a estrutura de incentivos do programa, a sua

    cobertura muito limitada para o pblico que ele pretende atingir: uma caracterstica comum

    aos programas americano, canadense e australiano o financiamento no s das

    mensalidades, mas das despesas acessrias da atividade estudantil (e, em alguns casos,

    inclusive das despesas com custo de vida). Para que os efeitos econmicos e sociais do

    programa sejam maximizados, muito importante que o aluno consiga concluir o curso

    iniciado. Sendo assim, importante que o programa oferea alvio financeiro real para seus

    participantes, inclusive oferecendo cobertura financeira para o caso em que o aluno sofra

    choques adversos de renda ou despesa. Consequentemente, alm do realinhamento de

    incentivos, o programa precisa passar por uma redefinio de cobertura.

    Por fim, tratar o financiamento estudantil subsidiado como um emprstimo tradicional um

    complicador da poltica. Primeiro porque o fato de ele ser um emprstimo faz com que, ex

    ante, sejam necessrias garantias patrimoniais (raramente disponveis aos alunos sem

    condies de financiar seus estudos e, portanto, favorecendo o efeito crowding-out1) e

    segundo porque, ex post, em caso de inadimplncia (especialmente nos casos em que a

    garantia patrimonial dispensada) a cobrana dos emprstimos estudantis pode ser

    politicamente difcil e juridicamente custosa. Embora a tecnologia de concesso dos

    emprstimos seja facilmente replicvel, a cobrana dos inadimplentes depende da eficincia

    da justia para a busca dos bens dos devedores.

    Como a maior fonte de recursos do programa para o governo o aumento da remunerao do

    trabalho (ou, indiretamente, o aumento do PIB e da arrecadao fiscal), ele poderia usar a sua

    prerrogativa de tributar e conceder emprstimos com base na renda futura do estudante. Isso

    seria feito vinculando o pagamento das prestaes ao imposto de renda, num modelo similar

    ao australiano. Alm da questo da necessidade de garantias na operao, isso resolveria

    parte da questo da inadimplncia e permitiria a cobrana de taxas de juros mais adequadas

    realidade brasileira (o que poderia ajudar a financiar o aumento de cobertura proposto).

    Em resumo, o programa atende uma demanda social legtima com amplo benefcio fiscal, mas

    pode ser redesenhado para ser mais efetivo em seus objetivos. Primeiro criando um sistema

    mais voltado para a qualidade da educao, segundo criando mecanismos de revelao de

    capacidade privada de pagamento, terceiro ampliando a cobertura de financiamento, quarto

    vinculando seus pagamentos no a parcelas fixas, mas a uma alquota marginal adicional de

    imposto de renda, e quinto reduzindo o volume dos incentivos com taxas de juros (inclusive

    para viabilizar financeiramente a cobertura de um maior conjunto de despesas acessrias da

    atividade de estudo).

    1 O efeito de crowding-out aquele representado pela adeso ao programa de financiamento estudantil

    por aqueles que cursariam o ensino superior mesmo que no existisse o programa.

  • 5

    1 O Contrato Social da Redemocratizao Brasileira

    Nas ltimas dcadas houve forte elevao da carga tributria. De valores prximos a 20% do

    PIB no final dos anos 80 caminhamos para pouco menos de 35% do PIB nos ltimos anos.

    A tabela abaixo apresenta a evoluo do gasto no financeiro da Unio excluindo as

    transferncias para Estados e Municpios. Ela permite avaliar a alocao dos recursos

    provenientes do aumento de receita da Unio.

    TABELA: Evoluo do gasto no financeiro da Unio excluindo transferncias para Estados e Municpios (% do PIB). Fonte: Tesouro Nacional, elaborao prpria

    Desde 1999 o gasto no financeiro da Unio, excluindo transferncias, cresceu 5,5 pontos de

    percentuais (p.p.) do PIB (ver a ltima linha, da ltima coluna da Tabela). Esse resultado

    constitui elevado aumento, visto que no perodo o crescimento do PIB foi bom.

    A ltima linha documenta que a maior parte do crescimento do gasto alm do crescimento do

    PIB deveu-se s rubricas associadas ao gasto social. Os trs itens diretamente ligados aos

    gastos sociais INSS, custeio da sade e da educao e custeio dos gastos sociais cresceram

    4,5 p.p. do PIB no perodo.

    Exerccio para os Estados e Municpios gera o mesmo resultado: os gastos com educao e

    sade respondem pela elevao das despesas estaduais e municipais. O congresso constituinte

    de 1988 decidiu que era atribuio do Estado Brasileiro a construo e manuteno de um

    poderoso Estado de Bem Estar Social com padro europeu continental, deciso que tem sido

    referendada nos seguidos pleitos.

    A tendncia ao crescimento do gasto social tem perpassado diferentes governos, como,

    deveria ser de fato o caso, dado tratar-se de escolha da sociedade. Ao longo do governo

    Collor/Itamar o gasto social, resultado da agregao de INSS, LOAS, abono salarial, seguro-

    desemprego e bolsas, cresceu 1,5 ponto percentual (p.p.) do PIB. Nos oito anos do governo

    FHC, cresceu 1,5 p.p.; e nos oito anos do governo Lula, outros 1,68 p.p.. No primeiro mandato

    de Dilma, o crescimento foi de 1,3 p.p..

    A evoluo de 1991 a 2014 desse conjunto de rubricas do gasto pblico, cujo crescimento total

    no perodo foi de 6,0 p.p. do PIB, apresenta expanso contnua como proporo do produto,

    Pessoal INSS SubsdiosCusteio

    Administrativo

    Custeio Sade e

    Educao

    Custeio Gastos

    SociaisInvestimentos

    4 Total

    1999 4,5 5,5 0,2 1,4 1,8 0,6 0,5 14,5

    2000 4,6 5,6 0,3 1,3 1,8 0,6 0,7 14,7

    2001 4,8 5,8 0,4 0,7 1,8 0,9 1,2 15,6

    2002 4,8 6,0 0,2 1,1 1,8 1,0 1,0 15,7

    2003 4,5 6,3 0,4 0,9 1,7 1,0 0,4 15,1

    2004 4,3 6,5 0,3 1,0 1,7 1,2 0,6 15,6

    2005 4,3 6,8 0,5 1,1 1,8 1,3 0,6 16,4

    2006 4,5 7,0 0,4 1,1 1,7 1,6 0,7 17,0

    2007 4,4 7,0 0,4 1,2 1,8 1,6 0,8 17,1

    2008 4,3 6,6 0,2 1,0 1,8 1,6 0,9 16,4

    2009 4,7 6,9 0,2 1,1 1,9 1,9 1,0 17,7

    2010 4,4 6,8 0,3 1,1 2,0 1,8 1,1 17,4

    2011 4,3 6,8 0,4 0,9 2,0 1,9 1,1 17,5

    2012 4,2 7,2 0,6 0,9 2,2 2,1 1,1 18,3

    2013 4,2 7,4 0,9 1,0 2,2 2,2 1,0 18,9

    2014 5 4,2 7,5 1,1 1,1 2,4 2,4 1,3 20,0

    13 X 99 -0,3 2,0 0,8 -0,3 0,7 1,8 0,8 5,5

  • 6

    com inflexo para menor na virada de 1994 para 1995, de 2007 para 2008 e novamente de

    2009 para 2010, por redues temporrias da despesa do INSS (como percentual do PIB).

    A grande diferena entre os perodos nas prioridades no interior da rea social. Na dcada de

    90, a prioridade foi o ataque pobreza entre os idosos e a construo das redes pblicas e

    universais de sade, com o SUS, e de educao, com o FUNDEF. Os nmeros reportados

    subestimam o crescimento do gasto social para o perodo FHC, pois no conseguimos separar

    para a dcada de 90 os gastos da Unio com custeio de sade e educao dos demais itens de

    custeio.

    A partir dos anos 2000, a prioridade passou a ser a infncia, materializada, entre outros, no

    exitoso programa Bolsa-Famlia. Mais recentemente, passou-se a atacar a educao superior,

    com PROUNI e FIES (que so programas de financiamento e no aparecem no crescimento do

    gasto pblico aqui reportado), e o problema de moradia, com o Minha Casa Minha Vida.

    Aparentemente, a educao pr-escolar ser uma das prioridades do prximo governo,

    independentemente de quem ganhe a eleio.

    Ou seja, o FIES um item de um enorme pacote de polticas sociais que foram adotados em

    seguida a redemocratizao com o objetivo de atacar a desigualdade, certamente o maior

    desequilbrio, ainda hoje, de nossa sociedade. No se trata de um programa de um governo.

    Ele no ser eliminado. A agenda do programa nos prximos anos de aperfeioamento.

    Adicionalmente o FIES constitui exitosa experincia de parceria pblico-privada na oferta de

    servios educacionais. No conseguimos enxergar fora poltica relevante que deseje a

    reduo do programa.

  • 7

    2 Perspectivas Fiscais, Populacionais e de Crescimento Econmico

    Os principais desafios colocados pelo cenrio econmico e poltico esto no limitado espao

    fiscal para as prximas dcadas: o crescimento do PIB potencial hoje de aproximadamente

    2% ao ano e, para os prximos anos, a populao com mais de 60 anos deve crescer mais de

    3% ao ano, enquanto que a populao entre 15 e 60 anos (que atualmente cresce a 1,4% ao

    ano) deve ter, a cada ano, sua taxa de crescimento anual reduzida em 0,1 ponto percentual.

    Dessa forma, o crescimento do produto potencial deve ser cada vez menor (limitando o

    potencial de arrecadao), ao passo em que as despesas previdencirias sero crescentes.

    Como mostra o Grfico 01, de 2004 a 2013 o Brasil viveu um processo de reduo substancial

    da dvida lquida do setor pblico consolidado: de 50,6% para 33,6%. Essa reduo pode ser

    explicada por trs fatores principais: as altas taxas de crescimento do PIB, a queda na taxa

    bsica de juros e os elevados supervits primrios nesse perodo (especialmente at 2008).

    Como mostra o Grfico 02, enquanto o supervit primrio de 2004 a 2008 foi entre 3,2% e

    3,8% do PIB, para 2014 esperamos 1,0%, com convergncia para 2,4% ao longo dos dois anos

    seguintes. Mesmo nesse cenrio, com a taxa Selic em 11%, a dvida lquida estabilizaria

    somente em 2019, em 43% do PIB.

    De 2004 a 2010 a economia brasileira cresceu, em mdia, 4,5% ao ano. Porm, (incorporando

    as projees de crescimento do Relatrio FOCUS, de 0,3% em 2014 e 1,0% em 20152), a mdia

    do perodo de 2011 a 2015 deve ser de somente 1,5% ao ano (ou 1,6%, considerando o

    perodo de 2011 a 2014). Inquestionavelmente, essa reduo de trs pontos percentuais no

    crescimento potencial coloca pelo menos dois desafios substanciais ao resultado fiscal: a

    menor perspectiva de crescimento da arrecadao e a necessidade de um supervit primrio

    ainda maior para a estabilizao da dvida pblica como proporo do PIB.

    2 Relatrio de 19/09/2014

    Grfico 01: Dvida lquida do setor pblico consolidado (projees de 2014 a 2020) como proporo do PIB (em

    pontos percentuais)

    Fonte: BCB. Projees dos autores

  • 8

    Numa tentativa de recuperar o crescimento econmico por meio de estmulos de demanda,

    desde a crise de 2009 vrios setores produtores de bens durveis tiveram suas alquotas de IPI

    reduzidas e o volume de recursos do Tesouro Nacional colocado no balano dos bancos

    pblicos para que eles expandissem o crdito aumentou consideravelmente: de 1,4% do PIB

    no final de 2008 eles chegaram a 9,7% no final de 2013. Essa expanso foi concentrada no

    BNDES para financiar projetos de grandes empresas a taxas subsidiadas (principalmente a

    TJLP), de forma que o descompasso entre o nvel atual da TJLP (5,0% ao ano) e o custo de

    captao (a Selic est em 11,25% ao ano, sendo que as captaes do Tesouro Nacional

    tipicamente pagam taxas superiores a essa) gera uma presso crescente sobre a dvida lquida

    do setor pblico consolidado. Para reequilibrar as contas pblicas, essa concesso de

    emprstimos dever desacelerar nos prximos anos, j que ela no impulsionou o crescimento

    brasileiro.

    Como mostra o Grfico 03, atualmente o crescimento da populao entre 15 e 60 anos de

    aproximadamente 1,5% ao ano, taxa que deve cair a 0,1 ponto percentual ao ano. Por outro

    lado, a quantidade de pessoas com 61 anos ou mais est crescendo a mais de 3,0% ano, e deve

    permanecer nessa taxa de crescimento pelo menos at o final da prxima dcada. Portanto,

    sem crescimento frente, com a economia extremamente desonerada e com uma contratao

    de gastos sociais e previdencirios em alta, ser necessrio um aumento da carga tributria e

    uma reviso da participao do Estado na economia, assim como da dimenso do Estado de

    Bem-Estar Social.

    Paralelamente a isso, nos ltimos anos aumentou consideravelmente o uso do resultado

    primrio para o microgerenciamento da economia. Exemplos dessas prticas so as polticas

    de desoneraes da folha de pagamentos e a reduo no valor das tarifas de energia eltrica,

    com o financiamento dos custos do setor eltrico por meio de recursos do Tesouro Nacional e,

    mais recentemente, de emprstimos bancrios. Tambm o controle de preos administrados

    para influenciar a inflao faz parte desse conjunto de medidas, pois o uso da Petrobras para

    Grfico 02: Supervit primrio do setor pblico consolidado acumulado em 12 meses, sem desvalorizao

    cambial (projees de 2014 a 2020), como proporo do PIB (em pontos percentuais)

    Fonte: BCB. Projees dos autores

  • 9

    manter o preo da gasolina em um patamar artificialmente baixo compromete o lucro da

    empresa e diminui, consequentemente, tanto a sua capacidade de gerar dividendos como sua

    capacidade de recolher impostos. O mesmo raciocnio se aplica poltica de reduo de spread

    bancrio pelos bancos pblicos, aps ao governamental publicamente deliberada nesse

    sentido.

    Simultaneamente a essas polticas de aumento de gastos, desde 2009 o uso de instrumentos

    no convencionais de poltica econmica para inflar a entrada artificial e no recorrente de

    recursos no resultado fiscal tem sido crescente, sendo concentrado em, basicamente, trs

    frentes:

    Uso de receitas no recorrentes (Leilo de Libra, Refis, adiantamento de dividendos) Uso do financiamento operacional como fonte de recursos (conta de Restos a Pagar

    processados)

    Uso de operaes estritamente contbeis sem contrapartida real (capitalizao da Petrobras)

    Por fim, alm da piora institucional derivada do que se convencionou chamar de contabilidade

    criativa, houve mudanas legislativas negativas: desde o ano passado, a Lei de Diretrizes

    Oramentrias desobriga a Unio de compensar o no cumprimento da meta de supervit

    primrio dos estados e municpios, dando espao para mais expansionismo fiscal no curto

    prazo. Porm, o expansionismo fiscal de agora requerer uma maior contrao no futuro. Esse

    conjunto de elementos fez com que o Brasil sofresse algumas pioras na sua avaliao de

    crdito pela S&P (06/06/2013) e pela Moodys (09/09/2014).

    Ou seja, foram feitos um comprometimento das estatsticas patrimoniais (com a concesso

    excessiva de crdito a bancos pblicos) e um comprometimento da arrecadao, com as

    polticas de desonerao (e a substituio de receitas recorrentes por no recorrentes).

    Grfico 03: Taxa de crescimento das populaes de 15 a 60 anos e de mais de 60 anos, por ano, de 2003 a 2060

    Fonte: IBGE

    -2%

    -1%

    0%

    1%

    2%

    3%

    4%

    5%

    20

    03

    20

    06

    20

    09

    20

    12

    20

    15

    20

    18

    20

    21

    20

    24

    20

    27

    20

    30

    20

    33

    20

    36

    20

    39

    20

    42

    20

    45

    20

    48

    20

    51

    20

    54

    20

    57

    20

    60

    15-60

    61-90+

  • 10

    Associadas a essas polticas, as condies demogrficas e econmicas mudaram

    substancialmente a realidade brasileira: o crescimento potencial desacelerou para 1,5% ao ano

    e a populao est envelhecendo rapidamente. A unio da poltica econmica com a tendncia

    demogrfica e econmica gera a necessidade de um grande ajuste fiscal nos prximos anos,

    para que as contas pblicas no entrem em trajetria explosiva. Portanto, o espao fiscal para

    ajustes e incorporao de despesas e subsdios hoje, em relao aos ltimos anos, bastante

    reduzido.

  • 11

    3 Perspectivas Populacionais da Faixa 18-30 Anos e o Quadro

    Educacional Brasileiro

    Como argumentado na seo

    anterior, a populao jovem

    brasileira cresce a taxas

    decrescentes. O Grfico 04

    indica que a populao com

    18 anos hoje tem

    aproximadamente 3,4

    milhes de pessoas, e deve

    atingir seu pico em 2019, a

    partir de quando deve

    comear a decrescer

    rapidamente. Esse resultado

    qualitativamente similar

    anlise da populao entre

    18 e 30 anos, cuja dinmica

    est no Grfico 05.

    A queda populacional est

    associada diminuio da

    taxa de fecundidade,

    resultante da urbanizao,

    do aumento de escolaridade

    e da criao de programas

    pblicos de previdncia

    social. Apesar de crescente, a

    parcela desses jovens que

    frequenta o ES ainda baixa

    quando a comparamos com

    pases similares na Amrica

    Latina: de acordo com dados

    de Barro e Lee (2014),

    exibidos no Grfico 06, a

    proporo de pessoas com

    ensino superior completo e

    incompleto no Brasil uma

    das piores entre seus pares

    na Amrica Latina, apesar de

    as estatsticas para o ensino

    mdio, como mostra o

    Grfico 07, serem marginalmente mais favorveis. Nota-se, no mesmo grfico, um crescimento

    vertiginoso na proporo de pessoas com o ensino mdio completo no Brasil nos ltimos 20

    anos. Como a criao de um programa agressivo de expanso do ES passa pela existncia de

    Grfico 04: Populao de 18 anos, por ano, de 2001 a 2060

    Fonte: IBGE

    Grfico 05: Populao entre 18 e 30 anos, por ano, de 2001 a 2060

    Fonte: IBGE

    Grfico 06: Proporo da populao com mais de 15 anos e ensino

    superior completo ou incompleto

    Fonte: Barro e Lee (2014)

  • 12

    um amplo contingente de pessoas com ensino mdio completo que seja capaz de aproveitar

    os benefcios oferecidos, essa evidncia muito importante para avaliar a capacidade de

    programas de fomento ao ES serem bem sucedidos.

    Os dados do Grfico 08

    corroboram essa anlise, pois

    mostram que a proporo de

    pessoas com ensino superior

    incompleto em relao

    quelas com ensino mdio

    completo no Brasil bastante

    baixa na comparao

    internacional: em 2010 ela foi

    a pior entre os pases

    selecionados. Portanto, parece

    existir uma oportunidade para

    interveno da poltica social.

    interessante notar que, de

    acordo com esses dados, na

    dcada de 70 a maior parte

    das pessoas que terminava o

    ensino mdio tambm iniciava

    o curso superior, de forma que

    o nmero de pessoas somente

    com o ensino mdio completo

    diminuiu sensivelmente em

    relao ao nmero de pessoas

    com algum tipo de estudo

    superior. Apesar de isso poder

    ser resultado de erro de

    medida ou da dinmica

    poltica do Brasil nesse

    perodo, chama a ateno o

    desempenho brasileiro nessa

    estatstica desde a dcada de

    1990: consistentemente

    aqum de diversos pases na

    Amrica Latina.

    Todavia, importante

    destacar o aumento

    substancial no nmero de

    novos entrantes no ES desde

    meados dos anos 90. Como

    mostra o Grfico 09, em 1980

    entraram 357 mil alunos no ES

    Grfico 07: Proporo da populao com mais de 15 anos e ensino

    mdio completo

    Fonte: Barro e Lee (2014)

    Grfico 08: Proporo de pessoas com ensino superior completo e

    incompleto em relao s pessoas somente com ensino mdio completo

    Fonte: Barro e Lee (2014)

    Grfico 09: Nmero de ingressos no ensino superior

    Fonte: INEP

  • 13

    pblico e privado brasileiro. At 1994 esse nmero ficou praticamente igual (463 mil alunos).

    Mas em 2007 esse contingente j estava atingindo a marca de 1.482 mil alunos, um

    crescimento de mais de um milho de pessoas em relao ao registrado em 1994.

    Decompondo esse crescimento por natureza administrativa, de 1994 a 2007 surgiram

    aproximadamente 180 mil vagas de ES no ensino pblico e 820 mil no ensino privado. E s de

    2007 para 2012 surgiram 160 mil novas vagas no ensino pblico. Em 2012, a rede pblica de

    estudantes recebeu 500 mil alunos. Nesse ritmo, ao longo de 40 anos a simples manuteno

    do patamar de entrantes no ES de 2007 faria com que a populao com ensino superior

    completo e incompleto no Brasil aumentasse em aproximadamente 40 milhes de pessoas, ou

    21% da populao de mais de 15 anos projetada para 2060 (levando a populao total com

    ensino superior completo ou incompleto de 9,4% para um patamar prximo de 30%). Se forem

    includas nesse clculo as 160 mil novas vagas geradas no ensino pblico de 2007 a 2012, a

    populao com alguma formao superior aumentaria em mais seis milhes de pessoas, o

    equivalente a trs pontos percentuais da populao de 15 anos ou mais projetada para 2060.

    Em resumo, existe uma grande contratao de aumento da escolaridade do ensino superior

    que anterior ao FIES. Nesse universo, o papel de polticas de estmulo ao ES tem duas

    funes fundamentais: preservar a expanso j realizada e aumentar o universo de alunos que

    podem cursar o ES, resolvendo uma restrio de crdito. Nesse sentido, a poltica garante as

    conquistas j estabelecidas (a maior parte da expanso do ensino superior no Brasil nas

    ltimas dcadas ocorreu no setor privado) e abre caminho para que elas sejam aprofundadas.

  • 14

    4 A Experincia Internacional

    Neste estudo sero analisadas trs grandes experincias internacionais com projetos de

    financiamento educacional: nos Estados Unidos, no Canad e na Austrlia.

    O modelo americano de um emprstimo tradicional, com a possibilidade de subsdio nas

    taxas de juros cobradas. Atualmente, ela de 4,66% ao ano para a graduao e de 6,21% ao

    ano para a ps-graduao. Alm dos juros, sobre as operaes incide uma tarifa equivalente a

    1,072% do total desembolsado pelo governo com os emprstimos. A taxa de juros muito

    maior do que a cobrada pelo governo australiano (que s atualiza os emprstimos com base

    na inflao) e maior ainda que a brasileira, fixada em 3,4% ao ano. Nos Estados Unidos o

    montante total do emprstimo decidido pela instituio de ensino e no pode exceder os

    parmetros de necessidade financeira calculados. Todavia, ao contrrio do modelo brasileiro,

    dentro da necessidade financeira esto contempladas despesas alm dos custos com

    mensalidades escolares, como o custo com moradia. Tambm no sistema canadense outros

    custos alm daquele com mensalidades podem ser considerados no clculo da necessidade

    financeira dos cursos em tempo integral: custo com livros, computadores, despesas mdicas e

    dentrias, penso alimentcia, creche, etc. Com isso, o sistema cobre no somente os custos

    monetrios com a atividade educacional, mas tambm parte do custo de oportunidade dos

    alunos. Alm disso, os parmetros de custo so discriminados por provncia, de forma a

    contabilizar as diferenas entre as regies.

    O subsdio das taxas de juros no programa brasileiro o maior entre os programas analisados:

    a experincia internacional tem maior cobertura de despesas com menor subsdio de juros.

    Nesse sentido, uma reestruturao do programa brasileiro nessa direo certamente seria

    mais efetiva em garantir que os usurios no faam dele meramente uma fonte financiamento

    privado (efeito crowding-out) e, ao mesmo tempo, que aqueles que tm real necessidade

    possam ter uma cobertura mais ampla do programa.

    Assim como no sistema brasileiro, existe um incentivo para que os alunos beneficiados pelo

    programa americano se tornem professores de escolas elementares e secundrias de baixa

    renda (o Teacher Loan Forgiveness) ou funcionrios pblicos (o Public Service Loan

    Forgiveness). No primeiro caso o abatimento da dvida pode chegar, dependendo do tempo de

    servio pblico prestado, a US$ 17.500; no segundo caso h o perdo da dvida para aqueles

    devedores que fizeram mais de 120 pagamentos mensais consecutivos.

    Em 2009 o programa americano foi redesenhado para dar foco empregabilidade, taxa de

    inadimplncia dos alunos de cada universidade e ao risco de crdito (com maiores incentivos

    fiana). Esse redirecionamento est em linha com a concluso deste trabalho sobre os

    benefcios do FIES: se a varivel fundamental para o sucesso financeiro do programa a sua

    capacidade de formar pessoas empregveis com altos prmios salariais, ento esses devem ser

    os elementos valorizados na poltica de concesso de recursos.

    O sistema australiano se diferencia essencialmente pela sua estrutura de quitao do

    emprstimo, que feita por meio da declarao do imposto de renda (IR): o pagamento ocorre

    somente quando o indivduo ultrapassa um determinado patamar de renda na declarao de

    IR (em 2014 foi de $53.345), sobre o qual incide uma alquota especfica de imposto de

  • 15

    quitao, de 4% a 8% conforme a renda declarada. Na prtica, portanto, horizontalmente

    (entre diferentes indivduos) as pessoas com maior sucesso no mercado de trabalho subsidiam

    as pessoas com menor sucesso; ao mesmo tempo, verticalmente (ao longo da vida de um

    mesmo indivduo) a quitao s ocorre quando o devedor tem mais condies de faz-la.

    Consequentemente, essa estrutura protege uma gerao de usurios do programa que entre

    no mercado de trabalho num momento de fraqueza da economia.

    Ou seja, ao adquirir o crdito educacional o estudante adquire conjuntamente um seguro

    contra dois riscos. Primeiro o risco de apresentar um desempenho profissional abaixo do

    esperado e, segundo, de sua gerao ser particularmente afetada pela conjuntura econmica

    e, consequentemente, ter dificuldades entrar no mercado de trabalho.

    A adaptao desse sistema ao Brasil poderia reduzir sensivelmente o risco de inadimplncia do

    programa, em virtude da possibilidade de reteno do imposto de renda na fonte, alm de

    enfatizar seu carter redistributivo.

    Outra particularidade do sistema australiano o desenho dos seus mecanismos de revelao

    de incentivos. Por mais numerosos e amplos que sejam os critrios de avaliao da capacidade

    de pagamento de uma famlia, sempre h particularidades no contempladas nesses sistemas

    que podem ser relevantes para a determinao da capacidade de pagamento individual. Por

    esse motivo, como o sistema australiano oferece incentivos para que os cidados utilizem

    menos o programa (complementando, como ficar claro no prximo pargrafo, sem custo

    adicional, o valor do adiantamento pago pelos alunos s instituies de ensino) e quitem seus

    dbitos antecipadamente (oferecendo descontos para pagamento antecipado), ele acaba

    alinhando os incentivos de tomadores e devedores para que os indivduos revelem sua

    disposio a pagar por sua educao no aderindo ao programa, ou aderindo em parcelas

    menores. Isso certamente diminui o efeito crowding-out.

    Na prtica, ele oferece incentivos para quitao antecipada do saldo devedor (5% de desconto)

    e para que o financiamento no seja realizado integralmente entre as pessoas que teriam

    condies de arcar com parte de seus estudos (cada dlar australiano adiantado pelo

    estudante no pagamento das despesas educacionais complementado em onze centavos de

    dlares australianos pelo governo, sem que esse valor seja includo no saldo devedor do

    usurio). Com isso, indivduos que tenham condio de financiar seus estudos tm incentivos

    para reduzir o uso do programa: aqueles que fariam o ensino superior independentemente da

    existncia de incentivos governamentais (por terem condio de banc-lo, mesmo sendo

    elegveis pelos critrios estabelecidos) tm um incentivo financeiro para diminuir o valor do

    subsdio dado pelo governo a eles.

    Em resumo, a experincia internacional apresenta algumas possibilidades de

    aperfeioamentos do programa brasileiro:

    Anlise dos financiamentos concedidos com base no s na nota dos cursos, mas na empregabilidade dos alunos

    Criao de mecanismos de revelao de possibilidade de pagar pelos estudos com base em incentivos de quitao e antecipao

    Custeio de despesas educacionais alm das mensalidades escolares

  • 16

    Para concluir, a variedade de experincias internacionais sugere que possvel fazer um

    programa com uma cobertura maior do que somente a mensalidade escolar, um subsdio

    menor e um acompanhamento mais detalhado do impacto da educao na vida do aluno. E,

    na avaliao das concluses deste trabalho, essas so todas polticas alinhadas com os

    benefcios financeiros do programa para estudantes e governo.

  • 17

    5 Anlise Financeira do Programa

    5.1 Descrio do FIES

    O FIES um programa de emprstimo voltado ao ensino superior, ps-graduao e ao ensino

    tcnico (PRONATEC). Para o ensino superior ele financia de 50% a 100% do custo com

    mensalidades de cursos presenciais cuja nota no ENADE superior a trs (68,32% das

    instituies de ensino superior brasileiras em 2012). Esse financiamento concedido a taxas

    subsidiadas (3,4% ao ano, bastante inferiores mesmo ao menor valor que a Selic chegou a

    atingir em toda a sua srie histrica), com carncia de 18 meses e amortizao em um perodo

    equivalente a trs vezes o perodo de financiamento mais um ano (tipicamente 13 anos). Os

    percentuais de financiamento esto na Tabela 1.

    Esse emprstimo pode ser garantido por fiador, pelo FGEDUC (o Fundo de Financiamento das

    Operaes de Crdito Educativo) ou pelas instituies de ensino superior, sendo dispensvel a

    apresentao de fiador aos bolsistas do ProUni com percentuais inferiores a 100%, aos

    estudantes de licenciatura e aos estudantes com renda familiar mensal bruta per capita de at

    um salrio mnimo e meio. As instituies de ensino superior so responsveis por 30% (se

    inadimplentes com o Fisco) ou por 15% (se adimplentes com o Fisco), por operao

    contratada, da parcela dos emprstimos concedidos no garantida pelo FGEDUC (que cobre

    at 90% do risco das operaes em que est envolvido). Em contrapartida garantia do

    FGEDUC, as instituies de ensino devem recolher 6,25% dos seus crditos a receber, isto , do

    valor das mensalidades referentes aos alunos financiados pelo programa e que escolheram

    usar o FGEDUC. A adeso ao FGEDUC opcional.

    Como a IES garantidora dos recursos, um dos limites para a concesso do FIES o limite de

    crdito da instituio de ensino (sem regra explcita e pblica de determinao). Os outros

    critrios so:

    O FIES precisa ter recursos disponveis para as IES O aluno no deve estar com a matrcula trancada O candidato no pode ter usado o FIES antes (e.g. segunda faculdade)

    Tabela 01: Poltica de Concesso de Financiamento do FIES por Faixa de Renda

    Renda familiar mensal bruta at 10 salrios mnimos

    (at R$ 7.240,00 em 2014)

    Financiamento at 100% Comprometimento da renda familiar mensal bruta de mais de 60%

    Financiamento at 75% Comprometimento da renda familiar mensal bruta entre 40% e 60%

    Financiamento at 50% Comprometimento da renda familiar mensal bruta entre 20% e 40%

    Renda familiar mensal bruta entre 10 e 15 salrios mnimos

    (de R$ 7.240,00 a R$ 10.860,00 em 2014)

    Financiamento at 75% Comprometimento da renda familiar mensal bruta de mais de 40%

    Financiamento at 50% Comprometimento da renda familiar mensal bruta entre 20% e 40%

    Renda familiar mensal bruta entre 15 e 20 salrios mnimos

    (de R$ 10.860,00 a R$ 14.480,00 em 2014)

    Financiamento at 50% Comprometimento da renda familiar mensal bruta de mais de 20% Fonte: http://sisfiesportal.mec.gov.br/. Consulta realizada em 15/09/2014

  • 18

    Se aplicvel, o aluno deve estar adimplente com o programa de crdito educativo (PCE, uma verso anterior do FIES)

    De forma similar ao programa americano, estudantes de licenciatura, pedagogia e medicina

    (na equipe de sade da famlia) podem trabalhar na rede pblica em troca do abatimento

    mensal de 1% do saldo devedor do emprstimo. Alm disso, enquanto esses alunos

    trabalharem na rede pblica no incidiro encargos e juros sobre sua dvida estudantil.

    Os agentes financeiros (intermedirios, que no assumem o risco de crdito) do FIES so o

    Banco do Brasil e a Caixa Econmica Federal. J seu agente operador o FNDE (Fundo

    Nacional de Desenvolvimento da Educao), cuja funo administrar os ativos e passivos do

    programa, inclusive fazendo as anlises de risco de crdito e a reteno dos pagamentos

    devidos s instituies de ensino com base em seus ndices de solvncia (e.g., liquidez geral).

    A fiana pode ser solidria ou convencional. A fiana convencional envolve at dois fiadores

    com renda maior ou igual ao dobro do valor da parcela, enquanto a fiana solidria uma

    garantia estabelecida entre trs a cinco alunos de uma mesma instituio de ensino, numa

    mesma localidade, para assegurar os seus pagamentos mtuos. Apesar de o FGEDUC ser um

    fundo de garantia de risco, ele no exime o devedor da responsabilidade do pagamento. Alm

    disso, ele no pode garantir mais do que 10 vezes o saldo do seu patrimnio lquido e tem um

    limite de honra de 10% da carteira garantida.

    Por fim, os pagamentos do FIES para as instituies de ensino so feitos por uma srie especial

    de ttulos federais: a CTF-E. O valor de face desse ttulo atualizado mensalmente pelo IGP-M

    e ele pode ser usado diretamente para a quitao de tributos federais. Caso no seja usado

    para essa finalidade, ele pode ser vendido no programa de recompra do Tesouro Nacional, que

    aberto pelo menos uma vez a cada trimestre (na prtica, mensalmente).

    5.2 Custos do programa

    A Tabela 2 mostra os valores de liquidao e o nmero de contratos vlidos do FIES desde

    2008.

    Tabela 02: Custo estimado do FIES por contrato por ano

    Ano Entrantes no FIES

    (a) Estimativa

    de contratos

    vlidos

    (b) Valor da

    liquidao a

    preos de 2013

    (b / a) Custo

    por

    Contrato*

    Valor nominal

    de liquidao

    Total efetivo

    de contratos

    2008 32.384 217.386 R$ 1.425 MM R$ 6.553,40 R$ 1.064 MM 2009 32.669 172.843 R$ 944 MM R$ 5.459,71 R$ 728 MM 2010 75.932 190.034 R$ 1.931 MM R$ 10.164,27 R$ 1.562 MM 2011 153.570 294.555 R$ 3.068 MM R$ 10.417,20 R$ 2.662 MM 2012 368.841 631.012 R$ 3.501 MM R$ 5.548,97 R$ 3.258 MM 623.241 2013 557.192 1.155.535 R$ 6.284 MM R$ 5.438,17 R$ 6.284 MM 928.715

    2014** 582.750 1.662.353 R$ 8.821 MM R$ 5.307,80 R$ 9.492 MM 1.600.000***

    Fonte: Relatrios de gesto do FIES (e respectivas auditorias) dos exerccios de 2010, 2012 e 2013

    (*) Custo dos contratos a preos de 2013 (deflacionados pelo custo da educao superior medido pelo IPCA)

    (**) Valores estimados com base nas propores histricas do programa em relao populao

    (***) O ministro da educao Henrique Paim, em entrevista para a Veja em 01/07/2014, afirmou haver 1,6 milho de

    contratos ativos no FIES. Esse nmero comparvel aos 1.662.353 projetados pela metodologia

    (http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/adesao-ao-fies-da-pos-graduacao-comeca-nesta-semana)

  • 19

    O total estimado de contratos vlidos para cada ano a soma dos entrantes no FIES nos

    quatro anos anteriores a ele. Com base nos dados de 2012 a 2014 possvel ver que essa

    uma aproximao bastante razovel do nmero efetivo de contratos (na ltima coluna). Alm

    disso, interessante como, em reais de 2013, o custo por contrato permanece, na maior parte

    dos anos, por volta de R$ 5.500,00.

    Outra observao importante

    que, como mostra o Grfico

    10, a acelerao do FIES

    coincide com o aumento do

    preo relativo da educao

    superior em relao cesta

    de consumo da economia

    (dados do IPCA). Esse

    movimento pode ter duas

    causas distintas, no

    excludentes: a expanso do

    FIES foi muito acelerada face

    ao que seria a expanso

    normal da oferta de cursos

    (deslocamento da curva de

    demanda por educao superior) ou a expanso do FIES reduziu a sensibilidade do aluno ao

    custo da educao superior (mudana na inclinao da curva de demanda, tornando-a mais

    inelstica).

    5.3 Benefcios do programa

    5.3.1 Os prmios salariais

    O Brasil tem um elevado prmio salarial para o ensino superior. De acordo com a PNAD, o

    salrio mdio das pessoas com algum ensino superior foi, em 2012, de aproximadamente R$

    3.600,00. J o salrio mdio das pessoas somente com o ensino mdio completo foi, pela

    mesma pesquisa, de aproximadamente R$ 1.450,00. Com base nesses parmetros, o prmio

    de salrio mdio de 148%. Esses dados esto de acordo com a literatura: em Barbosa e

    Pessa (2008), o prmio salarial do ensino superior em 2004 foi estimado em 28% ao ano,

    totalizando 168% ao longo de quatro anos. Portanto, os nmeros de 2004 e 2012 so

    compatveis entre si e com os parmetros utilizados nas simulaes.

    Para uma base de comparao dos prmios, de acordo com a Current Population Survey de

    2013, do U.S. Census Bureau, o salrio mdio de uma pessoa com ensino mdio completo

    US$ 651,00, ao passo em que o salrio das pessoas com ensino superior incompleto de US$

    727,00 (41,1% das pessoas com ensino superior completo e incompleto), com diploma de

    associado de US$ 777,00 (19,6% desse grupo) e com diploma de bacharel de US$ 1.108,00

    (39,3% desse grupo). Portanto, o prmio salarial americano de aproximadamente 36,2%.

    Possivelmente os menores prmios americanos esto associados maior abundncia de

    Grfico 10: Preo relativo da educao e nmero de alunos

    matriculados no ensino superior

    Fontes: IBGE e INEP * Volume de alunos matriculados no ensino superior em 2013 e 2014 estimado com base no modelo

    adotado neste trabalho.

  • 20

    profissionais formados, como mostra a Tabela 03: em 2010, de acordo com dados de Barro e

    Lee (2014), 53,9% da populao americana tinha alguma formao superior.

    Possivelmente existe uma relao entre o maior prmio salarial brasileiro e a menor proporo

    de pessoas com ensino superior, por dois motivos. O primeiro deles quantitativo: a existncia

    de poucas pessoas com ensino superior em relao s pessoas com ensino mdio faz com que

    exista uma oferta menor daquele grupo de trabalhadores em relao a esse, alterando seu

    preo relativo. O segundo deles envolve a noo de retornos decrescentes de escala: a

    expanso do sistema ir, naturalmente, aumentar o contingente de pessoas menos produtivas

    na educao superior e, como consequncia, reduzir seu prmio salarial. Por esses dados,

    supondo uma relao linear entre as duas variveis, para cada ponto percentual de aumento

    na proporo de pessoas com mais de 15 anos com ensino superior completo, podemos

    esperar uma contrao de 2,5 pontos percentuais no prmio de salrio mdio do ensino mdio

    para o superior.

    Logo, se o Brasil tende, at 2060, a ter 40% da populao com mais de 15 anos com alguma

    escolaridade superior, o prmio salarial mdio no perodo 2015-2060 deve ser de 111%.

    Considerando os parmetros salariais de 2012, isso equivale a R$ 19.314,00 anuais de prmio.

    A anlise desagregada por cursos refora esses nmeros: o FIES tem se concentrado em

    profisses com remunerao acima do rendimento mdio com o qual estamos trabalhando

    (que de R$ 3.600,00, referncia para pessoas com alguma educao superior, segundo a

    PNAD de 2012). Como mostra a Tabela 04, o prmio salarial mdio da concluso do curso mais

    financiado de mais de R$ 40 mil anuais. A renda mdia dessas profisses (usando a mdia

    dos salrios de demisso e admisso do CAGED) de R$ 4,6 mil, com um prmio salarial de R$

    37,8 mil, bastante acima dos R$ 19.314,00 e dos R$ 20.000,00 utilizados nestes clculos.

    Tabela 03: Prmio salarial e dados educacionais de Brasil e Estados Unidos

    Varivel Brasil EUA

    Prmio salarial 148% 36%

    Populao de 15 anos ou mais com ensino superior incompleto ou completo 9% 54% Fontes: 2013 Current Population Survey (U.S. Census Bureau), PNAD 2012 e Barro e Lee (2014)

    Tabela 04: Nmero de contratos do FIES por curso (2010 a 2012)

    Curso Contratos do FIES

    (598,3 mil)

    Participao no

    Total

    Rendimento Mensal Mdio

    da Profisso (2012)

    Direito 94 mil 15,7% R$ 4,8 mil

    Administrao 50 mil 8,4% R$ 4,0 mil

    Enfermagem 47 mil 7,9% R$ 3,0 mil

    Engenharia Civil 37 mil 6,2% R$ 6,9 mil Fontes:

    1. Estudo sobre a relao oferta/demanda de cursos de graduao no Brasil (Ministrio da Educao), 2012, p.24. 2. Edio 27 do Radar de Tecnologia, Produo e Comrcio Exterior do IPEA: Edio Especial de Perspectivas

    Profissionais de Ensino Tcnico e Superior (dados originais do CAGED)

  • 21

    Outro elemento a se considerar na anlise o alinhamento entre os incentivos do concedente

    e do tomador do emprstimo. Cada aluno do programa, mesmo no custeando seus estudos,

    tem um custo de oportunidade por no estar trabalhando e recebendo o salrio mdio das

    pessoas com colegial completo. Esse elemento funciona como um alinhador de incentivos

    entre o governo e os estudantes: o programa to mais vantajoso para o aluno quanto maior

    for o seu potencial. Em particular, considerando um prmio salarial de 168%, a TIR do ensino

    superior para o indivduo, j considerando a tributao sobre a renda do trabalho que incidir

    sobre seus ganhos e o seu custo de oportunidade, de 12,9% ao ano. Como os alunos tm

    informao privada sobre suas habilidades, o custo de oportunidade do estudo funciona como

    um elemento natural (embora imperfeito) de revelao dessa informao. Uma das formas de

    aprimorar esse mecanismo poderia ser colocar restrio ao trabalho nos primeiros anos do

    programa, o que seria mais facilmente implementvel mediante o aumento da cobertura das

    despesas financiadas.

    5.3.2 A carga tributria e a questo previdenciria

    Os efeitos do aumento de renda sobre a economia e as finanas pblicas no se restringem ao

    aumento de arrecadao de impostos trabalhistas. Esse aumento de renda acompanhado de

    um aumento de produtividade e da tributao do consumo das famlias, alm do fato de que

    uma populao com maior renda reduz a presso do governo pela prestao de servios

    pblicos. Todavia, a anlise deste estudo se limita contabilizao dos efeitos da tributao do

    trabalho. Inclusive, todo o prmio salarial das simulaes ocorre no mercado de trabalho

    formal (assim como os custos de oportunidade do ensino mdio), e, portanto, o efeito

    arrecadatrio da sonegao est embutido no crowding-out.

    Da tributao formal somente o INSS trabalhista no est considerado nos clculos, por servir

    para financiar as despesas previdencirias derivadas do aumento de renda dos aposentados: a

    um juro real de 5,0% ao ano, com o aumento no salrio-de-contribuio estimado para o ES

    em R$ 1.670,003 estima-se um aumento de arrecadao do INSS trabalhista de R$ 212,70

    mensais4. Logo, a valor futuro em termos reais, o saldo acumulado de 35 anos de contribuio

    nesse regime de R$ 236 mil. Esse valor, sacado mensalmente de forma a zerar o saldo da

    aplicao (atualizada a 5% de juros reais anuais) quando o indivduo atingir 81,6 anos5, gera

    uma renda mensal de R$ 1.474,57. Logo, se o valor da aposentadoria estimado estiver acima

    de R$ 1.474,57 essa contribuio no suficiente para financi-la; caso contrrio, ela o

    bastante.

    Considerando a expectativa de vida oficial da tabela de fator previdencirio, atualmente em

    81,6 anos, o fator previdencirio aplicvel no caso analisado de 85,82%. Portanto, o aumento

    no valor da aposentadoria do contribuinte a partir do prmio salarial considerado de R$

    1.433,20 (85,82% de R$ 1.670,00). Consequentemente, a contribuio previdenciria

    3 De R$ 1.450,00 mensais para R$ 3.120,00 mensais.

    4 Pela tabela vigente em 2014 h uma mudana de alquota de 9% para 11% entre o valor inicial e o

    final: R$ 212,70 = 11% x R$ 3.120,00 9% x R$ 1.450,00. 5 Expectativa de vida oficial do IBGE usada para o cmputo do fator previdencirio para um indivduo

    que se aposenta aos 60 anos (incio da contribuio previdenciria aos 25 anos, com 35 anos de contribuio).

  • 22

    trabalhista cobre as despesas previdencirias do indivduo, j que R$ 1.433,20 menor do que

    R$ 1.474,57.

    So consideradas nas simulaes a contribuio previdenciria do empregador (20,0%), a

    contribuio trabalhista a terceiros (de 3,3% a 5,8%, majoritariamente para o Sistema-S) e o

    IRPF (estimado em 5,4% sobre o prmio salarial6). O Sistema-S no pago por toda a

    economia, mas, por outro lado, a estrutura de IR tambm faz com que o vis da alquota mdia

    sobre o prmio salarial seja muito maior. Somando esses elementos, a tributao do prmio

    salarial varia de 28,7% a 31,2%, em mdia 30,0%.

    Outra forma de abordar o problema pela carga tributria total da economia. Supondo que o

    valor das rendas de todas as outras formas de insumos (capital fsico, trabalho e capital

    humano) no so afetados pelo programa, o PIB aumentar na mesma magnitude dos prmios

    salariais pagos. Nesse caso, o parmetro de tributao mais adequado seria a carga tributria

    total hoje est por volta de 38% do PIB (considerando todas as formas de tributo). Portanto,

    essa anlise tambm valida a hiptese de tributao de aproximadamente 30% do valor

    gerado pela economia.

    Vale notar que h outros benefcios fiscais derivados do programa, notadamente a tendncia

    de as pessoas com maior renda serem menos dependentes da oferta de servios pblicos.

    Dada a ineficincia do Estado em fornec-los, esse pode ser um fator de alvio para as contas

    pblicas no longo prazo. Independentemente do FIES, essa uma tendncia que pode se

    concretizar em virtude dos aumentos de escolaridade j contratados.

    5.3.3 A quitao dos emprstimos e a inadimplncia

    O volume de subsdio das taxas de juros j faz com que, mesmo com inadimplncia zero, o

    programa de emprstimo, por si s, seja, na verdade, um programa de transferncia de renda.

    Considerando um financiamento mdio de R$ 750,00 por ms durante os quatro anos do

    perodo de faculdade, o valor de quitao das parcelas seria de R$ 325,26, em 156 vezes. A um

    custo de financiamento governamental de 11% ao ano (5% de juro real e 6% de inflao), o

    valor presente das quitaes de R$ 16,7 mil e o valor presente do emprstimo de R$ 29,3

    mil. Logo, aproximadamente 43% de todo o financiamento transferido ao tomador do

    emprstimo, mesmo com total adimplncia dos contratos.

    fato que, mantido um ritmo de concesses de emprstimos de 550 mil novos alunos por ano,

    pelo longo prazo de financiamento e longo perodo de carncia, o total de crditos concedidos

    rapidamente alcana uma proporo significativa do PIB: a um custo de R$ 5.500 anuais, em

    linha com os valores estimados neste trabalho, o total de crditos a receber pelo governo pode

    atingir at 2,0% do PIB. Portanto, desconsiderando a questo tributria e deixando de lado o

    foco agregado do resultado do programa, com seus efeitos indiretos, algumas contas da

    administrao fiscal podem adquirir uma relevncia muito maior do que elas tm hoje. Afinal,

    atualmente a Unio no s financia os emprstimos como aporta recursos no fundo garantidor

    dos emprstimos estudantis. No dispomos de dados suficientes para a anlise, porm a

    exploso do FIES est amplamente associada ao incio da atuao do FGEDUC, o que poderia

    6 Se a renda de um indivduo sai de R$ 1.450,00 para R$ 3.120,00, seu IRPF foi estimado em R$ 90,00

    (22,5% de alquota marginal, deduzida de 20%, percentual da declarao de IRPF simplificada).

  • 23

    atestar que a restrio de fiana muito importante para a disseminao da poltica. Porm, o

    artigo stimo da lei ordinria 12.087/2009 estabelece um limite para a exposio da Unio

    neste tipo de fundo. Por essa razo, a migrao para um modelo de emprstimo no qual a

    devoluo dos recursos ocorre por meio do imposto de renda, alm de possibilitar a cobrana

    de taxas de juros mais adequadas com a realidade brasileira, eliminaria a necessidade de

    administrao do risco de inadimplncia.

    Diante dessas consideraes, colocado um desafio manuteno do atual patamar de

    crescimento do FIES: com o esgotamento da capacidade de fornecimento de garantia do

    FGEDUC (em virtude do limite de exposio da Unio e do limite de alavancagem de 10 vezes)

    possvel que o programa volte s taxas de expanso observadas antes de 2012. Afinal, as

    evidncias indicam que mais de 50% dos ingressantes no FIES usaram a garantia do fundo.

    Como resultado da longa maturidade dos crditos concedidos, uma vez atingido o limite do

    FGEDUC levaro alguns anos at que ele tenha novamente flego para as concesses de

    emprstimo (a no ser que a lei seja alterada).

    5.4 Simulaes do resultado

    Atualmente, o prmio salarial do ensino superior de aproximadamente R$ 25.000,00.

    Supondo uma carga tributria sobre esse salrio, entre impostos patronais e trabalhistas, de

    30% (somente o INSS patronal j de 20%), cada trabalhador, depois de formado, gera um

    ganho arrecadatrio de R$ 7.500,00 anuais para o Fisco (o custo atual dos contratos, como

    argumentado, est por volta de R$ 6.000,00). Considerando que o trabalhador fica 35 anos no

    mercado de trabalho, embora fique no ensino superior por somente quatro anos, s de ganhos

    arrecadatrios, desconsiderando qualquer quitao do emprstimo contrado, cada aluno do

    FIES financia, ao longo de toda a sua vida, outros 11.

    A Tabela 05 mostra os parmetros utilizados na simulao. Alguns deles merecem destaque:

    no nosso exerccio, 70% dos ingressantes do FIES fariam o ensino superior independentemente

    do programa. Mesmo nessas condies o programa superavitrio (o que intuitivo, na

    medida em que o impacto gerado por cada aluno no programa financia outros 11). Essa

    hiptese bastante conservadora, haja vista a concomitncia entre a acelerao do nmero

    Tabela 05: Parmetros bsicos da simulao dinmica

    Parmetro Valor

    Prmio salarial R$ 20.000,00

    Inflao geral 5,0% Inflao de educao 5,0% Inflao de salrios 5,0% Inadimplncia 10,0% Crowding-out 70% Probabilidade de concluso do curso 50% Tributao marginal 30% Proporo de entrada no FIES / Populao de 18 a 30 anos 1,3% Superior no FIES 3% da populao de 18-30 anos (*) Taxa de juros de equilbrio (nominal) 11,0% Durao do ensino superior Quatro anos Parcelamento Treze anos Juro anual FIES 3,4% a.a.

    *Exceto crowding-out

  • 24

    de novos ingressos no ensino

    superior e a acelerao do

    FIES. O Grfico 11 tambm

    mostra essa evidncia.

    Apesar de o nmero de novos

    ingressos em 2013 nesse

    grfico ser projetado, nota-se

    que, at 2012, o nmero de

    ingressos no ensino superior

    alm dos novos contratos de

    FIES permanece praticamente

    constante. Ou seja, at 2012

    no tivemos evidncia de

    crowding-out significativo. Os

    dados preliminares de 2013

    indicam que pode estar

    havendo alguma substituio entre os dois tipos de alunos, mas, ainda assim, dentro dos

    valores considerados.

    Outra projeo conservadora

    a ausncia de ganhos

    salariais alm da inflao de

    5,0% (e do prmio salarial

    considerado). Isso faz com

    que seja desconsiderado o

    efeito da maior escolaridade

    sobre o crescimento

    econmico e, portanto, com

    que efeitos benficos do

    programa sejam

    desconsiderados.

    Desconsiderando a limitao

    da capacidade do FGEDUC de

    concesso de emprstimos,

    suporemos, como colocado

    na Tabela 05, que o governo

    manter o ritmo de

    contratao do programa nos

    prximos anos. Em virtude

    das tendncias demogrficas

    exploradas anteriormente, a

    contratao de FIES simulada

    para os prximos anos est

    colocada no Grfico 12. Com

    esses resultados, os grficos

    Grfico 11: Nmero de novos ingressos no ensino superior FIES e no

    FIES

    Fonte: Tabela 4.1 do Censo para a Educao Superior do INEP (ingresso

    no ensino superior presencial) e Pgina 10 da Prestao de Contas

    Ordinrias Anual de 2013 do FIES (dado de nmero de ingressos no

    ensino superior sem FIES em 2013 projetado)

    Grfico 13: Proporo da populao com 15 anos ou mais com ensino

    superior completo ou incompleto

    Fonte: Barro e Lee (2014), com simulaes dos autores.

    Grfico 12: Nmero simulado de novos entrantes no FIES at 2060

    Fonte: prestaes de contas ordinrias do FIES e simulaes dos autores.

  • 25

    13 a 15 mostram como evoluiria a escolaridade brasileira em relao aos Estados Unidos e aos

    pares da Amrica Latina.

    importante notar, em primeiro

    lugar, que parte substancial

    desse crescimento decorre da

    expanso de novos ingressos no

    ensino superior realizada

    durante as ltimas dcadas.

    Como mostrado no grfico 09,

    esse nmero tem crescido

    substancialmente: hoje o

    nmero de pessoas que entra

    no ensino superior maior em

    aproximadamente um milho,

    em relao dcada de 80.

    Considerando parmetros de

    longevidade, isso faz com que

    exista uma tendncia natural de

    crescimento da populao com

    ensino superior completo ou

    incompleto nos prximos anos

    e essa tendncia que faz com

    que atinjamos a marca de

    quase 40% da populao com

    esse grau de escolaridade em

    2060. Isso representa uma

    rpida convergncia para os

    nossos pares na Amrica Latina,

    mas ainda est distante de

    nveis educacionais como o

    americano: at 2060 ns no

    teremos, nesse ritmo, atingido

    o patamar americano de

    escolaridade de 2010, assim

    como em 2010 ainda no

    tnhamos ultrapassado o nvel

    americano de 1950.

    Com um crowding-out de 70%,

    o volume de alunos

    efetivamente colocados no

    sistema pelo FIES de somente

    180 mil em 2015 e 115 mil em

    2060. Logo, durante todo o perodo considerado o programa teria colocado somente 6,6

    milhes de pessoas no ensino superior, o que deve equivaler a 3,5% da populao com 15 ou

    Grfico 15: Proporo da populao com 15 anos ou mais com ensino

    superior completo ou incompleto

    Fonte: Barro e Lee (2014), com simulaes dos autores.

    Grfico 16: Impacto do programa simulado na dvida pblica

    Fonte: simulaes dos autores.

    Grfico 14: Proporo da populao com 15 anos ou mais com ensino

    superior completo ou incompleto

    Fonte: Barro e Lee (2014), com simulaes dos autores.

  • 26

    mais anos de idade (em 2060). Como base de comparao, a um crowding-out de 0%, o

    nmero de pessoas afetadas pelo programa atingiria 22 milhes de pessoas, ou 11,7% da

    populao com 15 ou mais anos (elevando a ltima barra do Grfico 15 de 39,9% para 48,1%),

    em 2060.

    Apesar de o volume total de emprstimos contratados tender a um crescimento substancial ao

    longo dos prximos anos, o volume de recursos necessrio para manter o programa em

    funcionamento bastante razovel, na comparao com outros programas de transferncia de

    renda mantidos pelo governo. A um ritmo de 550 mil contrataes por ano, no longo prazo o

    programa ter, todos os anos, 2.200 mil contratos ativos para financiar. A um custo de R$

    5.500 por contrato (em reais de 2012), o custo do programa de R$ 12 bilhes, a reais de 2012

    (0,27% do PIB daquele ano). De fato, como mostra o Grfico 17, o desembolso anual nunca

    ultrapassa, no cenrio construdo, 0,3% do PIB.

    Quando considerados os efeitos tributrios do programa (j levando em considerao todos os

    parmetros expostos, inclusive o crowding-out), o programa tem um ponto de equilbrio em

    2023. Ou seja, a partir desse ano o valor da receita tributria obtido com os alunos que o FIES

    conseguiu formar maior do que o desembolso anual com os novos financiados. Olhando para

    a dinmica da dvida pblica, no

    Grfico 16, possvel ver como os

    benefcios com o programa, na

    simulao, so to grandes que,

    no longo prazo, ele reduz a dvida.

    pice do seu impacto na dvida

    pblica ocorre na dcada de 30

    justamente porque o ponto de

    equilbrio derivado no Grfico 17

    considera somente os fluxos

    anuais: no Grfico 16 so tambm

    contabilizadas as despesas com

    juros do estoque de dvida

    acumulado.

    5.5 Anlises de sensibilidade

    A anlise de sensibilidade visa

    mostrar quais so as variveis

    relevantes para a

    manuteno da concluso

    qualitativa deste trabalho. Por

    exemplo, os efeitos fiscais de

    um crowding-out de 70% ou

    de um de 65% com taxa de

    desemprego estrutural de 5%

    sobre os formados no

    programa equivalente.

    Grfico 17: Desembolsos brutos e lquidos, por ano, com o FIES

    Fonte: simulaes dos autores.

    Grfico 18: Impacto do programa com mudana no prmio salarial

    Fonte: simulaes dos autores.

  • 27

    Se o prmio salarial for menor do que o estimado neste trabalho, por exemplo de R$ 10 mil

    anuais, como mostra o Grfico 18, o impacto do programa se torna extremamente perverso.

    Isso mostra como essencial que, nesse programa, seja avaliada a empregabilidade dos

    alunos, assim como a estrutura da sua renda futura. Se o efeito crowding-out for menor os

    resultados tambm mudam sensivelmente: o Grfico 19 mostra a simulao da dvida no

    cenrio base e no cenrio alternativo com crowding-out de 30% (em vez de 70%). Essa anlise,

    por sua vez, mostra como importante a manuteno de mecanismos capazes de revelar a

    disposio dos estudantes a pagar privadamente pelo seu ensino, como ocorre no modelo

    australiano. Em outras palavras, o programa pode ser muito benfico para a gerao de

    resultado nas contas pblicas, mas, para isso, ele precisa ser efetivo. Por efetivo entende-se

    que:

    Ele deve procurar financiar somente os

    alunos com necessidade

    real de financiamento

    (deve haver

    mecanismos de

    revelao de capacidade

    de pagamento, como o

    desconto para o

    estudante que pagar

    uma maior parte das

    mensalidades com

    recursos prprios)

    Ele deve garantir empregabilidade: no

    modelo adotado neste

    trabalho a taxa de

    desemprego no est

    sendo diretamente

    empregada, mas ela

    pode ser entendida

    como parte do

    crowding-out ou do

    prmio salarial. Como

    essas so variveis

    essenciais para a

    sustentao do resultado principal, percebe-se como a empregabilidade um fator-

    chave no sucesso e na sustentabilidade do projeto.

    Ele deve garantir nvel de renda. No s importante que os estudantes estejam empregados, mas importante que eles tenham um prmio salarial real relevante em

    relao ao ensino mdio.

    A experincia americana traz bastante do segundo e do terceiro elementos discusso. No

    Brasil, o critrio de qualidade adotado na concesso dos financiamentos somente a nota no

    Grfico 19: Impacto do programa com mudana no crowding-out

    Fonte: simulaes dos autores.

    Grfico 20: Impacto do programa com mudana no custo dos contratos

    Fonte: simulaes dos autores.

  • 28

    ENADE, mas essencial que empregabilidade e impacto na renda sejam adotados como

    fatores principais na determinao do limite de crdito das IES.

    O custo dos contratos tambm uma varivel muito importante, como mostra o Grfico 20

    (que contempla um aumento do custo de financiamento de R$ 5.500,00 para R$ 11.000,00, a

    reais de 2012). Mas, na verdade, o que essa parte da anlise de sensibilidade mostra que

    existe uma relao entre o custo dos contratos e o prmio salarial que deve ser considerada na

    estipulao dos valores mximos financiados para cada IES. Portanto, para que seja atingida a

    estrutura de dvida estimada no cenrio-base bastaria que o limite de financiamento de

    parcela de cada instituio de ensino fosse 27,5% do produto entre o prmio salarial e um

    ndice de empregabilidade (que poderia ser a proporo de alunos empregados num

    determinado perodo aps o trmino do curso). Controlados esses parmetros, os benefcios

    fiscais do programa seriam preservados e, da mesma forma, o incentivo do governo e das

    instituies de ensino estaria alinhado: cursos que ofeream maiores prmios salariais e maior

    empregabilidade teriam mais recursos para trazer alunos de baixa renda, assim como

    poderiam ter uma parcela maior das suas mensalidades financiada pelo governo.

    Como mostra o Grfico 21, um

    aumento substancial da

    inadimplncia (de 10% para

    30%) ainda no seria capaz de

    alterar a anlise qualitativa

    deste trabalho: o impacto do

    programa na dvida atingiria

    um pico em 2045, mas depois

    entraria numa trajetria

    persistente de queda. Em

    outras palavras, o aumento da

    inadimplncia poderia adiar os

    benefcios do programa, mas, caso ele realmente consiga colocar no ensino superior alunos

    que estavam excludos dele e ainda oferecer prmios salariais compatveis com a realidade do

    mercado brasileiro, os benefcios viro.

    Evidentemente, da forma que o programa est desenhado atualmente, um aumento na taxa

    de inadimplncia geraria diversos problemas institucionais, tanto em virtude de eventuais

    dificuldades que o FGEDUC pode ter na cobertura dos emprstimos (o seu limite de

    alavancagem foi modelado para suportar taxas de inadimplncia de at 10% e ele no est

    alocado em ativos de alta liquidez), como em virtude de eventuais dificuldades polticas na

    cobrana dessas dvidas. Porm, como mostra este estudo, o programa tem grandes

    possibilidades de sucesso se for redesenhado, especialmente se eliminar o problema da

    inadimplncia incluindo, como no caso australiano, a quitao das dvidas de crditos

    educacionais no imposto de renda.

    Grfico 21: Impacto do programa com o aumento da taxa de

    inadimplncia

  • 29

    Bibliografia

    AUSTRLIA (2014). Informao sobre os programas de financiamento da educao terciria.

    Disponvel em < http://studyassist.gov.au/sites/StudyAssist/>. Consulta em 01/09/2014

    BARRO, Robert e LEE, Jong-Wha (2014). A New Dataset of Educational Attainment in the World

    1950-2010. Journal of Development Economics, vol.104, pp.184-198

    BRASIL (2011). Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Superior. Fundo de

    Financiamento Estudantil FIES. Relatrio de Gesto do Exerccio de 2010.

    BRASIL (2013). Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Superior. Fundo de

    Financiamento Estudantil FIES. Relatrio de Gesto do Exerccio de 2012.

    BRASIL (2014). Portal do FIES. Disponvel em < http://sisfiesportal.mec.gov.br/>. Consulta em

    01/09/2014.

    BRASIL (2014). Receita Federal do Brasil. Imposto sobre a renda Pessoa Fsica Perguntas e

    Respostas. Disponvel em <

    http://www.receita.fazenda.gov.br/publico/perguntao/irpf2014/PerguntaseRespostasIRPF201

    4.pdf>. Consulta em 08/09/2014.

    BRASIL (2014). Receita Federal do Brasil. Contribuies Previdencirias. Disponvel em <

    http://www.receita.fazenda.gov.br/previdencia/formascontrib.htm>. Consulta em

    03/10/2014.

    BRASIL (2014). Secretaria da Previdncia Social. Aposentadoria por Contribuio Previdenciria.

    Disponvel em . Consulta em

    26/09/2014.

    BRASIL (2014). Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Superior. Fundo de

    Financiamento Estudantil FIES. Relatrio de Gesto do Exerccio de 2013.

    BRASIL (2014). Banco Central do Brasil. Notas econmico-financeiras para a imprensa. Poltica

    Fiscal. Disponvel em < http://www.bcb.gov.br/?ecoimprensa>. Consulta em 05/09/2014.

    CANAD (2014). Programas de bolsas e emprstimos para estudantes. Disponvel em

    . Consulta em 01/09/2014.

    ESTADOS UNIDOS (2014). Departamento de Educao. Escritrio de Ajuda Financeira Federal

    aos Estudantes. Disponvel em < https://studentaid.ed.gov>. Consulta em 01/09/2014.

    ESTADOS UNIDOS (2014). Departamento de Estatsticas do Trabalho. Pesquisa da Populao

    Corrente de 2013.

    FILHO, Fernando de Holanda Barbosa e PESSA, Samuel (2008). Retorno da Educao no

    Brasil. Pesquisa e Planejamento Econmico; 2008, v.38, n.1.

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. PNAD 2012 Rio de Janeiro; 2012, v.32.

  • 30

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Projees populacionais Rio de Janeiro;

    2014.

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira. Censo da

    Educao Superior 2012 Braslia; 2013.

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira. Censo da

    Educao Superior 2011 Braslia; 2012.

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira. Censo da

    Educao Superior 2010 Braslia; 2011.

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira. Censo da

    Educao Superior 2009 Braslia; 2010.

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira. Censo da

    Educao Superior 2008 Braslia; 2009.

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira. Censo da

    Educao Superior 2007 Braslia; 2008.

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira. Censo da

    Educao Superior 2006 Braslia; 2007.

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira. Censo da

    Educao Superior 2005 Braslia; 2006.

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira. Censo da

    Educao Superior 2004 Braslia; 2005.

    NERI, Marcelo (2013). Escolhas Universitrias e Performance Trabalhista. Radar tecnologia,

    produo e comrcio exterior (IPEA); v.27.

    TANEGUTI, Luiza Yoko. Ministrio da Educao. Conselho Nacional de Educao Superior.

    Desenvolvimento, aprimoramento e consolidao de uma educao nacional de qualidade.

    Produto 2 Relatrio tcnico.