Fig. 3 Lançadeira · 2020. 11. 12. · A notória evolução e diversificação das práticas...
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BIBLIOGRAFIA BERNAL CASASOLA, Darío (2008) – Arqueología de las redes de pesca. Un tema crucial de la economia marítima hispanorromana. Mainake. Málaga. XXX, pp. 181-215.
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Em 2017 foi identificada uma nova unidade de preparados piscícolas em intervenção arqueológica
preventiva na área ribeirinha de Faro (Rua Francisco Barreto) – zona de cariz industrial da antiga cidade
portuária de Ossonoba, da qual se conheciam escassas referências (Fig. 1 e 2).
A actividade pesqueira seria absolutamente fundamental ao funcionamento destes complexos fabris,
onde é frequente a recolha de materiais associados à pesca. Nesta etapa preliminar da investigação do sí-
tio, em que se dá primazia ao estudo e divulgação da cultura material, apresenta-se a colecção de instru-
mentos de pesca recuperada neste local composta, à semelhança de officinae análogas, por agulhas (3),
anzóis (10) e peso de rede.
Entre as agulhas identificadas (Tabela 1) distinguem-se duas tipologias de acordo com a sua morfo-
logia e função – a confecção ou a reparação de redes. À primeira função atribui-se um exemplar comple-
to do que vulgarmente se designa por lançadeira (Fig. 3) ou agulha de “naveta”. As restantes duas agu-
lhas (Fig. 4) identificadas destinavam-se à reparação de redes de pesca. Na região, não são estranhos es-
tes instrumentos, registando-se a sua presença em Monte Molião (Lourenço, 2010: 40-41), Loulé Velho
e Cerro da Vila (Quarteira) (Vargas Girón, 2017: 18-19).
Já os anzóis analisados não revelam diferenças consideráveis ao nível da morfologia e da dimensão
(cf. Tabela 2), podendo ser enquadrados no grupo dos anzóis simples, com a extremidade martelada e
sem qualquer tipo de ranhuras ou marcas horizontais (Fig. 5), pequenos, na sua maioria (com compri-
mento de haste entre os 2,5 e 4cm, excepto exemplar com 4,2 cm de comp.). A predominância deste tipo
de anzóis já fora apontada na zona do Círculo do Estreito (Vargas Girón, 2011: 214), atestando a prática
de pesca com cana e linha a partir da costa ou em pequenas embarcações.
Por último, junta-se uma peça em cerâmica de classificação controversa – de formato cilíndrico e
oco, com estreitamento na extremidade superior (Fig. 6) – que se optou por inserir na categoria dos pe-
sos de rede. Embora sem paralelo formal absoluto, pela sua morfologia e dimensão aproxima-se aos
“pesos fusiformes” relacionados com redes de médio ou grande porte. (Bernal Casasola, 2008: 197)
identificados nalguns sítios costeiros da antiga província Mauritânia Tingitana como as fábricas de pro-
cessamento de peixe em Tahaddart (Tânger) (Ponsich, 1988: 149-150, fig. 32-4) ou em Septem Frates
(Península de Almina, Ceuta) (Bernal Casasola, 2010: 101 e fig. 9 – CIV).
Os artefactos aqui dados à estampa procedem dos níveis de colmatação dos tanques de salga desco-
bertos. Salvaguardada a possibilidade da ocorrência de material residual mais antigo, tudo indica que a
generalidade da colecção se enquadra no momento precedente ao abandono do sítio estimado e fixado
nos finais do séc. VI (Fernández & alii, no prelo).
A notória evolução e diversificação das práticas pesqueiras na Antiguidade ficam a dever-se, essencial-
mente, ao desenvolvimento de um conjunto de instrumentos que tornaram a pesca uma actividade genera-
lizada e rentável. No campo da investigação arqueológica, o estudo destes testemunhos materiais encontra
-se ainda pouco desenvolvido, revelando algumas lacunas ao nível da sua perfeita contextualização e ca-
racterização. O recorrente aparecimento de instrumental pesqueiro em sítios arqueológicos costeiros teste-
munha a ampla difusão e prática generalizada das diferentes técnicas de pesca.
Os artefactos que integram a amostra analisada remetem para o uso complementar de duas técnicas pes-
queiras em particular: a pesca à linha e anzol e a utilização de redes que proporcionam capturas mais nu-
merosas.
A análise destes materiais terá de ser necessariamente correlacionada com os vestígios ictiológicos que
começam, finalmente, a ser também contemplados nalguns projectos interdisciplinares. Apesar da fauna
marinha surgir bem representada na iconografia (e.g. mosaicos e moedas) e referida na literatura, existem
ainda algumas falhas de conhecimento relativamente às espécies capturadas e ao tipo de pesca praticada na
Antiguidade. Será, provavelmente, na complementaridade entre estes dois ramos, ictiologia e o estudo do
instrumental pesqueiro, que residirá a chave para o esclarecimento de algumas questões pendentes acerca
desta actividade económica que seria de vital relevância para as populações costeiras, já nos primeiros sé-
culos da nossa era.
Anzol Área/ U.E. Comp. Abertura Garganta Espessura da haste
Farpa Extremidade da haste
Conservação
1 Área F [707]
4,2 cm 1,5 cm 1,2 cm 0,3 cm Presente Martelada Completo
2 Área F [707]
3,6 cm 1,5 cm 1,4 cm 0,2 cm Presente Martelada Completo
3 Área F [708]
2,7 cm 1,3 cm 0,7 cm 0,15 cm Presente Subtilmente martelada
Completo
4 Área A [719]
3,8 cm 1,5 cm 1,15 cm 0,3 cm Presente Martelada Completo
5 Área L [865]
2,6 cm 1,3 cm 1,15 cm 0,2 cm Presente Martelada Completo
6 Área D [894]
3,2 cm 1,2 cm 0,85 cm 0,2 cm Presente Martelada Completo
7 Área H [940]
(Comp. VIII) 3,35 cm 1,4 cm 1,1 cm 0,25 cm Presente Martelada Completo
8 Área H [942]
(Comp. VIII) 2,9 cm 1,35 cm 0,85 cm 0,25 cm Presente
fragmentada Indeterminada Fragmentado
9 Área J [967]
1,8 cm - - 0,25 cm Ausente Ausente Incompleto
10 Área J [967]
3 cm 1,4 cm 0,85 cm 0,25 cm Presente Martelada Completo
Designação
Área e U.E.
Comp. Espessura Estado de Conservação
Outras informações
Lançadeira Área F [707]
21,5 cm 0,35 cm Completa Duas forquilhas, uma em cada extremi-dade da haste;
Amplitude da abertura: 0,5x1,5cm e 0,4x1,2cm
Agulha
Área A [719]
11,6 cm 0,5 cm Incompleta
Agulha
Comp. V [860]
10,2 cm 0,2 cm Completa, mas dobrada
Fig. 3 - Lançadeira
Fig. 4 - Agulhas
Fig. 5 - Anzóis Fig. 6 - Peso de rede em cerâmica
Tabela 1 - Agulhas
Tabela 2 - Anzóis
Fig. 1 - Localização da intervenção na malha urbana da actual cidade de Faro (base do Google Earth).
Fig. 2 - Vista geral da área de intervenção.