Filosofia Estética: Hegel e Platão

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Aluno: Flávio Ricardo da Silva Atividade II 1.0 - TESE: HEGEL É AINDA UM HERDEIRO DE PLATÃO 1.1 - HEGEL E A MORTE DA ARTE OU HEGEL PLATÔNICO. Diferentemente de Platão, Hegel confere a arte um papel importante na busca do ser humano por conhecimento ou no processo de realização do absoluto 1 “[...] as obras da arte bela [são] como o primeiro elo intermediário entre o que é meramente exterior, sensível e passageiro e a liberdade infinita do pensamento conceitual” (HEGEL, 2001, p.32). Ele enxerga na arte uma dignidade que a põe acima da mera experiência sensível e cotidiana. A arte seria um primeiro passo na direção de um conhecimento mais elevado, uma verdade mais profunda. “A penetração do espírito na Ideia é lhe mais penosa quando passa pela dura casca da natureza e do mundo cotidiano do que lhe é pelas obras de arte” (HEGEL, 2001, p.34). Mas Hegel também enxerga uma limitação na arte, ela não pode expressar os interesses mais elevados do espírito, “para ser autêntico conteúdo da arte, a verdade ainda deve possuir a determinação de poder transitar para o sensível e de poder nele ser adequada a si” (Idem). A arte só pode expressar uma verdade que seja aparentada ao sensível – que possa transitar e ser expressa adequadamente no mundo sensível. “Em contrapartida, há uma versão mais profunda da verdade, na qual ela não é mais tão aparentada e simpática ao sensível” (Ibidem). Portanto, não 1 FEITOSA, 2007, p. 62

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Para a elaboração do trabalho são propostas duas teses:1- Hegel é ainda um herdeiro de Platão.2- Hegel se afasta em alguma medida daquela que é uma das principais heranças do platonismo.A partir das duas teses são escritos dois textos tentando justificá-las. O primeiro intitulado "Hegel e a morte da arte ou Hegel platônico" e o segundo "Hegel: Aparência e essência".

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Aluno: Flvio Ricardo da SilvaAtividade II

1.0 - TESE: HEGEL AINDA UM HERDEIRO DE PLATO 1.1 - HEGEL E A MORTE DA ARTE OU HEGEL PLATNICO.Diferentemente de Plato, Hegel confere a arte um papel importante na busca do ser humano por conhecimento ou no processo de realizao do absoluto[footnoteRef:1] [...] as obras da arte bela [so] como o primeiro elo intermedirio entre o que meramente exterior, sensvel e passageiro e a liberdade infinita do pensamento conceitual (HEGEL, 2001, p.32). Ele enxerga na arte uma dignidade que a pe acima da mera experincia sensvel e cotidiana. A arte seria um primeiro passo na direo de um conhecimento mais elevado, uma verdade mais profunda. A penetrao do esprito na Ideia lhe mais penosa quando passa pela dura casca da natureza e do mundo cotidiano do que lhe pelas obras de arte (HEGEL, 2001, p.34). Mas Hegel tambm enxerga uma limitao na arte, ela no pode expressar os interesses mais elevados do esprito, para ser autntico contedo da arte, a verdade ainda deve possuir a determinao de poder transitar para o sensvel e de poder nele ser adequada a si (Idem). A arte s pode expressar uma verdade que seja aparentada ao sensvel que possa transitar e ser expressa adequadamente no mundo sensvel. Em contrapartida, h uma verso mais profunda da verdade, na qual ela no mais to aparentada e simptica ao sensvel (Ibidem). Portanto, no no sensvel e naquilo que se liga de alguma forma ao sensvel, que jaz o mais elevado, as verdades mais profundas, superiores. Aqui j se mostra certa ciso ou, pelo menos, a aceitao de uma hierarquia entre sensvel e inteligvel sendo o inteligvel superior ao sensvel uma faceta platnica do pensamento hegeliano se mostrando. [1: FEITOSA, 2007, p. 62]

Ainda que Hegel reconhea em oposio a Plato uma verdade expressa na arte, essa no seria a mais elevada possvel ao esprito humano. Existem crculos mais elevados da verdade que j no podem ser expressos adequadamente pelo sensvel, que j no se adquam a arte como forma de expresso do espiritual atravs do sensvel. Estes crculos mais elevados so mais bem expressos pela filosofia e pela religio. Ou seja, existe uma hierarquia entre arte, religio e filosofia religio e filosofia estando acima da arte, sendo veculos mais adequados expresso do esprito. Na caminhada do esprito rumo ao absoluto a arte, j no tempo de Hegel, foi superada como campo de expresso de verdades elevadas. No nos dirigimos mais a arte como fonte de conhecimento, j no podemos ver sacralidade na obra de arte, no podemos ter uma relao religiosa com trabalhos artsticos, no vemos uma verdade elevada na arte. Em suma, seu papel na busca pelo conhecimento foi superado. Essa a morte da arte. O diagnstico de Hegel a cerca do status epistemolgico da arte em sua poca a importncia da arte em vista do conhecimento, como algo que proporciona conhecimento o diagnstico da morte da arte, embasado por ele na suposio de que a arte no capaz de transmitir verdades to elevadas quanto a religio e a filosofia. A arte abandonada (como forma de expresso de verdades elevadas) por possuir uma limitao intrnseca que superada pela religio (crist) e pela filosofia. Ou seja, mesmo que Hegel conceda certa dignidade arte no que concerne a expresso de verdades, ela expressa verdades inferiores as que a filosofia e a religio so capazes de expressar. Este um carter notadamente platnico em Hegel. Esta hierarquia do conhecimento bota a arte em uma condio inferior, uma condio que superada pelo esprito ao longo da histria. A arte fonte de verdade apenas em tempos mais primitivos e com o avanar do esprito em direo ao absoluto, a arte vai sendo deixada para trs. Perdendo sua importncia, sua sacralidade. Desta perspectiva como se o ideal platnico expresso na Repblica a saber, de expulsar os poetas do convvio dos habitantes de uma plis ideal em nome de uma cidade mais racional e assim mais justa se concretizasse por uma necessidade do esprito de buscar formas de expresso que comportem verdades mais elevadas (mais abstratas, no sentido de menos exprimveis sensivelmente) do que a arte pode expressar. Assim, no se faz necessrio expulsar os poetas, pois ningum mais os ouve, ningum os leva a srio, no sentido de acreditar que eles possam transmitir algum conhecimento relevante. Portanto, mesmo Hegel no sendo to radical quanto Plato no declarando a arte como uma cpia da cpia, uma iluso em dobro no seu parecer a respeito da arte transparece certa incapacidade da arte de expressar o mais elevado, o absoluto. A arte tem um acesso restrito ao mundo inteligvel ou ao puro pensamento desligado de qualquer representao sensvel que visto como superior. Assim sendo, permanece em Hegel a viso de certa inferioridade da arte, noo que pode ser vista como uma herana platnica.2.0 - TESE: HEGEL SE AFASTA EM ALGUMA MEDIDA DAQUELA QUE UMA DAS PRINCIPAIS HERANAS DO PLATONISMO.2.1 - HEGEL, APARNCIA E ESSNCIA.Hegel no v na aparncia algo que encobre a essncia algo que, portanto, deve ser descartado e tomado como mera iluso. Pelo contrrio, a aparncia o meio pelo qual a essncia pode se mostrar, meio sem o qual ela no se efetivaria. A aparncia essencial a essncia, a verdade nada seria se no se tornasse aparente e aparecesse (HEGEL, 2001, p.33). Neste ponto ele se distancia de Plato que v na aparncia o mero devir que no possui a estabilidade da essncia; estabilidade, esta, que se faz necessria ao (verdadeiro) conhecimento que est para alm do carter fugaz, fludo e instvel da experincia sensvel. Essa crena em uma instncia racional superior que transcende o conhecimento sensvel, visto como catico, uma das principais heranas do platonismo. Para entender a posio de Hegel frente metafsica platnica examinarei analise hegeliana da importncia da arte.Para Hegel aqueles que criticam a aparncia na arte o fazem por tomar o mundo sensvel imediato tanto o mundo sensvel externo quanto o interno (de nossa experincia subjetiva do sensvel) como o mundo efetivo, real e verdadeiro, como a realidade absoluta, digamos. Hegel alega que tal concepo do que seja real, efetivo e verdadeiro errnea, e no leva em considerao que a autntica efetividade apenas pode ser encontrada alm da imediatez da sensao e do objetos exteriores (Idem), pois o real, efetivo e verdadeiro somente se d [no] processo pelo qual um ser sai de si, torna-se para si, para retornar a si, chegar a si pela mediao do que no si (BRAZ, 1990, p. 20). Ou seja, o verdadeiro no se d na objetividade (suposta objetividade) do mundo externo, nem na subjetividade, mas em um processo que envolve interao entre os dois, apesar de o superior ser o esprito, que nesse processo conhece a si mesmo. Por essa via Hegel tenta refutar aqueles que criticam a arte por verem-na como uma imitao do mundo, pois estes esto tomando o mundo externo que se apresenta aos sentidos de forma imediata como a realidade absoluta o que, na concepo hegeliana, errneo. Aqui vemos Hegel se aproximando de Plato quando diz que o mundo como se mostra aos sentidos no a realidade superior, absoluta, e ao mesmo tempo se distanciando do platonismo. Um distanciamento em que sentido? No sentido de que ele bota a arte como um passo a frente, digamos, no conhecimento da efetividade verdadeira. A arte no uma mera cpia, imitao do sensvel, mas obra que se efetivando traz ao sensvel algo de espiritual. E o traz conscientemente, reconhecendo-se como tendo origem espiritual/racional. Um passo adiante, digamos, no caminho em direo ao absoluto. O que aparece na arte est em um nvel superior ao que aparece cotidianamente, pois na experincia cotidiana tudo nos parece sob um caos de causas e efeitos nos quais a essncia (que se mostra em toda experincia sensvel) no vista claramente. A efetividade cotidiana tende a ser catica demais para que a essncia racional das coisas seja captada. J no aparecer que se mostra na arte pode-se reconhecer as foras eternas que regem a histria, desligadas do presente sensvel imediato e de sua inconsistente aparncia (HEGEL, 2001, p. 34). Foras eternas e racionais, percebe-se aqui a crena em um princpio racional superior ao mero caos aparente, princpio este, que rege a histria.A concluso a que chego de que: No que tange a posio da arte em relao ao conhecimento verdadeiro, Hegel se ope a Plato. Para ele aquilo que se mostra na arte no mera imitao das coisas que esto no mundo. Coisas estas, que teriam um grau maior de participao na essncia verdadeira (ideia, forma) e, portanto, seriam mais reais do que aquilo que retratado na arte (uma rvore mais real do que a pintura de uma rvore). J no que tange ao mundo externo entendido cotidianamente, ao mundo da experincia sensvel cotidiana, Hegel mantm uma posio que nos parece platnica quando afirma que este pode ser um empecilho ao conhecimento da verdade devido ao modo catico dos eventos causais que vivenciamos. Na experincia cotidiana a essncia atrofiada pela imediatez do sensvel e pelo arbtrio de estados, acontecimentos, caracteres e assim por diante (HEGEL, 2001, p.33).

BIBLIOGRAFIAHEGEL, G. W. F.. Cursos de Esttica Vol. 1. Trad. Marco Aurlio Werle. So Paulo: Edusp, 2001.BRAZ, Gerard. Hegel e a Arte. Uma apresentao esttica. Trad. Maria Luza Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.FEITOSA, Charles. O senso e o sensvel na esttica de Hegel. Revista Artefilosofia Janeiro de 2007. Disponvel na pgina do moodle da disciplina de esttica. Acessado em 9 de maio de 2012