Financiamento da Infraestrutura de Transporte e ...³rio Agosto de 2018 Financiamento da...
Transcript of Financiamento da Infraestrutura de Transporte e ...³rio Agosto de 2018 Financiamento da...
Relatório
Agosto de 2018
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária
Recomendações de LVC para o Estudo de Caso de Fortaleza
Banco Mundial
Nosso ref: 23263301
Cliente ref: # 1254006
A Steer Davies Gleave preparou este documento para Banco Mundial. Este documento deve ser usado exclusivamente dentro do contexto e do escopo para o qual a Steer Davies Gleave foi contratada, não pode ser citado em parte ou no todo por terceiros nem pode
ser usado com nenhuma outra finalidade. Qualquer pessoa que optar por usar qualquer parte deste documento sem a autorização expressa por escrito da Steer Davies Gleave deve estar ciente do acordo de indenizar a Steer Davies Gleave por todos os danos e
prejuízos decorrentes deste uso. A Steer Davies Gleave preparou este documento utilizando práticas e procedimentos profissionais, utilizando a informação disponível no momento de seu desenvolvimento, e desta forma qualquer nova informação pode alterar a
validade dos resultados e das conclusões apresentadas.
Relatório
Agosto de 2018
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de
Recuperação da Valorização Imobiliária
Recomendações de LVC para o Estudo de Caso de Fortaleza
Preparado por:
Preparado para:
Steer Davies Gleave
Rua Bela Cintra, 756 – cj21 São Paulo – SP 01415-000 Brasil
Banco Mundial
World Bank Group eConsultant2 https://wbgeconsult2.worldbank.org/wbgec/index.html
+55 (11) 3151 3630
www.steergroup.com
Cliente ref: # 1254006
Nosso ref: 23263301
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
i
Índice
Apresentação ................................................ 1
Objetivos do trabalho .............................. 1
Finalidade do caderno ............................. 2
Público-alvo ............................................. 2
Estrutura do documento ......................... 2
1 Introdução ........................................... 4
Novos paradigmas para as cidades
brasileiras ................................................ 4
Justificativa para aplicação de LVC .......... 5
Quais cidades podem implementar LVC? 5
2 Visão Geral de Land Value Capture ....... 7
Precedentes Históricos ............................ 7
Definição do conceito de LVC .................. 9
Tipos de mecanismos de LVC ................ 10
Formas de aplicação .............................. 13
3 Desenvolvimento Orientado ao
Transporte ......................................... 15
LVC e Desenvolvimento Orientado ao
Transporte ............................................. 15
Benefícios da associação LVC e DOT ..... 16
Conceito beneficiado-pagador .............. 17
Densidade construída e densidade
populacional .......................................... 19
Densidade populacional e capacidade do
transporte ............................................. 21
Arrecadação potencial e financiamento
do transporte ........................................ 22
4 Introdução ao estudo de caso em
Fortaleza ............................................ 25
Abordagem do estudo de caso ............. 26
Contexto Urbano e Metropolitano de
Fortaleza ................................................ 26
Contexto das estações de Papicu e
Parangaba ............................................. 29
5 Diagnóstico de Fortaleza..................... 30
Legislação Urbanística e Planejamento
Urbano .................................................. 30
Desenvolvimento urbano e uso do solo 38
Sistema de transporte em Fortaleza ..... 57
6 Estratégia proposta para Fortaleza ...... 78
Contexto político-institucional de
Fortaleza ................................................ 78
Inventário e Seleção dos Mecanismos LVC
............................................................... 79
Nova ZEDUS ........................................... 82
Modelo Financeiro ................................. 93
7 Lições Aprendidas ............................. 112
8 Recomendações para Fortaleza ......... 114
1. Mobilização Política e Governança .. 114
2. Estruturação e implementação de
política públicas LVC+DOT ................... 117
3. Fortalecimento Institucional ............ 124
Referências ................................................ 128
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
ii
Figuras
Figura 1.1: Tipologias de cidades brasileiras ..... 6
Figura 2.1: Linha do tempo de adoção de
instrumentos de LVC .......................................... 7
Figura 2.2: Puente del Común, Bogotá,
construída por contribuição de melhoria (1809)
........................................................................... 8
Figura 2.3: Componentes do valor do solo
urbano ............................................................... 9
Figura 2.4: Tipos de instrumentos de LVC ....... 11
Figura 2.5: Instrumentos de LVC de acordo com
seus objetivos .................................................. 13
Figura 3.1: Conceito beneficiado-pagador ...... 17
Figura 3.2: Exemplo de São Paulo - relação entre
densidade construtiva e populacional ............. 19
Figura 3.3: Exemplo de Fortaleza: relação entre
densidade construtiva e populacional ............. 20
Figura 3.4: Cota de terreno habitacional ......... 20
Figura 3.5:Adensamento populacional x
demanda de transporte ................................... 21
Figura 3.6: Custo da Infraestrutura versus
densidade ........................................................ 22
Figura 3.7: Comportamento teórico da taxa de
valorização fundiária produzida por uma obra
pública ............................................................. 23
Figura 3.8: Ciclo entre investimento, valorização
imobiliária e arrecadação ................................ 24
Figura 4.1: Distribuição de renda em Fortaleza
......................................................................... 27
Figura 4.2: Sistema de Transporte
Metroferroviário – linhas previstas e existentes
......................................................................... 28
Figura 5.1: Zoneamento de Fortaleza ............. 31
Figura 5.2: Localização das OUCs existentes em
Fortaleza .......................................................... 33
Figura 5.3: OUCs e áreas de proteção ambiental
......................................................................... 34
Figura 5.4: ZEDUS instituídas pelo LPUOS, 2017
......................................................................... 35
Figura 5.5: Síntese do desenvolvimento
metropolitano de Fortaleza............................. 42
Figura 5.6: Formulação dos cenários de
desenvolvimento urbano ................................ 43
Figura 5.7: Áreas de influência direta (oferta) e
indireta (demanda) .......................................... 44
Figura 5.8: Área de influência indireta (cinza) de
Papicu ............................................................... 46
Figura 5.9: Área de influência indireta (cinza) de
Parangaba ........................................................ 48
Figura 5.10: Inventário de terrenos e perfil de
ocupação - Estação Papicu ............................... 51
Figura 5.11: Inventário de terrenos e perfil de
ocupação - Estação Parangaba ........................ 51
Figura 5.12: Tempo de absorção - IA
PROPOSTO ....................................................... 52
Figura 5.13: Competição entre áreas de
desenvolvimento imobiliário: Comparação
entre ZEDUS proposta e OUCs existentes e
propostas ......................................................... 53
Figura 5.14- Tempo de absorção - IA PROPOSTO
......................................................................... 54
Figura 5.15: Cenário de desenvolvimento
conservador - Parangaba ................................. 55
Figura 5.16: Competição entre áreas de
desenvolvimento imobiliário: Comparação
entre ZEDUS proposta e OUCs existentes e
propostas ......................................................... 55
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
iii
Figura 5.17: Comparativo entre oferta e
demanda, sob condições da legislação atual e
proposta ........................................................... 56
Figura 5.18: Estatística operacional de uma
amostra de linhas de ônibus (2011) ................ 58
Figura 5.19: Sistema metroferroviário ............ 58
Figura 5.20: Demanda do sistema
metroferroviário .............................................. 59
Figura 5.21: Carregamento do sistema
metroferroviário .............................................. 59
Figura 5.22: Capacidade da Linha Sul do Metrô
......................................................................... 60
Figura 5.23: Demanda Linha Sul 2042 (HPM) .. 60
Figura 5.24: Capacidade da Linha Leste do
Metrô ............................................................... 61
Figura 5.25: Demanda Linha Sul 2042 (HPM) .. 61
Figura 5.26: Capacidade da Linha Leste do
Metrô ............................................................... 62
Figura 5.27: Demanda VLT2042 (HPM) ........... 62
Figura 5.28: Embarques e desembarques nas
estações ........................................................... 63
Figura 5.29: Localização das estações Papicu e
Parangaba ........................................................ 65
Figura 5.30: Entorno da estação Papicu .......... 66
Figura 5.31: Entorno da estação Parangaba ... 66
Figura 5.32: Grau de centralidade das estações
......................................................................... 68
Figura 5.33: Betwenness das estações ............ 69
Figura 5.34: Closeness das estações................ 70
Figura 5.35: Conectividade da malha viária .... 71
Figura 5.36: Acessibilidade para pedestre das
estações ........................................................... 72
Figura 5.37: Acessibilidade para ciclistas ........ 72
Figura 5.38: Caminhabilidade das estações .... 73
Figura 5.39: Atratividade das estações ........... 73
Figura 5.40: Resultado na análise 3V Framework
......................................................................... 77
Figura 6.1: Objetivos da política pública de
Fortaleza .......................................................... 79
Figura 6.2: Critérios de avaliação dos
mecanismos LVC .............................................. 80
Figura 6.3: Base conceitual da estratégia
proposta: enfoque sistêmico ........................... 82
Figura 6.4: Base conceitual da estratégia
proposta: adensamento dos eixos de transporte
......................................................................... 83
Figura 6.5: Áreas de influência para delimitação
das novas ZEDUS .............................................. 83
Figura 6.6: Metodologia para delimitação da
área de influência ............................................ 84
Figura 6.7: Zonas Especiais de Dinamização
Urbanística e Socioeconômica (ZEDUS) ........... 85
Figura 6.8: Delimitação da Nova Zedus............ 86
Figura 6.9: ZEDUS proposta associada ao
sistema de transporte ...................................... 87
Figura 6.10: Hierarquização das áreas de
desenvolvimento urbano de Fortaleza ............ 88
Figura 6.11: Diretrizes para uso e ocupação do
solo ................................................................... 89
Figura 6.12: Triângulo prioritário de
desenvolvimento ............................................. 90
Figura 6.13: Escalas do Planejamento Urbano 91
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
iv
Figura 6.14: Parâmetros e Transformações
urbanas: qualificação do entorno das estações
......................................................................... 92
Figura 6.15: Exemplo de calibração do Fator
DOT a ser incorporado na fórmula de cobrança
da OODC .......................................................... 96
Figura 6.16: Cenários adotados no modelo ... 100
Figura 6.17: Comparativo dos diferentes
cenários de arrecadação total por mecanismos
LVC para 2040 ................................................ 101
Figura 6.18: Arrecadação (R$ milhões) da OODC
nos diferentes cenários e prazos (5, 10 e 23
anos) por estação - Premissa de
desenvolvimento Pessimista ......................... 102
Figura 6.19: Arrecadação (R$ milhões) da OODC
nos diferentes cenários e prazos (5, 10 e 23
anos) por estação – Premissa de
Desenvolvimento Otimista ............................ 102
Figura 6.20: Arrecadação (R$ milhões) da OODC
nos diferentes cenários e prazos (5, 10 e 23
anos) – Premissa de desenvolvimento
Pessimista ...................................................... 103
Figura 6.21: Arrecadação (R$ milhões) da OODC
nos diferentes cenários e prazos (5, 10 e 23
anos) – Premissa de Desenvolvimento Otimista
....................................................................... 103
Figura 6.22: Arrecadação (R$ mil) da OOAU (5,
10 e 23 anos) – Premissa de desenvolvimento
Pessimista ...................................................... 104
Figura 6.23: Arrecadação (R$ mil) da OOAU (5,
10 e 23 anos) – Premissa de Desenvolvimento
Otimista ......................................................... 104
Figura 6.24: Arrecadação (R$ milhões) por
venda de ativos públicos ............................... 105
Figura 6.25: Arrecadação (R$ milhões) para os
dois cenários de arrendamento de ativos
públicos por premissas de desenvolvimento 106
Figura 6.26: Aumento no valor da terra - Papicu
....................................................................... 107
Figura 6.27: Aumento no valor da terra -
Parangaba ...................................................... 107
Figura 6.28: Adicional sobre valor venal por ano
(R$ milhões) - Premissa Pessimista ............... 108
Figura 6.29: Adicional sobre valor venal por ano
(R$ milhões) - Premissa Otimista .................. 108
Figura 6.30: Percentual da arrecadação dos
mecanismos LVC em relação a capacidade de
investimento de Fortaleza - Cenário Base ..... 111
Figura 6.31: Percentual da arrecadação dos
mecanismos LVC em relação à capacidade de
investimento de Fortaleza - Cenário
Intermediário ................................................. 111
Figura 6.32: Percentual da arrecadação dos
mecanismos LVC em relação à capacidade de
investimento de Fortaleza - Cenário Máximo 111
Tabelas
Tabela 2.1: Classificação dos instrumentos de
LVC e seus objetivos ......................................... 12
Tabela 2.2: Categorias de instrumentos e
processo de recuperação da valorização
imobiliária ........................................................ 13
Tabela 3.1: Tipologia urbana e densidade bruta
......................................................................... 19
Tabela 5.1: Arrecadação do FUNDURB em
comparativo com a arrecadação total de
Fortaleza .......................................................... 36
Tabela 5.2: Evolução da população e domicílios
(2000 - 2040) .................................................... 45
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
v
Tabela 5.3: Projeção de empregos em Fortaleza
......................................................................... 45
Tabela 5.4: Incremento da área construída
residencial por bairro (2018-2040) .................. 46
Tabela 5.5: Área construída não residencial por
atividade econômica - 2015 ............................ 47
Tabela 5.6: Incremento de área construída não
residencial (2017 - 2040) ................................. 47
Tabela 5.7: Incremento da área construída
residencial por bairro (2018-2040) .................. 48
Tabela 5.8: Área construída não residencial por
atividade econômica - 2015 ............................ 49
Tabela 5.9: Incremento de área construída não
residencial (2017 - 2040) ................................. 49
Tabela 5.10: Volume de E/D da Estação Papicu
(Linha Leste e VLT) – Passageiros transportados
por Hora Pico Manhã (HPM) ............................ 63
Tabela 5.11: Volume de E/D Estação Parangaba
(Linha Sul e VLT) – Passageiros transportados
por Hora Pico Manhã (HPM) ............................ 63
Tabela 5.12: Betwenness das estações ........... 69
Tabela 5.13: Grau de conexão das estações .... 70
Tabela 5.14: Valor do lugar .............................. 74
Tabela 5.15: Matriz de oportunidade LVC ....... 75
Tabela 5.16: Valor de mercado das estações .. 76
Tabela 6.1: Mecanismos LVC selecionados para
Fortaleza .......................................................... 80
Tabela 6.2: Avaliação dos mecanismos LVC
previstos na lista preliminar ............................ 81
Tabela 6.3: Valores de mercado e valores venais
......................................................................... 94
Tabela 6.4: Valor de arrendamento ................ 97
Tabela 6.5: Valor de Venda ............................. 97
Tabela 6.6: Valores venais por tipo de uso para
AID de Papicu e Parangaba ............................. 98
Tabela 6.7: Cenários de combinação entre
mecanismos LVC .............................................. 99
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
1
A Steer foi contratada pelo Banco Mundial para desenvolver o estudo
sobre Financiamento da Infraestrutura de Transportes e Transformação
Urbana: Estudos de Caso no Metrô de Fortaleza, com o intuito de avaliar
a potencialidade de aplicação de mecanismos de Recuperação da
Valorização Imobiliária (do termo em inglês Land Value Capture – LVC)
no contexto das cidades brasileiras, especificamente em Fortaleza.
Este documento traz parte dos conteúdos desenvolvidos junto ao Banco
Mundial, no contexto de um trabalho analítico e de assistência técnica
executado entre novembro de 2017 e julho de 2018, e em parceria com
o Município de Fortaleza (Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente,
SEUMA), com o Governo do Estado do Ceará (Metrô de Fortaleza,
METROFOR) e o Ministério das Cidades.
Objetivos do trabalho
As cidades brasileiras têm como desafio coordenar as ações
interfederativas e as intervenções intersetoriais por melhorias urbanas e
seus meios de financiamento. O padrão de desenvolvimento urbano
disperso e o orçamento limitado levam a um descompasso entre as
demandas urbanas e a provisão de infraestruturas e equipamentos
necessários ao processo completo de urbanização.
Tradicionalmente, as limitações de investimento dos entes subnacionais
impunham uma condição de dependência com os recursos financeiros
dos tesouros e/ou de repasse dos Governos Federal e Estaduais.
Alternativamente, levavam às opções de endividamento interno e
externo, que nem sempre (e cada vez menos) estão disponíveis para
fazer frente às necessidades dos municípios.
Este trabalho nasce, portanto, com o objetivo duplo de:
i. Fomentar ação coordenada entre planejamento e
implementação de políticas e projetos de uso do solo e de
transportes; e
ii. Contribuir para a implementação e disseminação de práticas
inovadoras (e alternativas) ao financiamento clássico do
desenvolvimento urbano e da infraestrutura de transportes e
mobilidade, neste caso principalmente através de mecanismos
de Recuperação da Valorização Imobiliária (doravante definido
como LVC, do inglês Land Value Capture).
Os mecanismos LVC servem como uma medida de justa distribuição dos
benefícios e ônus do processo de urbanização, revertendo-as em
benefícios para toda a população.
A arrecadação proporcionada por tais instrumentos não é fim em si mesma: trata-se de ferramenta para a viabilização das diretrizes de planejamento urbano. Tais diretrizes devem visar reduzir as desigualdades socioterritoriais e propiciar a todos seus habitantes o direito à cidade social, econômica e ambientalmente sustentável.
Apresentação
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
2
Assim, a maior arrecadação e autonomia financeira por parte das
diversas esferas do governo, ganhos de eficiência urbana e nos sistemas
de transportes e, consequentemente, a construção de cidades
ambientalmente mais equilibradas e socialmente inclusivas são,
portanto, alguns dos desdobramentos buscados.
Para cumprir com acima, o presente trabalho se propôs a estudar a
aplicação prática de mecanismos de LVC no cenário brasileiro,
observando as barreiras, as questões políticas-institucionais e as
necessidades de adaptação às especificidades locais.
Escolheu-se Fortaleza como uma cidade com contexto particular,
desafios e potencialidades reais para compor este estudo de caso. Essa
experimentação permitiu extrair lições e recomendações importantes,
tanto para orientar os próximos passos do município na implementação
da estratégia desenvolvida, tanto para servir de referência para demais
cidades brasileiras.
Finalidade do caderno
O processo percorrido por esse estudo resultou em dois cadernos de
recomendações sobre LVC, conforme segue:
• Estudo de Caso de Fortaleza: Apresentação do diagnóstico e da
estratégia desenvolvida para Fortaleza, a partir do estudo de caso
no entorno de duas estações multimodais do sistema
metroferroviário – Parangaba e Papicu - com o objetivo de
identificar quais mecanismos de LVC podem ser aplicados ao
contexto político-institucional do município e seu potencial de
arrecadação de receita, a fim de financiar a qualificação urbana
necessária nessas áreas.
• Lições e Recomendações de LVC para Cidades Brasileiras: fornece
lições e recomendações para aplicação de mecanismos de LVC em
cidades brasileiras, evidenciadas a partir da análise crítica de
experiências nacionais e internacionais. Através do estudo de caso
de Fortaleza, traz um passo a passo metodológico para elaboração
de estudos que serve de referência para demais cidades.
O presente documento constitui o caderno final Estudo de Caso de
Fortaleza, que permitiu a experimentação prática e concreta sobre o
tema e a aplicação da metodologia proposta.
Público-alvo
Esse caderno visa instrumentalizar técnicos e tomadores de decisão das
áreas de planejamento e mobilidade urbana, tanto das esferas públicas
municipais e estaduais, quanto da esfera federal e organizações da
sociedade civil, e de quaisquer setores de planejamento relativos a
ordenamento territorial, finanças e meio ambiente. E, que encontrarão
neste caderno uma ferramenta útil de apoio para capacitação e
aplicação dos conceitos de LVC.
Estrutura do documento
O conteúdo deste caderno está organizado em quatro partes principais:
A primeira parte, formada pelos três primeiros capítulos, sintetiza os
fundamentos e princípios que norteiam o tema LVC.
A segunda parte, formada pelos capítulos de 4 e 5, correspondem ao
diagnóstico do estudo de Caso de Fortaleza, focado no planejamento e
desenvolvimento urbano e sistema de transportes.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
3
A terceira parte, formada pelo capítulo 6, reúne a estratégia de
implementação da política LVC+DOT de Fortaleza, os cenários de
desenvolvimento urbano e a avaliação do potencial de arrecadação LVC.
A quarta parte, formada pelo capítulo 7 e 8, apresenta as principais
lições aprendidas com o estudo de caso e as recomendações para
Fortaleza.
Assim, este documento está estruturado pelos seguintes capítulos:
• Capítulo 1 – Introdução;
• Capítulo 2 – Visão Geral de Land Value Capture: definição do
conceito, objetivos, os tipos de mecanismos existentes e sua
classificação;
• Capítulo 3 – Desenvolvimento Orientado ao Transporte: definição
de conceitos, objetivos, os benefícios da associação de LVC+DOT e a
relação das densidades;
• Capítulo 4 – Introdução ao estudo de caso em Fortaleza:
abordagem do estudo de caso, contexto urbano e metropolitano de
Fortaleza e contexto das estações de Papicu e Parangaba;
• Capítulo 5 – Diagnóstico de Fortaleza: legislação urbanística e
planejamento urbano, desenvolvimento urbano e uso do solo e
sistema de transporte em Fortaleza;
• Capítulo 6 – Estratégia proposta para Fortaleza: contexto político-
institucional de Fortaleza, inventário e seleção dos mecanismos
LVC, nova ZEDUS e modelo financeiro;
• Capítulo 7 – Lições aprendidas
• Capítulo 8 – Recomendações para Fortaleza
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
4
Esse capítulo tem como objetivo apresentar o contexto e as motivações
que justificam a implementação dos mecanismos de LVC nas cidades
brasileiras e esclarece sobre quais cidades podem implementa-los.
Novos paradigmas para as cidades brasileiras
Em busca por outros modelos de cidade
Um dos grandes desafios hoje enfrentados pelas mais diversas cidades
brasileiras estão relacionadas às condições de infraestrutura e de
transporte. Nas últimas décadas, o modelo de urbanização dispersa têm
se mostrado insustentável sob o aspecto das economias urbanas, da
mobilidade, do acesso às oportunidades e da equidade social, afetando
diretamente a qualidade de vida das pessoas e do ambiente, bem como
o desempenho econômico das cidades.
Efetivamente, são necessárias mudanças na orientação das políticas
públicas adotadas pelos municípios como forma de melhorar a situação
enfrentada pelas grandes e médias cidades, e evitar que cidades de
menor porte se desenvolvam a partir do modelo de cidade com tantas
deseconomias e ineficiências urbanas.
A busca por um modelo sustentável indica ser necessária uma
abordagem sistêmica e multidisciplinar dos diversos temas que
compõem a cidade, que aborde ordenamento territorial, mobilidade
urbana, planejamento ambiental, políticas econômicas, entre outras
áreas de planejamento.
Uma vez definida essa outra visão de cidade é que surge a necessidade
de busca por modelos alternativos de financiamento, a fim de aumentar
a capacidade de investimento dos municípios na provisão de
infraestrutura e transporte e nas melhorias urbanas necessárias para
uma melhor qualidade de vida da população, encontrando nos
princípios de LVC e DOT ferramentas poderosas para viabilizar esses
objetivos.
Sob o intuito da disseminação de práticas de arrecadação de recursos,
que proporcionem benefícios às diversas esferas do governo - seja por
permitir um maior grau de autonomia financeira e ampliação do poder
de investimento municipal no desenvolvimento de projetos de
mobilidade, infraestrutura e desenvolvimento urbano, seja pelos ganhos
em eficiência do sistema de transporte - o presente trabalho se
desdobra sobre o conceito de Land Value Capture (LVC), denominado
como recuperação de mais-valias fundiárias urbanas.
Este conceito é definido pelo processo pelo qual o aumento no valor do
terreno, decorrente de obras públicas ou da alteração dos parâmetros
urbanísticos de parcelamento, uso e ocupação do solo, é parcialmente
recuperado pelo setor público como uma medida de justa distribuição
dos benefícios e ônus do processo de urbanização, revertendo-as em
benefícios para a população.
Esses mecanismos podem proporcionar ao governo municipal recursos
para financiamento da infraestrutura necessária à urbanização,
realização de melhorias urbanas e de acessibilidade. Também traz
1 Introdução
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
5
benefícios ao governo estadual (geralmente responsável pelos sistemas
de transporte metroferroviário) através da melhoria na
microacessibildade às estações; um maior equilíbrio entre a oferta e
demanda do sistema de transportes; a valorização dos ativos públicos
relacionados às estações; e a ampliação das receitas tarifárias e não
tarifárias.
Os mecanismos LVC devem contribuir para a construção de cidades
ambientalmente mais equilibradas e socialmente inclusivas. Para isso, é
fundamental que se estabeleça uma política pública de
desenvolvimento urbano, integrada ao planejamento do sistema de
transporte, e os benefícios gerados em termos de retorno dos
investimentos e da diminuição das deseconomias urbanas.
Justificativa para aplicação de LVC
Segundo Furtado (2011), o uso de instrumentos que viabilizem a
recuperação da valorização imobiliária se justifica, já que:
• A valorização do solo é sempre derivada da atuação pública;
• Os proprietários do solo não geram a sua valorização;
• Se a sociedade não a recupera, toda a valorização é apropriada
pelos proprietários.
Os instrumentos têm como objetivo financiar o desenvolvimento e
manutenção das cidades, financiar obras públicas, compensar as
desigualdades socioespaciais, desencorajar a especulação imobiliária e
estimular o bom funcionamento do mercado. Visa também garantir
distribuição justa de bônus e ônus do desenvolvimento urbano entre
Poder Público, proprietários, desenvolvedores imobiliários e usuários;
além de aumentar a arrecadação do município para implantação e
manutenção de infraestruturas e reduzir a dependência de fontes
externas de financiamento para implantação de infraestruturas. Têm
como principal objetivo gerir os bônus e ônus no município através de
um maior equilíbrio na oferta de infraestrutura entre áreas mais
precárias do município. Trata-se, portanto, de garantir a justiça social.
Novas infraestruturas promovem valorização imobiliária, portanto, é justo recuperar tal valorização e reaplicá-la na própria infraestrutura (seja novas ou existentes), já que geralmente o custo de sua implantação é inferior à valorização gerada.
Quais cidades podem implementar LVC?
Todas as cidades podem implementar LVC, contudo, cada tipo de cidade
– definida por porte, capacidade técnica e institucional, dinâmicas
urbanas e outros aspectos - irá exigir um roteiro estratégico (roadmap)
distinto para implementação dos mecanismos LVC.
Segundo o IBGE, as cidades brasileiras podem ser classificadas conforme
os portes:
• Cidades grandes: mais de 500 mil habitantes, possuem maiores
recursos estruturais;
• Cidades médias: de 100 mil até 500 mil habitantes, geralmente,
atuam como centro regional das cidades próximas, que dependem
de seus serviços especializados;
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
6
• Cidades pequenas: até 100 mil habitantes, em geral, dependem do
comércio local e de movimentação da economia rural.
• Metrópole: espaço urbano com continuidade territorial que, em
razão de sua população e relevância política e socioeconômica, tem
influência nacional ou sobre uma região que configure, no mínimo,
a área de influência de uma capital regional, conforme os critérios
adotados pelo IBGE. (Definição do Estatuto da Metrópole)
Figura 1.1: Tipologias de cidades brasileiras
De acordo com o IBGE (2017), quanto à dinâmica demográfica, as
cidades médias têm crescido e as metrópoles estão estagnadas. Já as
pequenas cidades têm sofrido com processos de migração populacional
e estão em processo de retração populacional.
Cidades com maiores dinâmicas urbanas, sejam elas metrópoles ou
cidades de médio e grande porte, têm enfrentado nos últimos anos o
desafio de controlar sua expansão urbana e espraiamento em direção
aos subúrbios e áreas não providas de infraestrutura. Ainda que não
consigam reverter completamente esse quadro, essas cidades podem
diminuir o descompasso da rápida urbanização e demanda por
infraestrutura, ao adotar políticas públicas que promovam um
crescimento compacto, em locais já providos por serviços de transporte
e infraestrutura urbana, e aumentar sua capacidade de investimento
através de instrumentos de LVC e ganhos na eficiência no sistema de
transporte.
Mesmo cidades de menor porte ou que apresentem menores dinâmicas
imobiliárias, podem adotar mecanismos de LVC e aumentar sua
capacidade de investimento para financiar melhorias urbanas,
principalmente usando instrumentos que incidem sobre estoques
construtivos consolidados e políticas públicas que promovam o
crescimento sustentável, evitando futuras deseconomias.
Vale ressaltar que não se trata apenas de identificar a escala e a
dinâmica demográfica, mas também a conjuntura política-institucional e
capacidade da máquina pública na gestão dos instrumentos,
fundamental para sua implantação. Dessa forma, o Ministério das
Cidades pode desempenhar um papel importante de amparo à
implementação dos instrumentos de LVC nos municípios.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
7
Esse capítulo tem como objetivo introduzir o
conceito de LVC e sua definição, os objetivos
dos mecanismos de recuperação da
valorização imobiliária, e apresentar os tipos
de mecanismos existentes e sua
classificação.
Precedentes Históricos
Os instrumentos de captura da valorização
fundiária têm sido utilizados desde o
Império Romano para construir novas vias e
manter aquedutos, mas provavelmente já
existia antes, pois parte do princípio que
quem recebe os benefícios deve pagar por
eles.
Alguns exemplos de casos históricos do uso
desse tipo de instrumentos estão
apresentados a seguir:
Figura 2.1: Linha do tempo de adoção de instrumentos de LVC
Fonte: Steer Davies Gleave, a partir de SMOLKA, 2014.
2 Visão Geral de Land Value Capture
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
8
• Em Portugal e na Espanha, em torno
de1500, já se utilizava a cobrança de
taxas a proprietários de terras que se
beneficiassem de algum tipo de
investimento público (vias, pontes e
similares).
• A Inglaterra usava a valorização
fundiária para financiar a construção de
canais ao longo dos rios Lea e Tâmisa
em 1650 e em 1801, foi aprovado o uso
de contribuição de melhoria para fins
de desenvolvimento urbano.
• A França começou a usar a valorização
de terras em 1672 para financiar a
construção de parques, vias e pontes.
• A Colômbia utilizou a contribución por
valorización em 1809 para a construção
da Puente del Común.
• O Japão utilizou amplamente
instrumentos de reajustes de terras
para promover a urbanização após a 2ª
Guerra Mundial.
• No Brasil, a contribuição de melhoria foi
utilizada em vários exemplos, como: em
1812 para a construção de vias urbanas
em Jaguaribe, Bahia; em 1818 para a recuperação de pontes, em Mariana, Minas Gerais; em
1903 para a construção da Av. Rio Branco, no Rio de Janeiro; e em 1934 o instrumento de
Contribuição de Melhoria foi inserido no sistema tributário nacional.
Figura 2.2: Puente del Común, Bogotá, construída por contribuição de melhoria (1809)
Fonte: Recuperação de Mais-Valias Fundiárias na América Latina (SMOLKA, 2014).
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
9
Definição do conceito de LVC
No Brasil, a recuperação da valorização imobiliária decorrente de obras
públicas ou da alteração dos parâmetros urbanísticos de parcelamento,
uso e ocupação do solo, ficou conhecida pela expressão “recuperação
de mais-valias fundiárias urbanas” introduzida aos estudos urbanos por
Furtado (1999), e segue a seguinte definição:
“Recuperar para a coletividade, porque cabem à coletividade,
a totalidade ou uma parcela estabelecida pela coletividade
das mais-valias fundiárias urbanas decorrentes da atuação do
Estado na provisão de obras públicas e na regulação
urbanística”. (FURTADO, 1999, p. 93).
Assim, este instrumento é definido pelo processo pelo qual o aumento
no valor do terreno (total ou parcial), é recuperado pelo setor público,
seja através de sua conversão em receita fiscal através de impostos,
contribuições, exações ou outros mecanismos fiscais, ou mais
diretamente através de melhorias locais para o benefício da
comunidade.
O valor de um terreno urbano é determinado pelos seus aspectos físicos
e pelo seu contexto de inserção na cidade. Ou seja, além dos atributos
que lhe são próprios, como área, declividade, qualidade do solo, etc., o
valor do terreno varia decorrente de sua localização e utilização
possível, permitida para aquela propriedade. Se descontextualizado, o
terreno por si só não tem valor, ele está sempre relacionado ao seu
contexto.
Os principais fatores que contribuem para a valorização fundiária estão
relacionados às maiores densidades construtivas, como densidades
residenciais, habitacionais e de empregos; e às intervenções urbanas,
como obras e investimentos públicos.
A figura abaixo ilustra os componentes do valor do solo urbano:
Figura 2.3: Componentes do valor do solo urbano
Fonte: Furtado (2014).
Os componentes do valor do solo podem ser classificados em:
• A - “Esforço” do proprietário: relacionado ao valor anterior do
terreno no momento de sua aquisição;
• B - Ações de outros indivíduos: em função da sua localização e
inserção no tecido urbano, utilidades urbanas e serviços públicos
nas proximidades;
• C - Normativa urbanística: máxima utilização possível permitida
pelo ordenamento urbanístico em vigor no local, tanto em relação
aos parâmetros urbanísticos de construção e ocupação do solo,
quanto em relação à natureza da atividade permitida.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
10
• D - Investimentos públicos: obras de infraestrutura e melhorias do
meio urbano, serviços de transporte disponíveis, saneamento, etc.
O componente A - “esforço” do proprietário, nada mais é do que um
valor acumulado da valorização gerada ao longo do tempo através das
ações do poder público e de outros indivíduos, apropriada pelos
proprietários anteriores. Ações que podem conferir valor a esse terreno,
formado pelos demais componentes, estão relacionados ao contexto
em que está inserido:
i. O componente B – ações de outros indivíduos, são ações
decorrentes da construção coletiva de uma dada comunidade,
por exemplo, se está localizada próximo a propriedades
abandonadas e em estado de degradação, pode aferir um fator
de insegurança e, portanto, desvalorizar o terreno.
ii. Os últimos dois componentes, C e D, são resultantes das
características e do ordenamento territorial da cidade,
decorrentes das ações do poder público, seja em função da
legislação urbanística, seja em função de obras de
infraestrutura e melhorias, alheias à vontade ou ação dos
proprietários.
Dessa forma, cabe ao poder público recuperar esses valores garantindo
que as externalidades negativas sejam internalizadas pelas unidades
geradoras e as externalidades positivas, em contrapartida, possam
beneficiar a sociedade. Se a sociedade não a recupera, toda a
valorização é apropriada pelo proprietário.
Tipos de mecanismos de LVC
Segundo Furtado (2014), os mecanismos de LVC podem ser classificados
de acordo com sua incidência sobre os componentes do valor da terra:
• Os impostos territoriais, como IPTU, incidem sobre todo o valor do solo;
• Os tributos sobre o ganho fundiário incidem sobre a valorização alheia à ação do proprietário;
• As outorgas onerosas por aproveitamentos e usos do solo, incidem na valorização originada pela atuação pública, como aumento do potencial construtivo;
• A contribuição de melhoria incide especificamente na recuperação da valorização decorrente de investimentos públicos diretos, como obras públicas de infraestrutura viária e requalificação de espaços públicos.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
11
Figura 2.4: Tipos de instrumentos de LVC
Fonte: Baseado em Furtado (2014).
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
12
Classificação dos mecanismos
Um sistema de recuperação de mais-valias fundiárias urbanas está
composto por grupos de instrumentos tributários, urbanísticos e
jurídicos que agem sistemicamente, tentando recuperar cada uma das
parcelas dessas mais-valias fundiárias acumuladas.
De acordo com sua atuação, pode-se concluir que:
• Alguns instrumentos têm basicamente fins fiscais, com potencial
para aumentar os recursos do Estado, a fim de financiar obras
públicas.
• Outros têm fins distributivos, uma vez que se considera que os
aumentos do preço da terra constituem um enriquecimento
desmotivado dos proprietários, que se aproveitam do esforço
geral da sociedade e buscam contrabalançar essa desigualdade
gerada pelo mercado.
• Outros tentam, além disso, desestimular a prática da especulação
e seus efeitos sobre o comportamento do desenvolvimento
imobiliário, ou procurar moderar o nível dos preços da terra
relacionados à detenção de terras.
A tabela ao lado mostra a classificação dos instrumentos que podem
ser usados e seus objetivos:
Tabela 2.1: Classificação dos instrumentos de LVC e seus objetivos
Classificação dos instrumentos
Objetivos Definição conceitual
Fiscais
Arrecadação
Os recursos arrecadados podem ser utilizados para equipar o espaço urbano ou para contribuir para a gestão pública do desenvolvimento urbano.
Redistribuição
Instrumentos voltados para distribuição dos benefícios ou compensação dos impactos negativos do processo de urbanização, minimizando as desigualdades socioespaciais na sociedade.
Planejamento urbano
Controle do uso do solo
Instrumentos com objetivo de definir o uso e o aproveitamento do solo urbano, influindo no desenvolvimento urbano e a configuração socioespacial das cidades.
Controle do mercado
Instrumento com objetivo de direcionar as práticas do mercado imobiliário, já que esse, nem sempre é capaz de distribuir de forma eficiente ou equitativa a valorização gerada na produção do ambiente urbano construído.
Fonte: Steer Davies Gleave, com dados de FURTADO (1999).
A figura a seguir mostra a classificação dos instrumentos de acordo
com seus objetivos:
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
13
Figura 2.5: Instrumentos de LVC de acordo com seus objetivos
Fonte: Steer Davies Gleave, baseado em Smolka e Amborski (2003) e Jaramillo (2009).
Formas de aplicação
O processo de recuperação da valorização imobiliária pode-se dar de
formas diferentes, de acordo com o instrumento utilizado. A tabela
abaixo resume algumas formas de aplicação:
Tabela 2.2: Categorias de instrumentos e processo de recuperação da valorização imobiliária
Categorias Instrumentos Processo de recuperação de mais-valias
Vantagens
Impostos, taxas e contribuição de melhoria
Imposto sobre a propriedade imobiliária ou só a base do valor do solo
Alíquota imposta sobre o componente de valor do solo
Universalidade e regularidade
Contribuição de melhoria
Compensação monetária ou em espécie
Os beneficiários contribuem para o projeto
Exações e outras contrapartidas regulatórias por direitos de construir
Exações Compensação monetária ou em espécie
Flexibilidade permite considerar eventos imprevistos
Contrapartidas por direitos de construir
Técnicas de avaliação de terrenos
Compensação ao setor público pela infraestrutura existente
Transferência de
direitos de
construir
Compensação por meio de dotação de direitos em outras propriedades
Direitos de construir usados como moeda para financiar projetos públicos
Fonte: Smolka (2014).
Essas categorias variam de acordo com o país, já que, por exemplo, o
sistema colombiano de Participación en Plusvalías pode usar o
mecanismo para recuperar o custo de investimentos em obras
públicas, ou como uma contrapartida para recuperar o incremento do
valor decorrente de uma alteração normativa. Esse instrumento é
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
14
considerado um tributo na Colômbia, já no Brasil, um instrumento
semelhante como a Outorga Onerosa do Direito de Construir (OODC)
não é um tributo.
Essa decisão foi tomada para evitar uma percepção equivocada de
dupla tributação quando uma contribuição sobre o direito de construir
é somada ao imposto regular sobre a propriedade. Assim, a cobrança
por direitos de construir adicionais (OODC) é na verdade um ônus que
incide sobre o uso do “direito de construir adicional, o qual não faz
parte dos bens do proprietário, pois é um bem público que pertence à
cidade como um todo” (Rabello 2012).
Apesar das receitas arrecadadas por todos esses tipos de instrumentos
estarem incluídas no orçamento geral dos municípios, normalmente
administrados pelas correspondentes secretarias municipais da
fazenda, ou em fundos específicos, em alguns casos o produto obtido
pela recuperação de mais-valias fundiárias toma a forma de
compensações em espécie através de bens e serviços.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
15
Esse capítulo tem como objetivo introduzir o conceito de
Desenvolvimento Orientado ao Transporte (DOT) e os benefícios da
sua incorporação junto aos mecanismos de LVC. Também traz
reflexões sobre as relações entre densidade construtiva, populacional
e o financiamento do transporte.
LVC e Desenvolvimento Orientado ao Transporte
Os mecanismos de recuperação da valorização imobiliária incidem
sobre fluxos de novos desenvolvimentos e sobre os estoques
construtivos consolidados, ou seja, atuam conforme as densidades, as
dinâmicas imobiliárias e o desenvolvimento urbano. Maiores
densidades construtivas, sejam elas residenciais ou de empregos,
geram valor de percepção imediata e
se refletem na valorização dos
terrenos, o que potencializa a
recuperação via LVC.
A forma urbana é determinada pela
organização dos espaços e
densidades. Assim, uma cidade pode
ser dispersa - com baixas densidades
populacionais, gerando a necessidade
de longos deslocamentos, o que pode
levar a uma maior dependência do uso do transporte individual – ou
compacta, com densidades concentradas onde já há infraestrutura de
transportes.
Esse conceito não só se aplica à definição do perímetro urbano, mas
também está relacionado à distribuição das densidades populacionais
dentro da própria cidade.
Assim, uma cidade compacta, que concentra suas maiores densidades
no entorno dos eixos de transporte, além de viabilizar a implantação e
operação dos sistemas de transporte público por ganho de eficiência,
evita deseconomias urbanas, como fluxos pendulares e a necessidade
de expansão da infraestrutura para novas áreas urbanizadas.
Para atingir esse modelo, é fundamental uma política pública de
gerenciamento do uso e ocupação do solo, articulado ao planejamento
dos sistemas de transporte coletivo. Isso implica em eleger
estrategicamente as áreas aptas ao desenvolvimento urbano, em
detrimento de outras, considerando a dinâmica imobiliária da cidade.
Para isso, foi adotado o conceito de Desenvolvimento Orientado ao
Transporte (DOT) como ferramenta para alcançar os objetivos do
planejamento integrado.
O DOT visa promover o desenvolvimento urbano no entorno dos eixos
de transporte público de média e alta capacidade, o que favorece uma
melhor distribuição das atividades e densidades no município,
estabelecendo uma dinâmica territorial mais eficiente do ponto de
vista da mobilidade urbana.
Evita a expansão da mancha urbana para além da área consolidada do
município, ou mesmo, o abandono das áreas centrais em direção à
3 Desenvolvimento Orientado ao Transporte
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
16
periferia ou em áreas sem infraestrutura. Ao promover o
adensamento nas regiões já providas por serviços de transporte
público, evita também a necessidade de extensão desse sistema e sua
consequente subutilização em áreas já servidas.
Esse conceito permite a formação de comunidades compactas, com
uso misto, caminháveis e planejadas para deslocamentos sustentáveis.
O DOT ajuda a desestimular o uso de transporte individual motorizado
para que as pessoas utilizem, de fato, os serviços de transporte público
disponíveis para se deslocar na cidade, além de promover a
mobilidade a pé e por bicicleta para viagens de curta distância no
entorno das estações de transporte.
Benefícios da associação LVC e DOT
Entende-se que associar os mecanismos de LVC aos investimentos à
infraestrutura de transportes é uma grande oportunidade para ampliar
o potencial de arrecadação municipal, já que:
• A implantação da infraestrutura de transportes leva a um
processo de valorização fundiária no entorno desse sistema, pela
ampliação da acessibilidade, e pode ser recuperado através dos
mecanismos de Land Value Capture (LVC).
• O adensamento nessas áreas, através de alterações das
normativas urbanísticas, ampliam ainda mais o processo de
valorização e o potencial de recuperação das mais valias
fundiárias, além de trazer ganhos de eficiência para o sistema de
transportes.
Logo, a adoção do conceito LVC pode ser potencializada pelo
desenvolvimento urbano associado ao planejamento da rede de
transportes. O adensamento populacional ao longo dos eixos de
transporte propicia, não só uma maior eficiência dos investimentos
urbanos, como do próprio sistema de transportes, gerando um
potencial aumento da demanda de usuários. Logo, de formas diretas e
Os oito princípios do DOT
1. Alinhar densidades demográficas, econômicas, à capacidade de
transporte de massa e às características da rede viária para maior
acessibilidade.
2. Criar regiões compactas com viagens curtas.
3. Garantir a resiliência das áreas conectadas pelo transporte de alta
capacidade.
4. Plano e zona para bairros de uso misto e de renda mista em torno
dos corredores de transporte.
5. Criar espaços públicos atrativos e centrados nas pessoas em torno
das estações de transporte coletivo.
6. Desenvolver bairros que promovam mobilidade a pé e por
bicicleta.
7. Desenvolver o transporte público de boa qualidade, acessível e
integrado.
8. Gerenciar a demanda por veículos motorizados particulares.
Fonte: Salat, Serge; Ollivier, Gerald. 2017.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
17
indiretas, a arrecadação pode ser
aumentada, seja por instrumentos
LVC aplicáveis na valorização
fundiária, seja pelo potencial
aumento da arrecadação tarifária dos
sistemas de transportes.
Para promover o adensamento no
entorno dos eixos, é necessário
estabelecer uma política pública
baseada pelo princípio restrição <>
indução, já que, conforme observados
em diversas experiências (por exemplo, a Operação Urbana Centro,
em São Paulo), os incentivos fiscais e normativos não são suficientes
para induzir a atuação do mercado.
Portanto, considerando as características neutras dos instrumentos de LVC em relação às dinâmicas imobiliárias, para induzir o desenvolvimento de determinadas regiões, é necessário restringir o desenvolvimento em áreas potencialmente concorrentes, direcionando as práticas do mercado através de uma regulação urbanística fortalecida.
Uma das ferramentas possíveis é através da maior oferta de potencial
construtivo adicional nas áreas selecionadas, e restrição desse
potencial no restante da cidade.
A adoção dos mecanismos LVC + DOT também propicia um cenário
favorável à construção e consolidação do diálogo entre as esferas
municipal e estadual, visto que o município trata do ordenamento do
solo e o estado geralmente atua sobre o transporte metroferroviário.
Conceito beneficiado-pagador
A avaliação das opções de mecanismos LVC está orientada sob o
conceito do “beneficiado-pagador”. Este conceito baseia-se no
princípio de que os beneficiados de melhorias e investimentos em
transportes devem contribuir com os custos da infraestrutura. A
Figura 3.1 destaca que é necessário um equilíbrio entre o montante
recuperado via mecanismos LVC e o total de benefícios oferecidos,
tendo em vista um cenário de “ganha-ganha”.
Figura 3.1: Conceito beneficiado-pagador
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
18
Uma melhoria em transporte e /ou infraestrutura pode resultar em
um conjunto de benefícios, logo, é justo que incidam sobre os
beneficiados de um determinado projeto alguma forma de
compartilhamento dos custos pela infraestrutura. Contudo, deve-se
garantir que tais custos sejam distribuídos sobre àqueles que mais se
beneficiam e possuem capacidade de contribuição.
Desenvolvimento Orientado ao Transporte no Brasil
Curitiba, 1966
O Conceito DOT não é algo novo no Brasil, tendo sido implementado em
Curitiba através do seu Plano Diretor aprovado em 1966. O plano tinha como
objetivo o descongestionamento da área central da cidade e o controle da
distribuição demográfica por meio de habitações populares, e
desenvolvimento econômico ao longo dos eixos lineares de transportes,
conhecido como Desenvolvimento Orientado ao Transporte - DOT.
O êxito da implementação da estratégia começou pelo planejamento,
elaboração e efetivação do que atualmente é denominado como sistema de
BRT (sigla de Bus Rapid Transit, em inglês), pioneiro no mundo. Houve
adensamento no entorno das vias de BRT, com instalação de áreas
comerciais e residenciais. Hoje, Curitiba conta com 81 km de vias exclusivas
para ônibus e demanda de aproximadamente 750.000 passageiros/dia. As
principais diretrizes foram:
• Prioridade ao transporte coletivo;
• Rigor na aplicação das leis que regem a ocupação e o uso do solo;
• Definição clara do sistema viário e integração entre as funções urbanas;
• Planejamento urbano a serviço do desenvolvimento econômico e social e
da conservação do meio ambiente.
Resultados
O planejamento urbano de Curitiba, com a implantação do sistema BRT,
tornou-se um exemplo de sucesso conhecido internacionalmente pois, nos
primeiros anos e no decorrer do tempo, apresentou resultados positivos, tais
como:
• Densidade 120% maior ao longo dos corredores, quando comparada à
densidade média de 73% nas áreas periféricas, no período de 1970 a 1978,
invertendo-se, assim, a realidade de muitas cidades brasileiras e
diminuindo o movimento pendular de viagens das grandes metrópoles;
• O censo de 2010 indica que 45% dos deslocamentos são pelo transporte
público;
• Estima-se que por ano exista uma redução de 27 milhões de viagens de
automóveis.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
19
Densidade construída e densidade populacional
Para definir o adensamento no entorno dos eixos de transporte é
importante notar que a densidade construtiva nem sempre reflete a
densidade populacional: há casos em que bairros horizontais possuem
maiores densidades populacionais que bairros verticalizados, já que a
densidade demográfica é definida não só pelo Coeficiente de
Aproveitamento (CA), mas por outros índices urbanísticos, como pelo
tamanho da unidade habitacional (m2/domicílio), taxa de ocupação,
tamanho do lote, etc.
Tabela 3.1: Tipologia urbana e densidade bruta
Tipologia Urbana Densidade Bruta
Favelas RJ 1.000 – 1.500 hab./ha
Bairros Verticalizados SP 300 – 400 hab./ha
Bairros populares horizontais SP 100 – 150 hab./ha
Bairro maior renda horizontal SP 50 – 60 hab./ha
Fonte: Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre (FAU USP).
Em São Paulo, por exemplo, áreas com mesmos CA podem apresentar
diferentes densidades populacionais. É o caso de Cidade de Tiradentes
que apresenta uma densidade populacional 7 vezes maior que a
densidade do bairro de Pacaembu, ainda que os dois bairros sejam
horizontais. Nesse caso, o tamanho do lote padrão e a taxa de
ocupação colaboram para as diferentes densidades, conforme mostra
Figura 3.2.
Figura 3.2: Exemplo de São Paulo - relação entre densidade construtiva e populacional
Fonte: Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre (FAU USP).
Em Fortaleza, essa situação também pode ser observada. O bairro
Barra do Ceará, predominantemente horizontal, apresenta maiores
densidades populacionais que o bairro Varjota, predominantemente
vertical, conforme mostra a Figura 3.3.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
20
Figura 3.3: Exemplo de Fortaleza: relação entre densidade construtiva e populacional
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Uma das razões pela qual as densidades construtivas nem sempre
refletem as populacionais, é o tamanho dos apartamentos.
Para fim de exemplificação, um mesmo terreno hipotético de 1.000 m²
pode abrigar um prédio residencial de 4 andares com 9 apartamentos
de 50 m² por andar ou com 4 apartamentos de 100 m² por andar. No
primeiro caso, com 36 domicílios, seria possível abrigar 123
residentes1. No segundo caso, com 16 domicílios, seria possível abrigar
apenas 55 residentes.
1 Valores calculados segundo IBGE (2010) adotando-se a relação 3,44 residentes/domicílios.
Figura 3.4: Cota de terreno habitacional
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Portanto, sugere-se para a aplicação de indicadores que assegurem
uma melhor gestão da densidade populacional, estabeleçam um
número mínimo de unidades habitacionais, em função da área do
terreno, adicionalmente ao coeficiente de aproveitamento máximo
para possibilitar maior gestão da densidade populacional. Os valores
devem ser estudados conforme o contexto e definidos de acordo com
as densidades desejadas.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
21
Densidade populacional e capacidade do transporte
O adensamento populacional em torno dos eixos de mobilidade
potencializa o aumento da demanda de transporte, e
consequentemente, exige uma maior oferta na sua capacidade de
serviço. Sistemas de transporte já implementados podem oferecer
limites ao adensamento – entretanto, é possível aumentar a
capacidade existente, seja pelo aumento do nível de serviço, do
intervalo operacional ou até mesmo, da implantação de outros
veículos/modais com maior capacidade, dimensionados para as
demandas projetadas.
A implantação de sistemas de média e alta capacidade traz diversos
benefícios para população, como aumento da acessibilidade e ganhos
no tempo de viagem, o que pode levar a um aumento da demanda
ainda superior ao adensamento, a partir da mudança de
comportamento e demanda induzida pela oferta de infraestrutura. Ou
seja, a tendência a médio-longo prazo é que a aplicação do conceito
DOT leve a um percentual ainda maior de pessoas optando pelo
transporte público em detrimento do transporte individual
motorizado.
O aumento da demanda viabiliza a implantação de infraestrutura de
transporte, pois maximiza seu uso, diminuindo o custo relativo de sua
implantação e reduzindo a necessidade de sua expansão para áreas
periféricas. Além disso, reduz também a necessidade de viagens
pendulares, já que a concentração de pessoas favorece as atividades
econômicas como comércio e serviço ao nível local, diminuindo os
desequilíbrios do sistema nas horas pico, as deseconomias urbanas e
por fim, encorajando o transporte ativo.
Figura 3.5:Adensamento populacional x demanda de transporte
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Entretanto, deve-se buscar um equilíbrio entre densidade e capacidade do sistema. Ao mesmo tempo que baixas densidades encarecem o custo relativo de implantação de infraestrutura por habitante, altíssimas densidades também podem onerar esses investimentos.
Estudos realizados pelo Banco do Trabalhador da Venezuela (Banco
Obrero) demonstraram que os custos da infraestrutura urbana em
função da densidade se comportam como uma parábola, cujo ponto
de otimização, para o caso de Caracas, ficaria em torno dos 1.000
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
22
hab./ha (Ferrari, 1979). Acima disso, o custo da infraestrutura é
onerado para atender as altíssimas demandas, conforme mostra a
Figura 3.6.
Figura 3.6: Custo da Infraestrutura versus densidade
Fonte: Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre – FAUSP (Baseado em Ferrari, 1979, pág. 350.).
A discussão sobre as densidades ideais é antiga, alguns estudos
sugerem algumas densidades populacionais como ideais do ponto de
vista da otimização dos investimentos:
• Celson Ferrari (ibid.) defende que entre 250 e 450 hab./ha são
densidades econômicas;
• Fred Rodrigues (1986) alega que densidades inferiores a 100
hab./ha inviabilizam a presença de serviços e superiores a 1.500
hab./ha, geram deseconomias;
• A ONU recomenda 450 hab./ha como ideal;
• A Associação Americana de Saúde Pública defende 680 hab./ha
• Segundo Mascaró (1986), considerando os custos de implantação
de infraestrutura urbana, incluindo redes de distribuição de água,
esgoto, iluminação pública e pavimentação, além dos custos do
edifício e da energia gasta para sua manutenção, as densidades
brutas entre 450 a 540 hab./ha seriam as ideais.
A melhor relação entre a densidade e a capacidade depende de cada
contexto de cidade e das características do sistema de transporte, no
entanto, deve-se levar em consideração não só o limite de absorção
dessa demanda, mas a relação de custo relativo para a otimização dos
investimentos.
Arrecadação potencial e financiamento do transporte
A análise empírica de projetos de transporte evidencia a valorização
imobiliária decorrente da implantação de infraestrutura de transportes
no seu entorno, variando entre 10% e 30% de valorização no valor da
terra de uso residencial e não-residencial, podendo chegar até 40%
dependendo do contexto de cada cidade e da cobertura do sistema.
Municípios com pouca oferta de transporte tendem a ter uma maior
valorização no entorno dos sistemas de transporte quando esses são
implementados devido ao ganho de acessibilidade naquela área
específica, que destoa com o restante da cidade onde não há oferta
desse mesmo serviço.
0
50
100
150
200
200 300 700 1000 1300 1700 1900
US$
/hab
Hab./ha
Custo relativo de implantação de infraestrutura x densidades
Custo de infraestrutura x densidades
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
23
A taxa de valorização, entretanto, não se dá de forma linear ao longo
dos anos. A Figura 3.7 apresenta a tendência comportamental da taxa
de valorização imobiliária produzida por obra pública em países latino
americanos, estudada pelo Prof. Borrero em 2013.
Figura 3.7: Comportamento teórico da taxa de valorização fundiária produzida por uma obra pública
Fonte: Borrero, 2013.
De acordo com o comportamento teórico da taxa de valorização
fundiária produzida por uma obra pública, observada por Borrero,
entende-se que anteriormente à construção da infraestrutura, há um
aumento significativo dessa taxa oriunda da expectativa sobre a obra.
Em seguida, há uma queda desta taxa devido ao período de
construção, relacionada com os impactos da obra (ruídos, poluição,
congestionamento, etc.). Após o fim da obra atinge-se um segundo
pico na taxa de crescimento da valorização imobiliária que decai
lentamente ao passar dos anos. O mesmo estudo indica que a
valorização imobiliária pode atingir valores de 30%.
A valorização imobiliária gerada a partir de investimentos públicos é geralmente superior ao custo da obra pública.
Portanto, é justo que parte dessa valorização seja recuperada pelo
poder público, seja para custear a própria infraestrutura ou sua
ampliação para outras áreas da cidade, seja para proporcionar ao
governo municipal recursos para financiamento da infraestrutura de
apoio à urbanização, realização de melhorias urbanas e de
acessibilidade.
Esse ciclo entre investimento, valorização imobiliária e arrecadação
também beneficia o governo estadual, que geralmente é responsável
pelos investimentos e subsídios à operação dos sistemas de transporte
metroferroviário. As melhorias urbanas e de microacessibilidade nos
entornos das estações potencializa a atração de demanda de usuários.
Além da valorização imobiliária, com o adensamento populacional e
potencial aumento da demanda de usuários, o sistema de transportes
melhora seu equilíbrio econômico-financeiro através do potencial
aumento da arrecadação tarifária, além do maior equilíbrio entre a
oferta e demanda do sistema e ganhos na eficiência na operação.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
24
Por fim, a valorização dos ativos públicos relacionados às estações
gera oportunidades para o aumento da receita não-tarifária através de
concessões e parcerias público-privadas. Esses benefícios devem ser
apropriados pelo próprio sistema de transporte para viabilizar
melhorias no serviço e equilibrar os subsídios necessários à operação,
mantendo tarifas acessíveis ao usuário.
Figura 3.8: Ciclo entre investimento, valorização imobiliária e arrecadação
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
25
Fortaleza é um dos casos de cidade brasileira que já possui um histórico de experiências de aplicação de alguns dos instrumentos de LVC, como OUC, OOAU e OODC. Entretanto, observaram-se resultados tímidos de arrecadação de mais-valias fundiárias comparados às dinâmicas urbanas da cidade.
O Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano (FUNDURB) - formado pela arrecadação de receitas proveniente de instrumentos como OODC, OOAU, certificados de potencial adicional de construção (CEPAC) oriundo de OUC, dentre outras receitas arrecadadas - correspondeu a 0,28% da arrecadação total de Fortaleza em 2016 e a 0,29% em 2017. Do valor total arrecadado destinado ao FUNDURB, cerca de R$17 milhões em 2016 e quase R$19 milhões em 2017, a OOAU teve a maior participação, representando 88% em 2016, 55% em 2017 e 87% em 2018.
A fim de estabelecer comparativos, tem-se que Natal arrecadou com OODC entre 1994 e 2004, o valor de R$2 milhões, o que correspondeu a 0,05% do orçamento municipal; São Paulo, entre 2013 e 2015, teve arrecadação com CEPAC e OODC correspondente a 25% da capacidade de investimento do município; e o projeto Crossrail, na Inglaterra, por
meio da combinação entre mecanismos LVC, foi financiado em 39% de seu valor total.
Já a OODC, teve resultados menos relevantes e apresentou tendências de diminuição da arrecadação. Um dos motivos observados é a ausência, em grande parte do território, de oferta de potencial construtivo adicional, dada pela baixa variação entre os índices de aproveitamento básicos e máximos, fator limitante de seu potencial de arrecadação.
Fortaleza foi, portanto, selecionada como estudo de caso deste trabalho:
• Por ser uma cidade com escala, contexto e dinâmica, que levam a maiores possibilidades de “exportar” lições adaptáveis a diferentes contextos brasileiros;
• Pela questão técnico-institucional já que possui experiência na aplicação de instrumentos e interesse expresso em seguir a agenda, além de uma robusta base de dados disponíveis para elaboração de análises quantitativas, realizada por esse estudo;
• Por seu engajamento prévio com o Banco Mundial, no contexto de um projeto de investimento que envolve, entre outros, investimentos no fortalecimento da capacidade da gestão para o planejamento urbano e ambiental, e para a implementação de instrumentos de operacionalização da política urbana (incluindo os de LVC);
• Pelo contexto da expansão da rede metroviária – ora em curso - que demanda investimentos públicos e ação conjunta do governo
4 Introdução ao estudo de caso em Fortaleza
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
26
municipal e estadual no planejamento e investimentos em melhorias urbanas.
Abordagem do estudo de caso
O estudo de caso de Fortaleza foi elaborado a partir da parceria com a
Prefeitura de Fortaleza e o Metrofor (Metrô de Fortaleza), por meio de
três etapas: (i) diagnóstico; (ii) elaboração da estratégia de
implementação e (iii) proposição do roteiro estratégico para as
recomendações.
Adotou-se duas estações do sistema metroferroviário de Fortaleza,
Papicu e Parangaba, principais nós do sistema junto à estação Chico da
Silva, para aprofundamento do estudo de caso e exemplificação do
potencial de arrecadação via mecanismos LVC.
O diagnóstico consistiu na análise:
• Legislação urbanística e de aspectos de planejamento urbano,
com objetivo de compreender a regulamentação dos mecanismos
LVC e de medidas de planejamento urbano favoráveis ao LVC,
como Programa Fortaleza Competitiva;
• Desenvolvimento urbano e uso do solo, com objetivo de mapear
as dinâmicas imobiliárias, mensurar a oferta e demanda
construtiva e capacidade de absorção da demanda imobiliária;
• Sistema de transporte, com objetivo de compreender a rede
metroferroviária, sua capacidade e demanda, e avaliação das
estações por meio da metodologia Estrutura 3 Valores.
A estratégia de implementação da agenda LVC+DOT foi possível a
partir do entendimento do contexto político-institucional, por meio do
contato próximo à prefeitura e ao Metrofor, possibilitou propor
aprimoramento de ferramentas de planejamento urbano já adotadas
por Fortaleza. A partir da seleção de mecanismos LVC, também foi
possível a realização da avaliação financeira do potencial de
arrecadação via LVC.
Por fim, a partir das lições aprendidas ao longo do processo foi
possível definir um roteiro estratégico para as recomendações,
direcionando os próximos passos para efetivar a agenda a LVC+DOT.
Contexto Urbano e Metropolitano de Fortaleza
O município de Fortaleza, capital do estado do Ceará, está inserido na
Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e é o principal centro urbano
do Ceará. A RMF é formada por outros 19 municípios, sendo a região
metropolitana mais populosa do Norte-Nordeste, com quatro milhões
de habitantes e a quinta maior região metropolitana brasileira.
Fortaleza possui área de 320 km² e uma população de 2.452.185
habitantes, com densidade demográfica de 7.645 hab./km².
Fortaleza é um município 100% urbano, com IDH-m alto (0,754), PIB
per capita de R$ 22.092,58 (IBGE, 2015). Porém, apresenta alto grau
de desigualdade social, cuja característica pode ser observada pelo
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
27
Índice de Gini2 (0,61). Segundo o relatório State of the World Cities da
ONU, Fortaleza está listada como a quinta cidade que apresenta maior
desigualdade social do mundo. O município possui 856 assentamentos
precários onde vive 40% de sua população, 33% da população
encontra-se em condições de vulnerabilidade à pobreza e 15% da
população é extremamente pobre e pobre.
A distribuição de renda no município, conforme mostra a Figura 4.1,
permite compreender de modo mais claro a segregação socioespacial
existente e as disparidades socioeconômicas. O território a leste e no
eixo nordeste concentra a população de alta renda e dispõe de
proximidade com a área central e bem infraestruturada. Já as porções
a oeste e mais periféricas apresentam a concentração da população de
menor renda e dispõem de menos condições quanto à infraestrutura.
Quanto ao sistema de mobilidade urbana de Fortaleza, conforme a
Figura 4.2, o município é contemplado pelo Sistema de Transporte
Público de Passageiros (STPP) que é formado por um sistema
metroferroviário e por linhas de ônibus. A cidade possui nove
terminais (sete integrados e dois abertos) e transporta por dia cerca
de 850 mil passageiros, através de 762 linhas de ônibus regulares. São
25 empresas operantes, com uma frota de 1.776 ônibus. Desde 2007,
a população de Fortaleza possui o benefício do bilhete único com
integração temporal.
2 Índice de Gini é um indicador de concentração de renda, em que aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de zero a um. O valor zero representa a situação de
Figura 4.1: Distribuição de renda em Fortaleza
Fonte: Diagnóstico Fortaleza – OUC, 2017.
igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda, já o valor um representa que a renda está concentrada em poucos indivíduos.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
28
O metrô de Fortaleza foi iniciado em 1987, a partir da construção do
Trem Metropolitano de Fortaleza. Em 1997, a companhia Metrofor foi
criada com o objetivo de assumir e modernizar a operação do
transporte de trens metropolitanos. Atualmente a cidade possui duas
linhas de metrô em operação (Linha Oeste e Linha Sul) e uma em
planejamento (Linha Leste), além da linha de VLT em construção, com
previsão de inauguração para o final de 2018.
A expansão da rede metroferroviária – em curso - demanda
investimentos públicos e depende da ação conjunta do governo
municipal e estadual no planejamento e investimentos em melhorias
urbanas, sendo necessário balizar a oferta de infraestrutura a partir da
demanda.
Para analisar o potencial de LVC e os benefícios de um planejamento
urbano integrado ao planejamento de transportes em Fortaleza, foi
realizado um amplo diagnóstico em todo o município, identificando o
contexto da cidade, do sistema de transporte e de desenvolvimento
urbano, e uma aproximação no entorno de duas estações intermodais
de transporte – Papicu e Parangaba, que serão utilizadas como
exemplos para a coleta e análise de dados quantitativos.
Figura 4.2: Sistema de Transporte Metroferroviário – linhas previstas e existentes
Fonte: Metrofor, disponível em http://www.mobilize.org.br/mapas/22/mapa-da-rede-de-metro-de-fortaleza-ce.html
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
29
Contexto das estações de Papicu e Parangaba
Papicu
A futura estação de metrô Papicu localiza-se no nordeste da cidade,
perto de bairros com o metro quadrado mais caro de Fortaleza. Apesar
de ter uma localização privilegiada, a qualidade de vida é classificada
pelo IBGE (Censo 2010) como C (em escala de A a K).
A estação de metrô ainda em planejamento, conectará a linha Leste -
Amarela com o VLT Parangaba - Mucuripe e o atual terminal de ônibus
urbano de Papicu, formando o Grande Terminal Intermodal Papicu.
Parangaba
A estação Parangaba está localizada no sudoeste da cidade, em uma
região mais periférica, e seu entorno é considerado pelo IBGE como
uma qualidade de vida F (em uma escala de A a K).
A estação do metrô Parangaba já existe, foi aberto ao público em 2012
e faz parte da linha Sul do metrô com a já construída estação do VLT
Parangaba – Mucuripe, e com o maior terminal urbano de ônibus da
cidade, em termos de demanda de passageiros.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
30
O diagnóstico de Fortaleza foi desenvolvido com o objetivo de
identificar o contexto da cidade, sob os aspectos territoriais e jurídicos.
Foram analisadas a legislação urbanística, as características do sistema
de transporte e de desenvolvimento urbano de Fortaleza.
Um dos pontos chaves foi o entendimento do contexto político-institucional do município e a visão da cidade, assim como seus objetivos de desenvolvimento socioterritorial e econômico.
O diagnóstico forneceu insumos para elaboração da estratégia de LVC
para Fortaleza.
Legislação Urbanística e Planejamento Urbano
A legislação urbanística municipal orienta o desenvolvimento urbano, a
partir de seus objetivos, diretrizes e parâmetros urbanísticos
regulamentados. Esta análise visou a identificação dos instrumentos LVC
já existentes no arcabouço legal de Fortaleza. A leitura dos parâmetros
3 O PDP de Fortaleza sofreu alterações em 2011 pela lei complementar municipal n° 101 e em 2015 pela lei complementar municipal n° 202, que correspondem a alterações nos limites das Áreas de Preservação dos Recursos
urbanísticos possibilitou avaliar o potencial de desenvolvimento urbano.
Desta forma, a análise concentrou-se sobre o Plano Diretor Participativo
de Fortaleza (2008) e a Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo
(2017).
De modo complementar à leitura sobre o planejamento urbano de
Fortaleza, também foi realizada uma breve análise sobre o Fundo de
Desenvolvimento Urbano (FUNDURB), com objetivo de ter uma visão
geral sobre o histórico arrecadatório via mecanismos LVC. E leitura
sobre o Programa Fortaleza Competitiva, destacando-se as ações
previstas de incentivo ao desenvolvimento urbano e econômico.
Plano Diretor Participativo de Fortaleza – PDP de Fortaleza (2008)
O Plano Diretor Participativo do Município de Fortaleza (PDP de
Fortaleza) vigente foi instituído pela lei complementar municipal n° 062
de 20093, e encontra-se atualmente sob processo de revisão. O PDP de
Fortaleza contém a definição do zoneamento e dos índices urbanísticos.
A política urbana de Fortaleza é regida pelos princípios de função
socioambiental da cidade, da função social da propriedade, da gestão
democrática da cidade e da equidade.
O PDP de Fortaleza apresenta alinhamento com os princípios LVC+DOT,
a saber: garantia de justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes
do processo de urbanização, recuperando e transferindo para a
Hídricos, em alguns parâmetros para Zona de Ocupação Moderada e regramento sobre condomínios.
5 Diagnóstico de Fortaleza
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
31
coletividade parte da valorização imobiliária decorrente de ações do
poder público; combate à especulação imobiliária e ordenamento do
uso e ocupação do solo, a partir da capacidade de suporte do meio físico
e das infraestruturas.
O PDP define o macrozoneamento, o zoneamento e os parâmetros
urbanísticos de uso e ocupação do solo. Segundo este marco
regulatório, o território de Fortaleza é compreendido por duas
macrozonas: a Macrozona de Proteção Ambiental (subdividida em três
tipologias de zonas, sendo uma delas restrita à ocupação – Zona de
Preservação Ambiental) e a Macrozona de Ocupação Urbana
(subdividida em seis tipologias), conforme mostra a.
O PDP define índices de aproveitamento básico diversificados por zona e
de modo predominante, institui os mesmos valores para os índices de
aproveitamento básico e máximo, com exceção da Zona de Ocupação
Preferencial e da Zona de Ocupação Moderada, que apresentam valores
distintos para os IAs básicos e máximos, cuja variação está entre 0,5 e 1.
A variação mínima ou nula entre os índices de aproveitamento básico e máximo reduzem a oferta do potencial construtivo adicional, assim, impactando diretamente alguns instrumentos LVC, como a Outorga Onerosa do Direito de Construir.
Figura 5.1: Zoneamento de Fortaleza
Fonte: Steer Davies Gleave com dados do PDP de Fortaleza (2008), 2018.
Os instrumentos urbanísticos estão apresentados no Capítulo IX da lei
do PDP de Fortaleza. São eles:
• Parcelamento, Edificação e Utilização compulsórios;
• IPTU progressivo no tempo e desapropriação em títulos da dívida
pública;
• Outorga Onerosa do Direito de Construir e de Alteração de Uso;
• Transferência do Direito de Construir;
• Operações Urbanas Consorciadas;
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
32
• Contribuição de Melhoria;
• Consórcio Imobiliário;
• Direito de Superfície e Direito de Preempção;
• Zonas Especiais de Interesse Social.
Os instrumentos PEUC, IPTU progressivo no tempo e desapropriação em
títulos da dívida pública estão em processo de regulamentação, o
restante dos instrumentos previstos já está regulamentado, seja pelo
próprio PDP, ou seja, por lei específica.
O município apresenta histórico de adoção dos instrumentos OODC,
OOAU, TDC e OUCs. Por mais que Fortaleza tenha regulamentado o
instrumento Contribuição de Melhoria, tanto pelo plano diretor, quanto
pelo Código Tributário Municipal, foi identificado pelo diagnóstico uma
dificuldade institucional e política de implementação deste mecanismo.
Outorga Onerosa do Direito de Construir (OODC)
A OODC foi regulamentada pelo próprio PDP de Fortaleza e permite ao
Município autorizar a construção acima do índice de aproveitamento
básico até o índice de aproveitamento máximo, mediante o pagamento
de contrapartida pelo beneficiário. A OODC está regulamentada pelo
próprio PDP desde 2009.
A arrecadação da OODC entre 2009 e 2015 foi direcionada ao FUNDEMA
(Fundo Municipal de Defesa do Meio Ambiente) e, a partir de 2015,
passou a ser direcionada para o FUNDURB (Fundo Municipal de
Desenvolvimento Urbano).
Este instrumento, devido à variação mínima ou nula entre os índices de
aproveitamento básico e máximo, variável da fórmula de cálculo da
OODC, apresenta ao longo de seu histórico de aplicação, valores tímidos
de arrecadação em comparação com o potencial de arrecadação, caso
fossem incorporadas as dinâmicas urbanas de Fortaleza (por exemplo, a
partir da atualização do valor venal dos imóveis para recuperação da
valorização imobiliária) e caso, essa diferença entre IAs fosse maior.
Outorga Onerosa de Alteração de Uso (OOAU)
A OOAU foi regulamentada pelas leis específicas n°. 10.335/2015 e
10.431/2015; o instrumento consiste em outorga cobrada sobre
empreendimentos caracterizados como projetos especiais que queiram
promover alterações de uso e/ou parâmetros urbanísticos. Este
instrumento adquiriu, ao longo dos últimos anos, importância em
relação à sua capacidade de arrecadação, visto que, em sua fórmula é
aplicado o valor de mercado do imóvel e fatores para cada tipo de
alteração proposta que potencializam a arrecadação.
Os projetos especiais com incidência de OOAU concentram-se na região
de Praia de Iracema, Meireles e Aldeota. Já foram cinco termos de
compromisso assinados, três alvarás de construção emitidos, e oito
projetos especiais que possuem pretensão de adotar o instrumento.
Transferência do Direito de Construir (TDC)
O instrumento foi regulamentado pela lei municipal n°. 10.333/2015 e
possibilita ao proprietário de imóvel exercer em outro local ou alienar,
total ou parcialmente, mediante escritura pública, o potencial
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
33
construtivo não utilizado no próprio imóvel, quando este for
considerado necessário para fins de:
• Programas de regularização fundiária;
• Flexibilização dos usos dos potenciais construtivos para fins de obra
de infraestrutura, áreas ambientais e patrimônio histórico.
O TDC é operacionalizado via CEPAC, e atualmente já foram emitidos
dois CEPACs referentes à regularização fundiária e quatro CEPACs
referentes à implantação de infraestrutura. O direito de construir desses
processos está direcionado a um imóvel localizado em Meireles,
próximo à Aldeota e Papicu. Este instrumento não atinge seu potencial
de arrecadação devido ao baixo potencial construtivo adicional
existente em Fortaleza.
Operação Urbana Consorciada (OUC)
A Operação Urbana Consorciada consiste em um conjunto de
intervenções e medidas coordenadas pelo Município, com a
participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e
investidores privados, com o objetivo de promover a ocupação
adequada de áreas específicas de acordo com o cumprimento das
funções sociais da cidade e a requalificação do ambiente urbano. O PDP
define as áreas onde é possível criar a OUC e a sua regulamentação
depende de legislação específica conforme cada OUC proposta.
Fortaleza regulamentou a primeira OUC em 2000, com propostas de
dimensão mais pontual e restrita, sem proposta de dinamização
econômica e social expansiva. Em 2015, a partir da regulamentação de
instrumentos de flexibilização urbana, como OOAU e OODC,
promoveram mudanças nas tipologias de OUCs planejadas.
A Figura 5.2 apresenta a localização das OUCs existentes em Fortaleza,
onde nota-se concentração de OUCs no setor nordeste do município. A
OUC Riacho Maceió, OUC Jóquei Clube (Hospital da Mulher e Shopping
Jóquei Clube) e OUC Lagoa do Papicu (Shopping Rio Mar) foram
finalizadas com contrapartidas entregues. A OUC Sítio Tunga, OUC
Osório de Paiva e OUC Lagoa do Sapiranga (sem termo assinado) estão
em andamento e a OUC Dunas do Cocó está sob agravo de instrumento.
Figura 5.2: Localização das OUCs existentes em Fortaleza
Fonte: Prefeitura de Fortaleza, 2018.
Cerca de 88% da área das OUCs existentes estão inseridas dentro da
Macrozona de Proteção Ambiental (ver a Figura 5.3), notando-se assim
uma sobreposição das OUCs com áreas de restrição e limitação do
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
34
ponto de vista ambiental. Cada zona da MPA, delimitada pelo PDP, tem
definido:
• ZPA não permite ocupação;
• ZIA e ZRA permite ocupação, mas com restrições;
• ZRA – incide Transferência do Direito de Construir;
• ZPA e ZRA – incide Plano de Manejo e Plano de Gestão.
Figura 5.3: OUCs e áreas de proteção ambiental
Fonte: Steer Davies Gleave a partir de dados da Prefeitura de Fortaleza, 2018.
Tendo em vista a preocupação com a preservação e conservação
ambiental, a estratégia DOT pode permitir reduzir os conflitos entre o
meio ambiente natural e o meio ambiente construído, já que os eixos de
mobilidade se concentram na Macrozona de Ocupação Urbana.
Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo - LPUOS (2017)
A Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (LPUOS), lei municipal
n°. 236 instituída em 2017, regulamenta o PDP de Fortaleza 2009 e
institui dois novos instrumentos urbanísticos: os projetos especiais e as
ZEDUS (Zonas Especiais de Dinamização Urbanística e Socioeconômica).
Projetos Especiais
Os projetos especiais consistem em empreendimentos, públicos ou
privados, que por sua natureza ou porte demandam análise específica
quanto à sua implantação no território do município, e segundo a
LPUOS, esses empreendimentos podem ser enquadrados em três
grupos:
• Polos Geradores de Viagens (PGV), conforme definido pelo Anexo 5;
• Equipamentos de impacto na infraestrutura ou que provoquem danos ao meio ambiente natural ou construído;
• Projetos de Parcelamento do Solo, conforme art. 14.
Os projetos especiais inserem-se no processo de licenciamento
urbanístico, listando etapas para licenciar os projetos com objetivo de
promover celeridade na aprovação. Segundo a LPUOS, são listados
aproximadamente 216 tipos de empreendimentos que se enquadram
como projeto especial.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
35
Caso um projeto especial queira alterar uso e/ou índices
urbanísticos, é possível, após análise da Prefeitura e desde que se
aplique a Outorga Onerosa de Alteração de Uso.
ZEDUS – Zonas Especiais de Dinamização Urbanística e Socioeconômica
A LPUOS aprovada em 2017 não pode alterar o zoneamento e os índices
urbanísticos definidos pelo PDP de Fortaleza, sendo seu objetivo o de
regulamentação do PDP. Contudo, ela promoveu uma diferenciação
sobre os índices urbanísticos, como aumento de IA máximo, em porções
do território cujos objetivos da política urbana foram definidos pela
dinamização de atividades sociais e econômicas. Essa diferenciação se
deu pela criação das Zonas Especiais de Dinamização Urbanística e
Socioeconômica (ZEDUS) – apresentadas na Figura 5.4.
As ZEDUS são porções do território destinadas à implantação e/ou
intensificação de atividades sociais e econômicas, com respeito à
diversidade local, e visando ao atendimento do princípio da
sustentabilidade, para assim promover a consolidação de núcleos de
atividades produtivas, respeitando a potencialidade de cada área.
Foram instituídas 22 ZEDUS, em que cada zona, conforme a LPUOS,
apresenta objetivos e parâmetros urbanísticos específicos e
características distintas.
A ZEDUS 3 – Aldeota teve seu índice de aproveitamento máximo variado
de 2,5 para 4,0, sendo incidente sobre uma área de índice de
aproveitamento básico 2,5. Assim com a implementação da ZEDUS foi
possível gerar um potencial construtivo adicional de 1,5 sobre o índice
de aproveitamento nessa área.
Figura 5.4: ZEDUS instituídas pelo LPUOS, 2017
Fonte: O Povo, 2017 (acesso em: https://www.opovo.com.br/jornal/economia/2017/08/o-impacto-economico-na-vida-de-fortaleza.html)
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
36
Fundo de Desenvolvimento Urbano – FUNDURB
O Fundo de Desenvolvimento Urbano (FUNDURB) foi criado pela lei
municipal 211/2015 e regulamentado pelo decreto municipal
13.824/2016. Os recursos do FUNDURB podem ser aplicados na
execução de projetos que visem à implantação e ao desenvolvimento de
políticas públicas urbanísticas; na execução de programas de
manutenção e conservação urbanística; na execução de programas e
projetos decorrentes do Plano Diretor Participativo; na execução de
programas de urbanização e de obras de infraestrutura nas zonas
adensadas com carência de serviços e, na execução de programas de
cunho social prioritariamente voltados para as regiões mais carentes do
município.
São receitas do FUNDURB:
• Outorga Onerosa do Direito de Construir e Alteração de Uso;
• Títulos consistentes em certificados de potencial adicional de
construção (CEPACs) oriundos de Operações Urbanas Consorciadas
(OUCs) e Transferência do Direito de Construir (TDC);
• 60% da receita proveniente da aplicação de multas decorrentes de
infrações à legislação urbanística, arrecadadas por meio da Agência
de Fiscalização de Fortaleza (Agefis);
• Receita proveniente da aplicação de multas decorrentes de
infrações à legislação urbanística, arrecadadas pelo Município de
Fortaleza;
• Valores resultantes da venda, pelo município, de áreas
remanescentes de desapropriação efetuada para a realização de
OUCs;
• Renda proveniente da aplicação de seus próprios recursos;
• Outras receitas destinadas ao Fundurb.
Em 2016 o FUNDURB correspondeu a 0,28% da arrecadação total de
Fortaleza e em 2017, correspondeu a 0,29%. A Tabela 5.1 apresenta os
valores arrecadados de OODC e OOAU, onde verifica-se que a OOAU
tem participação relevante no FUNDURB, chegando à participação de
88% em 2016, 55% em 2017 e 87% em 2018. Já a OODC representa
menor percentual da receita do FUNDURB, com queda na arrecadação
entre 2016 e 2017. A menor arrecadação via OODC representa o
impacto da baixa oferta de potencial construtivo adicional.
Tabela 5.1: Arrecadação do FUNDURB em comparativo com a arrecadação total de Fortaleza
Anos 2016 2017 2018
OODC (R$) 1.795.335 1.318.782 -
OODC/FUNDURB (%) 10% 7% -
OOAU (RS) 15.595.920 10.397.280 2.206.866
OOAU/FUNDURB (%) 88% 55% 87%
Total FUNDURB (RS) 17.633.422 18.896.333 2.545.119
Arrecadação Total de Fortaleza (R$)
6.254.211.577,70 6.424.138.511,45 -
FUNDURB/Arrecadação Total de Fortaleza (%)
0,28% 0,29% -
Fonte: Steer Davies Gleave a partir de dados do FUNDURB (2016 – 2018) e da SEFIN (2016-2018), 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
37
Programa Fortaleza Competitiva
O Programa Fortaleza Competitiva, lançado pela prefeitura em 2017,
visa à geração de oportunidades para desenvolvimento de negócios em
Fortaleza, em que inclui incentivos e regulamentações que estimulem a
atração de novos negócios na cidade e consolidem àqueles existentes e,
a participação da iniciativa privada nas ações de melhoramento e
manutenção das infraestruturas urbanas.
Arranjos Público-privados
Estão previstos como ações para promoção de arranjos público-
privados:
• Concessão para modernização da operação dos terminais de TP:
concessão por meio de outorga para o ente privado aproveitar o
potencial imobiliário do entorno de sete terminais, em
contrapartida pela gestão e operação destes, mais o pagamento da
outorga onerosa;
• Otimização do uso de ativos imobiliários públicos: concessão para
iniciativa privada de imóveis públicos da prefeitura que atualmente
encontram-se subutilizados, gerando receitas extras para o
município. Renegociação de aluguéis pagos e recebidos pelo
município.
Considerações Gerais
Fortaleza apresenta instrumentos LVC regulamentados, principalmente,
aqueles incidentes sobre fluxo, como OODC, OOAU e OUC. Contudo,
verificou-se que a baixa variação entre os índices de aproveitamento
básico e máximo, reduzem o potencial de arrecadação de instrumentos
como a OODC.
O município também apresenta os instrumentos incidentes sobre
estoque, como PEUC e IPTU progressivo no tempo, contudo, ainda estão
em processo de regulamentação.
A arrecadação do FUNDURB representa 0,28% da arrecadação total de
Fortaleza, e dentre os valores arrecadados para o fundo, a OOAU tem
destaque como instrumento de recuperação da mais valia fundiária.
Porém, é importante que Fortaleza amplie e passe a combinar diferentes instrumentos LVC e que passe a regulamentar instrumentos LVC incidentes sobre estoque.
As ZEDUS foram entendidas como uma estratégia interessante para
promoção de porções territoriais com parâmetros urbanísticos
diferenciados, visando a dinamização socioeconômica e urbanística. As
ações previstas pelo Programa Fortaleza Competitiva reforçam a
tendência de Fortaleza em ter como objetivos a dinamização econômica
e indicam o interesse pela parceria público privada.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
38
Desenvolvimento urbano e uso do solo
O diagnóstico buscou compreender as dinâmicas imobiliárias de
Fortaleza e seu entorno, as projeções de desenvolvimento urbano e a
oferta potencial de terrenos transformáveis (vazios e subutilizados). Esta
análise teve o objetivo de identificar como as áreas no entorno dos eixos
de mobilidade podem ser adensadas como forma de potencializar a
arrecadação de LVC em novos fluxos imobiliários.
Os cenários de desenvolvimento urbano foram realizados para o
entorno de duas importantes estações intermodais de transporte –
Papicu e Parangaba, tomadas como exemplos para a coleta e análise de
dados.
Dinâmica imobiliária
A sobreposição dos dados socioeconômicos coletados e analisados
sobre os demais dados oriundos de imobiliárias, deu origem ao
diagnóstico imobiliário, que traz um conjunto de informações a respeito
do comportamento atual e da tendência do mercado imobiliário no
território em estudo. Este trabalho de inteligência de mercado orientou
o processo de tomada de decisões a respeito das diretrizes estratégicas
para a recuperação das mais valias fundiárias, a qual, como já
mencionado, deve estar orientada e alinhada por uma política pública
urbana associada ao DOT.
Os eixos componentes de tal diagnóstico imobiliário, apresentam um
panorama do comportamento verificado pelo mercado na oferta de
produtos imobiliários característicos, tais como imóveis residenciais
horizontais, imóveis residenciais verticais, imóveis empresariais, imóveis
comerciais de diferentes portes, entre outros produtos.
Região Metropolitana de Fortaleza
Foi realizado um levantamento sistemático das informações de imóveis
divulgados para venda nos municípios da Região Metropolitana de
Fortaleza, no período entre 14/05/2018 e 16/05/2018. Os resultados
encontrados são apresentados a seguir, exceto aqueles relativos ao
município de Fortaleza, uma vez que os dados da capital cearense são
apresentados mais detalhadamente em sequência.
Em relação aos imóveis residenciais verticais, foram analisados 1.102
apartamentos disponíveis à venda. Caucaia concentra
empreendimentos voltados para população de baixa renda e seu litoral
apresenta empreendimentos voltados para 2ª residência, com altos
valores. Aquiraz, por sua vez, concentra os apartamentos também
voltados para 2ª residência. Já Eusébio apresenta dinamismo e conta
tanto com apartamentos populares como também apartamentos
voltados para média renda. Assim, entre os lançamentos residenciais
verticais do período em análise, aqueles cujos imóveis têm maior valor
de metro quadrado, estão concentrados no litoral de Caucaia e no litoral
de Aquiraz. Os imóveis econômicos estão de modo geral a sul e a oeste
do município de Fortaleza.
No que diz respeito aos imóveis residenciais horizontais, foram
analisadas 2.216 casas em condomínio, disponíveis à venda. Eusébio
concentra 87% dessa tipologia, sendo que o município se apresenta
como destino de moradia para o público que deseja residir em áreas
horizontais e condomínios fechados. O valor médio da casa em
condomínio fechado de Eusébio gira em torno de R$ 719 mil. Aquiraz,
por sua vez, concentra este tipo de produto na orla, voltado também
para segunda residência, com valor médio de R$ 671.299 por imóvel.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
39
Assim, a maior concentração de casas de condomínio está nos
Municípios de Eusébio e Aquiraz. Estas cidades apresentam maiores
valores médios de valor de venda total dos imóveis, embora o maior
valor médio de metro quadrado esteja em Caucaia.
Ainda sobre os imóveis residenciais horizontais, foram analisadas 2.036
casas em loteamento aberto. Eusébio concentra 41% dessa tipologia,
justamente porque o município se apresenta como destino de moradia
para o público que deseja residir em áreas horizontais. Maracanaú, por
sua vez, concentra 15% deste tipo de produto, mas está voltado para
público de baixa renda, com unidades no valor médio de R$ 165 mil.
Assim, a distribuição espacial de casas à venda na RMF (exceto
Fortaleza) mostra a concentração de oferta deste produto, sobretudo
no litoral de Caucaia (alto padrão) e Eusébio / Aquiraz (alto padrão),
enquanto que as casas ofertadas em Maracanaú possuem padrão mais
econômico, boa parte com valor de até R$200.000.
Por fim, sobre os terrenos em urbanização fechada, foram analisados
382 lotes em condomínio. Eusébio concentra 57% dessa tipologia,
novamente porque o município apresenta-se como destino de moradia
para o público que deseja residir em áreas horizontais e condomínios
fechados. Aquiraz, por sua vez, concentra 16% deste tipo de produto,
com unidades no valor médio de R$ 182 mil. Assim, tem-se que
aproximadamente 73% dos lotes ofertados em condomínios fechados
estão localizados em Eusébio e Aquiraz, com valores de metro quadrado
variados, mas com valor médio elevado para Eusébio (R$528/m²). Há
também lotes de alto padrão disponíveis em Trairi, oferta justificada
pela proximidade do PECEM.
Município de Fortaleza
Em correspondência às análises imobiliárias para a Região
Metropolitana de Fortaleza, foi feito também o monitoramento do
mercado imobiliário na capital cearense e, de acordo com seus dados
disponíveis para os anos entre 2010 e 2018, foram lançados 4,9 milhões
de m² de área construída residencial vertical em Fortaleza. O maior
volume ocorreu no ano de 2012, com 958 mil m² lançados apenas neste
ano (2018).
De acordo com o monitoramento realizado no acumulado 2010-2018,
40% da área construída total foi ofertada pelo conjunto de imóveis com
mais de 100m² de área privativa, e 25% desta área total foi ofertada
pelo conjunto de imóveis com valores de lançamento variando entre
R$300.000 e R$500.000.
Número de Unidades Habitacionais Verticais Lançadas
Em 2010, foram lançadas, ao todo, 7.026 unidades habitacionais em
empreendimentos do tipo residencial vertical em Fortaleza,
concentrados em 23 dos 61 bairros do Município. Os bairros que mais
concentraram lançamentos de unidades imobiliárias deste tipo foram
Fátima (920 unidades) e Parque Iracema (848 unidades). Embora o
Bairro Papicu não tenha sido contemplado com lançamentos
imobiliários residenciais verticais neste ano, percebe-se que os bairros
no entorno da Estação Papicu concentraram um número expressivo de
unidades imobiliárias lançadas.
Em 2014, foram lançadas, ao todo, 6.745 unidades habitacionais em
empreendimentos do tipo residencial vertical em Fortaleza,
concentrados em 30 dos 61 bairros do Município. O bairro que mais
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
40
concentrou lançamentos de unidades imobiliárias deste tipo foi Benfica
(1.040 unidades), com 1,57 vezes mais lançamentos que o bairro em 2º
lugar (Eng. Luciano Cavalcante). Percebe-se um arranjo espacial dos
lançamentos de unidades imobiliárias nos bairros próximos à Estação
Papicu. Também ganha destaque o bairro Jóquei Club (São Cristóvão),
próximo à Estação Parangaba.
Em 2017, foram lançadas, ao todo, apenas 754 unidades habitacionais
em empreendimentos do tipo residencial vertical em Fortaleza,
concentrados em oito dos 61 bairros do Município. O bairro que mais
concentrou lançamentos de unidades imobiliárias deste tipo foi Dendê
(380 unidades), com 3,02 vezes mais lançamentos que o bairro em 2º
lugar (Presidente Kennedy). A crise econômica nacional, entre os anos
2015 e 2016, abalou o mercado imobiliário de Fortaleza nos anos
sucessivos, mas espera-se a retomada da produção imobiliária no
município a partir do crescimento do país.
Área Total Lançada de Unidades Habitacionais Verticais
Em 2010, foram lançados, ao todo, 535.459,75 m² em
empreendimentos do tipo residencial vertical em Fortaleza,
concentrados em 23 dos 61 bairros do Município. Os bairros que mais
lançaram área de produtos imobiliários residenciais verticais foram
Fátima (72.272 m²), Aldeota (60.031 m²) e Parque Iracema (58.745 m²).
Embora o Bairro Papicu não tenha sido contemplado com lançamentos
imobiliários residenciais verticais neste ano, percebe-se que os bairros
no entorno da Estação Papicu concentraram um número expressivo de
área lançada.
Em 2014, foram lançados, ao todo, 587.452,03 m² em
empreendimentos do tipo residencial vertical em Fortaleza,
concentrados em 30 dos 61 bairros do Município. Os bairros que mais
lançaram área de produtos imobiliários residenciais verticais foram Eng.
Luciano Cavalcante (67.200 m²) e Benfica (61.838 m²). Percebe-se um
arranjo espacial dos lançamentos de unidades imobiliárias nos bairros
próximos à Estação Papicu. Também ganha relativo destaque o bairro
Jóquei Club (São Cristóvão), próximo à Estação Parangaba.
Em 2017, foram lançados, ao todo, apenas 54.916,31 m² em
empreendimentos do tipo residencial vertical em Fortaleza,
concentrados em oito dos 61 bairros do Município. O bairro que mais
lançou área de produtos imobiliários residenciais verticais foi Dendê
(17.699 m²), com 1,75 vezes mais lançamentos que o bairro em 2º lugar
(Presidente Kennedy). Como mencionado, a crise econômica nacional,
entre os anos 2015 e 2016, abalou o mercado imobiliário de Fortaleza
nos anos sucessivos, mas espera-se a retomada da produção imobiliária
no município a partir da retomada do crescimento econômico.
VGV Geral de Unidades Habitacionais Verticais Lançadas
Em 2010, foi gerado um valor aproximado de R$ 1,804 bilhões de Valor
Geral de Vendas (VGV) para produtos imobiliários do tipo residencial
vertical em Fortaleza, concentrados em 23 dos 61 bairros do Município.
Os bairros nos quais mais produziu-se VGV em lançamentos residenciais
verticais foram Fátima, Eng. Luciano Cavalcante, Pq. Iracema e Aldeota.
Embora o Bairro Papicu não tenha sido contemplado com lançamentos
imobiliários residenciais verticais neste ano, percebe-se que os bairros
no entorno da Estação Papicu concentraram um bom volume de VGV
produzido.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
41
Em 2014, foi gerado um valor aproximado de R$ 3,384 bilhões de Valor
Geral de Vendas (VGV) para produtos imobiliários do tipo residencial
vertical em Fortaleza, concentrados em 30 dos 61 bairros do Município.
Os bairros nos quais mais produziu-se VGV em lançamentos residenciais
verticais foram Eng. Luciano Cavalcante, Benfica, Aldeota e Cocó.
Percebe-se um arranjo espacial da produção de VGV nos bairros
próximos à Estação Papicu. Também ganha relativo destaque o bairro
Jóquei Club (São Cristóvão), próximo à Estação Parangaba.
Em 2017, foi gerado um valor aproximado de apenas R$ 304 milhões de
Valor Geral de Vendas (VGV) para produtos imobiliários do tipo
residencial vertical em Fortaleza, concentrados em oito dos 61 bairros
do Município. Os bairros nos quais mais produziu-se VGV em
lançamentos residenciais verticais foram Cocó, Presidente Kennedy e
Dendê. A crise econômica nacional, entre os anos 2015 e 2016, abalou o
mercado imobiliário de Fortaleza nos anos sucessivos, mas espera-se a
retomada da produção imobiliária no município a partir da retomada do
crescimento econômico.
Valores Médios de M² das Unidades Habitacionais Verticais Lançadas
Em 2010, a somatória do Valor Geral de Vendas – VGV de todos os
empreendimentos imobiliários do tipo residencial vertical, dividida pela
somatória das áreas lançadas para este tipo de empreendimento,
produziu um valor de lançamento médio de R$ 3.369,93 / m² para o
município de Fortaleza como um todo. Os bairros que tiveram melhores
valores médios de lançamento para produtos imobiliários residenciais
verticais neste ano foram Mucuripe, Praia do Futuro e Meireles, todos
estes relativamente próximos à Estação Papicu.
Em 2014, a somatória do Valor Geral de Vendas – VGV de todos os
empreendimentos imobiliários do tipo residencial vertical, dividida pela
somatória das áreas lançadas para este tipo de empreendimento,
produziu um valor de lançamento médio de R$ 5.760,39 / m² para o
município de Fortaleza como um todo. Os bairros que tiveram melhores
valores médios de lançamento para produtos imobiliários residenciais
verticais neste ano foram Meireles e Mucuripe, próximos à Estação
Papicu. O bairro Jóquei Clube (São Cristóvão), próximo à Estação
Parangaba, também ganha destaque.
Em 2017, a somatória do Valor Geral de Vendas – VGV de todos os
empreendimentos imobiliários do tipo residencial vertical, dividida pela
somatória das áreas lançadas para este tipo de empreendimento,
produziu um valor de lançamento médio de R$ 5.541,06 / m² para o
município de Fortaleza como um todo, valor abaixo daquele verificado
para o ano de 2014 mesmo em termos nominais (não reais). A crise
econômica nacional, entre os anos 2015 e 2016, abalou o mercado
imobiliário de Fortaleza nos anos sucessivos, mas espera-se a retomada
da produção imobiliária no município a partir da retomada do
crescimento econômico.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
42
Considerações Gerais
A Figura 5.5 sintetiza as relações de
influência entre os municípios da RMF e
Fortaleza. Assim, avaliou-se que o centro
político administrativo da RMF, localizado
em Fortaleza (1) articula-se com o porto
PECEM (7) e com os bairros de expansão
residencial popular a leste e sul da cidade,
ao passo que estes últimos possuem fortes
vínculos com o Distrito Industrial de
Maracanaú (5), Distrito Comercial de
Messejana (4) e os equipamentos públicos e
privados de Parangaba (3). Por fim, as
regiões de mais alta renda a leste, como
Eusébio, articulam-se com a centralidade
próxima ao Shopping Iguatemi e com a
região de Papicu (2). O litoral a leste e oeste
de Fortaleza possui usos residenciais ligados
à segunda residência.
A região de Papicu sofre menos influência
metropolitana em sua dinâmica imobiliária,
visto que seu desenvolvimento ocorre em
função da expansão do polo empresarial e
residencial de Aldeota e Meireles. Já
Parangaba pode sofrer influência
metropolitana da dinâmica imobiliária em
relação aos empreendimentos residenciais
focados no Minha Casa, Minha Vida – caso os valores da terra aumentem, o desenvolvimento
desses empreendimentos pode migrar para os municípios vizinhos da RMF.
Figura 5.5: Síntese do desenvolvimento metropolitano de Fortaleza
Fonte: Urban Systems, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
43
Cenários de Desenvolvimento Urbano
A análise dos cenários de desenvolvimento urbano no estudo de caso de
Fortaleza ocorreu por meio da avaliação do potencial construtivo
disponível para as áreas de influência imediatas (raio de um quilômetro)
às estações analisadas de Papicu e Parangaba, oriunda das relações
estabelecidas entre a oferta e demanda imobiliária e do tempo de
absorção da demanda.
Figura 5.6: Formulação dos cenários de desenvolvimento urbano
A Figura 5.6, por meio do fluxograma, sintetiza as etapas de definição da
demanda e oferta que foram consideradas na formulação dos cenários
de desenvolvimento urbano.
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
44
Áreas de Influências adotadas
Conforme a introdução deste item, os cenários de desenvolvimento
urbano foram obtidos para Papicu e Parangaba sob os aspectos de
demanda e oferta. Contudo foram consideradas áreas de influências
distintas para estes dois aspectos.
A oferta foi calculada através do levantamento dos atuais terrenos
vazios e subutilizados (de acordo com os índices de aproveitamento
básico da legislação atual e de uma alteração proposta para a legislação)
dentro do raio de influência de 1 km da estação. Já a demanda foi
calculada através das projeções de crescimento de população e
empregos nas Áreas de Influência Indireta das estações, compostas por
bairros do entorno das estações, ao longo dos próximos anos, até 2040.
A análise de absorção de demanda foi realizada considerando o terreno
ofertado dentro da AID de cada estação.
As áreas de influência estão exemplificadas na Figura 5.7.
Figura 5.7: Áreas de influência direta (oferta) e indireta (demanda)
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Demanda Imobiliária
As demandas imobiliárias foram analisadas a partir das projeções de
incremento das áreas construtivas residenciais e não residenciais para o
período de 2018-2040.
Para a projeção do crescimento urbano de Fortaleza e das áreas
específicas de estudo (Papicu e Parangaba), foi feita a projeção
populacional, observando-se a tendência de crescimento domiciliar,
resultando na relação de área construída residencial. A projeção de
empregos observou a tendência de crescimento por setor, definindo a
relação de área construída por setor por emprego.
Para esta análise foram utilizadas as seguintes bases de dados:
• IBGE – CENSO 2000 e 2010
• IBGE – POPULAÇÃO – De 2000 a 2016
• MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO – RAIS - 2008 a 2016
• SEUMA – 2015 (Área Construída Residencial e Não Residencial)
Projeção de população e domicílios em Fortaleza
A projeção domiciliar considerou um decréscimo de seu crescimento histórico relacionado à redução populacional no patamar de 90%, ou seja, se a população apresentou uma redução de sua taxa de crescimento de 1,00% a retração do crescimento domiciliar será de 0,90%.
A manutenção do crescimento domiciliar em relação ao crescimento populacional ocorre por conta do envelhecimento populacional, que gera demanda domiciliar no processo de amadurecimento populacional e da “saída” dos filhos da casa dos pais.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
45
Dessa maneira a projeção do número de domicílios leva em consideração a redução da taxa de crescimento populacional, balizada com a redução das taxas de fecundidade.
Tabela 5.2: Evolução da população e domicílios (2000 - 2040)
Anos População TGCA* Domicílios TGCA* Hab. / Dom.
2000 2.141.402 - 531.035 - 4,03
2010 2.452.185 1,36% 714.453 3,01% 3,43
2015 2.627.482 1,39% 828.703 3,01% 3,17
2020 2.676.207 0,37% 936.557 2,48% 2,86
2025 2.744.372 0,50% 1.009.826 1,52% 2,72
2030 2.795.843 0,37% 1.073.621 1,23% 2,60
2035 2.830.896 0,25% 1.123.293 0,91% 2,52
2040 2.849.039 0,13% 1.152.357 0,51% 2,47
Fonte: IBGE, 2018. Urban Systems, 2018. Elaboração: Urban Systems, 2018.
Projeção de empregos e empresas em Fortaleza
Excetuando os anos de início de recessão Nacional, 2009 e 2014, é possível estabelecer a elasticidade de crescimento do número de empregos de Fortaleza em relação ao crescimento nacional em 1,36.
Dessa maneira, o crescimento do número de empregos estará relacionado às projeções apresentadas pelo Banco Central e será mantido o crescimento de 2022 até 2040. A elasticidade utilizada para projeção considerou uma tendência de que em 2040 a elasticidade tenderá a 1,0.
Observa-se a recuperação do crescimento do número de empregos entre 2015 e 2020 e um aumento contínuo até 2040, com pequenos
decréscimos por conta da redução da elasticidade do crescimento do PIB em relação ao crescimento do PIB. O resultado encontrado está pouco superior à meta apresentada no Plano Fortaleza 2040, ou seja, se o PIB Nacional crescer de acordo com as estimativas do Banco Central, será possível atingir a meta.
Tabela 5.3: Projeção de empregos em Fortaleza
Anos Empregos TGCA* Empresas TGCA* Empregos / Empresas
2000 413.938 - 28.437 - 14,6
2010 725.525 5,77% 44.514 4,58% 16,3
2015 823.674 2,57% 52.710 3,44% 15,6
2020 874.442 1,20% 59.041 2,29% 14,8
2025 1.029.755 3,32% 63.760 1,55% 16,2
2030 1.203.964 3,18% 67.492 1,14% 17,8
2035 1.399.845 3,06% 70.119 0,77% 20,0
2040 1.621.724 2,99% 71.507 0,39% 22,7
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, 2018. Urban Systems, 2018. Elaboração Urban Systems, 2018.
Análise de demanda para Papicu
A análise de demanda para Papicu baseou-se sobre a área de influência
indireta de Papicu, composta por dez bairros, conforme mostra a Figura
5.9. Sendo: Aldeota; Cidade 2000; Cocó; Dunas; Meireles; Mucuripe;
Papicu; Praia do Futuro; Varjota e Vicente Pinzon.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
46
Figura 5.8: Área de influência indireta (cinza) de Papicu
Fonte: Quanta. OUC Fortaleza, 2017. IBGE, 2010. Elaboração: Urban Systems, 2018.
A projeção da área construída residencial considerou a média da área
construída residencial de 201,5 disponibilizada pela SEUMA, em relação
ao número de domicílios estimados para cada bairro, por meio da
projeção de população e domicílios realizada para Fortaleza.
A partir das projeções e premissas adotadas anteriormente, chega-se ao
incremento de 4,3 milhão de m² de área construída residencial para
área de influência indireta da Estação Papicu.
Tabela 5.4: Incremento da área construída residencial por bairro (2018-2040)
Incremento ao Ano de Área Construída (m²)
2018 2020 2025 2030 2035 2040 Total 2018-2040
Aldeota 89.032 52.059 50.764 43.955 34.008 19.743 917.838
Cidade 2000
5.957 3.483 3.396 2.941 2.275 1.321 61.408
Coco 75.200 43.971 42.877 37.126 28.725 16.676 775.244
Dunas 6.356 3.717 3.624 3.138 2.428 1.410 65.527
Meireles 149.943 87.675 85.493 74.027 57.275 33.250 1.545.773
Mucuripe 32.095 18.767 18.300 15.845 12.260 7.117 330.872
Papicu 28.587 16.715 16.299 14.113 10.920 6.339 294.704
Praia do Futuro
12.165 7.113 6.936 6.006 4.647 2.698 125.413
Varjota 7.321 4.281 4.174 3.615 2.797 1.624 75.477
Vicente Pinzon
19.617 11.470 11.185 9.685 7.493 4.350 202.228
AI Papicu 426.272 249.251 243.050 210.451 162.826 94.528 4.394.485
Fonte: SEUMA, 2015, IBGE 2000, 2010 e 2015. Urban Systems, 2018. Elaboração Urban Systems, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
47
A projeção da área construída não residencial irá considerar o crescimento do número de
empregos voltados para o uso comercial e de serviços, uma vez que, os usos industriais e da
agricultura são pouco aderentes ao processo de verticalização e incremento de potenciais
construtivos e o setor da construção civil não apresenta demanda por espaços construtivos, já
que sua grande maioria ocorre em instalação de canteiros de obra.
A partir das projeções e premissas adotadas anteriormente, chega-se ao incremento de 2,8
milhões de m² de área construída não residencial para área de influência da Estação Papicu.
Tabela 5.5: Área construída não residencial por atividade econômica - 2015
Área Construída Empregos Área Construída por Tipo de Serviços (m²) Área Construída por Emprego (m²)
Setores 2015 2015 2015
Comércio 26.987 2.581.377 95,65
Serviços 117.536 330.717 2,81
Total 144.523 2.912.095 20,15
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, 2018. Urban Systems, 2018. Elaboração Urban Systems, 2018.
Tabela 5.6: Incremento de área construída não residencial (2017 - 2040)
Incremento ao Ano de Área Construída Não Residencial
2018 2020 2025 2030 2035 2040 Total 2018-2040
Incremento - 98.600 109.802 123.177 138.736 157.764 2.833.000
Total 2.612.082 2.919.266 3.444.223 4.033.052 4.695.131 5.445.082 5.445.082
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, 2018. Urban Systems, 2018. Elaboração Urban Systems, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
48
Análise de demanda para Parangaba
A análise de demanda para Parangaba baseou-se sobre a área de
influência indireta de Parangaba, composta por nove bairros, conforme
mostra a Figura 5.9. Sendo: Demócrito Rocha; Dendê; Itaóca; Itaperi;
Jóquei Club (São Cristóvão); Maraponga; Montese; Parangaba e
Serrinha.
Figura 5.9: Área de influência indireta (cinza) de Parangaba
Fonte: Quanta. OUC Fortaleza, 2017. IBGE, 2010. Elaboração: Urban Systems, 2018.
A projeção da área construída residencial considerou a média da área
construída residencial de 2015, disponibilizada pela SEUMA, em relação
ao número de domicílios estimados para cada bairro, por meio da
projeção de população e domicílios realizada para Fortaleza.
A partir das projeções e premissas adotadas anteriormente, chega-se ao
incremento de 4,5 milhão de m² de área construída residencial para
área de influência indireta da Estação Papicu.
Tabela 5.7: Incremento da área construída residencial por bairro (2018-2040)
Incremento ao Ano de Área Construída (m²)
2018 2020 2025 2030 2035 2040
Demócrito Rocha
3.559 2.081 2.029 1.757 1.360 789
Dendê 7.311 4.275 4.169 3.610 2.793 1.621
Itaóca 3.794 2.218 2.163 1.873 1.449 841
Itaperi 19.065 11.147 10.870 9.412 7.282 4.228
Jóquei Club (São Cristóvão)
10.414 6.089 5.938 5.141 3.978 2.309
Maraponga 10.243 5.989 5.840 5.057 3.913 2.271
Montese 12.225 7.148 6.971 6.036 4.670 2.711
Parangaba 20.445 11.955 11.657 10.094 7.810 4.534
Serrinha 11.523 6.738 6.570 5.689 4.402 2.555
AI Parangaba
98.579 57.641 56.207 48.669 37.655 21.860
Fonte: SEUMA, 2015, IBGE 2000, 2010 e 2015. Urban Systems, 2018. Elaboração Urban Systems, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
49
A projeção da área construída não residencial irá considerar o crescimento do número de
empregos voltados para o uso comercial e de serviços, uma vez que, os usos industriais e da
agricultura são pouco aderentes ao processo de verticalização e incremento de potenciais
construtivos e o setor da construção civil não apresenta demanda por espaços construtivos, já
que sua grande maioria ocorre em instalação de canteiros de obra.
A partir das projeções e premissas adotadas anteriormente, chega-se ao incremento de 2,7
milhões de m² de área construída não residencial para área de influência da Estação Papicu.
Tabela 5.8: Área construída não residencial por atividade econômica - 2015
Área Construída Empregos Área Construída por Tipo de Serviços (m²) Área Construída por Emprego (m²)
Setores 2015 2015 2015
Comércio 12.503 1.285.654 102,83
Serviços 37.656 78.085 2,07
Total 50.159 1.363.739 27,19
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, 2018. Urban Systems, 2018. Elaboração Urban Systems, 2018.
Tabela 5.9: Incremento de área construída não residencial (2017 - 2040)
Incremento ao Ano de Área Construída Não Residencial
2017 2020 2025 2030 2035 2040 Total 2018-2040
Incremento - 94.625 105.376 118.212 133.144 151.405 2.718.807
Total 1.674.364 1.969.165 2.472.962 3.038.057 3.673.448 4.393.170 4.393.170
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, 2018. Urban Systems, 2018. Elaboração Urban Systems, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
50
Síntese comparativa entre Papicu e Parangaba
Por meio do estudo das dinâmicas imobiliárias e da projeção da
população e de empregos para o município, e especificamente, para as
estações Papicu e Parangaba, o estudo demonstrou que a estação
Papicu apresentou maior demanda por área construída residencial,
sendo 4,3 milhões de m² por área construída residencial, contra 1,0
milhão de m² para Parangaba para o ano 2040.
Isso ocorre por Papicu estar situada em uma região da cidade com
dinâmicas imobiliárias já consolidadas, sendo uma extensão de bairros
com alto valor de mercado imobiliário.
Já Parangaba, apesar de ser um polo de empregos importante fora da
região central do município, está situada em local mais periférico da
cidade, sendo resultado de um crescimento urbano desordenado,
caracterizando-se em área de menor interesse de atuação do mercado
imobiliário e com vocação imobiliária distinta em comparação com o
tipo de mercado encontrado em Papicu.
Para a demanda não residencial, Papicu apresenta uma demanda de 2,8
milhões de m², contra 2,7 milhões de m² de demanda para Parangaba.
Essa similaridade ocorre pelo lançamento de grandes empreendimentos
com característica de shopping na região de Parangaba, como a
construção do Shopping Parangaba e o North Shopping Jóquei.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
51
Inventário de terrenos e perfil de ocupação
Para compreender a relação entre demanda por área construída e oferta de terrenos, foram quantificados os vazios4 e as áreas subutilizadas5 a partir do cadastro imobiliário do IPTU (SEFIN), consideradas como áreas potenciais de transformação que podem absorver a demanda, e calculado seu potencial construtivo pela legislação atual (terreno virtual).
O estudo mostrou que o entorno de 1 km da estação Papicu já está bastante consolidado, não restando muitos terrenos vazios e subutilizados para desenvolvimento imobiliário, resultando em 302.749 m² no total. O zoneamento nessa área possibilita um Índice de Aproveitamento (IA) máximo entre 3 e 4, o que totaliza um potencial construtivo máximo de 870 mil m2.
Já o entorno de Parangaba possui um maior estoque para o desenvolvimento imobiliário, totalizando 471.430 m² de terrenos vazios e subutilizados, contudo, seu IA máximo é igual a 2, o que totaliza um potencial construtivo máximo de 940 mil m2.
Em situação hipotética sobre alteração da legislação, adotando-se IAs máximos iguais a 6 e 4 para Papicu e Parangaba, respectivamente, são totalizados de terreno virtual: 1.816.496 m² para AID de Papicu e 1.885.720 m² para AID de Parangaba. Comparando-se as condições de legislação atual e proposta, verificou-se que a baixa diferença entre IA básico e máximo do município, compromete a oferta de terreno virtual, que por sua vez, afeta a efetividade de mecanismos LVC, como OODC.
4 Índice de aproveitamento existente era igual a zero.
Figura 5.10: Inventário de terrenos e perfil de ocupação - Estação Papicu
Fonte: SEFIN – 2015 (IPTU). Elaboração: Urban Systems, 2018.
Figura 5.11: Inventário de terrenos e perfil de ocupação - Estação Parangaba
Fonte: SEFIN – 2015 (IPTU). Elaboração: Urban Systems, 2018.
5 Índice de aproveitamento existente era menor que o coeficiente de aproveitamento básico para a sua zona
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
52
Tempo de absorção de demanda
Os tempos de absorção de demanda foram estimados para as condições
da legislação atual e da situação hipotética proposta de aumento dos IAs
máximos, e foram consideradas três premissas:
• Hipotética: Absorção de 100% da demanda da AII concentrada na
AID;
• Otimista: Absorção de 50% da demanda da AII concentrada na AID;
• Tendencial: Absorção de 30% da demanda da AII concentrada na
AID.
Os resultados permitiram notar que quanto menos concentrada esta
demanda estiver em relação a AID, maior o tempo para a consolidação
desses entornos imediatos da estação e maior a dispersão do
desenvolvimento imobiliário, logo, menor a efetividade de arrecadação
de mecanismos LVC associada ao DOT.
Papicu
• Cenário do tempo de absorção com potencial construtivo da
legislação atual
A demanda por área corresponde, em m², a 24 vezes a oferta de terreno
real. Com a legislação atual (IA Max Atual 2,5 e 3,0), a oferta de
potencial construtivo atende 12% da demanda, com a ampliação do IA
máximo para 6, essa oferta atenderia 25%.
Considerando cenários de captura da demanda existente na área de
influência, é possível conjecturar o prazo necessário para que a oferta
do potencial construtivo máximo existente em 2017, seja consumido no
decorrer dos próximos anos.
• Cenário do tempo de absorção com potencial construtivo proposto
Figura 5.12: Tempo de absorção - IA PROPOSTO
Fonte: Urban Systems, 2018
Cruzando as informações de demanda com a oferta de potencial
construtivo, ou seja, os 7.227.485 m² de demanda por área construída e
os 1.816.496 m² de oferta de potencial construtivo no índice de
aproveitamento proposto de 6, podemos traçar cenários de absorção da
demanda no tempo.
Portanto:
• Hipotético - se a área de influência de raio de 1 km da estação
capturar 100% da demanda, demoraria 5 anos para esgotar a oferta
existente;
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
53
• Otimista - se a área capturar 50% da demanda, demoraria 11 anos
para esgotar a oferta existente
• Pessimista - se a área capturar 30% da demanda, demoraria 19 anos
para esgotar a oferta existente.
Considerando Papicu uma área de interesse imediato do mercado
imobiliário, o cenário otimista é um cenário considerado possível
através da política pública de indução x restrição. Esse é um cenário
interessante para aplicação da estratégia LVC e DOT.
Essa sobreposição de estratégias pode gerar dispersão do
desenvolvimento e enfraquecimento da estratégia DOT, uma vez que:
• A área da OUC é aproximadamente cinco vezes o raio de influência
da estação;
• Não se relaciona com transporte, principalmente, porque a estação
está no vértice da OUC.
Apresenta uma maior oferta de vazios e terrenos subutilizados próximo
à região da Praia do Futuro, cerca de 5 km da estação, que pode atrair a
atuação do mercado imobiliário.
Figura 5.13: Competição entre áreas de desenvolvimento imobiliário: Comparação entre ZEDUS proposta e OUCs existentes e propostas
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
54
Parangaba
• Cenário do tempo de absorção com potencial construtivo da
legislação atual
A demanda por área corresponde, em m², nove vezes a oferta de
terreno real. Com a legislação atual (IA Max Atual 2,0), a oferta de
potencial construtivo atende 21% da demanda, com a ampliação do IA
máximo para 4,0, essa oferta atenderia 43%.
Considerando os cenários de captura da demanda existente na área de
influência, é possível conjecturar o prazo necessário para que a oferta
do potencial construtivo máximo existente em 2017, seja consumido no
decorrer dos próximos anos.
• Cenário do tempo de absorção com potencial construtivo proposto
Figura 5.14- Tempo de absorção - IA PROPOSTO
Fonte: Urban Systems, 2018.
Cruzando as informações de demanda com a oferta de potencial
construtivo, ou seja, os 3.735.069 m² de demanda por área construída e
os 1.879.658 m² de oferta de potencial construtivo no índice de
aproveitamento proposto de 4, podemos traçar cenários de absorção da
demanda no tempo.
Portanto:
• Hipotético - se a área de influência de raio de 1 km da estação
capturar 100% da demanda, demoraria 12 anos para esgotar a
oferta existente;
• Otimista - se a área capturar 50% da demanda, demoraria 24 anos
para esgotar a oferta existente.
• Conservador - se a área capturar 30% da demanda, demoraria 38
anos para esgotar a oferta existente.
Considerando as mesmas dinâmicas imobiliárias, o cenário conservador
é um cenário mais provável, mas também depende de uma política
pública de indução x restrição.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
55
Figura 5.15: Cenário de desenvolvimento conservador - Parangaba
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
A Figura 5.16 mostra a sobreposição da ZEDUS proposta com a OUC
proposta Centro Oeste/Parangaba, e a proximidade com OUC existente.
Diferente do caso de Papicu, Parangaba apresenta menores riscos de
competição entre as áreas da ZEDUS e da OUC, visto que o raio de
influência de 1 km da estação corresponde aproximadamente à área
total da OUC.
Entretanto, a Operação Urbana tem objetivos específicos e atua de
forma distinta, portanto, se sobreposta, pode enfraquecer a estratégia
proposta.
Figura 5.16: Competição entre áreas de desenvolvimento imobiliário: Comparação entre ZEDUS proposta e OUCs existentes e propostas
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
56
Relação entre oferta e demanda
A contraposição da demanda com a oferta demonstrou que ambas as
áreas poderiam ter seus potenciais construtivos ampliados em até 24
vezes para Papicu e 9 para Parangaba. Contudo, não é suficiente
considerar a relação de oferta e demanda por área construída para
definir o quanto a área pode ser adensada definindo, por exemplo, o
índice de aproveitamento.
É necessário observar a capacidade da infraestrutura urbana e de
transporte em comportar determinado adensamento para calibrar o IA
máximo proposto, evitando onerar os custos da infraestrutura e gerar
deseconomias urbanas.
A legislação atual atende a 12% da demanda imobiliária em Papicu e a
21% em Parangaba, com essas proposições de alteração dos índices
aproveitamento máximo na legislação, passa-se a atender 25% da
demanda em Papicu e 43% em Parangaba. Trata-se de uma proposta
mais conservadora, visto que o IA proposto atende o dobro da demanda
que a legislação atual, mas ainda é muito inferior à demanda total.
É necessário, portanto, desenvolver estudos mais específicos e analisar a infraestrutura existente para calibrar os índices aqui propostos.
Figura 5.17: Comparativo entre oferta e demanda, sob condições da legislação atual e proposta
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
57
Sistema de transporte em Fortaleza
A análise do sistema de mobilidade considerou as características de
oferta e as projeções de demanda da Pesquisa Origem/Destino de 1997
e Estudo da Invepar de 2011. Para oferta, buscou-se entender as
condições de acessibilidade das estações e terminais em relação à rede
total de transporte e seu contexto de inserção na malha urbana.
A análise das estações, que possibilitou tanto a validação da escolha de
Papicu e Parangaba como focos do estudo de caso, quanto permitiu
validar a estratégia territorial adotada para Fortaleza, foi realizada por
meio da Avaliação Estrutura 3 Valores. Esta metodologia foi proposta
pelo Banco Mundial para facilitar a implementação do conceito DOT em
estações de transportes inseridas em diferentes contextos urbanos. Esta
avaliação está baseada na caracterização das estações e sua rede de
mobilidade, sob três aspectos: Valor do nó, Valor do Lugar e Valor de
Mercado.
A leitura sobre o sistema de mobilidade esteve associada ao
planejamento urbano, para identificar os benefícios do sistema,
capacidade de adensamento nos eixos de mobilidade e os impactos
sobre a política e estratégia LVC que foi proposta.
Adensamento nos eixos de transporte e a demanda de usuários
O adensamento populacional em torno dos eixos de mobilidade,
potencializa o aumento da demanda de transporte coletivo. Para
quantificar a projeção da demanda, é necessário entender:
• Divisão modal do município atual e projetada;
• Origens e destinos de viagem;
• Projeção de viagens realizadas pela população.
Nesse contexto, é importante observar os benefícios gerados pela
implantação do sistema metroferroviário, como o ganho em tempo de
viagem, e o impacto no aumento da demanda a partir da mudança de
comportamento e demanda induzida. Ou seja, a médio-longo prazo, a
aplicação do conceito DOT levaria a um percentual maior de pessoas
optando pelo transporte público em detrimento do transporte
individual motorizado.
A última Pesquisa Origem-Destino de Fortaleza é de 1997, que não
caracteriza mais o comportamento de viagens do município e inviabiliza
estimar a projeção de demanda. Portanto, os estudos seguintes foram
baseados nas estimativas de demanda elaboradas pelo estudo da
INVEPAR em 2012.
Demanda e Oferta do sistema metroferroviário de Fortaleza
A partir da Pesquisa Origem/Destino de 1997 e pesquisas realizadas em
2011, o estudo da Invepar projetou a demanda de usuários para
diferentes cenários e horizontes temporais.
Para possibilitar a extrapolação dos dados da Pesquisa O/D e a expansão
da demanda simulada para a HPM (Hora Pico Manhã), de forma a se ter
uma TOTALIZAÇÃO DIÁRIA, o estudo da Invepar se baseou no
carregamento de algumas linhas de ônibus da época (2011) que
possuíam uma elevada demanda de usuários.
Foi analisada a variação horária, ao longo de um dia útil, constatada nas
estatísticas de movimentação diariamente produzidas pelo controle
operacional das linhas de ônibus.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
58
Figura 5.18: Estatística operacional de uma amostra de linhas de ônibus (2011)
Fonte: Invepar - Mobilidade Urbana, 2012
Demanda do sistema metroferroviário
O estudo da INVEPAR modelou a estimativa de demanda*6 do sistema
metroferroviário nas Linhas Leste, Oeste, Sul e VLT (Parangaba –
Mucuripe) e as necessidades de adequação da oferta de serviço.
O estudo considerou como premissa a implementação do sistema
tronco-alimentado com seccionamento de linhas de ônibus, eliminando
concorrência predatória entre as modalidades de transporte, mantendo
eficaz o atendimento aos usuários.
O estudo mostra a demanda do sistema de transporte Público (Metrô +
BRT + ônibus), a racionalização das linhas de ônibus e implantação de
6 Com base na Pesquisa O/D de 1997 e pesquisas específicas realizadas em 2012 para calibração do modelo.
um sistema tronco-alimentado. O mapa mostra que a Linha Sul é a que
apresenta maior demanda quando comparada à Linha Leste, com
destaque para a estação Parangaba.
Figura 5.19: Sistema metroferroviário
Fonte: Invepar - Mobilidade Urbana, 2012
A linha de VLT apresenta demanda bem menor quando comparada às
duas linhas de metrô acima mencionadas.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
59
Figura 5.20: Demanda do sistema metroferroviário
Fonte: Invepar - Mobilidade Urbana, 2012
A análise do carregamento das linhas mostra a importância da Linha Sul
em relação à Linha Leste e, ainda, em relação ao VLT. O trecho entre
Papicu e Parangaba, da linha leste e sul do metrô, é o trecho que
apresenta maior carregamento devido a sua importância como nó de
transporte. O VLT pode cumprir um importante papel na distribuição
dessa demanda entre Papicu <> Parangaba, sem sobrecarregar as duas
linhas.
Figura 5.21: Carregamento do sistema metroferroviário
Fonte: Invepar - Mobilidade Urbana, 2012
Capacidade do sistema metroferroviário
Linha Sul
A linha Sul (existente) do sistema metroferroviário possui 20 estações e
atualmente opera com cinco trens e headway de 17 min.
De acordo com estimativa Invepar, a capacidade máxima da linha é de
26,7 mil passageiros (pax) na Hora Pico Manhã (HPM).
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
60
Figura 5.22: Capacidade da Linha Sul do Metrô
Fonte: Metrofor e Invepar - Mobilidade Urbana, 2012
De acordo com as estimativas do estudo da Invepar, a demanda da
Linha Sul para o ano 2042 (HPM) é:
Figura 5.23: Demanda Linha Sul 2042 (HPM)
Fonte: Invepar - Mobilidade Urbana, 2012
Estes gráficos mostram que a capacidade de transporte da linha Sul não
é suficiente para acomodar a demanda projetada para o HPM no ano de
2042, no sentido Bairro/Centro.
Linha Leste
A linha Leste (projetada) do sistema metroferroviário possui 13 estações
e há previsão de operar com 20 trens, chegando a um headway de 3
min.
De acordo com a estimativa da Invepar, a capacidade máxima da linha é
de 11,9 mil passageiros (pax) na Hora Pico Manhã (HPM).
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
61
Figura 5.24: Capacidade da Linha Leste do Metrô
Fonte: Metrofor e Invepar - Mobilidade Urbana, 2012
De acordo com as estimativas do estudo da Invepar, a demanda da
Linha Leste para o ano 2042 (HPM) está apresentada na Figura 5.25.
Estes gráficos mostram que a capacidade de transporte da linha Sul não
é suficiente para acomodar a demanda projetada para o HPM no ano de
2042, no sentido Centro/Bairro.
Figura 5.25: Demanda Linha Sul 2042 (HPM)
Fonte: Invepar - Mobilidade Urbana, 2012
Linha VLT Papicu <> Macuripe
A linha VLT (em construção) do sistema metroferroviário possui 10
estações e há previsão de operar com dois trens, chegando a um
headway de 15 min.
De acordo com a estimativa da Invepar, a capacidade máxima da linha é
de 4,3 mil passageiros (pax) na Hora Pico Manhã (HPM).
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
62
Figura 5.26: Capacidade da Linha Leste do Metrô
Fonte: Metrofor e Invepar - Mobilidade Urbana, 2012
De acordo com as estimativas do estudo da Invepar, a demanda da
Linha Leste para o ano 2042 (HPM) está apresentada na Tabela 5.1.
Considerando as mesmas premissas, para o VLT, a demanda projetada
HPM não sobrepõe a capacidade máxima de carregamento da linha em
2042 em nenhum dos sentidos, tendo condições de serem aumentadas.
Figura 5.27: Demanda VLT2042 (HPM)
Fonte: Invepar - Mobilidade Urbana, 2012
Volume de embarques e desembarques
A análise do volume de embarques e desembarques, conforme mostra a
Figura 5.28, a maior parte desse volume nas estações Papicu e
Parangaba se dá de forma integrada dentro da rede, como transbordo.
Há baixa participação dos embarques e desembarques lindeiros, o que
evidencia a necessidade de melhorar a microacessibilidade no entorno
dessas duas estações, e articular tais estações ao contexto urbano (uso e
ocupação do solo) de cada entorno.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
63
Figura 5.28: Embarques e desembarques nas estações
Fonte: Invepar - Mobilidade Urbana, 2012
De acordo com o estudo da Invepar, o volume de embarques e
desembarques da Linha Leste e VLT Parangaba-Macuripe para a estação
Papicu na Hora Pico Manhã (HPM) é:
Tabela 5.10: Volume de E/D da Estação Papicu (Linha Leste e VLT) – Passageiros transportados por Hora Pico Manhã (HPM)
Papicu 2020 2022 2032 2040
Embarques lindeiros 236+6 252+6 304+7 348+8
Desembarques lindeiros 266+8 283+9 342+10 392+12
Embarques integrados 640+29 683+31 824+37 944+42
Desembarques integrados 3904+112 4161+120 5022+145 5757+166
Total Embarques 876+35 935+37 1128+44 1292+50
Total Desembarques 4170+120 4444+129 5364+155 6149+178
*Legenda: nº de embarques na linha Leste + nº de embarques no VLT Fonte: Invepar - Mobilidade Urbana, 2012
A Tabela 5.10 mostra que a maior parte dos embarques na estação
Papicu são integrados, a participação de embarques lindeiros é pouco
significativa.
Para a estação Parangaba:
Tabela 5.11: Volume de E/D Estação Parangaba (Linha Sul e VLT) – Passageiros transportados por Hora Pico Manhã (HPM)
Papicu 2020 2022 2032 2040
Embarques lindeiros 119+6 128+7 154+8 176+9
Desembarques lindeiros 149+10 160+11 193+13 221+15
Embarques integrados 6669+206 7170+219 8654+265 9920+303
Desembarques integrados 4655+155 5005+165 6041+199 6924+303
Total Embarques 6788+212 7298+226 8808+273 10096+312
Total Desembarques 4804=165 5165+175 6234+212 7145+243
*Legenda: nº de embarques na linha Sul + nº de embarques no VLT Fonte: Invepar - Mobilidade Urbana, 2012
Assim como na estação Papicu, a maior parte dos embarques na estação
Parangaba são integrados, a participação de embarques lindeiros é
pouco significativa. Isso demonstra que a população no entorno tem
baixa participação no uso do sistema, o que pode significar inclusive
baixa acessibilidade das estações.
Potencialidades e limitações do sistema metroviário de Fortaleza
Estes gráficos mostram que a capacidade de transporte do sistema
metroferroviário da Linha Sul e Leste não é suficiente para acomodar a
demanda projetada pelo próprio estudo da Invepar para o ano de 2042
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
64
na HPM. No entanto, para atingir essa demanda, muitas suposições* são
necessárias para se tornar factível.
A única linha que realmente apresenta limitação maior quanto à
capacidade é a do VLT. De qualquer forma, a demanda do VLT é menor
que a capacidade. Essa demanda poderia ser aumentada com
adensamento populacional (de forma moderada) nessas áreas, para
potencializar as viagens entre Parangaba e Papicu e diminuir o
carregamento nas outras duas linhas.
A linha Sul e Leste podem aumentar suas capacidades máximas
adotando-se headway de 3 min e trens maiores, ou seja, composições
com mais de três carros. Para isso, são necessárias melhorias na rede e
nas estações, assim como na dimensão das plataformas.
É necessário fazer um estudo mais aprofundado sobre a projeção de
demanda das estações, a partir dos resultados da nova Pesquisa
Origem/Destino e contrapor com as projeções de população deste
estudo.
O que se pode concluir é que, embora seja desejável o adensamento no
entorno dos eixos de mobilidade, deve-se observar as limitações de
capacidade da rede de transporte de Fortaleza para absorver essas
viagens. Portanto, este estudo recomenda que o aumento do potencial
construtivo e densidades populacionais sejam também calibrados com a
capacidade de transporte.
*Para alcançar o cenário projetado pelo estudo da Invepar, seria
necessário um sistema de transporte público tronco-alimentado, sem
sobreposição das linhas de ônibus e metrô, integração tarifária e
melhorias na acessibilidade.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
65
Análise das Estações – Estrutura 3 Valores
As estações selecionadas para exemplificar esse estudo tratam de
estações intermodais, com importante função de nó da rede
metroferroviária – Linha Sul, Linha Leste e VLT Parangaba-Mucuripe - e
terminais de ônibus municipal.
Figura 5.29: Localização das estações Papicu e Parangaba
Fonte: Steer Davies Gleave, a partir de dados da Metrofor
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
66
A estação Papicu está localizada no sudeste do centro da cidade, perto
de bairros com o metro quadrado mais caro de Fortaleza. Apesar de ter
uma localização privilegiada, a qualidade de vida é classificada pelo IBGE
(Censo 2010) como C (em escala de A a K). A estação de metrô ainda em
construção, prevista para inauguração em 2018, conectará a linha Leste
- Amarela com o VLT Parangaba - Mucuripe e o atual terminal de ônibus
urbano de Papicu, formando o Grande Terminal Intermodal Papicu.
Além disso, o sistema de compartilhamento de bicicletas de Fortaleza
também será integrado a este terminal. Atualmente o terminal urbano
do Papicu conta com 51 linhas de ônibus, com uma demanda total de
647.651 viagens por ano.
Figura 5.30: Entorno da estação Papicu
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
A estação Parangaba está localizada no sudoeste do centro da cidade, e seu entorno é considerado pelo IBGE como uma qualidade de vida F (em uma escala de A a K). A estação do metrô Parangaba já existe, foi aberto ao público em 2012 e faz parte da linha Sul do metrô com a já construída estação do VLT Parangaba – Mucuripe, e com o maior terminal urbano de ônibus da cidade, em termos de demanda de passageiros. O terminal de ônibus opera com 54 linhas e apresenta uma demanda de 1.903.361 viagens por ano.
Figura 5.31: Entorno da estação Parangaba
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
67
Estrutura 3 Valores
Para análise do sistema de transportes de Fortaleza e, principalmente,
para entender a importância das estações Papicu e Parangaba dentro do
sistema metroferroviário e no contexto urbano de Fortaleza, foi
utilizada uma metodologia chamada Estrutura 3 Valores (3V
Framework).
Essa metodologia foi desenvolvida pelo Banco Mundial para facilitar a
implementação do conceito DOT em estações de transportes inseridas
em diferentes contextos urbanos. Está baseada na avaliação de três
valores que podem caracterizar a estação de transporte:
• Valor do nó: importância da estação na rede de transporte público,
com base no carregamento de passageiros, intermodalidade e
centralidade dentro da rede.
• Valor de lugar: considera a qualidade urbana de um local e sua
atratividade em termos de equipamentos e serviços; a
microacessibilidade no entorno da estação para pedestres e
ciclistas; a qualidade do tecido urbano em torno da estação, em
particular para pedestres, considerando o tamanho dos blocos
urbanos e a rede de ruas conectadas que criam bairros atraentes;
entre outros.
• Valor de mercado: considera as dinâmicas imobiliárias através da
análise de oferta de áreas potenciais de transformação, projeção
das demandas por área construída, os interesses do mercado.
Esses valores são utilizados para caracterizar as áreas em termos de
forma urbana, acesso a serviços diários, facilidade de conexão e
locomoção, acessibilidade à oportunidade de emprego.
Valor de Nó
O valor do nó trata da importância da estação dentro do sistema de
transporte, e é definido pela tipologia de estação e pelo grau de
conexão e centralidade com as demais estações e áreas da cidade.
Tipologia do nó
Alguns nós são classificados como grandes ‘hubs’, ou seja, centros
intermodais, por serem mais centrais, acessíveis em termos de rede e
tendem a servir a mais usuários. Estão mais próximas das áreas centrais
e dos principais pontos de destinos de viagem. Esse é o caso da estação
Papicu.
Já a estação Parangaba, apesar da sua importância dentro da rede, ela é
menos central, estando localizada em uma região mais periférica da
cidade.
Grau de conexão
Na análise de acessibilidade da rede de transportes, os indicadores de
conexão que identificam os nós mais importantes, são: Betweenness,
Closeness e Grau de centralidade.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
68
Grau de centralidade
O Grau de centralidade é o indicador que
mede como as estações estão conectadas
com a rede. Está relacionada com a
quantidade de transferências nas estações,
avaliado em três medidas:
• Linhas: O número de ligações que o nó
possui com outros nós em uma rede.
No caso, o número de ligações foi igual
para todas as três estações (três
ligações) e superior a todo restante da
rede (média uma - duas ligações);
• Modais: A conexão com outros modos
de transporte, considerando os modos
de transporte metroferroviário, BRT e
ônibus, foi igual para as estações
analisadas (três) e superior para a
média da rede (uma - duas conexões);
• Arcos: Em relação aos arcos por nó,
Papicu apresentou a nota mais alta
(quatro), enquanto as outras estações
analisadas pontuaram (três). A média
da rede é de dois arcos.
Estações com alta conexão são os mais
importantes pontos modais da rede e
servem como estações de baldeação entre
várias linhas ou integração com diferentes modos de transporte.
Esse é o caso das estações Papicu e Parangaba, que conectam duas linhas metroferroviárias e
terminais de ônibus. Com exceção da estação Central Chico da Silva, as demais estações da rede
são de caráter simples, e conectam apenas uma linha metroferroviária.
Figura 5.32: Grau de centralidade das estações
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
69
Betweenness
O segundo indicador de centralidade é o
Betweenness, que significa o número de
vezes que um nó em uma rede serve como
estação de transbordo, propiciando um
caminho mais curto entre outros dois nós.
Ou seja, é igual ao número de caminhos
mais curtos de todas as estações para todas
as outras que passam por essa estação,
considerando as linhas Sul, Leste e VLT.
Uma estação com indicador alto de
Betweenness tem uma grande influência na
transferência de passageiros através da
rede, sob a suposição de que a transferência
de passageiros segue os caminhos mais
curtos.
Para calcular esse valor, foram levantadas as
distâncias físicas entre as estações do
sistema metroferroviário e a velocidade do
serviço de metrô e VLT.
Figura 5.33: Betwenness das estações
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
Tabela 5.12: Betwenness das estações
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
70
Closeness
Por último, o terceiro indicador de
centralidade é o Closeness, que expressa a
distância média, medida em número de
links, de uma estação para todas as outras
estações da rede. Closeness é uma medida
de acessibilidade de um nó dentro de uma
rede, que mede o inverso da soma das
distâncias de um nó em relação a todos os
outros nós da rede.
As estações que se conectam à maioria das
outras através de poucos intermediários,
obtêm escores de proximidade cada vez
mais próximos de zero, apresentando maior
acessibilidade.
O resultado dessa análise mostrou, de
melhor para pior, os seguintes resultados:
• Parangaba - 7.00
• Chico de Silva - 7.11
• Papicu - 7.61
Essa análise demonstra que, dentro da rede
metroferroviária, a estação Parangaba
possui a maior acessibilidade em relação à
distância para as demais estações da rede.
A média das outras estações foi de 9,33.
A Tabela 5.13 apresenta o resumo dos três indicadores para as estações analisadas:
Figura 5.34: Closeness das estações
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
Tabela 5.13: Grau de conexão das estações
Papicu Parangaba
Grau de Centralidade
Betweenness
Closeness
Valor de Nó ✓✓ ✓✓✓
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
Pode-se concluir, portanto, que as estações Papicu e Parangaba apresentam alto valor de nó
para a rede de transporte público em relação às demais estações. Parangaba apresentou valores
superiores em relação à Papicu.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
71
Valor de Lugar
Para o valor do lugar, foram utilizadas quatro indicadores para avaliar as
condições de inserção da estação no seu entorno urbano, conforme
segue:
1. Densidade de interseções
2. Acessibilidade para pedestres
3. Caminhabilidade
4. Atratividade
A qualidade da caminhabilidade e microacessibilidade à estação é
determinante para estabelecer esse indicador. Ou seja, a estação pode
ter uma alta macroacessibilidade em relação à rede de transporte (valor
do nó), mas uma baixa microacessibilidade se estiver mal integrada ao
ambiente urbano (valor do lugar).
1. Densidade de interseções
A densidade das interseções mede o número de interseções viárias em
um raio de 1km2. Quanto mais interseções houver, melhor será a
conectividade da malha viária. O desejável é que esse número seja
maior que 100/km2.
Papicu apresentou número desejável de conexões enquanto para
Parangaba esse número foi inferior ao ideal. Isso significa menor
permeabilidade da malha viária, o que diminui seu acesso ao entorno.
Figura 5.35: Conectividade da malha viária
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
1. Densidade de interseções
Desejável: Maior que 100/km2
2. Acessibilidade para pedestres
Desejável: Quadras de até 100 mts
3. Caminhabilidade
Desejável: calçadas e travessias com
larguras adequadas e em boas condições
de conservação
4. Atratividade
Desejável: uso do solo misto,
consolidado (maior que 90%) e com
fachada ativa no térreo.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
72
2. Acessibilidade para pedestres
Para uma melhor microacessibilidade é necessário que comprimentos
das quadras sejam de até 100 metros, quadras maiores não são
amigáveis ao pedestre. Papicu novamente apresenta melhores
resultados que Parangaba, pois mais da metade da sua malha viária é
composta por quadras de até 100m de comprimento. A malha viária de
Parangaba é formada por grandes quadras, principalmente no entorno
imediato da estação, o que dificulta os deslocamentos de pedestres que
tem que fazer caminhos maiores até chegar ao seu destino.
Figura 5.36: Acessibilidade para pedestre das estações
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
Ainda foi realizada uma análise da acessibilidade para ciclistas,
considerando a presença de infraestrutura cicloviária e a velocidade do
tráfego na Hora Pico Manhã (HPM).
Figura 5.37: Acessibilidade para ciclistas
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
Juntos, os mapas demonstram que as áreas próximas das estações
apresentam pouca infraestrutura cicloviária segregada. Além disso, os
locais que contam com infraestrutura cicloviária estão próximos a vias
com altas velocidades (acima de 50 km/h), onde não é seguro e nem
acessível para ciclistas e pedestres.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
73
3. Caminhabilidade
O indicador de caminhabilidade considera a qualidade da infraestrutura
das calçadas, travessias e ambiente urbano.
Figura 5.38: Caminhabilidade das estações
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
As condições da caminhabilidade de pedestres, considerando a
qualidade da infraestrutura das calçadas, travessias e ambiente urbano
foi abaixo do recomendado para as duas estações. Ambas apresentaram
calçadas estreitas, em más condições de conservação e de sinalização
das travessias.
4. Atratividade
Esse indicador considera o uso e ocupação do solo que pode tornar o
ambiente mais atrativo para pedestre, por tornar áreas mais agradáveis
e convidativas às caminhadas. Caracteriza-se por: ausência de vazios
urbanos, fachadas ativas e uso misto, com movimento ao longo de todo
o dia, por atrair e gerar viagens.
Figura 5.39: Atratividade das estações
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
Em relação a esse indicador, pode-se concluir que:
• O uso do solo nas duas estações é misto, entretanto, Papicu
predomina o uso residencial enquanto Parangaba possui mais
equipamentos e serviços urbanos no entorno das estações.
• Em Papicu 90% dos terrenos encontram-se consolidados, enquanto
em Parangaba esse índice cai para 85% (raio de um km da estação).
• A fachada ativa foi pouco observada no entorno das duas estações,
com exceção de algumas lojas e bares de menor porte.
Assim, a tabela abaixo apresenta o resumo dos quatro indicadores para
as estações analisadas:
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
74
Tabela 5.14: Valor do lugar
Papicu Parangaba
Densidade de interseções
Acessibilidade de pedestres
Caminhabilidade
Atratividade
Valor do Lugar ✓✓ ✓
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
Pode-se concluir, portanto, que as duas estações apresentam fragilidades em relação ao valor do lugar devido à baixa acessibilidade e caminhabilidade para o pedestres e ciclistas. Papicu apresentou resultados ligeiramente superiores à Parangaba.
Valor de Mercado
O valor de mercado está relacionado às dinâmicas imobiliárias e o grau
de interesse do mercado pela área analisada.
Analisando as características socioeconômicas e o desenvolvimento
imobiliário no entorno das estações selecionadas, pode-se concluir que:
• As centralidades de Fortaleza no que tange distribuição de
empregos são: Centro, Papicu, Messejana e Parangaba;
• Forte apelo turístico próximo da Estação de Papicu devido às áreas
verdes e proximidade com a praia. Já em Parangaba destaca-se a
proximidade do aeroporto;
• Presença de assentamentos precários nas proximidades das duas
estações. Estão inseridas em áreas com valores médio/alto de
incidência de crime violento letal intencional;
• Estação de Parangaba apresenta valores relativos medianos do
preço da terra enquanto Estação da Papicu localiza-se em área com
os valores relativos mais altos;
• Em 2010, havia uma concentração do mercado imobiliário na região
central (Aldeota e Meireles); em 2014 havia uma dispersão pelo
território dos lançamentos imobiliários e em 2017 havia uma
retração no setor imobiliário devido à crise econômica;
• Nota-se entre 2010 e 2017 o aumento do valor médio do m² dos
lançamentos verticais na região onde está inserida a Estação de
Papicu – evidenciando uma valorização imobiliária em termos
nominais.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
75
Em relação às oportunidades criadas pelas estações:
Tabela 5.15: Matriz de oportunidade LVC
Indicador Estação Papicu Estação Parangaba
Localização Próxima ao polo de empregos e de alta renda Centralidade comercial e menor concentração de renda
Expansão Urbana Expansão da região de alta renda e do polo de empregos Distante do polo de empregos e das áreas valorizadas de Fortaleza. Centralidade de empregos em formação.
Interesse do Mercado Imobiliário
Região já conta com empreendimentos residenciais, empresariais e comerciais verticalizados e grandes empreendimentos (shopping Rio Mar).
Ainda não consolidado, encontra-se no início do processo de desenvolvimento de empreendimentos residenciais verticais.
Disponibilidade de Áreas
A disponibilidade de áreas está localizada a leste da estação, a oeste estão os bairros mais consolidados.
Forte presença de áreas subutilizadas e vazios urbanos nas proximidades da estação.
Oferta x Demanda
A relação de demanda pela oferta chegando em 5,47 mostra que a captura de valorização se torna mais fácil de ser alcançada, já que temos muita demanda em relação à oferta.
A relação entre a demanda e a oferta é mais baixa que a de Papicu, chegando a apenas 1,93. Quanto menor a diferença entre demanda e oferta, mais difícil a captura de valorização.
Oportunidade para Revitalização
Presença de ocupações irregulares nas proximidades e possibilidade de antecipar crescimento imobiliário não estruturado.
Forte presença de ocupação irregular e com possibilidade de desenvolver melhorias urbanas e áreas de lazer.
Facilidade de Recuperar Valor
Forte interesse do mercado e perfil de desenvolvimento de alta renda e baixa oferta de vazios, potencializa a facilidade de recuperar valor através de novos fluxos de desenvolvimento.
Mercado imobiliário ainda pratica valores de comercializações que podem dificultar a implantação de LVC, ou seja, o aumento de taxas ou impostos construtivos dependerão da valorização da região.
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
76
A partir dos pontos apresentados, pode-se sintetizar os perfis das
estações Papicu e Parangaba que validam a escolha das estações-piloto:
Estação de Papicu: está localizada
em uma área com maior
concentração de renda e valor do
solo, com tendência de
desenvolvimento e objeto de
interesse imediato do setor
imobiliário, necessário aproveitar
o bom momento para implantar
mecanismos de recuperação da valorização imobiliária.
Estação de Parangaba: ainda em
processo de amadurecimento do
mercado imobiliário, em que o
valor de venda versus o valor
construtivo restrito dificulta
atração do setor imobiliário. Do
ponto de vista de polos de
empregos, é uma área onde se
enxerga oportunidades para o desenvolvimento, contudo, sendo
necessário propor estratégias para aumentar a atratividade do setor
imobiliário.
A Tabela 5.15 resume a avaliação de valor de mercado para cada
estação:
Tabela 5.16: Valor de mercado das estações
Papicu Parangaba
Oferta de terrenos
Demanda por área construída
Valor de mercado imobiliário
Facilidade de recuperar a
valorização fundiária
Valor de Lugar ✓✓✓ ✓✓
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
Pode-se concluir, portanto, que as duas estações apresentam potencial
de valor de mercado, entretanto, Papicu é objeto de maior interesse do
desenvolvimento imobiliário, enquanto Parangaba está em processo de
amadurecimento do mercado, apesar de já se consolidar como
centralidade.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
77
Resultado da avaliação
De forma geral, as duas estações
apresentam alta macroacessibilidade
quando comparada à rede de transportes,
entretanto, baixa microacessibilidade no
entorno das estações. É necessário
melhorias de caminhabilidade no entorno
das duas estações para que a aplicação do
conceito DOT seja efetivo.
Validação das estações
Considera-se que a seleção das duas
estações inseridas em contextos urbanos e
dinâmicas imobiliárias distintas possibilita o
desenvolvimento de um estudo mais amplo
da potencialidade de aplicação de
mecanismos de LVC. O estudo explorou os
mecanismos que melhor se adequam às
diferentes realidades, resultando em
cenários de desenvolvimento e
transformações urbanas distintos.
Considerando a heterogeneidade das
cidades brasileiras e o quadro marcante da
desigualdade socioespacial, esse estudo de
caso explora situações que podem servir
como referência em outras cidades.
Figura 5.40: Resultado na análise 3V Framework
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
78
Fortaleza, assim como muitas outras cidades brasileiras, tem aplicado
alguns instrumentos de LVC, como Operações Urbanas Consorciadas
(OUC) e Outorga Onerosa de Alteração de Uso (OOAU). Entretanto,
observa-se resultados tímidos de arrecadação de mais valias fundiárias
comparados às dinâmicas urbanas da cidade e seu potencial para
arrecadação.
Portanto, essa etapa do trabalho teve como objetivo:
• Explorar os possíveis mecanismos de LVC que possam ser
aplicados à realidade de Fortaleza e ao contexto político-
institucional;
• Quantificar o aumento potencial de arrecadação, a partir da
combinação de diferentes instrumentos;
• Entender como a receita arrecadada pode ser aplicada para o
financiamento da infraestrutura de transporte e das
transformações urbanísticas na cidade.
Esse estudo apontou a importância de se estabelecer uma política
pública de desenvolvimento urbano, integrada ao sistema de
transporte, e os benefícios gerados em termos de retorno dos
investimentos e da diminuição das deseconomias.
Contexto político-institucional de Fortaleza
Além das dinâmicas imobiliárias, o estudo buscou compreender o
contexto político-institucional, os objetivos da política pública de
Fortaleza e sua experiência com os instrumentos urbanísticos já
adotados.
A compreensão sobre o contexto político-institucional de Fortaleza
permitiu observar que:
• A implementação de instrumentos urbanísticos pressupõe
aprovação por lei, o que demanda um processo de pactuação
política para viabilizá-los;
• A gestão dos instrumentos urbanísticos demanda o
fortalecimento da máquina pública a partir da instrumentalização
e de arranjos que possibilitem celeridade aos processos
burocráticos;
• A aprovação e gestão dos processos muitas vezes impõem tempos
extensos no licenciamento de projetos, o que dificulta a atuação
do mercado imobiliário, reforçando a importância da celeridade a
ser dadas a esses processos;
• Diante do cardápio de instrumentos urbanísticos disponibilizados
pelo Estatuto da Cidade, constata-se que cada contexto os
absorvem de forma distinta, o que exige uma análise cuidadosa de
cada contexto para se identificar os instrumentos urbanísticos
mais viáveis, sob critério de aceitação.
Assim, concluiu-se como principais objetivos da política pública para a
gestão do desenvolvimento urbano e econômico de Fortaleza:
6 Estratégia proposta para Fortaleza
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
79
Figura 6.1: Objetivos da política pública de Fortaleza
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
Inventário e Seleção dos Mecanismos LVC
Lista preliminar de mecanismos LVC
Anterior à listagem dos mecanismos LVC, foram identificados os
principais beneficiados pelas obras de infraestrutura de transportes e
pelos processos de valorização imobiliária decorrentes desses
investimentos e de alterações das normativas urbanísticas, para assim
definir os perfis de beneficiados-pagadores de Fortaleza.
Em seguida, elaborou-se uma lista preliminar sobre os instrumentos
apresentados pelo Estatuto da Cidade e exemplos de instrumentos
internacionais. A partir de critérios de seleção, foram identificados os
mecanismos aplicáveis ao contexto de Fortaleza e dentre estes, foram
selecionados instrumentos a serem modelados para avaliação da
arrecadação potencial para Fortaleza. Abaixo estão listados os
mecanismos que compuseram a lista preliminar para o estudo de caso
de Fortaleza.
• Outorga Onerosa do Direito de Construir;
• Outorga Onerosa de Alteração de Uso;
• Transferência do Direito de Construir;
• Operação Urbana Consorciada;
• Direito de Preempção;
• Parcelamento, edificação e utilização compulsórias;
• IPTU progressivo no tempo;
• Consórcio Imobiliário;
• Estudo de Impacto de Vizinhança e Projetos especiais;
• Contribuição de Melhoria;
• Parceria entre o Poder Público e o desenvolvedor imobiliário;
• Imposto sobre a folha de pagamento;
• Sobretaxa dos combustíveis;
• Tributo sobre estacionamento;
• Venda ou arrendamento de imóveis após desenvolvimento;
• Taxa de congestionamento e pedágio urbano;
• Alíquota diferenciada do IPTU;
• Direito de Laje;
• Desapropriação por zonas;
• Contribuição voluntária de melhorias.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
80
Critérios adotados e seleção dos mecanismos LVC
A lista preliminar de mecanismos LVC foi avaliada com auxílio de seis
parâmetros que estão apresentados e descritos, conforme
demonstrado pela Figura 6.2.
Figura 6.2: Critérios de avaliação dos mecanismos LVC
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
A avaliação detalhada de cada mecanismo está disposta na Tabela 6.2.
Assumiu-se como critérios de seleção de mecanismos LVC:
• Instrumentos já regulamentados ou de fácil adaptação, do ponto
de vista legal;
• Presença de aceitabilidade social;
• Contexto político-institucional favorável à implementação do
mecanismo;
• Mecanismos complementares e/ou não concorrentes entre si.
Os mecanismos selecionados incidem tanto sobre o ordenamento
territorial, seja de modo arrecadatório, seja pela capacidade de gestão
dos bônus e ônus do desenvolvimento urbano, como também
abrangem mecanismos complementares, que não incidem sobre a
valorização fundiária, como, tarifa sobre estacionamento rotativo –
adaptação à tarifa sobre estacionamento privado -, taxa de
congestionamento e pedágio urbano, que também possuem potencial
de arrecadação e capacidade de financiamento de infraestruturas de
transporte.
Os mecanismos selecionados estão dispostos na Tabela 6.1 e foram
categorizados entre mecanismos de arrecadação e mecanismos de
gestão.
Tabela 6.1: Mecanismos selecionados para Fortaleza
Mecanismos de arrecadação Mecanismos de gestão
Outorga Onerosa do Direito de Construir PEUC e IPTU progressivo no tempo
Outorga Onerosa de Alteração de Uso Desapropriação por Zonas
Alíquota diferenciada de IPTU Direito de Preempção
Parcerias público-privadas Direito de Laje
Contribuição Voluntária de Melhorias Projetos especiais
Tarifa sobre estacionamento rotativo Zonas Especiais de Interesse Social
Taxa de congestionamento -
Pedágio Urbano -
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
81
Tabela 6.2: Avaliação dos mecanismos LVC previstos na lista preliminar
Mecanismo
Viabilidade Legal
Aceitabilidade Social
Potencial de Geração de Receita
Potencial de Desenvolvimento Econômico
Potencial de Valor Social
Compatibilidade com objetivos das políticas públicas
OODC ✓ $$$ ✓ - ✓
OOAU ✓ $$$ ✓ - ✓
TDC ✓ $$$ - - ✓
OUC - $$$ ✓ - ✓
Direito de Preempção - - - - -
PEUC - - - ✓ ✓
Consórcio Imobiliário - - - - -
IPTU progressivo no tempo
- - - - ✓
EIV e projetos especiais - - - ✓ ✓
Contribuição de Melhoria
$$$ - - -
PPPs - $$$ ✓ - ✓
Imposto sobre a folha de pagamento
$$$ - - -
Sobretaxa dos combustíveis
$$$ - ✓ -
Tributo sobre estacionamento
- $$$ - ✓ -
Venda ou arrendamento de ativos públicos
- $$$ ✓ ✓ ✓
Taxa de congestionamento
$$$ - ✓ -
Pedágio Urbano $$$ - ✓ -
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
82
Nova ZEDUS
A partir do entendimento do contexto político-institucional de
Fortaleza, traçou-se uma estratégia para implementação de
mecanismos de LVC adaptada às necessidades locais e que possa ser
implementada a curto e médio prazo, dentro das competências
jurídicas da gestão municipal. A fim de:
i. Estabelecer uma política de desenvolvimento urbano
integrada ao planejamento de transportes – com
embasamento nos conceitos DOT;
ii. Diminuir as deseconomias urbanas e garantir justa
distribuição dos bônus e ônus da urbanização;
iii. Ampliar o potencial de arrecadação dos mecanismos de LVC.
Visão sistêmica
É necessário ter um entendimento sistêmico das transformações
urbanas, considerando o contexto urbano geral da cidade e da
infraestrutura disponível, evitando deseconomias urbanas. Para isso,
precisa-se do fortalecimento da regulação urbanística, promovendo o
ordenamento territorial e propiciando um cenário favorável de ganho
mútuo na relação Poder Público e Setor Imobiliário.
O município já vem utilizando diversos mecanismos e a revisão do
plano diretor é uma oportunidade para o aprimoramento dos
instrumentos já existentes, facilitando os processos legais para
implantação da estratégia. Nesse contexto, deve-se promover o
Desenvolvimento Orientado ao Transporte (DOT) e do diálogo entre
as diferentes esferas interfederativas.
Figura 6.3: Base conceitual da estratégia proposta: enfoque sistêmico
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Proposição da Nova Zedus associada ao DOT
A proposta para implantação do conceito DOT em Fortaleza está
baseado no adensamento do entorno dos eixos de transporte de
média e alta capacidade, ou seja, a rede metroferroviária e as linhas
de BRT, existentes e propostas.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
83
Figura 6.4: Base conceitual da estratégia proposta: adensamento dos eixos de transporte
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Para delimitação da área, foi demarcado um buffer dos eixos de
transporte para delinear uma área de influência.
As áreas de influência delimitadas consistem em 500 m de influência
de cada lado do sistema metroferroviário, em 300 m de cada lado do
sistema de corredores de ônibus e em 1.000 m de raio de influência
das estações Chico da Silva, Papicu e Parangaba, identificadas como
nós principais de transporte do sistema, em reflexo às notas mais altas
de valor de nó pela avaliação do sistema de transporte público coletivo
de Fortaleza. Essas metragens foram definidas a partir dos parâmetros
de caminhabilidade e acessibilidade ao transporte, baseado no
conceito DOT.
Figura 6.5: Áreas de influência para delimitação das novas ZEDUS
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
A partir das áreas de influência, se identificou os setores censitários
que estavam inseridos, com exceção do setor censitário do Aeroporto
e do Parque do Cocó e das áreas de preservação ambiental.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
84
Figura 6.6: Metodologia para delimitação da área de influência
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
85
Fortaleza regulamentou, em sua Lei de
Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (Lei
nº 236/2017), as Zonas Especiais de
Dinamização Urbanística e Socioeconômica
(ZEDUS), que consistem em porções de
territórios destinados à implantação e/ou
intensificação de atividades sociais e
econômicas, com parâmetros urbanísticos
diferenciados do restante da cidade, para
promover melhorias de mobilidade,
acessibilidade e dinamização da zona, a
partir do princípio de sustentabilidade.
Figura 6.7: Zonas Especiais de Dinamização Urbanística e Socioeconômica (ZEDUS)
Fonte: O Povo, 2017 (acesso em: https://www.opovo.com.br/jornal/economia/2017/08/o-impacto-economico-na-vida-de-fortaleza.html)
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
86
Identificou-se uma convergência de objetivos entre as ZEDUS e a estratégia proposta pelo
presente trabalho, assim como, verificou-se a sobreposição de grande parte das áreas da ZEDUS
existentes no município e dos eixos de mobilidade, com exceção das áreas demarcadas como
ZEDUS Messejana e Anel Viário que se localizam na periferia do município, sem relação direta
com o transporte. Com objetivo de fortalecer políticas já desenvolvidas pelo município, adotou-
se as ZEDUS como ponto de partida para proposição da estratégia DOT e LVC em Fortaleza.
A partir do potencial vislumbrado no instrumento já adotado pelo município de Fortaleza,
trabalhou-se sobre o aprimoramento da ZEDUS, propondo um redesenho baseado nas áreas de
influência dos eixos de mobilidade. 7
Figura 6.8: Delimitação da Nova Zedus
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
7 Esta proposta deve ter o estudo aprofundado pelo município, em que deverão ser
estabelecidos parâmetros específicos com enfoque na dinamização urbanística e socioeconômica
e ter validados os perímetros.
A partir dos mapas apresentados na Figura
6.8 verifica-se a sobreposição de grande
parte das áreas da ZEDUS existentes no
município e dos eixos de mobilidade.
Visto a convergência de propósitos - a
dinamização urbanística e socioeconômica,
foi proposta uma revisão da ZEDUS
existente para se adequar à nova estratégia
LVC+DOT.
Assim, o círculo laranja destaca uma porção
da ZEDUS existente que não foi incorporada
na proposta, visto que é uma área que não
possui relação com a rede de mobilidade,
localiza-se no limite do município distante
da área central e do ambiente urbano
dotado de infraestrutura.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
87
Figura 6.9: ZEDUS proposta associada ao sistema de transporte
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
88
Níveis de desenvolvimento urbano
O sucesso do ordenamento territorial é
potencializado quando há uma regulação
urbanística fortalecida, baseada pelo
princípio restrição - indução. A oferta de
incentivos para o setor imobiliário não é
suficiente para promover o
desenvolvimento, visto que o setor
imobiliário atua conforme as áreas com
menor risco para o mercado. Assim, nem
sempre essas áreas coincidem com as áreas
de interesse pelo poder público em
promover o desenvolvimento. Portanto,
para induzir o desenvolvimento de
determinadas regiões é necessário restringir
o desenvolvimento em outras áreas, para
assim, direcionar as práticas do setor
imobiliário.
Baseado no conceito de que os
instrumentos LVC são neutros em relação às
dinâmicas imobiliárias, ou seja, não
promovem ou restringem o
desenvolvimento. O sucesso de recuperação
das mais valias fundiárias deve estar
associado às áreas DOT. Sob este
entendimento, a proposta de política
urbana se distingue entre três níveis
distintos de interesse para o desenvolvimento urbano, conforme a Figura 6.10.
Figura 6.10: Hierarquização das áreas de desenvolvimento urbano de Fortaleza
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
89
Assim, a ZEDUS proposta8 foi dividida em
dois subsetores (N1 e N2) dada a demanda
projetada por área construída, a partir das
projeções de população e emprego no
horizonte futuro para Fortaleza.
O nível prioritário (N1) foi definido tendo em vista a capacidade do transporte – conexão entre os três nós principais do sistema de transporte coletivo de Fortaleza (estações Chico da Silva, Parangaba e Papicu), os objetivos da política urbana e as áreas de interesse para o desenvolvimento imobiliário (Papicu, Centro, Benfica e Porangabussu, por exemplo).
Para cada um dos níveis, foi proposto um
conjunto de diretrizes de uso e ocupação do
solo, dentro da estratégia DOT e estratégia LVC, como apresentado pela Figura 6.11.
Figura 6.11: Diretrizes para uso e ocupação do solo
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
90
O triângulo formado pelas estações
Parangaba – Centro – Papicu, além de
formar os principais nós do sistema de
transporte e ter maior capacidade de
absorver maiores demandas, é também
uma área de interesse do município para o
desenvolvimento, pois é composto por um
conjunto de áreas de interesse das
dinâmicas imobiliárias, como Porangabussu
e Benfica.
Figura 6.12: Triângulo prioritário de desenvolvimento
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
91
Escalas do Planejamento
O planejamento urbano deve compreender
as dinâmicas da cidade em sua totalidade e,
ao mesmo tempo, deve se atentar às
especificidades e vocações de cada bairro e
da relação entre os diversos locais, de modo
a mapear quais áreas são de maior interesse
do desenvolvimento. Por fim, a escala de
rua é essencial para promover ações de
qualificação do ambiente urbano e de
incentivos à aderência ao transporte ativo e
ao transporte público.
Portanto, a qualificação urbana no entorno
das estações deve ser contemplada como
forma de promover a acessibilidade,
motivar a valorização e ampliar as
possibilidades de arrecadação por
mecanismos LVC.
Figura 6.13: Escalas do Planejamento Urbano
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
92
A validação pela gestão pública das
recomendações descritas na sequência
deste trabalho (pois ainda não foram
apresentas), deve ocorrer levando-se em
consideração:
• As especificidades de cada porção das
ZEDUS;
• A relação com as demais políticas
públicas, infraestruturas ofertadas e
planejadas, e o contexto político
municipal;
A relação de demanda da cidade de
Fortaleza e dos setores da nova ZEDUS, a
partir do entendimento das dinâmicas
imobiliárias.
Figura 6.14: Parâmetros e Transformações urbanas: qualificação do entorno das estações
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
93
Modelo Financeiro
A avaliação do potencial de arrecadação LVC consiste em processo
importante para mensurar a capacidade de arrecadação dos
mecanismos, gerar indicadores e valores-meta para as políticas
públicas e possibilitar a exemplificação do impacto de instrumentos
sendo adotados sozinhos, e o aumento do potencial de arrecadação
quando existe a combinação entre os instrumentos.
A partir da lista dos mecanismos selecionados para Fortaleza, foram
selecionados os instrumentos que já apresentavam um histórico de
arrecadação pelo município de Fortaleza, como a Outorga Onerosa do
Direito de Construir e a Outorga Onerosa de Alteração de Uso;
também foram modelados instrumentos identificados de interesse
prévio por parte do poder público, como arrendamento de ativos
públicos e PPPs; em comparativo, estimou-se ainda a receita gerada
por venda desses ativos, e por fim, foi realizado a modelagem sobre a
atualização do valor venal do imóvel, simulando a atualização do
cadastro imobiliário para cobrança do IPTU e seu impacto na receita
gerada pelo imposto.
O modelo foi elaborado considerando as mesmas áreas abordadas na
análise dos cenários de desenvolvimento urbano, ou seja, sobre as
áreas de influência direta do raio de 1 km das estações de Papicu e
Parangaba.
A boa análise sobre os resultados do modelo financeiro depende da
descrição clara de todas as premissas e ressalvas evidenciando suas
limitações, para evitar interpretações errôneas dos resultados a serem
extraídos. As premissas do modelo foram distintas em dois tipos: as
premissas gerais de desenvolvimento urbano e as premissas
específicas para cada mecanismo modelado.
As premissas gerais de desenvolvimento urbano consideradas no
modelo estão descritas a seguir:
• Área total disponível para desenvolvimento: foi obtida a partir do
cálculo de multiplicação entre a oferta de terrenos disponíveis e
Índice de Aproveitamento Máximo, segundo a proposta de
alteração da legislação;
• Utilização da oferta de terrenos disponíveis na área de influência
direta no raio de 1 km das estações: assumiu-se para o entorno de
Papicu que seriam desenvolvidos 70% dos terrenos e para o
entorno de Parangaba seriam desenvolvidos 50% dos terrenos;
• Adoção do mecanismo OODC: assumiu-se que 100% dos
desenvolvimentos imobiliários localizados nos raios de influência
de 1 km das estações irão usar OODC, visto que os
desenvolvedores imobiliários tendem a apresentar interesse em
aumentar a capacidade construtiva e não construir somente pelo
IA básico;
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
94
• Atualização do valor venal dos imóveis: O valor do IPTU foi
atualizado gradativamente até atingir 80% do valor de mercado
durante o período considerado. A premissa de atualização do IPTU
parte da constatação de que os valores atuais estão defasados e
devem ser atualizados. A partir dos dados de valor de mercado
(Urban Systems) e valor venal (SEFIN), apresentados na Tabela 6.3
foi identificado que os valores venais atualmente, correspondem a
12% do valor de mercado para Parangaba e 40% do valor de
mercado para Papicu.
Tabela 6.3: Valores de mercado e valores venais
Est. Papicu Est. Parangaba
Valor Venal (SEFIN) R$445,76/m² R$55,89/m²
Valor de Mercado (Urban Systems)
R$1.100,00/m² R$460,00/m²
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
O PEUC é um instrumento de mobilização da terra urbana que pressiona o proprietário de imóvel não utilizado ou subutilizado a dar uma
destinação social a estes imóveis. Associado ao PEUC, quando o proprietário não exerce a função social da propriedade é possível aumentar
a alíquota do IPTU progressivamente no tempo, com objetivo de mobilizar a destinação social do imóvel. Os instrumentos devem ser
aplicados sobre os setores de prioridade para o desenvolvimento urbano, sendo um modo de induzir o desenvolvimento, pois caso o
proprietário não realize o desenvolvimento e destinação adequada do terreno/imóvel o Poder Público pode executar o desenvolvimento
por conta própria, caso extrapole o prazo de aplicação do IPTU progressivo no tempo.
Os dois instrumentos correspondem a mecanismos LVC de gestão, visto que mobilizam terras e propriedades urbanas e assumem como
objetivo, o combate da retenção de terrenos aptos ao desenvolvimento, e tornam-se eficientes à medida que esta mobilização ocorre o
mais rápido possível.
Esses mecanismos não se constituem de instrumentos de função arrecadatória, mas possuem algum potencial de gerar arrecadação para
gestão municipal, porém essa receita é razoavelmente pequena e por isso não foi modelada.
PEUC e IPTU progressivo no tempo
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
95
Premissas
As premissas específicas dos mecanismos
adotadas no modelo financeiro estão
descritas a seguir.
Outorga Onerosa do Direito de Construir
O potencial de arrecadação da Outorga
Onerosa do Direito de Construir (OODC)
depende do potencial construtivo adicional
(diferença entre IA máximo e IA básico) e
depende da fórmula de cálculo. Com
exceção de algumas ZEDUS, de maneira
geral, Fortaleza apresenta, atualmente,
baixo potencial construtivo adicional,
portanto, possui baixa capacidade de
arrecadação por meio da OODC. Como
forma de aumentar essa capacidade estão
sendo recomendadas as seguintes
modificações na legislação atual:
• Aumento do IA máximo conforme o
diagnóstico dos cenários de
desenvolvimento para ambas as
estações (Estação de Papicu, IA = 6 e
Estação de Parangaba, IA = 4);
• Incorporação de um fator de ajuste na
fórmula de cálculo da OODC – o fator
DOT.
O fator DOT tem um duplo objetivo:
melhorar a arrecadação da OODC e
comunicar que o aumento do valor
do terreno – que justifica sua
recuperação pela Prefeitura – está
vinculado à estratégia DOT. Isto é, a
melhoria da infraestrutura junto às
estações de transporte possibilita o
adensamento e esses dois fatores
(infraestrutura + densidade) geram a
valorização que será revertida à
coletividade por meio da OODC.
A oportunidade de introdução do
fator DOT é dependente do aumento
dos índices de aproveitamento
máximos. A alteração desse
parâmetro se reflete diretamente no
valor do terreno e cria a oportunidade de majoração do valor cobrado por metro quadrado
adicional, o que equivale a uma redução do índice básico.
Para facilitar a fórmula de cálculo da OODC é recomendável a realização de exercícios de
calibração para encontrar um fator de ajuste médio, e adotá-lo na fórmula de cálculo de OODC
(conforme exemplificado na Figura 6.15).
É importante ressaltar que, a comunicação
sobre o Fator DOT para com as partes
envolvidas deve estar pautada pela explicação
de geração de oportunidades proporcionada
pelo aumento do IA máximo, em que se amplia
a capacidade construtiva sobre o terreno e
gera-se valorização imobiliária. O fator DOT
visa compartilhar entre proprietário e gestão
municipal parte desta valorização imobiliária,
mas, o proprietário se beneficia de grande
parte desta valorização. Portanto, é um cenário
de “ganha-ganha” entre o município e o
proprietário de terreno.
Fator DOT e importância da comunicação
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
96
Figura 6.15: Exemplo de calibração do Fator DOT a ser incorporado na fórmula de cobrança da OODC
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Foram desenvolvidos cinco cenários diferentes para a arrecadação de
OODC, que inclui um cenário base orientado pela legislação atual, para
propósitos de comparação com as condições atuais de arrecadação via
OODC. Nos quatro cenários com alteração de legislação, os IAs
máximos propostos aumentaram de 2,5 para 6 em Papicu, e de 2 para
4 em Parangaba, respeitando o conceito de desenvolvimento
imobiliário de maior densidade próximo às estações. Para o caso de
Fortaleza, foram modelados dois cenários de Fator DOT: cenário
otimista 1,4 e cenário pessimista 1,1 e o valor venal do IPTU começou
a ser atualizado após cinco anos do cenário base, crescendo até 80%
para o ano de 2040.
Outorga Onerosa de Alteração de Uso
O mecanismo OOAU atualmente tem maior potencial de arrecadação
do que a OODC, devido à maneira como está desenhado em Fortaleza,
a partir da flexibilização de parâmetros de uso e ocupação do solo.
Para fim desse estudo, esse mecanismo foi incorporado à estratégia da
forma como é aplicado atualmente, sem alterações propostas.
Cada projeto apresenta características distintas e potenciais distintos
de arrecadação, sendo difíceis de serem estimados devido à
quantidade de variáveis
existentes - o modelo para
OOAU não adotou a
equação definida pela
legislação, mas sim,
baseou-se em uma média
para toda a cidade e
adotou-se uma proporção
para as duas estações:
• O potencial de
arrecadação desse
mecanismo foi
estimado a partir do
cálculo da receita média de OOAU, por metro quadrado de
terreno em Fortaleza, nos anos anteriores.
• A projeção dos futuros desenvolvimentos nas áreas de
arrecadação foi então usada para calcular o aumento das áreas
residenciais e não residenciais. Esse aumento foi multiplicado pela
receita média de OOAU por metro quadrado.
Vale ressaltar que os valores
obtidos pelo modelo financeiro
para arrecadação da OOAU nas
duas estações, são
conservadores devido às suas
premissas, já que essas áreas
têm potencial de atração de uma
maior parte dos
empreendimentos que adotam
OOAU em relação ao restante da
Potencial de arrecadação
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
97
• Foram considerados valores proporcionais para as estações
Parangaba e Papicu, pela média da cidade.
Venda e arrendamento de ativos públicos (PPPs)
Buscou-se estimar no modelo financeiro a arrecadação potencial que
poderia ser gerada se, os ativos públicos nas proximidades das
estações fossem 100% vendidos para o setor privado. Por essa opção
possuir capacidade de geração de receita em um período imediato, e
poder prejudicar o setor público pela “perda” dos ativos públicos, o
modelo financeiro, em comparação, também buscou estimar a
arrecadação potencial que poderia ser gerada se, os ativos públicos
nas proximidades das estações fossem utilizados para parceria com o
setor privado, seja via concessão ou outro modelo específico, sendo
importante considerar que a arrecadação advinda da valorização
imobiliária e do empreendimento devem ser divididos entre os
parceiros públicos e privados envolvidos.
Tem-se 60.215 m² de ativos públicos na AID de Papicu e 113.844 m² de
ativos públicos na AID de Parangaba. As proporções de
empreendimentos residenciais e não-residenciais, que iriam resultar
da venda dos terrenos, foram calculados com base nas categorias da
proporção atual de uso do solo residencial e não-residencial nas áreas
de influência direta, assumindo que as áreas de ‘uso misto’ estão
divididas igualmente entre usos residenciais e não-residenciais. A
distinção foi feita considerando que o preço da venda e do
arrendamento das áreas residenciais e não residenciais sejam
diferentes.
Os valores por arrendamento e venda para usos residenciais e não
residenciais, de ambas as AIDs das estações, estão descritas,
respectivamente, nas Tabela 6.4 e Tabela 6.5.
Tabela 6.4: Valor de arrendamento
Tipo de uso Papicu (R$/m2) Parangaba (R$/m2)
Residencial 159 127
Não residencial 326 191
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Tabela 6.5: Valor de Venda
Tipo de uso Papicu (R$/m2) Parangaba (R$/m2)
Residencial 9.500 4.500
Não residencial 12.500 8.500
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
O desenvolvimento imobiliário pode atuar no próprio terreno do
terminal ou na área de seu entorno, aumentando a receita do
concessionário e, em consequência, a outorga a ser paga ao município.
O direito de laje (depende de lei específica que autorize a venda) pode
ser um mecanismo para viabilizar o desenvolvimento imobiliário
associado aos terminais de transporte, visto que consiste na divisão do
terreno do terminal em duas propriedades, a primeira que consistirá
no terminal e abrangerá determinada altura e a segunda, a partir
desta altura, poderá ser vinculada a uma matrícula distinta, assim
possibilitando sua venda.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
98
Assumiu-se que a parceria público-privada (aqui tomadas em sentido
amplo: concessões, arrendamento ou outras operações estruturadas)
é um cenário mais provável e benéfico do que a venda de terrenos
públicos em si. O potencial construtivo máximo foi estimado com base
na proposta de aumento dos IA máximos.
O valor de venda de terrenos públicos não está relacionado aos
prazos. Já os valores de arrendamento se relacionam com os prazos.
Também foi assumido que começando em 2018, 10% da terra a ser
desenvolvida será a cada ano, até concluir 100%. Os preços de locação
foram aumentados na mesma taxa que o IPTU, cinco anos de atraso
para o aumento, seguidos por 10 anos de aumento gradual de 100%
para Papicu e 100% para Parangaba, para propriedades residenciais e
não residenciais.
Atualização do valor venal do imóvel
Assumiu-se que os investimentos nas estações e entorno gerarão
incrementos nos valores imobiliários que, para serem recuperados por
LVC, dependem da atualização da base de cálculo do IPTU e assim,
relacionam-se com o valor venal das propriedades.
Como linha de base, tomou-se o valor venal de IPTU nos imóveis
existentes no entorno das estações para 2018, segundo o cadastro da
SEFIN. A partir disso, estimou-se o incremento calculando-se o
crescimento cumulativo dos desenvolvimentos residenciais e não
residenciais e multiplicando-os pelo valor médio do m² atual
encontrado em cada estação. Esses valores para o ano de 2018 estão
apresentados na Tabela 6.6.
Tabela 6.6: Valores venais por tipo de uso para AID de Papicu e Parangaba
Tipo de uso Papicu Parangaba
Residencial 408 R$/m² 54 R$/m²
Não residencial 529 R$/m² 60 R$/m²
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Assumiu-se que esses valores são constantes durante cinco anos,
considerando o período de construção e consolidação das estações.
Após esse período, considerou-se o aumento linear para alcançar 80%
do valor do mercado em 10 anos.
A atualização do valor venal, conforme a valorização imobiliária que se
transfere para o valor de mercado do terreno/imóvel, é um aspecto
importante para cobrança do IPTU e para cobrança de outros
mecanismos, como OODC.
Cenários do modelo
O modelo financeiro foi desenhado considerando-se diferentes
arranjos entre os instrumentos escolhidos para a modelagem,
gerando-se os cenários Base, Intermediário e Máximo. O Cenário Base
considerou a combinação entre a OODC e a OOAU segundo a
legislação atual; o Cenário Intermediário considerou a combinação
Mesmo não sendo possível veicular o IPTU a uma destinação
específica, o aumento de sua arrecadação é importante como
forma de fortalecer as receitas municipais, liberando fundos
para investimentos.
Importância do IPTU
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
99
entre a OODC e a OOAU, contudo com alteração da legislação; e o
Cenário Máximo considerou a combinação entre a OODC e a OOAU,
com alteração de legislação atual e atualização do valor venal do IPTU
e arrendamento de ativos públicos, conforme descrito na Tabela 6.7.
Tabela 6.7: Cenários de combinação entre mecanismos
Cenário Base
Legislação Vigente
OODC Atual
OOAU Atual
Cenário
Intermediário
Revisão da Legislação Vigente
OODC (aumento do IA máximo + inserção do Fator
DOT)
OOAU
Cenário
Máximo
Revisão da Legislação Vigente
OODC (aumento do IA máximo + inserção do Fator
DOT + Atualização do valor venal do IPTU)
OOAU
Arrendamento de ativos públicos
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Esses cenários foram variados sobre duas condições de premissas de
desenvolvimento, cenário pessimista e cenário otimista. O cenário
pessimista considerou que 30% da demanda da área de influência
indireta de Papicu, será absorvida pela oferta de terrenos do raio de
influência de 1 km da estação de Papicu, junto à aplicação de fator
DOT igual a 1,1 e adotando 10% de valorização do solo. O cenário
otimista considerou que 50% da demanda da área de influência
indireta de Papicu, será absorvida pela oferta de terrenos do raio de
influência de 1 km da estação de Papicu, junto à aplicação de fator
DOT igual a 1,4 e adotando 30% de valorização do solo. A Tabela 6.7
representa a articulação entre os cenários adotados no modelo.
A importância da premissa otimista para Papicu corresponde
ao princípio de concentrar o desenvolvimento imobiliário no
entorno da estação ao invés de distribuí-lo pelo território, já
que se não for direcionado, ela pode ocorrer na Praia do
Futuro e Dunas (maior oferta de vazios), que são áreas de
fragilidade ambiental e que não se relacionam com o
transporte.
Concentração do desenvolvimento imobiliário
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
100
Figura 6.16: Cenários adotados no modelo
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Resultados do potencial de arrecadação LVC
Os resultados do modelo financeiro foram compilados por cenários
(Base, Intermediário e Máximo) e por premissa de desenvolvimento
(Pessimista e Otimista), classificados por prazo (5, 10 e 23 anos). Os
resultados estão apresentados por cenários/premissa de
desenvolvimento, e, individualmente, conforme os valores adquiridos
por cada mecanismo LVC.
Resultados por premissas de desenvolvimento
Verifica-se, conforme mostra a Figura 6.17, que as diferenças entre
premissas de desenvolvimento tornam-se perceptíveis nos cenários
com alteração da legislação urbanística vigente, ou seja, nos cenários
Intermediário e Máximo. Correspondendo, respectivamente, a
diferença de R$ 248 milhões e R$ 553 milhões entre a premissa
pessimista e a otimista.
Cenário
Otimista
Base
Intermediário
Máximo
Cenário
Pessimista
Premissas de
desenvolvimento
Cenário Pessimista
• 30% da demanda
da AII de Papicu
sendo absorvida
na AID
• Fator DOT 1,1
• 10% de
valorização do
solo
Combinação
entre
instrumentos
Premissas de
desenvolvimento
Cenário Otimista
• 50% da demanda da
AII de Papicu sendo
absorvida na AID
• Fator DOT 1,4
• 30% de valorização
do solo
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
101
Figura 6.17: Comparativo dos diferentes cenários de arrecadação total por mecanismos para 2040
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
A seguir, estão apresentados os valores
modelados por cenário e prazo, conforme as
duas premissas de desenvolvimento
pessimista e otimista.
Os resultados por cenário (Base, Intermediário e
Máximo) e por mecanismos LVC (apresentados a
seguir) destacam a importância da combinação
entre os mecanismos para aumento da
arrecadação e melhor distribuição dos bônus e
ônus do desenvolvimento urbano.
Combinação de mecanismos LVC
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
102
Resultados por mecanismos
Os resultados a seguir serão apresentados
individualmente, conforme os mecanismos
modelados, comparando-se os valores
calculados por premissa de
desenvolvimento.
Outorga Onerosa do Direito de Construir
As Figura 6.18 e Figura 6.19 apresentam os
resultados por cenários de OODC para cada
estação nos três prazos, permitindo a
comparação entre as premissas de
desenvolvimento pessimista e otimista.
Nota-se que a premissa otimista, de forma
predominante, apresenta maiores valores
de arrecadação nos diferentes cenários
simulados, visto que:
• A arrecadação de Papicu atinge o seu
valor potencial em médio prazo (10
anos);
• A arrecadação de Parangaba atinge o
seu valor potencial somente em longo
prazo (23 anos).
Figura 6.18: Arrecadação (R$ milhões) da OODC nos diferentes cenários e prazos (5, 10 e 23 anos) por estação - Premissa de desenvolvimento Pessimista
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Figura 6.19: Arrecadação (R$ milhões) da OODC nos diferentes cenários e prazos (5, 10 e 23 anos) por estação – Premissa de Desenvolvimento Otimista
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
103
As Figura 6.20 e Figura 6.21 apresentam os
resultados totais por cenários de OODC nos
três prazos, permitindo a comparação entre
as premissas de desenvolvimento pessimista
e otimista. Os resultados mostram que, ao
modificar a equação do OODC, o potencial
de arrecadação pode aumentar
significativamente.
Os resultados indicam que se o Cenário IV se
mostrar com maiores dificuldades para
implementação por questões técnico-
políticas, o Cenário II - aumento do IA
máximo e adoção do Fator DOT – ainda se
mostra uma opção com potencial de
arrecadação de segundo destaque dentre os
cenários simulados.
Em comparação com cenário base
(legislação atual) Fortaleza arrecadaria até
2040 somente R$113 milhões em Papicu e
não arrecadaria em Parangaba. O cenário
máximo otimista estima arrecadar em 2040:
R$ 1.328 milhões em Papicu e R$ 312
milhões em Parangaba.
Figura 6.20: Arrecadação (R$ milhões) da OODC nos diferentes cenários e prazos (5, 10 e 23 anos) – Premissa de desenvolvimento Pessimista
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Figura 6.21: Arrecadação (R$ milhões) da OODC nos diferentes cenários e prazos (5, 10 e 23 anos) – Premissa de Desenvolvimento Otimista
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
104
Outorga Onerosa de Alteração de Uso
A receita de OOAU foi estimada com base
na arrecadação histórica em toda a cidade
de Fortaleza, considerando um percentual
proporcional para as estações. Portanto,
pode-se considerar que os resultados
consistem em uma estimativa conservadora,
já que se espera que Papicu e Parangaba
assumam relevante desenvolvimento
imobiliário da cidade, o que estimularia o
uso do mecanismo.
O modelo subestimou os valores
arrecadados, por ter sido resultado de
médias dos valores já arrecadados pelo
município, o potencial de arrecadação é
maior. Em um projeto, Fortaleza em 2016
arrecadou R$ 15 milhões e em 2017 R$10
milhões com OOAU.
Em comparação com cenário base
(legislação atual) Fortaleza arrecadaria até
2040 somente R$224 mil em Papicu e R$166
mil em Parangaba.
O cenário máximo otimista estima arrecadar
em 2040: R$ 224 mil em Papicu e 390 mil
em Parangaba.
Figura 6.22: Arrecadação (R$ mil) da OOAU (5, 10 e 23 anos) – Premissa de desenvolvimento Pessimista
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Figura 6.23: Arrecadação (R$ mil) da OOAU (5, 10 e 23 anos) – Premissa de Desenvolvimento Otimista
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
105
Vendas de ativos públicos
A Figura 6.24 apresenta os valores que seriam arrecadados caso
Fortaleza vendesse 100% dos ativos públicos existentes nas áreas de
influência direta das estações de Papicu e Parangaba.
A venda dos ativos públicos arrecadaria R$2.617 milhões. Contudo, o
arrendamento possibilita maior geração de receita sem
comprometimento do domínio de ativos públicos, sendo mais
vantajoso para o município.
Figura 6.24: Arrecadação (R$ milhões) por venda de ativos públicos
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
106
Arrendamento/ Parcerias Público-Privadas
A Figura 6.25 apresenta os valores que
seriam arrecadados caso Fortaleza
realizasse PPPs com 100% de seus ativos
públicos, assumindo-se que começando em
2018, 10% dos ativos públicos disponíveis
serão desenvolvidos até consumir toda
oferta de terrenos.
Comparando-se os mecanismos de venda
dos ativos públicos (arrecadação máxima
única de R$2.617 milhões) e os mecanismos
de arrendamento (arrecadação máxima
periódica de R$ 1.877 milhões), evidenciou-
se que o arrendamento possibilita maior
geração de receita sem comprometimento
do domínio de ativos públicos.
Os gráficos apresentados ao lado também
permitem verificar que a alteração da
legislação urbanística garante um aumento
na arrecadação de três vezes do IA básico
atualmente regulamentado.
Figura 6.25: Arrecadação (R$ milhões) para os dois cenários de arrendamento de ativos públicos por premissas de desenvolvimento
Arrendamento de ativos públicos (IA básico, legislação atual) – Premissa Pessimista
Arrendamento de ativos públicos (IA básico, legislação atual) – Premissa Otimista
Arrendamento de ativos públicos (IA máximo alterado) – Premissa Pessimista
Arrendamento de ativos públicos (IA máximo alterado) – Premissa Otimista
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
107
Valorização fundiária e atualização do valor venal
A análise empírica de projetos de transporte evidencia a valorização
imobiliária localizada próxima às conexões de transporte, que variam
entre 10%, 30% e 40% no valor da terra de uso residencial e não-
residencial. As Figura 6.26 e Figura 6.27 apresentam o quanto seriam
valorizadas as áreas de entorno imediato das estações Papicu e
Parangaba. Nota-se que a valorização imobiliária em Papicu, pode vir a
ser maior que a valorização imobiliária de Parangaba, visto que os
valores de mercado de Papicu nas condições atuais já são mais altas.
Figura 6.26: Aumento no valor da terra - Papicu
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Figura 6.27: Aumento no valor da terra - Parangaba
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
A valorização do solo pode ser recuperada se o valor venal do imóvel
no cadastro imobiliário do município for atualizado, visto que o valor
venal é uma variável no cálculo de IPTU e no cálculo de OODC, por
exemplo. A partir dos cenários de valorização imobiliária estimou-se o
adicional sobre o valor venal por ano para Papicu e Parangaba, para as
duas premissas de desenvolvimento, conforme mostra as Figura 6.28 e
Figura 6.29.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
108
Figura 6.28: Adicional sobre valor venal por ano (R$ milhões) - Premissa Pessimista
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Figura 6.29: Adicional sobre valor venal por ano (R$ milhões) - Premissa Otimista
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
109
O cenário otimista apresentou resultados correspondentes a mais que
o dobro do cenário pessimista. Conforme condições empíricas
analisadas para América Latina, é possível que infraestruturas levem a
30% da valorização fundiária.
Para efeito ilustrativo, aplicando-se uma alíquota de 1,4% sobre os
valores venais finais modelados, temos uma arrecadação de IPTU
possível de:
• Cenário Otimista:
– Papicu: R$ 49,5 milhões
– Parangaba: R$ 22,9 milhões
• Cenário Pessimista:
– Papicu: R$ 21,8 milhões
– Parangaba: R$ 8,1 milhões
Comparativo entre a arrecadação estimada por mecanismos LVC em
relação à arrecadação total e a capacidade de investimento de
Fortaleza
Os resultados adquiridos pelo modelo financeiro ganham significância
quando comparados e contextualizados pelas condições de orçamento
e capacidade de investimento do município. Portanto, nesta análise,
os valores estimados para os cenários Base, Intermediária e Máxima,
da premissa de desenvolvimento otimista9, foram comparados com a
9 Os valores obtidos para a premissa de desenvolvimento pessimista variam para menos entre 10 a 15% dos valores obtidos para a premissa de desenvolvimento otimista.
arrecadação total municipal e com a capacidade de investimento de
Fortaleza.
Os valores de arrecadação total e capacidade de investimento foram
obtidos pelos relatórios anuais do Balanço Geral de Fortaleza,
publicados pelas SEFIN. Os valores estimados de arrecadação total de
Fortaleza, para os diferentes prazos, foram calculados a partir da
média do incremento anual para o período 2006 – 2017. Da mesma
forma, os valores estimados de capacidade de investimento de
Fortaleza, foram calculados a partir da média do incremento anual das
despesas de capitais com investimentos para o período 2011 – 2017.
Além da combinação entre mecanismos LVC, é importante que os
municípios atentem à diversidade de mecanismos a serem
aplicados. O caso de Fortaleza elucida que é importante ter
instrumentos que tenham incidência sobre fluxo imobiliário, mas
também, sobre estoque e ainda, que se adote instrumentos
complementares que não incidam sobre uso do solo. A
diversificação dos mecanismos pode garantir maior resiliência e
maior arrecadação em relação à aplicação da política de LVC.
Diversidade de Mecanismos LVC
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
110
Arrecadação total municipal
Em 2017, a arrecadação de OODC e OOAU correspondia a 0,29% do
orçamento total do município. Considerando-se os resultados
modelados para 2040, a aplicação dos mecanismos possibilitaram o
aumento deste percentual para:
• Cenário Base – mantendo-se a legislação atual: 0,74% do
orçamento total de Fortaleza estimado para 2040;
• Cenário Intermediário – OODC (IA máximo aumentado + Fator
DOT) + OOAU: 7,70% do orçamento total de Fortaleza estimado
para 2040;
• Cenário Máximo - OODC (IA máximo + Fator DOT + Atualização
valor venal IPTU) + OOAU + Arrendamento: 22,85% do orçamento
total de Fortaleza estimado para 2040.
Capacidade de investimento
A capacidade de investimento de um município consiste no valor
disponível para realização de investimentos, obtida a partir da
subtração da receita corrente líquida em relação à despesa corrente
líquida e o pagamento de dívidas. Para a análise comparativa entre
arrecadação por mecanismos e capacidade de investimento de
Fortaleza, foram considerados os valores absolutos por ano (2023,
2027 e 2040).
A maior arrecadação advinda da premissa de desenvolvimento otimista reforça a potencialidade na arrecadação quando há concentração do desenvolvimento urbano no raio de influência direta das estações.
O ano de 2040 para os cenários base e intermediário apresentaram
valores nulos, visto que em 2040 toda oferta de terreno adotada nas
premissas do modelo financeiro já terá atendido à demanda
delimitada. O valor arrecadado em 2040 para o cenário máximo
corresponde ao arrendamento de ativos públicos. Mais uma vez,
reforça-se a importância da combinação entre diferentes mecanismos
LVC, para garantir diferentes formas de recuperação da valorização
imobiliária.
A Figura 6.30, Figura 6.31 e Figura 6.32 apresentam os percentuais de
arrecadação dos mecanismos por cenário em relação à capacidade de
investimento de Fortaleza.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
111
Figura 6.30: Percentual da arrecadação dos mecanismos em relação a capacidade de investimento de Fortaleza - Cenário Base
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Figura 6.31: Percentual da arrecadação dos mecanismos em relação à capacidade de investimento de Fortaleza - Cenário Intermediário
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018.
Figura 6.32: Percentual da arrecadação dos mecanismos em relação à capacidade de investimento de Fortaleza - Cenário Máximo
Fonte: Steer Davies Gleave, 2018
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
112
Os aprendizados adquiridos ao longo do estudo merecem destaque,
pois graças a eles, foi possível o entendimento prático das
potencialidades e principais barreiras a serem superadas na política
LVC+DOT para as cidades brasileiras, tendo sido fundamental a
contribuição advinda da experimentação do tema no caso de
Fortaleza. As cidades brasileiras apresentam grande potencial para a
agenda LVC+DOT, e os aprendizados listados a seguir podem orientar
o Poder Público interessado em implementar e aprimorar suas
políticas.
1. O sucesso da agenda LVC + DOT não depende apenas de
aspectos técnicos, mas sim, fundamentalmente do elemento e
engajamento político-institucional.
A experimentação do estudo de caso de Fortaleza possibilitou
aprender que a agenda LVC+DOT precisa ser alinhada com a visão de
cidade e com os aspectos políticos-institucionais para que seja
viabilizada, caso contrário, torna-se somente um documento teórico e
não se concretiza em política pública. O envolvimento e engajamento
dos tomadores de decisão é fundamental para o desenvolvimento do
processo de planejamento e implementação.
2. Desenvolver instrumentos adequados ao seu contexto, usando
outras experiências como referências e não como modelos.
Os estudos de caso analisados possibilitaram entender que as
experiências externas ao local que se deseja implementar a agenda
LVC+DOT, devem ser adotados como referências e não como modelos,
tendo em vista que cada local tem seu contexto e sua especificidade.
Por exemplo, a operação urbana em Curitiba não atingiu os seus
objetivos devido a não consideração de suas próprias especificidades.
3. A arrecadação proporcionada por mecanismos LVC não é fim em
si mesma, mas sim o meio para a viabilização das diretrizes de
planejamento urbano.
A recuperação da valorização imobiliária não deve ser pensada apenas
para fim de arrecadação – e sim um meio de aumentar a capacidade
de investimento municipal em melhorias urbanas, de infraestrutura e
de transporte, ou seja, como meio para justa distribuição dos custos e
benefícios da urbanização. O estudo de caso de Fortaleza permitiu
exemplificar esta afirmação tendo em vista que parte do valor
arrecadado da OOAU foi aplicado em áreas desprovidas de
infraestrutura urbana na periferia do município.
4. Divulgar os impactos das intervenções do poder público e quem
se beneficia delas, associadas à valorização imobiliária, como
iniciativa que pode contribuir para a aceitação social da
introdução e aperfeiçoamento dos instrumentos de recuperação
da mais valia fundiária.
As dificuldades de implementação de instrumentos LVC encontradas
no contexto das cidades brasileiras, muito está associada ao
desconhecimento sobre os benefícios oriundos das intervenções do
poder público, a morosidade nos processos burocráticos e de
7 Lições Aprendidas
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
113
implementação de infraestruturas e a falta de transparência das
informações. Reforçando a necessidade da boa comunicação sobre a
temática, o sucesso de implementação da política LVC nos casos
internacionais está associado à transparência de informações e
envolvimento com os diversos agentes interessados.
5. Para melhorar o desempenho da política LVC+DOT é necessário
avaliar se os mecanismos LVC adotados estão de fato incidindo
sobre a valorização imobiliária e que proporção dessa
valorização os instrumentos em uso estão sendo capazes de
recuperar.
Algumas experiências brasileiras possuem alguns instrumentos, como OODC, não vinculados às dinâmicas do solo, portanto, não incidindo sobre a recuperação das mais valias fundiárias. O estudo de caso de Fortaleza permitiu estimar qual a relação entre valor recuperado e valor oriundo da valorização imobiliária, resultando no entendimento que muitas vezes o município está recuperando, mas sobre um percentual muito baixo da real valorização imobiliária. Logo é importante que os instrumentos sejam monitorados, avaliados e repensados de modo contínuo.
6. O aumento de sua arrecadação do IPTU por meio da atualização
do valor venal no cadastro imobiliário é uma importante forma
de fortalecer as receitas municipais, liberando fundos para
investimentos municipais.
O IPTU é um instrumento relevante na arrecadação de receitas municipais das cidades, principalmente, com caráter urbano. O estudo de caso de Fortaleza apresentou o exercício de atualização do valor venal no cadastro imobiliário e o seu potencial impacto na
arrecadação do IPTU, reforçando a importância da atualização periódica do cadastro imobiliário.
7. Distintas áreas de estudo apresentam características diversas e
potenciais distintos, portanto, requerem abordagens específicas
para cada área.
Ao longo deste estudo notou-se que dentro do próprio município existem áreas com características heterogêneas e potenciais distintos. Essa situação ficou clara a partir da análise das estações de Papicu e Parangaba, em que uma caracteriza-se por ser de interesse do setor imobiliário e ter poucas dinâmicas imobiliárias associadas à estação de transporte e outra, está em processo de consolidação do setor imobiliário e está mais vinculada ao transporte coletivo e ativo. A partir dessas diferentes características foram avaliados potenciais de desenvolvimento diversos, exigindo estratégias e políticas LVC+DOT distintas.
8. A combinação de mecanismos LVC e a diversidade de
mecanismos – incidentes sobre fluxo imobiliário, sobre estoque
construído e não incidente sobre solo – permitem a
potencialização e maior sucesso da agenda LVC+DOT.
As experiências das cidades brasileiras indicam que a combinação de diversos mecanismos LVC resultam em maior eficácia desta política do que a sua adoção isolada. O Estudo de Caso de Fortaleza reforça que além da combinação entre mecanismos LVC, é necessário existir diversidade desses mecanismos, os resultados apontaram que após consumo do estoque construtivo as receitas sobre fluxo reduzem e zeram, sendo a política LVC+DOT mantida por mecanismos sobre o estoque construído e por mecanismos não incidentes sobre o solo.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
114
A adoção de mecanismos LVC é um compromisso que as cidades
devem assumir no sentido de perseguir as diretrizes do Estatuto da
Cidade e avançar no desenvolvimento de cidades socialmente mais
justas e equilibradas. Como exposto ao longo deste documento, é
legítimo que a valorização gerada por investimentos públicos
permaneça nas mãos do poder público, contribuindo para a
distribuição de bônus e ônus no território. Adicionalmente, a situação
generalizada de falta de recursos para investimentos e carência de
infraestrutura é um forte apelo para que mecanismos LVC entrem na
agenda dos governos municipais e estaduais.
Fortaleza já possui instrumentos urbanísticos que possibilitam a
recuperação da valorização imobiliária e a gestão de ônus e bônus do
desenvolvimento urbano. Contudo, para potencializar os instrumentos
urbanísticos existentes é necessária a realização de ajustes e melhorias
nos instrumentos e em sua aplicação.
1. Mobilização Política e Governança
A implementação dos mecanismos de LVC depende da pactuação
entre o poder público e a sociedade, assim, o sucesso da agenda
LVC+DOT, antes de ser uma agenda de aspectos técnicos, constitui-se
fundamentalmente pelo elemento do engajamento político-
institucional. Logo, o primeiro passo da gestão pública é a mobilização
política e a constituição de um ambiente de governança favorável ao
desenvolvimento da agenda LVC+DOT.
1.1 Conscientizar e mobilizar
Mobilizar os tomadores de decisão da prefeitura e do governo estadual
A mobilização e articulação dos tomadores de decisão da gestão
pública, tanto municipal, quanto estadual, deve anteceder qualquer
etapa de planejamento e de elaboração da agenda LVC+DOT. A
efetividade das ações a serem elaboradas e executadas dependem do
entendimento e da aprovação dos tomadores de decisão, sendo
crucial o envolvimento destes e o convencimento a favor da agenda.
Assim, é necessária a sensibilização dos tomadores de decisão para
importância da temática, evidenciando os processos de valorização
imobiliária decorrentes das ações do poder público e exemplificando
as possibilidades da recuperação dessa valorização imobiliária.
Contudo, a comunicação deve estar pautada em prol da promoção do
desenvolvimento urbano sustentável, dos pontos de vista social,
ambiental e econômico, enxergando as políticas LVC+DOT como
caminho para justa distribuição dos bônus e ônus dos processos de
urbanização e não como fim somente arrecadatório.
8 Recomendações para Fortaleza
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
115
Difundir os conceitos e valores das políticas de LVC + DOT e os resultados do estudo realizado
Além da mobilização dos tomadores de decisão, é necessário
promover conhecimentos sobre a temática, para inclui-los nas
discussões técnicas. A difusão de conhecimento constitui-se em etapa
relevante para promoção de condições técnicas adequadas às partes
interessadas para planejamento e execução da agenda LVC+DOT.
A difusão de conceitos e valores das políticas de LVC+DOT deve
ocorrer por estudos qualitativos e conceituais, mas também deve vir
acompanhada por estudos quantitativos que evidenciem o processo
de valorização, o incremento de valores produzido por determinada
ação pública, o potencial de recuperação e a ampliação da capacidade
de investimento do município correspondente.
No caso de Fortaleza, deve-se adotar o estudo já realizado como meio
para divulgação dos possíveis impactos positivos da implantação da
agenda LVC+DOT, permitindo servir de subsídio para processos de
convencimento; como exemplo de metodologia de análise e como,
material de base para formulação de indicadores de monitoramento.
Evidenciar potencial de arrecadação dos mecanismos de LVC selecionados
A partir dos estudos que evidenciam o processo de valorização devem-
se realizar exercícios numéricos de quanto é possível arrecadar por
meio de mecanismos de LVC. Em associação ao potencial de
arrecadação via mecanismos LVC, é importante realizar a
contextualização dos valores obtidos, seja em relação ao total de
arrecadação do município ou em relação ao total de um fundo
específico, seja em comparação com a capacidade de investimento do
município. Também podem ser realizadas análises de quais
percentuais do valor estimado de arrecadação podem custear
infraestruturas ou elementos de urbanização específicos, em áreas
desprovidas de infraestrutura e equipamentos públicos do município.
A demonstração do potencial de arrecadação e dos benefícios dos
mecanismos LVC, serve como forma de convencimento para o grupo
de tomadores de decisão, corpo técnico e para convencimento de
diferentes partes interessadas, assim como, também, possibilitam a
formulação de indicadores e modos de monitoramento.
Capacitar os quadros técnicos ao debate dos conceitos e instrumentos de LVC + DOT
A capacitação dos quadros técnicos, após a mobilização dos
tomadores de decisão, constitui-se de outra tarefa essencial para
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
116
formulação e execução da agenda LVC+DOT. Essa capacitação deve
visar o entendimento dos conceitos e instrumentos de LVC+DOT
fomentando o debate para sua adaptação, conforme o próprio
contexto do município. Contudo, a capacitação deve levar em conta os
conhecimentos, teóricos e práticos, pré-existentes dos corpos técnicos
sobre o tema e sobre a cidade.
1.2 Articular as esferas públicas
Formular um mapa de atores interessados do setor público que possam ser envolvidos no processo, de diferentes setores e/ou secretarias além da SEUMA e Metrofor (SEFIN, SEINFRA etc.)
Com objetivo de promoção da articulação entre as esferas públicas é
necessário identificar os agentes interessados que devem ser
integrados à discussão, formulação e monitoramento da agenda
LVC+DOT.
No caso de Fortaleza, o planejamento integrado do desenvolvimento
urbano e transporte depende de uma gestão interfederativa eficiente
entre estado e município, visto que o estado provê a infraestrutura de
transportes de alta e média capacidade e o município é responsável
pelo ordenamento territorial. Assim, o governo estadual deve estar
alinhado aos municípios no processo de planejamento e projeto do
sistema de transporte metroferroviário, entendendo o crescimento
urbano e as demandas da população.
Da mesma forma, municípios pertencentes às regiões metropolitanas
devem estar articulados no processo de planejamento, e estabelecer
um arranjo interfederativo, onde prevaleça o interesse comum; o
compartilhamento de responsabilidades; a autonomia dos entes da
Federação; observância das peculiaridades regionais e locais; gestão
democrática da cidade; efetividade no uso de recursos públicos; e
busca pelo desenvolvimento sustentável.
Além da gestão interfederativa é necessário que haja envolvimento
entre os diversos setores da gestão municipal, assim, deve-se
identificar quais secretarias e setores da gestão pública podem estar
envolvidas, como de mobilidade urbana, finanças e planejamento
urbano.
Promover um arranjo institucional entre os entes públicos interessados e um grupo de trabalho para desenvolvimento dos estudos
O planejamento, elaboração, execução e monitoramento da agenda
LVC+DOT depende de uma estrutura mínima para condução das ações,
que possibilite a implementação e monitoramento da agenda
LVC+DOT. Essa estrutura deve respeitar as limitações da estrutura
institucional geral do município, para que seja viável a execução das
políticas LVC+DOT e deve buscar articular os diferentes setores do
poder público e entes federativos.
No caso de Fortaleza, recomenda-se aproveitar a estrutura já existente
da Célula de Negócios Urbanos – departamento inserido na SEUMA -,
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
117
e estudar a possibilidade de arranjo que promova o diálogo
intersetorial e interfederativo, com fim de promover a construção
conjunta da agenda LVC+DOT.
2. Estruturação e implementação de política públicas LVC+DOT
Nenhum mecanismo deve ser importado como uma solução pronta,
cada cidade tem seus próprios desafios e precisa procurar a melhor
forma de atendê-los. Portanto, ao selecionar os mecanismos de LVC,
deve-se analisar o contexto local, tanto em termos do cenário político-
institucional, como das dinâmicas urbanas do município.
A estratégia de implementação de políticas LVC+DOT devem ser
resultantes do entendimento da visão de cidade e das políticas
públicas em andamento. Promovendo o constante aprimoramento dos
mecanismos existentes e incorporando novos mecanismos, assim, é
necessário que o município analise quais são as mudanças no marco
regulatório que podem potencializar e viabilizar a agenda LVC+DOT.
A aplicação de mecanismos de LVC+DOT depende de um
planejamento integrado do desenvolvimento urbano e transporte,
envolvendo diversos setores do Poder Público e entes federativos.
2.1 Formular uma visão de cidade
Realizar um processo de leitura socioterritorial, identificando as especificidades de cada área
Após a mobilização político-institucional, a etapa sobre a formulação
da visão de cidade deve ser iniciada a partir de uma leitura
socioterritorial do município, que se constitui da análise da situação
real da cidade, a partir do entendimento sobre as dinâmicas urbanas
compostas pelos aspectos socioeconômicos, imobiliários, de
mobilidade, entre outros.
Assim, a leitura socioterritorial deve abranger:
• a formação de um banco de dados que deve ser atualizado
regularmente;
• a análise dos dados disponíveis;
• a identificação das especificidades, potencialidades e deficiências,
do ponto de vista do desenvolvimento urbano (uso e ocupação do
solo, infraestruturas de transportes e outras);
• a identificação dos perfis sobre o setor imobiliário, seus interesses
e demandas;
• a identificação das áreas à indução do desenvolvimento
imobiliário e das áreas à restrição.
Fortaleza é um município de características heterogêneas, logo, a
leitura socioterritorial é o meio para conhecimento das especificidades
de cada área, o que aumenta as chances de sucesso no desenho da
política LVC+DOT.
Formular uma visão de cidade sistêmica e compreensão de como a cidade deve se desenvolver
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
118
No cenário das cidades brasileiras, o desenvolvimento urbano
espraiado e dissociado das redes de mobilidade provocaram
deseconomias urbanas que oneram o poder público e custam, em
distância, tempo e qualidade de vida, aos seus habitantes e Fortaleza
não é exceção a essa regra.
Portanto, após o conhecimento sobre o território é necessário avaliar,
considerando-se as diversas escalas do planejamento urbano (escala
metropolitana, escala de cidade, escala de bairro e escala de rua),
quais são as áreas de interesse que devem concentrar o
desenvolvimento urbano, quais são as formas urbanas desejadas para
o município e quais são os objetivos em curto, médio e longo prazo
das políticas públicas urbanas.
Fortalecer os objetivos da política pública municipal, a partir dos objetivos sociais, ambientais e econômicos
A política LVC+DOT deve estar associada ao planejamento urbano e às
políticas públicas urbanas, servindo como meio para a justa
distribuição dos custos e benefícios da urbanização. Considerando-se
os preceitos gerais do Estatuto da Cidade, as políticas públicas urbanas
municipais devem visar a promoção de uma cidade sustentável
socialmente, ambientalmente e economicamente. Logo, a política
LVC+DOT deve auxiliar na garantia do acesso de todos à cidade
infraestruturada e às oportunidades e devem fortalecer as diretrizes
específicas do desenvolvimento urbano pactuadas pelo município.
2.2 Formular as políticas públicas necessárias para se atingir essa
visão
Formular e/ou revisar a política de desenvolvimento urbano e a integração com o futuro plano de mobilidade urbana
A pactuação sobre a agenda LVC+DOT deve-se desdobrar em ações
que decorrem dos instrumentos de planejamento urbano, como Plano
Diretor, Lei de Zoneamento, Plano de Mobilidade, etc. Fortaleza já
possui alguns mecanismos LVC regulamentados e em uso, além de
apresentar instrumentos favoráveis à lógica DOT. Portanto, a partir do
seu próprio histórico de planejamento urbano, da visão de cidade e
seu alinhamento com a agenda LVC+DOT, é necessária a realização de
algumas adaptações da política de desenvolvimento urbano e da
política de mobilidade, para melhoramentos que possibilitem atingir
os objetivos da agenda LVC+DOT.
Distribuição de Infraestrutura nas áreas periféricas de
Fortaleza
A partir da arrecadação do FUNDURB, advindo
predominantemente de instrumentos LVC, como OOAU,
Fortaleza pode pavimentar e implementar sistema de
drenagem urbana na área de menor IDH-m do município.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
119
Incorporar os princípios de DOT na Política de Desenvolvimento Urbano do município e da região metropolitana
O DOT está pautado sobre um modelo de cidade que pode
proporcionar a redução de deseconomias urbanas e maior eficiência
no sistema de transportes a partir da racionalização do espaço urbano,
pelo adensamento e diversidade de usos nos eixos de transporte de
média e alta capacidade, que em sua teoria propiciam facilidade de
acesso da população à rede de mobilidade e, assim, às oportunidades
de forma geral.
Assim, os princípios DOT devem ser incorporados na política de
desenvolvimento urbano para maior efetividade da política LVC. Os
benefícios do DOT, muito associados à implantação de infraestrutura e
sob escala de rua, dependentes das ações de microacessibilidade para
conexão entre os terminais e estações aos seus entornos, propiciam
valorização imobiliária que podem ser recuperados via mecanismos
LVC, que podem, por sua vez, ser reinvestidos em novas
infraestruturas.
O adensamento e a diversificação de uso associados a transporte,
previstos pelo DOT, também podem promover mudanças
comportamentais de mobilidade, atraindo mais usuários do
transporte, aumentando as receitas acessórias e tarifárias.
Devido à inserção metropolitana, Fortaleza também deve buscar
promover a política DOT incorporada na gestão metropolitana. Na
dinâmica metropolitana não bastam ações individuais dos municípios,
é necessário fortalecer o planejamento metropolitano.
Identificar as áreas concorrentes entre si para desenvolvimento imobiliário
O direcionamento do desenvolvimento imobiliário depende do
conhecimento que a gestão pública tem de sua atuação, assim, é
necessário identificar os diferentes mercados e como se desdobram no
território a partir das áreas da cidade. A identificação das áreas
concorrentes possibilita fortalecer a política de indução e restrição.
Articular o princípio de indução ao de restrição no planejamento e ordenamento territorial
As experiências analisadas ao longo do presente estudo
demonstraram que a oferta de parâmetros, isenções e/ou descontos
nas contrapartidas não são eficientes para a atração do setor
imobiliário para áreas de interesse da política pública, reforçando a
necessidade de uma regulação urbanística baseada no princípio da
indução-restrição. Ou seja, a indução do desenvolvimento de
determinadas regiões combinada à restrição do desenvolvimento no
seu entorno e de suas áreas concorrentes, assim, possibilitando o
direcionamento da atividade imobiliária para determinadas áreas em
detrimento de outras.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
120
Portanto, é necessário o direcionamento da atuação do setor
imobiliário para áreas de interesse da política pública urbana, que será
possível a partir da leitura do setor imobiliário e que deve acontecer
pela restrição do desenvolvimento de áreas concorrentes às áreas de
interesse do setor público.
2.3 Formular as estratégias, programas e projetos
Conhecer a demanda por área construída e a oferta de terreno (real e virtual)
O entendimento da relação entre oferta e demanda do setor
imobiliário permite mensurar a capacidade de produção imobiliária no
município e vincula-la às demandas de desenvolvimento urbano para o
município. Portanto deve-se conhecer a oferta de terreno real -
identificação das áreas de vazio e áreas subutilizadas - , conhecer a
oferta de terreno virtual – potencial de edificabilidade adicional
estabelecido pela legislação, por meio do índice de aproveitamento
máximo-, conhecer a demanda a partir de estudos de mercado, para
assim analisar a relação oferta e demanda, que permite inferir tempo
de absorção do mercado e serve como um dos parâmetros de ajuste
de índice de aproveitamento construtivo.
Conhecer a demanda e a capacidade do sistema de transporte de média e alta capacidade
O município deve conhecer a demanda e a capacidade do sistema de
transporte de média e alta capacidade, para assim mensurar a eficácia
do adensamento dos eixos de mobilidade, e serve como um
parâmetro de ajuste de índice de aproveitamento construtivo.
Conhecer a capacidade da infraestrutura urbana
Assim como é importante conhecer a capacidade do sistema de
transporte de média e alta capacidade, é recomendável conhecer a
capacidade de infraestrutura urbana, como equipamentos públicos,
saneamento, estrutura viária etc. Esta avaliação permite mensurar a
capacidade de adensamento dos eixos de mobilidade, e serve como
um parâmetro de ajuste de índice de aproveitamento construtivo.
Validar nova ZEDUS associada ao DOT
A partir do potencial vislumbrado no instrumento ZEDUS, já em uso
pelo município de Fortaleza, foi proposto o aprimoramento da ZEDUS
(Zona Especial de Dinamização Urbanística e Socioeconômica), por
meio do redesenho baseado nas áreas de influência dos eixos de
mobilidade compostos pelos corredores BRT e sistema
metroferroviário. Assim, recomenda-se que o planejamento urbano de
Fortaleza seja orientado pela ZEDUS, contudo, destaca-se a
necessidade de validação do redesenho da ZEDUS e da hierarquização
dos níveis de desenvolvimento urbano propostos, aproveitando-se o
momento de revisão do Plano Diretor.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
121
Ajustar o aumento do potencial construtivo adicional
A legislação urbanística atual de Fortaleza prevê baixo potencial
construtivo adicional, pela pouca variação entre IA básico e IA máximo.
O IA máximo define o adensamento possível em cada zona, deve,
portanto, ser dimensionado conforme a capacidade de suporte da
infraestrutura instalada e prevista. Já o IA básico define os limites de
edificabilidade gratuita (abaixo do IA básico) e a edificabilidade
onerosa (diferença entre o IA básico e o IA máximo). Se os dois índices
são iguais ou muito próximos, o potencial de LVC é limitado. Assim,
recomenda-se revisar os IA máximo nas ZEDUS, considerando a
estratégica DOT. Da mesma maneira, o IA básico deve ser revisto, no
sentido de sua redução e homogeneização, para que a política LVC
seja efetiva.
Reformular fórmula da OODC - validar a inclusão do fator DOT
As implicações políticas de homogeneização do IA básico são custosas
à gestão pública, portanto, dependem de um processo gradual de
convencimento para sua mudança. O fator DOT pode ser um início
deste processo gradual, visto que, ao passo que melhora a
arrecadação da OODC, também comunica que o aumento do valor do
terreno – que justifica sua recuperação pela Prefeitura – está
vinculado à estratégia DOT. Isto é, a melhoria da infraestrutura junto
às estações de transporte possibilita o adensamento e esses dois
fatores (infraestrutura + densidade) geram a valorização que será
revertida à coletividade por meio da OODC.
É importante ressaltar, que a comunicação sobre o Fator DOT para
com as partes envolvidas deve estar pautada pela explicação de
geração de oportunidades proporcionada pelo aumento do IA
máximo, em que se amplia a capacidade construtiva sobre o terreno e
gera-se valorização imobiliária. O fator DOT visa compartilhar entre
proprietário e gestão municipal, parte desta valorização imobiliária,
mas, o proprietário se beneficia de grande parte desta valorização.
Portanto, é um cenário de “ganha-ganha” entre o município e o
proprietário de terreno.
Considerar como estratégia a longo prazo a homogeneização do índice de aproveitamento básico
Fortaleza deve discutir e avaliar a longo prazo a possibilidade da
redução dos IAs básicos, atendendo a dois princípios, primeiramente,
ao conceito de solo criado e ao nivelamento entre todos os terrenos
da cidade, e segundo devido às limitações de aumento do IA máximo
dadas pela capacidade de infraestrutura e absorção do setor
imobiliário.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
122
Adotar instrumentos complementares (ZEIS, PEUC e IPTU progressivo) de modo a aperfeiçoar a estratégia LVC + DOT
Fortaleza deve adotar instrumentos complementares, cujo objetivo
não é recuperar diretamente a valorização imobiliária, mas intervir
sobre a valorização para garantir os objetivos da política urbana, como
a ZEIS, que pode viabilizar a provisão de habitação social bem
localizada, e o PEUC, que coíbe a retenção especulativa de imóveis
urbanos.
É importante ter em conta que os processos de valorização imobiliária
são inerentes à dinâmica urbana, isto é, ocorrem independentemente
da adoção da estratégia DOT ou de políticas LVC. Fazer frente a seus
efeitos indesejados, como a expulsão da população de baixa renda
e/ou a inviabilização da produção de moradia social bem localizada,
depende de políticas públicas integradas que podem ser
potencializadas pela receita mobilizada por meio da estratégia DOT-
LVC.
Identificar quais parâmetros e índices podem complementar a estratégia DOT, como parâmetros para gerenciar densidades populacionais
A forma urbana é determinada pela organização dos espaços e
densidades. A política DOT deve favorecer na escala de cidade o
desenvolvimento compacto, que concentra suas maiores densidades
no entorno dos eixos de transporte. Na escala de rua, a estratégia DOT
deve qualificar o espaço urbano, possibilitando a articulação do
sistema de mobilidade com seu entorno.
Logo, a implementação da estratégia DOT depende da avaliação e
regulamentação de parâmetros urbanísticos específicos, como, um
parâmetro de gestão da densidade populacional, que garanta o
adensamento residencial (que defina o número mínimo de unidades
por lote) associado ao adensamento construtivo, permeabilidade de
quadra, fluidez nos lotes, uso misto e fachadas ativas etc.
Desenvolver projetos para melhorar a microacessibilidade do entorno das estações e terminais de transporte coletivo
As melhorias urbanas e de microacessibilidade nos entornos das
estações promovem a articulação do sistema de mobilidade em
relação ao seu entorno, potencializando a atração de demanda de
usuários, assim, aumentando embarques e desembarques lindeiros.
Recomenda-se que Fortaleza desenvolva projetos de
microacessibilidade, como medida de implementação da política DOT
e como modo de convencimento da sociedade, pelas evidências dos
benefícios da qualificação urbana e da mobilidade, e a partir de
estudos específicos pela comunicação sobre a valorização imobiliária e
a importância de sua recuperação.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
123
2.4 Revisar o marco regulatório local e regulamentação dos
instrumentos necessários à implementação das políticas LVC+DOT
Identificar requisitos legais para implementação da estratégia LVC + DOT
A viabilização da estratégia LVC+DOT depende da revisão do marco
regulatório municipal, esta revisão deve ser oriunda de uma
construção participativa entre os diversos agentes interessados –
setores e instâncias do poder público, setor privado e sociedade civil.
Fortaleza já possui mecanismos LVC regulamentados, portanto, deve
avaliar quais são os ajustes necessários sobre esses instrumentos e
quais novos podem ser incorporados. Além da revisão legal sobre os
parâmetros urbanísticos, como índice de aproveitamento máximo,
ZEDUS etc.
Aproveitar o momento de revisão do Plano Diretor para implementar nova ZEDUS, índices de aproveitamento e demais diretrizes
A partir dos conhecimentos do corpo técnico e dos tomadores de
decisão, mobilizar a discussão sobre adaptação do Plano Diretor para
agenda LVC+DOT, a partir das recomendações e orientações do
estudo. A revisão do Plano Diretor, dentre as discussões, deve abordar
a validação e implementação da nova ZEDUS, aumento do índice de
aproveitamento máximo ao longo dos eixos de transporte, parâmetros
urbanísticos específicos de qualificação do espaço urbano e outras
temáticas incidentes sobre a agenda LVC+DOT.
Avaliar implementação de instrumentos LVC não associados com ordenamento do solo
A agenda LVC+DOT de um município deve objetivar a diversificação de
mecanismos LVC a serem adotados, portanto, Fortaleza deve
aprofundar estudos sobre instrumentos não incidentes no
ordenamento do solo, como contribuições sobre comércio, taxa de
serviços de transportes, empreendimentos associados com provisão
de infraestrutura, dentre outros.
Reequilibrar o desenvolvimento imobiliário entre as oportunidades oferecidas pelos princípios de DOT e as Operações Urbanas existentes e propostas.
A oferta indiscriminada de áreas para desenvolvimento imobiliário
dificulta o direcionamento de atuação do setor imobiliário, que pode
não corresponder às áreas de mobilidade da política DOT+LVC.
Fortaleza apresenta um conjunto de operações urbanas existentes e
propostas, deverá ser realizada a avaliação sobre as oportunidades
oferecidas pelos princípios DOT e tais operações urbanas, com
objetivo de redução da concorrência entre as áreas no sentido da
mitigação de um desenvolvimento imobiliário disperso.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
124
2.5 Formular uma proposta de arranjo institucional
Estabelecer um acordo de cooperação intersetorial e interfederativo
A elaboração de estudos de LVC + DOT deve envolver diversos setores
da gestão pública. É recomendável a participação de diferentes
secretarias municipais e do estado, na composição de algum tipo de
arranjo, que vai ser envolvido ao longo de todo o processo. É
interessante que a equipe tenha composição multidisciplinar e
intersetorial, assim, deve-se identificar quais secretarias e setores da
gestão pública podem estar envolvidas como de mobilidade urbana,
finanças e planejamento urbano.
O governo estadual deve estar alinhado aos municípios no processo de
planejamento e projeto do sistema de transporte metroferroviário,
entendendo o crescimento urbano e as demandas da população.
Da mesma forma, municípios pertencentes às regiões metropolitanas
devem estar articulados no processo de planejamento, e estabelecer
uma governança interfederativa, onde prevaleça o interesse comum; o
compartilhamento de responsabilidades; a autonomia dos entes da
Federação; observância das peculiaridades regionais e locais; gestão
democrática da cidade; efetividade no uso de recursos públicos; e
busca de desenvolvimento sustentável.
Integrar governo estadual e municipal no processo de planejamento urbano e de transportes
A aplicação de mecanismos de LVC + DOT depende de um
planejamento integrado do desenvolvimento urbano e transporte e,
portanto, de uma gestão interfederativa eficiente entre as diversas
esferas do governo. Assim, o governo estadual deve estar alinhado aos
municípios no processo de planejamento e projeto do sistema de
transporte metroferroviário, entendendo o crescimento urbano e as
demandas da população.
3. Fortalecimento Institucional
A implementação da agenda LVC+DOT depende do fortalecimento
institucional. A existência de sistema de informações e análises, junto
a mecanismos de participação permitem a construção de credibilidade
e colaboram com as ações de convencimento sobre a adoção dos
mecanismos LVC.
3.1 Criar e/ou fortalecer o sistema de informações e análises
Identificar e sistematizar dados e informações disponíveis, se possível, gerando banco de dados unificado que deve ser constantemente atualizado
Fortaleza deve consolidar um banco de dados e informações,
preferencialmente unificado, que forneça insumo para análises para
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
125
planejamento e avaliação da estratégia LVC+DOT e que deverá ser
regularmente atualizado.
A política LVC+DOT deve possuir um sistema de monitoramento que
possa comunicar a relação entre valorização imobiliária, recuperação e
implantação de infraestrutura para os diversos agentes interessados,
promovendo a confiabilidade do poder público e conduzindo o
processo de convencimento sobre a importância da recuperação da
mais valia fundiária.
Identificar dados e informações faltantes a serem levantados, como pesquisas de transporte, proprietários de terrenos, ente federativo proprietário dos ativos públicos (municipais, estaduais ou federais) etc.
Fortaleza deve identificar quais dados e informações estão faltando e
que são pertinentes para a discussão da agenda LVC+DOT, como forma
de alimentar o banco de dados e possibilitar análises mais complexas e
resultar em informações quantitativas e qualitativas sobre LVC+DOT.
Formar e/ou fortalecer estruturas de monitoramento, com indicadores quantitativos
As estruturas de monitoramento compõem aspecto essencial para
aprimoramento das políticas LVC+DOT e para o processo de
convencimento, principalmente quando criados e adotados
indicadores quantitativos que permitem vislumbrar de forma mais
objetiva o potencial da política LVC+DOT.
Divulgar resultados de arrecadação e investimento públicos decorrentes
A partir do monitoramento é necessário divulgar os resultados de
arrecadação e investimento públicos decorrentes, sendo uma iniciativa
que pode contribuir para a aceitação social da introdução e
aperfeiçoamento dos instrumentos de recuperação da mais valia
fundiária.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
126
3.2 Criar e/ou fortalecer o sistema de participação cidadã
Fortalecer os canais de diálogo com a sociedade em todo o processo de elaboração das estratégias DOT+LVC, implementação e monitoramento
Fortaleza deverá estabelecer quais serão os meios de comunicação
com a sociedade, visto que a efetividade dos mecanismos a serem
propostos e sua aceitação social dependem da transparência das
informações e da comunicação. Para além de uma proposta setorial
técnica, a agenda LVC+DOT deve envolver o alinhamento com os
diversos setores interessados no desenvolvimento urbano justo e
equilibrado.
O processo de convencimento é reforçado com a disponibilização de
dados consistentes e apresentação de valores quantitativos, que
evidenciem a correlação entre os investimentos públicos, valorização
imobiliária e recuperação desta, e o cenário de mútuo benefício.
Fortalecer os canais de diálogo com o mercado na validação e implementação das políticas de DOT+LVC
O setor imobiliário consiste em um dos parceiros da gestão pública de
Fortaleza, portanto, é necessário promover canais de diálogo direto
com o mercado, com objetivo de inclui-los no processo de
planejamento, implementação e monitoramento da agenda LVC+DOT,
considerando regimes de transição que permitam a assimilação dos
novos instrumentos pelos diversos agentes. É preciso comunicar que a
política LVC-DOT trará benefícios para todos, e que o setor imobiliário
também será beneficiado por ela.
3.3 Criar e/ou fortalecer o Sistema de monitoramento de políticas
LVC+DOT
Estabelecer processo contínuo de acompanhamento e revisão da estratégia
O monitoramento dos recursos mobilizados serve não só para dar
transparência ao processo de recuperação, como para avaliar a sua
efetividade e abrangência. Permite, ainda, a identificação de possíveis
irregularidades ou falhas na implementação dos mecanismos, dando
subsídios importantes para a revisão do processo e realização de
ajustes necessários para melhorar sua efetividade.
O objetivo do monitoramento é prover informações confiáveis e úteis
sobre o desempenho da política LVC+DOT, que podem ser utilizadas
para a tomada de decisões no âmbito do planejamento. Demonstrar o
aumento na capacidade de investimento municipal, o destino desses
recursos, e os benefícios sociais, é um fator importante no processo de
convencimento dos beneficiados e das partes envolvidas.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
127
Divulgar resultados das políticas de LVC + DOT visando o convencimento sobre os seus benefícios
Ações promovidas pelo poder público, como alterações urbanísticas e
novas infraestruturas, geram valorização imobiliária que supera – na
maioria dos casos - os próprios custos dos investimentos. Portanto,
para apoiar o processo de recuperação de tal valorização, o governo
municipal deve desenvolver estudos que evidenciem o processo de
valorização, através de um processo contínuo e sempre atualizado,
divulgando os resultados da avaliação. Essa ação favorece uma maior
aceitação dos mecanismos, tanto pelo mercado imobiliário e pelos
proprietários de terrenos, quanto pela própria sociedade civil. A base
de dados gerados por esses estudos deve apoiar a atualização
contínua da Planta Genérica de Valores do município, acompanhando
o processo de valorização imobiliária e possibilitando o aumento na
arrecadação de IPTU e Outorga Onerosa.
Os governos municipais e estaduais de Fortaleza também podem
elaborar estudos que quantifiquem monetariamente os impactos da
política DOT e seus custos-benefícios, através da redução das
externalidades negativas do transporte, ganhos em tempo de viagem,
redução das emissões atmosféricas, entre outros benefícios sociais,
ambientais e econômicos.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
128
Brasil. (1966). Código Tributário Nacional.
Brasil. (1988). Constituição Federal.
Brasil. (2001). Lei Federal n. 10.257 - Estatuto da Cidade.
Costa, L. (1976). Estrutura Urbana. Em São Paulo (Estado) Secretaria de
Negócios Metropolitanos, O Desafio Metropolitano (pp. 57-82). São
Paulo: Emplasa.
Cymbalista, R., & Santoro, P. F. (2006). Outorga Onerosa do Direito de
Construir no Brasil: entre a regulação e a arrecadação. ResearchGate.
Fonte: https://www.researchgate.net/publication/319087694
Furtado, F. (1999). Recuperação de mais-valias fundiárias urbanas na
América Latina: debilidade na implementação, ambiguidades na
interpretação. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo),
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo,
São Paulo.
Furtado, F., & Smolka, M. (2014). Instrumentos Notables de Políticas
de Suelo en América Latina (1 ed.). (e. Quito, Ed.) Banco del Estado de
Ecuador.
Furtado, F., Biasotto, R., & Maleronka, C. (2012). Outorga onerosa do
direito de construir: Caderno Técnico de Regulamentação e
Implementação, v.1. Ministério das Cidades, Lincoln Institute of Land
Policy, Brasília.
Furtado, F., Rezende, V. F., Oliveira, T. C., & Jorgensen Jr., P. (2006).
Outorga Onerosa do Direito de Construir: Panorama e Avaliação de
Experiências Municipais. Lincoln Institute of Land Policy.
IBGE. (2010). Relatório das Cidades Brasileiras.
Levy, M., Santoro, P., & Cymbalista, R. (2004). Estatuto da Cidade: uma
leitura sob a perspectiva da recuperação da valorização fundiária. Em
P. Santoro, Gestão social da valorização da terra (pp. 14-39). São
Paulo: Instituto Pólis.
Maleronka, C. (2018). Aula do Curso de Desenvolvimento Profissional
sobre Instrumentos não Tributários de Financiamento Urbano. São
Paulo: Lincoln Institute of Land Policy.
Maleronka, C., & Hobbs, J. (2017). Operações Urbanas: O que podemos
aprender com a experiência de São Paulo? Nova Iorque: Banco
Interamericano de Desenvolvimento.
Ministério das Cidades. (2009). Guia para regulamentação e
implementação de Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS em Vazios
Urbanos. Brasília: Ministério das Cidades.
Pereira, G., Pedrozo, A., Coelho, A., Leonelli, G., Soffiatti, R., &
Moreira, T. (2014). Recuperação de mais valias urbanas por meio de
contribuição de melhoria o caso do Paraná-Brasil entre os anos 2000 e
2010. Relatório de Pesquisa.
Referências
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
129
Pinheiro, D. N. (2016). Recuperação de mais-valias fundiárias urbanas
em Natal: Estudo sobre a valorização do solo e os efeitos dos
investimentos pré/pós Copa do Mundo 2014. Dissertação de
Mestrado, Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade
Federal, Natal.
Rabello, S. (2012). Faculty profile. Land Lines.
Santoro, P. (2004). Gestão Social da valorização da terra. São Paulo:
Instituto Pólis.
Santoro, P. F. (2012). Planejar a expansão urbana: dilemas e
perspectivas. Tese de Doutorado, Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo.
Schvarsberg, B., Martins, G., & Cavalcanti, C. (2017). Estudo de Impacto
de Vizinhança: Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação
(Vol. 4). Brasília: Universidade de Brasília.
Smolka, M. O. (2014). Recuperação de Mais-Valias Fundiárias na
América Latina: Políticas e Instrumentos para o Desenvolvimento
Urbano. Lincoln Institute of Land Policy.
Souza, F. F. (2009). Métodos de Planejamento Urbano: Projetos de
Land Readjustment e Redesenvolvimento Urbano (1ª ed.). São Paulo.
Yanese, N. (2010). A Experiência do Japão com o Land Readjustment .
Seminário Internacional Instrumentos Urbanísticos de Gestão de
Valorização da Terra e da indução do Desenvolvimento Urbano: Um
Dialogo Brasil-Japão-Colômbia. Brasília: Ministério das Cidades.
Financiamento da Infraestrutura de Transporte e Transformação Urbana através de Mecanismos de Recuperação da Valorização Imobiliária | Relatório
130
FOLHA DE CONTROLE
Preparado por Preparado para
Steer Rua Bela Cintra, 756 – cj21 São Paulo – SP 01415-000 Brasil +55 (11) 3151 3630 www.steergroup.com
Banco Mundial World Bank Group eConsultant2 https://wbgeconsult2.worldbank.org/wbgec/index.html
Nº projeto/proposta Steer Referência do cliente/nº do projeto
23263301 # 1254006
Gerado por Revisado/avaliado por
Tais Fonseca Camila Maleronka Toni Somlo Mike Nicholson
Outros colaboradores Distribuição
Ellen Carulli Claudia Ramirez Michael Colella Craig Roberts Michalina Peczkowska André Cruz Cecília Pedace
Cliente: Steer:
Revisão Data
R2 23/08/2018
steergroup.com