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1 FUNDAMENTOS DA MEDICINA TIBETANA Volume II

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FUNDAMENTOS

DA

MEDICINA

TIBETANA

Volume II

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FUNDAMENTOS

DA

MEDICINA

TIBETANA

de acordo com a obra rGyud-bzi

Volume II

Elizabeth Finckh

Traduzido por: Williams Ribeiro de Farias

e Dra. Yeda Ribeiro de Farias

Editora Chakpori

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Título original: Foundations of Tibetan Medicine Vol. II © 1978, Robinson and Watkins Books Ltd.

Direitos autorais adquiridos pela Editora Chakpori

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PREFÁCIO

Durante toda sua história o Ocidente tem mostrado uma saudável curiosidade e um vivo interesse na sabedoria e na filosofia do Oriente. O Tibete foi, especialmente, objeto de intensa especulação e sua posição extremamente isolada, aliada à política de desencorajamento aos estrangeiros, seduziu imensamente a imaginação e o romantismo. Mas foram também as pessoas no Ocidente, estudantes, cientistas, escritores, historiadores e médicos quem manifestaram uma qualidade admirável de seriedade em suas tentativas de compreender o mundo asiático. Estes esforços pioneiros para descobrir, interpretar e avaliar o tesouro cultural do Tibete têm crescido enormemente desde 1959, quando o país foi invadido e ocupado pela China. É no campo da medicina tibetana que os cientistas Ocidentais têm realizado, recentemente, numerosos projetos, envolvendo a tradução e a interpretação dos textos e tratados médicos. Esta iniciativa deu origem à a maiores possibilidades de contato e comunicação do que o existente anteriormente no Tibete. Foi causado também por um desejo de conservar e preservar a medicina tibetana como parte de uma rica herança cultural que está sendo atualmente influenciada pela China. A Dra. Finckh é talvez a primeira médica Ocidental a traduzir e interpretar os principais textos da medicina

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tibetana para uma língua Ocidental. Ela tem o mérito de haver estudado na Tibetan Medical School em Dharamsala sob a experiente orientação de médicos tibetanos em 1962. Foi com o auxílio destes médicos que os principais textos foram traduzidos e explicados. A medicina tibetana hoje goza de um rápido e crescente interesse e reputação entre os médicos Ocidentais. A ciência da medicina tibetana e sua praticabilidade está agora sendo reconhecida. Congratulo a autora pelos seus esforços diligentes e louváveis para propagar a medicina tibetana e desejo-lhe todo sucesso e bem-aventurança em seu nobre empreendimento.

DALAI LAMA 6 de Março de 1972

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ÍNDICE

PREFÁCIO..................................................................................................................... 4 INTRODUÇÃO E AGRADECIMENTOS ............................................................................... 7

CAPÍTULO UM O SISTEMA DA MEDICINA TIBETANA ............................ 11

ANATOMIA ................................................................................................................ 19 FISIOLOGIA ................................................................................................................ 23 PATOLOGIA ............................................................................................................... 28

CAPÍTULO DOIS DIAGNÓSTICO ................................................................. 32

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 32 A) BLOCO DE IMPRESSÃO ........................................................................................... 36 B) TRANSLITERAÇÃO DO TEXTO ................................................................................. 38 C) TRADUÇÃO DO TEXTO............................................................................................ 39 D) APRESENTAÇÃO .................................................................................................... 44 E) MÉTODOS DIAGNÓSTICOS ...................................................................................... 51

1. Observação ..................................................................................................... 54 2. Palpação .......................................................................................................... 60 3. Questionamento (Anamnese) ........................................................................... 72

CAPÍTULO TRÊS TERAPÊUTICA................................................................. 77

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 77 A) BLOCO DE IMPRESSÃO ........................................................................................... 81 B) TRANSLITERAÇÃO DO TEXTO ................................................................................. 83 C) TRADUÇÃO DO TEXTO............................................................................................ 84 D) APRESENTAÇÃO .................................................................................................... 91 E) MÉTODOS DE TRATAMENTO ................................................................................. 105

1. Nutrição ......................................................................................................... 105 2. Comportamento.............................................................................................. 110 3. Medicamentos ................................................................................................ 115 4. Tratamentos ................................................................................................... 128

CAPÍTULO QUATRO TIPOS CONSTITUCIONAIS ..................................... 145

1. Natureza e temperamento em geral ................................................................. 146 2. Condições que geralmente dão origem às doenças .......................................... 147 3. As Características do Sistema......................................................................... 147

CAPÍTULO CINCO O LIVRO RGYUD-BZHI................................................ 149

CAPÍTULO SEIS PESQUISA NA MEDICINA TIBETANA ....................... 155

TÍTULOS DOS TRABALHOS ........................................................................................ 161 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 164

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INTRODUÇÃO E AGRADECIMENTOS

Não há dúvidas sobre o fato da medicina tibetana ter despertado grande interesse no Ocidente. No entanto, precisamente por esta razão, seria muito perigoso, particularmente em uma época como a nossa na qual estamos prontamente dispostos a experimentar as práticas Orientais e “drogas milagrosas”, adotar sem críticas, fragmentos separados do significativo Sistema de Medicina Tibetana ou levantar, precocemente, a questão de sua aplicabilidade. Primeiramente, é de primordial importância que os fundamentos teóricos da medicina tibetana e sua circunstância filosófica seja cuidadosamente estudada. Nos Fundamentos da Medicina Tibetana, Volume 1, apontamos para o fato de que, quando a acupuntura, um outro método de tratamento asiático que tem adquirido reconhecimento acadêmico em universidades e que está sendo colocada em prática, foi introduzida no Ocidente, diversos erros foram cometidos: o auxílio de Sinologistas na tradução dos mais importantes trabalhos médicos chineses foi solicitado tarde demais; este método de tratamento foi colocado em prática cedo demais; muito tempo foi gasto com desnecessárias especulações filosóficas e, finalmente, não havia desde o início qualquer terminologia médica adequada. Estes erros não devem ser repetidos com a medicina tibetana. Portanto, nosso primeiro passo deve ser estabelecer uma terminologia médica realizada a partir das fontes disponíveis e tornada clara com o auxílio e aconselhamento de médicos tibetanos e tibetologistas.

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Por esta razão, demos início no Volume 1 à compilação de alguns fundamentos da medicina tibetana. O estudo destes fundamentos, um capítulo sobre os autores, sobre importantes trabalhos médicos e um esboço do conteúdo do tratado padrão sobre medicina tibetana, o rGyud bzi (Quatro Tratados), traz ao leitor do Volume 1, através da transliteração, da tradução e da apresentação dos textos, a organização do sistema da medicina tibetana o qual consiste de três raízes: a organização das partes do corpo, o diagnóstico e a terapêutica. Através da tradução dos textos, foi possível chegar à terminologia médica e descobrir o princípio da medicina tibetana – uma consistente divisão em três partes – e o fato de que a medicina tibetana é uma doutrina de constituição. O objetivo deste volume é expandir a terminologia médica, tomando novamente textos do rGyud bzi como base. No Volume 1, os 88 termos da Raiz A = Organismo Doente e Saudável foram deduzidos (rGyud bzi, Parte I, Capítulo 3). Neste Volume, devemos nos concentrar nos textos referentes às duas outras raízes, Diagnóstico = Raiz B e Terapêutica = Raiz C. Os blocos de impressão serão trabalhados da mesma forma que no Volume 1 (transliteração, tradução e apresentação) de modo a analisar por completo a terminologia médica derivada dos textos e englobando as nove disciplinas da medicina tibetana. Ao todo, devemos então definir 283 termos: 3 raízes, 9 troncos, 47 ramos e 224 folhas. Para esquematizarmos a apresentação das nove disciplinas devemos utilizar o sistema da medicina tibetana como guia porque com seu auxílio, é possível ver claramente a estrutura da medicina tibetana. O seguinte material será utilizado para breves descrições das nove disciplinas:

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1. Os trabalhos relacionados no apêndice Título dos Trabalhos.

2. P.A. Badmaev Glavnoe rukovodstovo po vracebnoj nauke Tibeta Zud si v novom perevode P. A. Badmaeva s ego vvedeniem, raz‟jasnjajuscim osnovy tibetskoj vracebnoj nauki. St. Petersburg, 1903. Conseguimos uma tradução alemã deste trabalho russo que é uma tradução parcialmente resumida das Partes 1 e 2 do rGyud bzi.

3. Csoma de Körös Analysis of a Tibetan Work (em: Journal of the Asiatic Society of Bengal, 4, 1835, págs. 1-20)

4. Instrução oral e material escrito, as muitas tabelas dos médicos tibetanos – pelas quais devo agradecer ao meu professor tibetano, Yeshe Donden, e seus alunos, Jhampa Kelsang e Barry Clark.

5. Agradeço ao Prof. R. E. Emmerick pela gentileza de permitir que eu utilizasse sua tradução inglesa de vários capítulos do rGyud bzi ainda não publicada. Utilizei os capítulos 4 e 5 (rGyud bzi, Parte 1) quase que palavra por palavra de sua tradução porque seria presunçoso e, além disso, quase impossível para mim tentar fazer minha própria tradução destes textos extremamente difíceis considerando meu atual conhecimento da língua tibetana que, apesar de ter melhorado, é ainda insuficiente. Gostaria de expressar meus agradecimentos ao Sr. Andrew Craston que traduziu grande parte deste Volume.

Apesar de não estar dentro da abrangência deste trabalho descrever a prática da medicina tibetana – este assunto será desenvolvido no Volume 3 – será necessário discutirmos brevemente alguns métodos diagnósticos e tratamentos externos. Gostaria de enfatizar que os métodos diagnósticos e terapêuticos

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podem ser aplicados satisfatoriamente apenas depois que os princípios teóricos forem estudados em detalhes e sob a completa supervisão de médicos tibetanos. A medicina tibetana não é uma técnica qualquer que possa ser aprendida em um curso relâmpago. Uma aplicação prematura e sem críticas de certos métodos poderia resultar em um aniquilamento da medicina tibetana, transformando-a em um outro tipo de medicina alternativa. Minha intenção ao escrever este livro é tornar claro que a medicina tibetana, com todos seus fascinantes e valiosos discernimentos, deve ser cuidadosamente estudada e examinada, podendo desta forma ser preservada.

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Capítulo Um O SISTEMA DA MEDICINA TIBETANA

Os tibetanos desenvolveram seu próprio sistema de medicina, individual e único, pois nenhum outro sistema de medicina é organizado desta maneira. Quando observamos especificamente os números associados a este sistema, devemos nos lembrar do fato de que ele possui muitas e variadas influências, algumas particularmente fortes, como a indiana, a chinesa e a budista. O caráter especial da medicina tibetana tornar-se-ia apenas aparente se as influências acima mencionadas, que também podem ter afetado os números do sistema, forem descritos em detalhes. No entanto, como mencionado no volume 1, teremos que nos ocupar com este tópico em um próximo volume. A medicina tibetana e os ensinamentos budistas estão intimamente relacionados. Por esta razão, planejamos inicialmente relacionar os já conhecidos conceitos budistas aos números do sistema. A interpretação das muitas ocorrências desta correlação seria na verdade fácil porque a correlação é bastante óbvia. No entanto, nem todos os números podem ser explicados tão facilmente desta maneira. As seguintes considerações induziram-me a abandonar o plano original: aventurar-nos em qualquer um deles nos desviaria do assunto principal deste livro ou, se a descrição fosse inadequada, não teríamos feito justiça à tremenda influência do budismo. Entretanto, é possível explicar e esclarecer a estrutura do sistema, seus números, o caráter especial e a colorida diversidade da medicina tibetana, a qual está

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também profundamente enraizada na crença popular do Tibete (crença em espíritos prejudiciais, consulta a oráculos, rituais mágicos, amuletos, métodos de proteção contra espíritos prejudiciais, etc.) através da discussão da antiga religião Bon do Tibete, do Xamanismo e das tradições do Na-khi.

O sistema da medicina tibetana é retratada em analogia com uma árvore. Nove troncos crescem das três raízes da árvore – dois, três e quatro troncos, respectivamente, um fato que aponta para a religião Bon com seu número sagrado nove. A crença e o medo de espíritos prejudiciais, as nove esferas do paraíso, os nove degraus da escada-dmu do paraíso para a montanha Yol ba, o banimento dos espíritos prejudiciais pelos monges Bon através de poderes mágicos, o fato da menção das 404 doenças, os rituais da morte, conhecido como Bardo e sempre o número sagrado nove: todos estes aspectos podem ter representado um papel no desenvolvimento do sistema da medicina tibetana. O Xamanismo assim como a religião Bom serão apenas mencionados neste trabalho, embora tenham influenciado o desenvolvimento do sistema. Sobre este aspecto, podem-se citar os nove filhos xamãs, o jejum de nove dias, a colocação de nove árvores de faia, nove postes e nove tijelas de oferendas, as nove circumambulações da iniciação do xamã na qual ele escala a vidoeira, a cerimônia de nove dias de duração, os nove ninhos da árvore xamã e os nove pássaros que podem ser vistos. Esta grande e sagrada árvore xamã com seus nove entalhes e o topo que alcança o nono paraíso poderia ter influenciado a divisão em nove partes do sistema de medicina tibetana, que é da mesma forma representado como uma árvore.

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Os Na-khi1, uma tribo dos antigos Ch‟iang, viviam como nômades em suas pastagens no noroeste do Tibete. Suas tradições são bastante singulares. Eles veneravam três paraísos, três terras e três zimbros. Um altar era construído para o “sacrifício ao paraíso”; um zimbro era colocado no centro com um carvalho à direita (paraíso) e outro carvalho à esquerda (terra). Um ramo de carvalho com duas bifurcações horizontais era colocado à esquerda de cada árvore, e à direita, um ramo de carvalho com dois entalhes horizontais. Uma vara de álamo com quatro bifurcações no topo era afixada atrás da árvore central. Uma pedra branca era colocada na frente de cada árvore. Assim, em frente dos nove, 3 vezes 3 árvores, três tigelas de arroz eram oferecidas sobre o altar, em frente das quais estavam as três pedras brancas. Há, portanto, uma grande semelhança entre este exótico “sacrifício ao paraíso”, uma cerimônia envolvendo a disposição de nove árvores, duas das quais também revelam uma divisão de duas e de quatro partes, respectivamente, e a árvore do sistema tibetano. É uma pena que tenha sido necessário condensar esta parte do livro e que tenha sido possível apenas mencionar aqui os pontos importantes. Um trabalho mais detalhado dos aspectos mencionados preencheriam um livro completo e auxiliaria a demonstrar mais claramente a fascinante variedade da medicina tibetana e tornar mais fácil a explicação do sistema. O sistema da medicina tibetana é particularmente importante por numerosas razões. A típica divisão em três partes, uma característica da medicina tibetana, é óbvia e reconhecível por todo o sistema. As relações das várias disciplinas umas com as outras podem ser

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vistas; por exemplo, o número de folhas para os medicamentos é dado como cinqüenta, o que certamente corresponde à grande importância desta disciplina na prática da medicina tibetana. Aprendemos através do sistema que todos os detalhes referem-se aos três tipos constitucionais. Finalmente, este sistema nos possibilita apresentar a medicina tibetana de uma maneira sistemática porque os nove troncos correspondem às nove disciplinas. Gostaria de explicar agora o esquema que deverei utilizar para a pesquisa das nove disciplinas. Na tabela seguinte, o sistema completo está representado com raízes, troncos, ramos e folhas por meio dos quais os termos empregados para descrever alguns dos troncos são apenas equivalentes e não traduções literais2. As ilustrações (A, B e C) foram incluídas para que o leitor possa visualizar as raízes. Antes da apresentação de cada disciplina, foi incluída uma ilustração do tronco correspondente (Ilustrações I-IX). Neste Volume, as ilustrações foram incluídas em escala real de forma que alguns nomes tibetanos escritos sobre as folhas podem ser claramente reconhecidos e podem ser decifrados por tibetologistas. Aos não-tibetologistas, estas ilustrações oferecem uma boa elucidação do sistema. Incluí também uma breve descrição das duas disciplinas, Troncos I e II, os quais não são, na verdade, o objeto de estudo deste Volume3, de forma que a estrutura da medicina tibetana como um todo será evidente, ainda que apenas de forma condensada. Portanto, podemos observar que as disciplinas da medicina tibetana correspondem àquelas da medicina Ocidental e que a medicina tibetana está organizada de uma maneira bastante sistemática.

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O SISTEMA Raízes Troncos Ramos Folhas

Raiz A = Organização das partes do corpo e as bases das doenças

Organismo saudável I 3 25 Organismo doente II 9 63 rGyud bzhi, Parte 1, Capítulo 3 12 88

Raiz B = Diagnóstico

Observação III 2 6 Palpação IV 3 3 Questionamento V 3 29 rGyud bzhi, Parte 1, Capítulo 4 8 38

Raiz C = Terapia Nutrição VI 6 35 Comportamento VII 3 6 Medicamentos VIII 15 50 Tratamentos IX 3 7 rGyud bzhi, Parte 1, Capítulo 5 27 98

47 224

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RAIZ A

Organização das partes do corpo e as bases das doenças

Organismo saudável

Organismo doente

3 ramos 9 ramos 25 folhas 63 folhas

I

II

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RAIZ A Tronco I = Organismo saudável

rnam par ma gyur pa

Ramos Folhas nad 15

lus zungs 7 dri ma 3

3 25

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ANATOMIA

Na visão da maneira pela qual os sepultamentos

eram conduzidos, os médicos tibetanos tiveram certamente a oportunidade de realizar estudos anatômicos detalhados. No entanto, nenhuma tentativa parece ter sido feita para descobrir a verdadeira estrutura anatômica do corpo. A anatomia tibetana apresenta certas características típicas porque é principalmente orientada para as funções e não para o substrato material. Esta é a razão pela qual, na apresentação da anatomia tibetana, um diagrama do corpo descrevendo todas as funções parece ser mais importante do que a exata descrição dos órgãos porque, desta forma, as funções podem ser determinadas para partes do diagrama. Este aspecto torna-se mais óbvio quando observamos as ilustrações anatômicas. Além disso, os tibetanos afirmam que existem áreas intercorporais que são mais sutis que nosso substrato Ocidental; são “campos de força” que formam canais de energia os quais, em nossa maneira de pensar Ocidental, são irreais. Termos como “canais vitais”, “fogo digestivo” e muitos outros aspectos mostram claramente que não podemos igualar estes “órgãos” com outros da ciência anatômica Ocidental. Esta é também a razão pela qual torna-se quase impossível definir estes conceitos nos termos da medicina Ocidental. Podemos apenas observar que os médicos tibetanos desenvolveram, de maneira bastante consistente, uma ciência da anatomia que não podemos comparar com a nossa anatomia Ocidental. Uma observação mais cuidadosa na anatomia tibetana, no entanto, ensina-nos

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que esta abordagem, que enfatiza as funções, é de grande utilidade prática. É possível fazer apenas uma breve menção à embriologia, que apesar de suas semelhanças com a embriologia indiana, difere desta última em vários pontos. A principal diferença é que, de acordo com a embriologia tibetana, os órgãos sólidos (don) são formados na 12a semana e os órgãos ocos (snod), na 13a. A embriologia tibetana também estabelece que o sêmen do pai forma os ossos, o cérebro e a medula espinhal enquanto que o sangue da mãe forma os músculos, sangue, órgãos sólidos e órgãos ocos. A anatomia é dividida nas seguintes quatro partes: 1) A organização das partes do corpo

a) As quantidades: rLung (vento), mKris pa (bile) e Bad kan (fleuma) e todos as partes componentes do corpo podem ser relacionados uns com os outros de uma maneira específica, por exemplo, a quantidade de rLung (vento) deve preencher a bexiga, a quantidade de mKris pa (bile) preenche o saco escrotal e a quantidade de Bad kan (fleuma) equivale a três vezes as duas mãos cheias.

b) As partes do corpo: O corpo humano é formado por 360 ossos, que são de 23 tipos diferentes, 12 articulações grandes, 210 articulações pequenas, 16 tendões, 900 fibras, 21.000 fios de cabelos e 11 milhões de poros. Os tibetanos diferenciam os órgãos em 5 órgãos sólidos (don) – coração, pulmões, baço e rins – e 6 órgãos ocos (snod) – intestino grosso, vesícula biliar, intestino delgado, estômago, bexiga e bsam se‟u. Existem também as nove entradas.

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2) O sistema de canais e suas conexões 4 a) Canais de concepção (chag pa‟i rtsa). Estes canais ou

veias possuem um caráter embrionário. Três canais originam-se do umbigo: o primeiro canal expande-se de forma ascendente e o cérebro se desenvolve a partir daí; o segundo penetra no meio do corpo e o canal vital desenvolve-se a partir daí; o terceiro canal expande-se de forma descendente e os genitais desenvolvem-se a partir daí.

b) Canais da existência (srid pa‟i rtsa): O tibetanos fazem diferença entre quatro grandes canais. O canal que forma os órgãos sensoriais está no cérebro e está circundado por 500 pequenos canais. O canal que sustenta a memória e a consciência está no coração e é circundado por 500 pequenos canais. O canal que forma os elementos do corpo está no umbigo e é circundado por 500 pequenos canais. O canal que executa a reprodução está na região dos genitais e é circundado por 500 pequenos canais.

c) Canais de conexão („brel ba‟i rtsa): Na cabeça, o canal vital escuro divide-se em 24 canais que suprem os músculos e o sangue. Oito canais ocultos originam-se das partes inferiores do canal vital e suprem os órgãos sólidos e ocos. Há 16 canais visíveis que suprem as articulações e 77 canais para circulação sangüínea. Há também 112 pontos vitais, 189 pequenos canais de características variáveis, dos quais 120 canais menores se originam. São destinados às áreas mediana e interna do corpo. Estes canais, por sua vez, dividem-se em 360 canais menores ainda, que se dividem em 700 canais muito finos que cobrem toda a superfície do corpo.

Assim como estes canais escuros, há um segundo grupo de caráter branco ou claro. Os 19 chamados

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canais de sustentação-água, dos quais 13 são conectados com os órgãos sólidos e ocos, originam-se no cérebro e são canais ocultos. Seis canais visíveis são conectados com as articulações e deles se originam os 16 canais de sustentação-água menores.

d) Canais vitais (tshe yi rtsa): O primeiro canal passa através da cabeça e de todo o corpo. O segundo canal está conectado com a respiração. O terceiro canal é o canal principal e mantém o crescimento corporal.

3) Pontos vitais Os pontos vitais ou pontos críticos são assim denominados porque se um destes pontos for prejudicado as consequências podem ser fatais. Há 302 pontos vitais dos quais 96 são tão perigosos que a pode ocorrer a morte se um deles for atingido. Dentre os demais, 49 são perigosos também, mas médicos experientes podem curar tais distúrbios. As lesões nos 157 pontos restantes podem ser curadas. Faz-se uma distinção entre 7 tipos de pontos vitais: (1) carne = 45, (2) gordura = 8, (3) ossos = 32, (4) tendões e (5) fibras = 14, (6) órgãos sólidos e ocos = 13, (7) vasos = 190. Estes pontos vitais estão espalhados pelo corpo inteiro da seguinte maneira: cabeça = 62, pescoço = 33, tronco = 95 e membros = 112. Se estes pontos vitais são lesados, podem ocasionar vários distúrbios mais graves ou menos graves. O tipo mais perigoso de lesão ocorre nos vasos, na gordura, nos órgãos sólidos e ocos; se estas partes do corpo são prejudicadas, as conseqüências são fatais. Na opinião dos médicos tibetanos, é extremamente importante que sejam tomados cuidados especiais com os pontos vitais,

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particularmente com os vasos – isto significa que o método terapêutico da sangria deve levar em consideração os pontos vitais dos vasos. Tenho observado freqüentemente como os pacientes tibetanos oferecem resistência quando uma amostra de sangue é retirada da veia na dobra do braço, quando feita da maneira ocidental, que normalmente utiliza esta veia para tais amostras ou para injeções. A razão para tal resistência é que este é um ponto que corresponde exatamente a um ponto vital. 4) Entradas Há uma diferença entre dois tipos de entradas dos caminhos de circulação: entradas internas e externas. As aberturas internas são: os constituintes do corpo (7), as impurezas (3), rLung da sustentação da vida (1) e o alimento (1) = 13 aberturas internas. As aberturas externas são: narinas (2), ouvidos (2), olhos(2), boca (1), ânus (1), totalizando 12 aberturas. As doenças ocorrem como consequência de erros de comportamento ou de nutrição porque os canais naturais do organismo estão bloqueados.

FISIOLOGIA

1) Partes do corpo que podem ser lesadas

Constituintes do corpo: o quilo (1) faz com que os outros seis constituintes desenvolvam-se e é transformado em sangue; o sangue (2) umedece o corpo, mantém a vida e é transformado em carne; a carne (3) recobre o corpo e transforma-se em gordura; a gordura (4) torna o corpo lubrificado e é transformado

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em osso; o osso (5) sustenta o corpo e desenvolve-se em medula óssea; a medula óssea (6) é importante para a nutrição e é transformada em sêmen; o sêmen (7) realiza a fertilização e preserva a vida. As impurezas são as fezes e a urina, resultantes da digestão do alimento, e o suor que amacia a pele. O crescimento do corpo depende do suporte mútuo dos constituintes corporais, das impurezas e das bases das doenças. O calor combinado gerado por estes três fatores formam o chamado calor do fogo digestivo o qual, por sua vez, produz saúde, vitalidade e energia. Este fogo digestivo forma a base da digestão na qual, acima de tudo, a vesícula biliar representa parte ativa. Durante o processo digestivo, os alimentos e as bebidas são partidos em partes menores e decompostos no trato digestivo com o auxílio de rLung, mKris pa e Bad kan, os quais realizam várias funções. O processo digestivo é influenciado pelas qualidades do sabor. Finalmente, a porção sólida do alimento transforma-se em fezes e a porção líquida transforma-se em urina. O quilo é transformado em muco no estômago, sangue é transformado em bile na vesícula biliar, carne é transformada em impurezas, gordura em oleosidade, ossos em unhas, cabelos e dentes, e a medula óssea em pele e fezes. O complexo processamento digestivo demora seis dias para completar-se. 2) Partes que lesam o corpo Se os três humores – rLung, mKris pa e Bad kan – alteram-se de qualquer forma, por exemplo, quanto à quantidade ou localização no corpo, as funções corporais são perturbadas. Se os mesmos não se

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alteram e permanecem em equilíbrio, o corpo mantém-se saudável. Os três humores possuem: tipos específicos, localizações, relações com o fogo digestivo, efeitos sobre o estômago, funções e características. rLung (vento): Sustentador da vida, Movimento ascendente, Penetrante, (acompanha o) Fogo e Remoção descendente são os cinco tipos. Está localizado abaixo do coração e do umbigo. Um rLung forte torna o fogo digestivo irregular. Se rLung é dominante, o estômago está firme. As funções gerais de rLung são: movimentar o corpo, influenciar a respiração para dentro e para fora, manutenção do corpo e conservação da clareza dos órgãos sensoriais. As funções específicas dos cinco tipos de rLung são muitas e variadas e podem, até certo ponto, ser deduzidas a partir de seus nomes. As características são: áspero, leve, frio, aguçado, firme e móvel. mKris pa (bile): Digestivo, Responsável pelo brilho do quilo, Satisfação dos desejos, Permite a visão e Clareador a cor da pele são os cinco tipos. Está localizado entre o coração e o umbigo. O fogo digestivo torna-se pungente por causa de um mKris pa forte. Se mKris pa é dominante, o estômago fica macio. As funções gerais de mKris pa são: atua sobre a digestão, limpa a pele e produz uma compleição pura, um coração corajoso e um estado feliz na mente em geral. As funções específicas são evidenciadas pelos nomes dados a eles. As características são: oleoso, pungente, leve, malcheiroso, limpador e úmido. Bad kan (fleuma): Sustentação, Decomposição, Responsável pelo paladar, Produtor de satisfação e Possibilita a flexão são os cinco tipos. Está localizado acima do coração e do umbigo. Um Bad kan forte torna o fogo digestivo fraco e reduzido. Se Bad kan é

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dominante o estômago não se torna nem macio nem duro. As funções gerais de Bad kan são: fixa e une as articulações, produz estabilidade ao corpo e à mente e fornece resistência ao corpo. As funções específicas dos cinco tipos são evidenciadas pelas suas denominações. As características são: oleoso, frio, pesado, embotado, macio, estável e adesivo.

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RAIZ A Tronco II = Organismo doente

rnam par gyur pa

ramos folhas

rgyu 3 rkyen 4 „jug sgo 6 gnas 3 lam 15 ldang dus 9 (na so, Yul, dus)

„bras bu 9 ldog pa‟i rgyu 12 mdo don 2

9 63

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PATOLOGIA

A doutrina da doença é introduzida por uma descrição dos quatro precursores da morte. Faz-se uma diferenciação entre precursores distantes tais como as mudanças no caráter do paciente, seus sonhos, e os precursores próximos, incertos e certos da morte. A patologia em si é dividida de maneira sistemática em sete seções e estudá-la, Capítulo 3 do rGyud bzhi, Parte 1, já traduzido, fornece-nos pontos de referências

úteis. Com relação às causas (rgyu), a distinção é feita entre causas distantes, tais como os três “venenos”, e as causas próximas. Nesta seção, nós também encontramos a importante passagem que estabelece que, dentre os três humores, rLung (vento) é a causa de todas as doenças por sua influência sobre ambos, o calor e o frio corporais. Com relação às causas predisponentes (rkyen), encontramos explicações bastante longas sobre as influências do tempo, nutrição, comportamento e demônios (ou estados mentais prejudiciais). A terceira seção, as formas de entrada („jug sgo), ensina-nos como, após terem sido lesados os constituintes corporais e as impurezas, as entradas finalmente se abrem e a doença toma seu curso. A quarta seção, localização (gnas), descreve quais partes do corpo são afetadas. A próxima seção nos informa das características da doença. A redução e a elevação e, finalmente, o distúrbio completo dos humores, os constituintes corporais e as impurezas são descritas juntamente com os vários sintomas. Aqui, descobrimos que, ao final, todas as doenças estão relacionadas com o calor e o frio. Além disso, na sétima seção e na seção final, antes da classificação das doenças (6), também

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29

lemos que as doenças possuem formas individuais e que há inúmeras formas e tipos de doenças. A classificação em 4 x 101 doenças é típica da medicina tibetana. Devo omitir outras divisões dentro da patologia e mostrar a forma sistemática desta classificação de maneira a demonstrar a estrutura das 404 doenças, sem mencionar os nomes e os sintomas.

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30

Classificação das doenças

A. Três humores rLung

Tipo 1-20 Localização: pele, carne, vasos, ossos 21-24

órgãos sólidos 25 órgãos ocos 26 órgãos sensoriais 27

Classes particulares: rLung 28-32 rLung + Bad kan 33-37 rLung + mKris pa 38-42

42 mKris pa

Tipo 1-4 Localização: pele, carne, vasos, ossos 5-8

órgãos sólidos 9 órgãos ocos 10 órgãos sensoriais 11

Classes particulares: mKris pa 12-16 mKris pa + rLung 17-21 mKris pa + Bad kan 22-26

26 Bad kan

Tipo (simples) 1-6 Localização: pele, carne, vasos, ossos 7-10

órgãos sólidos 11 órgãos ocos 12 órgãos sensoriais 13

Classes particulares: Bad kan 14-18 Bad kan + rLung 19-23 Bad kan + mKris pa 24-28

Tipo (complexo) 29-33

33

101

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B. Predominâncias Simples Elevação e 18 Dois humores predominantes redução de 18 Três humores predominantes humores 38

Superveniente 27

101

C. Localizações Região superior 18 Região interna 19 Região inferior Corpo 5 Região externa 20 Interna e externa 37

Mente 2

101

D. Variações

Doenças internas 48 Ferimentos 15 Febre e doenças quentes 19 Pústulas 19

101

A. Três humores 101 B. Predominâncias 101 C. Localizações 101 D. Variações 101

Total de doenças 404

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Capítulo Dois DIAGNÓSTICO

Sumário do Capítulo Introdução A) Blocos de impressão do rGyud bzhi, Parte 1, Capítulo

4 – fólios 8a, 8b, 9a B) Transliteração do texto C) Tradução do texto D) Apresentação E) Métodos diagnósticos

1. Observação 2. Palpação 3. Questionamento

INTRODUÇÃO

Na transliteração, a divisão do texto em estrofes de quatro linhas foi ignorada, como no Volume I. Os parênteses que foram incluídos na transliteração (8b1-9a1) mostram os fólios, as páginas e as linhas do bloco de impressão. Os números que aparecem dentro de

colchetes correspondem aos da tradução; em outras palavras, os números [5]-[32] foram incluídos na tradução de forma que os termos correspondentes possam ser encontrados sem dificuldades. Na tradução do texto, os termos são marcados por números, com III-V representando os troncos e 1-38, as folhas. Esta identificação não foi de fácil realização e em alguns casos foi possível apenas com o auxílio de comentários.

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33

Dificuldades particulares surgiram na classificação do Tronco V = Questionamento. Felizmente, no entanto, a informação dos médicos tibetanos foi particularmente útil. Portanto, foi possível realizar a identificação de todas as 38 folhas e os 8 ramos de forma que todos os termos puderam ser definidos. Na apresentação, foi impossível evitar em algumas situações o uso de termos retirados do texto original de uma forma gramatical ligeiramente diferente. Os troncos da Raiz B = Diagnóstico

Tronco III Observação Tronco IV Palpação Tronco V Questionamento

foi assim analisado. Após o bloco de impressão (A), a transliteração (B), a tradução (C) e a apresentação (D) vem uma descrição dos métodos diagnósticos (E), principalmente dedicada ao mais importante método diagnóstico utilizado pelos médicos tibetanos, o diagnóstico pelo pulso.

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RAIZ B

Diagnóstico

Observação Palpação Questionamento

2 ramos 3 ramos 3 ramos 6 folhas 3 folhas 29 folhas

III IV V

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35

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36

A) BLOCO DE IMPRESSÃO

rGyud bzhi, Parte 1 Capítulo 4 Fólio 8a

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37

rGyud bzhi, Parte 1 capítulo 4 Fólio 8b Fólio 9a

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B) TRANSLITERAÇÃO DO TEXTO

de nas yang drang srong Rig pa‟i ye shes kyis „di skad ces gsungs so

kye drang srong chen po nyon cig

nad la blta reg dri bas yongs shes bya [1]

(8b1) mig gis blta ba lce dang chu la brtag [2]

brtag pa „di ni mthong ba yul rig yin [3]

sor mos reg pa brda sbyor „phrin pa rtsa [4]

brtag pa „di ni dpyod pa don rig yin [5]

ngag gis dri ba slong rkyen na lugs zas [6]

brtag pa „di ni thos pa (8b2) sgra rig yin [7]

rlung gi lce ni dmar zhing skam la rtsub [8]

mkhris lce bad kan skya sar mthug pos g-yogs [9]

bad kan skya gleg mdangs med „jam la rlon [10]

rlung gi chu ni chu „dra lbu ba che [11]

mkhris chu dmar ser rlangs che dri ma (8b3) dugs [12]

bad kan chu ni dkar la dri rlangs chung [13]

rlung gi rtsa ni rkyal stong skabs su sdod [14]

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C) TRADUÇÃO DO TEXTO

Então novamente o sábio Rig pa‟i ye shes falou: “Oh grande sábio, ouça-me! No caso das doenças, elas podem ser reconhecidas completamente através da observação, da sensação (do pulso) e do questionamento. Observar com os olhos e o exame da língua (I) e da urina (II) – estes exames dão o conhecimento do local, por causa da observação.

Sentir com o dedo o (batimento do ) pulso (III-V) que transmite a informação – [5] este exame dá o conhecimento do ponto principal, por causa da investigação. Questionar com a voz as causas relacionadas (VI), as condições da doença (VII) e a alimentação (VIII) – este exame fornece o conhecimento da fala, por causa da audição. A língua de (uma pessoa que sofre de uma doença de) rLung é vermelha, seca e áspera (1). A língua de (uma pessoa que sofre de) mKris pa é coberta com muco espesso e castanho-amarelado. [10] A língua de (uma pessoa que sofre de uma doença de) Bad kan é cinza, grossa, sem brilho, lisa e úmida (3). A urina de (uma pessoa que sofre de uma doença de) rLung é semelhante à água (e apresenta) bolhas grandes (4). A urina de (uma pessoa que sofre de uma doença de) mKris pa é amarelo-avermelhada, (apresenta) muito vapor e (possui) cheiro picante (5). A urina de (uma pessoa que sofre de uma doença de) Bad kan é branca, possui pouco odor e pouco vapor (6).

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O pulso de (uma pessoa que sofre de uma doença de) rLung é flutuante, vazio e interrompido às vezes (7).

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Mkhris pa‟i rtsa ni mgyogs rgyas grims par „phar [15]

bad kan rtsa ni bying rgud dal ba‟o [16]

dri ba yang la rtsub pa‟i zas spyod kyi [17]

(8b4) rkyen gyis g-yal „dar bya rmyang grang shum byed [18]

dpyi dang rked pa rus tshigs ma lus na [19]

gzer ba nges med „pho zhing stong skyugs byed [20]

dbang po mi gsal shes pa „tshub pa dang [21]

bkres dus na zhing snum bcud phan par nges [22]

rno zhing tsha (8b5) ba‟i zas dang spyod lam gyis [23]

kha kha mgo na sha drod tsha ba dang [24]

stod gzer zhu rjes na zhing bsil ba phan [25]

lci la snum pa‟i zas dang spyod lam gyis [26]

dang ga mi bde kha zas „ju ba dka‟ [27]

skyug cing kha mngal pho ba tshing ste sgreg [28]

(8b6) lus sems lci la phyi nang gnyis ka grang [29]

zos rjes mi bde zas spyod dro na „phrod [30]

de ltar brtag thabs sum cu rtsa brgyad kyis [31]

nad kun „khrul med nges par gtan la „bebs [32]

zhes gsungs so

bdud rtsi snying po yan lag brgyad pa (9a1) gsang ba man ngag gi rgyud las ngos „jin rtags kyi le‟u ste bzhi pa‟o

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[15] O pulso de (uma pessoa que sofre de uma doença de) mKris pa bate rapidamente (e pulsa) sutilmente (8). O pulso de (uma pessoa que sofre de uma doença de) Bad kan é profundo, fraco e lento (9).

(Quanto ao) questionamento, por causa de alimento e comportamento leve e áspero, (10): bocejos e tremores (11), espreguiçamento (12), calafrios (13), dores em todas as articulações da coxa e quadril (14) [20], dores indefinidas que se movimentam (15), vômito (de estômago) vazio (16), os órgãos dos sentidos não têm brilho (17), o conhecimento está embotado (18), há dor na hora da fome (19). Alimento oleoso é certamente benéfico (20).

(Condições das doenças) por causa de alimento e comportamento pungente e quente (21): gosto amargo (22), cefaléias (23), ondas de calor (24) [25], dores na região superior (do corpo) (25), dores após a digestão (26).

(Alimento) frio (27) (é certamente) benéfico.

(Condições das doenças) por causa de alimento e comportamento pesado e oleoso (28): falta de apetite (29), dificuldade em digerir o alimento (30), vômitos (31), (gosto ruim na) boca (32), distensão abdominal (33), eructações (34), corpo e mente tornam-se pesados (ambos) (35), sensação de frio dentro e fora do corpo (36), [30] desconforto após comer (37).

Alimento e comportamento mornos (38) são certamente benéficos.

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Portanto, por meio dos 38 métodos de exame, todas as doenças (podem) ser classificadas sem erro e com certeza.” Assim expressou o sábio. Quarto capítulo sobre o diagnóstico do Tratado Secreto da Instrução sobre os Oito Ramos da Essência da Imortalidade.

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D) APRESENTAÇÃO

RAIZ B

Diagnóstico

ngos ‘dzin rtags

Tronco III Observação

blta

Tronco III tem dois ramos:

1º ramo = língua (I) lce 2º ramo = urina (água) (II) chu

2 ramos

Estes dois ramos correspondem aos detalhes gerais do Tronco = Observação

Do 1º ramo nascem

3 folhas

Língua (I)

lce

rLung (1)

rlung

vermelha dmar seca skam áspera rtsub

Língua (I)

lce

mKris pa (2)

mkhris pa

coberta com muco grosso e castanho bad kan skya sar mthug pos g-yogs

Língua (I)

lce

Bad kan (3)

bad kan

cinza skya grossa gleg sem brilho mdangs med macia „jam úmida rlon

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Do 2º ramos nascem

3 folhas

Urina (II)

chu

rLung (4)

rlung

semelhante à água chu „dra bolhas grandes lbu ba che

Urina (II)

chu

mKris pa (5)

mkhris pa

amarelo-avermelhada dmar ser muito vapor rlangs che cheiro quente 5 dri ma dugs

Urina (II)

chu

Bad kan (6)

bad kan

branca dkar pouco cheiro dri chung pouco vapor rlangs chung

6 folhas

Estas 6 folhas contém detalhes específicos do Tronco = Observação

RAIZ B

Tronco III = 2 ramos

Ramo 1 = 3 folhas

Ramo 2 = 3 folhas

6 folhas

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Raiz B Diagnóstico

ngos ‘dzin rtags

Tronco IV Sensação (do pulso do vaso) = Palpação

reg pa

Tronco IV tem 3 ramos:

1º ramo = rLung (III) rlung 2º ramo = mKris pa (IV) mkhris pa 3º ramo = Bad kan (V) bad kan

3 ramos

Estes 3 ramos correspondem aos detalhes gerais do Tronco = Sensação (do pulso do vaso) = Palpação

Do 1º ramos nasce

1 folha

rLung (7)

rlung

flutuante rkyal vazio stong com interrupções skabs su sdod

Do 2º ramo nasce

1 folha

mKris pa (8)

mkhris pa

bate rapidamente, difunde-se (e bate) sutilmente

mgyogs rgyas grims par „phar

Do 3º ramo nasce

1 folha

Bad kan (9)

bad kan

profundo bying fraco rgud lento dal ba

3 folhas

Estas 3 folhas contém detalhes específicos do Tronco = Sensação (do pulso do vaso) = Palpação

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RAIZ B

Tronco IV = 3 ramos Ramo 1 = 1 folha Ramo 2 = 1 folha Ramo 3 = 1 folha

3 folhas

RAIZ B

Diagnóstico

ngos ‘dzin rtags

Tronco V Questionamento

dri ba

Tronco V tem 3 ramos:

1º ramo = causas produtoras (VI)

slong rkyen

2º ramo = condições das doenças (VII) na lugs 3º ramo = alimentação (VIII) zas

3 ramos

Estes 3 ramos correspondem aos detalhes gerais do Tronco = Questionamento

Do 1º ramo nascem

3 folhas

Causas produtoras (VI)

slong rkyen

rLung (10)

rlung

leve yang áspero rtsub

mKris pa (21)

mkhris pa

pungente rno quente tsha

Bad kan (28)

bad kan

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pesado lci oleoso snum

Do 2º ramo nascem

23 folhas

Condições das doenças (VII)

na lugs

rLung:

rlung

1. bocejos e tremores (11) g-yal „dar 1. espreguiçamento (12) bya rmyang 1. calafrios (13) grang shum byed 1. dores em todas as articulações da

coxa e quadril (14) dpyi dang rked pa

rus tshigs ma lus na 1. dores indefinidas que se movi-

mentam (15) gzer ba nges med

„pho 1. vômito (de estômago) vazio (16) stong skyugs byed 1. os órgãos sensoriais não têm brilho (17) dbang po mi gsal 1. conhecimento está embotado (18) shes pa „tshub pa 1. dor quando tem fome (19) bkres dus na

mKris pa

mkhris pa

1. gosto amargo (22) kha kha 1. cefaléias (23) mgo na 1. ondas de calor (=febre) (24) sha drod tsha ba 1. dores na região superior (do corpo) (25) stod gzer 1. dores após a digestão (26) zhu rjes na

Bad kan

bad kan

1. falta de apetite dang ga mi bde 1. dificuldade em digerir o alimento (30) kha zas „ju ba dka‟ 1. vômitos (31) skyug 1. (gosto ruim na) boca (32) kha mngal 1. distensão abdominal (33) pho ba tshing 1. eructações (34) sgreg 1. corpo e mente tornam-se pesados (35) lus sems lci 1. sensação de frio dentro e fora do

corpo (36) phyi nang gnyis ka

grang 1. desconforto após comer (37) zos rjes mi bde

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Condições das doenças:

rLung

9

mKris pa 5 Bad kan 9

23

Do 3º ramo nascem

3 folhas

Alimentação (VIII)

zas

rLung:

rlung

oleosa (20) snum

mKris pa:

mkhris pa

fria (27) bsil

Bad kan:

bad kan

morna (38) dro

29 folhas

Estas 29 folhas contém detalhes específicos do Tronco = Questionamento

RAIZ B

Tronco V = 3 ramos Ramo 1

= 3 folhas

Ramo 2 = 23 folhas Ramo 3 = 3 folhas

29 folhas

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Os seguintes termos foram retirados do Capítulo 4 (Parte 1) do livro rGyud bzhi: Raiz do Diagnóstico = ngos „dzin rtags kyi rtsa ba Tronco III = Observação 2 ramos 6 folhas

Tronco IV = Palpação 3 ramos 3 folhas

Tronco V = Questionamento 29 ramos 29 folhas

8 ramos 38 folhas

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E) MÉTODOS DIAGNÓSTICOS

Um médico tibetano tenta chegar ao fundo das causas de uma doença em particular através de um diagnóstico claro e, ao mesmo tempo, descobrir o tipo constitucional do paciente. Para diagnosticar os distúrbios que foram causados por fatores prejudiciais, o médico começa a realizar os seguintes exames: um exame geral do corpo um exame das partes afetadas do corpo um exame do abdome e da pele tomada de temperatura do paciente – através do exame

do pulso, etc. Então, o médico realiza exames mais específicos com uma observação e exame dos órgãos sensoriais, das secreções e excreções – fezes, urina, escarro, sangue e vômitos. Quando estes exames estiverem completos, os três métodos diagnósticos que foram analisados em nosso texto são aplicados: observação, palpação e questionamento. Na descrição destes métodos a seguir, será impossível, evidentemente, denominar todos os sintomas que são típicos das várias doenças. Melhor que isso, esperamos que se torne claro que os métodos diagnósticos são também organizados de uma maneira sistemática de acordo com os três humores – rLung (vento), mKris pa (bile) e Bad kan (fleuma). Gostaria de adicionar também que tive inúmeras oportunidades, durante minhas visitas aos Himalaias em 1962 e 1967, de observar médicos tibetanos realizando tais exames.

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No entanto, uma avaliação exata da precisão dos diagnósticos foi possível apenas alguns anos depois, em 1970, quando o Dr. Yeshe Donden, meu professor, passou algum tempo como meu hóspede. Em meu consultório ele foi apresentado a muitos de meus pacientes cujas patologias eu mesma já havia diagnosticado com exatidão. Descobri que Yeshe Donden era capaz de chegar a um diagnóstico extremamente preciso sem questionar o paciente sobre quaisquer aspectos – simplesmente através do exame do pulso e um exame da urina.

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RAIZ B Tronco III = Observação

blta

ramos folhas

lce 3 chu 3

2 6

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1. Observação

Diagnóstico através do exame da língua

Na medicina chinesa, o exame da língua é o segundo método mais importante de diagnóstico depois do exame do pulso. Todas as regiões do corpo estão relacionadas exatamente com as várias partes da língua de forma que as funções dos órgãos possam ser interpretadas. Tal distribuição precisa e metódica dos órgãos nas várias partes da língua não é encontrada na medicina tibetana. No entanto, o diagnóstico pelo exame da língua representa ainda assim um papel importante na medicina tibetana e seu valor pode ser avaliado pelo grande número de sintomas, característicos de várias doenças, relacionados à língua. Apesar disso, este método não ocupa uma posição central como na medicina chinesa. Antes de realizar um exame detalhado, qualquer tipo de partículas de alimento deve ser removido da língua. O exame deve, se possível, ser realizado à luz do dia ou com ótima iluminação. Antes do exame, o paciente deve ser questionado sobre quais alimentos ou

bebidas ele tenha comido ou bebido. Dedica-se uma atenção especial às seguintes características:

1. Coloração da língua. 2. Camada que recobre a língua. 3. Natureza da língua.

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Nas doenças de rLung (vento), a língua apresenta-se: vermelha seca áspera

Nas doenças de mKris pa (bile), a língua apresenta-se: coberta com uma grossa camada de muco castanho-avermelhado.

Nas doenças de Bad kan (fleuma), a língua apresenta-se: cinza grossa sem brilho macia úmida

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Diagnóstico através do exame da urina

Este método diagnóstico é considerado pelos

médicos tibetanos como particularmente importante. Isso é indicado pelo fato de que no livro rGyud bzhi (Parte 4, Capítulo 2), as numerosas características das várias doenças são consideradas de uma maneira detalhada e bastante exata.6 Este método é também de grande importância na prática da medicina tibetana. Quando possível, o paciente a ser examinado deve estar de estômago vazio ou, pelo menos, não ter ingerido grande quantidade de alimento. A micção da manhã é a melhor para o exame da urina – à noite, o exame deve ser evitado porque a coloração da urina é afetada pelos gêneros alimentícios que o paciente tenha ingerido durante o dia. Yeshe Donden utilizou apenas a urina da manhã para realizar tal diagnóstico nos pacientes que examinou em meu consultório. A urina normal é descrita como segue: coloração amarelo-esbranquiçada, exala quantidade normal de vapor, não forma muitas bolhas e apresenta um odor tênue. Yeshe Donden pediu-me um recipiente em forma de tigela, pequeno e limpo, para realizar o exame. Os médicos tibetanos nos Himalaias também enfatizaram que o recipiente deve ser muito limpo. Em seguida, o médico requisitou uma vareta de madeira clara. A urina a ser examinada é despejada dentro do recipiente e agitada com a vareta de madeira. Observei que o exame subsequente dura longo tempo porque as seguintes características devem ser registradas:

1. Coloração

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2. Formação de vapor 3. Cheiro 4. Formação de bolhas 5. Sedimentos Todas essas características são importantes, mas

a formação de bolhas e o sedimento parecem ser particularmente significativos.

Nas doenças de rLung (vento) são formadas bolhas grandes e azuis.

Nas doenças de mKris pa (bile) poucas bolhas aparecem muito rapidamente.

Nas doenças de Bad kan (fleuma) as bolhas são pequenas e azuladas.

Nas doenças quentes há grande quantidade de sedimento muito espesso.

Nas doenças frias há pequena quantidade de um sedimento muito ralo.

Nas doenças de rLung, a urina possui as seguintes características:

semelhante à água grandes bolhas.

Nas doenças de mKris pa, a urina apresenta as seguintes características:

amarelo-avermelhada cheiro forte.

Nas doenças de Bad kan, a urina apresenta as seguintes características:

branca pouco odor pequena quantidade de vapor.

Yeshe Donden enfatizou particularmente que há certas características que apontam para a presença de

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doenças fatais – e que elas também são descritas no rGyud bzhi como citado a seguir: – uma doença fatal de rLung está presente quando a urina é quase azul escura na coloração e apresenta a superfície ondulada; – uma febre fatal está presente quando a urina é vermelho-escura e apresenta odor bolorento, e quando estes sintomas não desaparecem mesmo após a prescrição de medicamentos para reduzir a febre; – uma doença fria fatal está presente quando a urina não exala qualquer cheiro, apresenta a coloração quase azul, não há qualquer sedimento nem formação de bolhas, e ainda se esses sinais não desaparecem após a prescrição da medicação correspondente.

O diagnóstico feito através do exame da urina, no qual os médicos tibetanos possuem domínio magistral, e o qual é realizado apenas com a utilização dos órgãos sensoriais, deve encorajar-nos, médicos ocidentais, a desenvolvermos a sensibilidade de nossos órgãos sensoriais, embotados pela nossa confiança em instrumentos e equipamentos, de forma a colocar em prática métodos diagnósticos sensíveis como esse. O diagnóstico através da urina praticado pelos médicos tibetanos poderia ser de grande auxílio para nós também.

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RAIZ B Tronco IV = Palpação

reg pa

ramos folhas

rlung 1 mkhris pa 1 bad kan 1

3 3

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60

2. Palpação

Diagnóstico através do exame do pulso

Para os médicos tibetanos, as funções dos órgãos

parecem ser mais importantes do que o conhecimento de sua estrutura anatômica fundamental. O diagnóstico através do pulso é visto como o mais importante método diagnóstico por causa da informação sobre as funções dos órgãos obtida dessa maneira. Em outras palavras, as funções orgânicas – palpáveis em posições no pulso – tornam-se evidentes aos médicos tibetanos e são, portanto, uma clara indicação do tipo de terapia a ser aplicada. Ao reconhecermos o diagnóstico pelo pulso utilizado nos métodos de tratamento asiáticos, cometemos sempre o mesmo erro. Consideramos que os órgãos da anatomia ocidental são idênticos à perspectiva funcional dos órgãos na medicina asiática, em nosso caso, com os “órgãos” don e snod. Estes termos tibetanos são apenas vagamente relacionados com os órgãos da anatomia ocidental.

Técnica

Os médicos tibetanos distinguem três posições

nas quais os pulsos devem ser sentidos: os pulsos superiores (cabeça) os pulsos medianos (mão) os pulsos inferiores (pé)

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No entanto, a palpação na mão, ou seja, os pulsos medianos, é a mais comumente praticada pelos médicos tibetanos. O médico utiliza sua mão direita para examinar os pulsos da mão do paciente que fica do lado esquerdo do corpo. A palpação é realizada com o dedo indicador (mtshon), o dedo médio (kan ma) e o dedo anelar (chag).

O exame real do pulso é realizado da seguinte maneira. O médico toma a mão do paciente e vira-a de forma que os sulcos do punho possam ser vistos facilmente. Então o médico pega a outra mão do paciente e coloca a falange distal desta mão sobre o sulco proximal da outra mão. Assim, a posição do pulso é indicado pela distância entre o relevo da falange do polegar e o sulco da mão do paciente. O médico coloca seus três dedos acima relacionados sobre este ponto – eles devem estar dispostos em linha reta e não devem tocar uns nos outros. A pressão exercida sobre cada um dos três dedos é diferente, com o dedo indicador exercendo a menor pressão.

As posições do pulso parecem-me dispostas ligeiramente mais para o meio do que as dos chineses. Normalmente, o exame do pulso não é realizado em ambas as mãos ao mesmo tempo; nas mulheres o pulso da mão direita é examinado primeiro, nos homens, o pulso da mão esquerda. Após, os pulsos de ambas as mãos são examinados ao mesmo tempo. Alguns médicos tibetanos – aqueles com grande experiência – examinam na verdade, desde o início, os pulsos de ambas as mãos ao mesmo tempo. O tempo gasto para realizar tal exame varia de acordo com a dificuldade do diagnóstico no caso em questão. Primeiramente, o médico compara o pulso do paciente com sua própria respiração: se 5 pulsações são contadas desde o início

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da inspiração ao final da expiração, o paciente não apresenta nenhuma doença séria. No entanto, se mais ou menos do que 5 pulsações são contadas, o exame do pulso irá certamente prolongar-se por um certo tempo, uma vez que esse é um sintoma de distúrbios de uma natureza mais séria. Geralmente, um diagnóstico pelo pulso leva entre 5 a 10 minutos, mas algumas vezes pode demorar-se mais.

A melhor hora do dia para o exame do pulso é pela manhã. O paciente deve estar em jejum ou, pelo menos, não deve ter comido ou bebido grande quantidade de alimento ou bebida. O paciente também deve estar relaxado, se possível.

Os médicos tibetanos explicam o exame do pulso de maneira típica também: sobre as extremidades de seus três dedos palpadores, o médico descreve as seis posições que são palpadas. Dois órgãos são relacionados a cada extremidade dos dedos da mão direita e esquerda.7

Posições profundas e superficiais

Superficial (pressão leve): todos os órgãos sólidos (don) Profunda (pressão forte): todos os órgãos ocos (snod)

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63

Topologia

mão esquerda do paciente

mão direita do médico mão direita do paciente mão esquerda do médico

Mulher

Indicador (mtshon)

don (direito) pulmões (glo ba) coração (snying) snod (esquerdo)

I intestino grosso (long ka) intestino delgado (rgyu ma)

médio (kan ma)

don (direito) baço (mcher pa) fígado (mchin pa) snod (esquerdo)

II estômago (pho ba) vesícula biliar (mkhris pa)

anelar (chag)

don (direito) rim esquerdo (mkhal g-yon) rim direito (mkhal g-yas) snod (esquerdo)

III bsam se‟u bexiga (lgang pa)

Homem

indicador (mtshon)

don (direito) coração (snying) pulmões (glo ba) snod (esquerdo)

I intestino delgado (rgyu ma) intestino grosso (long ka)

médio (kan ma)

don (direito) baço (mcher pa) fígado (mchin pa) snod (esquerdo)

II estômago (pho ba) vesícula biliar (mkhris pa)

anelar (chag)

don (direito) rim esquerdo (mkhal g-yon) rim direito (mkhal g-yas) snod (esquerdo)

III bsam se‟u bexiga (lgang pa)

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64

Mão esquerda do paciente Mão direita do médico

indicador

mtshon

1 2

I

médio kan ma

3 4

II

anelar

chag

5 6

III

Mulher

1 2

pulmões

intestino delgado

glo ba long ka

indicador I

3 4

baço

estômago

mcher pa pho ba

médio II

5 6

rim esquerdo

bsam se‟u

mkhal g-yon bsam se‟u

anelar III

Homem

1 2

coração

intestino delgado

snying rgyu ma

indicador I

3 4

baço

estômago

mcher pa pho ba

médio II

5 6

rim esquerdo

bsam se‟u

mkhal g-yon bsam se‟u

anelar III

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65

Mão direita do paciente Mão esquerda do médico

I 1

2

indicador

mtshon

II 3

4

médio kan ma

III 5

6

anelar

chag

Mulher

1 2

coração

intestino delgado

snying rgyu ma

indicador I

3 4

fígado

vesícula biliar

mchin pa mkhris pa

médio II

5 6

rim direito

bexiga

mkhal g-yas lgang pa

anelar III

Homem

1 2

pulmões

intestino delgado

glo ba long ka

indicador I

3 4

fígado

vesícula biliar

mchin pa mkhris pa

médio II

5 6

rim direito

bexiga

mkhal g-yas lgang pa

anelar III

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66

Os órgãos na medicina tibetana estão divididos em dois grupos: 5 órgãos sólidos: coração, fígado, pulmões, baço e rins 6 órgãos ocos: intestino grosso, vesícula biliar, intestino delgado, estômago, bexiga e bsam se‟u

Esta classificação dos órgãos em grupos é notável. No Volume 1, descobrimos a distribuição dos don e snod em rLung (vento), mKris pa (bile) e Bad kan (fleuma):

rLung mKris pa Bad kan

don coração fígado baço rins pulmões

snod intestino grosso bsam se‟u

vesícula biliar intestino delgado

estômago bexiga

As relações entre os três humores e os vários órgãos podem ser claramente observadas no caso do diagnóstico através do exame do pulso:

Todos os órgãos sólidos (don) são palpados com o

lado direito da extremidade do dedo; Todos os órgãos ocos (snod) são palpados com o

lado esquerdo da extremidade do dedo.

As diferenças entre os pulsos dos homens e das mulheres são as seguintes:

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67

Posição I

Mulheres mão esquerda do paciente e mão direita do médico = pulmões (glo ba) e intestino delgado (long ka) mão direita do paciente e mão esquerda do médico = coração (snying) e intestino delgado (rgyu ma)

Homens mão esquerda do paciente e mão direita do médico = coração (snying) e intestino delgado (rgyu ma) mão direita do paciente e mão esquerda do médico = pulmões (glo ba) e intestino grosso (long ka)

Uma comparação entre os pulsos chineses e tibetanos

Na medicina tradicional chinesa, os seguintes órgãos são definidos como:

Os cinco tsang = órgãos sólidos (Yin): fígado,

coração, baço, pulmões, rins (circulação – sexo). Este grupo de órgãos corresponde aos cinco don descritos no Volume 1.

Os seis fu = órgãos ocos (Yang): vesícula biliar, intestino delgado, estômago, intestino grosso, bexiga, triplo – aquecedor. Este grupo de órgãos corresponde aos seis snod como descrito no Volume 1.

A principal diferença: Todos os grupos são interligados. Órgãos sólidos tibetanos (don): superficial. Órgãos ocos tibetanos (snod): profundo. Órgãos ocos chineses (fu): superficial. Órgãos sólidos chineses (tsang): profundo.

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Pulsos chineses

mão esquerda do paciente mão direita do paciente

coração intestino delgado

I

pulmões intestino delgado

I

fígado vesícula biliar

II

baço estômago

II

rins bexiga

III

circulação – sexo triplo-aquecedor = san chiao

III

Chinês Tibetano Chinês Tibetano

mão esquerda do paciente mão direita do paciente

I coração intestino delgado

coração intestino delgado

homens

pulmões intestino grosso

pulmões intestino grosso

homens

pulmões intestino grosso

mulheres

coração intestino delgado

mulheres

II fígado vesícula biliar

baço estômago

baço estômago

fígado vesícula biliar

III rins bexiga

rim esquerdo bsam se‟u mulheres

Circulação-sexo triplo-aquecedor = san chiao

rim direito bexiga

rim esquerdo bsam se‟u homens

Uma comparação das posições das tomadas de pulso mostra em quais aspectos o diagnóstico pelo pulso tibetano e chinês diferem e assemelham-se. Se considerarmos as posições, encontramos que o diagnóstico tibetano pelo pulso, até certo ponto, retrata mais fielmente a estrutura anatômica real do corpo quando o baço é palpado sobre a mão esquerda, enquanto o fígado e a vesícula biliar são palpados do lado direito. Devemos adicionar também que não há falta de lógica quando os rins, um par de órgãos, são

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palpados de ambos os lados, tanto na mão esquerda quanto na direita. Devemos fazer alguma observação sobre o órgão “bsam se‟u”. Este termo não aparece no texto onde os grupos de órgãos, “don” e “snod” são relacionados (rGyud bzhi, Parte 1, Capítulo 3, Volume 1). Apesar disso, os tibetanos relacionam este órgão como um dos órgãos ocos (snod), o sexto nesse grupo. Bastante estranho, no entanto, nas tabelas de pulsologia que examinei enquanto estive com os médicos tibetanos, este órgão é referido como “bsam se‟u” = vesícula seminal, na posição correspondente dos pulsos femininos, o útero (mngal). O fato de que a divisão dos órgãos em grupos descrita acima é idêntica na medicina tibetana e chinesa (tsang – Yin = don, fu – Yang = snod), indica que os tibetanos muito provavelmente adotaram o diagnóstico pelo pulso a partir dos chineses. É possível que com o termo “bsam se‟u”, os tibetanos tenham criado seu equivalente ao órgão triplo-aquecedor chinês (chin san chiao).

Notas históricas

Na medicina antiga indiana, há também analogias entre os três humores e certos órgãos, mas não há uma estrita divisão como na medicina chinesa. Por outro lado, a divisão dos órgãos tibetanos em “don” e “snod” é quase idêntica à dos chineses. Portanto, podemos afirmar que, uma vez que os tibetanos utilizam esses grupos de órgãos em seu diagnóstico do pulso, eles o adotaram dos chineses. Está registrado que os primeiros livros tibetanos sobre diagnóstico pelo pulso foram escritos por um

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70

médico tibetano, gYu thog pa Yon tan mgon po rnying ma. Esses livros foram entitulados “mngon shes gnad kyi „phrul „khar” e “rtsa dpyad rig pa rab gsal sde gsal sde tshan lnga pa lag len pod chung”. gYu thog pa Yon tan mgon po rnying ma (o mais velho), foi contemporâneo do rei Khri srong lde btsan, que reinou de 755 até 797 D.C. A suposição de W. A. Unkrig (na Introdução da obra “Die tibetische Medizinphilosophie” por C. von Korvin-Krasinski, págs. xxi-xxii, de que o conhecimento sobre o pulso e a palpação pode ser atribuído a gYu thog pa Yon tan mgon po gsar pa (o mais novo), que viveu no século 11, está obviamente incorreta. Pelo fato de gYu thog pa Yon tan mgon po rnying ma (o mais velho) ter escrito dois livros altamente respeitados sobre o diagnóstico tibetano pelo pulso, devemos admitir que o diagnóstico pelo pulso já devia ser conhecido pelos tibetanos em sua forma atual desde os meados do século 8. Esta suposição é também sustentada pelo fato de que a medicina tibetana floresceu exatamente nessa época. Um intercâmbio de idéias particularmente ativo entre os vários sistemas médicos estava em progressão naquela época, como pode ser demonstrado pelo “Debate de bSam yas”, ocorrido em 794 D.C., no qual participaram médicos da China, Índia, Pérsia, Nepal, Sinkiang, Kashmir e Afeganistão. No entanto, a data exata das primeiras influências chinesas nesta esfera pode ser determinada apenas quando alguns livros – pelo menos vinte e quatro – sobre diagnóstico chinês pelo pulso tiverem sido traduzidos pelos Sinologistas. Apenas então será possível determinar a diferença entre os diagnósticos pelo pulso tibetano e chinês.8

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RAIZ B Tronco V = Questionamento

dri ba

ramos folhas

slong rkyen 3 na lugs 23

zas 3

3 29

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72

3. Questionamento (Anamnese)

Um questionamento correto do paciente é considerado uma maneira clara de reconhecer uma doença. Primeiramente, o médico pergunta ao

mensageiro que foi enviado pelo paciente: 1) Quais as queixas gerais ou específicas de que sofre o

paciente; 2) A quais tratamento ele já se submeteu; 3) Quando o paciente ficou doente; e 4) Que médico já tratou do paciente. Quando recebe as respostas a essas questões, um bom médico já deve ter uma idéia do que está errado com o paciente. Quando questiona realmente o paciente, o médico está interessado em descobrir: que medicamentos ele já tomou; se já foram realizados sangria ou outros métodos de tratamento; e finalmente, o que o paciente refere que está errado consigo e o que comeu ou bebeu. Após essas questões gerais o médico precisa observar o sistema prescrito que possibilita diagnosticar tanto o que está errado com o paciente como o tipo constitucional do mesmo.

1. Causas Produtoras

Um médico tibetano sabe quais características das potências dos medicamentos ou alimentos como causas produtoras podem levar ao aparecimento de certas condições de doenças. Assim, ele pergunta ao paciente, primeiramente, se as condições leves e ásperas,

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pungentes e quentes, pesadas e oleosas se harmonizam com ele. Uma doença de rLung está presente se o paciente responde que condições leves e ásperas não condizem com ele. O paciente está sofrendo de uma doença de mKris pa se ele responde que as condições pungentes e quentes não condizem com ele. O paciente sofre de uma doença de Bad kan se ele responde que as condições pesadas e oleosas não se harmonizam com ele. Estas são as três questões sobre as causas produtoras.

2. Condições das Doenças

Sabedor de que há certas condições que levam às doenças, as quais estão relacionadas com os três tipos constitucionais e suas patologias, o médico tibetano pergunta ao paciente se as seguintes condições estão presentes:

1) bocejos e tremores, 2) espreguiçamento, 3) calafrios, 4) dores em todas as articulações da coxa e quadril, 5) dores indefinidas que se movimentam, 6) vômito (de estômago) vazio, 7) os órgãos dos sentidos não têm brilho, 8) o conhecimento está embotado, 9) há dor na hora da fome.

Se esses sintomas estiverem presentes, o paciente é um tipo rLung e está sofrendo de uma doença de rLung.

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1) gosto amargo, 2) cefaléias, 3) ondas de calor, 4) dores na região superior (do corpo), 5) dores após a digestão.

Se esses sintomas estão presentes, o paciente é um tipo mKris pa e está acometido de uma doença de mKris pa.

1) falta de apetite, 2) dificuldade em digerir o alimento, 3) vômitos, 4) gosto ruim na boca, 5) distensão abdominal, 6) eructações, 7) corpo e mente tornam-se pesados (ambos), 8) sensação de frio dentro e fora do corpo, 9) desconforto após comer.

Se esses sintomas estiverem presentes, o paciente é um tipo Bad kan e está acometido de um distúrbio de Bad kan.

Estas são as 23 questões sobre as condições das doenças (rLung = 9, mKris pa = 5, Bad kan = 9).

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3. Alimentação

Sabedor de que alimentos com características específicas podem acarretar uma melhora nas condições do paciente, o médico pergunta, finalmente,

ao paciente: 1) Se ele melhora após a ingestão de alimentos

oleosos. Se esse for o caso, o paciente é um tipo rLung e está acometido de uma doença de rLung.

2) Se ele sente-se melhor após a ingestão de alimentos que sejam frios. Se esse for o caso, o paciente é um tipo mKris pa e está acometido de um distúrbio de mKris pa.

3) Se ele melhora após a ingestão de alimentos que sejam mornos. Se esse for o caso, o paciente é um tipo Bad kan e está acometido de um distúrbio de Bad kan.

Estas são as três questões sobre a alimentação.

Resumo

1. causas produtoras 3 questões 2. condições das doenças 23 questões 3. alimentação 3 questões

29 questões Estas 29 questões são características típicas da medicina tibetana e os médicos tibetanos costumam conduzir o questionamento dessa maneira sistemática. Pude observar freqüentemente como os médicos nos Himalaias eram capazes de restringir as possibilidades de uma doença através destas questões especialmente direcionadas e determinar também o tipo constitucional

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do paciente. No entanto, o fato é que existem relativamente poucas pessoas que sejam definidamente rLung, mKris pa e Bad kan. A maioria das pessoas são casos mistos, sendo que as características dominantes determinam o tipo constitucional do indivíduo. Se, no entanto, as características forem demasiadamente mistas de forma a serem igualmente divididas entre todos os três tipos, são então relacionados em tipos mistos como “rLung-mKris pa” ou “Bad kan-mKris pa”, por exemplo. O tipo de tratamento também é direcionado a tais características. É difícil imaginar qualquer outra medicina tendo tal sistema inteligente e sistemático de questionamento como a medicina tibetana. Certamente, os médicos tibetanos colocam muita ênfase neste detalhado e exato método de questionamento. Diz-se que os médicos que podem diagnosticar uma doença após um grupo de questões são bem conhecidos e gozam de ótima reputação.

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Capítulo Três TERAPÊUTICA

Sumário do Capítulo Introdução A) Bloco de impressão do rGyud bzhi, Parte 1, Capítulo

5 – fólio 9a, 9b B) Transliteração do texto C) Tradução do texto D) Apresentação E) Métodos de tratamento

1. Nutrição 2. Comportamento 3. Medicamentos 4. Tratamentos

INTRODUÇÃO

Como no capítulo anterior, os fólios, páginas e linhas do bloco de impressão foram incluídos na transliteração (9a2-9b4). Na tradução, os troncos estão numerados de VI-IX e as folhas de 1-98. Foi possível também neste caso identificar todas as 98 folhas e os 27 ramos, de forma que todas as 98 folhas foram enumeradas consecutivamente.

Os 4 troncos da Raiz C = Terapêutica

VI Nutrição VII Comportamento VIII Medicamentos IX Tratamentos

foram, portanto, analisados e apresentados na mesma ordem como no capítulo anterior: Blocos de impressão (A), Transliteração (B), Tradução (C) e Apresentação (D). Os métodos terapêuticos (E) serão então descritos aqui.

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Descrições um pouco mais detalhadas estão incluídas nos métodos terapêuticos que podem ser mais facilmente aplicados no Ocidente – moxabustão e sangria. Evidentemente, será possível trabalhar aqui apenas com os métodos mencionados no texto em questão. O repertório completo de métodos de tratamento é naturalmente muito longo e deverá ser trabalhado no Volume III. No entanto, esta descrição de alguns dos métodos torna mais óbvio uma vez que os métodos em questão referem-se claramente aos tipos constitucionais. Deve-se também acrescentar que a cirurgia não foi mencionada no sistema de medicina tibetana. Entretanto, uma breve descrição foi incluída neste volume.

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RAIZ C Terapêutica

Nutrição Comportamento Medicamentos Tratamentos

6 ramos

3 ramos

15 ramos

3 ramos

35 folhas 6 folhas 50 folhas 7 folhas

VI

VII

VIII

IX

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A) BLOCO DE IMPRESSÃO

rGyud bzhi, Parte 1 Capítulo 5 Fólio 9a

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rGyud bzhi, Parte 1 Capítulo 5 Fólio 9b

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B) TRANSLITERAÇÃO DO TEXTO

de nas yang drang srong Rig pa‟i ye shes kyis skad ces gsungs so

kye drang srong chen po nyon cig

(9a2) nad la gso bar byed pa‟i gnyen po ni [1]

zas dang spyod lam sman dpyad bzhi yin te [2]

rta bong „phyi ba lo sha sha chen dang [3]

„bru mar lo lar bu ram sgog skya btsong [4]

„o ma lca ba ra mnye zan chang dang [5]

bur chang rus chang rlung nad can gyi (9a3) zas [6]

ba ra‟i zho dar mar gsar ri dvags sha [7]

ra sha skom sha gsar pa chag tshe dang [8]

skyabs dang khur tshod chab tsha chu bsil dang [9]

bskol grangs mkhris pa‟i nad kyi zas su btsad [10]

lug dang g-yag rgod gcan gzan nya yi sha [11]

(9a4) sbrang rtsi skam sa‟i „bru rnying zan dron dang [12]

„bri yi zho dar gar chang chu skol ni [13]

ba kan nad gzhi can gyis bsten par bya [14

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84

C) TRADUÇÃO DO TEXTO

Então, novamente, o sábio Rig pa‟i ye shes falou assim: “Ouça, oh grande sábio! Para medidas que levem à cura no caso das doenças, existem quatro: nutrição, comportamento, medicamentos e tratamentos. Os alimentos para uma pessoa que sofre de doenças de rLung (I): cavalo (1), macaco (2), marmota (3), carne de um idoso (4),

carne humana (5), óleo de gergelim (6), óleo envelhecido (7), açúcar mascavo (8), alho (9), cebolas (10). [5] (II): leite (11), sopa de cenoura e alho (12), líquido extraído do açúcar cru (13), sopa de ossos (14). A alimentação de uma pessoa que sofre de um distúrbio de mKris pa (III) é: iogurtes de leite de vaca e cabra (15), manteiga (16), manteiga fresca (17), carne de veado (18), carne de cabrito (19), carne fresca de animais de desenvolvimento misto (20), cevada fresca (21), ervas “skyabs” (22), dente-de-leão (23), (IV): água quente (24), água fria (25), [10] (água) fervida e fria (26). (Os seguintes alimentos) devem ser adotados pelas pessoas afetadas por Bad kan (V) como base da doença: carneiro (27), iaque selvagem (28), animais de caça (29), peixe fresco (30), mel (31), mingau quente de grãos envelhecidos plantados em solo seco (32), (VI): iogurtes e manteiga da fêmea do iaque (33), cerveja forte (34), água fervida (35).

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85

rlung la dro sar yid „ong grogs bsten dzing [15]

mkhris pa‟i nad la bsil sar dal bar bsdad [16]

bad (9a5) kan nad la rtsol bcad dro sa bsten [17]

rlung la mngar skyur lan tsha snum lci „jam [18]

mngar kha bska bsil sla rtul mkhris pa‟i sman [19]

tsha skyur bska rno rtsub yang bad kan no [20]

ro nus de la sbyor ba zhi sbyang gnyis [21]

zhi byed rlung la khu ba (9a6) sman mar gnyis [22]

mkhris pa‟i nad la thang dang cur nis bsten [23]

bad kan nad la ril bu tres sam sbyar [24]

lhu ba rus khu bcud bzhi mgo khrol te [25]

sman mar dza ti sgog skya „bras bu gsum [26]

rtsa ba lnga dang sman chen dag la (9b1) sbyar [27]

ma nu sle tres tig ta „bras bu‟i thang [28]

ga bur tsan dan gur gum cu gang phye [29]

btsan dug tshva sna rnams kyi ril bu dang [30]

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[15] No caso de (um distúrbio de) rLung (VII), o paciente deve manter-se na companhia de pessoas agradáveis (36) em local aquecido (37). No caso de (um distúrbio de) mKris pa (VIII), o paciente deve sentar-se calmamente (38) em um local fresco (39). No caso de (um distúrbio de) Bad kan (IX), o paciente deve fazer caminhadas enérgicas (40) e conservar-se em local aquecido (41). No caso de rLung (X): doce (42), azedo (43) e salgado (44). (XI): oleoso (45), pesado (46) e suave (47). Medicamentos para mKris pa (XII): doce (48), amargo (49), (e) adstringente (50). (XIII): frio (51), fraco (52) e embotado (53). [20] E (no caso de) Bad kan (XIV): pungente (54), azedo (55) e adstringente (56), (XV): penetrante (57), áspero (58) (e) leve (59).

Quanto aos sabores (X-XII-XIV) e potências (XI-XIII-XV) citados, há dois tipos de preparações: (tornar) calmo e (tornar) limpo.

(Aqueles que) tornam calmo, nos casos de rLung, são de dois (tipos): sopas (XVI) (e) óleos medicinais.

(XVII) Nos casos de distúrbios de mKris pa o paciente deve tomar xaropes (XIII) e pós (XIX). Deve-se preparar pílulas (XX) (e) pastas (XXI) nos casos de distúrbios de Bad kan.

[25] Sopas: sopa preparada com ossos (60), os quatro sucos (61), e a (sopa) “mgo khrol” (62).

Óleos medicinais devem ser preparados com

nardo (63), alho (64), as três frutas (65), as três raízes (66) e os acônitos (67).

N. do T.: Nardostachys jatamansi.

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Xaropes de: rizoma de lírio florentino (68), “sle tres” (69), Swertia chirata (70) e as frutas (71).

Pós: cânfora (72), sândalo (73), açafrão (74) e suco resinoso do bambu (75).

[30] Pílulas: de acônito (76) e de vários tipos de sal (77).

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tres sam se „bru da lis rgod ma kha [31]

tshva dang cong dzi bsregs pa‟i thal sman no [32]

sbyong byed (9b2) rlung gi nad la „jam rtsi ste [33]

mkhris pa bshal la bad kan skyugs kyis sbyang [34]

„jam rtsi sle „jam bkru „jam bkru ma slen [35]

bshal la spyi bshal sgos bshal drag dang „jam [36]

skyugs la drag skyugs gnyis su sbyar [37]

dpyad du bsku mnye hor gyi me btsa‟ dang [38]

rngul dbyung gtar ga chu yi „phrul „khor dang [39]

dugs dang me btsa‟ rim bzhin dpyad kyis bcos [40]

de ltar gso thabs dgu bcu rtsa brgyad po [41]

(9b4) yengs med gus par brtson pas bsten byas na [42]

nad kyi „dam las myur du grol bar „gyur [43]

zhes gsungs so

bdud rtsi snying po yan la brgyad pa gsang ba man ngag gi rgyud las gso thabs kyi le‟u ste lnga pa‟o

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Pastas: romãs (78), rododendros (79), “rgod ma kha” (80) e medicamentos alcalinos à base de sal queimado (81) e pedra branca (82).

(Quanto às preparações que) purificam, nos casos de doenças de rLung (XXII), (utilizam-se) enemas oleosos.

(Nos casos de) doenças de mKris pa (XXIII): laxantes.

(Nos casos de) doenças de Bad kan (XXIV), (são tornadas) purificadas com eméticos.

[35] Enemas oleosos: (preparam-se) enemas suaves (83), enemas purgativos (84), purgativos que não são fracos (85).

No caso dos laxantes (preparam-se): laxantes gerais (86), laxantes especiais (87), laxantes fortes (88) e fracos (89). No caso dos eméticos: duas (formas): eméticos fortes (90) e fracos (91).

Quanto aos tratamentos: (rLung) (XXV): massagem com unção (92) e cauterização do tipo mongol (93).

(mKris pa) (XVI): produção de suor (94), sangria (95) e a roda de água mágica (96).

[40] (Bad kan) (XXVII): (tratamento com) calor (97) e cauterização (98).

(Através desses) tratamentos pode-se curar (doenças causadas por distúrbios de rLung, mKris pa e Bad kan) respectivamente.

Portanto, há 98 métodos de cura. Aquele que confiar nos mesmos atentamente,

respeitosamente e diligentemente será rapidamente libertado do pântano da doença.”

Assim falou ele.

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Quinto capítulo sobre os métodos de cura do Tratado Secreto da Instrução sobre os Oito Ramos da Essência da Imortalidade.

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91

D) APRESENTAÇÃO

RAIZ C

Terapêutica

gso thabs

Tronco VI Nutrição

zas

Tronco VI possui 6 ramos:

1º ramo = alimentos para rLung (I) rlung zas 2º ramo = bebidas para rLung (II) rlung skom 3º ramo = alimentos para mKris pa (III) mkhris zas 4º ramo = bebidas para mKris pa (IV) mkhris skom 5º ramo = alimentos para Bad kan (V) bad zas 6º ramo = bebidas para Bad kan (VI) bad skom

6 ramos

Estes 6 ramos correspondem aos detalhes gerais do Tronco = Nutrição

Do 1º ramo nascem

10 folhas

Alimentos para rLung (I)

rlung zas

1. cavalo (1) rta 2. macaco (2) bong 3. marmota (3) „phyi ba 4. carne envelhecida (4) lo sha 5. carne humana (5)9 sha chen 6. óleo de gergelim (6) „bru mar 7. óleo envelhecido (7) lo mar 8. açúcar mascavo (8) bu ram 9. alho (9) sgog skya 10. cebolas (10) btsong

Do 2º ramo nascem

4 folhas

Bebidas para rLung (II)

rlung skom

1. leite (11) „o ma 2. sopa de cenoura e alho (12) lca ba ra mnye zan chang 3. líquido (extraído) do açúcar mascavo (13) bur chang

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92

4. sopa de ossos (14) rus chang

14 folhas

Do 3º ramo nascem

9 folhas

Alimentos para mKris pa (III)

mkhris zas

1. iogurtes de vaca e cabra (15) ba ra‟i zho 2. manteiga (16) dar 3. manteiga fresca (17) mar gsar 4. carne de carneiro (18) ri dvags sha 5. carne de cabra (19) ra sha 6. carne fresca de animais de reprodução

mista (20) skom sha gsar pa

7. cevada fresca (21) chag tshe 8. ervas “skyabs” (22) 10 skyabs 9. dente-de-leão (23) khur tshod

Do 4º ramo nascem

3 folhas

Bebidas para mKris pa (IV)

mkhris skom

1. água quente (24) chab tsha 2. água fria (25) chu bsil 3. (água) fervida e fria (26) (chu) bskol grangs

12 folhas

Do 5º ramo nascem

6 folhas

Alimentos para Bad kan (V)

bad zas

1. carneiro (27) lug 2. iaque selvagem (28) g-yag rgod 3. animais de caça (29) gcan gzan 4. carne de peixe (30) nya yi sha 5. mel (31) sbrang rtsi 6. mingau quente de grãos velhos

cultivados em solo seco (32) skam sa‟i „bru

rnying zan dron Do 6º ramo nascem

3 folhas

Page 93: Finckh fundamentos medicina_tibetana_2

93

Bebidas para Bad kan (VI)

bad skom

1. iogurtes e manteiga da fêmea do iaque (33)

„bri yi zho dar

2. cerveja forte (34) gar chang 3. água fervida (35) chu skol

9 folhas

Resumo rLung mKris pa Bad kan Alimentos 10 9 6 Bebidas 4 3 3

14 12 9 = 35

Estas 35 folhas contém detalhes específicos do Tronco = Nutrição

RAIZ C

Tronco VI = 6 ramos

Ramo 1

= 10 folhas

Ramo 2 = 4 folhas Ramo 3 = 9 folhas Ramo 4 = 3 folhas Ramo 5 = 6 folhas Ramo 6 = 3 folhas

35 folhas

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94

RAIZ C Terapêutica

gso thabs

Tronco VII Comportamento

spyod

Tronco VII possui 3 ramos:

1º ramo = conduta para rLung (VII)

rlung spyod

2º ramo = conduta para mKris pa (VIII) mkhris pa‟i spyod 3º ramo = conduta para Bad kan (IX) bad kan spyod

3 ramos

Estes 3 ramos correspondem aos detalhes gerais do Tronco = Comportamento

Do 1º ramo nascem

2 folhas

Conduta para rLung (VII)

rlung spyod

1. conservar-se em companhia agradável (36)

yid „on grogs bsten

2. local morno (37) dro sa Do 2º ramo nascem

2 folhas

Conduta para mKris pa (VIII)

mkhris pa „i spyod

1. sentar-se calmamente (38) dal bar bsdad 2. local frio (39) bsil sa

Do 3º ramo nascem

2 folhas

Conduta para Bad kan (IX)

bad kan spyod

1. fazer caminhadas enérgicas (40) rtsol bcag 2. local morno (41) dro sa

6 folhas

Estas 6 folhas contém os detalhes específicos do Tronco = Comportamento

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95

RAIZ C

Tronco VII = 3 ramos Ramo 1

= 2 folhas

Ramo 2 = 2 folhas Ramo 3 = 2 folhas

6 folhas

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96

RAIZ C Terapêutica

gso thabs

Tronco VIII Medicamentos

sman

Tronco VIII possui 15 ramos:

1º ramo = sabor rLung (X)

ro rlung

2º ramo = potência rLung (XI)

nus pa rlung

3º ramo = sabor mKris pa (XII)

ro mkhris pa

4º ramo = potência mKris pa (XIII)

nus pa mkhris pa

5º ramo = sabor Bad kan (XIV)

ro bad kan

6º ramo = potência Bad kan (XV)

nus pa bad kan

7º ramo = acalmar rLung (XVI) sopas

zhi byed rlung

khu ba 8º ramos = acalmar

rLung (XVII) óleos medicinais

zhi byed rlung

sman mar 9º ramo = acalmar

mKris pa (XVIII) xaropes

zhi byed mkhris pa

thang 10º ramo = acalmar

mKris pa (XIX) pós

zhi byed mkhris pa

cur ni 11º ramo = acalmar

Bad kan (XX) pílulas

zhi byed bad kan

ril bu 12º ramo = acalmar

Bad kan (XXI) pastas

zhi byed bad kan

tres sam 13º ramo = purificar

rLung (XXII) enemas oleosos

sbyong byed rlung

„jam rtsi 14º ramo = purificar sbyong byed

Page 97: Finckh fundamentos medicina_tibetana_2

97

mKris pa (XXIII) laxantes

mkhris pa bshal sman

15º ramo = purificar Bad kan (XXIV) eméticos

sbyong byed bad kan

skyugs sman

15 ramos

Estes 15 ramos correspondem aos detalhes gerais do Tronco = Medicamentos

Do 1º ramo surgem

3 folhas

Sabor rLung (X)

ro rlung

1. doce (42) mngar 2. azedo (43) skyur 3. salgado (44) lan tshva (texto: lan tsha)

Do 2º ramo nascem

3 folhas

Potência rLung (XI)

nus pa rlung

1. oleoso (45) snum 2. pesado (49) lci 3. suave (50) „jam

Do 3º ramo nascem

3 folhas

Sabor mKris pa (XII)

ro mkhris pa

1. doce (48) mngar 2. amargo (49) kha 3. adstringente (50) bska

Do 4º ramo nascem

3 folhas

Potência mKris pa (XIII)

nus pa mkhris pa

1. fria (51) bsil 2. grossa (52) sla 3. embotada (53) rtul

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98

Do 5º ramo nascem 3 folhas

Sabor Bad kan (XIV)

ro bad kan

1. pungente (54) tsha 2. azedo (55) skyur 3. adstringente (56) bska

Do 6º ramo nascem

3 folhas

Potência Bad kan (XV)

nus pa bad kan

1. penetrante (57) rno 2. áspero (58) rtsub 3. leve (59) yang

Do 7º ramo nascem

3 folhas

acalmar rLung (XVI) Sopas

zhi byed rlung

khu ba

1. sopa de ossos (60) rus khu 2. os quatro sucos (61) bcud bzhi 3. “mgo khrol” (62)11 mgo khrol

Do 8º ramo nascem

5 folhas

acalmar rLung (XVII) Óleos medicinais

zhi byed rlung

sman mar

1. Nardostachys jatamansi (63) dza ti 2. alho (64) sgog skya 3. as três frutas (65) 12 „bras bu gsum 4. as quatro raízes (66) rtsa ba lnga 5. acônitos (67) sman chen

Do 9º ramo nascem

4 folhas

acalmar mKris pa (XVIII) Xaropes

zhi byed mkhris pa

thang

1. rizoma de lírio florentino (68) ma nu

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99

2. Tinospora cordifolia sle tres

3. Swertia chirata (70) tig ta 4. as (três) frutas (71) „bras bu (gsum)

Do 10º ramo nascem

4 folhas

acalmar mKris pa (XIX) Pós

zhi byed mkhris pa

cur ni

1. Cinnamomum camphora (72) ga bur 2. sândalo (73) tsan dan 3. Crocus sativus (74) gur gum 4. Resina do bambu (75) cu gang

Do 11º ramo nascem

2 folhas

acalmar Bad kan (XX) Pílulas

zhi byed bad kan

ril bu

1. acônito (76) btsan dug 2. vários tipos de sal (77) tshva sna rnams

Do 12º ramo nascem

5 folhas

acalmar Bad kan (XXI) Pastas

zhi byed bad kan

tres sam

1. Punica granatum (78) se „bru 2. rododendros (79) da li 3. um medicamento muito quente (80)13 rgod ma kha 4. medicamentos alcalinos à base de

sais14 tshva bsregs pa‟i

thal sman 5. pedra branca (82)15 com zhi

Do 13º ramo nascem

3 folhas

purificar rLung (XXII) Enemas oleosos

sbyong byed rlung

„jam rtsi

1. suave (83) sle „jam 2. purgativo (84) bkru „jam

N. do T.: Em “Formulário de Medicina Tibetana” por Bagwan Dash.

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100

3. purgativos não suaves (85) bkru ma slen Do 14º ramo nascem

4 folhas

purificar mKris pa (XXIII) Laxantes

sbyong byed mkhris pa

bshal sman

1. laxantes gerais (86) spyi bshal 2. laxantes especiais (87) sgos bshal 3. laxantes fortes (88) drag bshal 4. laxantes suaves (89) „jam bshal

Do 15º ramo nascem

2 folhas

purificar Bad kan (XXIV) Eméticos

sbyong byed bad kan

skyugs sman

1. eméticos fortes (90) drag skyugs 2. eméticos fracos (91) „jam skyugs

50 folhas

Estas 50 folhas contém detalhes específicos do Tronco = Medicamentos

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101

RAIZ C

Tronco VIII

= 15 ramos Ramo 1 = 3 folhas Ramo 2 = 3 folhas Ramo 3 = 3 folhas Ramo 4 = 3 folhas Ramo 5 = 3 folhas Ramo 5 = 3 folhas Ramo 6 = 3 folhas Ramo 7 = 3 folhas Ramo 8 = 5 folhas Ramo 9 = 4 folhas Ramo 10 = 4 folhas Ramo 11 = 2 folhas Ramo 12 = 5 folhas Ramo 13 = 3 folhas Ramo 14 = 4 folhas Ramo 15 = 2 folhas

= 50 folhas

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102

RAIZ C Terapêutica

gso thabs

Tronco IX Tratamentos (externos)

dpyad

Tronco IX possui 3 ramos: 1º ramo = tratamentos (externos)

rLung (XXV)

dpyad rlung

2º ramo = tratamentos (externos) mKris pa (XXVI)

dpyad mkhris pa

3º ramo = tratamentos (externos) Bad kan (XXVII)

dpyad bad kan

3 ramos

Estes ramos correspondem aos detalhes gerais do Tronco = Tratamentos (externos).

Do 1º ramo nascem

2 folhas

tratamentos (externos) rLung (XXV)

dpyad rlung

1. massagem com óleo (92) bsku mnye 2. cauterização tipo mongol (93) hor gyi me btsa‟

Do 2º ramo nascem

3 folhas

tratamentos (externos) mKris pa (XXVI)

dpyad mkhris pa

1. indução da perspiração (94) rngul dbyung 2. sangria (95) gtar ga 3. roda de água mágica (96) chu yi „phrul „khor

Do 3º ramo nascem

2 folhas

tratamentos (externos) Bad kan (XXVII)

dpyad bad kan

1. (terapia) quente (97) dugs 2. cauterização (moxabustão) (98) me btsa‟

7 folhas

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103

Estas 7 folhas contém detalhes específicos do Tronco = Tratamentos (externos)

RAIZ C

Tronco IX

= 3 ramos

Ramo 1 = 2 folhas Ramo 2 = 3 folhas Ramo 3 = 2 folhas

7 folhas

Os termos a seguir foram retirados do Capítulo 5 (Parte 1) do livro rGyud bzhi:

Raiz do Tratamento = gso byed thabs kyi rtsa ba Tronco VI = Nutrição 6 ramos 35 folhas Tronco VII = Comportamento 3 ramos 6 folhas Tronco VIII = Medicamentos 15 ramos 50 folhas Tronco IX = Tratamentos (externos) 3 ramos 7 folhas

27 ramos

98 folhas

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104

RAIZ C Tronco VI = Nutrição

zas

ramos folhas

rlung zas 10 rlung skom 4 mkhris pa zas 9 mkhris pa skom 3 bad zas 6 bad skom 3

6 35

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105

E) MÉTODOS DE TRATAMENTO

1. Nutrição

Nutrição – Alimentos sólidos

Faz-se distinção entre os seguintes tipos de alimentos.

Grãos

Grãos sem vagem: cevada, trigo, arroz, milho, trigo sarraceno etc. Seu sabor é doce e como resultado de sua ingestão, Bad kan (fleuma) é fortalecido e rLung (vento) é reduzido.

Grãos com vagem: lentilhas, ervilhas, gergelim, linhaça etc. À princípio, todo tipo de grão é pesado quando fresco, mas leve quando seco. Os efeitos de todos estes diferentes grãos e suas qualidades quanto ao sabor são descritos em detalhes.

Carne

Animais cuja carne é comestível são divididos em oito grupos a seguir:

Animais que vivem em solo seco: 1) Pássaros de montanhas que obtém seu alimento utilizando suas garras e pequenos pássaros que usam seus bicos. 2) Animais de caça. 3) Animais de caça de grande porte. A carne proveniente destes animais é fria, leve e áspera.

Animais que vivem tanto na água quanto em solo seco: 4) Animais predadores. 5) Pássaros que obtém seu alimento utilizando sua própria habilidade, por exemplo, abutres, corvos, etc. 6) Animais domésticos. A carne proveniente destes animais possui tanto as

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106

características dos que vivem em solo seco como em ambiente úmido.

Animais que vivem em ambiente úmido: 7) Animais que vivem em esconderijos ou covas. 8) Animais que vivem na água (gansos, lontras, peixes etc.) A carne destes animais é oleosa, pesada e quente.

Estes são os oito tipos de animais. A carne seca e a carne que foi bem cozida são de

fácil digestão.

Óleos comestíveis

Os seguintes tipos de óleos comestíveis são descritos: óleo de açafrão, óleo de gergelim, gordura de medula óssea e gordura sólida. Atribuem-se características específicas aos vários tipos de óleos. Eles são um importante gênero alimentício para os tibetanos e são particularmente benéficos para os idosos, para crianças frágeis e para todas as doenças de rLung (vento).

Vegetais

Os vários tipos de vegetais, suas características e efeitos são descritos com grande precisão. Todos os tipos de vegetais bloqueiam as entradas dos vasos.

Preparações

Dedica-se grande atenção à preparação das variadas sopas de arroz (rala, grossa e forte), às sopas de grãos e às sopas de vegetais porque estas preparações são importantes para muitas doenças quando está muito frio, particularmente quando são preparadas com gordura.

Nutrição – líquidos

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107

Os tibetanos possuem uma apreciação especial por virtualmente todos os tipos de leite (de vaca, de cabras,

de dri, de ovelhas etc.) assim como pelos vários derivados do leite, como os queijos, os iogurtes e manteiga. Todos estes derivados possuem características particulares, assim como as possuem os sete tipos de água: água da chuva, água de rios, água de fontes, água de poço, soda e água que pinga das árvores. A água proveniente das montanhas altas e a água que recebeu o brilho do sol são particularmente benéficas enquanto que a água estagnada e a água pútrida estimulam o desenvolvimento das doenças. O álcool é utilizado para aqueles que sofrem de sono agitado e cura doenças de Bad kan e mKris pa. Entretanto, o consumo excessivo de álcool não é considerado benéfico.

Incompatibilidade entre alimentos – dieta prejudicial

Faz-se distinção entre os seguintes dois grupos:

Alimentos tóxicos

Podem ser reconhecidos pela sua coloração, cheiro e sabor; os sintomas que surgem após a ingestão de tais alimentos são: boca seca, sudorese, tremores e agitação.

Alimentos que são indigestos pois não podem ser ingeridos juntos

Por exemplo, peixe e leite, leite e fruta, ovos e peixe, aves domésticas e iogurtes, (partes iguais de) mel e óleo, sopa de ervilhas e açúcar mascavo e iogurtes.

N. do T.: A fêmea do iaque.

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108

Outros erros dietéticos também estão incluídos neste grupo. Por exemplo, não se deve conservar a manteiga por mais de dez dias em recipiente de bronze e não se deve ingerir alimento azedo com leite.

Hábitos alimentares sensatos e corretos

A terceira e última seções estão relacionadas com hábitos alimentares sensatos. A cada ingestão de alimentos, é vital que a quantidade do mesmo esteja correta. Se o alimento ingerido for leve, pode-se comer até que o estômago esteja repleto. No entanto, se o alimento for pesado, deve-se comer até preencher metade do estômago. Doenças de rLung surgem se a ingestão de alimentos é insuficiente. Líquidos ingeridos após uma refeição são bons para a digestão. À princípio, considera-se benéfica a ingestão no começo, no meio e no final de uma refeição. A água fria é considerada benéfica se o paciente fica inchado após uma refeição. Consegue-se reduzir a gordura misturando mel e água. Muitas instruções como estas são fornecidas mas o mais importante é que o indivíduo deve alimentar-se moderadamente.

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109

RAIZ C Tronco VII = Comportamento

spyod

ramos folhas

rlung spyod 2 mkhris pa‟i spyod 2

bad kan spyod 2

3 6

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110

2. Comportamento

Comportamento diário, contínuo

O primeiro tipo de comportamento diário

mencionado refere-se às medidas que podem prolongar a vida. As pedras preciosas devem ser usadas como amuletos e a má utilização do corpo, da mente e da fala deve ser evitado. A pessoa deve verificar o caminho pelo qual está indo e a cadeira na qual está se sentando. São fornecidas instruções com relação ao sono – dormir durante o dia, por exemplo, piora as doenças de Bad kan. Vários tipos de conselhos quanto à atividade sexual são dados, por exemplo, com relação à freqüência e à época do ano, etc. Nas pessoas tipo rLung, é benéfico friccioná-los com óleo, enquanto os tipos Bad kan devem fazer bastante exercícios e ginástica. Banhos regulares são considerados saudáveis, mas não se deve lavar a cabeça com água morna. O banho não está indicado se a pessoa estiver com problemas digestivos. O segundo tipo de comportamento diário refere-se à conduta a favor e contra o seu ambiente. Deve-se mostrar respeito às pessoas mais velhas, deve-se apreciar seu vizinho e, em geral, atentar para as boas maneiras. Regras de conduta severas a serem observadas na vida cotidiana são mencionadas aqui. O terceiro e último aspecto do comportamento diário refere-se, finalmente, com questões relacionadas ao lado religioso da vida. Aqui, a ênfase é, sobretudo, na constante manutenção de seu corpo, mente e fala sob controle.

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111

Comportamento sazonal

Os tibetanos consideram seis estações do ano –

começo e final do inverno, primavera, (começo do) verão, estação chuvosa (final do verão) e outono – cada

uma delas durando 2 meses. Começo do inverno: Durante este período do ano, quando não há muito para comer, deve-se ingerir alimentos doces, azedos e salgados. Deve-se friccionar o corpo com óleo e ingerir comida gordurosa; deve-se usar roupas quentes e permanecer próximo ao fogo. Final do inverno: Se o frio for intenso, as mesmas medidas acima devem ser adotadas, apenas de forma mais extrema. Primavera: Nesta época do ano, desenvolvem-se doenças de Bad kan e, portanto, deve-se ingerir alimentos com sabor amargo, penetrante e adstringente. Deve-se evitar alimentos ásperos, por exemplo, cevada envelhecida, mel e água fervida. Grande quantidade de exercícios e massagens são benéficas. Verão (começo): Em geral, os efeitos do calor devem ser evitados – em outras palavras, roupas leves devem ser vestidas, deve-se permanecer na sombra, banhar-se em água fria etc. Os alimentos não devem ser salgados, penetrantes ou amargo, mas sim com sabor doce e leve, oleoso e frio.

Estação chuvosa (final do verão): O fogo digestivo esfria-se durante a estação chuvosa porque a terra está saturada de água. Portanto, alimentos que estimulam o fogo digestivo devem ser ingeridos, ou seja, alimentos com sabor doce, azedo e salgado e alimentos que sejam

leves, mornos e oleosos. Deve-se beber álcool e permanecer em locais frios.

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112

Outono: Durante a estação chuvosa precedente, o corpo sofreu resfriamento e podem ocorrer doenças de mKris pa. Portanto, no outono, devem ser ingeridos alimentos com sabor doce, amargo e adstringente. As roupas devem aquecer.

Estes aspectos podem ser resumidos da seguinte forma:

estação chuvosa e inverno

alimentos e bebidas devem aquecer

primavera

alimentos e bebidas devem ser ásperos

verão e outono

alimentos e bebidas devem ser frios

outono e primavera

tomar laxativos e eméticos

estação chuvosa

enemas oleosos

Comportamento casual

Referimos aqui às necessidades naturais que não devem ser reprimidas, com o risco de se desenvolverem doenças. A repressão da fome natural tem como conseqüência o surgimento de doenças, as quais podem ser dominadas com a ingestão de alimentos leves, oleosos e mornos. As conseqüências da supressão da sede podem ser combatidas com métodos refrescantes; a supressão dos vômitos, por jejum; a supressão dos espirros, por inalação de soluções ácidas e a supressão do sono, por sopa de carne e bebida alcoólica. Outros tipos de comportamento ocasional são relacionados e, finalmente, são fornecidos os seguintes conselhos gerais. No inverno, acumulam-se doenças de

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113

Bad kan (fleuma) e, portanto, sua influência sobre o corpo deve ser eliminada durante a estação das chuvas (final do verão). Durante essa estação, acumulam-se as doenças de mKris pa (bile) e sua influência sobre o corpo deve ser eliminada no outono.

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114

RAIZ C Tronco VIII = Medicamentos

sman

ramos folhas

rlung sman ro 3 rlung sman nus pa 3 mkhris pa sman ro 3 mkhris pa sman nus pa 3 bad kan gyi sman ro 3 bad kan sman nus pa 3 rlung bzhi byed 3 rlung zhi byed 5 mkhris pa zhi byed 4 mkhris pa zhi byed 4 bad kan zhi byed 2 bad kan zhi byed 5 rlung sbyong byed 3 mkhris pa sbyong byed 4 bad kan sbyong byed 2

15 50

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115

3. Medicamentos

Resumo da Seção Comentários gerais Classificação

Sabor dos medicamentos Os grupos de medicamentos e suas funções O sabor pós digestivo Potência dos medicamentos Preparações

Comentários gerais

Uma parte relativamente extensa da literatura médica tibetana está relacionada com medicamentos, mas, infelizmente, até hoje nem um único livro foi traduzido, sendo responsáveis por isso as enormes dificuldade encontradas na determinação, tão precisa quanto possível, da terminologia necessária. W.A. Unkrig16, um dos mais experientes nesta área, afirma que é extremamente difícil determinar os equivalente botânicos, latinos, dos medicamentos tibetanos. No entanto, espera-se que esta terminologia não permaneça, como foi, um território inexplorado por muito tempo porque os tibetologistas17 começaram a cuidar deste assunto. Diversos livros18 novos estarão disponíveis em breve para nos fornecer pontos de referência importantes e definitivos, também. Nós podemos observar também a diferença existente entre as plantas e ervas que foram utilizadas no Tibete e aquelas que estão atualmente disponíveis aos tibetanos nos países onde estão exilados, nos quais os médicos tibetanos não podem mais coletar as plantas

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116

e ervas que crescem nas montanhas extremamente altas do Tibete. Este país, rico em plantas e minerais, importou espécies, tais como o ginseng da Coréia, e muitas outras, de países vizinhos enquanto exportava substâncias como o almíscar, o bórax etc. Os medicamentos eram coletados em grandes ou pequenas expedições de acordo com regras específicas. As expedições maiores ocorriam em agosto e setembro e, durante sua progressão, jovens médicos recebiam instruções precisas relacionadas com as plantas e os minerais. Normalmente, as frutas eram colhidas no outono e as folhas, no verão; os ramos eram cortados na primavera e as raízes, desenterradas no inverno. A preparação das plantas ocorria então na “casa da medicina” (sman khang) = farmácia. Primeiramente, aplica-se calor moderado para remover a água e depois as plantas são pulverizadas antes de serem transformadas em pílulas, pós ou pastas. As pílulas são, freqüentemente, cobertas com uma camada feita de várias substâncias. Finalmente, os medicamentos líquidos são despejados em pequenos frascos e as pílulas e pós envolvidos em papel e rotulados de acordo. A substância na qual o medicamento é ingerido possui um papel importante e é conhecido como “cavalo do medicamento” (sman rta). Pode ser água, açúcar ou mel. Os medicamentos prontos para consumo podem conter até 30 a 40 diferentes componentes e as formas de pílulas e pós são as mais populares. Quase todo médico tibetano leva consigo uma pequena farmácia em sua pequena bolsa de medicamentos (sman khug ou sman rkyal), uma pequena bolsa de couro, contendo até 50 tipos diferentes de medicamentos. Os medicamentos são administrados individualmente, a maioria pela manhã e à

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117

noite. A composição dos medicamentos e a preparação das receitas médicas são tão variadas que sua enumeração preencheria alguns volumes. Freqüentemente, torna-se impossível determinar as quantidades exatas utilizadas na preparação dos medicamentos – o fator importante é que as proporções estejam corretas e não a quantidade absoluta de cada um dos componentes, porque a rica experiência que os tibetanos possuem permite que eles façam variações na composição dos medicamentos de acordo com as necessidades de um indivíduo. Em qualquer tratamento que utilize medicamentos tibetanos é possível encontrar algumas dificuldades no Ocidente. Estes excelentes e sutis medicamentos tibetanos seriam provavelmente menos eficazes se forem produzidos por métodos ocidentais; de qualquer forma, não é possível importar medicamentos tibetanos genuínos por causa das leis farmacêuticas nos países ocidentais e, indubitavelmente, com as novas leis19 implantadas na Europa a produção de medicamentos tibetanos no Ocidente tornaram-se consideravelmente mais difíceis. Além disso, deve ser ressaltado que os medicamentos tibetanos podem ser utilizados satisfatoriamente apenas se o tipo constitucional do paciente for conhecido – sem este conhecimento, não é possível qualquer tratamento. Uma aplicação prematura destes extremamente preciosos medicamentos tibetanos poderia ser até mesmo perigosa, considerando-se especialmente a atual tendência em direção às “drogas milagrosas” da Ásia que mencionamos no início deste livro. Um exame cuidadoso e paciente e uma análise deste rico repertório de medicamentos tibetanos são necessários para que nós no Ocidente possamos usufruir de seus benefícios também. Portanto, a

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118

apresentação dos medicamentos não deve servir para anteceder a prática da medicina tibetana, mas antes, para ampliar seus fundamentos teóricos de uma maneira sistemática.

Classificação

Os mais importantes livros sobre farmácia foram escritos por bsTan „dzin phun tshogs. Este autor viveu cerca de 1800 D.C. e escreveu muitos trabalhos médicos altamente considerados os quais são também de particular valor uma vez que foram impressos no Monastério de sDe dge. Os blocos de impressão deste monastério são considerados particularmente confiáveis. 1. bdud nad gzhom pa‟i gnyen po rtsi sman gyi nus pa

rkyang bshad gsal ston dri med shel gong. Título abreviado: dri med shel gong

2. bdud rtsi sman gyi rnam dbye ngo bo nus ming rgyas par bshad pa dri med shel phreng. Título abreviado: dri med shel phreng

3. lag len gces bsdus Evidentemente, seria impossível especificar todos os tipos de medicamentos mencionados nesta lista. Pelo contrário, isto confundiria o sistema que gostaríamos de descrever com clareza. Assim, eventualmente, apenas alguns tipos de medicamentos são mencionados.

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119

I- Pedras preciosas e metais rin po che‟i sman

A. Substâncias preciosas que não podem ser fundidas

mi bzhu ba‟i rin po che „i sman

diamante rdo rje pha lam turquesa g-yu rubi pad ma ra ga

B. Substâncias preciosas que podem ser fundidas

bzhu ba‟i ri po che‟i

prata dngul cobre zangs

II- Rochas e minerais rdo sman A. Substâncias minerais que podem ser

fundidas bzhu ba‟i khams kyi

rdo magnetita khab len mercúrio mtshal

B. Substâncias minerais que não podem ser fundidas

mi bzhu ba‟i khams kyi rdo

carvão mineral rdo sol cobre lig bu mig casco de tartaruga sbal rgyab

III- Areias medicinais sa sman A. Terra natural rang byung gi sa

pó de ouro gser bye chumbo li khri índigo rams

B. Terra manufaturada bcos pa‟i sa sman enxofre mu zi tijolo so phag cascalho gyo mo

IV- Exudatos e secreções (especiarias) rtsi sman açafrão gur gum Nardostachys jatamansi dza ti almíscar gla rtsi

V- Substâncias medicinais extraídas de árvores

shing sman

A. Frutos e sementes shing sman „bras bu B. Flores e shing sman me tog C. Folhas lo ma D. Ramos yal ga

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E. Tronco shing sman sdong po F. Casca shing sman pags pa G. Resinas e tshi ba thang chu

VI- Medicamentos à base de extratos fervidos

thang sman

VII- Plantas medicinais, ervas e sngo sman VIII- Medicamentos extraídos de seres sencientes

srog chags sman

Esta breve classificação foi extraída do livro de „Jam dpal rdo rje, que empregou principalmente o “dri med shel phreng” e o “dri med shel gong”. (Ver títulos das obras). A divisão clássica em 8 partes: rGyud bzhi II, capítulo 2038-40: rin po che yi sman dang sa rdo‟i sman/shing sman rtsi sman thang sman sngo sman dang/srog chags sman dang dbye ba brgyad du bshad//

1) Medicamentos preciosos (rin po che yi sman); 2) areias medicinais (sa yi sman); 3) pedras medicinais (rdo sman); 4) árvores medicinais (shing sman); 5) essências medicinais (rtsi sman); 6) poções medicinais (thang sman); 7) plantas medicinais (sngo sman); 8) medicamentos à base de seres sencientes (srog

chags sman).

Sabor (ro) dos medicamentos

Na preparação de um medicamento, o sabor20 é de grande importância. Os médicos tibetanos fazem distinção entre seis tipos de sabor (ro):

1. doce mngar ba 2. azedo skyur ba 3. salgado lan tshva ba

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4. amargo kha ba 5. penetrante tsha ba 6. adstringente bska ba

Os tipos de sabor resultam dos efeitos dos elementos – terra, água, fogo, vento e espaço – ou seja, da interação entre dois dos elementos da seguinte maneira:

doce = terra e água azedo = fogo e terra salgado = água e fogo amargo = água e vento penetrante = fogo e vento adstringente = terra e vento

Eles são classificados quanto à rLung (vento), mKris pa (bile) e Bad kan (fleuma) conforme segue:

rLung mKris pa Bad kan doce mngar ba doce mngar penetrante tsha ba azedo skyur ba amargo kha ba azedo skyur ba salgado lan tshva ba adstringente bska ba adstringente bska ba

rGyud bzhi Parte 2, Capítulo 19 67-69 mngar skyur lan tsha tsha bas rlung „joms shing// kha dang mngar dang bska bas mkhris pa sel// tsha skyur lan tshas bad kan sel bar byed// Doce, azedo, salgado, penetrante dominam rLung, amargo e doce e adstringente removem mKris pa, penetrante, azedo, salgado removem Bad kan. ( Diferenças: textos da Parte 1 e Parte 2 relativos a ro.)

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Como existem 6 qualidades de sabor, um total de 63 combinações é possível.

As combinações são as seguintes: 1 qualidades de sabor não combinadas 6 2 combinações de 2 qualidades de sabor 15 3 combinações de 3 qualidades de sabor 20 4 combinações de 4 qualidades de sabor 15 5 combinações de 5 qualidades de sabor 6 6 combinação das 6 qualidades de sabor 1

63 Este número, sessenta e três, chama nossa atenção para certos conceitos dos ensinamentos do tridosha indiano.21

Os grupos de medicamentos e suas funções

1. O grupo de sabor doce: mel, açúcar, açafrão, alcaçuz, carne, aspargos O sabor doce é útil para pessoas idosas e crianças, para

curar ulcerações, para fortalecimento geral do organismo e prolongar a vida.

2. O grupo de sabor azedo: manteiga, iogurtes, romã, figo, Emblica officinalis, etc. O sabor azedo estimula a digestão e o apetite. 3. O grupo de sabor salgado: soda, sal-gema, alume, sal de chifre, salitre, etc. O sabor salgado é utilizado quando o corpo está

enrijecido e nos casos de perda de apetite. 4. O grupo de sabor amargo: uva-espim, figos, genciana, almíscar, etc.

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O sabor amargo põe fim aos vermes, fortalece a memória e é benéfica para combater a sede, o envenenamento e a febre.

5. O grupo de sabor penetrante: cebolas, alho, gengibre, pimenta preta, etc. O sabor penetrante é útil nos casos de edemas,

doenças da pele, anasarca e úlceras; estimula a digestão e age como purgante.

6. O grupo de sabor adstringente: tamarga, Emblica officinalis, sândalo, Terminalia

chebula, etc. O sabor adstringente cura ulcerações e limpa a pele.

O sabor pós-digestivo

O sabor pós digestivo dos medicamentos que são principalmente doces e azedos é doce. Com medicamentos azedos, há um sabor pós-digestivo azedo e com os amargos, pungentes e adstringentes, o sabor pós-digestivo é amargo.

Potência (nus pa) dos medicamentos

No que diz respeito à potência dos medicamentos,

os seguintes tipos são relacionados: 1 oleoso snum pa

2 pesado lci ba 3 suave „jam pa 4 frio bsil ba 5 fino sla ba 6 embotado rtul ba 7 penetrante rno ba 8 áspero rtsub pa 9 leve yang ba

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Estes tipos são classificados em rLung, mKris pa e

Bad kan como segue:

rLung mKris pa Bad kan

oleoso snum pa frio bsil ba penetrante rno ba pesado lci pa fino sla ba áspero rtsub pa suave „jam pa embotado rtul ba leve yang ba

rGyud bzhi Parte 2, Capítulo 20 4-5 nus pa lci snum bsil dang rtul ba dang// yang rtsub tsha dang rno ba rnam pa brgyad// Pesado (lci) (1), oleoso (snum) (2), frio (bsil) (3) e embotado (rtul) (4), leve (yang) (5), áspero (rtsub) (6), quente (tsha) (7) r penetrante (rno) (8) são os oito (tipos) de potência. Na verdade: há oito tipos de potências. (Diferenças: texto da Parte 1 e Parte 2) rGyud bzhi Parte 2, Capítulo 20 6-10

dang po bzhi pos rlung dang mkhris pa sel// „og ma bzhi yis bad kan sel bar byed// yang rtsub bsil ba gsum gyis rlung skyed cing// tsha rno snum pa gsum gyis mkhris pa skyed// lci snum bsil rtul bzhi yis bad kan skyed// As quatro primeiros removem rLung e mKris pa. O último dos quatro remove Bad kan. Leve, áspero, frio: estes três produzem rLung. Quente, penetrante, oleoso: estes três produzem mKris pa. Pesado, oleoso, frio, embotado: estes quatro produzem Bad kan.

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Preparações

Sopas khu ba

sopas de ossos rus khu os quatro sucos bcud bzhi “mgo khrol” mgo khrol

Óleos medicinais sman mar

nardo dza ti alho sgog skya as três frutas „bras bu gsum as quatro raízes rtsa ba lnga acônitos sman chen

Estas 8 preparações aliviam as doenças de rLung

Xaropes thang

rizoma de lírio florentino ma nu Tinospora cordifolia sle tres Swertia chirata tig ta as três frutas „bras bu gsum

Pós cur ni

cânfora ba bur sândalo tsan dan açafrão gur gum resina de bambu cu gang

Estas 8 preparações aliviam as doenças de mkris pa

Pílulas ril bu

acônito btsan dug vários tipos de sal tshva sna rnams

Pastas tres sam

romã se „bru

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rododendros da li um medicamento muito quente rgod ma kha medicamentos alcalinos à base de sais tshva bsregs pa‟i thal

sman pedra branca cong zhi

Estas 7 preparações aliviam as doenças de Bad kan

Enemas oleosos ‘jam rtsi

suave sle „jam purgativo bkru „jam purgativos não suaves bkru ma slen pa

Estas 3 preparações eliminam as doenças de rLung

Laxantes bshal sman

laxantes gerais spyi sman laxantes específicos sgos bshal laxantes fortes drag bshal laxantes suaves „jam bshal

Estas 4 preparações eliminam doenças de mKris pa

Eméticos skyugs sman

eméticos fortes drag skyugs eméticos suaves „jam skyugs

Estas 2 preparações eliminam as doenças de Bad kan

Esta apresentação sistemática indica claramente que o tratamento é dirigido pelo tipo constitucional do paciente. Portanto, apesar da natureza bastante complicada do objeto em questão, um esquema muito preciso surgiu para a Terapêutica.

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RAIZ C Tronco IX = Tratamentos

dpyad

ramos folhas

rlung gi dpyad 2 mkhris pa‟i dpyad 3 bad kan dpyad 2

3 7

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4. Tratamentos

Resumo da Seção

Tipo-rLung

I- Unção com massagem bsku mnye II- cauterização mongol hor gyi me btsa‟

Tipo-mKris pa

I- produção de suor rngul dbyung II- sangria gtar ga III- a roda mágica de água chu yi „phrul „khor

Tipo-Bad kan

I- calor (tratamento) dugs II- Cauterização (moxabustão) me btsa‟

Estes são os sete tratamentos que serão descritos abaixo. No entanto, como não é objetivo deste Volume descrever a prática da medicina tibetana, mas compilar uma terminologia médica partindo dos textos e mostrar claramente que a medicina tibetana é um conhecimento de constituição, os tratamentos serão descritos resumidamente. A intenção desta descrição é demonstrar como certos tratamentos característicos para os três tipos constitucionais são distribuídos entre eles. Portanto, a descrição será realizada de acordo com o acima mencionado sistema. Uma descrição um pouco mais detalhada será fornecida para aqueles métodos de tratamento que podem ser aplicados mais facilmente no Ocidente – sangria e moxabustão. Os comentários seguintes sobre os métodos de tratamento são baseados principalmente nas instruções orais e escritas de meus professores tibetanos. No entanto, eu recebi informações auxiliares de seus alunos, e sou particularmente grata ao Dr. Barry Clark, que está sendo instruído em medicina tibetana em

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Dharamsala. Ao descrever estes tratamentos, tentei relatar o menos possível minhas próprias observações e experiências, e seguir o livro rGyud bzhi tão fielmente quanto possível.

Tipo-rLung

1. Massagem

Indicações

Em geral, todas as doenças de rLung podem ser tratadas desta maneira, mas a massagem é particularmente benéfica na depressão, para peles ásperas, nas doenças que afetam o idoso, na insônia, na perda geral de vigor e na anemia. Contra-indicações A massagem não pode ser utilizada nos casos de enrijecimento das pernas, problemas digestivos e perda de apetite. Prática A massagem é realizada friccionando-se as respectivas partes do corpo, geralmente com substâncias gordurosas que curam certas doenças. O óleo de gergelim é empregado na cura da insônia e doenças de rLung em geral; manteiga clarificada é empregada para melhorar a memória e a inteligência; a manteiga envelhecida por um ano, para doenças mentais; a gordura de cavalo e de macaco é utilizada para doenças linfáticas e prurido; a gordura de lontra, nas doenças renais; a gordura de cachorro, para ferimentos causados por mordidas de cachorro; gordura de cabra, para as lesões de varíola, especialmente as

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faciais; gordura de abutre e de porco, para catarata; almíscar e manteiga, para insônia durante o dia - ou noite - causada por febre. Um xarope feito de sulfato, levedura e manteiga cura ferimentos abertos, graves e recentes. Um xarope à base de cinzas de um certo tipo de feijão misturado com leite de égua e macaca cura ferimentos crônicos, infectados. Um xarope feito com as cinzas de pele de cobra queimada misturada com gordura de porco cura a deficiência de pigmentos na pele. Na fabricação destas misturas, grande número de substâncias são também mencionadas, extraídas da chamada “farmácia asquerosa”, ou seja, cinzas de chifre queimado, excreções de ratos, sujeira de cozinha, etc.

2 - Cauterização mongol

Este é o segundo tipo de tratamento benéfico para as doenças de rLung. Sementes de Carum carvi e manteiga (ou qualquer outra gordura) são queimadas e esta mistura é colocada em uma manta de lã. É então pressionada sobre a parte indicada do corpo através da manta de lã. Uma outra versão envolve a colocação de uma mistura de sementes de Carum carvi e sal em um pano, depois mergulha-se este pano em manteiga quente e trata-se as partes indicadas do corpo com esta espécie de compressa.

Tipo-mKris pa

1- Produção de suor

Este método de tratamento pode ser empregado para todas as doenças onde a sudorese é considerada necessária. O método mais popular de induzir a

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transpiração é envolver todo o corpo do paciente em muitas peças de tecido aquecido e deixá-lo permanecer enrolado até que suor suficiente tenha sido produzido.

2- Sangria

Este método de tratamento é também benéfico para todas as doenças de mKris pa. É um dos métodos considerados bastante efetivos e pode ser aplicado no Ocidente. Esta é também a razão porque eu gostaria de melhor descrever este método, uma vez que os detalhes extraídos do livro rgyud bzhi foram reproduzidos exata e completamente. Indicações

Doenças que afetam os indivíduos tipo-mKris pa, doenças causadas por febre disseminada, edemas, gota, úlceras, doenças sangüíneas e linfáticas. Contra indicações Gravidez, pacientes frágeis, pacientes suscetíveis a doenças mentais, crianças com menos de 16 anos e com mais de 70 anos; é necessário grande cuidado com veias muitos salientes e agrupadas; à princípio, este método de tratamento não deve ser utilizado em certas doenças causadas por Bad kan e doenças que afetam pacientes do tipo-rLung. Instrumentos Um ferreiro muito experiente deve manufaturar os instrumentos de ferro compacto e resistente. Eles devem ser pontiagudos o suficiente para atravessar um fio de cabelo flutuando no ar. Os instrumentos devem possuir sempre seis dedos (largura do dedo) de comprimento.

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Prática Antes de dar início ao tratamento, certas preparações devem ser realizadas pois o sangue impuro deve ser separado do sangue puro. Isto é feito da seguinte maneira: entre três e cinco dias são administradas decocções feitas com o suco dos três mirabólanos. Sem estas decocções, a febre e rLung se elevariam, o sangue puro seria eliminado e o sangue impuro ficaria retido. A ligadura apenas pode ser aplicada sobre um membro quando o paciente tiver sido exposto a um calor intenso. Um pedaço de cordão fino deve ser utilizado como ligadura e aplicada em várias partes do corpo. Na cabeça, o cordão deve ser amarrado em torno do dorso da cabeça de forma que as veias fiquem salientes. Com o auxílio de uma pequena vareta, ambas as extremidades do cordão são puxadas cuidadosamente e uniformemente. Os cordões empregados diagonalmente sobre os ombros são usados para as veias do tórax. Um cordão é amarrado sob o queixo e em torno da laringe para fazer as veias dos olhos ficarem salientes. Uma ligadura é aplicada para as veias sobre os ombros por meio de uma corda amarrada abaixo das axilas. De maneira similar, um cordão em torno do braço, acima do punho é usado para as veias dos dedos, um cordão colocado um dedo acima do joelho é empregado para a veia mais grossa da perna, e um cordão acima do tornozelo para as veias dos pés. As ligaduras devem ser amarradas o suficiente para deixar a veia saliente, mas não demais que machuque a pele. Após a aplicação da ligadura, as veias são massageadas e batidas levemente. Deve-se então esperar um instante antes que o tratamento possa

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realmente começar. A veia em questão é empurrada para o lado com o polegar e o sangue é então extraído com com a ponta do instrumento mais adequado, três dedos (largura do dedo) abaixo da veia ligada. Ao todo, há cinco diferentes tipos de incisão, ou seja, incisão lateral, incisão direta, incisão ao longo da veia, etc. Cada um destes métodos referem-se a um tipo de veia em particular e sua localização. No entanto, o mais importante aspecto de todas estas medidas conduzidas muito cuidadosamente, é que a incisão na pele deve ser justamente tão longo quanto a incisão na veia. Os médicos tibetanos conhecem exatamente quando interromper a retirada do sangue. A regra mais importante é que quando aparecer sangue normal, de coloração suave, nenhuma única gota pode ser retirada. Os pontos O trajeto das veias e a exata posição anatômica dos vários pontos utilizados na sangria são descritos de maneira extremamente detalhada. Cada ponto corresponde a sintomas específicos ou quadros clínicos. Durante meus períodos de estudo, tive com freqüência a oportunidade de observar os médicos tibetanos utilizando o método da sangria. Recebi também instruções orais e, acima de tudo, mapas muitos bons de meu professor Yeshe Donden; no entanto, a prática é de tal modo complicada que seria impossível abranger o tópico de maneira compreensível neste livro. Portanto, apenas algumas instruções gerais serão fornecidas aqui. Nas manchas dolorosas, deve ser utilizada a veia mais próxima. Nas febres elevadas, primeiro a veia larga e depois a fina deve ser tratada e vice-versa se a febre não é muito elevada. Nas doenças muito graves, é

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aconselhável começar o tratamento com uma veia principal e não com veias muitos pequenas. A amostra de sangue é cuidadosamente examinada e as instruções sobre o diagnóstico são dadas de acordo com as várias características, tais como: se o sangue está grosso ou fino e qual a coloração que tem a amostra. Assim, por exemplo, o sangue fino e pálido está relacionado com doenças de Bad kan. A quantidade de sangue retirado também é importante. Efeitos colaterais e complicações por erro Mesmo o menor erro pode trazer sérias conseqüências e, por esta razão, todo cuidado é direcionado para observar os possíveis erros. Pode ser que não possa ser retirado sangue suficiente porque o corpo do paciente não estava pré-aquecido corretamente, ou o paciente pode ter ingerido muito alimento antes do tratamento; o corte pode ter sido muito pequeno ou a ligadura pode ter sido removida muito cedo. É possível que não tenha sido retirado sangue impuro suficiente; o corte pode sangrar demasiadamente ou podem surgir edemas; a pele pode ter sido muito lesada, ou o instrumento pode não estar afiado adequadamente. São mencionadas também medidas para remediar estes erros. Medidas pós sangria Depois de realizada a sangria o paciente é instruído a repousar. O ponto de onde o sangue foi removido é massageado e depois coberto com curativo. Benefícios

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As vantagens deste método são múltiplas: as veias são limpas, o sangue impuro é removido, a dor é aliviada, os edemas desaparecem, o paciente obeso perde peso e o magro ganha peso. O método de sangria foi desenvolvido a um grau de perfeição por médicos tibetanos e é uma terapia muito eficaz. Este método tibetano tem pouquíssima relação com o termo “sangria” normalmente utilizado. Geralmente, apenas poucas gotas de sangue, retirados de pontos específicos, são suficientes para chegar ao fundo de uma doença. No entanto, as extensas passagens dedicadas aos possíveis erros e efeitos colaterais indicam claramente que seja pouco provável que este método de tratamento venha a ser utilizado no Ocidente sem instruções exatas de médicos tibetanos. O conhecimento detalhado dos canais, do curso dos vasos e suas qualidades também é necessário. Ao todo existem 77 vasos para “sangria” (21 localizados sobre a cabeça e pescoço; 34 sobre os ombros, braços, mãos e dedos; 18 sobre as pernas; 2 na área do estômago e 2 nos genitais masculinos). A “sangria” também é arriscada nos 302 pontos que os médicos tibetanos denominam “pontos vitais”, dos quais 190 estão sobre os vasos e portanto não podem ser utilizados para este procedimento. A aplicação da “sangria” nestes 190 pontos levaria a sérios desequilíbrios.

3. A Roda de Água Mágica

O terceiro método de tratamento das doenças causadas por mKris pa não é tão misterioso como soa o seu nome. Na verdade, trata-se de um tipo de hidroterapia na qual os pacientes são colocados sob

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uma cachoeira ou mesmo mergulhados em banheira de água fria.

Tipo-Bad kan

1. Terapias quentes

Indicações Problemas digestivos, cólicas estomacais, dor

causada por febre. A princípio, os tratamentos quentes são benéficos para todas as doenças de Bad kan. Contra-indicações Icterícia crônica, envenenamento, obesidade. Prática

Estes tratamentos quentes em geral são feitos em forma de compressas. Apesar do termo “dugs” (dugs pa = tornar quente) referir-se realmente a tratamentos quentes, outros tipos de compressas são na verdade mencionados neste contexto os quais não aquecem nem são quentes. Em certos tipos de febres e processos dolorosos, as compressas são feitas a partir de estômagos de animais preenchidos com água fria. Este método que utiliza o “estômago de animal” parece ser muito popular e geralmente emprega-se o estômago de carneiro. Neste caso, o tratamento cura edemas palpebrais, resultantes de lesões causadas por armas. A febre acompanhada por cólicas estomacais pode ser tratada com a aplicação de uma pedra fria retirada das margens de um rio. As compressas quentes são administradas como segue: sal aquecido para cólicas estomacais e problemas digestivos; excrementos aquecidos de

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carneiro com cerveja de grãos para edema linfático nas articulações. Nos casos de retenção urinária (causada pelos efeitos do frio), aplica-se uma mistura de excrementos de pombo e o resíduo e sementes trituradas. A aplicação de tijolos aquecidos é benéfica nos distúrbios frios. Musgo aquecido e grãos torrados são indicados para aplicação em forma de compressas para as doenças do fígado.

2. Cauterização

Há dois instrumentos utilizados neste método de tratamento – o cautério e a matriz de cauterização. Os mapas tibetanos informam-nos que estes instrumentos podem ser feitos de ouro, prata, cobre ou ferro. No entanto, tenho visto com freqüência os médicos tibetanos utilizarem apenas instrumentos de forma simples, feitos de ferro, contrastando com aqueles retratados nos mapas que são ricamente guarnecidos com motivos decorativos retirados da medicina indiana. Geralmente, há três orifícios na matriz de cauterização, que tem um formato de triângulo, pois a cauterização não é empregada apenas para tratar ulcerações, mas também para queimar certos pontos do corpo que também podem ser tratados por meio de moxabustão. A técnica utilizada na cauterização é muito simples. Os pontos a serem tratados são marcados, a matriz é posicionada sobre a pele no local apropriado e, finalmente, o cautério, que foi aquecido ao fogo, é aplicado sobre os orifícios na matriz sobre a pele. A duração do tratamento depende, evidentemente, da extensão de pele que deve ser aquecida. Apesar deste método de tratamento poder ser bastante conveniente e apropriado para o tratamento de ulcerações, é pouco provável que os pacientes

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ocidentais achem a cauterização particularmente agradável, enquanto que o próximo método de tratamento, moxabustão, poderia ser muito bem aplicado no Ocidente.

Moxabustão

Indicações Problemas digestivos, tumores, edemas linfáticos que afetem a cabeça e as articulações, edemas, abcessos, perda de memória, doenças dos “canais”, doenças linfáticas e diferentes tipos de febres. A princípio, o moxabustão está indicado para doenças que afetem os tipos Bad kan e rLung. Contra-indicações Todas as doenças do sangue e febres causadas por distúrbios de bile. Substância Utilizada A substância utilizada para moxabustão, a “isca” (spra ba), é obtida a partir de um tipo de artemísia. A planta deve ser coletada no oitavo dia do sétimo, oitavo e nono meses tibetanos. Após ser triturada, a substância é moldada em pequenas peças cônicas. O tamanho destes cones varias de acordo com o tipo de doenças que será tratada. Podem possuir, por exemplo, o tamanho da extremidade do quinto dedo para pontos da cabeça, dos membros e da região anterior do corpo, e pode ter o tamanho da extremidade do dedo indicador para pontos localizados na coluna vertebral. Prática 1. Ferver: Mais de 20 moxas são aplicados sobre um

único ponto. O tratamento dura cerca de 30 meses e está indicado para tratamento de tumores e abcessos.

2. Queimar: Um número menor, apenas 15 moxas são colocados sobre um único ponto. As doenças de Bad

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kan, linfa e do coração podem ser tratadas desta maneira.

3. Aquecer: O ponto em questão é aquecido um pouco utilizando-se apenas 6 moxas. As verminoses, a retenção urinária e a constipação podem ser tratadas desta maneira.

4. Amornar: Nos pacientes ansiosos e especialmente em crianças pequenas, o moxa deve ser removido imediatamente após ter sido aplicado uma vez.

Se o tratamento com moxabustão tiver que ser repetido sobre o mesmo ponto, o próximo moxa é aplicado e retirado quando dois terços do cone de moxa já estiver queimado. Este segundo moxa queima mais rapidamente e o calor deste dura mais tempo. O cone de moxa queimado não deve ser tocado com a mão, mas removido com uma agulha após molhar a cinza com saliva. Se a extremidade do cone explode para fora, é sinal de que o tratamento foi particularmente benéfico. O mesmo acontece quando se observa uma pequena marca redonda com pequenas bolhas. O estágio final do tratamento envolve a massagem sobre o ponto que está sendo tratado, após a remoção das cinzas. Os exercícios são benéficos para o paciente pois estimula a circulação do sangue. No entanto, o paciente não deve beber água gelada pois reduziria a eficácia do tratamento quente. Os pontos Os médicos tibetanos diferenciam dois tipos de pontos: 1. Pontos dolorosos: Há pontos ou locais dolorosos que

são indicados para o distúrbio em si. A dor aumenta quando se aplica pressão.

2. Pontos específicos: Neste caso também, os médicos tibetanos conhecem um grande número de pontos

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específicos, ou seja, pontos que possuem localização anatomicamente precisa e possuem indicações específicas. Os mapas que estudei e as instruções que recebi eram muito mais exatos do que aqueles relacionados com a sangria. É também muito mais fácil tornar-se familiarizado com este método de tratamento do que aprender o método da sangria, pelo menos para aqueles médicos que já estão habituados com a acupuntura. Nós temos praticado os métodos de moxabustão chineses e japoneses há trinta anos e, portanto, não há qualquer problema em publicarmos aqui todos os mapas e pontos com suas indicações. No entanto, isto será assunto do Volume III e, sendo assim, ultrapassa os objetivos do presente Volume. Apesar disso, eu gostaria de mencionar os pontos localizados sobre a coluna vertebral porque é interessante mostrar um comparação com os pontos da acupuntura. Quase todos estes pontos relacionam-se ao órgão sólido e oco correspondente e possuem nomes, assim como todos os pontos específicos.

Todos os pontos estão localizados – como dizem os tibetanos – “no topo” da coluna vertebral começando com a primeira vértebra que pode ser encontrada quando a cabeça do paciente é curvada para frente e para baixo. Ponto 1 = rlung gsang (vento) Tremores, dormir durante o dia, rigidez no

pescoço, surdez, problemas na fala, dores na cabeça.

Ponto 2 = mkhris pa gsang (bile) Doenças frias de mKris pa, dores em facada

na região da vesícula biliar e dos pulmões. Ponto 3 = bad kan gsang (fleuma)

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Doenças frias de rLung, dores pesadas no coração e nos pulmões, cefaléias, distúrbios na região superior do corpo.

Ponto 4 = glo ma gsang (lobo “posterior” do pulmão = “parte mãe”)

Ponto 5 = glo bu gsang (lobo “anterior” do pulmão = “parte filho”)

Em ambos os pontos: dores na região dos pulmões, tosse contínua especialmente à noite.

Ponto 6 = srog rtsa gsang (“canais vitais”) Tremores, distúrbios da fala, delírio,

desmaio, falha da memória, doenças de rLung e Bad kan.

Ponto 7 = snying gi gsang (coração) Os mesmos sintomas do Ponto 6. Ponto 8 = mchin dri (diafragma) Ponto 9 = mchin pa‟i gsang (fígado) Para ambos os pontos: tumores do fígado,

dores na região hepática, eructação, vômitos, soluços, mau funcionamento do fígado.

Ponto 10 = mkhris gsang (vesícula biliar) Coloração amarela dos olhos associado a

problemas digestivos, refluxo de bile, tumor da vesícula biliar, cefaléias contínuas, perda do apetite.

Ponto 11 = mcher gsang (baço) Sensação de peso no corpo, esplenomegalia.

Ponto 12 = pho ba‟i gsang (estômago) Problemas digestivos causados no

estômago, tumores na região do estômago, formação de massa sólida no estômago, doenças de bad kan abaixo do esterno.

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Ponto 13 = bsam se gsang (vesícula seminal; entretanto, o ponto está relacionado ao “ponto do ovário”; a referência foi estabelecida antes da incerteza existente com relação ao significado do termo bsam se‟u)

Tumores do útero, delírio, doenças mentais, obstrução uretral causado por aumento do útero.

Ponto 14 = mkhal ma‟i gsang (rins) Dores na área da cintura, “frio” nos rins,

dificuldade na eliminação de água, dificuldades com a espermatogênese.

Ponto 15 = don snod spyi gsang (ponto geral para “don” e “snod”)

Doenças frias de rLung. Ponto 16 = long gsang (intestino grosso) Peristaltismo excessivo no intestino grosso,

tumores, cólicas. Ponto 17 = rgyu ma‟i gsang (intestino delgado) Doenças frias de rLung, tumores, excreção

de fezes com muco. Ponto 18 = lgang pa‟i gsang (bexiga) Retenção urinária resultante dos efeitos do

frio, particularmente causada por exposição dos joelhos ao frio.

Ponto 19 = khu ba‟i gsang (sêmen) Eliminação involuntária de sêmen. Ponto 20 = thur sel rlung sgo‟i gsang (remoção de rLung

descendente) Flatulência, eliminação de fezes e muco. Desta maneira, numerosos pontos sobre todo o corpo são nomeados e localizados e seus sintomas relacionados são descritos com exatidão.

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De acordo com os médicos tibetanos, existem grandes vantagens no uso de moxabustão como método de tratamento. Em particular, o sistema digestivo é estimulado, os edemas são reduzidos, a memória é melhorada, os abcessos e ulcerações graves são rapidamente curados e os tumores desaparecem. O moxabustão é particularmente indicado nas doenças de Bad kan, mas este método é também utilizado no tratamento de muitas outras patologias quando outros métodos não obtém resultados. Nós podemos estar certos agora de que o moxabustão é o método de tratamento que pode ser aplicado com sucesso e sem quaisquer riscos no Ocidente. No entanto, é necessário também um completo conhecimento de todos os pontos e seus sintomas assim como ser iniciado e instruído por professores tibetanos.

Cirurgia

A cirurgia não é citada no sistema de medicina tibetana e é mencionada apenas em uma parte relativamente reduzida do livro rGyud bzhi. No Capítulo 22 da Parte 2 encontramos uma descrição relacionada principalmente com os instrumentos utilizados em procedimentos cirúrgicos; as denominadas “doenças menores” (encurtamento dos tendões, ferimentos causados por armas de fogo e perfurantes, corpos estranhos, etc.) toma grande parte da Parte 3 (Capítulos 44-62); os Capítulos 82-86, trata das lesões causadas por armas de fogo ou ferramentas, lesões na cabeça, danos na área da garganta, ferimentos localizados no tronco e lesões nas extremidades inferior e superior do corpo, estão relacionadas com a cirurgia assim como os

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métodos cirúrgicos de tratamento na Parte 4 (Capítulo 25). O relativamente pouco importante papel que a cirurgia ocupa no livro rGyud bzhi reflete-se na prática da medicina como um todo: a cirurgia apresenta um papel subordinado aqui, também; não há evidências de qualquer conhecimento sobre as chamadas “cirurgias maiores” tanto na teoria como na prática; e as técnicas cirúrgicas dos médicos tibetanos não podem ser consideradas como nada além do primitivo. É fato real que todas as outras abordagens disponíveis serão tentadas apenas para evitar a necessidade do uso da cirurgia. Os médicos tibetanos possuem uma notável habilidade para criar alternativas possíveis. Isto está também relacionado com a crença tibetana de que, basicamente, qualquer cirurgia maior sobre o corpo humano não é natural. Mesmo as transfusões sangüíneas são realizadas apenas com relutância e, se possível, de modo algum – mesmo assim, os tibetanos conhecem e praticam a auto-hemoterapia. Mesmo que os médicos tibetanos dificilmente possam ser considerados experientes no campo das “cirurgias maiores”, são certamente mestres nas habilidades das “cirurgias menores”: distorções e entorces, ulcerações, deslocamentos e sobretudo fraturas são tratadas precisamente, com os médicos demonstrando inteligência e tremenda habilidade para improvisar. Enquanto estive em Dharamsala, fui freqüentemente surpreendida com sua rica experiência nestes assuntos.

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Capítulo Quatro TIPOS CONSTITUCIONAIS

Como mostrei claramente na análise dos capítulos abrangidos pelo Volume 1, nós nos deparamos, em toda a medicina tibetana, com uma divisão em três partes. Em outras palavras, todos os aspectos do sistema refere-se aos três tipos – rLung (vento), mKris pa (bile) e Bad kan (fleuma) – sendo, portanto, correto falarmos de uma doutrina da constituição. A análise dos capítulos que este volume abrange enriqueceram mais a terminologia médica e revelou com mais clareza o caráter individual da medicina tibetana e, portanto, mais características dos três “humores”. Nem o diagnóstico nem a terapêutica são possíveis sem o conhecimento acerca do tipo constitucional do paciente – sem determiná-lo. Quando se descreve os três tipos, é praticamente impossível mencionar todos os aspectos envolvidos mas pode ser feita uma tentativa de relacionar algumas das características. Portanto, alguns aspectos típicos como o aumento e a redução das doenças e as qualidades do

sabor (para mencionar apenas uma ou duas) terão que ser excluídas, mesmo representando um papel vital na caracterização. Os três grupos seguintes foram escolhidos para relacionar as características dos três “humores” – rLung (vento), mKris pa (bile) e Bad kan (fleuma):

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1. Natureza e temperamento em geral

Estas características são descritas na Parte 2, Capítulo 6 do livro rGyud bzhi:

rLung: pequeno, gracioso, pele escura, sensível ao frio, loquaz, vivo, comunicativo, aprecia rir e cantar, não dorme muito; seu tempo de vida é curto; suas características são semelhantes às do abutre, do corvo e da raposa.

mKris pa: tamanho médio, pele de coloração amarelada, não suporta a fome ou a sede, possui sudorese fácil e abundante; talentoso e orgulhoso; seu tempo de vida é médio; suas características são semelhantes às do tigre e do macaco.

bad kan: rechonchudo e alto, pálido, corpo frio, suporta bem a fome e a sede, dorme profundamente, disposição amigável e agradável; a duração de sua vida é longa; suas características são semelhantes às do leão e do carneiro guia.

Existe, é claro, na medicina tibetana um grande

número de divisões em tipos constitucionais. No entanto, raramente surgem tipos “puros”, ou seja, quase todos os indivíduos apresentam características mistas. Os médicos tibetanos dividem tais “tipos mistos” nos seguintes sete grupos: Tipos rLung, mKris pa e Bad kan puros 3

Tipos que exibem características de todos os três 1

Tipos que exibem características pares: (rLung + mKris pa, rLung + Bad kan, mKris pa + Bad kan)

3

7

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2. Condições que geralmente dão origem às doenças

Estas características estão descritas na Parte 2, Capítulo 9, do livro rGyud bzhi.

rLung: vida desregrada, falta de sono, noites sem dormir, trabalho intenso, diálogos longos quando com fome, choro veemente, vômitos freqüentes, perdas de sangue. Preocupação e tristeza.

mKris pa: dormir durante a tarde, esforço excessivo ao levantar objetos pesados, movimentos excessivos em todos os aspectos – especialmente quando o tempo está morno. Aborrecimento.

Bad kan: dormir durante o dia, repouso após as refeições, permanência em locais úmidos, banhos demasiadamente demorados, vestimentas muito leves, comer em demasia e muito rapidamente.

3. As Características do Sistema

Nesta seção, foram relacionadas todas as características22 relacionadas com o diagnóstico e a terapia que foram obtidas através da análise dos textos. Todos os termos são organizados exatamente da mesma maneira como os encontramos no Sistema, e aqui eles foram resumidos mais uma vez de forma que possam ser mais facilmente memorizados. Dando prosseguimento a este breve mas importante capítulo no qual o conhecimento da constituição está sendo apresentado, gostaria de resumir o assunto que foi abrangido por este volume. No Volume 1, descobrimos, inter alia, o princípio da medicina tibetana, ou seja: dependendo dos três

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aspectos – bases da doença, constituintes corporais e excreções – estarem inalterados ou alterados, eles podem fazer com que o corpo permaneça saudável ou podem destruí-lo. Com relação a este princípio e em vista do importante papel desempenhado pelos tipos de sabores, a potência dos medicamentos e o aumento ou a diminuição dos três humores (para citar apenas alguns aspectos), a medicina tibetana não é muito diferente da medicina indiana. No entanto, através da tradução e da análise dos textos estudados neste Volume, foi possível determinar mais dos fundamentos teóricos da medicina tibetana exibindo características típicas como o diagnóstico através do exame do pulso, as vinte e nove questões sobre as causas das doenças (anamnese), a divisão em 4 X 101 doenças e os métodos de tratamento tibetanos, para citar apenas alguns. As breves descrições das nove disciplinas possibilitam-nos observar agora a medicina tibetana como um todo, pelo menos face às suas características principais e estrutura. Esta abordagem sistemática também significa que, em pesquisa posterior, será possível utilizar os textos para realizar um estudo mais detalhado destas disciplinas. Com a ampliação da terminologia médica e a descrição das nove disciplinas, damos início à pesquisa na medicina tibetana. No entanto, há um longo caminho para seguirmos até que as portas se abram revelando a essência da medicina tibetana, o “Conhecimento Óctuplo”.

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Capítulo Cinco O LIVRO RGYUD-BZHI

A parte final deste livro deve ser dedicada ao trabalho que assegurou uma posição de destaque na medicina tibetana, o qual não foi incorporado ao cânone lamaísta e cuja origem e autoria são desconhecidos – o livro rGyud-bzhi, que é também o ponto inicial deste estudo. A estrutura do livro rGyud

No Volume 1, a estrutura do livro foi descrita como segue:

Parte 1 rtsa ba‟i rgyud 11 fólios 6 capítulos

Parte 2 btsad pa‟i rgyud 43 fólios 31 capítulos

Parte 3 man ngag gi rgyud 275 fólios 92 capítulos

Parte 4 phyi ma‟i rgyud 67 fólios 27 capítulos

396 fólios 156 capítulos

Assim, este livro é composto de quatro partes.

Levanta-se então a questão se qualquer indicação quanto à origem do livro pode ser obtida através da comparação de sua estrutura com a estrutura dos trabalhos mais importantes da medicina indiana. Caraka, Susruta e Vagbhata são considerados os mais eminentes médicos indianos e são também os autores dos mais importantes trabalhos da medicina indiana, cuja estrutura será comparada aqui com aquela do livro rGyud-bzhi.

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Caraka-Samhita é composto de 8 partes Susruta-Samhita é composto de 6 partes Astangahrdayasamhita de Vagbhata é composto de 6 partes

Nenhum dos trabalhos acima mencionados está organizado da mesma maneira que o livro rGyud-bzhi, que tem quatro partes. É possível que os tibetanos escolham esta divisão em quatro partes para chamar a atenção (através da duplicação) para o “Conhecimento Óctuplo” (os oito ramos do conhecimento médico) da medicina tibetana. O Conhecimento Óctuplo O título do livro rGyud-bzhi contém as palavras “Conhecimento Óctuplo” = yan lag brgyad pa, que é na verdade o âmago de toda a medicina tibetana. Na Parte 1, Capítulo 2 do livro este “Conhecimento Óctuplo” é definido como

lus dang byis pa mo nad gdon// mtshon dug rgas dang ro tsa pa//.

Estes termos demonstram o “Conhecimento Óctuplo”, que é apresentado na seguinte ordem na Parte 3 do livro:

1 lus (corpo) 70 capítulos terapia geral

2 byis pa (criança) 3 capítulos pediatria

3 mo (mulher) 3 capítulos ginecologia

4 gdon (espíritos prejudiciais) 5 capítulos psiquiatria

5 mtshon (lâmina) 5 capítulos cirurgia

6 dug (veneno) 3 capítulos toxicologia

7 rgas (velhice) 1 capítulo rejuvenescimento

8 ro tsa pa ( potência sexual) 2 capítulos virilização

92 capítulos

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Os três trabalhos indianos estão organizados como segue: Caraka-Samhita Susruta-Samhita Vagbhata 23 1 terapia geral 1 cirurgia geral 1 terapia geral 2 cirurgia supraclavicular 2 cirurgia supraclavicular 2 pediatria 3 cirurgia geral 3 terapia geral 3 psiquiatria 4 toxicologia 4 psiquiatria 4 cirurgia supraclavicular 5 psiquiatria 5 pediatria 5 cirurgia geral 6 pediatria 6 toxicologia 6 toxicologia 7 rejuvenescimento 7 rejuvenescimento 7 rejuvenescimento 8 virilização 8 virilização 8 virilização

Estas comparações revelam que a organização do

“Conhecimento Óctuplo” no tratado de Vagbhata é mais parecido com aquele do livro rGyud-bzhi: das oito disciplinas, oito ocupam o mesmo lugar em ambos os livros nesta comparação. Devemos acrescentar que a disciplina “Doenças das Mulheres” aparece no livro rGyud-bzhi, mas em nenhum dos trabalhos indianos mencionados. Como observamos acima, o “Conhecimento Óctuplo” é apresentado na Parte 3 do livro rGyud-bzhi, que é também a parte mais longa (275 fólios, 92 capítulos). O erudito tibetano, Sangs rgya rgyas mtsho, escreveu comentários sobre todas as partes do livro rGyud-bzhi em seu trabalho “Bai du rya sngom po”. O comentário sobre a Parte 3 é particularmente longo (563 fólios). O mesmo autor escreveu também um comentário (288 fólios) sobre a Parte 3 do livro rGyud-bzhi em seu livro “lHan thabs”. Portanto, pode-se concluir que esta terceira parte parecia ser particularmente interessante ou de difícil compreensão. Mais provavelmente, a Parte 3 é assim importante em razão dos oito ramos. A medicina Ayurvédica que constitui a base de todo o livro está apresentada aí. Como a organização do “Conhecimento Óctuplo” do livro rGyud-bzhi é mais

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semelhante com aquele existente no tratado de Vagbhata, podemos admitir que os dois livros estão relacionados em certa extensão. Um outro fator sustenta esta suposição. Um capítulo do “Conhecimento Óctuplo” é trabalhado em textos paralelos. O Astangahrdayasamhita de Vagbhata estava, como é de amplo conhecimento, incluído no bsTan„gyur. O terceiro capítulo da última seção (uttarasthana) corresponde ao sétimo terceiro capítulo (Parte 3) do livro rGyud-bzhi. Em 1937, J. Filliozat traduziu o capítulo correspondente do rGyud-bzhi e comparou a versão em sânscrito com a versão tibetana:24 “La concordance générale de ce chapitre avec etudié plus haut de Vagbhata est evident.” Evidentemente, um único capítulo não pode provar qualquer coisa. Finalmente, é tarefa de tibetologistas, e não minha, resolver o problema da origem e da autoria do rGyud-bzhi. No entanto, é perfeitamente compreensível que estas questões sejam levantadas aqui tendo em vista o fato de que minha pesquisa foi fundamentada no livro rGyud-bzhi. Tibetologistas

É bastante natural, no final deste livro, que seja feita referência às opiniões daqueles tibetologistas que atentaram particularmente ao assunto da medicina tibetana. Já foi mencionado no Volume 1 que duas autoridades sobre este assunto, W. A. Unkrig e C. Vogel, não duvidam da importância do rGyud-bzhi. J. Filliozat também afirma que o livro rGyud-bzhi domina a medicina tibetana e mongól e que existe uma semelhança entre este livro e o tratado de Vagbhata.

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“No entanto, não se pode afirmar que o autor do livro rGyud-bzhi baseou seu trabalho no de Vagbhata – é perfeitamente possível que, na verdade, seja o inverso. Talvez possamos aceitar que ambos os textos estejam baseados, independentemente um do outro, em uma fonte comum que esteja agora desaparecida. Esta questão deve ser com certeza levantada mais uma vez.” (Tradução do francês.) K. Lange, em seu livro “Die Werkw des Regenten Sangs rgyas rgya mc‟o” (1653-1705)25, no qual ela trabalha com a enciclopédia médica deste erudito (Bai

du rya sngon po), também afirma que até agora em toda a literatura médica tibetana e mongól, o livro rGyud-bzhi tem sido relacionado como um estudo básico. No entanto, é incompreensível o motivo pelo qual este trabalho seja considerado como uma tradução tibetana de um original Indo-budista que tenha sido lamentavelmente perdido. “Nós deveríamos portanto considerar o rGyud-bzhi – que não pode ser simplesmente compreendido por um não-iniciado sem os comentários esclarecedores do Vaidurya sngon po‟i P‟reng ba – na versão escrita disponível, como um dos textos do século dezessete ou dezoito escritos quando certas tradições antigas, e anteriormente apenas orais, foram primeiramente gravadas e então dogmatizadas.” (Traduzido do alemão)

R. E. Emmerick, indubitavelmente a maior autoridade sobre este material, tem dedicado particular atenção a esta questão26. No artigo em questão, ele chega à conclusão de que permanecem três possibilidades: “1. Devem ter existido dois Rin chen bzang po (14), um que viveu no século 8 e outro no século 11, o

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primeiro deve ter traduzido o Astangahrdayasamhita de Vagbhata e o outro, traduzido o comentário de Candranandana sobre ele. Isto explicaria a tradição tibetana que torna Rin chen bzangg po contemporâneo a Jinamitra (15), que colaborou com Danasila no começo do século 9. Há também a tradição gravada no Blue Annals (16) colocando Rin chen bzang po anterior a Danasila na sucessão da transmissão dos ensinamentos de Ravi-gupta. 2. Deve ter sido Gyu thog pa, o anterior, datado do século 11, quem utilizou a tradução de Rin chen bzang po do Astangahrdayasamhita de Vagbhata. A tradição tibetana pode ter confundido os dois Gyu thog pas. Candranandana pode ter sido então contemporâneo do rei Abhimanyu II de Kashmir (que reinou entre 958-972 D.C.) (17) 3. O Gyu thog pa, o posterior, pode ter recebido a tradução feita por Vairocana do Astangahrdayasamhita como na tradição tibetana escrita em sua biografia. Neste caso Rin chen bzang po deve ter tomado conta da tradução de Vairocana mais ou menos por inteiro. Nada é conhecido na tradição indiana sobre a tradução de Vairocana.” Portanto, gostaria de concluir expressando a espe-rança de que não apenas os mistérios que circundam o rGyud bzhi sejam solucionados pelos tibetologistas, mas também que este livro seja, um dia traduzido por inteiro por estes estudiosos. Desta forma será possível voltarmos ao tópico para algo mais que os fundamentos teóricos que foram descritos neste livro – a prática da medicina tibetana.

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Capítulo Seis PESQUISA NA MEDICINA TIBETANA

As seguintes traduções assim como resumos do livro rGyud bzi estão disponíveis – à parte os trabalhos em hindi e japonês mencionados na bibliografia que ainda necessitam ser revisados. 1835 A. Csoma de Körös fez uma importante análise do

livro rGyud bzi em seu trabalho “Análise de um trabalho médico tibetano”.

1898 P.A. Badmaev trabalhou com a Parte 1 e a Parte 2 da versão mongól. Os nomes tibetanos infeliz-mente foram traduzidos apenas foneticamente.

1903 O mesmo autor escreveu um trabalho que é um resumo bastante sucinto da Parte 1 e da Parte 2 do rGyud bzi.

1901 D. Ul‟janov, de acordo com W.A. Unkrig, fez uma tradução inadequada da Parte 1 do rGyud bzi. (Por esta razão nós não mencionamos na Bibliografia a pequena edição alterada de 1903).

1908 A. M. Pozdneev traduziu a Parte 1 e a Parte 2 das versões mongól e tibetanade forma não reduzida.

1934 W. A. Unkrig traduziu do mongól: “Das Kapitel vom praktischen Arzt” (Capítulo 31 da Parte 2) e “Zur Gegenwartsstellung der lamaistischen Heilkund und über ihr Instrumentarium (Capítulo 22 da Parte 2).

1937 J. Filliozat traduziu o Capítulo 73 da Parte 3: “Chapitre du traitement des démons des enfants” (In Documents tibétains do livro Le Kumaratantra

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de Ravana, páginas 123-142). 1954 J. Filliozat traduziu o Capítulo 3 da Parte 1

(Asiática). Dos trabalhos listados, a tradução russa (1908) por A. M. Pozdneev (da Parte 1 e Parte 2 do livro rGyud bzi) é a mais valiosa. A lista mostra que pouquíssimas traduções são disponíveis e que uma tradução do livro rGyud bzi por inteiro não existe. Agora que podemos entrar em contato com médicos tibetanos no exílio, um estudo da medicina tibetana a partir das fontes deve ser tentado novamente (os trabalhos russos datam do começo do século). Este estudo deve começar com a terminologia médica tibetana. Com relação a um outro método asiático de cura, a acupuntura, que vem adquirindo reconhecimento acadêmico, temos protelado o trabalho conjunto com sinologistas para a tradução de trabalhos fundamentais chineses, e perdido muito tempo com desnecessárias especulações filosóficas. Não devemos repetir este erro com a medicina tibetana. Precisamos ver a medicina tibetana a partir do tratado padrão tibetano, o rGyud bzi com real auxílio dos tibetologistas e médicos tibetanos. O volume 1 começa com uma pesquisa (estudo da medicina tibetana, história da medicina, autores, trabalhos médicos, conteúdo do livro rGyud bzi) e então faz uma introdução a temas mais difíceis. Com a tradução e apresentação do Capítulo 6 (Sistema) e a tradução e apresentação do Capítulo 3 (Raiz A = organismo saudável e doente) fizemos um ponto de partida na elaboração da terminologia médica. Este estudo tem sido estabelecido de forma que a medicina

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tibetana possa continuar a ser sistematicamente derivada e apresentada a partir das fontes. A continuação da análise vem a seguir: Volume 2

Título: Fundamentos da Medicina Tibetana. Diagnóstico e Terapia de acordo com o livro rGyud bzi. (Título do trabalho). Capítulo 4 da Parte 1 do rGyud bzi. Blocos de impressão, transliteração do texto, análise do Diagnóstico (Raiz B = Tronco III, IV e V do Sistema). Capítulo 5 da Parte 1 do rGyud bzi. Blocos de impressão, transliteração do texto, análise dos Métodos de Cura (Raiz C = Tronco VI, VII, VIII e IX do Sistema).

Terminologia médica de conceitos específicos, denominados: 3 Raízes, 9 Troncos, 47 Ramos e 224 Folhas do Sistema de medicina tibetana.

Produção de um índice27 dos termos mencionados, consistindo de: caracteres tibetanos – transliteração – transcrição fonética – tradução para o inglês - português. Desta forma estará disponível uma nomenclatura derivada das fontes para o estudo da medicina tibetana.

No volume 2 a estrutura28 do livro rGyud bzi e o conhecimento óctuplo29 será discutido.

A apresentação completa do sistema de medicina tibetana, que não é encontrado em nenhum trabalho médico indiano, levantará a questão sobre o motivo pelo qual os médicos tibetanos criaram um sistema independente e individual.

A classificação das disciplinas individuais serão vistas a partir da apresentação das nove seções do conhecimento médico (Tronco I-IX). Na Terapêutica, por exemplo, o estudo mais extenso é sobre os

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medicamentos, o restante trata dos Métodos de Tratamento (externo).

Os números que aparecem no sistema serão estudados e relacionados com aqueles utilizados na filosofia budista. A interpretação dos números é uma extensa área de estudo; o número 9 em particular será discutido, pois é de suprema importância30. É possível que certos números do Sistema apresentem alguma relação com os conceitos da teoria dos tridoshas indiana, a saber, com as qualidades dos sabores e a elevação ou redução dos doshas; este fato pode ser comprovado com exemplos.

Os termos derivados dos textos serão comparados com conceitos conhecidos do budismo. Apenas em um caso foi feita referência aos conceitos budistas (Tronco II, Ramo 1 = causas desencadeantes). Quando continuarmos a comparação entre os termos médicos e os conceitos oriundos do ensinamento budista poderemos observar quão próxima está a ligação entre a medicina tibetana e a filosofia budista.

Concluindo, a origem e autoria do livro rGyud bzi devem ser consideradas. No momento, podemos apenas arriscar uma possibilidade; pode ser que no caso da Parte 3 do livro rGyud bzi – o mais compreensível e comentado (que também contém o conhecimento óctuplo) – um original em sânscrito tenha sido perdido em uma época bastante remota, mas anteriormente traduzido por tibetanos, e as Partes 1, 2 e 4 tenham sido adicionadas depois. Talvez seja possível neste ponto encontrar detalhes da autoria e origem do livro rGyud bzi. As opiniões de tibetologistas sobre a questão também serão citadas.

O Volume 2 conterá, portanto, a base para a terminologia médica necessária e ao mesmo tempo

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reunirá com a prática da medicina tibetana, exemplos do que já foi apresentado no Volume 1.

Volume 3 Título: A prática da Medicina Tibetana.

Uma vez estabelecida a terminologia médica, tornar-se-á possível a descrição da prática da medicina tibetana. As diversas tabelas e painéis fornecidos por Yeshe Donden puderam ser utilizados aqui, juntamente com experiências reunidas pelos médicos tibetanos nos Himalaias, para a apresentação da prática da medicina tibetana – a área específica da autora. Agora é possível afirmar que a medicina tibetana não possui apenas interesse teórico mas, como experimentado no caso da acupuntura, pode ser aplicada com grande sucesso.

No Capítulo 1 são indicadas as influências que marcaram a medicina tibetana, ou seja: as influências pré-budistas, o budismo tibetano, a antiga medicina indiana e a antiga medicina chinesa, para mencionar as mais importantes.

A medicina tibetana apresenta características marcantes mas o impacto especial desta arte de curar pode tornar-se clara apenas quando as influências mencionadas forem mostradas individualmente.

Portanto, no final desta longa jornada, é possível dizer:

Esta é a característica especial da medicina tibetana.

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Transliteração

As palavras tibetanas não são traduzidas

foneticamente, mas uniformemente transliteradas de acordo com o Hamburger Transliterationsystem. (Ver M. Hahn: Lehrbuch der Klassischen Tibetischen Schriftsprache). Este sistema está baseado em dois princípios:

1 Os caracteres, que também são encontrados no alfabeto Devanagari, são transliterados da mesma forma.

2 A transliteração deve dar uma tradução não ambígua ao modelo.

Os 30 caracteres básicos são:

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TÍTULOS DOS TRABALHOS

A. Blocos de impressão Os seguintes blocos de impressão foram usados para este trabalho: 1) rGyud bzi (Título abreviado) bdud rtsi snying po yan lag brgyad pa gsang ba man ngag gi rgyud Edição: Lhasa, Chak po ri. Volume: 396 fólios

Tamanho do fólio: 58 x 10 cm. Área impressa: 51 x 7 cm. Número de linhas: 6 O bloco de impressão no qual o texto está baseado está em minha posse. 2) Bai du rya sngon po (Título abreviado) gso ba rig pa‟i bstan bcos sman bla‟i dgongs rgyan rgyud bzi‟i gsal byed bai dur sngon po‟i malli ka (Parte 1) Edição: Lhasa, Chak po ri. Volume: 40 fólios Tamanho do fólio: 58 x 10 cm. Área impressa: 51 x 7 cm. Número de linhas: 6 Os blocos de impressão foram analisados em Dharamsala. Nenhuma referência particular a este trabalho foi feita neste estudo que, no entanto, foi usado para esclarecer o capítulo traduzido. 3) Glang thabs (Título abreviado) bdud rtsi snying po yan lag brgyad pa gsang ba man ngag yon tan rgyud kyi glang thabs zug rnyu‟i tsha gdung sel ba‟i katpura dus min „chi zhags gcod pa‟i ral gri Edição: Lhasa, Chak po ri. Volume: 288 fólios Tamanho do fólio: 46 x 9 cm. Área impressa: 42 x 7 cm.

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Número de linhas: 6 O bloco de impressão está em meu poder e foi consultado para esclarecer a terceira parte do rGyud bzi. B. Reprodução dos Blocos de Impressão

1) cha lag bco brgyad Bloco de impressão do monastério de Dga‟ ldan phun tshogs gling. Reproduzido pelo Professor Lokesh Chandra sob o título Yuthok‟s Treatise on Tibetan Medicine. International Academy of Indian Culture, Sata-Pitaka Series, Indo-Asian Literatures, Vol. 72, New Delhi, 1968. Capítulo 16 (págs. 368-508): rgyud chung bdud rtsi snying po (Resumo do livro rGyud bzi) foi utilizado para elucidar o Sistema. 2a) bdud nad gzhom pa‟i gnyen po rtsi sman gyi nus pa rkyan bshad gsal ston dri med shel gong Título abreviado: dri med shel gong 2b) bdud rtsi sman gyi rnam dbye ngo bo nus ming rgyas par bshad pa dri med shel phreng Título abreviado: dri med shel phreng 2c) lag len gces bsdus Estes três trabalhos de bsTan „dzin phun tshogs foram reproduzidos po Tashi Yangphel Tashigang com o título: “Principles of Lamaist Pharmacognosy”. Smantrtsis Shesrig Spendzod Series, Vol. 6, Ladakh, 1970 2) gso byed bdud rtsi‟i „khrul med ngos „dzin bzo rig me long du rnam par shar pa mdzes mtshar mig rgyan zhes bya ba bzhugs so Reproduzido pelo Professor Lokesh Chandra sob o título An Illustrated Tibeto-Mongolian materia medica of

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Ayurveda of „Jam dpal rdo rje of Mongolia. Da coleção de Sua Santidade Z.D. Gomboev, com o Prefácio de E. Gene Smith. International Academy of Indian Culture, Sata-Pitaka Series, Indo-Asian Literatures. Vol. 82, New Delhi, 1971. Diagrama da Raiz A (fól. 16/17), diagrama da Raiz B (fól. 20/21), diagrama da Raiz C (fól. 26/27,28/29): utilizado na apresentação do Sitema com a permissão do Professor Lokesh Chandra. As reproduções dos blocos de impressão estão em minha posse.

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BIBLIOGRAFIA

Vimos na Introdução que pouco da literatura de

importância relevante sobre o assunto da medicina tibetana está disponível. Não há qualquer livro sobre o assunto que – baseado em fontes – descreva a medicina tibetana, nem uma bibliografia, além da de Rechung Rimpoche: Tibetan Medicine, Wellcome Institute for the History of Medicine, Londres, 1973. W. A. Unkrig escreveu em sua Introdução: “Aquele que deseja orientar-se neste tópico está sujeito a exaustivas pesquisas em jornais e referências ocasionais em filmes de viagens e literatura etnológica.” A compilação de uma bibliografia portanto, apresenta um grande problema: alguns dos títulos mencionados foram conseguidos a partir dos seguintes trabalhos: 1. W. A. Unkrig forneceu algumas informações valiosas,

na acima mencionada Introdução, sobre a literatura russa e polonesa.

2. H. Laufer reuniu uma grande quantidade de material até 1900 (Beiträge zur Kenntnis der tibetischen Medizin).

Esta bibliografia não pretende ser completa; no entanto, representa um começo.

Os livros que relatam a história e a religião do Tibete devem ser incorporados em uma bibliografia própria para um trabalho posterior.

Nesta bibliografia, livros e trabalhos menos extensos foram listados juntos. Os números marginais mostram que os trabalhos de mesma autoria são menos

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abrangentes, mas não menos valiosos ao leitor. Incluímos uma tradução (entre parênteses) de alguns títulos estrangeiros; foram adicionadas notas sobre o conteúdo de algum livro importante após o título.

As primeiras referências à medicina tibetana nos trabalhos sobre a História da Medicina: 1867 - Th. A. Wise fez a primeira tentativa de esboçar a

medicina tibetana dentro do campo da história da medicina. Este médico, dedicou um capítulo para a medicina, e neste – de acordo com H. Laufer – repete o trabalho de A. Csoma de Körös Analysis of a Tibetan Medical Work quase que palavra por palavra, adicionando o uso das anotações de viagem de Turner e Huc como suas fontes.

1875 - Uma breve referência é encontrada em H. Haeser. 1893 - G. A. Liétard dedicou 1-5 colunas à medicina

tibetana; 1906 - M. Neuburger, uma página.

De material recente dificilmente pode-se encontrar qualquer coisa sobre medicina tibetana na maioria dos trabalhos sobre História da Medicina. 1. Badaraev B. B.

Dzejcxar Migczan. Pamjatnik, Tibetskoj Mediciny (Russo) Novosibirsk, 1985.

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NOTAS 1 Rock, J. F. a) Studies in Na-khi Literature. Em: B.E.F.E.-O,t XXXVII, 1937. b) Muan bpö or the Sacrifice to Heaven. Em: Monumenta Serica, Vol.

XIII, 1948. c) The Na-khi Naga Cult and related ceremonies. Serie Orientale Roma, Vol. IV, Roma, 1952. 2 O Tronco I apresenta a denominação “organismo saudável”, sendo o termo tibetano “rnam par ma gyur pa” = inalterado. O termo “organismo saudável” corresponde a este organismo inalterado e refere-se à embriologia, à anatomia e à fisiologia da medicina Ocidental. O Tronco II apresenta a denominação “organismo doente”, sendo o termo tibetano “rnam par gyur pa” = alterado. O termo “organismo doente” corresponde a este organismo alterado e está se referindo à patologia da medicina Ocidental. O Tronco V apresenta a denominação “questionamento”, sendo o termo tibetano “dri ba” = questionar. A disciplina Ocidental correspondente é a anamnese. Quanto à “nutrição”, poderíamos substituir o termo “dieta”; “comportamento” corresponde à nossa disciplina “higiene”; a disciplina “medicamentos” é a “farmacologia” na medicina Ocidental. Estas traduções simplificadas dos termos tibetanos possibilita-nos compararmos as disciplinas tibetanas com as nossas Ocidentais. Nas Apresentações os termos são citados como aparecem geralmente no texto: sem o sufixo; por exemplo, yang ao invés de yang ba, snum ao invés de snum pa. 3 Considero importante incluir uma descrição resumida da anatomia porque, se nada é conhecido sobre os “pontos vitais”, por exemplo, não estaria óbvio porque este termo é tão importante na terapia da sangria. 4 Nesta passagem do livro rGyud bzhi (Parte 2, Capítulo 4), não encontramos qualquer informação sobre as significativas “rodas” = „khor lo (chakras). Outra importante referência a elas: Bai du rya sngon po.

Estes „khor lo são particularmente significativos pois somente através deles podemos explicar o fenômeno cosmológico correspondente, a sutileza e as energias da medicina tibetana. Confesso que a demora na publicação deste livro deveu-se apenas à grande quantidade de trabalho envolvido em minha prática médica, mas também deveu-se à pesquisa intensiva e demorada que requisitou o

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assunto das “rodas”. O resultado desta pesquisa será publicado em breve. (Pode-se utilizar como referência um artigo que escrevi na Deutsche Zeitschrift für Akupunktur, Vol. 5/6, 1956, entitulado “Die Akupunktur im Spiegel der Chakras”.) 5 No livro Bai du rya sngon po, encontramos o seguinte comentário: dri

ma dugs te dri ma shin tu che ba/. Significa: cheiro quente é um cheiro muito forte. 6 Diagnóstico através do exame da urina: Neste capítulo, as alterações na urina são descritas em detalhes – esta descrição detalhada indica a grande importância do diagnóstico da urina. 7 Acerca das “extremidades dos dedos” ver: Rechung Rimpoche Tibetan Medicine, Londres, 1973, 93, 94. Yeshe Donden e Jeffrey Hopkins An Anatomy of Body and Diseases. Ver também: An Introdution to Tibetan Medicine, ed. Dawa Norbu, A Tibetan Review Publication, New Delhi, 1976, 28, 29. Nagwang Dagpa, La sphygmologie tibétaine. Em: Les médecines

Traditionelles de l‟Asie, Strasbourg, 1979, 29. 8 Diagnóstico pelo exame do pulso: Detalhes deste método de diagnóstico são encontrados no livro rGyud-bzhi, parte 4, Capítulo 1.

Uma análise precisa deste longo capítulo é importante, não apenas para a prática da medicina tibetana visto que, aqui, são descritas todas as diversas alterações nos pulsos que são típicas das doenças, mas também porque o conhecimento deste importante capítulo é essencial para comparar o diagnóstico pelo pulso tibetano e chinês. 9 sha chen: De acordo com os médicos tibetanos de Dharamsala, carne de um herói que morreu em uma batalha. 10 skyabs: De acordo com os médicos tibetanos de Dharamsala, um tipo de dente-de-leão. 11 mgo khrol: De acordo com os médicos tibetanos de Dharamsala, sopa de cabeça de carneiro moída e envelhecida. 12 „bras bu gsum: = os três mirabólanos: I. a ru ra = mirabólano chebula (Terminalia chebula) II. ba ru ra = mirabólano belerica (Terminalia bellerica) III. skyu ru ra = mirabólano emblica (Phyllanthus emblica). 13 rgod ma kha: uma preparação de substâncias ásperas (comunicado oral: R. E. Emmerick). 14 tshva bsregs pa‟i thal sman: De acordo com os médicos tibetanos de Dharamsala, cinza medicinal preparada com sal e quartzo. 15 cong zhi: provavelmente CaCO3, um tipo de cal branco e cristalino.

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16 W. A. Unkrig: Zur Terminologgie der lamaistischen Medizin, besonders ihrer Arzneien. Em Forschungen und Fortschritte, 12, 20/21,

1936, págs. 265-266. 17 Professor R. E. Emmerick, Hamburg, em particular, está trabalhando nesta área. 18 Eu vi um livro deste tipo na Inglaterra quando o Dr. T. Y. Tashigangpa, um médico de Ladakh, estava lendo um texto em uma conferência. O livro, que foi aparentemente publicado na China, continha aproximadamente 1.000 ilustrações de plantas providas de nomes em tibetano, chinês e latim. 19 De acordo com as leis do Conselho Europeu, evidências rígidas são exigidas com relação à eficácia terapêutica e inocuidade de quaisquer novos fármacos. Isto é o que dizem as novas leis farmacêuticas. Na República Federal da Alemanha, a nova Lei Farmacêutica entrou em vigor em 1 de janeiro de 1978. Um total de vinte países exigem esta comprovação, onze países aguardam-na e oito deles, não a exigem. Será difícil obter a necessária comprovação de eficácia com as preparações herbáceas. 20 A dificuldade encontrada com termos relacionados com “sabor” é mostrada pelas traduções e comentários contidos em C.Vogel, Vagbhata‟s Astangahrdayasamhita (pág. 58) 21 No livro Vagbhata‟s Astangahrdayasamhita escrito por L. Hilgenberg e W. Kirfel, as seguintes passagens são encontradas na discussão sobre o aumento e a redução dos Doshas (pág. 62): “... Faz-se uma distinção entre 57 combinações de qualidades do sabor mas, ao todo, existem 63... Há 25 possibilidades se estiverem aumentados desta forma... Portanto, 62 possíveis diferenças são ensinadas. A 63ª é a causa da saúde.” No Volume I (Capítulo 3 do livro rGyud-bzhi), foi apontado que o Tronco “Organismo Saudável” tem 25 folhas e o Tronco “Organismo Doente”, 63 folhas. O trecho fala basicamente que o vigor do corpo aumenta se estes 25 items estão em equilíbrio. Se saem deste equilíbrio, eles prejudicam o corpo e resultam em 63 doenças. Há notáveis correspondências às figuras no livro de Vagbhata referentes aos Doshas. 22 Todos os termos foram propositalmente repetidos nesta apresentação de tal forma que eles poderão ser mais facilmente memorizados. Os parêntesis foram retirados em alguns termos mas mantidos em outros. A intenção deste painel é também apresentar ao leitor um tipo de resumo da terminologia médica. Uma terminologia médica completa será incluída no próximo Volume, abrangendo não apenas os termos analisados neste livro mas também os demais termos mencionados

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anteriormente. Serão organizados como segue: Caracteres tibetanos – transliteração – transcrição fonética –– tradução portuguesa. 23 C. Vogel: On Buston‟s view of the eight parts of Indian medicine. Em:

Indo-Iranian Journal, 6 (3/4), 1963, pággs. 290-295. 24 J. Filliozat: Chapitre du traitement des démons des enfants. Em: Le Kumaratantra de Ravana, pággs. 123-142. 25 K. Lange: Die Werke des Regenten Sangs rgyas rgya mtcho (1653-

1705). Akademie-Verlag Berlin, 1976, págs. 141-143. 26 R. E. Emmerick: Sources of the Rgyud-bzhi. Em: Zeitschrift der

Deutschen Morgenländischen Gesellschaft III, 2, 1977, págs. 1135-1142.

27 No volume 1 a inclusão de um registro da terminologia médica foi deliberadamente omitida, pois uma terminologia médica completa será apresentada na Parte 2 do estudo. Um índice dos autores e de trabalhos médicos foi omitido, pois estes são facilmente distingüíveis nos seus respectivos capítulos.

28 O rGyud bzi dividido em quatro partes difere em sua estrutura dos

grandes trabalhos indianos dos médicos Caraka, Susruta e Vagbhata: nenhum dos trabalhos indianos está dividido em quatro seções. Talvez tenha sido intenção dos tibetanos chamar atenção, com a divisão em quatro partes (duplicando-a), para o conhecimento em oito partes. Com relação a esta estrutura os trabalhos indianos foram descritos em detalhes e comparados com o rGyud bzi.

29 O conhecimento dividido em oito partes – isto já pode ser determinado – é descrito na terceira parte do livro rGyud bzi (ver Sumário do livro rGyud bzi e Referências). O conhecimento óctuplo é

claramente definido e difere da organização indiana no qual as doenças femininas são colocadas em terceiro lugar.

30 O número 9, entre outros, representa um importante papel na religião nativa Bon.