Física Quântica Sincronicidades
-
Upload
manu-rodrigues -
Category
Documents
-
view
212 -
download
0
description
Transcript of Física Quântica Sincronicidades
Sincronicidades: Física Quântica e Psicologia
AnalíticaArtigos Física Quântica Sincronicidades: Física Quântica e…
27 de maio de 2015
Quando uma criatura humana desperta para um grande
sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o
universo conspira a seu favor”.
- Goethe
Quem nunca passou por uma situação na qual parecia que o universo
estava tentando falar alguma coisa? Você pensa em alguém e essa
pessoa te liga. Você sonha com alguém e depois esbarra com ela na rua.
Na mesma semana te falam de uma música, filme ou livro e parece que
ele está em todos os lugares. E aquela ligação estranha entre irmãos
gémeos, exploradas pelo cinema, em que um sofre um acidente e o
outro sente dor? Esse tipo de situação normalmente é chamada de
coincidência. Mas será que é só isso, um evento arbitrário?
Esse tipo de fenómeno está sendo cada vez mais estudado dentro dos
campos da parapsicologia e afins, e parece que agora a ciência começa
a entender um pouco melhor isso e explicar essas coisas de forma
‘científica’. Mas se voltarmos um pouco na história, essas situações já
eram vividas e entendidas pelos místicos.
No hermetismo, um antigo sistema filosófico e mágico atribuído ao
misterioso Hermes Trismegisto, autor da famosa “Tábua de Esmeralda”
entre outros textos, existem algumas concepções que explicam o
funcionamento do Universo. Segundo o livro Caibalion, um clássico da
literatura hermética, a primeira dessas concepções é a lei do
mentalismo: “O todo é mente, e o Universo é mental”. Se considerarmos
essa concepção da natureza, tudo esta interligado, como se fosse uma
grande mente universal.
Representação de Hermes Trismegisto de Viridarium chymicum, D. Stolcius von
Stolcenbeerg, 1624
O psiquiatra suíço Carl Jung desenvolveu, em sua teoria Analítica, um
conceito que pode ajudar a explicar esses tipos de fenómenos e essa
realidade de interconectividade: o “Inconsciente Colectivo”. Grosso
modo, para Jung, além do nosso consciente, subconsciente e
inconsciente (postulado por Freud), existe uma camada ainda mais
profunda compartilhada por todos os indivíduos, portanto colectiva, a
qual todos estamos sujeitos. É como se fosse uma grande rede, que está
presente em cada um de nós, e em todos nós.
Uma camada mais ou menos superficial do inconsciente é
indubitavelmente pessoal. Nós a denominamos inconsciente pessoal.
Este porém repousa sobre uma camada mais profunda, que já não tem
sua origem em experiências ou aquisições pessoais, sendo inata. Esta
camada mais profunda é o que chamamos inconsciente colectivo. Eu
optei pelo termo “colectivo” pelo fato de o inconsciente não ser de
natureza individual, mas universal; isto é, contrariamente à psique
pessoal ele possui conteúdos e modos de comportamento, os quais são
‘cum grano salis’ os mesmos em toda parte e em todos os indivíduos.
Em outras palavras, são idênticos em todos os seres humanos,
constituindo portanto um substrato psíquico comum de natureza
psíquica suprapessoal que existe em cada indivíduo. (JUNG, 2000, p.15)
Considerando este conceito, podemos entender o fenómeno das
coincidências como algo que o próprio Jung denominou sincronicidade,
que seria a “simultaneidade de um estado psíquico com um ou vários
acontecimentos que aparecem como paralelos significativos de um
estado subjectivo momentâneo e, em certas circunstâncias, também
vice-versa” (JUNG, 1991, par. 818). Em outras palavras, é a percepção
de um fenómeno que contém geralmente um significado simbólico,
através de situações que não compartilham nenhum tipo de relação
aparente, ou seja, acausais, e exprimem um estado psíquico interno
compartilhado com um evento objectivo e externo.
O interesse de Jung por esse tipo fenómeno sempre causou certo
desconforto para a comunidade científica, no entanto, as novas
concepções de realidade apresentadas pela moderna física quântica
começam a explicar essa interligação de forma científica, corroborando
com as concepções Junguianas destes fenómenos. Vale a pena dizer que
Jung era amigo de Wolfgang Pauli, um dos primeiros estudiosos da física
quântica*.
Em resumo, a física quântica trabalha com partículas atómicas e sub-
atomicas, ou seja, átomos, moléculas, electrões, protões, neutrões, etc,
e estuda as dinâmicas interacções destas partículas. Dentre essas
partículas, podemos citar os fótons, que são as menores partículas
envolvidas numa radiação electromagnética. Aparentemente, fugimos
um pouco do tema, mas cientistas contemporâneos já realizaram
experimentos nos quais, apesar de separados por grandes distâncias,
dois fotões interagem entre si, mesmo sem apresentar uma conexão
causal, ou seja, é como se houvesse algo que os conecta, que vai além
da realidade física e observável.
Se utilizarmos o exemplo de dois fótons correlacionados, onde é possível
alterar o estado de um deles, alterando-se o estado do outro e de modo
instantâneo, então seria possível haver uma correlação não-local entre
os inconscientes de todos os seres humanos, o que resultaria no
Inconsciente Colectivo de Jung e na sua Psicologia Analítica. (NUNES,
2009, p.8)
Toda essa interconexão da consciência já não é mais teórica e esta
sendo comprovada. Existe um experimento, realizado em entre os anos
de 1993 e 1994 por Jacobo Grinberg, um neurofisiologista da
Universidade do México que consistiu em colocar duas pessoas para
meditar juntas, com a intenção de se comunicarem directamente, sem
troca de sinais ou conversa. Essas pessoas eram isoladas uma da outra
em “gaiolas Faraday”, câmaras electromagneticamente impermeáveis, e
seus respectivos cérebros conectados a máquinas de
electroencefalograma.
Após um breve tempo de meditação, foram mostrados flashes de luz
para apenas um dos sujeitos, cuja actividade eléctrica cerebral era
alterada em resposta aos flashes. É ai que a coisa fica interessante. No
electroencefalograma do outro sujeito que não recebeu nenhum flash de
luz, foi constatado que seu cérebro recebeu um potencial, virtualmente
igual em intensidade e força, variando em actividades eléctricas de 65%
a 75%. Esse é um valor muito substancial e a conclusão do experimento
é que a actividade eléctrica de um cérebro se transfere para outro
cérebro, sem conexão ou contacto eléctrico nenhum. Este experimento
foi replicado por Peter Fenwick em Londres e Leanna Standish e seu
grupo na universidade de Bastyr, em Seattle. Todos concluíram a mesma
coisa: existe uma transferência de informação de cérebro a cérebro, sem
nenhuma conexão electromagnética.
Essas conclusões são muito interessantes e significativas, e acabam por
explicar, mesmo que parcialmente, os fenómenos de sincronicidades. No
entanto, apesar de explicarem uma comunicação não-local entre
sujeitos, pouco se sabe sobre o motivo destas manifestações
acontecerem em determinados momentos, ou com determinadas
pessoas. No romance best seller americano “A Profecia Celestina”, James
Redfield conta a história de um manuscrito encontrado no Peru que
contém nove visões, ou nove etapas, que os seres humanos precisam
desenvolver afim de evoluir individualmente como sujeitos e
colectivamente como espécie. A primeira etapa deste processo é
descrita como a tomada de consciência das “coincidências” que nos
cercam. É defendido, que para evoluirmos, o primeiro passo a ser dado é
perceber essas sincronicidades e não considerá-las como mero acaso,
mas uma forma intuitiva de buscar informações no dia-a-dia que nos
impulsionam a melhorar e expandir a consciência.
Acho pertinente, por tanto, encerrar dizendo que devemos prestar
atenção a nossa volta e analisar essas coincidências, entender o que
elas nos dizem e para onde elas apontam. Quando fazemos isso, cada
vez mais essas situações acontecem e nos indicam que estamos no
caminho certo. Aos poucos, vamos integrando destino e livre arbítrio,
expandindo nossa consciência e nos aproximando dos horizontes da
jornada da alma.
* Para saber mais sobre essa amizade, leia “A permuta dos sábios: um
estudo sobre as correspondências entre Carl Gustav Jung e Wolfgang
Pauli” de Cesar Rey Xavier
Bibliografia:
CAMAYSAR, R. O Caibalion. São Paulo, Pensamento. 2000.
JUNG, C. G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Petrópolis, Vozes.
2000.
JUNG, C. G. Sincronicidade. Petrópolis, Vozes. 1991.
NUNES, A. L. Física e Psicologia: Um diálogo interdisciplinar. XVIII
Simpósio nacional de ensino de Física. 2009.
*Esta coluna foi publicada originalmente no dia 24/05/2015, no
site www.redepsicoterapias.com.br, no qual quinzenalmente são
publicadas colunas com o tema de psicologia analítica, simbologia,
mitologia e espiritualidade.