Física Quântica Sincronicidades

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Sincronicidades: Física Quântica e Psicologia Analítica Artigos Física Quântica Sincronicidades: Física Quântica e… 27 de maio de 2015 Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor”. - Goethe Quem nunca passou por uma situação na qual parecia que o universo estava tentando falar alguma coisa? Você pensa em alguém e essa pessoa te liga. Você sonha com alguém e depois esbarra com ela na rua. Na mesma semana te falam de uma música, filme ou livro e parece que ele está em todos os lugares. E aquela ligação estranha entre irmãos gémeos, exploradas pelo cinema, em que um sofre um acidente e o outro sente dor? Esse tipo de situação normalmente é chamada de coincidência. Mas será que é só isso, um evento arbitrário? Esse tipo de fenómeno está sendo cada vez mais estudado dentro dos campos da parapsicologia e afins, e parece que agora a ciência começa a entender um pouco melhor isso e explicar essas coisas de forma ‘científica’. Mas se voltarmos um pouco na história, essas situações já eram vividas e entendidas pelos místicos. No hermetismo, um antigo sistema filosófico e mágico atribuído ao misterioso Hermes Trismegisto, autor da famosa “Tábua de Esmeralda” entre outros textos, existem algumas

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Física quântica

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Sincronicidades: Física Quântica e Psicologia

AnalíticaArtigos  Física Quântica  Sincronicidades: Física Quântica e…

27 de maio de 2015

Quando uma criatura humana desperta para um grande

sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o

universo conspira a seu favor”.

- Goethe

Quem nunca passou por uma situação na qual parecia que o universo

estava tentando falar alguma coisa? Você pensa em alguém e essa

pessoa te liga. Você sonha com alguém e depois esbarra com ela na rua.

Na mesma semana te falam de uma música, filme ou livro e parece que

ele está em todos os lugares. E aquela ligação estranha entre irmãos

gémeos, exploradas pelo cinema, em que um sofre um acidente e o

outro sente dor? Esse tipo de situação normalmente é chamada de

coincidência. Mas será que é só isso, um evento arbitrário?

Esse tipo de fenómeno está sendo cada vez mais estudado dentro dos

campos da parapsicologia e afins, e parece que agora a ciência começa

a entender um pouco melhor isso e explicar essas coisas de forma

‘científica’. Mas se voltarmos um pouco na história, essas situações já

eram vividas e entendidas pelos místicos.

No hermetismo, um antigo sistema filosófico e mágico atribuído ao

misterioso Hermes Trismegisto, autor da famosa “Tábua de Esmeralda”

entre outros textos, existem algumas concepções que explicam o

funcionamento do Universo. Segundo o livro Caibalion, um clássico da

literatura hermética, a primeira dessas concepções é a lei do

mentalismo: “O todo é mente, e o Universo é mental”. Se considerarmos

essa concepção da natureza, tudo esta interligado, como se fosse uma

grande mente universal.

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Representação de Hermes Trismegisto de Viridarium chymicum, D. Stolcius von

Stolcenbeerg, 1624

O psiquiatra suíço Carl Jung desenvolveu, em sua teoria Analítica, um

conceito que pode ajudar a explicar esses tipos de fenómenos e essa

realidade de interconectividade: o “Inconsciente Colectivo”. Grosso

modo, para Jung, além do nosso consciente, subconsciente e

inconsciente (postulado por Freud), existe uma camada ainda mais

profunda compartilhada por todos os indivíduos, portanto colectiva, a

qual todos estamos sujeitos. É como se fosse uma grande rede, que está

presente em cada um de nós, e em todos nós.

Uma camada mais ou menos superficial do inconsciente é

indubitavelmente pessoal. Nós a denominamos inconsciente pessoal.

Este porém repousa sobre uma camada mais profunda, que já não tem

sua origem em experiências ou aquisições pessoais, sendo inata. Esta

camada mais profunda é o que chamamos inconsciente colectivo. Eu

optei pelo termo “colectivo” pelo fato de o inconsciente não ser de

natureza individual, mas universal; isto é, contrariamente à psique

pessoal ele possui conteúdos e modos de comportamento, os quais são

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‘cum grano salis’ os mesmos em toda parte e em todos os indivíduos.

Em outras palavras, são idênticos em todos os seres humanos,

constituindo portanto um substrato psíquico comum de natureza

psíquica suprapessoal que existe em cada indivíduo. (JUNG, 2000, p.15)

Considerando este conceito, podemos entender o fenómeno das

coincidências como algo que o próprio Jung denominou sincronicidade,

que seria a “simultaneidade de um estado psíquico com um ou vários

acontecimentos que aparecem como paralelos significativos de um

estado subjectivo momentâneo e, em certas circunstâncias, também

vice-versa” (JUNG, 1991, par. 818). Em outras palavras, é a percepção

de um fenómeno que contém geralmente um significado simbólico,

através de situações que não compartilham nenhum tipo de relação

aparente, ou seja, acausais, e exprimem um estado psíquico interno

compartilhado com um evento objectivo e externo.

O interesse de Jung por esse tipo fenómeno sempre causou certo

desconforto para a comunidade científica, no entanto, as novas

concepções de realidade apresentadas pela moderna física quântica

começam a explicar essa interligação de forma científica, corroborando

com as concepções Junguianas destes fenómenos. Vale a pena dizer que

Jung era amigo de Wolfgang Pauli, um dos primeiros estudiosos da física

quântica*.

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Em resumo, a física quântica trabalha com partículas atómicas e sub-

atomicas, ou seja, átomos, moléculas, electrões, protões, neutrões, etc,

e estuda as dinâmicas interacções destas partículas. Dentre essas

partículas, podemos citar os fótons, que são as menores partículas

envolvidas numa radiação electromagnética. Aparentemente, fugimos

um pouco do tema, mas cientistas contemporâneos já realizaram

experimentos nos quais, apesar de separados por grandes distâncias,

dois fotões interagem entre si, mesmo sem apresentar uma conexão

causal, ou seja, é como se houvesse algo que os conecta, que vai além

da realidade física e observável.

Se utilizarmos o exemplo de dois fótons correlacionados, onde é possível

alterar o estado de um deles, alterando-se o estado do outro e de modo

instantâneo, então seria possível haver uma correlação não-local entre

os inconscientes de todos os seres humanos, o que resultaria no

Inconsciente Colectivo de Jung e na sua Psicologia Analítica. (NUNES,

2009, p.8)

Toda essa interconexão da consciência já não é mais teórica e esta

sendo comprovada. Existe um experimento, realizado em entre os anos

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de 1993 e 1994 por Jacobo Grinberg, um neurofisiologista da

Universidade do México que consistiu em colocar duas pessoas para

meditar juntas, com a intenção de se comunicarem directamente, sem

troca de sinais ou conversa. Essas pessoas eram isoladas uma da outra

em “gaiolas Faraday”, câmaras electromagneticamente impermeáveis, e

seus respectivos cérebros conectados a máquinas de

electroencefalograma.

Após um breve tempo de meditação, foram mostrados flashes de luz

para apenas um dos sujeitos, cuja actividade eléctrica cerebral era

alterada em resposta aos flashes. É ai que a coisa fica interessante. No

electroencefalograma do outro sujeito que não recebeu nenhum flash de

luz, foi constatado que seu cérebro recebeu um potencial, virtualmente

igual em intensidade e força, variando em actividades eléctricas de 65%

a 75%. Esse é um valor muito substancial e a conclusão do experimento

é que a actividade eléctrica de um cérebro se transfere para outro

cérebro, sem conexão ou contacto eléctrico nenhum. Este experimento

foi replicado por Peter Fenwick em Londres e Leanna Standish e seu

grupo na universidade de Bastyr, em Seattle. Todos concluíram a mesma

coisa: existe uma transferência de informação de cérebro a cérebro, sem

nenhuma conexão electromagnética.

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Essas conclusões são muito interessantes e significativas, e acabam por

explicar, mesmo que parcialmente, os fenómenos de sincronicidades. No

entanto, apesar de explicarem uma comunicação não-local entre

sujeitos, pouco se sabe sobre o motivo destas manifestações

acontecerem em determinados momentos, ou com determinadas

pessoas. No romance best seller americano “A Profecia Celestina”, James

Redfield conta a história de um manuscrito encontrado no Peru que

contém nove visões, ou nove etapas, que os seres humanos precisam

desenvolver afim de evoluir individualmente como sujeitos e

colectivamente como espécie. A primeira etapa deste processo é

descrita como a tomada de consciência das “coincidências” que nos

cercam. É defendido, que para evoluirmos, o primeiro passo a ser dado é

perceber essas sincronicidades e não considerá-las como mero acaso,

mas uma forma intuitiva de buscar informações no dia-a-dia que nos

impulsionam a melhorar e expandir a consciência.

Acho pertinente, por tanto, encerrar dizendo que devemos prestar

atenção a nossa volta e analisar essas coincidências, entender o que

elas nos dizem e para onde elas apontam. Quando fazemos isso, cada

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vez mais essas situações acontecem e nos indicam que estamos no

caminho certo. Aos poucos, vamos integrando destino e livre arbítrio,

expandindo nossa consciência e nos aproximando dos horizontes da

jornada da alma.

* Para saber mais sobre essa amizade, leia “A permuta dos sábios: um

estudo sobre as correspondências entre Carl Gustav Jung e Wolfgang

Pauli” de Cesar Rey Xavier

Bibliografia:

CAMAYSAR, R. O Caibalion. São Paulo, Pensamento. 2000.

JUNG, C. G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Petrópolis, Vozes.

2000.

JUNG, C. G. Sincronicidade. Petrópolis, Vozes. 1991.

NUNES, A. L. Física e Psicologia: Um diálogo interdisciplinar. XVIII

Simpósio nacional de ensino de Física. 2009.

*Esta coluna foi publicada originalmente no dia 24/05/2015, no

site www.redepsicoterapias.com.br, no qual quinzenalmente são

publicadas colunas com o tema de psicologia analítica, simbologia,

mitologia e espiritualidade.