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FITOSSOCIOLOGIA APLICADA À COBERTURA VEGETAL NO RIACHO DO SANTA BÁRBARA, SÃO LUÍS-MA Hermeneilce Wasti Aires Pereira Cunha – UNESP - [email protected] 1 Quésia Duarte da Silva – UNESP – [email protected] 2 Regina Célia de Castro Pereira – UNESP - [email protected] 3 RESUMO O presente trabalho analisa as características fitossociológicas de dois lotes na microbacia do rio Santa Bárbara em São Luís-MA, área de ocupação relativamente antiga, que vem passando por um processo de crescimento populacional e expansão da ocupação de áreas com efeitos sobre a qualidade ambiental local. Considerando a dinâmica do local, procedeu-se o levantamento fitossociológico das formações vegetais. A representação gráfica foi feita com uso das pirâmides vegetais, a partir do programa VEGET que sintetiza as informações sobre o ambiente e os estratos vegetativos. Os lotes analisados neste trabalho apresentam características fitossociológicas semelhantes em virtude da proximidade entre eles, de suas similitudes geoambientais e de uso e ocupação inadequados do solo. As pirâmides vegetais indicam que os estratos arbóreo e herbáceo são predominantes quanto à diversidade biológica e à abundância/ dominância. O estrato arbóreo dos lotes está em dinâmica regressiva em função das pressões ambientais da comunidade, que retira constantemente as espécies para fins domésticos e comerciais. No estrato herbáceo, os lotes estão em dinâmica progressiva; isto ocorre em virtude da colonização do ambiente desmatado pelas famílias Araceae, Ciperacea, Heliconia e Brachiaria. Estas espécies são típicas de ambientes degradados onde os solos recebem maior radiação solar pela ausência ou redução de espécies de portes superiores. Os estratos arbustivo e arborescentes têm menor representatividade quanto à diversidade biológica e dominância/ abundância. No primeiro lote, as espécies de porte arborescente apresentam dinâmica progressiva, enquanto no segundo, apresentam dinâmica regressiva. Associa-se à progressão do estrato arborescente do lote 1 ao intenso corte das espécies arbóreas, possibilitando a expansão das espécies arborescentes. No segundo caso, a dinâmica é regressiva devido ao corte constante de espécies também neste estrato. As espécies presentes no estrato arbustivo apresentam comportamentos diferenciados nos dois lotes que estão diretamente relacionados à dinâmica dos estratos superiores. No primeiro lote a dinâmica é equilibrada, considerando a expansão do estrato arborescente, a altura média e cobertura da superfície pelas espécies dos estratos. No lote 2 a dinâmica é progressiva em razão da regressão das espécies de portes superiores. 1 Aluna do Curso de Pós-Graduação em Geografia – Doutorado da UNESP – Campus de Presidente Prudente-SP. 2 Aluna do Curso de Pós-Graduação em Geografia – Doutorado da UNESP – Campus de Presidente Prudente-SP. 3 Aluna do Curso de Pós-Graduação em Geografia – Doutorado da UNESP – Campus de Presidente Prudente-SP.

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FITOSSOCIOLOGIA APLICADA À COBERTURA VEGETAL NO RIACHO DO SANTA

BÁRBARA, SÃO LUÍS-MA

Hermeneilce Wasti Aires Pereira Cunha – UNESP - [email protected]

Quésia Duarte da Silva – UNESP – [email protected] Regina Célia de Castro Pereira – UNESP - [email protected]

RESUMO

O presente trabalho analisa as características fitossociológicas de dois lotes na microbacia do rio Santa Bárbara

em São Luís-MA, área de ocupação relativamente antiga, que vem passando por um processo de crescimento

populacional e expansão da ocupação de áreas com efeitos sobre a qualidade ambiental local. Considerando a

dinâmica do local, procedeu-se o levantamento fitossociológico das formações vegetais. A representação gráfica

foi feita com uso das pirâmides vegetais, a partir do programa VEGET que sintetiza as informações sobre o

ambiente e os estratos vegetativos. Os lotes analisados neste trabalho apresentam características

fitossociológicas semelhantes em virtude da proximidade entre eles, de suas similitudes geoambientais e de uso

e ocupação inadequados do solo. As pirâmides vegetais indicam que os estratos arbóreo e herbáceo são

predominantes quanto à diversidade biológica e à abundância/ dominância. O estrato arbóreo dos lotes está em

dinâmica regressiva em função das pressões ambientais da comunidade, que retira constantemente as espécies

para fins domésticos e comerciais. No estrato herbáceo, os lotes estão em dinâmica progressiva; isto ocorre em

virtude da colonização do ambiente desmatado pelas famílias Araceae, Ciperacea, Heliconia e Brachiaria.

Estas espécies são típicas de ambientes degradados onde os solos recebem maior radiação solar pela ausência ou

redução de espécies de portes superiores. Os estratos arbustivo e arborescentes têm menor representatividade

quanto à diversidade biológica e dominância/ abundância. No primeiro lote, as espécies de porte arborescente

apresentam dinâmica progressiva, enquanto no segundo, apresentam dinâmica regressiva. Associa-se à

progressão do estrato arborescente do lote 1 ao intenso corte das espécies arbóreas, possibilitando a expansão

das espécies arborescentes. No segundo caso, a dinâmica é regressiva devido ao corte constante de espécies

também neste estrato. As espécies presentes no estrato arbustivo apresentam comportamentos diferenciados nos

dois lotes que estão diretamente relacionados à dinâmica dos estratos superiores. No primeiro lote a dinâmica é

equilibrada, considerando a expansão do estrato arborescente, a altura média e cobertura da superfície pelas

espécies dos estratos. No lote 2 a dinâmica é progressiva em razão da regressão das espécies de portes

superiores.

1 Aluna do Curso de Pós-Graduação em Geografia – Doutorado da UNESP – Campus de Presidente Prudente-SP.

2 Aluna do Curso de Pós-Graduação em Geografia – Doutorado da UNESP – Campus de Presidente Prudente-SP.

3 Aluna do Curso de Pós-Graduação em Geografia – Doutorado da UNESP – Campus de Presidente Prudente-SP.

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ABSTRACT

This paper analyses the phyto-sociological characteristics of two lots in the micro-basin of the Santa

Barbara stream in São Luís, MA, Brazil, a relatively ancient occupation area, that is undergoing a

population growing process and expansion of the occupation affecting the local environmental

conditions. Taking into account the local dynamics it has been done the phyto-sociological survey of

the vegetal formations. The graphical representation was the vegetal pyramid, from the VEGET

software which synthesizes information about environment and vegetative strata. The lots analyzed

presented similar phyto-sociological characteristics due to its proximity, to its geo-environmental

equalities and to inadequate soil use and occupation. Vegetal pyramids indicate that arboreal and

herbaceous strata are predominant as biological diversity and as abundance/dominance. The arboreal

strata of the lots are in a regressive dynamics as function of environmental pressures in the community,

who constantly extracts species to commercial and household uses. The lots in the herbaceous strata

are in a progressive dynamics due to the colonization of the deforested environment by families of

Araceae, Ciperacea, Heliconia and Brachiaria. This species are typical in degraded environments where

the soil gets more solar radiation due the absence or depletion of the higher species. The arboreous and

arborescent strata are less representative in terms of biologic diversity and abundance/dominance. The

arborescent species presented progressive dynamics in the first lot, and regressive in the second. The

progression of the arborescent stratus in the lot 1 is possibly due to the intensive cropping of the

arboreous species, allowing the expansion of the arborescent species. The regression dynamics in the

second case is due also to the constant cropping of the species in this stratus. In the two lots the species

of the arboreous stratus present distinct behaviors which are directly related to the dynamics of the

higher strata. Taking in account the expansion of the arborescent stratus, the average height and the

surface cover, the dynamics is equilibrated in the first lot. In the second lot, due to the regression of the

higher species the dynamics is progressive.

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho analisa as características fitossociológicas de dois lotes na microbacia

do rio Santa Bárbara, área de ocupação relativamente antiga, que vem passando por intenso processo

de crescimento populacional e expansão da ocupação de áreas com efeitos sobre a qualidade ambiental

local, uma vez que avança sobre áreas de matas ciliares e de recarga de aqüíferos.

Considerando a dinâmica do local, procedeu-se o levantamento fitossociológico das

formações vegetais situadas no núcleo da referida microbacia, que, por estarem sujeitas a impactos,

necessitam de estudos para fins de manejo de uso e conservação das mesmas. Neste aspecto,

considera-se que a vegetação é um “sensor” que adverte sobre as mudanças que experimenta

determinado ecossistema (PASSOS, 2003).

O estudo do ecossistema, entendido numa perspectiva mais horizontalizada, possibilita a

caracterização de fenômenos presentes na dinâmica das paisagens, uma vez que a análise não se

restringe às relações entre os elementos bióticos e abióticos, mas, alcance a relação sociedade-natureza

entre os compartimentos do ecossistema.

É neste sentido que os estudos das comunidades vegetais através de parâmetros como

sociabilidade, dominância, número de indivíduos em cada estrato possibilita avaliar o estado atual e a

tendências das espécies. Para tanto as fichas fitossociológicas elaboradas por Bertrand e Kuchler

facilitam a análise (PAULA e FERREIRA, 2005).

A representação gráfica da análise fitossociológia foi feita com uso das pirâmides vegetais,

a partir do programa Veget (UGIDOS e PASSOS, 1996) que sintetiza as informações sobre o ambiente

o qual foi feita a análise, e os estratos vegetativos com indicativos dos estados de progressão, regressão

ou equilíbrio.

Os lotes analisados neste trabalho apresentam características fitossociológicas semelhantes

em virtude da proximidade entre eles, de suas similitudes geoambientais e de uso e ocupação

inadequados do solo. Verificou-se que as pressões ambientais que ocorrem nos ambientes são

refletidas na dinâmica fitossociológica que, por sua vez, está relacionada à redução da biodiversidade

causando desequilíbrios nos ciclos de produção de energia e matéria e nas possibilidades de recursos

para a comunidade. Entende-se que os resultados aqui apresentados são importantes para compreensão

da dinâmica das paisagens na área de estudo.

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2. MATERIAL E MÉTODO

Para o alcance do objetivo proposto a pesquisa foi realizada seguindo as etapas:

a) Revisão bibliográfica e documental

A fundamentação teórica desta pesquisa deu-se a partir das obras de Silva (2001), Passos

(2000 e 2003), Paula e Ferreira (2005), Bertrand e Bertrand (2007), relacionadas à caracterização da

área e aos temas Análise da Paisagem e Fitossociologia. Tais leituras foram de grande valia para a

análise das formações vegetais de dois lotes selecionados da sub-bacia hidrográfica do Santa Bárbara.

b) Escolha da área de estudo

A área-objeto de estudo - sub-bacia hidrográfica do Santa Bárbara, está localizada na

porção sudeste do município de São Luís-MA. A escolha desta área se deu em função de sua ocupação

inadequada, deflagrada a partir de meados de 1960, resultando num processo de degradação da

cobertura vegetal.

Além disto, esta área tem sido objeto de estudo de projetos de pesquisa diversos

desenvolvidos por Silva (2001) e Cunha e Silva (2007), os quais geraram informações relacionadas à

caracterização geoambiental com mapas diversos. Destaca-se ainda que até o presente momento não

existem trabalhos de fitossociologia da área.

c) Trabalho de campo

A coleta de dados foi realizada, em uma atividade de campo, no dia 8 de julho de 2008.

Para a análise dos parâmetros estabelecidos, foram escolhidas duas áreas denominadas de P1 e P2, de

tamanho 20m x 30m, demarcadas com o uso de trena e fita de demarcação, para realizar um recorte

significativo do meio com a finalidade de verificar os estratos vegetativos e as espécies presentes

nestes dois pontos, bem como, sua densidade, freqüência, dominância relativa e o grau de degradação.

Contou-se ainda com equipamento digital para: registro fotográfico, observação visual e

levantamento de dados fitossociologicos. A partir de então foi feito o preenchimento das fichas de

levantamento fitossociológico relacionadas às espécies de cada estrato vegetativo das áreas e às

características geoambientais do espaço recortado.

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d) Análise e interpretação dos dados

Os dados levantados em campo foram organizados e analisados com o uso do programa

VEGET, adaptado para a caracterização da vegetação, bem como a sucessão e o grau de sociabilidade

das espécies (método do inventário fitossociológico) aplicado à Biogeografia. Através do

preenchimento de dados de campo, foram elaboradas pirâmides de vegetação, com ilustração do

comportamento evolutivo das formações vegetais investigadas.

Nesta fase de execução do trabalho foram utilizados os materiais: GPS Garmim Etrex 12

canais, câmera digital Sony 3.2 Mega Pixel, fita de demarcação, trena e os programas VEGET

(UGIDOS e PASSOS, 1996) e Paint.

Para uma melhor visualização da estrutura do conjunto da vegetação das áreas selecionadas

no presente trabalho, foram construídas duas pirâmides (VEGET), as quais facilitaram a análise do

grau de recobrimento, a sociabilidade das espécies, a dinâmica dos estratos. Estas pirâmides também

mostram os dados levantados e relacionados à rocha matriz, a altitude, a temperatura média anual, a

precipitação total anual e a inclinação do terreno. O grau de porcentagem de recobrimento da

vegetação é analisado a partir da classificação de Braun-Blanquet (1979) citado por Passos (2003).

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Caracterização da Área de Estudo

A área em estudo está localizada ao norte da bacia hidrográfica do Tibiri (Figura 01). Esta

bacia encontra-se totalmente inserida no município de São Luís-MA, na parte sudeste da ilha do

Maranhão. Limita-se a leste com bacia do rio Tijupá e a bacia do rio Jeniparana, a oeste com o distrito

industrial de São Luís, ao norte com o aeroporto Marechal Cunha Machado e o Parque de exposição

agropecuária, e ao sul com a bacia de São José onde deságua e apresenta uma área total de 98.057 km²

(SILVA, 2001).

Na sub-bacia hidrográfica do Santa Bárbara têm ocorrido alterações significativas quanto

ao uso e cobertura da terra com crescente degradação ambiental. Estas alterações geraram conflitos de

uso, os quais têm se avolumado como área rural x disposição inadequada de resíduos sólidos, área de

proteção ambiental x ocupações urbanas inadequadas e outros.

Além destes usos diferenciados, outros fatores favoreceram a escolha desta bacia como área

de estudo, como o fato de estar inserida totalmente num único município e ter uma área que não

ultrapassa 10 km2, ou seja, 8,28 Km² (CUNHA e SILVA, 2007). Acrescenta-se ainda, o fato de existir

material cartográfico disponível e de não haver estudos de fitossociologia. Tais condições facilitam a

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extrapolação deste estudo para outras áreas similares, e também o gerenciamento da bacia, do ponto de

vista ambiental, político e administrativo.

A sub-bacia hidrográfica do rio Santa Bárbara é ocupada por populações de baixa renda,

que, se deslocaram para a área em virtude de não poderem arcar com os altos custos de moradia nas

áreas centrais da cidade de São Luís-MA. Muitas residências ocupam áreas de proteção ambiental e

completamente impróprias para moradia, como nos fundos de vale.

Figura 01 – Localização da sub-bacia hidrográfica do Santa Bárbara

Fonte: Silva, 2001.

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As nascentes do rio Santa Bárbara afloram no bairro homônimo (Figura 2), o qual tem uma

população de 1231 habitantes (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2000).

Quanto às características hierárquicas a sub-bacia hidrográfica em questão apresenta uma

drenagem de quarta ordem, com 62 canais de primeira ordem, 17 de segunda ordem, 9 de terceira

ordem e um canal de quarta ordem, conforme a proposta de hierarquização fluvial de Strahler de 1952

(SILVA, 2001). Sobre o escoamento global, a área apresenta uma drenagem exorréica (Figura 3).

Figura 02 - Foto aérea da sub - bacia hidrográfica do Santa Bárbara

Fonte: Abitec, 2002.

Em relação ao padrão de drenagem a área é classificada como dendrítica, caracterizada por

ramificações irregulares de cursos de água em todas as direções, assemelhando-se à configuração de

uma arvore. Entretanto, considerando toda a ilha do Maranhão, afirma-se que o padrão predominante é

radial centrífuga, em virtude de que praticamente todas as principais bacias hidrográficas da ilha têm

suas nascentes na porção central e os canais escoam as águas de forma divergente e radial, em todas as

direções para a costa.

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Figura 03 – Mapa de drenagem da sub-bacia hidrográfica do Santa Bárbara

Fonte: Cunha e Silva, 2007.

A análise das faixas hipsométricas leva-nos a concluir que 80,34% da área apresenta cotas

altimétricas abaixo dos 50 (cinqüenta) metros; logo, tem-se um relevo com altitudes baixas. As áreas

mais elevadas estão na porção noroeste da bacia. Nesta área e na porção leste, tem-se o predomínio dos

tabuleiros com topos planos e vertentes côncavas e convexas. Nas áreas mais próximas do canal

principal da sub-bacia tem-se o predomínio de altitudes que variam de 6 a 20 metros, às quais estão

ocupadas pela floresta paludosa marítima de mangue e floresta ombrófila.

Os processos morfogenéticos atuantes na área da sub-bacia hidrográfica do Santa Bárbara

são aqueles comandados pela dinâmica da atmosfera e pela ação humana. No primeiro caso, tem-se o

intemperismo químico agindo fortemente na área no período chuvoso que se estende no primeiro

semestre de cada ano. O intemperismo físico é mais acentuado no segundo semestre, considerando a

redução significativa das precipitações e a manutenção das altas temperaturas.

A retirada da cobertura vegetal inicia os processos morfogenéticos deflagrados pela ação

humana. Isto ocorre nos diversos compartimentos morfológicos da área, ou seja, no topo dos

tabuleiros, nas vertentes e nos fundos de vale.

Apesar de não se ter observado a presença de grandes voçorocas na área, os processos

erosivos estão presentes na sub-bacia com destaque na porção noroeste da área com a erosão laminar.

A seguir, tem-se os dados relacionados ao levantamento e análise fitossociológica de dois

lotes na área objeto de estudo.

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3.2 Análise Fitossociológica

As características geoambientais dos lotes selecionados explicam, de forma sistêmica, a

presença e dominância de espécies de ambientes ombrófilos na distribuição da cobertura vegetal.

No lote 1, foram verificados in loco 4 estratos, a saber, arbóreo, arborescente, arbustivo e o

herbáceo. No estrato arbóreo tem-se a ocorrência de três espécies, sendo duas predominantes: juçara

(Euterpe oleracea Mart.) e buriti (Mauritia vinifera Mart.).

A juçara apresenta o maior número de indivíduos, com altura média de 14m, em estágio 5

de abundância/dominância (BRAUN-BLANQUET, 1979 citado por PASSOS, 2003) revelando

cobertura vegetal entre 75 e 100% (Tabela 1) e sociabilidade 4; isto indica crescimento em pequenas

colônias ou manchas. Quanto à dinâmica, este estrato encontra-se no estágio regressivo.

No estrato arborescente, a espécie predominante é juçara (Euterpe oleracea Mart.) com 7

indivíduos de altura média de 9,5 m; em estágio 3 de abundância/ dominância, ou seja, cobrindo entre

25 a 50% da área, sociabilidade 3, com crescimento dos indivíduos em grupos e estágio progressivo.

Com 7 indivíduos, a juçara é a única espécie presente no estrato arbustivo. A altura média é

2 m; a abundância/ dominância é classificada como 2, cobrindo entre 10 e 25%, sociabilidade 2, com

agrupamentos com 2 ou 3 indivíduos e dinâmica do estrato em equilíbrio.

O estrato herbáceo apresentou maior diversidade, com 9 espécies e 3 famílias, a saber:

manga (Mangifera indica L.), guanandi (Calophyllum brasiliense), taquari (Tiarella triffoliata), cana

da Índia (Canna indica L.), samambaia (Pteridium aquilinum), ciperáceas (Cyperaceae),

melastomatácea (Melastomataceae), buriti (Mauritia vinifera Mart.) e leguminosas (Leguminosae).

A altura média dessas espécies é 80 cm; a abundância/ dominância é de 4, cobrindo entre

50 e 75% da área. A sociabilidade é 4 indicando crescimento em pequenas colônias ou manchas e a

dinâmica do estrato é progressiva (Tabela 1).

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Lote n. 1. Formação: Floresta Ombrófila Densa/ Lugar Sítio Santa Bárbara 1 / Série de Vegetação/

Município: São Luís-MA/ Região Geográfica: Margem direita do rio Santa Bárbara / Unidade

Morfoestrutural: Bacia Costeira de São Luís / Domínio Bioclimático Tropical úmido/ Data:

08.07.2008/ Localização: 0236’09” S e 4412’08” W / Orientação: noroeste - sudeste.

Espécies por Estratos Nº de

Indiv.

Alt (m)

aprox.

Espécies Estrato

A/D S S/ Dinâmica

Arbóreo

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Buriti (Mauritia vinifera Mart.)

Buriti (Mauritia vinifera Mart.)

Buriti (Mauritia vinifera Mart.)

Guanandi (Calophyllum brasiliense)

5

4

5

5

3

4

1

1

1

2

1

1

10

11

12

13

14

15

16

18

15

18

18

16

5

4

Regressão

Arborescente

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

1

1

5

10

8

7

3

3

Progressão

Arbustivo

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

2

2

4

3

2

2

Equilíbrio

Continua

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Continuação

Espécies por Estratos Nº de

Indiv.

Alt (m)

aprox.

Espécies Estrato

A/D S S/ Dinâmica

Herbáceo\Rasteiro

Manga (Mangifera indica L.)

Guanandi (Calophyllum brasiliense)

Guanandi (Calophyllum brasiliense)

Guanandi (Calophyllum brasiliense)

Taquari (Tiarella triffoliata)

Cana da Índia (Canna indica L.)

Cana da Índia (Canna indica L.)

Samambaia (Pteridium aquilinum)

Ciperáceas (Cyperaceae)

Melastomatácea (Melastomataceae)

Buriti (Mauritia vinifera Mart.)

Leguminosas (Leguminosae)

3

1

3

1

3

2

2

5

3

3

6

11

0,80

0,40

0,50

1,0

1,0

0.80

1,50

0,30

0,40

0,80

0,30

1,20

4

4

Progressão

ALTITUDE: 11 m / CLIMA: Úmido do Tipo B2 (mesotérmico com evapotranspiração potencial anual de

885 a 712 mm e moderado déficit de água no inverno) com dois períodos definidos: chuvoso (janeiro a

julho) e seco (agosto a dezembro); verão chuvoso e quente / PRECIPITAÇÃO: 1.947,6 mm (média

pluviométrica entre 1970 e 1998), sendo que 87,8% das chuvas ocorrem no primeiro semestre e apenas

12,38% no período seco / TEMPERATURA: 26,7º / MICROCLIMA: úmido / UMIDADE: 79% /

ROCHA-MÃE: Sedimentos arenosos inconsolidados e argilosos não adensados de idade pleistocênica

tardia e holocênica da Formação Açuí / SOLO: Aluvião hidromórfico, solos areno-argilosos com colúvios

Esses depósitos encontram-se discordantemente sobre todas as unidades estratigráficas que afloram na parte

emersa da bacia de São Luís / HUMUS: camada fina de serrapilheira com folhas de buriti e Jussara em

decomposição lenta com presença de lignina na folha. Camada subsuperficial de húmus decomposto de

5cm / EROSÃO: laminar / RELEVO: Planície fluvial / DECLIVIDADE: 2 graus / AÇÃO

ANTRÓPICA: solos impróprios a qualquer atividade agrícola; retirada indiscriminada da vegetação;

extrativismo: babaçu, buriti e Jussara / DINÂMICA DE CONJUNTO: Área de mata ciliar, altamente

degradada; a área foi cercada por uma propriedade particular. Uma estrada cortou a planície fluvial e os

canais de drenagem, provocando assoreamento e coluvionamento. Tem-se na área o predomínio de

propriedades particulares rurais.

Tabela 1 – Ficha fitossociológica do lote 1 da sub-bacia hidrográfica do Santa Bárbara

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No lote 2, os estratos arbóreo, arborescente, arbustivo e o herbáceo foram também

quantificados e analisados. No arbóreo tem-se a ocorrência de duas espécies: juçara (Euterpe oleracea

Mart.) e manga (Mangifera indica L.). Na primeira espécie, com altura média de 12m, tem-se 16

indivíduos. As mangueiras ocorrem isoladas em número de 2 e altura média de 9,5 m. O estrato

apresenta abundância /dominância 3 (BRAUN-BLANQUET, 1979 citado por PASSOS, 2003)

revelando cobertura vegetal entre 25 e 50% (Tabela 2) e sociabilidade 3, indicando crescimento em

grupos. Quanto à dinâmica, este estrato encontra-se no estágio regressivo.

No estrato arborescente, tem-se duas espécies: juçara (Euterpe oleracea Mart.) e embaúba

(Cecropia peltata L.). Neste estrato ocorrem apenas 2 indivíduos de juçara com altura média de 10m.

Com apenas 1 indivíduo, a embaúba apresenta 9 m de altura. O estrato apresenta abundância

/dominância 2 revelando cobertura vegetal entre 10 e 25% e sociabilidade 3, indicando crescimento

em grupos também. Quanto à dinâmica, este estrato encontra-se no estágio regressivo (Tabela 2).

Com 5 espécies diferentes, tem-se no estrato arbustivo a presença de banana (Musa

paradisíaca L.), mamuí (Carica microcarpa), ingá (Inga edulis Mart.), jeniparana (Gustavia augusta

L.) e Juçara (Euterpe oleracea Mart.). A altura média deste estrato é de 3 m, com abundância/

dominância 2 e sociabilidade 2, com indivíduos agrupados em 2 ou 3. A dinâmica do estrato está em

progressão.

No estrato herbáceo tem-se o maior número de indivíduos, 168 e a maior diversidade

vegetal no lote. Com altura média de 0,35m, com exceção da embaúba (1,5 m de altura), as espécies

que ocorrem são jeniparana (Gustavia augusta L.), aninga (Araceae), cana da India (Canna indica L.),

ciperáceas (Cyperaceae), gramíneas (Brachiaria brizanth cv.), guanandi (Calophyllum brasiliense),

manga (Mangifera indica L.), língua de vaca (Chaptalia nutans L.), helicônia (Heliconia rostrata),

embaúba (Cecropia peltata L.), melastomatácea (Melastomataceae). A abundância/ dominância do

estrato é 3 e sociabilidade 4, com crescimento em pequenas colônias, manchas densas e pouco

extensas. A dinâmica do estrato está em progressão.

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Lote n. 2. Formação: Floresta Ombrófila Densa/ Lugar Sítio Santa Bárbara 2 / Série de Vegetação/

Município: São Luís-MA/ Região Geográfica: Margem direita do rio Santa Bárbara / Unidade

Morfoestrutural: Bacia Costeira de São Luís / Domínio Bioclimático Tropical Úmido/ Data: 08.07.08/

Localização: 0236’07” S e 4412’08” W / Orientação: sudeste-noroeste.

Espécies por Estratos Nº de

Indiv.

Alt (m)

aprox.

Espécies Estrato

A/D S S/ Dinâmica

Arbóreo

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara ( Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Manga (Mangifera indica L.)

Manga (Mangifera indica L.)

1

1

5

3

4

2

1

1

15

14

13

12

11

10

10

09

3

3

Regressão

Arborescente

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Embaúba (Cecropia peltata L.)

2

1

10

9

2

3

Regressão

Arbustivo

Banana (Musa paradisíaca L.)

Banana (Musa paradisíaca L.)

Mamuí (Carica microcarpa)

Ingá (Inga edulis Mart.)

Jeniparana (Gustavia augusta L.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

Juçara (Euterpe oleracea Mart.)

1

1

1

1

2

2

2

2

1

1

5

4

5

2

2

1,5

1,2

2,5

2

3

2

2

Progressão

Continua

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Continuação

Herbáceo

Jeniparana (Gustavia augusta L.)

Aninga (Araceae)

Cana-da-India (Canna indica L.)

Gramíneas (Brachiaria brizanth cv.)

Gramíneas (Brachiaria brizantha.cv.)

Guanandi (Calophyllum brasiliense)

Manga (Mangifera indica)

Língua de Vaca (Chaptalia nutans L.)

Heliconia (Heliconia rostrata)

Embaúba (Cecropia peltata L.)

Melastomatácea (Melastomataceae)

4

60

4

40

40

2

6

6

2

1

4

0,40

0,50

0,30

0,30

0,40

0,30

0,40

0,30

0,30

1,5

0,30

3

4

Progressão

ALTITUDE: 9 m / CLIMA: Úmido do Tipo B2 (mesotérmico com evapotranspiração potencial anual

de 885 a 712 mm e moderado déficit de água no inverno) com dois períodos definidos: chuvoso

(janeiro a julho) e seco (agosto a dezembro); verão chuvoso e quente / PRECIPITAÇÃO: 1.947,6 mm

(média pluviométrica entre 1970 e 1998), sendo que 87,8% das chuvas ocorrem no primeiro semestre e

apenas 12,38% no período seco / TEMPERATURA: 26,7º / MICROCLIMA: úmido / UMIDADE:

75% / ROCHA-MÃE: Sedimentos arenosos inconsolidados e argilosos não adensados de idade

pleistocênica tardia e holocênica da Formação Açuí / SOLO: Aluvião hidromórfico, solos areno-

argilosos com colúvios Esses depósitos encontram-se discordantemente sobre todas as unidades

estratigráficas que afloram na parte emersa da bacia de São Luís / HUMUS: camada fina de

serrapilheira com folhas de buriti e Jussara (predominantemente) em decomposição lenta com

presença de lignina na folha. Camada subsuperficial de húmus decomposto de 5cm / EROSÃO:

laminar / RELEVO: Planície fluvial / DECLIVIDADE: 8 graus / AÇÃO ANTRÓPICA: solos

impróprios a qualquer atividade agrícola; retirada indiscriminada da vegetação; extrativismo: babaçu,

buriti e Jussara / DINÂMICA DE CONJUNTO: Área de mata ciliar com presença de muitas espécies

exóticas; altamente degradada; muitas residências particulares e comércio varejista (bebidas). Tem-se o

pisoteio de gado bovino. Presença de sentinas com forte odor fétido.

Tabela 2 – Ficha fitossociológica do lote 2 da sub-bacia hidrográfica do Santa Bárbara

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3.3 Pirâmides fitossociológicas de dois lotes em Santa Bárbara

Com base nos dados levantados no trabalho de campo realizado e nas fichas apresentadas

anteriormente, foram elaboradoras 2 pirâmides fitossociológicas através do Programa Veget,

desenvolvido por Ugidos e Passos (1996).

A pirâmide do lote 1 representa a dominância dos estratos arbóreo e herbáceo, em relação

aos estratos arborescente e arbustivo. No estrato arbóreo, observa-se o processo regressivo em função

de que, a espécie predominante, juçara, é largamente aproveitada pela população local (Figura 4).

Figura 4 – Pirâmide fitossociológica da localidade de Santa Bárbara – Ponto 1

O estrato arborescente, embora com menor número de indivíduos, é dominado também por

juçara; encontra-se em progressão em função da possibilidade de substituição na copa, considerando o

constante corte de indivíduos do estrato arbóreo.

Com predomínio de juçaras e em estado de equilíbrio, o estrato arbustivo assim se encontra

em função da expansão do estrato arborescente e da dominância do arbóreo, sufocando o crescimento

do primeiro; alia-se a isto, o fato de que, como este estrato ainda não encontra-se no estágio de

aproveitamento econômico pela população local, o mesmo não vem passando por cortes ou retiradas

de indivíduos, favorecendo tal situação. Destaca-se que, nos dois lotes, não foram encontradas espécies

no estrato subarbustivo (Figura 4 e 5).

No estrato herbáceo, tem-se o estágio de progressão e a maior diversidade de espécies, com

destaque para a presença de espécies exóticas como a manga (Mangifera indica L.). Em virtude da

ausência do estrato subarbustivo, da situação de regressão do arbóreo e de equilíbrio do arbustivo,

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além de um ambiente úmido, o estrato em questão encontra-se em progressão. As espécies de porte

arbóreo, encontradas neste estrato, como o guanandi (Calophyllum brasiliense), taquari (Tiarella

triffoliata), buriti (Mauritia vinifera Mart.) e mangueira (Mangifera indica L.), evidenciam uma

situação de degradação do ambiente em função do corte e estão no processo de recuperação (Foto 1).

Foto 1 – Vegetação no lote 1 indicando presença de porte herbáceo e arborescente

Na foto a seguir (Foto 2) tem-se a ocorrência de manchas de gramíneas cobrindo áreas

úmidas onde foram retiradas espécies de estratos superiores, às quais, apesar de presentes no ambiente,

não foram contabilizadas na ficha fitossociológica, em função da abundância. Observa-se ainda

troncos de espécies arbóreas, como o guanandi (Calophyllum brasiliense).

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Foto 2 – Vegetação no lote 1 indicando ambiente higrófilo e presença de gramíneas

No estrato herbáceo, tem-se o estágio de progressão e também maior diversidade de

espécies, com destaque para a aninga, as ciperáceas e gramíneas, que ocorrem em grande quantidade

(Foto 3). A presença destas espécies e também da embaúba (Cecropia peltata L.) indicam um

ambiente degradado, uma vez que o mesmo não apresenta as características originais, perdendo a

capacidade de regeneração das espécies nativas e favorecendo a colonização de espécies pioneiras e

exóticas (Figura 5).

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Figura 5 – Pirâmide fitossociológica da localidade de Santa Bárbara - Ponto 2

Foto 3 – Vegetação no lote 2 indicando expansão progressiva do estrato herbáceo

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4. CONCLUSÕES

Os 2 (dois) lotes analisados neste trabalho apresentam características fitossociológicas

semelhantes em virtude da proximidade entre eles, de suas similitudes geoambientais e de uso e

ocupação inadequados do solo, com intensa antropização.

A representação gráfica da análise fitossociológica (pirâmides vegetais) indica que os

estratos arbóreo e herbáceo são predominantes quanto à diversidade biológica e à abundância/

dominância. O estrato arbóreo dos dois lotes está em dinâmica regressiva em função das pressões

ambientais da comunidade que retira constantemente as espécies deste estrato para fins domésticos e

comerciais.

No estrato herbáceo, os dois lotes estão em dinâmica progressiva. Isto ocorre em virtude da

colonização do ambiente desmatado pelas famílias Araceae, Ciperacea, Heliconia e Brachiaria.

Estas espécies são típicas de ambientes degradados onde os solos recebem maior radiação solar pela

ausência ou redução de espécies de portes superiores.

Os estratos arbustivo e arborescente dos lotes em questão têm menor representatividade

quanto à diversidade biológica e dominância/ abundância. No primeiro lote, as espécies de porte

arborescente apresentam dinâmica progressiva, enquanto no segundo, apresentam dinâmica regressiva.

Associa-se à progressão do estrato arborescente do lote 1 ao intenso corte das espécies arbóreas,

possibilitando a expansão das espécies arborescentes. No segundo caso, a dinâmica é regressiva devido

ao corte constante de espécies também neste estrato.

As espécies presentes no estrato arbustivo apresentam comportamentos diferenciados nos

dois lotes. Percebe-se que o comportamento dinâmico deste estrato está diretamente relacionado à

dinâmica dos estratos superiores. Está equilibrada no primeiro lote, considerando a expansão do estrato

arborescente, a altura média e cobertura da superfície pelas espécies dos estratos. No lote 2 a dinâmica

é progressiva em razão da regressão dos portes superiores.

As pressões ambientais que ocorrem nos ambientes são refletidas na dinâmica

fitossociológica que, por sua vez, está relacionada à redução da biodiversidade causando desequilíbrios

nos ciclos de produção de energia e matéria e nas possibilidades de recursos para a comunidade. Tem-

se neste sentido a urgência de elaboração e execução de projetos relacionados ao uso e apropriação dos

recursos naturais.

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REFERÊNCIAS

ABITEC. São Luís/ Santa Bárbara. São Luís, 2002. 1 fotografia aérea. Escala 1: 2.000.

BERTRAND, G.; BERTRAND, C. Uma geografia transversal e de travessias: o meio ambiente

através dos territórios e das temporalidades. Tradução de Messias Modesto dos Passos. Maringá:

Massoni, 2007.

CUNHA, J. M. C.; SILVA, Q. D. Mapeamento e análise geomorfológica da sub-bacia hidrográfica

do rio Santa Bárbara, São Luís – MA. Relatório Final de Projeto de Iniciação Científica.

UEMA/PIBIC, 2007.

FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Número de Habitantes, Localidades e Categorias por

Município. São Luís. [s.n], 2000.

PASSOS, M. M. A conceituação da paisagem. Formação. Universidade Estadual Paulista FCT-

UNESP, n. 7 p. 1-254, 2000.

PASSOS, M. M. Biogeografia e paisagem. 2 ed. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2003.

PAULA, P. F. e FERREIRA, M. E. M. C. Levantamento fitogeográfico preliminar no parque do

cinqüentenário em Maringá-PR. Revista Geografia. v.14, n.1, jan/jun, 2005.

SILVA, Q. D. Proposta de zoneamento geoambiental da bacia hidrográfica do Tibiri, São Luís –

MA. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) Universidade Federal do Ceará,

Fortaleza, 2001.

UGIDOS, M. L.; PASSOS, M. M. Veget - Programa para elaborar pirâmides de vegetação.

Salamanca: Universidade de Salamanca, Presidente Prudente: Unesp, 1996.