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w •**"•**. fl A<tf XA^m^m Domingo, 8-10-1950 Eyrealmente um filoso- fo Pio Baroja? Qual o seu sistema lógico, rigoroso, geométrico? Qual a sua antologia o a sua cosmo- Iogia? Não; o autor de "La Busca" não tem um "Olscur- ho sobre o método0, nem uma ''Crítica da razão pura", nem um "Tratado teológico-politi- co". "Houve um tempo es- crevla Balmes em 1843 em que considerou a filosofia como uma ciência exclusiva, inteiramente separada das de. mais, limitada a certos objetos, formando o que se chama um corpo de ciência; mas atual- mente, desde o século passado, a filosofia não é mais um ramo dos conhecimentos hu- manos, não mais uma raiz ou um fruto: é um jugo precioso que se insinua por todas as partes. Assim, existe hoje fi- losofia científica, filosofia ar- tísllca, filosofia do mundo". A filosofia está em todas as par- tes; um pintor, um escultor, um músico, um poeta podem ter sua filosofia peculiaríssima. Tem-na Pio Baroja. Que é a vida? Qual a nossa finalidade sobre o planeta? Como encontrar a ventura que ambicionamos? Baroja é um pessimista irredutível. Da leitura de seus livros pode sur- gk* a angustiosa sensação de que nossa vida não tem obje- tivo algum. em seus ro- mancos homens jovens que aa- sistem o declinar de sua pró- pria juventude, em meio de uma espantosa inutilidade de todo esforço; homens velhos, que ocultam a amargura na brutalidade e no civismo; lile- ratos, jornalistas, burgueses, aristocratas... Todos aniquila- dos, sem plano, sem orientação, sem ideais. A primeira vista po. (Ier.sc.ia crer que o pessimismo do autor nasce do desconcerto e dos males sociais. E, entretan. to, nada mais falso se investi- garmos a origem dêsse senti- mento em Baroja. A raiz está mais funda; não é na sociedade que se radica o mal, mas na própria natureza do homem, una e indestrutível, em todos os momentos da história, sem- pre igual, como acreditaram os grandes pessimistas, Hobbes, Gracian, Schopenhauer, através 'los séculos. Que vamos opor a essa des- consoladora filosofia? A espe- rança do progresso? A na Peiíectilidade humana? O tra- balho? ¦^juMÀ 8aJvAC1ãv!Í jnioua Hk^.s+^A^ .^^T ,^A^a»—-—.'• --*^^^BBHlflllfelIlTIl, f\TVff^**l"Mj. 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Vale mais a inquietude, a azafama permanente, a ai- ternativa contínua dos praze- res e das dores do que a ímo- bilidade". Isso escreve o novelista, e de pronto nos lançamos numa vida febril, de negócios, de via gens, de mudanças rápidas. Dir-se-ia que procedemos as- sim para enganar a nós mes- mos, para não ouvir a voz in. terior que nos grita a inutili- dade do esforço, para alcançar uma ilusão que corre irônica e vertiginosa à nossa frente, ,x ¦AZVRTN O trabalho, para que? As in. quietudes, os afãs, as mudan- ças, para que? Veja como se destacam, claramente, as li- nhas de um nüiismo a parali- sar-nos os instintos. Sigamos para a frente, no exame das doutrinas do novelista. Não existe uma concepção filosófica que não traga paralelamente um ideal ótico, concorde, corre- lativo, indefectível; e não exiã- te, por sua vez, ideal ético que não determine ideal político. Qual, pois, a sociologia que cor. responde à metafísica do no- velista? A sociologia de Baro- ja é a sociologia de Gracian, de Hobbes, de La Fontainc, de La Roehefoucauld, de Stendhal, do todos os pensadores pesaimis- tas. Li'a, Fontalne a espõs, numa breve frase: "La raison du plus fort est toujous Ia muillcure". "O que se vence diz Baltazar Gracian não necessita de dar satisfações, nunca se perde a reputação quando se alcança o objetivo". Quer dizer, não existe uma norma ética definitiva, nem uma orientação fundamental ou uma verdade inamovível; quando se triunfa, a razão, a moral e mesmo a beleza está com o que triunfa. O êxito traz em si mesmo sua sanção; uma secreta e misteriosa pola- rização de vontades e de inte- ligências se faz sempre, e in- defectivelmente, em torno do que aeaba de triunfar. Tal ê hoje; como nas idades primj- Uvas. o grande problema: ven- cer na batalha da vida. O inundo pertence aos vitoriosos. ,,E depois diüso, sc quisermos precisar mais e determinar o regime político que se deduz de semelhante concepção da sociedade, veremos que não po- dera ser outro senão o de um poder forte, audaz. Incondicional capaz de impor-.se ao uescon- certo universal das vontades o das paixões. "Na condição da natureza dizia Hobbes a potência certa c irresistível le- gitima o direito de dominai os que não podem resistir". "Para o Estado escreve Baroja o costume devo estar sobre a liberdade, a lei sobre o costu- me, a autoridade sobre a lei". As mesmas premissas levaram um c outro escritor a idêntico corolário político. Mas avancemos ouiro passo no exame da obra do roman- cista: a uma tal idéia moral e metafísica de corresponder um meio de expressão adequa- do. Não forma nem fundo; tudo é uma coisa só. Compre- enderiamos, por exemplo, o "Leviathan", de Hobbes, no es- tilo ético e acadêmico de Fe- nclon? Admitir-sc-ia o "Rou- ge et Noir", de Stendhal na prosa humanitária e ampiiti- cadora de George Sand? Ro- mances, como "La lucha por Ia vida", deviam ser escritos num estilo enxuto, impessoal, livre de hipérboles e de liris- mo, frio, impassível, e assim o estão, realmente. Como Stcn- dhal, Baroja não confunde seus afetos e aversões com sua obra: limita-se a narrar. To- dos os acontecimentos, bons ou maus, tristes ou alegres, são colocados no mesmo plano, —sem—_.hjerarquias sentimentais nem efusões UlãntropTcãsr~são páginas semelhantes a de um código ou de uma álgebra. E nisso se estriba a força extraordinária do novelista, a intensa emoção dessas visões e paisagens, que sobre tal fundo de filosofia implacável apare- cem rápidas na sucessão das páginas: interiores obscuros, asilos, cárceres, subúrbios nnse. ráveis, tavernas, espeluncas horridas, crepúsculos vistos do alto sobre o mar enegrecido dos telhados, perspectivas do cemitérios distantes, estendidos dos sobre colinas ermas. Si- lhuetas da grande cidade, apa- recendo confusas ao longe, quaudo a manhã vai romper e a luz fria e opaca dos foco» elétricos começa a dissolver-se na claridade tênue do céu.

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Domingo, 8-10-1950

Eyrealmente

um filoso-fo Pio Baroja? Qualo seu sistema lógico,

rigoroso, geométrico? Qual a suaantologia o a sua cosmo-Iogia? Não; o autor de "La

Busca" não tem um "Olscur-

ho sobre o método0, nem uma''Crítica da razão pura", nemum "Tratado teológico-politi-co". "Houve um tempo — es-crevla Balmes em 1843 — emque considerou a filosofiacomo uma ciência exclusiva,inteiramente separada das de.mais, limitada a certos objetos,formando o que se chama umcorpo de ciência; mas atual-mente, desde o século passado,a filosofia não é mais umramo dos conhecimentos hu-manos, não mais uma raiz ouum fruto: é um jugo preciosoque se insinua por todas aspartes. Assim, existe hoje fi-losofia científica, filosofia ar-tísllca, filosofia do mundo". Afilosofia está em todas as par-tes; um pintor, um escultor,um músico, um poeta podemter sua filosofia peculiaríssima.Tem-na Pio Baroja.

Que é a vida? Qual a nossafinalidade sobre o planeta?Como encontrar a venturaque ambicionamos? Baroja éum pessimista irredutível. Daleitura de seus livros pode sur-gk* a angustiosa sensação deque nossa vida não tem obje-tivo algum. Há em seus ro-mancos homens jovens que aa-sistem o declinar de sua pró-pria juventude, em meio deuma espantosa inutilidade detodo esforço; homens velhos,que ocultam a amargura nabrutalidade e no civismo; lile-ratos, jornalistas, burgueses,aristocratas... Todos aniquila-dos, sem plano, sem orientação,sem ideais. A primeira vista po.(Ier.sc.ia crer que o pessimismodo autor nasce do desconcertoe dos males sociais. E, entretan.to, nada mais falso se investi-garmos a origem dêsse senti-mento em Baroja. A raiz estámais funda; não é na sociedadeque se radica o mal, mas naprópria natureza do homem,una e indestrutível, em todosos momentos da história, sem-pre igual, como acreditaram osgrandes pessimistas, Hobbes,Gracian, Schopenhauer, através'los séculos.

Que vamos opor a essa des-consoladora filosofia? A espe-rança do progresso? A fé naPeiíectilidade humana? O tra-balho?¦^juMÀ há 8aJvAC1ãv!Í jnioua

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A BALDINI — Xilogravura

/

A FILOSOFIA DE PIO BAROJA

vida está aniquilada" — dizum dos personagens de "Mala

hierba". E responde o outro:'Não; há o trabalho. Nem to-dos os homens são mesquinho*e miseráveis; lutar, assim é ?vida. Vale mais a inquietude,a azafama permanente, a ai-ternativa contínua dos praze-res e das dores do que a ímo-

bilidade".Isso escreve o novelista, e de

pronto nos lançamos numavida febril, de negócios, de viagens, de mudanças rápidas.Dir-se-ia que procedemos as-sim para enganar a nós mes-mos, para não ouvir a voz in.terior que nos grita a inutili-dade do esforço, para alcançaruma ilusão que corre irônica evertiginosa à nossa frente, ,x

¦AZVRTN

O trabalho, para que? As in.quietudes, os afãs, as mudan-ças, para que? Veja como sedestacam, claramente, as li-nhas de um nüiismo a parali-sar-nos os instintos. Sigamos

para a frente, no exame dasdoutrinas do novelista. Nãoexiste uma concepção filosóficaque não traga paralelamenteum ideal ótico, concorde, corre-lativo, indefectível; e não exiã-te, por sua vez, ideal ético quenão determine ideal político.Qual, pois, a sociologia que cor.responde à metafísica do no-velista? A sociologia de Baro-ja é a sociologia de Gracian,de Hobbes, de La Fontainc, deLa Roehefoucauld, de Stendhal,do todos os pensadores pesaimis-

tas. Li'a, Fontalne a espõs,numa breve frase: "La raisondu plus fort est toujous Iamuillcure". "O que se vence— diz Baltazar Gracian — nãonecessita de dar satisfações,nunca se perde a reputaçãoquando se alcança o objetivo".Quer dizer, não existe umanorma ética definitiva, nemuma orientação fundamentalou uma verdade inamovível;quando se triunfa, a razão, amoral e mesmo a beleza estácom o que triunfa. O êxitotraz em si mesmo sua sanção;uma secreta e misteriosa pola-rização de vontades e de inte-ligências se faz sempre, e in-defectivelmente, em torno doque aeaba de triunfar. Tal êhoje; como nas idades primj-

Uvas. o grande problema: ven-cer na batalha da vida. Oinundo pertence aos vitoriosos.,,E depois diüso, sc quisermosprecisar mais e determinar oregime político que se deduzde semelhante concepção dasociedade, veremos que não po-dera ser outro senão o de umpoder forte, audaz. Incondicionalcapaz de impor-.se ao uescon-certo universal das vontades odas paixões. "Na condição danatureza — dizia Hobbes — apotência certa c irresistível le-gitima o direito de dominai osque não podem resistir". "Para

o Estado — escreve Baroja —o costume devo estar sobre aliberdade, a lei sobre o costu-me, a autoridade sobre a lei".As mesmas premissas levaramum c outro escritor a idênticocorolário político.

Mas avancemos ouiro passono exame da obra do roman-cista: a uma tal idéia moral emetafísica há de corresponderum meio de expressão adequa-do. Não há forma nem fundo;tudo é uma coisa só. Compre-enderiamos, por exemplo, o"Leviathan", de Hobbes, no es-tilo ético e acadêmico de Fe-nclon? Admitir-sc-ia o "Rou-

ge et Noir", de Stendhal naprosa humanitária e ampiiti-cadora de George Sand? Ro-mances, como "La lucha porIa vida", deviam ser escritosnum estilo enxuto, impessoal,livre de hipérboles e de liris-mo, frio, impassível, e assim oestão, realmente. Como Stcn-dhal, Baroja não confundeseus afetos e aversões com suaobra: limita-se a narrar. To-dos os acontecimentos, bonsou maus, tristes ou alegres, sãocolocados no mesmo plano,

—sem—_.hjerarquias sentimentaisnem efusões UlãntropTcãsr~sãopáginas semelhantes a de umcódigo ou de uma álgebra.

E nisso se estriba a forçaextraordinária do novelista, aintensa emoção dessas visões epaisagens, que sobre tal fundode filosofia implacável apare-cem rápidas na sucessão daspáginas: interiores obscuros,asilos, cárceres, subúrbios nnse.ráveis, tavernas, espeluncashorridas, crepúsculos vistos doalto sobre o mar enegrecidodos telhados, perspectivas docemitérios distantes, estendidosdos sobre colinas ermas. Si-lhuetas da grande cidade, apa-recendo confusas ao longe,quaudo a manhã vai romper ea luz fria e opaca dos foco»elétricos começa a dissolver-sena claridade tênue do céu.

Página 'LETRAS E 22? TES Domingo, 8-10-1950

Osr.

Albert Camus acaba.de publicar, sob o titulode Actuollcs, algumas de

suas crônicas dos anos de 1944a 1948, Eu desconfio, em prin-cipio, de* «as coletâneas de ar-tigos antigos, cuja eloqüênciaou brilho raras vezes resistemà prova do tempo. Mas, ao me-nos, já saola eu de antemão quese o probo escritor que c AlbertCamus se resolvera » dar-nos »reler essas páginas escritas aocorrer dos dias não era por es-pirito mercantil, nem para mecomprazer.

Ajora posso dizer que seriarealmente uma pena que nósnão as relêssemos; e acresceu-tarei, cm meu nome e em no-me de muitos outros, que as re-leremos, decerto, ainda muitasvezes. -ActueHcs" não é umretorno à realidade de ontem.Assim reunidos e classificados,editoriais que percorremos ai-gumas vezes de olho distraídoformam um conjunto vigorosoe coerente. Dessas Idéias liga-das cm feixes se extrai umadoutrina, uma regra de vida.

"Aetuclles" merece, pois, serassinalado como wm dos nos-sos modernos livros que fazempensar, um desses testemunhosque devem ser colocados nomelhor lugar de nossa hibliote-ca, sempre ao alcance da mão.

Há, em Camus, uma curiosamistura de pessimismo racio-nado e de otimismo heróico.Desespcra-o a condição dos ho-meus. Sonha para eles comnina justiça, que reclama novasdefinições, um novo equilíbrio,novos combates. Dois caminhosnofs aconselha evitar para che-gar a êsse fim: o ódio e o per-dâ^. Não é revolucionário, naac peão em que muitos enten-Úémj também não é um cristãoe nfio se gaba de o ser: "Sem-pi s — escreve êle — que eu fa-le; üo justiça a propósito da de-pi;.ação, o sr. Mauriac falou decaridade. A virtude da caridadeé l»astante singular para que eu,ao reclamar justiça, tenha tidoo ar de me bater pelo ódio. Ajulgar pelo sr. Mauriac, parece,realmente, que somos obrigadosa escolher, nesses negócios co-tiranos, entre o amor de Cristoc o ódio dos homens. Não, deci-didamente! Alguns há, entrecs euais nos encontramos, querecusam a um tempo os gritos«é detestarão que nos vêm do«Jn ;aílo e as solicitações enter-neçidas que nos vêm do outro.E nos procuramos, entre osdoía, essa juBía voz que nos da-ra a verdade sem wrgonha".

Vm dia (era de 1948) o sr.Camus fez, na presença dos do-mmicanes de Lateur-Mauborg,uma conferência, que agora In-clui em seu livro sob o título doI/Incrovant et les Chrétiens.Mostra-nos aqui toda a sua ai- 'ma. Apôs se haver defendidocontra a acusação de ser umdesses: "fariseus laicos que fin-gem crer que o cristianismo écoisa fácil c procuram exigir docristão, em nome de um cris-tianismo visto de fora, o queeles não exigem a si mesmos",diz-nos de seu respeito, mastambém de seu afastamento dareligião: "Tenho, como vocês, omesmo horror do mal. Mas fal-ta-ine a vossa esperança e con-tinuo a lutar contra êsse uni-verso em que as crianças so-frem e morrem.

Não oculta a sua tristeza pornão ter ouvido, durante os anosterríveis, a voz de Roma conde-nar expressamente os Barba-ros: "Exp*icou-se-no§ depoisque a condenação tinha sidolançada, mas nessa linguagemdas encíclicas que não é clara".Não parece que estamos a lerdo melhor Anatole France? Masa ironia do velho mestre é ar-iria de que Camus se nerve ra-ras vezes. Ei-Io, novamente, depeito e mãos nuas, a confessarséu tormento: ••'Sinto-mé umpouco como êsse Agostinho an-te 9 cristianismo, que dizia:"Procuro donde vem o mal enão acho..." Mas é verdadetambém que sei, como alguns,

O NOVO LIVRO DE CAMUS

o que há » fazer, se nfto paradiminuir o mal, ao menos paranáo o aumentar**. Chama, poisos cristãos ao combate; supli-ca-lhes que não deixem arran-car à religião essa virtude derevolte e indignação que ela ti-nba outróra, sem a qual os cris-tão» poderão viver, mas o cris-tianismo morrerá.

E termina por êste grito mag-nifico: -O que eu sei, e o quefaz, às vezes, a minha melan-colia, é que se os cristãos se de-cidissem, milhões de vezes —

JEAN BOTROTtmilhões, ouçam bem! —- se vi-riam Juntar no mundo aos gri-tos de um punhado de solitá-rios que, sem fé nem lei, com-batem hoje, por toda a parte,um pouco c sem cessar, pelascrianças e pelos homens",

Com os comunistas, o sr. Ca-mus é muito mais severo» Emuma carta dirigida ao deputadod'Asticr de Ia Vlgerie, um denossos "marqueses vermelhos",escreve: -Um dos vossos me

manda seu livro sobre o mar-xlsmo, cortezmente, aliás, masnotando-me que eu não apren-di a liberdade em Marx. E' cer-to; aprendi-a na miséria. Mas» maior parte de vocês não sa-be o que essa palavra quer di-ter**...

E, de súbito, o sr. Camus seembala, esgrimlndo para todosos lados seu chicote de polemls-te. Denuncia a vergonhosa épo-ca em que o livre diálogo entreos homens foi substituído pel»polêmica e pelo insulto. E ex-

K- '• V ^^5-- * .'' ^MMwmmmmmm^^'^<^:^BÊ^¦¦£*•* .-i'-*''¦!!"?:¦ ví ' :--.v.vSSBB "MTKÍi*giKv.v: x-:i3M wtmmm mm3ÊMmáfímamm]

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'Auto-retrato 1913" — STANLEY SPENCER

RETRATOS CÉLEBRES

ALLAN GWYNN JONES

organizou um dos ai-buns mais interessantesem matéria de pintura, quevem de ser editado em Lon-dres, pela Phoenix House.

4«fww j feio é, de uma co-letânea âos retratos europeus,dôs pintores mais célebres,desde o período greco-romanoaté o fim do século XIX, in-cluinão-se ainda nesse volumevários retratos pôr pintoresingleses deste sérnlq. A edi-ção âêsse "PORTRAIf PA-1NTERS" constitui uma reali-zação primorosa daquela edito*ra, pois fòl feita não apenascom excepcional bom gosto,mas com material âe primeiraqualidade, ò que permitiu areprodução das telas com be-

leza e fidelidade. Além doprefácio de Gwynn Jones, oálbum em questão oferece umrápido estudo sobre os pri-meiros retratos pintados naEuropa* além de uma notaçrítiçp-piQqráfica sopre todosos píntòm arrolados nessaobra, assim como âà trabalhonela reproduzido. Através âês-se retratos, pintados por ar-tistas de diferentes épocas,podemos acompanhar com se*gurança a evolução dás âife-rentes escolas de pintura e OStendências típicas das épocas.Em "PORTRAIT PAINTERS"temos reproduzidos retratospintados por Giotto, Pascanel-lò, Van Dyck, Anioneltà, DáVincci, Bellini, Durer, Chir-lanâaio, Rafael Vermeer, le-Nàíiií El GrécOf Véronése, Tín»

toretto, Ticiano, Rubens, Ve-lasquéz, Franz Hals, Watteau,Boucher, Delacroix, Ingres,Manet, Renoír, Gauguen, Cè-zannet Hogarth, GainsbóürOu-gh, Reynolds, Whistler, e ospintados pelos ingleses nestesécuío, tais como os âe Sick-ert, Rothenstein, Gitmün, Au-gustus John, Windhan Lewís.Grant, Pasmore Stanley Spen-cér, è muitos mais. Os retra-tos âé todos esses artistas,consideràâos obras-primas eque hoje enriquecem museuse coleções particulares noinundo inteiro, temos nesse ai-bum da Phoenix House que 4,sem dúviâa, o trabalho maiscompleto já aparecido sobre ogênero. ,

clama em um Congresso Inter-nacional de escritores: -Vive-mos num tempo em que os ho*mens, levados por medíocres eferozes ideologias, se habituam% ter vergonha de tudo. Vergo,nha de aí mesmos, vergonha deserem felizes, dc amar e decriar. Num tempo em que Ka-chie se envergonharia de "Bé-rénles e em que Rembrandt,para que lhe perdoassem a-Ronda da Noite", correria aInscrever-se no Comissariadoda esquina...** Constata comhorror que o século XX é o sé-cuio do medo, como o XVII foio das matemáticas, o XVIII dasciências físicas, o XIX da blo-logia, e que esse medo força oshomens a viver -cada vez maiscomo cães". Bem queria cha-mar a inteligência em socorrodisso, mas não terá ela tam-bém um chumbo na asa? "VI-chy ensinou-nos que a granderesponsável da derrota foi a in-teligência. A gente rural tinhalido multo Proust". Ainda ho-je, seis anos após essa magnifi-ca aurora que foi a libertaçãoda França, da Europa, do ho-mem, a inteligência corre o ris-co de se extinguir mais uma vezna noite das ditaduras-

Em cada página, entretanto,sr. Camus continua a clamar

sua resistência e esperança. Es-pera que a cultura européia so-breviva entre dois impérios gi-gantes. Espera um novo contra-to social; espera ver edificar-se» justiça "no mais injusto dosmundos". Espera ver o homemreconquistar -Esse gosto do ho-mem, sem o qual o mundo nun-ca será senão solidão".

Esperança em uma revoluçãoInternacional, não a da políticainterna, pois que -não se cura

peste com meios que se apli-eam ao reuma do cérebro". Tu-do isso exposto com tanta soli-dez, como flama. Após Malraux,Albert Camus mostra-se aomundo como um dos chefes daJovem literatura contemporâ*nea. Razão e generosidade coe»xistem na sua obra. Encontrei,em "Actuelles", toda a sabedo-ria francesa, acompanhada emsurdina, dos mais belos movi-mentos da -Nona SinfoniawLeiam êsse livro de exaltação, j

.#-"Sempre me dirigi aos ho-mens isolados" — diz Her«mann Hesse, o autor do'lobo da estepe"

OG R A N D E romancista

Hermann Hesse, prêmioNòbel de literatura, em

artigo recentemente publicadonum jornal de Zurich fez vá-rias considerações sobre a ho-ra atual, das quais destacamos,por muito expressivo, o trechoabaixo.

"Segundo a minha experiên-cia — diz o autor do "Lobo daEstepe" — o pior inimigo do-homem é o gosto da coletivi-zação, proveniente da preguiçaintelectual e da necessidade derepouso. O mal está nas comu-nidades dogmática, sejam elasde que espécie fôr. Em temposde desespero como o nosso, hávelhos intelectuais, cansados deexercer as respectivas funçõesque se convertem para refugi-ar-se à sombra de uma seitaqualquer, comunista ou não.Não condeno nenhum dessesque já não possuem força parasuportar a solidão. Entretanto,posso assegurar, de minha par-te sempre me dirigi aos ho-mens isolados; eles que atéhoje me preocuparam e não ohomem coletivo. Se os meusesforços não têm sido inteira-mente vãos os que deles já sebeneficiaram — algumas du-zias de meus leitores, espiri-tualmente formados por mim•— devem ser, Como eu, solitá-rios. Não tenho logrado outroêxito senão o de sustentaresse pequeno número de ho*mens — discípulos e câmara-das — na sua luta por umaexistência humana digna'\

Domingo, «-10-1*50 LETR'AS E "ARTES tâtin» —. 3

A

INFLUENCIA da poesiafrancesa sobra a portu-guesa é um fato deli-

nltlvamonte assente pelos his-torladores da literatura. Re-1monta ao Cancioneiros tal In-fluêncla, e é sabido como umadas primeiras fases da nossahistória literária leva apensa adesignação de "escola Provon-cal". Deus me livre de pre-tender desmentir os doutos his-torladores da literatura portu-guesa, tanto mais que fatosabsolutamente objetivos ser-vem de fundamento aos seuspontos de vista. Nâo é fácilnegar que a poesia provençaltenha inspirado os nossos pri-melros trovodores. Muito dífl-cil seria demonstrar que Guer-ra Junquelro nfto leu VictorHugo nem admirou Baudelal-rea que os "simbolístas" fran-ceses nfto deslumbraram Eu-gênio de Castro; que Rimbaudnão foi deus tutelar de ai-guns poetas da "Presença;que Paul Eluard nfto csiâ a serimitado por alguns jovens con-temporaneos; que Max Ja-cob. Apollinaire e o próprioJean Cocteau nfto foram os pa-tronos da geração saída doOrpheu. Estamos perante fa-tos indiscutíveis. Os historia-dores da literatura têm ra-são.

No entanto, objetivos em-bora, estes fatos nfto se nosafiguram tão indiscutíveis co-mo à primeira vista parecem.Eis um ponto de vista que te-nho sustentado teimosamentenos meus ensaios e críticas.

O primeiro estudioso da his-tória literária portuguesa quidemonstrou Quanto eram pre-cárias as influências da poesiafrancesa sobre a nossa foi umfrancês. Refiro-me a PierreHourcade. No seu livro consa-grado as influências francesasna obra de Guerra Junqueira,Hourcade comprova, inclusiva-mente, este caso extremamentecurioso — que o Baudelaire queo autor de A morte de D. Joãojulgara admirar, lifiando-se,ttnclusivamente, na "escola sa-•tãnica", a escola do mestre dasJFleurs âu Mal, segundo o au-tor de Os Simples, nfto era talBaudelaire propriamente dito,anas Carlos Fradique Mendes,mistificação da gente do "Ce-náculo" e autor de uma sériede maus pastiches do grandepoeta francês.

Na verdade, é pouco Iisonjei-ro reconhecê-lo, mas há quereconhecê-lo, poucos são os poe-tas portugueses cuia cultura of e-reça a consistência necessária.para que os possamos conside-rar capazes de estudar com adevida atenção a obra dosgrandes poetas estrangeiros. E*certo que parece demonstrada avasta cultura de um Camõesa quem os eruditos fizeramdoutor em várias Faculdadese que é inegável que um Sáde Miranda, um Antero deQuental ou um Fernando Pes-soa muito leram e muito sou-beram. Mas estes poetas nãosão casos correntes da nossaliteratura. Há que considera-los. antes, como notáveis ex-cepções. A regra é outra: nageneralidade, os nossos poetassão de uma manifesta incultu-ra. Se é crença geral do literá-to portuscuês que o gênio supreo trabalho e a leitura —- jáRamalho Ortigão assinalava,nas suas Farpas, que, no con-ceito do freqüentador das ter-túlias dos cafés do Chiado, es-critor que trabalha não temtalento —, a convicção do poe-ta é, que, para se ser gênio,não se deve saber ler nem escre-ver. E não há dúvida -— algunsdos nossos melhores poetascontemporâneos são de umaorgulhosa ignorância.

Há dias assinalava eu algu-res o fato deveras sintomáticodo nosso Camilo Pessanha, omais genuino dos nossos "sim-bolistas**, ter encontrado a ex-pressão musicalmente difusada sua poesia não na leituraque porventura tenha feito deVerlaine ou de Samain, mas,antes, na atmosfera orientaloue respirou durante dezenasde anos, uma vez que viveugrande parte da sua vida —até a morte — em terras da re-mota China, E, assinalando

VARIAÇÕES SOBRE OGÊNIO LÍRICO PORTUGUÊS

1 JOÃO GASPAR SIMÕESeste fato, visivelmente demons-trava que, quaisquer que fos-sem as influências diretas con-traídas, durante os seus anosde estudante, na leitura dos"slmbollstas" franceses o umesmo dos portugueses de en-tfio — o Junquelro de Os sim»pies, o Gomes Leal das Clari»dades do Sul, o Antônio Nobredo Só, o Eugênio de Castrodos Oaristos — o certo é queo autor da Clepsidra apenasquando "viu a luz em um paísperdido** e sentiu que a sua"alma (era) lânguida e iner-me" penetrou na essência do"simbolismo".

Não pode deixar de tradu-üir-se em homenagem ao es-pírito poético nacional estaaparente impenetrabilidade dainteligência do poeta portu-guês ás sugestões das escolasestrangeiras. Bem certo que, apar do lirismo cem por centoespontâneo — o caso típico dagenialidade poética de umJoão de Deus, que confessavapouco mais ter lido que a Aía-riUa de Dirceu e o "Diário deNotícias", há entre nós poetasde elaborada expressão inte-lectual. Não vale colocar nomesmo plano Camões e Ber-nardim Ribeiro, Antero e Bo-cage, Eugênio de Castro e An-tonio Nobre, Fernando Pessoae Mario de Sá-Carneiro. En-quanto uns são mentalidadestrabalhadas pela cultura e es-tros afinados pela especulaçãomental, os outros pouco maissão que liras ao vento — ai-mas miraculadas pela presen-ça do deus da poesia. Mas ocerto é que, diferentes comoformação mental, como tempe-ramentos poéticos não acusamgrandes divergências.

Claro está que o autor deOs Lusíadas, soube, como nin-guém, adotar os cânones daepopéia consagrados por Vergl-lio na sua Eneida, que Ante-ro afinou a sua lira pela dosmais clássicos sonetistas italia-nos, que Eugênio de Castro re-

fes o seu "simbolismo" pelopadrão do "simbolismo*' de umSamain ou de um Laforgue, equo Fernando Pessoa conquls-tou grande parte da sua liber-dade formal adotando os es-quemas rítmicos de WaltWhitman. Se nos dermos, po-rém, ao cuidado de observar,atentamente, a poesia de qual-quer destes poetas, pelo menosatravés das suas obras maisespontaneamente líricas, tere-mos a surpresa de verificar queai o modelo se desvaneceu e opoeta retomou uma tradiçãoimplacável — a tradição dosmais genuínos líricos nacionais.

E' o mesmo sangue líricoque corre nas veias do melhorCamões e do melhor Bernar-dlm, do mais genuino Bocage edo mais genuino Antero, domais legitimo Antônio Nobre edo mais legitimo Eugênio deCastro, do mais puro Fernan-do Pessoa e do mais puro Má-rio de Sá-Carneiro.

Muito bem pode acontecerque no espírito do leitor se es-teja gerando a dúvida que pormomentos atravessou o meupróprio espírito. Afirmar o queeu estou afirmando não é, nofim de contas, reconheceruma banalíssíma verdade —que todas as manifestações deuma mesma literatura,seus melhores documentos,conservam uma fisionomiaafim?

A pergunta pode fazer-se.mas a resposta é só uma: não.Nâo é, realmente, a mesmacoisa. Evidentemente que to-das as literaturas têm o seucaráter específico. De FernãoLopes a Oliveira Martins e deD. Francisco Manuel de Me-Io a Afonso Lopes Vieira —uma continuidade estruturalse afirma nova.

Basta que a lingua seja amesma, e a sensibilidade, pro*duto de um idêntico condicio-namento rácico e geográfico,histórico e econômico se man-tenha igual a si própria. Tal

nfto é, contudo, o que conside-ramos genuinamente típico dotodos os verdadeiros poetasportugueses, qualquer que se-ja a sua formação mental eo seu estofo cultural.

Quando Eça de Queiroz en-viou á "Gazeta de Portugal"as suas Notas Marginais, nãofaltou quem pusesse a ridículoo caráter fantasioso dessaj"prosas bárbaras", que maispareciam a tradução verbaidos sonhos de um poeta que aexpressão da realidade devidaà pena de um prosador.Pois bem: se nessa alturao leitor perspicaz tivesse tidoa lembrança de procurar naprosa portuguesa uma páginasusceptível de lhe fornecer opadrão genealogico daqueles"dispautérlos" líricos, era cer-to tela encontrado alguns sé-culos antes. Será, realmente,descabido afirmar que o mo-delo inconsciente das NotasMarginais, de Eça de Queiroz,se encontra na Menina e Mo»ça, de Bernardim Ribeiro?

Eis o que me não parece játão fácil de investigar: qual alinhagem portuguesa das pági-nas de um Crime do PadreAmaro?

Tentado pelo êxito das suasanteriores investigações, o lei-tor que tivesse filiado as Pro-sas bárbaras em BernardimRibeiro ver-se-ia em palpos dearanha para filiar em qualqueiramo da prosa de ficção por-tuguesa uma obra como o pri-meiro romance de Eça deQueiroz.

Que conclusão nos é licitoextrair daqui? Esta e só esta— que há na tradição literá-ria portuguesa uma espécie de"intra história**, como diriaMiguel de Unamuno, tipica-mente lírica, e essa "lntra his-tória" lírica não é do domíniodas fórmulas literárias, comoas escolas ou os princípios re-tóricos, sendo inútil tentar en-contrar-lhe qualquer filiaçãoalém fronteiras. Na verdade,

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Xilogravura de OSWALD C0ELD1

tal essência lírica nfto 0 a tra-duçao, cm termos mais ou me-nos nacionais, de qualquei cor-rente literário estrangeira.

Nfto é siquer ura processo,estilo ou maneira literária.Nfto. O fato de eu ter recor-rido às Prosas Barbaras paradocumentar a gcnulnidade des-ta bossa lírica portuguesa, deipois de tanto falar de poetas,por Insólito que pareça ape-nas é uma forma de tornar ain-da mais preciso o caráter daafirmação que sustento. O talelemento comum à obra detodos os grandes poetas na-cionals. naquilo em que Ôlc3são nacionais, isto é, naquiloem que eles são genuínamen-te líricos, constitui antes um"modo psíquico" que uma fór-mula literária". Eis. por issomesmo, porque tanto apare-ce na prosa como no ver-so.

Irredutível à cultura e á ra.zão, qualquer coisa se manifes.ta no homem, quando ele des.ce à sua íntima Rub'e"tlv'dade,em que se traduz, não se sobecomo nem poroue. a sua formaespontânea de reagir peranteo mundo. Se um franca in-tegrado nessa íntima subiecii-vidade. reage, espontaneamen-te, distinguindo e ariaPWhdo:o portueufis, nelo rnntrárlo asua maneira espontânea de rea-gir é aderindo ao mundo e ex-primindo-o. como ee entre 03dois não houvesse qualquer dis-tinção — como se ele. poe'a,fosse o mundo, e como se êle,mundo, fosse poeta, como sosujeito e objeto se con fun dis-sem. o eu e o não-eu se ideu-tificassem, o homem e o mun-do formassem uma unidadecósmica. Perdoe-se-me estavaga definição de lirismo.Parece-me. contudo, quantobasta para oue o leitor com-preenda o que considero a ma-neira castiça de o portu»"*sresponder à realidade ciuandoesta lhe pede que exprima asua maneira pessoal de .socomportar para com ela.

O tipico estilo lírico da Mcnina e Moça, julgado não hámuito por Aquilino Ribeiro,no prefácio a reedição dasObras completas de Bernar-dim Ribeiro, que a Livraria Sáda Costa, de Lisboa, está a.publicar, "especulação de pa-ranoico", estilo "primário","solilóquio lunático", "arrouholírico", "pueril", "variaçãocentrifugada", —- opinião cipi-ca de um prosador que naosabe sequer que também é 11-rico, e que ignora, mesmo, nuoapenas é grande quando, co.mo prosador, se aproxima dolirismo que abomina — eis o"test" inalterável, nas suas li-nhas essenciais, através dd?qual se podem aferir todas asmanifestações tipicamente lir.l-cas da nossa literatura, querem prosa quer em verso.

Por que escolhi eu, porém,uma obra em prosa para do-cumentar um ponto de vistasobre a poesia portuguesa?Apenas porque a "prosa",quando é despremeditadamen-te lírica, revela melhor os en-laces da estrutura mental quea enforma, As Prosas barbavase a Menina e Moça são doisdocumentos de uma inexcedi-vel frescura. Neles o nossomodo lirico está como que emestado bruto.

Na verdade, tanto nas etu-soes de Bernardim Ribeiro daMenina e Moça como nas eja-culações do Eça das Nota»marginais — se denuncia amesma reação perante a rea-lidade: essa espécie de fusãocom o mundo mercê da qualo escritor, perdida o senti-mento do eu, se exprime comose fosse o próprio mundo como qual se encontra identifi-cado.

Quer dizer: o modo lirico oaalma portuguesa é como queum afloramento inconscientedo primitivo no civilizado. Onosso escritor, quando se iden-' tipica com o que há de mais ge-nuino no seu gênio, regressa,subitamente, às origens —faz-se primitivo. E, assim, gra»

(Conclui na 10.* página)^

Pagina I E TRÁS E rARTE'S Domingo, 8-10-1950

POEMAS EM PROSADE JOSÉ' REGIO

APÓLOGO

Atirei uma semente ao vento..,"Vento, leva-a na mão! Mas tem cuidadinho comela: olha que é uma pequenina semente. .. Procura-lhe um chão favorável.

Loucuras da gente!, que pede coisas a quem sabemais.Ironicamente, o vento quis fazer-me a vontade:

Foi pô-la num jardim onde havia boa terra, bom sol,boa água; um jardim bem tratado.

Veio o jardineiro, e remexeu a terra; t pequeninasemente foi atirada ao ar sem mesmo ser vista- Comoo seria, tão pequenina, em tão grande jardim. . .?Vai o vento, então, pegou outra vez de ela, masfoi pô-la onde quis: num dedal de terra entre pe-nhascos.E a pequenina semente aproveitou aquele boca-clinho de terra que ninguém tratava, entre aqueles ás-

psros penhascos; medrou e deu flor.Quem passa cá em baixo, se oiha lá para cimac porque o atrai, na escarpa da rocha, a íiágil florinhadançando ao vento seu amigo.

AMOR

Quando apareceste na minha vida, era eu novoê tu muito bela. Amei-te como um homem novo eapressado ama a beleza: desejando-a; querendo-a sua-expirando a triturá-la. . .Um homem novo e apressado — ama a belezaromo uma criança ama um brinquedo.A vida meteu-se entre nós dois, e ainda bem!Já não sou novo, nem tu serás tão bela. Aondersras, se é que ainda és viva? Porventura outrem te

possuiu e desfez, belo brinquedo!E só agora te amo deveras, fantasma: porque teamo sem a inquietação de querer triturar-te, como sem

qualquer remorso de te haver triturado..

RESSENTIMENTO

Quis comunicar contigo, amigo distante?Pedi aos sons, pedi às palavras, pedi às frasesqje te levassem as minhas melodias mais sutis- os

ZkSaS,T-ti?lent0S maÍS íntim0s: os meus Pensamentosmais autênticos; — sim, o melhor que eu tinha»Mas tu fechaste os ouvidos às minha!? melodias-Teenaste o coração aos meus sentimentos; fechaste oentendimento às minhas idéias: ficaste fechado —tu que eu sonhara abrir.

E, muito naturalmente, não mo pudeste perdoar-fizeste profissão de me não compreender; começastea caluniar-me junto do teu irmão mais novo, junto doteu ¦rmao-mais velhey junto do têTrirmaõ gêmeoAi! bem sei qual é o meu pecado para contigo'Quis ajudar-te a descobrir os teus próprios tesoiros —e so consegui fazer vir a lume a tua miséria Por issoja tenho toda a tua família contra mim.

CARIDADE

t,™ JX'geS qU! GU me comPadeÇa dos outros, quandotambém eu padeço; que lhes dê compreensa'0 e amorquando também eu os preciso; que lute pela sua Te-'hadade. quando também ela me falta; que lhes con-sagre a minha vida, quando eu malvlvo •Exiges-me que seja herói!E não há dúvida que tens muita razão: Tambémeu o exijo a mim próprio, com tão débeis resultados!Por que me não ajudas um pouco, tu que tantome exiges? e me não dás alguma coisa, tu que tantome pedes? Talvez, então, também eu conseguisse umbocadinho mais da minha avareza. . .

MALRAUX E SEUMUSEU IMAGINÁRIO

BERNARD DE CIIAMPIGNEULE

UW após outro acabam de

aparecer dois livros deMalraux: o terceiro vo-

lume da Psychologic de l"Art,intitulado La Monnale de1'Absolu, e Saturnc, Essai surGoya, que é uma espécie deprolongamento da psicologia.Esses dois livros pertencem aum gênero novo que o autor le-vou a um raro grau de perfei-ção. Sua força — e grande par.te do nosso prazer — consiste,é certo, na escolha e na quall-dade das ilustrações. Mas Mal.raux nfio comenta imagens. AsImagens vêm cm apoio de suasdigressões. Constituem o seucomplemento. A forma densa e

eüptica de sua linguagem é ilu-minada pela reprodução foto.gráfica, colocada na devida ai.tura. Folhear essas soberbasimagens sem ler o texto seriavão deleite. Tirar a ilustraçãoao texto seria extingui-lo.

Teria deixado Malraux de es.crever romances ? De momen-to, sua necessidade de testemu.nhar, de situar em seu univer.so o homem contemporâneo,exprime-se plenamente nesserecurso a que êle chama o"museu imaginário". E tudoleva a crer que esses diálogoscom as obras de arte do pre-sente e do passado, que não é,de forma alguma, uma posiçãode recuo ou um refúgio contraas angústias do mundo, não de.vem ser consideradas comosimples episódios em sua ativi.dade. Dirige a "Galeria de IaPleade", da livraria Gallimard.que deve corresponder a céle-bre coleção da "Bibliothèquede Ia Pleiade". Anuncia-nos ai.gumas séries de obras que cons-tituirão o "museu ideal da es-cultura mundial" e o "museuIdeal da arte fantástica".

Tudo Isso indica claramenteque o autor de "La conditionhumaine" não satisfaz suaspaixões de intelectual na agi-tação das multidões e da po.lítica, mas que se sente ávido,na atual crise de nossa civili-jsação, de recorrer aos testemu.nhos mais profundos e segurosde todas as civilizações do pas.sado, isto é, às mensagens dearte que essas civilizações noslegaram.

Logo no começo do seu ulti-mo livro, surge a questão "Sesomos em arte, Os primeirosherdeiros da terra inteira, essaherança sofreu a metamorfosemais complexa que o mundo

já conheceu". Habituados co.mo estamos a ver as obras dopassado transformadas pelotempo pela sua nova situação,pela idéia que nós dele forma,mos — e as vezes em sua pró.pria essência (esculturas priva,das de suas pinturas, quadrosrevestidos de vernizes coloridos,etc.) -- perdemos sua slgnifi-cação original. Assim, as partesmais sugestivas da obra são,decerto, ôsses pontos de vistasobre os "deuses mortos", sô-bre o menosprezo e à ressurrel-ção que tem sofrido, atravésdos séculos, os estilos ou asformas da arte do passado. Odesenvolvimento das viagens,da fotografia, dos museus foitalvez o que fêz de nós os "pri.meiros herdeiros da terra in.teira". E depois ? Paremos nósda obra de arte uma idéia Jus-ta que a de nossos antepassa.dos, tão limitada e tão ingênuacomo hoje nos parece a sua vi-são ? Referiam.se a critériosque hoje nos parecem caducos,como a imitação da naturezaou a relação com os modelosda antigüidade clássica. Masque critérios temos nós hoje?Quais os estilos que nos agra-dam, os meios de expressão quenos impressionam ? Nada demais mutável e mais sujeito arevisão. Recorremos ao uni-verso inteiro para investigar aszonas onde podem manifestar-se as concordâncias de nossasensibilidade com a dos criado-res de todos os tempos. Não osjulgamos segundo o sentidoque eles deram à sua criação,mas segundo a emoção que es-ta nos dá, segundo suas rela-ções oom a nossa "modernida-de". Na Idade Média, um qua-dro que representasse umaVirgem era uma Virgem antesde ser uma combinação de cô-res. E procurando, hoje, ape-nas nele uma combinação deoôres, falseamos os dados ele-mentares da criação artística.

Não é possível passar-se emrevista, mesmo de leve, às idéiasque pululam nesse livro de umaexcepcional riqueza, mas quenos seja permitido ao menosassinalar o capitulo comple-mentar — consagrado às moe-das célticas. Até agora negli-genciadas na história da arte,

sua ampliação fotográfica dá-nos o ensejo de ver aí uma ar-te enérgica e uma violênciaque estão longe de atingir asartes cristãs dos primeiros

tempos. O que nos vale desço,brlr imagens surpreendemos —muito próximas, demasiadopróximas, da arte de textoscontemporâneos — e tambémum estudo penetrante sobre aarte considerada como expres.são, como expressão direta doinstinto.

Em sua Psychologic de 1'Art,Malraux insiste muito sôbre osagrado e sobre a sua contra,partida, o demoníaco. "Satur-ne é a apoteose diabólica deseu monstro que devora os ho-mens. E é para chegar a essaimagem alucinante pintada naCasa do Surdo (sua própriacasa) que nós atravessamos omundo apocalíptico de Goya,com seus cortejos de loucos, debruxas, de possessos, de violemtos e de torturados. Pouco im.porta saber se o autor solicl.tou o pintor, se atribuiu aGoya intenções metafísicasmais sombrias que as que êle

, realmente tinha. A obra estáali. Escolhida por Malraux, écerto imerge-nos em um mun-do de espanto, sem horror, semesperança humana e sem Deus.

Desde a Renascença, desde oSéculo de Ouro, o homem acei.tava o mundo. O humanismo iabuscar sua grandeza à cristan-dade. Mas eis que no limiar doséculo XIX surge Goya comseus "Desastres", com seus"Caprichos", com suas Velhase suas visões infernais da Casado Surdo. O horror chega aoseu cúmulo. O vício estala,rangendo os dentes, em cenasde crueldade. O espírito daGuerra, o espírito do Mal es,palha-se, monstruosamente, sô-bre o universo.

Malraux nunca foi tão dire.to como quando nos conduzatravés dessas paisagens de;sangue e trevas, em que "asjmáscaras já não são o que ocul-jta o rosto, mas o que o fixaráSaturno é a volta do sagra-.do, mas de um sagrado ante-rior e sem salvação, é a intru-são da loucura do homem, desua violência, de seus sadis-mos, de tudo quanto nele aspi-ra a destruir-se. Mauraux faz.se um companheiro de Goya,o solitário. Mas antes de aban-doná-lo a seus pesadelos, háuma frase muito breve, muitosinistra, uma espécie de pro-jeção sôbre os tempos em quehoje vivemos; "Depois, escreveêle, começa a pintura moder-na".

Como Gide traduziu o "Hamlet"no seu refugio da Tunísia

JEAN. AMROUCHE

A tradução do "Hamlet",

que tem sido um dosgrandes êxitos de JeanLouis Barrault, foi terminadapor André Gide em 30 de agôs-to de 1942, em Sidi-Bon-SaidQuem folhear as páginasdo diário do escritor relativasa essa época não chegará aimaginar o lugar imenso queesse trabalho ocupou na suaexistência durante mais de 3meses.

Gide havia deixado Marse-lha em maio de 1942, muitoacabrunhado pelo estado emque se encontrava a França*enfraquecido pelas privações,entristecido porque se separa-va ¦- por quanto tempo ?— dafamília e dos amigos mais que-ridos; inquieto, porque nada .sabia das condições morais emateriais de existência que aTunísia lhe ofereceria. De cer-to, deixar a França seria pos-srvelmente encontrar a salvação.Era, em todo caso, escutar oapelo de uma terra que, à dis-tância, poderia parecer mais li-vre * -asais feliz. Como é sabl-

do, uma amizade de cincoentaanos já o ligava a êsse peque-no país, para êle dispensadorde alegrias irradiantes e ondefizera tantas descobertas. Gideouviria ainda o apelo do sul,da luz do deserto e das pai-meiras, que já lhe haviam ins-pirado alguns dos acentosmais emocionantes? Ou pre-sentiria acontecimentos decisi-vos para breve e a liberdadetomando impulso justamentena África?

Ao desembarcar na Tunísia,Gide parecia um velho decrépi-to; algumas semanas mais tar-de rejuvenescia vinte anosSem dúvida, não encontraraêle o conforto que talvez pro-curasse e que dispensa, aliás,facilmente.Os hotéis estavam cheios, ocalor esmagador. No Tunisia-Palace, onde se hospedara, adespeito da atenciosa proteçãode que o envolvera o livreiroMareei Tournier, via-se asse-diado pelos Indiscretos. Pro-curamos em vão para êle umretiro, onde pudesse trabalhara vontade, quando uma medi-

ca de Tunis, a doutora Ray-monde de Gentile, ofereceu-lhehospitalidade numa vivendaencantadora em Sidi - BoíSaid.

A hora era de angústia.Rommel acabava de desenca-dear ¦. sua última ofensiva nadireção de . Alexandria e nãotardamos a receber a notíciada inexplicável rendição deTobruk.Vichy acentuava sua pres-são e Gide, denunciado no

púlpito pelo velho padre Le-bong. dominicano, estava sen-do alvo dos ataques da Legião.Houve assim a necessidade deretirar-se do mercado ummagnífico exemplar de "Voya-ge au Congo", que devia serposto em leilão, por ocasião deuma kermésse da Cruz Verme-lha.

Em Sidi-Bom-Said, onde Gi-de permaneceu sozinho váriassemanas, quase todas as preo-cupações. lhe foram poupadas.Embora escreve ele a 22 de ju-nho: "Resta-me alguma -coisaa dizer? Alguma obra a reali-

(Conclui' na li* pag.) ,

Domingo, 8-KM950 !C E T 2? 5í S E 'ARTES Página — 5

BEM

iabemoa «ne há nadeterminismo cultural aque oertM Invenções aur-

sem, paralelamente, em luxa-res diversos em que uma somaIdêntica de fatores as provocam.Há portanto uma lei de relaçãoentre os traços e complexos cul-turais que explica o fato de aomesmo tempo pessoas diversas,sem contato pessoal, sentiremda mesma forma e trazerem adebate idéias analofas. Assimaconteceu há tempos quando ateoria das constantes estéticascomeçou a ser discutida na Eu-ropa e na América. Assim pa-reco ocorrer agora com a afir-macão concomitante de várioscríticos de arte sobre o valordas exceções em relação com aregra geral. Em outras palavras,sustenta-se neste momento cs-tético que a força expressiva daliberdade formal (deformações,etc.) decorre da desobediênciaà lei da perfeição desejável enão da sua existência própria-O equilíbrio, a proporção, a va-riedade dentro da regra cons-tituiriam a forma ideal da ex-pressão estética e as deforma-ções, o desequilíbrio, a invençãoinconlro-acla tirariam sua efi-ciência de uma possibilidade decomparação. Em suma o anor-mal só seria anormal em con-traste com o normal, ou aquilopor todos aceito como nor i ai.Sem este ponto de aferição oresto não existiria ou não terianenhuma força expressiva. Des-se modo na obra de arte, para

REFLEXÕES INATÜAIS

SÉRGIO MILLIETi

que o desequilíbrio exprima si-6 uma coisa será necessária apresença concomitante do cqui-librio. Uma figura de Modiglia-ni é expressiva porque sua de-formação se choca contra umaestrutura geral de equilíbriotambém presente na tela e sema qual sua pintura nada maisteria de artístico. Daí a afirma-ção de Sweeney de que a inova-ção modernista só vale na me-dlda em que leva em conta atradição pictorlea. Na medidaem que acrescenta portanto so-luções Inesperadas às soluçõesesperadas que formam o fundosólido da obra de arte e se in-cluem nas constantes estéticasde composição, invenção e sen-sibilidade.

Aparentemente essas observa-ções não têm um alcance prá-tico. Na realidade importam emuito, pois o que se verifica acada instante na história daarte é o esquecimento do valordas regras, das leis, e a conse-quente deliquescência formal deque resulta em última análise abarbárie artística e literária, ouefelibatismo. o amesquinha-

*i

mento e a anemia perniciosa daexpressão. Da desobediência àlei com suas deformações forte-mente expressivas passam osepígonos dos grandes mestresanárquicos & Imitação servil dossestros. E como náo se ligam átradição, nem mais noções pos-suem das constantes estéticas,desprendem-se como galhosmortos da árvore da arte e per-dem toda e qualquer significa-ção.

Tanto quanto o convenciona-llsmo, isto é, a obediência es-tricta e passiva da lei, é pcrl-goso o olvido dela» As formaspre-estabeleeidas e aceitas semrevolta conduzem à ausência deexpressão, à chapa incolor ca-paz de servir à comunicaçãoda vida cotidiana e vulgar masimprópria à exteriorização dasemoções e idéias mais profun-das, mais ricas também e quesão as únicas visadas pela arte.Mas o olvido da lei e da tradi-ção induz ao arbitrário, à tra-paça, ao inautêntico ou ao in-comunicável. Não é então ex-presso o profundo, o essencial,e sim o superficial, o supérfluo.

A deformação é como o peca-do, que só existe enquanto seafirma dentro do indivíduo anoção do mandamento a serobedecido- Quem peca não negaa verdade e a utilidade da re-gra. O pecador tem consciênciade ser o mandamento necessá-rio, e se o infringe o faz movidopor outra necessidade contrária,imperiosa, individual sem a quala sua personalidade não se rea-lizaria. V. essa realização de-pende no fundo da luta cons-tante e com alternativas diver-sas em que indivíduo e grupose empenham. O grupo impõea lei e a homogeneidade; o In-dividuo desobedece para afir-mar a sua diferença- E' porémuma diferença dentro do uni-versai e comum a todos. Umadiferença para a qual é impres-clndível uma certa condescen-dència do grupo. O perdão dopecado. Sem esse perdão, semessa condescendência, o indivi-duo seria esmagado, expulso,aniquilado. Seria um estranhonão aceito pelo grupo e nãouma personalidade dentro dele.Deixaria de existir por ausên-

cia de relação, de paralelo, deaferição,

Vejo ainda um ponto impor-tante uessas ooservaçoes: o daafirmação do social. O homemcomo ser exclusivamente social,Incapaz de viver e realizar-sofora do grupo, fora das leis, dosperdões, dos apoios dos mcus se-melhantes. A arte só pode fio-rescer c exprimir se tiver cc», ecia só terá eco na proporçãocm que a desobediência pessoalocorrer dentro do respeito álei.

Creio que estutnos numa épo-ca em que se verifica certo de-sinlerésse por esses problemas.Os novos, de 50 anos para cá,no mínimo, vêm aos poucos es-quecendo, e já agora muitos ig-noram totalmente, seu lugar nacadeia das manifestações artts-tiras. Não explicará isso a baixado nível dia a dia mais ajnh-tuada da produção mundial?Atentando-se, naturalmente, pa-ra as exceções geniais, osPicasse os Braquc, os itouault,os Morandi que não esqueceramde resto c são. mesmo, quase osúnicos a se preocupar com ques-toes tão transcendentes. Ila.iavista seus escritos e suas maisempolgantes experiências. Hajavista a relação visível entre apintura de Braque.e a de Char-din, e a intimidade entre Itou-ault e os pintores de vitrais daIdade Média, em que pesemcubismo e expressionismo.

Não sei se já se registrou

em **Moby Dick"apre-sença de elementos foi-

clóricos * H e r m a n Melvilleutilizou com muita habi-lidade aspectos que são dofolclore americano. Isto, evi-cientemente, se sente com cer-ta sutileza, pois sem estar emjeonhecimento mais aprofunda-do com esse folclore torna-se

.' difícil observar ou notar certas{particularidades. Creio, entre-/tanto, que o folclorista amerl-icano não terá dificuldade em[encontrar em "Mobv Dick"i muito material de sua intimi-!dade.

Ao lado do elemento própria-mente folclórico, vamos encon-

I trar também não pequena do-cumentação etnográfica: a quese liga mais particularmente acostumes ou usos, a sistemasde alimentação ou a reuniões,que nos são descritas por Mel-ville. Isto sem falar em certosdetalhes quase Inteiramenteetnográficos: uma festa de ca-samento contada por Quee-queege realizada entre osnati-?os da ilha de Rokovoko, porexemplo.

Não é novidade, mesmo naliteratura brasileira, a existên-ria de romances ou novelas emque se utilizam elementos foi-clóricos ou etnográficos. Sãode tal grupo os chamados ro*mances regionais; mas sabe-setambém que mesmo romancesnão regionais ou locais têmutilizado aspectos do folclorebrasileiro.

Isto mostra a riqueza dessematerial a ser utilizado para asobras de ficção.

Esta relação entre o folcloree a ficção não constitui nenhu-ma heresia, nem nenhum pe-rigo literário. Parece, ao con-trário, que se trata de çontrí-buição das mais expressivas 11-garem-se os dois elementos,isto é, aquilo que vem do povo,de sua espontaneidade, atra-vés de tradições que se legamde geração a geração, e a fôr-ça criadora do escritor. Duasgrandes forças, aliás, se podemunir neste encontro: a da tra-dição popular e a da imagina-ção literária. Esta utilizandoaquela, documentando-a nasexpansões de suas idéias cria-doras.

Pois a ficção, quando bemusada, não compromete a tra-dição popular. E' de crer quesaiba bem aproveitar a riquezada tradição, o que ò folcloresugere, através das manifesta-;Ções espontâneas das idéias do iPovo, do pensamento coletivo^tfas habilidades populares, ma-'

A PROPÓSITO DE "MOBY DICK"

MANUEL DIEGUES JÚNIOR

nifestações todas estas que vêmde criação tradicional.

Tal o que sucede em "MobyDick"; Herman Melville soubeutilizar sua força criadora deromancista no aproveitamentode aspectos folclóricos america-nos. Mas o fêz sem que esseaproveitamento se tornasse umaperturbação ou um desvio desua imaginação ao criar aspersonagens de seu romance.Não estaria eu, aliás, longe deacreditar que a própria histó-ria é em si uma tradição, tal-ves uma velha história norte-americana. Minha insuficiên-cia no conhecimento do folclore

daquele grande país me impe-de de qualquer afirmativa nes-se sentido; e igualmente de irmais além na identificação dosaspectos folclóricos específicosda obra de Melville. Todavia,tanto uma coisa como outra aleitura do romance nos faz sen-tir; ou, pelo menos, sugere.

Evidentemente, a cada passoda leitura sente-se a força do-minadora do romancista; o in-terêsse da história vai numcrescendo que prende o leitor acada página. Domina o autoras circunstâncias, o ambiente,as cenas, para fixar e fazer so-bressair sua idéia criadora. O

que nao exclui a possibilidadede haver, na história da baleiabranca, uma reminiscência develha storia. Os restos talvezde alguma tradição ligada à

vida do mar de marinheirosamericanos.

Figuras como Queequeeg e ocapitão Acab, que são sem dü-vida os principais elementoshumanos do livro, estão fixadosde maneira indelével. Muitosdos traços de um ou de outrocomo que se grudam na gente,e com a impressão da leiturase tem a idéia de encontrá-losa cada passo. De ver um Quee-queeg num vizinho de ônibus,

^-i~i m- *~T'*****^r^^B^P0*?!^S^Íi^SS3B^^5f Jl^UmIIIÍII II Lv^B^ ^minUllif^Nr^ ¦ «¦-*$¦" ***^ m ^^mm^L \mmm\

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ou um capitão Acab num tran-seunte.

O fato — êste é inteiramentefora de dúvida — é que Melvil-le escreveu um grande roman-ce; "Moby Dick" inclui-se en-tre as mais admiráveis obrasde criação que um homem jáimaginou e escreveu. Não fal-ta razão a Augusto Meyer paraafirmar que é, êste romance deMelville, a obra mais genial efascinante da literatura norte-americana. Daí o interesse emse ler esta tradução em portu-guês recém-lançada pela Livra-ria José Olímpio, através daqual se torna possível propor-cionar à grande massa de leito-res brasileiros o contacto ime-diato com a notável obra doescritor americano.

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Desenho de YLLEN KERR

0 DRAMA DAS ESTRÉIAS,AUSPICIOSAS

E* UM entretenimento

muito curioso e tam-bém instrutivo, pro-curar em jornais e revistas de

trinta a quarenta anos atrasnotícias âe livros, tiãos como es-tréias auspiciosas e cujos auto-res nunca mais âeram sinal desi, não se sabenâo o. que íoifeito âêles e ãe sua literaturaprometeâora. Entretenimentocurioso e instrutivo, âissemos*Poãiamos acrescentar: melan-eólico. Eis aqui uma ãessas no-ticías. Encontramos no númeroãe 25 ãe junho âe 1921 ãa re-vista paulistana "A Novela Se-manai", a seguinte referênciaao livro "Piraquaras". ãe Oli-veira e Souza (Casa Editora••O Livro" — S. Paulo — 1921):"O sr. Oliveira e Sousa apre-senta-se com um livro ãe con-tos. E' uma estréia auspício-sa. O autor não é ainda per-feito senhor ãe si mesmo. Temo estilo anguloso, irregular, es?tranho ãos que começam. Ês-ses defeitos, porém, perfazem amassa âe que saem os escri-tores. De resto, Oliveira e Sou-sa tem qualiãaães que o fa-rão excelente contista, aunn-do se áesvencühar de influên-cias e se assenhorèàr do seumister. E' o que esperamos pa-ra breve".

Ninguém nos dará por ai nO'tícia ão contista Oliveira eSousa? Ah! O Moloch ãa lite-raturaL,*

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Página — 6 'LETR"A'S B KRTES Domingo» 8-10-1950 Domingo, 8-10-1950 £BTH5fS E 53KTES Página — 7

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Camilo, a música e as viagens

Camilo Castelo Branco, a exemplode Victor Hugo, não gostava multo demusica. Fazia apenas uma exceção aofado genuíno na guitara, — afirma-nos Alberto Pimcntel. Outro detalhecurioso na vida do romancista: Como onosso Machado de Assis, nunca foi aoestrangeiro. "— Sou um homem do-ente — dizia ele a Sena Freitas —preciso de comodidades que dificilm.cn-te se encontram fora do lar".

w vcruenário de Domingos OlímpioPoucas e sucintas notícias lembraram o centenário

do escritor cearense Domingos Olímpio ocorrido uo mêspassado. O romancista de "Luzia-Homem", que estavade há muito esquecido, esteve em voga há dois anosatrás, com o aparecimento da nova edição do seu ro-mance com o título acima, obra de grande mérito, naqual retomou o lio do regionalismo nordestino, preço-nizado por Távora. Regionalismo cujo apogeu foi atin-gido no movimento literário de 32. Mas DomingosOlímpio ainda é um escritor por estudar e ser devida-mente situado no quadro das nossas lepras.

Outras edições SaraivaAcabam de aparecer, em edição Saraiva, "Poemas

e Canções", de Vicente de Carvalho e "Fim de Prl-mavera", de Francês Sarah Moore."Narrativas Autobiográficas"

A Empresa Gráfica "O Cruzeiro" vem de publicar"Narrativas Autobiográficas, do General Klinger.

O existencialismo na ItáliaA Itália, por sua vez, descobre o existencialismo

e muita gente começa a ver em Benedito Croce umprecursor dessa escola. Entre os discípulos italianos deSartre, citam Guido Piovene. Mas o autor de "La No-vice" defende-se energicamente dessa acusação.— Não acredito em escolas — diz ele — Um es-critor não escreve senão porque não pode doixar defatw \*«o. O-' então, não é escritor. I

SeeMBUBV ¦¦eVMBnHMBlBSBlBBeV'

Jules Romains e os americanosPerguntavam a um estudante americano o que elepensava do novo livro de Jules Romains: "Salsette

decouvre 1'Amerique". E o estudante:- Creio que nesse livro delicioso é, sobretudo, JulesRomains que se descobre à América,Porque escreve Aldo PalaMesehi

Uma jovem admiradora perguntou a Ald0 Palazzes-cm se se divertia ele em escrever romancesímh™„° miP°j'.tante Para mim — respondeu'o escritoritaliano — e divertir-me vendo os outros lerem o que

O presente e o futuroUma frase de Fernand Crommelynck, cuio livroClaude et Froid", acaba de aparecer em Paris • di-ziam-lhe, amigavelmente, que ele desprezava muito aobra de seus predecessores mais próximos, o que deforma alguma se justificava. E Crommelynck- '

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/ao abrimos Jamais as portas do futuro senãofechando as portas que estão atrás de nós.As intimidades de um historiador

O diário intimo de Michelet, cujos manuscritos ser°nSaM^n?n Sifil0 4epois da viuva d0 nistorYador eGabriel Monot, ambos jâ mortos haverem publicado ai-nnfnS^ r3á dev??a ter sido PUbUcado, uma vezque o sigilo ja foi rompido no começo deste, o queporem, vem adiando essa publicação é % dúvida em quevem os possuidores de tais manuscritos sem saberemdecidir se conservam ou não as muitas coisas esca-brosas que Michelet ali conta sobre a sua vida íntima.

Jane Austen não quis encontrar-se comMme: Stael

Ninguém menos exibíçioiiista do que Jane Austen.Conta-se que Mme. de Stael, de passagem por Lon-dres, teve o desejo de conhecer a romancista; váriaspessoas dirigiram-se, então, a Jane Austen, pedindo-lhepara marcar um encontro com a autora de "Corinne"Jane respondeu.lhe que Miss Austen não podia aceitarum convite que se dirigia unicamente à romancista de•Orgulho e Preconceito".

Porque Baudelaire traduziu Poe"Sabe — dizia Baudelaire, em carta a um amigo --

por que traduzi Edgard Poe? Porque ele se assemelhacomigo. A primeira vez que abri um dos seus livrosvi, com espanto e ¦arrebatamento, não somente os as-suhtos sonhados por mim, mas "frases" pèusadas pornum e por ele escritas vinte anos antes".

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Guerra junqueiro e a seca no CearáNo centenário de Guerra Junqueiro, que se vem

comemorando este ano, ó oportuno lembrar-se haver opoeta composto uma poesia famosa sobre a "Seca noCeará", por ocasião de uma das mais terríveis secasque assolou aquele recanto do Brasil. Sem nunca tervisto a nossa natureza, Junqueiro conseguiu dar umavisão impressionante do flagelo, em versos tersos e can.tantes como são todos os de sua autoria. Essa poesia,vendida em folheto, em favor das vitimas da seca,rendeu uma contribuição valiosa.

Biblioteca de livros venezuelanosA fim de tornar a Venezuela mais conhecida do

povo brasileiro e estreitar os laços que unem os doispaíses irmãos, o sr. Antônio Rebelo de Almeida e siuv es-

posa, a poetisa venezuelana Josefina Roges de Almeida,em colaboração com o sr. Adolfo Vivas Orellano fran-querem em sua residência na av. Copacabana, 1.371,apartamento 52 aos interessados em assuntos exclusiva-mente venezuelanos uma pequena biblioteca, ainda emorganização e que será ampliada mensalmente.

Os interessados serão atendidos todas as sextas-fei-ras, das 14 os 18 horas, mediante prova de identidade.

Peça de teatro de Maria de Lourdes LebertA romancista Maria de Lourdes Lebert, autora de"Estava Escrito", publicado em 1949 pela Editora Bra-

sileira, de São Paulo, vem de concluir a peça teatral"A Estátua de Sal", que será proximamente encenadanum dos teatros da capital bandeirante.

Morreu o caricaturista J. Carlos

Causou profunda consternação ofalecimento, segunda-feira ultima, dogrande caricaturista J. Carlos. Erauma das figuras de maior destaquenesse gênero artístico, principalmente,pela graça e o humor com que soubefixar aspectos e tipos da nossa vidapolítica, desde a memorável campanhacivilista. O traço de J. Carlos foi algo

de típico e inconfundível em nossas re-vistas nestas últimas décadas.

Um volume de versosO sr. José Jorge publicou, há pouco, em edição daGráfica Vasconcelos, um volume de versos de bom nivel

poético. O livro em questão apareceu sob o título de"Lágrimas de Cristal".v

Faleceu Abel HermantFaleceu no dia 29 do corrente o escritor francês

Abel Hermant, um dos romancistas franceses da veinageração, que pertenceu à geração de Lucien Descaves,Paul Alexis, a geração de Zola e do naturalismo, em,bora seus romances não se encartassem na ortodoxiada escola. Abel Hermant empenhou-se sobretudo noestudo dos ambientes cosmopolitas, destacando-se nasua obra vasta e variada, "Les transatlantiques", "Lajournéee breve", este último muito elogiado por Thi-baudet. Abel Hermant também sofreu um processo-crl-me, sob a acusação de haver ofendido a honra do exêr.cito francês em "Le Chevalier Miserey", sendo no en-tanto absolvido.

A filmagem de um romance de ForesterO cineasta americano Raul Walsh acaba de ter-minar, na Cote d'Azur a filmagem dos exteriores deuma película tirada do romance de C. S. Forester: "Ca-

pitao Hornhlower", obra que tem sido muito apreciadapelo publico, causando verdadeiro entusiasmo a Chux-cnill. Forester e autor de vários romances, entre osquais alguns de aventuras marítimas já traduzidos parao francês c

/iajantesDe regresso de São Paulo, encontra-se nestacapital a escritora Lygia Fagundes Telies. A auto-ra de "O Cacto Vermelho" está escrevendo um ro-mance, ainda sem título.Também já se encontra no Rio o deputado

Godofredo Telies Júnior, autor de "Tratado daConseqüência".Viajou para Belo Horizonte, onde passará ai-

guns dias, o escritor Sábati Magaldi.De regresso do Maranhão, por onde concorre

a cadeira de deputado federal, já se acha entrenos o romancista Josué Montello, diretor da Bi-(blioteca Nacional.

O sucesso de "Onda Selvagem''"Onda Selvagem", romance deJosé Conde contemplado com oPrêmio Malheiro Dias, do GrandeConcurso de Romances "O Cruzei-ro", está alcançando significativosucesso em nossos círculos Iiterá-rios. Publicado, inicialmente, emcapítulos, pela revista "O Cruzei-ro", aparece, agora, em elegante ebem cuidada edição, que está ten-do a melhor acolhida por parte dopúblico e da crítica literária dopaís.

1 W-ffl?"'"^''^'- -*3

AS TEORIAS JbAUDELAIREO Belo como o fim exduil Arte

REPRODUZIMOS

aqui para osnotio laboras, o tracho maisoxprotiivo do famoso estudo

do Baudelaire sobro "Mademoisel-Ia ds Nsnquin", no qual o poetados "Fleurs du Mal", que era tom*bom um g rende espírito crítico,resume os bases do suo tão dis-cutida teoria do orte pela orte.

Começa éle por considerar o N-vro do Gaurier como um exemplotípico do amor exclusivo ao belo."As coisas quo tenho o dizersdbre êsse assunto —- acentue fou-dolairo — já eram muito conheci-daa em outros tempos. Depois,foram obscurecido* a definitiva-mente esquecidas. Heresias ostron-nhas insinuaram-se na crítica li-terária. Não sei que pesada nuvemvinda de Genebra ou de Boston oudo inferno Interceptou os belosbelos raios do sol da estética. Afamosa doutrina da indissolubilida-de do Belo, do Verdadeiro o doBem é uma invenção da folosóficemoderno (estranho contagio, quofax com que, ao se lhe definir oloucura, te escrevo em jargão!).Os diferentes objetos da atividadeespiritual reclamam faculdades quelha são eternamente apropriadas;às vezes tel objeto não reclama se-não uma, outros vezes, todos Jun-tas, o que só acontece raramentee nunca numa dose ou margemiguais. Deve-se noter ainda que,quanto mais um objeto redoma fa-

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culdedes, memmais complexoessência bastaiserve de baseinvoca, sobretuA pureza dovinda, mas aser considcradfldo luxo. Ofim das ciênciié a única omvo do Gosto.soja o objetexprimir qae

•efcrc o puro,im contém do|'Verdadeiro4'iòi ciências;«trlecto puro.

grí aqui bemk tstilo podo

im elementoli base e o

O "Belo*

4 fim exclusi-10 Verdadeiroi listaria poroiras quallda-

das necessários è história concer-nem à musa. O romance é um dosgêmeos complexos, em que umaparto maior ou menor pode serdedicada oro à Verdade, ora aoBelo.

A parta do Belo em "Moderno!-

seile de Nonquin", é excessiva. Oautor tinha o direito de fazer tal.O propósito desse romance nãooro pintar oe costumes e .muitomonos os paixões de uma época,mas a paixão única do naturezatodo especial, universal o eterno,sob o impulso da qual o livro cor-ro, por assim dizer, no mesmo leitoqua a Poesia, mas sem, todaviaconfundir-se absolutamente comala, privado como se encontra doduplo elemento do ritmo o darima.

Esse objetivo, êsse propósito,esto ambição, era dar-nos, numestilo apropriado, não a fúria doamor, mas a beleza do amor, abeleza doe objetos dignos de amor,numa palavra o entusiasmo (bemdiferente da . paixão criada pelabeleza. F evidentemente, paraum espírito não contagiado peloerro em moda, um motivo enormedo espanto a confusão total dosgêneros o dos faculdades. Comoofícios diferentes, reclamam instru-mantos diferentes, os diferentes ob-jatos da atividade espiritual exi-gem faculdades correspondentes".

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O livro de estréia de Saldanha CoelhoSncoatra-se no prelo o voiuruo de contos com que 8nl-

danlm Coelho, o dlnúmlco diretor do "Revista üraucu", cs-treurá em nossas letras. Nome J& bastante conhecido noaclroulos literários do pais, merco de sita numerosa colabo-racfio esparsa era nossos melhores jornais • revistas, o apa-reclraento do primeiro Uvro do Jovem flcclonlsta, cujo título¦era "Murar', 6 aguardado cou geral Interesse.

Sérgio Milliet no Concurso de Contos 'Tentativa"

O vitorioso jornal literário de Atlbaia, "Tentativa",instituiu um concurso de contos que está obtendo a maiorrepercussão em todo o país, traças às soas condiçõesdeveras interessantes. O referido concurso deverá en-eerrar-se em dezembro deste ano e será julgado por trêserfticos de nomeada. O primeiro nome Já é conhecido.Trata-se de Sérgio Milliet, que foi convidado a partioi-par do julgamento e já aceitou o convite.

"Cota d'Água", de Seleneh de MedeirosPoemas cheios de vida, sinceridade e expressiva be-

leza são esses que compõem o volume "Gota d'Água", .da poetisa e declamador» Seleneh de Medeiros. Domi-nando com maestria o ritmo e a musicalidade, Selenehoferece ao leitor um.punhado de páginas das mais ri-cas de conteúdo emocional o dramático, que a Insere-vem sem favor entre nossas boas liristas.

Novo romance de Rosário FuscoRosário Fusco, o conhecido ro-

mancista, crítico e teatrólogo pa-tricio, vai, depois de prolongada au-sência, reaparecer em nosso pano-rama literário, assinando novo ro-mance: "Carta à Noiva".

O autor de o "Agressor" estáredigindo presentemente, com ge-ral agrado, o rodapé de critica daimportante publicação de literaturae arte "Jornal de Letras"»

Um centro de estudos em SapucaiaAnexo ao Ginásio Sapucaiense, acaba de ser criada, emj

Sapucaia, a Universidade do Povo, centro de estudos que ob-Jettva o aprimoramento cultural de nossa mocidade.

"Alimentação Humana e Realidade Brasileira"O Serviço de AUmentaçSo da Previdência Social acaba ae

editar interessante trabalho de autoria de A. da Silva Mello,Intitulado "Alimentação Humana e Realidade Brasileira". Oestudo em apreço focaliza o problema da nutrição nas dlver-sas classes sociais e os seus reflexos sôbre a vida humana.

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O prestígio de um livro

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nos jardins do

Uma frase de Catulo

Falando com João Ribeiro um dia,depois de êloglar-se amplamente, Ca-tulo Cearense começou, mas começouera tom muito convicto esta frase:

— Quando eu tiver uma estátuanesta cidade... (reftHa-se ao Rio)

Jofto Ribeiro achou que já tinhaouvido bastante e, rodando sobre oscalcanhares afastou-se silenciosamente.Catulo tinha passado a ser um caso deparanóia — observa Medeiros e Albu-querque, de quem reportamos este epi-tódio. Que diriam ele e Jooo Ribeiro

se estivessem vivos, quando, em 1940,lnaugurou-se a estátua de CatuloMonroe.

"O labirinto de espelhos1*O escritor Josué Montello, que tão grande sucesso

alcançou com seu último romance, "A luz da estreiamorta", tem no prelo outro volume de íicçao. Trata-sedo romance aO labirinto de espelhos", que deverá apa-recer, em edição da Livraria José Olympio, nos prfc-meiros meses do próximo ano.

Obras completas de Paulo SetúbalA Livraria Saraiva Editora, de São Paulo, está pu-

Wicando as "Obras Completas de Paulo Setúbal . Dan-do cumprimento a esse objetivo, acaba de ed tar Oslrmao Leme", um dos bons romances do escritor ban-deirante, "Ensaios históricos" a aO sonho das ebme-Hddas",

O salão e o botequim

Quando «e propôs a candidatura de EmiMo de Me-nézes à Academia Brasileira, levantou-se uma forteoposição às pretensões do poeta. Oliveira Lima lol umdos aue mais se horrorizaram com a idéia de ter porconsócio o poeta boêmio. Ferino mostrou-se GraçaAranha, observando:"— No dia em que tivermos Emillo de Menezes*aqui a Academia não será mais um salão e sim umbotequim".

ilustração para o 'Tales", de E« Alisn Poe — ALFRED KUBÍN

"A MorenlnJba", o famoso romance de Joaquim Manuexde Macedo, continua a sua vitoriosa carreira editorial, comoum dos livros de ficção brasileira preferidos pelo nosso gran-de público. Ainda agora, a "Melhoramentos" acaba de lan-«ar nova edição, a segunda Já naquela casa. São incontáveisaa outras edições existentes.

Cerard de Nerval e o nosso públicoProssegue o êxito do lançamento de "As filhas do fogo™,

do Gerard de Nerval, lançado entre nós pela Editora A Noite,em cuidadosa tradução do ensaista Willy Lewln.

Obra admirável, que testemunha em suas páginas o po-der criador de uma das maiores expressões da literaturafrancesa, "As filhas do fogo" distingue-se pelo Beu slmboiismo• pela sua alta sugestão poética.

Campos de Figueiredo e o BrasilO grande poeta português Campos de Figueiredo, a«tor

de "Imagem da Noite", o único livro de sonetos h feição m-«lesa existente no idioma português, vive boje os melhoresniomentos de sua glória. Em nossos livrarias, já apareceu•uma edição feita especialmente para o Brasil de seu famoso«Imagem da Noite", do qual LETRAS E ARIES transcreveuvários dos admiráveis sonetos.

Agora, anuncia-se que foi lançada na França uma anto-logia de sua obra, subordinada ao título de "Poèsie". PaulClaudel apresentou-o ao púbUco francês, com algumas pala-vras o.ue traduzem o maior entusiasmo e admiração por essepoeta aue é hoje, sem dúvida, uma das mais altas expressõesda poesia em lingua portuguesa.

Um dicionário analógicoMerece especial menção o recente aparecimento do Dicio-

nário Analógico da Língua Portuguesa, de Francisco Ferreirados Santos Azevedo (Cia. Editora Nacional), que representaum grande esforço no sentido de dotar o publico brasileirode uma obra completa no gênero. O referido Dicionário visafacilitar a tarefa dos que escrevem, sugerlndo-lhes, de ma-neira prática, ob termos de que necessitam a todo momentona elaboração de um trabalho intelectual, seja de que gênerofôr. E ao mesmo tempo exercita-lhes a inventiva e enrl-quece-lhes as associações de idéias, íornecendo-lhes sempre otermo justo e adequado. '

"Cidade Enferma"Deverá sair do prelo, próxima-

mente, o novo livro do escritorPaulo Dantas, "Cidade Enferma".

O novelista de "Aquelas muralhascinzentas..." e "As águas não dor-

mem" focaliza, nesse romance, queconstituirá sua estréia no' gênero,a vida numa cidade de tuberculq-

sos — Campos do Jordão,

m—mmm—mmm—mÊmm mÊmmimmmjm^mmmmm

A felicidade de André MauroisNuma entrevista radiofônica, em Paris, André Mau-

rols declarou que sempre foi um homem feliz. E, en-tretanto, observou alguém que o escutava, possui elenumerosos amigos.

— Por que "entretanto"? — aparteou uma terceirapessoa. .._, .„„—. porque André Maurois escreveu : "E' na des-graça que encontramos amigos; a felicidade põe dura-mente a prova as nossas amizades". Frase inteiramentecontrária & de Wilde: "Simpatizamo-nos com a lelicl-dade dos nossos amigos; nunca com a, sua desgraça".

Duas espécies de escritoresO centenário do escritor Robert de Bonnières fez

com que se lembrasse, há pouco, na França, a observa-çao de Anatole France a esse autor, que nunca logrougrande êxito: '¦

O que o impedirá de vencer é que você é umbom escritor "mau". Se fosse um mau escritor "bom

poderia pretender tudo neste país.Escritores e parreiras

üm extravagante decreto na legislação francesa, equl-para, para certos efeitos legais os escritores às partel-ras Pierre Descaves protestou contra isso, ao assumira presidência da "Societé des Gens de Lettres1', dizendo:

Só aceitaremos essa equiparação no dia em queos escritores receberem uma bonificação do governo porcada livro recémrnascldo.

Jean-Aubry e as traduções?Passou quase despercebido, há alguns meses, na

França, o falecimento de Jean-Aubry, escritor que cetornou conhecido, sobretudo, por haver divulgado JosepíiConrad em excelentes traduções francesas. Era notávelsua honestidade nessa difícil e ingrata tarefa de tra-duzir. Achando que os tradutores não podem transporde uma língua para outra ao pé da letra, jamais acl-mitiria licenças ou liberades com o original dizendo.o tradutor pode, em certos casos, ser um Interprete,mas nunca ser um exegeta.

Uma aposta ganhaO romancista americano Henri Miller, cujos livros

têm feito tanto escândalo em Paris, chegando a serapreendidos pela polícia, não gosta de receber jornalistae a um deles, na França, que insistiu muito, respon-deu: "Venha, mas cada um dos meus minutos peitu-dos, custa-me duzentos e cinqüenta dólares . O repoi-ter chegou e depositou na mesa de trabalho aoi ro-mancista cinco bilhetes de cem dólares. "Que e isso?— perguntou Millér. "— Dois minutos do seu tempo,apostei três mil dólares, como o senhor me recema.Ainda saio ganhando dois mil e quinhentos dólares...

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Pagina — 8 'LETRAS E rARTES Domingo, 8-10-1950

NO

dia 21 de ogóato de 1849.o otuoiogo iui{.i-u wuimuiÍS,'LThUmuj' num» *"*osoma soo o pseudônimo(Ia Ambroiao Morton ao "Tna

Aihonouin", de Lonürca, propôsque piuaaae a ter o uome üeioik-loro o conjuuto de ntivida- Iacft populares, Desuo então, essa ;palavra começou » correr munuoa ingressar na estrutura ióxica doUiUIIUirOS Ji;ii;.ir:i.Tr Passou-bo muts do um século,Hoje. o folclore i: como uma «nui-do bandeira, ii procisamonu coutoo quatro anos depois, na cidadeao torto Alegro, rccouteincntotranstornada polo abalo do domdiamátlcoa desastres a6rooa, co-moça a chegar geute co lora, lu-lando em íolcloro o em arte po- Ipular, e o romunclsta Erlco Veria-«Imo ó convidado para pronunciarun» uiaourao.

Ia haver, precisamente no dia21 de agosto, üata do aniversáriodn palavra 'íolcloro". o inicio dalercolra Semana Nuclonal Uofolclore. Muita gente, qu* passaa vida inteira estuduiiuo mod.nhosque 03 cegos cantam nas feirai 0promovendo estudos do literaturapopular, acorrou á capital dospampaa. a pootlsa Cecília Meireleslargou por alguns dias na suasrimas ricas o suas caprichosas ali-tora ções e desceu no aeroporto deGrava tal para dedicar a sua me-llior paixão ao aludido congresso.Durante uma «emana, a palavra"íolciore" atraiu a atenção Uo povoda cidado. O quo aconteceu do12 a 28 üe agosto merere ser con-tado. Foi a isto que so propôs0 autor desta reportagem. Comonao compareceu ao congresso, de-liberou ouvir o depoimento de uraiios participantes ua semana teu-do escolhido o escritor Renato Al-meltía, seoretário-goral da Seçãode Folclore do Instituto Brasilei-ro üe Educação, Ciência o Cultura,órgão 1,1 lado a UNESCO.

Q nosso entrevistado contou ahistória dessa semana porto-ale-grense, de modo que a presentereportagem constitui, sob todos osaspectos, uma crônica ílel doaacontecimentos, realizada de umraotio que viüa fixar, nes seusmais vivos pormenores, a ativida-da üe algumas dezenas do pes-sc.ia que. provenientes do Rio, deS. Paulo-, (io Minas, dos várioscantos do Brasil, passaram seted'í.3 discutindo assuntos foiclorl-cos. examinando a produção anô-ntina do nosso povo, suas cançõeso adivinhas,

O RESUMO DE' SETE DIASSintetizando as diretrizes dareuaaJào, disso o sr. Renato Almei-da:— A III Semana Nacional deFolclore deve ser vista sob uratnpiive. n;;pecto; pelos trabalhosrealisados, pela repercussão queteve, e pelo interesse que desper-tou. Não 101 apenas uma festa eu-cattcadora, foi uma reunião de es-tudo, em que prQWemás íolcióri-

coí; de ura lado e, do outro, aorganlísação de nossos trabalhos, fo.rain encarados devidamente e apresentadas diversas sugestões. Desdelogo, chamo a atenção para o re-levo que nela foram dados aos tra-balhos do pesquisa de campo, ãneceeBldftde da organização de cèn-tros para esse fim, sobretudo emmeios estudantis, a constituição deequipes e a importação de'mate-rlal pura o rogistro. O meu ilus-tre colega, prof. Ross.nl TavaresLima, Secretário-Geral da Comis-são Paulista de Folclore, ar>resen-tou umn brilhante comunicação,mostrando a urgência de seremIncentivadas as pesquisas de cam-po. e ilüstuando sua afirmativacom numerosas realizações feitasem s. Paulo, sobre os' Caiapós,dança, de procedência ameríndiaas embaixadas das Congadas, òGuruíU, o Batuque o os Romances, .cujas expressões atuais retificaranuuxos conceitos até agora esta-belecldos e continuadameute repe-tidos. Nesse sentido, a Semana fêzuma recomendação a todas as Co-missões estaduais e espero aue ¦nosso apelo não so perca em vão.Ficou assim bem claro o desejode trabalhar em comum, evitandoo nosso exagerado personalismo,num. setor de estudo em que sópodem vingar as atividades emconjunto, cemo acontece em todosos ramos de ciência social. Neces.Sltaaaos mais do que nunca de«1»* solidariedade perfeita, em quecada qual traga sua ccmtributoãosem desprezar a do vizinho, por-que as o chega;- são todas úteis,

mesmo para dissipar erros e equl-vocob. Bem subornos como isso 6dificil uo Brasil, como repugua aonosso temperamento dominar oexcessivo individualismo, conse-quênéía aliás de sermos auto-dl-datas. Temos a tendfjncla de con-siderar sempre com um grandeotimismo o que fizemos e menos-prezar o trllietó E' um mal queos foicloristas vencem galharda-mente e começamos, a verificar que,começam a trabalhar coletivamentecom o: melhor êxito. O exemplo daSemana Folclórica de Porto Alegro6 sugestivo, tanto que lá eé reco-mondou á Diretoria do Ibecc um»

SETE DIAS DE FOL*CLORE NOS PAMPAS

Exatamente na data em que a palavra "folclore0 completou 104 anos dataade, iniciou-se em Porto Aleyre a III Semana Nacional de Folclore — Osímbolo do jaboti define o espirito dos estudiosos das artes populares — J?e-maio Almeida conta a história de um congresso que reviveu uma bela imagemdo Brasil — Investigações, pesquisas e ainda por cima um festival — Poesia aciência unidas no chão da capital gaúcha.

Reportagem de CRISTIANO SOARES

providencia, Jã atracada pela mos-ma, do organizar, uo Secretariadoda Comissão Nacional do Folclore,um serviço para a pormuta do In-formações 0 dados para os tra-balhos era conjunto. Assim, sabn-romoa quem estuda e se cspccla-llza ora canções infantis, quemesta pesquisando danças dramàtl-cas o assim por diante e 03 cora-pauhelros que dispuserem de do-cumentos o Informações sobre taisassuntos fornecerão esses elernen-

— Foi extraordinária a repor-cussáo quo teve- o certame de Pôr-to Alegre em toda a imprensabrasileira. Desde logo nucro assl-naiar quo o Dia do Folclore foicomemorado nos diversos Estados,Era São Paulo, o Centro de Pes-quisas Folclóricas Mário de An-drade realizou um ícfctlval de

danças paulistas, no ConservatórioDramático e Musical; na Bahia,a Comissão promoveu uma reunião

do Estudos; no Espirito Santo,

Sul: 8. Paulo, Paranã o Santa Ca.turlna, com brilhantes delegações.Vorlíica-so assim que o movlmen-to Iniciado pelo IBECC, atravésda sua Comissão do Folclore, temtomado um grande incremento •chegado a vários setores das nos-sos atividades culturais. Basta lera-brar que as Universidades do Bra-sil e da Bahia já estabeleceramcursos de extensão universitária,para o Folclore, e em breve de-verá faze-lo a do Rio Grande do

Diante das esculturas sobre tipos e cenas popuia res gaúchas, do sr. Wilbur Olmedo, vemos o sr.Renato Almeida conversando com Dante de Layt ano e Darcy Azambuja, encontrando-se logo atrásos srs. Manoelito Ornelas e Elpidio Pais. De fren te, à esquerda, o autor dos trabalhos expostos e, à

direita, Cecília Meireles conversando com o D elegado de Santa Catarina, sr. Walter Piazza.toa aos colegas que deles necesal-tem. Se conseguirmos levar a ter-mo feliz essa iniciativa, muito lu-crar&o os estudos de nosso folclore.

Dos trabalhos apresentados, vá-rias sugestões foram feitas e cito,como. exemplo, a de pedir aos foi-cloristas do Rio Grande do Sul,Santa Catarina, São Paulo, MinasGerais, Goiás e Mato Grosso, queverifiquem os lugares onde aindapersistem as Cavalhadas dramátl-cas, representando a luta de mou-ros e cristãos, a ver se se confir-

ma a hipótese de que seguem o ca-mlnho dos nossos tropeiros, como,no Paraná, observou o prof. Lou-reiro Fernandes, em brilhante co-munlcaç&o que nos apresentou.

A REPERCUSSÃO DA SEMANA

Ceará, Alagoas. Paraná e Goiás ascomissões locais celebram o Dia.No Estado do Rio, não só a Co-missão Fluminense promoveu umaconferência e exibição de filmes,como ainda conseguiu ' que, nasescolas, os professores fizessem pre-leções relativas ao folclore e, porfim, aqui no Rio, o novo Centrode Estudos Folclóricos, da Associa.ção Cristã Feminina, promoveuuma Semana de Folclore, que foiurna estréia auspiciosa e brllhan-te. E não falo nos artigos, irra-dlações, palestras e conferênciassobre folclore que se reproduziramem todo o Brasil, demonstrando oamor que se começa a consagrar ácultura popular.

Em Porto Alegre, representaram-se as comissões dos Estados do

Sul. E, no nosso Instituto de Edu.cação, o folclore e a literatura in-fantil são estudados na cadeira dsLinguagem, no último ano do Cur-so de Professoras.

O INTERESSE PELO FOLCLORE— Vai crescendo em todo o Bra-

sil, a olhos vistos, o interesse peloFolclore e quem ler os BoletinsBibliográficos da Comissão Na-

cional ficará Burprêso com a so-ma considerável de artigos publi-cados era tdo o país, sem falardaqueles que não chegam ao nos-so conrecimento. Além disso, onúmero de pessoas a quem os es-tudos de folclore não interessa-vam e hoje a eles se estão consa-grando é enorme 9 pela relação

O FILHO DE PATMOREATTILIO MI LAN O

MEU PILHO, RALHEI CONTIGO.EU QUE SOU TÃO TEU AMIGO IMAS, SE SOU TÃO TEU AMIGO,POR QUE E! QUE RALHO CONTIGO l

QUANDO ME DESOBEDECESJA' COM O HOMEM TE PARECES...VAIS SER O HOMEM' QUE PARECES?VEJO QUE NAO OBEDECES i

FOSTE CHORAR PARA A CAMA,OFENDIDO COM QUEM TE AMA 1E TEU PAI, QUE TANTO TE AMA,SALTA, TÃO TRISTE, DA CAMA

E VAI DAR-TE A SUA BÊNÇÃO.AH, VOCÊS FILHOS NAO PENSAM,

AH, VOCÊS FILHOS NEM PENSAMQUE UM PAI fi UM DEUS, DANDO A

L BENÇÃO iSE TUA MAE — POBRE MORTA ! —SURGISSE NAQUELA PORTA...NISTO: É ELA ! PAROU NA PORTA,(UMA MÃE NUNCA ESTA MORTA.)

™i£„ CANGUES COM NOSSO FILHO!"DISSE CANGADA, COM UM BRILHOÍJT9 °^HAR« COM ÊSSE MESMO BILHOQUE HA' NOS TEUS OLHOS, MEU FILHO I

Sr?TT°^?Tc,?UMTLDE' REZANDO:MEU DEUS! PERDOA-ME QUANDOEU FOR IMPACIENTE, QUANDO...

Sn£JHv~CRIANÇA COMo O FILHOUPEGOU NO SONO, CHORANDO, *

dos membros do nossas Contestaestaduais se verificará fXcUmant!como gs alarga, sobretudo tmtr..' ,„historiadores, o Interesse fololowaoEstamos abrindo alguns cumim.c*,*Rio Qrunde do Sul. era Bft&S (2Startna • ao Espirito santo do,exemplo, são roveladoras da« m0rmes possibilidades de estudo .,*•£ses Estados • noa tem datio rl«wlUidos surpreendentes. Creio unoum dos aspectos mais notáveis dnatividade da Comissão Nacional u„Folcloro está om despertar tese 111terôaso por toda parto.

O FESTIVAL FOLCLÓRICO

declarou ulnda ao repórter &autor do "História da Música üriusileira":O Festival Folclórico gaúchofoi extremamente sugestivo, Pode-mos dividi-lo em duas partes- *apresentação da música folclórica

e popular do Rio Grando do Sulnoa concerto- do Banda e gnlUi êdo canto orfeônlco; e noa festi-vala do Centro de Trndi<;õe3 Gau-chás "35". que nos acu um biuiodo galpão, com galtelros em desa-fio, contos o danças, absolutamon-te de primeira ordem, na festacampestre do Clube dos Farrapos

onde assistimos a práticas o dlver-soes da vida cnmpensina e. porfim, no churrasco do Clube Gaú.cho. quando aplaudimos uma ad-mlrável porfla de galtelros Impro-

visando décimas e vimos dançar umatradicional dradrllha rural. Queroainda referir uma dramatizarão,cm teatro de marionetes, do Ne-grlnho do Pastoreio, na qual pudeverificar o Interesse das crianças

pela velha lenda e confirmar ml-nhas convicções relativas ao npro-veltamento de folclore na educa-ção, e um espetáculo de bailados,em que um deles era referente áProcissão de N. s. dos Navegan-tes em Porto Alegre, com a festapopular do adrio da Igreja.

De tudo isso, merece particularrefeiêncla o trabalho que realizam.o Orfeon das Professoras Prima-rias do Rio Grande do Sul. dlri-gldo pela minha colega Yvone voader Pcrren, com o maior brilho,incluindo no seu programa, nu-merosas cantigas regionais, arran.

Jadas para vozes, de sorte a nãolhes prejudicar a pureza origina-ria; e o do Grêmio "35", coiisti-tuido por um grupo de Jovens In-teressados em conhecer a tradiçãopopular do Estado, para o que.realizam constantes pesquisas ecomeçam a fazer estudos aprecia-veis, um dos quais, de Luís Carlos-Lessa, sobre o Chlmarrão. merc-ceu Menção Honrosa, no últimoconcurso de monografias do De-partamento de Cultura de Sfto

Paulo. São dois organismos queestão trabalhando com multo des-velo pelo nosso folclore e merecemnosso sincero aplauso.

A EXPOSIÇÃO DE ARTEPOPULAR

. — No auditório do "Correio doPovo" foi organizada uma Expo-sição de Arte Popular, que deve-mos ao devotamento de FranciscoCorona e de Walter Spaldlng. A

este aliás, muito cabe no triunfoda Semana, pois, durante a au-sência de Dante de Laytano. naEuropa, exerceu as funções de Se.cretário-Geral da Comissão, traba-lhando com afinco e inexcedSveldedicação para o certame próxt-mo.

Na Exposiço, se muita coisa nãoera popular, representava aspectoscaracterísticos da cultura do po-vo gaúcho, da sua vida, práticase técnicas. Nela se encontravamtipos populares, em cerâmica doartista Vllbur Soares Olmedo; fotosde costumes e cenas rlograndesesdo Museu do "35", desenhos demotivos folclóricos de NelsonBoelra Fredrich, ilustrações de len-das gaúchas do prof. José Lutzem-berger, desenhos infantis de motl.vos folclóricos feitos pelas crian-ças dos Grupos Escolares, materialfolclórico de coleções particulares.

Como bem disse Aldo Oblno,que em formosa alocução abriu aExposição, oncontram-se na mes-ma não trabalhos de folclore dl-reto e sim do reflexo, isto é,transposto para o plano da arte

mais apurada, ou projetado na»formas escolares, ou plasmado nacerâmica.

A CULINÁRIA GAÚCHA

Uma outra exposição muitoInteressante foi feita na EscolaTécnica Senador Ernesto Dornelles,,relativa à culinária gaúcha. Foiuma feliz inspiração de D. IsoldaPaes essa de nos mostrar os dl-versos pratos usuais nas diferenteszonas de colonização do Estado,além da comida diária do gaúcho

na campanha, dos peões e carre-teiros. Também foram expostosexemplares da saborosa doçarla doRio Grande do Sul. E as alunas,

que tinham sido às gentis cozi-ribeiras e doceiras, ofereciam assenhoms as preciosas receitas. A

(Conclui m IO,8 página).

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Domingo, 8-10-1950 iCErgay b aRrss Pagina — 9

p.ri. - Setembro — Via -

«três» ie Berger»*, onde **-

„ qual acaba êle de eoasagrar£ uvr. importanle- E» omíTmem alto, magro, aaeétteo;^fro de um» «•"»*,•¦-£,m>i adquiri» um» arte de ver,5 Si» » i? "-sr"?Mios iníús. Sabe-st que ha£, dez anos o pensamento deHuzley mudou completamente,abandonando e escritor • oett-"^

c • estetlclsmo pest-vildien que lhe caracteriza esgrandes romances, como "Con-

traponto", per» recolher-senuma aldeia dos Estados Uni-Sos e ali entreiaree ao estudo(os fjparúshades o lnieiar.se nepensamento stao-hlndú. Seussoros livros Já refletem essa»va orientação.

Nio tive tempo para entre-Itr.me longamente com o ro-tincista, nem de dirigir-lheti perguntas que eu gostariale fazer-lhe. Devia êle partirsalto breve e a entrevista Jáie fora concedida a título denecçáo. Guardei, entretanto,desse encontro com Huxleyuna impressão Inesquecível. E'o* homem da mais elevadaestirpe espiritual, de uma ab-loluta independência e queleve, aos quarenta anos, a eo-n-crn de negar todas as suastoDvicções passadas, admitir« próprios erros e empenhar-ie por completo, tanto fisícaHino moralmente) num cami-nho novo. Pratica êle todos osdas os exercícios do ioga,e*mo Daumal, Luc Dietrich eIauza dei Vasto, como o seumestre, cujo nome se recusa a«velar-nos.

Numa revista soviética apa-leeeu ultimamente, uma carl-atura na qual seis persona-pus horrorosas desfilam disto-te de um guichê em Wall

ALDOÜS HUXLEY FALAA "LETRAS E ARTES"

A segunda fase da vida do autor do "Contraponto" — Sua poercio omfaço do mundo atual

LOUIS WIZNITZERStreet: Upton Sinclair, AndréGide, Sartre, Malraux, Pljadee Huxley, sendo o último re-prestntado com uma pequenacabeça de débil mental, mmchapéu de gangiter, esperandosua ves cem um saco de dói»-res sobre o ventre. Tais carl-caturai náo sujam senão ospróprios autores.A concentração do poder

Qual a sua posição em faeedo comunismo? — pergunte sHuxley.

Essa questão, para mim, re-sume-se, sobretudo, no oonfll-to entre o poder e a poténela.Toda concentração da potênciaem mãos levianas leva fatal-mento a um exercício arbitra-rio do poder. Náo faço aquidiferença entre o comunismo equalquer outra forma de dita-dura. Todo o problema, a meuvêr, consiste em evitar que epoder seja concentrado. Creioque as soluções, como a deDeubreuil, de um federalismomundial, são as únicas aceita-veis.Atitude estóica o atitude

cristãNão acha que caminha-

mos, irrevogavelmente, parauma civilização de massas epara regimes que supõem umapotência concentrada?

A ciência marxista pre-curou demonstrar que o mundoia para o socialismo. E, entre-tanto, o mundo nio vai. De-pois, querem diser que a his-torta demonstra a marcha dahumanidadde no sentido dos

governos totalitários. Issoeqüivaleria a forcar-nos a per-manecer de braços orusados •nos deixarmos levar pela cor-rente.

Que resistência pedtre-mos opor ao curto da história?

Há duas possibilidades: aatitude estóica e a atitudecrista, quero dizer, a que tu*põe a crença na graça, numasalvação eterna, apesar dotudo.

Nio devemos falar omguerra

E se desencadear a guerra?Náo será ela atômica, pois

nesse osso náo haveria vend-dos nem vencedores. Acho quefalando da maneira porque fa-Íamos da guerra acabamos porfaser com que ela venha. De-vemos voltar nossa atençãopara outras coisas sem ser aguerra. Há problemas concre-tos, imediatos, a exigirem-nosa atenção. Este, por exemplo:a população do globo cresce demaneira considerável, 25 mi-lhões por ano; o interessantenão é destruir, mas dar umJeito de acomodar, de garan-tir a subsistência para todasessas criaturas humanas quetêm o direito de viver. Trata-se de abandonar as ideologiasmessiânicas: as grandes abs-trações para nos consagrar-mes aos problemas concretos.

E que nos Impede disso?Os homens acham mate

nobre o plano Ideológico; sãoIdolatras. E o paradoxo do eo-

monlamo é npresentar-se élecomo uma doutrina científica,escapando Inteiramente aeconcreto. O problema da een-tradição entro o desenvolvi-mento da humanidade e a dl-mlnulçáo dos fontes de vidasupõe soluções do ordem pnra-mento técnica. E Isco nioapaixonaria to espíritos; «me-remos o mito, as sombras, asIdéias; os homens, infeUsmen-to, nio se excitam senio cjman-do mm oompromtsso religioso opassional lhes preside a atttt.

Uma civilização deaequt-librada

De uma maneira precisa;• que pensa dos filósofos e dasIdeologias modernas?

São todas ersatrs (suba-títutivos) da filosofia da trans-cendêncla. Através delas, oshomens procuram e sagrado,onde êste nio existe. No ex-terior deles mesmos, em seusempreendimentos coletivos, nasinterpretações Ideológicas dahistória. E' nisso que se resu-me, em verdade, o problema.A noção do sagrado perde-seeada vez mais, sendo a quali-dade substituída pela quantl-dade, o homem Interior pelohomem coletivo.

Nossa cultura ocidentalterá possibilidade de sobrevi-ver em caso de uma guerramundial?

—Teremos aí, talves, uma no»va Idade média, mas ao eontrá.rio: mma Idade média mate-rlaUsta, como o entra foi em-

FOI assim que Basilio da

Lua entrou na minhavida. Parada diante da-

Viela casa estranha, que emmentira ser onde morava, a(im de fugir à insistência da-fade homem, estava bem longeãe imaginar a importância queh iria adquirir dentro empouco. Mas naquele momento,posso afirmar que dele me es-?neci completamente, assim quei táxi desapareceu no fim darua. Uma única idéia me preo-tapava: durante o tempo quepassara em tratamento no hos-Htal, ainda conseguira fugirom pouco à realidade. Vioien-temente desligada de tudo oWe compunha minha vida,ainda não havia sentido se res-t&belecerem no meu ser os lia-mes daquele compromisso queconsiderava extinto — e nem ohábito, sorrateiro, insinuante efácil, voltara a erigir sua tira-nia através dos meus gestos edos meus pensamentos.No entanto, ali estava de no-voa rua. A verdade Já se apro-limava. Recomecei a andar,compreendendo/ que de novoera necessário procurar umtteio de subsistência, ou melhoroo que isto, uma razão parajdstir. Há muito tempo queí» me considerava perdida,oina existência arruinada, e osKeus dias eram apenas diasWe se arrastavam como águasQue lentas se encaminham a umPonto final. E êste ponto, qui-sesse ou não, era o suicídio.Agora sabia que havia fracas-sado, e isto me dava certatranqüilidade. Mas era precisorecomeçar tudo, arquivar essesentimento de desgraça irreme-ttiavel, tentar um meio de sub-astir para 0 futur0j pois o sul-

^chüo não contava mais para^"a. pelo menos momentânea-mente. Não, aquela não era™a a solução desejada. Eh-quanto novamente caminhava•* «smo pelas ruas do Rio de* *nelro raeu pensamento tra«4,«ava sem descanso» pro-

FLORA

ourando, revivendo, estabele-oendo contatos perdidos, espe-ranças mortas, idéias e sonhesabandonados. D e 11 n h a-m ediante de uma ou outra vitri-ne, . examinando os objetos,quase sem vê-los, o coração pe-sado de um sentimento amar-go e envenenado, olhos emba-dados por lágrimas que, eu ti-nha certeza, não cairiam nun-ca. Lembra-me bem, era umamanhã de sol, dessas em que asárvores parecem mais verdes eas pessoas mais apressadas nasTuas. Eu caminhava devagar,experimentando a emoção deme sentir livre pela primeiravez, inteiramente livre, semnenhum destino traçado. Eapesar de tudo, quando no diaanterior, sob a chuva miúda,rumara para a estação das bar-cas, tinha a morte bem próxi-ma e acreditava que jamaisvoltaria a ter sentimentos eo-mo aquele, a experimentar sen-sações tão novas e agradáveis,eu, que já me considerava maisou menos afastada deste mun-do. A redescoberta daquelaspossibilidades, como que acen-tuava o gosto acre e frementeda minha volta. Mas o sol jáia alto, eu estava cansada devaguear, os edifícios já me pa-reciam enormes, ameaçadores.Deveria escolher um rumo defi-nitivo. Assim, vagarosamente esem pensar muito no que fa-ala, rumei para a pensão ondemorava, perto dos Arcos.

Só ai, só diante desse cena-rio onde eu já tinha sofridotanto, a consciência voltou amim, integralmente. Senti quetodo siravíb ap.Qiei-»e. a «are-

LÚCIO CARDOSO

de, fechando os olhos um ml-nuto, a fim de conter minhaemoção e calar as furiosas ha-tidas daquele coração rebelado.Oh, essas fachadas escuras emortas, com esses gradis em-poeirados, essas longas escadasconduzindo aos quartos supe-riores, essas Janelas estreitas oque mal deixavam passar a luz,como eu as detestava, com seuodor de mofo e de contida, comseu intraduzível aspecto de ce-Ias vazias e decepções acumu-ladas! E eu, que me tinha Jul-gado livre para sempre dessapaisagem odiosa, desses gritosde vendedores ambulantes, des-ses bondes aninhados e dessagente anônima e sem alma quedurante o dia inteiro se acoto-velava ao longo dos quartel-rõesi Estaria então condenadaa viver ali par» o resto da mi-nha existência, não haverianenhuma possibilidade de fuga,nada? Tonta, caminhei maisalguns passos, abri a porta. Noalto, por cima dos Arcos queconduziam à Santa Teresa, umbonde resvalou, demorado eplangente. Voltei-me, e o bafodetestável da casa me ganhouinteira, trazendo a memória dedias esquecidos há muito, cenasvividas ali, desesperos meus,cuja sombra ainda parecia seconcentrar contra os vãos es-curos. As lágrimas que penseijamais chorar, saltaram emborbotão dos meus olhos — eum instante, apoiada ao osci-lante corrimão, chorei, larga,desamparadamente, sem ne-nhuma coragem para galpar osdegraus' sujos e carcomidos.Deus meu, jamais existiu pes-

soa mais inf elis e mais abando-nada.' E depois de ter soluçadoá minha vontade, revoltei-me,sacudi a madeira inerte, taju.riando-a com todos os nomesque sabia. ¦ nio em vos bal-xa, que o men desespero Já nio

s continha, mas somo se osti-vesse lutando eom alguém, ba-tendo eom m cabeça contra aparede, esmurrando-», num de-satino que Já atraia a atençãode alguns transeuntes, paradosà porto, espiando.se com Ju*.to espanto.Náo me aborreçam — grl-tel, batendo a porta.

E do outro lado, na rua, ou-vi risadas e assovios. Eu deviaestar louca: de novo, aos gritos,frenética, subi a eseada cor-rendo, num esforço que me le-vava as últimas forças, ohoran-do e gemendo, chamando natenção das outras mulheres,também hóspedes, que chega-vam à porta, estremo nhadae.

Que é Flora, ume tomvocê?

E eu, na minha fúria, o res-to molhado de lágrimas:

Não me chame de Flora,detesto esse nome, nio queromais viver aqui!

Certamente elas nada com-preendiam, tão habituadas es-tavam em me chamar de Fio-ra. E mais de uma, tenho cer-teza, devia ter imaginado con-sigo mesma que eu andara moexcedendo no álcool aquela ma-nhã. Não expliquei coisa algu-ma e bati a porta do meu quar-to, deixando para trás um bor-borinho de risadas e cochiches.Na penumbra, ericáminhel-impara a duna desfeita & cotifr

ptritualíau, eom mm fanatii-suo semelhante. A resistência»n tradição espiritual, poderãoentão sobreviver secretamente,de maneira esotérica, om si-gmns santuários de estudo oreflexão, isolados uns dos ou-tros. Nio podemos predizer ofuturo; mas, de nenhuma ma-ne ira o matorialismo chegará,verdadeiramente, a destruir oespirito. Comprtmlndo-o eadaves mais acabará, ao contrário,por dar-lhe forças novas. Ohomem náo pode, durantemulto tempo, Ignorar nem osem corpo, nem a sua alma.Caminhamos para um» civili-sacio desequilibrada, mas te-nho confiança de que o equllí-brio será restabelecido.

A atividade interior—Quais seus autores preferi,

dos na moderna literatura In-flèaa?Grahan Greene, CharlesMorgan.

Pretende Ir Instalar-se naíndia, na própria fonte dopensamento védico?

Não. Creio que e traba-Iho interior é Independentedas posições geográficas e po-de-se fracassar ou obter êxito,tanto na Califórnia como nasalturas do Himalaia. E' umaquestão de disciplina.

Renega o senhor toda suaobra anterior?

Náo posso responder essapergunta. O senhor compre-ende trata-se de uma questãomuito viva para mim, compor-tando uma complexidade quenão me permite resumir a res-posta em quatro palavras.

Certamente. Grande nú-mero de Jovens corresponde-secomigo e procuro indicar-lheso caminho a seguir, auxilia-

. los a auxiliarem êlcs a simesmos. Devo Indicar-lhes »roto, sem no entanto, me colo-

(Conclui na lê.» página)

amei » chorar, de braços, semame nado, pensamento om íem-branca, pudesse me consolarnaquela insondável desespero.Todas as vezes que tentava le-vantar » cabeça e dlstlngula aforma de mm objeto conhecidoatravés das minhas lágrimas, ador aumentava. Era uma coisaanimal, primitiva. Voltava en-tio » afundar » cabeça no trà-vessetro, mordendo-o, sufocan-do-e naquela mágoa, naquelacólera, naquele espanto de per-manecer inabalávelmente »prl-sfenada » um destino que soo-

Nio sei quanto tempo perma-ned assim, insensível » tudo,desatinada. 8ct apenas que emcerto momento senti-me een-sada. Em torno de mim reina-v» mm silêncio Absoluto, cUr-se-Ia que eu estava numa casa de-serta. Pouco » pouco ganhou-me mm desses sonos pesados oreoaradores, quo costumam so-brèvlr » crises como » que enacabara de atravessar. Dormi,dormi nio sei quantas horas.Quando acordei percebi que oquarto estav* mais escuro, queo tempo devi» ter avançadomuito. Escutei mm minuto oouvi próximo » mim, o som deum pigarre. Inicialmente Jul-guei ter-me enganado, era umsom tímido, como se viesse dolado de fora. Mas como conti-nuasse prestando atenção, tor-nei a ouvi-lo, ©orno se a pes-soa presente quisesse atrair-me. Devagar, sem nenhum sus-to, levantei a cabeça e olheiquem se achava ao meu lado.Náo me foi difícil, apesar doescuro, perceber o vulto de nu-nha mãe. Estava sentada numtamborete baixo e vestia-se co-mo sempre, isto é, de um modoridículo e exagerado. Nao dl-ria nada, sem dúvida por to-mor e, confesso que durante ai-gum tempo ainda, hesitei sedevia dirigir-lhe a palavra ounão. Pois tudo o que vinha de-Ia, só me causava desprezo oumoita*

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fâgjni M 10 •LETRAS B 'ARTES Oombifo, «-10-1950

AINDA

JOVEM a Ro-publica, via sair co-mo comentarista» de

sua» lutas, de suas glorias,de suas figuras, um grupode carlcaturistas, tambémjovem, brilhante e cheio de"humor", continuando a vi-gorosa tradição de seumaior — Ângelo Agostini. |

Entre eles —Raul Peder-nelras.Max Yantok, CalixtoCordeiro — estava J. Car-los. São esses os criadoresda caricatura no Brasil,aqueles que mantiveram vi-va a flama do sarcasmo po-pular, contra os arrogantesdo poder, os débeis, os ri-dlculos ou simplesmente, osáulicos, resumo da lgnoml-nia humana.

Já em 1902, J. Carlosapareceria na imprensa, es-treante ainda. Depois, nu-ma longa carreira de 4Sanos, viu-se o artista evo-lulr, com o seu traço e asua malícia incomparavels,arrolando com o poder desua fina percepção e de suainteligência, toda uma era,com os seus tiques, a sua

VEJA. doutor, êle esta

sorrindo.- Infelizmente não 6possível fazer mais nada.

Quem sabe?A enfermeira curvou-se sô-

bre o leito e do mansinho,como se o» dedos fossem umprolongamento do coração,acariciou aquela cabecita decabelo retorcido. Se pudessetransmitir-lhe um pouco dasua própria vida! A Impotên-cia diante da morte punha-lh*nos olhos laivos de desespero,mas não conseguia desencon-rajá-la.

—Pobrezinho, parece sonharEsta inconsciente. E a fa-

mília, ainda não apareceu?—Ainda ninguém o procurou,

nem foi identificado.Deve ter uns dez anos...

E* difícil calcular a idadedessas crianças... Sempre osmesmos olhos grandes e trls-tes, o mesmo rosto chupado.Tenho tanta pena...

O médico aproximou-se daenfermeira e pousou-lhe amão no ombro num gesto desolidariedade.—Se precisar, estarei naen-íermaria.

Ela permaneceu calada, quie-ta, sem querer admitir a mu-tilidade de sua presença."Por que está sorrindo? Pa-recia tão aflito e assustadoquando a ambulância o trouxe.Não disse uma só palavra, nemum ai. Terá família?"

Apagados aqueles dois car-voes que o mSdo acendera eagrandara, o moleque conti-nuava sorrindo, numa imobili-dade de estampa. Na incons-ciência que à beira da morteo fazia sonhar e sorrir, estavadeslumbrado. Não compreen-dia como os anjos haviamdescoberto o segredo, que atedo Tião escondera. Eram mui-tos. Vinham carregando uma

Aldous Uxiey fala a"IETRAS E ARTES"(Conclusão da 9." pág.)

tar no meio dela, de maneiras obstruí-la...

* * *Esta curta palestra de me-

nos de meia hora terminou emtorno de Shakespeare. E Hux-tey exprimiu-me os seus re-ceios ante o projeto de Ber-nard Shaw de escrever um fil-me sobre o vida de Shakes-peare, devendo êsse filme serser interpretado por Dane Kayee intitula-se: "A vida alegrede Shakespeare %

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J. CARLOS

graça, os seus homens omulheres, rica fauna quesoube tão essencialmentecompreender, mais ainda,a sua linguagem* a sua gl-ria, os seus grandes acon-teclmentos.

Em sua obra, teve a mu-lher um lugar previleglado.Malogrado a sua Ironia,Ela foi Inscrita em sua ar-te, com toda graça e flnu-ra. A sua criação da "Me-lindrosa" e de suas seme-lhantes no decorrer do tem-po, oferecem um preciosodocumento de costumes,com todos os atributos daModa, e das maneiras.

fi é na política, pasto vi-

SANTA ROSA

tamlnoso do carleaturista,que J. Carlos se fartou re-giamente, comentando comuma inteligência e um es-pirito não Igualados nessaarte tão difícil, os fatos domundo, e, especialmente,deste nosso mundo brasi-leiro, tão pervertido, des-mantelado pelas admlnls-trações catastróficas, noqual, apesar do rigor desua critica, J. Carlos pôstanta esperança.

Guerras e cenas doméstl-cas, crises políticas e pia-das de rua, foram vividaspor esse raro espirito etranspostas pela agudeza deseu traço em desenhos cuja

qualidade artística, podemoshoje juntar aos grandes de-senhistas do mundo.

Essa obra elegante, rea-lizada com um traço sim-pies, como o seu autor, co-mo êle, também, se impõepela verdade e pureza, den-tro das quais sempre vi-veu.

Em toda obra de J. Car-los transparece nitido o cri-tério ético de seu espirito:modesto, sem vibrações exl-bicionistas, simples e dire-to, Intransigente na luta aospoderosos.

E o que mais avulta emtodo o seu requinte de sen-sibilidade, em toda a melo-

CAIXINHA DE MUSICA

Conto de BELISLA MONIZ

grande caixa de música. Tlim,tlim; tlim, tlim, Nem precisa-va dar corda... A música pa-recia a mesma que imaginaraouvir quando atravessou a ruacorrendo, inopinadamente, semreparar sequer nos automóveis.Depois aquèlo chiado enorme,esquisito, um grito de mulhere uma confusão de vozes. Ascoisas multlpllcaram-se, fo-ram-se distanciando. Julgou-sesuspenso no ar como um ba-lão. Uma campainha tilintoumuito longe, file começoucaindo, caindo sem poder grl-tar nem agarrar-se. Ninguémã sua volta, sozinho no ar,caindo sempre. Repentlnamen-te ficou tudo escuro. Não sen-tiu mais nada.

Agora, ao abrir os olhos, ti-nha ao alcance das mãos umacaixinha de música. Linda,cheia de desenhos, muito

maior que a da loja elegante.Não precisaria mais passar ho-ras olhando a vitrina, com ocoração apertadinho, de medoque alguém a comprasse.

Quantas vezes teve vontadede entrar e pedir para ouvir acaixinha um minuto, um ti-quinho só. Mas assim descal-ço e sujo, quem lhe dariaütGUCcLo?

Um dia o homem gordo velo& porta. "Que é que você tan-to olha a vitrina? Vá traba-lhar, seu moleque". Se osolhos fossem pedras teriamacertado na cara do homem,tal a raiva.

Desde então ficava de longe,atento, chegava a pedir aDeus que fizesse a caixinhatocar outra vez. Que genteIParecia nem gostar de músi-cal Se a caixinha fosse dele...havia de fazê-la funcionar o

dia lntelrmho. Era só darcorda como ao relógio, file viuquando o homem gordo a re-tirou da vitrina e rodou umachave que tinha por baixo.Olhou por olhar, não sabiaque tocava música. O freguêspegou-a, examinou. E êle foratorcendo para que a não com-prasse. O freguês saiu e acaixinha voltou para a vitrina.Admirado, aproximou-se; nun-ca ouvira música assim. Erasó dar corda e nem se punhadisco como na vitrola da Ma-riazinha.

Durante uma semana, dia-riamente, postou-se em frenteà loja. Inventou planos e maisplanos para conquistar a cai-xinha. Pensou trabalhar. Emquê? Como? Talvez vendendobanana que nem o Tião. Masos guardas costumavam cor-rer atrás dele; era proibido.

PAISAGEMLAGO BURNETT

ENTRE O CANTO *£ OS PÉS DA CRIANÇAOESENVOLVE-SE A PAISAGEMEM VERDE TERNO E LOURO, CÔR DA TRANÇAQUE INVOCA AS BORBOLETAS. DE PASSAGEM.

LÚCIDO É O CAMPO E SILENCIOSO EM TORNODA CRIANÇA CRESCE ATÉ NO ALTO, ONDE

[ALCANÇA

O CÓRREGO QUE ESCORRE AÉREO E MORNODOS LÁBIOS TRANSPARENTES DA CRIANÇA

É O CANTO QUE SE ESVAI EM SINUOSASESTRADAS PELO ESPAÇO, NA LEMBRANÇADOS PÁSSAROS, DAS FONTES E DAS ROSASQUE FAZIAM A PAISAGEM PARA A CRIANÇA.

Sete dias de folclore nos pampas. (Conclusão da 8.* pág.)exposição era real e os visitantesee fartaram de provar tanta coisagostosa.

MATERIAL FOLCLÓRICO— Nas nossas sessões de estudo

tivemos ensejo de ver a projeçãcde diversos dispositivos e filmesrelativos a folguedos e dançasfolclóricas, quer os apresentadospelo prof. Alceu Maynard de Araú-Jo, sobre S. Paulo, quer o da, Ca-valhada de Palmas, no Paraná,exibido durante a comunicação doprof. Loureiro Fernandes. Algunsdeles coloridos, portanto commaior valor documentário. Tam-bém tivemos uma audição de dis-cos. colhidos pelos nossos colegasLuis Heitor e Enio de Freitas eCastro, no Interior do Estado. Nes-sa ocaslfio, foram passados os dis-

cos gravados no Museu do Homem,cm Paris, e oferecidos depois a

Comissão Nacional de Folclore, pelaTJNwp.CO. com canções que se con-servam na África, no Dahomey,

e levadas para lá por negros ai-forriados no Brasil. São peças afro-brasileiras de sugestivo valor foi-clórloo, cantadas em Paris, porum velho preto Casemiro d'Almei-da, e todas elas referentes ao nos-so país, onde conservam folguedos,como o Bumba-meu-Bol, chamadoBurrinha, e se fazem festas á Nos-eo Senhor do Bonfim.

O SÍMBOLO DO JABOTIDepois de referir-se aos nume-

rosos apoios que recebeu, desdeos órgãos governamentais do RioGrande a entidades e pessoas, as-sim finalizou o entrevistado:— Multo devemos ao IBECC, queorganizou, dirige e prestigia osnossos trabalhos. Foi uma penaque o seu eminente Presidente,Dr. Levl Carneiro, não tivesse po-dido estar antre nós, como forado seu desejo, mas o impediramdeveres impreterívels .e inadiáveis.Mas a Mensp.gem que enviou aDa-nte de Laytano Mo Sol sò-

mente de palavras de louvor •incitamento, mas deu o exato re-levo e Justo valor aos estudos

folclóricos, quando afirmou: "pra-tlcando-os, estais, portanto,meus caros confrades da Comis-são de Folclore do Rio Grande doSul, a um tempo, servindo e hon-rando o Brasil, e concorrendo paramelrorar a precária compreensãomútua dos homens na superfíciedo nosso atormentado planeta".Acantuou assim a Importância dofolclore para o conhecimento re-cíproco dos povos e, portanto,para atenuar os estados de tensãoprovocadores de guerra.Diante de tantos e' tão altostestemunhos impõe-se-nos, mais doque nunca, o dever de prosseguirna tarefa começada, com entu-slasmo e devotamento. O símbolodo jaboti. para o folclorista, queo Centro Mário de Andrade ado-tou, é excelente. Trabalho de bi-cho inteligente, ardiloso e modes-to. Não precisamos de pavões emulto menos de «talhas,,»

«ia de nua linha, é o co-ráter poético, que se de«s-prende de sua visão das col-sas. Há nas suas composuções, além de sua Imensasabedoria profissional, umasabedoria de homem expe.rimentado no atrito quotUdiano, mas cuja compia-cencia para com o "catch'*humano é tão grande, quotudo transcende em poesia,num desejo de harmoniageral permanente.

B* esse homem privile*giado, esse homem probo eimenso em sua arte, qusacabamos de perder. As la-znentações serão sempreprecárias diante do valorinsubstituível de J. Carlos.A sua personalidade tãocompleta, como artista rcomo indivíduo deve mar-car para a nova geraçãoum marco ideal que a orl-ente, nesse mar de duvidasde improbidade profissio-nal de negação , do qualêle foi o grande exemplodo contrário.

A noite, deitado na enxerga,a imaginação tornava-se malaarrojada. Os olhos brilhavamao escuro.

Tlim, tlim; tlim, tlim. Amúsica já tocava há tantotempo sem parar. Parecia en-cantamento, assombração. Es*tava admirado, confuso, bo-qulaberto, sem coragem de pe»gar na caixinha. Quando che-gasse lá no morro... seriamcapazes de pensar que f" \roubada. E se a escondesse?Onde? O melhor era contartudo ao Tião, "cara" amigo oesperto de verdade.

Limpou as mãos nas calçasdecidido a pegar a caixinha ofugir. A imobilidade apoderou-se-lhe do corpo.

A enfermeira viu a cabecitapender para o lado, devagarl-nho. Tomou-lhe o pulso. Pa-rado. Tocou-lhe a córnea; ne-nhuma reação. Nos lábios, en-tretanto, o mesmo sorriso. Pe-gou a ponta do lençol e pu-xou-o lentamente.

*

Variações sabre ogênio lírico por-

tuguês(Conclusão da 3.» página)ças a essa reintegração, porassim dizer involuntária, nanatureza, tudo quanto nele 6adquirido — cultura, civiliza-ção, controle, modos e manei-.ras mentais — desaparece, ins-tantaneamente, ficando ape-nas o que nele, em verdade,representa o fundo "intra hís-tórico", o modo psíquico irre-dutivel do povo português —a doçura e o fatalismo, o desa-lento e a violência, a corageme a renuncia, a ausência e ftsaudade, em que sua almaflutua.

Desobstruindo o caminho, atudo quanto nele, graças áleitura dos outros poetas, eraimpedimento à irradiação es«pontânea desses sentimentosfundamentais, eis que o poetaportuguês, qualquer que sejao seu grau de cultura quandose exprime de forma mais ge-nuina, o faz na independênciade pressões estranhas, conde-nado, não poucas vezes, 6certo, a uma espécie de éter-no retorno, de monotonia for-mal e temática, ao mesmotempo grandeza e miséria danossa literatura.

Casa do DragãoCascais — Portugal,

Domingo. 8-10-1950 £ETRrA'S E rART ES Página— 11

espírito latinoO» confcrenclsias franceses

«4 nio conseguem, no Rio,Sralr nm grande público In-teressado e ****** S*"*™-ícamente. Mas ainda levamíí salão discreto e elegante daicudemi» urna assistência In-íliííentc, culta e polida, como«uredeu na última semana com

Prof Vastcur Vallery-RadotO ilustre neto de Pasteur, quetantas conferências íea entronós agora, para públicos sem-"re

reduzidos, embora atentosí cordiais, falou no Petít Trla-„on com sucesso, tendo sido.••.lidado cm nome da Acade-&" pelo sr. Rodrigo Otôvio Fi-lho A conferência do iTor.Pasteur Vallery-Radot foi cur-Ja e amável, com muitos elo-Kios aos brasileiros e algumasobservações acrimoniosas sobrenorte-americanos. Procurou eledefinir, nessa palestra, as ca-racteríslicns do "gênio latino"— com o seu Individualismo,a sua aguda sensibilidade, oseu espírito crítico, a sua pai-xáo da liberdade, a sua cia-reza e a sua graça peculiares.E o fez com lucidez e feüci-dade, sem alargar-se excessi-vamrnte, e sem portanto fati-rar o público discreto e finoque o aplaudiu. Encerrando asessão, que foi inegavelmentebrilhante pela espiritualidade epela elegância, o Presidentesr. Peregrino Júnior, pronun-ciou algumas palavras discre-tas c oportunas, na linha ma-chadiana da tradição acadêmi-ca. Foram essas as palavras deencerramento do Presidente daAcademia:

"Acabamos de ouvir, compa furai encantamento, a confe-renda admirável do Prof. Pas-tear Vallery-RaJot, que defúniu com clareza e penetraçãovis características do gênio la-tino. Só nm conferencista quefosse, como o Prof. PasteurVaMcry-Radot, a nm tempomedico e escritor, poderia fa-zer um estudo panorâmico dogênio latino, com tão terrívellucidez e tão sutil sensibili-dade. Sua palestra foi paratodos nós uma lição e umaalegria.

Esta Casa — a Casa de Ma-chatlo de Assis — orgulha-sede ter sabido ser até hoje, noBrasil, guardiã fiel e constan-te das mais puras expressõesdo Gênio Latino.

Nenhum povo, de resto, noajundo contemporâneo, encarnae resume melhor, todas as gra-ças, todos os dons, todos os

atributos do gênio latino, que opovo francês.

E no momento em que, porcircunstâncias notórias, as no-vas gerações brasileiras enca-minharam a curiosidade do seuespirito noutros rumos cultu-rais, a Academia Brasileiramanteve inalterável a sua fl-delidade à cultura francesa emcuja rica substância nutrimosas raízes mais fundas da nos-sa formação intelectual — eque é, sem sombra de dúvida,como a provou o Prof. PasteurVallery-Radot, a extrema florpura e legitima, do gênio la-tino — claro, sutil e harmo-nioso: a perfeição da graça,como o definiu Lamaitre".Posse de Elmano Cardim

A sessão solene cm que foirecebido, a 29 de Setembro, naAcademia, o sr. Elmano Car-dim. constituiu um aconteci-mento de excepcional signifi-cação social, política e cultural.A Academia viveu naquelanoite, uma hora de raro es-plendor, com o sen salão re-pleto de tudo o que há de maisrepresentativo no nosso alto

DIOGENES LAERCIOmnndo civil. Sob a Presldên-cia do sr. Peregrino Júnior, asessão foi honrada com a pre-sença do sr. General EuricoDutra, presidente da Rcpúbll-ca, a quem o Presidente daCasa transferiu a presidênciada solenidade, tendo compare-eldo também os ministros Lau-do de Camargo, presidente daSuprema; José Linhares, ex-presidente da República; osministros de Estado das Rela.çóes Exteriores, da Marinha, daFazenda e da Educação; osEmbaixadores da França, doPortugal, da Espanha, da Ar-gentina, do Chile, do Uruguai« da Venezuela, muitos outroschefes de missões diplomáticas,altos funcionários civis e mili-tares, e tudo quanto há demais fino e elegante no mundofeminino da nossa alta socie-dade. Diante de grande nume-ro de acadêmicos, o sr. El-mano Cardim fez o elogio deRodolfo Garcia, com eleirância,erudição, equilíbrio e simpa-tia, e o sr. Peregrino Júnior,colocando-lhe no pescoço o co-lar acadêmico e entregando-

lhe o respectivo diploma, o de-clarou empossado na cadeiran. 19, cujo patrono é Varnha-gen. Saudou o novo acadêmi-eu, cm nome de seus pares, osr. Levl Carneiro, que fez umdiscurso dos mais vivos e in-tercssanlcs.

Foi enfim uma grande noiteacadêmica, a da posse do sr.Elmano Cardim.Olegario Mariano na

BahiaPor proposta do sr. Mudo

Leão. o plenário autorizou oPresidente a telegrafar ao Ins-tituto Histórico e à Academiade Letras da Bahia, agrade-cendo as homenagens queaquelas instituições prestaramao sr. Olegario Mariano, porocasião da sua recente visitaa cidade do Salvador.Centenário de Domingos

OlimpioO sr. Peregrino Júnior re-

cordou a passagem do cente-nirio de Domingos Olímpio, cs-tudando a obra e a persona-lidade do romancista de "Lu-ria-Homem".

COMO GIDE TRADUZIU 0 "HAML ET" NO SEU REFÚGIO DE TUNÍSIA(Conclusão da 4.» pág.)

ear? Em que poderei -er bomde ora em diante? A que esta-rei ainda reservado?" — o cer-to é que trabalha. Levantando,se muito cedo, antes do meio-

dia já havia consagrado qua-tro a cinco horas à tradução do"Hamlet". Eu ficava maravl-lhado com a alegria, a cons-tância, o frescor do seu -esforço.

E' que nada vinha desvia-lo dotrabalho. Essa tradução, aban.donada há mais de vinte anos,tinha-lhe amadurecido na es.pirito: nâo lhe restava senãocolhe-la.

Até ali, as exigências da cria-ção pessoal se opunham ao queêle chama "um labor exte-nuante". Imaginando não termais nada a dizer, Gide sen-tia-se feliz ao cumprir uma ta-refa precisa, que constituía, aomesmo tempo, para ele, o maisproveitoso divertimento. Sa-

be-se que o autor de "La Par-te Etioite" não é feliz senãoquando trabalha. E talvez, mes-

Letras inglesas"TWO MOUNTAINS AND A RIVER" — (Cambridge Uni-

versity Press) •— Narar o sr. H. W. Tilman, chefe da expedi-ção de 1938 ao Monte Everest, sua nova tentativa de escalar aCordilheira Himalaia, acompanhado de alpinistas e do cônsulinglês em Kashgar, Eric Shipton. Procurou, o grupo escalar ospicos Rakaposhi, em Karakoram e Muztagh Ata, no Turkestaochinês, mas nenhuma dessas tentativas foi bem sucedida, o oueem nada lhe perturbou o bom humor, nem o estilo vivo da nar-rativa. _ ."DESIGN FOR LIVING" — ("Fórum Books", FalconPress) — Polêmica político-partidária sobre o sistema economl-co adequado à Inglaterra de após-guerra, escrita, com muitaverve, por Peter Thomeycroft, porém conservador radical. Aoinsistir em iguacionar o socialismo e o comunismo, simplificaem demasia essa tarefa. „, „ t"PRIVATE ARMY" — (Cape) — «Popski», on ViadimirPeniakoff, revela a história verídica de uma das dezenas daguerra. O exército sob o comando de Popski viveu sempre paralá do "front" inimigo e constituiu a menor das unidades inde-pendentes do exército britânico .Possuía código próprio e en-ganou, blefou e, às vezes, enfrentou o inimigo através do noT-te da África e em toda a Itália. E' um Uvro interessantíssimo.embora acrimonioso em relação às demais unidades.

MSAGREEMENXS, (Secker and Warburg) — Esta polêmica sS-bre a. cultura na democracia Inglesa nos proporciona o ensejo aeapreciar rio autor, R. C. Churchill, nm critico que não somentedefende a cultura democrática e nela vislumbra vestígios de re-seneração, como leva a batalha ao campo do adversário, critican-do os próprios críticos. Ele insiste que, há séculos, a cultura in-6>esa vem sendo democrática e proletária. Que Shakespeare, Bu-nyan, Cobbett e Dickens escreveram para o homem comum e fo-ram por êle devidamente apreciados

. O estilo é, às vezes, frouxo e desordenado, mas a argumenta-5ao é por demais penetrante e ponderada para passar desayerceui-?*• Embora as observações se refiram apenas à cultura inglesa, saoIgualmente aplicáveis, em grande parte, à americana o à européia.\ livro que nos proporciona prazer, e serve, simultaneamente, aeadvertência.

THE WORLD MY WILDERNESS (Collins) — Após dez anos de«lencio Miss Rose Macaulay apresenta-nos novo romance, que e,2» essência, um livro sobre a guerra, embora se desenrole cerca2 dois anos depois do último conflito. Não descreve batalhas, nemW» ções, ataques, ou resistências, mas apresenta os resuitaaos"""ses episódios.

mo, fossem necessário paraque esse esforço chegasse aotermo as circunstâncias par.ticulares determinadas pelaocasião e, qotadamente, a cor-respondência que podia existirentre o drama de Shakespearee a tragédia da época.

A branca aldeia muçulmana.de onde se domina Cartago eo golfo de Tunis, era como queo terraço de Elsenor, transpor-tado para as margens do Medi.terrâneo. Foi necessária, tam-bém, sem dúvida, a insistênciade Jean-Louis Barrault, queGide havia encontrado emMarselha, antes de embarcar.De ora em diante, traduzir o"Hamlet" tornara-se-lhe umtrabalho Imprescindível. Aopríncipe da Dinamarca, que en.carnava, com mais autenticl-dade do que nunca, a interro-gação do espirito, a justiça chi-caneada, a liberdade manieta-da, um hompm jovem e arden.te, de fisionomia atormentada,"pretendia dar corpo e espirito."— Vou acabar de traduziro "Hamlet" para Jean-LouisBarrault" — disse Gide -- Ecomo eu nâo respondesse: *'—Conhece Barrault?" — **¦—Como todo mundo, vi-o no cl-nema".

"—• Ah! Ele tem gênio!"E talvez fosse esse o senti.

mento que Gide experimentava,a necessidade de oferecer aBarrault uma ocasião paradar a medida de seu talento,talvez Isso, acima de tudo omais, o encorajasse no traba*lho cotidiano.

Não se distraia ele da tarefa,senão em breves passeios ouna leitura, ou para mergulharnuma partida de xadrez, —quando podia opor-se a um ad-versário nem muito sabido,nem muito canhestro, ou en-tão para escutar o rádio.

Algumas semanas depois, en-contramo-nos fechados em Tu-nis ocupada pelas tropas doEixo, submetida aos homens deDardand e da Gestapo. Foipreciso pôr em abrigo seguro osmanuscritos de Gide, honra«ue me coube. Tive então aalegria arrebatadora de ler atradução, dois anos depois pu-blicada em Nova York, porSchiffrin. Ignorando o inglêsnâo tenho capacidade parajulgar-lhe do mérito com rela-ção ao original. Mas julgohaver lido quase todas as tra-duções francesas e não seráexagerado dizer que a deGide ultrapassa-as, anula-as,Em todas as outras sente-se atradução; não ser o textofrancês mais do que o resi-duo de um esforço de trans-

por palavras para outras pala-vras. O texto de Gide tem o

cunho de um original; tudoali parece nativo e brotado,não das palavras, mas da pró-pria fonte das palavras, reti-rado do espirito, da alma emque elas tomaram vida. Certa-mente, é um texto de Gide, masde Gide que inventa uma lingua-gem nova, solida e desenvolta,fluente e disciplinada, saboru-sa,

"tersa, muscular. A força

profunda, a poesia dessa Hn-gua está no músculo e não noesqueleto. As figuras que expri-nem essa linguagem ilustram-na de iluminuras, de um ba-roço temperado, e os arcaísmoslhe dão a própria patina, aabundância algo pesada carac.teristica do século 16. E' o quedistingue a obra de Gide tra-»dutor da dos seus predeces-sores. E' uma criação: a cria-ção que Gide imaginava viessea ser a última de sua vida.

Mas, como vêem não acabouêle ainda de surpreender-nos.

Chegada do OsvaldoOrieo

A fim de assistir às eleições,nas quais seu nome ilustre foixuuag.iuo pcio eleitorado do ra-rã, para deputado federal, cite-gou há dias ao Rio o Acadê-mico Oswaldo Orieo, nosso adi-do à embaixada de Bruxelas,que teve desembarque muitoconcorrido. No cais. para sau-dá-lo, estavam muitos acaüè-micos, inclusive a Diretoria daAcademia.Guerra Junqueiro

O sr. Manuel Bandeira leu,e pediu sua inserção nos Anais,uma bela < oportuna páginado sr. Fidclino de Figueiredosobre Guerra Junqueiro, cujocentenário acabamos de ceie-brar.Miguel Couto vivo

Ao sr. Moacyr Navarro, oProf. Aloisio de Castro envioua seguinte caria:"Meu caro Moacyr Navarro,

Somente agora, depois de terpassado alguns dias com vocêe o Couto, posso agradecer-lheo prazer dessas horas, em quevivi no presente com o pas-aado.

Horas de beleza, vendo con-tadas por você as circunstân-cias de uma vida edificante.Couto encontrou na sua penabrilhante quem lhe fizesse oretrato como ele foi na reali-dade. Ninguém icrá sem doceemoção tudo o que se narra ecomenta no seu livro.

Couto vivo, sim. Couto noseu tempo. Ali encontro meunome citado, ali encontro meuPai. Obrigado por tudo

Este livro será guardado co-mo coisa preciosa. E parabéns,muitos parabéns.

Se você quiser oferecer umexemplar à Academia Brasilei-ra, muito honrado ficarei sefôr o intermediário da ofertae isso me abrirá ensejo de di-ser ali algumas palavras sobreo livro.

Esperando o prazer de abra-çá-lo em São Faulo, etc., etc.»

as) Aloisio de Castro."Gustavo Barroso em

RecifeSegundo telegrama de Per-

nambuco o escritor GustavoBarroso foi homenageado, comum almoço no Horto Dois Ir-mãos, oferecido pelo Governa-dor do Estado, sr. Barbosa LimaSobrinho. Ao ágape compare-ceram intelectuais, jornalistase diretores de Escolas Superio-res.

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deira, Ascendino Leite, Atílio Milano, Augusto Frederico Schmidt,

Lima, Almeida Fischcr, Almeida Saies.AiphonsusGuimarâes Filüo, ÁlvaroOE

JORGE LACERDACOLABORADORES-

Adonlas Filho, Afrãnlo Coutinho, Alcântara Silveira, Alceu AmorosoGonçalves, Anibal Machado, Anor Butler Maciel, Antônio Rangel Ban-Augusto Meyer, Batista da Costa, Breno Aciolt, Brito Broca, CarlosDrummond de Andrade, Cassiano Ricardo, Cecília Meireles, enris-tiano Martins, Ciro dos Anjos, Clarisse Lispector, Cláudio T.' Barbo-sa, Dalton Trevisan, Damaso Rocha, Dantas Mora, Dinah 8. deQueiroz, Eugênio Gomes, Euryalo Canabrava, Fernando Ferreira (teLoanda, Franklin de Oliveira, Geraldo Ferraz, Gabriel Munhoz da•tocha, Guerreiro Ramos, Gustavo Barroso, Gilberto Freyre, HerbertParentes Fortes, Ilerman Lima, Jayme Adoui da Câmara, João con-dé, Joaquim Ribeiro, J. F. Moreira da Fonseca, José Lias do Rego,Jorge de Lima, José F. Coelho, José Geraldo Vieira, José SimeàoLeal, José Tavares de Miranda, Josué de Castro, Josué Montello,Leony de Oliveira Machado, Ledo Ivo, Llgia Fagundes Teles, LouisWiznitzer, Lopes de Andrade, Lncio Cardoso, Luiz Jardim, Manueu.to de Ornelas, Manuel Bandeira, Marcos Konder Reis, Mario da SilvaBrito, Mario Quiníana, Marques Hebeâo, Murilo Mendes, Novell! ju-nlor, Neli Dutra, Newton de Freitas, Octavio de Faria, Olimpio Mou-rão Filho, Oliveira e Silva, Otto Maria Carpeaux, Paulo Mendes tam-pos, Paulo Ronal, Peregrino Júnior, Pericles da SUva Ramos, Rena-to Almeida, Renzo Massarani, Ribeiro Couto, Rodrigo M. F. de An-drade, Roger Bastide, Rogério Corc&o, Roland Corblsier, Rosário Fus-co, Rubem Biafora, Santa Rosa, Sérgio Milliet, Serrulo de Melo, Sil-vio Elia, Sylvio da Cunha, Sonla Regina, Tasso da Silveira, Temisto-cies Linhares, Thiers Martins Moreira, ümberto Peregrino, Van Jara,Vicente Ferreira da Silva, Wilson Figueiredo. Willy Lewin, XavierPlacer, Haldée NicohiBtí, Mietta Santiago, Gnido WUmar Saisl •Jorge Barroso Filho.

ILUSTRADORES)

Alfredo Ceschiatti, Armando Pacheco, Athos Bulcao, MarceloGrassmann Marcler, Fayga Ostrower, Iberê Camargo,. Lute J««JnaNoemia, Oswaldb Goeldí, Paulo O Flores, Paulo Vincent, ReninaKatz, Percy Deane, Santa Rosa, Ván Rogger e YUen aerr.

Página — 12 £ETR'AS E rARTE'S Domingo, 8-10-1950

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Ilustração de SANTA ROSA

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POEMA DOS CARRILHÕESHk Em confusão delirante passam no caminho do tempo.

Vão seguindo em louca disparada pelos quadrantes do espaço

0 eterno agrupamento de todas as raças, de todos os instintos,

£ os povos que se conjuntam separados pelas fronteiras

Pelos mares, pelo idioma, pela história e pela idéia.,,

Procissão de tantas vidas em ovações triunfantesDesfilam, vão passando e hão de passar indefinidamentePara a derrota inevitável de todos os destinos,E os carrilhões das horas, sobre tudo, em toda a vida

Continuam badalando, badalando, badalando. •.

Na inquietação da ansiedade passam todos os momentos,

E* de alerta, a cada instante, o roteiro dessa viagemNo início que se desencontra para a mesma finalidade,

E o mesmo quadro é sempre novo, a noite é a mesma, o dia é o mesmo;

Por que é que o tempo se adianta e por que é que nós ficamos?.

Poesia do belo, poesia do horrível, do encanto e do desencanto,

Sinfonia do que se percebe e do que nunca se alcança

é o panorama da terra inteira, é a paisagem do tempo em marcha;

E á por essa multiplicação de enganos e desenganos

Que os velhos carrilhões continuam badalando, badalando, badalando...

Que espera o pássaro cantando, que espera a árvore florescendo,Por que uivam os ventos, por que gritam e se espadanam os oceanos,

Por que brilham as estrelas, por que os espaços se iluminam?E a natureza emudecida permanece indecifrável..

Que faz o homem nesse mundo infinito da inconsciência?

Que pensam, que fazem, que desejam, os que vão seguindo?Para onde foram os que cansaram, os que tombaram, os que pararam?Todos os sentidos se confundem na Babel tremendaE os carrilhões das horas, compassados pela insônia do infinitoContinuam badalando, badalando, badalando. . 0

Desespero humano, incontenlamento de todos os desejos,Na investida de todos os sentidos, na vertigemDe arremessos tremendos, é a paisagem da noite em debandada;E dormem nesse mundo os caminhos sinistros do desertoPor onde as caravanas vão seguindo e desaparecendo. . .

Na movimentação desses instantes há uma força que se exaitaPara a conquista insatisfeita do que se quer e não vem nunca;Existem sonhos, nascem esperanças, morrem todas as graças,E rondando essa impressão de um segundo que sentimosOs velhos carrilhões continuam badalando, badalando, badalando, . .

PAULA A C H I L L E S