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Alvacir Raposo
Ana Maria César
Ângelo Monteiro
Antônio Campos
Bartyra Soares
Dirceu Rabelo
Francisco Barreto (Chicão)
Flávio Chaves
José Paulo Cavalcanti Filho
José Mário Rodrigues
Lourdes Sarmento
Lucilo Varejão Neto
Luzilá Gonçalves Ferreira
Olimpio Bonald Neto
Paulo Gustavo
Palavra da Presidente
Margarida Cantarelli
Agora chega o Jornal “APL em Poesia & Prosa” sob a coordenação editorial
da acadêmica Lourdes Sarmento e da jornalista Raphaela Nicácio. O trabalho
exigiu muita competência e dedicação de ambas o que merece o
reconhecimento e um especial agradecimento. Ressalte-se, também, a plena
adesão dos acadêmicos que deram grande contribuição disponibilizando as
suas poesias que possibilitaram esta edição. A todos o agradecimento e a
A Academia Pernambucana de Letras – com o lançamento do primeiro
número do Jornal “APL em Poesia & Prosa” – dá mais um passo ao se conectar
com os meios eletrônicos para a difusão das obras e da vida dos acadêmicos
atuais e do passado. Essa modalidade de comunicação permite um espaço mais
amplo para o conteúdo a ser divulgado a um custo ínfimo e um acesso mais
rápido e direto dos seus leitores de acordo com o propósito de inserção plena da
sociedade nas atividades da Casa.
Adotaram-se as redes sociais: Facebook, Instagram e um canal no YouTube
de modo que as notícias, os convites, artigos dos acadêmicos publicados na
imprensa local e muitos outros temas estivessem à disposição do público que
cada vez mais utiliza esses meios no dia a dia. A internet tem propiciado uma
grande participação de pessoas, de todas as idades e das mais diversas
localidades, na vida da Academia, o que fica constatado pelo expressivo número
de visualizações e de seguidores.
A partir de 2016, a APL enveredou mais fortemente pelos modernos,
práticos e acessíveis caminhos digitais criando inicialmente um novo Site e
passo a passo foi avançando, com a inclusão de livros na base da “Biblioteca
Waldemar Lopes”. Foram cadastrados 16.800 exemplares no sistema Bibilivre5,
o que facilita enormemente a consulta pelos pesquisadores e nos inclui nesse
grande programa de troca de informações bibliográficas.
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
certeza de que a sociedade vai usufruir largamente desta publicação, de modo
especial aqueles professores e estudantes que se interessam pela poesia e não
têm oportunidades, nem meios financeiros para a aquisição das obras.
A Diretoria renova os agradecimentos a todos e conta com a colaboração
de cada um para levar adiante este novo Projeto da APL, a fim de continuar
prestando mais essa efetiva contribuição à sociedade e à cultura pernambucana.
Este primeiro número é dedicado à produção dos atuais poetas da Casa.
Com essa opção desejou-se, além da ampla divulgação dos textos, atrair todo
um público amante da poesia para um aprofundamento na obra dos nossos
poetas, tendo como suporte para leitura e pesquisa a “Biblioteca Waldemar
Lopes”.
O próximo número também está programado para 2018, trazendo um pouco
da poesia dos acadêmicos do passado. Missão mais desafiadora porque a
escolha dos textos ficará a cargo das editoras, com o apoio dos atuais
acadêmicos. A publicação terá significativa importância, relembrando os poetas
que integraram esta Academia, muitos deles, pela sombra do tempo, tornaram-
se menos visíveis e pouco conhecidos pelos mais jovens.
Expediente
Editoria: Lourdes Sarmento (coordenação) | Raphaela Nicácio (jornalista, DRT/PE 3699).Revisão: Ana Maria César. Fotos: Dalva Oliveira, Arquivo APL. Impressão: Lucigraf. Diagramação: Erivaldo Passos
Diretoria da APL: Presidente da Academia Pernambucana de Letras: Margarida Cantarelli | 1º
Vice-presidente: Luzilá Gonçalves Ferreira | 2º Vice- presidente: Nilzardo Carneiro Leão | Secretário
Geral: Lucilo de Medeiros Dourado Varejão | 1º Secretário: Antônio Dirceu Rabelo de Vasconcelos | 2º
Secretário: José Mário Rodrigues | Tesoureira: Anna Maria César | Comissão de Contas: Amaury de
Siqueira Medeiros, Alvacir Raposo Filho, Olimpio Bonald Neto. Suplente: Arthur Eduardo de Oliveira
Carvalho | Comissão da Memória: Rostand Paraíso, Roque de Brito Alves, José Luiz da Mota Menezes
| Revista APL: Paulo Gustavo Oliveira | Arquivo: Flávio Chaves | Publicações: Lourdes Sarmento |
Biblioteca: Cícero Belmar.
ACADEMIA PERNAMBUCANA DE LETRAS
Av. Rui Barbosa, 1596, Graças, Recife-PE. CEP: 52050-000. Tel.: 81. 3268-2211
Site: www.aplpe.org.br | Faceook: www.facebook.com/academiadeletras.pe
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
Há uma lua que vaga
cobrindo com seus espelhos
lançando flechas de prata
na moldura da janela.
as cumeeiras das casas.
Há uma lua que vaga,
Há uma lua em meu quarto
BALADA DA LUA
pendurada como tela,
e embriagada de sol.
e por ser bela, anda nua.
toda noite em minha rua
Por ser vadia, não dorme;
suspensa como um farol,
Há uma lua que voa
lá no alto sem ter asas,
alva, redonda e serena
Alvacir Raposo
com uma vela na mão.
dos astros, dentro da noite,
como e fossem cascatas.
Há uma lua boêmia,
vertendo favos de mel,
que canta nas serenatas,
Há uma lua contrita,
que anda na procissão
nas minhas noites de medos,
a quem revelo os meus sonhos
Há uma lua em vigília
e a quem confesso segredos.
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
SONETO
uma canção de medo que devora
eu que confundo as horas, que me perco,
do tempo a me roubar manhãs inteiras.
e já não sei dos ventos nem das ruas?
Tenho comigo tão-somente o assédio
nesse clima sem cor e de umidade,
E vago nesse espaço com meu tédio
nos subúrbios a luz e a claridade.
Desce um cansaço sobre mim e aflora,
indiferente às frutas e às roseiras.
Aonde vou com minhas mãos pendentes,
Sinto a aflição das coisas mais urgentes,
e preso à contingência desse cerco,
levanto as minhas mãos buscando as tuas.
Alvacir Raposo nascido em Teresina (PI). Médico e professor aposentado da UFPE e da UPE, pós-graduado (Mestrado e Doutorado). Recebeu os seguintes prêmios literários: Prêmio Mauro Mota- FUNDARPE, 1992 e 1993; Prêmio de poesia da APL, 1993; Prêmio Ladjane Bandeira – Diário de Pernambuco, 1994; Prêmio Eugênio Coimbra Jr – Conselho Municipal de Cultura do Recife, 1995; Prêmio de poesia da APL, 1996. É autor de várias obras como “A Resistência e a Natividade” (1994); “A Casa do Vinho” (1994); “O Galo de Metal” (1995); “Rua dos Arcos” (1996); “O Discurso do Rei” (1996); “Sonetos” (1999); “O Território” (1999); “O tambores” (2000); “O Pássaro e a Arca” (2001); “Ensaio das Lâminas” (2003).
Alvacir Raposo
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
ODE ÀS FOLHAS NO JARDIM DE LUZILÁÀ escritora
Luzilá Gonçalves Ferreira
também varreu as folhas da rua
e varrendo varreu o mundo.
depois varreu as folhas da calçada
e varrendo varreu a cidade
havia folhas na rua.
Mas no mundo
só havia folhas nas árvores.
havia folhas no jardim
Dia seguinte
e varrendo varreu o bairro
havia folhas na calçada
Folhas secas no jardim
folhas secas na rua
folhas secas na calçada
pintada de azul-rei,
no chão da rua.
Num outono tropical,
ouvindo As Quatro Estações de Vivaldi
ela varreu as folhas do jardim
todo dia ela rega as plantas
- estreita e antiga rua -
caídas no chão do jardim,
no chão da calçada,
e na casa dix-huitième,
todo dia ela varre as folhas
Ana Maria César
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
CAMADAS DE TINTA DE AZULAos companheiros
da Academia Pernambucana de Letras
o azul do ontem
o de antes do ontem
do Casarão Rodrigues Mendes.
escondidas sob camadas de tinta
camadas de tinta azul se desmancham
da Academia de Letras
Logo, entre silêncios e falas,
Os passos das gentes atravessam todas as cores
como pesa o tempo sobre os deuses:
açoitando os velhos muros
até se saturarem das nuanças
Nos velhos muros da Academia
os muitos tons de azul pesam sobre nós
o de muito antes do ontem
azul de todas as memórias
nos desvãos de um tempo lavrado em poesia
e estudos filosóficos.
nas paredes estáticas e voláteis
Ana Maria César (Anna Maria Ventura de Lyra e César) nasceu no Recife. Publicou: Ensaio:
Lira e César, Juiz de Caruaru; A Bala e a Mitra; A Faculdade Sitiada; Último Porto de Henrique
Galvão; Poesia: Versos Voláteis; No limiar do tempo; Poemas arcaicos & outros mais; Ficção:
O Tom Azul; Habemus vinum – antimemórias do absurdo; História: 50 anos do Senac em
Pernambuco; Memória: Gênesis; Habemus Panem – memórias de uma época.
contam lendas
entre mangueiras e telhados.
Aqui,
– eles se vão, mas retornam no azul
– perdidas –
onde as eras
tanto ontem quanto hoje,
acadêmicos se revezam
– superpostas –
das paredes –
medindo versos
e se refazendo em palavras tantas.
Dormem todos os que aqui tiveram assento
parindo ideias
nos velhos muros da Academia.
que logo se apoderam do imortal instante
e se assentam ainda outros tantos
de se fazerem em tons de azul
Ana Maria César
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
A PERDIÇÃO DA LÍNGUA
a começar da língua onde se ancora
Nasci em dia atado à má fortuna
numa pátria em que, mal abrindo os olhos,
divisei os caminhos do esquecer
a passagem de tudo que vivemos.
não dá mais conta nem do seu silêncio.
E toda língua cala se a memória
Ângelo Monteiro
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
A PERDIDA DESCOBERTA
Quem não quer deixar rastro
porque nada conseguem ver:
Há os que nunca são vistos
e como irão por isso
em outro olhar aparecer?
nenhum de sua passagem,
do que viveu qualquer imagem?
como então recolher da ausência
Ângelo Monteiro, poeta e ensaísta, nascido em Penedo, Alagoas, é autor dos seguintes livros: “Os olhos da vigília”, “Todas as coisas têm língua”, “Como virar as páginas da solidão”, “Imagens em fuga & o trapézio dos dias” e “O inquisidor e as lições de passagem”, todos de poesia. É autor das seguintes obras em prosa: “Tratado da lavação da burra”, “O conhecimento do poético em Jorge de Lima”, “Escolha e sobrevivência” e “Arte ou desastre”.
Ângelo Monteiro
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
A SAFRA
Um dia, virá a palavra,
Na solidão e na tristeza,
melhor é ficar calado.
o sofrimento domesticado.
e o tempo correrá
Então, colheremos a safra:
ao nosso lado.
(Portal de sonhos, poemas, Editora Escrituras, 2008)
Antônio Campos
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
ganha asas minha imaginação,
de um amor que cresce com a noite,
EM BUSCA DA ESTRELA INFINITA...
Quando se põe o sol,
e estás em meus braços,
buscando a estrela infinita,
E outra luz que surge de uma noite enluarada,
semente de Deus nas criaturas.
em um entardecer de verão.
mostra-nos como é breve a vida,
para desvendar o grande mistério da existência:
e que só há um verdadeiro caminho
o milagre transformador do amor,
com a noite e o dia,
(Uruguai, Casapueblo, 26.06.04, poema inédito)
Antônio Campos é poeta, tradutor e advogado. Nasceu no município de Pedra-PE. É detentor de prêmios literários: “III Concurso de Poesia do Mackenzie”, SP, e “I Prêmio Anual de Poesia Carlos Pena Filho”, PE. Organizou várias antologias como “Natal Pernambucano”, “Pernambuco Terra da Poesia”, “Panorâmica do conto em Pernambuco”. É autor de muitas obras como “Mais forte que o mal” (1979); “Crítica da razão vivida e outros poemas” (1982); “20 tiranas de amor mais 10 canções de amor às avessas” (1985), “Feito no Coração” (1999).
Antônio Campos
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
com seus artifícios fluía em lenta penumbra,
Foste tu, Borges, poeta das espadas
Foi o teu Elogio da Sombra, Borges,
como o golpear de asas de um pássaro noturno
ODE A JORGE LUIS BORGES
indicando-me não ser fora da realidade
sentir a face da luz cerrando suas pálpebras
não da noite, mas da meia-luz
a conduzir-me a incessantes planícies.
fazendo-me perceber que o tempo
dos labirintos, dos espelhos. Homem das ruínas
de vista nossa imagem?"
circulares que com suavidade me levaste
a indagar: "Em qual reflexo perdemos
Bartyra Soares
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
nos aplausos e as vozes que cantavam.
apaga-acende, escutei o frêmito das mãos
Mesmo com o mais próximo dos amigos.
Impossível repartir aquele momento
de Leonardo da Vinci, ali na parede,
SOLIDÃO
com os convivas ao redor da mesa.
Difícil compreender a alegria da sala
onde aconteceu a divisão do bolo, apesar
do Cristo na réplica da Última Ceia
e não prescindir da lembrança da dor.
Indiferente ao burburinho, à volta da vela
Mãos e vozes que não eram as minhas.
Bartyra Soares é pernambucana de Catende - PE. Fez seu primeiro poema aos 6 anos, na
época, publicado no suplemento infantil do Diario de Pernambuco. Poeta, ensaísta, contista e
articulista já publicou 15 livros. Seus trabalhos se espalham em revistas e jornais do Sul,
Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do país. Seu Oratório da Paixão, escrito em parceria com a
poeta Maria do Carmo Barreto Campello de Melo, foi encenado em diversos locais do Recife e
interior do estado. É detentora de 16 prêmios literários. Participou de inúmeras antologias.
Pertence à Academia Pernambucana de Letras - APL, e à Academia de Letras e Artes do Nordeste -
ALANE.
Bartyra Soares
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
PLUVIAL II
Se quereis o fruto deste engenho,
basta que me mandeis alguma chuva:
que a terra arada e o que plantar eu tenho.
A minha inspiração se faz viúva,
temporária de tal musa esquisita que,
quadrienalmente, se debruça
na janela bissexta e me visita.
Se quereis ver cantada minha mágoa,
basta que me mandeis alguma chuva:
− Sou nordestino, necessito d'água,
com CH de choro e o resto de UVA.
Eu sou aceitação, vós, a recusa.
Já que não vindes até a mim, eu venho
a vós, ó rara e fugitiva musa.
Dirceu Rabelo
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
Organizada, a ideia se concentre;
E nesse instante a gestação termine;
e o soneto liberte-se do ventre.
Seja de chuva o dia, a brisa, mansa,
penetre pelas frinchas das janelas;
e as folhas cumprimentem-se naquelas
verdes ondulações de afago e dança.
PLUVIAL IV(Soneto Subjuntivo)
Toda essência do verso se refine;
e alguma luz inesperada adentre
na inspiração do poeta e o ilumine.
Essa motivação natural faça
que em palavras a Ideia se organize
e o verso inaugural flua e deslize,
tal como pingo d'água na vidraça.
Dirceu Rabelo
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
O BEIJO
Os beijos que outras me deram
não me valeram metade
do beijo que não me deste.
Num beijo teu eu ergueria um mundo;
e ele, afinal, te custaria apenas
a efemeridade de um segundo.
Dirceu Rabelo é poeta bissexto, como ele costuma intitular-se. Sertanejo de Tuparetama-PE, advogado, professor, publicou várias obras como “Poesia Menor” (1971), “O Mensageiro do Rei e Outros Poemas” (1989), “Chuva Bissexta” (1991); “O Canto Antecedente” (1994); “Elegias e Outros Poemas Reunidos” (1996); “Versos de Circunstância” (2003); “30 Poemas Escolhidos” (2008), “Sonetos Circunstanciais” (2014); “Sonetos Circunstanciais” (2015); “35 Sonetos Escolhidos” (2016), “Sexta dezena de sonetos” (2017).
Dirceu Rabelo
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
"ESPERANÇA IMPOSSÍVEL”
ELA SAIU TÃO DEPRESSA
QUE NEM A PORTA DA CASA
AO PARTIR ELA FECHOU.
UM ADEUS POR DESPEDIDA
ERA UMA COISA CABIDA,
A PRESSA TAMBÉM LEVOU
UMA ESPERANÇA IMPOSSÍVEL
GERMINOU POR TODO CANTO
NO PEITO DE QUEM FICOU...
Francisco Barreto (Chicão)
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
A METADE
NESTE JOGO DO EU E DO OUTRO
DA LIBERDADE E DO DEPENDER
DO SE MANTER
E DO CRESCERMOS JUNTOS
SE TU NÃO FALTAS
NÃO ME FALTA NADA .
ESTAR CONTIGO É TUDO.
Francisco Barreto: “o nome de pessoa. Profissionalmente como médico tenho por nome um apelido: Chicão. É o que fui, sobretudo desde os meus onze anos, antes disso fui poeta, criança que pensava a vida deitado nos galhos das árvores do quintal e escrevia na areia com os gravetos caídos. Depois tentei sufocar o poeta em vão e ele se misturou ao médico. Considero-me bastante recluso justificando a necessidade profissional, mas sem deixar de me espantar com o mundo a minha volta sem recusar a vê-lo e nem de contribuir para que melhore”.
Francisco Barreto (Chicão)
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
A ALMA COMO TESTEMUNHA
Em silêncio galopo nos braços de Deus
lendo um quintal de cartas e madrugadas
Fevereiro traz amor na fábula da sonata
e o céu, o calendário, o brinquedo: são só teus
Pastores conduzem a linguagem no rebanho do coração
o mistério soletra castelos de vinho do porto
a afagar nos teus olhos a luz viva da mão
Repicando cantigas de cristal em sino de aquarela
que o amor-verão arruma a alma e esconde o tempo
pautando metáforas agudas no horizonte da janela
Onde reina a infância de alfenim no almanaque
da ausência ancorada no relógio da algibeira
rebanhos de fadas ensaiam o riso no parque
como quem escreve amor no lenho da oliveira
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
Flávio Chaves
Enfim, ardidos, nos dissolvemos nós. As rugas
são tudo o que visível resta: inventário
e herança coletivos. Ponto. O resto é fuga.
Em que rua do passado busco a infância?
O menino que sou como componho?
a aguda voz de vento, o amolado gesto de sonho
e eu um resto de ardente desesperança
INVENTÁRIO ARQUITETADO NA INFÂNCIA
Entre a cinza e a sombra só suponho
a leitura do caminhar sem contradança
os passos de Carlitos e a lágrima que no rosto exponho
efígie arquitetada no mormaço da lembrança
Que logo alucinado se dissolve em momentos
tão breves que um secreto e tímido calendário
reduz-me de súbito em esquecimento
Flávio Chaves é jornalista, administrador de empresas, consultor de comunicação e marketing, ensaísta, crítico literário, filólogo, escritor e poeta. Nascido em Carpina-PE, iniciou sua vida literária aos 25 anos, em 1983, quando publicou o livro de poesia “Digitais de um Coração”. A partir daí, vários de seus trabalhos passaram a ser publicados regularmente em jornais e revistas do País. É autor de várias obras como “Aragem do subterrâneo”, “Canções de vento e mar – a palavra escrita”, “Ofício de existir”, “Território da lembrança”, “Vocabulário das sombras”, “Porto dos vitrais - Antologia poética” e “Alvoroço do invisível”.
Flávio Chaves
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
SONETO DA PARTIDA
A morte é passaporte para a vida
Nos cabe nesta vida azar ou sorte
E nesse caminhar que é partida
Se a vida é uma estrada para a morte
E antes da chegada ou da partida
Embora falte tempo para a morte
O tempo segue sempre a sua sorte
E é também chegada para a morte
Sem nem saber o mapa dessa vida
Porque desde o momento da partida
Choramos sem sentir a triste sorte
Da morte que é somente o fim da vida
Também não sobra tempo para a vida
Da vida que é maior que a própria morte.
José Paulo Cavalcanti Filho é advogado, consultor da Unesco e do Banco Mundial, ex-
ministro da Justiça, membro da Academia Pernambucana de Letras, membro da Comissão
Nacional da Verdade. É autor de vários livros como “Informação e poder”, “O mel e o fel”,
“Adeus Penderama e Outros Escritos”, “Somente a verdade”, e “Fernando Pessoa, uma
quase autobiografia” que recebeu os Prêmios Jabuti, Bienal do Livro (Brasília), Revista
Algomais (Pernambuco), José Ermírio de Moraes (da Academia Brasileira de Letras) e Dario
Castro Alves (em Portugal).
José Paulo Cavalcanti Filho
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
PRIMEIRA ESTAÇÃO
És o meu refúgio de salvação
Pudesse eu mentir
a quem me pedisse conselhos
porque os pássaros vêm e voltam
quando os ventos agrupam nômades no deserto.
És minha divina compreensão
− a minha única margem
e sabes que minhas intenções
não tem abismos.
És minha única amiga
meu repouso sem distâncias
e vens
justamente
quando as nuvens estão tramando inverno.
Os iguanos assistem parados
ao movimento das folhas
mas possuem magia
que transparecem de claridade nos sapos.
José Mário Rodrigues
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
SEGUNDA ESTAÇÃO
Não exijas sopro de imensidade
em mim as quedas se sucedem
pois também os gatos adivinham résteas
que sobrarão leves sobre os muros.
Ao fim do dia
pesamos mais: as mesas
as garrafas
as conversas inúteis
e esse sair por aí desordenando esquinas.
Já dormimos bastante
e os demônios comandaram o nosso sono.
Para que domar vértices de estrelas
e desenhar centauros sobre o mundo?
Vê que os esquecidos rumaram para as águas
e uma enchente de sangue se prepara.
José Mário Rodrigues: “Nasci em Flores e em Garanhuns renasci. Flores, usando um verso de Drummond, “é um retrato na parede”. Em Garanhuns, o Colégio Diocesano e os seus Mestres tiveram um peso expressivo na minha formação intelectual. Comecei a tomar gosto pelo que viria a ser uma danação interminável ou um vírus que, uma vez contraído nunca mais a gente se liberta: o Jornal, onde o poema corre solto, dignificando a Literatura ou se esvaindo no dia-a-dia das cidades. O jornal O Monitor foi a primeira escola e a mais completa. Aprendi a escrever crônicas, poesias, artigos e comentários sobre livros. No Recife, estudando na Faculdade de Direito e publicando poemas e artigos nos Suplementos do Diário de
Pernambuco e do Jornal do Commercio, conheci companheiros da Geração 65 que engrandecem a nossa Literatura e com os quais convivo até hoje. Conheço muita gente, mas tenho poucos amigos. Só escrevo poesia quando tenho um motivo. Um dia vão me faltar os motivos, bem sei. Não tenho medo desse dia, mas gostaria que ele chegasse bem antes de eu cometer alguma indignidade, ou grave injustiça ou traição aos meus princípios de ser humano, que se mostra como é, em toda a verdade de sua natureza”.
José Mário Rodrigues
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Não sou o talismã antigo
caem como granizos
(estilhaços da pedra
no coração dos homens)
no silêncio que carrega
RITUAL I
que bebem a noite.
e os ventos pastam
exercito a vida –
dentro de mim
Parte-se uma esmeralda
– senha das estrelas
A palavra é minha agonia
como a água do mar
onde habito
que respira imenso verde
a esmeralda partida.
Se vivo nesta pedra, ou dela apenas
não cumpro o tempo dos cristais
nada me assegura o instante.
não cumpro o ritual do verso
Lourdes Sarmento
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
tingindo o chão
é o cio da vida
é a memória do canto
Se alguém perguntar
rasgam meus pés
Onde as presas do tempo
A palavra é o fogo
é o vômito da minha dor
CANTO DE CRISTAIS
aporto no meu canto.
submersa
que sopra brisa
e mandalas.
Quem o entender
agoniza como eu.
meu destino
entrega meu canto
Lourdes Sarmento nasceu no Recife-PE. Escreveu o seu primeiro poema aos oito anos de idade. Tem 26 livros publicados em português, inglês, francês e espanhol. Entre eles citamos “Explosão das Manhãs”, “Tatuagens da Solidão”, “Olhos de Tigre”, “Vingt-Cinq Poèmes de Passion”, “7 Cartas e uma Confissão de Amor”, “Rituales del Deseo”- Edição bilíngue, Editora Francachela - Buenos Aires- Argentina, “El Tiempo de las Ofrendas”- Ediciones Alejo - Lima - Peru, “Cinquenta Poemas Escolhidos pelo Autor”- Edições Galo Branco - Rio de Janeiro, “Liberdade de Pássaro” e “O segredo das Acácias”. Foi convidada pela Editora Vericuetos/ Chemins Scabreux, em Paris, para organizar a “Antologia Poésie du Brésil”, em 1997. Escritora, pesquisadora, biógrafa e jornalista já apresentou vários trabalhos e conferências nos Estados Unidos (Washington e Miami), Lima (Peru), Cidade do México, Lisboa (Portugal), Buenos Aires (Argentina). Além dos prêmios literários, recebeu inúmeras homenagens no
Rio de Janeiro, Fortaleza, Minas, Alagoas, entre outros.
Lourdes Sarmento
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
Talvez na rede um resto de perfume
AUSÊNCIA
a palavra de amor não pronunciada
Menino, flor
Que restou desse amor
Desfeito por nós dois antes mesmo de ser?
Talvez em ti um gosto de já-visto
Mario de Andrade em viola e na parede
A Bachiana pela madrugada,
Ficou dentro de mim a ausência tua
Ficou essa ternura irresolvida
do teu corpo moreno a nostalgia
e este poema que não vale nada.
Luzilá Gonçalves Ferreira
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
POEMA DE NATAL
Persiste na alegria a antiga tristeza:
Aqui começa a cruz.
Não mudou o Natal nem mudei eu
No coração do homem sempre o mesmo vazio
Se lá fora há canções, presentes, sons de sino
Que tem a exata forma do corpo de um Menino.
Luzilá Gonçalves Ferreira, nascida em Garanhuns, cidadã recifense. Sete romances publicados, livros de ensaios, vários prêmios literários, entre eles Portugal Telecom, Jorge de Lima de Poesia pela UFAL, romance histórico da ABL, Lucilo Varejão da Prefeitura do Recife. Doutora em Letras pela Universidade Paris VII, professora na UFPE, pesquisadora.
Luzilá Gonçalves Ferreira
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
do cheiro da terra,
Olinda é o meu lugar.
do seu sol,
do seu mar,
inquietas e curiosas,
personagem vivo da cidade.
vejo o olhar das frestas
Eu gosto
do seu céu,
de sua lua e estrelas
OLINDA
dos seus quintais, de suas frutas,
de seus jardins, de suas flores,
que incensa o ar.
Eu sinto a presença
que me fazem viver e sonhar.
Eu ouço o cochichar
atrás das janelas,
que me fazem sentir como
Lucilo Varejão Neto
Mas Olinda é luz e vida,
o piar das corujas ou ainda,
pois os que aqui vivem,
faz a história se
ao lado do seu majestoso nome
desenovelar com seus heróis
que de mãos dadas e
diante dos meus olhos.
que assobiam ao vento,
esse canto dos pássaros,
o grito dos miseráveis
que sofrem por suas ladeiras.
Eu observo o casario
bem coladas
Eu sou essas palmeiras
e ficamos sempre orgulhosos
quando somos lembrados
sabem muito bem que
Olinda é o seu lugar.
Lucilo Varejão Neto é escritor, tradutor, professor da UFPE. Pertence às Academias: Pernambucana de Letras; Recifense de Letras; Olindense de Letras; de Letras e Artes do Nordeste e ao Instituto Histórico de Olinda. Autor de “De Mersault à Meursault”; “Estro Olindense”; “Entre o Homem e o Mundo”; “Escritos e Escritores”; “Dias de Olinda”; “Histórias Verdadeiras”; “Escritos”; “Brasil e França: duas culturas inspiradoras” e de poesias, contos e ensaios diversos.
Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018
SONETOS DOS CICLONES ÍNTIMOS
Que a sarabanda ilógica dos ventos
E as convulsões exatas dos desejos
Explodem em nossos olhos torturados.
Somos dois para um no mesmo abraço
No mesmo soluçar, no mesmo grito
Leves formas de sombras imprecisas
Delgadas, claras, mansas, infinitas.
Os mesmos oceanos nos habitam
Por isso nossos braços se procuram
E prendem-se no beijo angustiado
Quando as marés estouram em nossas frontes.
Libertemos agora o grito imenso
Dos ciclones que jazem em nosso peito
E deixemos o amor brilhar nas faces.
Olinda, outubro, 1954.
Olimpio Bonald Neto
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Amemos a frieza da areias
e o silêncio milenar das pedras
no frio e no silêncio que seremos
Cultuemos amor ao inanimado
que um dia os nossos pés se ajuntarão
ao silêncio do chumbo e à cor das cinzas.
AO MINERAL
Facilmente somos permeáveis
à música dos sinos e dos ventos
porque nos alicerces da memória
os búzios e os metais se fraternizam
A terra que nos cria e nos sustenta
e nos serve de berço e de sepulcro
vive conosco como, impregnada,
de barro a nossa vida se limita.
Olimpio Bonald Neto é natural de Olinda-PE. Escritor, poeta, contista, ensaísta, pesquisador e artista plástico. Tem trabalhos literários publicados em jornais, revistas e antologias nacionais e estrangeiras. É autor de vária obras como “Dura e breve historia da Ilha do Maruim”, “Sangue e Sonhos Reinventados”, “O Livro da Poesia de Olimpio Bonald Neto”, “Ideologia dos anos trinta”, “Bacamarte, Pólvora e Povo”, “Latrinária, Cultura”, “Turismo e Tempo”, “Uma lembrança de flor”, “Seresta em Tempo de Caju”, “O homem que devia ter
morrido há 3 anos”, “Gigantes Foliões em Pernambuco”, “Tango – Reggae y outros Cuentos”, “Estudo de Cor na Zona da Mata Sul Pernambucana”.
Olimpio Bonald Neto
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E por fim o entreguei à solidão da morte,
Era preciso dormir o infinito sono.
DESPEDIDA
À memória de Proust, meu cão
Lá onde carinhos nem palavras nunca chegarão.
Meus olhos o cobriam de flores e de beijos.
Água para a longa travessia
da dura e triste eternidade.
Com minhas lágrimas, teria água para sua sede,
Paulo Gustavo
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LUA ARGENTINA
— Memória de tantas perdas,
Bela é a lua quando sofre
— Lágrima do sol, a lua.
A lua austral que desperta
A epopeia dos sonhos
O refúgio entre dois gritos.
Se na lua há um destino.
— Pousa, líquida, sem norte.
O amor só é verdadeiro
Em busca da noite escura
A ti queria dizer-te:
A tua paixão perdida.
Amor que não diz sem porto.
— Toma da lua, a cativa,
O espelho em que esqueceste
Também eu busco o silêncio,
Paulo Gustavo é membro da Academia Pernambucana de Letras, sócio-fundador da Consultexto e ex-editor da Editora Massangana da Fundação Joaquim Nabuco. Especialista em Proust e Guimarães Rosa. Autor de sete livros de poesia.
Paulo Gustavo
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