Flávio Chaves - aplpe.org.br · e embriagada de sol. e por ser bela, anda nua. toda noite em minha...

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Alvacir Raposo Ana Maria César Ângelo Monteiro Antônio Campos Bartyra Soares Dirceu Rabelo Francisco Barreto (Chicão) Flávio Chaves José Paulo Cavalcanti Filho José Mário Rodrigues Lourdes Sarmento Lucilo Varejão Neto Luzilá Gonçalves Ferreira Olimpio Bonald Neto Paulo Gustavo

Transcript of Flávio Chaves - aplpe.org.br · e embriagada de sol. e por ser bela, anda nua. toda noite em minha...

Alvacir Raposo

Ana Maria César

Ângelo Monteiro

Antônio Campos

Bartyra Soares

Dirceu Rabelo

Francisco Barreto (Chicão)

Flávio Chaves

José Paulo Cavalcanti Filho

José Mário Rodrigues

Lourdes Sarmento

Lucilo Varejão Neto

Luzilá Gonçalves Ferreira

Olimpio Bonald Neto

Paulo Gustavo

Palavra da Presidente

Margarida Cantarelli

Agora chega o Jornal “APL em Poesia & Prosa” sob a coordenação editorial

da acadêmica Lourdes Sarmento e da jornalista Raphaela Nicácio. O trabalho

exigiu muita competência e dedicação de ambas o que merece o

reconhecimento e um especial agradecimento. Ressalte-se, também, a plena

adesão dos acadêmicos que deram grande contribuição disponibilizando as

suas poesias que possibilitaram esta edição. A todos o agradecimento e a

A Academia Pernambucana de Letras – com o lançamento do primeiro

número do Jornal “APL em Poesia & Prosa” – dá mais um passo ao se conectar

com os meios eletrônicos para a difusão das obras e da vida dos acadêmicos

atuais e do passado. Essa modalidade de comunicação permite um espaço mais

amplo para o conteúdo a ser divulgado a um custo ínfimo e um acesso mais

rápido e direto dos seus leitores de acordo com o propósito de inserção plena da

sociedade nas atividades da Casa.

Adotaram-se as redes sociais: Facebook, Instagram e um canal no YouTube

de modo que as notícias, os convites, artigos dos acadêmicos publicados na

imprensa local e muitos outros temas estivessem à disposição do público que

cada vez mais utiliza esses meios no dia a dia. A internet tem propiciado uma

grande participação de pessoas, de todas as idades e das mais diversas

localidades, na vida da Academia, o que fica constatado pelo expressivo número

de visualizações e de seguidores.

A partir de 2016, a APL enveredou mais fortemente pelos modernos,

práticos e acessíveis caminhos digitais criando inicialmente um novo Site e

passo a passo foi avançando, com a inclusão de livros na base da “Biblioteca

Waldemar Lopes”. Foram cadastrados 16.800 exemplares no sistema Bibilivre5,

o que facilita enormemente a consulta pelos pesquisadores e nos inclui nesse

grande programa de troca de informações bibliográficas.

Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018

certeza de que a sociedade vai usufruir largamente desta publicação, de modo

especial aqueles professores e estudantes que se interessam pela poesia e não

têm oportunidades, nem meios financeiros para a aquisição das obras.

A Diretoria renova os agradecimentos a todos e conta com a colaboração

de cada um para levar adiante este novo Projeto da APL, a fim de continuar

prestando mais essa efetiva contribuição à sociedade e à cultura pernambucana.

Este primeiro número é dedicado à produção dos atuais poetas da Casa.

Com essa opção desejou-se, além da ampla divulgação dos textos, atrair todo

um público amante da poesia para um aprofundamento na obra dos nossos

poetas, tendo como suporte para leitura e pesquisa a “Biblioteca Waldemar

Lopes”.

O próximo número também está programado para 2018, trazendo um pouco

da poesia dos acadêmicos do passado. Missão mais desafiadora porque a

escolha dos textos ficará a cargo das editoras, com o apoio dos atuais

acadêmicos. A publicação terá significativa importância, relembrando os poetas

que integraram esta Academia, muitos deles, pela sombra do tempo, tornaram-

se menos visíveis e pouco conhecidos pelos mais jovens.

Expediente

Editoria: Lourdes Sarmento (coordenação) | Raphaela Nicácio (jornalista, DRT/PE 3699).Revisão: Ana Maria César. Fotos: Dalva Oliveira, Arquivo APL. Impressão: Lucigraf. Diagramação: Erivaldo Passos

Diretoria da APL: Presidente da Academia Pernambucana de Letras: Margarida Cantarelli | 1º

Vice-presidente: Luzilá Gonçalves Ferreira | 2º Vice- presidente: Nilzardo Carneiro Leão | Secretário

Geral: Lucilo de Medeiros Dourado Varejão | 1º Secretário: Antônio Dirceu Rabelo de Vasconcelos | 2º

Secretário: José Mário Rodrigues | Tesoureira: Anna Maria César | Comissão de Contas: Amaury de

Siqueira Medeiros, Alvacir Raposo Filho, Olimpio Bonald Neto. Suplente: Arthur Eduardo de Oliveira

Carvalho | Comissão da Memória: Rostand Paraíso, Roque de Brito Alves, José Luiz da Mota Menezes

| Revista APL: Paulo Gustavo Oliveira | Arquivo: Flávio Chaves | Publicações: Lourdes Sarmento |

Biblioteca: Cícero Belmar.

ACADEMIA PERNAMBUCANA DE LETRAS

Av. Rui Barbosa, 1596, Graças, Recife-PE. CEP: 52050-000. Tel.: 81. 3268-2211

Site: www.aplpe.org.br | Faceook: www.facebook.com/academiadeletras.pe

Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018

Há uma lua que vaga

cobrindo com seus espelhos

lançando flechas de prata

na moldura da janela.

as cumeeiras das casas.

Há uma lua que vaga,

Há uma lua em meu quarto

BALADA DA LUA

pendurada como tela,

e embriagada de sol.

e por ser bela, anda nua.

toda noite em minha rua

Por ser vadia, não dorme;

suspensa como um farol,

Há uma lua que voa

lá no alto sem ter asas,

alva, redonda e serena

Alvacir Raposo

com uma vela na mão.

dos astros, dentro da noite,

como e fossem cascatas.

Há uma lua boêmia,

vertendo favos de mel,

que canta nas serenatas,

Há uma lua contrita,

que anda na procissão

nas minhas noites de medos,

a quem revelo os meus sonhos

Há uma lua em vigília

e a quem confesso segredos.

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SONETO

uma canção de medo que devora

eu que confundo as horas, que me perco,

do tempo a me roubar manhãs inteiras.

e já não sei dos ventos nem das ruas?

Tenho comigo tão-somente o assédio

nesse clima sem cor e de umidade,

E vago nesse espaço com meu tédio

nos subúrbios a luz e a claridade.

Desce um cansaço sobre mim e aflora,

indiferente às frutas e às roseiras.

Aonde vou com minhas mãos pendentes,

Sinto a aflição das coisas mais urgentes,

e preso à contingência desse cerco,

levanto as minhas mãos buscando as tuas.

Alvacir Raposo nascido em Teresina (PI). Médico e professor aposentado da UFPE e da UPE, pós-graduado (Mestrado e Doutorado). Recebeu os seguintes prêmios literários: Prêmio Mauro Mota- FUNDARPE, 1992 e 1993; Prêmio de poesia da APL, 1993; Prêmio Ladjane Bandeira – Diário de Pernambuco, 1994; Prêmio Eugênio Coimbra Jr – Conselho Municipal de Cultura do Recife, 1995; Prêmio de poesia da APL, 1996. É autor de várias obras como “A Resistência e a Natividade” (1994); “A Casa do Vinho” (1994); “O Galo de Metal” (1995); “Rua dos Arcos” (1996); “O Discurso do Rei” (1996); “Sonetos” (1999); “O Território” (1999); “O tambores” (2000); “O Pássaro e a Arca” (2001); “Ensaio das Lâminas” (2003).

Alvacir Raposo

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ODE ÀS FOLHAS NO JARDIM DE LUZILÁÀ escritora

Luzilá Gonçalves Ferreira

também varreu as folhas da rua

e varrendo varreu o mundo.

depois varreu as folhas da calçada

e varrendo varreu a cidade

havia folhas na rua.

Mas no mundo

só havia folhas nas árvores.

havia folhas no jardim

Dia seguinte

e varrendo varreu o bairro

havia folhas na calçada

Folhas secas no jardim

folhas secas na rua

folhas secas na calçada

pintada de azul-rei,

no chão da rua.

Num outono tropical,

ouvindo As Quatro Estações de Vivaldi

ela varreu as folhas do jardim

todo dia ela rega as plantas

- estreita e antiga rua -

caídas no chão do jardim,

no chão da calçada,

e na casa dix-huitième,

todo dia ela varre as folhas

Ana Maria César

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CAMADAS DE TINTA DE AZULAos companheiros

da Academia Pernambucana de Letras

o azul do ontem

o de antes do ontem

do Casarão Rodrigues Mendes.

escondidas sob camadas de tinta

camadas de tinta azul se desmancham

da Academia de Letras

Logo, entre silêncios e falas,

Os passos das gentes atravessam todas as cores

como pesa o tempo sobre os deuses:

açoitando os velhos muros

até se saturarem das nuanças

Nos velhos muros da Academia

os muitos tons de azul pesam sobre nós

o de muito antes do ontem

azul de todas as memórias

nos desvãos de um tempo lavrado em poesia

e estudos filosóficos.

nas paredes estáticas e voláteis

Ana Maria César (Anna Maria Ventura de Lyra e César) nasceu no Recife. Publicou: Ensaio:

Lira e César, Juiz de Caruaru; A Bala e a Mitra; A Faculdade Sitiada; Último Porto de Henrique

Galvão; Poesia: Versos Voláteis; No limiar do tempo; Poemas arcaicos & outros mais; Ficção:

O Tom Azul; Habemus vinum – antimemórias do absurdo; História: 50 anos do Senac em

Pernambuco; Memória: Gênesis; Habemus Panem – memórias de uma época.

contam lendas

entre mangueiras e telhados.

Aqui,

– eles se vão, mas retornam no azul

– perdidas –

onde as eras

tanto ontem quanto hoje,

acadêmicos se revezam

– superpostas –

das paredes –

medindo versos

e se refazendo em palavras tantas.

Dormem todos os que aqui tiveram assento

parindo ideias

nos velhos muros da Academia.

que logo se apoderam do imortal instante

e se assentam ainda outros tantos

de se fazerem em tons de azul

Ana Maria César

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A PERDIÇÃO DA LÍNGUA

a começar da língua onde se ancora

Nasci em dia atado à má fortuna

numa pátria em que, mal abrindo os olhos,

divisei os caminhos do esquecer

a passagem de tudo que vivemos.

não dá mais conta nem do seu silêncio.

E toda língua cala se a memória

Ângelo Monteiro

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A PERDIDA DESCOBERTA

Quem não quer deixar rastro

porque nada conseguem ver:

Há os que nunca são vistos

e como irão por isso

em outro olhar aparecer?

nenhum de sua passagem,

do que viveu qualquer imagem?

como então recolher da ausência

Ângelo Monteiro, poeta e ensaísta, nascido em Penedo, Alagoas, é autor dos seguintes livros: “Os olhos da vigília”, “Todas as coisas têm língua”, “Como virar as páginas da solidão”, “Imagens em fuga & o trapézio dos dias” e “O inquisidor e as lições de passagem”, todos de poesia. É autor das seguintes obras em prosa: “Tratado da lavação da burra”, “O conhecimento do poético em Jorge de Lima”, “Escolha e sobrevivência” e “Arte ou desastre”.

Ângelo Monteiro

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A SAFRA

Um dia, virá a palavra,

Na solidão e na tristeza,

melhor é ficar calado.

o sofrimento domesticado.

e o tempo correrá

Então, colheremos a safra:

ao nosso lado.

(Portal de sonhos, poemas, Editora Escrituras, 2008)

Antônio Campos

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ganha asas minha imaginação,

de um amor que cresce com a noite,

EM BUSCA DA ESTRELA INFINITA...

Quando se põe o sol,

e estás em meus braços,

buscando a estrela infinita,

E outra luz que surge de uma noite enluarada,

semente de Deus nas criaturas.

em um entardecer de verão.

mostra-nos como é breve a vida,

para desvendar o grande mistério da existência:

e que só há um verdadeiro caminho

o milagre transformador do amor,

com a noite e o dia,

(Uruguai, Casapueblo, 26.06.04, poema inédito)

Antônio Campos é poeta, tradutor e advogado. Nasceu no município de Pedra-PE. É detentor de prêmios literários: “III Concurso de Poesia do Mackenzie”, SP, e “I Prêmio Anual de Poesia Carlos Pena Filho”, PE. Organizou várias antologias como “Natal Pernambucano”, “Pernambuco Terra da Poesia”, “Panorâmica do conto em Pernambuco”. É autor de muitas obras como “Mais forte que o mal” (1979); “Crítica da razão vivida e outros poemas” (1982); “20 tiranas de amor mais 10 canções de amor às avessas” (1985), “Feito no Coração” (1999).

Antônio Campos

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com seus artifícios fluía em lenta penumbra,

Foste tu, Borges, poeta das espadas

Foi o teu Elogio da Sombra, Borges,

como o golpear de asas de um pássaro noturno

ODE A JORGE LUIS BORGES

indicando-me não ser fora da realidade

sentir a face da luz cerrando suas pálpebras

não da noite, mas da meia-luz

a conduzir-me a incessantes planícies.

fazendo-me perceber que o tempo

dos labirintos, dos espelhos. Homem das ruínas

de vista nossa imagem?"

circulares que com suavidade me levaste

a indagar: "Em qual reflexo perdemos

Bartyra Soares

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nos aplausos e as vozes que cantavam.

apaga-acende, escutei o frêmito das mãos

Mesmo com o mais próximo dos amigos.

Impossível repartir aquele momento

de Leonardo da Vinci, ali na parede,

SOLIDÃO

com os convivas ao redor da mesa.

Difícil compreender a alegria da sala

onde aconteceu a divisão do bolo, apesar

do Cristo na réplica da Última Ceia

e não prescindir da lembrança da dor.

Indiferente ao burburinho, à volta da vela

Mãos e vozes que não eram as minhas.

Bartyra Soares é pernambucana de Catende - PE. Fez seu primeiro poema aos 6 anos, na

época, publicado no suplemento infantil do Diario de Pernambuco. Poeta, ensaísta, contista e

articulista já publicou 15 livros. Seus trabalhos se espalham em revistas e jornais do Sul,

Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do país. Seu Oratório da Paixão, escrito em parceria com a

poeta Maria do Carmo Barreto Campello de Melo, foi encenado em diversos locais do Recife e

interior do estado. É detentora de 16 prêmios literários. Participou de inúmeras antologias.

Pertence à Academia Pernambucana de Letras - APL, e à Academia de Letras e Artes do Nordeste -

ALANE.

Bartyra Soares

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PLUVIAL II

Se quereis o fruto deste engenho,

basta que me mandeis alguma chuva:

que a terra arada e o que plantar eu tenho.

A minha inspiração se faz viúva,

temporária de tal musa esquisita que,

quadrienalmente, se debruça

na janela bissexta e me visita.

Se quereis ver cantada minha mágoa,

basta que me mandeis alguma chuva:

− Sou nordestino, necessito d'água,

com CH de choro e o resto de UVA.

Eu sou aceitação, vós, a recusa.

Já que não vindes até a mim, eu venho

a vós, ó rara e fugitiva musa.

Dirceu Rabelo

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Organizada, a ideia se concentre;

E nesse instante a gestação termine;

e o soneto liberte-se do ventre.

Seja de chuva o dia, a brisa, mansa,

penetre pelas frinchas das janelas;

e as folhas cumprimentem-se naquelas

verdes ondulações de afago e dança.

PLUVIAL IV(Soneto Subjuntivo)

Toda essência do verso se refine;

e alguma luz inesperada adentre

na inspiração do poeta e o ilumine.

Essa motivação natural faça

que em palavras a Ideia se organize

e o verso inaugural flua e deslize,

tal como pingo d'água na vidraça.

Dirceu Rabelo

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O BEIJO

Os beijos que outras me deram

não me valeram metade

do beijo que não me deste.

Num beijo teu eu ergueria um mundo;

e ele, afinal, te custaria apenas

a efemeridade de um segundo.

Dirceu Rabelo é poeta bissexto, como ele costuma intitular-se. Sertanejo de Tuparetama-PE, advogado, professor, publicou várias obras como “Poesia Menor” (1971), “O Mensageiro do Rei e Outros Poemas” (1989), “Chuva Bissexta” (1991); “O Canto Antecedente” (1994); “Elegias e Outros Poemas Reunidos” (1996); “Versos de Circunstância” (2003); “30 Poemas Escolhidos” (2008), “Sonetos Circunstanciais” (2014); “Sonetos Circunstanciais” (2015); “35 Sonetos Escolhidos” (2016), “Sexta dezena de sonetos” (2017).

Dirceu Rabelo

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"ESPERANÇA IMPOSSÍVEL”

ELA SAIU TÃO DEPRESSA

QUE NEM A PORTA DA CASA

AO PARTIR ELA FECHOU.

UM ADEUS POR DESPEDIDA

ERA UMA COISA CABIDA,

A PRESSA TAMBÉM LEVOU

UMA ESPERANÇA IMPOSSÍVEL

GERMINOU POR TODO CANTO

NO PEITO DE QUEM FICOU...

Francisco Barreto (Chicão)

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A METADE

NESTE JOGO DO EU E DO OUTRO

DA LIBERDADE E DO DEPENDER

DO SE MANTER

E DO CRESCERMOS JUNTOS

SE TU NÃO FALTAS

NÃO ME FALTA NADA .

ESTAR CONTIGO É TUDO.

Francisco Barreto: “o nome de pessoa. Profissionalmente como médico tenho por nome um apelido: Chicão. É o que fui, sobretudo desde os meus onze anos, antes disso fui poeta, criança que pensava a vida deitado nos galhos das árvores do quintal e escrevia na areia com os gravetos caídos. Depois tentei sufocar o poeta em vão e ele se misturou ao médico. Considero-me bastante recluso justificando a necessidade profissional, mas sem deixar de me espantar com o mundo a minha volta sem recusar a vê-lo e nem de contribuir para que melhore”.

Francisco Barreto (Chicão)

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A ALMA COMO TESTEMUNHA

Em silêncio galopo nos braços de Deus

lendo um quintal de cartas e madrugadas

Fevereiro traz amor na fábula da sonata

e o céu, o calendário, o brinquedo: são só teus

Pastores conduzem a linguagem no rebanho do coração

o mistério soletra castelos de vinho do porto

a afagar nos teus olhos a luz viva da mão

Repicando cantigas de cristal em sino de aquarela

que o amor-verão arruma a alma e esconde o tempo

pautando metáforas agudas no horizonte da janela

Onde reina a infância de alfenim no almanaque

da ausência ancorada no relógio da algibeira

rebanhos de fadas ensaiam o riso no parque

como quem escreve amor no lenho da oliveira

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Flávio Chaves

Enfim, ardidos, nos dissolvemos nós. As rugas

são tudo o que visível resta: inventário

e herança coletivos. Ponto. O resto é fuga.

Em que rua do passado busco a infância?

O menino que sou como componho?

a aguda voz de vento, o amolado gesto de sonho

e eu um resto de ardente desesperança

INVENTÁRIO ARQUITETADO NA INFÂNCIA

Entre a cinza e a sombra só suponho

a leitura do caminhar sem contradança

os passos de Carlitos e a lágrima que no rosto exponho

efígie arquitetada no mormaço da lembrança

Que logo alucinado se dissolve em momentos

tão breves que um secreto e tímido calendário

reduz-me de súbito em esquecimento

Flávio Chaves é jornalista, administrador de empresas, consultor de comunicação e marketing, ensaísta, crítico literário, filólogo, escritor e poeta. Nascido em Carpina-PE, iniciou sua vida literária aos 25 anos, em 1983, quando publicou o livro de poesia “Digitais de um Coração”. A partir daí, vários de seus trabalhos passaram a ser publicados regularmente em jornais e revistas do País. É autor de várias obras como “Aragem do subterrâneo”, “Canções de vento e mar – a palavra escrita”, “Ofício de existir”, “Território da lembrança”, “Vocabulário das sombras”, “Porto dos vitrais - Antologia poética” e “Alvoroço do invisível”.

Flávio Chaves

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SONETO DA PARTIDA

A morte é passaporte para a vida

Nos cabe nesta vida azar ou sorte

E nesse caminhar que é partida

Se a vida é uma estrada para a morte

E antes da chegada ou da partida

Embora falte tempo para a morte

O tempo segue sempre a sua sorte

E é também chegada para a morte

Sem nem saber o mapa dessa vida

Porque desde o momento da partida

Choramos sem sentir a triste sorte

Da morte que é somente o fim da vida

Também não sobra tempo para a vida

Da vida que é maior que a própria morte.

José Paulo Cavalcanti Filho é advogado, consultor da Unesco e do Banco Mundial, ex-

ministro da Justiça, membro da Academia Pernambucana de Letras, membro da Comissão

Nacional da Verdade. É autor de vários livros como “Informação e poder”, “O mel e o fel”,

“Adeus Penderama e Outros Escritos”, “Somente a verdade”, e “Fernando Pessoa, uma

quase autobiografia” que recebeu os Prêmios Jabuti, Bienal do Livro (Brasília), Revista

Algomais (Pernambuco), José Ermírio de Moraes (da Academia Brasileira de Letras) e Dario

Castro Alves (em Portugal).

José Paulo Cavalcanti Filho

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PRIMEIRA ESTAÇÃO

És o meu refúgio de salvação

Pudesse eu mentir

a quem me pedisse conselhos

porque os pássaros vêm e voltam

quando os ventos agrupam nômades no deserto.

És minha divina compreensão

− a minha única margem

e sabes que minhas intenções

não tem abismos.

És minha única amiga

meu repouso sem distâncias

e vens

justamente

quando as nuvens estão tramando inverno.

Os iguanos assistem parados

ao movimento das folhas

mas possuem magia

que transparecem de claridade nos sapos.

José Mário Rodrigues

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SEGUNDA ESTAÇÃO

Não exijas sopro de imensidade

em mim as quedas se sucedem

pois também os gatos adivinham résteas

que sobrarão leves sobre os muros.

Ao fim do dia

pesamos mais: as mesas

as garrafas

as conversas inúteis

e esse sair por aí desordenando esquinas.

Já dormimos bastante

e os demônios comandaram o nosso sono.

Para que domar vértices de estrelas

e desenhar centauros sobre o mundo?

Vê que os esquecidos rumaram para as águas

e uma enchente de sangue se prepara.

José Mário Rodrigues: “Nasci em Flores e em Garanhuns renasci. Flores, usando um verso de Drummond, “é um retrato na parede”. Em Garanhuns, o Colégio Diocesano e os seus Mestres tiveram um peso expressivo na minha formação intelectual. Comecei a tomar gosto pelo que viria a ser uma danação interminável ou um vírus que, uma vez contraído nunca mais a gente se liberta: o Jornal, onde o poema corre solto, dignificando a Literatura ou se esvaindo no dia-a-dia das cidades. O jornal O Monitor foi a primeira escola e a mais completa. Aprendi a escrever crônicas, poesias, artigos e comentários sobre livros. No Recife, estudando na Faculdade de Direito e publicando poemas e artigos nos Suplementos do Diário de

Pernambuco e do Jornal do Commercio, conheci companheiros da Geração 65 que engrandecem a nossa Literatura e com os quais convivo até hoje. Conheço muita gente, mas tenho poucos amigos. Só escrevo poesia quando tenho um motivo. Um dia vão me faltar os motivos, bem sei. Não tenho medo desse dia, mas gostaria que ele chegasse bem antes de eu cometer alguma indignidade, ou grave injustiça ou traição aos meus princípios de ser humano, que se mostra como é, em toda a verdade de sua natureza”.

José Mário Rodrigues

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Não sou o talismã antigo

caem como granizos

(estilhaços da pedra

no coração dos homens)

no silêncio que carrega

RITUAL I

que bebem a noite.

e os ventos pastam

exercito a vida –

dentro de mim

Parte-se uma esmeralda

– senha das estrelas

A palavra é minha agonia

como a água do mar

onde habito

que respira imenso verde

a esmeralda partida.

Se vivo nesta pedra, ou dela apenas

não cumpro o tempo dos cristais

nada me assegura o instante.

não cumpro o ritual do verso

Lourdes Sarmento

Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018

tingindo o chão

é o cio da vida

é a memória do canto

Se alguém perguntar

rasgam meus pés

Onde as presas do tempo

A palavra é o fogo

é o vômito da minha dor

CANTO DE CRISTAIS

aporto no meu canto.

submersa

que sopra brisa

e mandalas.

Quem o entender

agoniza como eu.

meu destino

entrega meu canto

Lourdes Sarmento nasceu no Recife-PE. Escreveu o seu primeiro poema aos oito anos de idade. Tem 26 livros publicados em português, inglês, francês e espanhol. Entre eles citamos “Explosão das Manhãs”, “Tatuagens da Solidão”, “Olhos de Tigre”, “Vingt-Cinq Poèmes de Passion”, “7 Cartas e uma Confissão de Amor”, “Rituales del Deseo”- Edição bilíngue, Editora Francachela - Buenos Aires- Argentina, “El Tiempo de las Ofrendas”- Ediciones Alejo - Lima - Peru, “Cinquenta Poemas Escolhidos pelo Autor”- Edições Galo Branco - Rio de Janeiro, “Liberdade de Pássaro” e “O segredo das Acácias”. Foi convidada pela Editora Vericuetos/ Chemins Scabreux, em Paris, para organizar a “Antologia Poésie du Brésil”, em 1997. Escritora, pesquisadora, biógrafa e jornalista já apresentou vários trabalhos e conferências nos Estados Unidos (Washington e Miami), Lima (Peru), Cidade do México, Lisboa (Portugal), Buenos Aires (Argentina). Além dos prêmios literários, recebeu inúmeras homenagens no

Rio de Janeiro, Fortaleza, Minas, Alagoas, entre outros.

Lourdes Sarmento

Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018

Talvez na rede um resto de perfume

AUSÊNCIA

a palavra de amor não pronunciada

Menino, flor

Que restou desse amor

Desfeito por nós dois antes mesmo de ser?

Talvez em ti um gosto de já-visto

Mario de Andrade em viola e na parede

A Bachiana pela madrugada,

Ficou dentro de mim a ausência tua

Ficou essa ternura irresolvida

do teu corpo moreno a nostalgia

e este poema que não vale nada.

Luzilá Gonçalves Ferreira

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POEMA DE NATAL

Persiste na alegria a antiga tristeza:

Aqui começa a cruz.

Não mudou o Natal nem mudei eu

No coração do homem sempre o mesmo vazio

Se lá fora há canções, presentes, sons de sino

Que tem a exata forma do corpo de um Menino.

Luzilá Gonçalves Ferreira, nascida em Garanhuns, cidadã recifense. Sete romances publicados, livros de ensaios, vários prêmios literários, entre eles Portugal Telecom, Jorge de Lima de Poesia pela UFAL, romance histórico da ABL, Lucilo Varejão da Prefeitura do Recife. Doutora em Letras pela Universidade Paris VII, professora na UFPE, pesquisadora.

Luzilá Gonçalves Ferreira

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do cheiro da terra,

Olinda é o meu lugar.

do seu sol,

do seu mar,

inquietas e curiosas,

personagem vivo da cidade.

vejo o olhar das frestas

Eu gosto

do seu céu,

de sua lua e estrelas

OLINDA

dos seus quintais, de suas frutas,

de seus jardins, de suas flores,

que incensa o ar.

Eu sinto a presença

que me fazem viver e sonhar.

Eu ouço o cochichar

atrás das janelas,

que me fazem sentir como

Lucilo Varejão Neto

Mas Olinda é luz e vida,

o piar das corujas ou ainda,

pois os que aqui vivem,

faz a história se

ao lado do seu majestoso nome

desenovelar com seus heróis

que de mãos dadas e

diante dos meus olhos.

que assobiam ao vento,

esse canto dos pássaros,

o grito dos miseráveis

que sofrem por suas ladeiras.

Eu observo o casario

bem coladas

Eu sou essas palmeiras

e ficamos sempre orgulhosos

quando somos lembrados

sabem muito bem que

Olinda é o seu lugar.

Lucilo Varejão Neto é escritor, tradutor, professor da UFPE. Pertence às Academias: Pernambucana de Letras; Recifense de Letras; Olindense de Letras; de Letras e Artes do Nordeste e ao Instituto Histórico de Olinda. Autor de “De Mersault à Meursault”; “Estro Olindense”; “Entre o Homem e o Mundo”; “Escritos e Escritores”; “Dias de Olinda”; “Histórias Verdadeiras”; “Escritos”; “Brasil e França: duas culturas inspiradoras” e de poesias, contos e ensaios diversos.

Uma publicação eletrônica da Academia Pernambucana de Letras Ano 1 |N° 1 | 2° semestre de 2018

SONETOS DOS CICLONES ÍNTIMOS

Que a sarabanda ilógica dos ventos

E as convulsões exatas dos desejos

Explodem em nossos olhos torturados.

Somos dois para um no mesmo abraço

No mesmo soluçar, no mesmo grito

Leves formas de sombras imprecisas

Delgadas, claras, mansas, infinitas.

Os mesmos oceanos nos habitam

Por isso nossos braços se procuram

E prendem-se no beijo angustiado

Quando as marés estouram em nossas frontes.

Libertemos agora o grito imenso

Dos ciclones que jazem em nosso peito

E deixemos o amor brilhar nas faces.

Olinda, outubro, 1954.

Olimpio Bonald Neto

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Amemos a frieza da areias

e o silêncio milenar das pedras

no frio e no silêncio que seremos

Cultuemos amor ao inanimado

que um dia os nossos pés se ajuntarão

ao silêncio do chumbo e à cor das cinzas.

AO MINERAL

Facilmente somos permeáveis

à música dos sinos e dos ventos

porque nos alicerces da memória

os búzios e os metais se fraternizam

A terra que nos cria e nos sustenta

e nos serve de berço e de sepulcro

vive conosco como, impregnada,

de barro a nossa vida se limita.

Olimpio Bonald Neto é natural de Olinda-PE. Escritor, poeta, contista, ensaísta, pesquisador e artista plástico. Tem trabalhos literários publicados em jornais, revistas e antologias nacionais e estrangeiras. É autor de vária obras como “Dura e breve historia da Ilha do Maruim”, “Sangue e Sonhos Reinventados”, “O Livro da Poesia de Olimpio Bonald Neto”, “Ideologia dos anos trinta”, “Bacamarte, Pólvora e Povo”, “Latrinária, Cultura”, “Turismo e Tempo”, “Uma lembrança de flor”, “Seresta em Tempo de Caju”, “O homem que devia ter

morrido há 3 anos”, “Gigantes Foliões em Pernambuco”, “Tango – Reggae y outros Cuentos”, “Estudo de Cor na Zona da Mata Sul Pernambucana”.

Olimpio Bonald Neto

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E por fim o entreguei à solidão da morte,

Era preciso dormir o infinito sono.

DESPEDIDA

À memória de Proust, meu cão

Lá onde carinhos nem palavras nunca chegarão.

Meus olhos o cobriam de flores e de beijos.

Água para a longa travessia

da dura e triste eternidade.

Com minhas lágrimas, teria água para sua sede,

Paulo Gustavo

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LUA ARGENTINA

— Memória de tantas perdas,

Bela é a lua quando sofre

— Lágrima do sol, a lua.

A lua austral que desperta

A epopeia dos sonhos

O refúgio entre dois gritos.

Se na lua há um destino.

— Pousa, líquida, sem norte.

O amor só é verdadeiro

Em busca da noite escura

A ti queria dizer-te:

A tua paixão perdida.

Amor que não diz sem porto.

— Toma da lua, a cativa,

O espelho em que esqueceste

Também eu busco o silêncio,

Paulo Gustavo é membro da Academia Pernambucana de Letras, sócio-fundador da Consultexto e ex-editor da Editora Massangana da Fundação Joaquim Nabuco. Especialista em Proust e Guimarães Rosa. Autor de sete livros de poesia.

Paulo Gustavo

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Site: www.aplpe.org.br