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1 CADERNO TEMÁTICO FLEXIBILIZAÇÃO CURRICULAR COMO PRINCÍPIO PARA A INCLUSÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL FÁTIMA HERAKI FLORIANI

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CADERNO TEMÁTICO

FLEXIBILIZAÇÃO CURRICULAR COMO PRINCÍPIO PARA A

INCLUSÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

FÁTIMA HERAKI FLORIANI

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL- PDE NÚCLEO REGINAL DE CURITIBA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

CADERNO TEMÁTICO

IDENTIFICAÇÃO

1 ÁREA: EDUCAÇÃO ESPECIAL

Professora PDE: Fátima Heraki Floriani Profª Orientador.ª: Drª Sueli de Fátima Fernandes/UFPR

2 TEMA

CURRÍCULO , EDUCAÇÃO ESPECIAL E O CONTEXTO INCLUSIVO

3 TÍTULO

Flexibilização curricular como princípio para a inclusão de alunos com deficiência intelectual

2008

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SUMÁRIO

IDENTIFICAÇÃO........................................................................... 2

1.INTRODUÇÃO............................................................................ 3

2. DESENVOLVIMENTO DOS TEXTOS

2.1 O currículo e as transformações da escola ..................... 6

Referências .................................................................................... 12

2.2 Educação Especial, o deficiente intelectual e o

contexto inclusivo............................................................................ 13

Referências ..................................................................................... 22

2.3 Educação para Todos: reflexões sobre o currículo

na escola inclusiva.......................................................................... 24

Referências...................................................................................... 32

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................ 34

ANEXOS

1.Reflexões acerca do texto: O currículo e as

transformações da escola............................................................... 36

2.Reflexões acerca do texto: Educação Especial, o

deficiente intelectual e o contexto inclusivo.................................... 37

3.Reflexões acerca do texto: Educação para todos: reflexões

sobre o currículo na escola inclusiva............................................ 38

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FLEXIBILIZAÇÃO CURRICULAR COMO PRINCÍPIO PARA A INCLUSÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

1. INTRODUÇÃO

Há quase duas décadas discute-se a inclusão educacional de pessoas

com deficiência em movimentos internacionais e nacionais. São debates

acirrados, com implementação de ações através das políticas públicas, cada

vez mais direcionadas ao atendimento á diversidade, contemplando a

educação para todos. Enquanto isso, os profissionais da Educação Especial

acompanham as mudanças decorrentes deste processo social e se perguntam

qual será o papel da escola especial e de que forma esta se reorganizará

depois de meio século de ações voltadas para a organização de atividades

educacionais dirigidas a pessoas com deficiência, no caso em questão , a

deficiência intelectual.

O presente trabalho busca analisar as políticas envolvidas no

processo inclusivo, buscando referenciais teóricos para compreender o

conceito de adaptações/flexibilização curricular na relação contexto

especializado e educação inclusiva.

Por essa razão, os textos foram divididos em uma tríade onde o

primeiro texto aborda O Currículo e as transformações da escola, numa

retrospectiva histórica do conceito de currículo e suas influências sobre os

sistemas educacionais; o segundo sobre Educação Especial, o deficiente

intelectual e o contexto inclusivo procura lançar questões acerca das

construções sociais que se formaram em torno da pessoa com deficiência

intelectual e a nova configuração necessária à escola nesse momento; o

terceiro texto abrangendo a Educação para todos: reflexões sobre o currículo

na escola inclusiva, procura entender onde os conceitos de adaptações

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curriculares e flexibilização curricular se constituíram, buscando desvendar o

seu verdadeiro significado e qual é o papel dos envolvidos no processo de

inclusão educacional.

A proposta de discussão dos textos apresentados deverá envolver

professores tanto do ensino especial como do ensino comum, ampliando a

rede de conhecimento e aprofundamento necessária a todos nós, docentes,

neste momento.

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2. DESENVOLVIMENTO DOS TEXTOS

2.1 O CURRÍCULO E AS TRANSFORMAÇÕES DA ESCOLA

A proposta de discutir currículo surge numa tentativa de compreensão

de algo tão complexo quanto necessário, mesmo entendendo que atingir um

consenso quanto à sua conceituação parece uma tarefa inatingível.

Historicamente, esse termo foi descrito em dicionário, pela primeira

vez, em 1663, com o sentido de um curso, em especial um curso regular de

estudos numa escola ou numa universidade (PACHECO, 2005, p.29).

Assumindo no vocabulário educacional o significado de curso de

estudos, o currículo passou a ser descrito como trajetória, percurso, ampliando-

se para uma “concepção aberta de projeto de formação, no contexto de uma

dada organização” (PACHECO, 2005, p.30).

Porém, foi Bobbitt (apud SILVA, 2006) quem, em 1918 definiu currículo

como a especificação precisa de objetivos, procedimentos e métodos para a

obtenção de resultados que possam ser precisamente mensurados. Assim

definido, expõe organização, atividade mecânica e burocrática, conforme

apontada por Bobbitt,demonstrando um processo estanque, sem muita

mobilização, inspirado na organização de fábricas.

Para Pacheco (2005), definir o que se entende por currículo é fácil, na

medida em que o currículo é um projeto de formação (envolvendo conteúdos,

valores/atitudes e experiências), cuja construção se faz a partir de uma

multiplicidade de práticas inter-relacionadas através de deliberações tomadas

nos contextos social, cultural ( e também político e ideológico) e econômico.

No entanto, o currículo enquanto construção social/ cultural/ ideológica

jamais pode ficar dissociada da teorização e da discussão da objetividade no

campo da educação (PACHECO, 2005, p.78).

E, ao abordar teorização, Silva (2005), discute o que é teoria

concluindo por adotar uma compreensão da noção de “teoria” que nos

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mantenha atentos ao seu papel ativo na constituição daquilo que ela

supostamente descreve. Utiliza, ainda, em seus textos, além da palavra

“teoria”, “discurso” e “perspectiva”. Observa Silva (2005), que para mostrar

aquilo que o currículo é depende precisamente da forma como ele é definido

pelos diferentes autores e teorias. Assim, uma definição não nos revela o que

é, essencialmente, o currículo: uma definição nos revela o que uma

determinada teoria pensa o que o currículo é.

Ao se perguntar sobre que tipo de ser humano tal sociedade deseja,

haverá a correspondência de um tipo de conhecimento, um tipo de currículo. E,

nesse sentido, ao percorrermos a “pista de corrida”, acabamos por nos tornar o

que somos. Nesse discurso, Silva (2005) procura fazer a relação entre currículo

e conhecimento, intrinsecamente relacionados à nossa identidade.

A respeito da influência das teorias sobre o currículo, Sacristán (2000)

afirma: as teorias curriculares se convertem em mediadores ou em expressões

da mediação entre o pensamento e a ação em educação. Assim, temos

também na afirmação de Vásquez, citado por Saviani (1991), a importância de

situar uma teoria com seu momento histórico e o movimento que ela produz :

a teoria em si (...) não transforma o mundo. Pode contribuir para a sua transformação, mas para isso tem que sair de si mesma, e , em primeiro lugar, tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, efetivos, tal transformação. Entre a teoria e a atividade prática transformadora, se insere um trabalho de educação das consciências, de organização dos meios materiais e planos concretos de ação; tudo isso como passagem, indispensável para desenvolver ações reais, efetivas. Nesse sentido,uma teoria é prática na medida em que materializa, através de uma série de mediações, o que antes só existia idealmente, como conhecimento da realidade, ou antecipação ideal de sua transformação (SAVIANI, 1991,p.42).

Quando analisamos a posição ocupada pelas teorias curriculares

concluímos que há implícita uma luta pelo poder, já que vários discursos

povoam o contexto educacional e invariavelmente o observam de uma

determinada perspectiva, de uma concepção de realidade própria.

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Nesse sentido, Silva (2005) situa as teorias no centro de um território

contestado, na busca por hegemonia e é através dessa característica que as

vemos se diferenciarem em teorias tradicionais, críticas e pós-críticas.

Enquanto nas teorias tradicionais encontram-se questões técnicas,

que se definem neutras e envolvidas em organização e planejamento, as

teorias críticas questionam o porquê das escolhas de alguns conteúdos em

detrimento de outros, enfatizando ideologia e poder e as teorias pós-críticas

concentram-se no conceito de discurso levando-nos a mudar o olhar diante do

currículo e da escola, observando suas nuances através de conceitos como

multiculturalismo.

Todas as tentativas de abordagens das concepções de currículo

são formas distintas de relacionar a teoria com a prática e a escola com a

sociedade.

As teorias tradicionais, conforme descritas por Silva (2007)

nasceram num contexto em que “forças econômicas, políticas e culturais

procuravam moldar os objetivos e as formas da educação de massas de

acordo com suas diferentes e particulares visões”. E a dúvida entre escolher

qual educação oferecer às massas, se o preparo para o trabalho especializado

ou a formação acadêmica, o ajustamento dos jovens à sociedade ou a sua

preparação para transformá-la. Como as intenções no período eram

conservadoras e sua compreensão relacionava a escola à indústria,

estabeleceu-se objetivos, métodos e avaliações como forma de manter um

funcionamento sob controle. Este modelo proposto por Bobbitt, era pautado na

administração científica proposta por Taylor. Isto, porém, não impediu que

surgisse outra vertente mais progressista, representada por Dewey, com maior

preocupação no planejamento curricular, nos interesses e experiências das

crianças e jovens, concebendo a educação como “ um local de vivência e

prática direta e princípios democráticos” (SILVA, 2007).

Apesar dos diferentes posicionamentos frente ao currículo, tanto

as idéias de Bobbitt, quanto as de Dewey reagiam ao currículo clássico

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humanista, terminando por extinguí-lo com a democratização da escolarização

secundária.

Esse pensamento tradicional foi questionado somente a partir dos

anos sessenta, quando diversos movimentos se fortaleceram através do

chamado “movimento de reconceptualização”, nos Estados Unidos. Tiveram

destaque neste período o sociólogo inglês Michael Young, Paulo Freire, os

franceses Althusser, Bourdieu e Passeron, Baudelot e Establet.

Com características de desconfiança, questionamento e

transformação radical, as teorias críticas centram-se nas desigualdades e

injustiças sociais denunciando o sistema educacional como reprodutor da

sociedade.

Às voltas com questões ideológicas,as teorias críticas apontam o

currículo como forma de transmissão das ideologias, seja através de disciplinas

relacionadas à estrutura social como Estudos Sociais, História, Geografia,

como aquelas mais técnicas como Ciências e Matemática. Sugerem que a

escola proporcione à classe dominada “ uma imersão duradoura na cultura

dominante que faz parte – na família- da experiência das crianças das classes

dominantes” (SILVA, 2007), enquanto questionam a seleção de conteúdos

presente na estruturação dos currículos.

Destaca-se aqui, dentro da questão currículo, uma noção que as

perspectivas críticas observam : o currículo oculto. Citado pela primeira vez por

Philip Jackson, em 1968, aos poucos o currículo oculto foi sendo desenhado

por outros autores que terminaram por desvendar as relações de autoridade, a

organização espacial, a distribuição do tempo, os padrões de recompensa e

castigo, até ser definido como “ constituído por todos aqueles aspectos do

ambiente escolar que,sem fazer parte do currículo oficial, explícito, contribuem,

de forma implícita, para aprendizagens sociais relevantes”(SILVA,2007). Muito

questionada pelas teorias críticas, a noção de currículo oculto perdeu força e,

deixada de lado, foi relacionada ao funcionamento do sistema capitalista.

Entrando numa fase denominada de teoria pós-crítica,

analisando-se o processo de globalização que se mostrou cada vez mais

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excludente, e segundo Moreira (2001) “resultado não de uma fatalidade

econômica, mas de uma política consciente e proposital que busca liberar os

determinismos econômicos de todo controle e submeter governos e cidadãos

às forças assim liberadas”, surge o multiculturalismo, a ênfase às diferenças,

às minorias, como resultado do fenômeno global.

A sociedade contemporânea é multicultural e suas diferenças

de classe social, gênero, etnia, orientação sexual, cultura e religião se

expressam de variadas formas.

Moreira (2001) chama atenção para o termo multiculturalismo,

compreendido por ele como um caráter atual das sociedades ocidentais para

expressar os complexos fenômenos culturais contemporâneos , é para ele,

“uma condição à qual se pode responder de diferentes formas, mas não se

pode ignorar. Multiculturalismo refere-se à natureza dessa resposta. Educação

multicultural, consequentemente, refere-se à resposta que se dá, a essa

condição, em ambientes educacionais”.

Com o foco nos excluídos, o multiculturalismo tem por base a

diferença, que foi definida por McCarthy, citado por Moreira (2001) “concebo

diferença como o conjunto de princípios organizadores de seleção, inclusão e

exclusão que informam o modo como mulheres e homens marginalizados são

posicionados e constituídos em teorias sociais dominantes, políticas sociais e

agendas políticas”. Apresenta-nos, dessa forma a diferença como um processo

social. Relacionando-se ao papel da escola, pergunta-se como as diferentes

culturas têm se manifestado nas salas de aula, que respostas a escola tem

dado à característica multicultural da sociedade. Moreira (2001) vê a inclusão

da perspectiva multicultural aplicada aos currículos, como conveniente e

possível.

Silva (2007), no entanto, vê na diversidade cultural a

fabricação de um dos mais poderosos instrumentos de homogeneização. Por

sua origem nos países dominantes do Norte, percebe o multiculturalismo como

ambíguo na medida em que está relacionado a questões de poder que obriga

diferentes culturas raciais, étnicas e nacionais a viverem no mesmo espaço,

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tendo destaque para um currículo voltado para a cultura branca, masculina,

européia, heterossexual. O currículo deveria analisar “os processos pelos

quais as diferenças são produzidas através de relações de assimetria e

desigualdade”(SILVA,2007).

Em suma, o currículo deve modificar-se para refletir as

diferentes formas presentes nas relações sociais. Relacionando essa questão

ao movimento de educação para todos, retomamos a escola como ponto

principal, citando Carneiro (2007) :

A transformação da escola não é, portanto,uma mera exigência da inclusão escolar de pessoas com deficiência e/ou dificuldades de aprendizado. Assim sendo, ela deve ser encarada como um compromisso inadiável das escolas, que terá a inclusão como conseqüência.

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REFERÊNCIAS

CARNEIRO, Moaci Alves. O acesso de alunos com deficiência às escolas e

classes comuns.Possibilidades e Limitações. Editora Vozes. Petrópolis, 2008.

MOREIRA,Antonio Flávio e SILVA,T.T.Currículo, Cultura e Sociedade.Editora

Cortez.São Paulo, 1994.

PACHECO, José Augusto. Escritos Curriculares. Editora Cortez. São Paulo, 2005.

SACRISTÁN, J. Gimeno. O Currículo : Uma reflexão sobre a prática. Editora Artmed. Porto Alegre, 1991.

SAVIANI, D. Pedagogia histórico- crítica: primeiras aproximações. n. 40. São Paulo: Cortez, 1991. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo).

SILVA,T.T. Documentos de Identidade. Uma introdução às teorias do currículo. Editora Autêntica. Belo Horizonte, 2007.

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2.2 EDUCAÇÃO ESPECIAL, O DEFICIENTE INTELECTUAL E O CONTEXTO INCLUSIVO

No presente texto abordaremos a educação especial com o olhar

direcionado ao deficiente intelectual no contexto inclusivo. Para iniciarmos

essa abordagem, faz-se necessária a revisão da construção histórica que se

deu em torno da Educação Especial e do conceito de deficiência intelectual,

que atravessaram séculos sustentando olhares diversos, passando por

estágios de exclusão, segregação institucional, integração, até o presente com

o advento da inclusão.

Na história de povos antigos, a deficiência era vista como

“abominação, marginalizando e segregando os que não se identificassem à

imagem e semelhança de Deus” (PLATT,1999). Foram os gregos que “criaram

o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava

evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de

quem os apresentava (GOFFMANN apud MIRANDA, 1999).

Citando Pessotti (PAN, 2008), relatos “dão indícios de que pessoas

com certas deficiências mentais leves ou limítrofes, podiam ter que se

submeter ao julgamento da Inquisição”, contexto em que misturavam-se

superstições e crendices populares.

Somente com a consolidação da Modernidade e avanço do

conhecimento científico é que os estudos sobre o desenvolvimento humano e

da sintomatologia clínica da deficiência intelectual foi relacionada a lesões

anatômicas, dando início aos conceitos que passaram por retardo mental,

deficiente mental, excepcional, pessoa com deficiência e necessidades

educacionais especiais, todas numa tentativa de superação do preconceito,

porém, muitas vezes acentuando as diferenças. As citadas classificações

seguiam conforme o grau de comprometimento, reforçando tanto a noção de

anormalidade como o determinismo biológico, assim chamado por “definir as

características do comportamento humano como naturais e biologicamente

determinadas” (PAN, 2008). Vale destacar aqui que a ciência desenvolve a

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partir deste período, um controle sobre o normal e o patológico, influenciando

todos os passos em direção ao trabalho ou estudos sobre as deficiências.

Machado (2008), salienta que “a escola, bem sabemos, é uma

invenção da modernidade e traz, em suas raízes, o modelo

cartesiano/positivista, que exerce forte influência nas práticas escolares,

privilegiando, entre outros aspectos, uma única forma de conhecimento - o

conhecimento científico.

Com o advento do capitalismo e suas peculiaridades no processo de

produção, há uma ênfase na eficiência do trabalhador. “Os que se adaptassem

ao processo de trabalho instituído se enquadrariam no protótipo do “homem

normal” (PAN,2008).

A preocupação com a educabilidade da pessoa com deficiência

intelectual iniciou-se após a experiência amplamente relatada do médico Jean

Itard com o jovem Victor de Aveyron, que fora privado do convívio social desde

bebê e apresentava características primitivas, tendo sido sua aprendizagem

desacreditada por Pinel, médico conceituado naquela época. Seguida de

outras iniciativas, com Séguin e Montessori, constrói-se um conceito

psicológico de deficiência mental, fundamentado em perspectivas orgânicas e

psicológicas.

O termo deficiência intelectual, em vigor desde 2007 com nova

nomenclatura, segundo a American Association on Intelectual and

Development Disabilities (AAIDD) é caracterizada “por limitações significativas

no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, como expresso

nas habilidades práticas, sociais e conceituais, originando-se antes dos dezoito

anos de idade” (PAN, 2008). Mesmo enfatizando uma visão naturalista,

contrariando a perspectiva da deficiência como uma construção social, essa é

a definição adotada no Brasil. A visão naturalista pode ser compreendida da

seguinte forma :

a disfunção biológica desencadeia a exclusão da pessoa das atividades cuja realização ela dificulta. Justifica-se a exclusão em princípio, enquanto se aguardam as descobertas científicas que permitam atuar biologicamente sobre aquela anomalia. Mas, enquanto se aguarda,

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amplifica-se o potencial desta como barreira, uma vez que a própria exclusão desencadeia a constituição de outras barreiras ao desenvolvimento intelectual, num processo contínuo. Cria-se assim, uma deficiência (TUNES,2003 apud ANACHE e MARTINEZ, 2007, p.46);

enquanto para o foco socialista, a forma como esse ser biológico se constitui

leva os cientistas a

investigar e identificar as formas sociais de atuar sobre ele, as formas sociais de contornar as dificuldades que impõe, amplificando o seu potencial criador. Essa busca implica de imediato a não-exclusão da pessoa que apresenta a anomalia das atividades que valorizamos socialmente. De outro modo, não temos como descobrir as formas de contornar as dificuldades que ela impõe na realização daquelas atividades. Logo, as barreiras secundárias ao desenvolvimento intelectual, criadas pela exclusão não se farão sentir (TUNES, 2003 apud ANACHE e MARTINEZ ,2007,p.46).

O atendimento escolar a essa minoria, no Brasil, iniciou-se no período

imperial de forma assistencialista, cresceu na razão da escassez de programas

e políticas voltadas à saúde e educação, como vemos citado em documento da

Secretaria de Estado de Educação do Estado do Paraná (SEED):

Assim, a despeito de esparsas iniciativas dos setores públicos, o atendimento especializado às pessoas com deficiência se firmou como ação predominantemente desenvolvida por iniciativas isoladas, de amigos e familiares, que ganhou força nos movimentos sociais das décadas subseqüentes, fato que não se alterou, significativamente, na oferta da Educação Especial até os dias atuais (PARANÁ,1990).

Na década de sessenta, mais voltada à integração, há

demonstração de algum interesse pelo poder público, e a Educação Especial

passa a integrar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional através da

Lei nº4024/61 e mais tarde na LDB nº 5692/71.

Observa-se respaldo na LDB nº 9394/96 que prevê o atendimento

aos educandos especiais preferencialmente na rede regular de ensino dando

assim, direção às políticas educacionais, que se implementam em âmbitos

estaduais e municipais.

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A Educação Especial tem assegurado, conforme citado

anteriormente, na LDB 9394/96 no capítulo V, em seu artigo 58 que a

educação das pessoas com deficiência se deve dar preferencialmente na rede

regular de ensino e no artigo 59 que devem ter “currículos, métodos, técnicas,

recursos educativos e organização específicos, para atender às suas

necessidades”.

Com o foco direcionado para as soluções requeridas por seu

alunado, a Educação Especial desenvolveu ao longo do tempo formas

específicas de trabalho voltada para processos de reabilitação e envolvida em

questões multidisciplinares, distanciando-se assim de discussões mais

freqüentes no âmbito das escolas de ensino comum. Como modalidade da

educação básica, seu currículo vinha acompanhando as questões que lhe eram

pertinentes dando foco ao processo educativo de forma adaptada e também

às suas atividades complementares, especialmente na área da saúde.

Esse modelo de organização, denominado modelo médico-

psicológico, “contribuiu para que a tarefa da educação especial estivesse a

serviço de um sistema educacional de organização seriada, elitista e

classificatória, produtor de exclusão da escola de ensino fundamental e

estruturado historicamente por meio de uma organização racional do trabalho

pedagógico com base na homogeneidade” (GARCIA, 2007,p.17).

Nesse momento histórico de mudança de paradigmas, escolas

especiais e comuns, são chamadas a assumir novas configurações e o

conceito de escola inclusiva passa a ser cada vez mais repetido,enquanto

busca-se ações para mudanças que proporcionem resultados efetivos ou

animadores.

Com a Constituição de 1988 asseguram-se direitos, documentos

legais se seguiram como a Lei nº 7853/89 chamada Lei da Integração , o

Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, salientando direito à educação

e à integração social. Foi o Decreto nº 3298 de 1999 que através da

regulamentação da Lei nº 7853/89 previu a opção pelas escolas especializadas

“ exclusivamente quando a educação das escolas comuns não puder satisfazer

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as necessidades educativas ou sociais do aluno ou quando necessário ao bem-

estar do educando”(BRASIL, 2000).

Nas duas últimas décadas continuaram se intensificando as leis,

pareceres, resoluções, enfim, a legislação em geral, concomitantemente ao

movimento inclusivo que se espalhava por vários países inclusive o Brasil,

deflagrado após o encontro em Jomtiem,na Tailândia em 1990, com a

Educação para Todos e alguns anos depois com a Declaração de Salamanca,

na Espanha, discutindo a Escola inclusiva.

Para Garcia (2007) “as políticas de inclusão vêm sendo

desenvolvidas no âmbito internacional e nacional nos últimos anos como uma

das estratégias dos Estados nacionais para administrar a pobreza gerada pelo

capitalismo em sua fase atual”.

Na discussão sobre inclusão, a definição do que seja uma escola

inclusiva vem delimitar o que a sociedade espera desse processo em

andamento :

As escolas inclusivas são escolas para todos, implicando um sistema educacional que reconheça e atenda às diferenças individuais, respeitando as necessidades de qualquer dos alunos (CARVALHO apud PARANÁ, p.38).

Ressaltamos que o conceito de Escola Inclusiva conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial (BRASIL, 1998),

[…] implica uma nova postura da escola comum, que propõe no projeto político pedagógico, no currículo, na metodologia de ensino, na avaliação e na atitude dos educandos, ações que favoreçam a integração social e sua opção por práticas heterogênicas. A escola capacita seus professores, prepara-se, organiza-se e adapta-se para oferecer educação de qualidade para todos, inclusive, para os educandos com necessidades especiais[...]Inclusão, portanto, não significa, simplesmente matricular os educandos com necessidades especiais na classe comum, ignorando suas necessidades específicas, mas significa dar ao professor e à escola o suporte necessário à sua ação pedagógica.

A proposta de se atender a todos os alunos, respondendo às

diferenças individuais e suas necessidades quer parecer que a exclusão está

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acontecendo somente com os que estão fora da escola, sendo sua defesa “ a

educação é uma questão de direitos humanos, e os indivíduos com deficiências

devem fazer parte das escolas, as quais devem modificar seu funcionamento

para incluir todos os alunos” (STAINBACK e STAINBACK, 1996, p.21),

mensagem transmitida pela Conferência Mundial de 1994 da UNESCO sobre

Necessidades Educacionais Especiais ( Liga Internacional das Sociedades

para Pessoas com Deficiência Mental, 1994).

Esta referência nos remete ao pensamento de que as escolas que

ainda não estão praticando a inclusão têm suas turmas homogêneas, sem

dificuldades e que estão prontas para receber aqueles que foram excluídos

desse sistema durante séculos. Beyer (2007) cita, em relação ao processo de

inclusão no Brasil um fato curioso, onde a legislação avançou extremamente

na assimilação do paradigma inclusivo a partir dos anos 90, enquanto as

escolas e os sistemas educacionais não reagiram na mesma intensidade.

Acontecem resistências dos profissionais da educação, sendo que a discussão

foi mais intensa desde o início no âmbito da Educação Especial e somente

agora a discussão se torna mais presente na rede de ensino comum.

Mantoan (2006,p.33) sugere algumas explicações para esse fato:

os alunos do ensino fundamental estão organizados por séries, o currículo é estruturado por disciplinas e o seu conteúdo é selecionado pelas coordenações pedagógicas, pelos livros didáticos, enfim, por uma “inteligência” que define os saberes e a sequência em que devem ser ensinados.

Lembra ainda de outras razões que estão envolvidas na questão: a

divisão do currículo em disciplinas, o tempo de aprender que é o das séries

escolares, a escala de valores das disciplinas.

Um ponto crucial é a avaliação de desempenho escolar, que segue

padrões tradicionais e são expressas em regime de notas (GARCIA, 2006,

p.19). Quando nos referimos à deficiência intelectual, é necessária a reflexão

sobre qual estratégia de avaliação deverá ser utilizada pois, “a avaliação

precisa romper com práticas classificatórias que tendem a estimular a

reprodução mecânica dos conteúdos, privilegiando a competitividade e não o

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trabalho coletivo”(ANACHE e MARTINEZ , p.52). Dessa forma, o foco passa a

ser o processo, que envolve a participação de todos e deve acontecer de forma

constante e não periódica como acontece atualmente, na maior parte do

sistema de ensino.

Shiroma apud Garcia (2006) aponta que apesar das políticas serem

propostas ao sistema educacional, “professores e gestores imprimem às

proposições políticas suas próprias concepções e aderem ou não aos projetos

parcialmente ou em sua totalidade”.

Não temos dúvidas das conquistas definidas para as pessoas com

deficiência, reconhecendo direitos e propondo melhores condições em diversas

áreas, como saúde, educação, lazer, esporte, entre outras. A grande questão,

que resume a preocupação de todos os envolvidos no sistema escolar, pode

ser resumida na questão proposta por Garcia (2007) : “Como superar a

sobreposição de programas e serviços que visam a atender a diversidade do

alunado com base em princípios inclusivos a uma estrutura excludente?”

Muito arraigada a essa estrutura está a figura do professor como

aquele responsável pelo sucesso ou fracasso do aluno na escola. Esse

pensamento contraria a concepção da inclusão de alunos com necessidades

educacionais especiais que Beyer (2007) descreve como uma prática que seja

compartilhada por todos os sujeitos da comunidade escolar : famílias, equipes

diretiva e pedagógica, professores, funcionários e alunos.

Certamente, esta discussão é mais ampla, não se devendo deixar

recair sobre o professor a responsabilidade maior pelo sucesso inclusivo,

situação que tem gerado uma “ansiedade grupal” (BEYER, 2007, p.75) senão

chamar a todos os envolvidos à sua parte neste processo. No que se refere às

políticas educacionais Garcia (2007) questiona qual a finalidade do movimento

curricular aliado à inclusão : transformação ou adaptação da escola?

As discussões curriculares que acompanham as políticas de educação inclusiva no Brasil orientam para uma reflexão dos processos escolares na perspectiva de transformar a escola, ou estamos frente a uma

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concepção de escola satisfatória, que necessita apenas prover adaptações que eliminem barreiras para estudantes com características muito específicas?

Conforme Programa de Educação Inclusiva do Ministério da

Educação, encontramos a inclusão fundamentada “no princípio da

universalização do acesso à educação e na atenção à diversidade (...) e requer

a necessária transformação da escola e das alternativas pedagógicas com

vistas ao desenvolvimento de uma educação para todos nas escolas

regulares”. Levanta-se assim mais uma questão a ser pensada : qual é a

função social da escola ? As ações que têm sido desenvolvidas estão

correspondendo às expectativas sociais ?

No Paraná, através da Deliberação nº 02/03, temos uma série de

medidas asseguradas :

Art. 11 Para assegurar o atendimento educacional especializado os estabelecimentos de ensino deverão prever e prover : I. Acessibilidade nas edificações, com a eliminação de barreiras arquitetônicas nas instalações, no mobiliário e nos equipamentos,conforme normas técnicas vigentes; II....Professores e equipe técnico-pedagógica habilitados ou especializados; III. Apoio docente especializado, conforme a oferta regimentada; IV. Redução de número de alunos por turma,com critérios definidos pela mantenedora, quando estiverem nela incluídos alunos com necessidades educacionais especiais significativas os quais necessitam de apoios e serviços intensos e contínuos; V. Atendimento educacional especializado complementar e suplementar; VI. Flexibilização e adaptação curricular, em consonância com a proposta pedagógica da escola; VII. Projeto de enriquecimento curricular e de aceleração para superdotados; VIII. Oferta de educação bilíngüe.

Segundo Anache (2007) a pessoa com deficiência mental ou não,

necessita de mediadores externos. Portanto, é no coletivo que aprende a

conhecer, a conceituar, a elaborar e a significar o mundo.

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E é na sociedade que nascem as desigualdades, não sendo

portanto, responsabilidade da escola a tarefa de eliminá-la, nem de dissimulá-

la, mas sim de denunciá-la para que possa provocar desacomodações.

A escola tem no currículo e em seu Projeto Político Pedagógico a

oportunidade de provocar transformações do que vem limitando e oprimindo

suas práticas, enquanto descobre com a inclusão das pessoas com deficiência

uma nova forma de entender o conhecimento, conhecer a pessoa e não a

deficiência, momento para se aprofundar e quem sabe, se renovar.

Concluindo, se é que isso seja possível visto que as dúvidas são

maiores que as certezas, principalmente quando o assunto é inclusão,

processo permeado por questões contraditórias, angústias e desejos de

responder às demandas de grupos que foram durante um longo tempo

“invisíveis”, conforme referência de Oliveira (2007), é nesse meio que temos

uma luta a travar.

22

REFERÊNCIAS

ANACHE, Alexandra Ayach e MARTINEZ, Albertina Mitjáns. O sujeito com deficiência mental: Processos de aprendizagem na perspectiva histórico- cultural. In: JESUS, Denise Meyrelles de, e col. Inclusão, práticas pedagógicas e trajetórias de pesquisa. Editora Mediação, Porto Alegre, 2007.

BEYER, Hugo Otto. O Projeto da educação inclusiva : perspectivas e princípios de implementação. In: JESUS, Denise Meyrelles de, e col. Inclusão, práticas pedagógicas e trajetórias de pesquisa. Editora Mediação, Porto Alegre, 2007.

BRASIL.Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº9394/96. Brasília, 1996.

BRASIL.Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial.MEC/SEESP. Brasília,2000.

BRASIL, Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Nacionais para a Educação Básica. Parecer CNE/CEB nº 17/2001.

GARCIA, Rosalba Maria Cardoso. O conceito de flexibilidade curricular nas políticas públicas de inclusão educacional. In : JESUS, Denise Meyrelles de, e col. Inclusão, práticas pedagógicas e trajetórias de pesquisa. Editora Mediação, Porto Alegre, 2007.

_____________.Políticas de inclusão e currículo: transformação ou adaptação da escola? Universidade de Santa Maria. Santa Maria, 2007.

MACHADO, Rosângela. Educação inclusiva: revisar e refazer a cultura escolar. In: MANTOAN, Maria Teresa Eglér. O desafio das diferenças nas escolas. Vozes. Petrópolis, 2008.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar. O que é? Por quê? Como fazer? Editora Moderna. São Paulo, 2006.

MIRANDA, Sônia Guariza. Inclusão em debate: das políticas públicas ao currículo da escola. Cadernos de Educação Especial/Universidade Federal de Santa Maria. Centro de Educação/Departamento de Educação Especial. Vol.nº 13,Santa Maria, 1999.

OLIVEIRA, Ivanilde Apoluceno de. Política de Educação inclusiva nas escolas: trajetória de conflitos...In: JESUS, Denise Meyrelles de, e col. Inclusão,

23

práticas pedagógicas e trajetórias de pesquisa. Editora Mediação, Porto Alegre, 2007.

PAN, Miriam Aparecida Graciano de Souza. O direito à diferença: uma reflexão sobre deficiência intelectual e educação inclusiva. Ibpex. Curitiba, 2008.

PARANÁ. Conselho Estadual de Educação. Deliberação nº 02/2003.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Currículo Básico do Estado do Paraná. Curitiba: SEED/SUED, 1990.

PARANÁ.Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes da Educação Especial para a construção de currículos inclusivos. Curitiba:SEED?SUED, 2006.

PLATT,Adreana Dulcina. Revisitando a história quanto à produção da deficiência. Cadernos de Educação Especial/ Universidade Federal de Santa Maria. Centro de Educação/Departamento de Educação Especial. VolI,nº 13,Santa Maria, 1999.

STAINBACK,Susan e STAINBACK,William. Inclusão: um guia para educadores. Artmed Editora, Porto Alegre, 1999.

SILVA,T.T. Documentos de Identidade. Uma introdução às teorias do currículo. Editora Autêntica. Belo Horizonte, 2007.

24

2.3 EDUCAÇÃO PARA TODOS : REFLEXÕES SOBRE O CURRÍCULO NA ESCOLA INCLUSIVA

Desde a década de noventa assistimos à intensificação de debates

acerca da inclusão, deflagrado após o encontro em Jomtiem, na Tailândia com

a Educação para Todos, seguindo-se Salamanca discutindo a Educação

Inclusiva,Guatemala e Montreal, para destacar somente os principais.

O movimento inclusivo, conforme explicitado na Política Nacional de

Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, é uma ação política, cultural,

social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de

estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de

discriminação. Reconhecendo a possibilidade de práticas discriminatórias e a

necessidade de se criar alternativas para superá-las, o grupo de trabalho

responsável pela elaboração desse documento propõe um repensar dos

sistemas educacionais, a organização de escolas e classes especiais.

Refere ainda o citado documento que “os estudos no campo da

educação e a defesa dos direitos humanos vêm modificando os conceitos, as

legislações e as práticas pedagógicas e de gestão, promovendo a

reestruturação do ensino regular e especial”.

Impossível não pensar no currículo diante deste panorama de

modificações pois, certamente novas configurações curriculares serão

construídas, mesmo que se considere que “hoje em dia, não é possível ensinar

tudo a todos, dentro daquilo a que se pode designar por pansemia curricular

(PACHECO, 2005). A discussão sobre a possibilidade de um currículo único,

com conteúdos que têm sido trabalhados ao longo dos anos ou um currículo

que atenda às diferenças locais, mais focado nas questões culturais, próprias

do meio onde está inserida a escola, tem se mostrado acirrada e levantado

muita polêmica quanto às intenções e práticas dessas idéias.

25

Para entender currículo enquanto construção social, Silva (2004)

explica que “o verdadeiro significado da palavra currículo é que o que ele é

depende precisamente da forma como ele é definido pelos diferentes autores e

teorias, ou seja, o foco tem que estar no discurso, numa abordagem histórica”.

Segundo Silva, M. A.(2006)

“a história das concepções de currículo é marcada por decisões básicas tomadas com o intuito de (1) racionalizar, de forma administrativa, a gestão do currículo para adequá-lo às exigências econômicas, sociais e culturais da época; (2) elaborar uma crítica à escola capitalista; (3) compreender como o currículo atua; e (4) propor uma escola diferente seja na perspectiva socialista, seja na perspectiva libertária”.

Todas essas mudanças de concepções devem ser estudadas no

contexto em que se inserem pois seus movimentos levam a novos estudos

curriculares, donde se conclui que o momento pelo qual passa a educação é

pleno de perspectivas de mudanças enquanto nos percebemos no centro de

várias disputas pelo domínio de idéias que Silva (2007) descreve como uma

luta por hegemonia “as teorias do currículo estão no centro de um território

contestado”.

Em uma breve retrospectiva das teorias que vêm influenciando a

educação temos as teorias tradicionais, concentradas em questões técnicas,

que se definem neutras e estão envolvidas em questões de organização “eram

teorias de aceitação, ajuste e adaptação”; as teorias críticas e pós-críticas

questionando o por quê das escolhas de alguns conteúdos em detrimento de

outros enquanto uma enfatiza ideologia e poder, outra concentra-se no

conceito de discurso levando-nos a mudar o olhar diante do currículo e da

escola, voltado ao multiculturalismo, na definição de Silva (2007).

Como lembra Shiroma apud Garcia (2007), os conceitos são

fundamentais para a compreensão das idéias, noções, filiações teóricas

presentes nas proposições políticas, uma vez que as palavras fazem diferença.

Assim, a preocupação em entender o conceito de flexibilização

curricular, onde a referida autora cita algumas idéias gerais relacionadas ao

termo flexibilidade curricular analisados em discursos políticos em documentos

26

internacionais : qualidade, inclusivo, inovação,não-tradicional, não rígido, não

homogêneo, dinamicidade, movimento, atendimento ao local. Relaciona,

dessa forma, uma idéia de currículo flexível a um trabalho pedagógico

inclusivo, “que atenda ao mesmo tempo a diversidade humana e à identidade

cultural local”.

Foi no texto da Declaração de Salamanca que se fez referência ao

conceito de flexibilidade curricular associado ao conceito de adaptação

curricular, que era utilizado anteriormente com maior freqüência no ensino

especial: “percebe-se uma defesa de que o currículo seja adaptado às crianças

e não o contrário”( GARCIA, 2007).

Em 1994 é publicada a Política Nacional de Educação Especial, “que

orientou o processo de integração instrucional e condicionou o acesso às

classes comuns do ensino regular àqueles que “(...) possuem condições de

acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino

comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais” (MEC/SEESP,1994,

p.19).

No Brasil, o termo adaptações curriculares voltado ao ensino comum

foi citado pela primeira vez no texto da Política Nacional de Educação Especial,

em 1994 e em 1999 foi descrita no texto da Política Nacional para Educação

Básica como :

modificações que são necessárias realizar em diversos elementos do currículo básico para adequar as diferentes situações, grupos e pessoas para as quais se aplica. As adaptações curriculares são intrínsecas ao novo conceito de currículo. De fato, um currículo deve contar com adaptações para atender à diversidade das salas de aula, dos alunos (LANDIVÁR apud PARANÁ,2006,p.50),

esclarecendo ainda que a mesma não deve ser vista para um grupo específico,

senão para todos os alunos individualmente quando absolutamente necessário.

Sob influência dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs e do

Projeto Escola Viva, a referida Política Nacional para a Educação Básica trazia

em sua cartilha as definições de adaptações de grande porte e de pequeno

porte, sugerindo a idéia de respostas educativas que devem ser dadas pelo

27

sistema educacional de forma a favorecer a todos os alunos e dentre estes, os

que apresentam necessidades educacionais especiais (MEC, 2000).

Outra definição referente às adaptações:

Quando se fala de adaptações curriculares está se falando sobretudo e, em primeiro lugar, de uma estratégia de planejamento e de atuação docente e, nesse sentido, de um processo para tratar de responder às necessidades de aprendizagem de cada aluno [...] fundamentado em uma série de critérios para guiar a tomada de decisões com respeito ao que é, ao que o aluno ou aluna deve aprender, como e quando e qual é a melhor forma de organizar o ensino para que todos saiam beneficiados ( MEC, 1992 ).

O uso do termo adaptação necessita uma reflexão maior porque

adaptar nos remete à idéia de ajuste mecânico, físico, localizado e conforme

Bueno (2000), adaptar é ajustar uma coisa a outra, amoldar, adequar,

apropriar. Historicamente, Garcia (2007) relata que o termo adaptação

curricular foi relacionado ao modelo médico-psicológico no campo da educação

especial, com o “sentido de adequar métodos, técnicas e recursos aos

diferentes diagnósticos dos alunos, a partir das categorias de deficiência:

surdo, cego, deficiente físico, mental, múltiplo; das condutas típicas e das altas

habilidades” .

Já a flexibilidade curricular, “que surge como nova proposta ao longo

dos anos 1990, passa a ser relacionada ao significado prático e instrumental

dos conteúdos básicos, favorecendo uma interpretação de hierarquização do

acesso aos conhecimentos a partir das diferenças individuais” ( GARCIA apud

GARCIA, 2004;2005). Um pouco mais distanciada do termo adaptações

curriculares, a expressão flexibilização curricular passou a ser citada a partir de

2005 pela SEESP- Secretaria de Educação Especial associando-se aos dois

termos anteriores a adequação curricular. Garcia (2007) descreve a

flexibilização curricular nesse período como :

1.considerada fundamental para o processo de inclusão educativa e devendo ser pensada a partir do grupo de alunos e a diversidade que o compõe e não para alguns alunos isoladamente (Brasil, 2005, p.10); e 2. Importante para viabilizar o processo de inclusão, a partir de “adequações curriculares (...) pensadas a partir do contexto grupal em

28

que se insere determinado aluno (...). As adaptações curriculares devem ser pensadas a partir de cada situação particular e não como propostas universais, válidas para qualquer contexto escolar (p.29)”.

Numa clara referência ao grupo de alunos e não mais a cada um

individualmente, percebe-se aí a presença da educação voltada para todos e

ao mesmo tempo para cada um individualmente, quando há referência à

flexibilização curricular, volta-se ao grupo, quando se trata de adaptação é no

plano individual que ela acontece, lembrando que a idéia apoiada nas

diferenças individuais estão fundamentadas na psicologia e remetem ao

modelo médico-psicológico. O acentuado discurso sobre as diferenças pode

influenciar as políticas curriculares, que Garcia (2007) aponta ter como

conseqüência a desigualdade no acesso à cultura, mas agora justificada pela

qualidade multicultural da sociedade, correndo-se o risco de se ter vários

currículos sendo aplicados ao mesmo tempo. Novamente estamos diante de

conceitos : universalização, diferenciação e individualização que remetem à

oposição entre relativismo e universalismo.

As posições relativistas identificadas com o respeito às diferentes

culturas pode ter em seu principal argumento a continuação das

desigualdades, através de processos desiguais de acesso ao currículo

enquanto os sistemas de ensino sustentando de forma universalista uma

“escola para todos” corre o risco de dar amplo acesso mas hierarquizar o

acesso ao conhecimento.

Na concepção de Fernandes (apud PARANÁ,2006,p.51)

nesse currículo prevalece a idéia de que a flexibilização ou a adaptação curricular sejam prerrogativa para celebrar as diferenças em sala de aula, contrariando a prática tradicional de que todos os alunos aprendem da mesma forma, com as mesmas estratégias metodológicas, com os mesmos materiais e no mesmo tempo/faixa etária. Ou seja, precisa-se abolir a idéia de um currículo adaptado para aqueles alunos que se diferenciam do grupo dito homogêneo que, supostamente, constitui as salas de aula.

29

Tais adaptações partiriam de um currículo comum a todos os alunos,

no qual a intervenção educativa deixa de estar centrada nas diferenças para se radicar na capacidade de aprendizagem do aluno integrado a partir de suas características individuais, bem como na capacidade das instituições educativas para responder às necessidades dos alunos (GONZÁLEZ apud PARANÁ, 2006, p.51).

Na esteira dessa discussão, Garcia (2008) ressalta que “ é necessário

questionar qual o papel exercido por tais serviços (especializados) e como

estão relacionados ao trabalho pedagógico realizado na educação básica”.

Quanto ao trabalho pedagógico, ao se debater sobre a inclusão, Beyer (2007)

descreve a atitude de educadores e pesquisadores envolvidos como em um

estado de “ansiedade grupal”, buscando principalmente resposta a uma

questão : “como” implementar, de uma forma plausível e possível, o projeto

inclusivo nas escolas em geral. Variando seus posicionamentos, os professores

têm se manifestado ora de forma cética e crítica, ora com expectativa elevada

em relação à busca por respostas que não existem prontas.

No âmbito educacional, a responsabilidade pelo projeto inclusivo deve

ser compartilhada com todos os envolvidos: famílias, equipe diretiva e

pedagógica, professores, funcionários e alunos. É necessário o envolvimento

de toda equipe da escola dividindo as responsabilidades na reflexão e na

execução do Projeto Político Pedagógico, do currículo e das mudanças de

atitudes individuais, tanto em relação ao outro diferente como em relação ao

uso das tecnologias educacionais e outras metodologias a serem utilizadas

com o intuito de atingir cada um dos alunos.

Beyer (2007) salienta, porém, que “o professor em sala de aula é

peça fundamental para que a ação educativa junto aos alunos com

necessidades educacionais especiais tenha margem razoável de sucesso”.

A solução para que o professor acompanhe esse processo e se

aproprie dos conceitos relacionados a ele, está na proposta da formação inicial

e continuada que lhe dê subsídios para uma “prática educativa coerente com o

projeto inclusivo” (BEYER, 2007).

30

Essa posição é reforçada por Sacristán (2000,p.10):

Pouco adiantará fazer reformas curriculares se estas não forem ligadas à formação dos professores. Não existe política mais eficaz de aperfeiçoamento do professorado que aquela que conecta a nova formação àquele que motiva sua atividade diária: o currículo.

Outra discussão que consideramos necessária levantar refere-se à

questão se, no processo inclusivo, os serviços de educação especial devem ou

não se deslocar para o ensino comum. Existem duas posições diferenciadas

diante dessa proposição: uma que defende a incompatibilidade dos dois

serviços devido às idéias inerentes ao processo inclusivo de educação para

todos e o conceito médico-psicológico atrelado ao ensino especializado . Outra

que considera que a atuação conjunta dessas áreas seria relevante e implicaria

numa revisão de conceitos da educação especial no ensino comum.

Mantoan (2006, p.41) coloca a questão : Para que os alunos se

ajustem às velhas exigências da escola, muda-se a escola ou mudam-se os

alunos ?

A referida autora argumenta que mudar a escola é enfrentar muitas

frentes de trabalho e cita algumas tarefas para que esse enfrentamento ocorra :

- Recriar o modelo educativo escolar, tendo como eixo o ensino para todos. - Reorganizar pedagogicamente as escolas, abrindo espaços para a cooperação, o diálogo, a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico entre professores, administradores, funcionários e alunos, porque são habilidades mínimas para o exercício da verdadeira cidadania. - Garantir aos alunos tempo e liberdade para aprender, bem como um ensino que não segregue e que reprove a repetência. - Formar, aprimorar continuamente e valorizar o professor, para que tenha condições e estímulo para ensinar a turma toda, sem exclusões e exceções.

Enfim, nesse período de mudanças, há muito o que refletir, e a

mudança não ocorrerá somente nas escolas comuns, “a escola especial

também deve apresentar indicativos de mudança, redefinindo e ampliando seu

papel para desenvolver uma rede de especialistas de apoio” (PAN, 2008),

31

abrindo-se aí novas possibilidades de ação dessa especialidade. Se essa

continuidade com alterações será possível ou não, ainda é cedo para termos

alguma certeza. O que podemos afirmar no momento, é que a Política Nacional

de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva garante o acesso de alunos

com deficiências, com oferta de atendimento educacional especializado,

passando a constituir a proposta pedagógica da escola, atuando de forma

articulada com o ensino comum, sem porém, substituí-lo. Ressalta ainda o

documento, que as pessoas se modificam continuamente, transformando o

contexto no qual se inserem e que os ambientes heterogêneos promovem a

aprendizagem de todos os alunos.

Apesar das incertezas, temores e frustrações, essa nova configuração

pode gerar, como afirma Beyer (2007) avanços e transformações e quem sabe,

uma inclusão escolar possível.

32

REFERÊNCIAS

BEYER, Hugo Otto. O Projeto da educação inclusiva : perspectivas e princípios de implementação. In: JESUS, Denise Meyrelles de, e col. Inclusão, práticas pedagógicas e trajetórias de pesquisa. Editora Mediação, Porto Alegre, 2007.

BRASIL.Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial.MEC/SEESP. Brasília,2000.

BRASIL,Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Nacionais para a Educação Básica. Parecer CNE/CEB nº 17/2001.

BRASIL. Projeto Escola Viva. MEC/SEESP, 2000.

BRASIL. Política Nacional de Educação Especial, MEC/SEESP,1994

BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva inclusiva,

MEC/SEESP, 2008.

BUENO, Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa. Editora FTD. São Paulo, 2000.

GARCIA, Rosalba Maria Cardoso. O conceito de flexibilidade curricular nas políticas públicas de inclusão educacional. In : JESUS, Denise Meyrelles de, e col. Inclusão, práticas pedagógicas e trajetórias de pesquisa. Editora Mediação, Porto Alegre, 2007.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar. O que é? Por quê? Como fazer? Editora Moderna. São Paulo, 2006.

PAN, Miriam Aparecida Graciano de Souza. O direito à diferença: uma reflexão sobre deficiência intelectual e educação inclusiva. Ibpex. Curitiba, 2008.

PARANÁ. Conselho Estadual de Educação. Deliberação nº 02/2003.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Currículo Básico do Estado do Paraná. Curitiba: SEED/SUED, 1990.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes da Educação Especial para a construção de currículos inclusivos. Curitiba:SEED/SUED, 2006.

33

PACHECO, José Augusto. Escritos Curriculares. Editora Cortez. São Paulo, 2005.

SACRISTÁN, J. Gimeno. O Currículo : Uma reflexão sobre a prática. Editora Artmed. Porto Alegre, 1991.

SILVA, Maria Aparecida. Currículo para além da Modernidade. Universidad de Itaúna. ANPEd , 2006.

SILVA,T.T. Documentos de Identidade. Uma introdução às teorias do currículo. Editora Autêntica. Belo Horizonte, 2007.

34

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As reflexões contidas nos três textos acerca de currículo não se

esgotam certamente, mas, abrangendo temas como currículo, educação

especial e educação inclusiva buscou-se alguma luz em direção ao trabalho

com o deficiente intelectual que é o motivo da presente pesquisa.

Pensar sobre as políticas educacionais, as interações sociais que

estão se constituindo, as modificações curriculares diante do aluno com

deficiência, os recursos, são alguns pontos, entre outros, que merecem muita

atenção por parte dos educadores.

As indefinições estão acentuadas neste momento pela transição de

paradigma que a educação vem passando, onde o olhar se dirige para a

aceitação das diferenças e não mais para o esforço pela homogeneização que

é causa de tanta exclusão, exige, portanto, um olhar mais atento do educador.

Dessa forma, as discussões são necessárias para que alguns

conceitos incutidos sejam esclarecidos e assim novas questões possam ser

levantadas. Esperamos que os textos aqui apresentados sejam o início de um

caminho de encontros para se pensar a educação.

Ao final deste Caderno foram registradas algumas questões para

reflexões que devem acontecer em conjunto, com o grupo de profissionais da

educação envolvidos nos dois contextos, o especializado e o comum, não para

dividir, mas para somar e até multiplicar.

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ANEXOS

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1. REFLEXÕES ACERCA DO TEXTO :

O CURRÍCULO E AS TRANSFORMAÇÕES DA ESCOLA

• O currículo deve propor o que se deve ensinar ou aquilo que os alunos devem aprender?

• O currículo é o que se deve ensinar e aprender ou é também o que se ensina e aprende na prática?

• O currículo é algo especificado, delimitado e acabado que logo se aplica ou é de igual modo algo aberto que se delimita no próprio processo de aplicação?

REFERÊNCIA

PACHECO, José Augusto. Escritos Curriculares. Editora Cortez.São Paulo, 2005.

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REFLEXÕES ACERCA DO TEXTO:

EDUCAÇÃO ESPECIAL, O DEFICIENTE INTELECTUAL E O CONTEXTO INCLUSIVO

• Discutir com o grupo o que você entende da afirmação de Tomaz

Tadeu da Silva (2007) quando afirma que o currículo deveria

analisar “os processos pelos quais as diferenças são produzidas

através de relações de assimetria e desigualdade”(SILVA,2007).

• Prieto (2008) , referindo-se às instâncias globais e locais que

compõem o sistema educacional afirma que ambas se interpenetram

e se contaminam, ainda que em condições de desigualdade, dada a

expressão de “imposição disfarçada” nessas relações pelo poder de

coerção financeira dos organismos internacionais nas esferas do

governo locais. Como a escola pode posicionar-se diante dessa

realidade ?

• A desigualdade tem raízes que não são alcançadas pela intervenção

da instituição escolar. Prieto (2008) considera que é no contexto

social mais amplo que mudanças estruturais devem acontecer, ou

corremos o risco de estar sempre produzindo ou reproduzindo

diferenciações entre os homens por sua origem sócio-econômica,

étnico-racial, cultural ou por características individuais. Qual é a

função social da escola?

REFERÊNCIAS

PRIETO, Rosângela Gavioli. Sobre mecanismos de (re)produção de sentidos das políticas educacionais. In: BAPTISTA, Cláudio Roberto. Educação Especial : Diálogo e pluralidade.Editora Mediação. Porto Alegre. 2008.

SILVA,T.T. Documentos de Identidade. Uma introdução às teorias do currículo. Editora Autêntica. Belo Horizonte, 2007.

38

REFLEXÕES ACERCA DO TEXTO :

EDUCAÇÃO PARA TODOS: REFLEXÕES SOBRE O CURRÍCULO NA ESCOLA INCLUSIVA

• Em que medida as práticas pedagógicas baseadas no multiculturalismo e na interculturalidade podem dar resposta à realidade educacional atual?

• Qual é o significado da diversidade cultural quando pensamos o contexto escolar?

• Quais as bases de conhecimento são necessárias para que os profissionais da educação sejam, de fato, agentes de mudança?

• Kassar (2008) explica que o Ministério da Educação implantou em 2003 o Programa de Educação Inclusiva que em sua apresentação fundamenta a inclusão: “no princípio da universalização do acesso à educação e na atenção à diversidade (...) e requer a necessária transformação da escola e das alternativas pedagógicas com vistas ao desenvolvimento de uma educação para todos nas escolas regulares”.

O documento se refere à transformação ou adaptação da escola ?

REFERÊNCIAS

KASSAR, Mônica de Carvalho Magalhães e col. Políticas de Inclusão : O verso e o reverso de discursos e práticas. In: JESUS, Denise Mayrelles de e org. Inclusão, práticas pedagógicas e trajetórias de pesquisa. Editora Mediação. Porto Alegre, 2007.

SILVA,T.T. Documentos de Identidade. Uma introdução às teorias do currículo. Editora Autêntica. Belo Horizonte, 2007.

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