FLG 0114 – Mudanças Climáticas Globais e Implicações...

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1 FLG 0114 – Mudanças Climáticas Globais e Implicações Locais Disciplina Ministrada pelo Prof. Dr. Ricardo Contribuição especial do Prof. José Bueno Conti – Desertificação – 1 – Introdução Neste resumo de aula, apresenta-se a contribuição do Prof. Dr. José Bueno Conti sobre o tema “Desertificação” dentro do escopo do curso de Mudanças Climáticas. É importante ressaltar que durante os anos de 1970 a 1980, este assunto era discutido com o mesmo “entusiasmo” fervoroso e quase doutrinário que vemos atualmente, no que se refere ao “aquecimento global”. Navegando contra a maré da época, o Prof. Conti demostrou, através de método científico muito bem experimentado, que o alarde não fazia justiça à realidade imposta. Abordou o tema através de pesquisa realizada com os dados do Nordeste brasileiro e demonstrou que, em muitos casos, observavam-se cenários justamente contrários: a antidesertificação. Sua contribuição ao curso é importante pois trata-se de um cientista com experiência vivida, apresentando-se como um dos primeiros céticos às “modas climáticas” que surgem de tempos em tempos. Em uma de suas discussões, ele relatou as palavras proferidas pelo Secretário Geral da ONU, Kurt Waldheim, em Uagadugu, capital de Burkina Faso, em 1974. Esse país, tem 270.000 km quadrados e se encontra na região do Sahel africano. Durante o discurso, o secretário afirmou: "Daqui a menos de cinqüenta anos, o crescimento do deserto ameaça riscar do mapa três ou quatro países da África", situação esta que não se concretizou. Notamos, com estas palavras, que a difusão de histerias já remonta outros tempos e que tal tipo de discurso parece-nos muito atual, quando observamos o caso do ozônio e o CFC, e muito mais com o dióxido de carbono e o aquecimento global. 2 – A Desertificação como Forma de Degradação Ambiental no Brasil A preocupação com o meio ambiente e as relações entre sociedade e natureza constituem um tema de indiscutível relevância. O confronto entre os interesses econômicos e a defesa do meio natural vem sendo objeto de análise e questionamento por parte dos estudiosos das várias ciências do homem e da terra. Como salientou, P. George: Se, nas ciências da natureza, o meio ambiente é um dado estável à escala dos ciclos morfológicos, nas ciências humanas [...] cujo equilíbrio e balanço cabe à Geografia elaborar, o meio ambiente é um compromisso continuamente questionado entre as propriedades do meio e as intervenções procedentes da ação humana e dos níveis instrumentais 1 .

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FLG 0114 – Mudanças ClimáticasGlobais e Implicações Locais

Disciplina Ministrada pelo Prof. Dr. RicardoContribuição especial do Prof. José Bueno Conti

– Desertificação –

1 – Introdução

Neste resumo de aula, apresenta-se a contribuição do Prof. Dr. José BuenoConti sobre o tema “Desertificação” dentro do escopo do curso de MudançasClimáticas. É importante ressaltar que durante os anos de 1970 a 1980, esteassunto era discutido com o mesmo “entusiasmo” fervoroso e quase doutrinárioque vemos atualmente, no que se refere ao “aquecimento global”.

Navegando contra a maré da época, o Prof. Conti demostrou, através demétodo científico muito bem experimentado, que o alarde não fazia justiça àrealidade imposta. Abordou o tema através de pesquisa realizada com os dadosdo Nordeste brasileiro e demonstrou que, em muitos casos, observavam-secenários justamente contrários: a antidesertificação. Sua contribuição ao curso éimportante pois trata-se de um cientista com experiência vivida, apresentando-secomo um dos primeiros céticos às “modas climáticas” que surgem de tempos emtempos. Em uma de suas discussões, ele relatou as palavras proferidas peloSecretário Geral da ONU, Kurt Waldheim, em Uagadugu, capital de BurkinaFaso, em 1974. Esse país, tem 270.000 km quadrados e se encontra na região doSahel africano. Durante o discurso, o secretário afirmou: "Daqui a menos decinqüenta anos, o crescimento do deserto ameaça riscar do mapa três ou quatropaíses da África", situação esta que não se concretizou. Notamos, com estaspalavras, que a difusão de histerias já remonta outros tempos e que tal tipo dediscurso parece-nos muito atual, quando observamos o caso do ozônio e o CFC, emuito mais com o dióxido de carbono e o aquecimento global.

2 – A Desertificação como Forma de Degradação Ambiental no Brasil

A preocupação com o meio ambiente e as relações entre sociedade enatureza constituem um tema de indiscutível relevância. O confronto entre osinteresses econômicos e a defesa do meio natural vem sendo objeto de análise equestionamento por parte dos estudiosos das várias ciências do homem e da terra.Como salientou, P. George:

Se, nas ciências da natureza, o meio ambiente é um dado estável à escala dosciclos morfológicos, nas ciências humanas [...] cujo equilíbrio e balanço cabe àGeografia elaborar, o meio ambiente é um compromisso continuamentequestionado entre as propriedades do meio e as intervenções procedentes daação humana e dos níveis instrumentais1.

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A partir de uma atividade predatória em grande escala inicia-se adegradação e o empobrecimento da natureza, da qual a desertificação é uma dasmodalidades. O processo de transformação da natureza, qualquer que seja adimensão da análise ou a escala em que se verifica, não pode ser dissociado daação exercida pela sociedade. Esta interfere no meio em busca de recursos para asobrevivência, desencadeando um processo interativo de conseqüências nadadesprezíveis, estudadas, de longa data, pelos geógrafos.

No passado, tais procedimentos conduziram ao surgimento do modelo dosgêneros de vida, característico das sociedades menos complexas, vivendo emeconomia quase fechada2. Tais comunidades, embora bem adaptadas ao própriomeio, têm sido as mais afetadas pelo contato com tecnologias avançadas, as quaisacabam por produzir efeitos mais negativos que positivos em suas frágeisestruturas sociais e econômicas.

A disseminação generalizada do modelo de economia industrial veio criaroutra escala de relações. Impulsionada pelo aumento da demanda, decorrente doacelerado crescimento da população mundial e da multiplicação dos hábitos deconsumismo entre as coletividades que desfrutam de alto padrão de vida, aeconomia expandiu-se velozmente nos últimos duzentos anos, com enormeapetite de produção e consumo.

A pressão advinda do aumento populacional foi reforçada pelo maiorpoder de intervenção no meio, decorrente do uso de equipamentos maisagressivos como, por exemplo, motosserras, desfolhantes químicos, escavadeirasmecânicas etc. que ampliaram enormemente a força de destruição.Continuamente vêm ocorrendo mudanças no modelado, nos sistemashidrográficos, nas camadas do solo e no comportamento do clima, que serefletem na cobertura vegetal, na fauna, na desagregação das rochas e nosprocessos morfogenéticos como um todo.

A profunda transformação ambiental que se processa atualmente nomundo, alargando as áreas de desmatamento e de superexploração do soloagrícola, intervindo no mecanismo de reciclagem do vapor d’água, bem comodesequilibrando o balanço da energia na superfície, produzem alteraçõesclimáticas, notadamente em meso e microescalas. A desertificação é uma dessasmodalidades e, freqüentemente, se manifesta pela degradação generalizada doambiente como resultado de práticas exploratórias incorretas. A sociedadeindustrial assumiu, inegavelmente, uma atitude dilapidadora em relação ao meio,dissipando recursos e desorganizando, muitas vezes de forma irreversível, ossistemas naturais, especialmente os das baixas latitudes, em virtude do modeloeconômico global que transformou, num primeiro momento, os países aí situadosem produtores de matérias-primas.

Estimativas da World Wildlife Foundation (WWF) admitem que mais de40% das florestas tropicais do mundo já tenham sido destruídas e apontam os

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seguintes países como os de maior incidência de desmatamentos: Filipinas,Tailândia, Malásia, Índia, Bangladesh, Sri Lanka, na Ásia; Costa do Marfim,República do Congo, Nigéria e Ghana, na África; Haiti, nas Antilhas; e Brasil, naAmérica do Sul. Avaliações baseadas em modelos numéricos calculam que odesmatamento da faixa compreendida entre as latitudes de 5º N e 5º S poderiaprovocar, em virtude da elevação do índice de albedo (ou refletância da energiasolar incidente), uma queda de 0,2 ºC a 0,3 ºC na temperatura média global. Porconseguinte, ocorreriam reduções de até 10% na intensidade da evaporação e daprecipitação naquela faixa de latitude3. Nos ecossistemas de equilíbrio precário, adesestabilização do clima, manifestada pela ocorrência de secas, chuvas emexcesso ou com variações anuais, poderia comprometer sua recuperação.

As regiões subúmidas ou semi-áridas, de população relativamente densa,são as de maior risco de degradação e os estudos têm demonstrado que asatividades exploratórias descontroladas constituem a principal causa dadesertificação. As pesquisas sobre esse tema, desde as investigações pioneiras doengenheiro Albert de Aubreville na África equatorial4, sempre assinalaram aimportância da ação antrópica no desencadeamento do processo. Da mesmaforma, a Conferência Mundial sobre Desertificação, a primeira convocada pelaONU e reunida em Nairobi (Quênia), em 1977, reiterou a mesma postura.

Pode-se estabelecer categorias de intensidade de desertificação,utilizando-se de critérios ambientais. As que apresentamos, a seguir, são deHarold E. Dregne (Quadro 1).

É também usual o termo desertização para designar a extensão depaisagens e formas tipicamente desérticas, em áreas semi-áridas ou subúmidas,como conseqüência da ação humana. O termo, contudo, não alcançou consensoentre os estudiosos e seu emprego é cada vez menos freqüente, em virtude dosignificado impreciso. Outros termos foram propostos tais como sahelização,estepização e sudanização, que corresponderiam a diferentes graus dedesaparecimento do estrato arbóreo e aridificação ou aridização, indicadores deuma evolução natural em direção a um clima mais seco.

A tendência inversa, ou seja, a do recuo dos desertos, chamada deantidesertificação, também se registra em várias partes do mundo indicando queo fenômeno está longe de ser simples.

Esquematicamente, pode-se classificar a desertificação em duasmodalidades: natural (ou climática) e antrópica (ou ecológica) (Quadro 2).

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QUADRO 1: INTENSIDADE DA DESERTIFICAÇÃO

Grau Caracterização % de IncidênciaFraca Pequena deterioração da cobertura vegetal e dos

solos.18,0

Moderada Grande deterioração da cobertura vegetal esurgimento de nódulos de areia. Indícios desalinização dos solos. Voçorocamentos.

53,6

Severa Severa ampliação das áreas sujeitas avoçorocamentos e surgimentos de dunas. Avanço daerosão eólica.

28,3

Muito Severa Desaparecimento quase completo da biomassa.Impermeabilização e salinização intensa dos solos.

0,1

QUADRO 2: MODALIDADES DE DESERTIFICAÇÃO

Climática Ecológica

Conceito Diminuição de água no sistema natural Criação de condições semelhantes às dos

desertos

Avaliação Índices de aridez Empobrecimento da biomassa

1. Elevação da temperatura média 1. Desaparecimento de árvores e

arbustos lenhosos (desmatamento).

2. Agravamento do déficit hídrico dos solos 2. Aumento das espécies espinhosas

(xerofíticas).

3. Aumento do escoamento superficial

(torrencialidade).

3. Elevação do albedo, ou seja, maior

refletividade na faixa do infravermelho

4. Intensificação da erosão eólica 4. Mineralização do solo em encostas

com mais de 20º de inclinação (perda de

húmus).

5. Redução das precipitações (perda de

húmus).

5. Forte erosão do manto superficial

(voçorocamento).

6. Aumento da amplitude térmica diária.

Indicadores

7. Diminuição da umidade relativa (UR) do ar.

6. Invasão maciça das areias.

CausasMudanças nos padrões climáticos Crescimento demográfico e pressão

sobre os recursos.

1. Desertificação das regiões periféricas

tropicais durante as glaciações.Exemplos

Oscilações dos cinturões áridos tropicais

durante as glaciações quaternárias

2. Pontos de desertificação no Sul do

Brasil (PR, RS).

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3 – As Regiões Semi-Áridas e Subúmidas Tropicais e sua Fragilidade

A posição geográfica privilegiada da faixa intertropical em relação aorecebimento da radiação solar faz concentrar o calor nessas latitudes, dotando-asde um excedente energético muito significativo sobre o restante do planeta.Estimativas feitas por H. G. Houghton para o hemisfério Norte propõem que essesuperávit é, no mínimo, cinco vezes maior que o montante recebido pelaslatitudes altas, consideradas como tais aquelas situadas além de 60º5. A diferençade calor específico entre terras e águas concorre para que o calor latente seconcentre nos oceanos e, como a zona intertropical é dominantemente líquida(apenas 24% das terras emersas aí estão situadas), o fluxo do calor latente chegaa ser três vezes superior ao dos mares de latitudes elevadas. Essa importanteconcentração energética é um dado preliminar para o entendimento da naturezatropical, uma vez que tornam os processos naturais muito mais agressivos eincontroláveis.

Se, quanto à temperatura, a variação ao longo do ano é pouco expressiva,o oposto ocorre com a pluviosidade, registrando-se, entre os trópicos, valoresmuito contrastantes, seja quanto aos totais (que variam de 2500 mm anuais, naAmazônia ocidental, até médias que não atingem 200 mm, como nas regiõeshiperáridas no Norte do Chile), seja quanto ao regime pluviométrico. Este éfundamental, por exemplo, para a evolução da vida vegetal e animal. Nas regiõesáridas, semi-áridas e subúmidas, a variabilidade, ano a ano, da precipitação, émuito grande e a torrencialidade constitui uma característica importante.

A interação oceano-atmosfera concorre, de forma expressiva, para definiro mosaico pluviométrico das baixas latitudes. O giro anticiclônico da massaoceânica conduz as águas frias, oriundas das latitudes elevadas, para as costasocidentais dos continentes, produzindo dissimetrias muito significativas quanto àdistribuição das chuvas. A presença de águas com temperaturas baixas, junto àcosta, estabiliza a atmosfera e inibe a formação da chuva. Os desertos costeirosda África meridional (Namíbia) e do Norte do Chile (Atacama) são os exemplosmais conhecidos de ambientes áridos associados a correntes frias. No Pacíficotropical, os arquipélagos situados a Leste do meridiano de 180º apresentam totaispluviométricos anuais bastante reduzidos, pois a região é ocupada por umconsiderável volume de águas frias (para aquela latitude), alimentadas pelacorrente de Humboldt, além de apresentar vários pontos de ressurgência. As ilhasMalden, situadas na latitude de 4º S, registram uma média pluviométrica anual deapenas 730 mm e a ilha de Canton, a 2º 46’ S, de 746 mm. Em alguns pontos doarquipélago de Galápagos (latitude zero), o total anual de chuvas,freqüentemente, pouco ultrapassa 300 mm.

4 – A Presença Humana nos Trópicos

Aproximadamente 40% da população do mundo habita a faixaintertropical, distribuindo-se de forma desigual, fato já suficientemente

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conhecido. A civilização urbano-industrial, originada e desenvolvida nas médiaslatitudes, chegou tardiamente aos trópicos e aí se instalou, na maioria dos casos,de forma pouco adequada, provocando traumas ambientais.

O desmatamento, por exemplo, foi e continua sendo praticado,geralmente, sem nenhum controle e, além de destruir a flora, desencadeia efeitosindesejáveis para a fauna, o solo e o microclima; o mesmo podendo ser afirmadopara as queimadas. Com a eliminação da floresta, o volume de micropartículas deorigem vegetal em suspensão na atmosfera (chamadas núcleos biogênicos) édrasticamente reduzido e o processo de formação de nuvens torna-se mais difícil,já que as gotículas necessitam desses núcleos para iniciar a coalescência. Poroutro lado, a capacidade refletora da superfície (ou albedo) aumenta três vezes,ocasionando a perda de energia incidente e redução da temperatura de superfície.Como resultado, enfraquecem-se as correntes convectivas ascendentesdesestimulando a formação de nuvens e de chuvas. O ciclo hidrológico,principalmente a reciclagem do vapor d’água, também é perturbado, em virtudeda intervenção no processo da evapotranspiração.

As queimadas, ao fornecerem compostos de CO2 para a atmosfera,agravam o efeito estufa, que produz várias conseqüências climáticas, não sóelevando a temperatura, mas acentuando as instabilidades. Por outro lado,contudo, concorrem para aumentar o volume de micropartículas em suspensão(cinzas), as quais desempenham o papel de núcleos higroscópicos, causandoprecipitações na escala local.

A eliminação da vegetação de grande porte, por sua vez, avoluma oescoamento superficial em proporções que variam de 10 a 30% (conforme aintensidade da chuva), tornando mais agressiva a erosão pluvial. Como resultado,ativam-se os processos de erosão acelerada e os voçorocamentos, sobretudo ondeo manto superficial é frágil, como por exemplo, nos arenitos. A mineralizaçãodos solos e a formação de carapaças lateríticas tende a se expandir. Vastosterritórios recém-ocupados, submetidos a desmatamentos e queimadas para aprática da agricultura e da pecuária, somadas às atividades mineradoras emgrande escala, acabam por se degradar de forma irreversível conduzindo aoempobrecimento biológico e, portanto, à desertificação.

As regiões periféricas dos desertos podem ficar expostas à invasão deareias, transformando-se em desertos ecológicos, que nada mais são do que áreasintensamente desgastadas pela atividade exploratória, apresentando aspectospaisagísticos semelhantes aos dos desertos, ainda que as médias pluviométricasse mantenham acima dos limites de aridez admitidos.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma)estabeleceu índices de aridez, internacionalmente aceitos, baseados na razãoentre a precipitação média anual e a evapotranspiração potencial (fórmula deThorntwaite adaptada), fixando os seguintes limites: < 0,05 = hiper-árido;

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0,06-0,20 = árido; 0,21-0,50 = semi-árido; 0,51-0,65 = subúmido seco; > 0,65 =subúmido úmido e úmido (ausência de aridez).

5 – A Região Semi-Árida Brasileira

A região semi-árida do Nordeste brasileiro (o sertão) estende-se por cercade 900 mil km2 e caracteriza-se por médias pluviométricas anuais oscilando entre300 e 800 mm. Em sua porção nuclear (em torno de 500 mil km2), a pluviometriaanual é inferior a 600 mm.

Manifesta-se de forma mais característica, numa área que se estende dolitoral setentrional, da foz do rio Jaguaribe (latitude de 04º 30’ S) à Ponta dosTrês Irmãos (município de São Bento do Norte, RN, latitude de 05º 10’ S),avançando pelo continente em direção ao vale do rio São Francisco até a latitudede 12º S), apresentando-se de forma descontínua.

A região semi-árida é envolvida a Oeste, ao Sul e a Leste, por áreas maisúmidas, definindo uma faixa transicional muito variável. Em direção a Noroeste,vai se descaracterizando, a partir da Chapada do Ibiapaba, onde a estação seca sereduz a seis meses, passando para um quadro físico subúmido e cobertura vegetalde cerrado, embora ainda ocorram bolsões de vegetação xerofítica na bacia do rioParnaíba, principalmente nos vales dos rios Piauí e Gurguéia. A partir dadepressão sanfranciscana, em direção a Oeste, o domínio semi-árido é limitadopelos chapadões cretácicos da Serra Geral, de clima subúmido e vegetaçãoarbustiva, do tipo cerrado. Para Leste, no rumo do Atlântico, a transição é maisrápida, sendo constituída por uma faixa subúmida, de largura variando entecinqüenta e cem quilômetros, correspondente à região colinosa conhecida comoagreste, originalmente coberta por formações florestais caducifólias, hojepraticamente extintas.

O domínio semi-árido está longe de ser homogêneo, manifestandocaracterísticas distintas conforme os fatores geoecológicos locais. Constitui ummosaico variado de paisagens, já bem caracterizado por muitos estudiosos6,desempenhando o relevo regional importante papel na determinação dasdiferenças.

Apesar de modesto, com altitudes máximas pouco superiores a 1000 m, orelevo introduz modificações ambientais expressivas, decorrentes de situações debarlavento e sotavento. Em áreas mais elevadas, como a serra de Baturité e nosdivisores entre a bacia do São Francisco e a dos rios que vertem para o Norte(chapada do Araripe, serra dos Cariris Velhos, da Boa Vista, Verde etc.), a semi-aridez é atenuada pelo efeito orográfico, ocorrendo enclaves úmidos ou “brejos”:Juazeiro do Norte (precipitação média anual – pma 903,3 mm), Barbalha (pma1001,3 mm), Triunfo (pma 1141 mm). Na periferia do domínio semi-árido, empleno agreste, o relevo também é responsável pela ocorrência de uma “diagonal”

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úmida formada por planaltos de altitudes entre 800 e 1000 m, cujos valores depma oscilam entre 750 e 1000 mm (ex. Garanhuns, 908,6 mm).

Por outro lado, a escassez de chuvas acentua-se nas depressões em geral,especialmente naquelas situadas em oposição de sotavento, como a vertenteocidental da serra dos Dois Irmãos, no Piauí, onde as localidades de QueimadaNova e Paulistana recebem, respectivamente, 398,0 mm e 560,9 mm; e os valesdo Pajeú e do Moxotó, em Pernambuco. Também há os exemplos de Inajá (394,0mm), Moxotó (429,9 mm) e Floresta (501,3 mm). Poderíamos acrescentar, ainda,as depressões de Patos e Cabaceiras, na Paraíba, situando-se aí uma daslocalidades mais secas de todo o semi-árido: Cabaceiras, com 336,0 mm anuais.Destaca-se, ainda, a região entre Juazeiro e Paulo Afonso, onde, além daprecipitação reduzida, a estiagem habitualmente estende-se por onze meses.

Numa visão de conjunto, verifica-se que o core da mancha semi-árida édefinido por alinhamentos de relevo. As chapadas sedimentares cretácicas deIbiapaba e seu prolongamento meridional, a serra dos Dois Irmãos, estabelecemos limites ocidentais, ao mesmo tempo em que o planalto da Borborema marca oslimites orientais. Por outro lado, a chapada do Araripe, as serras da Baixa Verdee dos Cariris Velhos, alongadas no sentido leste-oeste, separam subdomínios nointerior do semi-árido. Ao Norte, estende-se uma vasta área aplainada, esculpidaem superfície de erosão e interrompida por manifestações de relevo residual(Baturité, serra dos Martins, serra da Pedra Branca) e por depressões ocupadaspor bacias hidrográficas, onde correm rios intermitentes. Os melhores exemplossão as do Jaguaribe (artificialmente perenizado), do Acaraú, do Apodi-Mossoró edo Piranhas-Açu. Ocupam pediplanos coalescentes, formando grandes extensõeshorizontalizadas, com alguns campos de inselbergues, como o de Quixadá (baciado Jaguaribe), constituído, dominantemente, por pegmatitos. A precipitaçãoanual está em torno de 500 mm e a vegetação é de caatinga áspera.

Ao Sul das terras elevadas, representadas pelo eixo chapada do Araripe-serras dos Cariris Velhos-serra do Teixeira e seus prolongamentos, o quadro desemi-aridez não apresenta mudanças significativas, com grandes superfícieshorizontalizadas, de solos rasos, drenagem intermitente, médias pluviométricaspróximas de 500 mm e estiagens de nove a dez meses. As depressões locais sãomenos beneficiadas pela pluviosidade, acentuando pontualmente a aridez. Ao Suldo São Francisco, o trecho médio e superior do rio Vaza-Barris, conhecido comoRaso da Catarina, constitui um dos mais secos do interior nordestino, comomédias pluviométricas anuais entre 300 e 400 mm. Aí está a localidade deQuinjique que apresenta o “record” negativo de 311 mm anuais de precipitação.Mais ao Sul a região de chuvas escassas se divide em dois segmentos separadospelas terras elevadas da chapada Diamantina, cuja altitude média é poucosuperior a 1 mil m. Na vertente interior, correspondente à depressão do SãoFrancisco, a semi-aridez se manifesta de forma indiscutível (exemplos: Morpará,760,0 mm; Barra, 759,8 e Xique-Xique, 815,3 mm), estendendo-se até o Norte deMinas Gerais, onde a localidade de Manga registra 892,6 mm anuais, ao passo

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que, na vertente atlântica, suas características são mais acentuadas na Bahia, nostrechos superior e médio do vale do rio de Contas (Jequié, 585,8 mm) e, emMinas, na bacia do Jequinhonha (Almenara, 908,3 mm).

No conjunto do quadro regional as médias térmicas são elevadas, acima de26º C e a evaporação é intensa, produzindo acentuado deficit hídrico, expressopor uma drenagem intermitente, com características de torrencialidade.

O histórico da intervenção oficial nessa região remonta ao segundoImpério. Pode-se lembrar apenas que, em 1936, foi criado por lei federal oPolígono das Secas, a fim de delimitar a área prioritária no recebimento de ajudagovernamental no combate aos efeitos das estiagens. Seus limites foram váriasvezes ampliados, ocupando, atualmente, 936993 km2.

Sobre esse quadro natural áspero, desenvolveu-se o longo processo deocupação, que agora se aproxima dos quinhentos anos, durante os quais aspráticas incorretas de exploração e uso deixaram conseqüências profundas e, emmuitos casos, sem retorno, abrindo caminho para a degradação generalizada e adesertificação.

6 – O “Estado da Arte” Referente à Região Semi-Árida Brasileira

O Prof. João Vasconcelos Sobrinho, estudioso pernambucano do tema dadesertificação desde meados do século XX, realizou trabalhos de campo queconstituíram o ponto de partida para pesquisas sobre a desertificação no Brasil.Foi um dos únicos cientistas brasileiros presentes à I Conferência Mundial sobreDesertificação, reunida em Nairobi (Quênia), em 1977.

Em 1974, a Universidade Federal Rural de Pernambuco publicou seu livroO Deserto Brasileiro, que trata do tema do ponto de vista biológico, com caráterpreservacionista. Nos anos seguintes, produziria mais dois trabalhos, editadospela Sudene7. O Prof. Vasconcelos Sobrinho atuou, também, como consultor deum trabalho realizado em 1979 pelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento doEstado da Bahia publicado sob o título Diagnóstico Preliminar do Processo deDesertificação do Estado da Bahia, cuja proposta principal foi o estabelecimentode uma classificação e respectivo zoneamento de aridez naquele Estado.

Entre os geógrafos, constituem contribuição expressiva os trabalhos deDárdano de Andrade Lima, da Universidade Federal de Pernambuco,concentrado no estudo da biogeografia do semi-árido e versando principalmentesobre a capacidade de regeneração dos vegetais8. Por sua vez, Caio LóssioBotelho concentrou seus estudos no Ceará, tendo resgatado e atualizado, até osanos de 1980, um quadro que fora organizado nos anos de 1920, denominadoEstado do Ceará – Panorama das Secas de 1605 a 1983.

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Merecem especial destaque os trabalhos de Aziz Nacib Ab’Sáber, daUniversidade de São Paulo. Em 1977 a comunidade estudiosa brasileira tomouconhecimento de seu ensaio Problemática da Desertificação e da Savanizaçãono Brasil Intertropical, em que chamava a atenção para os “processos parciais dedesertificação pontuais ou areolares, suficientemente radicais para criardegradações irreversíveis da paisagem e dos tecidos ecológicos naturais” e,portanto, “nesse sentido, o território brasileiro, em seu conjunto, exibe um dosmais impressionantes quadros de modificações ecológicas sutis, às vezesirreversíveis, incidindo sobre quase todos os seus grandes domíniospaisagísticos”9. Ademais, enfatiza a importância da desertificação, direta ouindiretamente ativada por práticas predatórias e exploração mal orientada. Indicanove modalidades de nódulos de desertificação no domínio semi-árido dascaatingas, designando-os de “geótopos áridos”, e afirma, textualmente, queresultam de uma “predisposição da estrutura geo-ecológica, na maior parte dasvezes acentuada por ações antrópicas diretas ou indiretas”10.São os seguintes: 1.altos pelados; 2. salões; 3. vales e encostas secas; 4. lagedos, mares de pedras ecampos de inselbergues; 5. paleodunas quaternárias; 6. topografias ruiniformes;7. revolvimento anômalo da estrutura superficial da paisagem; 8. malhadas; 9.áreas degradadas por raspagens. Trata-se de contribuição de cunho ambientalista,na qual aponta a ação antrópica, como principal responsável pela degradaçãoecológica. Aliás, o mesmo autor havia publicado, em 1974, um estudoabrangente visando caracterizar a região, o qual forneceu subsídios preliminarespara o trabalho de 197711.

O pioneirismo da aplicação da metodologia do sensoriamento remoto àspesquisas sobre desertificação no Brasil cabe à Profª. Magda Adelaide Lombardoe ao Prof. Vitor Celso de Carvalho, ambos, na época, técnicos do InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e co-autores do estudo AnálisePreliminar das Potencialidades das Imagens LANDSAT para Estudos deDesertificação, de 1979. A região apresentada como exemplo é a de Xique-Xique, no médio São Francisco (Bahia), dando-se destaque à avaliação dovolume da biomassa e aos índices de albedo, com o objetivo de delimitar edefinir o grau de risco de desertificação. Outro trabalho, com a mesmametodologia, foi elaborado por V. C. Carvalho na região de Quixabá, emPernambuco12.

Os pesquisadores do Inpe, especialmente a partir dos anos de 1980, vêmproduzindo vários trabalhos sobre a região semi-árida brasileira. Embora boaparte seja dedicada à previsão e intensidade das secas, variações pluviométricasinteranuais e relações com fenômeno de grande escala, especialmente asvariações da temperatura TSM (temperatura da superfície do mar), oferecemsubsídios para o entendimento do problema da desertificação13.

Antes disso, porém, em 1979, o Núcleo de Meteorologia Aplicada daUniversidade Federal da Paraíba publicou o interessante estudo de KoyottRaghavan Genesis of Arid Zone of Cabaceiras, que analisa a influência da

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orografia e da direção dos ventos locais na criação desse pólo de aridez no sertãoparaibano.

Tratando do tema no estado do Rio Grande do Norte, foi publicado em1989 um artigo do Prof. José Carlos Borges, dando destaque para Pedra Grande /Jadaíra, próxima ao litoral setentrional; Seridó, abrangendo os municípios deAcari, Caicó e Currais Novos, e, finalmente, os municípios de Lages e Mossoró,no extremo Norte14. Mostra, ainda, a acelerada eliminação da mata ciliar decarnaúba no vale do Açu.

Em 1984, em Fortaleza (Ceará), reuniu-se o Symposium of MeteorologicalAspects of Tropical Droughts, promovido pela World MeteorologicalOrganization (WMO), no qual foi exposto um trabalho da Profª. Josefa Eliane S.S. Pinto, em co-autoria, demonstrando indícios de desertificação em Itabaiana(SE), por meio da metodologia das séries temporais de precipitação15.

Em 1985, o pesquisador J. J. P. Souto publicou um trabalho sobredegradação ambiental no Brasil sob o título Deserto, uma Ameaça?,apresentando, como exemplos, os afloramentos de areia na região sudoeste doRio Grande do Sul.

A Profª. Dirce Maria Suertegaray, da Universidade Federal do Rio Grandedo Sul, defendeu, em 1987, sua tese de doutorado na Universidade de São Paulo,A Trajetória da Natureza: Um Estudo Geomorfológico de Quaraí (RS). O estudomostra o papel da ação antrópica, ou seja, a prática da agricultura extensiva emregiões de arenito Botucatu que acabou expondo a rocha matriz e dando origem avastos areais e campos de dunas, sem que as médias pluviométricas sofressemalteração significativa. Esse trabalho, assim como o anterior, analisa um processoque nada tem a ver com o comportamento atmosférico porque ocorre em climaúmido (relação P/EP superior a 0,65), incluindo-se, mais adequadamente, nacategoria de desertificação desencadeada por causas litológicas, chamada dearenização.

Essa mesma região foi objeto de análise no trabalho de J. G. Garcia e J. J.P. Souto, Identificação e Mapeamento de Áreas de Desertificação sob ClimaÚmido no Brasil, de 1989, em que os autores elaboram um mapeamento baseadoem fotografias aéreas e imagens LANDSAT TM, além de sugerirem medidas derecuperação para as áreas afetadas.Em 1988 veio a público o trabalho de Jurandir Gondim Reis, Desertificação noNordeste, em que é dado destaque ao problema do controle do fenômeno pormeio de planos de intervenção e estímulo ao conservacionismo.

Na perspectiva da metodologia estruturalista, os estudos de desertificação,entre nós, foram significativamente enriquecidos com o trabalho do Prof. CarlosAugusto de Figueiredo Monteiro, On the Desertification in the Northeast Braziland Man’s Rule in this Process, de 1988. O autor não segue os rígidos padrões

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acadêmicos, adotando um estilo mais livre, próximo do literário, constituindo umestudo regional no qual é enfatizado o papel do habitante (o sertanejo) e seuesforço de sobrevivência no meio hostil. Realiza uma discussão a respeito dasinfluências naturais ou antrópicas no processo de desertificação e identifica umaestrutura espacial, composta de sete geossistemas. Trata-se de trabalhointeressante, com alto grau de originalidade.

Nesse mesmo ano de 1988, Edmond Nimer, pesquisador do IBGE,divulgou o artigo “Desertificação: Realidade ou Mito?”, em que discuteconceitos, teorias e propostas metodológicas. Em 1994 foi apresentada aoInstituto de Geociências e Ciências Exatas da Unesp (campus de Rio Claro) atese de doutorado da Profª. Maria do Socorro Costa Martim, Características eProblemas Ambientais da Bacia do Rio Apodi-Mossoró (RN), na qual adesertificação é estudada com ênfase aos processos interativos registrados noslimites da referida bacia.

Em 1995 oferecemos uma contribuição com o trabalho Desertificação nosTrópicos – Proposta de Metodologia de Estudo Aplicada ao Nordeste Brasileiro,apresentado como tese de livre-docência à Universidade de São Paulo, em que sededica especial atenção à faixa intertropical e, dentro desta, à região semi-áridabrasileira. Utiliza-se a metodologia estatística das séries temporais, a fim dedetectar tendências, ciclicidade e variabilidade interanual, apontando-se trêsmanchas nas quais a situação é crítica.

Em 1997 veio a público o trabalho Desertificação e Construção de umCoeficiente Interdisciplinar para o Estado do Ceará, de autoria da economistaMaria I. V. V. Rodrigues e do Prof. Manuel O. L. Viana, que, baseados nomodelo estatístico multivariado da análise fatorial, propuseram um coeficienteinterdisciplinar para o Estado do Ceará. Nesse mesmo ano, a Profª. Marta CelinaLinhares Sales, da Universidade Federal do Piauí, apresentou à Universidade deSão Paulo, a dissertação de mestrado Estudo da Degradação Ambiental emGilbués (PI). Reavaliando o “Núcleo de Desertificação”. O trabalho tem aoriginalidade de analisar um exemplo pontual, em região subúmida, constituindouma faixa transicional sob o aspecto climático e biogeográfico, situada naperiferia do semi-árido. Ademais, identifica unidades de paisagem caracterizadaspor diferentes fácies de degradação na escala local.

Em 1999 foi defendida, na Universidade Federal da Paraíba, a dissertaçãode mestrado Contribuição ao Estudo da Desertificação na Bacia do Taperoá(PB). A pesquisa, de autoria do Prof. Bartolomeu Israel de Souza, adota ametodologia das séries temporais de precipitação para definir tendências,contemplando, também, aspectos hidropedológicos, biológicos esocioeconômicos, e concentra a análise nos municípios de Cabaceiras e São Joãodo Cariri.

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É importante registrar que o Ministério do Meio Ambiente elaborou e vemcoordenando o Plano Nacional de Combate à Desertificação, com vários projetosem andamento, especialmente na região semi-árida nordestina.

Quanto aos eventos e reuniões científicas abordando o tema dadesertificação, é, sobretudo, a partir dos anos de 1980 que os mesmos vêm sendopromovidos no país. Coube ao estado de Pernambuco inaugurar a série com o ICurso Internacional sobre Desertificação, realizado em Petrolina, de 23 denovembro a 18 de dezembro de 1987, sob os auspícios da Secretaria Especialpara o Meio Ambiente (Sema) e apoio da Sudene, Embrapa e, no planointernacional, do Pnuma. De 4 a 8 de agosto de 1986 realizou-se no Recife oSeminário sobre Desertificação no Nordeste, promovido pela Secretaria Especialpara o Meio Ambiente (Sema), com a finalidade de estimular os estudos sobredesertificação, não só no Nordeste mas em outras regiões brasileiras, sendo,ainda, discutidos problemas de conceituação e de metodologia. Em janeiro de1992 ocorreu em Fortaleza a reunião internacional Impact of Climatic Variationsand Sustainable Development in Semi-Arid Regions, iniciativa da United NationsComission for Environment and Development (UNCED), com o objetivo decaracterizar a degradação ambiental e o papel da ação humana na desertificação.Em março de 1994 realizou-se, em Fortaleza, a Conferência Nacional eSeminário Latino-Americano da Desertificação, promovidos pela UniversidadeFederal do Piauí e outras entidades, nos quais o tema foi discutido na escalacontinental. Em novembro de 1999 reuniu-se em Recife a 3ª Conferência dasNações Unidas de Combate à Desertificação e à Seca (3ª COP), a primeira deporte internacional da ONU, no Brasil, após a realizada sobre o Meio Ambiente eDesenvolvimento – ECO-92, no Rio de Janeiro.

No plano internacional vale destacar a aprovação, em Paris, em 1994, daConvenção das Nações Unidas de Combate a Desertificação, já subscrita porcinqüenta países afetados pelo problema. Por fim, em abril de 2000, realizou-se oSymposium on Land Degradation and Desertification, em Pittsburgh (EUA) poriniciativa da Internacional Geographical Union (IGU) e Association of AmericanGeographers (AAG).

7 – A Desertificação do Nordeste Brasileiro e a Metodologia das Séries Temporais

Estatisticamente, as séries temporais são indicadores quantitativos e suaanálise tem por objetivo investigar o mecanismo gerador, descrever ocomportamento e fazer prognósticos. Podem expressar tendências, ciclos evariabilidade relevantes ou se revelar aleatórias, derivando daí, seu interessepara a climatologia. Contudo, o perfil das séries, para ser confiável, exige grandequantidade de observações ao longo do tempo. A pesquisa que realizamosutilizou séries sempre superiores a sete décadas e nunca inferiores a cinco, nãotendo sido estendidas além desses limites pela indisponibilidade de registros. Amaioria dos estudos de séries temporais, mesmo em nível internacional, trabalha

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com poucas décadas e, mesmo em virtude da insuficiência de dados, osresultados têm sido considerados expressivos pela comunidade científica.

Adotamos a metodologia das séries temporais, considerando o fato de tersido, até o presente, pouco praticada na região nordestina brasileira, sendo,portanto, uma oportunidade de testar sua eficácia. A tendência foi obtidatrabalhando-se com os totais anuais, organizados em séries para cada localidade.Tais dados foram transformados em gráficos e ajustados das retas de tendências,expressos pela equação: y = b.x + a, na qual “a” representa o coeficiente linear dareta ou intercepto e “b” o coeficiente angular ou taxa de variação anual, pelatécnica de regressão linear. Os gráficos foram traçados aplicando-se a técnica dasmédias móveis simples em escala de tempo anual, visando o “alisamento” dasséries a fim de facilitar a análise. Para cada uma das séries foi calculado o níveldescritivo do teste para detectar a tendência, ou seja, se a taxa de variação anualera nula, com significância expressa em milímetro/ano.

A ciclicidade da precipitação, ou seja, a repetição de máximos e mínimosa intervalos regulares pode ser avaliada com a aplicação do método da análiseespectral (ou de Fourier) cuja significância estatística é dada pelo teste de Fisher.A variabilidade interanual foi determinada pelo coeficiente de variabilidade,obtido pela aplicação da fórmula:

R = P / PET

onde R = desvio padrão da precipitação anual, P = precipitação média anual ePET = evapotranspiração potencial.

O coeficiente é sempre superior a 25% nas regiões secas, excedendo a40% ao longo da maioria das áreas marginais do deserto.

Examinamos 237 séries distribuídas por todo o semi-árido, publicadas emDados Pluviométricos Mensais do Nordeste (doze volumes, Sudene, 1990),documento que constituiu a fonte de nossas informações.

8 – Resultados Obtidos

O quadro geral da análise indicou 49,7% das séries apresentandotendência crescente nas médias pluviométricas, configurando uma distribuiçãogeográfica indiferenciada, apresentando, contudo, incidência maior no RioGrande do Norte, Paraíba e Pernambuco, sobretudo no espaço compreendidoentre o reverso continental da Borborema e chapada do Apodi e seusprolongamentos meridionais. Tal constatação indica que a precipitação em nívelregional acompanha a tendência de elevação da média pluviométrica que vemsendo registrada nas últimas décadas, presumivelmente associada aoagravamento do efeito de estufa.

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Por outro lado, 50,3% revelaram tendência estável ou decrescente, asprimeiras, com distribuição geográfica mal caracterizada, ao passo que assegundas agruparam-se em quatro manchas, sinalizadoras de indícios dedesertificação localizada.

A primeira, no Ceará, formando um eixo aproximadamente nordeste-sudoeste, que poderia ser considerada a diagonal árida desse Estado, desdeItapagé, em posição de sotavento em relação à serra de Uruburetama, até CamposSales, no sopé da chapada do Araripe. Os pontos onde se detectou tendêncianegativa, ao longo dessa reta, foram os de Monsenhor Tabosa, Independência,Tauá e Arneiroz, além de duas localidades da média bacia do Jaguaribe (Quixadáe Mombaça), cujos coeficientes de variabilidade interanual revelaram-se acimade 45%.

Em estudo publicado em 1993, a Fundação Cearense de Meteorologia eRecursos Hídricos (Funceme), baseado na interpretação visual e automática dasimagens do satélite TM-LANDSAT, por meio da avaliação do grau de refletânciadas áreas com grande redução da biomassa, indicou duas manchas altamentedegradadas no Estado do Ceará. A primeira coincidindo com a “diagonal árida”por nós assinalada, e a segunda, no vale médio do Jaguaribe. Tal resultadoconfirmou a pesquisa realizada, apesar das diferenças de metodologia.

A segunda área de concentração de pontos com tendência pluviométricanegativa foi assinalada na parte deprimida correspondente à bacia média inferiordo São Francisco, à jusante de Paulo Afonso, formando um polígono deaproximadamente 20 mil km2, com vértices em Santana de Ipanema (AL),Canudos (BA), Itabaiana (SE) e Propriá (SE), em cujo interior figuram maisquatro localidades com tendência negativa (Curralinho-SE, Mocambo-SE,Traipu-AL e Pão de Açúcar-AL), registrando-se, ainda, os maiores valores deduração da estação seca de todo o semi-árido: sete a dez meses. A terceira ocupaparte da Bahia, especialmente o médio São Francisco, a montante de Cabrobó, ea quarta abrange a bacia do rio de Contas, notadamente a região de Jequié(Figura 1).

Além dessas quatro maiores expressões espaciais, foram assinaladosexemplos de tendência negativa em Açu e Caraúba, no Rio Grande do Norte,Umbuzeiro e Cabaceiras, na Paraíba, além de Caruaru, Brejo da Madre de Deus eFlores, em Pernambuco.

Quanto às causas da ocorrência dessas manchas de desertificação, algumashipóteses podem ser levantadas tendo como referência a ação antrópica.Historicamente, são regiões de antiga ocupação, baseadas no criatório extensivo.A retirada da cobertura vegetal, expondo o solo à erosão e à elevada refletância,desestabiliza o balanço da energia no solo. A redução da capacidade de retençãoda energia solar pela superfície degradada (elevação do albedo) contribui parainibir os processos atmosféricos convectivos, ao mesmo tempo em que a

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diminuição do volume de micropartículas de origem vegetal em suspensão (umadas conseqüências do processo de desmatamento), dificulta o processo decondensação, desestimulando a formação de nuvens de chuva, configurando umaação de retorno, já que a vegetação integra o sistema natural como parte ativa dabiosfera.

Fig.1: Áreas com indícios de desertificação no Nordeste brasileiro.

Por outro lado, não é improvável que causas naturais, ainda nãodeterminadas, possam estar contribuindo para a redução progressiva daprecipitação, porém, a ação antrópica, medida na escala histórica, é,indiscutivelmente, fator agravante. Constatamos alguns exemplos desobreposição das retas de tendência negativa com a ocorrência de áreas altamentedegradadas, numa demonstração de que a ação antrópica e os mecanismosnaturais podem atuar de forma solidária e intercambiar influências. Estabelecer,com segurança, a responsabilidade que cabe a cada esfera no desencadeamentodo processo de desertificação é tarefa complexa e um desafio aos estudiosos.

A pesquisa indicou, também, pelo menos uma área em que o processoparece estar em recuo. Trata-se da parte meridional do agreste sergipano, entreEstância e Tobias Barreto, onde o clima úmido costeiro está ganhando espaço

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sobre o subúmido da faixa mais interiorizada, de acordo com a metodologiautilizada.

Quanto à ciclicidade, das 237 séries analisadas, apenas 43 (18,1%)apresentaram ciclos, sendo mais freqüente o de 22 anos, porém, distribuídos,geograficamente, de forma pontual e aleatória. A expectativa de um perfil bemcaracterizado de ciclicidade em todo o domínio do semi-árido não pode serconfirmada por nosso estudo. A alta variabilidade interanual da precipitaçãomascara flutuações de amplitude maior, descaracterizando o fenômeno daciclicidade.

9 – Conclusões

A geografia sempre se fundamentou na idéia da integração dos processosque atuam no quadro físico e da relação de dependência entre estes e a dinâmicada sociedade. A desertificação, como uma das formas de degradação ambiental,na maioria dos casos, nada mais é do que um dos resultados desse processointerativo, os quais, todavia, são heterogêneos e diacrônicos, cada qual tendo suadimensão e seu ritmo.

As mudanças climáticas determinadas por causas naturais são, regra geral,lentas, ocorrendo na escala de milhares de anos, ao passo que as alteraçõesproduzidas pela ação antrópica manifestam-se em poucas décadas. No domíniosemi-árido brasileiro, o fenômeno da desertificação vem se agravando comoconseqüência da superexploração de um meio muito fragilizado pela escassez evariabilidade interanual das precipitações. A posição em baixa latitude expõe aregião à intensa radiação solar, que exaure as reservas de água superficiais,ameaçando o equilíbrio da biosfera. É mais um exemplo de agressão aoecúmeno.

Historicamente, essa parcela do território brasileiro vem sendo utilizada,desde o início do século XVIII, pela agricultura de subsistência e, especialmente,pela criação extensiva de gado. As relações de produção, porém, salvo rarasexceções, sempre se caracterizaram pelo primitivismo dos procedimentos e pornenhuma preocupação de cunho preservacionista.

A estrutura fundiária, caracterizada pelo predomínio do latifúndio, deixa aimensa maioria dos habitantes da zona rural sem alternativas, a não ser o uso deáreas impróprias, sem acesso à água, de solos rasos e facilmente degradáveis, oque concorre para agravar enormemente a situação.

A remoção da rala cobertura vegetal natural a fim de obter combustívelpara uso doméstico e consumo em pequenas indústrias, as atividadesmineradoras, especialmente no Rio Grande do Norte e no Piauí e outras formasde retirada dos recursos, foram e continuam sendo muito danosas para oambiente.

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Essas formas predatórias de relação com o meio produziram vastas áreasquase desérticas, com produtividade biológica reduzida a níveis mínimos, desdeo Ceará até a Bahia, conforme procuramos demonstrar.

Os elevados valores dos coeficientes de variação interanual deprecipitação confirmaram o caráter climaticamente transicional da região, que osestudiosos designam como efeito de borda, presente nas áreas marginais dosdesertos e nos domínios semi-áridos, em geral.

Não seria incorreto afirmar que o avanço da desertificação está em relaçãodireta com o grau de desenvolvimento econômico. Segundo estimativa doPnuma, 86% das terras secas produtivas da África estão afetadas peladesertificação. Aí estão alguns dos países mais pobres do mundo tais comoSenegal, Sudão, Mali, Chade e Etiópia, cujos valores de Produto Nacional Bruto(PNB) por habitante são, respectivamente, 720, 400, 280, 220 e 120 dólares. Poroutro lado, a Austrália, cujo PNB é de 16500 dólares, tem apenas 22% de suasterras produtivas atingidas pela desertificação.

Da mesma forma, é fundamental levar em conta o nível de informação doshabitantes, pois disso depende a avaliação adequada do problema e a escolha dosmeios eficazes de combate. Nesse sentido, a educação é fator da maiorimportância.

No espaço geográfico brasileiro, é a região semi-árida do Nordeste queexibe os exemplos mais expressivos de desertificação, ou do que poderíamoschamar de aviltamento ambiental, como vimos. Castigada pela insuficiência eimportantes desvios anuais das precipitações, solos litólicos, com reduzidacapacidade de retenção de água, ventos quentes e secos, estimuladores daevaporação, a região tem essas condições desfavoráveis acentuadas nasdepressões interplanálticas e nas vertentes a sotavento, em virtude do efeitoorográfico de ressecamento.

Enfim, este estudo procurou caracterizar a desertificação dentro de umametodologia climatológica, procurando situá-la no contexto dos riscos ambientaismais amplos, cuja incidência tem grande expressão nas baixas latitudes. Esta éuma oportunidade para estimular a reflexão sobre o significado da natureza e deseu papel como suporte da sociedade.

10 – Referências Bibliográficas

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Anexo 1: Tabela das Zonas Áridas UNEP 1992

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Anexo 2: Intensidade da Desertificação no Mundo

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Anexo 3: Cartograma das Isoietas Médias e

Tendências de Precipitação (1911-1985)

================================Ricardo Augusto FelicioProf. Dr. Depto Geografia – FFLCH – USP

[email protected]