FLORÍSTICA E CONTINGENTE FITOGEOGRÁFICO DA … · RESUMO A pesquisa avalia a influência das...

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1 BALDUINIA, n. 48, p. 01-22, 30-V-2015 FLORÍSTICA E CONTINGENTE FITOGEOGRÁFICO DA VEGETAÇÃO ARBÓREA DO MORRO DO BOTUCARAÍ, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL 1 ALESSANDRO ABREU FÁVERO 2 SOLON JONAS LONGHI 3 RESUMO A pesquisa avalia a influência das rotas migratórias do elemento arbóreo na florística de um remanescen- te da Floresta Estacional Subtropical em morro testemunho da região central do estado do Rio Grande do Sul. A amostra consiste de transectos contínuos, quinze unidades amostrais de 10 x 50m, complementada pelo método do caminhamento aleatório. Na análise da vertente usaram-se as categorias topo, encosta-supe- rior, meia-encosta, encosta-inferior e base, examinando-se, nestas, os processos geomorfológicos atuantes. Nas unidades amostrais registraram-se as árvores com circunferência à altura do peito igual ou maior a 15,7cm, medido a 1,30m do nível do solo. Na análise da dissimilaridade usou-se o coeficiente de aglomera- ção (distância binária) e o agrupamento hierárquico (UPGMA). Obteve-se 1.196 árvores, 68 espécies, 56 gêneros e 30 famílias botânicas. Observou-se o predomínio de indivíduos e espécies ocorrentes em toda a área florestal do Estado, seguido por espécies limitadas ao extremo Noroeste (rios Paraná-Alto Uruguai) e por espécies limitadas à ala Leste (Torres até Santa Maria). Todavia, constatou-se uma diferença de representatividade do contingente fitogeográfico entre os segmentos de posição do relevo. Conclui-se que o morro possui heterogeneidade espacial que condiciona a florística e o contingente fitogeográfico. A vegeta- ção arbórea do Morro do Botucaraí representa, para a Floresta Estacional Subtropical, uma diluição da Floresta do Alto Uruguai, enriquecida com elementos da Floresta Ombrófila Densa e, sobretudo, da Floresta Ombrófila Mista. Palavras-chave: Biogeografia, Dendrologia, Ecologia de Paisagens, Euterpe edulis, Fluxos Florísticos. ABSTRACT [Floristics and phytogeographical contingent of arboreal vegetation in Botucarai Mountain, Rio Grande do Sul, Brazil]. The survey assesses the influence of the migratory routes of tree elements in the flora of a remnant of the Seasonal Subtropical Forest in a testimony mountain located in the central region of Rio Grande do Sul State. The sample consists of continuous transects, fifteen sample units of 10 x 50m, supplemented by random transect method. In the analysis it was used the following categories: top, high-slope, half-slope, bottom- slope and base, beeing examined the active geomorphological processes. In the sampling units, trees with circumference at breast height (1.30m above ground level) equal or greater than 15.7cm were measured. The analysis of dissimilarity used the clustering coefficient (binary distance) and the hierarchical clustering (UPGMA). They were obtained 1.196 trees, 68 species, 56 genera and 30 botanical families. It was observed that predominate the number of individuals and species that exist in all state forest area, followed by species from the Northwest (Paraná-Alto Uruguay rivers) and the East wing (Torres to Santa Maria) of the state. However, it was recognized a difference of representativity of phytogeographic contingent between relief position segments. It is concluded that the mountain shows a spatial heterogeneity that affects the floristic and phytogeographical contingents. The tree vegetation at Botucarai Mountain is a Seasonal Subtropical Forest, mainly from the High Uruguay forest, enriched with elements of the Atlantic rain forest and, especially, the Araucaria forest. Key words: Biogeography, Dendrology, Landscape Ecology, Euterpe edulis, floristics flow. 1 Recebido para publicação em 30/01/2015 e aceito para publicação em 28/02/2015. 2 Biólogo e Engenheiro Florestal, Mestre em Ciências Florestais (PPGEF), Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS, BR. [email protected] 3 Engenheiro Florestal, Dr. Professor do Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS, BR. [email protected] http://dx.doi.org/10.5902/2358198018007

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BALDUINIA, n. 48, p. 01-22, 30-V-2015

FLORÍSTICA E CONTINGENTE FITOGEOGRÁFICO DA VEGETAÇÃO ARBÓREADO MORRO DO BOTUCARAÍ, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL 1

ALESSANDRO ABREU FÁVERO2 SOLON JONAS LONGHI 3

RESUMOA pesquisa avalia a influência das rotas migratórias do elemento arbóreo na florística de um remanescen-

te da Floresta Estacional Subtropical em morro testemunho da região central do estado do Rio Grande doSul. A amostra consiste de transectos contínuos, quinze unidades amostrais de 10 x 50m, complementadapelo método do caminhamento aleatório. Na análise da vertente usaram-se as categorias topo, encosta-supe-rior, meia-encosta, encosta-inferior e base, examinando-se, nestas, os processos geomorfológicos atuantes.Nas unidades amostrais registraram-se as árvores com circunferência à altura do peito igual ou maior a15,7cm, medido a 1,30m do nível do solo. Na análise da dissimilaridade usou-se o coeficiente de aglomera-ção (distância binária) e o agrupamento hierárquico (UPGMA). Obteve-se 1.196 árvores, 68 espécies, 56gêneros e 30 famílias botânicas. Observou-se o predomínio de indivíduos e espécies ocorrentes em toda aárea florestal do Estado, seguido por espécies limitadas ao extremo Noroeste (rios Paraná-Alto Uruguai) epor espécies limitadas à ala Leste (Torres até Santa Maria). Todavia, constatou-se uma diferença derepresentatividade do contingente fitogeográfico entre os segmentos de posição do relevo. Conclui-se que omorro possui heterogeneidade espacial que condiciona a florística e o contingente fitogeográfico. A vegeta-ção arbórea do Morro do Botucaraí representa, para a Floresta Estacional Subtropical, uma diluição daFloresta do Alto Uruguai, enriquecida com elementos da Floresta Ombrófila Densa e, sobretudo, da FlorestaOmbrófila Mista.Palavras-chave: Biogeografia, Dendrologia, Ecologia de Paisagens, Euterpe edulis, Fluxos Florísticos.

ABSTRACT[Floristics and phytogeographical contingent of arboreal vegetation in Botucarai Mountain, RioGrande do Sul, Brazil].

The survey assesses the influence of the migratory routes of tree elements in the flora of a remnant of theSeasonal Subtropical Forest in a testimony mountain located in the central region of Rio Grande do Sul State.The sample consists of continuous transects, fifteen sample units of 10 x 50m, supplemented by randomtransect method. In the analysis it was used the following categories: top, high-slope, half-slope, bottom-slope and base, beeing examined the active geomorphological processes. In the sampling units, trees withcircumference at breast height (1.30m above ground level) equal or greater than 15.7cm were measured. Theanalysis of dissimilarity used the clustering coefficient (binary distance) and the hierarchical clustering(UPGMA). They were obtained 1.196 trees, 68 species, 56 genera and 30 botanical families. It was observedthat predominate the number of individuals and species that exist in all state forest area, followed by speciesfrom the Northwest (Paraná-Alto Uruguay rivers) and the East wing (Torres to Santa Maria) of the state.However, it was recognized a difference of representativity of phytogeographic contingent between reliefposition segments. It is concluded that the mountain shows a spatial heterogeneity that affects the floristicand phytogeographical contingents. The tree vegetation at Botucarai Mountain is a Seasonal SubtropicalForest, mainly from the High Uruguay forest, enriched with elements of the Atlantic rain forest and, especially,the Araucaria forest.Key words: Biogeography, Dendrology, Landscape Ecology, Euterpe edulis, floristics flow.

1 Recebido para publicação em 30/01/2015 e aceito para publicação em 28/02/2015.2 Biólogo e Engenheiro Florestal, Mestre em Ciências Florestais (PPGEF), Universidade Federal de Santa Maria. Santa

Maria, RS, BR. [email protected] Engenheiro Florestal, Dr. Professor do Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa Maria.

Santa Maria, RS, BR. [email protected]

http://dx.doi.org/10.5902/2358198018007

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INTRODUÇÃOTodas as características da vida na Terra,

incluindo a distribuição geográfica das espéci-es e táxons superiores, foram influenciadas pela“história”. É importante reconhecer que as ca-racterísticas dos organismos contemporâneosforam moldadas pela história do lugar e da li-nhagem (Brown, 1995; Brown & Lomolino,2006).

A flora do Brasil insere-se no ReinoNeotropical, o qual abrange a América do Sul,avança pela América Central até a península daBaja California (Hueck, 1972), e se estende doMéxico ao sul da Flórida, estabelecendo conta-to com o Reino Holártico, até o extremo sul doChile e Argentina, onde estabelece contato como Reino Antártico (Marchiori, 2006). Atualmen-te, reune espécies de diferentes origens, que mi-graram ao longo dos períodos da geo-históriacontinental, estando, assim, vinculada a floraafricana, boreal e da Oceania (Leite, 2002).

Na síntese fitogeográfica da vegetação sul-brasileira, Klein (1984) admite que as flutuaçõesclimáticas recentes interferiram nos influxos eirradiações das espécies vegetais no Sul do Bra-sil; tal observação denota que as migrações davegetação são antigas, caso da irradiação degêneros andinos na Floresta Ombrófila Mista,que denota a expansão e recuo da Floresta nasbacias do Paraná e Uruguai (relictos encontra-dos na Floresta Ombrófila Densa), bem como aexpansão e recuo da Floresta Ombrófila Densae a expansão da Floresta Subtropical no sub-bosque da Floresta Ombrófila Mista.

O conhecimento da flora do Rio Grande doSul, relacionado aos eventos geológicos e cli-máticos, são temas abordados por Rambo(1951a, b, 1953, 1954, 1956, 1961), que trata,entre outros assuntos de aspectos fitogeo-gráficos, como: centros de origem, fluxosflorísticos, rotas de migração e distribuição, efisionomia da vegetação. Leite (2002) tambémaborda os diferentes momentos geohistóricosdos centros e fluxos florísticos, reconhecendonove regiões fitoecológicas. Waechter (2002),por sua vez, aborda os padrões geográficos da

flora atual em escala global (Cosmopolita,Holártico, Antártico, Pantropical, Anfipacífico,Anfiatlântico e Neotropical) e neotropical(Anfichaquenho, Atlântico, Chaquenho ePampeano).

Conforme Marchiori (2006), a flora sul-rio-grandense inclui numeroso contingentePantropical (América, África e sudeste asiáti-co), reconhecendo, no contingente tropical, doispadrões geográficos: elementos Anfiatlânticose Anfipacíficos.

Cabe ressaltar que a vegetação do Rio Gran-de do Sul é constituída de duas formaçõesdeterminantes para a fisionomia vegetal – o cam-po e a floresta –, que se interpenetram e mistu-ram (Rambo, 1956). Segundo o pesquisador, oscampos rio-grandenses são formações climáti-cas e edáficas na sua origem, e relictos históri-cos ou manchas edáficas no tempo atual, devi-do ao clima favorecer a expansão das florestas,corroborando observação de Lindman (1906)sobre o avanço da floresta na região do campodevido a condições climatológicas favoráveis:elevada temperatura e umidade atmosférica.

A vegetação do Morro do Botucaraí insere-se no remanescente da Floresta EstacionalSubtropical do rebordo do Planalto Meridional.Neste sentido, compete recordar que na EraCenozóica no Período Terciário, a cerca de 60milhões de anos A.P., a ingressão marítima de-terminou a fisionomia do centro e sudeste doEstado. No centro, num corredor que vai doOceano Atlântico até o Rio Uruguai, o mar des-truiu e removeu a margem sul dos derramesmelaríficos, da qual ficaram, como registros,apenas testemunhos em forma de tabuleiros iso-lados (Rambo, 1954).

Aproximadamente a 6 mil anos A.P. as ca-racterísticas geográficas já se apresentavam comfisionomia similar à atual (Kern, 1991); noHoloceno, cerca de 8 mil anos A.P., a coberturavegetal era de paisagens abertas e, sob climaseco, predominavam vegetais xerófilos. No “óti-mo climático”, segundo Bolzon & Marchiori(2002), entre 5 e 4 mil anos A.P., a FlorestaSubtropical se desenvolveu, tornando-se densa

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nas terras baixas do planalto e na encosta dorebordo do Planalto Meridional. As espécies flo-restais devem ter recolonizado os interflúvios,surgindo uma faixa contínua de vegetação eumidade na escarpa meridional do planalto sul-brasileiro (Kern, 1991).

O contingente fitogeográfico arbóreo tropi-cal no Rio Grande do Sul irradiou-se por duasrotas migratórias (Rambo, 1961) a partir do cen-tro costeiro de baixas latitudes, entre o Rio deJaneiro e o Sul da Bahia (Marchiori, 2006). Arota migratória da bacia fluvial do Paraná mi-grou pelo Alto Uruguai, seguindo pelos valesfluviais para o Sul e para o Leste; a outra rotamigratória partiu da floresta costeira de SantaCatarina e entrou no Rio Grande do Sul pela“Porta de Torres”, isto é, pela estreita passagemexistente entre o rebordo do Planalto Meridio-nal e o Oceano Atlântico (Rambo, 1961). Naencosta do Planalto Sul-Brasileiro, a norte daDepressão Central, essas duas correntes migra-tórias se interpenetram (Jarenkow & Waechter,2001).

No entanto, a contingência mesófila é a maisabrangente, pois determina a fisionomia da flo-resta até a Oeste de Santa Maria, alcançando oLitoral Norte, na região de Torres, além de serlocalmente a mais antiga. Em relação à contin-gência higrófila, destaca-se que nenhum elemen-to arbóreo alcançou a região do Alto Uruguai,mas possui maior riqueza de espécies epífitas(Rambo, 1961).

Com base em Klein (1972), a FlorestaEstacional Subtropical irradiou-se com elemen-tos pioneiros, contornando a Serra Geral e a Serrado Mar, através da Depressão Central no Rio Gran-de do Sul, penetrando pela “Porta de Torres”, emSanta Catarina, até alcançar o Morro dos Con-ventos e, inclusive, o baixo vale do Itajaí.

Segundo o pesquisador acima, a FlorestaOmbrófila Densa manifestou a sua expansão nosentido austral ao longo do litoral e da encosta,alcançando o Rio Grande do Sul até os vales doMampituba e do Maquiné. Alguns elementospenetraram na Floresta Estacional Subtropical,tais como as palmeiras Bactris lindmaniana

(atualmente, B. setosa), Euterpe edulis,Geonoma schottiana, bem como Cytharexylummyrianthum, Dodonea viscosa, Farameamarginata, Guapira opposita, Hirtellahebeclada, Inga sessilis, Mimosa bimucronata,Myrcia glabra e Nectandra oppositifolia, entreoutras.

Por conseguinte, a Floresta EstacionalSubtropical do rebordo do Planalto Meridionalno centro do Rio Grande do Sul constitui umadiluição da Floresta do Alto Uruguai,enriquecida com elementos da FlorestaOmbrófila Densa e, sobretudo, da FlorestaOmbrófila Mista (Klein, 1984).

A Floresta Estacional Subtropical no RioGrande do Sul encontra-se arranjada em trêsregiões: o Alto Uruguai, o rebordo do PlanaltoMeridional e a Serra do Sudeste (Rambo, 1956;Hueck, 1972). Com base em Teixeira et al.(1986) e Veloso et al. (1991), as disjunções daFloresta Estacional Subtropical apresentam trêsformações: a Floresta Aluvial, que reveste osterraços aluviais na Depressão Central e no Pla-nalto da Campanha Gaúcha, ao longo dos riosJacuí, Ibicuí, Santa Maria, Uruguai e respecti-vos afluentes; a Floresta Submontana, que re-cobre a vertente sul do rebordo do PlanaltoMeridional, a Oeste do vale do rio Caí, esten-dendo-se sobre a borda do Planalto dasAraucárias, nas áreas de relevo ondulado, alémda bacia do rio Ijuí, no Planalto das Missões; ea Floresta Montana, que reveste áreas de relevodissecado do rebordo do Planalto Meridional,nas partes elevadas das escarpas formadas pelovale dos rios Taquari – Antas, limitando-se, nascotas superiores, com a Floresta Ombrófila Mis-ta.

De acordo com Kilca & Longhi (2011), otermo “Floresta Estacional Subtropical” é opor-tuno para caracterizar a Floresta Subtropical dorebordo do Planalto Meridional, evitando, as-sim, o uso dos termos complementares“decídua” e “semidecídua”, os quais têm cau-sado grandes confusões e equívocos na caracte-rização desta floresta no Sul do Brasil, devido àcarência de informações científicas e ao fato de

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que as mesmas são, predominantemente, secun-dárias.

Klein (1983) registrou 222 espécies arbóreaspara a Floresta Estacional Subtropical no rebor-do do Planalto Meridional; Brena & Longhi(2002), na Quarta Colônia, relacionam 212 es-pécies; e Kilca & Longhi (2011), para as imedi-ações do rebordo, listaram 165 espécies.

A vegetação arbórea do Morro do Botucaraí,conforme o estudo fitossociológico de Longhiet al. (1986), está constituído de três comunida-des arbóreas: a Floresta Submontana, a Flores-ta Montana de Encosta, e a Floresta do Cumeou Topo.

Neste contexto, a presente pesquisa tem oobjetivo de avaliar as influências das rotas mi-gratórias do elemento arbóreo na florística doMorro do Botucaraí, um remanescente da Flo-resta Estacional Subtropical, na região centraldo Rio Grande do Sul. Visa a caracterizar aflorística e a contingência fitogeográfica da ve-getação arbórea nos diferentes segmentos deposição de relevo, propondo-se a definir qual éo contingente fitogeográfico predominante emnúmero de espécies e indivíduos, bem como exa-minar a dissimilaridade da vegetação arbóreanas diferentes posições de relevo.

MATERIAL E MÉTODOSCaracterização do local de estudoA pesquisa foi realizada na Floresta

Latifoliada Estacional Subtropical Submontanade Cumeada (Oliveira-Filho, 2009), situada naencosta do rebordo do Planalto Meridional Sul-Brasileiro, na região central do Rio Grande doSul, mais especificamente no Morro do Botu-caraí (29º42’ S e 52º50’ W), distante, aproxi-madamente, 6km a sudoeste da cidade deCandelária.

A região é classificada no tipo de clima Cfa,conforme Köppen, com precipitação média de1.564mm e temperatura média anual de 19,2ºC(Moreno, 1961). Ferraz & Roberti (2011), norebordo do Planalto Meridional, avaliaram aprecipitação e temperatura para os anos 2000 a2004, constatando que: a precipitação possui

distribuição uniforme, com chuvas fortes no fimdo inverno e primavera; existem gradientes detemperatura sazonal e espacial do L para O; e atopografia é relevante para a temperatura. A pre-cipitação pluviométrica, ao longo do ano, variade 60 a 140 mm nos meses de verão, outono einverno, e de 100 a 320 mm nos meses de pri-mavera; a temperatura média no mês de janeiroatinge 24ºC, com máximas em torno de 40ºC;nos meses de inverno, a temperatura média é de8ºC, sendo o mês de julho o mais frio, com ocor-rência de geadas.

O solo da região é derivado de rochasefusivas básicas da Formação Serra Geral, ocor-rendo derrames de lavas basálticas comincrustações de calcita. Pertence à unidade demapeamento Charrua, caracterizada por solosrasos, de textura média, poucos desenvolvidos,moderadamente drenados, ligeiramente ácidose neutros, com alta saturação de bases e semproblemas de alumínio trocável (Brasil, 1973).No Sistema Brasileiro de Classificação de Solo– SiBCs (Embrapa, 2006), a unidade de mapea-mento Charrua compreende os Neossolos Rego-lítico Eutrófico Léptico e Litólico Eutrófico.

O Morro do Botucaraí, conhecido popular-mente como “Cerro do Botucaraí”, origina-se,provavelmente, do termo Ibytycaray, na línguaGuarani, sendo, na atualidade, objeto de lendassobre tesouros escondidos e de estudos sobre o“Santo Monge”. Destaca-se, ainda, por ter sidovisitado pelo botânico Friedrich Sellow, cujascoletas no local foram indicadas como In summomonte Botucurahy (Rambo, 1956).

Conforme Hintz (2006), ocorreram três ocu-pações históricas, como segue:

1ª ocupação – magos e feiticeiros indígenas:os seus primeiros moradores não eram nadaamistosos, nem seguidores da fé cristã. Índiosbravios e magos feiticeiros ocupavam o morroe as redondezas, ainda no tempo das reduções,tendo verdadeiro ódio aos jesuítas.

2ª ocupação – jesuítas permanecem no mor-ro até o retorno dos Bandeirantes: após a des-truição da redução Jesus-Maria, o domínio domorro teria passado às mãos de jesuítas. Em

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1716, continuava nas imediações do morro aexploração dos ricos ervais por jesuítas e índi-os da redução Jesus-Maria. Neste mesmo ano,os bandeirantes paulistas vieram em busca deprata; no entanto, a tão cobiçada “prata” eraapenas a erva-mate, ali beneficiada. Ao tentarescalar o morro, os invasores teriam sido ataca-dos a tiros, por índios e jesuítas, fazendo-os re-cuar. A estrada ainda existente nas adjacênciasdo morro era a rota por onde passavam carretascarregadas de erva-mate; esta teria sido, tam-bém, a rota dos tropeiros que se dirigiam aoUruguai e à Argentina, ladeando o morro naencosta Sul. O local foi abandonado pelos jesu-ítas por volta de 1767, quando eles foram total-mente expulsos do território gaúcho.

3ª ocupação – monge João Maria de Agostini:oitenta anos após, surge um novo pregador nomorro, fundador de uma organização religiosa.O monge João Maria d’Agostini era origináriode Piemonte, na Itália. A sua primeira estada nomorro deu-se em 1846, quando teria se deslo-cado para o “Campestre”, em Santa Maria, ondeele próprio intitulou-se solitário eremita doBotucaray. Perseguido pela milícia imperial, omonge teria retornado ao morro em 1849 pararefugiar-se, sendo preso no local.

Por cerca de 1960, um audacioso projeto tu-rístico começou a ser desenvolvido pela famí-lia Pertille, de Cachoeira do Sul, donos, na épo-ca, da Rádio Princesa do Jacuí, o chamado “Pro-jeto do Bondinho”, cujo objetivo era construir,em dois anos, um complexo turístico no cumedo morro, incluindo a instalação da Rede TV –Princesa.

Nos dias atuais, muitos são os que procuramo morro para pagamento de promessas e pedi-dos de curas nas águas de sua fonte. O misticis-mo que envolve o morro tem variadas origensreligiosas. A primeira é da crença anticristã,cultuada por índios pagãos, seguida da ocupa-ção cristã católica e da seita individual, prega-da por uma pessoa tida como santa e milagreira(o Santo Monge). Desse modo, não é de estra-nhar que a cultura do “Santo Cerro” (e da “pra-

ta escondida”) se perpetue no imaginário demuitas pessoas (Hintz, 2006).

No entanto, a maior riqueza do Morro doBotucaraí, além de sua paisagem natural e va-lor cultural, é o tesouro científico representadopor sua flora e fauna, além do patrimôniopaleontológico, uma vez que existem registrosde fósseis nas cercanias, como o Guaibassauruscandelarensis (Bonaparte, 1999), descobertopela fundação Zoobotânica do Rio Grande doSul em 1996, além de Gimnospermas fósseis.

O Morro do Botucaraí tem seu ponto maisalto à cerca de 570 metros de altitude sobre onível do mar (Figura 1), lembrando, segundo obotânico e fitogeógrafo Balduino Rambo:

“Um castelo truculento de rochedos, com umagrande variabilidade de aspecto e descreve-se que visto ao norte parece um único pilarrochoso, estreito e truncado; visto de SantaCruz, apresenta-se como largo tabuleiro deregular declividade; visto do sul, transforma-se em estreita aresta, uniformemente inclina-da sobre a planície.Voando de avião ao redor descobre-se a suaverdadeira forma: em sentido Leste-Oeste,aparecem as faces compridas da aresta, fra-camente inclinadas na base, verticais deste oterço de altura em diante; em sentido Sul-Norte, aparece a face curta, produzindo a im-pressão de longa aresta; em direção Norte-Sul apresenta-se a parte mais alta do norte,onde os paredões são mais elevados e íngre-mes” (Rambo, 1956, p. 342).

AmostragemA amostra dos dados consistiu de quinze

unidades amostrais de 10 x 50 m, subdivididasem subunidades amostrais de 10 x 10 m, perfa-zendo 7.500 m2, dispostas em transectos contí-nuos (Mueller-Dombois & Ellenberg, 1974) nosentindo NE – SE.

Para avaliar a vertente do Morro do Botu-caraí, usou-se a classificação de Cavalcanti(2014), que incide nas seguintes categorias:topo, encosta-superior, meia-encosta, encosta-inferior e base (Figura 2).

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FIGURA 1 - Planta altimétrica do Morro do Botucaraí, na Depressão Central, próximo ao rebordo do Planalto Meridionaldo Rio Grande do Sul.

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Foram alocadas quatro unidades amostrais(2.000 m2) no topo, duas (1.000 m2) na encosta-superior, três (1.500 m2) na meia-encosta, duas(1.000 m2) na encosta-inferior e quatro (2.000m2) na base. Nestas, examinou-se o perfil dasunidades de vertente de Darlymple et al. (1968)(Christofoletti, 2011), que divide e caracterizaas unidades de perfil de relevo em função dadeclividade e dos processos morfogenéticosdominantes e atuantes (Tabela 1).

Os valores de altitude foram obtidos nassubunidades amostrais, registrando-se os valo-res nas arestas e no centro, para, em seguida,obter o valor médio; usou-se aparelho digitalde Sistema de Posicionamento Global (GPS).Os valores de declividade da área foram obti-dos para cada lado das subunidades amostrais,em graus de inclinação, obtendo-se, após, amédia de inclinação; usou-se hipsômetro digi-tal Vertex III.

FIGURA 2: Diferentes posições dos segmentos de relevo (Cavalcanti, 2014).

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Coleta de dadosNas unidades amostrais registraram-se os

dados de árvores com circunferência à alturado peito maior ou igual a 15,7cm, medido a1,30m do nível do solo. A CAP (circunferênciaà altura do peito) foi obtida com trena métrica.A amostragem de espécies foi complementadapelo método de caminhamento aleatório, regis-trando-se todas as espécies lenhosas encontra-das. As árvores foram identificadas in loco, co-letando-se o material botânico das espécies du-vidosas para posterior identificação. A classifica-ção das famílias botânicas segue o critério doAngiosperm Phylogeny Group (APG III, 2009) e,para gêneros e espécies, a Lista de Espécies doIPNI – The International Plant Names Index(2012) (http://www.ipni.org [acessado em 27 demarço 2015]).

Análise dos DadosNa avaliação do contingente fitogeográfico

do elemento arbóreo seguiu-se a metodologiade Jarenkow & Waechter (2001), adaptada deRambo (1961), subsidiada pelas pesquisas deKlein (1984), Budke et al. (2004), Lindenmaier& Budke (2006) e Sühs et al. (2010).

As espécies foram classificadas nos seguin-tes contingentes fitogeográficos (Rambo, 1961):espécies existentes em toda a área florestal doEstado (EAD); espécies limitadas à ala Lestedo Estado (Torres até Santa Maria – ATL); eespécies limitadas ao extremo Noroeste do Es-tado (rios Paraná-Alto Uruguai – BPU).

Na análise de dissimilaridade da vegetaçãoarbórea entre unidades amostrais, nos diferen-tes segmentos de posição de relevo, utilizou-seo coeficiente de aglomeração, valendo-se, paraisso, da distância binária. Para a análise decluster de agrupamento hierárquico usou-se oagrupamento por médias não ponderadas(UPGMA), que computa a média dedissimilaridade ou distância entre objetos a cadaelemento do grupo, sendo que todos os objetosrecebem o mesmo peso (Valentin, 2012; Borcardet al., 2011; Gotelli & Ellison, 2011). Para aanálise do teste de significância do cluster apli-

cou-se o procedimento de bootstrapping(reamostragem = 1.000 replicações), a fim derandomizar grupos e clusters, permitindo deter-minar a significância das várias “quebras” nodendrograma. O Processamento dos dados foirealizado com o programa R (R DevelopmentCore Team, 2012), valendo-se dos pacotesVegan e pvclust (Oksanen et al., 2012).

RESULTADOSForam registradas 1.196 árvores em 7.500

m2 de área amostral, e identificadas 68 espéci-es, distribuídas em 56 gêneros e 30 famíliasbotânicas. Por sua riqueza de espécies, destaca-ram-se Euphorbiaceae, Fabaceae e Myrtaceae(6 espécies), seguidas por Lauraceae (5 spp.),Meliaceae, Salicaceae, Sapindaceae (4 spp.) eBoraginaceae (3 spp.). Observou-se que 8 fa-mílias botânicas estão representadas por 2 es-pécies e 14 famílias botânicas por apenas 1 es-pécie. A ordem de famílias botânicas com mai-or riqueza de gêneros inicia-se comEuphorbiaceae e Fabaceae (6 gêneros), segui-das por Lauraceae, Meliaceae, Myrtaceae,Salicaceae, Sapindaceae (3 gêneros), Arecaceae,Moraceae, Phytolaccaceae, Piperaceae,Solanaceae e Urticaceae (2 gêneros); as demais,estão representadas por apenas 1 gênero (Tabe-la 2).

O gênero com maior riqueza de espécies éEugenia (4 spp.), seguido por Cordia (3 spp.),Allophylus, Annona, Casearia, Chrysophyllum,Myrsine, Nectandra, Ocotea e Trichilia, (2 spp.);os demais, estão representados por apenas 1espécie.

A florística de algumas famílias botânicas egêneros foi incrementada pelo registro de espé-cies encontradas fora das unidades amostrais enão contempladas pelo critério de inclusão; des-se modo, constatou-se a ocorrência das seguin-tes espécies arbóreas: Banara parviflora (A.Gray) Benth. (Salicaceae) (EAD), Citharexylummontevidense Moldenke (Verbenaceae) (EAD),Dalbergia frutescens (Vell.) Britton (Fabaceae)(BPU), Dasyphyllum spinescens (Less.) Cabrera(Asteraceae) (BPU), Eugenia uniflora L.

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TABELA 2 – Florística, número de indivíduos e contingente fitogeográfico da vegetação arbóreado Morro do Botucaraí.Diferentes posições de relevo (Ba = base, E.I. = encosta-inferior, M.E. = meia-encosta, E.S. = encosta-superior, To = topo); C.F. = Contingente Fitogeográfico (ATL = Floresta Ombrófila Densa, BPU = FlorestaEstacional Paraná-Alto Uruguai, EAD = ampla distribuição geográfica); = somatório do número deindivíduos.

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(Myrtaceae) (EAD), Erytrhoxylum deciduumA.St.-Hil. (Erytrhoxylaceae) (EAD), Ficuscestrifolia Schott ex. Spreng. (Moraceae) (ATL),Guapira opposita (Vell.) Reitz (Nyctaginaceae)(ATL), Maytenus aquifolium Mart.(Celastraceae) (EAD), Mollinedia schottianaPerkins (Monimiaceae) (ATL), Myrsinelorentziana Arechav. (Primulaceae) (EAD),Picramnia parvifolia Engl. (Picramniaceae)(EAD), Quillaja brasiliensis Mart.(Quillajaceae) (elemento andino), Ruprechtialaxiflora Meisn. (Polygonaceae) (EAD),Strychnos brasiliensis (Spreng.) Benth.(Loganiaceae) (EAD), Trema micranta (L.)Blume (Cannabaceae) (EAD), Trichilia catiguaA.Juss (Meliaceae) (BPU) e Zanthoxylumrhoifolium Lam. (Rutaceae) (EAD).

Compete destacar, ainda, o registro de espé-cies arbustivas, tais como Cestrum strigillatum(Solanaceae) (EAD), Escallonia bifida Link &Otto ex. Engl. (Escalloniaceae) (elementoandino), Hybanthus bigibbosus Hassl.

(Violaceae) (EAD), Kaunia rufescens(P.W.Lund ex. DC.) R.M.King & H.Rob.(Asteraceae) (ATL), Piper amalago L.(Piperaceae) (EAD), Psychotria carthagenensisJacq., Psychotria leiocarpa Mart., Psychotriasuterella Müll.Arg. (Rubiaceae) (ATL),Solanum mauritianum Scop. (EAD), Vassobiabreviflora (Sendtn.) Huntz. (Solanaceae) (EAD),e um morfotipo (não identificado); das Poaceae,Chusquea ramosissima Lindm. (EAD) eMerostachys multiramea Hack. (EAD).

As espécies com maior abundância foram:Actinostemon concolor (19%), Soroceabonplandii (18%) e Trichilia claussenii (13%),seguidas por Eugenia rostrifolia (5%), Cupaniavernalis (4%), Pachystroma longifolium (3%)e Urera baccifera (3%), perfazendo 65% dototal. Ressalta-se que 18 espécies estão repre-sentadas por apenas 1 indivíduo, correspon-dendo a 1% do total.

A vegetação arbórea nos diferentes segmen-tos de posição de relevo foi representada pelas

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espécies com maior abundância (Tabela 1). Notopo, Actinostemon concolor (26%), Soroceabonplandii (26%) e Cupania vernalis (8%); naencosta-superior, Trichilia claussenii (21%),Actinostemon concolor (10%), Eugeniauruguayensis (10%), Eugenia rostrifolia (9%)e Sebastiania brasiliensis (8%); na meia-encos-ta, Trichilia claussenii (33%), Soroceabonplandii (21%) e Eugenia rostrifolia (13%);na encosta-inferior, Trichilia claussenii (38%)e Eugenia rostrifolia (16%); e na base,Actinostemon concolor (27%), Soroceabonplandii (21%), Urera baccifera (10%) e Ingamarginata (6%).

As espécies presentes em todos os segmen-tos de posição de relevo foram: Actinostemonconcolor, Chrysophyllum gonocarpum, Cupaniavernalis, Eugenia rostrifolia, Nectandramegapotamica, Pachystroma longifolium,Sebastiania brasiliensis, Sorocea bonplandii eTrichilia claussenii. As famílias botânicas pre-sentes em todos os segmentos de posição de re-levo foram: Boraginaceae, Euphorbiaceae,Fabaceae, Lauraceae, Meliaceae, Moraceae,Myrtaceae, Sapindaceae e Sapotaceae.

Com relação à riqueza de espécies dos con-tingentes fitogeográficos, registraram-se 35 es-pécies (51%) ocorrentes em toda área florestaldo Estado (EAD), 29 espécies (43%) limitadasao extremo Noroeste do Estado, (rios Paraná-Alto Uruguai - BPU) e 4 espécies (6%) limita-das à ala Leste do Estado (Torres até Santa Maria- ATL).

A diversidade sobe para 86 espécies, se fo-rem consideradas as árvores encontradas foradas unidades amostrais e do critério de inclu-são, elevando o número de espécies com distri-buição EAD a 47 (55%), BPU a 32 (37%) e ATLa 7 espécies (8%).

Com relação à abundância dos diferentescontingentes fitogeográficos, registrou-se, paraas espécies que existem em toda área florestaldo Estado (EAD), 791 indivíduos (66%), segui-das por espécies limitadas ao extremo Noroeste(rios Paraná-Alto Uruguai - BPU), com 337 in-

divíduos (28%), e das espécies limitadas à alaLeste do Estado (Torres até Santa Maria - ATL),com 68 indivíduos (6%).

A ocorrência de Aiouea saligna, Ficuscestrifolia, Guapira opposita, Mollinediaschottiana, Ocotea silvestris, Pachystromalongifolium e da palmeira Euterpe edulis (alémde algumas espécies arbustivas), corrobora ateoria que pressupõe o influxo da rota migrató-ria do elemento arbóreo da Floresta OmbrófilaDensa para a região central do Rio Grande doSul (Rambo, 1961; Klein, 1984). A ocorrênciade Escallonia bifida (arbusto) e de Quillajabrasiliensis, por sua vez, representa o influxoda Floresta Ombrófila Mista (Klein, 1984).

Constatou-se que nos diferentes segmentosde posição de relevo predominam espécies en-contradas em toda área florestal do Estado(EAD), seguida por espécies oriundas dos riosParaná-Alto Uruguai (BPU), e das limitadas àala Leste do Estado (Figura 3).

Ressalta-se que Roupala montana (EAD) foiregistrada no topo e, principalmente, na encos-ta-superior. As espécies (ATL) Aiouea salignae Ocotea silvestris ocorreram somente no topo.Euterpe edulis (ATL) ocorreu no topo e, princi-palmente na base. Pachystroma longifolium(ATL), por sua vez, encontra-se em todos ossegmentos, nas diferentes posições de relevo.

Com relação ao número de indivíduos querepresentam as contingências geográficas, ve-rificou-se na base, na encosta-superior e no topo,a predominância de espécies ocorrentes em todaárea florestal do Estado (EAD); na encosta-in-ferior e meia-encosta, a predominância das es-pécies limitadas ao extremo Noroeste do Esta-do (rios Paraná-Alto Uruguai – BPU); os indi-víduos das espécies limitadas à ala Leste do Esta-do (Torres até Santa Maria – ATL), por sua vez,predominaram no topo do morro (Figura 4).

O exame do dendrograma de agrupamentohierárquico da vegetação arbórea entre as uni-dades amostrais evidenciou a ocorrência de 3grupos homogêneos (menor variabilidade den-tro dos grupos) e 3 grupos distintos (maior vari-

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abilidade entre os grupos). De modo geral, asunidades amostrais nos mesmos segmentos deposição de relevo apresentaram menoresdissimilaridades; desse modo, evidencia-se quea vegetação arbórea nas unidades amostrais dotopo, seguido da meia-encosta e da base, é me-nos diferenciada. A vegetação arbórea nas uni-dades amostrais da base e topo, situadas em su-perfícies relativamente planas, se agruparam; avegetação arbórea entre esses segmentos deposição de relevo, contudo, é relativamentedissimilar. Observou-se que a unidade amostral11, na encosta-inferior, apresentou a menordissimilaridade com as unidades amostrais dabase (Figura 5).

As unidades amostrais da encosta-superior

se encontram nas unidades de perfil de verten-tes que se caracterizam pela ocorrência de de-clive convexo de reptação e de declividade in-termediária de transporte (Tabela 1). As unida-des amostrais da encosta-inferior se caracteri-zam pela ocorrência de escarpas. As unidadesamostrais da meia-encosta se caracterizam pelaocorrência de escarpa e declividade intermedi-ária de transporte. As unidades amostrais da basese caracterizam pela ocorrência do sopé coluvial,declividade intermediária de transporte edeclividade aluvial. As unidades amostrais dotopo, por sua vez, se caracterizam pela ocorrên-cia de declividade com infiltração e declividadeintermediária de transporte. Estas peculiarida-des geomorfológicas dominantes e atuantes

FIGURA 3 – Número de espécies da vegetação arbórea no Morro do Botucaraí, nos diferentes segmentos de posição dorelevo.Contingente Fitogeográfico (ATL = Floresta Ombrófila Densa; BPU = Floresta do Paraná-Alto Uruguai; EAD = ampladistribuição geográfica; PIN = Floresta Ombrófila Mista).

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FIGURA 4 – Número de indivíduos da vegetação arbórea no Morro do Botucaraí, nos diferentes segmentos de posiçãodo relevo.Contingente Fitogeográfico (ATL = Floresta Ombrófila Densa; BPU = Floresta do Paraná-Alto Uruguai; EAD = ampladistribuição geográfica; PIN = Floresta Ombrófila Mista).

implicam na formação de diferentes subgruposna vegetação arbórea, entre os diferentes seg-mentos de posição de relevo, devido àsmicrorregiões e microclimas formados, além dogradiente de altitude.

DISCUSSÃONa análise das diferentes posições de seg-

mentos de relevo observou-se a ocorrência deseis tipos de unidades de vertente, demonstran-do, dessa maneira, a notável heterogeneidadeespacial dos processos geomorfológicos atuan-tes. A diferenciação dessas unidades de perfilprevê a existência de zonas topográficas distin-tas nas diferentes posições de segmentos de re-

levo e diferentes modos de migração geoquímica(Cavalcanti, 2014), originando distintos sítiospaisagísticos, cuja vegetação arbórea possuifitossociologia espacial, fisionomia, florística eecologia características.

A florística do Morro do Botucaraí, de modogeral, está em consonância com estudos reali-zados na região central do Rio Grande do Sul,por autores como: Longhi et al. (1986), Tabarelli(1992), Alberti et al. (2000), Longhi et al.(2000), Nascimento et al. (2000), Budke et al.(2005), Lindenmaier & Budke (2006), Giehl etal. (2007), Sühs et al. (2010) e Fávero et al.(2011).

Com relação à composição de espécies, en-

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tretanto, verificou-se diferenças importantes,sobretudo, nas famílias Fabaceae e Myrtaceae,que, juntamente com Euphorbiaceae, são as maisnotáveis na composição da Floresta EstacionalSubtropical, segundo Rambo (1980), Reitz etal. (1983), Klein (1984), Longhi et al. (1986),Alberti et al. (2000), Longhi et al. (2000),Jarenkow & Waechter (2001), Araujo et al.(2004), Budke et al. (2004), Lindenmaier &Budke (2006), Scipioni et al. (2009) e Sühs etal. (2010), entre outros.

A elevada riqueza específica de Fabaceae eMyrtaceae resulta, em parte, da ocorrência deespécies que se adaptaram a diferentes condi-ções ambientais (Giehl, 2007). A famíliaMyrtaceae é bem conhecida por sua elevada

representatividade nas comunidades arbóreas doRio Grande do Sul (Araujo et al., 2004; Budkeet al., 2004; Budke et al., 2005; Giehl &Jarenkow, 2008; Sühs et al., 2010; entre outros)e, conforme Sobral (2003), é a de maior distri-buição geográfica e maior número de espéciesna flora arbórea.

Segundo De Marchi & Jarenkow (2008), afamília Myrtaceae possui a maior riqueza deespécies em áreas mais a Leste do Estado; nasfraldas da Serra Geral, conforme Klein (1972),o número de espécies não é muito representati-vo, salientando-se Eugenia rostrifolia, sobretu-do em solos úmidos do alto de encostas, comocomprovado no presente estudo, e por Reitz etal. (1983) e Marchiori & Sobral (1997), que in-

FIGURA 5 - Agrupamento de cluster (binário; UPGMA; p-values expresso por 1-p) da vegetação arbórea no Morro doBotucaraí, nos diferentes segmentos de posição do relevo.Au = p-value ; bp = estimativa do bootstrap ; edge = resultado imparcial do p-value.

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dicam a preferência da espécie por sítios pedre-gosos e de solo raso. Conforme Reitz et al.(1983), trata-se de espécie amplamente disper-sa pela Floresta Estacional do Alto Uruguai,pelas florestas da bacia do Jacuí, bem como naparte oriental do Escudo Rio-grandense, encon-trando seu limite austral, possivelmente, nomunicípio de Pelotas; frequentemente está as-sociada a Pachystroma longifolium.

Compete ressaltar, a seguir, as espéciesEugenia involucrata e Myrcianthes pungens(Klein, 1984); no presente estudo, entretanto,E. involucrata foi representada por apenas umindivíduo. A espécie, de acordo com Reitz et al.(1983), pode ser considerada rara e ocorre deforma esparsa no interior da floresta, habitan-do, segundo Marchiori & Sobral (1997), prin-cipalmente a submata dos pinhais, as FlorestasEstacionais do Alto Uruguai e Encosta da SerraGeral, bem como formações ciliares.Myrcianthes pungens, que prefere solos enxu-tos e pedregosos, foi encontrada em uma únicaescarpa, na encosta-inferior, apesar de ser espé-cie comum no alto de encostas (Marchiori &Sobral, 1997) e topos de morros (Marchiori,2009). Eugenia ramboi, em consonância comKlein (1972), mostrou-se pouco frequente, sen-do encontrada em solos úmidos e pedregosos.Eugenia uruguayensis, espécie, em geral, de flo-restas próximas a rios, foi presentemente encon-trada na encosta-superior. Por sua vez,Campomanesia xanthocarpa, em consonânciacom Marchiori & Sobral (1997), apresentoumaior abundância na encosta superior, em síti-os úmidos.

A família Fabaceae, por sua vez, é represen-tada por elevada riqueza de espécies que se ir-radiam, no Rio Grande do Sul, pela rota de mi-gração dos rios Paraná e Uruguai (Rambo, 1961;Giehl, 2007, Jarenkow & Waechter, 2001), sen-do menos representadas no lado Leste da regiãocentral. No presente estudo, destacam-se Ingamarginata e Myrocarpus frondosus. A primeiraé predominante na baixada do morro, onde ocor-rem as maiores perturbações antrópicas; trata-se de espécie heliófila (pioneira), indiferente às

condições do solo (Marchiori, 1997) e com vas-ta e regular dispersão pela Floresta Estacionaldo Alto Uruguai, do Alto do Ibicuí e, principal-mente, das florestas da bacia do Jacuí, onde sobepelos afluentes até 400-500m de altitude (Reitzet al. 1983). A segunda mostrou-se predominan-te, igualmente, na baixada do morro; conformeReitz et al. (1983), é encontrada no fundo dosvales, no início das encostas e em outros locaisde solos úmidos; de ampla dispersão na Flores-ta Estacional do Alto Uruguai, Rio Jacuí eIbicuí, penetra no planalto, nas submatas dospinhais, até altitudes de 600-800m, onde tor-nam-se raras.

A família Euphorbiaceae na região centraldo Rio Grande do Sul é representada, comu-mente, por Actinostemon concolor, Alchorneatriplinervia, Gymnanthes klotzschiana eSebastiania brasiliensis; no entanto, destaca-seno presente estudo, a ocorrência de Pachystromalongifolium, elemento arbóreo da FlorestaOmbrófila Densa, observado em encostas ousolos rasos (Klein, 1984). A. triplinervia é es-pécie dependente da luminosidade e praticamen-te indiferente às condições físicas do solo(Markus & Freitas, 2011); frequente na florestado Alto Uruguai, fraldas da Serra Geral e Flo-resta Ombrófila Densa, ocorre, ainda, no Escu-do Rio-grandense e na floresta do Alto Ibicuí,em altitudes de 300 a 500 metros (Reitz et al.,1983).

Entre as peculiaridades florísticas do morrosalientam-se Euterpe edulis, Guapira opposita,Ocotea silvestris e Roupala montana, espéciesque se encontram distribuídas, principalmente,na ala Leste do estado do Rio Grande do Sul.

No topo, bem como na encosta-inferior e nabaixada do morro, registrou-se a ocorrência deEuterpe edulis, a qual representa o influxo deelementos botânicos da rota migratória da Flo-resta Ombrófila Densa para o interior do RioGrande do Sul. Neste sentido, o Morro doBotucaraí deve proporcionar um refúgioambiental para a espécie, que sofre efeitosantropogênicos, além de propiciar condiçõesambientais adequadas ao estabelecimento, de-

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senvolvimento, reprodução e dispersão de suassementes.

A respeito da ocorrência de Roupalamontana, constatou-se a presença da mesma naencosta-superior e topo, onde a temperaturadeve ser menor do que na meia-encosta, na en-costa-inferior e na baixada. A maior abundân-cia, no entanto, foi encontrada na encosta-su-perior, onde outras variáveis ambientais, alémda temperatura, interferem no estabelecimentoe desenvolvimento. Segundo Marchiori (2006),essa espécie é nativa no Planalto sul-brasileiro,sobretudo em seu trecho Leste, próximo aosAparados, estando vinculada à altitude e climada região. De distribuição “anfipacífica” e res-trita às montanhas do centro-leste brasileiro, osregistros da espécie, no Rio Grande do Sul,apontam que a mesma está confinada a maioresaltitudes (Giehl, 2007; Giehl & Jarenkow, 2008;Kray, 2010; Bergamin et al., 2012) e, segundoMarchiori (2009), trata-se de um elemento docontingente extratropical, na Floresta Esta-cional.

De modo geral, a vegetação arbórea do sub-bosque está representada por Actinostemonconcolor, Sorocea bonplandii e Trichiliaclaussenii, espécies exigentes, de ambientes comcobertura vegetal e pouca luminosidade para seuestabelecimento e desenvolvimento, motivopelas quais são consideradas espécies clímax etípicas do sub-bosque (Vaccaro, 1997); devidoà alta representatividade das mesmas no localde estudo, conclui-se que a vegetação arbóreaencontra-se em fase de madureza. De acordocom Reitz et al. (1983), são arvoretas que cons-tituem de 40 a 70% do sub-bosque, conferindo-lhe um aspecto de grande homogeneidadefitofisionômica.

A contingência fitogeográfica com maior ri-queza de espécies e número de indivíduos estáem consonância com estudos de Budke et al.(2004 – Santa Maria), Lindenmaier & Budke(2006 - Cachoeira do Sul), Sühs et al. (2010 –Rio Pardo) e Fávero et al. (2011 – Santa Ma-ria). Sühs et al (2010), entretanto, registraram

um maior número de espécies e indivíduosoriundos da Floresta Ombrófila Densa, compa-rados a outros estudos. Jarenkow & Waechter(2001 – Vale do Sol), registraram, em sequência,espécies que existem em todo o Estado (EAD),seguido das oriundas da Floresta ombrófilaDensa (ATL) e das espécies do rio Paraná-AltoUruguai (BPU).

Com relação à rota migratória do Paraná-Alto Uruguai (BPU), verificou-se uma expres-siva representatividade na encosta-inferior emeia-encosta, devido, principalmente, à ocor-rência de Trichilia claussenii e Eugeniarostrifolia. Conforme Rambo (1961), a partici-pação dessa rota migratória é predominante nacomposição florística e fisionômica da FlorestaEstacional Subtropical no centro do Rio Gran-de do Sul, tendo sido igualmente comprovadopor Budke et al. (2004) e Lindenmaier & Budke(2006).

Ao se analisar a ocorrência das espéciesarbóreas do influxo da rota migratória Atlânti-ca, verifica-se que Euterpe edulis encontra-seno seu limite austral. A espécie, no Brasil, pos-sui ampla distribuição geográfica, ocorrendodesde Pernambuco até o Rio Grande do Sul; emdireção ao centro do país, a espécie avança pe-los vales dos rios Paraná e Iguaçu, ocorrendo,igualmente, na Argentina e Paraguai (Reis et al.,1996). No Rio Grande do Sul, ocorre na zonada Floresta Ombrófila Densa, compreendendoos municípios de Torres e Osório; ainda se irra-dia para Santo Antônio da Patrulha, Montenegro,Arroio do Meio, Lajeado, Santa Cruz do Sul,Guaíba e Barra do Ribeiro (Reitz et al., 1983).

Aiouea saligna, Ficus cestrifolia, Mollinediaschottiana, Ocotea silvestris e Pachystromalongifolium irradiam-se, ainda mais, no centrodo Rio Grande do Sul. Com relação a Ocoteasilvestris, presentemente registrada no topo domorro, também, ocorre no topo do Morro doElefante, em Santa Maria, (Fávero et al. 2011).Essa espécie, raramente encontrada em estudosde composição florística e de fitossociologiaespacial de comunidades arbóreas, foi assinala-

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BALDUINIA, n. 47, p. 12-18, 30-III-2015 http://dx.doi.org/10.5902/2358198017229

da, até o presente momento, por Jarenkow &Sobral (2000), Jarenkow & Waechter (2001),Jurinitz & Jarenkow (2003), Vargas & Oliveira(2007), Marchiori (2009) e Markus & Freitas(2011).

Ressalta-se a ocorrência de um indivíduo deGuapira opposita na baixada do morro; confor-me Sobral et al. (2013) essa espécie é frequentenas comunidades arbóreas da encosta meridio-nal da Serra Geral, na encosta da Serra do Su-deste e na Floresta Atlântica.

Conforme Rambo (1961) e Klein (1984), oelemento arbóreo da Floresta Ombrófila Densase irradia sobre os domínios da FlorestaEstacional Subtropical, favorecido pelas condi-ções climatológicas atuais; todavia, esse influ-xo de migração do elemento arbóreo da Flores-ta Ombrófila Densa sofre as interferências dasações antrópicas, como perturbações e fragmen-tação dos ambientes naturais, além da extraçãoilegal, caso da palmeira Euterpe edulis, explo-rada para extração do seu meristema apical (pal-mito) e coleta de sementes.

A riqueza de espécies da rota migratória daFloresta Ombrófila Densa (ATL) no Morro doBotucaraí é expressiva, comparada aos estudosde Budke et al. (2004), Lindenmaier & Budke(2006). Jarenkow & Waechter (2001) e Sühs etal. (2010), autores que entretanto, registraramuma maior abundância de elementos dessatipologia. Desse modo, esses estudos realizadosem diferentes coordenadas geográficas permi-tem deduzir o efeito dos gradientes decontinentalidade sob a florística e a estruturaecológica da Floresta Estacional Subtropical,que estão relacionados aos gradientesambientais, especialmente de temperatura egeomorfologia, corroborando os pressupostosteóricos de Rambo (1956; 1961) e Klein (1984).

Compete observar que a contingênciafitogeográfica das espécies ocorrentes em todoEstado (EAD) condiciona, de forma marcante,as variações nas proporções dos elementosarbóreos das rotas migratórias e, desse modo,interferem na florística, na riqueza e na abun-dância de espécies e, consequentemente, na

fitossociologia espacial e na estrutura ecológi-ca da vegetação arbórea do morro. SegundoScipioni et al. (2009), tal fato pode ser conside-rado um argumento referente ao recente avançodas florestas na região em estudo, e aos aspec-tos históricos antropogênicos.

Com relação aos elementos andinos,registrados na baixada no morro, na borda davegetação arbórea entre a matriz de lavouras ede estradas, Rambo (1980) informa que eles sãoimportantes na composição da FlorestaOmbrófila Mista, inclusive em capoeiras. Con-forme Waechter (2002), Escallonia bifida é Ele-mento Anfichaquenho e Quillaja brasiliensis éElemento Neoantártico. Tratam-se de elemen-tos extratropical, na Floresta Estacional(Marchiori, 2009).

Deste modo, o Morro do Botucaraí represen-ta, para a Floresta Estacional Subtropical, a dilui-ção das espécies arbóreas da rota migratória dosrios Paraná-Alto Uruguai, enriquecida com influ-xo das rotas migratórias da Floresta OmbrófilaDensa e, sobretudo, da Floresta Ombrófila Mista,evidenciando, desse modo, o pressuposto teóricode Rambo (1961) e Klein (1984).

A baixa dissimilaridade dos grupos da vege-tação arbórea demonstra uma baixaheterogeneidade na florística, devendo estar re-lacionado a aspectos compartilhados pelos di-ferentes segmentos de posição do morro, taiscomo a declividade intermediária de transpor-te, que gera microrregiões e microclimas simi-lares, de modo a ser representada por três co-munidades florestais, conforme Longhi et al.(1986).

CONSIDERAÇÕES FINAISO Morro do Botucaraí possui hetero-

geneidade espacial relevante para a vegetaçãoarbórea, uma vez que sua geomorfologia pres-supõe ambientes com variadas condições em umespaço geográfico restrito, gerando diversasmicrorregiões e microclimas, de modo a formarfiltros para o estabelecimento e desenvolvimentodas árvores, nos diferentes segmentos de posi-ção do relevo.

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A florística foi pouco dissimilar entre os di-ferentes segmentos de posição de relevo, masdeduz-se que a vegetação arbórea deve apresen-tar características mais marcantes na estruturaecológica e na fitossociologia espacial, origi-nando distintas zonas ecológicas.

Constatou-se a predominância das espéciesque ocorrem em toda a área florestal do Estado,seguida por espécies limitadas ao extremo No-roeste (rios Paraná-Alto Uruguai) e das espéci-es limitadas à ala Leste (Torres até Santa Ma-ria). Mas, detectaram-se diferenças narepresentatividade do contingente fitogeográficoentre alguns segmentos de posição de relevo.

A vegetação arbórea do Morro do Botucaraírepresenta, para a Floresta Estacional Sub-tropical, uma diluição da Floresta do Alto Uru-guai, enriquecida com os elementos da FlorestaOmbrófila Densa e, especialmente, da FlorestaOmbrófila Mista.

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