FONTES HISTÓRICAS EM SALA DE AULA: uma experiência, … · históricas, as quais os estudantes...

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FONTES HISTÓRICAS EM SALA DE AULA: uma experiência, muitos desafios

Juraci Santos 1 Joseli Maria Nunes Mendonça2

Resumo: Este trabalho relata e analisa parte da experiência de aplicação de

uma unidade temática desenvolvida pela autora deste texto, no Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE), no período de agosto de 2010 a agosto

de 2012. A Unidade Temática citada foi intitulada: Nas trilhas de Nhô Belarmino

e Nhá Gabriela: o caipira e o Paraná nos anos de 1940 e 1950. Nela foram

apresentadas algumas canções da dupla caipira - Nhô Belarmino e Nhá

Gabriela, bem como imagens que mostram a caracterização cênica desses

artistas. Objetiva-se, a partir desses materiais, responder a seguinte

problemática: Qual imagem do caipira e do Paraná foi veiculada por Nhô

Belarmino e Nhá Gabriela por meio de suas canções e de sua caracterização

cênica? Assim, as músicas e as imagens foram tratadas como fontes

históricas, as quais os estudantes tiveram oportunidade de interpretar para

desenvolver a problemática proposta. Esta experiência de trabalhar em sala de

aula com uma questão histórica por meio de fontes é objeto de análise deste

artigo. Por meio dele, procuramos mostrar que este tipo de trabalho pode

ampliar significativamente a compreensão que os estudantes têm sobre as

fontes históricas e que a inserção deste material no fazer pedagógico da

disciplina de História é uma cultura em construção com alunos e professores.

Palavras Chaves: Ensino de História, Fontes Históricas, História do Paraná

Introdução

Este texto apresenta e reflete sobre a aplicação de uma Unidade

Temática denominada: Nas trilhas de Nhô Belarmino e Nhá Gabriela: o caipira

e o Paraná nos anos de 1940 e 1950. Objetivando, por meio das canções

dessa dupla caipira e da se sua caracterização cênica, responder a seguinte

problemática: Qual imagem do caipira e do Paraná foi veiculada por Nhô

1 Professora de História do Colégio Estadual Paulo Leminski - PDE da turma 2010.

2 Professora do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná (UFPR) -

Orientadora PDE/2010-2012.

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Belarmino e Nhá Gabriela por meio de suas canções e de sua caracterização

cênica?

A elaboração e implementação dessa unidade temática foi parte do

processo da formação continuada da autora deste artigo, no Programa PDE do

segundo semestre de 2010/2012. O PDE é uma política pública do Estado do

Paraná regulamentada pela Lei 130 de 14 de julho de 2010, a qual tem como

finalidade estabelecer o diálogo entre os professores do ensino superior e os

da educação básica, através de atividades teórico-práticas orientadas, tendo

como resultado a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na

prática escolar da escola pública paranaense3.

A intervenção pedagógica foi realizada em dois momentos: primeiro foi

aplicado um questionário para diagnóstico para 24 alunos do 2º ano do Ensino

Médio Colégio Estadual Paulo Leminski, na cidade de Curitiba-PR (Apêndice 1)

e, posteriormente, trabalhamos a unidade temática com estes alunos. A

escolha pela referida instituição deve-se ao fato da autora deste artigo ministrar

aula neste colégio e o programa PDE tem como finalidade a formação

continuada da docente a partir de sua prática, para que esta reflita sobre a

mesma.

Também foi objetivo deste trabalho estudar com os alunos alguns

aspectos da História do Paraná nas décadas de 1940 e 1950, fazendo relações

com o contexto nacional e com questões da atualidade. Pretendemos, com a

metodologia e o tema escolhidos, de inserir o estudo da História em um recorte

cultural e não político, como a maioria dos livros didáticos apresenta.

1 - A metodologia do trabalho – diagnóstico inicial

Iniciamos a intervenção pedagógica com aplicação de um questionário

para os alunos, com a finalidade de obter algumas informações sobre cada um

deles (questões 1 e 2 do Questionário - Apêndice1) e ter uma noção do seu

gosto musical, principalmente em relação à música caipira/sertaneja/rural.

Procuramos também investigar o conhecimento prévio que eles tinham sobre

3 SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. “Programas e Projetos PDE”. Dia-a-dia da Educação, disponível em:

http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br (29/07/2012).

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fontes, propondo um exercício no qual foram desafiados a descreverem

imagem que representavam personagens caipiras, produzidas em

temporalidades diferentes (questão 4 do questionário). Assim, dividimos o

questionário em três seções. Na primeira, buscamos saber um pouco sobre

esse nosso aluno. Na segunda, elaboramos questões com a finalidade de

identificar a percepção dos alunos sobre o gênero musical caipira. Na terceira

seção elaboramos questões que nos possibilitassem identificar a capacidade

dos alunos de interpretar as fontes e, por fim, se os mesmos conseguiriam

identificar as mudanças e permanências através das fontes expressas no

questionário (Apêndice1). As respostas apresentadas nos questionários

evidenciaram vários aspectos que precisam ser aprimorados no ensino de

História.

1.1.- Quem era nosso aluno

Dos 21 alunos que responderam o questionário somente dois

apresentam idade superior a 16 anos, ou seja, tinham idade compatível com a

conclusão do Ensino Médio. Dos 21 alunos, 13 eram meninas e 8 meninos. No

grupo, 15 estudantes responderam ter nascido em Curitiba, 3 no interior do

Estado, 2 em Pinhais - região metropolitana de Curitiba - e 1 apontou ter

nascido em São Paulo. Cabe ressaltar que embora 15 alunos tenham apontado

ter nascido em Curitiba, a maioria mora na região metropolitana de Curitiba,

mais especificamente nas cidades de Piraquara e Pinhais. Esse dado sugere

que muitos pais preferem que seus filhos estudem em bairros nos quais,

segundo sua percepção, o ensino é considerado melhor, mesmo sendo

distantes do local de moradia e gerando custos de deslocamento. Deste grupo

de alunos, 6 trabalham 4 horas diárias e um apontou trabalhar 8 horas diárias.

O que respondeu trabalhar 8 horas diárias é um aluno com 16 anos de idade.

Cabe ressaltar que a legislação prescreve que a partir de 16 anos de idade a

jornada de trabalho é de no máximo 6 horas diárias, podendo chegar ao limite

de 8 horas desde que o aprendiz tenha completado o ensino fundamental, e se

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nelas forem computadas as horas destinadas a aprendizagem teórica4. Os

outros 6 que trabalham 4 horas diárias estão na condição de menor aprendiz.

Com relação ao lazer, o questionário evidenciou que a TV e a Internet

aparecem em primeiro lugar no gosto dos alunos, seguido por “conversar com

amigos” – que não exclui a possibilidade de que esta conversa seja realizada

remotamente, também pela internet, nas redes sociais. Este dado sugere que

os alunos ficam a maior parte do tempo em casa. Podemos considerar que os

alunos pudessem ter dificuldades para realizar outras atividades citadas no

questionário (cinema, shows, leitura de revistas e livros), por gerarem custos

que talvez os pais tivessem dificuldade para cobrir.

Esses estudantes nasceram no final da década de 1990, período em que

as áreas urbanas já haviam se expandido bastante no Estado do Paraná (pós

décadas de 1940-1950). A música caipira não faz parte do cotidiano da

maioria, mas alguns alunos responderam que conhecem e gostam da música

porque seus pais gostam ou porque possuem familiares que gostam.

1.2 - O gosto musical

Nas respostas à pergunta qual o gênero musical que você gosta? Por

quê? Os alunos manifestaram gosto variado. Em relação à música caipira foi

solicitado: descreva sua opinião sobre a música caipira. Nenhum aluno disse

gostar do estilo de música sobre a qual foi perguntado. Alguns disseram que

respeitam, outros que não gostam; outros disseram que não gostam, mas

respeitam as pessoas que gostam; outros, ainda, apontaram se tratar de um

gênero que retrata um pouco o cotidiano da população que vive no meio rural:

J.F5. “acho brega, muita gente de minha família gosta, mas eu nunca

consegui gostar.” M.H - “Acho muito chato [...]” B. S. V. -Não gosto, pelo jeito da música,[...] J. A. - Talvez o ritmo não seja tão legal, mas a letra muitas vezes fala sobre a realidade

4 BRASIL, Ministério do Trabalho. Consolidação das Leis Trabalho. CAPÍTULO IV - DA

PROTEÇÃO DO TRABALHO DO MENOR - SEÇÃO DISPOSIÇÕES GERAIS. Art.401 a 441. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Acesso: 02/08/2012. 5 Estas letras representam as inicias dos nomes dos alunos que participaram do estudo da unidade

temática.

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V.M.K. “[...] é muito engraçada. JV. “Não gosto, pelo jeito da música, estilo antigamente”. M.R. “O ritmo não seja tão legal, mas a letra muitas vezes fala sobre a realidade.”

Segundo Rosa Nepomuceno (1999) e Chaves (2007) a música caipira

passa a ser valorizada a partir de 1920, mais especificamente a partir da

Semana da Arte Moderna de 1922, quando os artistas que protagonizaram esta

semana apontavam para a necessidade de construção e consolidação de uma

identidade nacional. Ainda e acordo com Chaves (2007, p.31) “o modernista

Mário de Andrade buscava nas culturas populares rurais os elementos

constitutivos de uma autêntica música brasileira”.

Antes da década de 1920 a música caipira ocorria no espaço rural e

estava associada às festas religiosas locais (NEPOMUCENO, 1999, p.101).

Mas é a partir da década citada que a música caipira assumiu no espaço

urbano um caráter de entretimento comercial, sendo de início apresentada em

circos, posteriormente nas rádios, por fim em espetáculos e na televisão

(MORAES,1997).

Com o movimento da bossa nova, jovem guarda, tropicália, rock e a

inserção das músicas internacionais no meio urbano, paulatinamente “a música

caipira foi sendo definida como uma “subcultura” da cultura brasileira. Assim,

de certa forma, os apreciadores deste gênero musical são vistos como

consumidores de um gênero musical inferior (CHAVES,2007, p.45). Nas

respostas de alguns alunos esta identificação se evidencia, embora ela venha

associada a um cuidado de expressar respeito pelo gosto do “outro”, como

pode se exemplificado nas respostas dos alunos: R.G. não gosto ,mas ela faz

parte do Paraná e M.R. não gosto muito, mas nada contra, pois é cultura dos

caipiras. Possivelmente o respeito com a cultura do outro deva-se a ao fato de

a educação na atualidade preocupar-se com a construção de uma sociedade

mais respeitosa em relação ao outro ou ao diferente.

Ainda segundo Chaves (2207), os apreciadores e consumidores da

música caipira quase sempre têm raízes ligadas ao meio rural. Essa

observação é corroborada pelas repostas de alguns alunos:

J.F. Acho brega, mas muita gente da minha família gosta, mas eu nunca consegui gostar.

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L.F. Meu pai gosta de música caipira, eu gosto só da letra.

M R. Meus parentes do interior gostam, eu gosto só de dançar.

Na sequência de nossa análise, seguem considerações sobre as

respostas dos estudantes em relação às fontes e os respectivos contextos

históricos da produção das mesmas.

1.3 Identificando e interpretando as fontes

Por meio do questionário aplicado solicitamos aos alunos que analisassem

as duas imagens: a figura 1 e a figura 2 a seguir:

Figura 1

Violeiro, 1889 - Almeida Júnior. Óleo sobre tela – 141 x172 cm - Pinacoteca do Estado de São Paulo

Figura 2

Nho Belarmino e Nha Gabriela, 19566

6 Foto retirada do livro GRACIANO, Ivan. Belarmino e Gabriela: História, causos e prosas.

Curitiba: Gramofone Produtora Cultural, 2009, 32. Fotógrafo não citado nesta obra .

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Com a finalidade de identificar a interpretação que os estudantes tinham

das fontes, solicitamos que eles respondessem as seguintes questões: 1.Você

já viu as cenas retratadas nas imagens? Descreva quando e como viu. Os

alunos responderam esta questão da seguinte forma:

B. A. D. – Sim, em uma festa junina da Igreja e outra na TV em um documentário. O doc .1 em um filme e o Doc, 2 parece um casal na festa junina. B. S. Em livros e em revistas. C.A. S.- No interior do Paraná Doc. 2. D. O. Sim. Livros, museus e em trabalhos escolares. F. W. Sim em filmes e novelas. J. F. Sim, nas festas juninas e no sítio. J. V. Não, nunca vi nada parecido, a não ser em uma festa junina. J.A. Doc.2 – nas festas juninas e Doc.1 – no interior nos sítios. K.L.- Em filmes do Massaropi. L. C. B. - Sim, no interior do Estado. L. T. Sim nas aulas de Arte e em trabalhos escolares. M. A. C. N. geralmente se vê a cena do Doc.1 em festa juninas P. O. Sim, em retratos de casais, famílias e etc.. P. R. Sim, quando viajo para o interior./ Sim, em pequenas cidades. S. M. Já, no filme dois filhos de Francisco. V.M.K. Nas festas junina.

As respostas desses 16 estudantes sugerem que eles fazem relação das

imagens com algo que eles conhecem no tempo deles. Para esta mesma

questão, 8 alunos responderam:

B. S. V. – Não. J. V. Não Nunca vi. C. A. Não só nessa figura. M.H. Nunca vi L. F. Não M. R. Não B. A. S.- Não, nunca vi. A.F. Não, nunca vi.

.

Esse grupo de 8 alunos não associou as imagens com nada do seu

tempo, evidenciando que este aspecto precisa ser enfatizado nas atividades

com fontes realizadas nas aulas de História. A questão 4b (Descreva o que

você vê na Gravura 1, destacando o que considera mais importante) alguns

alunos responderam:

B. A. D. Dentes pintados e cachimbo. M. R. duas pessoas sem dentes. B. S. V. Um casal juntos C. A. B. S. Dentes mal cuidados e chapéu de palha. C. A. Dentes pintados, chapéu, monocelha.

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F. W. Um casal caipira feliz. J. A. Um casal simples do campo parece estar bem feliz. J. V. Um casal sorrindo ao ver alguma coisa na revista ou livro. K. l. Chapéu e os dentes. M. O. Cachimbo, dentes, monocelha, lenço no pescoço do homem. M.A.C.N.- o uso do chapéu, dentes pintados, por vezes podres mesmo. R. G. O Amor, felicidade entre os dois. V. M. K. – Dentes podres monocelha.

Alguns alunos descreveram o que perceberam objetivamente na

fonte. Mas, um aluno afirmou que – “R. G. O Amor, felicidade entre os

dois”. Este dado sugere que para este aluno, a fonte é uma realidade

dada, demonstrando a necessidade de entender que para fazer tal

afirmação faz-se necessário elaborar algumas perguntas, como por

exemplo: o que garante que o casal estaria feliz? Poderiam eles estar

representando a felicidades através do riso? Contudo, algumas

respostas evidenciam exercícios de formulação de hipóteses a partir das

fontes. Foi o caso, por exemplo, da aluna J. A. que registrou sobre o

Doc. 1: “Um casal simples do campo parece estar bem feliz”, em um

primeiro momento afirma que o casal é do campo, e, em seguida,

utilizando o verbo “parece”, formula hipótese para interpretar a cena:

“parece estar feliz”. Embora seja necessário trabalhar muito mais para

aprimorar os exercícios com fontes históricas, outras respostas mostram

a construção de hipóteses a partir das fontes apresentadas:

B. A. O. Dois caipiras namorando. L. C. B. – um casal caipira com roupas tradicionais caipiras.

J. Ap. Duas pessoas vestidas de caipiras, lendo uma revista e se divertindo, enquanto fumam um cachimbo. J. F. O amor que existe entre eles, mesmo sendo simples. L.F. – Parecem felizes. Dentes podres, cachimbo.

Em relação à questão 4b (Descreva o que você vê na gravura 2,

destacando o que você considera importante. Escreva o que você percebe.)

vários estudantes relacionaram as imagens à realidade de ambiente rural,

como ser observado a seguir:

B.S.V. Duas pessoas do campo. F.W. No meio rural. L.C.B. Podemos ver pessoas assim no interior do Estado, que se vestem assim.

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R.G. Um cidadão destacando a música do interior o que é importante para a divulgação do lugar.

Alguns estudantes também relacionaram os personagens à pobreza, condição humilde, simplicidade:

B.S.V. Um casal caipira sorrindo, simples e brega. F.W. Um casal da roça que tentam mostrar ser de um lugar do interior. J.V. Duas pessoas do interior são pessoas sofridas. K.L. Um casal simples típico da vida do campo. L.F. Um casal simples, o homem tocando um instrumento e a mulher ouvindo a melodia e cantando. M.R. Duas pessoas de classe humilde O mais importante é a simplicidade das roupas, as maneira como eles aparecem.

A percepção que os alunos expressam sobre o meio rural, a

pobreza/humildade e o tempo antigo mostra que, apesar de eles não

explicitarem que a música pode ser uma fonte para estudo do passado e do

ambiente social, indiretamente esta noção é expressa nas respostas desses

alunos. As respostas demonstraram também que os alunos tomaram certo

cuidado ao fazer afirmações, buscando verbos como “parece”, “aparenta”,

“como se tivesse”. O uso desses verbos sugere que eles analisaram a imagem

não como uma realidade dada, mas uma construção, uma representação ou

expressão de uma ideia. Este exercício demonstra que os estudantes,

acertadamente, consideram que a fonte histórica não expressa exatamente a

realidade, tal como ela aconteceu, mas a constitui, na medida em que a

representa.

B.S.V. Um homem com um viola sentado na janela, parece está cantando e uma mulher na frente. F.W. Um casal parece que o homem está fazendo uma serenata. J.V. Um casal cantando na janela, no interior, foto antiga. K.L. Aparenta ser uma pintura, onde à figura apresenta movimento dividindo o ato de ambos. L.F. Esta gravura retrata uma pintura de um casal o homem tocando uma viola e a mulher admirando. M.A.C.N. Um rapaz na janela com um viola, uma mulher de seu lado com um pano no ombro. Parece que ele está tocando e ela cantando. O que destaca é a moda de viola que a pessoa toca. A imagem parece retratar um momento. M.H. O que mais me chamou atenção foi o rapaz com a viola na mão, como se ele tivesse cantando e a mulher cantando. R.G. Duas pessoas de classe humilde cantando e aparentemente felizes. É um desenho

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Alguns alunos de fato foram capazes de apresentar a noção de que a

fonte não é a expressão da realidade vivida, mas uma representação da

mesma, como pode ser observado em algumas respostas a seguir.

J.A. Dois cantores que estão em uma foto que parece uma capa de álbum e o destaque são os dentes. J.V. Não são pessoas muito bonitas, são bem caipiras, com o dentinho preto e tal. K.L. Um casal caipira, como se estivesse fantasiado para uma festa junina. L.F. Na imagem seria um suposto casal que parecem pousar para uma fotografia. M.A.CN. Acho que são figurantes, porque nunca vi ninguém assim, nem no interior. M.R. Duas pessoas, aparentemente do campo, mas a julgar pela roupa e maquiagem parecem ser da cidade.

Com a finalidade de desafiar os estudantes a identificarem que as duas

imagens tratavam da mesma temática em tempos diferentes elaboramos a

questão 4e. Escreva o que você percebe de igual e de diferentes nas figuras 1

e 2. Apesar de essas imagens tratarem da mesma temática (a representação

do homem do campo), cada uma delas tinha uma especificidade em relação ao

período em que foi produzida e ao método de produção (pintura e fotografia). A

maioria dos alunos respondeu que as semelhanças aconteciam porque nas

duas imagens apareciam um homem e uma mulher sendo eles caipiras, não

chegando, portanto, a estabelecer a relação entre o caipira e o ambiente rural.

Quanto às diferenças em relação ao meio de representação (pintura e

fotografia) somente 10 alunos conseguiram apontar que:

B.S.V. Cor da foto. F.W. Uma é pintura de um casal e uma a foto preto e branco de outro casal. J.A. Uma é foto e outra é pintura. J.V. Uma imagem é preta outra é colorida. K.L. 1 é desenho e 2 é foto. L.F. Uma imagem foto e outra é pintura. M.A.C.N. A primeira imagem parece mais velha e a segunda parece que eles são figurantes. M.R. A imagem 1 é preta e branco e a 2 é desenho. R.G. As cores das fotos. V.M.K. Uma é quadro e outra é foto. Uma é colorida e outra é preto e branco.

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Quanto às semelhanças, a maioria respondeu que as imagens tinham

como tema casal caipiras. Essas respostas dos alunos corroboraram com a

nossa justificativa apresentadas no projeto de investigação, no qual

assinalamos, que em nossa percepção, o uso de fontes históricas em sala de

aula ainda é um desafio para os professores de História e para os estudantes.

Pois segundo, a professoras e pesquisadoras Bittencourt (2004); Schmidt e

Caineli (2004), as fontes históricas ainda são utilizadas em sala de aula quase

sempre de forma ilustrativa ou para comprovar um determinado discurso ou

fato narrado.

De acordo com o texto das Diretrizes Curriculares de História do Estado

do Paraná (2008, p.69), a intenção do trabalho com fontes históricas em sala

de aula tem como finalidade desenvolver a autonomia intelectual adequada,

que permita ao aluno realizar análises críticas da sociedade por meio da

produção do conhecimento histórico. Contudo, os dados levantados a partir

deste questionário sugerem que o trabalho com fontes históricas em sala de

aula é uma prática a ser mais exercitada e aprimorada.

Quanto à inserção das fontes no tempo cronológico, quase a totalidade

não conseguiu realizar a identificação solicitada. Acreditamos que isso pode

ter acontecido pela dificuldade dos alunos em prestarem atenção na orientação

do professor, pois, as imagens foram projetadas e apesar de não haver sido

registrado na questão apresentada que eles deveriam circular o século em que

a imagem foi produzida e escrever em cima deste círculo o número da imagem,

tal informação foi dada durante o processo de aplicação do questionário.

Houve, portanto, uma falha na forma como esta questão foi apresentada, o que

nos leva a pensar que seria importante ter testado as questões com um grupo

menor de para identificar as possíveis falhas e, assim ajustar as questões que

não ficaram bem elaboradas. Por outro lado, ressaltamos que os estudantes

apresentaram grande dificuldades em prestar atenção nas orientações do

professor para desenvolver as atividades propostas. Dos 21 alunos que

responderam o questionário, somente 8 identificaram corretamente o tempo de

produção das imagens, ou seja, disseram que a imagem 1 foi produzida no

século XIX e a imagem 2 foi produzida no século XX.

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Por meio da questão 4e (As imagem retratadas estão presentes no seu

tempo?), procuramos identificar se os alunos perceberiam as continuidades e

transformações ocorridas entre os tempos de produção cada uma das cenas

representadas e o contexto em que eles (alunos) estão inseridos. Quatro

dentre eles demonstraram perceber continuidades, como pode ser observado

nas respostas a seguir:

J.A. Através de filmes, novelas. J.V. Meus familiares têm um pouco de semelhança.

L.F. Em formas de quadros e lembranças. M.A.C.N. Nas festas juninas. Sim através da música.

A quantidade de alunos que não respondeu esta questão foi maior que

40%. Esse dado sugere que os estudantes apresentam dificuldades de

perceber as mudanças, permanências históricas. Essa dificuldade talvez possa

ser explicada pelo texto das Diretrizes Curriculares de História do Paraná

(2008), na página 62, o qual aponta que a disciplina de História no Ensino

Médio tem um recorte prioritariamente político, determinado pela periodização

quadripartite da História, ou seja, História Antiga, Medieval, Moderna e

Contemporânea, não valorizando assim, múltiplas temporalidades e

perspectivas históricas de recorte cultural. O Historiador Jean de Chesneaux

(1995), através de sua obra: Devemos fazer tábula rasa do passado?

Possibilita-nos refletir para novas posturas com relação às periodizações que

são válidas para “História Universal”. Na mesma perspectiva de refletir sobre o

tempo, Marc Bloch (2001), aponta para a necessidade de pensar o tempo além

da ordenação cronológica dos acontecimentos,

No processo de ensino-aprendizagem, a articulação entre as dimensões

temporais se expressa nas relações de temporalidades, a saber: processos,

mudanças, rupturas, permanências, simultaneidades, recorrências, contudo,

faz-se necessário observar essas temporalidades levando em consideração os

acontecimentos históricos das diferentes sociedades, ou seja, não se limitar da

divisão da História a partir dos marcos históricos da sociedade europeia.

2. Implicação da Unidade Temática

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2.1 Analisando as fontes

Após aplicação do questionário, iniciamos o trabalho com a unidade

temática7 citada no início deste texto. Por meio da unidade temática foi

proposto aos alunos a análise das seguintes fontes históricas: uma foto (figura

3) e três canções da dupla Nhô Belarmino e Nhá Gabriela e dois quadros do

artista plástico Almeida Junior e um fragmento do texto Urupês de Monteiro

Lobato. Cabe ressaltar que para este artigo analisamos somente uma canção

da dupla, como poderá ser percebido no decorrer deste texto.

Figura 3

Nhô Belarmino e Nhá Gabriela –1959

In: GRACIANO, 2009, p. 75.

A partir desta imagem solicitamos que os alunos respondessem a

seguinte questão: Observe a figura 3 e descreva as características físicas

adotadas pela dupla Nhô Belarmino e Nhá Gabriela. Os alunos apresentaram

as seguintes respostas:

A. F. – A mulher tem os cabelos cacheados, sobrancelhas grossas.

Dentes podres e aparentemente magros, o homem tem cabelos

curtos monocelha, bigode e dentes, também aparentemente magros.

B. S. V. - são pessoas mal arrumadas com características simples e

desajeitadas.

7 Esta Unidade Temática está disponível no site: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/

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C. A. S. - dentes mal cuidados, cabelo mal penteado, monocelha,

cachimbo e lenço no pescoço.

J. V. - dentes podres, cabelos armado, roupas simples e

remendadas, sobrancelha juntas.

K. L - Os dentes faltando, monocelha e o bigode. Ele tem os dentes

podres, usam camisa xadrez, usam chapéu, não tem vaidade.

L.F - Chapéu de palha, camisa xadrez, cachimbo, dentre poder, livro

e lenço como gravata.

M. R. –Que não se cuidam- dentes podres, roupas coloridas,

quadriculadas e chapéu de palha.

M.H. - Chapéu de palha, roupa xadrez, lenço de gravata, dente podre

e o cachimbo.

M.A.C.N.- Os dois utilizaram chapéus de palhas, alguns dentes

pintados de preto e camisas xadrez. Ele usava um bigode e um lenço

no pescoço.

J. A. - roupas simples, caipiras, o jeito deles é simples, engraçado,

chapéu e falta de dentes.

F. W. – não, porque não consegui observar as características físicas

adotadas pela dupla.

L.C. B. – são pessoas simples, mal arrumadas com as características

simples e desajeitadas, mas felizes do jeito que são.

M.H - Ela um anel de compromisso na mão direita com qual segurava

um carimbo e com a outra mão segurava uma revista ou livro.

R. G. - caipiras e estão felizes, roupas simples/ roupas de caipiras.

Cabe ressaltar, que para análise desta fonte os alunos não tiveram a

mediação da professora, contudo, após a aplicação do questionário a

professora trabalhou com os alunos o conceito de fonte histórica, primária e

secundária. Esta prática pedagógica evidenciou que a compreensão do

conceito de fonte para os alunos ainda não foi clara, uma vez que eles se

limitaram a descrever o que estava visível, mas não fizeram a critica a fonte,

pelas respostas é possível até afirmar que alguns deles tomaram a imagem

como uma expressão da realidade. Até aqui, portanto, a compreensão destes

alunos não avançou muito em relação ao diagnóstico. Os alunos responderam

o que foi solicitado, mas não fizeram relação com conteúdo trabalhado

anteriormente. Este dado remete ao estudo de Vygotsky sobre a construção de

conceitos, o qual aponta que:

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O significado de cada palavra é uma generalização, um conceito e como as generalizações e os conceitos são inegavelmente atos de pensamentos, podemos encarar o significado como um fenômeno do pensar. (VYGOTSKY, 1989, p. 75-100).

Nessa perspectiva as respostas dos alunos evidenciam que eles ainda

estão em processo de significação do conceito fonte histórica, mas ainda nem

todos perceberam a imagem como tal, mas tomando por base a citação

Vygotsky, quando eles tiverem compreendido o conceito de fonte histórica, eles

a perceberão através de artefatos culturais, os quais são repletos de

historicidade e que as fontes podem nos informar sobre as ações e relações

humanas no tempo.

A pesquisadora e professora Circe Bittencourt (2004), aponta que, ao

utilizarem a imagem, independente de ser criada para fins didáticos ou

transformada para tal, os professores devem ter claro o tratamento

metodológico que a mesma exige, para que não se limite a ser usado apenas

como ilustração.

A Imagem 3 teve como finalidade discutir com os alunos a

representação do caipira na caracterização cênica da dupla caipira Nhô

Belarmino e Nhá Gabriela. Mas, como parte de uma metodologia pedagógica, a

mesma foi trabalhada separadamente em um primeiro momento.

Na segunda etapa da aplicação da unidade temática, trabalhamos com

os alunos o conceito de estereótipo8, o qual foi consultado no dicionário pelos

estudantes e com quatro fontes, sendo elas: duas imagens que retratam dois

quadros de Almeida Junior (O violeiro, de 1889 e o Caipira Picando Fumo, de

1893 – Anexo 2 ) e um fragmento de texto do livro Urupês de Monteiro Lobato

do início do século XX (Anexo 3) e, por fim com a imagem 3 de Nhô Belarmino

e Nhá Gabriela de 1959 presente na figura 3 deste artigo. A intenção deste

trabalho foi a de que os alunos percebessem como o caipira foi representado

nestas obras no final do século XIX, início do século XX e meados do século

XX e, por meio da comparação e análise, respondessem a seguinte questão:

qual era a representação do caipira veiculada na caracterização cênica destes

artistas Nhô Belarmino e Nhá Gabriela.

8 Imagem simplificada de alguém ou de algo, baseada num modelo ou generalização. HOUAISS,

Dicionário da Língua Portuguesa. 2001, p.183.

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Mas, para responder esta questão a professora adotou a seguinte

metodologia: primeiramente leu junto com os alunos o fragmento do texto de

Monteiro Lobato e os estimulou a relacionarem o texto com as imagens que

retratam os quadros de Almeida Junior. Esta etapa do trabalho foi muito

interessante, pois os alunos escutaram os comentários uns dos outros e riram

com o texto de Monteiro Lobato. Após a identificação das fontes e da época de

sua produção, solicitamos individualmente e por escrito que comparassem o

caipira representado por Almeida Junior e Monteiro Lobato.

A. F. – [...] a expressão e o lugar das imagens parecem a mesma coisa do texto, mas o texto foi escrito depois das imagens. C. A. – Caipira mal cuidado.

C. A.- Os dois reapresentaram um caipira preguiçoso. C. A. B. S. – O caipira de Monteiro Lobato e mal cuidado e nas

figuras estão também mal vestidos, além da casa ciando os pedaços. J. A. - Monteiro Lobato passa a ideia de que o caipira que não

gosta do trabalho pesado, se comparar com a imagem de Almeida Junior também da uma impressão de que os caipiras não querem saber de trabalhar e ficam cantando ou sentado no sossego. J. F. A representação é a mesma, de um caipira que não quer

nada com nada. V.M.K - A comparação é a mesma dos dois caipiras eram

preguiçosos, mas as imagens de Almeida Junior são antes do texto. K. L. – Caipira preguiçoso. M.A. C. N. – São parecidas, pois as paredes estão ameaçadas

a cair e há uma nossa senhora ao lado dos homens que

protege, portanto Lobato diz que a crença do caipira não deixa

que eles se preocupe.

De forma geral a maioria dos alunos apontou que as representações do

caipira nas imagens e do texto são semelhantes, ou seja, tanto uma como

outra, representam o caipira como uma pessoa que não gosta de trabalhar.

Além disso, dois alunos apontaram que o texto foi escrito após as imagens.

Nesta última observação eles implicitamente demonstraram ter percebido uma

permanência da representação do caipira de Almeida Junior para o texto de

Monteiro Lobato.

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A análise destas fontes pelos alunos permite refletir como a mesma foi

encaminhada, pois, o fato de a professora ter lido junto com eles, e ter

comparado com eles as imagens no que se refere às datas, autor possibilitou

um avanço nas respostas dos alunos em relação à análise que haviam feito

previamente, pela observação da Figura 3. A metodologia adotada,

possivelmente, favoreceu a concentração dos alunos na atividade proposta,

não dispersando a atenção.

Ainda no processo de análise das fontes, solicitamos aos alunos que:

comparassem as representações dos caipiras apresentadas nos quadros de

Almeida Junior com a caracterização da dupla caipira Nhô Belarmino e Nhá

Gabriela, expressa na figura 3 deste artigo. Na comparação, solicitamos que

observassem o ano em que cada representação foi construída, as

semelhanças e as diferenças entre as características com que os caipiras se

apresentam no quadro.

L.S – a representação dos caipiras de Almeida Junior e de Monteiro Lobato são iguais, já na fotografia eles estão desdentados, e nos quadros e no texto não trata disso, já as diferenças eu percebi que são todas diferentes as imagens de Almeida Junior são de 1889 e 1893, Monteiro Lobato de 1904 e da dupla caipira é de 1959. B.S.V. – não percebi nada de diferente entre as representações só as datas. M.A. C. N. – são todas iguais, pois, em todas elas o caipira parece que não gosta de trabalhar e é relaxado. Mas, na foto a dupla caipira, não é caipira eles só se vestem de caipira, porque fazem Shows assim. Só as imagens dos quadros de Almeida Junior que são parecidas as outras são bem diferentes. J. A. - Monteiro Lobato passa a ideia de que o caipira era preguiçoso, se comparar com a imagem de Almeida Junior também da uma impressão de que os caipiras não querem saber de trabalhar e ficam sentados no sossego. Mas, a foto da dupla, acho que eles são engraçados, porque na real eles não se vestiam daquela forma, era só para se apresentar nos show que eles faziam C. A. B. S. – Os dois são caipiras, mais em épocas diferentes – mudam de época, mas continuam iguais.

Desta feita, a professora limitou-se a ler a questão com alunos e

solicitar que eles a respondessem. Dos que participaram da pesquisa,

somente 5 alunos demonstraram ter compreendido que era para

comparar uma imagem com a outra e destacar as semelhanças e

diferenças. Embora não tivesse explícito na questão esperávamos que

eles apontassem como diferença que uma imagem tratava-se de uma

foto e a outra uma pintura e que as mesmas foram produzidas em

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tempos diferentes. Quanto às semelhanças, esperávamos que eles

respondessem que as duas imagens tinham como temática o caipira ou

uma representação do caipira. Outro grupo de alunos respondeu

parcialmente a questão, no decorrer da atividade, várias vezes a

professora solicitou que eles se concentrassem na comparação, mesmo

assim eles se dispersaram e , possivelmente isto os atrapalhou a

análise. Assim, as respostas que seguem podem não expressar o real

entendimento dos alunos.

A L. F. – Diferença – as épocas, as roupas, o lugar e a tranquilidade deles são diferentes. C. A. – Semelhanças: caipiras, roupas simples. F. W. – A figura 2 foi representada em 18889, já a figura 3 em 1893, não há semelhança entre eles, a diferença que na figura 2 é um casal cantando e na figura 3 um homem sozinho. J. F. Não respondeu. J. V. Diferenças os anos são muito diferentes, o lugar , as roupas e a tranquilidade. Os dois são artistas e estão sorrindo na foto observando algumas coisas. K. L. – Diferenças as datas e na figura 2 é um casal e na figura 3 o homem. Semelhança um lugar humilde. L. C. B. – As semelhanças – ambos vestem roupas simples e estão felizes. L.F - não respondeu. M. R. – Diferença, as datas um de 1959 outra de 1889. R.G. – Dentes estragados e roupas típicas. Semelhança – casal e os dois são caipiras, um lugar humilde.

Apesar de os alunos terem se mostrado dispersos, é possível observar

um avanço em relação às respostas do questionário aplicado inicialmente.

Esta percepção corrobora com os apontamentos de Fonseca, (2005, p.56),

pois, segundo esta professora e pesquisadora, as fontes históricas contribuem

para que o aluno construa o pensamento histórico através das diferenciações,

comparações e abstrações.

Em outra etapa da pesquisa, juntamente com os alunos a professora

contextualizou as imagens de Almeida Junior, o texto de Monteiro Lobato e a

fotografia da dupla caipira Nhô Belarmino Nhá Gabriela por meio dos textos

expressos na unidade temática. Objetivando retomar a questão inicial: Qual a

imagem do caipira veiculada por nhô Belarmino e Nhá Gabriela por meio

de sua caracterização cênica?

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L.S – Eles se vestem igual caipira de Monteiro Lobato, bem relaxados. M.A. C. N. – Como já disse na outra questão é igual as outras representações. Mas, na foto a dupla caipira, não é caipira eles só se vestem de caipira, para fazer Shows. J. A. - Acho que eles são faziam tipo, porque na real eles não se vestiam daquela forma, era só para se apresentar nos shows e fazer os outros rirem, assim como o Didi bem engraçado. C. A. B. S. – continua igual o de Monteiro Lobato, não se cuidam.

Embora os alunos não tenham respondido que a dupla caipira veiculou uma

imagem estereotipada ou simplificada do caipira, eles, de forma implícita,

demonstraram ter percebido uma permanência na forma de representação e na

criação de um estereótipo. Assim, verificamos que os alunos que participaram

da pesquisa reconheceram a permanência nos elementos que compõem, em

temporalidades diversas, a representação do caipira, faltando introduzir termos

específicos da História (continuidades, permanências), termos estes que

podem e devem ser aprendidos no decorrer da escolarização destes alunos.

A aluna J. A. (2012) além de responder a questão ainda procurou uma

referência de seu tempo, “Acho que eles faziam tipo, porque na real eles não

se vestiam daquela forma, era só para se apresentarem nos shows e fazer os

outros rirem, acho que eles faziam eles se presentavam parecido com como o

Didi”. O termo parecido na resposta da aluna evidencia que ela faz distinção

entre passado e presente. Além disso, a resposta da aluna denota que ela

atribui significado à caracterização, relacionando-a ao trabalho destes artistas.

Nesta mesma perepctiva o aluno M. A. C. N. (2012) responde: “Como já disse

na outra questão é igual as outras representações. Mas, na foto a dupla caipira,

não é caipira eles só se vestem de caipira, para fazer Shows.” este dois alunos

perceberam que os artistas representavam o personagem caipira. É

interessante observar este aluno B.S.V. (2012) responde:

Acho que eles são iguais os caipiras das outras imagens e do texto de Monteiro Lobato, mas parecem mais felizes porque não são caipiras é outra época, acho que eles só brincavam que eram caipiras e não sabiam que ser caipira antigamente ara algo ruim para ele.

Este aluno também contextualiza, ainda que de forma implícita, as

imagens e o texto de Monteiro Lobato apontando que: “não sabiam que ser

caipira antigamente ara algo ruim para ele.” Esta resposta indica que o aluno

compreende que o contexto da produção das imagens de Almeida Junior e do

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texto de Monteiro Lobato eram distintos para os próprios caipiras e que, por

isso, a dupla caipira Nhô Belarmino e Nhá Gabriela podiam ser “mais felizes”.

Estas como as demais respostas dos alunos demonstram a importância do uso

das fontes históricas na mediação do professor entre o aluno e o conhecimento

histórico.

Ainda nesta pesquisa colocamos a seguinte problematização: Qual era a

imagem do Paraná veiculada na canção de Nhô Belarmino e Nhá Gabriela nos

anos de 1940 e 1950. Para produção deste artigo, focamos somente na década

de 1950, devido ao tempo escasso, pois era final de período letivo.

Para responder a essa problemática confrontamos a canção Parabéns

Paraná, 1953 (Anexo 4) da dupla caipira Nhô Belarmino e Nhá Gabriela e um

texto historiográfico (Anexo 5). No processo de mediação, contextualizamos o

texto e a canção e solicitamos que os alunos observassem e relacionasse a

canção ou fonte como o texto historiográfico e respondessem a seguinte

questão : Na canção “ Parabéns o Paraná” ocorre a explicitação de identidade

paranaense.? Argumente.

A.L. Sim, eles já identificavam a identidade do Paraná na música fala nós somos paranaenses. B. A. O. Sim, porque eles estavam parabenizando o centenário da emancipação do Paraná. C. A. B. S.- sim na música fala agora o Paraná é nosso. F.W. Sim, nós somos paranaenses, cantamos ao teu vulto varonil. O Paraná nos pertence, adoramos nossa terra, salve o Paraná. J. A. Sim, pois no ano de 1953 a dupla caipira cantou Parabéns para o Paraná e no texto diz que em 1853 não havia ainda um discurso de identidade paranaense, de valores comuns a toda população e, sim, objetivos claramente ligados a determinados setores da sociedade, fossem eles comerciantes do litoral, fazendeiros ervateiros ou tropeiros, e a dupla não era nada disso. J. V. O texto não elogia o Paraná, ele quis dizer que não havia um discurso de identidade, é porque ainda era cedo para falar de Paraná e não música elogia muito o Paraná. L. S. Sim, porque eles cantaram Parabéns no centenário do Paraná e falaram na música nos adoramos nossa terra e somos paranaenses. M. R. Sim, eles fizeram a música para valorizar o Paraná. M.A.C.N. - Sim, a letra expressa uma identidade de um povo com muito amor pelo seu Estado, além de alegre e festivo.

Somente 15 alunos responderam esta questão, Deste total, 9 alunos

conseguiram perceber elementos na canção Parabéns Paraná produzida no

ano de 1953 que expressam uma identidade paranaense. Porém, 6 alunos

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responderam a questão de forma parcial, como pode ser observado nas

respostas a seguir.

B.S.V. Não respondeu C. A. Porque o Paraná ganhou seu primeiro presidente. J. Ap. Sim, pois, nesse ano foi que o Paraná ficou conhecido como um verdadeiro Estado. Por isso na música – “Parabéns pelo teu aniversário”. J. F. Sim, de valores comuns a toda a população e, sim , objetivos ligados a determinados setores as sociedade, fossem eles comerciantes do litoral, fazendeiro, ervateiros ou tropeiros. K. L. – Porque o Paraná ganhou seu primeiro presidente para instalar e organizar as províncias V. M. K. Por que eles cantaram Parabéns Paraná na comemoração do centenário.

Nestas respostas pode ter ocorrido um falseamento, pois durante o

desenvolvimento da atividade observamos certa ansiedade dos educandos em

cumprir com a atividade proposta, dada a proximidade do final do período

letivo. Mesmo assim, é possível considerar que a análise de fontes como parte

do processo ensino/aprendizagem da disciplina de história para estes alunos

ainda é uma prática em construção.

Algumas considerações finais

A presente pesquisa evidenciou que embora os alunos não se utilizem

de termos específicos do conhecimento histórico, os mesmos, quando

auxiliados pela mediação da professora, compreenderam as possibilidades de

interpretar fontes para constituir conhecimentos históricos. Esse dado ratifica a

necessidade da inserção das fontes históricas na prática pedagógica da

disciplina de História para que esta compreensão seja ampliada, contribuindo

para que os alunos entendam que o conhecimento histórico é produzido a partir

dos vestígios (fontes). Esta constatação remete ao apontamento do historiador

Marc Bloch (2001, p.79) sobre o conceito de fonte “Tudo que o homem diz ou

escreve, tudo que fabrica tudo o que toca pode e deve informar sobre ele”.

Outro dado relevante é que a inserção da fonte histórica na prática de

sala de aula pode possibilitar aos alunos a compreensão de que é partir delas

que o historiador constrói a narrativa histórica. Além disso, pode contribuir

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também para que os estudantes se capacitem para perceber as mudanças,

permanências, rupturas, simultaneidades na sociedade que estão inseridos em

relação ao passado e, a partir disso, possam estabelecer explicações

plausíveis para estas percepções. Pois, o recorte político ou da divisão

quadripartite da História (História Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea)

inibe a inserção de outras temporalidades e recortes históricos na perspectiva

da cultura e do trabalho.

As problematizações estabelecidas pelos alunos e professores a partir

das fontes, segundo os estudos de Schmidt e Cainelli (2004), Bittencourt

(2004) e Fonseca (2005) apontam que esta prática permite que os estudantes

percebam que a explicação histórica sobre um determinado acontecimento só

é possível a partir dos vestígios encontrado pelo historiador, rompendo assim,

com a ideia de que a História trabalhado em sala de aula é uma retrato fiel do

fato acontecido.

Contudo, essa prática é uma realidade a ser construída, pois, no

decorrer da aplicação da unidade temática percebemos certo estranhamento

por parte dos alunos em estudar a disciplina de História nesta perspectiva.

Também escutamos com certa frequência na entrega nos boletins, pais

apontarem que não entende porque o filho ou filha não conseguiu média, uma

vez que História é fácil “é só decorar” . Ou seja, a construção de uma cultura de

que a História não é algo dado a priori extrapola os muros escolares.

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REFERÊNCIAS

BIITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.

BLOCH, Marc. Apologia da História ou oficio do historiador. Tradução André

Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

CHESNEAUX, J. Devemos fazer tábua rasa do passado?: sobre a história e

os historiadores. São Paulo: Ática, 1995.

FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de História. Campinas - SP: Papirus, 2005.

NEPOMUCENO, Rosa. Música caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: Ed.

34,1999.

PARANÁ, Diretrizes Curriculares de História da Educação Básica. Curitiba:

SEED/PR, 2008.

PIAGET, J. A noção de tempo na Criança. Tradução de Rubens Fiúza. Rio de Janeiro. Record, 1975.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar História. São

Paulo: Scipione, 2004.

VYGOSTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. Tradução de Jeferson

Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

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APÊNDICE 1 – Questionário de Diagnóstico

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL (PDE) – 2010 -2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR

PROFESSORA ORIENTADORA: Joseli Nunes Mendonça

Professora PDE – Juraci Santos

Questionário 1- aplicado para um à turma de alunos do 2º ano do Ensino Médio por Blocos, no

Colégio Estadual Paulo Leminski - Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante.

1. O ALUNO

a) ( ) 14 ( ) 15 ( ) 16 ( ) 17 ( ) mais de 18

b) Sexo : Masculino ( ) ( ) Feminino

c) Você trabalha? ( ) sim ( ) não Quantas horas diárias ________________

d) Nasceu onde?

e) ( ) Curitiba ( ) interior do Estado - onde ________ ( ) região metropolitana -

Onde_______________

f) Outros _________________________________________________________

g) Nas horas de lazer gosta de fazer o quê?

( ) Assistir TV ( ) jogar futebol ( ) ler revista ( ) ler livros ( ) ir ao cinema ( ) shows

( ) cinema ( ) Internet ( ) vídeo game ( ) conversar com os amigos (as) ( ) outros

____________________________________________________________________________

2. SOBRE OS PAIS OU RESPONSÁVEIS

a) Trabalho do pai ___________________________ b) Trabalho da mãe _________________

b) Escolaridade do pai:

Ensino fundamental Ensino médio Ensino superior

( ) Completo

( ) incompleto

( ) incompleto

( ) Completo

( ) incompleto

( ) incompleto

( ) Completo

( ) incompleto

( ) incompleto

c) escolaridade da mãe:

Ensino fundamental Ensino médio Ensino superior

( ) Completo

( ) incompleto

( ) incompleto

( ) Completo

( ) incompleto

( ) incompleto

( ) Completo

( ) incompleto

( ) incompleto

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3. QUANTO AO GOSTO MUSICAL

a) Qual o gênero musical que você gosta? Por quê?

b) Descreva sua opinião sobre a música caipira que você ouvirá – As mocinhas da cidade, 1959.

4. QUANTO ÀS IMAGENS QUE SEGUEM RESPONDA:

DOC. 01

Nhô Belarmino e Nhá Gabriela, 1959. Foto disponível - GRACIANO, Ivan. Belarmino e Gabriela: História, causos e prosas. Curitiba: Gramofone Produtora Cultural, 2009.

DOC. 02

O VIOLEIRO, 1889 Almeida Júnior. Óleo sobre tela – 141 x172cm Pinacoteca do Estado de São Paulo.

a) Você já viu estas cenas representadas nas imagens em algum lugar? Descreva: onde,

quando e como viu.

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

b) Descreva ao que você vê na imagem 01, destacando o que considera mais importante.

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

c) Descreva ao que você vê na imagem 02, destacando o que considera mais importante.

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________

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d) Escreva no quadro abaixo o que você percebe de semelhante e de diferente nas imagens 01 e 02.

Semelhanças Diferenças

e) As imagens 01 e 02 estão presentes em nosso tempo? De que forma?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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ANEXO 2

ALMEIDA JÚNIOR, José Ferraz de. O Violeiro, 1899 - Óleo sobre tela – 141 x172 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo.

ALMEIDA JÚNIOR, José Ferraz de. Caipira Picando Fumo, 1893. Óleo sobre tela – 202x 141 cm Pinacoteca do Estado de São Paulo.

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ANEXO 3

[...] Na mansão de jeca a parede dos fundos bojou para fora um ventre

empanzinado, ameaçando ruir; os barrotes, cortados pela umidade, oscilam na podriqueira do baldrame. A fim de neutralizar o desaprumo e prevenir suas conseqüências, ele grudou na parede uma nossa senhora enquadrada em moldurinha amarela - santo de mascate. - "Por que não remenda essa parede, homem de Deus?" - "Ela não tem coragem de cair. não vê a escora?"

Não obstante, "por via das dúvidas", quando ronca a trovoada, Jeca abandona a toca e vai agachar-se no oco dum velho embiruçu do quintal - para se saborear de longe com a eficácia da escora santa.

Um pedaço de pau dispensaria o milagre; mas entre pendurar o santo e tomar da foice, subir ao morro, cortar a madeira, atorá-la, baldeá-la e especar a parede, o sacerdote da grande lei do menor esforço não vacila. É coerente.

Um terreirinho descalvado rodeia a casa. O mato o beira, nem árvores frutíferas, nem horta, nem flores – nada revelador de permanência. Há mil razões para isso; porque não é sua a terra; porque se o "tocarem" não ficará nada que a outrem aproveite; porque para frutas há o mato; porque a "criação" come; porque... - "Mas, criatura, com um vedozinho por ali... a madeira está à mão, o cipó é tanto..." - Jeca, interpelado, olha para o morro coberto de moirões, olha para o terreiro nu, coça a cabeça e cuspilha. - "Não paga a pena."

Todo o inconsciente filosofar do caboclo grulha nessa palavra atravessada de fatalismo e modorra. Nada paga a pena. Nem culturas, nem comodidades. de qualquer jeito se vive.

Da terra só quer a mandioca, o milho e a cana. a primeira, por ser um pão já amassado pela natureza. Basta arrancar uma raiz e deitá-la nas brasas. Não impõe colheita, nem exige celeiro. O plantio se faz com um palmo de rama fincada em qualquer chão. Não pede cuidados. Não ataca a formiga. A mandioca é sem vergonha.

Bem ponderado, a causa principal da lombeira do caboclo reside nas benemerências sem conta da mandioca. Talvez que sem ela se pusesse

de pé e andasse. Mas enquanto dispuser de um pão cujo preparo se resume no plantar, colher e lançar sobre brasas, jeca não mudará de vida. O vigor das raças humanas está na razão direta da hostilidade ambiente. Se a poder de estacas e diques o holandês extraiu de um brejo salgado a Holanda, essa jóia do esforço, é que ali nada o favorecia. Se a Inglaterra brotou das ilhas nevoentas da Caledônia, é que lá não medrava a mandioca. Medrasse, e talvez os víssemos, mariscando de peneira no Tâmisa. Há bens que vem para males. A mandioca ilustra este avesso de provérbio.

Fragmento de: LOBATO, Monteiro. URUPÊS. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2009, p 171-172.

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ANEXO 4

PARABÉNS PARANÁ (1953 Letra: Nhô Belarmino e Pereirinha/ Voz: Nhô Belarmino e Nhá Gabriela

Nós somos paranaenses/ Cantamos ao teu vulto varonil/

O Paraná nos pertence/ Por ele temos amor febril/

Adoramos nossa terra/ E o lindo céu anil/ Salve?

Salve o Paraná/ Pedacinho do nosso Brasil/

Salve!Salve!Paraná/ Pedacinho do nosso Brasil.

Festejas o primeiro centenário/ Do ano feliz que nasceu/

Do sul sei que és milionário/ O Pinho e o Café te enriqueceu/

Parabéns pelo teu aniversário/ Em nome de teu povo parabéns.

Nós somos paranaenses/ Cantamos ao teu vulto varonil/

O Paraná nos pertence/ Por ele temos amor febril/

Adoramos a nossa terra/ E o lindo céu azul anil./

Salve!Salve!Paraná/ Pedacinho do nosso Brasil/

Salve!Salve Paraná/ Pedacinho do nosso Brasil.

GRACIANO, Ivan. Belarmino e Gabriela: História, causos e prosas. Curitiba: Gramofone Produtora Cultural, 2009, p. 62.

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ANEXO 5

Historiografia [...] A luta pela emancipação política do Paraná começou a ganhar força no

início do século XIX. Os governantes das cidades paranaenses, que faziam

parte da cidade de São Paulo, denunciavam que o governo da província era

alheio aos interesses da região. O projeto de emancipação do Paraná tramitou

durante 10 anos na Câmara do Império. Finalmente em 20 de agosto de 1853 o

projeto foi aprovado e transformado em lei em 29 de agosto do mesmo ano. [...]

A Província do Paraná foi oficialmente instalada em 19 de dezembro de 1853,

com a chegada de Zacarias Góes de Vasconcelos, seu primeiro presidente,

que teve como tarefa instalar e organizar a Província. Nesse momento, o

projeto Paraná foi eminentemente de cunho político-administrativo, pois não

havia ainda um discurso de identidade paranaense, de valores comuns a toda

população e, sim, objetivos claramente ligados a determinados setores da

sociedade, fossem eles comerciantes do litoral, fazendeiros ervateiros ou

tropeiros.

ARAÚJO, Maria Bethânia de. et. al. Representações, Memórias e identidades.

Curitiba: SEED – Pr., 2008, p.13.