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FORÇAS MILITARES MULTINACIONAIS DO SUL GLOBAL:
CONHECIMENTOS E PRÁTICAS REGIONAIS
Matías Daniel Avelino Ferreyra Wachholtz1
RESUMO
O objetivo deste trabalho é apresentar uma introdução ao fenômeno das forças militares
multinacionais, com ênfase nas práticas e conhecimentos dos países do Sul Global, entre os anos
2000 e 2015. Neste período, pode-se constatar um significativo incremento de iniciativas com
esse tipo de forças, lideradas por países do Sul global; em variadas formas e condições, para atuar
em operações de apoio à paz. Tais avanços insinuam um processo de multinacionalização das
operações militares, com práticas e conhecimentos de base regional, porém, em um contexto
global de relações assimétricas entre o Norte e o Sul, o que tende a relativizar as projeções
autonomistas do Sul, nessa área de questões. Nesta direção, propõe-se fazer uma análise com
casos presentes nas regiões da América do Sul, África e Oriente Médio. Utiliza-se uma
abordagem crítica e regionalista da segurança, entendendo que os perfis e capacidades das forças
são condicionados por contextos de dependência relativa com países do Norte e por dinâmicas
regionais de segurança.
Palavras chave: Força Militar Multinacional; Sul global; Segurança Regional.
1 Professor de Relações Internacionais na Universidade Estadual Paulista (UNESP). Doutorando no PPGRI “San
Tiago Dantas” (UNESP, UNICAMP, PUC-SP). E-mail: [email protected]
1
1- INTRODUÇÃO
A História das Relações Internacionais contemporâneas é plena de casos em que dois ou
mais Estados coordenam o emprego das suas forças armadas e cooperam para atingir objetivos
estratégicos comuns. No entanto, desde o fim da Guerra Fria, em várias regiões do sistema
internacional, tanto do “centro” como da “periferia”, a cooperação militar entre Estados tem
adquirido uma nova dimensão. O fato mais importante é que a qualidade da cooperação tem
mudado (SOETERS; MANIGART, 2008). No passado, a cooperação militar multinacional e os
contatos diretos para realizar operações conjuntas costumavam se manifestar apenas ao nível de
chefes de estado maior e quartéis generais, enquanto que atualmente as unidades nacionais
também estão sendo integradas no nível de batalhões e brigadas multinacionais (PALIN, 1995;
SOETERS; MANIGART, 2008). Assim, a internacionalização do pessoal militar (por exemplo,
em quartéis generais multinacionais ou formações permanentes) e o caráter multinacional e
multicultural dos contingentes militares, durante os desdobramentos, têm se convertido em rasgos
comuns das operações militares contemporâneas (TRESH, 2007).
Tal processo de multinacionalização das operações militares tem sido tanto de índole
organizacional, como poder-se-ia evidenciar com a reestruturação da Organização do Tratado de
Atlântico Norte (OTAN), quanto operacional, como por exemplo, no envolvimento da
Organização das Nações Unidas (ONU), não só com as operações de manutenção da paz, mas
também com as mais demandantes, militarmente, operações de imposição da paz.2 Certamente, o
fim do confronto bipolar deu início a um mundo onde o perfil das ameaças à segurança
2 Os complexos e multidisciplinares mecanismos de resolução de conflitos recebem atualmente a denominação de
Operações de Apoio à Paz. Até então, as intervenções onusianas eram genericamente denominadas de Operações de
Paz, as quais compreendiam tanto as Operações de Manutenção da Paz e Operações de Imposição da Paz, baseadas
no Cap. VI e VII, da Carta de São Francisco, respectivamente (FRIISS; JARMYR, 2008). Embora muitas das novas
Operações de Apoio à Paz sejam multidimensionais, este projeto de pesquisa tem como foco os componentes
militares e não são analisados os componentes civis ou policiais em missões. Além disso, o foco está nas unidades
militares e não em indivíduos, tais como oficiais de um estado maior e observadores.
2
internacional prolifera, maioritariamente, como consequência da instabilidade ou desintegração
interna dos Estados, de guerras civis e outros tipos de conflitos intra-estatais. Dada à
complexidade e diversidade de tais conflitos, as novas missões têm requerido maior adaptação,
flexibilidade e mobilidade das forças, para tratar com um amplo espectro de funções. Nesse
sentido, como assinala Tresh (2007, p.1), “o alcance das operações militares tem se tornado tão
demandantes que as forças armadas nacionais não tem sido capazes nem estiveram interessadas
em conduzir essas missões sem o apoio de outros Estados”. Portanto, forças armadas de
diferentes Estados tiveram que cooperar intensivamente no contexto de operações multinacionais
- nos níveis estratégico, tático e operacional - as quais também recebem a denominação ocidental
de “operações combinadas”.3
Uma abordagem inicial ao fenômeno em questão pode indicar duas grandes categorias.
Por uma parte, as “forças de coalizão”, temporárias por definição, formadas para alcançar um
objetivo específico (por exemplo, sob a bandeira da ONU). Por outra parte, existem “forças de
aliança”, definidas por terem uma estrutura multinacional de caráter permanente ou contínua,
tanto em tempos de paz como em tempos de guerra (PALIN, 1995). Esta última categoria teve
uma importante expressão no teatro europeu, muitas vezes sob a órbita da OTAN, onde se
constata o maior número de iniciativas e as práticas mais avançadas em matéria de forças
combinadas na década dos noventa.4 Porém, o que a experiência ocidental tem demonstrado é
que resulta mais fácil criar unidades combinadas que fazê-las funcionar (ARTEAGA, 2015).
3 O termo “combined operations” foi primeiramente introduzido pela Oficina de Guerra Britânica, na Segunda
Guerra Mundial, para denotar atividades que envolvem forças navais, ar e terra, atuando conjuntamente e
coordenados por um quartel general de operações. Porém, depois da Segunda Guerra Mundial, o Departamento de
Defesa dos Estados Unidos começou a usar o termo para denotar exclusivamente as operações de natureza
multinacional, no âmbito da OTAN (RUSH; EPLEY, 2006). 4 Embora a primeira unidade multinacional europeia tenha sido criada no ano 1973, é só a partir dos anos noventa
que se começa a formar na Europa certo número de forças militares multinacionais. Entre vários exemplos, podem
ser mencionadas iniciativas tais como o Corpo do Exército Aliado de Reação Rápida (ARRC, por suas siglas em
inglês), criada em 1992, e formada por 13 nações para atuar tanto sob o Capítulo 5 da OTAN como também em
operações de apoio à paz. Outro exemplo é a Divisão Multinacional (Central), uma divisão da ARRC, e o Euro-
corpo, na estrutura da EU, criada também e 1992 (AYALA MARÍN, 2010).
3
Neste sentido, autores como Soeters e Manigart (2008), Palin (1995), entre outros, argumentam
que, à medida que aumenta o grau de integração multinacional, as dificuldades tendem a se
multiplicar, torna-se mais complexo cumprir com qualquer imperativo político, a organização
militar se corrói e a eficácia de uma missão se expõe a maiores riscos.
Entretanto, a multinacionalização das operações militares, no período do Pós-Guerra Fria,
acontece em um contexto mais amplo marcado pelo aprofundamento da multipolarização do
sistema internacional (CEPIK; AVILA; MARTINS, 2009) e a emergência de novas formas de
regionalismos, nas regiões do outrora denominado “Terceiro Mundo” - agora livres do confronto
ideológico Leste-Oeste, no qual seus problemas de segurança regional costumavam estar
subsumidos (RODRÍGUEZ SUÁREZ, 2012). Tais mudanças sistêmicas, somadas ao impulso
dado na ONU à regionalização das operações de paz (HENRIKSON, 1996), trouxeram maiores
oportunidades para que os países do Sul global5 desenvolvessem de forma mais autônoma seus
próprios instrumentos de gerenciamento e resolução de conflitos em suas regiões, como forças
combinadas regionais. Nesse marco, o objetivo deste texto é analisar a formação de práticas e
conhecimentos relativos ao uso de forças multinacionais entre atores pertencentes às regiões do
Sul global, entre os anos 2000 e 2015. Dentro desse período, é possível constatar a emergência e
institucionalização de iniciativas com forças combinadas protagonizadas por países do Sul global,
com perfis e condições muito variados, tanto permanentes como temporárias.
No âmbito das operações de paz da ONU, apesar de que as operações combinadas não
sejam um fenômeno novo, as mesmas não têm recebido um registro exaustivo nem têm sido
estudadas de forma sistemática (DANIEL; WILLIAMS; SMITH, 2015). Em geral, a literatura
5 A ideia mais comum do “Sul Global” faz referência àqueles países localizados geograficamente no hemisfério sul
do planeta. Porém, o conceito pode indicar, também, a dimensão opressiva, tanto no campo econômico, quanto
epistemológico, que historicamente esses países têm experimentado (SOUSA SANTOS, 2010). Tais formas de
opressão têm suas raízes fincadas no colonialismo europeu, atingindo principalmente, as regiões da África, América
Latina, Ásia e também o Oriente Médio. Esse processo histórico se caracterizou tanto pela exploração das riquezas e
recursos dos territórios dessas regiões, quanto como diversas práticas e discursos de dominação, o que contribui para
pensar sobre as diversas limitações que pesam até hoje sobre tais regiões.
4
sobre o tema é escassa. De acordo com as observações de Daniel, Williams e Smith (2015), os
poucos estudos relevantes existentes ou se focam no fenômeno mais amplo das operações
militares multinacionais, ou dedicam-se a estudos de casos específicos, com exíguas análises das
suas ramificações com o fenômeno global. Por outra parte, autores como Soeters e Manigart
(2008) apontam que a literatura sobre operações militares multinacionais é produzida
principalmente no hemisfério ocidental e em centros acadêmicos dos países do Norte, onde se
concentram em estudos de casos de cooperação entre organizações militares europeias e em
função dos interesses delas. Em contraste, as práticas e conhecimentos desenvolvidos entre
organizações militares do Sul, e o valor estratégico das mesmas para os setores de defesa e
segurança dos países, têm atraído pouca atenção acadêmica, desconsiderando a possibilidade de
produzir uma análise empírica e sistemática, para compreender e avaliar avanços, potenciais e
limitações nas regiões do Sul, nessa área.
Dado que as forças multinacionais do Sul tendem a se postular como instrumentos criados
em e para suas regiões, uma abordagem regionalista da segurança deve ser considerada nesta
proposta de análise. A adjacência geográfica entre atores estimulam frequentemente processos de
interdependência de segurança em clusters regionais, onde a natureza das ameaças e dos
conflitos, as relações, identidades e práticas assumem dinâmicas de próprias e distintas entre
regiões (BUZAN, WÆVER, 2003). Dessa forma, as forças combinadas assumiriam perfis,
conhecimentos e formas operativas por efeitos que variam no nível regional de análise, o que
ajudaria a compreender, até certa medida, a heterogeneidade do objeto de pesquisa.
2- DESENVOLVIMENTO
Em relação aos casos de forças combinadas existentes no Sul global, no continente
africano, por exemplo, desde a criação da União Africana (UA), no ano 2001, constata-se um
incremento de operações combinadas entre países africanos, com a intensão de atuar no
5
gerenciamento de crises e conflitos na África. Tem sido emblemática, neste sentido, a African
Standby Force (ASF), a primeira força combinada de caráter permanente e conformada
exclusivamente por países africanos (mais de trinta membros). A UA pode estabelecer operações
de paz, quando é autorizado pelo Conselho de Paz e Segurança (CPS) (PINTADO, 2014). Foi em
reação aos fracassos na Somália e na Ruanda, que a UA apoiou a criação da ASF, no ano 2002,
com uma reserva permanente de mais de 25.000 peacekeepers, com contingentes militares,
policiais e civis.6 Porém, a ASF não constitui em si mesmo uma única força senão que podem
chegar a ser cinco forças divididas em igual quantidade de regiões do continente (CILLIERS,
2008).7
Por outra parte, a respeito das experiências com forças combinadas temporárias, a União
Africana também autorizou a criação de dois Multinational Joint Task Forces (MJTF) para lutar
contra a “Força de Resistência Armada do Senhor”, na África Central, e contra “Boko Haram”,
na Nigéria e outros países.8
Entretanto, autores como Salkida (2005) argumentam que os casos das forças combinadas
africanas assinaladas apresentam sérias deficiências operativas. Por exemplo, a interoperabilidade
entre as unidades militares africanas é um aspecto que ainda será difícil concretizar. E o
financiamento, tão importante em operações militares e tão escasso na África, é também um
obstáculo, especialmente se as forças decidem atuar fora do âmbito da ONU (SALKIDA, 2015).
Não surpreende, nesse sentido, que os países da OTAN e da União Europeia tenham transferido
ajuda financeira e assistência militar e técnica para o desenvolvimento da AFS e que muitos dos
6 O Quartel General da ASF está em Addis Abeba. Seus componentes militares e civis estão designados para estar
‘em reserva’ em seus países de origem e realizar desdobramentos rápidos (RENWICK, 2015). 7 Elas são: a North Africa Regional Standby Brigade, a East Africa Standby Brigade, Force Multinationale de
l'Afrique Centrale, Southern Africa Standby Brigade, ECOWAS Standby Brigade (RENWICK, 2015). 8 Aquelas forças combinadas mostraram fraquezas importantes. Um caso problemático tem sido a Multinational
Joint Task Force (MNJTF), criada em fevereiro de 2015, por Benin Camarões, Chad e Nigéria, para combater o
grupo “Boko Haram”, no nordeste da Nigéria e no norte de Camarões. A principal fraqueza das operações atuais tem
sido a falta de confiança mútua e problemas de coordenação entre as nações participantes. Por esta razão, a MNJTF
não atingiu a uma capacidade operacional ótima lutando contra o Boko Haram (SALKIDA, 2015).
6
conflitos existentes no continente continuem sendo objeto de operações de estruturas militares
estadunidenses, tais como o Comando África Estadunidense (AFRICOM) (ROZOFF, 2010).
Na América do Sul, por sua parte, a partir das experiências adquiridas pelos países sul-
americanos participantes da MINUSTAH, no Haiti, concretizaram-se mecanismos de
coordenação e cooperação em missões de paz sem precedentes, como o denominado mecanismo
2x9, criado em 2005.9 Certamente, a MINUSTAH significou o primeiro projeto de participação
combinada sub-regional em uma missão de paz, mas não se pode dizer que tivesse uma força
genuinamente integrada, embora estabelecesse um forte vínculo e interconexão em nível de
Estado-Maior, bem como entre os batalhões que lá se encontraram (LLENDEROZAS, 2007).
Porém, quando aconteceram situações de extrema gravidade e urgência, como o terremoto que
afetou a ilha em 2010, com o saldo de milhares de mortos e estruturas civis devastadas, os
Estados Unidos foi quem assumiu a liderança, enviando mais de 14.000 soldados e técnicos civis,
para reestabelecer certa ordem social e institucional no país (CAVALETTO, 2012).
Contudo, projetos para criar forças de paz combinadas ganharam impulso a partir dessa
participação sul-americana, no Haiti (NASCIMENTO, 2014). O projeto mais acabado e
completo, nesse sentido, foi a Força de Paz Binacional Cruz del Sur,10 entre Chile e Argentina,
cujo Estado Maior Conjunto Combinado foi instituído em 2007. A força foi colocada à
disposição da ONU, em 2011, para atuar exclusivamente em missões de manutenção da paz,
conforme o United Nations Stand-By Arrangement System. Porém, ainda não foi submetida a
nenhuma missão (PERCOCO, 2014).
9 O “Mecanismo 2x9 da Cooperação no Haiti” refere a espaços novos para a coordenação de políticas entre os
Estados contribuintes de tropas na MINUSTAH. Em efeito, a problemática da missão no Haiti, na qual inicialmente
formaram parte Brasil, Argentina e Chile, e na que depois se uniria Uruguai, deu lugar no decorrer dos
acontecimentos, a esse mecanismo de consulta, ao nível de Vice-ministros de Defesa e Relações Exteriores
(LLENDEROZAS, 2007). 10 A força é integrada por mais de 1400 militares. O elemento terrestre se compõe por dois batalhões de infantaria e
um Batalhão logístico. O elemento naval consta de dois navios e o poder aéreo por oito aeronaves (PERCOCO,
2014).
7
No que tange ao Oriente Médio, na sub-região do Golfo, em 1982 foi criada a “Força do
Escudo da Península”, formada dentro da estrutura do denominado Conselho de Cooperação do
Golfo (CCG) e liderada pela Arábia Saudita. Embora a força árabe tenha sido concebida em seus
inícios com um caráter defensivo na tela das rivalidades com outras potências, a mesma tem
evoluído, no século XXI, para responder como mecanismo de gerenciamento de crises e conflitos
na sub-região (ALAJMI, 2015).11 Também, a partir do ano 2012, os países do CCG se
comprometeram com a criação de uma estrutura de comando unificado, dentro do seu esquema
de segurança coletiva (o que eles mesmos denominaram uma “OTAN árabe”) e para combater
ameaças regionais como o “terrorismo” (ANTHONY, 2014).
No entanto, para autores como Felix Arteaga (2015, p. 4) “aqueles antecedentes não
constituem uma base sólida sobre a qual construir uma unidade multinacional árabe”. Os Estados
membros do CCG, no momento, não contariam com o equipamento, doutrina e adestramento
para operar de maneira efetiva em formato combinado, nem muito menos a capacidade necessária
para montar a infraestrutura, na qual se desdobrariam as unidades de intervenção. Com relação a
isto, um exemplo foi a intervenção militar árabe, que aconteceu no Iêmen,12 onde dependeram da
assistência de terceiros países - EEUU, o Reino Unido e Turquia – em matéria de logística e
inteligência, para combater o grupo armado dos hutis (ARTEAGA, 2015).
Finalmente, no grande espaço asiático, não foi possível detectar nenhuma iniciativa com
forças combinadas que fossem protagonizadas por países asiáticos. Poderíamos observar somente
alguns exercícios combinados, periódicos, voltados às operações de paz. O mais importante deles
11 A força possuía apenas componentes aéreos e navais, mas chegando ao século XXI ela se tornou conjunta (al-
Jazeerah Joint Force); e tem passado da dimensão de uma brigada terrestre para o nível divisionário a partir do ano
2000. 12 Desde março de 2015, a “Operação Tormenta Decisiva”, no Iêmen, tem combatido o grupo armado dos hutis,
depois do desmoronamento das forças estatais do exilado presidente Hadi. As operações contaram com aval de uma
resolução do Conselho de Segurança da ONU, sob o Capítulo VII da Carta. Porém, o campo de batalha neste país
pouco tem servido para experimentar a força multinacional, dado que sua atuação combinada tem-se limitado a ações
aéreas e navais. As ações terrestres ficaram sob a responsabilidade das forças estatais de Riad (ARTEAGA, 2015).
8
é o denominado Cobra Gold, porém, financiado e liderado pelos Estados Unidos. Outro existente
é o “Exercício Força XVIII”, integrado por 18 países da Associação de Nações do Sudeste
Asiático (ASEAN), e liderado pela Índia, a fim de aperfeiçoar a cooperação conjunta em missões
de paz (PARAMESWARAN, 2016). Contudo, as razões da carência de forças combinadas em
uma das principais regiões do Sul global é uma questão a ser indagada nesta proposta de trabalho.
Talvez, essa carência se explique em certos constrangimentos regionais específicos da Ásia, tais
como o tradicional desinteresse no multilateralismo para a cooperação de segurança entre
Estados; a elevada desconfiança e rivalidade interestatal; a forte penetração político-militar de
potências extra regionais em temas de segurança regional; e o costume regional de não
intervenção nos assuntos internos de outros Estados.
Em relação aos tipos de forças multinacionais, como foi assinalado, Palin (1995) destaca
duas categorias habituais: “forças de coalizão” e “forças de aliança”. Porém, outros autores
elaboram critérios mais complexos para classificá-las. Para Soeters (2008), duas formas de
“cooperação militar multinacional” podem ser distinguidas. Por um lado, a “multinacionalidade
horizontal”: a forma mais antiga e tradicional de interação entre contingentes nacionais, que
consiste em um simples alinhamento de unidades individuais dentro de um grupo, onde os
contatos diretos relacionados com as operações em comum só se manifestam ao nível de chefes
de estado maior e os quartéis generais. Por outra parte, a “multinacionalidade vertical”, que
implica cooperação e interação entre os vários componentes nacionais e toma a forma de
unidades mistas bi ou multinacionais. Nesse caso, a interação de trabalho entre o pessoal militar
acontece ao nível de batalhão e, inclusive, de companhias. Outra dimensão da cooperação militar
multinacional é o grau de especialização - simples ou avançada – entre vários contingentes
nacionais.13 Além do mais, outros autores, como Daniel, Williams e Smith (2015) utilizam o
13 Na “integração simples” não há especialização de tarefas entre os componentes nacionais que constituem a força
combinada. No caso da “cooperação avançada” existe certo grau de especialização. Se estas duas dimensões forem
cruzadas, podemos obter quatro formas distintas de cooperação militar multinacional: “horizontal simples” (por
9
termo “associações operacionais” para englobar os casos de operações multinacionais que se
desdobram como parte de operações de manutenção da paz da ONU. Existem quatro tipos de
“associações”, cujas diferenças se encontram nas estruturas do comando e no grau de integração
das subunidades operacionais.14
Para vários autores, os benefícios da multinacionalidade em termos gerais residem na
manifestação de esforço conjunto, na divisão dos custos das operações, na possibilidade de
divisão e complementação de tarefas, no incremento da força material e da legitimidade política
das operações, assim como na sua contribuição à confiança mútua entre Estados e à
interoperabilidade entre as unidades nacionais (HOUCK, 1993; SEGURA, 2011; HENRIKSON,
1996). No entanto, outros apontam para desafios e dificuldades genéricos. Por exemplo, muitas
vezes a interoperabilidade representa mais uma exigência difícil de atingir que um benefício, o
que afeta a eficácia das operações.15 A interoperabilidade é requerida em diferentes formas e
graus (estratégico, operacional, tática e tecnológica). Outras dificuldades prováveis em operações
combinadas são as possíveis divergências de interesses políticos dos Estados, podendo levar
alguns deles a se comprometerem em conflitos onde não existe evidente defesa de interesses
nacionais; ou ter que lidar com diferentes exigências estatais, nas unidades de mando
(GREGORY, 1984).16 Além disso, um desafio constante se refere à coesão das unidades
exemplo, a Euro-corpo); “horizontal avançada”(Oper. Liberdade Duradoura-Afeganistão); “vertical simples” (ISAF)
e “vertical avançada”(Não existem exemplos até hoje) (SOETERS; MANIGART, 2008). 14 São elas: a) Adjunta: quando uma unidade operacional independente de um país A trabalha conjuntamente e sob o
comando operacional de uma unidade maior, de um país B. b) Insertada: tropas de um país A são integradas dentro
da unidade operacional existente do país B, para formar unidades mistas sob a estrutura do comando do país B. c)
Co-desdobrado: unidades operacionais distintas do país A e do país B operam como parte de uma estrutura de
comando multinacional, integrada por oficiais de ambos os países. 4) Composta: tropas de dois ou mais países
formam unidades mistas binacionais ou multinacionais, servindo sob uma estrutura de comando multinacional,
integrada por oficiais de dois ou mais países (DANIEL; WILLIAMS; SMITH, 2015). 15 A interoperabilidade é um conceito organizacional, de caráter amplo, que faz referência à habilidade de sistemas,
unidades e forças de prover serviços a outros e aceitar serviços de outros sistemas, unidades e para uso de serviços
intercambiáveis a fim de assegurar operações conjuntas. (HURA et al, 2000). 16 Esse problema pode comprometer a “efetividade estratégica” das operações militares que tradicionalmente tiveram
como imperativo uma simples, nacional e estrita cadeia de comando (GRAY, 2007).
10
combinadas. Se a coesão for um imperativo operacional, que mesmo entre forças nacionais pode
ser difícil de ser atingida, será ainda mais em ambientes multinacionais, onde se cruzam
diferentes culturas, maneiras de fazer, de comunicar e de compreender a missão (TRESH, 2007).
E ainda podem surgir inconvenientes das diversas táticas e logísticas nacionais (PUGH, 2000;
REIG, 1998), sendo necessária a existência de doutrinas comuns ou similares e plataformas de
entendimento que se valham, por exemplo, do uso de certas tecnologias comunicacionais que
permitam conhecer as diferentes sensibilidades nacionais. Fernández-Tresguerres (2002) assinala,
ainda, que em qualquer atuação multinacional podem surgir diferenças de critério sobre as regras
de engajamento (ROE, para a sigla em inglês) de cada contingente nacional, o que na gíria dos
quartéis multinacionais se conhece com o nome de caveats, que são a consequência das restrições
ou reservas político-militares dos Estados sobre o uso da força dos seus contingentes em uma
missão.
A revisão bibliográfica mostra que existe notória superioridade tecnológica e cognitiva
em países do Norte com forças multinacionais – no âmbito da OTAN e da União Europeia, em
relação às forças combinadas do Sul, as quais demonstram estar ainda em fase inicial de
formação. Há maior acumulação histórica de capacidades materiais, instituições e práticas
vinculadas ao uso de operações combinadas, nos países do Norte. Por sua vez, há maior
concentração de conflitos e crises nos contextos de fragilidades socioeconômicas e de “Estados
falidos”, nos países do Sul. Com efeito, o gerenciamento e resolução de conflitos e crises, nos
países do Sul, têm dependido muitas vezes da assistência militar, financeira e/ou técnica dos
países do Norte, ou mesmo da intervenção direta de forças de paz combinadas do Norte,
importando dessa forma seus conhecimentos e concepções sobre a natureza da paz, os conflitos e
as formas de gerencia-los. Observamos, assim, que tais disparidades globais tem se traduzido em
relações de dependência tecnológica e subalternidade epistêmica para os países do Sul. Nesse
sentido, as assimetrias entre as sociedades do Norte e do Sul, em termos de desenvolvimento
11
socioeconômico e tecnológico, assim como a história de dominação colonial que vincula a vários
países do Norte com a maior parte dos países do Sul (GROVOGUI, 2007), constituem uma
variável sistêmica importante que restringe a autonomia estratégica e tecnológica desses últimos,
condicionando a projeção independente e efetiva dos instrumentos militares em questão. A
desigualdade tecnológica e cognitiva entre o Norte e o Sul, vinculada às operações
multinacionais, habilita o uso de uma perspectiva crítica e pós-colonial da segurança, com
sustento nas “epistemologias do Sul” (SANTOS, 2010), na perspectiva da “sociologia das
emergências”, isto é, a formação de práticas de atores e redes de atores autóctones do Sul que
criam e organizam conhecimento e tecnologias, mas em relações adversas de subalternidade
econômica e epistêmica, afetadas por processos de importação de conhecimentos e práticas de
organizações militares do Norte, em forma de assistência militar, econômica e técnica, ou mesmo
de gerenciamento direto das ameaças, conflitos e crises nas regiões do Sul.
3- CONCLUSÃO
Neste texto foram contempladas, por uma parte, as forças combinadas do Sul com
estrutura permanente, localizadas na América do Sul, na África e no Oriente Médio. São elas: a
Força Binacional Cruz del Sur; a African Standby Force, e a “Força do Escudo da Península”,
respectivamente. Também, em cada região, apontamos para casos de forças combinada de caráter
temporário: a MINUSTAH (no Haiti), a MJTF (contra Boko Haram) e a “Operação Tormenta
Decisiva” (em Iêmen).
Como foi indicado, embora os países das regiões do Sul global mostrem indícios por
desenvolver forças multinacionais para responder de forma mais autônoma aos seus problemas
regionais de segurança, ainda persistem sérias dificuldades para operacionalizá-las, o que muitas
vezes acaba por reproduzir situações regionais de dependência nas quais organizações militares
do Norte assumem funções de assistência e responsabilidades no gerenciamento das crises e
12
conflitos no Sul. Certamente, as vulnerabilidades político-institucionais e socioeconômicas que
transcendem nos contextos pós-coloniais dos países do Sul global podem constituir importantes
obstáculos, nesta área, reproduzindo-se, assim, não apenas a dependência da assistência militar
das organizações do Norte, mas também suas concepções sobre a natureza da paz, os conflitos e
as formas de gerenciá-los. Do ponto de vista das forças multinacionais do Sul global, tais
dificuldades podem comprometer, também, as capacidades regionais para obter ou manter a paz
regional. Portanto, cabe-nos perguntar, de maneira geral: como e em que medida práticas e
conhecimentos autóctones relativos às forças multinacionais têm conseguido se desenvolver nas
regiões do Sul global no período abordado?
Uma hipótese com a qual pode ser guiada esta abordagem é a seguinte: a pesar de o
processo de multinacionalização de operações militares ter manifestado práticas e conhecimentos
de base regional, a prevalência de relações assimétricas entre o Norte e o Sul tende a relativizar
as projeções autonomistas das regiões do Sul em matéria de forças multinacionais.
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