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    Conceitualizando as(Foras de) Operaes Especiais

    Bernardo Wahl Gonalves de Arajo JorgeMestrando em Relaes Internacionais

    San Tiago Dantas (Pr-Defesa)(Unesp, Unicamp e PUC-SP)

    [Bolsa de Estudos CAPES][email protected]

    30 de Junho de 2008

    Resumo: Considerando o contexto da pesquisa e dissertao que estosendo desenvolvidas no mbito do mestrado acadmico que atualmentecursamos, nossa inteno com este ensaio que apresentamos no segundoencontro nacional da Associao Brasileira de Estudos de Defesa rever edebater parte da literatura que se esfora na construo da definioconceitual das chamadas Operaes Especiais e das Foras de OperaesEspeciais. O texto est dividido nas seguintes partes/sees: 1. Apresentao,2. Breve Precedncia Histrica, 3. Definies de Curto Alcance (3.1 Dos

    Irregulares aos Regulares, 3.2 As operaes Especiais Unidimensionais[3.2.1 M. R. D. Foot, 3.2.2 William McRaven, 3.2.3 Departamento de Defesados EUA]), 4. Definies de Longo Alcance (4.1 Dos Termos EstritamenteMilitares a um Entendimento mais Amplo: As Operaes EspeciaisMultidimensionais), 5. Consideraes Finais e 6. Bibliografia.

    1. Apresentao

    Este ensaio deve ser visto dentro de um contexto mais amplo, isto , dapesquisa que estamos desenvolvendo no mbito da rea de concentrao emestudos de paz, defesa e segurana internacional (Pr-Defesa) do programade ps-graduao em Relaes Internacionais da Unesp, Unicamp e PUC-SP(San Tiago Dantas). Nossa investigao no mestrado acadmico ter comoresultado final um texto sob a forma de uma dissertao, que versar

    basicamente sobre As Foras de Operaes Especiais dos Estados Unidos e aGuerra ao Terror (lanada por Washington aps os atentados terroristasde onze de setembro de 2001). Nosso objeto de pesquisa, assim, constitui-seessencialmente das Foras de Operaes Especiais, sendo importante, para

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    um melhor entendimento conceitual das mesmas, verificar como as (Forasde) Operaes Especiais so definidas, sendo este o intento deste artigo.

    No primeiro encontro nacional da Associao Brasileira de Estudos deDefesa (ABED), realizado de 19 a 21 de setembro de 2007 nas dependncias

    da Universidade Federal de So Carlos (UFSCar), apresentamos um textointitulado O Comando de Operaes Especiais dos Estados Unidos daAmrica, onde brevemente (por no se tratar do objeto central) passamospela definio das Operaes Especiais, que, para ns, naquela poca,resumiam-se s aes de Comandos (assaltos, por exemplo) e s atividadesclandestinas (como a guerra irregular).

    Porm, com este texto de agora, queremos ir mais a fundo: em busca deuma definio mais completa. Percebemos que h diversos tipos de definiessobre as Foras de Operaes Especiais, daquelas que definem as Operaes

    Especiais essencialmente em termos militares (as Operaes Especiais comopertencentes unicamente ao domnio das operaes militares), s maisamplas (geralmente oriundas da academia), passando por definies decarter mais doutrinrio (a do Departamento de Defesa dos Estados Unidos,por exemplo) que aparentemente esto a servio de interesses maiores.

    Assim, fazendo-se uma reviso das tentativas de construo do conceitode Operaes Especiais, verifica-se que as Operaes Especiais se projetampara alm do guarda-chuva dos Estudos Estratgicos, sendo necessriasoutras reas do conhecimento, como as Relaes Internacionais, por exemplo,

    para melhor se conceitualizar o tema que estamos a tratar aqui.Dessa forma, percebemos como apropriada a insero da apresentao

    deste trabalho no painl de nmero quatro, intitulado Estudo de Defesacomo empreendimento Inter ou Multidisciplinar, da primeira SessoTemtica (Quais Teorias para os Estudos de Defesa?) do segundo encontronacional da ABED, que ter como tema A Defesa Nacional e cuja realizaose dar entre os dias quinze e dezoito de julho de 2008 nas dependncias daUniversidade Federal Fluminense (UFF). Acreditamos ser necessrio umrecorte do tipo multidisciplinar para uma melhor compreenso das Operaes

    Especiais.

    2. Breve Precedncia Histrica

    As Operaes Especiais esto entre os mais antigos e importantesprincpios da guerra, onde o essencial a surpresa. As Operaes Especiaisso to antigas quanto a prpria guerra, seno mais remotas ainda, sendo quea origem de ambas igualmente obscura (FOOT, 1970, pp. 19 e 21). O caso

    clssico de uma Operao Especial o Cavalo de Tria, um presente dosgregos aos troianos que levou estes a acreditarem na rendio daqueles.

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    Entretanto, na calada da noite, soldados escondidos na barriga do cavalosairam e abriram os portes de Tria, permitindo a entrada do Exrcito grego.

    Ademais, possvel encontrar referncias sobre as Operaes Especiais atmesmo em Sun Tzu, cujo captulo XIII deA Arte da Guerra discorre sobre O

    Uso de Espio.De acordo com Sun Tzu, existem cinco casos no emprego de espies: oespio nativo (quando se usa um nativo alheio), o interno (oficial alheio), oconvertido (agente-duplo), o morto (encarregado da difuso de notciasfalsas) e o espio vivo (que volta para relatar). Com os cinco tipos de espiesagindo em conjunto, evita-se que se revele o caminho ao inimigo (querdizer, trata-se de uma forma de despistar, isto , dificultar que o inimigodescubra o meio utilizado para a obteno da informao ou, usando umtermo mais recente, o dado negado). Essa teia denominada de divina

    trama, e se constitui em um tesouro do soberano e do povo. O espio considerado a sutileza das sutilezas (no podemos esquecer que uma dascaractersticas das Operaes Especiais a sutileza). O soberano iluminadoe o general sagaz so capazes de usar pessoas de inteligncia superiorcomo espies e, dessa forma, vo concretizar impreterivelmente grandesfaanhas. Tal recurso, para Tzu, essencial (TZU, 2006, pp. 112-113).

    Outro exemplo de Operao Especial so as proezas do ingls Lawrenceda Arbia durante a primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando trabalhouno servio de informaes do Exrcito britnico, mais especificamente em um

    quartel-general instalado no Egito, dado que Lawrence era habilitado noidioma rabe. J com a patente de Coronel, T. E. Lawrence, que depoisregistrou seu conhecimento sobre tticas de guerrilha, focando no valorofensivo das mesmas (utilizadas para enfraquecer as linhas de suprimentoturcas) no livro Os Sete Pilares da Sabedoria (1926)1, mobilizou de formaampla o sentimento nacionalista rabe contra a Turquia, alcanando uma

    vasta publicidade. Com a ajuda do General Allenby e de meio milho demoedas de ouro, Lawrence exerceu uma influncia desproporcional no flancoesquerdo turco. No final, com uma fora de apenas 600 camelos montadospor rabes, Lawrence imobilizou 12.000 turcos nas arredores de Damasco(FOOT, 1970, p. 27).

    Os russos so um exemplo de mente aberta para fazer coisas originaisna poltica e na guerra (a originalidade essencial para as OperaesEspeciais). Foram eles que reviveram o antigo esporte grego e chins do pra-quedismo. No ano de 1930, em manobras do exrcito russo, um pequenocorpo de pra-quedistas pousou bem atrs de uma ostensiva linha de batalha

    1 curioso notar que comandantes dos EUA na recente Guerra do Iraque se orientaram

    com os relatos de T. E. Lawrence sobre a guerra na Mesopotmia no incio do sculo XX.Ver, por exemplo, Tony ALLEN-MILLS. EUA imitam tticas de Lawrence da Arbia. OEstado de S. Paulo, 08 jun. 2005, p. A18. Publicado originalmente no The Sunday Times.

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    (na qual os manobristas deveriam tomar posio) e acabou por capturar umquartel-general. Dessa forma, o pra-quedismo, desde 1939, tornou-se umaforma perfeitamente reconhecida e estabelecida de guerra (FOOT, 1970, p.38);

    Joe Holland, um engenheiro militar regular da Gr-Bretanha, ficouchocado com o mtodo irlands de guerra revolucionria subversiva, eestava determinado, caso tivesse uma chance, a testar o modelo. Por acidente,a ele foi oferecida, em 1938, uma posio no Escritrio de Guerra, onde omesmo poderia pesquisar qualquer assunto de seu interesse. Ele disse algocomo: Explndido! Vou fazer pesquisa sobre guerra subversiva. E foi o quefez. Fundou o corpo clandestino Military Intelligence Research (MIR) einventou os Comandos [grifo nosso], a indstria das fraudes, os servios deevaso e a maior parte do Special Operations Executive (SOE). Desenvolveu

    grande parte das operaes subversivas que podem ser levadas a cabo contrao Estado industrial moderno (FOOT, 1970, pp. 40-41).

    Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a ttica de guerrilha sedifundiu ao ponto de se tornar um recurso universal. O desenvolvimento daguerrilha e da guerra subversiva se intensificou com a glorificao sarmas nucleares. Para a conteno da ameaa comunista, os ocidentaisficaram mais dependentes das armas convencionais. O presidente norte-americano John F. Kennedy (1961-63) orientou seu Secretrio de Defesa,Robert S. McNamara, a expandir rapidamente e substancialmente, em

    cooperao com os pases aliados, a orientao das foras existentes para aconduta de guerra no-nuclear, operaes pra-militares e guerras sub-limitadas ou no-convencionais (LIDDELL HART, 1991, p. 364).

    3. Definies de Curto Alcance

    O ttulo desta seo no significa definies mais fracas ou runs, massim definies mais antigas, a partir das quais percebemos o incio de umesforo visando construo do conceito de Operaes Especiais. Taisdefinies de curto alcance so importantes, mas no tratam de todas asdimenses que as Operaes Especiais podem envolver, e assim escolheu-se autilizao da expresso curto alcance, bem como as aspas que a envolvem.

    Alis, j tempo de fazermos a pergunta: o que so, afinal, as OperaesEspeciais?

    3.1 Dos Irregulares aos Regulares

    De certa forma, as operaes Especiais so a incorporao, nas ForasArmadas regulares, de tticas utilizadas pelos irregulares. O Capito britnico

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    Basil Henry Liddell Hart, antigo conselheiro do gabinete ingls, cunhou amxima se voc quer a paz, entenda a guerra para substituir a antigapassagem se voc deseja a paz, prepare-se para a guerra. Depois, o autorampliou seu prprio aforismo para se voc deseja a paz, entenda a guerra

    particularmente a guerrilha e as formas subversivas de guerra (LIDDELLHART, 1991, p. 361). A guerrilha, apesar de ser um fenmeno antigo e de tersido brevemente tratada pelo general prussiano Carl von Clausewitz(Armamento do Povo uma medida defensiva contra o invasor, livro VI de

    Da Guerra), s entrou na agenda da teoria militar ocidental a partir do sculoXX.

    No passado, a guerra de guerrilha foi a arma do lado mais fraco e,assim, primariamente defensiva. Entretanto, na era atmica, a guerra deguerrilha pode ser desenvolvida amplamente como uma forma de agresso,

    sendo conveniente para explorar a paralisao nuclear. Assim, para LiddellHart, o conceito de Guerra Fria estaria desatualizado, e deveria sersubstituido por Guerra Camuflada (LIDDELL HART, 1991, p. 367).

    A violncia muito mais profunda na guerra irregular do que naregular. Nesta, a violncia contrabalanada pela obedincia autoridadeconstituida, enquanto que, naquela, a desobedincia autoridade e a violaode regras so virtudes. Fica muito difcil reconstruir um pas, e um Estadoestvel, em uma fundao derrubada pela experincia de guerra irregular.Um entendimento dos perigos posteriores a uma guerra de guerrilha fez com

    que Liddell Hart refletisse sobre as campanhas de T. E. Lawrence na Arbia.O livro de Hart sobre tais campanhas, onde ele faz uma exposio sobre ateoria de guerrilha, foi tomado como guia por inmeros lderes de unidadesde Comandos [grifo nosso] e movimentos de resistncia. O problema no aeficcia imediata, mas os imbrglios de longo-prazo (LIDDELL HART, 1991,p. 369).

    3.2 As Operaes Especiais Unidimensionais

    Nesta sub-seo, trabalharemos com definies de Operaes Especiaisque entendemos como unidimensionais, quer dizer, que entendem asOperaes Especiais apenas na dimenso militar e em termos militares.

    3.2.1 M. R. D Foot

    Assim, conforme o historiador britnico Michael Richard Daniell Foot,mais conhecido como M. R. D. Foot, que serviu na Artilharia e no SpecialOperations Executive (SOE) britnicos na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as Operaes Especiais so golpes sbitos heterodoxos, isto , golpesde violncia inesperados, geralmente pensados, concebidos e executados fora

    do estamento militar corrente, exercendo um efeito surpreendente sobre oinimigo, de preferncia em seu mais alto nvel. O tipo ideal de operao

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    especial aquele que deixa fora de atividade todo o Estado-Maior do inimigoem um nico e inesperado sopro (FOOT, 1970, p. 19).

    Para o estabelecimento de uma Fora de Operaes Especiais, de acordocom Foot, o primeiro item essencial a sorte. O segundo so informaes

    precisas de inteligncia sobre o que o inimigo capaz de fazer. O terceiroitem, quase sempre indispensvel, ter uma grande potncia para apoiar asForas de Operaes Especiais (Mao Ts-Tung, entretanto, fez sem nenhumapoio). Outro item a cooperao da populao, mesmo que decorrente doterror, ou preferencialmente da simpatia. Alm disso, so necessrias as

    virtudes militares ordinrias: coragem, tenacidade, flexibilidade e velocidade.Sem elas, no possvel vencer uma batalha militar convencional; sem elas,no possvel vencer uma operao especial. Foot lembra que, em Estadosantigos e j constituidos, os estamentos militares e os chefes dos Estados-

    Maiores suspeitam dos corpos que executam as Operaes Especiais. Porm,critica Foot, o que tais conservadores nos tem a oferecer em lugar dasoperaes especiais? O holocausto nuclear, que de qualquer maneira nooferece nenhum panorama para a humanidade (FOOT, 1970, pp. 45-47).Foot escrevia na poca da Guerra Fria e se mostra um grande defensor dasOperaes Especiais, mais eficientes e precisas do que muitos avies

    bombardeiros e, portanto, constituindo uma certa vanguarda da economiade fora, elemento essencial em um mundo de recursos escassos.

    3.2.2 William McRaven

    At agora, j temos o conceito proposto por Foot. O Contra-AlmiranteWilliam McRaven, da Marinha dos Estados Unidos, mais especificamentemembro da Fora de Operaes Especiais Seals (sigla para Air, Sea and

    Land), vai alm e desenvolve, a partir de oito estudos de caso, uma teoria dasOperaes Especiais. Ainda que McRaven utilize como base uma definio deOperaes Especiais que se parece mais com misses de aes diretas(essencialmente aes de Comandos), ou seja, uma operao especial conduzida por foras especialmente treinadas, equipadas e apoiadas para umalvo especfico, cuja destruio, eliminao ou resgate (no caso de refns)

    um imperativo poltico ou militar (MCRAVEN, 1996, p. 2)2, tem o mrito dodesenvolvimento de uma teoria.

    E por que uma teoria das Operaes Especiais importante? Pois umaOperao Especial bem-sucedida desafia o conhecimento convencionalusando uma pequena fora para derrotar um oponente muito maior ou mais

    bem entrincheirado. O livro de William McRaven (que se originou a partir

    2 E por essa linha que segue o estudo de Edward LUTTWAK (et all).A Systematic Review

    of Commando (Special) Operations 1939-1980. Potomac, MD: C&L Associates, 1982.No trabalharemos com tal obra neste ensaio pois infelizmente ainda no tivemos acessoao livro.

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    simplicidade, segurana, repetio, surpresa, velocidade e propsito(MCRAVEN, 1996, p. 08);

    McRaven chega aos seis princpios a partir da anlise de oito casoshistricos: 1) O ataque alemo aEben Emael(um forte belga) em dez de maio

    de 1940; 2) O ataque de um torpedo tripulado (uma arma tpica da 2a. GM:um torpedo propelido eletricamente e conduzido por homens-sapos; erausado para atacar navios em portos inimigos) italiano em Alexandria, em 19de dezembro de 1941; 3) Operao Carruagem: O ataque britnico emSaint-

    Nazaire, em 27-28 de maro de 1942; 4) Operao Oak: O resgate de BenitoMussolini, em 12 de setembro de 1943; 5) Operao Source: Ataque de umsubmarino do tipoMidgetao Tirpitz, em 22 de setembro de 1943; 6) O ataquedos Rangers norte-americanos a Cabanatuan, em 30 de janeiro de 1945; 7)Operao Kingpin: O ataque do exrcito norte-americano a Son Tay

    (tentativa de resgate de refns no Vietn do Norte; falhou no nvel ttico masteve um efeito estratgico importante), em 21 de novembro de 1970 e; 8)Operao Jonathan: O ataque israelense a Entebbe, em quatro de julho de1976.

    3.2.3 Departamento de Defesa dos EUA

    Por fim, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos entende asOperaes Especiais da seguinte forma:

    Operaes conduzidas em ambientes hostis, negados ou politicamente

    sensveis, visando alcanar objetivos militares, diplomticos,informacionais e/ou econmicos, empregando capacidades militaresque no as convencionais. Tais operaes freqentemente demandamaes encobertas, clandestinas e de baixa visibilidade. As operaesespeciais so aplicveis atravs da vasta gama de operaes militares.Podem ser conduzidas independentemente ou em conjuno comoperaes de foras convencionais ou de outras agncias do governo, epodem incluir operaes atravs, com ou por foras nativas oumercenrias. As operaes especiais diferem das operaesconvencionais no grau de risco fsico e poltico, tcnicas operacionais,

    modo de emprego, independncia de apoio amigo e dependncia deinteligncia operacional detalhada e conhecimentos de populaeslocais3.

    Apesar de ampliar o leque de possibilidades, a definio do Pentgonoainda continua na dimenso unicamente militar da questo. A seguir, naprxima seo, daremos um passo adiante no resgate das tentativas de

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    DEPARTMENT OF DEFENSE. Dictionary of Military and Associated Terms. 12 April2001 (As Amended Through 22 March 2007). Disponvel em: . Acesso 30 jun. 2008.

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    construo de um conceito das Operaes Especiais, agora com definiesmais abrangentes.

    4. Definies de Longo Alcance

    Segundo Maurice Tugwell e David Charters (1984, p. 30), muitosanalistas ocidentais se confrontam com uma paralisia na tentativa dedeterminar os limites e a extenso das Operaes Especiais. Tais estudiosostrabalham dentro de um quadro de filosofia ocidental que tendeu a separarclaramente a paz da guerra, e tambm os assuntos polticos dos militares.Conforme tais autores, existe uma tendncia a definir as Operaes Especiaisapenas em termos militares (como demonstramos acima na seo Definies

    de Curto Alcance).

    4.1 Dos Termos Estritamente Militares a um Entendimento maisAmplo: As Operaes Especiais Multidimensionais

    Colocaremos aqui a talvez mais concisa, inclusiva e til definio deOperaes Especiais, elaborada por Maurice Tugwell e David Charters.

    Apesar de ter sido escrita em 1984, continua bastante atual. Para os autores,as operaes especiais so (1984, p. 35):

    Operaes de pequena escala, clandestinas, encobertas ou pblicas, deuma natureza heterodoxa e freqentemente de alto-risco, levadas acabo para alcanar significativos objetivos polticos ou militares emapoio poltica externa. As Operaes Especiais so caracterizadastanto por simplicidade quanto por complexidade, por sutileza eimaginao, pelo uso discriminado de violncia, e por superviso domais alto nvel. Recursos militares ou no-militares, incluindoavaliaes de inteligncia, podem ser usados no concerto4.

    Essa definio a adotada pelo professor de Estudos Estratgicos e

    Poltica Internacional e reconhecido neo-clausewitziano Colin S. Gray. ParaGray, a literatura sobre as (Foras de) Operaes Especiais profundamenteinsatisfatria. A maioria dos trabalhos que tratam do assunto nodemonstram interesse na relevncia estratgica das Operaes Especiais(assunto que ser tratado com profundidade por Gray). Em vez disso, taistrabalhos geralmente oferecem, basicamente, narrativas sobre aventuras ouhistrias dos regimentos. Mesmo os autores que se focam de alguma maneiraem questes que tenham alguma conseqncia estratgica, geralmente miramunicamente as Foras de Operaes Especiais de seus respectivos pases

    4 A traduo deste que escreve.

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    apenas (GRAY, 1999, p. 286), sendo que as Operaes Especiais nonecessariamente se esgotam dentro das fronteiras das naes: so tcnicasuniversais e atemporais5.

    No captulo dez deModern Strategy, intituladoSmall Wars and Other

    Savage Violence, Colin Gray desenvolve a tese de que, apesar daproeminncia poltica da guerra de guerrilha, e ainda que ela tenha estadona moda por um tempo, provavelmente a impresso mais duradoura a serdeixada nas areias da histria por este comportamento violento seja a criaode Foras de Operaes Especiais permanentes e institucionalizadas (GRAY,1999, p. 273).

    De acordo com Gray, as Foras de Operaes Especiais operam comoguerrilhas com uniformes. Pelo fato de que elas devem confundir o inimigosuperior em massa e poder de fogo militar, os guerreiros das Foras de

    Operaes Especiais modernas devem funcionar como guerrilhas. Aocontrrio dos praticantes de guerra revolucionria ou popular, as Forasde Operaes Especiais no nadaro como peixes em um mar depessoas. Em vez disso, agiro em pequenas unidades, de maneiraclandestina, encoberta ou aberta para efetuar misses heterodoxas de modosno-convencionais. As unidades tambm vo operar em condiesexcepcionalmente de alto-risco na busca de objetivos polticos ou militaressignificativos. As Foras de Operaes Especiais so um exemplo do princpiomilitar clssico de economia de fora (GRAY, 1999, p. 287).

    5. Consideraes Finais

    Ao contrrio do que pode parecer em um primeiro momento, h umavasta literatura sobre as Foras de Operaes Especiais e as Operaes

    5 De acordo com Gray, proeminentes entre os melhores estudos esto M. R. D. FOOT.Special Operations /1 e Special Operations /2. In: Michael ELLIOTT-BATEMAN (ed.). The

    Fourth Dimension of Warfare. New York: Praeger Publishers, 1970, v. 1 (Intelligence,Subversion, Resistance), pp. 19-34 e 35-51. Frank R. BARNETT; B. Hugh TOVAR; RichardH. SCHULTZ (eds.). Special Operations in US Strategy. Washington, DC: NationalDefense University Press, 1984. Rod PASCHALL. LIC 2010: Special Operations andUnconventional Warfare in the Next Century. Washington, DC: Brasseys Inc, 1990. LucienS. VANDENBROUCKE. Perilous Options: Special Operations as an Instrument of U.S.Foreign Policy. New York: Oxford University Press, 1993. William H. MCRAVEN. Specops: case studies in special operations warfare theory & practice. Novato, California:Presidio Press, 1996. John ARQUILLA (ed.).From Troy to Entebbe: Special Operations in

    Ancient and Modern Times. Lanham, Md.: University Press of America, 1996. Susan L.MARQUIS. Unconventional Warfare: Rebuilding U.S. Special Operations Forces.

    Washington, D.C.: Brookings Institution Press, 1997. Thomas K. ADAMS. US SpecialOperations Forces in Action: The Challenge of Unconventional Warfare. London: FrankCass Publishers, 1998.

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    Especiais. Com este ensaio ns no pretendemos esgotar o tema, que bastante amplo, como se pode notar nas sees acima.

    Se, inicialmente, as Operaes Especiais eram definidas como aesmilitares apenas, com a evoluo da construo de seu conceito passou a

    haver uma definio mais ampla e de longo alcance, que envolve tambmrecursos no-militares. Tal definio permite um entendimento aprofundadodo tema, de modo a auxiliar os interessados a no se tornarem refns deeventuais interesses mais particulares.

    6. Bibliografia

    FOOT, M. R. D. Special Operations/I e Special Operations/II. In: ELLOTT-

    BATEMAN, Michael (ed.). The Fourth Dimension of Warfare. Volume I:Intelligence, Subversion, Resistance. New York: Praeger Publishers, 1970, pp.19-34 e pp. 35-51.

    GRAY, Colin S.Modern Strategy. Oxford: Oxford University Press, 1999.

    LIDDELL HART, Basil Henry. Guerrilla War. Strategy. New York: Meridian,1991, pp. 361-370.

    MCRAVEN, William H. Spec ops: case studies in special operations warfaretheory & practice. Novato, California: Presidio Press, 1996.

    TUGWELL, Maurice; CHARTERS, David. Special Operations and the Threatsto United States in the 1980s. In: BARNETT, Frank R.; TOVAR, B. Hugh;SHULTZ, Richard H. Special Operations in US Strategy. Washington:National Defense University Press, 1984, pp. 27-43.

    TZU, Sun.A Arte da Guerra. So Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2006.