Formação da consciência

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O inconsciente só existe porque um dia o corpo tomou consciência, que devido à repressão, à impossibilidade de viver, foi recalcada vida, e o tempo decorrido se encarregou de o automatizar, fazendo parte de si, apresenta a particularidade de ser emissor de estímulos, que não receptor

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Formação da consciência A consciência parece algo que habita o corpo a partir de determinado momento, que nele não existia, sendo na realidade apenas um sensação, porquanto o ser consciente não sabe que o é, em virtude da própria matéria possuir uma consciência própria. Daí, que possamos perceber que os próprios sentidos de um ser vivo são produto de uma consciência adquirida através da relação com o meio em que vive, que tem em vista a preservação de sua própria vida. Não será a alteração de um estado, ou a sua tentativa, que pode levar um ser vivo a possuir consciência, mas antes o conduz a uma alteração de uma consciência incorporada, ou seja, podemos não dar conta de possuir uma consciência relativamente ao mundo que nos rodeia, mas sabemos gerir nossa vida de acordo com uma consciência que nos habita. E quando ela já não nos parece servir, nos tentamos adaptar, adquirindo uma nova consciência, que será uma alteração da incorporada, cuja finalidade será a preservação da vida. A não consciência relativamente ao mundo que nos rodeia, determinado por campo de percepção, pode ser facilmente observado nas crianças, em que só o aprendizado pode alterar sua consciência, que neste caso, podemos considerar rudimentar. Então, não devemos falar em falta de consciência na criança, porque ela de fato a possui, simplesmente não a terá relativamente a tudo aquilo que ainda não vivenciou, e da maneira como a família e a sociedade vivenciam e sentem que será adequado. Se considerarmos que qualquer corpo possui consciência, mas que o corpo não sabe que é habitado por ela, somos levados a acreditar que ao fazer parte da organização genético \ biológica deixou de fazer parte dos órgãos dos sentidos como receptores, sendo ele próprio o emissor dessa consciência, como organizador e gerenciador desse metabolismo. Assim sendo, a consciência adquirida ao ser automatizada pelo próprio organismo, passou a fazer parte dele, como se fosse um órgão qualquer, que nos garante a sensação da sua não existência, mas que na realidade se faz presente a todo o momento. Assim, a alteração da consciência adquire uma nova forma de perceber as coisas e o mundo a partir de uma consciência própria inata, limitada ao sentir do corpo, que posteriormente tende a levar em conta a relação com outros corpos, em que passou a fase do movimento endógeno, e o corpo deve levar em conta os movimentos exógenos e suas relações com outros corpos. Portanto, a consciência será o gestor das nossas atividades interiores acima de tudo, que pode, ou não, levar em conta a realidade que se apresenta, sendo esta subjetiva, derivada de problemas históricos \ culturais e de hábitos adquiridos ao longo dos séculos. A automatização dos movimentos na relação com as coisas e o mundo, nos dá a sensação da existência de um inconsciente, ou da ausência de uma consciência, quando ela está presente em todas as situações, como forma de agilizar os movimentos. A não ser assim, teríamos dificuldades na locomoção, dado que a cada passo teríamos de pensar o que fazer, como fazer, e quando dispostos a fazer, seriamos comido pelo lobo mau, por exemplo. Seríamos uns retardados mentais. Não podemos ir muito mais além relativamente à criação da consciência na matéria, por sermos ignorantes, em que não conseguimos definir se a sua criação foi proveniente de um um sopro divino, ou de uma explosão, como aquela que dizem estar na origem do mundo, pelo que devemos aceitar a realidade de sua existência. Por isso, nos é vedado conhecer a formação da consciência, em que apenas podemos observar a alteração provocada nela através da relação com as coisas e o mundo, em que ela própria pode conduzir o homem através da criação de outras formas de percepção, de outro entendimento relativamente ao mundo, e de alteração de sua própria postura. Devemos, por isso, considerar que a consciência não existe fora, e o que pode ser observado são formas diferenciadas de estar na vida, que nos é garantido pelos órgãos da percepção, relativamente a determinado campo de ação onde de fato estamos inseridos.

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Ou seja, um ser vivo é forçado a tomar consciência relativamente a outros seres que habitam determinado campo de ação, atividade, sendo ignorante relativamente a tudo que possa existir fora dele, que pode ter uma atividade bem diferente. E mesmo relativamente ao seu meio, a consciência não consegue abranger a totalidade dos movimentos de outros corpos, sua postura e caráter, dado que ela só consegue perceber as imagens desconhecendo em grande parte o complexo ideativo e sua dinâmica, ou seja, o conteúdo, que em sua síntese é capaz de movimentos diferenciados. Falar da guerra sem nunca ter estado nela, é falar de algo que não vivenciou, que desconhece no terreno, em que a consciência pode estar aquém ou a além dela, mas a desconhece em essência. Só a vivência pode levar à incorporação da consciência, o resto será argumentação gratuita e duvidosa, gerida por sentimentos de gente que nunca sentiu no corpo e na alma o campo de batalha, cujos sentidos serão provenientes de uma verbalização, cujos alicerces estão assentes em suposições e ilusões construídas. Por isso os conselhos não funcionam na maior parte dos casos, porque não vivenciados pelo indivíduo, em que só a revelação do oculto, que só pode ser revelado pelo sujeito remexendo no baú da memória, garante a visibilidade de sua prática, de sua vivência, que poderá elaborar de uma outra forma. O não vivenciar nos permite pensar no aquém e além, como forma de tentar entender o aqui e agora, que para muitos é desagradável, que o desprazer do presente faz pensar na morte, que por isso deve haver em algum lugar um herói que nos possa salvar das garras do demônio. Existe um cardápio bem dilatado dos fantasmas que nos habitam, família e sociedade, cujo missão tem um objetivo desejado e simples, provocar o temor, espalhar o terror entre os inocentes, para que seus desejos não possam ser realizados. Assim, tomamos consciência dessas divindades e fantasmas, que repetidas sistematicamente passam a habitar nossa interioridade, adquirindo consciência de algo que nem sabemos se existe, mas que alguém nos fez acreditar relativamente à sua existência. Deixamos de ser indivíduo, porque sujeito a tanta profanação da vida, devido ao automatismo julgamos ser a generosidade em pessoa, e desse modo, ignoramos que somos mais um fantasma, um poder demoníaco que atormenta os outros. A guerra que em alguém colocou dentro de nós só pode conduzir à guerra com outros homens que tenham uma forma diferente de estar na vida, por não sentir o que eles sentem, e sua consciência, por isso, ser diferente dos demais. O artificial que tende a ocupar o lugar do natural afeta a própria natureza da coisas, gerando daí um conflito entre o idealismo e o ideal, que devido á ignorância alguém achou por bem inventar, como forma de subjugar os outros á sua própria vontade. Porém, esquecem que as leis da natureza são imutáveis, e que depois das guerras tudo volta a ser como antes, embora com mais posições extremadas, limitando o ser humano aquilo que sempre foi, apenas um ser vivo á procura da sua sustentabilidade e preservação. Assim, devemos considerar que o inconsciente só existe porque um dia o corpo tomou consciência, que devido à repressão, à impossibilidade de viver, foi recalcada vida, e o tempo decorrido se encarregou de o automatizar, fazendo parte de si, apresenta a particularidade de ser emissor de estímulos, que não receptor. João António Fernandes Psicanalista Freudiano

Analizzare – Centro de Estudo e Pesquisa em Psicologia e Psicanálise