Formação missionária
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FORMAÇÃO MISSIONÁRIA (3 A 5 DE SETEMBRO/2013) PARÓQUIA SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA (SAUDADE)
Segundo dia: A MISSÃO NA CIDADE O que entendemos por cidade? Cidade vem de uma palavra grega de nome pólis. Aristóteles define a pólis como a comunidade mais importante de todas as outras, e que a todas compreende. Tal comunidade tem como meta o supremo bem humano, o bem comum.
Numa linguagem moderna, talvez seja melhor traduzir pólis por sociedade e não comunidade. Por comunidade se entende aquela que é fundada por laços de sangue, língua e religião. Já por sociedade se compreende aquela que depende da vontade e da inteligência, ou seja, da razão na perseguição do bem comum.
Mas, qual é mesmo a importância da cidade? Antes de tudo, a natureza distinguiu o ser humano em masculino e feminino, que se unem para formar a primeira comunidade, a família. É esta que garante a procriação e a satisfação das necessidades elementares. Como as famílias não bastam em si mesmas, surge uma comunidade ampliada, uma aldeia. Esta garante, em modo sistemático, a satisfação das necessidades da vida. No entanto, para a satisfação de uma vida perfeita é necessário a cidade. Esta satisfaz todas as necessidades do ser humano. Esta forma de vida somente pode ser garantida através das leis, ou seja, da complexa organização de uma cidade.
É através da cidade que o indivíduo consegue superar seu egoísmo, de viver segundo aquilo que é subjetivamente bom, e começa a viver segundo aquilo que é verdadeiramente e objetivamente bom. Neste sentido, percebe-‐se que a cidade é aquela que aparece por último cronologicamente, mas é a primeira ontologicamente. Assim, o todo precede as partes porque é ele que dá sentido à elas.
Mas, por que o cristão deve se interessar pela cidade? Ele não está destinado à cidade eterna, o Reino dos céus?
A tradição bíblica nos mostra toda a importância da missão na cidade. Para a concepção grega, a cidade se caracteriza como um espaço seguro, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. Já para o povo hebreu, certamente por ter sido nômade no deserto, não sonhava com cidades, mas com jardins. Para eles, Deus não criou uma cidade, e sim um jardim. Diz a Bíblia: “O Senhor Deus plantou um jardim em Éden” (Gn 2, 8). O fato é que, seja na cidade ou no jardim, o povo busca a felicidade. Não importa se seja grego, bárbaro, hebreu ou cristão.
Abraão foi chamado a deixar a própria terra: “Sai de tua terra, do meio de teus parentes, da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei” (Gn 12, 1).
Moisés está envolvido na missão de arrancar o povo da cidade da escravidão: “Eu vi a opressão do meu povo no Egito, ouvi os gritos de aflição diante dos opressores e tomei conhecimento de seus sofrimentos. Desci para libertá-‐los das mãos dos egípcios e fazê-‐los sair desse país para uma terra boa e espaçosa, uma terra onde corre leite e mel” (Ex 3, 7-‐8).
O profeta Amós enfrenta a rejeição na cidade de Betel: “Amasias disse, então, a Amós: ‘Vidente, vai, foge para o país de Judá; come lá o teu pão e profetiza lá. Mas em Betel já não podes profetizar, porque é um santuário do rei, um templo do reino” (Am 7, 12-‐13).
O profeta Isaías compreende a sua missão como quem foi chamado para ser luz das nações: “Eu te destinei para seres a luz das nações, para que minha salvação atue até os confins da terra” (Is 49, 6).
O profeta Jeremias vê abalada a esperança em dias melhores, devido a violência seja no campo como na cidade: “Se saio para o campo, eis os mortos pela espada; se entro na cidade, eis as vítimas da fome; pois até o profeta e o sacerdote percorrem o país sem nada compreender” (Jr 14, 18). O profeta entra em crise, cai no desânimo, chega a amaldiçoar o dia
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em que nasceu (cf. Jr 20, 14). Mas, o amor de Deus vence o desânimo e a crise do profeta: “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir; tu me agarraste e me dominaste” (Jr 20, 7).
Jonas foi enviado para Nínive, a grande cidade.
Breve relato da missão na história cristã Da ressurreição de Jesus ao edito de Milão (do ano 33 a 313). Jesus preparou a missão: primeiro, ele enviou os Doze para anunciar o reino de Deus
aos povoados de Israel (Mt 10, 1-‐16). Em seguida, ele multiplicou os conselhos, dando instruções para os futuros missionários (Mt 10, 17-‐42). Por fim, depois da ressurreição, o último ato de Jesus foi enviar os Onze como missionários a todas as cidades (Mt 28, 16-‐20; At 1, 8). E Felipe se põe a caminho. No caminho ele encontrou um Etíope, o catequisou e o batizou (At 8, 26-‐40). Felipe foi anunciando a Evangelho a todas as cidades (cf. At 8, 40).
Paulo, o apóstolo dos gentios. A adesão à Cristo foi crescendo e ser cristão tornou-‐se um problema. Por cerca de 300
anos, a religião cristã foi proibida em todo o império romano. Grande repercussão tinham os testemunhos dos mártires, pois em Roma os julgamentos eram públicos. Os cristãos aproveitavam a oportunidade de falar abertamente, e o testemunho deles impressionava tanto, que sempre alguns se convertiam.
Do edito de Milão ao “descobrimento da América” (do ano 313 a 1492) A “conversão” de Constantino e a “liberdade” aos cristãos. No final da vida, Constantino
foi batizado, e quase todos os seus sucessores multiplicaram os favores aos cristãos. Até que, em 391, o imperador Teodósio proibiu todo culto não cristão, e o cristianismo ficou sendo a única religião permitida.
No ano de 410, várias tribos (vândalos, hunos, godos, lombardos, burgúndios, francos) começam a invadir o império romano. Após a destruição deste império, a nova Europa será formada pela conversão dos povos germânicos e eslavos. Neste contexto, o primeiro passo da missão entre os povos bárbaros se deu através do batismo de Clóvis, o rei dos francos. Com o rei todo o seu povo se converteu. A partir deste fato, a concepção reinante passou a ser aquela de que uma vez convertido o rei, os súditos o seguiriam.
Até o século X, os grandes evangelizadores da Europa foram os monges nascidos primeiro na Irlanda, depois na Inglaterra. O método dos monges consistia, em primeiro lugar, em fundar um mosteiro, que seria um centro de irradiação na região; depois, procurar converter os reis ou os chefes; em seguida, formar pequenos grupos de missionários para evangelizar os povoados na região do mosteiro.
Além da proposta missionária que visava a conversão pelo convencimento, teve lugar com Carlos Magno a missão pela imposição. O rei dos francos (que no ano de 800 foi proclamado imperador) usou a força militar com o propósito da conversão. Numa guerra de 772 a 785, forçou os saxões ao batismo. Mais tarde, a missão será militar. Serão as cruzadas. Se fará uso da missão militar para conquistar novas terras, para converter povos, para destruir heresias.
Em 1096, o Papa Urbano II convoca a primeira cruzada para reconquistar a terra de Jesus, o seu sepulcro, que estava em Jerusalém. Em geral, as ordens militares tiveram um papel mais político do que religioso. Acostumaram-‐se a resolver os problemas da fé pelas armas.
Quando o rei de Portugal conquistou o Brasil, era grão-‐mestre da Ordem militar de Cristo. E como grão-‐mestre, recebeu do papa a missão de cristianizar os povos do Brasil. Para ele, a evangelização se fazia com a ajuda das armas.
Com Domingos de Gusmão e Francisco de Assis a missão se faz pacífica. Domingos defende que os evangelizadores sejam pobres, se apoiem na Palavra e defendam
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pacificamente a fé católica. Domingos funda um grupo de Pregadores e obtêm a confirmação do Papa Honório III no ano de 1216.
Francisco de Assis é um leigo que recebe a autorização de pregar. Em 1219, Francisco recebe autorização do sultão para pregar em terras mulçumanas e pregou diante do próprio sultão, que o deixou sair em liberdade. Assim, Francisco mostra a vitória dos métodos pacíficos.
Dominicanos e franciscanos queriam primeiro converter os próprios cristãos. Na cristandade todos eram batizados, mas poucos viviam de acordo com o seu batismo. Dominicanos e franciscanos iam de cidade em cidade. Viviam na pobreza e apelavam para a pobreza voluntária. Vem dos frades as devoções populares como o presépio de Natal e o rosário.
Do “descobrimento da América” à convocação do Concílio Vaticano II (1492 a 1962) A “descoberta” de novas terras se transformou também na missão para o mundo
inteiro. A missão seguia as rotas descobertas. Os missionários seguiram os navegantes na costa da África, depois da Índia, do Japão, da China. Outros desembarcaram na América e foram acompanhar a conquista. Espanhóis e portugueses não tinham homens suficientes para conquistar a África ou a Ásia. A América foi mais fácil de ser conquistada.
E como se desenvolveu a missão? Dois modos: pela conquista e pela imposição; pela palavra e pela caridade.
A missão pela conquista e pela imposição fora aquela confiada aos reis. Em 1508, o rei de Espanha recebeu a responsabilidade da missão em todos os territórios conquistados. Em 1514, o rei de Portugal recebeu a mesma responsabilidade. Desde de então, sobretudo na América, os reis passaram a ser os grandes missionários. Eles faziam isso criando paróquias e bispados, enviando sacerdotes para ocupar esses lugares e procurando converter os índios e os escravos.
Em pouco tempo se percebeu que os índios não se convertiam espontaneamente, então passou-‐se a exercer pressões. As religiões indígenas foram proibidas, pois se dizia que vinham do demônio. Em seguida, os índios foram pressionados de todas as maneiras. Os escravos negros não podiam escolher, eram batizados no navio que os trazia ou na hora de desembarcar no porto.
Com a chegada de dominicanos e franciscanos a missão adquire outra perspectiva. Pois, eles não queriam acompanhar os conquistadores. Queriam aparecer não como companheiros dos conquistadores, mas como missionários pacíficos de Jesus Cristo. Desse modo, toma lugar a missão pela palavra e pela caridade.
Dos dominicanos, o mais famoso foi Bartolomeu de Las Casas. Tinha vindo como leigo para a América e tinha também a sua fazenda com os seus índios quase escravos. Mas ele se converteu e entrou na Ordem Dominicana. Começou uma longa vida de defesa dos direitos indígenas. Foi nomeado bispo de Chiapas, no México, mas durante a vida toda teve que lutar contra uma oposição implacável dos conquistadores.
Dois franciscanos foram autorizados por Leão XIII a embarcar para o México em 1521. Em 1522, o Papa Adriano VI estende a licença a todos os frades mendicantes. No dia 04 de outubro de 1523, o provincial de Extremadura, na Espanha do Sul, reúne os primeiros Doze apóstolos que vão constituir um grande projeto. Eles embarcaram no dia 25 de janeiro de 1524. No dia 13 de maio desembarcaram na costa do México. Os Doze andavam a pé; não pediam nada e não exigiam nada dos índios. Aprenderam a língua dos índios e fizeram dela o grande meio de evangelização.
Os jesuítas que chegaram à América desembarcaram no Brasil, em 1549, em Salvador. Os jesuítas procuraram fundar colégios para educar os filhos dos caciques, pensando assim
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facilitar a conversão dos indígenas. Depois disso se deram conta de que pouco poderiam fazer pelos índios em territórios controlados pelos conquistadores.
Convém observar que essa preocupação missionária para com os indígenas não se verificou em relação aos escravos africanos. Para o mundo indígena se multiplicaram vocabulários, gramáticas e catecismos em suas diferentes línguas. Já para os africanos, raramente houve esse esforço para superar a barreira da língua.
Usando os navios portugueses, franciscanos, dominicanos e jesuítas, evangelizaram também a costa da África, da Índia e até do Japão e da China. Estes missionários entenderam que deveriam adaptar-‐se muito, aprender não somente a cultura e a língua, mas também as religiões dos povos da Índia, do Japão ou da China.
No século XVII, descobriu-‐se que o mundo rural na Europa estava vivendo quase como pagãos. A religião era ignorada e o povo pratica puras superstições, sem saber quase nada da doutrina católica, nem dos sacramentos, nem dos mandamentos de Deus e da Igreja. Então, deu-‐se início as “SANTAS MISSÕES”. Entre os primeiros, estava São Vicente de Paulo, na França. Os missionários percorriam os povoados para ensinar o catecismo, administrar os sacramentos, melhorar a situação moral, pregando os mandamentos. No século XVIII, Santo Afonso de Ligório fundou os redentoristas. Mas também os jesuítas e mendicantes fizeram as SANTAS MISSÕES.
Desde o século XVII, as SANTAS MISSÕES realizam-‐se regularmente em todas as paróquias. São o grande meio de conversão dos chamados “católicos não praticantes”. No Brasil, os missionários abriram caminhos. Estiveram nos lugares em que ainda não havia paróquias nem templos. No Nordeste, um dos mais antigos missionários foi o Pe. Gabriel Malagrida, que foi queimado vivo, aos 72 anos, no dia 21 de setembro de 1761. Algumas décadas depois, nascia José Antônio Maria Pereira Ibiapina. O cearense nasceu em 1806 e morreu na Paraíba em 1883. Outra figura de destaque é Antônio Conselheiro (1830-‐1897), líder religioso independente. Outro grande missionário ficou conhecido popularmente como Padim Ciço, era o Pe. Cícero Romão Batista, que morreu em 1934. No entanto, o maior pregador das missões, por mais de 60 anos, foi o italiano Frei Damião, que para o povo teria sido uma bela herança do Pe. Cícero Romão Batista.
O século do renascimento missionário é aquele que se estende entre os anos de 1815 a 1914. Neste período as missões protestantes e católicas alcançaram o mundo inteiro e com grande vitalidade. Isso apesar da crise do cristianismo na Europa. Exemplo disso foi o surgimento de novas associações de caráter missionário: a) A obra da Propagação da Fé (1822); b) A obra da Infância Missionária (1843); c) A obra de São Pedro Apóstolo (1889); d) A União Missionária (1916).
Do Concílio Vaticano II aos dias de hoje (a partir de 1962) O Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-‐1965) foi, sem dúvida, o maior acontecimento
eclesial do século XX. Sentia-‐se a necessidade de uma renovação autêntica da Igreja. Dois mil anos de história haviam depositado em seu rosto tantas impurezas que era bastante difícil contemplar seu resplendor original. Com a celebração do Vaticano II, se consolida, também na América Latina, a ideia e o esforço para implantar um novo modelo de Igreja: a Igreja “Povo de Deus”.
Na manhã do dia 11 de outubro de 1962, foi aberto o Concílio Ecumênico Vaticano II. Estavam presentes aproximadamente 2500 bispos, provenientes de todas as partes do mundo. Notável foi a presença de observadores não católicos, representando um total de 28 confissões religiosas cristãs.
Um dos documentos do Concílio é o Decreto conciliar sobre a atividade missionária da Igreja (AD GENTES). Este Decreto inicia-‐se assim: “Enviada por Deus às nações para ser ‘o sacramento universal da salvação’, esforça-‐se a Igreja por anunciar o Evangelho a todos os
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homens”(AG 1). Em seguida, o Decreto define a natureza da Igreja bem como a sua origem: “A Igreja peregrina é por sua natureza missionária. Pois ela se origina da missão do Filho e da missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai” (AG 2).
Assim sendo, é impensável uma Igreja que não seja missionária e que não se solidariza com as pessoas: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (GS 1).
Cresceu a consciência de que, como no Concílio de Jerusalém, a Igreja primitiva, de judaica que era, se abriu para os países do Mediterrâneo; assim, no Concilio Vaticano II, a Igreja sentiu a exigência de se abrir para o mundo inteiro (sentido territorial e cultural). Para tanto, é necessário que a Igreja não seja movida por nenhuma ambição terrestre. “Com efeito, guiada pelo Espírito Santo ela pretende somente uma coisa: continuar a obra do próprio Cristo que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, para salvar e não para condenar, para servir e não para ser servido” (GS 3). Por tudo isso, “para desempenhar tal missão, a Igreja, a todo momento, tem o dever de perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-‐los à luz do Evangelho” (GS 4).
O Papa, na última Encíclica, ao falar da fé, mostra-‐nos a importância da missão na cidade: “A fé não afasta do mundo, nem é alheia ao esforço concreto dos nossos contemporâneos. (...) A fé faz compreender a arquitetura das relações humanas, porque identifica o seu fundamento último e destino definitivo em Deus, no seu amor, e assim ilumina a arte da sua construção, tornando-‐se um serviço ao bem comum. (...) A sua luz não ilumina apenas o âmbito da Igreja, nem serve somente para construir uma cidade eterna no além, mas ajuda também a construir as nossas sociedades de modo que caminhem para um futuro de esperança. (...) As mãos da fé levantam-‐se para o céu, mas fazem-‐no ao mesmo tempo que edificam, na caridade, uma cidade construída sobre relações que têm como alicerce o amor de Deus” (Lumen Fidei, 51).
Toda a nossa dedicação para vivermos em paz e na justiça, em nossas cidades, é consequência do amor a Deus, da nossa resposta positiva ao mandato missionário. Assim, à luz da concepção de santo Agostinho, enquanto não se chega à cidade eterna, temos uma responsabilidade na cidade temporal; pois nos situamos entre a nossa origem e o nosso fim. Na cidade eterna, a tarde do último dia não será o fim do dia, mas o fim do dia será o dia do Senhor. Então, “descansaremos e veremos, veremos e amaremos; amaremos e louvaremos. Eis a essência do fim sem fim” (A Cidade de Deus, XXII, 30). Terceiro dia: A MISSÃO NAS CASAS O missionário é aquele que tem consciência de não agir em nome próprio, mas em nome de Cristo. O missionário dá testemunho de Cristo. Mas como poderia o missionário dar testemunho do Senhor se ele está vazio de Deus? Assim, o missionário é aquele que sai de si mesmo, sem jamais sair de Deus. Para que o testemunho do missionário seja eficaz, é necessário que quem o veja, veja o próprio Cristo. Como dizia o apóstolo Paulo: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). O missionário antes de testemunhar Cristo com a palavra, deve testemunhá-‐lo com a própria vida. O missionário cristão é aquele que tem a sua espiritualidade enraizada em Jesus Cristo, acolhe a missão como dom de Jesus Ressuscitado: “Ide, pois, fazei discípulos meus todos os povos, batizando-‐os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-‐os a observar tudo quanto vos mandei” (Mt 28, 19-‐20). De acordo com o evangelista Marcos, Jesus recomendou aos Onze: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura (Mc 16, 15). Na versão lucana, Jesus recomenda aos Onze: “permanecei na cidade até que sejais revestidos da força do alto” (Lc 24, 49). Em seguida, complementa Lucas: “recebereis uma força, o Espírito Santo que virá sobre vós; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda
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a Judéia e Samaria, até os confins da terra” (At 1, 8). Por fim, em João, o ressuscitado diz: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio” (Jo 20, 21).
A ressurreição de Jesus dá ao missionário o olhar e a visão de Deus sobre o mistério do seu Reino; por ela, o discípulo é inserido neste mistério. Assim, a missão, antes de ser resposta aos apelos dos homens, é acolhimento do dom de Deus. A partir desta compreensão, emerge a consciência de que não é o missionário que leva o Evangelho, mas é o Evangelho, a força de Deus, que põe o missionário a caminhar.
O mandato missionário de Jesus, após a ressurreição, apresenta-‐nos diferentes maneiras de fazer missão. Cada evangelista retoma o modelo de missão que desenvolveu ao longo do seu evangelho. Deste modo, a missão é plural. Não há só um modelo de missão. Para Mateus, a missão é ensinante: a catequese aparece-‐nos como seu esquema mais adequado. O símbolo deste modelo é a montanha. Para Marcos, a missão é itinerante: a sua característica imponente é o da primeira evangelização. O símbolo deste modelo é a estrada. Para Lucas, a missão é testemunhante: manifestada sobretudo pela revelação do Espírito. O símbolo deste modelo é o templo. Para João, a missão é, antes de tudo, transformante: transformar a vida, transformar o mundo. O símbolo deste modelo é a mesa.
Enfim, a missão é múltipla, e toda a Igreja é missionária. O missionário é chamado a superar o desânimo, a timidez. Quem acolhe o missionário acolhe o próprio Cristo: “Quem vos recebe, a mim recebe, e quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (Mt 10, 40).
E o Papa Francisco, falando aos jovens, nos encoraja a estarmos presente em todos os ambientes, a despertar o Cristo no coração de todas as pessoas. Dizia: “Para onde Jesus nos manda? Não há fronteiras, não há limites: envia-‐nos para todas as pessoas. O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Não é apenas para aqueles que parecem a nós mais próximos, mais abertos, mais acolhedores. É para todas as pessoas (...), incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor” (Missa pela XXVIII Jornada Mundial da Juventude em Copacabana).
Se é da natureza da Igreja que ela seja missionária, a Igreja, então, não existe para ela mesma. A Igreja existe para a missão, para ser, no mundo, sacramento de salvação para todas as pessoas. Se toda a Igreja é missionária, devemos todos ser educados para a missão, para ir ao encontro do outro nos mais variados ambientes. Educar para a missão significa que nos desarmemos de nossos preconceitos, de nossas seguranças. A missão não é nossa, é de Deus. É o Pai quem nos envia por intermédio do seu Filho. Recordemos uma vez mais este mandato: “Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio” (Jo 20, 21).
Jesus chama-‐nos para si, para criarmos intimidade com Ele. Jesus nos educa, e nos envia para criarmos solidariedade com os outros, não importa quem o outro seja, que ambiente ele frequenta. Lembremo-‐nos das palavras do apóstolo Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem” (Rm 12, 21).
Jesus nos chama e nos envia, pois Ele “fez assim com os seus discípulos: não os manteve colados a si, como uma galinha com os seus pintinhos; Ele os enviou! Não podemos ficar encerrados na paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta gente esperando o Evangelho! Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta fora para procurar e encontrar.
Decididamente pensemos a pastoral a partir da periferia, daqueles que estão mais afastados, daqueles que habitualmente não frequentam a paróquia. Também eles são convidados para a Mesa do Senhor”(Missa na Catedral de S. Sebastião).
Quem se lança em missão não pode esquecer que a nossa primeira fala é com a vida. O testemunho da vida é tão fundamental, que recordava o Papa Paulo VI: “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres (...), ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (EN 41). A propósito, com o Papa
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Paulo VI aprendemos que as vias da missão evangelizadora são: Testemunho de Vida; Anúncio, Catequese, Sacramentos (cf. EN 41-‐47).
Bem-‐aventurada é a Igreja que se põe permanentemente em missão. Bem-‐aventurados somos nós que respondemos positivamente o chamado de Deus. Eis as bem-‐aventuranças do missionário.
Bem-‐aventurado o missionário que: 1) Vive enamorado de Cristo, que se fia nele como o mais necessário e absoluto, certo de
que não será desiludido; 2) Cada manhã diz: “Pai nosso”, levando em seu coração todas as raças, povos e línguas,
porque não se conforma com uma vida mesquinha; 3) Mantém vivo o seu ideal e a sua utopia pelo Reino, e não perde tempo com coisas
secundárias; 4) Nada tem, e o que possui gasta no serviço de seus irmãos, porque Cristo é toda a sua
riqueza; 5) É obediente, sabe colocar o seu ouvido no coração de Deus para escutar seus desejos,
porque o Espírito o ajuda a discernir os acontecimentos; 6) Com o coração puro e transparente, sabe descobrir o amor e a ternura de Deus nas
pessoas e nos acontecimentos sem complicações, porque Deus sempre se revela; 7) Não se orgulha de seus êxitos e reconhece que é o Espírito que faz tudo em todos,
porque se vê livre de amarras; 8) Não pode viver sem a oração e sem saborear as riquezas da Palavra de Deus, porque
isto dá sentido à sua vida; 9) Sabe acolher o desafio da cruz de Cristo, porque ela é a sua tábua de salvação, o
trampolim para a Páscoa definitiva; 10) Tem Maria por mãe e modelo de mulher evangelizadora, porque ela faz com que o
missionário seja o primeiro evangelizado. Concretamente, o que fazer nas casas? 1) Sempre de dois a dois, se apresentar (exemplo: Somos Pedro e Paulo, da igreja
Católica, participamos da Comunidade .....); 2) Viemos trazer uma pequena mensagem pra vocês, mas sobretudo nos colocar à
vossa disposição, colocar a nossa Comunidade à vossa disposição; 3) Vocês conhecem a nossa Comunidade? (Deixar que as pessoas falem!) 4) Oração de benção dependendo das circunstâncias (casa, doente, grávida,
aniversário). Bibliografia geral: Compêndio do Vaticano II Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi Carta Encíclica Lumen Fidei Pronunciamentos do Papa Francisco no Brasil por ocasião da JMJ Curso popular de história da Igreja (A missão, vol. 1), Paulinas, São Paulo, 1993. Paulo de Coppi, Por uma Igreja toda missionária, Paulus, São Paulo, 1994.