Formação missionária

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1 FORMAÇÃO MISSIONÁRIA (3 A 5 DE SETEMBRO/2013) PARÓQUIA SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA (SAUDADE) Segundo dia: A MISSÃO NA CIDADE O que entendemos por cidade? Cidade vem de uma palavra grega de nome pólis. Aristóteles define a pólis como a comunidade mais importante de todas as outras, e que a todas compreende. Tal comunidade tem como meta o supremo bem humano, o bem comum. Numa linguagem moderna, talvez seja melhor traduzir pólis por sociedade e não comunidade. Por comunidade se entende aquela que é fundada por laços de sangue, língua e religião. Já por sociedade se compreende aquela que depende da vontade e da inteligência, ou seja, da razão na perseguição do bem comum. Mas, qual é mesmo a importância da cidade? Antes de tudo, a natureza distinguiu o ser humano em masculino e feminino, que se unem para formar a primeira comunidade, a família. É esta que garante a procriação e a satisfação das necessidades elementares. Como as famílias não bastam em si mesmas, surge uma comunidade ampliada, uma aldeia. Esta garante, em modo sistemático, a satisfação das necessidades da vida. No entanto, para a satisfação de uma vida perfeita é necessário a cidade. Esta satisfaz todas as necessidades do ser humano. Esta forma de vida somente pode ser garantida através das leis, ou seja, da complexa organização de uma cidade. É através da cidade que o indivíduo consegue superar seu egoísmo, de viver segundo aquilo que é subjetivamente bom, e começa a viver segundo aquilo que é verdadeiramente e objetivamente bom. Neste sentido, percebese que a cidade é aquela que aparece por último cronologicamente, mas é a primeira ontologicamente. Assim, o todo precede as partes porque é ele que dá sentido à elas. Mas, por que o cristão deve se interessar pela cidade? Ele não está destinado à cidade eterna, o Reino dos céus? A tradição bíblica nos mostra toda a importância da missão na cidade. Para a concepção grega, a cidade se caracteriza como um espaço seguro, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. Já para o povo hebreu, certamente por ter sido nômade no deserto, não sonhava com cidades, mas com jardins. Para eles, Deus não criou uma cidade, e sim um jardim. Diz a Bíblia: “O Senhor Deus plantou um jardim em Éden” (Gn 2, 8). O fato é que, seja na cidade ou no jardim, o povo busca a felicidade. Não importa se seja grego, bárbaro, hebreu ou cristão. Abraão foi chamado a deixar a própria terra: “Sai de tua terra, do meio de teus parentes, da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei” (Gn 12, 1). Moisés está envolvido na missão de arrancar o povo da cidade da escravidão: “Eu vi a opressão do meu povo no Egito, ouvi os gritos de aflição diante dos opressores e tomei conhecimento de seus sofrimentos. Desci para libertálos das mãos dos egípcios e fazêlos sair desse país para uma terra boa e espaçosa, uma terra onde corre leite e mel” (Ex 3, 78). O profeta Amós enfrenta a rejeição na cidade de Betel: “Amasias disse, então, a Amós: ‘Vidente, vai, foge para o país de Judá; come lá o teu pão e profetiza lá. Mas em Betel já não podes profetizar, porque é um santuário do rei, um templo do reino” (Am 7, 1213). O profeta Isaías compreende a sua missão como quem foi chamado para ser luz das nações: “Eu te destinei para seres a luz das nações, para que minha salvação atue até os confins da terra” (Is 49, 6). O profeta Jeremias vê abalada a esperança em dias melhores, devido a violência seja no campo como na cidade: “Se saio para o campo, eis os mortos pela espada; se entro na cidade, eis as vítimas da fome; pois até o profeta e o sacerdote percorrem o país sem nada compreender” (Jr 14, 18). O profeta entra em crise, cai no desânimo, chega a amaldiçoar o dia

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FORMAÇÃO MISSIONÁRIA DA PARÓQUIA SANTO ANTÔNIO, 2.º E 3.º DIA COM PADRE JOSÉ VIDAL DE AMORIM - DIOCESE DE BARRA DO PIRAI E VOLTA REDONDA CIDADE DE BARRA MANSA R/J

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FORMAÇÃO  MISSIONÁRIA  (3  A  5  DE  SETEMBRO/2013)  PARÓQUIA  SANTO  ANTÔNIO  DE  PÁDUA  (SAUDADE)  

 Segundo  dia:  A  MISSÃO  NA  CIDADE     O   que   entendemos   por   cidade?   Cidade   vem   de   uma   palavra   grega   de   nome   pólis.  Aristóteles   define   a  pólis   como   a   comunidade  mais   importante   de   todas   as   outras,   e   que   a  todas  compreende.  Tal  comunidade  tem  como  meta  o  supremo  bem  humano,  o  bem  comum.  

Numa   linguagem   moderna,   talvez   seja   melhor   traduzir   pólis   por   sociedade   e   não  comunidade.  Por  comunidade  se  entende  aquela  que  é  fundada  por  laços  de  sangue,  língua  e  religião.  Já  por  sociedade  se  compreende  aquela  que  depende  da  vontade  e  da  inteligência,  ou  seja,  da  razão  na  perseguição  do  bem  comum.  

Mas,  qual  é  mesmo  a  importância  da  cidade?  Antes  de  tudo,  a  natureza  distinguiu  o  ser  humano  em  masculino  e  feminino,  que  se  unem  para  formar  a  primeira  comunidade,  a  família.  É  esta  que  garante  a  procriação  e  a  satisfação  das  necessidades  elementares.  Como  as  famílias  não   bastam   em   si  mesmas,   surge   uma   comunidade   ampliada,   uma   aldeia.   Esta   garante,   em  modo  sistemático,  a  satisfação  das  necessidades  da  vida.  No  entanto,  para  a  satisfação  de  uma  vida  perfeita  é  necessário  a  cidade.  Esta  satisfaz   todas  as  necessidades  do  ser  humano.  Esta  forma  de  vida  somente  pode  ser  garantida  através  das  leis,  ou  seja,  da  complexa  organização  de  uma  cidade.  

É  através  da  cidade  que  o  indivíduo  consegue  superar  seu  egoísmo,  de  viver  segundo  aquilo  que  é  subjetivamente  bom,  e  começa  a  viver  segundo  aquilo  que  é  verdadeiramente  e  objetivamente  bom.  Neste  sentido,  percebe-­‐se  que  a  cidade  é  aquela  que  aparece  por  último  cronologicamente,  mas  é  a  primeira  ontologicamente.  Assim,  o  todo  precede  as  partes  porque  é  ele  que  dá  sentido  à  elas.  

Mas,  por  que  o  cristão  deve  se  interessar  pela  cidade?  Ele  não  está  destinado  à  cidade  eterna,  o  Reino  dos  céus?  

A   tradição   bíblica   nos   mostra   toda   a   importância   da   missão   na   cidade.   Para   a  concepção  grega,  a  cidade  se  caracteriza  como  um  espaço  seguro,  onde  os  homens  podiam  se  dedicar   à   busca   da   felicidade.   Já   para   o   povo   hebreu,   certamente   por   ter   sido   nômade   no  deserto,  não  sonhava  com  cidades,  mas  com  jardins.  Para  eles,  Deus  não  criou  uma  cidade,  e  sim  um  jardim.  Diz  a  Bíblia:  “O  Senhor  Deus  plantou  um  jardim  em  Éden”  (Gn  2,  8).  O  fato  é  que,   seja   na   cidade   ou   no   jardim,   o   povo   busca   a   felicidade.   Não   importa   se   seja   grego,  bárbaro,  hebreu  ou  cristão.  

Abraão   foi   chamado   a   deixar   a   própria   terra:   “Sai   de   tua   terra,   do   meio   de   teus  parentes,  da  casa  de  teu  pai  e  vai  para  a  terra  que  te  mostrarei”  (Gn  12,  1).  

Moisés  está  envolvido  na  missão  de  arrancar  o  povo  da  cidade  da  escravidão:  “Eu  vi  a  opressão   do   meu   povo   no   Egito,   ouvi   os   gritos   de   aflição   diante   dos   opressores   e   tomei  conhecimento  de  seus  sofrimentos.  Desci  para  libertá-­‐los  das  mãos  dos  egípcios  e  fazê-­‐los  sair  desse  país  para  uma  terra  boa  e  espaçosa,  uma  terra  onde  corre  leite  e  mel”  (Ex  3,  7-­‐8).  

O  profeta  Amós  enfrenta  a  rejeição  na  cidade  de  Betel:  “Amasias  disse,  então,  a  Amós:  ‘Vidente,  vai,   foge  para  o  país  de  Judá;  come  lá  o  teu  pão  e  profetiza   lá.  Mas  em  Betel   já  não  podes  profetizar,  porque  é  um  santuário  do  rei,  um  templo  do  reino”  (Am  7,  12-­‐13).    

O  profeta   Isaías   compreende  a   sua  missão  como  quem   foi   chamado  para  ser   luz  das  nações:   “Eu   te   destinei   para   seres   a   luz   das   nações,   para   que   minha   salvação   atue   até   os  confins  da  terra”  (Is  49,  6).  

O  profeta  Jeremias  vê  abalada  a  esperança  em  dias  melhores,  devido  a  violência  seja  no   campo   como   na   cidade:   “Se   saio   para   o   campo,   eis   os  mortos   pela   espada;   se   entro   na  cidade,   eis   as  vítimas  da   fome;  pois  até  o  profeta  e  o   sacerdote  percorrem  o  país   sem  nada  compreender”  (Jr  14,  18).  O  profeta  entra  em  crise,  cai  no  desânimo,  chega  a  amaldiçoar  o  dia  

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em  que  nasceu  (cf.  Jr  20,  14).  Mas,  o  amor  de  Deus  vence  o  desânimo  e  a  crise  do  profeta:  “Tu  me  seduziste,  Senhor,  e  eu  me  deixei  seduzir;  tu  me  agarraste  e  me  dominaste”  (Jr  20,  7).  

Jonas  foi  enviado  para  Nínive,  a  grande  cidade.    

Breve  relato  da  missão  na  história  cristã  Da  ressurreição  de  Jesus  ao  edito  de  Milão  (do  ano  33  a  313).  Jesus  preparou  a  missão:  primeiro,  ele  enviou  os  Doze  para  anunciar  o  reino  de  Deus  

aos   povoados   de   Israel   (Mt   10,   1-­‐16).   Em   seguida,   ele   multiplicou   os   conselhos,   dando  instruções   para   os   futuros  missionários   (Mt   10,   17-­‐42).   Por   fim,   depois   da   ressurreição,   o  último  ato  de  Jesus  foi  enviar  os  Onze  como  missionários  a  todas  as  cidades  (Mt  28,  16-­‐20;  At  1,   8).   E   Felipe   se   põe   a   caminho.   No   caminho   ele   encontrou   um   Etíope,   o   catequisou   e   o  batizou  (At  8,  26-­‐40).  Felipe  foi  anunciando  a  Evangelho  a  todas  as  cidades  (cf.  At  8,  40).  

Paulo,  o  apóstolo  dos  gentios.  A  adesão  à  Cristo  foi  crescendo  e  ser  cristão  tornou-­‐se  um  problema.  Por  cerca  de  300  

anos,  a  religião  cristã  foi  proibida  em  todo  o  império  romano.  Grande  repercussão  tinham  os  testemunhos   dos   mártires,   pois   em   Roma   os   julgamentos   eram   públicos.   Os   cristãos  aproveitavam   a   oportunidade   de   falar   abertamente,   e   o   testemunho   deles   impressionava  tanto,  que  sempre  alguns  se  convertiam.  

 Do  edito  de  Milão  ao  “descobrimento  da  América”  (do  ano  313  a  1492)  A  “conversão”  de  Constantino  e  a  “liberdade”  aos  cristãos.  No  final  da  vida,  Constantino  

foi  batizado,  e  quase  todos  os  seus  sucessores  multiplicaram  os  favores  aos  cristãos.  Até  que,  em  391,  o  imperador  Teodósio  proibiu  todo  culto  não  cristão,  e  o  cristianismo  ficou  sendo  a  única  religião  permitida.  

No  ano  de  410,  várias  tribos  (vândalos,  hunos,  godos,  lombardos,  burgúndios,  francos)  começam  a   invadir  o   império  romano.  Após  a  destruição  deste   império,  a  nova  Europa  será  formada  pela  conversão  dos  povos  germânicos  e  eslavos.  Neste  contexto,  o  primeiro  passo  da  missão  entre  os  povos  bárbaros  se  deu  através  do  batismo  de  Clóvis,  o  rei  dos  francos.  Com  o  rei  todo  o  seu  povo  se  converteu.  A  partir  deste  fato,  a  concepção  reinante  passou  a  ser  aquela  de  que  uma  vez  convertido  o  rei,  os  súditos  o  seguiriam.  

Até   o   século   X,   os   grandes   evangelizadores   da   Europa   foram   os   monges   nascidos  primeiro  na  Irlanda,  depois  na  Inglaterra.  O  método  dos  monges  consistia,  em  primeiro  lugar,  em   fundar   um   mosteiro,   que   seria   um   centro   de   irradiação   na   região;   depois,   procurar  converter   os   reis   ou   os   chefes;   em   seguida,   formar   pequenos   grupos   de  missionários   para  evangelizar  os  povoados  na  região  do  mosteiro.  

Além  da  proposta  missionária  que  visava  a  conversão  pelo  convencimento,  teve  lugar  com   Carlos   Magno   a   missão   pela   imposição.   O   rei   dos   francos   (que   no   ano   de   800   foi  proclamado  imperador)  usou  a  força  militar  com  o  propósito  da  conversão.  Numa  guerra  de  772  a  785,  forçou  os  saxões  ao  batismo.  Mais  tarde,  a  missão  será  militar.  Serão  as  cruzadas.  Se   fará   uso   da   missão   militar   para   conquistar   novas   terras,   para   converter   povos,   para  destruir  heresias.  

Em  1096,  o  Papa  Urbano   II   convoca  a  primeira  cruzada  para   reconquistar  a   terra  de  Jesus,   o   seu   sepulcro,   que   estava   em   Jerusalém.   Em   geral,   as   ordens  militares   tiveram   um  papel   mais   político   do   que   religioso.   Acostumaram-­‐se   a   resolver   os   problemas   da   fé   pelas  armas.  

Quando   o   rei   de   Portugal   conquistou   o   Brasil,   era   grão-­‐mestre   da   Ordem  militar   de  Cristo.  E  como  grão-­‐mestre,  recebeu  do  papa  a  missão  de  cristianizar  os  povos  do  Brasil.  Para  ele,  a  evangelização  se  fazia  com  a  ajuda  das  armas.  

Com   Domingos   de   Gusmão   e   Francisco   de   Assis   a   missão   se   faz   pacífica.   Domingos  defende   que   os   evangelizadores   sejam   pobres,   se   apoiem   na   Palavra   e   defendam  

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pacificamente  a  fé  católica.  Domingos  funda  um  grupo  de  Pregadores  e  obtêm  a  confirmação  do  Papa  Honório  III  no  ano  de  1216.  

Francisco  de  Assis  é  um  leigo  que  recebe  a  autorização  de  pregar.  Em  1219,  Francisco  recebe  autorização  do  sultão  para  pregar  em  terras  mulçumanas  e  pregou  diante  do  próprio  sultão,   que   o   deixou   sair   em   liberdade.   Assim,   Francisco   mostra   a   vitória   dos   métodos  pacíficos.  

Dominicanos   e   franciscanos   queriam   primeiro   converter   os   próprios   cristãos.   Na  cristandade   todos   eram   batizados,   mas   poucos   viviam   de   acordo   com   o   seu   batismo.  Dominicanos  e  franciscanos  iam  de  cidade  em  cidade.  Viviam  na  pobreza  e  apelavam  para  a  pobreza   voluntária.   Vem   dos   frades   as   devoções   populares   como   o   presépio   de   Natal   e   o  rosário.        

     Do  “descobrimento  da  América”  à  convocação  do  Concílio  Vaticano  II  (1492  a  1962)  A   “descoberta”   de   novas   terras   se   transformou   também   na   missão   para   o   mundo  

inteiro.   A   missão   seguia   as   rotas   descobertas.   Os   missionários   seguiram   os   navegantes   na  costa   da   África,   depois   da   Índia,   do   Japão,   da   China.   Outros   desembarcaram   na   América   e  foram  acompanhar  a  conquista.  Espanhóis  e  portugueses  não  tinham  homens  suficientes  para  conquistar  a  África  ou  a  Ásia.  A  América  foi  mais  fácil  de  ser  conquistada.  

E   como  se  desenvolveu  a  missão?  Dois  modos:  pela   conquista  e  pela   imposição;  pela  palavra  e  pela  caridade.  

A  missão  pela  conquista  e  pela  imposição  fora  aquela  confiada  aos  reis.  Em  1508,  o  rei  de  Espanha  recebeu  a  responsabilidade  da  missão  em  todos  os  territórios  conquistados.  Em  1514,   o   rei   de   Portugal   recebeu   a  mesma   responsabilidade.   Desde   de   então,   sobretudo   na  América,  os  reis  passaram  a  ser  os  grandes  missionários.  Eles  faziam  isso  criando  paróquias  e  bispados,  enviando  sacerdotes  para  ocupar  esses  lugares  e  procurando  converter  os  índios  e  os  escravos.  

Em  pouco  tempo  se  percebeu  que  os  índios  não  se  convertiam  espontaneamente,  então  passou-­‐se  a  exercer  pressões.  As  religiões  indígenas  foram  proibidas,  pois  se  dizia  que  vinham  do   demônio.   Em   seguida,   os   índios   foram   pressionados   de   todas   as  maneiras.   Os   escravos  negros   não   podiam   escolher,   eram   batizados   no   navio   que   os   trazia   ou   na   hora   de  desembarcar  no  porto.  

Com   a   chegada   de   dominicanos   e   franciscanos   a   missão   adquire   outra   perspectiva.  Pois,   eles   não   queriam   acompanhar   os   conquistadores.   Queriam   aparecer   não   como  companheiros   dos   conquistadores,   mas   como  missionários   pacíficos   de   Jesus   Cristo.   Desse  modo,  toma  lugar  a  missão  pela  palavra  e  pela  caridade.  

Dos  dominicanos,  o  mais  famoso  foi  Bartolomeu  de  Las  Casas.  Tinha  vindo  como  leigo  para  a  América  e  tinha  também  a  sua  fazenda  com  os  seus  índios  quase  escravos.  Mas  ele  se  converteu   e   entrou  na  Ordem  Dominicana.   Começou  uma   longa   vida  de  defesa  dos  direitos  indígenas.  Foi  nomeado  bispo  de  Chiapas,  no  México,  mas  durante  a  vida  toda  teve  que  lutar  contra  uma  oposição  implacável  dos  conquistadores.  

Dois  franciscanos  foram  autorizados  por  Leão  XIII  a  embarcar  para  o  México  em  1521.  Em  1522,  o  Papa  Adriano  VI  estende  a   licença  a   todos  os   frades  mendicantes.  No  dia  04  de  outubro  de  1523,  o  provincial  de  Extremadura,  na  Espanha  do  Sul,  reúne  os  primeiros  Doze  apóstolos   que   vão   constituir   um   grande   projeto.   Eles   embarcaram   no   dia   25   de   janeiro   de  1524.   No   dia   13   de  maio   desembarcaram  na   costa   do  México.   Os  Doze   andavam   a   pé;   não  pediam  nada  e  não  exigiam  nada  dos  índios.  Aprenderam  a  língua  dos  índios  e  fizeram  dela  o  grande  meio  de  evangelização.  

Os  jesuítas  que  chegaram  à  América  desembarcaram  no  Brasil,  em  1549,  em  Salvador.  Os   jesuítas  procuraram   fundar   colégios  para  educar  os   filhos  dos   caciques,  pensando  assim  

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facilitar  a  conversão  dos  indígenas.  Depois  disso  se  deram  conta  de  que  pouco  poderiam  fazer  pelos  índios  em  territórios  controlados  pelos  conquistadores.  

Convém   observar   que   essa   preocupação   missionária   para   com   os   indígenas   não   se  verificou   em   relação   aos   escravos   africanos.   Para   o   mundo   indígena   se   multiplicaram  vocabulários,   gramáticas   e   catecismos   em   suas   diferentes   línguas.   Já   para   os   africanos,  raramente  houve  esse  esforço  para  superar  a  barreira  da  língua.  

Usando   os   navios   portugueses,   franciscanos,   dominicanos   e   jesuítas,   evangelizaram  também  a  costa  da  África,  da  Índia  e  até  do  Japão  e  da  China.  Estes  missionários  entenderam  que  deveriam  adaptar-­‐se  muito,  aprender  não  somente  a  cultura  e  a   língua,  mas  também  as  religiões  dos  povos  da  Índia,  do  Japão  ou  da  China.  

No  século  XVII,  descobriu-­‐se  que  o  mundo  rural  na  Europa  estava  vivendo  quase  como  pagãos.  A  religião  era  ignorada  e  o  povo  pratica  puras  superstições,  sem  saber  quase  nada  da  doutrina  católica,  nem  dos  sacramentos,  nem  dos  mandamentos  de  Deus  e  da   Igreja.  Então,  deu-­‐se   início   as   “SANTAS   MISSÕES”.   Entre   os   primeiros,   estava   São   Vicente   de   Paulo,   na  França.   Os  missionários   percorriam   os   povoados   para   ensinar   o   catecismo,   administrar   os  sacramentos,  melhorar  a   situação  moral,  pregando  os  mandamentos.  No  século  XVIII,   Santo  Afonso  de  Ligório  fundou  os  redentoristas.  Mas  também  os  jesuítas  e  mendicantes  fizeram  as  SANTAS  MISSÕES.  

Desde   o   século   XVII,   as   SANTAS   MISSÕES   realizam-­‐se   regularmente   em   todas   as  paróquias.   São   o   grande   meio   de   conversão   dos   chamados   “católicos   não   praticantes”.   No  Brasil,   os   missionários   abriram   caminhos.   Estiveram   nos   lugares   em   que   ainda   não   havia  paróquias   nem   templos.   No   Nordeste,   um   dos   mais   antigos   missionários   foi   o   Pe.   Gabriel  Malagrida,   que   foi   queimado   vivo,   aos   72   anos,   no   dia   21   de   setembro   de   1761.   Algumas  décadas   depois,   nascia   José   Antônio  Maria   Pereira   Ibiapina.   O   cearense   nasceu   em   1806   e  morreu  na  Paraíba   em  1883.  Outra   figura  de  destaque   é  Antônio  Conselheiro   (1830-­‐1897),  líder  religioso   independente.  Outro  grande  missionário   ficou  conhecido  popularmente  como  Padim   Ciço,   era   o   Pe.   Cícero   Romão   Batista,   que   morreu   em   1934.   No   entanto,   o   maior  pregador  das  missões,  por  mais  de  60  anos,  foi  o  italiano  Frei  Damião,  que  para  o  povo  teria  sido  uma  bela  herança  do  Pe.  Cícero  Romão  Batista.  

O  século  do  renascimento  missionário  é  aquele  que  se  estende  entre  os  anos  de  1815  a  1914.  Neste  período  as  missões  protestantes  e   católicas  alcançaram  o  mundo   inteiro  e   com  grande   vitalidade.   Isso   apesar   da   crise   do   cristianismo   na   Europa.   Exemplo   disso   foi   o  surgimento   de   novas   associações   de   caráter  missionário:   a)   A   obra   da  Propagação   da   Fé  (1822);  b)  A  obra  da  Infância  Missionária  (1843);  c)  A  obra  de  São  Pedro  Apóstolo  (1889);  d)  A  União  Missionária  (1916).  

 Do  Concílio  Vaticano  II  aos  dias  de  hoje  (a  partir  de  1962)  O  Concílio  Ecumênico  Vaticano  II  (1962-­‐1965)  foi,  sem  dúvida,  o  maior  acontecimento  

eclesial  do  século  XX.  Sentia-­‐se  a  necessidade  de  uma  renovação  autêntica  da  Igreja.  Dois  mil  anos   de   história   haviam  depositado   em   seu   rosto   tantas   impurezas   que   era   bastante   difícil  contemplar  seu  resplendor  original.  Com  a  celebração  do  Vaticano  II,  se  consolida,  também  na  América  Latina,  a  ideia  e  o  esforço  para  implantar  um  novo  modelo  de  Igreja:  a  Igreja  “Povo  de  Deus”.  

Na  manhã  do  dia  11  de  outubro  de  1962,  foi  aberto  o  Concílio  Ecumênico  Vaticano  II.  Estavam   presentes   aproximadamente   2500   bispos,   provenientes   de   todas   as   partes   do  mundo.  Notável  foi  a  presença  de  observadores  não  católicos,  representando  um  total  de  28  confissões  religiosas  cristãs.  

Um  dos  documentos  do  Concílio  é  o  Decreto  conciliar  sobre  a  atividade  missionária  da  Igreja   (AD  GENTES).    Este  Decreto   inicia-­‐se  assim:   “Enviada  por  Deus  às  nações  para   ser   ‘o  sacramento  universal   da   salvação’,   esforça-­‐se   a   Igreja   por   anunciar   o   Evangelho   a   todos   os  

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homens”(AG  1).  Em  seguida,  o  Decreto  define  a  natureza  da  Igreja  bem  como  a  sua  origem:  “A  Igreja  peregrina  é  por  sua  natureza  missionária.  Pois  ela  se  origina  da  missão  do  Filho  e  da  missão  do  Espírito  Santo,  segundo  o  desígnio  de  Deus  Pai”  (AG  2).  

Assim  sendo,  é  impensável  uma  Igreja  que  não  seja  missionária  e  que  não  se  solidariza  com  as  pessoas:  “As  alegrias  e  as  esperanças,  as  tristezas  e  as  angústias  dos  homens  de  hoje,  sobretudo  dos  pobres  e  de  todos  os  que  sofrem,  são  também  as  alegrias  e  as  esperanças,  as  tristezas  e  as  angústias  dos  discípulos  de  Cristo”  (GS  1).  

Cresceu   a   consciência   de   que,   como   no   Concílio   de   Jerusalém,   a   Igreja   primitiva,   de  judaica   que   era,   se   abriu   para   os   países   do  Mediterrâneo;   assim,   no   Concilio   Vaticano   II,   a  Igreja  sentiu  a  exigência  de  se  abrir  para  o  mundo  inteiro  (sentido  territorial  e  cultural).  Para  tanto,  é  necessário  que  a  Igreja  não  seja  movida  por  nenhuma  ambição  terrestre.  “Com  efeito,  guiada   pelo   Espírito   Santo   ela   pretende   somente   uma   coisa:   continuar   a   obra   do   próprio  Cristo  que  veio  ao  mundo  para  dar  testemunho  da  verdade,  para  salvar  e  não  para  condenar,  para   servir   e   não   para   ser   servido”   (GS   3).   Por   tudo   isso,   “para   desempenhar   tal  missão,   a  Igreja,  a  todo  momento,  tem  o  dever  de  perscrutar  os  sinais  dos  tempos  e  interpretá-­‐los  à  luz  do  Evangelho”  (GS  4).  

O   Papa,   na   última   Encíclica,   ao   falar   da   fé,   mostra-­‐nos   a   importância   da   missão   na  cidade:   “A   fé   não   afasta   do   mundo,   nem   é   alheia   ao   esforço   concreto   dos   nossos  contemporâneos.   (...)   A   fé   faz   compreender   a   arquitetura   das   relações   humanas,   porque  identifica  o  seu  fundamento  último  e  destino  definitivo  em  Deus,  no  seu  amor,  e  assim  ilumina  a  arte  da  sua  construção,  tornando-­‐se  um  serviço  ao  bem  comum.  (...)  A  sua  luz  não  ilumina  apenas  o  âmbito  da  Igreja,  nem  serve  somente  para  construir  uma  cidade  eterna  no  além,  mas  ajuda   também  a   construir  as  nossas   sociedades  de  modo  que  caminhem  para  um   futuro  de  esperança.   (...)   As  mãos   da   fé   levantam-­‐se   para   o   céu,  mas   fazem-­‐no   ao  mesmo   tempo   que  edificam,  na  caridade,  uma  cidade  construída  sobre  relações  que  têm  como  alicerce  o  amor  de  Deus”  (Lumen  Fidei,  51).  

Toda   a   nossa   dedicação   para   vivermos   em   paz   e   na   justiça,   em   nossas   cidades,   é  consequência  do  amor  a  Deus,  da  nossa  resposta  positiva  ao  mandato  missionário.  Assim,  à  luz   da   concepção   de   santo   Agostinho,   enquanto   não   se   chega   à   cidade   eterna,   temos   uma  responsabilidade  na  cidade  temporal;  pois  nos  situamos  entre  a  nossa  origem  e  o  nosso  fim.  Na  cidade  eterna,  a  tarde  do  último  dia  não  será  o  fim  do  dia,  mas  o  fim  do  dia  será  o  dia  do  Senhor.   Então,   “descansaremos   e   veremos,   veremos   e   amaremos;   amaremos   e   louvaremos.  Eis  a  essência  do  fim  sem  fim”  (A  Cidade  de  Deus,  XXII,  30).    Terceiro  dia:  A  MISSÃO  NAS  CASAS     O  missionário   é   aquele   que   tem   consciência   de   não   agir   em   nome   próprio,   mas   em  nome  de  Cristo.  O  missionário  dá  testemunho  de  Cristo.  Mas  como  poderia  o  missionário  dar  testemunho  do  Senhor  se  ele  está  vazio  de  Deus?  Assim,  o  missionário  é  aquele  que  sai  de  si  mesmo,   sem   jamais   sair   de   Deus.   Para   que   o   testemunho   do   missionário   seja   eficaz,   é  necessário  que  quem  o  veja,  veja  o  próprio  Cristo.  Como  dizia  o  apóstolo  Paulo:  “Já  não  sou  eu  que  vivo,  é  Cristo  que  vive  em  mim”  (Gl  2,  20).  O  missionário  antes  de  testemunhar  Cristo  com  a  palavra,  deve  testemunhá-­‐lo  com  a  própria  vida.     O  missionário  cristão  é  aquele  que  tem  a  sua  espiritualidade  enraizada  em  Jesus  Cristo,  acolhe  a  missão  como  dom  de   Jesus  Ressuscitado:   “Ide,  pois,   fazei  discípulos  meus   todos  os  povos,  batizando-­‐os  em  nome  do  Pai  e  do  Filho  e  do  Espírito  Santo,  ensinando-­‐os  a  observar  tudo   quanto   vos   mandei”   (Mt   28,   19-­‐20).   De   acordo   com   o   evangelista   Marcos,   Jesus  recomendou  aos  Onze:   “Ide  por   todo  o  mundo  e  pregai  o  Evangelho  a   toda  criatura  (Mc  16,  15).   Na   versão   lucana,   Jesus   recomenda   aos   Onze:   “permanecei   na   cidade   até   que   sejais  revestidos   da   força   do   alto”   (Lc   24,   49).   Em   seguida,   complementa   Lucas:   “recebereis   uma  força,  o  Espírito  Santo  que  virá  sobre  vós;  e  sereis  minhas  testemunhas  em  Jerusalém,  em  toda  

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a  Judéia  e  Samaria,  até  os  confins  da  terra”  (At  1,  8).  Por  fim,  em  João,  o  ressuscitado  diz:  “A  paz  esteja  convosco.  Como  o  Pai  me  enviou,  assim  também  eu  vos  envio”  (Jo  20,  21).  

A  ressurreição  de  Jesus  dá  ao  missionário  o  olhar  e  a  visão  de  Deus  sobre  o  mistério  do  seu  Reino;  por  ela,  o  discípulo  é  inserido  neste  mistério.  Assim,  a  missão,  antes  de  ser  resposta  aos  apelos  dos  homens,  é  acolhimento  do  dom  de  Deus.  A  partir  desta  compreensão,  emerge  a  consciência  de  que  não  é  o  missionário  que  leva  o  Evangelho,  mas  é  o  Evangelho,  a  força  de  Deus,  que  põe  o  missionário  a  caminhar.  

O   mandato   missionário   de   Jesus,   após   a   ressurreição,   apresenta-­‐nos   diferentes  maneiras  de  fazer  missão.  Cada  evangelista  retoma  o  modelo  de  missão  que  desenvolveu  ao  longo  do  seu  evangelho.  Deste  modo,  a  missão  é  plural.  Não  há  só  um  modelo  de  missão.  Para  Mateus,  a  missão  é  ensinante:  a  catequese  aparece-­‐nos  como  seu  esquema  mais  adequado.  O  símbolo  deste  modelo  é  a  montanha.  Para  Marcos,  a  missão  é  itinerante:  a  sua  característica  imponente  é  o  da  primeira  evangelização.  O  símbolo  deste  modelo  é  a  estrada.  Para  Lucas,  a  missão  é  testemunhante:  manifestada  sobretudo  pela  revelação  do  Espírito.  O  símbolo  deste  modelo  é  o  templo.  Para  João,  a  missão  é,  antes  de  tudo,  transformante:  transformar  a  vida,  transformar  o  mundo.  O  símbolo  deste  modelo  é  a  mesa.    

Enfim,  a  missão  é  múltipla,   e   toda  a   Igreja  é  missionária.  O  missionário  é   chamado  a  superar  o  desânimo,  a  timidez.  Quem  acolhe  o  missionário  acolhe  o  próprio  Cristo:  “Quem  vos  recebe,  a  mim  recebe,  e  quem  me  recebe,  recebe  aquele  que  me  enviou”  (Mt  10,  40).  

E  o  Papa  Francisco,  falando  aos  jovens,  nos  encoraja  a  estarmos  presente  em  todos  os  ambientes,  a  despertar  o  Cristo  no  coração  de   todas  as  pessoas.  Dizia:   “Para  onde   Jesus  nos  manda?  Não  há  fronteiras,  não  há  limites:  envia-­‐nos  para  todas  as  pessoas.  O  Evangelho  é  para  todos,  e  não  apenas  para  alguns.  Não  é  apenas  para  aqueles  que  parecem  a  nós  mais  próximos,  mais   abertos,   mais   acolhedores.   É   para   todas   as   pessoas   (...),   incluindo   quem   parece   mais  distante,  mais   indiferente.  O   Senhor  procura   a   todos,   quer  que   todos   sintam  o   calor  da   sua  misericórdia   e   do   seu   amor”   (Missa   pela   XXVIII   Jornada   Mundial   da   Juventude   em  Copacabana).  

Se  é  da  natureza  da  Igreja  que  ela  seja  missionária,  a  Igreja,  então,  não  existe  para  ela  mesma.  A  Igreja  existe  para  a  missão,  para  ser,  no  mundo,  sacramento  de  salvação  para  todas  as  pessoas.  Se  toda  a  Igreja  é  missionária,  devemos  todos  ser  educados  para  a  missão,  para  ir  ao  encontro  do  outro  nos  mais   variados  ambientes.  Educar  para  a  missão   significa  que  nos  desarmemos  de  nossos  preconceitos,  de  nossas  seguranças.  A  missão  não  é  nossa,  é  de  Deus.  É  o  Pai  quem  nos  envia  por  intermédio  do  seu  Filho.  Recordemos  uma  vez  mais  este  mandato:  “Como  o  Pai  me  enviou,  assim  também  eu  vos  envio”  (Jo  20,  21).  

Jesus   chama-­‐nos   para   si,   para   criarmos   intimidade   com   Ele.   Jesus   nos   educa,   e   nos  envia   para   criarmos   solidariedade   com   os   outros,   não   importa   quem   o   outro   seja,   que  ambiente  ele  frequenta.  Lembremo-­‐nos  das  palavras  do  apóstolo  Paulo:  “Não  te  deixes  vencer  pelo  mal,  mas  triunfa  do  mal  com  o  bem”  (Rm  12,  21).  

Jesus   nos   chama   e   nos   envia,   pois   Ele   “fez   assim   com   os   seus   discípulos:   não   os  manteve  colados  a  si,  como  uma  galinha  com  os  seus  pintinhos;  Ele  os  enviou!  Não  podemos  ficar   encerrados  na  paróquia,   nas  nossas   comunidades,   quando  há   tanta   gente   esperando  o  Evangelho!  Não  se   trata  simplesmente  de  abrir  a  porta  para  acolher,  mas  de  sair  pela  porta  fora  para  procurar  e  encontrar.  

Decididamente   pensemos   a   pastoral   a   partir   da   periferia,   daqueles   que   estão   mais  afastados,   daqueles   que   habitualmente   não   frequentam   a   paróquia.   Também   eles   são  convidados  para  a  Mesa  do  Senhor”(Missa  na  Catedral  de  S.  Sebastião).  

Quem  se  lança  em  missão  não  pode  esquecer  que  a  nossa  primeira  fala  é  com  a  vida.  O  testemunho   da   vida   é   tão   fundamental,   que   recordava   o   Papa   Paulo   VI:   “O   homem  contemporâneo   escuta   com  melhor   boa   vontade   as   testemunhas  do  que   os  mestres   (...),   ou  então  se  escuta  os  mestres,  é  porque  eles  são  testemunhas”  (EN  41).  A  propósito,  com  o  Papa  

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Paulo   VI   aprendemos   que   as   vias   da   missão   evangelizadora   são:   Testemunho   de   Vida;  Anúncio,  Catequese,  Sacramentos  (cf.  EN  41-­‐47).      

Bem-­‐aventurada  é  a  Igreja  que  se  põe  permanentemente  em  missão.  Bem-­‐aventurados  somos  nós  que  respondemos  positivamente  o  chamado  de  Deus.  Eis  as  bem-­‐aventuranças  do  missionário.  

Bem-­‐aventurado  o  missionário  que:  1) Vive  enamorado  de  Cristo,  que  se  fia  nele  como  o  mais  necessário  e  absoluto,  certo  de  

que  não  será  desiludido;  2) Cada  manhã  diz:  “Pai  nosso”,   levando  em  seu  coração  todas  as  raças,  povos  e  línguas,  

porque  não  se  conforma  com  uma  vida  mesquinha;  3) Mantém   vivo   o   seu   ideal   e   a   sua   utopia   pelo   Reino,   e   não   perde   tempo   com   coisas  

secundárias;  4) Nada  tem,  e  o  que  possui  gasta  no  serviço  de  seus  irmãos,  porque  Cristo  é  toda  a  sua  

riqueza;  5) É  obediente,  sabe  colocar  o  seu  ouvido  no  coração  de  Deus  para  escutar  seus  desejos,  

porque  o  Espírito  o  ajuda  a  discernir  os  acontecimentos;  6) Com  o   coração  puro   e   transparente,   sabe  descobrir   o   amor   e   a   ternura  de  Deus  nas  

pessoas  e  nos  acontecimentos  sem  complicações,  porque  Deus  sempre  se  revela;  7) Não   se   orgulha   de   seus   êxitos   e   reconhece   que   é   o   Espírito   que   faz   tudo   em   todos,  

porque  se  vê  livre  de  amarras;  8) Não  pode  viver  sem  a  oração  e  sem  saborear  as  riquezas  da  Palavra  de  Deus,  porque  

isto  dá  sentido  à  sua  vida;  9) Sabe   acolher   o   desafio   da   cruz   de   Cristo,   porque   ela   é   a   sua   tábua   de   salvação,   o  

trampolim  para  a  Páscoa  definitiva;  10) Tem  Maria   por  mãe   e  modelo   de  mulher   evangelizadora,   porque   ela   faz   com   que   o  

missionário  seja  o  primeiro  evangelizado.    Concretamente,  o  que  fazer  nas  casas?  1) Sempre   de   dois   a   dois,   se   apresentar   (exemplo:   Somos   Pedro   e   Paulo,   da   igreja  

Católica,  participamos  da  Comunidade  .....);  2) Viemos   trazer   uma   pequena   mensagem   pra   vocês,   mas   sobretudo   nos   colocar   à  

vossa  disposição,  colocar  a  nossa  Comunidade  à  vossa  disposição;  3) Vocês  conhecem  a  nossa  Comunidade?  (Deixar  que  as  pessoas  falem!)  4) Oração   de   benção   dependendo   das   circunstâncias   (casa,   doente,   grávida,  

aniversário).      Bibliografia  geral:  Compêndio  do  Vaticano  II  Exortação  Apostólica  Evangelii  Nuntiandi  Carta  Encíclica  Lumen  Fidei  Pronunciamentos  do  Papa  Francisco  no  Brasil  por  ocasião  da  JMJ  Curso  popular  de  história  da  Igreja  (A  missão,  vol.  1),  Paulinas,  São  Paulo,  1993.  Paulo  de  Coppi,  Por  uma  Igreja  toda  missionária,  Paulus,  São  Paulo,  1994.