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[Citao a ser feita]

SumrioIntroduo3Captulo I5Captulo II14Captulo III20

Introduo

Molto tempo fa pensavamo che il fascismo fosse una poesia, la poesia stessa del ventesimo secolo... DDT, Il mio fascismoO Fascismo permanece, como, das ideologias e dos termos polticos, dos mais usados e dos de maior dificuldade para definio. No somente pela degenerao do termo em uma espcie de xingamento, um adjetivo usado tanto a esquerda (e principalmente por esta) quanto pela direita o que leva J. Goldberg na introduo de Fascismo de Esquerda/ Liberal Fascism a brincar que (...) quanto mais algum usa a palavra fascista em sua linguagem cotidiana, menor a possibilidade de que saiba do que est falando usada para desqualificao de seus oponentes e suas ideias (George Orwell, autor de 1984, percebera tal tendncia j em 1946, quando dissera que a palavra fascismo no tem significado algum agora, exceto no tanto que designe algo no desejado.), tal dificuldade proveniente tambm do prprio carter da ideologia, conforme descrito por Robert O. Paxton:[footnoteRef:1] [1: Robert O. Paxton, A anatomia do Fascismo, Editora Paz e Terra, Trad. Patrcia Zimbres e Paula Zimbres, 2007, p.38]

Os ismos clssicos eram fundamentados em sistemas filosficos coerentes, formulados no trabalho de pensadores sistemticos. natural que, ao tentar explica-los, parta-se do exame de seus programas e das filosofias que os embasam.O Fascismo, ao contrrio, era uma inveno nova, criada a partir do zero para a era da poltica de massas. Ele tentava apelar sobretudo s emoes pelo uso de rituais, de cerimnias cuidadosamente encenadas e de retrica intensamente carregada.

Entre a citao que inicia o texto e O fascismo foi a grande inveno poltica do sculo XX, e tambm a origem de boa parte de seus sofrimentos[footnoteRef:2] com que Paxton inicia seu A anatomia do Fascismo h, independente da interpretao dada a ele, a clara identificao do Fascismo com o prprio esprito do Sculo XX. E no poderia ser diferente, j que o Fascismo, diferentemente de seus rivais Socialismo/ Comunismo e Liberalismo ideolgicos na disputa pelo sculo que atingiram suas maturidades entre o final do Sculo XVIII e meados do Sculo XIX, jamais poderia ser pensado at a ocorrncia da Primeira Guerra Mundial. [2: Ibidem, p.13]

Captulo I

O termo Fascismo encontra sua origem no fascio Italiano que por sua vez remonta ao fasces romano um machado cercado por varas que representara a autoridade e a unidade do Estado Romano e que posteriormente passara a ser usado por grupos de militantes e ativistas ( esquerda) como smbolo de fraternidade e solidariedade entre seus membros:Quando, em 1914, um grupo de nacionalistas de esquerda, aos quais veio a se juntar (...) Benito Mussolini, tentou levar a Itlia a participar da Primeira Guerra Mundial ao lado dos aliados, eles escolheram um nome cujo fim era comunicar tanto o fervor quanto a solidariedade de sua campanha: O Fascio Rivoluzionario dAzione Interventista[footnoteRef:3] [3: Ibidem, p.15]

Caso se pudesse situar uma data para o nascimento do Fascismo quando este adquire um nome esta se encontra h noventa e seis anos, na manh de 23 de Maro de 1919 na Piazza San Sepolcro, Em Milo reuniram-se algo em torno de cento e vinte a duzentas pessoas em sua maioria veteranos de guerra (especialmente ex-Arditi), intelectuais futuristas, sindicalistas que apoiaram a interveno italiana na Primeira Guerra Mundial e vrios dissidentes da Esquerda em torno de Benito Mussolini para a fundao do Fasci di Combattimento e de seu programa, divulgado meses aps, se se destaca por mostrar-se (...) uma curiosa mistura de patriotismo dos veteranos e de experimento social radical, uma espcie de nacional-socialismo, Martin Blinkhorn o descreve como (...) era republicano, anticlerical e democrtico, incitando descentralizao, ao sufrgio feminino, representao proporcional, ao confisco dos excessivos lucros de guerra, participao do trabalhador em toda a gesto industrial, ao controle dos servios pblicos pelos trabalhadores, nacionalizao da indstria de armas, ao salrio-mnimo com jornada de oito horas (...)[footnoteRef:4]. O movimento criado nessa data destacava-se no somente pelo nacionalismo, como tambm pela pr-disposio violncia, rejeio e desprezo pela sociedade como no momento se encontrava, bem como pelo anti-intelectualismo. [4: Martin Blinkhorn, Mussolini e a Itlia Fascista, Editora Paz e Terra, Trad. Ivone C. Benedetti, 2010, p.38-39]

Autores como Steven Pinker autor de Anjos bons de nossa natureza: por que a violncia diminuiu bem como o Conservador Jonah Goldberg remontam suas origens no Itlia do ps-guerra, mas, atravs do enfoque em certas caractersticas acabam por situ-la retroativamente na Revoluo Francesa, respectivamente dizem:Um modo melhor de entender os dois sculos passados, argumentou Michael Howard, v-los como uma batalha por influncia entre quatro foras humanismo esclarecido, conservadorismo, nacionalismo e ideologias utpicas que ocasionalmente se juntaram em coalizes temporrias. A Frana napolenica, como emergiu da Revoluo Francesa, tornou-se associada, na Europa, ao Iluminismo Francs. Na verdade, melhor classific-la como a primeira implementao do fascismo. Embora Napoleo realmente realizasse algumas reformas racionais, como o sistema mtrico e os cdigos de direito civil (...), na maioria dos aspectos ele voltou o relgio em relao aos avanos humanistas do Iluminismo. Assumiu o poder recorrendo a um golpe de Estado, (...), enalteceu a guerra (...).A Frana revolucionria e Napolenica, mostrou Bell, foi consumida pela combinao do nacionalismo francs com uma ideologia utpica. Essa ideologia, como as verses do cristianismo que a precederam e o fascismo e o comunismo que a sucederam, era messinica, apocalptica, expansionista e certa de sua retido. Via seus oponentes como irremediavelmente perversos, como ameaas existenciais que tinham de ser eliminadas em nome de uma causa santa[footnoteRef:5] [5: Steven Pinker, Os anjos bons de nossa natureza: por que a violncia diminuiu, editora Companhia das Letras, trad. Bernardo Joffily e Laura Teixeira Motta, 2011, p. 334-335]

Contando com o benefcio da viso retrospectiva, difcil entender por que algum duvida da natureza fascista da Revoluo Francesa. Poucos negam que ela tenha sido totalitria, terrorista, nacionalista, conspiratria e populista. Produziu os primeiros ditadores modernos, Robespierre e Napoleo, e baseava-se na premissa de que a nao precisava ser governada por uma avant-garde iluminada que serviria de voz autntica, orgnica da vontade geral. (...) Mas o que realmente fez da Revoluo Francesa a primeira revoluo fascista foi seu empenho em transformar a poltica numa religio[footnoteRef:6] [6: Jonah Goldberg, Fascismo de Esquerda, Record, 2007, p.21]

Natural que se tratasse ento de situ-lo no tradicional espectro poltico dos campos de Direita e Esquerda, eis que surgem as polmicas e dificuldades suscitadas pelo tema oriundas no somente da degenerao do termo em ofensa como observado por Orwell, somam-se a estas as nascidas da prpria ocorre com o Fascismo, diferentemente de seus rivais ideolgicos Liberalismo e Socialismo/Comunismo cujas localizaes, at mesmo pela oposio entre ambas, so consensuais, um fenmeno semelhante a uma partida de tnis de mesa em que permanentemente lanado entre Direita e Esquerda com o intuito de aproxim-lo de seus adversrios e ento atravs de grosseiras simplificaes, isolamento de certas caractersticas em detrimento do cenrio como um todo ou por vezes quaisquer um dos dois somadas pura desonestidade dar o rtulo de Fascista a quaisquer grupos como Liberais, Conservadores, Esquerdistas ou quem se queira chamar. Somadas descrio de Orwell ao fenmeno podemos trazer a piada que Douglas Harper fez no verbete fascism de seu dicionrio etimolgico que o termo aplicado a todos desde o surgimento da internet e a chamada Lei de Godwin (ou regra das analogias nazistas de Godwin) que nos diz que medida que cresce uma discusso online, a possibilidade de surgir uma comparao envolvendo Adolf Hitler ou o nazismo aproxima-se de 1.Uma obra Fascismo de Esquerda, de Jonah Goldberg merece destaque por representar uma curiosa manifestao do fenmeno, pois, ao mesmo tempo em que objetiva demonstrar a histria secreta do esquerdismo americano aproximando liberais (uso americano do termo) de fascistas chegando a cham-los de fascistas smiley ou de sobrinhos bem intencionados do fascismo europeu. O valor da obra que consta das referncias para a produo deste se encontra quase que to somente em sua introduo, quando demonstra a corrupo no uso e na significao do fascismo como termo pela Esquerda, remontando-a inicialmente aos anos de Stlin quando inmeros opositores receberam em seus currculos o rtulo de fascista geralmente cumulado com vinculaes a Trotsky e seguindo sua trajetria at a atualidade e o apontamento de Republicanos como tal. Contudo, Goldberg acaba por produzir sua prpria verso direita do fenmeno, ao que parece, como resposta ao que to bem denuncia, cabendo mencionar:Novamente, meu argumento que o Liberalismo americano uma religio poltica totalitria, mas no necessariamente do tipo orwerlliano. gentil, no brutal. Embala, mas no abala. Mas , indiscutivelmente, totalitria ou holstica, se preferirem no sentido de que o liberalismo no v hoje nenhuma rea da vida humana que no esteja investida de significncia poltica, desde que voc come at o que voc fuma e o que voc diz. (...)O fascismo liberal de esquerda difere do fascismo clssico em muitos aspectos. No nego isso. Na verdade, esse um ponto central de meu argumento. Os fascismos diferem uns dos outros porque crescem em solos diferentes. O que os une so seus impulsos emocionais ou instintivos, (...) Acima de tudo, partilham a crena que chamo de tentao totalitria de que, com a dose certa de experimentao, ns podemos realizar o sonho utpico de criar um mundo melhor[footnoteRef:7]. [7: Jonah Goldberg, Fascismo de Esquerda, p.23]

As outras duas ideologias, ou teorias polticas (como so chamadas por Alexander Dugin), e suas variantes podem ser vistas como representantes, cada uma, de um campo do tradicional mapa, estando assim o Liberalismo (primeira teoria poltica) Direita enquanto o Socialismo/ Comunismo (segunda teoria poltica) Esquerda, ao Fascismo caracterizado tanto por seu antiliberalismo quanto pelo anticomunismo restaria assim o Centro? Inicialmente, por eliminao, poder-se-ia considerar isso, contudo os partidos e aqueles situados ao Centro tambm foram alvos de desprezo por parte dos Fascistas adquirindo este, tambm, um carter anticentrista principalmente por sua tradicional suavidade (vista ento como fraqueza) e seu compromisso com a manuteno da situao (status quo). Voltemo-nos a autoimagem do Fascismo, este se via como uma Terceira Via, uma Terceira Posio para alm dos tradicionais campos Direita e Esquerda, tornando-os obsoletos tendo a concordar com estes quanto sua localizao transcendente no mapa, no posicionvel entre Direita ou Esquerda sem que seja por meio do destaque de aspectos especficos em detrimento da omisso de tantos outros.Enquanto as duas outras teorias polticas tm notrio carter internacionalista, o mesmo no se d, inicialmente, com o Fascismo, cujo entendimento divide-se entre aqueles, como Renzo de Felice, que preferem entender cada fenmeno como prprio e nico, rejeitando o termo fascista como uma categoria, entendendo o termo como particular ao movimento italiano e aqueles que, como Alexander Dugin e Robert O. Paxton identificam-no com uma Terceira Teoria Poltica que englobaria inmeros fenmenos sobre o genrico de fascista. Dentro do prprio Fascismo (Italiano) pode-se observar uma evoluo em direo ao entendimento da Internacionalizao do Fascismo. At a ocasio do Decennale, Mussolini repetira que o fascismo no se tratava de artigo de exportao, mas, medida que movimentos abertamente inspirados no fascismo comearam no somente a despontar pelo mundo como tambm ganharem destaque, tal discurso alterou-se. Em 1932 nota-se a publicamente a mudana no entendimento, podendo-se destacar duas ocasies, do artigo relativo ao Fascismo na Enciclopedia Italiana destaca-se Se cada sculo tem sua doutrina, parece, por mil indcios, que a do nosso o Fascismo e do discurso proferido em Outubro, na ocasio do Decennale da Marcha sobre Roma em que se dissera (...) Em dez anos, a Europa ser fascista ou fascistizada[footnoteRef:8]. [8: Pierre Milza, Mussolini, Editora Nova Fronteira, trad. Alessandra Bonrruquer e Gleuber Vieira, 2011, p.165]

No final de 1930 fora publicado na revista Antieuropa criada em 1928 por Asveror Gravelli, um esquadrista de primeira hora que posteriormente tornara-se um dos dirigentes da organizao da juventude fascista, a Opera Nazionale Balilla, cujo ttulo era uma manifestao de hostilidade Velha Europa artigo intitulado Verso LInternazionale fascista que explicara o ideal daqueles que a revista fundaram:Antieuropa a vanguarda do fascismo europeu. Seu objetivo unir os melhores elementos da Europa, encarnar as experincias do fascismo, alimentar o esprito revolucionrio fascista (...). A conquista do poder na Itlia foi s o incio de uma ao europeia[footnoteRef:9] [9: Pierre Milza, Mussolini, Editora Nova Fronteira, trad. Alessandra Bonrruquer e Gleuber Vieira, 2011, p.166]

Posteriormente, em 1932, Gravelli funda a revista Ottobre de subttulo Rivista del fascismo universale que acolhera em suas colunas representantes desses outros fascismos como Mosley, Quisling, Rosemberg e Len Daudet. Posteriormente, em 1933, criou-se os CAUR (Comitati dAzione per lUniversalit di Roma) que serviu, posteriormente, como organizao da Internacional Fascista, que oficialmente existiu entre os anos de 1933 e 1936, sendo feitas duas reunies: a primeira delas em Montreux em Dezembro de 1934 que reunira, entre outros, falangistas, camisas-azuis irlandeses, membros do Front Negro Holands, no total treze pases, alm da Itlia estavam representados e uma segunda vez em Paris com parte dos congressistas de Montreux. Apesar de a organizao ter sido abandonada no ano de 1936 e sua iniciativa oficial ter fracassado, em nada muda o carter internacional do Fascismo, validando assim o uso do termo como mnimo para as ideologias de Terceira Posio sem, contudo, ignorar as particularidades inerentes a cada movimento. Alexander Dugin, em A Quarta Teoria Poltica[footnoteRef:10], ao apresentar-nos as trs ideologias ou, como por ele nomeadas, teorias polticas, trata de associar a cada uma um sujeito histrico, Liberalismo e Socialismo/Comunismo respectivamente teriam o Indivduo e a Classe, porm, dada a especificidade do Nacional-Socialismo dentre os movimentos tidos como pertencentes Terceira teoria poltica, surge para o Fascismo dois sujeitos histricos: o Estado e a Raa o que acarreta debates sobre o carter fascista ou no do Nacional-Socialismo, seguiremos com o entendimento de que, apesar das especificidades, o Nacional-Socialismo seria fascista e no Fascista. [10: Alexander Dugin, A Quarta Teoria Poltica, Editora Austral, [citar ano e pgina]]

Captulo II

O sculo XX, como Era das Ideologias, encontra seu incio em meio Primeira Guerra Mundial, mais exatamente em 1917 por dois fatores: A entrada dos Estados Unidos na guerra ao lado da Trplice Entente, possibilitando o que pretendido fora por Ingleses e Franceses desde 1914 e que somente fora impedido pela presena do Imprio Russo entre estas: a justificativa da guerra como um confronto entre democracia e autocracia e a Revoluo Russa de Outubro, que mais tarde resultaria na Unio Sovitica e que materializara o Socialismo segunda teoria poltica sobre a outrora Rssia Czarista. Ao final da guerra, o mundo e, principalmente a Europa, viram-se divididos entre o Velho Mundo das Casas Reais e da poltica cavalheiresca que no mais poderia ser restaurado e um Novo Mundo sobre o qual disputavam.Trs foras polticas podem ser observadas quando se trata do Sculo XIX liberalismo, socialismo e conservadorismo porm, com a derrota das Potncias Centrais, esse ltimo da qual eram representantes junto com a Rssia Czarista perdera fora, tornando-se mera fora reativa, lutando para preservar seu status e para isso dispondo-se coalizes mais ou menos incmodas (com os liberais, como fizeram por vezes durante o Sculo XIX e, posteriormente com os fascistas), destas trs foras, somente as duas outras encontravam-se em condies de disputar o novo sculo. Sobre a primeira, diga-se que ao final do Sculo XIX j estavam frente dos governos ou em coalizes com Conservadores em toda a Europa e, sobre o novo mundo, pretendiam organiz-lo atravs de princpios expressos nos 14 pontos do presidente americano W. Wilson que expressavam os novos valores, sobretudo a Autodeterminao dos Povos que atuaria sobre os nacionalismos dos pequenos povos da Europa, negando os imprios anteriores (em continente europeu), satisfazendo seus anseios e encerrando assim as disputas por fronteiras (h de se lembrar de que a Primeira Guerra Mundial fora iniciada pelo nacionalismo srvio frente ao imprio da ustria-Hungria). Enquanto os Socialistas, aps bem sucedidos na Rssia, pretendera que diversas revolues-irms se seguissem desta, pretendendo-se, ao fim, uma sociedade comunista que transcendesse as fronteiras dos Estados Nacionais.No entanto, ambas fracassaram, o que se sucedeu paz de Versalhes foi a deturpao dos princpios Wilsonianos, gerando de um lado novos estados clientes dos vencedores inchados de modo a englobar diversas minorias nacionais, como a Iugoslvia, Tchecoslovquia e Polnia, acirrando as reinvindicaes territoriais, ao invs de cess-las e a espoliao dos vencedores sobre os vencidos, criando assim o nimo revanchista nestes e nos que, como a Itlia, haviam sido postos como vencedores de menor importncia na diviso dos esplios de guerra (vittoria mutilata). Enquanto o projeto de Lnin viu-se restrito Rssia aps tentativas revolucionrias como as ocorridas na Alemanha e na Hungria foram esmagadas e o exrcito vermelho detido em seu avano sobre a Polnia, no entanto, o fantasma de uma ameaa bolchevique continuara a rondar a Europa. O excerto de Churchill, Hitler e a Guerra Desnecessria de P. J. Buchanan demonstra adequadamente o esprito da chamada Paz de Versalhes:Quando os representantes alemes foram convocados a Paris para receber os termos dos aliados, ficaram impressionados com as amputaes que lhes seriam impostas. Eupen e Malmdy seriam tomadas da Alemanha e devolvidas Blgica. Alscia e Lorena seriam anexadas de novo Frana.Clemenceau tambm queria incorporar o Saar, mas Wilson o deteve. O Saar foi posto sob controle da Liga das Naes de fato, sob controle francs e suas minas de carvo entregues Frana. (...)O Porto de Memel, no leste prussiano, foi tomado pela Litunia. (...)A cidade porturia de Dantzig, integrante da Liga Hansetica e pertencente Alemanha por Sculos foi declarada cidade livre e posta sob administrao da Liga das Naes e controle da Polnia. A Prssia Oriental foi cortada da Alemanha por um corredor polons, que alocou milhes de alemes ao governo de VarsviaVersalhes arrancou da Alemanha um dcimo de sua populao e um oitavo de seu territrio. O imprio ultramarino alemo, terceiro maior do mundo, foi integralmente confiscado. (...) O Japo foi premiado com a concesso de Xantung e de todas as ilhas alemes ao norte do Equador. As ilhas alems ao sul do Equador foram destinadas Austrlia e Nova Zelndia. As colnias africanas da Alemanha foram distribudas entre frica do Sul, Inglaterra e Frana. Os rios alemes foram internacionalizados, e o pas foi obrigado a abrir seu mercado interno s importaes provenientes dos aliados, mas no recebeu igual acesso aos mercados dos vencedores.Com territrios perdidos e colnias confiscadas, a Alemanha sofreu a imposio de um duro baque para que no conseguisse voltar a combater. Foi proibida para sempre de construir carros blindados, tanques, artilharia pesada, submarinos ou uma fora area. A Esquadra de alto-mar foi capturada como butim de guerra, assim como a frota mercante. Sua fora naval deveria se restringir a seis pequenos encouraados, seis cruzadores leves, doze contratorpedeiros e doze lanchas torpedeiras. O comando militar foi abolido e o exrcito restringido ao nmero de 100 mil homens.[footnoteRef:11] [11: Patrick J. Buchanan, Churchill, Hitler e a Guerra Desnecessria, Editora Nova Fronteira, 2008, Trad. Vania Cury, p.63-34]

A primeira guerra mundial foi o evento mais destrutivo da histria at ento, a primeira das guerras a serem travadas em escala industrial, o nmero de vtimas da grande guerra foi dez vezes maior do que da Guerra Civil dos Estados Unidos, a mais sangrenta de todas as batalhas do Ocidente, no sculo XIX[footnoteRef:12] Charles L. Mee Jr. estima os mortos na casa de oito milhes e outros vinte milhes como feridos, doentes ou mutilados e levou consigo quatro imprios: Austro-hngaro, Russo, Turco-Otomano e Alemo. A guerra, contrariando o pensamento da poca de apenas sociedades primitivas poderiam suportar guerras de longa durao, prolongou-se por quatro anos atravs da mobilizao das massas e do esforo industrial servio nacional universal, racionamentos e administrao econmica estatal (contrastando com o laissez faire anterior), alm de experimentos direcionados manipulao da opinio pblica ao seu fim, a destruio somada a sensao de que todo esforo fora em vo acabara por desacreditar a Civilizao Ocidental, bem como a embriaguez do progresso que tomara o Ocidente por todo o Sculo XIX e disseminou legies de veteranos que (...) no tinham para onde ir, suas unidades se desfazendo, sem conseguir encontrar trabalho e nem mesmo comida[footnoteRef:13] e que jamais perdoariam os que para as trincheiras os haviam enviado, cuja fala de Italo Balbo serve para ilustrar o esprito destes: [12: Ibidem, prefcio XI] [13: Robert O. Paxton, A Anatomia do Fascismo, p.55]

Quando voltei da guerra, como tantos outros, eu odiava a poltica e os polticos que, em minha opinio, haviam trado as esperanas dos soldados, submetido a Itlia a uma paz vergonhosa e humilhao sistemtica dos italianos que mantinham o culto aos heris. Lutar, batalhar para voltar terra de Giolitti, que transformou em mercadoria todos os ideais? No. Melhor seria negar tudo, destruir tudo, para reconstruir tudo a partir das fundaes[footnoteRef:14]. [14: Ibidem, p.61]

Esses veteranos tenderam aos extremos em seu engajamento poltico, alguns deles como os que lutaram pela Repblica Sovitica de Munique, em 1919 voltaram-se ao Bolchevismo, enquanto outros se voltaram ao Nacionalismo que a guerra j disseminara como aqueles que, como Balbo, uniram-se Mussolini em seus Fasci di Combattimento ou os Freikorps alemes, que lutaram contra tentativas bolchevistas tanto na Alemanha como contra as incurses destes sobre as fronteiras no demarcadas no Bltico e na Polnia (em discusso). Em meio a esse cenrio surgiu a ideologia fascista como terceira competidora pelo novo sculo, buscando, ao seu prprio modo a reorganizao do mundo e dos conflitos tanto territoriais como de classe surgidos da guerra, uma terceira via dirigida contra a luta de classes os socialistas quanto dos valores cosmopolitas e individualistas dos liberais, ao buscar a criao de um movimento de massas de regenerao, atravs da cooperao de classes como remdio ao proposto pelos socialistas e o apelo ao fervor e unidade, bem como a utilizao de smbolos e tradies como remdio aos liberais.

Captulo III

No entanto, as origens do fascismo no se devem somente Primeira Guerra Mundial a as reaes ao cenrio que dela emergiu, estes dizem respeito mais s circunstncias em que os movimentos fascistas surgiram e determinada parcela dos programas de alguns desses movimentos do que sobre a ideologia em si, para esta se faz necessrio observar as dcadas finais do sculo XIX ou A Era dos Imprios modo que o historiador Eric Hobsbawm nomeia o perodo entre os anos de 1875 e 1914 pois nela ocorreram as transformaes polticas, sociais e econmicas que a possibilitaram, sobretudo nos pases em que, como Itlia, Espanha ou Alemanha, estes movimentos obtiveram grande importncia ou sucesso.As dcadas finais do sculo XIX so marcadas pela globalizao no que esta tenha surgido com a Era dos Imprios, mas tiveram nelas sua acentuao principalmente graas s inovaes tecnolgicas como os navios a vapor, os telgrafos e as ferrovias que resultaram na (...) criao de uma economia global nica, que atinge progressivamente as mais remotas paragens do mundo, uma rede cada vez mais densa de transaes econmicas, comunicaes e movimentos de bens, dinheiro e pessoas ligando os pases desenvolvidos entre si e ao mundo no desenvolvido[footnoteRef:15] que permitiu principalmente que a produo agropecuria fosse barateada ao ser transferida da Europa para s Amricas, sobretudo Central e do Sul, acarretando na falncia da agricultura tanto familiar quanto das velhas aristocracias em territrio europeu, provocando xodo rural no apenas em direo s Amricas como do Leste Europeu em direo a estas e Europa Central enquanto os produtos industrializados, graas s novas ferrovias passaram ento a penetrar s zonas perifricas destruindo assim o que restara dos antigos artesos. [15: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios: 1875-1914, Ed. Paz e Terra, 13 edio, Trad. Sieni Maria Campos, 2011, p. 106]

A agricultura foi a vtima mais espetacular (...) na verdade, alguns de seus setores foram os que sofreram depresso mais profunda de toda a economia e aquela cujo descontentamento teve consequncias polticas mais imediatas e de maior alcance. Sua produo, que havia aumentado muito no decorrer das dcadas precedentes, agora inundava o mercado mundial, at ento protegido contra a concorrncia estrangeira pelo custo elevado do transporte. (...) Em 1894, o preo do trigo era apenas pouco mais de um tero do que fora em 1867 um prmio esplndido para os compradores, mas um desastre para os agricultores e trabalhadores agrcolas, que ainda representavam entre 40% e 50% dos trabalhadores do sexo masculino nos pases industrializados ( exceo apenas da Inglaterra) e at 90% em outros. (...) Entretanto, as duas reaes no governamentais mais comuns foram a emigrao e a formao de cooperativa (...). Os anos 1880 conheceram as taxas mais elevadas de migrao ultramarina, no caso de pases de emigrao antiga (salvo o excepcional caso da Irlanda na dcada seguinte Grande Fome), e o incio real da emigrao em massa de pases como a Itlia, Espanha e ustria-Hungria, seguidos pela Rssia e pelos Blcs[footnoteRef:16]. [16: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios: 1875-1914, p.66-67]

O perodo tambm marcado pelo crescimento das cidades, apenas dezessete cidades europeias ultrapassavam a marca de cem mil habitantes no ano de 1800, enquanto estas ultrapassavam cem na dcada de 1890, isso, somado industrializao e quase hegemonia liberal com seu apelo ao individualismo, desprezo aos ditos coletivismos e cosmopolitismo tpicos provocariam o temor, at essa altura conservador da desintegrao da sociedade, da morte das tradies e da solidariedade comunitria que trouxe consigo a idealizao do campo como osis de tradio, dadas suas razes em tempos imemoriveis. Outro dos temores do perodo era fundamentado nas taxas de natalidade cada vez menores de que a Europa j tivesse atingira seu pice como civilizao e agora entrara em sua decadncia quando as massas desenraizadas e amontoadas em cidades perdem contato com o solo, pensam apenas em dinheiro e tornam-se incapazes de grandes atos[footnoteRef:17] que se traduz: [17: Robert O. Paxton, A Anatomia do Fascismo, p.70 em referncia obra O Declnio do Ocidente de Oswald Spengler]

A belle poque da burguesia iria portanto desarm-la. Os encantadores e inofensivos Elis, do romance de H. G. Wells, que passavam a vida se divertindo ao sol, ficariam merc dos escuros Morlocks de quem dependiam e contra os quais estavam desamparados. A Europa, escreveu o economista alemo Schulze-Gaevernitz, transferir o nus da labuta fsica primeiro o da agricultura e da minerao, depois as fainas mais rduas da indstria s raas de cor, contentando-se em viver de rendimentos, e talvez, neste sentido, preparar o terreno para a emancipao econmica, e mais tarde poltica, das raas de cor.

Esses eram os maus sonhos que tiravam o sono da belle poque. Neles, os pesadelos dos imprios se uniam ao medo da democracia[footnoteRef:18]. [18: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios: 1875-1914, p.138]

Necessrio se faz destacar os Imprios, no perodo, cerca de um quarto da superfcie terrestre encontrava-se distribuda entre um pequeno grupo de potncias que com exceo do Japo e dos Estados Unidos, o primeiro ingressaria entre estas ao conquistar territrios custa da China, da Coria e posteriormente do Imprio Russo enquanto o segundo obteria suas colnias formais e informais aps a vitria sobre o Imprio Espanhol em 1898 europeias, notvel era disparidade entre os nmeros de conquistadores e conquistados, o mais absurdo dos exemplos fora a ndia sob domnio britnico, onde cerca de seis mil funcionrios britnicos com o auxilio de pouco mais de 70 mil soldados europeus governavam em torno de 300 milhes de nativos. O status de grande potncia estava intrinsecamente ligado ao Imprio, aquelas naes que no o tivessem no eram dignas de assim seres A Itlia insistiu em tomar extenses decididamente desinteressantes de desertos e montanhas africanas, no intuito de dar respaldo sua posio de grande potncia; e, sem dvida, seu fracasso na conquista da Etipia em 1896 prejudicou essa posio[footnoteRef:19] e consigo trouxe o sentimento da superioridade da civilizao ocidental (europeia) e grandes exposies internacionais foram organizadas para que as naes expusessem seus triunfos cientficos, culturais, tecnolgicos e sobretudo coloniais: [19: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios: 1875-1914, p.114]

As exposies coloniais eram um sucesso. Os jubileus, funerais e coroaes reais britnicos eram ainda mais impressionantes porque, como os antigos triunfos romanos, exibiam marajs submissos com vestimentas preciosas livremente leais e no cativos. As paradas militares tornavam-se ainda mais coloridas por incluir sikhs enturbantados, rajputs bigodudos, gurkas sorridentes e implacveis, cavalarianos argelinos e altos senegaleses negros: o mundo que era considerado barbrie a servio da civilizao.[footnoteRef:20] [20: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios, p.119]

Mas esta superioridade era assentada em noes estritamente culturais, contudo, com a deturpao do que fora proposto por Charles Darwin em A Origem das Espcies (1859) uma parcela passaria ento a observar esse domnio europeu sobre grande parte do globo com a tica de raas superiores exercendo seu domnio de direito sobre as raas inferiores e o racismo passara ento a ter um verniz cientfico, na dcada de 1880 nascera a concepo de Eugenia por Francis Galton que sugerira que a seleo artificial utilizada por sculos na agricultura e na pecuria pudesse ser aplicada aos seres humanos no intuito de melhor-los, somando-se isso s descobertas do papel das bactrias no contgio e dos mecanismos de hereditariedade uniram-se ao anteriormente citado temor da decadncia popularizando entre governos programas de esterilizao e eutansia[footnoteRef:21] [footnoteRef:22]. Essa noo teve maior aceitao no norte da Europa que sobre o sul, nos ltimos se teria muito mais o entendimento de raa nos moldes histrico-culturais que sobre os biolgicos posteriormente pode-se observar isto na comparao entre os movimentos e ideologias Fascista (Itlia e similares) e Nazista, o segundo seria muito mais afeito a esta viso que o primeiro, no qual teria duvidoso apelo que ser discutido posteriormente. [21: Eric J. Hobsbawm A Era dos Imprios: 1875-1914, p.390-391 ] [22: Robert O. Paxton, A Anatomia do Fascismo p.71]

durante o que se chama de Era dos Imprios que se observa na Europa, como consequncia das Revolues de 1848, a criao do que pode ser chamada de poltica de massas: a participao de cidados comuns na poltica. Considerando que esta breve contextualizao tem como objetivo traar o cenrio que possibilitou o surgimento dos movimentos e das ideologias fascistas e as caractersticas destes, imprescindvel faz-se abordar tanto a poltica de massas quanto duas de suas consequncias: os movimentos e partidos operrios, de trabalhadores ou socialistas e o nacionalismo.Pode-se dizer que at o referido perodo, a poltica possua como fundamento a distino entre pas legal ainda no esprito de identificao da ao poltica como restrita aristocracia e, a partir dos fins do sculo XVIII tambm burguesia to intrinsecamente ligados s constituies e assembleias eleitas e soberanas, das quais esforava-se por desviar, sendo antidemocrtico; ou, mais exatamente, excluindo a maioria dos cidados do sexo masculino dos Estados, para no mencionar a totalidade das mulheres que neles habitavam[footnoteRef:23] e o pas real (le pays lgal, le pays rel), a poltica de massas representou a introduo deste quele, o qual era defendido pelas fortificaes da propriedade, pelas qualificaes educacionais para o voto e, na maioria dos pases, pelos privilgios aristocrticos institucionalizados, tais como as Cmaras de Pares Hereditrios[footnoteRef:24]. As crticas expanso do eleitorado por parte principalmente dos conservadores baseavam-se principalmente na capacidade e no senso de responsabilidade desses novos eleitores para decidirem e controlarem o destino da nao, ao ponto do polemista vitoriano Thomas Carlyle pergunta-se que fora seria capaz de disciplinar as massas empanturradas de cerveja e de insensatez, medida que um nmero cada vez maior de pessoas ganhava o direito de voto[footnoteRef:25], no entanto, altura da dcada de 1870, o processo de democratizao era inevitvel e alguns destes polticos da velha leva Liberais e Conservadores optaram, na tendncia oposta de seus pares, que era a manuteno da limitao do direito de voto queles que estas prerrogativas j possuam (por propriedade ou educao), passando ento a questo de manipulao ou limitao deste, como na Alemanha de Bismarck, onde os papis constitucionais do Reichstag (Parlamento Alemo) eram um tanto quanto reduzidas ou na diferenciao dos pesos dos votos aos mais instrudos como feito na Blgica, Itlia e nos Pases Baixos ou ainda atravs do voto nominal permitindo a presso sobre os eleitores e uma consequente sobrevivncia de elementos das oligarquias clientelistas tpicas da velha poltica regional na, sem dvidas, mais global e nacionalizada, nova democracia ou ainda atravs do aumento da idade mnima do eleitor que coincidia, geralmente, com a ampliao do eleitorado: [23: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios, p.140] [24: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios, p.140-141] [25: Robert O. Paxton, A Anatomia do Fascismo, p.69 referenciando a Thomas Carlyle, Prophet of Fascism, Journal of Modern History, v.17, n.2, p.103, jun.1945]

Sistemas eleitorais se baseavam em amplo direito ao voto e, s vezes, teoricamente, at no sufrgio universal masculino j existiam na Frana e na Alemanha, em 1870 (pelo menos para o Parlamento nacional alemo), bem como na Sua e na Dinamarca. Na Inglaterra, as leis da Reforma de 1867 e 1883 quase quadruplicaram o eleitorado, que se elevou de 8% a 29% para homens de mais de 20 anos. A Blgica democratizou esses direitos em 1894, aps uma greve geral realizada por essa reforma (o aumento foi de 3,9% para 37,3%, para a populao adulta); a Noruega dobrou essas cifras em 1898 (de 16.6% para 34.8%). Na Finlndia, uma democracia extensiva nica (76% de adultos) surgiu com a Revoluo de 1905. Na Sucia, o eleitorado dobrou em 1908, alcanando o nvel da Noruega. A metade austraca do Imprio dos Habsburgo recebeu o sufrgio universal em 1907, e a Itlia em 1913.[footnoteRef:26] [26: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios, p.141]

As consequncias da expanso do eleitorado esto nas mudanas na dinmica entre pas real e pas legal, aquele no s fora introduzido a este como tambm passasse a figurar como maioria dos eleitores, principalmente trabalhadores assalariados, cujos nmeros cresciam medida que o Ocidente industrializava-se e se urbanizava, estes trabalhadores eram empregados nas fbricas, no setor tercirio que se formava na esteira da industrializao e nos servios como os telgrafos e ferrovias. Estes trabalhadores vinham, sobretudo, de dois grandes setores do trabalho pr-industrial: a agricultura que ainda abrigava a maior parte das pessoas e as oficinas de artesanato que at fins do sculo XIX, produziam os mais familiares bens de consumo urbanos roupas, calados, mveis e assemelhados por mtodos artesanais[footnoteRef:27], que emigravam para as cidades graas no somente modernizao da agricultura, bem como pela j mencionada crise provocada pela transferncia da agricultura da Europa, sobretudo, para s Amricas Centrais e do Sul e a pela produo industrial suplantando os antigos mtodos artesanais em volume e participao. [27: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios, p.184]

Ao aproximar-se o trmino do sculo XIX, no havia pas industrializado, em fase de industrializao ou de urbanizao que pudesse deixar de tomar conscincia dessas massas de trabalhadores, historicamente sem precedentes e aparentemente annimas e desenraizadas, que formavam uma proporo crescente de seus povos e, ao que parecia, em aumento inevitvel; dentro em pouco seriam maioria. A diversificao das economias industriais, notadamente pelo aumento das ocupaes tercirias escritrios, lojas servios , estava apenas em seu incio, exceto nos EUA, onde os trabalhadores tercirios j superavam os de colarinho azul. Em outras partes parecia predominar um desenvolvimento contrrio. Cidades que em tempos pr-industriais foram habitadas principalmente por pessoas do setor tercirio pois at seus artfices eram tambm, geralmente, lojistas tornaram-se centros manufatureiros. Em fins do sculo XIX, cerca de dois teros da populao ocupada das grandes cidades (ou seja, das cidades de mais de 100 mil habitantes) trabalhavam na indstria[footnoteRef:28] [28: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios, p.186-187]

Concomitante implementao das polticas de democratizao do eleitorado, surgiram partidos de massas trabalhistas ou socialistas com intuito de represent-los. Enquanto em 1890, com a exceo do Partido Social Democrata alemo, mal chegavam a existir, por volta de 1914 existiam at mesmo nos Estados Unidos enquanto a ausncia, em 1906, causara estranheza, em 1912, o candidato do partido recebeu quase um milho de votos mesmo que nem todos obtivessem o ttulo de maiores partidos nacionais, como na Alemanha detendo at 35%-40% dos votos[footnoteRef:29] o avano era notvel, o partido francs elegera, em 1914, 103 deputados com seus 1,4 milhes de votos, o italiano obteve votao prxima a de um milho[footnoteRef:30] e na Austrlia, um partido trabalhista, participara na composio do governo desde 1912[footnoteRef:31]. [29: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios, p.188] [30: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios, p.189] [31: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios, p.188]

Contudo, a homogeneidade no era caracterstica destes novos eleitores, que englobava desde o operrio fabril/ industrial que figurava como centro da mitologia Marxista aos agricultores, queles que na produo artesanal, no comrcio, nas construes, nas ferrovias, telgrafos e nos demais servios pblicos trabalhavam. Muitos dos quais eram postos margem por no condizerem aos padres de proletrios dos puristas da mitologia marxista, como por exemplo, os camponeses. Um grupo em especfico requer destaque os pequenos que so descritos por Hobsbawm como: (...) uma ampla e mal definida coalizo de estratos intermedirios descontentes e incertos quanto ao que mais temiam -, se eram os ricos ou o proletariado. (...) Seu mundo era definido pelo tamanho, o mundo da gente pequena contra o dos grandes interesses, no qual a prpria palavra pequeno, tal como em homem pequeno, le petit commerant, der kleine Mann, tornou-se alm de um slogan, um toque de reunir. (...) Pequeno sim, mas no demasiado pequeno, uma vez que a pequena propriedade necessitava tanto de defesa contra o coletivismo quanto a grande propriedade[footnoteRef:32] [32: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios, p.146]

Estes, medida que tinham suas reinvindicaes polticas atendidas e viam-se ameaados pelo projeto revolucionrio da esquerda que ganhava forma acabariam por incorporarem-se s fileiras conservadoras.Sobre os Socialistas h de se comentar que sua incluso no cenrio democrtico trouxe consigo a participao destes em governos isso ocorreu pela primeira vez em 1899, quando Alexandre Millerand aceitou a cadeira do Ministrio do Comrcio, da Indstria e dos Servios Postais na Frana isso promoveu o desgaste da imagem destes com sua tradicional clientela pelas concesses feitas por estes diante dos governos, alm das conquistas tidas como poucas que provocariam a perda do monoplio do descontentamento por parte da Esquerda. O Nacionalismo figura, ao lado do surgimento dos Partidos de ndole socialista e trabalhista, como produto do processo de democratizao. O prprio termo Nacionalismo surge no perodo para a descrio de grupos ideolgicos que brandiam entusiasticamente a bandeira nacional contra os estrangeiros, os liberais e os socialistas[footnoteRef:33] o sentimento a que o termo se refere, a identificao emocional das pessoas com sua nao, muito embora somente agora adquirisse um termo prprio para identific-lo, pode ser apontado ao longo de todo o sculo XIX, como na Frana Revolucionria e Napolenica ou nas guerras e movimentos que tornaram autnomas Blgica, Grcia, Bulgria, Albnia e Srvia, bem como nos movimentos de unificao da Alemanha e Itlia. Acabou por tornar-se um substituto para princpio da nacionalidade que figurava na poltica europeia desde a primeira metade do sculo, expandindo-se para ento englobar os grupos que tinham a causa nacional como central em seus movimentos como aqueles que como poloneses e checos exigiam o direito autodeterminao, formao de um Estado Independente destinado a represent-los. [33: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios, p.228]

Destaca-se a ntima ligao do Nacionalismo com o fenmeno do Estado Nao, que veio a insuflar as reivindicaes daqueles que, como poloneses, checos e judeus, no possuam Estado prprio, o que ocasionou o desenvolvimento de conceitos diferentes de nacionalidade, onde a identificao de territrio e nacionalidade mostrava-se complicada, seja por serem povos que, como os judeus encontravam-se dispersos pelos diversos pases e no possussem Estado prprio A nacionalidade era (...) considerada inerente, no a um trecho especial do mapa ao qual estaria ligado um conjunto de habitantes, mas aos membros desses conjuntos, aos homens e mulheres que se considerassem pertencentes a uma nacionalidade, onde quer que por acaso estivessem.[footnoteRef:34]. Os conceitos de Nao e Territrio viriam a se unirem ao de Estado perfeitamente resumveis na fala do lder polons Jozef Pilsudski O Estado que faz a nao e no a nao, o Estado. Estas reivindicaes viriam a ser a sentena de morte dos multitnicos imprios da ustria-Hungria e Turco-Otomano. [34: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios, p.235]

O Nacionalismo encontra sua ascenso medida que a urbanizao alienou as pessoas das antigas e tradicionais instituies que antes as reuniam, como as aldeias e famlias que antes contingenciavam a maior parte da vida delas a comunidade real de seres humanos, que mantinham entre si relaes sociais e no uma comunidade imaginria que criaria uma espcie de liame entre membros de uma populao de dezenas hoje at de centenas de milhes de pessoas.[footnoteRef:35] vindo a nao preencher o vcuo por elas deixado. [35: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios, p.236]

Pois, com respeito poltica, Pilsudisky estava certo. O Estado no s fazia a nao, mas precisava fazer a nao. (...).. Poderiam requerer o compromisso pessoal ativo deles, e circunstancialmente mesmo o delas, com o Estado: de fato, o patriotismo de todos. As autoridades numa poca sempre mais democrtica, no podendo confiar mais na submisso espontnea das ordens sociais aos que lhes eram socialmente superiores, maneira tradicional, ou na religio tradicional, como garantia eficaz de obedincia social necessitavam de um modo de ligar os sditos do Estado contra a subverso e a dissidncia. A nao era a nova religio cvica dos Estados. Oferecia um elemento de agregao que ligava todos os cidados ao Estado, um modo de trazer o Estado-nao diretamente a cada um dos cidados e um contrapeso aos que apelavam para outras lealdades acima da lealdade ao Estado para a religio, para a nacionalidade ou etnia no identificadas com o Estado, e talvez, acima de tudo, para a classe. Nos Estados constitucionais, quanto mais as massas eram trazidas para a poltica atravs das eleies, tanto maior era o campo em que tais apelos se faziam ouvir.[footnoteRef:36] [36: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios, p.237]

Muito embora o apelo deste fosse mais significativo entre os estratos intermedirios da sociedade os pequenos cuja meno se deu em momento anterior este atingiu, inclusive, movimentos socialistas e trabalhistas, cujos carteres, principalmente dos primeiros, de abolio das fronteiras e lnguas em nome de classe, medida que a nao e os assuntos que dela decorriam foram ganhando importncia dentro da poltica.Contudo, no foram os Nacionalismos Clssicos dos agitadores de bandeiras (destinatrios originais do termo) que lograram xito na construo de apoio entre as massas, estes se caracterizam e distinguem-se quanto ao pblico e apelo daqueles que obtiveram xito em ser movimentos de ampla atrao de nacionalidade:O primeiro no lanava o olhar para alm do establishment ou da grandeza da nao. Seu programa consistia em resistir, expelir, derrotar, conquistar, submeter ou eliminar o estrangeiro. Tudo mais era sem importncia. Era suficiente afirmar a qualidade de irlands, ou a germanidade, ou a qualidade de croata do povo irlands, alemo ou croata, num Estado independente (...)Era isso que, na prtica, limitava sua atrao a quadros de idelogos e entusiastas e de militantes; s classes mdias informes em busca de coeso e autojustificao; e queles grupos (mais uma vez entre os pequenos homens que lutavam pela vida) que pudessem atribuir todos os seus descontentamentos aos malditos estrangeiros. E, claro, este nacionalismo atraa igualmente governos, que recebiam de braos abertos uma ideologia que dizia aos cidados que o patriotismo era suficiente.[footnoteRef:37] [37: Eric J. Hobsbawm, A Era dos Imprios, p.256]

Bem sucedidos foram aqueles movimentos que utilizaram o Nacionalismo como um dos elementos, no se limitando a ele, mas unindo-o a foras mobilizadoras tanto modernas (como o socialismo) como tradicionais (como a religio) sobre a ltima, h de se destacar o protagonismo do catolicismo entre os nacionalistas irlandeses e poloneses (povos igualmente desprovidos de Estado prprio como governados por povos de outras religies).Necessrio se faz antes de abordar certas experincias tericas e prticas de Nacionalismos Populares, reservar um tpico para a abordagem do antissemitismo no que este seja elemento intrnseco de movimentos do gnero, muito embora tenha sido utilizado como ferramenta de mobilizao popular.

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