Fórum de Juventudes - Rio de Janeiro

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  • 8/7/2019 Frum de Juventudes - Rio de Janeiro

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    F r J s Ri J ir

    Juventude e IntegRao Sul-ameRIcana:caracterizao de situaes-tipo e organizaes juvenis

    RelatRIo daS SItuaeS-tIpo BRaSIl

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    Frum de Juventudesdo Rio de Janeiro

    Coordenao

    Apoio

    Setembro 007

    Ana Karina Brenner - Observatrio Jovem do Rio de Janeiro/UFF (Coord.)Lia Dias de Alencar - Acadmica do curso de Pedagogia Faculdade de Educao/

    UFF e Observatrio Jovem do Rio de Janeiro)

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    Sumrio

    . Apresentao .........................................................................................................................................................................................

    . Contexto de escolha do Frum de Juventudes como uma situao-tipo brasileira ......................................................................

    . Os caminhos da pesquisa .....................................................................................................................................................................

    4. O Frum de Juventudes: o contexto de criao e suas aes atuais ....................................................................................................

    5. Consideraes nais .............................................................................................................................................................................

    Notas ..........................................................................................................................................................................................................

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    . Apresentao

    O Frum de Juventudes do Rio de Janeiro oi selecionado como uma situao-tipo por representar nova orma de articu-

    lao de organizaes e jovens em torno da discusso do tema da juventude. O tema relativamente novo na agenda pblica

    brasileira, surgindo com ora a partir dos anos 90. As organizaes que trabalham com jovens tambm comeam a dar seus

    primeiros passos na dcada de 90, quando aumenta signi cativamente o nmero de organizaes no-governamentais no

    cenrio nacional.

    Para Weber, os tipos ideais so modelizaes conceituais ou analticas sobre determinadas situaes ou grupos que po-

    dem ser utilizadas para compreender o mundo, para organizar as idias, delimitar e ordenar a in nidade de enmenos que

    compem o mundo da empiria. No mundo real, os tipos ideais raramente existem, eles servem como pontos xos de re ern-

    cia. Neste sentido, o Frum de Juventudes tomado como uma situao-tipo weberiana capaz de apresentar um tipo modelar

    de organizao de jovens que se articula em torno de projetos espec cos desenvolvidos por ONGs.

    O Frum de Juventudes composto por organizaes sociais que tm oco de ao espec co ou secundrio nos jovens.

    Agrega tambm organizaes de de esa de direitos, no necessariamente re eridos exclusivamente a jovens.

    Foi realizada pesquisa na internet para encontrar in ormaes sobre o Frum de Juventudes, notcias produzidas por ele

    ou sobre ele, notcias sobre juventude que citassem o rum e outros. As buscas no resultaram muito produtivas: oram encon-

    tradas duas notcias sobre a criao do rum por meio de um evento pblico. A pgina web criada por ocasio do relanamento

    do Frum no se encontra mais disponvel, o endereo aparece em notcias de outras organizaes sobre a criao do rum,

    mas ele no estava acessvel . Mais do que troca de in ormaes, a pgina da internet um lugar na grande rede. A no-existn-

    cia desse espao expressa, alm de baixa capacidade organizativa do rum para possibilitar a troca de in ormaes entre seus

    participantes, as limitaes de sua visibilidade na es era pblica relacionada ao tema das polticas de juventude.

    Para a coleta de dados oram realizadas entrevistas com jovens e com lideranas, entendidas como jovens ou adultos que

    representam institucionalmente as organizaes que azem parte do rum. Partiu-se de uma pessoa re erncia do rum lider-

    ana que sabidamente az parte desse grupo desde sua criao para, com base nas indicaes dela, obter nomes e contatos deoutras lideranas de jovens que seriam entrevistadas individualmente ou em grupo. A inteno inicial era realizar cerca de trs

    entrevistas individuais com lideranas, trs entrevistas individuais com jovens e um grupo ocal tambm com jovens. A realiza-

    o de entrevistas individuais e em grupo com jovens se justi cava pelo ato de serem os jovens o oco principal da pesquisa.

    Com as entrevistas individuais seria possvel apro undar aspectos mais espec cos relativos histria do rum e participao

    do jovem, alm das expectativas e dos sentidos atribudos pelos jovens participao nesse coletivo. O grupo ocal permitiria a

    coleta de outro tipo de dados, que expresso por jovens num momento de troca coletiva de idias e opinies.

    O in ormante inicial da pesquisa nos orneceu uma lista com quatro lideranas e dez jovens que poderiam ser entrevis-

    tados. Foram realizadas entrevistas com o in ormante inicial e com trs dos indicados. A entrevista com o quarto indicado oi

    marcada e desmarcada duas vezes pelo prprio integrante do rum e a nal no se realizou. Durante as entrevistas as lideranaseram solicitadas a indicar as pessoas que consideravam importante que ossem entrevistadas para remontar a histria do rum.

    Nesse processo uma liderana surgiu alm das quatro inicialmente indicadas e oi entrevistada.

    Alguns dos jovens indicados no tinham tele one nem se encontravam engajados em um programa ou projeto ( oram in-

    dicados por j terem eito parte de projetos e participado de atividades do rum), o que di cultou o contato para agendamento

    de entrevista ou grupo ocal. Tendo a inteno de realizar trs entrevistas individuais e um grupo ocal com jovens di erentes

    (jovens entrevistados no seriam chamados a participar do grupo ocal), a indicao de apenas dez jovens tornou a tare a di cil.

    Assim, decidiu-se azer apenas uma entrevista individual, realizar o grupo ocal e, com este, obter novas indicaes. Na entrev-

    ista realizada a jovem no soube indicar outros jovens, alm dos que j estavam indicados; ela a rmou que na organizao da

    qual az parte apenas ela participa do rum e no tem muito contato com os jovens das outras organizaes. Ao longo das

    entrevistas oi possvel perceber que esse no oi um depoimento isolado e nico. So poucos os jovens das organizaes que se

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    envolvem no cotidiano do rum, e quando se realizam os Encontros de Galeras normalmente participam os jovens que moram

    na regio, no h participao constante do mesmo grupo de jovens; as participaes so espordicas. Isso traz como conse-

    qncia a alta de acmulo e memria em uno da rotatividade dos participantes.

    Aps a primeira entrevista se iniciou o processo de convite dos jovens para participao no grupo ocal. Eles haviam sido

    avisados, segundo a liderana que os indicou, sobre a realizao da pesquisa e sobre o convite que receberiam para participar do

    grupo ou dar entrevista. No momento do contato pelas pesquisadoras, no entanto, alguns se mostraram reticentes em participar.

    Uma jovem contatada disse que teria de conversar com seu grupo para decidir se participaria ou no e, alguns dias depois, in or-

    mou que no participaria pois avaliou, com seu grupo, que no teria muito a contribuir ou a in ormar em relao ao Frum de

    Juventudes. Dois jovens no puderam ser contatados por no terem tele one ou por no ter sido possvel localiz-los com as in or-

    maes de que dispnhamos. O agendamento da entrevista individual en rentou os mesmos obstculos, e s oi possvel marc-la

    porque a responsvel pela organizao, que tambm seria entrevistada como uma das lideranas, encarregou-se de marcar a data

    com a jovem.

    O grupo ocal oi agendado para ser realizado em local central da cidade, de cil acesso por transporte pblico. Seis jovens

    con rmaram presena e nenhum alegou qualquer tipo de di culdade para se deslocar ou di culdades em relao ao horrio

    agendado. No dia marcado, entretanto, apenas dois jovens compareceram. Na impossibilidade de realizar um grupo ocal com

    uma dupla, a pesquisadora aproveitou a presena dos dois para entrevist-los. Ainda que no tenha sido possvel realizar o

    grupo ocal, a entrevista com os dois jovens oi bastante produtiva. Um deles j participava do rum h vrios anos desde sua

    origem e ainda antes, nas mobilizaes que antecederam sua criao e o outro participava h apenas alguns meses. Os dados

    resultantes do dilogo desses dois jovens so bastante signi cativos para compreender os impactos e as limitaes do Frum

    de Juventudes e sero apresentados adiante neste relatrio.

    Dada a di culdade de contato com os jovens e as poucas indicaes obtidas, decidiu-se por no montar o grupo ocal e

    manter apenas as entrevistas individuais com jovens, assim como eito em relao s lideranas.

    Alm das entrevistas oram eitas observaes durante dois Encontros de Galeras, que so encontros temticos de jovens

    que j participam e momento de atrair mais jovens para o rum. Tambm oram realizadas observaes durante duas reuniesordinrias do rum. Dessas reunies participam principalmente lideranas geralmente adultos; poucas so as lideranas

    jovens das organizaes participantes do rum. Tambm houve a participao da pesquisadora principal em um mdulo do

    curso de ormao para jovens, promovido pelo rum.

    Durante a pesquisa, o Frum de Juventudes organizou um curso, anunciado em uma das reunies ordinrias, cujo obje-

    tivo principal era promover a ormao dos jovens participantes do rum, a m de in orm-los especi camente sobre o tema

    das polticas de juventude. O curso oi planejado para ser realizado durante alguns sbados ao longo do segundo semestre.

    Dessa orma, oi possvel estar presente ao primeiro encontro, que reuniu cerca de 5 jovens e alguns adultos, especialmente

    de organizaes que ainda no so integrantes ativas do rum. Chama a ateno o ato de ser utilizado o curso de ormao

    como meio de agregar mais organizaes ao rum ao mesmo tempo que se percebe baixa participao de jovens e de lider-anas das organizaes e etivamente participantes, numa contradio em relao ao que havia sido exposto em reunio. Este

    parece ser outro paradoxo do rum na medida em que os jovens a rmam no conhecer bem as de nies de polticas pbli-

    cas de juventude, os objetivos e metas do rum e suas ormas de organizao, e observa-se que os jovens que ocuparam o

    curso de ormao oram outros que no os j participantes do rum. Dois jovens entrevistados in ormaram que souberam

    da realizao do curso, que gostariam de participar dele, mas no haviam recebido in ormaes sobre data, local e orma de

    inscrio. Nenhum dos dois esteve presente no primeiro dia do curso.

    . . A juventude em pauta no Brasil e as polticas pblicas de juventude

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    H um campo complexo e diversi cado de participao social e aes pblicas re erido aos jovens, no qual a categoria

    juventude assume mltiplas representaes. Um dos desa os da constituio de polticas pblicas de juventude compreender

    as singularidades do ciclo de vida dos sujeitos jovens e alterar o campo simblico das representaes dominantes da sociedade

    sobre a juventude. De nir a singularidade da juventude perante outras aixas de vida e considerar a diversidade interna do ciclo

    de vida juvenil ainda se apresentam como desa os para a ao de uma multiplicidade de atores governamentais e da sociedade

    civil envolvidos com o campo das polticas e dos direitos de juventude no Brasil.

    mais comum que a opinio pblica enxergue a juventude como momento de vida que onte de preocupao social;

    menos reqente que os jovens sejam vistos como atores capazes de atuar na busca de superao de problemas que os atingem

    diretamente. Esta matriz representacional pode ser identi cada como a origem das polticas de carter de assistncia e preven-

    o nas quais os jovens se situam como clientela e no como cidados com direitos determinados e adequados ao seu ciclo de

    vida.

    Nos ltimos dez anos emergiu uma nova gerao de aes pblicas que se orientou para a construo de um espectro de

    ao programtica, institucional e legislativa, buscando ampliar o campo de proteo social at ento de nido no marco etrio

    superior 8 anos do Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA). A constituio de um campo consistente de polticas pbli-

    cas destinadas aos jovens en renta as di culdades originadas na alta de acmulo terico-conceitual, na incipiente sociedade civil

    mobilizada para o tema da juventude, na ragilidade institucional e na ragmentao dos discursos e representaes dominantes

    no mbito dos di erentes ministrios e secretarias de governo. Em grande medida procura-se avanar na superao da histria de

    polticas integrativas e assistencialistas dirigidas aos jovens e consolidar um campo de polticas participativas nas quais os jovens se

    apresentem como sujeitos de direitos.

    Em que pesem as boas intenes, na prtica, contudo, a participao juvenil em torno das polticas pblicas tem tido

    pouco impacto nas aes pblicas governamentais e de organizaes sociais dirigidas aos jovens. A criao de rgos gestores e

    assessores nas pre eituras, governos estaduais e governo ederal orientados para a pauta das polticas de juventude obscureceu,

    em certa medida, a visibilidade dos atores juvenis na es era pblica. Os gestores de polticas e programas, em muitos casos, no

    se restringiram a ser mediadores pblicos e assumiram de orma inadequada o papel de representantes das demandas pblicasjuvenis. Da mesma maneira, organizaes sociais de misso institucional orientada para a questo da juventude, notadamente

    para os considerados em situao de risco social, desenvolveram estratgias nas quais os jovens se constituem como objetos de

    ao voltados ormao para a cidadania e insero no mundo do trabalho. Ainda se encontra longe do horizonte majoritrio

    das polticas e lgicas sociais de interveno a perspectiva de consagrar o tempo livre e a autonomia de sua ocupao como

    um direito bsico de juventude. A ausncia de canais de participao no mbito da ormulao das polticas de juventude az

    com que as diretrizes ainda se apresentem majoritariamente sob a gide da prescrio e da intuio adulta sobre quais seriam

    as principais necessidades dos jovens.

    A ampliao das es eras pblicas participativas se apresenta, ento, como desa o para a consagrao de direitos que se-

    jam a expresso das demandas reais dos sujeitos jovens. Nesse sentido, poltica pblica de juventude no se expressaria apenascomo a o erta de servios sociais, mas como a constituio de es era social pblica intergeracional, na qual os jovens encon-

    trariam as condies para dialogar sobre suas contradies, necessidades, potencialidades e interesses espec cos. As polticas

    pblicas no dariam, ento, n ase na transio para a vida adulta, mas seriam tambm polticas para o tempo presente que

    incorporariam a dimenso de uturo ao avorecer a construo de alternativas de emancipao pessoal e social.

    Algumas iniciativas pblicas, contudo, desenvolvidas especialmente no nvel das administraes municipais estimularam

    coletivos juvenis a se envolverem em es eras pblicas participativas com vistas de nio de polticas pblicas. Este oi o caso

    das administraes que envolveram jovens nos denominados oramentos participativos em algumas cidades brasileiras. Cabe

    destacar que na regio metropolitana do Rio de Janeiro esse movimento de aproximao dos jovens com a administrao mu-

    nicipal s se iniciou, e ainda de orma incipiente, h cerca de trs anos nos municpios de Niteri e Nova Iguau.

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    Um leque amplo de atores e instituies contribuiu para que o tema da juventude ganhasse destaque e especi cidade

    tanto na es era pblica quanto nos desenhos de polticas em todos os nveis da administrao. Entram em cena, reivindicando

    a incluso do tema da juventude na pauta poltica, novos atores juvenis, notadamente os de recorte cultural, em conjunto com

    organizaes juvenis de atuao tradicional, tais como entidades estudantis e partidrias, di erentes organizaes da sociedade

    civil e outras vinculadas s instituies de pesquisa e tambm setores da mdia interessados na temtica juvenil.

    Abramo, em 0044, a rmou que aqueles que estavam debatendo as polticas de juventude teriam chegado a alguns

    consensos: a) da necessidade de avanar na compreenso conceitual sobre os jovens e a juventude; b) da necessidade de

    conquistar outros setores da sociedade que ainda no se incorporaram ao debate; c) da necessidade de que o tema da juven-

    tude ganhe a densidade que o ECA conquistou na sociedade.

    As redes e runs de juventude assumiram papel destacado no debate sobre as polticas pblicas de juventude e con-

    triburam para a diluio do predomnio de uma nica lgica hegemonizada por grupos e organizaes.

    Na dcada de 90 ganham visibilidade novas prticas coletivas juvenis cujos traos mais signi cativos se orientam para as di-

    menses culturais e simblicas e para o a astamento das ormas tradicionais de organizao social que caracterizaram os jovens em

    dcadas anteriores. Con gura-se um novo quadro de redes de ao social caracterizadas pela exibilidade e a descentralizao que

    engendra novas ormas de engajamento poltico, que se distinguem da denominada militncia total, que caracteriza a participao

    nos partidos polticos.

    preciso destacar, contudo, a relevncia que a militncia juvenil de partidos polticos, principalmente de esquerda e cen-

    tro-esquerda, e setores organizados do movimento estudantil tiveram na incluso do tema da juventude nas pautas polticas

    dos partidos e administraes pblicas estaduais e municipais, principalmente na dcada de 90.

    A busca pela incorporao das demandas dos jovens muncipes nas polticas pblicas aproximou gestores dos jovens das

    cidades por meio de iniciativas como: runs de juventude, oramentos participativos jovens, pesquisas de opinio, inventrios

    ou mapas sobre grupos culturais, reunies in ormais entre gestores e grupos organizados e, mais recentemente, a criao de

    Conselhos Municipais de Juventude em algumas cidades.

    Nessa interao entre governo e sociedade, assim como jovens trouxeram novas lgicas e prticas para o interior da m-quina pblica, as administraes locais geraram demandas de participao entre os jovens das cidades ao criarem lcus no

    governo para o acolhimento de reivindicaes e ao estimularem a criao de espaos de discusso para polticas pblicas. Em

    alguma medida, o poder pblico juvenilizado ez tambm surgir o ator juvenil como oco e sujeito para as polticas.

    . . A juventude na agenda nacional

    O debate sobre polticas pblicas de juventude no Brasil bastante recente. H mesmo dvida se j possvel alar em

    e etiva implementao de tais polticas. Graa Rua ( 998) ez um balano, em meados da dcada de 90, sobre as polticas ed-erais e constatou que no havia destinao espec ca para o pblico jovem, uma vez que elas eram destinadas ao conjunto da

    populao.

    Podem-se destacar trs perodos de emergncia de aes governamentais no mbito ederal para a populao jovem: a)

    a promulgao da Constituio Federal de 988 e do Estatuto da Criana e do Adolescente em 990; b) o segundo mandato do

    governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) ( 999- 00 ); c) o incio do governo Lula.

    Estudo de Spsito e Carrano ( 00 ) identi cou, no nal de 00 , programas/projetos governamentais, dos quais 8

    oram criados no segundo mandato de FHC, mostrando que a temtica ganhou a agenda pblica, ainda que tenham sido aes

    ragmentadas, com pouca articulao entre di erentes setores, pouca consistncia conceitual e precariedade de programao

    e execuo. Outra caracterstica desse perodo se re ere ocalizao das aes em segmentos jovens considerados vulnerveis

    e em situao de risco social. Programas como o Agente Jovem de Desenvolvimento Local, que continua a ser desenvolvido

    mesmo depois da mudana de governo, oram marca desse perodo.

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    O tema da juventude no representou, no incio do governo Lula (janeiro de 00 ), prioridade poltica capaz de superar

    as ausncias, inconsistncias e ragmentaes dos governos anteriores. Somente em outubro de 00 o governo ederal gerou

    uma ao destinada populao juvenil, o Programa Nacional de Estmulo ao Primeiro Emprego para os Jovens PNPE. Esse

    programa, no entanto, no logrou alcanar os resultados esperados e oi o cialmente interrompido em 007.

    Levando em conta a pluralidade de orientaes polticas e propostas nacionalmente circulantes, um consenso parece

    emergir: a necessidade de que os(as) jovens sejam sujeitos ativos no processo ainda inicial de de nio de polticas nacionais

    dirigidas aos setores juvenis da populao brasileira.

    O cenrio de participao juvenil marcado por ambigidades e variadas culturas polticas. Pesquisas diversas indicam baixa

    participao dos(as) estudantes nas entidades estudantis, pouco envolvimento de jovens em atividades e organizaes polticas e

    crescente declnio do alistamento eleitoral dos(as) jovens entre e 7 anos. Por outro lado, tm-se tambm dados que apontam

    que os(as) jovens participam da vida social pblica por meio de distintas ormas associativas, especialmente aquelas que se relacio-

    nam com a cultura, a diverso e a religiosidade. Os baixos ndices de associao da juventude s instituies sociais, notadamente

    polticas, acompanham tendncia do conjunto da populao. Estudo desenvolvido em 004 pelo Instituto Cidadania aponta que

    apenas 5% dos jovens entrevistados em uma pesquisa de opinio 5 aziam parte de algum grupo, seja esportivo, religioso, poltico

    ou cultural.

    . . Participao poltica dos jovens: as es eras de participao

    Trs processos de abrangncia nacional pautaram o debate sobre as polticas pblicas de juventude no Brasil no comeo

    do primeiro governo Lula: o Projeto Juventude do Instituto Cidadania, a Comisso Especial de Polticas Pblicas de Juventude da

    Cmara dos Deputados (Cejuvent) e o Grupo Interministerial de Juventude.

    O Projeto Juventude do Instituto Cidadania teve incio no primeiro semestre de 00 e encerrou suas atividades em maio

    de 004, aps a realizao de seminrios regionais em dez estados brasileiros (Esprito Santo, Par, Minas Gerais, Distrito Federal,Rio Grande do Sul, Piau, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Goinia e Pernambuco), alm de 0 o cinas temticas abrangendo temas

    como violncia, desigualdade racial, jovens mulheres, drogas, trabalho, juventude partidria, sade, esporte, mdia e cultura.

    possvel a rmar que o Projeto Juventude oi capaz de criar sinergia entre atores que at ento se encontravam dispersos na

    arena social pblica do tema das polticas de juventude. Os resultados dos seminrios e discusses ocorridos no mbito do Pro-

    jeto Juventude oram trans ormados em um documento-proposta entregue ao presidente da Repblica.

    Os trabalhos da Comisso Especial Destinada a Acompanhar e a Estudar Propostas de Polticas Pblicas para a Juventude

    (Cejuvent) tiveram incio em abril de 00 . Dois grandes encontros reuniram cerca de .500 jovens de todo o Brasil em 00 e

    004. O primeiro deles oi o Seminrio Nacional de Polticas Pblicas para a Juventude, realizado como parte das comemoraes

    da Semana Nacional do Jovem. O segundo oi a denominada Con erncia Nacional de Juventude, realizada em junho de 004.Ambos marcam o incio e o nal de um processo de consulta pblica que contou, ainda, com con erncias estaduais, organiza-

    das e coordenadas pelos deputados ederais dos respectivos estados. Elas tiveram como objetivo promover um dilogo mais

    direto com um maior nmero de jovens. Pretendeu-se, ao nal de cada uma delas, elaborar uma Carta do Estado, apresentando

    as expectativas dos(as) jovens, bem como propostas para polticas nacionais de juventude. preciso ressaltar que este processo

    en rentou muitos percalos e crticas por parte de organizaes, movimentos e grupos juvenis que denunciavam a interdio da

    participao e a pouca transparncia no processo. Fruns e movimentos lanaram cartas e mani estos Brasil a ora denunciando

    tais di culdades alguns exemplos so o Mani esto juventude paraibana e a Carta aberta do Rio de Janeiro7.

    No mbito dessas mobilizaes levadas a termo por agentes do Estado (Cejuvent e Grupo Interministerial) ou muito prxi-

    mos a ele (Instituto Cidadania), iniciaram-se mobilizaes da sociedade civil a m de criar espao de discusso do tema da juven-

    tude a partir das iniciativas de ONGs, grupos e movimentos juvenis. Em maio de 004 oi eita uma reunio que props a criao

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    de uma rede nacional de juventude. Durante a Con erncia de Juventude, realizada pela Cmara dos Deputados, lanou-se o

    mani esto de criao do Frum Nacional de Movimentos e Organizaes Juvenis (FNMOJ). O mani esto oi assinado por mais de

    50 instituies de di erentes setores sociais (culturais, partidrios, religiosos etc.) de todo o Brasil. O rum pretendia se constituir

    em rede nacional interlocutora dos poderes pblicos para a proposio de polticas pblicas de juventude. A alta de recursos

    nanceiros, de estrutura e a di culdade de deslocamento de jovens e lideranas a m de serem eitas reunies e encontros de

    discusso oram empecilhos para a mobilizao. O rum se mantm at hoje com um grupo de discusso virtual, mas nunca

    logrou xito em seu desejo de organizar um encontro nacional que consolidasse sua criao.

    O Poder Executivo ederal tambm criou espao de interlocuo com atores juvenis em maro de 004, por meio do Grupo

    Interministerial de Juventude, responsvel por de nir uma poltica nacional integrada de juventude a ser apresentada ao presi-

    dente da Repblica. O Grupo Interministerial coletou dados censitrios sobre os jovens do Brasil, tomou conhecimento daquilo

    que oi produzido no mbito do Projeto Juventude e da Cejuvent e, ao nal de cerca de um ano de trabalho, oi extinto para dar

    lugar criao da Secretaria Nacional de Juventude e do Conselho Nacional de Juventude. O Conselho Nacional de Juventude j

    completou dois anos de existncia e prepara-se para lanar o processo de renovao dos representantes da sociedade civil. Em

    breve sero lanadas as regras do processo e este certamente ser mais um marco da mobilizao de atores juvenis em busca

    da possibilidade de ocupar uma vaga no conselho, que tem como objetivo propor e monitorar as polticas nacionais de juven-

    tude.

    Cabe ressaltar que as aes do Projeto Juventude e da Cejuvent aconteceram num contexto de incipiente cultura de par -

    ticipao e conscincia da necessidade da garantia de direitos e polticas pblicas espec cas para a juventude no Brasil com

    idade superior a 8 anos. Um dos desa os a ser en rentado pelos di erentes atores sociais e polticos envolvidos nesse debate

    diz respeito criao de processos de conscincia social e mobilizao similares aos que contriburam para a promulgao do

    Estatuto da Criana e do Adolescente na dcada de 90. Tais processos de mobilizao sero undamentais para determinar uma

    consolidao de qualidade do Conselho Nacional de Juventude e dos conselhos estaduais e municipais que esto sendo criados

    no Brasil.

    No Rio de Janeiro, ao mesmo tempo que ocorriam as mobilizaes nacionais emergiram algumas experincias que ten-taram articular jovens e produzir propostas de polticas pblicas. Destacam-se a atuao da Comisso de Direitos Humanos da

    Alerj, quando presidida pelo deputado Alessandro Molon, e depois a criao, pelo mesmo deputado, da Comisso Especial de

    Polticas Pblicas de Juventude, que segue atuando at hoje.

    .4. Mobilizaes sociais e surgimento das ONGs no Brasil

    A ditadura militar que se estabeleceu no Brasil de 9 4 a 985 ez orescer uma relao claramente antagnica entre so-

    ciedade civil e Estado. O processo de redemocratizao exigiu que essa relao passasse a se delinear de orma mais cooperativa,com a possibilidade de abertura de canais de dilogo e de resoluo de con itos. Os canais de dilogo e de convivncia oram

    sendo criados gradativamente, mas a relao entre sociedade civil e Estado sempre se manteve ambgua e ambivalente, com

    uma sociedade civil ora se posicionando de orma combativa contra o Estado, ora se apresentando dcil, cordata e cooptada, e

    ora mantendo a cooperao com o Estado para garantir conquistas importantes para os cidados.

    As organizaes no-governamentais comearam a surgir nos anos 70 e chegaram a seu momento de maior expresso

    nos anos 90. Tais organizaes tinham, em sua origem, o papel de articular os movimentos sociais organizados em torno de

    temas diversos e captar recursos para o desenvolvimento das atividades desses movimentos, alm de lhes o erecer assessoria

    tcnica.

    Segundo Montao ( 00 ), nos primrdios de sua existncia, no eram as ONGs e sim os movimentos sociais os que

    lutavam contra uma ditadura, contra mecanismos de opresso e explorao, os que se articulavam em torno de interesses

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    espec cos (p. 7 ). As ONGs davam estrutura e apoio para que os movimentos pudessem manter o protagonismo na luta

    pela democratizao e por direitos sociais e civis.

    (...) as ONGs ormam-se como um campo de organizaes, agentes, prticas, crenas e discursos, constitudo por trs eixes de relaes: para

    baixo, com as bases; horizontalmente, entre si; e, para cima, com as agncias de cooperao (Landim, apud Haddad (org.), 00 : 7).

    Entretanto, segundo Montao ( 00 ), nos anos 90 houve grande trans ormao no campo das ONGs em sua relao comos movimentos sociais e os rgos de nanciamento e cooperao, e em seu protagonismo na rea das aes pblicas. As ONGs

    passaram a ser o ator principal quando at aquele momento desempenhavam o papel de coadjuvante.

    Essas organizaes se caracterizam por vocalizar ou reivindicar publicamente as demandas e necessidades sobre determinadas

    causas ou de determinados segmentos populacionais. Em sua origem oram concebidas como entidades de assessoria aos movimentos

    sociais, avessas a qualquer protagonismo prprio, mas se trans ormaram em um dos atores de maior destaque no cenrio da ao coletiva

    nos anos 90.

    Atualmente o campo das ONGs muito diversi cado: h organizaes surgidas no nal do processo de redemocratizao

    do pas, que carregam em sua histria uma trajetria ainda muito ligada aos modos de mobilizao dos movimentos sociais, e

    h as de origem mais recente, que tratam de temticas espec cas surgidas h pouco tempo na pauta poltica das mobilizaessociais (meio ambiente, questes de gnero, raa/etnia). Outras nasceram nos anos 90, muitas vezes estimuladas pelas pos-

    sibilidades de parceria com o poder pblico na execuo de certas polticas (Projeto Juventude, 004).

    O tema da juventude tambm entra na pauta de atuao das ONGs a partir dos anos 90, especialmente estimulados pelos

    nanciamentos de organismos pblicos e agncias multilaterais que comearam a desenvolver linhas espec cas para destinao

    de recursos a trabalhos com jovens. Muitos institutos e undaes empresariais tambm passaram a destinar recursos para aes

    com jovens como resposta ateno prioritria que essas instituies resolvem dar questo da pobreza e da excluso social

    (Tommasi, 005).

    H grande diversidade de concepes sobre a juventude e sobre cada uma delas se pautam aes espec cas. As princi-

    pais concepes variam entre considerar a necessidade de realizar controle social do tempo juvenil, promover a ormao de

    mo-de-obra e, ainda, considerar os jovens como sujeitos de direitos. Os jovens ora so vistos como problemas que devem ser

    controlados ou como setores que precisam ser objeto de ateno especial.

    Foi no mbito das aes que consideravam os jovens como sujeitos de diretos e portadores de habilidades e sentidos capazes

    de produzir trans ormaes sociais que muitas organizaes passaram a trabalhar sob o mote do protagonismo juvenil, expresso

    cunhada por Antonio Carlos Gomes da Costa, amplamente di undida no Brasil e apropriada por institutos e organizaes de orma

    bastante variada. O modo de apropriao e utilizao do conceito tambm tem sido ortemente criticado, especialmente por aqueles

    que consideram o risco de azer recair sobre os ombros dos jovens a responsabilidade de solucionar os complexos problemas sociais

    (Tommasi, 005).Ainda que opere com o conceito de protagonismo juvenil, a maioria dos jovens que reqenta projetos desenvolvidos

    por ONGs vista como bene ciria e no como agente ou sujeito dos processos desenvolvidos; os jovens so objeto das

    aes, e no sujeitos de direitos. Em geral, quando so indicados como protagonistas, possvel observar que protagonizam

    aes prede nidas por outrem (na maior parte, adultos).

    Pesquisa da Unesco, que lanou olhar especial para os jovens provenientes das camadas populares, apontou que a rotina

    deles montona, com poucas atividades de lazer e de ocupao do tempo livre. Uma das razes para isso seria a carncia de

    equipamentos esportivos, culturais e de lazer nas peri erias urbanas. Tais equipamentos estariam concentrados no centro das

    cidades, e eles no teriam condies nanceiras para se deslocar a esses espaos, entre outros impedimentos de circulao pela

    cidade. Castro ( 00 ) a rma a importncia de melhor conhecer o universo das experincias com jovens contrapondo culturae violncia, experincias essas consideradas pela autora como aes que a astam os jovens de situaes, comportamentos e

    idias de violncia.

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    As ONGs que trabalham com jovens de camadas populares muitas vezes operam com a inteno de ormar agentes que

    ajudem a construir uma cultura de no-violncia em espaos sociais marcados pelo problema. Esta pode ser apontada como

    uma das razes do prestgio das ONGs no trato com os jovens dos setores populares. Os projetos sociais desenvolvidos por ONGs

    com jovens so vistos como antdotos a um problema social presumido.

    Importante questo se coloca ao analisarmos o modo como so construdas as aes voltadas para o jovem. A inteno de

    ormar agentes de trans ormao e jovens protagonistas deve ser cuidadosamente indagada para compreendermos se tal pro-

    tagonismo se inicia no momento de de nio das pautas, temas e contedos das aes das ONGs ou apenas depois de de nidas

    as diretrizes dos programas por parte dos adultos/tcnicos dos programas.

    Uma coisa considerar os jovens como instrumentos para atingir o desenvolvimento econmico e social das comunidades, ou para atingiroutro pblico, como as crianas; outra coisa ter como objetivo o desenvolvimento dos prprios jovens, ampliando suas possibilidades deexpresso, organizao e participao autnoma na sociedade (Tommasi, 005).

    Deve-se perguntar quem de ne o modelo de trans ormao que deve ser perseguido pelos jovens, como e quem de ne

    os modos de ao para atingir tais objetivos. Muitas vezes se percebe que os adultos, apesar da retrica do protagonismo, prati-

    cam a idia de que jovens no compreendem suas demandas, no sabem do que necessitam e, portanto, precisam ser orienta-

    dos para aquilo que os adultos consideram undamental.

    A maioria das ONGs que desenvolvem trabalhos com jovens est orientada pela idia de ormao. O ato de organizar

    suas aes em torno de aes ormativas parece estar pautado na concepo de que jovens carecem de conhecimentos e sa-

    beres espec cos, que podem e devem ser transmitidos por essas organizaes e permitiro uma transio segura para a vida

    adulta. Abad apresenta interessante re exo sobre o assunto:

    (...) parece que a ormao a nica coisa importante, entendida como aculturao (todos os contos sobre a quali cao da participa-o). Isso quer dizer que se pensa, por exemplo, que basta orm-los em democracia para que se tornem cidados, ou em desenho deprojetos, para que tenham projetos prprios.

    Ao assumirem a ao ormativa como eixo principal de atuao, os projetos tm deixado de considerar outra dimenso

    undamental para a vida dos jovens: a experincia. O que jovens em geral relatam o desejo de experienciar atos diversos, par-

    ticipar de vrios projetos e deles extrair o que h de melhor, aproveitar as di erentes experincias o erecidas em cada ao. Para

    os jovens, o desejo da experincia anterior idia de ormao e de transio para a vida adulta, ainda que sejam noes que

    se integram e se complementam.

    . Contexto de escolha do Frum de Juventudes como uma situao-tipo brasileira

    Os runs de discusso temticos se tornaram uma nova modalidade de mobilizao popular, especialmente depois da

    promulgao da Constituio de 988. Ainda que j existissem runs populares de discusso de temas espec cos antes da

    Constituio, oi a idia da participao popular, agregada lei ederal, que rea rmou a importncia dos runs j existentes e

    veio a ser a ora motriz do surgimento de muitos outros runs nos mbitos municipal, estadual e ederal.

    Com a entrada do tema da juventude na pauta poltica nacional, no surpreende que tambm tenham surgido runs de

    discusso do tema que mobilizassem organizaes interessadas e os prprios jovens.

    Como a rmado anteriormente, o tema da juventude encontra pouca densidade institucional e conceitual no Brasil. Di e-

    rentemente do tema da in ncia e adolescncia, que encontra uma sociedade civil densa e bastante mobilizada, o tema da

    juventude ainda precisa re orar ou mesmo constituir seu campo social de atuao. Dessa orma, ainda so poucos os runs

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    de mobilizao de jovens. O Frum Nacional de Organizaes e Movimentos Juvenis ainda no pode ser considerado algo con-

    solidado. A rede de jovens que se ormou no Nordeste (Redes e Juventudes) se organiza, tal como in orma o nome, como uma

    rede e no como rum.

    Dessa orma, o Frum de Juventudes do Rio de Janeiro um espao privilegiado de investigao e se a rma como uma

    situao-tipo adequada ao escopo da pesquisa nacional integrada a outros cinco pases.

    O Frum de Juventudes a expresso da recente entrada do assunto na cena pblica, sendo constitudo basicamente por

    organizaes de tradio recente no tema da juventude; a maioria atuava (e continua atuando) com outros temas e assumiu a

    juventude na medida em que o debate nacional e local ez perceber que o trabalho com jovens requer estatuto prprio, tem

    especi cidades e requer re exo apro undada dos atores que passam a assumir o assunto em seu cotidiano.

    . Os caminhos da pesquisa

    O Frum de Juventudes do Rio de Janeiro rene jovens participantes de projetos/aes de ONGs e representantes/edu-

    cadores de tais organizaes. No h como precisar o nmero de organizaes que azem parte desse rum, pois no h,

    ainda, um cadastro destas, e os entrevistados tambm no souberam dar in ormaes precisas a respeito. Poucas oram as

    organizaes citadas repetidas vezes pela maioria dos entrevistados. Pode-se contar com a presena reqente de cerca de dez

    organizaes entre elas guram Dialog8, Cedaps Centro de Promoo da Sade, Imac Instituto de Imagem e Cidadania,

    Ao Comunitria do Brasil, Escola de Gente, Projeto Legal, Adolescentro Associao de Adolescentes e Jovens Trabalhadores

    do Estado do Rio de Janeiro, Razes em Movimento, ISB Instituto Solidariedade Brasil (criado recentemente, inicia sua presena

    no rum com um membro que j participou representando outras organizaes).

    Tais organizaes tm di erentes caractersticas de ao: h organizaes que atuam diretamente com jovens, outras que

    tem como objetivo promover aes in ormativas e educativas a toda populao e acabam atingindo tambm os jovens, h

    organizaes de de esa que atuam especialmente em avelas na denncia de violncias policiais e outras violaes de direitosquela populao, da qual azem parte os jovens.

    O Frum de Juventudes tem como principal bandeira a discusso das polticas pblicas de juventude e a participao

    dos jovens em espaos de de nio e elaborao dessas polticas. Essa bandeira, entretanto, ser problematizada durante este

    relatrio porque aparece como uma justi cativa retrica repetida por jovens e lideranas, mas no encontra ao prtica cor-

    respondente com tal retrica. Alm disso, h di culdades de os jovens entenderem o que so polticas pblicas de juventude

    e de se colocarem na cena pblica de debate dessas questes quando, na verdade, esto voltados para questes mais ligadas

    reproduo cotidiana da vida, que requer solues relativas alta de ormao e emprego, s interdies de circulao pela

    cidade dada pela alta de transporte pblico de qualidade, pela alta de recursos nanceiros e por interdies produzidas pelo

    crime organizado , s condies de moradia e violncia especialmente policial.Alguns entrevistados in ormaram que est em curso uma tentativa de cadastrar as organizaes do rum para que seja

    possvel saber exatamente quem o compe e, assim, compreender melhor qual a caracterstica principal das organizaes par-

    ticipantes. Sabe-se que a maioria das organizaes citadas acima no enxergava os jovens como oco de ateno em suas aes.

    O tema oi sendo absorvido lentamente pelas instituies medida que tcnicos o levaram para as reunies e debates institu-

    cionais e medida que o tema oi entrando na pauta pblica, especialmente pela induo ederal comentada acima.

    O cadastro est sendo eito sob responsabilidade de uma das organizaes que compem o Frum, mas no h estrutura

    espec ca para distribuio e recebimento das chas de cadastramento nem estrutura de digitalizao dessas in ormaes. As-

    sim, o rum tem uma lista de e-mails, cadastrados em um grupo virtual, que muito maior do que sua composio, ao mesmo

    tempo que algumas organizaes que passam a azer parte do rum podem levar algum tempo at comear a receber as

    in ormaes veiculadas pela demora em ter seu e-mail cadastrado. Na verdade, h uma pessoa que se responsabiliza por enviar

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    e-mails, cadastrar novos endereos na lista, mandar as convocaes para as reunies ordinrias e para os Encontros de Galeras,

    entre outros comunicados e aes administrativas do rum. Essa pessoa, entretanto, o az por vontade prpria, dedicando mais

    do que seu tempo regular de trabalho para tais atividades. O rum no tem uma secretaria executiva ou similar para realizar as

    tare as administrativas.

    J neste ponto preciso apontar um interessante achado de pesquisa. Todas as lideranas entrevistadas oram unnimes

    ao dizer que o rum carecia de uma estrutura de organizao, algo que se assemelhasse a uma secretaria executiva, que pode-

    ria ser composta por integrantes de diversas organizaes que se responsabilizariam por manter ativa a comunicao entre os

    membros do rum e organizaria os eventos promovidos por ele, tais como os Encontros de Galeras. Entretanto, em reunio re-

    alizada no primeiro trimestre de 007, os presentes decidiram que o rum no criaria tal rgo por considerar que isso poderia

    burocratizar demais as relaes, engessando o rum em uma estrutura burocrtica. O temor maior era de que uma estrutura

    assim organizada pudesse acabar com a espontaneidade desejada pelos integrantes adultos. Essa espontaneidade poderia ser

    traduzida na possibilidade de ter agenda sempre aberta a temas emergentes no cotidiano, nunca ocupada por temas previa-

    mente estabelecidos. A inexistncia de uma pauta coletiva e preestabelecida oi motivo de algumas das crticas en rentadas pelo

    rum (que ser abordada adiante) e ainda motivo de algumas tenses internas, pois alguns dos seus membros acreditam ser

    necessrio de nir alguns pontos prioritrios de discusso e ao, considerando as necessidades dos jovens e as questes que es-

    to na pauta pblica. Esses membros de endem essa posio para que o rum possa se adiantar a algumas questes e ter uma

    pauta prpria e no apenas debater temas que aam parte das pautas de outras organizaes ou de entidades do governo.

    Durante as entrevistas, ao serem questionados sobre a a rmao de que o rum precisava se institucionalizar mais e

    sobre seus posicionamentos na reunio que decidiu no azer isso, nenhum deles soube dar razes para esse paradoxo. Uma

    das possveis explicaes pode residir no ato de que, no cotidiano da ao, percebida a necessidade de maior organizao

    institucional, mas no momento de realizao de uma reunio especial, em carter de seminrio institucional, que reconvocou

    membros a astados ou que pouco participam do cotidiano do rum, essa questo no se apresentou como undamental.

    Interessante notar que, at cerca de sete anos atrs, praticamente nenhuma das organizaes que compem o rum

    atualmente tinha seu oco de trabalho voltado para a juventude, ou, ainda que trabalhassem essencialmente com jovens, nopercebiam essa populao como demandante de aes espec cas ou com caractersticas especiais. A induo do governo ed-

    eral, via nanciamento de programas e projetos voltados para jovens, oi uma das principais razes para que essas organizaes

    entrassem no campo das chamadas aes de juventude.

    Uma das lideranas entrevistadas a rmou que sua organizao passou a tratar do tema da juventude porque participou

    de o cina realizada durante o Frum Social Mundial de 00 , articulou-se a outras entidades que pretendiam manter o debate

    de temas relativos ao FSM no Rio de Janeiro e seguiu participando das mobilizaes descritas no item acima. O entrevistado

    a rma, ainda, que a maioria das organizaes que participam do rum passou pelo mesmo processo ou esto se envolvendo

    com o tema da juventude atualmente a partir da aproximao com o rum.

    A chamada es era pblica de juventude, especialmente no estado do Rio de Janeiro, estava esvaziada de atores no mo-mento em que o tema atingiu a pauta nacional. medida que o debate oi ganhando o territrio nacional, no Rio de Janeiro oi

    preciso ocupar esse espao, que se encontrava vazio. As organizaes que j trabalhavam com jovens, mas ainda no percebiam

    a especi cidade de sua atuao oram pouco a pouco assumindo sua posio de ONGs que atuam com jovens e assim oram se

    quali cando para a atuao e o debate pblico sobre o tema. Atualmente essas organizaes azem parte daquilo que se pode

    chamar de sociedade civil de organizaes de apoio juventude, ainda que estejam inseridas em uma es era pblica bastante

    incipiente, na qual possvel a rmar que esto presentes outras organizaes de apoio e grupos juvenis. Todavia, no se pode

    realizar um levantamento apro undado desses atores, visto que, por ser incipiente, ainda bastante di cil perceber a todos.

    Deve-se considerar ainda que h grupos que esto surgindo ou se consolidando e ainda no se tornaram muito visveis.

    No somente o cenrio nacional impulsionou organizaes em direo ao tema da juventude. Na es era estadual, moti-

    vada pela atuao da Cmara Federal, que criara a Cejuvent, oi criada uma Comisso Especial de Polticas Pblicas de Juventude,

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    liderada pelo deputado Alessandro Molon, que tambm mobilizou e agregou atores cena pblica. Essa comisso especial

    tinha como um dos principais objetivos discutir a elaborao de um Plano Estadual de Juventude e, posteriormente passou a

    discutir a possibilidade de criao de um Conselho Estadual de Juventude. Nota-se que os encaminhamentos no nvel estadual

    so muito parecidos com aquilo que ocorria no cenrio nacional, porm, no estado, a pauta segue ritmo menos rentico que

    o nacional e a quantidade de atores envolvidos menor. A comisso props a realizao de audincias pblicas para debater a

    situao de vida dos jovens do estado do Rio de Janeiro, para inquirir o governo estadual sobre as aes que desenvolvia a m

    de en rentar os problemas vividos pela juventude e posteriormente elaborar o Plano Estadual de Juventude. Simultaneamente

    s audincias pblicas se iniciou uma discusso sobre a criao do Conselho Estadual de Juventude. O rum participou dos dois

    seminrios realizados pela comisso, em que se elaborou uma proposta inicial que oi discutida no segundo seminrio. A pro-

    posta tambm oi distribuda entre as redes virtuais das organizaes que participaram das discusses para que o maior nmero

    possvel de pessoas opinasse sobre o documento. O processo de discusso, entretanto, alongou-se por mais de dois anos e

    agora se v atropelado por uma iniciativa do governo estadual de criao do conselho em moldes distintos daqueles discutidos

    pelas organizaes e grupos que se articularam em torno das propostas do deputado estadual. A iniciativa do governo estadual

    partiu da recm-criada Superintendncia de Juventude, no mbito da Secretaria de Estado de Assistncia Social e Direitos Hu-

    manos, que pretende adotar outra proposta de conselho. As tenses produzidas pela entrada desse novo ator na cena pblica e

    suas conseqncias para o rum sero abordadas mais adiante neste relatrio.

    4. O Frum de Juventudes: o contexto de criao e suas aes atuais

    As entrevistas realizadas tanto com lideranas quanto com jovens se iniciavam, em geral, com questionamentos a respeito

    do histrico do rum. Os entrevistados eram solicitados a contar o que sabiam, considerando o momento de entrada no rum

    e os relatos que haviam ouvido sobre sua trajetria. Ouvir uma histria sempre implica o entendimento de que cada narrador se

    utiliza de seus ltros, re erenciais, desejos e vontades para recriar os atos e narr-los. Isso no signi ca dizer que os in ormantesinventam ou criam histrias, mas que cada um estabelece marcos distintos de acordo com aquilo que mais signi cativo para si.

    No entanto, ao reunir trs relatos distintos sobre a trajetria e os marcos de criao do rum possvel reconstituir uma histria

    que agrupa os elementos que so comuns aos relatos ou so corroborados por in ormantes externos.

    Os outros dois entrevistados da categoria liderana so pessoas que iniciaram sua participao no rum em momentos

    distintos e mais recentes. Ambos disseram que no conheciam muito a histria do rum, pouco haviam alado sobre o tema

    com os colegas de rum e achavam que o nico material in ormativo que havia sobre o rum era um older, mas nunca o tin-

    ham visto.

    4. . Histrico

    Os relatos dos participantes mais antigos do rum so unnimes ao in ormar que a presena no II Frum Social Mundial,

    realizado em 00 , oi um marco nas mobilizaes no Rio de Janeiro que resultaram na criao do Frum de Juventudes do Rio

    de Janeiro em 00 . Um dos entrevistados remonta a tempos ainda anteriores ao FSM de 00 o marco signi cativo, mas pos-

    svel a rmar que antes de 00 as organizaes que compuseram o rum em seu princpio ainda no tinham qualquer tipo de

    sinergia e, na verdade, ainda no conheciam o trabalho uma da outra.

    No Rio de Janeiro, o cenrio de discusso sobre juventude comeou com apenas alguns atores, com algumas instituies; oi no Frum SocialMundial de 00 que comeamos a nos reunir para tentar azer uma movimentao, uma discusso de juventude no Rio, pois vamos que emoutros estados isso j estava acontecendo. O pessoal do Observatrio Jovem, Ibase, Cedaps se juntou para realizar isso, e quando voltamos

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    para o Rio veio a idia da Rede Jovens em Movimento, dando incio ao processo de discusso sobre juventude. (Fransrgio liderana presentedesde a criao do rum)

    De acordo com outra liderana do rum, que tinha experincia de militncia estudantil e partidria quando comeou

    a conhecer e debater o tema da juventude, a idia de organizao e mobilizao por meio de rum lhe parecia inovadora e

    de di cil compreenso. A questo da mobilizao em runs se apresentou ainda durante sua participao nos Fruns Sociais

    Mundiais, quando ele e seus companheiros de partido achavam estranho organizar algo que no tivesse representantes eleitos,

    presidente, vice, secretrio.

    A gente estava muito acostumada com o tipo de movimento estudantil. A gente vinha muito com aquela discusso: se a gente no elegeningum pra tocar a rede, quem que toca? No tem ningum eleito, no tem representante, no tem nenhum coordenador que vai l e ala.Estvamos acostumados com presidente, vice, secretrio, essas coisas todas. (Bernard)

    Durante o re erido FSM oi realizada uma o cina sobre o tema da juventude que reuniu organizaes uminenses, algu-

    mas j ortemente identi cadas com o tema da juventude e vrias ainda tomando conhecimento da nova temtica. Ao retor-

    narem de Porto Alegre, alguns participantes decidiram que seria importante azer circular entre os mais jovens as discusses

    ocorridas durante o FSM; a idia era expandir os e eitos do rum por meio de reunies que inicialmente in ormassem sobre os

    acontecimentos do evento e depois pudessem ter como pauta os temas relacionados ao ele, numa espcie de prolongamento

    de sua realizao. Na poca se reuniram organizaes como Cedaps, Imac, Observatrio Jovem do Rio de Janeiro/UFF, Ibase

    Instituto Brasileiro de Anlises Sociais e Econmicas, Comit Local do Acampamento da Juventude do FSM, Ceasm Centro de

    Estudos e Aes Solidrias da Mar, entre outras.

    Dessas articulaes resultou a criao da Rede Jovens em Movimento, que durante cerca de dois anos reuniu jovens lider-

    anas e jovens participantes de projetos para discutir o emergente tema da juventude, suas demandas e as aes pblicas volta-

    das para essa populao. A rede tinha a inteno de mobilizar jovens de todo o estado do Rio de Janeiro para discutir temas rela-

    tivos a seus interesses e necessidades, pretendia construir pauta coletivamente assumida entre jovens e organizaes e a partir

    da realizar encontros, seminrios e atividades capazes de colocar na pauta pblica o tema da juventude uminense, levando oassunto tambm para os agentes pblicos a m de cobrar deles solues aos problemas e demandas levantados pelos jovens. A

    rede organizou alguns encontros com jovens em Niteri, na zona oeste carioca e na avela da Mar. Os locais dos encontros com

    os jovens eram propositadamente distantes um do outro, numa tentativa de mobilizar jovens de di erentes espaos e caracter-

    sticas socioeconmicas.

    Em artigo publicado no site do Ibase por Patrcia Lanes, a autora comenta o seguinte sobre a Rede Jovens em Movimen-

    to9:

    A estratgia de ormao de redes por jovens no nova. Os movimentos internacionais antiglobalizao, por exemplo (em sua maioria pro-tagonizados por jovens militantes), comearam se articulando em rede pela internet. No Brasil, redes como a do Nordeste, a de Belo Hori-zonte e a do Rio de Janeiro (Rede Jovens em Movimento) esto comeando a pautar questes mais amplas que dizem respeito aos(s) jovensmoradores(as) desses lugares, articulando di erenas em nome dos direitos da juventude e da luta por polticas pblicas mais inclusivas. A idiaparece estar ruti cando. Durante o . Frum Social Brasileiro, em novembro de 00 , essas trs redes e outros jovens se reuniram e deramo pontap inicial para a criao de uma rede nacional da juventude, que deve realizar seu primeiro grande encontro ainda este ano.

    As di erenas socioeconmicas entre os integrantes que de niam di erentes pautas e tempos de ao e a pouca estru-

    tura da rede, que no dispunha de recursos para realizar os encontros e promover o deslocamento dos jovens, zeram com que,

    aps cerca de um ano e meio, ela re usse mantendo-se apenas como uma rede virtual de contatos e troca de in ormaes, que

    continua ativa at os dias atuais.

    Conseguimos azer atividades com os jovens participando de ato, mas no avanamos por alta de estrutura, grana. Eram sempre os mesmosatores, a carga terminava cando sempre para um pequeno grupo de pessoas. Hoje em dia a rede consegue se comunicar por causa da internete unciona virtualmente. (Liderana )

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    Alm dos obstculos nanceiros, a di culdade de estabelecer uma agenda comum que osse capaz de manter juntas

    organizaes to distintas em seus interesses sociais, polticos e acadmicos oi determinante para o re uxo da rede. Um ato

    ilustrativo dessa situao: uma das organizaes que compunham a rede enviou comunicado a rmando que no participaria

    mais porque a rede estava se tornando demasiado poltica 0 e este no era o objetivo da organizao nem dos jovens que dela

    participavam. A di culdade de estabelecer uma pauta comum entre organizaes distintas parece tambm assombrar o Frum

    de Juventudes, que no tem conseguido estabelecer agenda temtica comum.Ao mesmo tempo que a rede comea a re uir devido, especialmente, sua alta de estrutura, toma posse o novo presi-

    dente da Repblica, Luiz Incio Lula da Silva, que nomeia a ex-governadora do Rio de Janeiro, Benedita da Silva, para o Ministrio

    da Previdncia e Assistncia Social. O ministrio tinha uma representao no Rio de Janeiro e para ocupar o cargo oi nomeado

    um jovem que tinha como uma de suas atribuies pr em prtica o que seria desejo do presidente: dar centralidade ao tema

    da juventude nas realizaes do governo.

    Foi dessa representao ministerial do Rio de Janeiro que surgiu a primeira proposta de criao de um rum de juven-

    tudes, mas esta era mais ambiciosa e desejava reunir organizaes e jovens de toda a regio Sudeste. Das primeiras reunies que

    tentaram organizar o rum participaram representantes dos governos municipais de So Paulo e Belo Horizonte e represent-

    antes da Associao Comercial do Rio de Janeiro, alm de organizaes da sociedade civil que j oram citadas acima.

    O representante do ministrio naquela poca a rmou que o governo tinha o desejo de mobilizar a sociedade civil e os

    governos municipais e estaduais da regio que j se articulavam em torno do tema, mas no havia recursos para tal. Declarou,

    ainda, que era di cil entrar no governo tendo apenas a experincia de militncia estudantil e partidria, sem experincia de

    gesto.

    Jovem era jovem do partido, que era bom pra segurar bandeira, bom pra car gritando, pra vir em cima do carro de som. Existiam algunsmunicpios que tinham isso [rgos gestores ligados ao tema da juventude], mas era di cil, governo ederal era pior ainda. (Representante doministrio no RJ)

    Essa liderana tambm remonta ao FSM como origem de uma mobilizao que se apresentou ortemente no momento

    de criao do Frum de Juventudes. Na verdade, o primeiro nome dado ao rum, quando a iniciativa era governamental

    com a participao de diversos setores (da gesto pblica iniciativa privada e organizaes no-governamentais), oi Frum

    Regional de Polticas Pblicas de Juventude.

    Ento a gente comeou a reunir. A reunia com associao comercial, o CIEE participou, o Cedaps j estava participando porque j participavado acmulo do Frum Social Mundial. Muita gente que estava no Frum Social Mundial acabou vindo pra c. A idia era criar um Frum Re-gional de Polticas Pblicas de Juventude, regional Sudeste, para depois criar os da regio Nordeste, Centro-Oeste. (Liderana )

    O convite eito Associao Comercial para participar do rum oi uma das razes de polmicas entre as organizaessociais que no estavam totalmente de acordo com a presena de organizaes dessa natureza em um rum que se pretendia

    da sociedade civil. Outra razo de discordncia residia no ato de um rum dito da sociedade civil ser proposto e composto por

    membros de governos, sejam eles municipais, estaduais ou ederal. Esse momento representou um marco de adeso ou de-

    sistncia daquelas organizaes que tinham crticas ao modo de uncionar do rum. Algumas decidiram no participar e outras

    optaram por participar tentando azer com que o rum se tornasse unicamente de organizaes de juventude da sociedade

    civil.

    Esse rum, no entanto, no durou muito tempo. A troca de ministros com o conseqente echamento da representao

    ministerial do Rio de Janeiro ez com que o rum casse sem a estrutura e os incentivos participao dados pelo agente gov-

    ernamental. O rum passou por um perodo de hibernao, e o jovem que havia estado na representao ministerial se a astou

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    da discusso do tema para assumir outro trabalho. Segundo ele, se manteve a astado por cerca de um ano e meio sendo apenas

    in ormado, pela lista de e-mails, das discusses que oram mantidas pelas organizaes no-governamentais.

    Mas a eu realmente quei muito a astado, durante um ano, um ano e pouco. E a a gente recebia sempre, ou por e-mail, ou

    por outras atividades. A gente via que o rum continuava. Foi muito legal porque em um momento a gente pensou realmente

    que o rum osse acabar, porque ainda tinha aquela iluso de que seria um Frum Regional. Depois a realidade oi se colocando

    e a gente viu que o rum no seria regional. (Liderana )

    Ainda re erente ao momento de dissoluo do apoio governamental ao rum, outra liderana a rma que

    Nesse processo a Dialog conseguiu captar recursos para a criao de um rum aqui no Rio de Janeiro (...) e com esse recurso props acriao do Frum de Juventudes no Rio, o que oi muito legal, pois a rede estava adormecida. (Liderana )

    A Dialog se con gura como novo ator no cenrio do comeo de 004. Essa organizao de nida por alguns entrevis-

    tados como instituio de captao e repasse de recursos, sem experincia na atuao direta com jovens e sem tradio de

    trabalho na rea de juventude captou recursos da Fundao Avina (um dos entrevistados a rma que tambm houve algum

    recurso da Unesco) para promover encontros com jovens e, com isso, deu lego novo idia de criao de um Frum de Juven-

    tude que tinha como objetivo reunir jovens das organizaes participantes para discutir polticas pblicas, pois este era um tema

    que estava na pauta do dia devido ao processo que se desenrolava nacionalmente, descrito anteriormente. As polticas pblicas

    estavam em discusso, ainda que a maioria no soubesse de nir exatamente seu sentido ou pudesse j elaborar solues polti-

    cas para os problemas da juventude, dado que a maioria das organizaes ainda estava se ormando e se in ormando, medida

    que participava dos debates e acontecimentos pblicos, sobre o tema da juventude. O rum, dessa vez, estaria territorialmente

    localizado no municpio do Rio de Janeiro e se expandiria na proporo em que ganhasse visibilidade e condies nanceiras

    de locomover os jovens por distncias maiores a m de alcanar a rea metropolitana e o interior do estado. Em abril de 004 oi

    eito um evento de lanamento do rum, quando tambm oi lanada a pgina web que atualmente no est mais disponvel.

    Tambm para esse evento oi ormulado um pequeno older que explicava os objetivos e metas do recm-criado Frum de Ju-

    ventudes do Rio de Janeiro.No older lem-se os seguintes objetivos para o rum:

    Instalar um espao comum de articulao poltica estratgica, debates, ormulaes e avaliaes de polticas pblicas;

    Promover a mobilizao de grupos de jovens, movimentos sociais e ONGs para criao e gesto de agenda que aproxime e

    oriente a ao poltica para universalizao dos direitos;

    Buscar a participao nos conselhos municipais, estaduais e ederal de polticas pblicas de juventudes e nos processos de

    ormulao, acompanhamento e avaliao de polticas pblicas;

    Promover encontros de debates entre instituies estatais, privadas, movimentos sociais e jovens;

    Realizar seminrios acerca de temas ligados s demandas e agendas relacionadas juventude;

    Realizar anualmente a Semana de Juventude; Construir intercmbios com outros runs e redes em nvel nacional e internacional;

    Produzir relatrios sobre polticas pblicas nas es eras municipais, estadual e ederal.

    Durante a realizao de entrevista com jovem oram obtidos dois documentos do rum que contm os objetivos acima

    citados, as diretrizes, as questes que so apoiadas ou repudiadas pelo rum, entre outros.

    O documento que traz os objetivos tambm apresenta as diretrizes e os participantes do rum at a data de sua im-

    presso, mas como o documento no est datado no h como saber de quando a in ormao. Por outro lado, o documento

    oi dado a um dos jovens entrevistados pela pesquisadora que concederia entrevista a uma rdio local sobre o rum e serviria

    para orient-lo, assim, supe-se que seja um documento atualizado.

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    Frum de Juventudes Estado do Rio de Janeiro

    Este rum constitui-se a partir das seguintes diretrizes:

    Ser democrtico e respeitador das mais diversas idias e segmentos dos movimentos de juventude, um espao de respeito,

    anti-racista e de respeito diversidade;

    Ser articulador de organizaes e entidades com oco na juventude;

    Ser promotor de organizao, intercmbio, troca de experincias, de processos de construo de objetivos comuns e ortaleci-

    mento das lutas dos(as) jovens pela universalizao dos direitos undamentais e bsicos de nidos pela Constituio brasileira

    como: direito vida, liberdade, igualdade, segurana, alimentao, moradia, renda, sade, educao;

    Ser promotor de debates, seminrios e encontros que busquem o apro undamento da compreenso das questes de interesse

    da juventude, respeitando as particularidades locais e gerando aes para elaborao de polticas pblicas integradas de juven-

    tude;

    Ser incentivador e promotor de prticas que visem o desenvolvimento mximo das potencialidades humanas, que s pode ser

    alcanado com igualdade e uma vida digna;

    Ser in uente no debate sobre polticas pblicas de/com/para juventudes.

    Quem participa do rum?

    Organizaes da sociedade civil (ONGs, movimentos sociais, grupos de jovens, jovens e pessoas interessadas).

    Instituies que participam do rum at o momento:

    Cedaps, Dialog, Imac, Promundo, CDI, PVNC, Escola de Gente, ACB, Observatrio de Favelas, Rede Mar Jovem, Ser Cidado,

    Ceap, Ceasm, Camtra, AAJT, Cecip, Amamu, Rede de Comunidades Saudveis do Estado do Rio de Janeiro, Projeto Precvida,

    Movimentos Estudantil Secundarista, Casma, Clube de Adolescentes do Complexo do Alemo, Razes em Movimento e ODH

    Projeto Legal.

    Nota-se que h um nmero bem maior de organizaes azendo parte do rum do que o registrado pelos entrevistados

    para a realizao desta pesquisa. Talvez o recadastramento de organizaes tenha sido pensado exatamente para aproximar oregistro da prtica, ou seja, divulgar nos documentos apenas as organizaes que de ato estejam participando do rum.

    O segundo documento a rma:

    Reconhecemos/Valorizamos:A diversidade da juventude brasileira;A participao da sociedade civil na construo de polticas pblicas de juventude;Os processos democrticos de mobilizao, organizao e articulao juvenil;A importncia de polticas pblicas com oco na juventude;A necessidade do empoderamento comunitrio nos processos de construo e implementao de projetos e programas de juven-tude;O jovem como o ator principal na construo das polticas pblicas de juventude;Os jovens de comunidades populares e bairros de peri eria como produtores de aes positivas;O espao comunitrio como omentador do ativismo juvenil;As polticas de juventude como um investimento social e no gasto;Os espaos construdos pela e para a juventude para diverso, cultura, educao;A importncia dos espaos de discusso da temtica juventude ( runs, seminrios, redes)Que o Frum de Juventudes seja um espao apartidrio.

    Repudiamos:A limitao imposta de circulao da juventude pela cidade;A alta de clareza/comunicao com relao s aes e projetos voltados para a juventude;

    O uso de projetos com dinheiro pblico para ns eleitoreiros;O esteretipo da juventude-problema;A discriminao de raa, gnero, orientao sexual, classe, gerao, religio e pessoas com de cincia;

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    Projetos e polticas pblicas que no so construdas com a participao juvenil;Todos os projetos e polticas pblicas que no tenham a perspectiva de trans ormao social;As ormas de tratamento destinado juventude carcerria;A interveno de servios pblicos (escolas, postos de sade) limitando a organizao/mobilizao juvenil nesses espaos;A pouca discusso na pauta nas polticas pblicas de juventude do jovem em con ito com a lei e pessoas com de cincia;A diminuio da maioridade penal;A con uso instalada sobre os conceitos de polticas pblicas, programas e projetos;A ausncia de uma lei espec ca que reconhea os direitos/necessidades da juventude;O no-reconhecimento da juventude como uma categoria, como a de criana e adolescente, idoso;A ausncia de oramento espec co para juventude no mbito municipal e estadual;A ausncia de espaos no poder pblico para participao da juventude;O pouco monitoramento e avaliao das polticas pblicas e projetos para juventude.

    Propomos:Criao de novos espaos de discusso e encontros pela cidade da juventude uminense;Uma melhor comunicao entre as instituies e movimentos sociais que trabalham com a juventude;A juventude como idealizadora/propositora principal de polticas pblicas de juventude;Um dilogo com o poder pblico municipal, estadual e ederal permanente;A criao de uma lei espec ca para a categoria juventude;Um dilogo com o conselho municipal da criana e do adolescente;Um dilogo com outras redes e runs que possam ter a juventude como assunto de pauta;Um dilogo permanente com representantes no RJ, com assento no Conselho Nacional de Juventude.

    Dinmica do rum:Reunies/seminrio itinerantes/Encontros de Galeras;Decises do rum consensuadas;Que as instituies/movimentos tenham condutas de proposies solidrias, subsidiando as decises do rum.

    Chama ateno a abrangncia e a diversidade dos apoios e repdios estabelecidos no documento. Essa lista expressa

    simultaneamente duas questes importantes. Uma positiva, pois demonstra a sintonia do rum com a agenda mltipla docampo das polticas pblicas de juventude. A outra negativa, porque mostra alta de oco que compromete a realizao de aes

    coletivas que dem sentido ao envolvimento dos di erentes atores presentes no rum.

    O nome do rum, com a juventude gra ada no plural, j era re exo de uma discusso sobre a pluralidade e a diversidade da

    juventude brasileira. No entanto, organizou-se muito em torno do nanciamento e das diretrizes da organizao captadora dos

    recursos com pouca discusso sobre os reais desejos das organizaes e dos jovens que o compunham. Segundo uma das lideran-

    as entrevistadas: Em seis meses de exerccio, (...) a gente ez um lanamento que era uma coisa muito institucional, os jovens no

    estavam participando desse espao; isso eu achei muito ruim, ou seja, construir um grupo sem nenhuma discusso era muito ruim...

    (Liderana ).

    A Dialog no desenvolvia nenhum tipo de trabalho com jovens e no tinha nenhuma tradio na ao direta; ainda se-gundo uma liderana, a organizao era apenas captadora de recursos. No processo de seis meses as coisas no estavam avan-

    ando, at que um jovem, em uma das reunies, ez uma avaliao de que os jovens no estavam participando, surgindo ento

    a idia dos Encontros de Galeras, do rum mais rotativo (Liderana ). O primeiro Encontro de Galeras oi realizado em Campo

    Grande, bairro do subrbio carioca. A promoo desses encontros dinamizou o rum, envolvendo mais jovens na discusso

    sobre o cenrio nacional de de nio de polticas pblicas de juventude, ainda que seja possvel perceber, como um dos re-

    sultados da pesquisa, que esse debate ainda no est resolvido para os jovens do rum, especialmente em relao de nio

    conceitual das polticas, mas tambm em relao ao papel dos prprios jovens nessa discusso.

    Deve-se observar que o termo galeras aqui usado muito mais como de nio de uma reunio de jovens do que com a

    idia de grupos juvenis. Muitas vezes h pouca preciso conceitual no uso de algumas palavras. O rum no conseguiu desen-

    volver a idia de trabalhar com jovens organizados e articulados em torno de grupos de identidades diversas; ele de ato acaba

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    reunindo jovens que participam de projetos e programas desenvolvidos por ONGs, os chamados jovens de projetos. Os jovens

    que se organizam autonomamente, independentemente de alguma organizao social, no so atingidos pelo rum, seja pela

    precariedade da divulgao, seja pela alta de percepo de seus organizadores de que eles poderiam ser convidados a partici-

    par.

    A utilizao dos recursos pela Dialog e o desconhecimento das demais organizaes sobre valores gastos, valores dis-

    ponveis e possibilidades de utilizao dos recursos produziram algumas di culdades na articulao do rum que redundaram

    no m do apoio e na manuteno da Dialog apenas como participante do rum, e no mais como nanciadora dele. Segundo

    um dos entrevistados, uma das razes para a ragilizao da Dialog na relao com as demais organizaes que compunham o

    rum oi a tentativa de conduzir algumas iniciativas que eram pautas da prpria entidade (Liderana ). Uma das lideranas

    entrevistadas in ormou que a organizao pretendia realizar um mapeamento das organizaes que trabalhavam com jovens

    em um determinado territrio da cidade do Rio de Janeiro. O incio do levantamento se daria pela regio central da cidade e um

    piloto chegou a ser realizado na Grande Tijuca com a participao de uma organizao que compe o rum. A responsvel

    pela organizao na Tijuca in ormou em entrevista que queriam mapear as instituies que trabalhavam com jovens e zeram

    um grupo piloto com a gente. possvel in erir que a realizao de um mapeamento das organizaes de juventude existentes

    no centro da cidade tenha sido uma pauta bastante particular dessa organizao na medida em que uma das proposies do

    rum era realizar os Encontros de Galeras para mobilizar o maior nmero possvel de jovens; o oco de mobilizao sempre

    esteve bastante centrado em jovens de camadas populares que residem em comunidades ou bairros populares, e o centro da

    cidade no zona residencial. So aes bastante distintas com ocos di erentes e praticamente incompatveis se levarmos em

    conta que um levantamento desse tipo exigiria grande dispndio de tempo, cando a pauta de mobilizao prejudicada.

    Mais uma vez o rum se encontrava sem recursos e assim no oi possvel azer a atualizao da pgina na verdade, a pgina

    no chegou a ser nalizada e oi lanada com algumas poucas in ormaes. Os Encontros de Galeras tiveram de ser eitos com os

    poucos recursos que cada organizao cedia realizao dessas atividades. Os encontros eram divulgados pela internet por meio de

    lista espec ca e ainda utilizando o grupo da Rede Jovens em Movimento; as organizaes doavam sanduches, biscoitos, bebidas

    ou alguma quantia em dinheiro para que osse possvel o erecer um lanche aos participantes, e cada instituio ou jovem teria deconseguir os meios para se locomover at o lugar de realizao do encontro. A idia inicial de itinerncia oi mantida no intuito de

    permitir a participao de maior nmero de jovens, ainda que isso implicasse grande rotatividade e pouca constncia de jovens aos

    encontros, dadas as di culdades de locomoo e as interdies produzidas pelo domnio de aces criminosas em avelas e bairros

    peri ricos da cidade.

    Segundo uma liderana entrevistada, que tem participao recente e tambm bastante jovem ( 7 anos), o rum visa

    consolidar o jovem da comunidade; so aes ocadas para o empoderamento dos jovens. (...) gente, vamos ocar no encontro

    de galeras (Liderana 4). Esta liderana se re ere exclusivamente a jovens de comunidades, ala pouco comum entre os partici-

    pantes mais antigos, que tendem a re orar a idia de ampliao do campo de atuao do rum para alm das comunidades

    e para alm dos limites do municpio do Rio de Janeiro. O termo empoderamento tambm oi citado exclusivamente por essaliderana, no oi usado pelos demais entrevistados nem surgiu ao longo das reunies acompanhadas ou dos documentos do

    rum. Deve-se notar, entretanto, que o termo aparece no older do rum reproduzido anteriormente. Assim, sua utilizao por

    esse entrevistado tanto pode azer re erncia ao texto do rum (que no parece ter sido apropriado igualmente por todos) ou

    vincular-se atuao em sua prpria instituio de origem, que utiliza a palavra como mote de ao.

    Um dos jovens entrevistados aponta para o desconhecimento dos objetivos e razes de existncia do rum, alm de

    con rmar as di erenas encontradas nos discursos dos entrevistados em relao a suas percepes sobre o rum.

    Eu no conheo a undo a histria do rum, at tinha pedido para o pessoal apresentar o rum, o modelo do Encontro de Galera, encontrodo rum mesmo e assim... eu no tenho noo do que signi ca mesmo o Frum da Juventude. Assim... eu tenho na minha conscincia que um espao onde o jovem pode estar mandando sua voz, pode estar reivindicando, ele pode ... alar e abrir um espao. (...) O rum do jovempro jovem. (Jovem )

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    O rum visto algumas vezes como seqncia da Rede Jovens em Movimento, como se osse o mesmo grupo de pessoas/

    organizaes com os mesmos objetivos e nalidades. Mas o mesmo, n? [Rede Jovens em Movimento]. S mudou o nome,

    mas a mesma orma e algumas reunies no rum eu reqentava (Jovem ). Essa a rmao, eita por um jovem que partici-

    pou da rede e participa do rum, reveladora da pouca participao dos jovens na dinmica de organizao e na produo da

    trajetria do rum. Mesmo aqueles que estiveram presentes nos momentos de transio e trans ormao de algumas iniciati-

    vas, como o surgimento e submerso da Rede Jovens em Movimento e a criao do Frum de Polticas Pblicas de Juventude da

    Regio Sudeste e sua trans ormao em Frum de Juventudes, conseguem perceber as rupturas, agregaes e trans ormaes

    ocorridas.

    O representante da organizao que tem tempo mediano de participao no rum, ou seja, integrou-se ao grupo em

    004, a rma que sua organizao passou a participar do rum depois que sua coordenadora oi convidada pela coordenadora

    da Dialog. Ambas eram ellow Ashokae tinham ligao com a Avina. Foi o vnculo pessoal que levou a organizao a partici-

    par do rum. Essa uma das organizaes que tm como alvo de sua atuao a populao em geral e acabou se inteirando do

    tema da juventude atravs da presena no Frum de Juventudes. O representante da instituio a rma que, a partir da partici-

    pao no rum, a organizao passou a ter mais ateno com o tema e se dedicar a pensar em polticas pblicas voltadas para

    esta populao e a ocupar espaos de deciso sobre tais polticas, como o Conselho Nacional de Juventude, por exemplo. A

    organizao d apoio logstico ao rum, especialmente no que se re ere o erta de intrpretes de Libras (linguagem usada por

    surdos-mudos) durante a realizao dos Encontros de Galeras.

    4. . Percepes e contedos da atuao do rum

    4. . . Sobre seus integrantes

    Como no h levantamento preciso dos grupos que ormam o rum di cil alar de sua composio. H homens e mul-

    heres, e as observaes no indicaram predominncia de um gnero. Um dos entrevistados in ormou que o rum ainda tenta

    aproximar representantes do movimentos GLBTT, citou ainda o desejo de ver participando do rum um dos movimentos do

    Rio de Janeiro mais articulados em torno da questo dos pr-vestibulares populares, que o PVNC Pr-Vestibular Para Ne-

    gros e Carentes. O entrevistado a rma, no entanto, que no tem conseguido aproximar esses movimentos porque eles teriam

    di culdade de inserir o tema da juventude como nova pauta de suas reivindicaes; para ele, tanto os militantes GLBTT quanto

    os negros estariam muito amarrados s suas causas espec cas e no perceberiam a razo de alar sobre juventude alm de

    sua causa principal. Essa a rmao demonstra as limitaes descobertas pelo rum para a constituio de redes e runs que

    articulem as diversas juventudes e o quanto di cil encontrar atores que se articulem em torno de identidades espec cas e

    assumam o tema da juventude.No caram claras, entretanto, as estratgias usadas pelo rum para tentar tal aproximao. Alguns entrevistados alam

    em convites para participao nas reunies ordinrias e nos Encontros de Galeras, mas no se sabe de que orma o convite eito

    e qual a qualidade da in ormao passada aos convidados sobre o rum. Visto que o rum no mantm registro de suas aes

    nem tem material de divulgao de esperar que as organizaes convidadas tenham resistncia a participar de algo que no

    conhecem e sobre o qual no tem como se in ormar.

    Quanto ao tema da de cincia, h no rum uma organizao que o tem como objeto de atuao, entretanto, no realiza

    ao direta com jovens de cientes, e sim trabalha com a conscientizao da populao em geral sobre o assunto e as demandas

    espec cas dessa populao. O tema da juventude secundrio em sua agenda e ganhou maior destaque quando a instituio

    passou a azer parte do rum de juventudes e, especialmente, quando passou a compor o Conselho Nacional de Juventude.O per l dos tcnicos das ONGs que azem parte do rum variado em termos de idade (h desde um jovem de 7 anos,

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    responsvel por um projeto de juventude dentro de sua organizao, a jovens adultos e pessoas que se aproximam dos 40 anos).

    No h adultos mais velhos na composio desse rum e, ainda que sua participao no seja vetada, segundo os entrevista-

    dos, parece que h um entendimento tcito de que o rum deveria ser ocupado basicamente por jovens. Esse aparente acordo

    produz algumas situaes inusitadas: as lideranas que no so jovens tendem a denunciar sua no-juventude com certo con-

    strangimento, parece que na tentativa de antecipar o inevitvel: a descoberta do m da juventude. Falas como no sou mais

    jovem, mas continuo me sentindo jovem so usadas para justi car o no-pertencimento etrio ao grupo, mas a manuteno

    em um espao que se de ne como de jovens. Mais interessante ainda notar que esse possvel constrangimento no oi criado

    por uma deciso dos jovens. Estes a rmaram nas entrevistas que a relao com os mais velhos muito interessante e desejvel,

    que sua experincia os ajuda a perceber as demandas e os caminhos que deveriam ser trilhados para alcanar seus objetivos.

    digno de nota os jovens considerarem que os adultos os ajudam a perceber demandas que so atribudas aos jovens. Essa

    questo na verdade se conecta com uma caracterstica observada em muitas das ONGs que trabalham com jovens: os adultos

    de nem as pautas e os jovens as absorvem como se ossem suas. O tema da in uncia dos adultos do rum sobre os jovens

    ser apro undado no item seguinte. So, na verdade, os adultos que se auto-imputam restries ao mesmo tempo que so a

    maioria dos participantes das reunies ordinrias do rum e deles que partiu o tema principal de discusso do rum: polticas

    pblicas de juventude.

    4. . . Das aes e demandas do Frum de Juventudes

    O rum se organiza basicamente em dois momentos distintos de reunies. Um o das chamadas reunies ordinrias 4, em

    que lideranas e alguns jovens (poucos jovens) se renem para discutir temas relativos s mobilizaes do rum, as pautas atuais,

    a situao do debate estadual ou nacional sobre juventude, aes e eventos das organizaes que compem o rum.

    Os jovens encontram seu espao de reunio e mobilizao nos Encontros de Galeras que so realizados desde a criao do rum

    e do continuidade proposta da Rede Jovens em Movimento, da qual participou um dos principais articuladores atuais dessesencontros. At julho de 007 haviam sido realizados seis Encontros de Galeras, dos quais os dois ltimos oram acompanhados pela

    pesquisadora. Dos primeiros encontros realizados em Campo Grande e na Mar participaram cerca de 0 jovens em cada, de

    acordo com relatos de um dos entrevistados e de uma pessoa que participa de uma das organizaes apontadas como de apoio

    ao rum. Esses primeiros encontros oram realizados com o apoio da Dialog, contaram com cartaz virtual e impresso de divulga-

    o, alm de in ra-estrutura mnima de o erta de lanche e transporte. Segundo uma observadora do rum, que acompanha suas

    atividades sem azer parte dele, esses encontros se caracterizaram como arenas de debates, com um tema motivador e um debat-

    edor/animador.

    Uma vez que no h registros desses eventos e os entrevistados no lembravam mais os temas que motivaram cada um

    dos encontros, s possvel saber as temticas dos dois ltimos que oram observados pela pesquisadora. O quinto encontrorealizou-se no Sesc Ramos, instituio localizada prximo do Morro do Alemo, e reuniu basicamente jovens residentes dessa

    comunidade carioca. O tema do encontro oi a violncia policial vivenciada pelos moradores dessa comunidade e a utiliza-

    o do caveiro 5. O encontro realizou-se no incio de junho, quando a polcia realizava incurses quase dirias s avelas que

    compem a comunidade, iniciando violentos con rontos entre policiais e bandidos ligados ao crime organizado instalado nessa

    localidade. Os con rontos resultaram na morte de cerca de 0 pessoas (segundo dados o ciais da Secretaria de Segurana Pbli-

    ca e notcias da grande mdia, contestados por moradores e entidades locais, que a rmam que o nmero de mortos maior), no

    echamento de escolas por mais de um ms e no echamento constante do comrcio local nos momentos de tiroteio intenso.

    Um dos principais pontos de discusso em relao s incurses da polcia o uso do caveiro, veculo blindado usado para en-

    trar nas comunidades. Moradores e lideranas locais a rmam que a polcia adentra as comunidades atirando a esmo, erindo e

    matando inocentes .

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    Os jovens que participaram desse encontro (cerca de 70) receberam adesivos coloridos no momento em que se in-

    screveram no encontro. Havia duas cores distintas de adesivos e elas oram usadas para agrupar os jovens em dois grupos de

    discusso depois da apresentao de uma matria jornalstica veiculada em uma das principais redes de TV brasileira, em cadeia

    nacional, sobre as incurses da polcia naquela comunidade carioca. Os grupos tinham temas distintos: o primeiro deveria dis-

    cutir educao e o segundo, a violncia policial.

    interessante notar que em nenhum momento do vdeo veiculado ou das alas iniciais do encontro o tema da educao

    apareceu, mas oi o objeto de discusso de um dos grupos. Outro ponto a ser observado o ato de os jovens no terem podido

    escolher o grupo do qual gostariam de participar nem de terem sabido antecipadamente quais seriam os temas dos grupos. O

    animador do encontro apenas pediu que os jovens portadores do adesivo de uma cor de reunissem em um canto da quadra

    onde se realizava o evento, e os outros, no outro canto. Depois da diviso por grupos o animador in ormou que o grupo da dire-

    ita discutiria o tema da educao e o da esquerda, o da violncia policial. Jovens entrevistados in ormaram que participaram da

    organizao desse encontro, discutindo os temas a serem debatidos, mas em todos os momentos alaram da violncia policial e

    no da educao. Essa parece ser mais uma expresso da entrada dos adultos na pauta dos jovens.

    Dois jovens que participam h bastante tempo do rum oram designados para coordenar cada um dos grupos. Foi so-

    licitado que os jovens discutissem o problema e apontassem possveis solues. O animador solicitou categoricamente que os

    adultos no participassem desses grupos.

    Os resultados apontados pelos jovens demonstra