FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes...

20
*Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE Gabriel Eduardo SCABORA* RESUMO A série fotográfica que foi desenvolvida tem como tema a felicidade, sendo o registro da vida cotidiana, que foge da utopia, e de qualquer padrão; É a felicidade a partir do corriqueiro, do íntimo do fotógrafo. Seguindo os preceitos e o formato intimista da série, foi desenvolvida uma pesquisa acerca da produção contemporânea, mais especificamente da subdivisão nomeada pela autora Charlotte Cotton, como Fotografia do Intimo, que trata da fotografia de um viés popular trazida para a produção artística. Após o término da série fotográfica, a etapa seguinte foi o processo de criação do suporte de acordo com a poética, do tema e dos preceitos da fotografia contemporânea. Ainda na ideia do íntimo, os suportes para as fotografias passam a ser cartões- postais, expostos dentro de uma caixa de sapatos, juntos a uma sala cenário que faz parte da expansão do suporte fotográfico. É um trabalho fotográfico desenvolvido e detalhado dentro de uma subdivisão pouco conhecida da fotografia contemporânea, que pode servir como referência futura dentro de um estilo tão abrangente e em construção quanto a contemporaneidade. Palavras chave: Fotografia, Fotografia Contemporânea, Fotografia do Intimo, Felicidade. ABSTRACT The photographic series that has been developed has the theme of happiness, and the record of everyday life, which escapes from utopia, and from any standard, is happiness from the ordinary, the intimate of the photographer. Following the precepts and the intimate format of the series, a research was developed on the contemporary production, more specifically of the subdivision named by the author Charlotte Cotton, like Photography of the Intimate, that deals with the photograph of a popular bias brought to the artistic production. After the end of the series as photography, the process of creation of the support arises according to the poetics, the theme and the precepts of contemporary photography. Still in the idea of the intimate, the support for the photographs becomes postcards, exposed inside a box of shoes, together to a room, scenery that is part of the expansion of the photographic support. A photographic work is developed and detailed within a little known subdivision of contemporary photography, which may serve as a future reference in a style as comprehensive and in construction as contemporaneity. Keywords: Photography, Contemporary Photography, Intimacy Photography, Happiness. INTRODUÇÃO Minha série fotográfica começa em 7 de setembro de 2016, sendo finalizada em 7 de setembro de 2017, totalizando um ano de fotografia. Minhas fotografias partem da intenção de registrar os momentos, não objetivamente como um documento e sim como a representação imagética do que defino como felicidade, que para este caso, tornou-se um relato do cotidiano que indica a felicidade de uma vida comum. Surge o desafio de traduzir um sentimento, em fotos, representar o impalpável, com o registro de um momento. E também falar da felicidade como procura geral, gerando identificação ao observador com o meu trabalho fotográfico. 1* Tradicionalmente, historicamente, desde que os gregos inventaram a palavra e a coisa philosophia , todos sabem que a felicidade faz parte dos objetos privilegiados da reflexão filosófica, que é até um dos mais importantes e dos mais constantes. Vejam Sócrates ou

Transcript of FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes...

Page 1: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

*Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL-

Faculdade de Administração e Artes de Limeira

FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

Gabriel Eduardo SCABORA*

RESUMO

A série fotográfica que foi desenvolvida tem como tema a felicidade, sendo o registro da

vida cotidiana, que foge da utopia, e de qualquer padrão; É a felicidade a partir do corriqueiro, do

íntimo do fotógrafo. Seguindo os preceitos e o formato intimista da série, foi desenvolvida uma

pesquisa acerca da produção contemporânea, mais especificamente da subdivisão nomeada pela

autora Charlotte Cotton, como Fotografia do Intimo, que trata da fotografia de um viés popular

trazida para a produção artística. Após o término da série fotográfica, a etapa seguinte foi o

processo de criação do suporte de acordo com a poética, do tema e dos preceitos da fotografia

contemporânea. Ainda na ideia do íntimo, os suportes para as fotografias passam a ser cartões-

postais, expostos dentro de uma caixa de sapatos, juntos a uma sala cenário que faz parte da

expansão do suporte fotográfico. É um trabalho fotográfico desenvolvido e detalhado dentro de

uma subdivisão pouco conhecida da fotografia contemporânea, que pode servir como referência

futura dentro de um estilo tão abrangente e em construção quanto a contemporaneidade.

Palavras chave: Fotografia, Fotografia Contemporânea, Fotografia do Intimo, Felicidade.

ABSTRACT

The photographic series that has been developed has the theme of happiness, and the

record of everyday life, which escapes from utopia, and from any standard, is happiness from the

ordinary, the intimate of the photographer. Following the precepts and the intimate format of the

series, a research was developed on the contemporary production, more specifically of the

subdivision named by the author Charlotte Cotton, like Photography of the Intimate, that deals

with the photograph of a popular bias brought to the artistic production. After the end of the series

as photography, the process of creation of the support arises according to the poetics, the theme

and the precepts of contemporary photography. Still in the idea of the intimate, the support for the

photographs becomes postcards, exposed inside a box of shoes, together to a room, scenery that is

part of the expansion of the photographic support. A photographic work is developed and detailed

within a little known subdivision of contemporary photography, which may serve as a future

reference in a style as comprehensive and in construction as contemporaneity.

Keywords: Photography, Contemporary Photography, Intimacy Photography, Happiness.

INTRODUÇÃO

Minha série fotográfica começa em 7 de setembro de 2016, sendo finalizada em 7 de

setembro de 2017, totalizando um ano de fotografia. Minhas fotografias partem da intenção de

registrar os momentos, não objetivamente como um documento e sim como a representação

imagética do que defino como felicidade, que para este caso, tornou-se um relato do cotidiano que

indica a felicidade de uma vida comum. Surge o desafio de traduzir um sentimento, em fotos,

representar o impalpável, com o registro de um momento. E também falar da felicidade como

procura geral, gerando identificação ao observador com o meu trabalho fotográfico. 1*

Tradicionalmente, historicamente, desde que os gregos inventaram a palavra e a coisa

philosophia , todos sabem que a felicidade faz parte dos objetos privilegiados da reflexão

filosófica, que é até um dos mais importantes e dos mais constantes. Vejam Sócrates ou

Page 2: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

2

Platão, Aristóteles ou Epicuro, Spinoza ou Kant, Diderot ou Alain… “Não é verdade que

nós, homens, desejamos todos ser felizes? ” A resposta é tão evidente, nota Platão, que a

pergunta quase não merece ser feita. “De fato, quem não deseja ser feliz?” A busca da

felicidade é a coisa mais bem distribuída do mundo. (SPONVILLE, Pág.2, 2001)

Partindo da felicidade como tema, desenvolvi uma pesquisa partindo do meu trabalho e

de outros fotógrafos, que possuem produções, dos mais variados modos que a fotografia

contemporânea oferece. Começando por uma breve introdução à “fotografia contemporânea”,

parto para destrinchar e detalhar a divisão desta categoria onde meu trabalho se situa. A pesquisa

começa na busca e do desafio para situar meu trabalho dentro da fotografia contemporânea,

podendo trabalhá-lo e desenvolvê-lo de forma contundente a fim de atingir os objetivos esperados.

A fotografia da vida íntima nome dado pela autora Charlote Cotton é guia para minha pesquisa e

define o estilo fotográfico em qual trabalho em toda série, estilo que trata do caminho de registrar

o cotidiano do fotografo de forma artística. Em sua versão final, as fotografias se tornam cartões-

postais, compostas também por um ambiente criado que possibilita a inserção ao tema, uma

revisitação ao íntimo, que tem como intenção gerar o questionamento acerca do tema, e possibilitar

que as pessoas me digam um pouco mais sobre sua procura e visão sobre a felicidade em cartões

de resposta, cartões que terminam de compor as fotografias e todo o ambiente, permitindo que

minha série fale de uma busca coletiva pela felicidade

1- FOTOGRAFIA CONTEMPORÃNEA

A fotografia contemporânea surge na passagem do século XX para o XXI consolidando

uma expansão de limites até então desconhecidos no suporte fotográfico. Segundo o autor Ronaldo

Entler (2009): [...] É difícil explicar o que é fotografia contemporânea. Alguma coisa parece ter

transformado e se consolidado nos últimos vinte ou trinta anos […] Desde antes da fotografia

moderna o pensamento sobre fotografia começou a mudar e se findar como expressão artística

única, sem a necessidade de adventos e alterações no resultado real para parecer com uma pintura

como nos Pictorialistas.

O movimento pictorialista eclodiu na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos a partir

da década de 1890, congregando os fotógrafos que ambicionavam produzir aquilo que

consideravam como fotografia artística, capaz de conferir aos seus praticantes o mesmo

prestígio e respeito grangeado pelos praticantes dos processos artísticos convencionais.

O problema é que essa ânsia de reconhecimento levou muito dos adeptos do pictorialismo

a simplesmente tentar imitar a aparência e o acabamento de pinturas, gravuras e desenhos

ao invés de tentarem explorar os novos campos estéticos oferecidos pela fotografia. Por

esta razão, este movimento, que perdurou basicamente até a década de 1920, foi

estigmatizado durante muito tempo, mas, felizmente, assistimos hoje a uma releitura

desapaixonada do pictorialismo que certamente muito contribuirá para a correta avaliação

e contextualização histórica de suas contribuições. (Itaú Cultural, 2017)

A fotografia passou a ser pensada e considera como arte, explorada em suas diversas

variações, como as foto colagens dos Surrealistas e Dadaístas, porém ainda havia essa restrição de

pensamento que precisava se enquadrar dentro do suporte.

Os fotógrafos modernos já possuíam trabalhos híbridos que se misturavam com outras

expressões artísticas, mas diferente da fotografia contemporânea esse hibridismo vinha como

Page 3: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

3

intenção de expandir os limites fotográficos, exaltando o suporte e não criticando como no

pensamento contemporâneo.

A Fotografia expandida existem graças ao arrojo dos artistas mais inquietos, que desde

as vanguardas históricas, deram início a esse percurso de superação dos paradigmas

fortemente impostos pelos fabricantes de equipamentos e materiais, para, aos poucos,

fazer surgir exuberante uma outra fotografia, que não só questionava os padrões impostos

pelos sistemas de produção fotográficos, como também transgredia a gramática desse

fazer fotográfico. (JUNIOR, Pág.11, 2006)

Na Fotografia moderna houve grandes mudanças no pensamento fotográfico, onde eram

feitos diversos experimentos com fotografia, como colagens, composições surreais, dentre outras

manipulações que passaram a integrar o suporte fotográfico, mas sem questionar a fotografia e sim

explorando ao máximo seus usos e formas de apresentação.

Transfigurar a objetividade documental, o rigor formal e o flagrante para dar primazia à

subjetividade, à abstração e à construção da cena foi atitude transgressora que sempre

existiu de forma pulverizada na história da fotografia, mas que passou a dominar uma

determinada produção fotográfica, sobretudo a partir dos anos 1960. (Itaú Cultural, 2009)

O pensamento contemporâneo parte da expansão da poética que muitas vezes extravasa o

suporte fotográfico e conversa com outros modos de expressão. Não há limitação, ou modelo a

seguir, e sim a intenção de transgredir e ir contra a valores e padrões estéticos anteriores, como o

momento de decisivo de Henri Cartier Bresson. As fotografias passam a ser construídas, a estética

e a narrativa se tornam meio de contar muito mais sobre a ficção e contradizer o pensamento

fotográfico dos movimentos anteriores.

A fotografia tornou-se moderna neste período por meio do realismo e da abstração. A

Nova Objetividade (Neue Sachlichkeit), a Nova Visão (Neue Optik), a "Fotografia

Direta" (Straight Photography), as propostas da Vanguarda Soviética, o Dadaísmo e o

Surrealismo foram algumas das possibilidades postas como forma de fotografar naquele

momento. Além destas, surgiu também o que anos mais tarde se denominou de Fotografia

Humanista a qual muitas vezes caracterizava o trabalho no âmbito do Fotojornalismo.

(ROLIM, v. 22, n. 1 (2014) )

O termo fotografia contemporânea segundo o autor Ronaldo Entler tenta explicar e nomear

a onda de pensamento fotográfico de nossa época e de uma fotografia que possui diálogo com a

arte contemporânea e tenta explicar um processo que ainda está em construção, mas que já possui

uma história.

Estamos vivendo um momento excepcional para a fotografia, pois hoje o mundo da arte

a acolhe como nunca o fez e os fotógrafos consideram as galerias e os livros de arte o

espaço natural para expor seu trabalho. Ao longo de toda a história da fotografia, sempre

houve quem promovesse como uma forma de arte e um veículo de ideias, ao lado da

pintura e da escultura, mas nunca essa perspectiva foi difundida com tanta frequência e

veemência como agora. Atualmente, a aspiração de muito fotógrafos consiste em

identificar a “arte” como território preferencial de suas imagens. (COTTON, Pág. 7, 2010)

Page 4: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

4

Desta forma esse estilo de fotografia foge de qualquer definição ou padrão construído,

deixando em aberto as possibilidades e resultados e a possibilidade de interação com outras formas

de expressão, trata-se de uma forma singular de pensar, de se expressar de forma única. A

fotografia contemporânea é assumidamente manipulada, construída, manipulação que resulta

muitas vezes em uma grande força estética, reforçando a subjetividade e possibilitando a expressão

de sentimentos de uma forma muito menos diluída como na fotografia em geral. O fotógrafo

contemporâneo não limita sua criação apenas ao suporte fotográfico, mas busca um resultado mais

ligado com a sua intenção original sem a preocupação da tentativa de representar a realidade do

mundo e sim a de criar a sua própria realidade. A versatilidade e a conversa da fotografia

contemporânea com outras formas de expressão possibilitam a realização de trabalhos que talvez

não seriam possíveis na fotografia tradicional, abrangendo o campo e as possibilidades de um

trabalho fotográfico sem a limitação de um suporte, o fotógrafo busca a sinceridade com sua

poética e consigo mesmo, fugindo da ideia de realidade pura da fotografia tradicional.

Contra a combalida ideia da assunção do real na fotografia, os artistas investiram fundo

na simulação, na busca de uma representação genuína de seus estados de ânimo ou de sua

observação crítica do mundo pela via ficcional. (Itaú Cultural, 2009)

A vasta possibilidade da fotografia contemporânea parte de um pensamento artístico

profundo anterior ao ato fotográfico, onde o artista busca soluções para se expressar e desenvolver

seu trabalho sem se prender a convenções da fotografia tradicional, porém não necessariamente a

fotografia contemporânea excluí a possibilidade da realização de um trabalho semelhante a

fotografia tradicional, como, por exemplo, um trabalho documental, no entanto se separam na

diferença do processo criativo e de realização e no resultado que provavelmente transgredirá o

trabalho tradicional.

Para compreender a produção fotográfica contemporânea, bem como seus processos de

criação e produção, temos que mergulhar no mundo das imagens, pois nada substitui a

experiência de ver. Ver, comparar, elaborar conexões, estabelecer relações. Olhar para

uma imagem e explorar suas potencialidades narrativas. A eliminação das fronteiras entre

as diferentes formas de expressão, produção e circulação de imagens no mundo

contemporâneo, torna cada vez mais difícil a tarefa de catalogar as manifestações das

artes visuais, particularmente a fotografia. Da mesma maneira que percebemos o ir além,

o ultrapassar de todos os limites, a contaminação das técnicas, o hibridismo dos suportes,

verificamos o quanto é difícil e impreciso articular uma nomenclatura para a produção

contemporânea. (JUNIOR, Pág.10, 2006)

A fotografia já não precisa conquistar seu espaço no mundo artístico como no século XIX,

e nem expandir seu suporte para reforçar exaltar esse meio de expressão. O fotografo

contemporâneo não possui uma visão deslocada dos outros meios de expressão, e nas vastas

possibilidades a fotografia se mistura se tornando muitas vezes um trabalho com suporte único,

sendo pensada anteriormente não como foto e sim como imagem o que permite o hibridismo de

técnicas.

Tais denominações buscam, na verdade, revelar a capacidade desse tipo de fotografia de

se mesclar com outras linguagens como o cinema, a pintura, a gravura eu teatro, por

exemplo, num movimento que tende a tornar mais complexas e desafiadoras tanto sua

simbologia quanto sua classificação. (Itaú cultural Pág.11, 2009)

Page 5: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

5

Portanto o artista contemporâneo não necessariamente tem como resultado final um

trabalho híbrido, mas seu pensamento intermeia e caminha junto com todos os outros meios de

expressão, trocando possibilidades entre os suportes e desenvolvendo novas formas de colocar em

prática a poética de cada um.

O avanço tecnológico, ampliou não só a qualidade da fotografia e a popularização do

suporte, mas a facilidade de lidar com a produção fotográfica, resultou na busca de novos caminhos,

no pensamento anterior ao click e na produção da imagem final, que assumiram uma estética que

foge do modelo tradicional fotográfico, e passa a questionar essa limitação ao formato.

Com tantas transformações de ordem conceitual e técnica, a fotografia da virada do

século XX para o XXI tem conseguido de forma enfática e original representar o anseio

e as contradições do homem contemporâneo, ampliando suas fronteiras de representação.

(Itaú Cultural, Pág.11, 2009)

O pensamento contemporâneo permite que o artista, ultrapasse as barreiras que limitam

sua produção artística para enquadrar em um único suporte, essa possibilidade reforça e aumenta

o sentido íntimo de um trabalho, que não mais precisa se adequar e sim buscar meios que se

adéquem, ou até mesmo criar novos meios.

Por um lado, as fotografias se expandem, animam-se, comportando configurações

imprevistas, em manifesta indiferença às convenções tradicionalmente relacionadas ao

meio. (FATORELLI, Notas do autor.)

A exposição, o espaço também são possibilidades de expansão da fotografia

contemporânea, que pode se estender e subverter o espaço comum de exposições, trazendo uma

experiência mais íntima ao observador, que saí do formato padrão da fotografia pendurada na

parede. O trabalho contemporâneo também pode ser completo a partir da interação de um fruidor,

que partindo da proposta interage com a exposição e com a obra, seguindo um caminho indicado

pelo artista, contemplando a subjetividade de cada um, e interferindo, complementando o sentido

e a intenção de maneira única e inusitada. Traduzir a subjetividade artística para um trabalho

contemporâneo, se torna mais plausível, de acordo com a vasta gama de recursos, e possibilidades

de expressão. Portanto a fotografia contemporânea, parte de um pensamento híbrido, que tem

como prioridade a realização mais fiel, a poética possível, sem se adequar a um único suporte ou

aos padrões, a arte contemporânea é transgressora como ideia antes da prática. Diante aos diversos

artistas que possuem uma produção fotográfica contemporânea dentro das suas diversas variações

e vertentes, de um estilo fotográfico ainda em expansão, faço um pequeno recorte, apresentando

dois fotógrafos que possuem um trabalho importante na fotografia contemporânea e são de grande

referência para meu trabalho fotográfico, mesmo com a divergência clara de intenção, são esses

Miguel Rio Branco e Sophie Calle.

1.1 miguel rio branco

O fotógrafo Miguel Paranhos da Silva do Rio Branco (1946), Miguel Rio Branco, possui

um intenso e simbólico trabalho fotográfico dentro da fotografia contemporânea. Miguel possui

trabalhos audiovisuais, instalações, mas a principal referência para a referente pesquisa são suas

fotografias. No geral Miguel dentro da poética trabalha com a brasilidade e mais amplamente a

latinidade. Miguel possui uma narrativa única em seus trabalhos que falam da América Latina e

suas particularidades culturais sob seu olhar, e um recorte especialmente pessoal e único dentro da

realidade comum.

Page 6: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

6

Figura 2: Sem título, da série "Maciel" 1979, de Miguel Rio Branco

Um de seus livros, Silent Book, é o retrato da latinidade, um livro estritamente de

fotografia, mas que usa do lirismo em sua narrativa, sendo visualmente e poeticamente impactante,

a série de Miguel caminha entre a violência e a ternura, nos mostrando a vida urbana a partir de

seu olhar com composições que se assemelham a pinturas nos mostram a destruição, circos

abandonados, prostíbulos, e academias de boxe, dizendo sobre a força física, a pele a sexualidade

e a violência em toda a série.

Figura 1: Gorotide , 1983 , Miguel Rio Branco

Page 7: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

7

Essa insaciabilidade do olho que fotografa altera as condições do confinamento na

caverna: o nosso mundo. Ao nos ensinar um novo código visual, as fotos modificam e

ampliam nossas ideias sobre o que vale a pena olhar e sobre o que temos o direito de

observar. Constituem uma gramática e, mais importante ainda, uma ética do ver.

(SONTAG, Pág.8, 1979)

Miguel Rio Branco é referência para meu trabalho fotográfico na questão de ser um artista

contemporâneo que produz registros como na fotografia moderna porém os recortes, a

subjetividade de seu olhar e a narrativa que é criada partir de suas fotos conseguem representar o

caos e a violência de formas tão intensas por meio de uma ficção, além do modo de como ele

apresenta suas fotografias e vídeos por meio de instalações que amplificam e reforçam o sentido

de seu trabalho, fazem de sua produção contemporânea. Minha pesquisa parte inicialmente da

fotografia documental, porém se distância dela se firmando como contemporânea por ser

declaradamente uma narrativa de um sentimento. A expansão fotográfica das exposições de

Miguel Rio Branco também é de grande referência para meu trabalho, a fotografia fica diluída

diante a um ambiente criado por ele que toma conta do espaço da exposição, impulsionando o

sentido do trabalho fotográfico mesmo que esteja representado de forma mais tímida, o trabalho

de Miguel é pensado como um conjunto que compõe uma imagem.

1.2 sophie calle

Sophie Calle é uma artista contemporânea, que possui um trabalho na fotografia que é

resultado de uma imersão, onde ela cria a partir de sua realidade e de sua experiência de vida,

ficções que resultam em seu trabalho artístico que questionam a vida privada e pública da artista e

das pessoas envolvidas em seu processo. Dois de seus trabalhos são referência para minha pesquisa,

Suíte Veneziana (1980) e The Hotel, que tratam de uma inserção proposital da artista em situações

específicas que a permitiram criar a partir dessas experiências ficções que investigavam a vida das

Figura 3: Red Socks White Dress, 1991 Maldicidade Miguel Rio Branco

Page 8: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

8

pessoas como em um romance policial. Os dois trabalhos, são resultados de uma inserção

proposital a lugares e situações que fornecem a artista material para criar sua ficção a partir disso,

fotografando detalhes específicos e fazendo anotações, mudando e subvertendo totalmente a

realidade e transformando-a em uma ficção que distância o observador de sua obra do que

realmente aconteceu e sim da história que ela criou a partir dessas experiências. Em Suíte

Veneziana, a artista ao conhecer um homem nas ruas da França e sabendo que ele iria para Veneza

decidiu segui-lo em sua viagem, onde escondida fotografou e detalhou o dia a dia comum do

homem, transformando sua realidade em uma investigação policial. Em The Hotel, Sophie Calle

ao arrumar um emprego de camareira e um hotel, começa outro trabalho de investigação, onde

bisbilhotava, mexendo em malas, nos lixos, dentre outros lugares, fotografando detalhes e fazendo

anotações criando também uma investigação a partir da rotina comum das pessoas hospedadas.

Sophie Calle em seu trabalho fotográfico, possui a necessidade de viver e se inserir em situações

como parte de seu processo de criação, apesar de ser um trabalho ficcional, tudo que é criado é a

partir de uma experiência real vivida pela artista onde ela escolhe o que e como contar. É nesse

processo de entrega e da necessidade de viver situações específicas como parte do processo de

criação, é que a artista entra como referência em minha pesquisa, onde necessariamente durante 1

ano propositalmente fiz o registro de momentos distintos que me causaram felicidade,

fotografando cenas inteiras ou apenas alguns detalhes que representassem esse sentimento. Há

uma infinidade de caminhos que a fotografia contemporânea possibilita, gerando trabalhos muitas

vezes completamente diferentes, pois dependem como todo processo artístico da individualidade,

e da poética de cada um. Partindo das possibilidades oferecidas, houve uma procura de artistas

contemporâneos e de bifurcações dentro da fotografia contemporânea que tivessem relação com

minha pesquisa, e com o tema que trabalho com foco na vida íntima, assim pude desenvolver com

maior facilidade, seguindo referências e trabalhando com maior segurança.

2- VIDA INTIMA E OUTRAS REFERÊNCIAS

2.1 vida intima

A Fotografia popular, tirada de forma completamente amadora sem nenhuma pretensão

artística ou estética, sem enquadramento ou composição foge de qualquer regra existente na

fotografia artística ou profissional, porém, possuem um grande apelo sentimental e uma grande

Figura 4: Suite Vénitienne (Súite Veneziana), 1979. Sophie Calle

Page 9: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

9

força estética. Trazer esse estilo fotográfico do comum para um trabalho acadêmico, mais

especificamente para a fotografia contemporânea é um desafio. Em geral, tiramos fotos em

momentos simbólicos da vida em família, em ocasiões especiais nas quais reconhecemos

expressamente nossos laços afetivos e conquistas sociais. São momento aos quais queremos nos

agarrar, emocional e visualmente.

De maneira típica essas situações são momentos culturais compartilhados: jogar confete

ou arroz nos noivos ao fim da cerimônia de casamento, soprar velinhas do bolo de

aniversário […] (COTTON, Pág. 137, 2010)

A fotografia artística também pode retratar o mesmo que na fotografia popular, mas nunca

com o mesmo olhar simplista diante a cena com a ambição de eternizar um momento importante,

mas sim com a intenção anterior a foto de dizer algo além, em minha série, em cada foto por mais

simples que aparente ser, falo sobre a felicidade que sinto e quero transmitir, falo sobre meu

passado e relação com a fotografia, fazendo do amor e do encanto pela fotografia popular um

trabalho com um pensamento contemporâneo, mas diretamente relacionado com as fotos que via

na infância.

A fotografia de arte, por outro lado, embora aprimore a estética dos instantâneos

de família, geralmente retira os cenários esperados e os substituí por uma dimensão

emocional: tristeza, discórdia, vício, doenças. Ela também recorre a temas de não eventos

da vida diária: dormir, falar ao telefone, viajar de carro, estar entediado ou sem vontade

de conversar, por exemplo. (COTTON, Pág.138, 2010)

Vida intima é o nome do capítulo do livro da autora Charlotte Cotton, que fala sobre a

fotografia do íntimo, do comum de cada fotógrafo apresentado pela autora que serão aqui citados

e relacionados ao meu trabalho. A fotografia íntima também é uma reconstituição dos subtextos

de nossos instantâneos de família.

Todos podemos encontrar, em nossas fotografias privadas, os sinais das correntes

subjacentes em nossos relacionamentos específicos. Quem fica ao lado de quem num

retrato em grupo? Quem não aparece? Quem tira a foto? (COTTON, Pág. 138, 2010)

2.1.1 nan goldin

Nan Goldin é a fotografa citada pela autora Charlotte Cotton como referência mais óbvia e

direta dentro da fotografia intima. A fotografa norte-americana começou a tirar fotos de seus

amigos, família e amantes nos anos 70, mas só na década de 90 que seu trabalho fora reconhecido

internacionalmente e tenha entrado no mercado da arte segundo COTTON.

O início de sua atividade é altamente significativo (quanto mais não seja porque continua

sendo repetidamente lembrado nos textos escritos sobre sua obra). (COTTON, Pág. 138,

2010)

As primeiras fotos de Nan Goldin, resultaram em uma série de fotos em preto e branco

que retratam a sua vida da época, com o nome de Drag queens, a série retratava a vida de duas

drag queens que moravam com ela e todas as pessoas de seu círculo social. A fotografia de Goldin

é intensa, e retrata a vida sexual da fotografa, seu envolvimento e o das pessoas a sua volta com

drogas e o abuso dessas, uma realidade crua que, no entanto, direciona propositalmente o

pensamento de quem vê com um assunto central. A série The Ballad of Sexual Dependcy, a

Page 10: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

10

fotografa retrata seus relacionamentos sexuais, a violência doméstica, o isolamento social dos

homens, o abuso de drogas.

Figura 5: JIMMY PAULETTE + TABBOO! IN THE BATHROOM, 1991. Nan Goldin

No livro, o ensaio de Goldin afirma vigorosamente sua necessidade psicológica de fazer

fotos das pessoas que ama. Sua descrição do efeito do suicídio de sua irmã (aos 18 anos,

quando Nan tinha 2) justifica vividamente a sensação de urgência com que fotografa o

que pra ela é emocionalmente significativo, como estratégia para conservar sua própria

versão da história da sua vida. (COTTON, Pág. 139, 2010)

Já no início dos anos 90 a fotografa publicou o livro I’ll be Your Mirror [ Eu serei seu

espelho], as fotografias tiradas de pessoas com um laço afetivo a ela eram um equilíbrio entre

perdas e comemorações.

Seu registro intenso do impacto do HIV e de doenças relacionadas com a Aids, do vício

em drogas e da reabilitação de sua vida e da de seus amigos propunha às plateias de arte

um envolvimento profundo com essas questões sociais, articuladas em termos muito

pessoais. (COTTON, Pág. 141, 2010)

Nan Goldin começa a fotografar também pessoas na qual possui afetividade visual, nas

ruas e não mais apenas amigos de longa data, conforme sua mudança de vida após parar com o

uso de drogas Goldin passa a retratar cenas que contrapõe a todo seu trabalho que era o retrato da

vida boemia e noturna dentro de boates, contra isso e como reflexo da nova vida a fotografa

passou a usar luz natural do dia em suas fotos.

Page 11: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

11

Goldin também começou a fotografar pessoas com as quais sentia afinidade, mas que

não eram amigos de longa data. (COTTON, Pág. 141, 2010)

O íntimo registrado no trabalho fotográfico de Nan Goldin é principal referência para o

meu trabalho, e que melhor representa minha intenção com a fotografia e o resultado de minha

série, assim como a fotógrafa retratei detalhes do meu dia, da minha vida comum que é comum

apenas a mim, com a intenção de mostrar detalhes de uma vida, da minha vida que sofre a

interferência de várias outras e também retratar minha busca e a busca geral pela felicidade. Minha

série e pesquisa há também relação com a abordagem de Nan Goldin com as pessoas, a importância

delas em minha série, e a afetividade retratada na foto de amigos, ou de pessoas que acabei de

conhecer possui um intenso valor simbólico e significativo dentro da procura da felicidade.

2.2. outras referências e lucas bamboozi

Lucas Bamboozi é um artista contemporâneo brasileiro, que trabalha com suportes

multimídia, vídeos, instalações e performances audiovisuais. Um de seus trabalhos Postcards,

realizado entre os anos 2000-2016, é referência para a versão física de minha série, que são cartões-

postais. Em Postcards, Lucas Bamboozi visita os locais retratados em cartões-postais e grava

vídeos mostrando o local e como é com a interação das pessoas, relacionando com a imagem

estática do cartão. O trabalho Postcards é referência para a versão final de minhas fotografias, que

em primeira instância eram uma série fotográfica sem versão física, podendo se adequar ao modelo

tradicional de exposição ou de modelo físico, a partir da pesquisa em fotografia contemporânea a

necessidade da mudança do suporte tradicional se tornou necessária, e acabei optando por cartões-

Figura 6: AUTORRETRATO: BALADA DA DEPENDÊNCIA SEXUAL. Nan Goldin

Page 12: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

12

postais, um formato popular, que está profundamente relacionado com minha poética, que parte

de um contato e apreço desde a infância pela fotografia amadora.

2.2.1 cia de foto

O vídeo Caixa de sapatos, é composto por fotografias e pequenos vídeos que retratam o

dia, o cotidiano de uma família, consequentemente retrata o tempo, o crescimento dos filhos, o

nascimento, criando um diálogo a partir da realidade comum através de um olhar artístico, objetivo

e resultado que busquei em minha série fotográfica. Vídeo que é referência para minha série

fotográfica, por seguir a mesma linha de pensamento e intenção na qual trabalho, da fotografia

popular trazida para o meio artístico, através de um trabalho contemporâneo. Também uso

o título do vídeo, Caixa de Sapatos, como referência para uma das partes do trabalho físico que

será uma caixa de sapatos, onde colocarei meus cartões-postais.

3-SÉRIE

3.1 poética

Nesse caminho, esbarramos com a difícil missão de se relacionar com o outro, um

universo diferente em meio ao nosso, ceder as vontades, vencer preconceitos em função da boa

convivência é um desafio geral. Ser sincero consigo mesmo, pensar sobre nossa existência,

entender e aceitar as nossas peculiaridades e se entregar ao outro em busca de relações

aprofundadas e realmente relevantes na vida de ambos. Um olhar mais demorado sobre tudo se faz

necessário, se dar tempo para entender o outro e a cada coisa, para possivelmente nos tornarmos

uma pessoa melhor, progressivamente. Minha Série fotográfica é um processo de

autoconhecimento e auto reconhecimento artístico e sentimental, simboliza uma intensa transição

em minha vida que marca uma nova fase de dedicação e entendimento e entrega a cada coisa, sem

o desejo utópico de ser suficiente a tudo, e sim de ser sincero nas relações, de me mostrar como

realmente sou ao outro e possibilitar que o outro seja também, é sobre estar aberto a ouvir,

compreender e ajudar. A fotografia fora escolhida como meio de expressão, por estar

profundamente ligada a mim desde a infância quando tive a curiosidade despertada e o anseio pelo

conhecimento da máquina analógica da família, que não muito mais tarde com 5 anos em uma

manhã de descuido de minha mãe me apropriei da câmera e tirei inúmeras fotos de coisas aleatórias

de casa, gastando um filme quase inteiro. Esse interesse e vislumbre pela fotografia cresceu, porém,

a prática fora perdida diante a tantas distrações de uma criança, e retomada apenas com 21 anos

em 2016, quando alguém muito importante me fez entender e aceitar inúmeras coisas sobre minha

existência que se encontravam mal resolvidas, nesse processo retomei algumas práticas muito

importantes dentro de minha vida artística, dentre elas a fotografia. Parto da proposta de narrar

minha felicidade, um sentimento, fotografando alguns signos que representem meu dia ou um

momento dele, talvez não conversem entre si, mas criam em sua junção uma ficção que representa

em sua totalidade o que me desperta felicidade no corriqueiro.

3.2- fotografia da felicidade

A felicidade é assunto corriqueiro, questão quase mundial, a busca por ela, correr atrás,

encontrá-la nas coisas mais simples, no dinheiro, nas pessoas. A felicidade é assunto na filosofia,

Page 13: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

13

é pauta das conversas na mesa de café da tarde, nas rodas de amigos, seu sentido é variado de

pessoa para pessoa de cultura a cultura, mas a procura por ela é geral.

Vou falar, então, da felicidade... Confesso que, diante de tal tema, estou dividido entre

dois sentimentos opostos. Primeiro, o sentimento da evidência, da banalidade mesmo: porque a

felicidade, quase por definição, interessa a todo o mundo (lembrem-se de Pascal: “ Todos os

homens procuram ser felizes; isso não tem exceção...É esse o motivo de todas as ações de todos

os homens, inclusive dos que vão se enforcar...” ) […] (SPONVILLE, Pág.1, 2001) A fotografia

da felicidade é o tema de minha série fotográfica, que surgiu a partir de uma mudança importante

em minha vida, marcada pelo começo de um relacionamento com uma pessoa muito especial, que

me inspirou e me inspira a ser sincero primeiramente comigo mesmo, sentimento que influência

diretamente em minha sensibilidade e olhar sobre as coisas e pessoas e consequentemente na

poética dessa série fotográfica. Consequentemente o registro da felicidade do outro também faz

parte de minha série, fugindo de resultados plásticos de uma fotografia comercial. Minha série

fotográfica é o registro de uma fase de minha vida, onde retrato alguns momentos separados de

meu dia ou de ocasiões especiais que despertam em mim Felicidade. Então não necessariamente a

série é composta de fotos apenas de pessoas, ou paisagens ou animais, é uma série atenta a detalhes

específicos. A grande dificuldade de meu tema e pesquisa foi descartar as diversas possibilidades

e bifurcações que surgem na procura de um assunto, ser mais específico faz parte também do

processo em ser sincero comigo mesmo. A série é composta por paisagens, pessoas, objetos,

recortes específicos de alguém ou algo, são detalhes que aos meus olhos representam perfeitamente

o momento que pretendo transmitir e que trata de uma simplicidade tão grande que é o que faz

possível a felicidade não como ilusão ou necessidade, mas sim de algo corriqueiro para alguém

que procura ela nas pessoas e nas coisas.

3.3 série

A série começa e termina totalizando um período de um ano de trabalho e fotografia, de 7

de setembro de 2016 a 7 de setembro de 2017, um ano de registro representados por apenas

algumas fotos que melhor representam cada momento. A passagem de tempo é representada

apenas visualmente pelo retorno ao mesmo festival, na escolha de algumas fotos específicas que

marcam a volta após um ano a cidade de Piracicaba, onde revisitei propositalmente os mesmos

lugares com minha namorada, dessa vez fazendo um percurso diferente, mas chegando aos

mesmos lugares, a mudança de percurso consequentemente nos proporcionou novas experiências

que foram retratadas por mim e estão na série. As fotos retratam um recorte de minha vida onde

em narrativa crio uma ficção que retrata a felicidade real que encontro nas pequenas coisas, faço

em minha série um arco ao logo desse um ano intercalando dias rotineiros na faculdade, passeios

em outras cidades, dentre outros momentos do cotidiano, destacando apenas alguns detalhes de

um dia todo que despertam esse sentimento, ou no caso de um ano todo. Minha série fotográfica é

uma seleção dentre tantas fotos que tirei ao longo de um ano, que contém detalhes e momentos

importantes de algumas ocasiões que resumem minha vida ao longo desse tempo. A Fotografia

após a popularização das máquinas compactas se tornou muito presente no âmbito popular, se

tornou tradição tirar fotos de aniversários, apresentações dos filhos, de momentos corriqueiros da

família até os mais importantes, como a compra de alguma coisa, ou uma viagem em algum lugar

importante. Hoje raramente não se encontre alguém com uma caixa em casa com os álbuns de

parentes, monóculos, fotos 3 x 4, de toda uma geração. Meus pais e minha avó paterna sempre

estiveram dentro dessa cultura fotográfica popular, de maneira totalmente amadora, e com

pretensão única de registrar o momento, foram tiradas fotos de cada ano de nossa vida, de cada

evento, passeio, ou momento mais banal possível. E assim se estabeleceu essa rotina em minha

Page 14: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

14

casa e de todos meus parentes, tirávamos fotos de quase tudo, e em cada ida para revelar os filmes

era uma nova aventura, ninguém sabia como sairiam as fotos, ou até mesmo que fotos estariam no

filme (o mesmo filme era usado para várias ocasiões), e em cada casa possuía sua caixa de sapatos,

que virava um evento nostálgico onde a família toda se reunia em volta de uma caixa para ver

fotos de parentes que nunca conhecemos, de primos distantes, os mais novos viam fotos de seus

pais crianças, da avó jovem e de todo um retrato de uma época que já tinha ido e só conhecemos

por fotos. A casa da minha avó paterna se tornou o local onde mais a fotografia se tornou

importante em minha vida, em sua sala com móveis e decoração de uma época que não

conhecemos, nos reuníamos em família, e muitas vezes algum primo ou eu mesmo pegava uma

caixa de sapato onde minha avó guardava suas fotos e monóculos dos mais diferentes formatos,

cada uma registrando uma viagem importante, um casamento, um evento religioso ou um

aniversário, foi onde encontrei por muito tempo minha felicidade. Minha série é diretamente

influenciada por essa fotografia popular sem muita pretensão, mas cheia de carga emocional, de

importância, é a vida simples sem mais rodeios, resumida em registros de momentos

sentimentalmente importantes, na série passo a sentir felicidade trocando os papéis, agora como

fotógrafo, querendo contar com fragmentos, um pouco de mim e dos que estão a minha volta, e

pretensiosamente gerar felicidade a quem ver, assim como eu quando criança vendo as fotos de

minha avó. Partindo de uma série fotográfica que contempla a fotografia popular, o retrato do

cotidiano, o retrato amador com viés artístico surge o desafio de me situar, dentro de algum gênero

fotográfico. Após a escolha do contemporâneo começa o processo de adequação, de formato físico,

de modo que eu conseguisse desenvolver minha poética expandindo o suporte e saindo do

tradicional de maneira coerente, sem juntar coisas do meio contemporâneo que não conversassem

com meu trabalho. Durante a pesquisa conheço artistas que possuem a mesma proposta de

narrativa do cotidiano, que conta com um processo mais íntimo e introduzido a própria vida do

fotografo. Encontrando a subdivisão dentro da fotografia contemporânea que meu trabalho se

encontra, começo a busca e a construção para a forma física das fotografias.

3.4 formatos

Depois de terminar a série fotográfica começa o pensamento de como apresentar meu

trabalho de forma que converse de forma lógica com a poética. Surge então a ideia de transformar

cada fotografia em um cartão-postal, que conterá no verso uma breve frase escrita a mão que

descreva a fotografia, junto a frase haverá uma pergunta e um espaço de resposta para que haja

interação de terceiros em uma exposição, essa interação completa o sentido do meu trabalho. A

pergunta é: O que é felicidade? E conversa com o sentido da foto. Os cartões-postais serão

apresentados dentro de uma caixa de sapatos que remete a fotografia popular, e ao vídeo

anteriormente citado do grupo cia de foto, a caixa é uma de sapatos velha que remete e representa

de forma mais fiel uma caixa de guardar fotografias. Em 22 de Setembro de 2017 minha avó morre.

Como já havia pensado anteriormente em apresentar meu trabalho em um cenário que remeta a

casa dela, isso toma uma importância simbólica ainda maior em meu trabalho fotográfico,

montarei minunciosamente uma sala contendo os seguintes itens:

-Sofá -Almofadas de Crochê - Mesa de centro de madeira -Caixa de sapatos com os cartões-

postais -Urna e cartões de resposta - Luz Amarela ambientando o cenário

A sala será composta por alguns itens, que realmente eram da sala de minha avó, que eu

sentava quando criança. O objetivo do cenário é criar um ambiente aconchegante, e acolhedor

dentro de uma galeria de arte, propiciando uma melhor apreciação do trabalho fotográfico, gerando

Page 15: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

15

a inserção necessária para remeter ao estilo da fotografia popular, tendo como objetivo secundário

gerar memórias aos que não viveram essa época ou resgatar as de quem já viveu, e como objetivo

primário gerar felicidade que é o tema central da série. O que é felicidade? A pergunta em si já diz

tudo e abraça o sentido de toda a série, é a felicidade em um âmbito abrangente, popular, é a

felicidade bruta e real que é alvo de procura por todos, e pode estar em qualquer lugar, é sobre a

procura geral e pessoal por esse sentimento na vida cotidiana. As perguntas nos versos dos cartões

são com a intenção de permitir que as pessoas tenham e falem um pouco sobre sua busca individual

pela felicidade, e possam também encontrar a felicidade nos cartões, ou revisitar momentos felizes

do passado, interação que abrange o sentido do trabalho que se torna uma busca geral pela

felicidade.

3.4.1 cartão postal

O cartão-postal fora escolhido como suporte para minhas fotografias por simbolizar

viagens, aventura e principalmente por serem signos que representam um lugar, recortes

específicos de uma localidade turística. Também o cartão-postal é um modo de se mostrar um

lugar importante a alguém resumindo a experiência do momento vivido. Minha avó sempre

possuiu uma grande relação com viagens, eu ao ver suas fotos dos lugares que ela visitava ficava

deslumbrado, deslumbramento que também influenciou minha série e por consequência o suporte

de cartão-postal. Esse suporte possui grande importância dentro da fotografia popular, seu uso

como souvenir de viagem possuem um grande apelo simbólico que quero trazer para meu trabalho

fotográfico.

3.5 fotografias

As fotografias que eu acumulei, nesse período de 1 ano que fotografei para a série, foram

selecionadas e a partir dessa seleção escolhi 74 fotos que fiz cartões postais, que representam parte

de minha vida, e lugares que frequentei, momentos, signos que resumem um grande período de

tempo. Nas fotografias escolhidas, algumas pessoas importantes para mim não aparecem, pois

gostaria que elas fossem representadas de outra maneira, pelo sentimento que tento transmitir na

totalidade da série, sobre um período de vida, um recorte especifico que possuí muita coisa por

trás. Atrás de cada fotografia, escrevi a mão a descrição da foto, o que sinto, e o resumo de tudo

aquilo, a grande maioria são agradecimentos pelas pessoas fotografadas, e uma breve descrição do

momento, do contexto geral, escrevi também dessa vez em todas as fotografias a pergunta: O que

é felicidade?

Page 16: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

16

Figura 8: Capoeira - Série : Sobre Nós - 2017 - Gabriel Scabora

Figura 7: Seu Zé - Série: Sobre Nós - 2017 - Gabriel Scabora

Page 17: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

17

3.6 exposição

Após o término da parte prática do meu TCC, meu amigo César Rocha e eu idealizamos

uma exposição de fotografia contemporânea conjunta, no espaço da Galeria da FAAL. O trabalho

fotográfico de César Rocha foi desenvolvido no pensamento contemporâneo a partir da foto

colagem, juntando em cada colagem cópias de uma só fotografia que recompostas pelo artista

formam um desenho abstrato, que tem como objetivo ressaltar as formas e os detalhes da natureza.

A exposição conjunta ganhou o nome de Entre mundos que simboliza a diferença das duas séries,

que são de fotografia contemporânea, que partem por outras vertentes dentro das vastas

possibilidades que encontramos, mas que são expostas juntas, com a intenção de apresentar essas

diferenças ao público. Na abertura da exposição houve uma apresentação musical, de nosso amigo

Douglas Prado que sentado no sofá de minha série tocou suas músicas, gerando o começo da

interação com o espaço da sala em que criei. Expor na faculdade foi muito importante para

conclusão de minha série, pois lá estão meus amigos, e professores, e que também é local da

maioria das fotos da minha série, faculdade em qual passei 3 anos de minha vida, e boa parte dos

momentos de felicidade. A interação gerada, pela inserção que propus com a sala - cenário foi

extremamente positiva. Nos cartões de resposta, também houve uma interação que não só seguiu

o proposto, mas me surpreendeu pelo carinho que foi recebido, e declarado no que escreveram nos

cartões. Os cartões de resposta como era esperado atribuem a meu trabalho um caráter de falar

sobre a felicidade pelo olhar do outro, pela escrita do outro, é uma troca de experiências que define

dentro da minha pesquisa, algumas visões sobre esse sentimento.

Figura 9: Aniversário da Vivian - Série: Sobre Nós - 2017 - Gabriel Scabora

Page 18: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

18

Figura 11: Mão pegando cartão postal, Sobre Nós 16-2017 Exposição: Entre Mundos- 2017- Fotografia: Gabriel

Scabora

Figura 10: Detalhe da sala, caixa de sapatos e cartões postais - Sobre Nós 16-2017- Exposição: Entre Mundos -

2017 – Fotografia: Gabriel Scabora

Page 19: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

19

CONCLUSÃO

O Presente artigo é uma adaptação do trabalho de pesquisa poética resultante em um TCC

requisito para a conclusão do curso de Licenciatura de Artes Visuais da instituição FAAL-

Faculdade de Administração e Artes de Limeira.

Partindo da proposta inicial de realizar uma série fotográfica que retratasse o cotidiano,

exatamente em um período de um ano, surgiu o desafio de me enquadrar no pensamento

contemporâneo. Necessariamente houve uma pesquisa começando após a conclusão da parte

prática da série fotográfica, partindo disso, comecei acerca do pensamento fotográfico

contemporâneo, conhecendo e relacionando trabalhos que seguem a mesma linha poética do meu.

O capítulo Vida íntima do livro da autora Charlotte Cotton, me serviu como guia e base

para nomear a bifurcação contemporânea onde meu trabalho se encontra, que é a fotografia do

íntimo que parte da inserção e construção poética que surge como uma abordagem peculiar e

inserida na vida própria.

Vale ressaltar os processos de pesquisa entorno da felicidade, que foram necessários para

a construção da poética em função da produção prática, que consistia em retratar momentos

íntimos da minha percepção de felicidade. Além de criar uma narrativa pessoal sobre o meu

entendimento de felicidade, busquei também ilustrar a partir da fruição das pessoas na exposição

final qual a concepção individual de felicidade de cada visitante, permitindo que cada um pudesse

participar da obra depositando em uma urna um papel que escreveriam suas percepções do

sentimento abordado.

Durante o processo de pesquisa, existiram várias etapas de construção que aconteceram

simultaneamente, as fotografias que aconteceram no período de 1 ano, a pesquisa entorno da

felicidade, da fotografia contemporânea e da fotografia do íntimo, e a concepção do processo de

construção do suporte final e da exposição. Todos esses processos se concluíram na exposição,

por conta da conclusão do trabalho artístico a partir da fruição das pessoas que visitaram

interagindo e dando sentido a instalação e as fotografias, concluindo o pensamento inicial de narrar

de forma íntima minha percepção de felicidade.

O trabalho de pesquisa e produção poética em questão, pretende ser o inicio de um

aprofundamento futuro no gênero da fotografia do íntimo, detalhando e explorando outros aspectos

não explorados no trabalho apresentado, que seriam a representação fotográfica de outros

sentimentos que compõem o que entendo por felicidade: A dor, o amor e a saudade. Além da

pretensão de expandir a representação dentro da fotografia do íntimo para outros sentimentos, faz-

se necessário, abordar em trabalhos futuros cada sentimento narrado de forma minuciosa,

pretendendo além do âmbito claramente pessoal do trabalho artístico, uma abordagem mais

universal de cada sentimento que será trabalhado.

Portanto, concluo todo o processo de produção e construção desde a poética, do tema, da

pesquisa e do desenvolvimento, declarando um resultado satisfatório de acordo com minha

proposta inicial, onde pude apresentar e introduzir a contemporaneidade, e mais profundamente a

fotografia do íntimo, podendo realizar um trabalho prático junto a uma pesquisa contundente

dentro do espectro no qual me propus. Com isso pretendo contribuir com a minha abordagem

artística do trabalho apresentado e com toda a pesquisa realizada entorno do trabalho prático, para

o pensamento contemporâneo artístico, fotográfico e mais especificamente para o gênero da

fotografia do íntimo, podendo contribuir em trabalhos futuros de pesquisa poética com abordagens

semelhantes.

Page 20: FOTOGRAFIA DA FELICIDADE · *Professor PEB II- ARTE. Formação em licenciatura plena em Artes Visuais- 2017- FAAL- Faculdade de Administração e Artes de Limeira FOTOGRAFIA DA FELICIDADE

20

REFERÊNCIAS:

-COTTON, Charlotte - A Fotografia como arte contemporânea São Paulo: WMF Martins Fontes,

2010. -Itaú Cultural - A Invenção de Um Mundo – Editora: Itaú Cultural, 2009 -

JUNIOR, Rubens Fernandes. Processos de Criação na Fotografia - PICTORIALISMO. In:

ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017.

-SPONVILLE, André Comte- Livro: A felicidade, desesperadamente. Editora MARTINS

FONTES, 2001. -DUBOIS, Philippe, O ato fotográfico 9º Edição Editora Papirus

-ROLIM, Iara Cecília Pimentel "Pêche au harpon", a trajetória de uma fotografia Revista Resgate

- Centro de Memória da Unicamp v. 22, n. 1 (2014)

-BARTHES, Roland. A câmara clara: Nota Sobre a fotografia 1980 PDF

link:http://www.pucrs.br/famecos/professores/sempe/Roland_Barthes.pdf -

-KRAUSS, Rosalind. O fotográfico. PDF link:

htwww.uel.br/revistas/uel/index.php/discursosfotograficos/article/download/9225/785 0

-SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. Editora Companhia das Letras Pdf link:

http://www.mobilizadores.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Sobrefotografia-Susan-Sontag.pdf

-OMAR, Arthur. Antes de Ver: Fotografia, Antropologia e as Portas da Percepção. Editora Cosac

Naif.

-MARIEN, Mary Warner. 100 Ideias que Mudaram a Fotografia. Editora Rosari. -Cia de Foto.

Vídeo Caixa de Sapato link: https://www.youtube.com/watch?v=FOInOE8z6D8