Foucault e as Tecnologias Do Eu

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  • Foucault e as Tecnologias do EuKarla Pinhel Ribeiro - UFSC

    Resumo: Em Tecnologias do Eu, Foucault faz um estudo filosfico sobre

    regras, deveres, proibies, impedimentos e restries relacionadas

    sexualidade e sua diferena especfica em relao s outras proibies,

    contextualizando este seu estudo em seu estudo filosfico da histria das

    idias sobre as diferentes maneiras em que a cultura humana ocidental

    desenvolveu um saber sobre si mesma. O objetivo deste trabalho consiste em

    apresentar uma anlise filosfica deste estudo de Foucault sobre a tecnologia

    do eu, o modo em que um indivduo atua sobre si mesmo, apresentando seus

    princpios fundamentais.

    Palavras Chaves: FILOSOFIA - FOUCAULT - DIREITO

    1

  • Ao Professor Alessandro Pinzani,

    homenagem ao seu 40 aniversrio.

    Introduo

    Delimitamos nossa apresentao ao estudo do texto do

    primeiro seminrio que Foucault ministrou na Universidade de Vermont

    (de seis seminrios), no outono de 1982, documento transcrito com

    escassas modificaes, e que foi corrigido pelo prprio Foucault.

    Quando Foucault comeou a estudar as regras, deveres e proibies

    da sexualidade, os impedimentos e restries com que estava relacionada

    [FOUCAULT: 1990: 45], seu objetivo no era simplesmente o estudo das

    aes permitidas e proibidas, mas um estudo que tambm contemplasse, os

    sentimentos representados, os pensamentos, os desejos que puderam ser

    experimentados, os impulsos que levaram a buscar dentro de si qualquer

    sentimento oculto, qualquer movimento da alma, qualquer desejo disfarado

    debaixo de formas ilusrias. [idem] Para Foucault existe uma diferena

    significativa entre as proibies sobre a sexualidade e as demais proibies

    [ibidem], para ele diferentemente do que acontece com outras proibies, as

    proibies sexuais esto continuamente relacionadas com a obrigao de dizer

    a verdade sobre si mesmo [ibid].

    Em primeiro lugar, a importncia do tema da sexualidade, as razes do

    interesse de Foucault pelo tema e sua relevncia para o campo da tica,

    tambm justificada pelo filsofo j na primeira de suas trs conferncias na

    Universidade de Toronto1, em 1982. Neste texto, Foucault j afirmava que

    diferentemente da maior parte de outros grandes sistemas de interdies, o

    que concerne a sexualidade foi emparelhado com a obrigao de uma certa

    decifrao de um si mesmo [FOUCAULT: 1990: 35].

    1 [Trs conferncias na Universidade de Toronto, 1982], transcrio incompleta corrigida pelo prprioFoucault. Fonte: Por Miguel Morey: Centre M. Foucault, Documento D-243/906. 1988, classificado ereservado. Op. Cit., p. 35.

    2

  • Do mesmo ano, o texto que aqui apresentamos, The technologies of the

    self, uma transcrio com algumas poucas modificaes de um dos seis

    seminrios que Foucault ministrou na Universidade de Vermont, e que se trata

    de um texto publicado originalmente pela Universidade de Massachusetts, em

    1983, com o ttulo genrico de The Technologies of the self. A seminar with M.

    Foucault, editado por Luther H. Martin, Huck Gutman e Patrick H. Hutton

    [FOUCAULT: 1990: 33].

    Assim, podemos dizer que o problema que Foucault investigar no

    conjunto destes textos e conferncias, e desde a antiguidade grega , pois o

    estudo da obrigao de dizer a verdade acerca de um si mesmo atravs da

    sexualidade, este acoplamento singular entre a proibio de fazer e a

    obrigao de dizer e que o problema em questo tambm j estava formulado

    em seu curso de 1979-19802, com a seguinte pergunta: Como se formou um

    tipo de governo dos homens em que no se exige simplesmente obedecer,

    mas tambm, manifestar, comunicando-se, isso que um ? [FOUCAULT:

    1990: 35].

    Podemos definir preliminarmente nosso tema de estudo, com o que

    Foucault bem caracterizou como

    aquelas tcnicas que permitem aos indivduos efetuar um certo nmero de

    operaes em seus prprios corpos, em suas almas, em seus

    pensamentos, em suas condutas, e de um modo tal que os transforme a si

    mesmos, que os modifique, com o fim de alcanar um certo estado de

    perfeio, ou de felicidade, ou de pureza, ou de poder sobrenatural, etc.,

    etc. Permitam-me que chame a esse tipo de tcnicas, as tcnicas ou

    tecnologias de um si mesmo [the self] [FOUCAULT: 1990: 35-36].

    Por questes terminolgicas, importante considerar que a escolha do

    termo tecnologias de si, ou do eu, como se queira, atende a exigncia da

    traduo do termo original self ou soi e que a terminologia tecnologias do eu ou

    2 Howison Lecture, 20 e 21 de outubro de 1980. Centre M. Foucault, Documento D-2(1 e 2)/288.1987,classificado e reservado. Fonte tambm por Miguel Morey. Op. cit., p. 34.

    3

  • do si uma traduo da referncia3 que utilizamos, que significa esse si como

    sujeito interlocutor interior do prprio sujeito: um si mesmo, e terminologia que

    tambm j est presente em Howison Lecture como a reflexo acerca dos modos

    de vida, as eleies de existncia, o modo de regular sua conduta e de fixar-se si

    mesmo fins e meios [FOUCAULT: 1990: 36].

    ***

    O ponto mais importante da anlise filosfica do problema em questo

    concentra-se com maior ateno quando Foucault em seu estudo do tema

    estabelece um emparelhamento dos princpios fundamentais que orientam o

    estudo: o princpio filosfico conhece-te a ti mesmo dlfico (gnothi seatou) e o

    princpio filosfico ocupa-se de si mesmo (epimeleia heautou) que tem o

    equivalente romano cura sui, traduzido por Foucault como take care of your self.

    [idem].

    Este ponto o mais importante desta anlise filosfica dos princpios

    fundamentais da tecnologia do eu, porque

    suas relaes mtuas, suas respectivas fases de dominao de um sobre

    o outro ou seus solapamentos, levam a permitir um primeiro critrio taxonmico, e

    distinguir assim a especificidade das tecnologias prprias da Grcia clssica, da

    cultura greco-romana dos sculos II e III, o surgimento das hermenuticas de si

    em sentido estrito, com o cristianismo, e a forma que esta hermenutica de si vai a

    adotar com a modernidade e o surgimento das cincias humanas. [FOUCAULT:

    1990: 36-37].

    e que para ns definido, ou define, em The technologies of the self como

    marco geral da histria da subjetividade, tal como projetada como Foucault.

    Para Foucault, o marco geral da histria da subjetividade devia partir do

    princpio fundamental conhece-se a ti mesmo dlfico, passar pelo confessa teus

    pecados monstico e o cgito cartesiano, at chegar ao mesmo div psiconaltico,

    do que o primeiro volume de sua histria da sexualidade j esboava alguns de

    seus elementos constituintes. [idem]

    3 A dificuldade na traduo vista tambm por Miguel Morey, cuja introduo utilizamos para a referncia.

    4

  • Neste esboo da projeo histrica da subjetividade de Foucault, o

    surgimento das cincias humanas um tema que se ocupou o filsofo em boa

    parte da primeira conferncia da Universidade de Toronto, onde este assinalava a

    persistncia moderna do "conhece-te a ti mesmo" junto ao seu esquecido

    complemento, o "ocupa-se de si mesmo". E quanto a esse aspecto, Foucault

    indica nesta conferncia trs razes principais para este esquecimento moderno:

    "1) a impossibilidade de fundar uma tica do "ocupar-se de si mesmo" que,

    como conseqncia da educao crist, considerada como a raiz mesma de

    todo imoralismo; 2) a importncia hegemnica que na filosofia tomou-se o tema do

    sujeito de conhecimento (de Descartes a Husserl); e 3) a presena das cincias

    humanas que trataram de dar toda a preocupao, respeito do ser humano, a

    forma geral do conhecimento" [FOUCAULT: 1990: 37].

    E ao fim deste momento onde apresentamos preliminarmente os princpios

    fundamentais das techonologies of the self, fazemos referncia a uma advertncia

    de Foucault4 muito importante para a filosofia contempornea em geral, que o

    reconhecimento do filsofo de que em certas atitudes estticas ou polticas atuais

    h a existncia de uma "cultura de si mesmo", e de que atrs desta vontade de

    "redescobrimento" e de "liberao" h um perigo grave de neutralizao: "a idia

    de que este 'um mesmo' um objeto inteiramente dado que, antes de qualquer

    outra coisa, preciso conhecer". [idem].

    **

    Aps estas consideraes preliminares, passamos ento propriamente a

    anlise filosfica das passagens do texto que escolhemos como tema do estudo

    que aqui estamos apresentando hoje.

    Como pudemos ver anteriormente, o texto de Foucault The technologies of

    the self apresenta-se em continuidade com alguns de seus estudos filosficos

    anteriores, que no nos detivemos anteriormente e nem nos deteremos daqui em

    4 Esta advertncia tambm j est muito bem esboada tambm no Captulo I de A verdade e as formas jurdicas

    5

  • diante, mas que sua contextualizao se constituiu importante para ns leitores de

    Foucault podermos melhor nos orientar dentro do conjunto de sua obra.

    Entretanto, seguindo uma advertncia do prprio Foucault, feita ao final da

    introduo de sua Arqueologia do Saber, vamos procurar fazer um estudo

    filosfico analtico com uma leitura do texto por si mesmo, como uma texto escrito

    por um filsofo sem rosto.

    Assim, feitas essas ressalvas, passemos ento ao estudo filosfico das

    passagens do texto do primeiro seminrio de The technologies of the self, dos seis

    ministrados na Universidade de Vermont, um texto de introduo que assinala em

    primeiro lugar as razes do interesse de Foucault pelo tema da sexualidade e sua

    relevncia para o campo da tica. Assim, quando Foucault comeou a estudar as

    regras, deveres e proibies da sexualidade, os impedimentos e restries com

    que estava relacionada [FOUCAULT: 1990: 45], seu objetivo, como vimos, no

    era simplesmente o estudo das aes permitidas e proibidas, mas um estudo que

    tambm contemplasse, os sentimentos representados, os pensamentos, os

    desejos que puderam ser experimentados, os impulsos que levaram a buscar

    dentro de si qualquer sentimento oculto, qualquer movimento da alma, qualquer

    desejo disfarado debaixo de formas ilusrias [idem], sustentando uma diferena

    entre os dispositivos da sexualidade de outros dispositivos.

    J de incio, o prprio Foucault contempla duas objees possveis sua

    tese: a primeira, o fato de que a confisso desempenhou um aspecto importante

    nas instituies penais e religiosas em todos os tipos de faltas, e no s naquelas

    que se referiam sexualidade, mas contemplando sua importncia especial dentro

    delas, e a segunda, que diz que "a conduta sexual, mais que qualquer outra,

    estava submetida a regras muito estritas de segredo, decncia e modstia, de tal

    modo que a sexualidade se relaciona de uma forma estranha e complexa, por sua

    vez com a proibio verbal e com a obrigao de dizer a verdade, assim como o

    fato de esconder o que se faz e com o decifrar o que um ." [FOUCAULT: 1990:

    46]

    Foucault sustenta que a associao da proibio e da forte incitao a falar

    um trao constante de nossa cultura, pois o tema da renncia da carne estava

    6

  • ligado ao tema da confisso do monge ao abade e a necessidade de informa-lhe

    tudo o que lhe ocorria. [idem]

    O projeto concebido por Foucault consistia no seguinte: "no se tratava de

    estudar a evoluo da conduta sexual, mas sim a projeo de uma histria dasrelaes entre a obrigao de dizer a verdade e as proibies sobre asexualidade." [ibidem] Sua pergunta era: "Como se obrigou ao sujeito a decifrar-se

    a si mesmo a respeito do que estava proibido?" [ibid] Foucault ento responde que

    sua pergunta uma pergunta que questiona a relao entre o ascetismo e a

    verdade.

    Partindo ento de uma questo formulada por Weber5, Foucault questiona-

    se, entretanto, de forma oposta: "de que forma foram requeridas algumas

    proibies o preo de certo conhecimento de si mesmo? Que que deve

    ser capaz de saber sobre si para desejar renunciar algo?" [FOUCAULT: 1990: 47]

    Foi assim que Foucault diz ter chegado a hermenutica das tecnologiasdo eu no mbito dos costumes do paganismo e do cristianismo primitivo.Encontrou dificuldades neste estudo por que estas prticas no eram bem

    conhecidas, e sustenta quatro razes para estas suas constataes: "1) o

    cristianismo sempre se interessou mais pela histria de suas crenas do que pela

    histria de suas prticas; 2) tal hermenutica jamais se organizou em um corpo

    doutrinrio como as hermenuticas textuais; 3) a hermenutica do eu foi muito

    confundida com teologias da alma; e 4) a hermenutica do seu foi difundida na

    cultura ocidental atravs de numerosos canais e integrada em vrios tipos de

    atitudes e experincias; e da o porque se faz to difcil isol-la e separ-la de

    nossas prprias experincias espontneas". [idem]

    The technologies of the self insere-se no contexto dos estudos de Foucault

    de mais de vinte e cinco anos, estudos estes que tm o objetivo de "traar uma

    histria das diferentes maneiras em que, em nossa cultura, os homens tm

    desenvolvido um saber acerca de si mesmos: economia, psiquiatria, medicina e

    criminologia" [FOUCAULT: 1990: 47-48] e que seu ponto principal "no consiste

    5 "Se algum quer conduzir-se racionalmente e regular suas aes de acordo com princpiosverdadeiros, a que parte de seu eu deve algum renunciar? Qual o asctico preo da razo? Aque tipo de ascetismo deve algum submeter-se?

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  • em aceitar este saber como um valor dado, mas sim em analisar estas chamadas

    cincias como "jogos de verdade" especficos, relacionados com tcnicas

    especficas que os homens utilizam para entender-se a si mesmos" [FOUCAULT:

    1990: 48].

    Foucault contextualiza este seu estudo filosfico em quatro tiposprincipais de "tecnologias" e compreendendo que cada uma delas representauma matriz da razo prtica, do seguinte modo:

    "1) tecnologias de produo, que nos permitem produzir, transformar ou

    manipular coisas;

    2) tecnologias de sistemas de signos, que nos permitem utilizar signos,

    sentidos, smbolos ou significaes;

    3) tecnologias de poder, que determinam a conduta dos indivduos, os

    submetem a certo tipo de fins ou de dominao, e consistem em uma objetivao

    do sujeito;

    4) tecnologias do eu, que permitem aos indivduos efetuar, por contaprpria ou com ajuda de outros, certo tipo de operaes sobre seu corpo e sua

    alma, pensamentos, conduta, ou qualquer forma de ser, obtendo assim uma

    transformao de si mesmos com o fim de alcanar certo estado de felicidade,

    pureza, sabedoria ou imortalidade." [idem]

    Sobre estes quatro tipos de tecnologias, Foucault diz que "quase nunca

    funcionam de modo separado, ainda que cada uma delas est associada com

    algum tipo particular de dominao" e que cada uma delas "implica certas formas

    de aprendizagem e de modificao dos indivduos, no s no sentido mais

    evidente de aquisio de certas habilidades, mas sim tambm no sentido de

    aquisio de certas atitudes." [FOUCAULT: 1990: 48-49] E que seu objetivo foi

    querer mostrar a natureza especfica de cada uma das tecnologias e sua

    constante interao.

    Exemplificando o modo como atuaram e atuam estes quatro tipo de

    tecnologias na tradio filosfica da histria das idias de como a cultura humana

    desenvolveu um saber sobre si mesma, Foucault cita que os dois primeiros tipos

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  • de tecnologia so usados habitualmente no estudo das cincias e da lingustica e

    que foram os dois ltimos tipos de tecnologia, as tecnologias do poder e as

    tecnologias do eu que foram as que mais ele prprio se ocupou e que seu objetivo

    foi tentar "elaborar uma histria da organizao do saber a respeito da dominao

    e do sujeito.

    *

    O desenvolvimento das tecnologias do eu no mbito do desenvolvimento da

    hermenutica do eu em dois contextos diferentes e historicamente contguos foi

    traado por Foucault no seguinte sentido: 1) na "filosofia greco-romana nos dois

    primeiros sculos a.C. do baixo imprio romano; 2) na espiritualidade crist e os

    princpios monsticos desenvolvidos no quarto e quinto sculos do final do alto

    imprio romano." [FOUCAULT: 1990: 50] Foucault diz que no quis discutir este

    tema no apenas na teoria, mas sim em relao com um conjunto de prticas do

    final da Antiguidade. Estas prticas eram chamadas cuidado de si, preocupao

    de si e era um dos princpios principais das cidades, uma das regras mais

    importantes para a conduta social, pessoal e para arte da vida. Nossa tradio

    filosfica obscureceu o princpio ocupa-te de ti mesmo como princpio moral e

    enfatizou demasiado o princpio conhece-te a ti mesmo como princpio moral

    mais importante na filosofia antiga. E mais, o princpio dlfico no era um princpio

    abstrato referido a vida, era um conselho prtico, uma regra que havia de ser

    observada para consultar o orculo. [FOUCAULT: 1990: 50]

    Concluso

    Conclumos com Foucault que existem vrias razes religiosas e seculares

    pelas quais o princpio filosfico "Conhece-te a ti mesmo" obscureceu o princpio

    "Cuida-te a ti 6mesmo". Em primeiro lugar, a primeira razo que "houve uma

    profunda transformao nos princpios morais da sociedade ocidental atual o que

    nos resulta difcil fundar uma moralidade rigorosa e princpios austeros no preceito

    6 Foucault faz uma anlise crtica do princpio fundamental da moralidade crist, o princpio desalvao, que no nos cumpriu analisar filosoficamente aqui porque somente esta questo deprincpio paradoxal j seria tema de mais para este trabalho

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  • de que devemos nos ocupar de ns mesmos mais que de nenhuma outra coisa no

    mundo" [FOUCAULT: 1990: 54], e que "ocupar-se de si mesmo" encontra-se, por

    outro lado, paradoxalmente a moralidade crist e como uma forma de escapar a

    toda possvel regra. Na tradio secular, desde o sculo XVI, o princpio conhece-

    te a ti mesmo obscureceu o princpio preocupa-te de ti mesmo porque a

    moralidade ocidental insiste em que o que se deve rechaar o sujeito.

    Uma segunda razo possvel que a filosofia teortica, de Descartes a

    Husserl, o conhecimento de si (o sujeito pensante) adquire uma importncia

    crescente como primeira etapa na teoria do conhecimento.

    Com este estudo filosfico sobre o tema, sobre os princpios filosficos

    fundamentais da tecnologia do eu, pudemos concluir ter havido na histria das

    idias das diferentes maneiras em que a cultura humana ocidental desenvolveu

    um saber sobre si mesma uma inverso entre a hierarquia dos dois princpios

    fundamentais da Antiguidade, o "Preocupa-te de ti mesmo" e "Conhece-te a ti

    mesmo", considerados princpios filosficos fundamentais da tecnologia do eu.

    Em The tecnologies of the self, Foucault projeta-nos um marco geral da

    histria da subjetividade que como vimos, devia partir do conhece-se a ti mesmo

    dlfico, passar pelo confessa teus pecados monstico e o cgito cartesiano, at

    chegar ao mesmo div psicanaltico, do que o primeiro volume de sua histria da

    sexualidade j esboava alguns de seus elementos constituintes. [FOUCAULT:

    1990: 37]

    Assim podemos concluir que:

    Na cultura grecorromana o conhecimento de si se apresentava

    como a consequencia da preocupao de si;

    No mundo moderno "o conhecimento de si constitui o

    princpio fundamental" [FOUCAULT: 1990: 55] da tecnologia do eu.

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  • Bibliografia

    AGAMBEN, G. 2002. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I. Belo

    Horizonte: Editora UFMG.

    FOUCAULT, M. 1990. Tecnologas del you y otros textos afines. Barcelona:

    Ediciones Paids Ibrica, S.A.

    ____________. 2003. A verdade e as formas jurdicas. Rio de Janeiro: NAU

    Editora.

    ____________. 2005. Histria da sexualidade I: A vontade de saber. Rio de

    Janeiro: Edies Graal.

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    Karla Pinhel Ribeiro - UFSC