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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Lucas Barbosa
Fracasso escolar: uma análise da visão de professores da rede pública.
São Paulo 2011
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Fracasso escolar: uma análise da visão de professores da rede pública.
Lucas Barbosa
Professor Orientador: Dr. Adriano Monteiro de Castro
São Paulo 2011
Monografia apresentada ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Presbiteriana Mackenzie como parte dos requisitos exigidos para a conclusão do Curso de Ciências Biológicas.
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AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço a Deus e a minha fé Nele, pois com a
ajuda de ambos, consegui, e sempre conseguirei, me manter firme frente às
adversidades da vida.
A todos os profissionais do meio educacional com os quais convivi
durante minha infância e adolescência.
Aos professores de Licenciatura do curso de Ciências Biológicas da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, em especial à professora Rosana Jordão
dos Santos pela ajuda inicial e ao professor Adriano Monteiro de Castro, orientador
deste trabalho, ambos prestativos e pacientes durante a confecção deste trabalho.
Às minhas tias, Margô e Lena e a minha vó Idalina ( em memória) que
sempre estiveram comigo.
E principalmente à minha mãe Maria Aparecida Barbosa (em memória),
a quem realmente devo toda minha vida.
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RESUMO
O fracasso escolar é um assunto persistente na educação brasileira, não sendo mais
traduzido simplesmente como a falta de acesso à escola. Com o objetivo de
explorar e analisar as visões de dois professores da rede pública municipal de São
Paulo sobre o fracasso escolar, para tanto o referido trabalho utilizou-se de
entrevista semi-estruturada com os dois professores e posterior categorização de
análise de trechos das entrevistas transcritas obtidas por meio de gravação. Como
resultado foram encontrados elementos nas falas dos professores que eram ligados
à aspectos do fracasso escolar relacionados ao aluno e ou elementos que
relacionavam o fracasso escolar a aspectos da escola, porém, foi constatado que
um dos professores tende à relacionar mais o fracasso escolar a aspectos
relacionados à escola e o outro professor possui mais a tendência de vincular o
fracasso escolar a aspectos relacionados ao aluno.
Palavras-chaves: Fracasso escolar, professores, aspectos relacionados à escola,
aspectos relacionados ao aluno.
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ABSTRACT
School failure is a persistent issue in Brazilian education, not being translated
simply as lack of access to school. With the objective to explore and to analyze the
views of two teachers of the public network the municipal of São Paulo about the
school failure, to this end our work has used semi-structured interviews with the two
teachers and later categorization analysis of excerpts of interviews transcript
obtained by recording. As a result elements were found in the discourse of teachers
who were linked to aspects of school failure and associated to the student or
elements that related to aspects of school failure school, but it was found that one
of the teachers tend to relate more school failure aspects associated to school and
another teacher has the tendency to link the issues associated to school failure to
the student.
Key-words: School failure, teachers, issues associated to school, issues
associated to the student.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 7
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 8
2.1. BREVE RETOMADA HISTÓRICA DA FUNÇÃO DA ESCOLA. 8 2.2. As vertentes e opiniões acerca das causas do fracasso escolar. 11 2.2.1. As vertentes intrínsecas à escola. 12 2.2.2. As vertentes extrínsecas . 15
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 20
4. DISCUSSÃO 22
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS. 26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 27 Apêndice A- Roteiro para Entrevistas. 30 Apêndice B- Transcrição da entrevista com professor A 31 Apêndice C- Transcrição da entrevista com professor B 35 Apêndice D- Quadro de categorização de frases significativas do professor A 39 Apêndice E- Quadro de categorização de frases significativas do professor B 42
Anexo- Carta de autorização 46
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1. INTRODUÇÃO
O fracasso escolar é um termo referente às falhas no processo de ensino
aprendizagem que colaboram para perpetuação de mazelas sócio-culturais, uma vez
que não concede aos alunos, ou concede de forma precária, o direito de
desenvolverem suas habilidades cognitivas e ou motoras, além do que, gera altos
índices de reprovação e evasão nas escolas públicas de ensino fundamental
(PATTO, 1999; PERRENOUD, 2001; MARTINI e PRETTE, 2005).
Para Collares (1992) tal problema é um dos mais graves da realidade
educacional brasileira, pois evidencia-se em todos os níveis de ensino do país,
porém com maior intensidade nos primeiros anos de escolarização. Este quadro se
altera pouco e muito lentamente, e ainda, em poucos locais. Segundo Baeta (1988)
todos aqueles que participam do processo educacional estão envolvidos com esta
questão.
No que diz respeito às causas do fracasso escolar existem diferentes
constatações (BAETA, 1988; PATTO, 1988; COLLARES, 1992; MARTINI e
PRETTE, 2005), podendo estas se referirem à natureza econômica, política,
pedagógica, social, cultural, à aspectos biológicos, psicológicos e étnicos.
Frente ao exposto e somando-se ao fato de o licenciando ter sua formação
fundamental e média em escolas da rede pública, os objetivos do presente estudo
são explorar e analisar a visão de dois professores da rede pública sobre as causas
do fracasso escolar.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. BREVE RETOMADA HISTÓRICA DA FUNÇÃO DA ESCOLA
Tendo em vista que a função social da escola não é algo estático e
descontextualizado ao longo do tempo, e que esta função depende profundamente
do contexto histórico cultural, entende-se que há a necessidade, a priori, de retomar,
mesmo que de forma sucinta, as atribuições que foram delegadas à escola ao longo
do tempo. Sendo assim, o que se segue é a tentativa de apresentar certos fatos que
considero importantes.
Conforme a nossa sociedade brasileira foi se transformando de uma
população predominantemente rural para uma população urbana, aumentou-se a
demanda pelo ensino público. Concomitantemente a essa demanda, tornou-se mais
evidente o problema do fracasso escolar, que passou a ser foco de pesquisas
educacionais em meados do século passado (OLIVEIRA, 1999).
Segundo Harper et al. (2007, p. 19) dados do Censo da década de oitenta
apontavam que “uma em cada três crianças” não conseguia ingressar na escola; nas
“áreas rurais metade das crianças não participavam”; e no nordeste “duas crianças
em cada três” viriam a frequentar uma escola. O problema vai além, pois grande
parte daqueles que ingressavam na escola nunca conseguiam se formar e os
índices de “reprovação e repetência” eram elevados.
Como descrito no parágrafo anterior, na década de oitenta o problema do
ensino era fazer com que o indivíduo ingressasse na escola, porém, atualmente, de
acordo com Bahia (2009), não falamos em fracasso escolar como sendo um
problema do ingresso à escola, pois, segundo ela, não há mais falta de vagas. Ainda
segundo a autora, se antes nos referíamos aos altos índices de reprovação e
evasão escolar, hoje questiona-se a situação de exclusão na escola, ou seja, onde
um contingente de alunos permanece na escola, mas sem aprender, pois lhes são
negados o direito de aprender, devido a inadequação e incompetência de um
sistema de ensino.
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Para Patto (2005) para se compreender a questão do fracasso escolar se
faz necessária uma retomada, mesmo que breve, dos fatos que transformaram a
estrutura social ao longo do tempo, inclusive a estrutura educacional, que nos dias
atuais, em nossa sociedade, se pauta no modo capitalista neoliberal.
De acordo com Harper et al. (2007, p. 23) inicialmente as sociedades não
detinham da instituição escolar os conhecimentos que eram oriundos da comunhão
em sociedade, e “a prática educativa consistia na aquisição de instrumentos de
trabalho e interiorização de valores e comportamentos”. Conforme os séculos se
passaram, na idade média, especialmente na Europa, a educação passou a fazer
parte da instituição escolar. Nesta época, apenas o clero e a nobreza se
beneficiavam dessa educação institucionalizada.
Por volta do final do século XVIII, o mundo feudal abre espaço para uma
nova ordem social por meio da Revolução Francesa1 (1789- 1799), com seus ideais
de liberdade igualdade e fraternidade (OLIVEIRA, 1999 e PATTO, 2005 ).
Segundo Patto (2005) e Harper et al. (2007) durante o período de transição
do feudalismo para os primórdios capitalismo, houve diversas e importantes
reconfigurações sociais e políticas. Surgiu uma nova classe dominante – a burguesia
– e uma nova classe dominada – o proletariado - explorada economicamente (Patto,
2005). Esta nova relação se estabeleceu através do mercantilismo. O mercador
pagava pelos produtos confeccionados pelos artesões ou por sua mão de obra,
podendo o artesão passar a ter seus empregados, criando assim “subcategorias” de
trabalhadores sem qualificação vindo das vias campesinas. Conforme este sistema
mercantil se desarticulava, aos poucos, lá pelas últimas décadas do século XVIII
uma nova revolução começava a ser gerada, a Industrial, atrelada ao racionalismo
que mudou os processos econômicos e científicos, fazendo com que a burguesia
passasse a almejar participação na máquina pública e altos cargos políticos.
1 Ver A era da revolta de 1773 a 1814. In: Atlas da história do mundo. São Paulo: Folha de São
Paulo, 1 ed., 1995, p.198-199. Edição brasileira.
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Com estas mudanças, a instituição escolar deixou aos poucos de servir
apenas ao clero e a nobreza e passou a fazer parte da vida da classe média, esta
representada pela burguesia. A burguesia dominante entendia, na época, que a
classe operária também deveria ser instruída (HARPER et al., 2007), porém com o
mínimo de conhecimento, apenas aqueles mais básicos como ”ler, escrever e contar
e as partes mais fundamentais da geometria e da mecânica” (FERRARO, 2009, p.
316). Surgia, assim, uma dicotomia entre o ensino oferecido aos ricos e aquele
destinado aos pobres. Vale lembrar que as mulheres estavam fora desse processo,
tendo apenas o que “seus pais e tutores julgassem necessário e nada mais” (SMITH,
1989 apud FERRARO, 2009, p. 317).
Instituía-se, desta forma, uma verdadeira situação de segregação social,
onde aqueles oriundos da massa freqüentavam uma „escola mínima‟, que não lhes
possibilitava acesso a conhecimentos mais aprofundados, tão pouco a uma
participação efetiva em sociedade, contradizendo os ideais liberais da Revolução
Francesa - liberdade, igualdade, fraternidade, enquanto que a elite possuía um
“monopólio” do conhecimento erudito (HARPER et al., 2007; FERRARO, 2009).
Ao decorrer do tempo foram surgindo reivindicações por parte da classe
operária para que houvesse, segundo Harper et al. (2007) o direito de todos
freqüentarem uma mesma escola em condições de igualdade de oportunidades.
Estas reivindicações se alinhavam com a visão de universalização do ensino, sendo
esta de caráter público e gratuito, incluindo o direito da participação feminina no
campo do conhecimento institucionalizado: uma educação livre sem qualquer tipo de
discriminação – de religião, cor, sexo ou outra (FERRARO, 2009).
De acordo com Harper et al. (2007), a partir do momento que estes direitos
foram conseguidos, ocorreu uma outra forma de dicotomia, agora com todos os
alunos partindo de um mesmo modelo de escola, constituía-se dois grupos –
aqueles que concluiriam os estudos até a universidade, este grupo uma minoria; e
aqueles que se concluíssem os estudos, teriam empregos e cursos mais comuns e
de menor valor, talvez conduzidos a escola técnica e profissionalizante.
Para os autores, esta divisão passou a ser feita de acordo com diretrizes
escolares, tendo em vista a valorização da meritocracia. Aqueles com melhor
desempenho chegariam à universidade, enquanto o restante estaria fadado a
interromper os estudos para entrar no mercado de trabalho e obter sustento.
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No Brasil, essa situação ainda se faz presente. Continuamos atrasados em
termos de escolarização e alfabetização da população. No final do século XX
tínhamos 17,6 milhões de analfabetos entre pessoas de 10 ou mais anos e nossas
políticas publicas, continuam inócuas ou ampliam as desigualdades (FERRARO,
2009).
Nos pensamentos liberais burgueses é onde podemos encontrar uma das
causas das explicações que banharam as sociedades durante muitos anos sobre
as diferenças que raça, gênero, grupos sociais e também por conseqüência as
condições de sucesso e fracasso escolar ( PATTO, 2005).
Adiante apontaremos algumas vertentes acerca das causas do fracasso
escolar.
2.2. AS VERTENTES E OPINIÕES ACERCA DAS CAUSAS DO FRACASSO
ESCOLAR
Para que possamos realizar nosso objetivo de analisar a visão de
professores da rede pública devemos conhecer as vertentes mais comumente
difundidas que regem as pesquisas educacionais no âmbito de denunciar problemas
e soluções inerentes ao fracasso escolar.
Podemos classificar as vertentes acerca do fracasso escolar como sendo de
ordem intrínseca ou extrínseca à instituição escolar (ANGELUCCI et al., 2004;
PATTO, 2005; DAMIANI, 2006).
As competentes à ordem intrínseca à escola podem ser subdivididas como
problema técnico e problema institucional ou ainda como questão política
(ANGELUCCi et al., 2004). Estas ocorreriam dentro dos muros da escola podendo
ser ela, na visão de alguns autores, reprodutora das mazelas sócio-culturais.
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Aquelas de caráter extrínseco buscam em fatores fora do âmbito escolar
respostas para explicarem os altos índices de reprovação, evasão escolar. De
acordo com Angelucci et al. (2004) subdivididas como problema de ordem psíquica,
além do mais, para Patto (2005) esta individualização do fracasso escolar seria
marcada também pela culpabilidade da família do aluno e da sociedade, o que
podemos classificar como uma questão cultural e também uma questão de
predisposição genética.
A seguir iremos apresentar uma descrição das subdivisões de ordem
intrínseca e extrínseca em relação à escola que visam justificar e remediar o
fracasso escolar.
2.2.1 As Vertentes Intrínsecas à Escola.
Uma das formas de se entender o fracasso escolar é tê-lo como resultado de
didáticas de ensino mal formuladas ou despreparo e “falta de domínio da técnica
pelo professor” (ANGELUCCI et al., 2004 p.61)
Para compreender esta visão, é preciso entender que ela vem, inicialmente,
sobre influência do escolanovismo, de estudos que não tinham o individuo, o aluno ,
como fonte de sua causa, assim, em primeira instância, creditava- se que as
dificuldades estavam sim nos métodos empregados (FORGIARINI E SILVA, 2007
p.06).
Isso se deve aos trabalhos escolanovistas terem a necessidade de se
moldar ações educacionais às “necessidades e possibilidades” do aluno, desta
forma apenas um ensino cujo professor tenha boa formação e “interesse”, levando
em conta as diferenças dos alunos, no que diz respeito “a sua faixa etária, quanto às
suas experiências culturais” poderia garantir a “eficiência da escola” (PATTO, 2005
p.118).
Durante os anos setenta a educação passou a ser vista no Brasil como um
assunto técnico, com o intuito ampliar este serviço para a maioria da população de
forma ágil e eficaz, com intuito da “internacionalização do mercado interno”
(ANGELUCCI et al., 2004).
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Daí o prestígio dos testes psicológicos e pedagógicos; das máquinas de
ensinar e da instrução programada; das taxonomias dos objetivos do ensino; do
condicionamento operante na escola; do planejamento do ensino em termos de input
(competências e habilidades iniciais do aprendiz); processamento (o ensino) e output
(os objetivos a serem atingidos), tudo isso detalhado em Guias Curriculares que,
elaboradas nos órgãos centrais chegavam às escolas como roteiro a serem
cumprido. Nesse contexto, o fracasso escolar resultava principalmente de um
processamento (ensino) que desconsiderava a precariedade do input da clientela
pobre, em número crescente nos bancos escolares (ANGELUCCI et al., 2004, p.54)
Porém Patto (2005 p.119) vê uma ambiguidade nesta perspectiva de pensar
a educação e sua eficácia uma vez que para a autora hora há afirmação da
“inadequação do ensino no Brasil e sua impossibilidade, na maioria dos casos, de
motivar os alunos” e “hora” cobra do aluno interesse por uma escola qualificada
como desinteressante, atribuindo seu desinteresse à inferioridade cultural do grupo
social de onde provém.
Mesmo quando esta vertente tenta atribuir o fracasso escolar às políticas de
ensino, estas continuam dentro deste pensamento tecnicista, pois apontam que
estes não possibilitam a “formação técnica de professores” adequadamente, ou seja,
a responsabilidade foi transferida para o profissional da educação (ANGELUCCI et
al., 2004). Este ponto de vista é confirmado por Oliveira (1999) quando diz que esta
análise das interações intra-escolares acaba por responsabilizar o professor ou o
equipe de professores da escola.
Patto (2005) diz que a escola como conhecemos, nascida de uma
perspectiva liberal, foi pensada para uma determinada classe e que esta idealizava
um tipo de aluno hipotético, que estaria sempre disposto a adquirir conhecimentos.
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Nesse aspecto, lembremos que, a priori, com o advento do liberalismo, as
escolas surgiram para servir à classe que emergia, a burguesia, que passava a deter
grande influência política e econômica. Assim, a escola foi moldada de acordo com
suas necessidades. Quando a classe operária passou a reivindicar também o seu
direito à educação, a classe dominante que detinha praticamente o poder de
controlar a coisa pública remodelou a escola a fim de que servisse aos seus
interesses (PATTO, 1988, 2005; OLIVEIRA, 1999; ANGELUCCI et al., 2004;
HARPER et al., 2007; e FERRARO, 2009)
Segundo Angelucci et al. (2004) este modo de analisar o fracasso escolar,
leva em consideração que a instituição escolar está inserida em uma sociedade de
classes e que esta tem sua função delimitada pelo mercado, pelo “capital” e que as
política públicas servem a esse sistema.
Temos então a escola em um ponto central das relações sociais visando
atender aos interesses do mercado. Para se contornar o problema do fracasso
escolar nesta óptica seria necessária a aplicação de políticas públicas educacionais
„progressistas‟, “com ênfase na política de ciclos de aprendizagem”. Porém, para
isso seria preciso o envolvimento dos educadores, que depende de sua formação, a
fim de que tenham um conhecimento profundo das propostas governamentais para
reverterem o fracasso escolar (ANGELUCCI et al., 2004 p.62).
Tendo em vista que a instituição escolar, principalmente a pública, é
influenciada diretamente e indiretamente por muitas propostas políticas, que são
formuladas ao logo do tempo, é fato que a questão política se torna parte integrante
da escola.
Esta óptica traz consigo a escola em uma sociedade de classes onde a
escola é um artífice de exclusão social, através da fundação da escola em modelos
culturais que são antagônicos aos da classe popular (ANGELUCCI et al., 2004 p.63)
Desta forma para Zago (2000, p.71) o meio educacional muitas vezes pauta-
se em comportamentos e valores das classes média e alta que, portanto, servem de
parâmetros educacionais para as camadas populares.
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2.2.2. As Vertentes Extrínsecas à Escola
Segundo Perrenoud (2001) e Patto (1988, 2005) com esta vertente muda- se
o foco da discussão da culpabilidade da escola na questão da produção do fracasso
escolar e, utilizando-se embasamentos científicos, tenta-se explicar o fracasso ou o
sucesso escolar como um problema endógeno ao aluno.
Os estudos mais atuais sobre o olhar dotado do auxílio da Psicologia no
conceito da educação brasileira, tendem a creditar o surgimento das visões sobre a
“criança problema” ou o “problema de aprendizagem” em estudos do começo do
século XX. No Brasil, esta concepção começa a aparecer em publicações na área da
medicina e da psicanálise (SOUZA, 2005).
Esta vertente não correlaciona o fracasso escolar de indivíduos das classes
mais baixas, aqueles que muitas vezes estão submetidos a um sistema de opressão
das classes dominantes, com um aspecto ambientalista, ou seja, com a carência
cultural, mas sim imputa nas “dificuldades emocionais adquiridas em relações
familiares patologizantes”, que de acordo com Agelucci et al. (2004):
“parte do princípio de que o fracasso escolar se deve a prejuízos da capacidade intelectual dos alunos, decorrentes de “problemas emocionais”. Entende-se que a criança é portadora de uma organização psíquica imatura, que resulta em ansiedade, dificuldade de atenção, dependência, agressividade, etc., que causam por sua vez problemas psicomotores e inibição intelectual que prejudicam a aprendizagem escolar.” (ANGELUCCI et al., 2004 p. 60)
Segundo Souza (2005) ao buscar responder a questão do por que crianças
vindas das camadas sociais mais baixas, que agora passavam a frequentar mais as
carteiras das escolas públicas, não conseguiam aprender, diferentemente dos das
classes medias e alta da sociedade, assim buscou-se explicações no campo do
“desenvolvimento infantil, da nutrição, linguagem, estimulação, cognição,
inteligência,” dentre outras, por meio de resultados de experimento comparativo.
Desta forma, foi-se abrindo espaço para que a experimentação se tornasse
elemento de sustentação no campo da Psicologia, sobre as dificuldades de
aprendizagem, bem com é colocado por Oliveira (1999):
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Na medida em que a Psicologia se constituiu como ciência experimental e diferencial, o movimento escolanovista passou do objetivo inicial de construir uma pedagogia afinada com as potencialidades da espécie à ênfase na importância de afiná-la com as potencialidades dos educandos, concebidos como indivíduos que diferem entre si quanto à capacidade de aprender. A partir de então reduziu-se a explicação do fracasso escolar à capacidade de aprendizagem por parte do aluno, substituindo-se a preocupação em levar em conta no planejamento educacional as particularidades do processo de desenvolvimento infantil pela ênfase em procedimentos psicométricos, que deslocaram a atenção dos determinantes propriamente escolares do fracasso escolar para o aprendiz e suas “supostas deficiências”. Esse fato proporcionou uma apropriação do ideário escolanovista no que ele tinha de mais técnico, em detrimento da dimensão de luta politica pela ampliação da rede de ensino fundamental e por sua democratização, que o movimento também continha em sua origem. (OLIVEIRA, 1999 p.9)
Os testes que serviam à produção de estudos sobre o fracasso escolar eram
formulados e moldados a partir de “instrumentos que avaliavam a capacidade e
habilidades psíquicas” por pesquisadores que realizavam trabalhos que
relacionavam “níveis de “desenvolvimento psicológico e rendimento escolar,
especialmente em leitura e escrita”. (ANGELUCCI et al., 2004 p.55)
Essas comparações que eram feitas entre aqueles indivíduos das camadas
populares e os das camadas mais abastadas tendiam a entender que as “crianças
das classes populares eram portadoras de toda sorte de déficits: cognitivos,
intelectuais, culturais, lingüísticos” (SOUZA, 2005). O caráter artificial e positivista de
boa parte dos experimentos científicos realizados e a escolha de valores de classe
social como parâmetros de normalidade passaram a ser questionados a partir dos
anos 1980.
Desta forma, passa-se a ter as metodologias dos conhecimentos científicos
mostrando que fatores diversos podiam estar atuando de forma a condicionar a
dificuldade da criança na escola que atribuía a culpa simplesmente à própria criança,
(BAETA, 1992).
Para se contornar este problema de aprendizagem causado por problemas
de ordem psíquica e física que partem do aluno e de seu familiares adota-se a
utilização de medicamentos e terapias a fim de se sanar o problema (PATTO, 1988,
2005; ANGELUCCI et al., 2004).
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Tem-se então uma “medicalização generalizada” para os supostos
problemas que ocasionavam o fracasso escolar, partindo dos resultados vinham
sendo produzidos pelos trabalhos experimentalistas nas áreas de psicologia e
medicina no final do século XIX e inicio do século XX (OLIVEIRA, 1999 p.9).
De acordo com (PERRENOUD, 2001) poucas crianças possuem limitações
devido a uma falta de desenvolvimento intelectual, pelo contrário, a maioria delas é
capaz de aprender e assimilar assuntos complexos, o mal ou o bom desempenho
obtido por elas dependerá sim de como elas são estimuladas, se é levado em
consideração o tempo e a capacidade de assimilação e reformulação de cada
individuo para um determinado assunto, seja ele cognitivo ou motor (LA TAILLE,
1997; PATTO, 2005; PERRENOUD, 2001; ).
Com o advento das pesquisas em genética, tentou - se explicar o fracasso
ou o sucesso escolar como um problema intrínseco do aluno, ou seja, este teria
adquirido aptidões genéticas, ou “dom” para ser bem sucedido profissionalmente,
uma vez que estas aptidões determinariam as habilidades cognitivas do sujeito.
Estudos hoje atribuírem ao meio que envolve o educando uma fundamental
influência em seu desempenho cognitivo; a estrutura socioeconômica e cultural da
família, sendo fator mais influente o viés cultural que o nível socioeconômico afirma
(LA TAILLE, 1997; PERRENOUD, 2001 ).
Segundo Patto (1988, 2005) este olhar “genético” na verdade tenta justificar
através da eugenia2 causas do fracasso escolar das camadas populares como
sendo uma desvantagem de ordem genética que estas estariam submetidas
diferentemente da elite.
2 Ver Diwan, P. Eugenia, a biologia como farsa: No século XIX o racismo ganhou
status cientifico por meio de uma doutrina que inspirou governos e intelectuais de todo o mundo.
Disponível em: < http//www.portaldoenvelhecimento.net/artigos/artigo3182.htm > . Acessado em 21
de fevereiro de 2008.
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Saindo do campo médico-biológico, em uma abordagem global, muito se
buscou explicar as diferenças entre as classes sociais existentes nas sociedades
capitalistas, “condição para que a burguesia se mantivesse hegemônica no poder”,
as explicações desenvolvidas então foram ampliadas ao campo educacional para
embasar as justificativas das “dificuldades de aprendizagem dos seguimentos
sociais explorados” (FORGIARINI e SILVA, 2007).
As teorias da carência cultural tiveram seu início nos Estados Unidos da
América por volta dos anos sessenta e desembarcaram aqui no Brasil na década
subsequente. Esta entende que a capacidade de aprendizado do indivíduo possui
“influências de grupos étnicos e sociais” e que os aspectos negativos dessas
influências levam o educando a fracassar em sua aprendizagem (PATTO, 1988).
Essa visão surge nos anos setenta, com caráter político, pois ia de encontro
às atuações reivindicatórias e de denuncia contra a exploração econômica e pela
dominação cultural que vinham sofrendo as minorias étnicas e de grupos sociais
(FORGIARINI e SILVA, 2007).
Segundo (Baeta, 1992) esta perspectiva vê as condições “sócio-econômicas
e culturais” ligadas ao aluno, “ interatuando com suas condições internas iniciais
(dotação genética)”, estipula limitações que poderão ser um obstáculo a superação
nas “etapas iniciais da escolarização, tal como é proposta pelo modelo escolar
existente”.
Ao tentar explicar o fracasso escolar entre os integrantes das classes
sociais, essas teorias, muitas vezes vêm carregadas de preconceitos e estereótipos
que, com uma “aparente” metodologia científica, passam a embasar as políticas
educacionais. Desta forma surge uma força que influência na sociedade que acaba
por responsabilizar os indivíduos das classes pobres pelos seus próprios fracassos,
inclusive o escolar, pois essas pessoas são tidas como mais agressivas, relapsas,
desinteressadas pelos filhos, inconstantes, viciadas e imorais do que os das classes
dominantes (PATTO, 1988, 2005; FORGIARINI e SILVA, 2007).
Neste entendimento acerca do fracasso escolar temos o meio no qual o
individuo está inserido influindo em sua capacidade de aprendizado Patto (1988 e
2005).
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Segundo essa vertente, a deficiência é do oprimido e, portanto, lhe prometem uma igualdade de oportunidades impossível através de programas de educação compensatória que já nascem condenados ao fracasso, quando partem do pressuposto de que seus destinatários são menos aptos à aprendizagem escolar. A escola compensatória supostamente reverteria às diferenças ou deficiências culturais e psicológicas de que as classes “menos favorecidas” seriam portadoras. O resultado é a reafirmação das deficiências da clientela como a principal causa do fracasso escolar. (FORGIARINI; SILVA, 2007 p.5)
Podemos assim entender que a visão da carência cultural possui uma
tendência a responsabilizar o meio no qual o aluno está imerso como sendo o autor
do fracasso escolar e todos aqueles que fazem parte deste meio.
Frente ao exposto, são diversas as visões sobre as causas do fracasso
escolar, algumas delas o relacionando ao aluno e ou àqueles que o cercam e outras
responsabilizando a escola e ou parte de sua organização. Segundo Collares (1992)
o fracasso escolar é um grave problema com o qual a realidade educacional se
relaciona durante muitos anos, desta forma podemos considerar o fracasso escolar
como sendo um objeto de estudo de grande importância e a preocupação em
explorar e analisar a visão de professores da rede pública sobre esta temática.
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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para alcançarmos nosso objetivo de conhecer e analisar a visão de
professores da rede pública de ensino sobre o fracasso escolar, este trabalho contou
com a implementação de entrevista semi-estruturada com dois professores em uma
escola da rede municipal da cidade de São Paulo.
O método de entrevista semi-estruturada foi escolhido pois podemos criar
um ambiente de interação e possibilitando a influência mútua entre entrevistador e
entrevistado sendo a entrevista uma forma de “captação imediata e corrente da
informação” sendo eficaz na obtenção de informações ( LÜDKE e ANDRÉ, 1988 p.
34).
A entrevista semi-estruturada foi adotada uma vez que nesta modalidade,
para os autores Lüdke; André (1988) e Gil (1999), permite ao entrevistador obter
dados que permitam a comparação entre as respostas dadas pelos entrevistados.
As entrevistas seguiram um roteiro, porém possibilitando ser adaptado e
corrigido no momento de sua realização, deste modo serviu como guia para o
entrevistador. De acordo com que é proposto por Ludke e André (1988), as
perguntas seguiram uma ordem lógica e psicológica, para minimizar que perguntas
que fossem mais complexas viessem antes de perguntas mais simples, o que
poderia criar um bloqueio às respostas que poderiam ser dadas pelo entrevistado às
perguntas que se seguissem.
Segundo recomendações dadas tanto por Lüdke e André (1988) como por
Gil (1999) a entrevista se processou em local reservado, deixando claro para o
entrevistado qual o objetivo do trabalho e também que seu anonimato seria
preservado.
A coleta dos dados aconteceu só após a apresentação de uma carta
referente a um pedido de autorização de realização das entrevistas ao diretor da
escola. Esta carta está presente anexada a este trabalho.
O registro se deu por meio de gravação, pois, segundo Lüdke; André (1988)
e Gil (1999), este recurso nos permite que todo conteúdo verbal seja captado sem
perda, deixando livre o entrevistador prestar atenção nas expressões corporais do
entrevistado e permitindo a transcrição da entrevista posteriormente.
21
O roteiro utilizado e as transcrições dadas pelos entrevistados encontram-se
nos apêndice deste trabalho.
Para a análise, as falas dos entrevistados foram categorizadas em grupos e
subgrupos de acordo com seu conteúdo, sendo estes:
a) Aspectos relacionados ao aluno; as causas nesta categoria estão
relacionadas direta ou indiretamente ao aluno:
- Aspectos Psicológicos: nesta subcategoria temos as questões
motivacionais do aluno.
- Aspectos Familiares: temos a família intervindo para na aprendizagem
do aluno.
- Sociais: aqui estão as relações que o aluno mantém com o meio.
- Distúrbios: encontramos nesta subcategoria os fatores orgânicos,
medicamentosos e mentais.
b) Aspectos relacionados à escola:
- Metodológicos: aspectos relacionados à formação, a técnica e o
domínio da mesma pelo professor
- Psicopedagógicos: elementos motivacionais utilizados pelos
professores.
- Estruturais e Funcionais: aspectos relacionados às políticas
educacionais.
Estas categorias e subcategorias estão presentes nos quadros sínteses das
análises de conteúdo das entrevistas que podem ser consultados no Apêndice 1 do
trabalho. O exercício de categorização serviu para orientar a discussão do presente
estudo que se segue.
22
4. DISCUSSÃO
Com o objetivo de reconhecer, analisar e comparar o discurso de
professores sobre o fracasso escolar, partindo da análise realizada por meio da
categorização da fala dos professores, que se encontra nos apêndices “D” e “E”
deste trabalho, se faz necessária uma retomada do referencial teórico do estudo, já
que nele encontraremos elementos para lançarmos um olhar crítico às falas que
serão destacadas ao longo deste texto.
Ao se lançar um olhar para a história é possível notar que em seus
primórdios o ensino era restrito a uns poucos indivíduos, como clero e nobreza.
Conforme as sociedades foram sendo tomadas pelo pensamento burguês que se
mantinha sobre a luz dos ideais do Iluminismo, mudanças sociais e políticas foram
ocorrendo (PATTO, 1988, 2005; HARPER et al., 2007)
Desta maneira ao longo do tempo o ensino foi se popularizando e mais
pessoas passaram a frequentar as salas de aula. Com isso os problemas de
escolarização foram se salientando, fazendo com que pesquisas sobre o porquê de
nem todos aqueles que frequentavam os bancos das escolas conseguiam aprender
e ou terminar um ciclo de ensino (PATTO,1988,2005; OLIVEIRA, 1999; BUENO,
2001; ANGELUCCI et al., 2004; HARPER et al., 2007)
Angelucci et al (2004) em seu trabalho sobre o estado da arte sobre o
fracasso escolar classificou o entendimento algumas obras acerca deste tema como
podendo ser um problema psíquico (aluno no centro ), como problema técnico
(professor no centro), questão institucional (lógica excludente da educação escolar)
e como questão política (cultura escolar, cultura popular, e relações de poder).
Desta forma foi possível ter em mente a existência de diversos
entendimentos sobre esta temática e que as vezes podem coexistir numa mesma
fala, porém podendo ser de forma ambígua de acordo com Patto (1988).
Logo, uma forma de se olhar o culpado pelo fracasso escolar é buscar
elementos que estão a priori fora dos muros da escola. Estes elementos se
relacionam quase que diretamente com o aluno, “culpando” sua família, seus
aspectos sociais, psicológicos e até mesmo englobando distúrbios orgânicos ao
educando (BUENO,2001; ANGELUCCI, 2004; PATTO, 2005).
23
Podemos exemplificar uma fala carregada com a visão de que o problema
possui fundo psicológico com base na afirmação do professor “A”, onde ele diz que
por conta de cada aluno apresentar um tempo de aprendizagem distinto, isso acaba
por dificultar o trabalho do educador em função de:
“dificuldades de certas crianças, de alfabetizar, devido ao tempo,
algumas mais rápidas, outras mais demoradas, mas dentro do
tempo esperado (...)” (Professor A)
Apesar dessa fala expressar certa concordância com o discurso de
PERRENOUD, (2001), onde ele diz que todo indivíduo possui um “time” próprio de
seu desenvolvimento cognitivo e psicomotor, ela trás em seu bojo uma idéia de
individualização dos problemas de aprendizagem, uma vez que ela tem o sentido de
resguardar a escola de uma responsabilidade por não dar conta das diferenças.
Um exemplo que se une a este discurso é um trecho da fala do professor
“B”, que afirma que há alunos que não se adaptam à escola. Esse pensamento é
expresso no seguinte trecho:
“aquele aluno que não é obrigado a ir à escola, que não se adapta
perfeitamente à escola ele é discriminado também(...)” (Professor
B).
O trecho acima reforça o que a escola não se adapta para atender às
necessidades dos alunos, mas esperam que os alunos se esforcem para se adaptar
a ela. Isto se repete na fala do professor B:
“Era um aluno com dificuldades, um dia ele apareceu todo
machucado, todo marcado, e a gente tentou resgatá-lo, mas não
dava mais, a gente só percebeu quando era tarde demais, ele
estava envolvido com drogas, ai ele apareceu mais alguns dias e
agente tentou ir na casa, trazê-lo de volta, mas ele já estava muito
envolvido e ele acabaou morrendo” ( Professor B)
24
Isso vem demonstrar como a escola é um local de conflitos de acordo com
Gómez (1998), ela poderia utilizar o conhecimento que se tem dos meios sociais
para mudar sua relação com o indivíduo, e deixar o estigma de reprodutora das
exclusões sociais, uma vez que para Bueno (2001) apesar da escola fazer parte de
um sistema maior ela possui, mesmo que dentro de seus limites, certa autonomia.
Temos ainda nas falas tanto do professor A quanto do professor B
elementos as submetem a crença de o fato do fracasso escolar estar atrelado às
próprias atuações em sala de aula:
“quando você está bem proposta, quando você está bem embasada,
você passa isso pra eles e eles acabam envolvendo em sua aula
pelo outro lado você tem o retorno que espera (...)”. (Professor B)
Bem como:
“o fracasso do professor, acho que o fracasso está naquele modelo
muito antigo de professor , em que você entrava na aula e o aluno
fechava a boca durante toda a aula, é o professor fracassado, agora
o modelo de professor mais novo não vejo fracassado ”
Vemos nesses trechos uma tentativa de tirar do foco o aluno como sendo
um dos principais atores do fracasso escolar. Como explorado no referencial teórico,
por exemplo, por Patto (1988,2005) e Angelucci (2004), temos agora, por influência
escolanovista, um olhar para a prontidão dos educadores no que diz respeito à sua
formação profissional.
As falas trazem também a responsabilidade por parte das políticas de
escolarização, que para universalizar o ensino aumentam o número de vagas mas
esquece da qualidade, de acordo com Bueno (2001):
“escola absorve esses alunos ela teria que dar conta deles e isso
não acontece, o que acontece que é que eles chegam, e do jeito que
eles chegam à gente tem que dar conta de como eles estão e foge
muito aos nossos cuidados o que realmente eles precisam ”
(Professor A)
25
E por parte do professor B:
“Acho que caberia mais investimento em educação; menos alunos
por classe. Acho que 35... 40 alunos por classe é uma coisa muito
complicada, se você trabalhasse com 20 alunos por classe seria
mais fácil, o sistema seria melhor, teria mais possibilidades de
atendê-los individualmente” (Professor B)
Temos como exemplo de aspectos estruturais e funcionais a baixa
valorização dos professores por meio de baixos salários:
“tem o fator salário influência, porque você acaba observando por
conta, né... de questões econômicas” (Professor A)
Apesar de ser possível encontrar elementos de diferentes visões sobre as
causas do fracasso escolar, as respostas dadas pelos professores entrevistados
permitiram a identificação de uma maneira prioritária de se referir às situações
inerentes ao fracasso escolar. A partir da classificação das falas dos professores foi
possível verificar que a compreensão dada ao fracasso escolar como estando ligado
aos aspectos estruturais e funcionais da escola é mais presente na fala do professor
A. Já quanto ao professor B é possível verificar que as causas do fracasso escolar
estão mais ligadas ao aluno tendo uma importante relação com a questão social do
individuo.
26
5. Considerações Finais
Este trabalho, com o objetivo de reconhecer e analisar as falas de dois
professores pertencentes à escola pública, permitiu tomar conhecimento das da
visão que ambos possuem sobre a problemática do fracasso escolar.
Ambos os professores apresentaram em suas falas elementos que
relacionavam o fracasso escolar tanto com aspectos relacionados ao aluno, bem
como elementos que caracterizavam uma relação de aspectos do fracasso escolar
relacionados à escola. Todavia foi possível notar através dos quadros de
caracterização da fala desses professores, a tendência da fala ser mais afinada com
uma aspecto ou com o outro, tendo o discurso do professor A apresentado mais
elementos relacionando o fracasso escolar à aspectos da escola, já na fala do
professor B houve maior presença de elementos que correlacionavam o fracasso
escolar aos aspectos relacionados ao aluno.
No momento que correlacionamos o fracasso escolar aos aspectos
relacionados ao aluno, arriscamos a nos convencer de que a escola contemporânea
e o sistema que a rege não possuem defeitos e quem tem dever de se adaptar é o
indivíduo e as dificuldades do processo de ensino e aprendizagem é de
responsabilidade do aluno e de seu meio. Desta forma esquecesse que assim
estamos favorecendo a continuidade geração das desigualdades existentes em
nossa sociedade. Porém compreender que o individuo é o elemento mais fraco
desta relação que envolve todo o contexto do fracasso escolar, nos proporciona a
questionar que tipo de individuo estamos formando e para atender as necessidade
de quem desta sociedade em que vivemos.
A posição que tendo a ser partidário é de reconhecer que existem sim certas
limitações por parte do aluno porém estas nem sempre, na maioria das vezes , não a
principal responsável pelo declínio da educação. As causas que acredito serem
maiores estão ligadas a um sistema ensino que visão uma manutenção de uma
sociedade inculcada e prepará-la para o fornecimento mãos de obra para o mundo
do trabalho através de relações de poder e reprodução das mazelas sociais.
27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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30
APÊNDICE A- Roteiro para entrevista:
1. Há quanto você leciona?
2. Você poderia me contar um pouco a sua trajetória profissional?
3. Você poderia me contar algum episódio de fracasso de um aluno que o tenha
marcado de alguma maneira, durante seus anos de docência?
4. Nesse episódio, o que você acha que foi determinante para esse fracasso?
5. O que você entende por fracasso escolar?
6. Vamos pensar em outra situação. Tente se lembrar de alguma situação de
conselho de classe em que houve discussão sobre a reprovação, porém o aluno foi
aprovado. Por que neste caso houve a aprovação?
7. Na sua visão, quais os motivos que levam o aluno a fracassar durante vida
escolar?
8. Quais motivos levam o professor a fracassar?
9. Quais os fatores que levam ao sucesso escolar por parte dos alunos?
10. E por parte dos educadores?
11. Qual o papel da instituição escola na questão fracasso e sucesso escolar?
12. Qual seria a solução para este problema?
31
APÊNDICE B- Transcrição da entrevista com o professor A.
1. Há quanto tempo você leciona?
Leciono há 19 anos.
2. Você poderia me contar um pouco a sua trajetória profissional?
Eu comecei primeiramente na educação infantil, depois ingressei no Ensino
Fundamental, trabalhei alguns anos na Coordenação pedagógica da EMEI, depois
que tive filho eu optei por ficar em um cargo que foi o Ensino Fundamental.
3. Você poderia me contar algum episódio de fracasso de um aluno que o
tenha marcado de alguma maneira, durante seus anos de docência?
Na verdade eu trabalho com alfabetização, né, então eu não percebo assim
tanto fracasso em geral do aluno, eu percebo, assim, dificuldades de certas crianças,
de alfabetizar, devido ao tempo, algumas mais rápidas, outras mais demoradas, mas
dentro do tempo esperado. Especificamente nessa escola, especificamente no
primeiro ano, tudo foi superado, foi aprendido, têm dificuldades, alguns demoram
mais, agora o fracasso, não sei te dizer exatamente “o fracasso”, mas tem mais
demora em alfabetizar.
4. Nesse episódio, o que você acha que foi determinante para esse
fracasso?
5. O que você entende por fracasso escolar?
Eu entendo como a criança não estar atingindo a meta esperada, não está
dando conta dos objetivos propostos, das expectativas a serem aprendidas, o
fracasso do aluno.
Teria maiores fatores em mente que podem contribuir?!
Ah, existe sim. Tem todo o contexto familiar, é uma questão política também,
eu vejo por este ponto, depende da criança, da família, da sociedade, do meio em
que ele vive no geral...
6. Vamos pensar em outra situação. Tente se lembrar de alguma situação
de conselho de classe em que houve discussão sobre a reprovação, porém o aluno
foi aprovado. Por que neste caso houve a aprovação?
É o que mais tem [risos], dentro do conselho esse tema é sempre discutido,
pois acaba interferindo na prática...
Ah prática seria importante? Como você vê a prática?
32
É que a prática que entra e faz atingir os objetivos
7. Na sua visão, quais os motivos que levam o aluno a fracassar durante
vida escolar?
Então, são várias as situações, né. Eu acho que a família tem uma
importância, ele estar bem, crendo naquela importância, o método que utiliza com a
criança e o olhar que você tem com ela é de extrema importância.
8. Quais motivos levam o professor a fracassar?
Eu vejo pelo lado de estimulo, eu acho que um professor quando se dedica a
um cargo só, por exemplo, ele tem mais chance de ser bem sucedido, porque ele
fica mais tempo se preparando... eu sei porquê já trabalhei em dois cargos, quando
a gente fica em um cargo só a gente produz mais, tem o fator salário influencia,
porque você acaba observando por conta, né... de questões econômicas, além disso
tem também a questão do apoio, a sua visão, porque o preparo para aquilo também
tem tudo haver.
9. Quais os fatores que levam ao sucesso escolar por parte dos alunos?
O contrário disso [risos].
Eu acho que o sucesso você tem que estar preparado para o que você esta
fazendo, ter em mente o que está fazendo, o objetivo que você quer atingir, o aluno
que você esta trabalhando, ter disponibilidade, gostar do que faz, entender a teoria,
adaptar a sua prática... Eu acho que tudo isso leva o sucesso.
10. E por parte dos alunos?
Quando você está bem proposta, quando você está bem embasada, você
passa isso pra eles e eles acabam envolvendo em sua aula pelo outro lado você tem
o retorno que espera.
11. Qual o papel da instituição escola na questão fracasso e sucesso
escolar?
33
Eu acho que no momento em que a escola absorve esses alunos ela teria
que dar conta deles e isso não acontece, o que acontece que é que eles chegam, e
do jeito que eles chegam a gente tem que dar conta de como eles estão e foge
muito aos nossos cuidados o que realmente eles precisam, né. Então, tem muita
criança que precisa de um acompanhamento medico, psicológico mais presente e
encaminha sim, muito tempo, mas demora consulta, às vezes é uma “besteirinha”
que você passa na consulta, a consulta demora pra passar, às vez a consulta
demora muitos meses pra passar, e isso acaba fugindo de nós, e a gente não
consegue resolver, então a partir do momento que ela traz todo problema pra ela
teria que ter condições de sanar esses problemas, e isso não acontece, né, acaba
demorando, e tem a pessoa... se ela desse conta do que ela recorre talvez seria
melhor.
E essa falha da escola seria?
Acho que é uma questão política. Porque é fácil você matricular todos, o
duro é você dar conta de resolver todos os problemas. Isso a gente percebe muito
na questão inclusão, né. Agente recebe muito aluno de inclusão e, assim, a gente
não tem assistência com ele, simplesmente tem o direito de vir e vem e só, e a gente
não tem habilitação, não tem muitas vezes uma pessoa que pode ficar o tempo todo
com ele, então a gente acaba interferindo nos outros. Também já tive problemas em
outras escolas com relação a quantidade de alunos em sala de aula, eu vim de uma
região que que a nossa média era 40, aqui já é menos, mas eu já tive muitas salas
de 40 alunos. Abrem-se vagas, prima-se pela quantidade e esquecem a qualidade.
Essas vagas para trazer chamada para os programas de propaganda que eles
fazem...
12. Qual seria a solução para este problema?
Eu acho que pra melhorar, uma coisa que agente comenta muito, acho que
é a questão da valorização da escola mesmo, em geral, eu acho que está um pouco
desmerecida principalmente a pública. Eu acho que talvez a visão que eles têm da
escola, que os pais esperam da escola, né, eu acho que isso tem haver...
Qual seria essa visão que eles têm?
34
A gente enxerga muito, assim, uma visão assistencialista, a gente percebe
que quer, assim, por exemplo, quando eu estudava, a gente tinha outra visão da
escola, né, e hoje em dia a escola é só um lugar onde tudo se inclui, tudo ganha,
então perdeu um pouco o foco do aprendizado.
A escola então seria um lugar para eles um local para os filhos ficarem?
Também... Também... Acho que tem um pouco também... É claro que todo
mundo quer que o filho vá para a escola, mas nem todos cobram o que você fez
durante a aula, o que “você” aprendeu, na sala, “vamos estudar para a prova”, todas
essas coisas parecem que ficam um pouco no ar...
35
Apêndice C. Transcrição da entrevista com o professor B:
1. Há quanto tempo você leciona?
Leciono há 28 anos.
2. Você poderia me contar um pouco a sua trajetória profissional?
Já fui, professora, coordenadora pedagógica, diretora de escola
efetiva e optei por ser professora, e agora ocupo dois cargos de professora.
3. Você poderia me contar algum episódio de fracasso de um aluno
que o tenha marcado de alguma maneira, durante seus anos de docência?
O que eu me lembro agora é de um aluno de sétima seria que se
chamava Marcelo. Ele era um aluno com dificuldades, um dia ele apareceu
todo machucado, todo marcado, e a gente tentou resgata-lo, mais não dava
mais a gente só percebeu quando era tarde demais, ele estava envolvido com
drogas, ai ele apareceu mais alguns dias e agente tentou ir na casa, traze-lo
de volta, mas ele já estava muito envolvido e ele acabou morrendo.
4. Nesse episódio, o que você acha que foi determinante para esse
fracasso?
Acho que... O fato de ele ser um aluno com bastante dificuldades de
aprendizagem vai ver que a escola não era uma coisa muito motivante para
ele, além disso, era um problema social, o fracasso está muito ligado ao
social, ao que acontecem fora das paredes da escola também.
Essas dificuldades, quais seriam?
Era um aluno que já teve dificuldades lá na alfabetização, ele foi um
aluno que teve recursos, mas mesmo assim ele não resolveu as suas
dificuldades. No caso dele existia alguma coisa pública mesmo, neste caso
específico, né, mas além disso tinha uma falta de acompanhamento em casa,
ninguém nunca se preocupou se ele ia à escola ou se ele não ia à escola.
Quando ele é aquele aluno que não é obrigado a ir à escola, que não se
adapta perfeitamente à escola ele é discriminado também.
5. O que você entende por fracasso escolar?
36
Fracasso escolar está vinculado aquele aluno que não se adapta a
escola aos moldes da escola, a escola nunca mudou, sempre foi assim,
aquele aluno que não se adapta a essa tende ao fracasso, ele não consegue
atingir os objetivos que a escola propõe, né, e os objetivos são fechados,
então todo aluno que atente a esses objetivos está fadado ao fracasso.
Quais seriam esses objetivos?
Então esses objetivos são conteudistas, né, pra você passar de uma
série pra outra, você tem tais e tais competências, né, que tem de ser
cumpridas e quando estas competências não são cumpridas você está fadado
ao fracasso
6. Vamos pensar em outra situação. Tente se lembrar de alguma
situação de conselho de classe em que houve discussão sobre a reprovação,
porém o aluno foi aprovado. Por que neste caso houve a aprovação?
Inúmeros casos acontecem isso e eu já presenciei, na verdade a
reprovação já não existe desta maneira, o que acabava acontecendo e que
quando ele foi aprovado é porque um ou dois professores insistiam na
reprovação e ai era feito uma análise melhor, uma análise global do aluno e
não de um ou dois componentes curriculares e por isso ele era aprovado.
7. Na sua visão, quais os motivos que levam o aluno a fracassar
durante vida escolar?
Motivos sociais, muitas vezes ele não pode , ou vem pra escola
pensando em tantas outras coisas que estão lá fora ou, a própria escola que
delimita demais os caminhos que ele pode trilhar dentro da escola ele não tem
muita saída mesmo dentro da escola, a falta de perspectiva, quando a gente
estudou era muito importante estudar, hoje é mais ou menos importante
estudar, mesmo estudando fazendo o ensino médio, ainda se tem chance no
mercado de trabalho, então acho que tudo isso, né, a escola tem um parcela
de culpa, mas não é só a escola que é só a culpada nisso, a sociedade é
muito culpada, porque o aluno que está lá muitas vezes não sabe o que está
acontecendo lá, porque está pensando no que está acontecendo na casa dele,
então, todas essas coisas aliadas levam ao fracasso.
8. Quais motivos levam o professor a fracassar?
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Olha, acho que os baixos salários, acho que quem está no começo de
carreira ainda existe outras possibilidade fora da educação, vai procurar estas
possibilidade, que tem caminho para seguir, para trilhar essa possibilidade...
Acho que este desanimo todo da educação, de achar que não está tão bem,
de achar que não está dando conta; a indisciplina na sala de aula, os
professores se queixam muito disso e do desgaste físico e emocional por
causa da sala de aula, se a pessoa tem a oportunidade de sair fora, sai,
mesmo, vai procurar outro caminho. Agora, o fracasso do professor, acho que
o fracasso está naquele modelo muito antigo de professor , em que o você
entrava na aula e o aluno fechava a boca durante toda a aula, é o professor
fracassado, agora o modelo de professor mais novo não vejo fracassado não.
Nesses meus 28 anos de profissão não me vejo fracassada, não, me vejo
vitoriosa, muito vitoriosa.
9. Quais os fatores que levam ao sucesso escolar por parte dos
alunos?
Se ele tiver um apoio em casa, se ele tiver alguém que se preocupe
com ele, alguém que diga a ele que é importante ele ir à escola e se ele tiver
uma escola que, assim... lhe dê o mínimo, assim, eu acho que ele consegue,
eu acho que ele avança, acho que é possível, às vezes ele não tem isso em
casa e nem na escola...
10. E por parte dos educadores?
Cada sala é uma sala; cada ano é um ano; cada aluno é um aluno.
Assim, nesses 28 anos eu aprendi que proximidade com o aluno facilita
demais o processo. Quando ele pensa que você está próximo, que você é o
companheiro, que é mais um pra ajudar, é um pouco mais fácil, isso é uma
saída, né. A experiência de dominar o conteúdo, dominar a metodologia, né,
para esse conteúdo; saber quando ele erra, pq q ele erra, onde ele está
errando, como ele erra, isso ajuda muito, mas basicamente ser próximo, eu
entendo assim; eu me saio bem, porque eu sou amiga deles de verdade,
amiga, assim , que eles podem contar comigo, eles podem se abrir, e se eles
podem se abrir eu posso perguntar também, então isso facilita bastante o
trabalho.
38
11. Qual o papel da instituição escolar na questão fracasso e
sucesso escolar?
Bem, é um papel limitado, porque acho que a escola às vezes ela é
preconceituosa, ela exclui o aluno... mas não é só a escola, né, ele está
excluído na própria sociedade, então a escola só é mais uma instituição que o
está excluindo, mas ela sozinha, ela sozinha... mas falta a palavra... que
aquele aluno que não consegue se adaptar a esse modelo; e esse modelo por
mais que se mude a metodologia, é um modelo fechado e eu acho que nem
todos se adaptam a esse modelo; então esse aluno que não consegue se
adaptar a esse modelo torna-se excluído e a escola é... a única que o faz
fracassar, né.
12. Qual seria a solução para este problema?
A soluções, sei lá... Acho que caberia mais investimento em
educação; menos alunos por classe. Acho que 35, 40 alunos por classe é uma
coisa muito complicada, se você trabalhasse com 20 alunos por classe seria
mais fácil, o sistema seria melhor, teria mais possibilidades de atendê-los
individualmente, aqui você atende só o grupo; acho que incentivo para
educação que falta por parte dos estados; aumento de salário; investimento
mesmo na escola, que não existe, né... que embora se faça propaganda que o
investimento é grande ele não é; o que se tem na escola em termos de
material, de tudo é assim, o mínimo, né, não se tem o necessário mesmo para
fazer o trabalho melhor; eu acho que assim diminuir o número de alunos por
sala já seria uma grande vitória.
39
Apêndice D.- Categorização de frases significativas do professor A
Frases significativas Categoria Subcategoria
“(.) dificuldades de certas crianças, de alfabetizar, devido ao tempo, algumas mais rápidas, outras mais demoradas, mas dentro do tempo esperado (...)”
Aluno
Aspectos
Psicológicos
“(.) a criança não estar atingindo a meta esperada, não está dando conta dos objetivos propostos, das expectativas a serem aprendidas (...)”
Aluno
Aspectos
Psicológicos
“(...) tem todo o contexto familiar (...)
Aluno Aspectos Familiares
“(...) eu vejo por este ponto, depende da criança, da família, da sociedade, do meio em que ele vive no geral (...)”.
Aluno
Aspectos Familiares
“(...) É que a prática que entra e faz atingir os objetivos (...)”
Escola
Aspectos
Metodológicos
“(...) acho que a família tem uma importância (...)”.
Aluno Aspectos Familiares
“(...) ele estar bem (...) Aluno Aspectos Psicológicos
“(...) crendo naquela importância (...)”.
Aluno Aspectos sociais
“(...) o método que utiliza com a criança (...)”.
Escola Aspectos Metodológicos
“(...) e o olhar que você tem com ela é de extrema importância (...)”.
Escola Aspectos Psicopedagógicos
“(...) Eu vejo pelo lado de estimulo, eu acho que um professor quando se dedica a um cargo só, por exemplo, ele tem mais chance de ser bem sucedido porque ele fica mais tempo se preparando (...)”.
Escola
Aspectos Estruturais e Funcionais
(...) tem o fator salário influência, porque você acaba observando por conta, né... De questões econômicas (...).
Escola
Aspectos
Estruturais e Funcionais
“(...), além disso, tem também a questão do apoio, a sua visão, porque o preparo para aquilo também tem tudo haver (...)”.
Escola
Aspecto.
Metodológicos
40
“(...) quando você está bem proposta, quando você está bem embasada, você passa isso pra eles e eles acabam envolvendo em sua aula pelo outro lado você tem o retorno que espera (...)”.
Escola
Aspectos Metodológicos
“(...) escola absorve esses alunos ela teria que dar conta deles e isso não acontece, o que acontece que é que eles chegam, e do jeito que eles chegam à gente tem que dar conta de como eles estão e foge muito aos nossos cuidados o que realmente eles precisam (...)”.
Escola
Aspectos Estruturais e Funcionais
“(...) tem muita criança que precisa de um acompanhamento médico, psicológico mais presente e encaminha sim, muito tempo (...)”.
Aluno
Distúrbios e
Aspectos Psicológicos
(...) as vez a consulta demora muitos meses pra passar, e isso acaba fugindo de nós (...).
Aluno
Aspecto. Sociais
“(...) acho que é uma questão política. Porque é fácil você matricular todos, o duro é você dar conta de resolver todos os problemas. Isso a gente percebe muito na questão inclusão (...)”.
Escola
Aspectos Estruturais e Funcionais
“(...) também já tive problemas em outras escolas com relação à quantidade de alunos em sala de aula, eu vim de uma região que a nossa média era 40 (...).
Escola
Aspectos Estruturais e Funcionais
“(...) abrem-se vagas, prima-se pela quantidade e esquecem a qualidade”. Essas vagas para trazer chamada para os programas de propaganda que eles fazem (...)
Escola
Aspectos Estruturais e Funcionais
“(...) eu acho que pra melhorar, uma coisa que agente comenta muito, acho que é a questão da valorização da escola mesmo, em geral, eu acho que está um pouco desmerecida principalmente a pública”. (...)
Escola
Aspectos Estruturais e Funcionais
“(...) a gente enxerga muito, assim, uma visão assistencialista, a gente
41
percebe que quer, assim, por exemplo, quando eu estudava, a gente tinha outra visão da escola, né, e hoje em dia a escola é só um lugar onde tudo se inclui tudo ganha, então perdeu um pouco o foco do aprendizado (...)”.
Escola
-
Aspectos Estrutura e Funcionais
-
42
Apêndice E – Quadro de categorização de frases significativas do professor B
Frases Significativas Categorização Subcategoria
“(...) era um aluno com dificuldades, um dia ele apareceu todo machucado, todo marcado, e a gente tentou resgatá-lo, mas não dava mais a gente só percebeu quando era tarde demais, ele estava envolvido com drogas, ai ele apareceu mais alguns dias e agente tentou ir na casa, trazê-lo de volta, mas ele já estava muito envolvido e ele acabou morrendo (...)”.
Aluno
Aspectos Sociais
“(...) o fato de ele ser um aluno com bastantes dificuldades de aprendizagem vai ver que a escola não era uma coisa muito te motivam para ele (...).
Aluno
Aspectos Psicológicos
“(...), além disso, era um problema social, o fracasso está muito ligado ao social, ao que acontecem fora das paredes da escola também (...)”.
Aluno
Aspectos sociais
“(.) era um aluno que já teve dificuldades lá na alfabetização, ele foi um aluno que teve recursos, mas mesmo assim ele não resolveu as suas dificuldades (...)”.
Aluno
Distúrbios/ Aspectos
Psicológicos
“(...) no caso dele existia alguma coisa pública mesmo, neste caso específico (...)”.
Aluno
Aspectos sociais
“(...) mas, além disso, tinha uma falta de acompanhamento em casa, ninguém nunca se preocupou se ele ia à escola ou se ele não ia à escola (...)”.
Aluno
Aspectos Familiares
“(...) aquele aluno que não é obrigado a ir à escola, que não se adapta perfeitamente à escola ele é discriminado também (...)”.
Aluno
Aspectos Familiares
43
“(...) ele não consegue atingir os objetivos que a escola propõe né, e os objetivos são fechados, então todo aluno que atente a esses objetivos está fadado ao fracasso (...)”.
Aluno
Aspectos Psicológicos
“(...) motivos sociais (...)”
Aluno Aspectos Sociais
“(...) vem pra escola pensando em tantas outras coisas que estão lá fora (...)”.
Aluno
Aspectos Sociais
“(...) a própria escola que delimita demais os caminhos que ele pode trilhar dentro da escola ele não tem muita saída mesmo dentro da escola (...)”.
Escola
Aspectos Estruturais e
Funcionamento
“(...) a falta de perspectiva, quando a gente estudou era muito importante estudar, hoje é mais ou menos importante estudar, mesmo estudando fazendo o ensino médio, ainda se tem chance no mercado de trabalho, então acho que tudo isso (...)”.
Aluno
Aspectos Sociais
“(...) não é só a escola que é só a culpada nisso, a sociedade é muito culpada (...)”.
Aluno
Aspectos Sociais
“(...) o aluno que está lá muitas vezes não sabe o que está acontecendo lá, porque está pensando no que está acontecendo na casa dele (...)”.
Aluno
Aspectos Sociais
“(...) acho que os baixos salários (...)”.
Escola Aspectos Estruturais e Funcionais
““(...) acho que este desanima todo da educação, de achar que não está tão bem, de achar que não está dando conta; a indisciplina na sala de aula, os professores se queixam muito disso e do desgaste físico e emocional por causa da sala de aula, se a pessoa tem a oportunidade de sair fora, sai, mesmo, vai procurar outro caminho
Escola
Aspectos
Estruturais e Funcionais
44
(...).
“(...) o fracasso do professor, acho que o fracasso está naquele modelo muito antigo de professor , em que você entrava na aula e o aluno fechava a boca durante toda a aula, é o professor fracassado, agora o modelo de professor mais novo não vejo fracassado (...)”
Escola
Aspectos Metodológicos
“(...) se ele tiver um apoio em casa, se ele tiver alguém que se preocupe com ele, alguém que diga a ele que é importante ele ir à escola (...)”
Aluno
Aspectos Familiares
“(...) se ele tiver uma escola que, assim... dê-lhe o mínimo, assim, eu acho que ele consegue (...)”
Escola
Aspectos
Estruturais e Funcionais
“(...) proximidade com o aluno facilita demais o processo (...)”
Escola
Aspectos
Psicopedagógicos
“A experiência de dominar o conteúdo, dominar a metodologia, né, para esse conteúdo; saber quando ele erra, porque que ele erra, onde ele está errando, como ele erra, isso ajuda muito, mas basicamente ser próximo (...)
Escola
Aspectos Metodológicos
“(...) é um papel limitado, porque acho que a escola às vezes ela é preconceituosa, ela exclui o aluno (...)”
Escola
Aspectos Psicopedagógicos
“(...) mas não é só a escola, né, ele está excluído na própria sociedade, então a escola só é mais uma instituição que o está excluindo, mas ela sozinha, ela sozinha... mas falta a palavra... que aquele aluno que não consegue se adaptar a esse modelo; e esse modelo por mais que se mude a metodologia, é um modelo fechado e eu acho que nem todos se adaptam a esse modelo (...)”
Aluno -
Aspectos Sociais -
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“(...) Acho que caberia mais investimento em educação; menos alunos por classe. Acho que 35, 40 alunos por classe é uma coisa muito complicada, se você trabalhasse com 20 alunos por classe seria mais fácil, o sistema seria melhor, teria mais possibilidades de atendê-los individualmente (...)”
Escola
Aspectos Estruturais e Funcionais
46
Anexo: Carta de autorização
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
São Paulo, 3 de maio de 2010
Prezado Diretor
Venho por meio dessa pedir sua autorização para que o aluno Lucas
Barbosa, regularmente matriculado no curso de ciências biológicas da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, possa coletar dados na EMEF
“Bartolomeu Lourenço de Gusmão” para seu TCC (trabalho de conclusão de
curso). Garantimos transparência e procedimentos éticos tanto na coleta quanto
na utilização e divulgação dos dados. Os participantes da pesquisa serão
convidados a colaborar, portanto podem não aceitar o convite, e aqueles que
participarem terão garantia de anonimato.
Coloco-me a sua disposição para eventuais esclarecimentos.
[email protected] ou 2114 8790
Atenciosamente
Profª. Dra. Magda Medhat Pechliye
Responsável pelo TCC licenciatura do Curso de Ciências Biológicas
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Universidade Presbiteriana Mackenzie
CCBS - UPM
47
Estou ciente do conteúdo da Monografia “Fracasso escolar: uma análise da visão de professores da rede pública.”
_________________________________________________ Prof. Dr. Adriano Monteiro de Castro
(Orientador de TCC– Universidade Presbiteriana Mackenzie)
_________________________________________________ Lucas Barbosa- 4063438-8
(Aluno – Código de Matrícula)
Trabalho a ser apresentado em: 15/06/2011