Francis X. King - O Livro de Ouro 01- As Profecias de Nostradamus -...

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LIVRO 1 2002

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LIVRO 12002

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VIAGEM NO TEMPO

O mundo em que vivemos não é somente um mundo de alta tecnologia, um mundo em que as nossas realidades diárias (da televisão à cirurgia de transplante e às viagens espaciais) são coisas que, um século atrás, ou ainda menos, eram nada mais que fantasias de escritores imaginativos, como Júlio Verne e H. G. Wells.

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Ao mesmo tempo vivemos em uma impregnante atmosfera de mistério e mágica, pois atualmente muitos homens e mulheres consultam clarividentes, astrólogos e tarólogos profissionais, na tentativa de encontrar orientação sobre a sua vida sentimental, os seus assuntos financeiros e o futuro da humanidade.Os métodos adotados por aqueles que se interessam por esses assuntos são muitos e variados. Vão desde a consulta àquele antiqüíssimo livro-oráculo chinês, o I Ching (Livro das Mutações), até a tentativa de atingir um estado alterado de consciência em que o espírito é liberado do corpo e fica livre para percorrer todo o tempo e o espaço.Nenhuma dessas técnicas é nova. Uma das mais populares entre elas vem sendo praticada, com variados graus de sucesso, desde meados do século 16: a interpretação das estrofes proféticas de quatro linhas (quadras) que há mais de quatrocentos anos foram compostas pelo

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profeta francês Nostradamus - o vidente e astrólogo de quem praticamente todo mundo já ouviu falar.

Essas quadras, reunidas sob o título Centúrias, foram escritas em uma terminologia bastante codificada, cujo entendimento pleno requer muito tempo e esforço. Seria uma atividade vã nos dedicarmos a essa e a outras buscas semelhantes? Seria nada mais do que lidar com relíquias humanas de um passado supersticioso, já desatualizadas pelo desenvolvimento da ciência e tecnologia modernas? Ou é genuinamente possível vislumbrarmos o padrão do futuro? Teria

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Nostradamus realmente viajado através do tempo e distinguido eventos que ainda nos esperam?

Um exemplo recente de uma arte divinatória antiga que prevê com sucesso eventos futuros é ilustrado pela rotação de preços em 1992 na moderníssima Bolsa de Valores de Hong-Kong e sua ligação com o "Índice (feng shui) do Vento e da Água".Esse índice foi compilado no início de 1992 pelo Credit Lyonnais Valores Mobiliários (Ásia), através de consulta a três adeptos da antiga arte profética chinesa conhecida como feng shui. Através dele se fizeram corretamente as previsões do grande aumento de preços de março a maio de 1992, desde o pico do mercado de Hong-Kong de novembro de 1992 e de sua tremenda queda, no começo de dezembro, até o ponto mais baixo que foi registrado nesse ano. Apesar disso, o Credit Lyonnais aconselhou seus clientes com base em previsões mais ortodoxas do que as previsões baseadas no feng

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shui; embora o aconselhamento ortodoxo tenha sido excelente como de costume, não chegou nem perto dos aconselhamentos dados pelos adeptos do feng shui. Talvez as artes antigas não tenham sido tão superadas pela tecnologia moderna como alguns pensam.

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VIAJANTE RENASCENTISTA DO TEMPO

EXISTEM E SEMPRE EXISTIRAM MUITAS SUPOSTAS PROFECIAS QUE INDICAM QUE O FUTURO PRÓXIMO SERÁ

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PROVAVELMENTE TERRÍVEL. POUCAS MERECEM SER LEVADAS A SÉRIO - MAS AS DE NOSTRADAMUS SÃO VERDADEIRAMENTE

IMPRESSIONANTES.

Foi profetizado que no sétimo mês (julho) de 1999, ou talvez no começo do agosto seguinte, logo após o final desse sétimo mês, o "Rei do Terror" desceria sobre a Terra.Quem ou o que seria o Rei do Terror? Quase certamente seria uma pessoa que desencadearia a guerra nuclear em nosso planeta ou, talvez, uma bomba de fusão excepcionalmente grande e destrutiva (ver páginas 202-6).Antes e depois da vinda do Rei do Terror, "Marte reinaria contente" - mas não para o contentamento da humanidade. Como Marte é ao mesmo tempo o nome do deus da guerra romano e do planeta que, na antiga tradição astrológica, é o regente da batalha, da matança e da ira humana, essa frase significa uma só coisa: que nos meses ou anos antes e depois da descida do Rei do Terror o mundo será assolado por um conflito de uma ferocidade nunca antes vista.Quando dos Jogos Olímpicos de 2008, um líder mundial, chefe de um sinistro culto necromântico, que poderá muito bem ser o Rei do Terror, realizará uma ação de grande importância relacionada a "incendiar o leste".Não são esses os únicos eventos que nos ameaçariam nos anos que estão iminentes. Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse - praga, fome, guerra e morte - estão destinados a cavalgar os ventos, espalhando carnificina e miséria entre nós.

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Entretanto, nem tudo o que nos aguarda é tão lúgubre assim. Para além da escura ravina da história pela qual a raça humana está destinada a passar, estão as terras altas e ensolaradas sobre a qual homens e mulheres pisarão, tendo a cabeça entre as estrelas.Todas essas profecias derivam das obras do escritor francês Nostradamus (1503-1566), um homem muitas vezes chamado de "o vidente de Salon", pois Salon foi o lugar onde ele finalmente se estabeleceu, após uma vida itinerante durante a qual adquiriu muitos conhecimentos estranhos.

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Que tipo de homem foi Nostradamus? O que se sabe das aventuras por que passou durante suas andanças? E, ainda mais importante: tem ele um registro de profecias realizadas que possa nos induzir a levar a sério suas previsões para o futuro da espécie humana? Essas são as questões que o primeiro capítulo deste livro tenta responder.

Nostradamus nasceu na cidade de St. Rémy, Provença, em 14 de dezembro de 1503, de uma família de origem judaica, mas convertida ao catolicismo. De acordo com uma das tradições a respeito, os ancestrais de seu pai foram médicos eminentes, conhecidos por seu saber, embora existam provas concretas de que muitos dos antepassados diretos do vidente foram comerciantes judeus no enclave papal de Avignon. Esse fato não desautoriza completamente a tradição, no entanto, pois havia grande quantidade de famílias bastante humildes de comerciantes judeus, na Europa do século 16, descendentes colaterais ou diretos de sábios rabinos, médicos e filósofos, e a família do profeta pode ter sido uma delas.De qualquer forma, é certo que, qualquer que tenha sido sua ascendência, Nostradamus foi uma criança inteligente que, ao atingir a

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puberdade, já havia dominado os rudimentos do grego, do latim e da matemática e sido enviado para estudar em Avignon.Em 1522, quando tinha 18 anos, Nostradamus deixou Avignon e foi conduzido a Montpellier para estudar medicina. Três anos depois, com apenas 21 anos de idade, ele recebeu sua licença para praticar a arte de curar; então por alguns anos se tornou um profissional itinerante, especializando-se no tratamento do que se denominava le charbon, doença que era provavelmente uma variante da peste bubônica ou da peste pneumônica.Ele parece ter sido muito mais bem-sucedido do que a maioria de seus colegas contemporâneos no tratamento das vítimas da le charbon. Isso provavelmente não se deveu a nenhuma grande virtude dos remédios que ele usava na terapia e cujas fórmulas sobreviveram. Um deles, por exemplo, era composto de pétalas de rosa, cravo-da-índia, aloés lenhoso e raízes secas e trituradas de íris e cálamo.

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Nostradamus era um estudioso do diagrama cabalístico místico conhecido como Árvore da Vida

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Nada que pudesse fazer mal aos seus pacientes, mas é improvável que lhes tenha feito algum bem; é mais provável que ele devesse seu sucesso ao fato de que seopunha ao uso da maioria dos tratamentos violentos em voga na época - sangrias e o uso de purgativos violentos, por exemplo -, os quais tendiam mais a reduzir do que a aumentar as chances de sobrevivência do paciente.

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É quase certo que foi durante os anos que passou como médico itinerante que Nostradamus começou a adquirir conhecimento de algumas das antigas técnicas de profecia que utilizaria mais tarde para rasgar os véus do tempo e olhar o futuro (ver páginas 257-60). Entretanto não precisamos supor que, como alguns já fizeram, por causa de suas capacidades como profeta, Nostradamus estava muitos anos à frente do seu tempo como praticante da medicina. Pelo que se pode saber, a maioria das misturas que ele receitava para seus pacientes eram tão esquisitas quanto qualquer remédio ordinariamente praticado naquela época.Tome, por exemplo, o ungüento com o qual ele declarou ter curado o Bispo de Carcassone de várias moléstias, feito com coral em pó, lápis-Iazúli e ouro, misturados e batidos para formar folhas tão finas que ficavam translúcidas; é algo que não poderia ter feito grande mal, mas é difícil acreditar que tal mistura pudesse realmente, como Nostradamus declarou, "rejuvenescer a pessoa... proteger contra dores de cabeça e constipação... e aumentar o esperma com tal abundância que um homem poderia fazer o que quisesse sem prejudicar sua saúde". Houve um inconfundível elemento de charlatanice nessa alegação, mas, como será mostrado neste livro, embora possa às vezes ter-se portado como um charlatão, Nostradamus também foi um autêntico profeta e um mago praticante.

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NOSTRADAMUS E A VIRGEM

Após a sua morte, parece que Nostradamus adquiriu a reputação de homem que tanto tinha senso de humor como capacidade de perceber o que ocorria em lugares dos quais estava separado no tempo e no espaço. Por exemplo, poucos anos após a sua morte, afirmou-se que um dia ele viu uma recatada jovem caminhando em direção a uma local onde os adolescentes de Salon costumavam encontrar-se. "Bonjour, pucelle (Bom dia, donzela)", disse o vidente; ''Bonjour, Monsieur Nostredame", respondeu a garota, fazendo educada mesura.Uma hora mais tarde, ele a encontrou novamente, ainda com a aparência recatada de sempre. Ela lhe fez nova mesura, repetindo:

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''Bonjour, Monsieur Nostredame" - ao que o vidente respondeu com um sorriso e as palavras ''Bonjour, petite femme (Bom dia, jovem senhora)".Essa e outras histórias semelhantes podem ser descartadas por serem ficcionais, mas o próprio fato da existência delas é uma indicação da reputação que tinha o profeta de ser um homem capaz de libertar-se das amarras da existência diária e discernir as realidades ocultadas sob a aparência exterior. Essa reputação parece ser bem justificada, pois, como será demonstrado em muitas das páginas a seguir, muitas das suas predições - algumas das quais contêm tanto os nomes como as datas, sugeridos ou reais, de eventos específicos - foram, cumpridas ao pé da letra.

Por algum tempo Nostradamus abandonou a vida itinerante, casou-se e se estabeleceu na cidade de Agen, mas logo começou a se deparar com má sorte e tragédias pessoais. Sua esposa e dois filhos morreram de peste; a família da esposa falecida o processou para reaver o dote dela; e, o pior de tudo, em 1538 ele se tornou suspeito de heresia por conta de uma frase que disse a uma pessoa que estava moldando uma imagem em bronze da Abençoada Virgem

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Maria. Ele disse que o homem estava "moldando a estátua de um demônio" uma afirmação infeliz, mas que, insistia ele, tencionara ser somente um julgamento do mérito artístico do trabalho.Tais eventos levaram Nostradamus a retomar a vida de médico itinerante. Pouca coisa se sabe de suas atividades nos anos seguintes, até 1544, quando ele se encontrava em Marselha, embora existam algumas evidências de que antes disso ele viajara pela Lombardia, nas áreas dominadas por Veneza e pela Sicília.Em 1546 ele foi convidado a ir até Aix, onde a peste tinha irrompido de uma forma tão virulenta que, dizia-se, as mulheres atingidas pelos primeiros sintomas da doença fechavam-se em mortalhas, costurando-as em torno de si, para que seus corpos nus não ficassem expostos à visão pública quando fossem carregadas em carroças pela cidade a caminho das valas comuns de sepultamento. Acredita-se que uma surpreendentemente elevada proporção dos pacientes de Nostradamus se tenha recuperado e que os agradecidos cidadãos de Aix lhe tenham concedido uma pensão. Apesar disso ele logo se mudou para Salon de Craux (vêm daí as freqüentes referências a ele como "o vidente de Salon" na literatura), onde se casou novamente, com uma mulher que lhe deu vários filhos.Pouco tempo depois de ele ter-se mudado para Salon, foi chamado a Lyons para ajudar no tratamento das vítimas de "uma espécie particularmente virulenta de coqueluche", a qual foi, mais provavelmente, uma epidemia de peste bubônica. Por algum motivo sua boa reputação como médico diminuiu entre os cidadãos de Salon durante essa ausência, e foi isso, de acordo com uma fonte do século 19, que o induziu a começar um estudo sério de astrologia e outras ciências ocultas.Sou um pouco cético quanto a essa alegação e, como ficará claro em páginas posteriores deste livro, penso que é provável que o interesse

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de Nostradamus por assuntos esotéricos tenha começado em um período muito anterior. Com relação a isso, é interessante notar que Théophile de Garencieres, um estudioso da vida e das profecias de Nostradamus que viveu no século 17, afirmou que o vidente empreendeu o estudo sério de astrologia porque estava convencido de que um médico realmente competente tinha necessidade de algum conhecimento dela e, nesse caso, sua familiarização prática com as antigas técnicas de profecia e outras técnicas ocultas pode ter começado quando ele tinha pouco mais de 18 anos.

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Qualquer que seja a verdade sobre esse assunto, é certo que a partir de 1550 Nostradamus passou a editar almanaques anuais que continham uma considerável quantidade de matéria astrológica e gozavam de uma circulação surpreendentemente ampla; um deles parece ter sido publicado em tradução inglesa, com o título Almanack for 1559, quase ao mesmo tempo do original francês.

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Em 1555 Nostradamus publicou a primeira edição das Centúrias, que continham menos de quatrocentas quadras. Essa publicação atraiu grande atenção, embora alguns achassem que seu autor devia ser um impostor ou um louco. Entretanto, quatro anos mais tarde essa obra realmente deixou sua marca, por conter aquela que foi então vista como tendo sido uma acurada previsão da morte acidental do rei Henrique II da França - um evento que se deu no verão de 1559 (ver páginas 23-6).

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Dessa época em diante, a reputação do vidente como verdadeiro profeta cresceu cada vez mais, e em 1566, quando ele morreu (provavelmente por falência dos rins, decorrente de problemas

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cardíacos), sua fama justificava totalmente a inscrição que foi gravada em seu túmulo:

Aqui jazem os ossos do ilustre Michael Nostradamus,Cuja pena quase divina foi a única,

Na consideração de todos os mortais,A merecer registrar, sob a inspiração das estrelas,

Os eventos futuros do mundo inteiro [...]Posteridade, não invada o seu descanso [...]

Nostradamus com certeza praticou astrologia; o redator de seu epitáfio disse que ele registrou o futuro "sob a inspiração das estrelas". Entretanto, não há nenhuma dúvida de que a maior parte das profecias que há nas Centúrias - tanto as que já se cumpriram como as que parecem profetizar uma sangrenta era de ferro e fogo que está bem próxima de nós - foi feita por outros métodos que não a astrologia. Falarei mais dessas técnicas poderosas (e talvez perigosas) nas páginas 257-60.

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A Quadra 42 da Centúria I de Nostradamus é de importância fundamental em relação à natureza dos métodos usados pelo vidente para contemplar as grandes paisagens do tempo. Nesse contexto, seu conteúdo é examinado em detalhes nas páginas 261-4.Uma linha dessa quadra é significativa sob outro aspecto bem diferente: ela é a prova de que Nostradamus sabia de eventos vindouros bem antes que acontecessem. Na tradução do francês, essa linha diz: "O décimo dia das calendas góticas de abril".Essa data parece bem simples - e no entanto ela demonstra, fora de dúvida, que o vidente estava ciente de uma futura reforma do calendário cristão, que só foi começar dezesseis anos após a sua morte e ainda não está totalmente finalizada.O uso que Nostradamus fez da palavra "calendas" foi tirado da antiguidade. No calendário romano, "Calendas de Abril" era o primeiro dia de abril, sendo que "calendas" significava simplesmente o primeiro dia de um mês qualquer. Assim, com a expressão "o décimo dia das calendas de abril", Nostradamus quis dizer "10 de abril", mas ao qualificar essa expressão com a palavra "góticas", ele afirmava que a data que tinha em mente era o que os "godos" chamavam de "o décimo dia de abril", mas não era o verdadeiro 10 de abril.Mas a quem Nostradamus queria indicar através dessa referência a "godos", e o que era tão peculiar a propósito do seu calendário que fazia com que contassem errado os dias do mês?A resposta que parece ser com certeza a resposta correta para essa questão foi dada há mais de trezentos anos por Théophile de Garencières em As Verdadeiras Profecias ou Prognósticos de Michel Nostradamus (1672). De Garencières mostrou que o calendário juliano, que era comumente empregado em todo o mundo cristão à época de Nostradamus, corria ligeiramente mais rápido, porque

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continha em excesso os ocasionais anos bissextos. Com o passar dos séculos, o erro cumulativo tinha crescido cada vez mais, até que, no século 16, o calendário usado pelos cristãos estava dez dias atrás do calendário solar. Por exemplo, o dia apontado no calendário juliano como o solstício de verão (isto é, o dia mais longo do ano) caía na verdade dez dias depois do dia realmente mais longo.

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Em 1582, o Papa Gregório XIII reformou o calendário com o simples expediente de acrescentar dez dias à data nominal e determinando que no futuro algum ocasional ano bissexto devesse ser omitido. A

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reforma foi rapidamente adotada pelos Estados católicos da Europa, mas os povos de maioria protestante do norte da Europa, os "godos" - não-latinos -, conservaram o velho e incorreto calendário juliano até muito mais tarde. E de fato, na época em que De Garencières publicou seu livro, a Inglaterra ainda não tinha aceitado o calendário gregoriano, que os ingleses parecem ter considerado uma desagradável inovação papista, e demorariam ainda oitenta anos para aceitá-lo.Os "godos" que governavam a Rússia czarista (no século 16, o termo "godo" era usado com seqüência para denominar qualquer bárbaro cristão) eram ainda mais conservadores do que os ingleses, e a Rússia só veio a abandonar o calendário juliano após a revolução de 1917. (As igrejas ortodoxa e monofisista do mundo ainda se apegam ao impreciso calendário juliano, que, com o passar do tempo, se encontra hoje atrasado em treze dias).Foi um lance de sorte de Nostradamus? Talvez. Afinal, a quadra não contém nenhum nome (como o do Papa Gregório) importante para a reforma de calendário, nem alguma indicação da data em que ela possivelmente começaria. Em todo caso, na época em que Nostradamus grafou sua previsão, já existiam sugestões de reforma do calendário juliano, e alguns de seus companheiros buscadores do conhecimento secreto (como John Dee, na Inglaterra) eram firmes apoiadores dessa idéia.

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Mas nenhuma hipótese relativa a acaso ou lance de sorte pareceria boa para explicar outros acertos de previsão encontrados nas quadras das Centúrias, como por exemplo aquelas que contêm datas ou nomes específicos - às vezes em forma anagramática ou ligeiramente distorcida. Tome-se, por exemplo, a Quadra 16 da Centúria IX, que diz:

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De Castel [i.e., Castela, Espanha]Franco apresentará a Assembléia,

Os Embaixadores não concordarão e causarão a divisão,O povo de Ribiere estará na multidão,

E o grande homem terá negada sua entrada no Golfo.

Essa quadra contém referência a dois nomes, Franco e Ribiere, que são importantes para o seu conteúdo. Ela parece se referir às diferenças diplomáticas que surgiram em 1940 entre Adolf Hitler e o ditador espanhol general Franco, e negaram ao "grande homem", Hitler, a entrada no Golfo - nesse contexto, o controle do Estreito de Gibraltar.E a pessoa misteriosa a quem Nostradamus se refere como "Ribiere"? Ele não pode ser identificado com certeza absoluta, mas seu nome guarda semelhança com o do fundador, assassinado, do fascismo espanhol, José Primo de Rivera - cujo "povo", os líderes do Partido da Falange, estava certamente "entre a multidão", na época das frustradas negociações entre Hitler e Franco.Essas são apenas duas das profecias cumpridas que podem ser encontradas nas Centúrias. Nas páginas seguintes, os leitores saberão de muitas outras.

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Embora a primeira edição das Centúrias tenha atraído a atenção geral, alguns dos leitores consideraram que o conteúdo da obra indicava que o autor era bem louco. Outros, ainda, acreditavam que ele não passava de um profeta charlatão - ou seja, alguém que escrevia versos supostamente proféticos, que eram, na realidade, bobagens obscuras e quase sem sentido.No verão de 1559, pelo menos alguns desses céticos mudaram de idéia e concluíram que o homem que haviam acusado de ser uma fraude ou um maluco possuía de fato autênticos dons proféticos. Essa reversão de opinião foi conseqüência direta da morte do Rei Henrique II da França, que ocorreu em decorrência de um ferimento recebido em uma justa.

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O acidente fatal ocorreu quando o rei, então com 40 anos, que às vezes usava o leão como seu emblema pessoal (embora essa atitude da parte dele não estivesse de acordo com as leis da heráldica), participava de um torneio de três dias que fora organizado em honra dos noivados simultâneos de sua irmã Elizabeth e sua filha Marguerite, respectivamente com Felipe II da Espanha e o Duque de Savóia.

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No terceiro dia do torneio, o rei combateu contra o comandante de suaguarda escocesa, um homem de 33 anos conhecido como Coryes, ou, mais comumente, Montgomery. Embora esse comandante tivesse um nome normando e pareça ter nascido na França, tinha-se em conta que seus antepassados eram naturais da Escócia, um país cujo símbolo heráldico era (e ainda é) um leão exuberante. A lança de Montgomery estilhaçou-se: uma parte infligiu ligeiro ferimento na garganta do rei, mas a maior parte da cabeça da lança deslizou através das barras douradas da viseira-gaiola que cobria a face do rei e entrou por um olho. O olho do infeliz monarca infeccionou-se e, além

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disso, pelo menos uma parte da lança parece ter penetrado no cérebro. Após dez dias do mais torturante sofrimento, a morte misericordiosamente interrompeu os gritos de agonia do rei.Quase imediatamente, foi lembrado que esse evento teria sido profetizado por Nostradamus na Centúria I, Quadra 35, que havia sido publicada cerca de quatro anos antes, mas à época de sua publicação parecera sem sentido. A quadra diz:

O jovem Leão vencerá o velhoEm campo como o de guerra, em combate simples,

Ele perfurará seus olhos em uma gaiola de ouro,Uma ruptura entre duas, então ele morrerá de morte cruel

Considerou-se em geral que a quadra era espantosamente apropriada às circunstâncias do terrível fim do rei. O "jovem leão" era obviamente Montgomery, comandante da Guarda Escocesa. O "velho leão" derrotado por ele "em campo como o de guerra, em combate simples" (ou seja, uma justa em um torneio), era, também obviamente, o Rei Henrique lI, cujo olho foi perfurado mesmo estando protegido por uma "gaiola de ouro" - sua viseira dourada - e que realmente morreu "de morte cruel" como conseqüência de "uma ruptura entre duas" da lança de seu adversário.

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UMA BRINCADEIRA PROFÉTICA

Entre os resultados imediatos do acerto de Nostradamus quanto à morte de Henrique lI, ocorreu que ele foi nomeado um dos médicos

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regulares do Rei Carlos IX da França e que a sua reputação de vidente cresceu entre os membros da nobreza, muitos dos quais o consultavam em assuntos de saúde e negócios pessoais. Essa reputação se mostrou duradoura e crescente, tanto durante a sua vida como após a sua morte, e não somente entre a nobreza, mas também entre camponeses, comerciantes e até mesmo, é de se acreditar, entre caçadores de tesouros e ladrões de túmulos.Pode ser que Nostradamus tenha previsto até mesmo sua fama póstuma, pois, de acordo com uma história que foi publicada pela primeira vez no começo do século 18, ele fez uma brincadeira prática que só surtiria efeito muito tempo depois de sua morte, quando começaram a se espalhar lendas a respeito de manuscritos ou tesouros que supostamente teriam sido enterrados com ele em seu túmulo.Lendas como essa eram muito comuns com relação aos túmulos de homens santos, videntes e magos, e tais lendas circularam amplamente pelo sepulcro de Nostradamus por volta da década de 1690 ou antes. Tão forte era a crença nessas lendas, que em 1700 o túmulo foi aberto por uma gangue de ousados ladrões de tumbas.Os assaltantes não encontraram nem tesouro nem documentos que contivessem revelações de Nostradamus até então não conhecidas - mas o túmulo continha, junto com os ossos do vidente, um fino medalhão decorado. Nele estavam gravadas as letras MDCC - que, em algarismos romanos, significam 1700, o ano em que os ladrões cometeram seu ato de sacrilégio. Parece que Nostradamus tinha senso de humor!

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Após a morte de Henrique II (ver páginas 23-6), Francisco lI, um dos sete filhos que Henrique tivera com Catarina de Médici, o sucedeu no trono.Catarina era uma mulher culta e inteligente, mas que parecia não ter nenhum princípio, tendo como único desejo verdadeiro manter o poder de seus filhos e, mais especialmente, o próprio poder. Para chegar a esses fins ela foi cruel e traiçoeira, exibindo toda a impiedosa sagacidade que é tradicionalmente atribuída (ainda que muito injustamente) às serpentes.De modo bastante singular - e primorosamente adequado -, após a morte do marido ela mudou seu emblema heráldico para uma serpente que mordia a própria cauda. Nostradamus predisse isso nas primeiras duas linhas da Quadra 19 da Centúria I, que dizia:

Quando as serpentes circundarem o altar,E o sangue troiano estiver agitado [...]

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A segunda linha oferece um belo exemplo de como Nostradamus muitas vezes achava conveniente transmitir o que queria dizer por alusões obscuras, em lugar de usar declarações diretas. Aqui e em outros lugares das Centúrias ele usou a expressão "sangue troiano" como código que significa a família real francesa, aludindo à lenda medieval que dizia que a família descendia de um mítico Francus, supostamente fIlho de Príamo de Tróia.

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O período de mais ou menos trinta anos durante os quais os atos da serpente e da sua raça - Catarina de Médici e seus fIlhos - foram de grande importância na história da França parece ter sido foco de atenção de muitas das visões de Nostradamus. Com exceção do

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período da Revolução Francesa e sua culminação no Primeiro Império (ver páginas 73-84), nenhuma outra época teve tantas quadras a ela dedicadas pelo vidente. Isso pode ter ocorrido porque ele era fascinado pelo caráter de Catarina de Médici, a quem fez referências factuais mas preconceituosas em mais de um verso - por exemplo, na Centúria VI, Quadra 63, que diz:

A grande dama que foi deixada só no reino,Seu único [marido] primeiro morto no leito de honra:

Por sete anos chorará ela com pesar,E depois uma longa vida pela felicidade do reino

Catarina, de fato, nunca voltou a se casar após a morte de Henrique II e, como previu o vidente, guardou luto formal por sua morte durante sete anos inteiros, após os quais viveu uma vida longa. No entanto, poucos historiadores partilhariam da opinião de Nostradamus de que o resto de sua vida foi devotado à busca da "felicidade do reino". Parece-nos que ou o vidente foi extremamente parcial em seu modo de ver, ou, mais provavelmente, como a quadra era obviamente aplicável a Catarina e foi publicada durante a vida dela e dele, ele considerou mais político apresentar as motivações dela sob uma luz lisonjeira, embora inexata.Francisco II, o mais velho dos cinco filhos de Catarina e primeiro marido de Mary Rainha da Escócia (ver páginas 47-8), permaneceu no trono por apenas dois anos, e há apenas duas referências - uma delas notavelmente vaga - nas Centúrias que foram aplicadas diretamente a ele (ver páginas 47-8). Embora se mantivesse oficialmente que Francisco já atingira a maioridade, ele foi considerado muito jovem para governar, e, durante seu breve reinado, os verdadeiros regentes da França foram os tios de Mary, os irmãos Guise.

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Um sofisticado plano conhecido como "conspiração de Amboise", de instigação basicamente protestante, foi tramado contra a influência desses irmãos, mas o plano malogrou e foi reprimido com vigor - como pode ter sido previsto por Nostradamus na Centúria 1, Quadra 13, em que ele escreveu em termos muito gerais sobre uma conspiração envolvendo exilados (protestantes) que eram consumidos por ira e "ódio visceral".A morte de Francisco II em 1560 não pareceu oferecer ameaça à continuação da dinastia dos Valois como reis da França, pois embora suas duas irmãs fossem impedidas, pela lei sálica remanescente do século 6, de herdar o trono, ele tinha quatro irmãos menores. Entretanto, Nostradamus sabia que todos estavam fadados a morrer sem herdeiros legítimos. Isso ele deixou claro na Centúria I, Quadra 10, que diz:

Um caixão está colocado na câmara de ferroQue guarda os sete filhos do Rei,

Seus antepassados emergirão do fundo do inferno,Lamentando a morte do fruto de sua linhagem.

Apesar da terminologia aforística em que Nostradamus expressou essa quadra (como tantos outros de seus versos), parece não haver dúvida de que ela profetizava tanto o fim da dinastia dos Valois quanto um evento específico que ocorreu em 1610 - a remoção do corpo do último monarca dos Valois (Henrique III, morto em 1589) de seu túmulo temporário para o mausoléu da família em Saint Denis.Francisco II foi substituído no trono da França por seu irmão Carlos IX, que reinou de 1560 a 1574. Entretanto, grande parte do verdadeiro

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poder era exercido por sua mãe, a rainha-serpente Catarina de Médici, que parece ter sido a instigadora de certos excessos que ocorreram durante o reinado dele. Alguns desses excessos foram profetizados por Nostradamus.

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De acordo com os relatos comuns, Catarina de Médici, embora basicamente não tivesse nenhum sentimento religioso genuíno, era profundamente preocupada com o impacto do sobrenatural na sua vida e na vida de sua família; à medida que o tempo passava, seu interesse pelas coisas misteriosas se tornava mais e mais perceptível. Embora isso chocasse alguns de seus súditos, não era coisa que surpreendesse, pois ela via se cumprirem, uma a uma, as profecias que Nostradamus havia feito e que eram direta e pessoalmente relevantes para ela - por exemplo, a Centúria VI, Quadra 11, que dizia:

Os sete ramos serão reduzidos a três,Os mais velhos serão surpreendidos pela morte,Os dois serão seduzidos e levados ao fratricídio,

Os conspiradores morrerão durante o sono.

Em dezembro de 1588, os que conheciam essa quadra a viram como uma profecia exata - mais um elemento de prova de que Nostradamus tinha realmente visto o futuro. Pois "os sete ramos" da primeira linha eram os sete filhos de Catarina (ver página 27), dos quais apenas três

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- Henrique III, François e Marguerite estavam vivos no começo de 1576. Houve disputa fratricida entre os dois irmãos, com François, que tinha esperança de se alçar ao trono, aliando-se aos irmãos Guise e conspirando com eles contra o rei.Os conspiradores - os dois irmãos Guise - de fato morreram, assassinados por ordem do rei, embora não "durante o sono", como previsto na última linha da quadra. Pouca dúvida pode haver, entretanto, de que era à morte desses dois que o vidente se referia, pois ele fez uma previsão bastante detalhada dos assassinatos e de suas circunstâncias na Centúria III, Quadra 51, que diz:

Paris conspira [literalmente, "jura unida"]Para cometer grande assassinato,

Blois garantirá que ele seja executado,O povo de Orleans desejará substituir seu líder,

Angers, Troyes e Langres lhes farão um desserviço.

O assassinato do Duque de Guise e de seu irmão Louis, o Cardeal de Guise, fora planejado em Paris. O primeiro deles ocorreu em Blois no dia 23 de dezembro de 1588; o outro, um dia mais tarde. Aproximadamente na mesma época, a burguesia de Orleans se revoltou contra seu governador e o substituiu por um parente dos Guise, ardentemente católico. Em vista da exatidão dessa profecia, além de outras das Centúrias, que pareciam se relacionar com os assassinatos, não surpreende que as histórias que tinham sido contadas durante a vida de Nostradamus, com relação a seus dons miraculosos, circulassem ainda mais amplamente.Oito meses após os insensíveis assassinatos sob as ordens do rei, ele próprio foi assassinado por um monge que tinha sido um partidário da

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causa dos Guise. Esse evento também foi profetizado por Nostradamus, que escreveu na Centúria I, Quadra 97:

Aquilo que nem ferro nem fogo puderam alcançar,Por uma língua doce em conselho será executado:

Dormindo, em sonho, o rei veráUm inimigo, não em fogo ou sangue militar.

E assim aconteceu. Três noites antes de seu assassinato, Henrique III teve um sonho que o perturbou, pois parecia premonitório de morte iminente nas mãos de um monge ou pessoa do povo. Em seu sonho, Henrique viu sua coroa, cetro, espada e manto real sendo pisoteados na lama por um grande ajuntamento de monges e plebeus pobres.Três dias mais tarde, o sonho e a profecia de Nostradamus se cumpriram. Em St. Cloud, o rei foi abordado por um monge que disse ter um conselho a dar com respeito a uma carta secreta. Quando Henrique se inclinou para a frente para ouvi-lo, foi esfaqueado no estômago pelo falso conselheiro. Ele levou quase um dia para morrer.O sobrenome do monge era Clemente, que significa doce, suave; parece que o vidente apontou esse detalhe quando descreveu o assassino como tendo "língua doce".

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NOSTRADAMUS E OS PORCOS

Como Nostradamus ligava datas específicas a algumas de suas profecias, não é de surpreender que mesmo em vida ele tenha começado a adquirir a reputação de estar invariavelmente certo, e que fossem contadas lendas a respeito de sua virtual onisciência.De acordo com uma dessas lendas, um nobre perguntou ao vidente qual de dois leitões, sendo um branco e um preto, ele comeria primeiro. Nostradamus disse: "O leitão branco". O nobre, então, para provar que ele estava errado, ordenou que o leitão preto fosse imediatamente morto e servido no jantar.Mais ou menos uma hora depois, o leitão assado estava na mesa - mas o cozinheiro teve que pedir desculpas ao seu patrão: um lobo havia roubado o leitão preto, portanto era o branco que estava sendo servido.

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Mesmo antes da morte de Henrique II, ficou óbvio para a maior parte das pessoas que o fim da dinastia dos Valois estava próximo (ver páginas 31-3).Como conseqüência desse reconhecimento, apareceram muitos pretendentes ao direito de sucessão do trono da França.Sobressaíam entre esses pretendentes vários membros da família Guise. Esses homens eram importantes adversários do protestantismo e participantes ativos da Liga Católica militante. Alguns deles chegaram a ponto de pagar pela construção de uma genealogia completamente falsificada, com o fim de demonstrar que tinham direito ao trono por causa de sua (imaginada) descendência do imperador Carlos Magno.Na verdade, com base na genealogia, o verdadeiro herdeiro do trono era sem dúvida o rei Henrique de Navarra - um homem cujas terras eram poucas, que tinha passado a maior parte de sua vida adulta como soldado e que era protestante. Em vista deste último fato, ele era inaceitável como futuro rei da França para a Espanha, para o papa, para os bispos franceses, que deixaram claro que não ungiriam a coroação de um "rei herege", e para a maior parte do povo francês.

Entretanto, Henrique de Navarra triunfaria - como fora profetizado por Nostradamus na Quadra 50 da Centúria IX, recheada de anagramas, que diz:

Mendosus logo virá para seu grande reino,Deixando Nolaris para trás,

O vermelho pdlido, aquele do tempo entre reinados,O jovem tímido e o medo de Barbaris.

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"Mendosus" está entre os muitos anagramas parciais que Nostradamus empregou; significa "Vendosme", ou seja, Henrique de Navarra, que tinha herdado o Ducado de Vendosme de seu pai. "Nolaris" foi a palavra, baseada em outro anagrama parcial, que o vidente empregou com freqüência para dizer Lorraine, a tradicional casa da família Guise. Conseqüentemente, as duas primeiras linhas da estrofe podem ser parafraseadas como:

Henrique de Navarra logo vird para seu grande reino,Deixando os Guise para trás [...]

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Muito sangue foi derramado pelas facções que disputavam o trono da França

As palavras que abrem a terceira linha, "o vermelho pálido", são igualmente fáceis de interpretar. Em dezembro de 1585, quase quatro

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anos antes da morte de Henrique III, fora feito um acordo, em Joinville, entre o rei Felipe da Espanha, o papa e os Guise, com o objetivo de impedir que Henrique de Navarra subisse ao trono. Ficou combinado que, após a morte de Henrique III, um dos Guise - Carlos, o idoso Cardeal de Bourbon - deveria ser proclamado rei da França, e ele faria então um testamento reconhecendo Henrique de Guise como seu sucessor.

Martinho Lutero

O Cardeal de Bourbon foi chamado de "vermelho pálido" por Nostradamus. Isso porque vermelha é a cor do chapéu de um cardeal e ele tinha a palidez devido à sua idade - e também, talvez, devido à proximidade de sua morte. Embora o idoso clérigo tenha de fato sido

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proclamado rei, com o nome de Carlos X, no final de 1589, ele nunca governaria, pois foi prisioneiro de Henrique de Navarra durante todo o seu reinado fantasma e morreu logo depois.Quanto a "aquele do tempo entre reinados", o "jovem tímido" e "Barbaris", são referências nostradamianas cifradas a outros rivais que desafiaram o direito de Henrique de Navarra ao trono: o primeiro foi o Duque de Mayenne; o segundo, o mais jovem Duque de Guise; e o último, o rei Felipe da Espanha, cuja pretensão pessoal nunca foi levada muito a sério, nem por ele mesmo.Henrique de Navarra não só teve de lutar muito para ganhar o trono da França, como também foi forçado a mudar de religião (ver páginas 43-6). No entanto, ele acabou conseguindo seu intento, destruindo as pretensões de seus únicos rivais de verdade, o Duque de Mayenne e o jovem e tímido Duque de Guise, como profetizado por Nostradamus na Centúria X, Quadra 18:

A Casa de Lorraine dará passagem a Vendosme,Os grandes serão humilhados e os humildes serão exaltados,

O filho de Mamon [ou Hamon - em qualquer caso, é um herege o indicado] será escolhido em Roma,E os dois grandes serão derrotados.

O significado do uso que o vidente dava às palavras "Lorraine" e "Vendosme" já foi explicado, e assim se verá que a primeira linha da quadra quer dizer "Os Guise terão de dar passagem a Henrique de Navarra”. O conteúdo da segunda linha é evidente; a terceira significa que o papa acabaria reconhecendo Henrique como o rei de direito; e os dois grandes derrotados da última linha foram os dois pretendentes, o Duque de Mayenne e o Duque de Guise.

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Nostradamus fez pelo menos uma outra referência específica ao rei Henrique IV (embora de certa obscuridade). Na Quadra 45 da Centúria X, ele previu:

A sombra do Rei de Navarra é falsa,Ela fará de um homem forte um bastardo [ou ilegítimo]

A vaga promessa feita em Cambrai,O rei em Orleans dará uma parede [fronteira] legal

Parece provável que nessa quadra Nostradamus estivesse se referindo a irregularidades na vida pessoal de Henrique, e não a eventos políticos de maior importância, pois Henrique certamente tinha muitas amantes, inclusive a esposa do governador de Cambrai, e se dizia que ele era pai de vários filhos ilegítimos. Entretanto a segunda linha da estrofe poderia ser uma referência a um dos pretendentes ao trono que Henrique tornou "ilegítimo".

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A Europa, na época de Nostradamus, era um continente dominado por discussões teológicas a respeito de assuntos como livre arbítrio e predestinação, a natureza da presença de Cristo no pão e no vinho da Eucaristia e a supremacia do papa. Tais discussões se emaranhavam quase inseparavelmente com as ambições dinásticas de uns e os projetos econômicos de outros. Por exemplo, a luta dos calvinistas e outros protestantes da Holanda para praticar sua religião livremente estava entrelaçada tanto com os primeiros frêmitos de uma noção de identidade nacional que levava a um ressentimento contra "o jugo espanhol" - a subjugação dos Países Baixos ao rei da Espanha – quanto com as tensões econômicas decorrentes da crescente importância mercantil das áreas ao norte (grosseiramente falando, a Holanda moderna) e o relativo declínio da Antuérpia.

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No entanto, embora os fatores puramente políticos e econômicos tivessem importância real, as diferenças religiosas é que estavam na raiz de toda a série de conflitos, revoltas e guerras que causaram enorme dano à Europa e a seus povos por um período que se estendeu desde a terceira década do século de Nostradamus até meados do século seguinte.Sendo um homem de seu próprio tempo e também um católico devoto, Nostradamus tendia não somente a interpretar suas visões dos conflitos de um futuro próximo em termos puramente religiosos, mas também a fazê-lo com propensão marcadamente pró-católica. Essa tendência é evidente em quase todas as quadras que por alguma forma se relacionam, mesmo que marginalmente, com a Igreja

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e todos aqueles que se rebelavam contra ela, mas em ponto algum é mais gritante do que na Centúria III, Quadra 67, que diz:

Uma nova seita de filósofosDesprezando a morte, honras, ouro e outras riquezas

Não será limitada pelas fronteiras [literalmente, montanhas] da Alemanha [nesse contexto, todas as áreas de língua alemã]

Seus apoiadores serão numerosos.

Esse é um prenúncio em palavras um tanto vagas para qualquer um que o leia nos dias de hoje. Entretanto, para os católicos que se deparavam com ela nas três ou quatro décadas após sua primeira publicação, era uma profecia cruelmente realizada a respeito da maneira pela qual as doutrinas de Calvino (Calvinus - literalmente "homem calvo") tinham se espalhado por toda a Europa, a partir de sua sede em Genebra, cidade de língua alemã. Um dos lugares onde essas doutrinas lançaram raízes foi Lausanne, de onde, como Nostradamus tinha profetizado de modo um tanto deselegante na primeira linha da Centúria VIII, Quadra 10, "virá um grande fedor" como resultado das atividades de Theodore Beza, discípulo de Calvino.O preconceito católico de Nostradamus era tal, que ele não hesitou em publicar profecias relativas ao protestantismo que poderiam ser descritas como difamatórias - isto é, predições em que ele falsamente atribuía a todos os protestantes as opiniões imoderadas defendidas por apenas uma pequena proporção deles. A segunda linha da quadramencionada anteriormente dá um exemplo disso, com Nostradamus assumindo que todos os protestantes compartilhavam das opiniões comunistas de extremistas tão violentos como Jan de Leyden. Alguns comentaristas de Nostradamus alegaram até que o vidente, bem

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deliberadamente, publicou falsas profecias de conversões em massa do protestantismo à Igreja. Como exemplo dessa hipocrisia, indicam a Centúria III, Quadra 76, que diz:

Na Alemanha aparecerão várias seitasQue se parecerão a um paganismo feliz,

O coração escravizado e pouco tendo recebido,Eles voltarão para pagar o verdadeiro dízimo.

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Para este escritor, porém, parece provável que Nostradamus seja inocente da imputação de falsidade e que a quadra acima se refira às seitas neo-pagãs nórdicas que surgiram no período 1890-1945.

CATOLICISMO E REENCARNAÇÃO

Embora, por um curto período, Nostradamus tenha enfrentado suspeita de heresia, é certo que durante toda a sua vida ele foi regularmente à missa e desempenhou as outras obrigações religiosas de um filho leal da Igreja.Alguns insinuaram que seu catolicismo era de aparência, simples artifício para garantir distância de atenção eclesiástica indesejável e que as opiniões religiosas de Nostradamus eram na realidade extremamente não-ortodoxas, estendendo-se a uma crença na reencarnação. Como prova dessas afirmações, essas pessoas dão como exemplo a Centúria II, Quadra 13, que diz:

O corpo sem alma não mais no sacrifício,No dia da morte é trazido ao renascimento.O Divino Espírito fará a alma se regozijar,

Vendo a eternidade da Palavra.

A primeira linha dessa quadra, argumentou-se, significa que Nostradamus pessoalmente rejeitava a doutrina cristã da ressurreição do corpo, enquanto a segunda linha demonstra que ele acreditava na reencarnação.Na opinião deste escritor, todos esses argumentos se baseiam em um mal-entendido quanto ao conteúdo da quadra, pois, se ela indubitavelmente contém um significado religioso pessoal para seu autor, o seu conteúdo, por outro lado, é impecavelmente ortodoxo.

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Tudo que o vidente expressou nessa quadra foi sua certeza da salvação, e seus versos podem ser parafraseados assim:

Após a minha morte, meu corpo não estará mais presente aosacrifício da missa,

Minha alma estará renascida no céu, onde verei a eternidadecom o Espírito Santo [i.e., o Logos, literalmente "Palavra”, do

Evangelho de São João].

Parece não haver nenhuma boa razão para duvidar do catolicismo de Nostradamus, embora, como alguns outros ocultistas ao longo dos séculos, ele pareça ter achado sua fé bastante compatível com a prática de mágica ritualística e outras artes proibidas (ver páginas 253-6).

A ascensão de Henrique de Navarra ao trono da França tinha sido prenunciada nas Centúrias de Nostradamus (ver páginas 35-8). Do mesmo modo o foram pelo menos algumas das batalhas militares e

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diplomáticas que ele deveria empreender para ficar seguro no trono que lhe pertencia de direito - por exemplo, na Centúria III, Quadra 25, que diz:

Aquele que mantém [ou herda] o Reino de NavarraQuando Nápoles e Sicília são unidas,

Ele manterá [ou tomará] Bigore e Landes, até Foix e Oloron,De alguém muito estreitamente unido à Espanha.

A profecia é um tanto vaga, mas a primeira e a segunda linha, lidas em conjunto, permitem que se datem os eventos aos quais Nostradamus se referia com razoável grau de exatidão, pois embora os reinos de Nápoles e da Sicília fossem, na prática, unidos entre si durante séculos, houve apenas três ocasiões históricas em que sua união foi formalmente proclamada.

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As duas últimas ocasiões ocorreram no século 19, época em que o pequenino Reino de Navarra já havia deixado de existir como Estado independente desde há muito tempo. Conseqüentemente, a quadra não poderia se referir a nenhuma delas; o que deixa apenas a primeira ocasião - em 1554, quando Felipe da Espanha afirmou a unidade dos dois reinos. E foi em 1562, durante o reino de Felipe, que o futuro Henrique IV da França herdou o trono de Navarra. Podemos ter certeza, então, de que era a ele, e não a algum outro governante de Navarra, que Nostradamus se referia quando escreveu as palavras dessa quadra.

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Os nomes da terceira linha são todos de localidades em Navarra, mas um deles, Bigore, é importante em um contexto diferente - o das batalhas entre os soldados protestantes de Henrique IV e seus adversários católicos, pois "Bigorro" era uma palavra entoada durante as batalhas pelos soldados de infantaria de Henrique.

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O significado da última linha da quadra é vago - muitos dos inimigos de Henrique eram mais intimamente aliados da Espanha do que ele gostaria -, mas, por ela, uma coisa parece ficar definitivamente estabelecida: Nostradamus sabia um bocado sobre as lutas entre Henrique e seus adversários muito antes que elas começassem!Embora Henrique fosse um soldado de gênio, seus sucessos militares não foram suficientes para garantir-lhe inteiramente o trono. Para isso, ele teve que mudar de religião e adotar a fé católica, pois, como ele mesmo colocou cinicamente, "Paris merece uma missa". Entretanto, embora abandonasse o protestantismo, Henrique não abandonou os protestantes que haviam lutado por ele, e pelo Édito de Nantes, de 1598, foi assegurada aos seguidores franceses do calvinismo uma tolerância religiosa quase total, bem como exatamente os mesmos direitos civis que tinham os súditos católicos do rei.Previsivelmente, o Édito de Nantes não foi recebido com agrado pelos católicos mais extremados, em geral pró espanhóis; foi um deles que, em 1610, assassinou Henrique IV - mais um evento futuro do qual Nostradamus obviamente sabia muito.

A AMPUTAÇÃO DO RAMO SAGRADO

Na primavera de 1610, em conseqüência de uma complexa disputa que envolvia a sucessão ao trono do pequeno Estado de Julich-Cleves, Henrique IV fazia preparativos para entrar em guerra contra os Habsburgo.Era um caminho sério e perigoso que o rei da França pretendia seguir, e, se ele tivesse continuado nessa rota, isso faria com que a França ficasse em sério desacordo com metade da Europa, pois um ramo da dinastia dos Habsburgo governava a ainda poderosa Espanha, enquanto outro governava o extenso Sacro Império Romano, que

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incluía em seus domínios a Boêmia, a Morávia e todas as terras de língua alemã da Europa Central, com exceção da Suíça.A guerra não aconteceu porque, em 14 de maio de 1610, Henrique IV morreu apunhalado por um assassino pró Espanha, de nome François Ravaillac, e foi sucedido por seu jovem filho, Luís XIII. A mãe do novo rei, nomeada regente, cedeu ao partido pró Espanha - homens que eram "mais católicos do que o Papa" - e chegou a uma reaproximação com os Habsburgo.

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O assassinato de Henrique foi profetizado por Nostradamus na Centúria

III, Quadra 11, que diz:

Por longa estação as armas lutam no céu,A árvore caiu no meio da cidade,

O ramo sagrado amputado por uma espada do outro lado de Tison, Assim o monarca Hadrie sucumbe [tomba]

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O primeiro verso da estrofe, com sua referência a "lutam no céu", faz parecer que a quadra se aplica ao século 20 ou mais tarde. No entanto, a última linha mostra que não é esse o caso, pois todas as várias menções de Nostradamus ao monte-código "Hadrie" parecem aplicar-se a Henrique IV: De fato, a primeira linha se refere ao fato de que, à época do assassinato de Henrique, havia relatos bastante semelhantes àqueles que circularam também no início da guerra civil inglesa - de exércitos espectrais vistos nos céus.O ramo sagrado amputado no meio da cidade era o próprio Henrique - na condição de rei ungido, sua pessoa era considerada sagrada - e seu assassinato ocorreu próximo à Rua Tison (ver terceira linha da quadra).Mais uma vez, uma quadra de estranhos dizeres estava destinada a ser cumprida pelo curso da história.

Mary Stuart, talvez mais conhecida como "Mary, rainha da Escócia” teve como primeiro esposo o monarca Francisco II, dos Valois, (ver página 29), filho de Henrique II e sua rainha, Catarina de Médici.

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O casamento de Francisco e Mary e a sua breve duração, que terminou na viuvez dela, foram corretamente prenunciados na Centúria X, Quadra 39, que diz:

O primeiro filho, uma viúva, um casamento desafortunadoSem filhos, duas ilhas [reinos?] em discórdia.

Antes dos dezoito anos, menor de idade,Do outro a [idade da] boda será ainda menor.

A despeito do fraseado curioso e da sintaxe estranha, o significado profético dessa quadra fIcou imediatamente evidente para a corte francesa à época em que os eventos nela referidos ocorreram; ela foi corretamente vista como um notável acerto de previsão e ajudou a construir a reputação de Nostradamus como vidente.

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Francisco era o filho mais velho dos monarcas franceses, e sua esposa Mary nome escrito por Nostradamus em sua forma inglesa/escocesa, e não na forma francesa "Marie", na Centúria X, Quadra 55 (ver adiante) - tornou-se uma viúva sem filhos, com a sua morte. Além disso, Francisco era menor de idade, com menos de 18 anos, na data de sua boda, e as conseqüências do retorno de Mary à Escócia após a morte precoce do marido seriam a causa de muita discórdia tanto na Inglaterra como na Escócia.

A última linha da quadra também tinha significado para os contemporâneos de Nostradamus; eles a tomaram como referência

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direta aos esponsais celebrados entre Carlos, irmão de Francisco, aos 11 anos de idade, e Elizabeth da Áustria.Nostradamus fez uma segunda referência ao desafortunado primeiro casamento de Mary na Centúria X, Quadra 55:

O infausto casamento será celebradoCom grande alegria, mas seu fim será infeliz.

A mãe [do marido] desprezará Mary,O Phybe morto e a nora grandemente lamentosa.

O significado profético das duas primeiras linhas ficou facilmente evidente e rapidamente foi cumprido. A terceira linha também parece ter um significado óbvio, mostrando-se exata, pois Catarina e Mary não gostavam uma da outra. De fato, conta-se que Mary ousou chegar a ponto de fazer uma rude alusão às (distantes) origens burguesas da família Médici, referindo-se à sua sogra como "a filha de mercador".As três primeiras palavras da quarta linha da quadra parecem sem sentido em uma primeira leitura, mas são explicáveis por dois dos muitos truques de jogo de palavras com línguas clássicas com que Nostradamus se comprazia. "Phybe" é uma palavra composta de duas letras do alfabeto grego: "phi" tem a pronúncia da letra efe; e "beta”, letra usada na Grécia antiga para representar o número dois. Assim, "Phybe" significava nada mais que "FII" - ou, em outras palavras, Francisco II.

CASAMENTO, ASSASSINATO E AS CARTAS DO ESCRÍNIO

O segundo e o terceiro casamento de Mary, rainha da Escócia, foram ainda mais malfadados do que o primeiro, para ela e para outros. Seu

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segundo marido foi Henry Stewart, Lord Darnley, que ela desposou na capela de Holyrood no verão de 1565. Na época do casamento, Darnley era um jovem bem apessoado - após seu primeiro encontro, Mary o descreveu como "o homem alto mais bem-proporcionado que já vi" – e, embora a rainha provavelmente tenha escolhido o seu marido em grande parte por razões políticas, ela também parece ter tido real afeição por ele. Certamente o relacionamento entre eles foi próximo o bastante para que ela ficasse grávida dele, tendo o filho que veio a se tornar James I da Inglaterra e James VI da Escócia.

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No entanto, quando essa criança nasceu, a rainha já dedicava a seu pai ódio e desrespeito. Ele fora o responsável pelo assassinato de Rizzio, o secretário italiano de Mary, tinha perdido sua boa aparência juvenil, estava sofrendo a devastação da sífilis terciária; e Mary estava em processo de se apaixonar. O objeto do seu amor era o Conde de Bothwell, que, muito provavelmente com a conivência de Mary, assassinou Darnley e desposou sua viúva algumas semanas depois.

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A descoberta de algumas cartas e outros documentos em um escrínio de jóias levou a que se tornasse aceito como fato o alegado envolvimento de Mary no assassinato de seu segundo marido. O resultado disso foi uma rebelião contra ela na Escócia, quando então ela fugiu para a Inglaterra buscando refúgio junto à rainha Elizabeth I, sua prima em segundo grau.Esse refúgio mostrou ser apenas temporário. Mary tinha um direito genealógico ao trono da Inglaterra e começou então a conspirar contra a prima. Suas tramas eram inteligentes, mas sempre falharam; e ela se tornou prisioneira, em vez de hóspede, da rainha Elizabeth, que em 1587 mandou decapitá-la.Nostradamus não fez predição disso, mas parece ter profetizado corretamente o achado das "Cartas do Escrínio", na misteriosa Centúria VIII, Quadra 23, que diz:

Cartas são encontradas nos escrínios da rainha,Sem assinatura e escritor sem nome,

O artifício [ou o governo] ocultará as ofertas,Para que não saibam quem é o amante.

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Considera-se que uma quantidade surpreendentemente grande das quadras das Centúrias se refere ao Período Revolucionário Inglês - isto é, aos anos de luta entre a Coroa e o Parlamento, à primeira e à segunda Guerra Civil, ao governo pessoal de Oliver Cromwell como Lorde Protetor e aos eventos que resultaram na Restauração Stuart de 1660.Para este escritor, algumas dessas referências parecem um tanto forçadas, baseadas mais em uma distorção do significado das profecias de fraseado obscuro do que em aplicadas tentativas de desvendar seu significado muitas vezes codificado. Tome-se, por exemplo, a Centúria III, Quadra 81:

O grande orador, ousado e descarado,Será escolhido capitão do exército,

A audácia de sua disputa,A ponte quebrada, a cidade morta de medo.

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Argumentou-se muitas vezes que a pessoa descrita nas duas primeiras linhas dessa quadra como oradora audaciosa e imperturbável que se torna capitão do exército foi Oliver Cromwell. E "a cidade morta de medo"? Falou-se que ela seria o baluarte monarquista de Pontefract - cidade cujo nome é a junção das palavras latinas "ponte" e "fract" (quebrada) -, que suportou dois grandes cercos durante as Guerras Civis.Talvez, mas a estrofe poderia ser igualmente ser interpretada como referência à revolta de Kronstadt, de 1921, contra o governo bolchevista liderado por Lênin; caso em que o ousado orador seria Trotsky, líder do Exército Vermelho, a cidade atemorizada seria a própria Kronstadt e a "ponte quebrada” seria o istmo de gelo que a ligava ao continente, estilhaçado por bombardeios, sobre o qual as tropas de Trotsky avançaram ao tomar de assalto a fortaleza dos rebeldes.

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Outra quadra "cromweliana” dubiamente interpretada (Centúria VIII, Quadra 56) prediz, segundo se alega, a vitória de Cromwell sobre os escoceses na Batalha de Dunbar. Entretanto essa estrofe, que contém um anagrama parcial tipicamente nostradamiano da palavra Edinburgh, parece ser mais bem aplicada à Batalha de Culloden (1746) do que à de Dunbar.A despeito da existência de exageradas interpretações cromwelianas de determinadas estrofes das Centúrias, parece não haver dúvida de que Nostradamus sabia muito da guerra civil inglesa quase cem anos antes de ela acontecer. De fato, ele previu especificamente, na Centúria IX, Quadra 49, que "o Senado (i.e., o Parlamento) de Londres condenará seu rei à morte" (ver páginas 55-8). A numeração dessa quadra pode ser importante, pois leva a crer que o vidente pode ter

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conhecido até o ano em que esse evento, a execução de Carlos I, estava destinado a acontecer - 1649.Ao ler as quadras que certamente, provavelmente ou possivelmente se referem aos homens e aos eventos que dominaram a história da Inglaterra no período 1641-60, percebe-se um forte preconceito antiparlamentarista por parte do vidente, que foi o responsável, por exemplo, pela visão negativa e nada lisonjeira do caráter de Oliver Cromwell. Um preconceito semelhante é evidente nas quadras relativas a outras épocas de revolução e agitação social. Quando olhava, em visão medi única, para os anos à frente, Nostradamus estava sempre do lado dos governantes, nunca dos governados; era como se uma névoa de sangue distorcesse suas percepções clarividentes. Ele sempre via o sofrimento da realeza e da nobreza, raramente o sofrimento do povo; ao ver os ciclos de mudança e revolução, ele tendia a compadecer-se da plumagem e esquecer o pássaro agonizante.Esse compadecimento ficou expresso em várias quadras relacionadas a Carlos I, que o vidente via como um homem inocente, cujo sangue foi derramado sem uma boa razão (ver páginas 55-8).

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CROMWELL, O AÇOUGUEIRO

Nostradamus parece ter reprovado Cromwell quase tanto quanto criticou os líderes da Revolução Francesa (ver páginas 77-88),

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referindo-se a ele como "cesto de carne" (açougueiro) e "bastardo". Este último termo, encontrado na Centúria III, Quadra 80, que basicamente trata do caráter de Carlos I, parece ter sido aplicado metaforicamente, no sentido de "ignóbil", e não literalmente. O termo anterior pode ser encontrado na Centúria VIII, Quadra 76, que diz:

Mais um cesto de carne do que um rei da Inglaterra,Nascido na obscuridade ele galgará ao cargo pela força,

Covarde sem fé [católica], ele sangrará a terra;Seu tempo está tão perto que eu suspiro.

A referência a Cromwell como açougueiro tem dupla aplicação, do tipo a que Nostradamus era inclinado. Por um lado, o termo se refere à carnificina dos auxiliares de campo que sempre se seguia às vitórias de Cromwell; por outro, a uma lenda de que no século 15 seus antepassados tinham sido açougueiros e ferreiros. Na realidade, as origens de Cromwell eram obscuras (ver segunda linha da quadra) apenas no sentido de que ele não era de sangue nobre e de que, antes do início da guerra civil, viveu como um pacato cavalheiro do campo.A "proximidade" da chegada de Cromwell, citada na última linha da estrofe, era de mais ou menos quarenta anos - ou seja, o período entre a primeira publicação dessa quadra e o ano do nascimento de Cromwell (1597).

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Nostradamus era um conservador no sentido básico da palavra, ou seja, era um homem ligado à tradição e que desaprovava toda mudança, a menos que lhe parece bastante certo que tal mudança seria para melhor.Esse conservadorismo, combinado com uma reverência típica do século 16 pelo princípio da monarquia hereditária, refletiu-se em muitas das estrofes que previam eventos que iam envolver levante do povo. Assim, por exemplo, as muitas estrofes das Centúrias que parecem se referir à Revolução Francesa (ver páginas 77-88) são geralmente notáveis não apenas por sua exatidão mas também pela desaprovação - implícita e explícita - dos revolucionários e todos os seus feitos. Essa nota de censura é principalmente marcada nas quadras que se acredita serem referentes à execução de Luís XVI e sua rainha; fica claro que Nostradamus acreditava que o sangue real era sagrado.Sua atitude em relação a um ato anterior de regicídio, a decapitação do rei Carlos I por seus súditos ingleses, em 30 de janeiro de 1649, foi

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igualmente condenatória. De fato, as profecias do vidente relativas aos dois grandes desastres que deveriam ocorrer na Londres da década de 1660 deixam evidente que ele as via como sendo a natureza da retribuição divina. Londres, prenunciou ele, iria receber punição por sua participação pecaminosa na execução do rei.As quadras em que esses desastres foram vaticinados pelo vidente - Centúria II, Quadra 51, e Centúria II, Quadra 53 - serão examinadas em relação às "punições" de Londres e em mútua relação nas páginas 59-62. Aqui estamos tratando das partes delas que foram referências proféticas à execução do rei Carlos - que são a primeira linha da quadra 51, que diz "O sangue do justo será exigido de Londres", e a terceira linha da quadra 53, "O sangue do justo condenado por crime comum". Nesta última quadra Nostradamus não fez menção específica a Londres, mas referiu-se ao lugar onde a condenação injusta ocorreu como sendo "uma cidade marítima”. Nenhum porto importante além de Londres passou por desastres semelhantes àqueles que serão tratados nas páginas 59-62, na data indicada pelo vidente; portanto podemos estar bem certos de que a capital da Inglaterra foi o lugar para o qual ele pressagiou que o sangue do homem justo estava destinado a ser derramado.É bastante óbvio que as duas linhas citadas no parágrafo precedente, assim como as respectivas quadras em sua totalidade, foram escritas com a intenção de que fossem lidas uma em conjunção com a outra - caso em que o "sangue do homem justo", que foi descrito por Nostradamus como destinado a ser condenado por nenhum crime, só poderia ser aquele do rei Carlos, o Mártir, executado pelas ordens daqueles que o haviam ilegalmente julgado e sentenciado à morte. Em ambas as quadras a palavra francesa "Dame" foi usada para descrever a Catedral de São Paulo - descrita como "ultrajada”, na última linha da Centúria 11, Quadra 53, porque à época do

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assassinato judicial do rei seus ocupantes de direito, clérigos leais à Igreja da Inglaterra, tinham sido expulsos e substituídos por sectários de algum tipo.

Certamente, os céticos podem perguntar se não houve "homens justos", além de Carlos I, que tenham sido executados em Londres antes dos desastres que Nostradamus profetizou. Por que o "homem justo" apontado deveria ser o rei martirizado?Há três boas razões para essa identificação. Primeiro, a referência ao fato de a Catedral de São Paulo estar ocupada por "fingidores" , termo com o qual Nostradamus indicou ministros de religião que eram sectários, mais do que meramente cismáticos. Era este último termo, e não o anterior, que era normalmente aplicado pelos católicos aos padres e bispos anglicanos na época em que Nostradamus viveu - as

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ordens anglicanas não eram formalmente condenadas pelo Santo Ofício antes de 1896. Como cismáticos, os clérigos anglicanos eram considerados em estado de pecado mortal, mas não eram fingidores de um sacerdócio que não possuíam. O único período, entre a publicação das Centúrias e a época de hoje, em que a catedral foi total ou parcialmente ocupada por aqueles que Nostradamus chamou de "fingidores" foi entre 1641 e 1662, portanto tem de ter sido nesse intervalo que o sangue do justo foi derramado.Em segundo lugar, a expressão "o homem justo" foi usada pelos monarquistas ingleses para se referir ao seu antigo monarca - a forma das palavras tinha um significado textual decorrente da tradução da Bíblia feita pelo rei James e era, de qualquer forma, uma expressão mais segura para usar do que a alternativa "o mártir real".

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E em terceiro lugar, na terceira linha da Centúria IX, Quadra 49, Nostradamus profetizou especificamente que "o Senado de Londres condenará seu rei à morte".As duas quadras, lidas juntas, dão a entender que Nostradamus certamente teve visões de eventos que deveriam ocorrer em Londres

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nos anos 1649-66. Seus dois primeiros vislumbres clarividentes do futuro de Londres foram, em ordem cronológica, o dos "fingidores" na Catedral de São Paulo e o da execução do rei Carlos I. Os outros dois foram os dos desastres descritos nas páginas 59-62. Sendo o vidente um homem do seu tempo, quando se aceitou que o céu estava constantemente interferindo nos assuntos da terra, ele tirou a conclusão de que os dois últimos eventos seriam infligidos a Londres como punição pela participação que seus cidadãos teriam tido nos dois primeiros.

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Acredita-se que tanto a erupção da peste bubônica que assolou Londres em 1665 como o Grande Incêndio que se lhe seguiu em 1666 foram profetizados por Nostradamus. Quanto ao segundo evento, ele chegou a ponto de dar a data, pois a Centúria II, Quadra 51 diz:

O sangue do justo será exigido de Londres,Queimada pelo fogo em três vezes vinte mais seis,

A antiga Dama cairá de seu alto posto,E muitos da mesma seita cairão.

O significado secreto da primeira linha dessa estrofe já foi discutido na página 56. O significado literal da segunda é evidente - grande parte de Londres foi reduzida a cinzas. As únicas datas nas quais ocorreram grandes incêndios em Londres foram 1941, em conseqüência do bombardeio alemão, e em 1666, quando um incêndio que começou em uma padaria se alastrou durante muitos dias, destruindo enormes

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áreas da cidade. É claro que o incêndio a que Nostradamus se referiu, previsto para irromper em "três vezes vinte mais seis", era o segundo.A "antiga Dama” parece ter sido a Catedral de São Paulo - sendo que a palavra "Dama” era freqüentemente empregada pelo vidente com o significado de "igreja” - e os "muitos da mesma seita” que cairiam eram, pode-se presumir, as mais de oitenta igrejas de Londres que foram destruídas no Grande Incêndio.Como muitas outras profecias do vidente, essa não poderia ter sido feita com base na astrologia. Embora existissem, e existam, métodos proféticos que supostamente habilitam os astrólogos a fazer prognósticos experimentais do tipo "na data tal, a oposição entre Júpiter e Marte, a tantos graus de Áries, combinada com a quadratura entre Saturno e o Sol em Gêmeos, indicam o risco de irrupção de graves incêndios em Londres", nunca houve uma técnica astrológica capaz de fazer uma previsão tão detalhada como a contida na quadra em questão.A peste que precedeu o incêndio parece ter sido apontada na Centúria II, Quadra 53, que diz:

A Grande Peste da cidade marítimaNão amainará antes que a morte tenha obtido vingança,

Pelo sangue do [homem] justo condenado por nenhum crime,A grande Dama é ultrajada por fingidores.

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Por razões já explicadas na página 56, é provável que a cidade marítima mencionada nessa quadra fosse Londres, e isso parece relacionado com a erupção da peste de 1665, que reduziu temporariamente a cidade de Londres a algo como uma aldeia fantasma, com mato crescendo nas ruas e com todos os habitantes que podiam buscando refúgio na área rural. Julga-se praticamente certo que as duas quadras tenham sido escritas para ser lidas uma em

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conjunto com a outra, como se se referissem a eventos próximos entre si.Para este escritor, parece provável que as duas quadras tenham sido baseadas em uma visão ou uma série de visões experimentadas pelo vidente, em que ele viu, no "olho medi único" da mente, quatro eventos separados ocorrendo em uma cidade que, para ele, era evidentemente a Londres dos anos 1649-66. Os dois primeiros eventos foram comentados nas páginas 55-8. O terceiro (a julgar pela ordem em que as quadras apareceram impressas) foi o Grande Incêndio de 1666; e o quarto foi a erupção de peste bubônica em 1665.

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TESOURO ENTERRADO

Nostradamus não foi o único vidente que parece ter previsto corretamente a erupção de peste bubônica e o Grande Incêndio que se lhe seguiu, em Londres. Outro foi o inglês William Lilly, um homem que, como Nostradamus, era mais conhecido como astrólogo e médico, mas que também praticava algumas outras artes ocultas e tinha interesse em todos os aspectos do sobrenatural - em certa ocasião, chegou a ponto de expressar a opinião de que uma criatura

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que alguém relatava ter sumido "com um zumbido muito melodioso" era uma fada.Suas buscas místicas podem ser simbolizadas por uma aventura que ele empreendeu certa noite no início da década de 1660. Na companhia de outros experimentadores do oculto, ele utilizou "as Varinhas Mosaicas" - que parecem ter relação com rabdomancia ritual - para procurar um tesouro enterrado na velha Catedral de São Paulo, de Londres. A tentativa foi frustrada; os buscadores do tesouro conseguiram somente perturbar alguns espíritos guardiões, que iniciaram uma tempestade tal que eles tiveram medo de que o teto da catedral lhes desabasse sobre a cabeça.Tempestades semelhantes foram encontradas por outros buscadores de tesouro enterrado. O dr. John Dee, matemático e geógrafo da rainha Elizabeth I, usava sua varinha de adivinhações "para encontrar coisas que podiam estar perdidas, e com sua varinha realmente recuperou, para muitas pessoas, prata e objetos semelhantes que tinham estado perdidos às vezes durante anos". Em uma ocasião assim, Dee descobriu ouro em uma lagoa em Breconshire, no País de Gales. A suas atividades, notadas pelo pessoal da aldeia, seguiu-se uma tempestade tão forte como "as pessoas nunca tinham visto igual", e no momento crítico da colheita. Dee e seus companheiros foram presos como feiticeiros e suspeitos de coisa pior pelos furiosos aldeões.

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Carlos II, o rei da Casa de Stuart que foi reconduzido aos tronos da Inglaterra, Escócia e Irlanda em 1660, bem como seu irmão mais novo, James, tinham tido vida infeliz. Quando crianças, tinham passado pelos alarmes e sublevações da Guerra Civil; quando adolescentes conheceram o sofrimento de saber do julgamento e execução de seu pai, Carlos I - o "homem justo" das Centúrias (ver páginas 55-8); quando jovens, viveram com pessoas leais a eles, no exílio e na pobreza, inteiramente dependentes da exígua ajuda financeira fornecida por fontes francesas e holandesas.Os primeiros anos da Restauração Stuart foram bastante felizes; o complacente Parlamento Monarquista era mais cordial do que qualquer parlamento com que seu pai tinha tido de lidar, e eles eram benquistos em todos os setores da comunidade, exceto por aqueles que eram firmemente ligados à "Boa e Velha Causa" - o Republicanismo Protestante.Era bom demais para durar. Londres foi devastada pela peste e pelo fogo (ver páginas 59-61), o Parlamento começou a fazer críticas - a família real parecia ter um insaciável apetite por dinheiro e era também suspeita de simpatizar com o catolicismo - e uma guerra

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impopular contra a Holanda trouxe derrotas no mar e uma humilhante incursão holandesa pelo Rio Tâmisa adentro, no decorrer da qual muitos navios ingleses foram destruídos ou aprisionados e rebocados pelos vitoriosos.

Em 1670 o Tesouro estava vazio, e tanto Carlos II como seu irmão James, Duque de York, começaram a copiar o exemplo que lhes vinha do outro lado do Canal da Mancha. Foi uma decisão que acabou por se mostrar desastrosa: fez com que James, que herdou o trono do irmão em 1685, perdesse a coroa e com que a dinastia dos Stuart fosse substituída pela fria linhagem de Hanover. Todos esses acontecimentos tinham sido previstos por Nostradamus, mas em 1670 eles ainda pertenciam ao futuro, e pareceu aos Stuart que fazia sentido se aliarem à França. Carlos fez isso pela assinatura do Tratado de Dover, um acordo que tinha como apêndices protocolos secretos que só foram revelados mais de um século depois, pelos quais Carlos receberia fartos subsídios em retribuição por sua conversão ao catolicismo e por fazer com que a política britânica,

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tanto a externa como a doméstica, fosse subserviente aos interesses franceses.Na França, Luís XIV; o "Rei Sol" que estava destinado a dominar a vida política da Europa por meio século, tinha começado o seu reinado em 1661 e já tinha aumentado muito o poder e a reputação do seu país. A França tinha deixado para trás os conflitos internos dos vinte anos precedentes e começado um período de prosperidade material e transformação física que foi profetizado por Nostradamus na Centúria X, Quadra 89:

As paredes serão transformadas de tijolo em mármore,Cinqüenta e sete [ou setenta e cinco] anos de paz.

Alegria a todo o povo, o aqueduto renovado,Saúde, a alegria de colheitas abundantes, tempos doces como o mel.

A primeira linha dessa quadra é de especial interesse porque faz uma alusão a Luís XIV semelhante à que foi feita pelo historiador romano Suetonius ao Imperador Augusto (63 a.C.-14 d.C.), que ele diz que descrevia a si mesmo como "tendo encontrado Roma em tijolo e a deixado em mármore". A semi-identificação dos dois governantes foi particularmente significativa porque Luís era chamado de "Rei Sol" e Augusto foi deificado postumamente como um avatar (encarnação) do "Sol Invencível".Entretanto, embora a quadra seja bastante exata na essência, ela mostra a tendência de Nostradamus a favor de monarcas franceses poderosos, que é evidente nas Centúrias, pois, ainda que os anos do reinado de Luís XIV tenham sido bastante pacíficos no plano interno (exceto para seus súditos que se agarravam à fé protestante), sua política exterior era beligerante ao extremo. Em justiça para com Luís, é preciso admitir que suas políticas guerreiras eram, pelo menos nos

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primeiros anos de seu reinado, uma reação natural ao ambiente de guerra externa e civil em que ele havia nascido e passado a infância.Esse período de agitação na França fora prenunciado por Nostradamus, que o descreveu na Centúria X, Quadra 58:

Em uma época de tristeza o monarca felinoDeclarará guerra ao jovem Emátion,

A Gália estremece, o barco [de Pedro] em perigo,Marselha testada e conversas no Oeste.

A expressão "jovem Emátion", na segunda linha da quadra, é uma óbvia referência à transmutação de Luís no Rei Sol, pois na mitologia

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clássica Emátion é o filho da Aurora e pode, portanto, ser identificado com o Sol. O "monarca felino" da linha precedente era o astucioso Felipe IV da Espanha, que ativamente guerreou contra a França durante o período de luto que se seguiu à morte de Luís XIII em 1643. E a "Gália estremeceu" (terceira linha) por causa da Fronde (rebeliões contra as exigências excessivas de impostos e a administração do Cardeal Mazarin) e outras lutas e levantes civis que marcaram os anos da minoridade de Luís XIV:A expressão "o barco [de Pedro] em perigo", na terceira linha, tem um significado dual do tipo que é freqüentemente encontrado nas Centúrias. Primeiro, ela se aplica à difícil posição da Igreja galicana durante os anos 1643-61; segundo, às disputas posteriores entre Roma e Luís XIV: A primeira foi conseqüência do fato de que durante os anos em questão a Igreja foi estorvada em suas relações muitas vezes difíceis com o Estado porque o ministro principal de Luís XIV; Cardeal Mazarin, era ele mesmo um príncipe da Igreja. As disputas serão descritas na página 66.

Na Centúria X, Quadra 58, Nostradamus previu que a política de Luís XIV, o Rei Sol, colocaria a Igreja Católica - "o barco [de Pedro]" - em

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perigo. Como Luís XIV era um católico fanático (embora nem sempre devoto), isso poderia ser descartado como um dos erros proféticos de Nostradamus. Na realidade, a previsão foi surpreendentemente correta, pois, no exato momento em que Luís atingiu o pináculo do sucesso tanto diplomático como militar que levou sicofantas a saudá-lo como "a Glória da Europa”, uma disputa há muito fermentada entre o rei e o papado finalmente explodiu.A discussão era sobre a posse dos benefícios materiais e direitos espirituais de bispados vagos, que o rei afirmava que lhe pertenciam. A Assembléia Francesa do Clero concordava e, pelos quatro Artigos de 1682, Luís e a Assembléia proclamaram que o papado tinha poder sobre assuntos espirituais apenas e que as regras da Igreja francesa eram invioláveis. O papa reagiu recusando autorização para a consagração de bispos que tivessem sido indicados por Luís, e o complicado corpo-a-corpo que se seguiu enfraqueceu tanto a Igreja como o Estado.

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Luís tinha persuadido a Assembléia do Clero a tomar seu partido nesse assunto, dando seguimento à rígida abordagem adotada pelo clero francês em relação ao protestantismo no país. Os protestantes franceses, homens e mulheres que eram devotados à teologia rigidamente lógica do calvinismo, tinham recebido o direito de tolerância integral pelo Édito de Nantes, em 1598 (ver página 45). A partir de 1651, entretanto, o clero católico da França como um todo e um grupo chamado Companhia do Sagrado Sacramento, em particular, fizeram tudo que estava a seu alcance para anular os efeitos do Édito, com o uso de uma interpretação legalista estreita de seus artigos.Desejoso de ter a Igreja galicana do seu lado nas batalhas que previsivelmente teria com Roma, Luís apoiou essa política de

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confrontação religiosa desde o início de seu próprio reinado em 1661. Entre essa data e 1685, os huguenotes (calvinistas franceses) foram submetidos a um processo de desgaste que os destituiu sucessivamente de suas escolas, universidades e hospitais. Multas pesadas lhes foram impostas e, quando isso se mostrou ineficaz para produzir conversões ao catolicismo, soldados violentos e brutais foram colocados em cima deles. Finalmente, em 1685, Luís simplesmente revogou o Édito de Nantes e embarcou em uma política de declarada perseguição que acabaria resultando em uma guerra de guerrilha que durou oito anos e que fora corretamente prevista por Nostradamus quase 150 anos antes.

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Três anos após a Revogação, os esforços que Luís vinha fazendo desde 1670 para garantir a dominação católica na Inglaterra (ver páginas 64-5) fizeram-se totalmente em pedaços. Esse colapso, bem como a identidade do homem que o teria causado - William, Príncipe de Orange -, tinham sido discernidos antecipadamente por Nostradamus, que falou deles na Centúria II, Quadras 67, 68 e 69.

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William de Orange era o genro de James II da Inglaterra - o antigo Duque de York e irmão mais novo de Carlos II. A convite de um grande número de protestantes eminentes, ele invadiu a Inglaterra e, com sua esposa, Mary, tomou posse do trono inglês. Esse foi um grande golpe para Luís que tinha sido corretamente profetizado por Nostradamus:

Um rei gaulês da direita celta [i.e., Holanda],Vendo a discórdia da Grande Monarquia,

Brandirá seu cetro sobre os três leopardos,Contra o Capeto [i.e., o rei francês] da grande Hierarquia.

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GUERRA DE GUERRILHA

Quando Luís revogou o Édito de Nantes em 1685, ele pensou estar pondo um fim ao calvinismo francês; na realidade, embora a sua ação tenha assegurado tanto conversões em massa quanto emigração em massa, a organização huguenote conseguiu sobreviver, mais notavelmente na área montanhosa das Cevennes.Em 1703, levados ao desespero pela brutalidade e a matança, os protestantes montanheses se ergueram em revolta e, durante oito anos, lutaram uma valente guerra de guerrilha contra os exércitos reais, que acabou frustrada. Essa luta corajosa e seu fim infeliz foram profetizados por Nostradamus na Centúria III, Quadra 63 e na Centúria lI, Quadra 64. As linhas importantes da primeira dizem:

O exército celta [neste contexto, gaulês, i.e., francês] contra os montanheses,

Que se tornarão conhecidos e, traídos,Perecerão pela espada...

Essa é uma previsão um tanto vaga, e se pode argumentar que é facilmente aplicável a um exército francês que derrote montanheses. Entretanto, a Quadra 64, com suas referências aos seguidores de Calvino e às Cevennes, é específica:

O povo de Genebra [i.e., os calvinistas] secará de sede e fome,Suas esperanças falharão;

A lei das Cevennes estará em ponto de ruptura,A esquadra não pode entrar no grande porto.

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A única linha que exige explicação é a última, que parece ser uma referência ao fracasso do calvinismo internacional no fornecimento de ajuda eficaz à guerrilha protestante dos "Camisards".

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REVOLUÇÃO, MATANÇA E O ÁTOMO

NOSTRADAMUS VIVEU NA ÉPOCA EM QUE MONARCAS GOVERNAVAM O MUNDO E UM CAVALO A GALOPE ERA O MEIO MAIS RÁPIDO DE TRANSPORTE - E NO ENTANTO, VIAJANDO PELO TEMPO, ELE PREVIU VIAGENS ESPACIAIS, REVOLUÇÕES REPUBLICANAS E AS CONQUISTAS DA TECNOLOGIA MODERNA.

Revoluções, a ascensão e a queda do Império Napoleônico, a política maligna de Adolf Hitler, fome, matança e tecnologia moderna são os temas predominantes deste capítulo. Antes de ler sobre esses temas, porém, os leitores devem ter em mente importantes pontos.Ao ler as Centúrias, seja na sua forma original ou em tradução, a reação inicial de muitas pessoas é geralmente de desnorteamento, pois, como os leitores deste livro já terão percebido a esta altura, as quadras foram escritas basicamente em uma linguagem oblíqua e codificada, na qual abundam anagramas e neologismos clássicos (palavras inventadas derivadas do grego e do latim) e as pessoas são referidas por nomes alusivos (Henrique de Navarra por "Vendosme", por exemplo). Até mesmo o título da obra é enganador, pois a palavra "centúrias" leva a crer que Nostradamus tenha escrito suas profecias segundo algum tipo de estrutura cronológica - ou seja, que as quadras do começo do livro tratariam de eventos do tempo do vidente, enquanto as quadras finais tratariam do futuro, do futuro mais distante.

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Mas não é assim. As Centúrias parecem ser o registro de uma série de visões que não estavam completamente sob o controle do vidente e lhe davam uma seleção aleatória de vislumbres do futuro - e do passado, pois há algumas quadras que parecem ser "profecias retrospectivas" .Existem outras explicações para a natureza aparentemente aleatória das quadras. A mais plausível delas, relacionada com as teorias sobre "realidades alternativas" aceitas por alguns físicos matemáticos, será

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examinada nas páginas 245-48. Entretanto, qualquer que possa ser a explicação para o fato de as quadras não estarem em ordem cronológica nem, até onde se possa discernir, arranjadas segundo algum padrão estruturado, os intérpretes de Nostradamus devem aceitar isso como fato e esforçar-se para encará-lo da melhor maneira possível.O problema é maior na interpretação das profecias de que trataremos neste capítulo. As quadras referentes a Napoleão, por exemplo, podem ser encontradas em quase todas as dez partes das Centúrias e, no entanto, parece não haver dúvida de que essas estrofes espalhadas realmente se referem ao mesmo homem.

“Esse é o maior evento que já aconteceu no mundo! E é o melhor de todos!", escreveu Charles James Fox (1749-1806), líder da ala radical do Partido Whig da Câmara dos Comuns britânica e talvez o maior orador parlamentar inglês de todos os tempos, ao chegarem à Inglaterra as notícias da deflagração da Revolução Francesa.

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Nostradamus, que morreu mais de duzentos anos antes do acontecimento que Fox comentou assim em carta a seu amigo Richard Fitzpatrick, teve um ponto de vista muito diferente sobre o assunto. Para Nostradamus, a Revolução Francesa foi um dos piores acontecimentos da história humana, e não o melhor; quase todas as referências aos jacobinos e outros revolucionários que aparecem nas quadras das Centúrias são desfavoráveis ao extremo.Mas, poder-se-ia perguntar, Nostradamus fez mesmo referências específicas à Revolução, mais de duzentos anos antes de ela ocorrer? Há provas muito fortes de que ele fez isso. Tomemos, por exemplo, o texto da Centúria IX, Quadra 20:

À noite virão através da floresta de ReinesDois consortes, por um caminho sinuoso, a Rainha, a pedra branca,

O rei-monge de cinza a Varennes,O Capeto escolhido, resultando em tormenta, fogo, retalhação

sangrenta.

À época de sua publicação, o significado dessa quadra não era conhecido, mas nos primeiros anos da década de 1790 seu significado se tornou evidente, e o que parecia quase uma algaravia incoerente tinha sido transformado pela história em algo importante e em uma evidência de que Nostradamus tinha a capacidade de ver o futuro.A coisa mais notável a respeito dessa quadra é que ela chega até mesmo a mencionar o nome Varennes, pois esse vilarejo um tanto insignificante tem apenas uma associação de alguma importância histórica - o fato de ter sido lá que se frustrou, em 1791, a tentativa que Luís XVI e sua rainha, Maria Antonieta, fizeram para escapar da Revolução.

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Os dois realmente foram para Varennes por um caminho alternativo, através da floresta de Reines; Luís parece realmente ter trajado um cinza discreto, e não o escarlate e o ouro mais comumente associados aos monarcas do século 18; e a captura do casal real certamente resultou em tormenta (no sentido de agitação social), no arder do fogo da revolução e em "retalhação sangrenta” no sentido mais literal - tanto Luís como sua rainha foram enviados à guilhotina.Duas expressões usadas na quadra - "o Capeto escolhido" e "a pedra branca” requerem explicação.Ao usar o termo "eleito" ou "escolhido", Nostradamus quase certamente se referiu ao próprio Luís XVI. Estritamente falando, o nome "Capeto" só deveria ter sido utilizado em referência a monarcas de uma dinastia francesa anterior à família Bourbon, da qual Luís XVI era o chefe. Entretanto, esse nome foi muitas vezes empregado em um sentido mais amplo, para significar qualquer rei coroado da França.

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A "pedra branca” não é tão fácil de explicar, embora muitos comentaristas tenham tentado fazê-lo. Sugeriu-se, por exemplo, que essas palavras se referissem a um curioso escândalo da década de 1780, apelidado "O Caso do Colar de Diamantes", que muito contribuiu para levar a monarquia ao descrédito e que envolveu um colar de diamantes, um cardeal senil e crédulo, Maria Antonieta e o aventureiro do oculto que dizia se chamar Cagliostro - homem que tinha um forte elemento de charlatanismo em seu caráter, mas que pode ter possuído também algumas capacidades proféticas.

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É possível que os que ligaram a "pedra branca” de Nostradamus ao colar de diamantes estejam certos, embora para o escritor deste livro tal interpretação pareça forçada. Em certo sentido, no entanto, a questão não é de grande peso. O real significado da Centúria IX, Quadra 20, é que ela parece fornecer a prova concreta de que na década de 1550 Nostradamus tinha ciência de detalhes de um acontecimento que só aconteceria em 1791.