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Universidade de Brasília
Faculdade de Comunicação Social
Comunicação Organizacional
Professor Orientador: Janara Sousa
Frango com batata doce:
uma análise sobre a construção da identidade fitness no Instagram
Felipe Roberto Mayer Soares Rodrigues Saldanha
Brasília (DF), Novembro de 2014.
I
Universidade de Brasília
Faculdade de Comunicação Social
Comunicação Organizacional
Professor Orientador: Janara Sousa
Frango com batata doce:
uma análise sobre a construção da identidade fitness no Instagram
Felipe Roberto Mayer Soares Rodrigues Saldanha
Monografia apresentada ao Curso de
Comunicação Organizacional, da Faculdade de
Comunicação, Universidade de Brasília, como
requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Comunicação Social.
Brasília (DF), Novembro de 2014.
II
Universidade de Brasília
Faculdade de Comunicação Social
Comunicação Organizacional
Professor Orientador: Janara Sousa
Membros da banca examinadora:
1. Professora Janara Sousa
2. Professora Elen Geraldes
3. Professor Luciano Mendes
4. Suplente: Asdrúbal Borges
III
Dedico este trabalho à minha mãe Patrícia, à minha
irmã Isadora e ao meu irmão João Gabriel, os
primeiros grandes amores da minha vida. Sem eles
nada disso seria possível.
IV
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, que é em minha vida um presente maravilhoso de Deus. Mulher cheia de
garra, coragem, e que nunca desiste de seus sonhos e objetivos e que me ensinou a nunca desistir
dos meus também.
Aos meus irmãos Isadora e João Gabriel, que iluminam meu cotidiano, me ensinando
diariamente o significado da palavra amor.
Ao meu pai Roberto por todo suporte e carinho que sempre me proporcionou, me
permitindo chegar até aqui.
À minha orientadora Janara Sousa pela amizade, pela compreensão e por todo o respeito
com que me tratou. Seus comentários, sempre tão atenciosos, foram fundamentais para o
desenvolvimento deste trabalho.
Às minhas companheiras de desespero, também “monografandas”, Maria Thaís Brussi
e Débora Françolin, por escutarem meus desabafos, pelas mensagens de incentivo, pela
companhia na biblioteca e por terem me acompanhado durante todo esse processo.
Aos meus amigos, em especial aos da “Turma da Catu”, que tiveram o desfalque de um
membro em vários eventos e que durante um semestre inteiro foram obrigados a escutar sobre
meu projeto e seus avanços.
A todos os professores, colegas e funcionários da Faculdade de Comunicação que
passaram por minha vida e que de alguma forma contribuíram para minha formação.
E ao meu colega de classe e orientação Felipe Chaves pela atenção dedicada ao meu
trabalho e por sua paciência em todas as nossas reuniões.
Meus sinceros agradecimentos a todos,
Felipe Mayer.
V
Cheio de gratidão, eu recebo o bem que me espera.
VI
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo esboçar de que forma a identidade fitness é construída
dentro Instagram. Recentemente, com o advento das mídias sociais, diferentes personalidades
vêm ganhando destaque nos meios de comunicação, exemplo disso são alguns perfis existentes
no aplicativo. Essas contas, ao se apropriarem de um tema amplamente debatido pelos veículos
de comunicação, o fitness, e o abordarem de maneira diferenciada e chamativa, conquistam
espaço e relevância dentro e fora da rede. Todavia, é possível identificar uma série de
características comuns a todos esses perfis, o que instigou a realização desta pesquisa. Levando
este fato em consideração, a estrutura teórica levantada para se entender como a identidade
fitness é formulada abrange historicamente e teoricamente as apropriações do corpo ao longo
do tempo e a influência da mídia na construção de imagens corporais. Fazendo o uso da análise
de conteúdo como procedimento metodológico, foram estudadas 250 publicações contidas em
10 páginas do Instagram. Como resultado deste processo, pôde-se perceber, entre outros
achados, que essa identidade é representada prioritariamente por mulheres, que apesar de não
possuírem formação acadêmica na área da saúde, utilizam o discurso científico para promover
um estilo de vida e todo o mercado que ele abrange.
Palavras-chave: Comunicação, Instagram, Identidade Fitness, Saúde.
VII
ABSTRACT
This paper aims to outline how the fitness identity is built on Instagram. Recently, with the
advent of social media, different prominent people are being highlighted in the media, as
example there are some profiles in the application program. By incorporating a topic widely
discussed by the media, fitness, and approaching it in a different and attractive way, those
profiles conquer space and relevance within and outside the network. However, it is possible to
identify features common to all these profiles, what has prompted the present research. Taking
this fact into consideration, the theoretical structure brought up for understanding how this
identity is created considers, historically and theoretically, the appropriation of the body over
time and the influence of media in the construction of body images. By using the content
analysis as a methodological procedure, 250 publications contained in 10 pages of Instagram
were studied. As a result of this procedure it is possible to notice that the fitness identity is
primarily represented by women that, despite lacking academic training in health, use scientific
discourse to promote a lifestyle and all the market covered by it.
Keywords: Communication, Instagram, Fitness Identity, Health.
VIII
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figuras
Figura 1 - Representação da mulher no século XVII. Quadris e busto são
evidenciados com o espartilho 30
Figura 2 - Exemplificação dos filtros presentes no aplicativo 52
Figura 3 - Apresentação de um perfil 53
Figura 4 - Exemplificação da sessão "popular" do aplicativo 54
Figura 5 - Resultado da busca pela hashtag fitness (#fitness) 56
Figura 6 - Post do perfil FrangoComBatataDoce com informações de especialista 70
Figura 7 - Post do perfil GraOficial com informações sobre a dieta 73
Figura 8 - Legenda de uma foto presente no perfil CarolBuffara representando
a função poética 77
Figura 9 - Vídeo do perfil GraOficial apresentando o passo a passo do seu treino
de pernas 78
Figura 10 - Foto do perfil FikaFitness ilustrando sua dieta 79
Figura 11 - Exemplificação da biografia dos perfis Penelope_Nova,
GraOficial, Bella.Falconi e BlogDaMimis 83
Gráficos
Gráfico 1 - Distribuição dos perfis de acordo com gênero 69
Gráfico 2 - Formação acadêmica dos gestores 71
Gráfico 3 - Função da linguagem empregada 75
Gráfico 4 - Figuras representadas nas imagens publicadas 77
Gráfico 5 - Tipo de publicação 80
Gráfico 6 - Formas de contato presentes na biografia 82
Quadros
Quadro 1 - Listas dos perfis selecionados 58
Quadro 2 - Distribuição geográfica dos perfis selecionados 61
Quadro 3 - Explicação dos requisitos para pré-análise 63
Quadro 4 - Definição das categorias de classificação 64
Quadro 5 - Área de formação dos gestores 71
IX
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11
1. CORPO E SAÚDE .......................................................................................................... 15
1.1. Corpo e Imagem Corporal ......................................................................................... 15
1.1.1. O Corpo na Grécia Antiga .................................................................................. 16
1.1.2. O Corpo na Idade Média .................................................................................... 17
1.1.3. O Corpo na Modernidade ................................................................................... 18
1.1.4. O Corpo na Contemporaneidade ........................................................................ 20
1.2. Saúde .......................................................................................................................... 22
1.3. O Estilo de vida Fitness ............................................................................................. 23
2. MÍDIA E IMAGEM CORPORAL ................................................................................ 29
2.1. Mídia e Imagem Corporal .......................................................................................... 30
2.1.1. Uma breve abordagem histórica ......................................................................... 30
2.1.2. Corpo e Prestígio ................................................................................................ 32
2.1.3. Gordura e Fracasso ............................................................................................. 36
2.1.4. O Discurso Científico ......................................................................................... 39
2.2. Um novo local de fala: as redes sociais ..................................................................... 41
2.3. Identidade e Identidade fitness ................................................................................... 45
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................. 50
3.1. O fenômeno Instagram ............................................................................................... 51
3.2. Critérios de seleção dos perfis a serem estudados ..................................................... 55
3.3. O caminho das pedras ................................................................................................ 58
3.3.1. Pesquisa Bibliográfica ........................................................................................ 59
3.3.2. Entrevistas .......................................................................................................... 60
3.3.3. Análise de Conteúdo ........................................................................................... 62
4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE ............................................................................................ 68
4.1. Dados Gerais .............................................................................................................. 68
4.1.1. Distribuição dos perfis de acordo com gênero ........................................................ 69
4.1.2. Formação acadêmica dos gestores .......................................................................... 71
4.2. Dados Específicos - Análise das categorias ............................................................... 74
4.2.1. Categoria 1: Funções da linguagem apresentadas nas legendas das fotografias
publicadas .......................................................................................................................... 74
4.2.2. Categoria 2: As figuras apresentadas nas imagens publicadas ............................... 77
4.2.3. Categoria 3: Tipos de publicação ............................................................................ 80
4.2.4. Categoria 4: Formas de contato presentes na biografia ........................................... 82
4.3. Considerações ............................................................................................................ 85
X
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 88
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 90
APÊNDICE I ........................................................................................................................... 94
11
INTRODUÇÃO
Partindo do pressuposto de que o corpo é um elemento de expressão cultural, carregando
consigo um conjunto de marcas históricas, estudar as apropriações de sua imagem se torna
pertinente ao notarmos que as pessoas viveram e perceberam seus corpos de acordo com a
cultura e o momento histórico em que estiveram inseridas. Hoje, assim como em outros
momentos ao longo do tempo, nossa sociedade possui e exige um padrão estético por parte da
população, cabendo aos indivíduos adaptar-se a ele. Aqueles que não o seguem podem acabar
sendo excluídos ou marcados negativamente.
Tavares (2003) denomina o termo imagem corporal como a forma que o sujeito se
percebe e se sente em relação ao próprio corpo. Nota-se que apesar da mesma ser uma
construção subjetiva e individual do homem, ela é influenciada por fatores como política,
economia, paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade. Dessa
forma, a imagem corporal é moldada de acordo com o grupo social do qual se faz parte, surgindo
assim um modelo corporal a ser seguido.
Nesse cenário, os veículos de comunicação social exercem papel fundamental na
disseminação desse padrão. Goldenberg (2002) afirma que a mídia adquiriu um poder de
influência sobre as pessoas, generalizando a paixão sobre a moda, expandindo o consumo de
produtos de beleza e tornando a aparência uma dimensão essencial para a identidade dos
indivíduos. Atualmente, o corpo magro, trabalhado, cuidado, sem marcas indesejáveis (rugas,
machas, estrias) e sem excessos (gordura e flacidez) é o único que, mesmo sem roupas, está
descentemente vestido (GOLDENBERG, 2005).
Sabino (2002), corroborando com esse pensamento, aponta que o corpo, além de
apresentar a verdade sobre os sujeitos, é também sua vitrine. Depreende-se que o mesmo deixa
de ser somente a estrutura física na qual o homem se apoia, sendo também uma representação
simbólica do “eu”. Tavares (2003) conclui então que somos pressionados a concretizar o ideal
de imagem corporal construído por nossa cultura. Finalizando, Novaes (2005) discorre sobre a
linha tênue que separa a feiura e a beleza na atualidade. Hoje, diferentemente do passado, a
estética corporal é dividida em recortes da anatomia humana, valorizando-se partes específicas
da mesma.
Como resultado disto, o indivíduo é apontando como único responsável pela
manutenção de sua aparência física, assim, a saúde deixa de ser o resultado de uma série de
12
variáveis para se tornar o reflexo do cuidado das pessoas consigo mesmas. Tal cobrança pode
ser representada nas seguintes expressões: “frango com batata doce” e “força, foco e fé”.
Enquanto a primeira expressa a restrição alimentar que deve ser adotada para se estar dentro
dos padrões socialmente aceitos, a segunda evidencia a determinação necessária para se
alcançar a imagem corporal almejada.
Instaura-se assim um processo conhecido como “fiscalização do olhar”, expressão
utilizada por Novaes (2005) para caracterizar a atenção criteriosa que se faz sobre o corpo, com
o aval da ciência. Tal olhar acaba contribuindo para a regulamentação das diferenças e a
determinação de padrões estéticos em termos daquilo que é próprio ou impróprio, normal ou
anormal, adequado ou inadequado. Portanto, a linguagem científica ganha papel central na
propagação do estilo de vida saudável, que acaba pregando uma forma física específica. Neste
contexto, o autocontrole sobre as nossas vontades, disciplinando o corpo, é repassado pela mídia
como uma tarefa diária a ser executada.
Amparados pelo discurso da saúde, os meios de comunicação pautam a temática fitness
como parte integrante do cotidiano das pessoas. Ser saudável, magro e bonito transforma-se em
uma questão de escolha, visto que os veículos transmitem todos os meios técnicos para se
alcançar o corpo desejado. Assim, “estar em forma” torna-se um dever social, garantindo a
civilidade das pessoas. Nessa perspectiva, o fracasso sobre o controle do corpo recai sobre o
próprio indivíduo que acaba sendo rotulado como “preguiçoso” e “desleixado” por não cuidar
adequadamente de sua saúde.
Por fim, com o advento das mídias sociais, esse tema perpassa os canais tradicionais de
comunicação como a TV, o jornal e as revistas, sendo incorporado também pelo cidadão
comum. Síbilia (2008) explica que o uso convencional da internet vem sendo renovado para a
autobiografia, isto é, as pessoas utilizam a rede para transmitir informações acerca de si e de
sua vida. À vista disso, os sujeitos se apropriam de um assunto amplamente debatido pelos
veículos, neste caso, o estilo de vida fitness, e o inserem em seu dia a dia. As redes sociais se
tornam o cenário ideal para o compartilhamento da rotina saudável e ativa dos indivíduos, cujo
cotiando é representado por meio de fotos, textos, vídeos, ou seja, as ferramentas disponíveis
para se dar materialidade a nossa personalidade.
Recuero (2009) esclarece que esses fragmentos de conteúdo são peças fundamentais na
construção da imagem que o sujeito deseja representar de si. Destaca-se assim o papel das
mídias sociais como o local, dentro do ciberespaço, no qual as pessoas podem elaborar sua
13
subjetividade, tendo seus perfis como o reflexo organizativo de sua identidade. Levando-se em
consideração esse processo, o presente trabalho tem como objetivo esboçar de que forma a
identidade fitness é construída dentro do Instagram.
Para tanto, utilizou-se da análise de conteúdo como procedimento metodológico para se
estudar dez perfis durante o período de uma semana (29/09/2014 até 05/10/2014), buscando
identificar características comuns a todos eles. Nesse espaço de tempo foram publicadas 250
imagens, somatório das fotos de todos os perfis, o que gerou um montante de 35,7 posts diários,
isto é, aproximadamente 3,5 publicações/dia por página.
Por meio de uma abordagem exploratória, a presente monografia pretende lançar uma
visão geral, do tipo aproximativa, acerca desse fenômeno, apresentando como resultado um
problema mais esclarecido, passível de outras investigações. Para tal, essa monografia foi
dívida em quarto capítulos visando uma melhor discussão do tema abordado: Corpo e Saúde,
Mídia e Imagem Corporal, Procedimentos Metodológicos e Análise e Descrição.
O primeiro possui caráter teórico-conceitual, trazendo um olhar histórico sobre os
conceitos que dão vida ao estilo de vida fitness: corpo e saúde. Essa imersão inicial tem como
propósito embasar teoricamente o trabalho, nos permitindo, em uma fase futura, apresentar
questões, críticas, métodos e análises sobre o funcionamento dos perfis que dão face a essa
identidade.
O segundo introduz a relação existente entre a mídia e a imagem corporal, discutindo
como a temática da saúde vem sendo abordada pelos veículos. Posteriormente, é inserido o
debate sobre as redes sociais como um novo local de produção de conteúdo, revolucionando a
maneira tradicional na divulgação de informações. Fechando essa etapa, é apresentado o
conceito de identidade, passo fundamental para se esboçar o que vem a ser a identidade fitness.
Num terceiro passo, são expostos os procedimentos metodológicos utilizados para que
se torne possível chegar no objetivo proposto nesta pesquisa. Assim, serão detalhados todos os
caminhos pensados e estruturados para a realização da mesma. Além disso, apresenta-se
brevemente o que é, como funciona, quais sãos suas principais ferramentas e como se
estabelecem as dinâmicas de uso dentro do Instagram.
Por último, no quarto capítulo, são mostrados os principais resultados extraídos por
meio das metodologias empregadas, juntamente com suas devidas análises e considerações. É
nessa parte do projeto que os dados coletados são transformados sistematicamente e agregados
14
em unidades, permitindo uma descrição mais clara do conteúdo avaliado. Finalmente, serão
exibidas as considerações finais acerca objeto de estudo.
15
CAPÍTULO I
1. CORPO E SAÚDE
Este capítulo tem como proposta lançar um olhar histórico sobre os temas Corpo e
Saúde, assuntos geralmente pouco debatidos nos cursos de comunicação, mas muito pautados
pelos veículos. Assim, essa primeira parte do trabalho possui um caráter teórico-conceitual,
desvendando os conceitos fundamentais a serem discutidos durante toda a monografia. Deste
modo, aqui buscaremos discutir os mesmos para que no próximo capítulo possamos debater a
relação existente entre a comunicação e a saúde.
Tendo em mente o objetivo deste trabalho, esboçar como se constrói, funciona e
organiza um perfil fitness dentro do Instagram, é indispensável trabalharmos os assuntos que
dão vida a essa temática. É por meio dessa discussão inicial que, posteriormente, poderão ser
apresentadas questões, críticas, métodos e análises sobre o funcionamento desses perfis. Esse
levantamento teórico é importante por nos fornecer todo o embasamento conceitual para que o
trabalho possa ser desenvolvido.
Para uma melhor apresentação, este capítulo será divido em três tópicos: Corpo e
Imagem Corporal; Saúde; e O estilo de vida fitness1, nessa respectiva ordem. Durante a primeira
parte será apresentado um levantamento histórico de como a imagem do corpo foi apropriada
desde a Grécia antiga até a contemporaneidade, buscando apresentar as principais mudanças
em sua percepção. Já na segunda etapa estudaremos o tema saúde, que desde seus primórdios
está atrelado a questões sociais e econômicas. Por último, apresentaremos uma área específica
da saúde e dos cuidados com o corpo: o estilo de vida fitness.
1.1. Corpo e Imagem Corporal
Estudar o corpo é importante, pois, ao partirmos do pressuposto de que ele é um
elemento de expressão cultural que carrega um conjunto de marcas históricas distintas, nota-se
1 Não existe, no português, tradução para esse termo, sendo utilizada sua grafia no inglês. Esse acréscimo de termos
de língua estrangeira ao nosso vocabulário popular revela diferentes questões como a do consumo, que acaba se
tornando uma linguagem universal, não havendo necessidade para traduções. Independentemente do idioma que a
pessoa fale, ela entenderá o significado dessa expressão.
16
que as pessoas viveram e perceberam sua compleição física de acordo com as influências da
sociedade e das condições sociais, culturais, políticas e econômicas do período em que estavam
inseridas. Deste modo, uma abordagem histórica sobre as principais transformações na sua
percepção desde a Grécia Antiga até a Contemporaneidade se faz pertinente por possibilitar
uma compreensão ampla sobre construção das imagens do mesmo ao longo do tempo.
Atualmente, o corpo ganhou um discurso interdisciplinar, sendo objeto de estudo de
diferentes áreas do conhecimento como a ciência e a filosofia. As constantes transformações
em sua concepção durante a história indicam a relevância de estudá-lo em maior profundidade.
“Até o século XVIII, ainda sob os efeitos de uma visão religiosa, o corpo foi reprimido e punido,
mas a partir do século XXI, tornou-se objeto do capitalismo” (CASSIMIRO & GALDINO,
2012, p.64). Vê-se então que desde os tempos mais remotos até a atualidade questões como
religião, economia e política estiveram ligadas aos processos de transformação de sua
percepção.
1.1.1. O Corpo na Grécia Antiga
A escolha da Grécia como ponto de partida dessa análise se dá pelo fato de que “muito
do que é feito atualmente, assim como a forma em que está sistematizado o sistema ocidental
é, inegavelmente, um legado do homem grego” (CASSIMIRO & GALDINO, 2012, p.62).
Exemplo disso é a filosofia ocidental, que sofreu uma forte influência de filósofos como
Sócrates, Platão e Aristóteles. Entretanto, suas contribuições não param por aí, eles também
foram atores de extrema importância para a concepção de corpo que permeava a sociedade
grega.
De acordo com Carmo Junior (2012), autor citado por Cassimiro & Galdino (2012),
Sócrates acreditava que a saúde, em conjunto com a beleza corporal, era é o bem mais precioso
do homem. Assim, o filósofo não separava o corpo da alma, uma vez que se buscava cultivar a
harmonia entre o intelecto e a beleza física. Já Platão, um dos seus discípulos mais importantes,
propunha uma dicotomia entre eles.
Moreira (1996) nos mostra que aos olhos de Platão, a sociedade deveria ser dividida de
acordo com a alma das pessoas. Nessa perspectiva, Platão definiu três tipos de alma: a de
“bronze”, a de “prata” e a de “ouro”. Enquanto a primeira, por possuir uma maior sensibilidade,
deveria dedicar-se às atividades como a agricultura, o comércio e ao artesanato, a segunda, por
ser mais corajosa, deveria cuidar de atividades que protegessem a cidade, juntando-se ao
17
exército. Por último estariam os sábios, que através da política e da arte, deveriam governar. A
educação grega, portanto, foi organizada a partir desse pensamento. Entretanto, por mais que
dicotômica tenha sido essa proposta, Platão preocupava-se com sua aparência, praticando
atividades físicas a fim de alcançar a “saúde perfeita”.
Já para Aristóteles, como mostram Cassimiro & Galdino (2012), o corpo só alcança
sentido se for considerado em comunhão com a alma que o anima. Logo, eles necessitam um
do outro para interagir. Ainda mais na sociedade grega, local no qual o condicionamento físico
era de extrema importância para execução de atividades como a luta e os jogos olímpicos. A
preocupação com estatura física nesse período fica clara quando analisamos as esculturas dessa
civilização, que mostravam corpos fortes e definidos. Entre elas podemos citar Vênus de Milo,
de Alexandros de Antioquia, Kouros Anavyssos e ACMA Moschophoros, sendo as últimas
duas de autores desconhecidos.
Percebe-se então que apesar das divergências entre os principais filósofos da época
sobre a percepção do corpo na sociedade, os gregos valorizavam sua consonância com a alma.
Ou seja, “a perspectiva de que o mundo inteligível era mais importante surgiu no mesmo
período em que os gregos passaram a cultuar o físico, portanto, consolidando a ideia de corpo
em harmonia com a alma” (CASSIMIRO & GALDINO, 2012, p. 72).
1.1.2. O Corpo na Idade Média
A Idade Média, período marcado pela forte influência da Igreja sobre a sociedade, ficou
conhecida pela desvalorização do corpo sexuado, tendo as pulsões e os desejos carnais
amplamente reprimidos. Seu culto era considerado pecado e a valorização da alma era tida
como forma de salvação. Dantas (2005) aponta a igreja como grande influenciadora da
sociedade no campo moral, nos relacionamentos interpessoais, na vida familiar, na forma de
pensar e até mesmo no modo de se vestir.
Como resultado desse processo, o homem medieval renunciava seus prazeres terrenos
e materiais em troca da salvação eterna de sua alma. Práticas como a autoflagelação, a
abstinência sexual e o jejum se tornaram comuns nesse período, tendo como principal objetivo
a purificação da mesma. Desse modo, qualquer forma de manifestação corporal, fora dos
parâmetros da igreja, era considerada pecado e degradação da alma (DANTAS, 2005). À vista
disso:
18
O controle da sociedade sobre os indivíduos começa pelo corpo. Assim,
durante a Idade Média, houve um grande desprestígio das atividades
corporais, e o corpo passou a ser controlado através de severas práticas
religiosas. O discurso religioso reforçava muito bem esse poder em relação ao
corpo, ou seja, para garantir a salvação da alma, o homem teria que seguir
rigorosamente os ensinamentos da Igreja (CASSIMIRO & GALDINO, 2012,
p. 73).
Durante esse período, conforme apontado por Dantas (2005), as práticas corporais
greco-romanas, antes prestigiadas, agora perdiam espaço para santidade cristã que se tornava
uma virtude cada vez mais valorizada, enquanto a preocupação carnal era um ato pecaminoso.
Como consequência, a compleição considerada pela perspectiva estética, era reflexo do
paganismo. Depreende-se que qualquer preocupação com a mesma que contrariasse a Igreja,
era proibida.
Nessa dinâmica, o físico passou a ser desprezado, visto como algo inferior, que deveria
ser dominado e subjugado pelo espírito. A carne era tida como instrumento do pecado, causando
tentação e corrompendo o espírito. Percebe-se que “na cultura ocidental a apropriação do corpo
é relativamente recente. Como o resto do universo, ele era tido como uma criação de Deus (sua
obra prima) e, logo, intocável, inquestionável e inescrutável” (CECCARELI, 2011, p.2).
1.1.3. O Corpo na Modernidade
A modernidade, período marcado pelo surgimento da ciência contemporânea e de uma
nova concepção de homem, diferentemente do modelo medieval, não se prendeu a religião, mas
sim a racionalidade. O corpo, no final do século XVII, tornou-se objeto da ciência e da razão,
sendo dividido em diferentes partes, para que cada uma delas pudesse ser mais bem analisada
e descrita. Sua constante separação em pedaços específicos fez com que ele chegasse a ser
comparado a uma máquina cheia de engrenagens (CASSIMIRO & GALDINO, 2012). O
homem moderno, representado pelos interesses burgueses, favoreceu o desenvolvimento da
indústria e ajudou a consolidação do modelo capitalista.
Esse novo padrão de ser humano passou a ser o sujeito responsável pela produção do
conhecimento. O florescimento científico foi importante não apenas no que diz respeito à
libertação do físico em relação aos interesses da igreja, mas também possibilitou uma maior
liberdade para as atividades comerciais burguesas. É nesse período que surgem as fábricas e as
indústrias, representando o avanço científico da época. Nesse contexto,
O corpo passou a ser manipulado, sentido, auscultado, dissecado. Seus
movimentos analisados e sua massa e volume calculados. A separação entre o
19
corpo técnico-científico e o corpo que sente prazer e dor, começa a eclipsar-
se ao longo do século XIX, quando aparecem os primeiros esboços de uma
construção da dimensão imaginária do corpo (CECCARELLI, 2011, p.5).
Buscando melhor entendê-lo, surgem expressões como “esquema corporal” e “imagem
corporal”. Tavares (2003) explica que estes vocabulários são frequentemente utilizados nas
investigações sobre o corpo humano e estão vinculados aos significados das palavras imagem
e corpo. Entretanto, sua definição não é uma simples questão de linguagem, tendo uma
dimensão muito maior considerando a subjetividade de cada indivíduo. Sendo assim, podemos
entender Imagem Corporal como a forma que um indivíduo se percebe e se sente em relação ao
próprio corpo. Corroborando com essa ideia, Barros (2005) cita sete afirmações que, segundo
Cash e Puzinsky (1990), melhor abrangem o conceito de imagem corporal. São elas:
1. Imagem corporal refere-se às percepções, aos pensamentos e aos sentimentos sobre o
corpo e suas experiências. Ela é uma experiência subjetiva.
2. Imagens corporais são multifacetadas. Suas mudanças podem ocorrer em muitas
dimensões.
3. As experiências da imagem corporal são permeadas por sentimentos sobre nós mesmos.
O modo como percebemos e vivenciamos nossos corpos relata como percebemos nós
mesmos.
4. Imagens corporais são determinadas socialmente. Essas influências coletivas
prolongam-se por toda a vida.
5. Imagens corporais não são fixas ou estáticas. Aspectos de nossa experiência são
constantemente modificados.
6. As imagens corporais influenciam o processamento de informações, sugestionando-nos
a ver o que esperamos ver. A maneira como sentimos e pensamos o nosso físico
influencia o modo como percebemos o mundo.
7. As imagens corporais influenciam o comportamento, particularmente as relações
interpessoais.
Trata-se de um conceito amplo, que envolve várias áreas do conhecimento, abrangendo
processos fisiológicos, psicológicos e sociais, num intercâmbio contínuo entre eles. Becker
(1999) destaca o fato das pessoas avaliarem seus corpos de acordo com sua interação com o
ambiente em que estão inseridas, assim sua autoimagem é desenvolvida e reavaliada
20
continuamente durante sua vida inteira, processo no qual, muitas vezes, necessidades
individuais são ofuscadas por necessidades de ordem social. Corroborando com essa ideia,
Barros (2005) diz que:
Sua construção envolve a possibilidade de interferência sobre a própria
autoimagem de cada um, uma vez que ela - a imagem corporal - não é fixa [...]
Ela, então, é definida a partir das interferências sociais que sofremos e dos
hábitos que criamos, moldando nosso aspecto de existir como seres corporais
[...] Nossa percepção de mundo passa a ser lograda a partir de tais influências,
e nos sujeitamos a ver essas transformações como os limites impostos a nós
mesmos[...] Acolhemos uma imagem corporal tendo em vista a sua
mobilidade e transformação constante, estabelecendo uma interface de
relacionamentos que se moldam pela própria imagem do outro, mesclando-se
numa troca de informações subjetivas que irá criar novas imagens de corpo e
de mundo (BARROS, 2005, p. 552).
É, portanto, nessa época, marcada pela competitividade e pelo individualismo, que surge
a necessidade de se descrever o corpo para além da ciência. O mundo também passa a ser
explicado por questões de ordem social, e não somente pelas leis da física, da matemática e da
biologia, disciplinas que ganharam enorme relevância na época. Entretanto, é importante frisar
que a manutenção da sociedade neste momento ficou “a cargo da classe burguesa, que
manipulou o corpo com o intuito de gerar lucro, desenvolver as indústrias e consolidar o
capitalismo” (CASSIMIRO & GALDINO, 2011, p. 75).
Pode-se concluir que no mesmo período em que se deu início ao processo de valorização
de questões ligadas à sociologia e a filosofia, como a construção de imagens corporais, a
anatomia humana foi apropriada como mercadoria, transformando-se em uma peça chave para
o acumulo de capital.
1.1.4. O Corpo na Contemporaneidade
Vivemos na era da informação, as pessoas estão cada vez mais conectadas, os dados
circulam cada vez mais rápido e acabam se tornando uma moeda de troca na sociedade. Nesse
contexto, o corpo ganhou maior notoriedade e evidência, sendo visto como uma fonte de
consumo. Por meio das novas tecnologias e, principalmente, por causa do marketing de
produtos e estilos de vida, o desejo de se obter a perfeição física exigida pelos padrões
contemporâneos faz com que as pessoas se lançassem na busca por esse ideal.
A sedução narcísica, fato que vem se consolidando atualmente, a busca excessiva pela
satisfação com o próprio físico, tendo como foco a aparência, propicia que os indivíduos se
21
dediquem a um ideal de beleza impossível e/ou de difícil alcance. “Percebe-se que o corpo está
ligado ao sistema capitalista, ao comércio da beleza, propagado através das grandes mídias”
(CASSIMIRO & GALDINO, 2011, p. 77). Surge então um mercado voltado para a saúde e a
estética.
Sabino (2002) chama de “indústria da saúde” o conjunto de impérios multinacionais de
medicina, academias de ginástica e conglomerados farmacêuticos que, em conjunto, formam
uma espécie de nova máquina capitalista. Essa indústria não fabrica apenas itens concretos de
consumo, como máquinas e equipamentos de musculação, mas também itens simbólicos como
imagens corporais, tendo a sua disposição propagandas que alimentam o mercado da adoração
ao físico.
Vemos então que o padrão corporal contemporâneo não é uma construção pessoal, mas
sim uma imposição do consumismo narcisístico que padroniza um ideal estético. Assim, a
própria concepção de beleza é afetada, uma vez que para se fazer parte de determinado grupo é
necessário, muitas vezes, negar suas próprias escolhas. Caso isso não ocorra, corre-se o risco
de exclusão.
Após esse levantamento histórico compreende-se que o corpo, além de ser o suporte da
existência do homem, é também o ponto de partida para seu desenvolvimento pessoal. Como
consequência, ele expressa os princípios e valores da sociedade em que se está inserido. Logo,
sua percepção está irremediavelmente ligada à cultura. Dantas (2005) diz que as descobertas
que temos acerca de nós mesmos vão se revelando a partir do momento em que nos
reconhecemos com um “ser” entre vários “seres”, ou seja, nossas reações diante as interações
que vivemos diariamente nos ajudam a compreender a imagem que possuímos de nós mesmos.
Dessa forma, completa Ceccarelli (2011):
[...] O corpo humano não é um dado eterno e imutável. Sua apreensão
é tributária das condições de vida e das possibilidades que a cultura na
qual o corpo está inserido se dá a conhecê-lo. Cada época lhe atribui
um significado, o constrói e reconstrói, o descora e o desvela. Mas,
também, o destrói, o deforma e o mutila. Isto significa que os modos
de ser utilizar e de se dispor do corpo refletem as normas e os valores
da dinâmica cultural da sociedade em questão; e estudar o corpo, não
pode ser feito sem levar em conta os códigos sociais, as concepções de
higiene, a arte, a poesia [...] O que se desprende de tudo isto é que os
destinos do corpo são tributários do imaginário sócio histórico que
determinará a realidade afetiva e a vivência corporal do sujeito e, por
extensão, a da cultura. (CECCARELLI, 2011, p.12).
22
Após toda essa discussão cabe a seguinte pergunta: se o corpo pode ser construído,
trabalhado e até mesmo modelado, como os sujeitos se posicionarão em relação a suas
representações após tantas intervenções? Seria ele o resultado de uma construção que privilegia
o esforço do indivíduo sobre sua capacidade de dominá-lo? Nessa perspectiva, a saúde aparece
como “razão” para o seu controle, uma vez que para se manter saudável é necessário “conservá-
lo de forma correta e adequada”.
1.2. Saúde
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o termo saúde não apenas como
ausência de doença, mas como situação de perfeito bem-estar físico, mental e social. Logo, tal
conceito relaciona-se com a definição de desenvolvimento e expressa uma profunda relação
com a qualidade de vida da população. Nesse sentido, ela seria o resultado da produção social
da coletividade, sofrendo influência das condições de vida existentes no local em que se vive e
dos bens e serviços que a população tem acesso.
É exatamente por esse motivo que alguns autores como Segre (1997) criticam a
definição empregada pela OMS, por considerar utópica a definição adotada pela organização.
Para ele, o termo “perfeito bem-estar” é algo impossível de se caracterizar, sabendo que “a
“realidade” nada mais é do que uma convergência de subjetivismos” (SEGRE, p.541, 1997).
Os diferentes ritmos e estilos de vida impostos pelas múltiplas culturas são, entre tantos outros
fatores como a economia e a política, influenciadores diretos daquilo que pode ser considerado
saúde.
Desde os tempos mais remotos, como aponta Sevalho (1993), suas representações foram
atribuídas a fatores mágicos, religiosos, místicos e aos deuses. Além disso, questões como:
O medo e culpabilidade sempre participaram da relação do ser humano
com a doença, conformando permanências culturais. Estes aspectos
resistem entre crenças ainda existentes que cultuam a pureza como uma
ligação rigorosa e permanente ao primitivo e um isolamento dos
costumes atuais, ou mesclados na cultura geral de nosso tempo
(SEVALHO, 1993, p. 352).
Ceccarelli (2011) complementa esse pensamento dizendo que muitas das doenças que
afetavam o corpo foram tidas por muitos anos, e para alguns continuam até o presente momento,
como castigo: revelando pecados, sendo o resultado da falta de pureza. Logo, questões como
cultura, costumes, economia e o próprio Estado sempre influenciaram a saúde. Hoje também
23
não fugimos dessa realidade, porém o principal influenciador no momento, é o capital. Como
apontado por Sabino (2002), a indústria do saudável fez do corpo um mercado lucrativo.
Nesse novo cenário, o corpo se transforma em um espetáculo à parte, podendo ser
comparado a uma máquina na qual é possível adicionar vários acessórios e até mesmo mudar
algumas peças. Tratamentos estéticos, dietas, suplementos alimentares e vestuários
funcionariam como os acessórios e as intervenções cirúrgicas como a colocação de próteses de
silicone ou cirurgias plásticas seriam as trocas de peças. Tudo em prol do bem-estar e da
preocupação com o físico.
O mercado se apropria do tema e o transforma em uma série de itens de consumo, que
começam desde os medicamentos e terminam, por exemplo, na venda de aparelhos de ginástica
que prometem melhorar seu condicionamento físico e sua qualidade de vida. Sendo assim,
pode-se concluir que “a saúde global é uma finalidade social desejável, hoje descuidada ou
deformada pela influência do fundamentalismo monetário, mas merecedora de evidência
prioritária, seja por seu valor intrínseco, seja como símbolo do predomínio de valores humanos
sobre outros interesses” (BERLINGUER, 1999, p. 23).
Esses “valores humanos” ficam claros ao lermos o seguinte trecho do manifesto da VIII
Conferência Nacional de Saúde (CNS) de 1987:
Em seu sentido mais abrangente, a saúde é resultante das condições de
alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte,
emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terra e acesso a serviços de saúde.
É assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da
produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida
(CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 1987, p. 382).
Nesse contexto, fica evidente a relação existente entre saúde e imagem corporal. Ambos
os conceitos estão relacionados a subjetivismos do sujeito. Assim, suas construções estão
diretamente ligadas a momentos históricos, culturais e econômicos em que as pessoas estão
inseridas. Logo, “ter saúde” é algo que varia de local para local. Consequentemente, as imagens
corporais construídas em cada uma dessas localidades terão características próprias.
1.3. O Estilo de vida Fitness
Após essa análise de como o estar saudável é apropriado ao longo do tempo, fica clara
a influência do ambiente social e econômico em que as pessoas estão inseridas para
24
entendermos sua concepção. Atualmente, vivemos em um período no qual a exaltação do corpo
magro, forte e definido é tido como sinal de sadio e questões como uma boa alimentação, uma
rotina diária de exercícios e a preocupação em se manter determinado equilíbrio entre o físico
e a mente são entendidas como elementos que dão qualidade a vida das pessoas.
São exatamente por esses motivos que se fez necessária essa discussão, a definição do
conceito de imagem corporal e o debate sobre a relação existente entre o mesmo e a saúde. Para
que possamos entender como o estilo de vida fitness é caracterizado, primeiro precisamos
definir quais os tópicos que ele engloba pra que posteriormente possamos debate-lo.
O modelo econômico vigente, o capitalismo, transformou os corpos e a própria saúde
em máquinas de produção de bens e consumo. Diariamente surgem novos tratamentos estéticos,
cirurgias plásticas, suplementos, dietas, cremes, aparelhos de ginástica e musculação, além de
medicamentos que propõem milagres. É nesse contexto que, segundo Nobre (1999), na década
de 1980, se estabelece o termo “academia”, apesar de já existirem locais semelhantes com outra
nomenclatura (Institutos de modelação física, Centros de Fisiculturismo, Clube de Clistenia,
etc).
Akademía é um termo grego que se transformou em academia no latim. Sua origem se
deve ao filósofo Platão (427-347 a.C.) que escolheu como local para fundar sua escola de
filosofia um bosque que levava o nome do legendário herói grego Akadèmos; por esse motivo,
a escola recebeu o nome de Academia, espaço em que se ensinava filosofia, matemática e
ginástica (RODRIGUES, 2012 apud TOSCANO, 2001). Na Grécia Antiga a educação era
constituída por meio de dois pilares: o da música, que trabalhava a concentração e o equilíbrio,
moldando o caráter e aperfeiçoando espírito dos indivíduos, e o da Educação Física/Ginástica,
uma vez que o corpo saudável era considerado tão importante quanto uma mente sadia. Assim,
O ideal seria que nos primeiros 10 anos de vida a educação fosse mais
voltada para a educação do corpo (afinal, o mais relevante era viver
para a saúde e não em função da doença) e, nesse período, também
seria possível ensinar cálculos, noções de distância, velocidade, espaço
e tempo, de forma conjunta durante a prática de exercícios físicos
(RODRIGUES, 2012, p. 12).
E foi por essa razão que se denominou academia, em português, os espaços nos quais
exercícios físicos são promovidos (PEDROSO, 2009). Seu conceito é bastante diverso,
entretanto, segundo os Descritores de Ciência da Saúde (DeCS)2, podemos definir esse termo
2 Disponível em: < http://decs.bvs.br/cgi-bin/wxis1660.exe/decsserver/ > Acesso: 17/09/2014.
25
como “instalações que têm programas que pretendem promover e manter um estado de bem-
estar físico para ótimo desempenho e saúde”.
Antunes (2009) diz que os antigos ginásios de esportes, hoje conhecidos como
academia, existiam desde o século passado quando Attila, um professor alemão, montou em
1867, em Bruxelas, um instituto destinado ao ensino da cultura física com aparelhos. Desde
então, novos estabelecimentos onde eram praticadas atividades físicas em salas fechadas foram
surgindo progressivamente na França e, posteriormente, nos Estados Unidos, onde ganharam
destaque. As academias foram então se espalhando por todos os continentes e hoje são uma
presença marcante na sociedade.
O personal trainer3 Guilherme Báu4, em matéria5 ao Portal da Educação física, fala
sobre o surgimento das mesmas, que antes funcionavam com pesos fundidos com cimento. Ele
conta que as pessoas, no início, pegavam brita, cascalho, areia e cimento e os faziam de pesos,
até mesmo canos eram aproveitados e serviam como barras nos anos de 1980. “Naquela época,
as academias de ginástica não eram vistas como um negócio promissor em que se pudesse obter
lucro e prosperar como empreendedor”, diz Guilherme. Logo que surgiram, elas tinham como
ênfase apenas o condicionamento físico dos indivíduos. Prova disso é o fato de que muitos
donos de locais como estes eram halterofilistas6, atletas, ou pessoas que, em geral, estavam
envolvidas com práticas corporais, completa Báu.
Rodrigues (2012) fala sobre a falta de mão de obra qualificada, de nível superior como
profissionais de educação física, até a década de 1940 no Brasil, período no qual a atividade do
educador físico ganhou mais impulso no país. Até então, entre 1920 e 1930, esta função foi
nitidamente marcada por profissionais adaptados ou improvisados às atividades físicas,
geralmente vindos do exterior com alguma especialização ou experiência na área. Foi a partir
dos anos 60 que o modismo das academias começou a se espalhar, aparecendo em várias
capitais brasileiras e cidades do interior.
3 Treinador pessoal (do inglês personal trainer) é um profissional que deve ter uma formação em educação
física, que está capacitado a ministrar e supervisionar os treinamentos seguindo os objetivos de quem o contrata. 4 Graduado em Educação Física Bacharelado pela Universidade Norte do Paraná - Londrina-PR (2010). Pós -
graduado em Exercício e Reabilitação na Universidade Norte do Paraná 5 Disponível em: < http://www.educacaofisica.com.br/index.php/blogs-ef/entry/fitness-ou-wellness-o-que-o-seu-
cliente-busca-em-sua-academia > Acesso: 13/09/2014. 6 O halterofilismo ou a halterofilia, levantamento de peso(s), ou ainda, levantamento de peso olímpico (LPO), é
um desporto cujo objetivo é levantar a maior quantidade de peso possível, do chão até sobre a cabeça, em uma
barra em que são fixados pesos.
26
De acordo com Moraes (2006), até o início da década de 70, as academias eram
frequentadas preferencialmente por homens e a atividade oferecida era quase sempre a
musculação, nome que surgiu para quebrar o preconceito que existia contra o halterofilismo e
ao mesmo tempo atrair as mulheres para essa atividade. O crescimento dessa prática no Brasil,
acompanhando o movimento mundial, ocorreu ente nos anos 70 e 80, em torno da manutenção
do corpo e do hábito regular de exercícios físicos. Como consequência, explica Rodrigues
(2012), a demanda por esse tipo de serviço, tendo em vista a exaltação do corpo ideal, cresceu
extraordinariamente e as academias se proliferaram por todo o país.
Entretanto, esse panorama vem mudando. Atualmente, o condicionamento físico não
deixa de ser enfatizado, mas é trabalhado em perspectivas mais amplas visando à qualidade de
vida e o bem-estar. A estética continua sendo destacada, porém a saúde é levada em
consideração nesse processo. Dessa forma, os professores e personal trainers procuram não
apenas passar um treino de alto desempenho, focados no resultado corporal de seus alunos, mas
também transmitir conhecimentos, explicando a eles, por exemplo, os problemas do uso de
anabolizantes7, a importância de uma alimentação balanceada e também os prejuízos da prática
de exercícios em excesso.
Báu (2012) ressalta que essa quebra de paradigma é o resultado de uma mudança pela
necessidade de melhoria de desempenho do negócio na acumulação de capital. Devido a
constante obrigação de se vender a mercadoria produzida, ampliar o público alvo e também a
primordialidade de fidelização do cliente, foi necessário deixar o foco de apenas uma busca da
estética, que estaria muito mais ligada às pessoas jovens, passando a priorizar homens e
mulheres de diferentes idades que procurem outros fatores além da beleza. O apelo do corpo
sarado já teve seu tempo e destaque na década de 1990. Hoje, as pessoas buscam, também,
qualidade de vida e paz de espírito (BÁU, 2012).
Percebe-se então que, com o passar do tempo, o aprendiz deixa de se “somente” aluno
e se torna um cliente. A mercadoria não tem mais como foco principal ser vendida e sim,
consumida. O personal trainer não é unicamente um instrutor, mas também um vendedor. Nas
palavras de Guilherme Báu (2012), o “professor-vendedor e o aluno-cliente, em um ambiente
onde a mercadoria exerce a função sedutora de atração e conquista”.
7 Anabolizantes são hormônios sintéticos fabricados a partir do hormônio sexual masculino, testosterona. Como
resultado de seu uso, quem os toma tem aumento no tamanho dos músculos, força física e resistência.
27
O que se está em jogo não são apenas as questões materiais, caracterizadas pelos bens
de consumo, mas também todo o conjunto de valores que esse consumismo engloba, como a
promoção de determinados hábitos. Vende-se então um estilo de vida que abrange o uso de
determinados produtos, a adoção de certas práticas e a restrição de alguns comportamentos. É
importante prestarmos atenção no quadro geral, a promoção da saúde, e não apenas no
específico, as práticas de consumo. O incentivo de um gera o desenvolvimento do outro. A
partir do momento em que se coloca em alta o estilo de vida saudável, todo o mercado que
envolve essa temática é destacado também.
Novamente aflora a relação existente entre saúde e imagem corporal, questão
fundamental de discussão nesta monografia. Enquanto a primeira destaca a importância de se
existir um equilíbrio entre o bem-estar físico, mental e social, a segunda é determinada pela
coletividade. Logo, são adotados comportamentos e práticas que adequem o corpo do indivíduo
ao que é considerado aceitável, buscando-se a sociabilidade.
É nesse novo contexto que se instala que surge um grupo específico de pessoas
preocupadas não somente com seus corpos, mas também com seu bem-estar e qualidade vida,
intituladas como fitness. Ao se consultar o dicionário Webster’s (HOUAISS, 1982, p. 293)
encontra-se fitness com o significado de “aptidão, competência, adequação, conveniência...!”.
Continuando esse raciocínio, o autor explica a etimologia do termo, que vem do inglês: Fit
significa ajustamento/adaptação e Ness é um sufixo formador de substantivos abstratos de modo
ou condição. Assim, fitness é o estado ou condição de se ajustar ou se adaptar às suas
necessidades individuais.
Dantas (2009) explica que esse termo é, portanto, diferente de aptidão ou
condicionamento físico, expressões utilizadas erroneamente em substituição ao mesmo.
Enquanto a primeira se remete ao nível de potencialidade motora e performance física de uma
pessoa, a segunda refere-se ao estado de desenvolvimento físico apresentado pelo indivíduo,
aos hábitos de higiene que possui e ao seu nível de treinamento. Assim, continua o autor, é
muito simplista entender o fitness como apenas uma aula aeróbica ou ir à academia. A
preocupação básica não deve estar focada somente na aparência corporal, com a gordura
localizada ou com a hipertrofia muscular, mas sim com a harmonia entre o físico, mente e
emoção. Sendo assim, é importante destacarmos as diferentes variáveis acerca da temática:
A praxes da ecologia do corpo só é possível quando se adotam hábitos
saudáveis de alimentação, cuidados com a higiene corporal, a suspensão do
uso do tabaco e a limitação da ingestão de álcool, práticas de relaxamento e
28
meditação e a execução de exercícios físicos adequados, na dosagem certa,
orientados para uma melhor qualidade de vida, além de atenções específicas
para os aspectos emocionais, intelectuais e sociais (DANTAS, 2009, p.304).
Dantas (2009) infere que a materialização da preocupação com a ecologia do corpo é a
ação do fitness que agora pode ser entendido em sua plenitude. Esse grupo de pessoas
resignifica o mundo ao seu redor, por meio de uma análise comparativa de como era sua rotina
antes e depois de adotar esse etilo de vida, uma vez que as mudanças só começam a aparecer
depois que eles escolhem abraçar uma série de hábitos e costumes que caracterizem essa prática.
Utilizando-se dessa visão individualista na qual o sujeito é capaz de conduzir o seu próprio
destino, conclui Sabino (2002), o corpo aparece como objeto sobre o qual atua o poder da mente.
Pode-se inferir que esse grupo busca não apenas sua realização estética, mas também manter
um estilo de vida condizente com suas necessidades individuais, sejam elas físicas, emocionais
ou até mesmo intelectuais em uma rotina, na qual corpo e mente andem alinhados para o alcance
dos resultados almejados.
Terminamos este capítulo, após uma abordagem histórica, contextualizando os
principais conceitos a serem utilizados neste trabalho: imagem corporal, saúde e estilo de vida
fitness. Na próxima parte desta obra mostraremos como o tema saúde vem sendo abordado
pelos meios de comunicação, buscando destacar a importância que está sendo dada a este
assunto. Em seguida, apresentaremos as redes sociais como um novo local de fala do indivíduo,
revolucionando a maneira tradicional de produção de conteúdo. Elas, além de contribuírem para
esse cenário de mudança funcionam como um mecanismo de inserção, nas quais as pessoas
podem reafirmar seu modo de vida e seu cotidiano, refletindo sua maneira de ser.
29
CAPÍTULO II
2. MÍDIA E IMAGEM CORPORAL
Após a primeira parte do trabalho, na qual apresentamos os conceitos chave desta
pesquisa, empregaremos esforços agora para traçar a relação existente entre a mídia, ou seja, os
meios tradicionais de comunicação, como as revistas, os jornais, a televisão e a imagem
corporal. É de extrema importância fazermos essa associação uma que vez, como apresentado
no capítulo anterior, a imagem corporal é uma construção subjetiva do indivíduo, sendo o
resultado de uma produção cultural no meio no qual as pessoas estão inseridas, isto é, ela é fruto
do momento histórico em que vivemos. Dessa forma, se torna indispensável estudarmos como
o tema saúde, em especial o estilo de vida fitness, vem sendo abordado em nossa sociedade.
Terminado esse levantamento, iremos introduzir o debate sobre as redes sociais como
um novo local de produção de conteúdo, revolucionando a maneira tradicional de divulgação
de informações. O discurso sobre o estilo de vida saudável que antes partia, quase que
exclusivamente, de especialistas e estudiosos de áreas específicas, agora começa a ser
estruturado pelo cidadão comum.
Atualmente, devido a facilidade de acesso aos diferentes dados, os indivíduos mesmo
não possuindo formação na área, dão início a um processo de produção de conteúdo por conta
própria. Nesse contexto, as redes sociais surgem como um mecanismo de inserção social
refletindo a personalidade das pessoas. Mais do que isso, elas dão ao sujeito a oportunidade do
mesmo compartilhar sua “essência”, além de proporcionar a chance dele se transformar em um
importante ator dentro do aplicativo.
Assim, novas identidades vão sendo construídas e reafirmadas em um constante
processo de colaboração. Os indivíduos, ao compartilharem interesses comuns, começam a se
associar em grupos, que por sua vez possuem determinadas regras a serem adotadas, práticas a
serem seguidas, etiquetas sociais, estilos de linguagem, entre outros. Finalizando este capítulo,
abordaremos o conceito de identidade para que, enfim, possamos delimitar o que vem a ser a
identidade fitness.
30
2.1. Mídia e Imagem Corporal
2.1.1. Uma breve abordagem histórica
Durante diferentes períodos da história, ao longo dos séculos, a beleza e a saúde foram
demonstradas por meio de pinturas e esculturas. O belo, ou seja, aquilo que atrai o olhar, era
retratado por meio de esculturas de corpos em formas elásticas, com expressões psicofísicas
que harmonizavam alma e corpo (FONSECA, 2003). Entretanto, foi a partir do século XV que
a beleza passou a ter relevos, formas, cores, espessuras e contornos arredondados (FONSECA,
2003 apud VIGARELLO, 2006). O corpo, a partir do momento que ganha contornos mais
consistentes, passa a exigir um equilíbrio entre a magreza e a gordura. No século XVII, continua
Fonseca (2003), já era possível se notar um alongamento das pernas e uma preocupação com o
quadril, devido os vestidos em forma de arco.
Figura 1 - Representação da mulher no século XVII. Quadris e busto são evidenciados
com o espartilho.
Fonte8: Revista Veja, 2011
Todavia, como apontado por Fonseca (2003), é a partir de 1880 que principiam a surgir
às primeiras cobranças estéticas em relação ao físico. Segunda a autora, é neste período que o
8 Disponível em: < http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/a-mulher-que-transcendeu-o-seculo-xvii-
atraves-da-arte >. Acesso: 12/10/2014.
31
corpo inicia a ser controlado não apenas por causa de seu peso, mas também por meio de suas
medidas. Já em 1910 surgem os primeiros Institutos de Beleza, mesma época em que emerge o
ofício de esteticista9 e aparecem as primeiras cirurgias estéticas, que vislumbram mudanças e
retoques de transformações corporais.
Entres 1950 e 1960, diferentemente dos momentos anteriores, a beleza começa a ser
sistematizada e vendida como mercadoria. Com os anos 1980 iniciam os exageros, como o uso
de maquiagens marcantes. “Nessa época começa o culto ao corpo, uso de suplementos
vitamínicos, e surge a modalidade de ginástica aeróbica para ajudar no emagrecimento”
(FONSECA, 2003, p.62). A transformação continua com a chegada dos anos 1990 e 2000. O
homem, assim como as mulheres, ganha o direito de cuidar-se sem que isso seja visto como
uma atividade feminina, surgindo o termo “metrossexual”.
Na segunda metade do século XX o culto a saúde e aos cuidados com o corpo ganha
uma nova dimensão: sua entrada na era das massas (GOLDENBERG, 2002). Como resultado
desse processo, normas e imagens passaram a circular em grande escala nos diferentes meios
de comunicação existentes, provocando uma profissionalização do ideal estético e também
acarretando na abertura de novas carreiras. Os tratamentos estéticos como a cirurgia plástica
disponibilizam ao indivíduo a condição que tantos desejam: de mostrar ao outro que ele não
está excluído do grupo, além de adquirir status (estado representado pela capacidade financeira
do sujeito).
Com o advento das novas tecnologias e a vontade do aperfeiçoamento das formas
corporais, as empresas de aparelhos de ginástica oferecem uma gama de produtos
revolucionários, dos quais as academias adquirem os mais variados tipos. Para impressionar o
grande público, as propagandas se tornam cada vez mais elaboradas e minuciosas, despertando
o consumo e utilizando modelos magras e homens musculosos para difundir um ideal estético
a ser seguido. Assim, fica implícita a mensagem de que ao fazer uso de tais aparelhos se obterá
resultados parecidos.
A exaltação de corpos magros, belos e definidos faz aflorar o narcisismo, lançando as
pessoas na busca dos padrões estipulados pela mídia. Vende-se uma imagem de felicidade que,
em muitos casos, não é real. Buscando resolver essa angústia de transformação, o sujeito opta
por soluções rápidas para conquistar o físico desejado. Exemplo disso é a utilização de
9 Esteticista é um profissional que trabalha em salões ou clínicas de estética, institutos de beleza, cabeleireiros e
spas com o objetivo de cuidar da beleza dos clientes.
32
anabolizantes, podendo ser encontrados nas formas de comprimidos, cápsulas ou injeções
intramusculares. Seu uso de forma indevida e sem acompanhamento médico pode causar
dependência e, em alguns episódios, levar a amputação de membros ou a até mesmo a morte.
Fica claro que “a mídia adquiriu um imenso poder de influência sobre os indivíduos,
generalizou a paixão pela moda, expandiu o consumo de produtos de beleza e tornou a aparência
uma dimensão essencial da identidade para um número maior de mulheres e homens”
(GOLDENBERG, 2002, p.8). Continuando esse raciocínio, Goldenberg (2005) afirma que o
final do século XX e o início do século XXI serão lembrados como o momento em que o culto
ao corpo se tornou uma verdadeira obsessão, transformando-se em um estilo de vida.
Nesse cenário, os meios de comunicação adquirem papel fundamental na sua
propagação. A busca por uma aparência física idealiza deixa de ser apenas uma questão estética
para se tornar o cerne da identidade de um grupo de indivíduos. Essas pessoas, amparadas pelas
mensagens transmitidas pelos veículos e embasadas no discurso científico difundido pelos
mesmos, adotam um conjunto de práticas que dão forma material a uma narrativa particular de
auto identidade.
2.1.2. Corpo e Prestígio
Como em diferentes períodos da história, atualmente possuímos uma construção
cultural do corpo, caracterizado pela valorização de certos atributos em detrimento de outros,
fazendo com que exista um modelo a ser seguido. Goldenberg (2005) chama de “imitações
prestigiosas” a cópia de atos, comportamentos e imagens corporais que obtiveram êxito e que
se tornam bem-sucedidos. Nesse contexto, na concepção da autora, o corpo trabalhado, cuidado,
sem marcas indesejáveis (rugas, estrias, celulites, manchas) e sem excessos (gordura, flacidez),
é o único que, mesmo sem roupas, está descentemente vestido.
Vemos então que o corpo se torna mais importante do que a própria roupa. Ele é, na
verdade, a roupa, devendo ser “exibido, moldado, manipulado, trabalhado, costurado,
enfeitado, escolhido, construído, produzido, imitado. É o corpo que entra e sai de moda. A
roupa, neste caso, é apenas um acessório para valorização e exposição desse corpo da moda”
(GOLDENBERG, 2005, p. 70). Enquanto das mulheres é cobrado à magreza, dos homens são
enfatizados os músculos, representados pela hipertrofia.
33
Segundo dados10 da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS), apenas no
ano de 2013 foram realizados 23 milhões de procedimentos cirúrgicos (ex: colocação de
próteses de silicone) e não cirúrgicos (ex: botóx) em todo o mundo. Pela primeira vez na história
o Brasil ultrapassou os Estados Unidos em relação ao número de procedimentos cirúrgicos
realizados, que gira em torno dos 11,5 milhões em todo o mundo. Desse total, o Brasil
representa 12.9%, ocupando a primeira posição, seguido dos Estados Unidos (12,5%) e do
México (4,2%). Os dois procedimentos cirúrgicos mais procurados foram a colocação de
próteses de silicone e a lipoaspiração.
Além disso, dos 23 milhões de procedimentos realizados, as mulheres representam
87,2% desse total, enquanto os homens ficam com 12,8% dessa fatia. Mas o que torna o Brasil
especial nessa área, segundo Goldenberg (2005), são os três principais motivos para se fazer
uma plástica: atenuar os efeitos do envelhecimento, corrigir defeitos físicos e esculpir o ideal
de perfeição, sendo o último item o que mais cresce em nosso país. Acentua-se então a
importância desse assunto na atualidade. Tendo em mente os dados apresentados e a crescente
adesão das pessoas as mídias sociais, entender de que forma identidades são construídas dentro
da rede adquire extrema relevância no âmbito da comunicação.
Bordieu (1999) discute a “dominação masculina” que obriga homens a serem
fortes, potentes e viris (daí a ênfase com que os pesquisadores falam sobre
altura, força física, tamanho do tórax e demonstram a preocupação com o
tamanho do pênis), enquanto as mulheres devem ser delicadas, submissas,
apagadas (o que corresponde ao modelo de mulher magra que predomina
atualmente) (GOLDENBERG, 2005, p 73).
Percebe-se que existe uma cobrança distinta para homens e mulheres. Enquanto o
primeiro não pode demonstrar preocupação com a aparência, pois corre o risco de ser
considerado gay ou afeminado, devendo manter sua figura máscula, a segunda, apesar de
praticar exercícios físicos e/ou ir à academia regularmente, deve continuar “delicada”,
apresentando feições femininas, aqui representadas pela magreza, não podendo ser
demasiadamente hipertrofiada.
Elaborando essa ideia, podemos entender que, de forma contraditória, a partir do
momento em que ganhamos cada vez mais autonomia individual, cabendo ao sujeito o controle
e a manutenção de seu corpo, maior é a exigência de homogeneização dos modelos sociais
vigentes. Por conseguinte, as imagens corporais acabam sendo controladas e mutiladas,
10 Disponível em: <http://www2.cirurgiaplastica.org.br/wp-content/uploads/2014/08/ISAPS_quick_facts.pdf >
Acesso: 16/10/2014.
34
devendo-se esconder as “imperfeições” existentes. Esse padrão, coberto de signos, acaba se
tornando um meio de representação do eu. Um eu que ao mesmo tempo em que padroniza um
modelo estético, legitima o exótico. Mas o que seria essa legitimação do exótico?
No esforço diário para o alcance do corpo ideal, as pessoas se submetem a diferentes
métodos e práticas que apesar de parecerem comuns devido a sua ampla exposição na mídia e
legitimadas pelo saber científico dos especialistas, no olhar de muitos indivíduos as mesmas
aparentam ser invasivas. Vejamos a descrição de uma cirurgia de lipoaspiração retirada da
revista Veja11, “A Vitória do Espelho”:
Para que as veias se contraiam e o sangramento seja menor, o cirurgião injeta
meio litro de soro fisiológico misturado com adrenalina nas partes do corpo
previamente demarcadas com pincel atômico. São oitenta picadas em menos
de dois minutos. O ritmo frenético não para. Através de um corte de 1
centímetro de largura feito pouco acima do cóccix, o médico introduz uma
cânula com 30 centímetros de comprimento e 4 milímetros de diâmetro,
parecida com um espeto de churrasco feito de teflon. A gordura entra por um
buraco na ponta e é sugada pela cânula. A sucção pode ser feita tanto por uma
seringa com vácuo encaixada no final da cânula quanto por um tubo plástico
ligado a um aparelho aspirador (...) O médico empurra e puxa o espeto sem
parar (...). Depois de quinze minutos cavoucando para a direita e para a
esquerda, ele descansa (...) É preciso um pouco de força e velocidade para
vencer as placas de gordura (...). Terminada a cirurgia, o médico sai da sala e
tira o avental. Sua camisa está encharcada de suor.
A indústria da saúde mantém uma relação estreita com a mídia, que por sua vez é
responsável pela humanização dos bens materiais produzidos, erotizando produtos e
transformando a anatomia humana em objetos de consumo. Com apelos imediatistas,
prometendo uma estrutura física diferenciada e saúde em pouco tempo, procura-se identificar
os corpos sarados como o resultado da utilização de aparelhos de musculação e tratamentos
estéticos.
Ao anunciar produtos relacionados à busca da beleza estética, sempre ligados
à saúde do corpo, a mídia reforça os sistemas hierárquicos de valores, tornando
a beleza o ponto alto dessa hierarquia, o que pode ocasionar uma competição
estéril na busca de ascensão social, profissional ou mesmo afetiva, pois suas
“armas” correm o risco de ficarem restritas à aparência física de seus corpos
(ANZAI, 2000, p. 73).
11 Disponível em: < http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_23081995.shtml >. Acesso: 27/09/2014.
35
Sabino (2002), corroborando com essa ideia, acrescenta:
O corpo, além de apresentar a verdade desse indivíduo, é também sua vitrine.
A imagem por ele exposta apresenta-se como suposta via para o sucesso ou o
fracasso [...] Esta vitrine-máquina que sustenta a esperança individual da
vitória na guerra intermitente pela conquista da felicidade prometida pelo
consumo nosso de cada dia. Assim, enquanto a forma física é alcançada como
novo objeto de adoração da sociedade de consumo, o corpo, enquanto
conteúdo, torna-se um mero objeto de troca monetária (SABINO, 2002, p.
157).
Andrade (2003) discorre sobre a materialidade desse corpo apropriado pelo mercado,
que acaba se tornando um produto de poder, gerando divisões sociais. Nessa perspectiva,
podemos percebê-lo como uma construção social e cultural, sendo alvo de diferentes
marcadores identitários e são exatamente essas marcas que classificam, agrupam, ordenam,
qualificam e diferenciam os sujeitos.
É importante destacarmos que se a televisão, o cinema, os jornais, as revistas, a
publicidade e mais recentemente a internet, defendem as dietas milagrosas, as vitaminas que
evitam o envelhecimento, as clinicas estéticas e as academias para obter o corpo hipertrofiado,
é porque isso gera lucro. Seguindo a lógica inversa, se pouco divulgadas são as pessoas comuns,
não tão “bonitas” e “saradas” como o que é transmitido pelos veículos, mas que mesmo assim
se sentem felizes, certamente é porque esse é um negócio menos rentável.
Neste ponto, pode-se levantar duas hipóteses opostas: prazer ou sofrimento? Courtine
(1995) acredita que com a ascensão da cultura física muitas indústrias se aproveitaram dessa
situação para produzir diversos bens de consumo, estimulando um gasto exacerbado por parte
dos indivíduos para que eles pudessem se manter dentro das normas e padrões de beleza que
passaram a ser estipulados. Carvalho (1995) complementa afirmando que se houver alguma
dificuldade sobre como proceder para conquistar a aparência desejável, não será pela carência
de informações de dietas, atividades físicas, equipamentos, enfim, todo o aparato comercial de
que a sociedade dispõe, criando e recriando novos padrões.
Anzai (2000) conclui que estamos vivendo uma espécie de ditadura na qual aqueles que
estão fora da regra, principalmente os menos magros, sentem-se culpados pela sua aparência,
não pelo fato da gordura não ser benéfica, mas porque existe um mercado que se beneficia dessa
insegurança dos indivíduos. As pessoas, preocupadas com sua aparência, começam a medir
seus músculos, reparar em suas “sobras” e nas suas “dobras”, comparando seu corpo com os
demais. Nesse sentido, o mesmo aparece como o resultado de um investimento pessoal, um
36
troféu, podendo ser comparado a uma vitória em relação a aqueles que não se enquadram dentro
do padrão em vigor.
O crescimento da indústria, as novas frentes e trabalho, a necessidade de mão-
de-obra maior e melhor qualificada, a otimização do tempo e dos espaços,
exige corpos mais ágeis, mais aptos. Assim, o excesso de peso começa a
atrapalhar, lembrando o ócio e a imobilidade e não combinando com a
modernidade e os ares cosmopolitas do novo século (ANDRADE, 2003,
p.127)
As pessoas na angústia de encontrar uma saída para seus corpos “imperfeitos”, se
submetem a uma dura e controlada disciplina física, caraterizada pela realização de exercícios
repetidos mecanicamente, acompanhada de uma alimentação rígida, como se tais atitudes
pudessem garantir seu “espaço ao sol”, independentemente de suas condições sociais,
emocionais, intelectuais ou profissionais (ANZAI, 2000). O fitness emerge então como uma
alternativa menos tirana e mais saudável a essa padronização, preocupando-se com o
desenvolvimento do bem-estar físico, psicológico, social, intelectual e emocional dos
indivíduos.
2.1.3. Gordura e Fracasso
“O gordo, ao violar a norma social vigente, torna-se um paradigma estético negativo.
Em contra partida, o magro é tido com saudável, é valorizado e desejado, acabando por se tornar
um símbolo para a própria felicidade; fundamental para o sujeito ser aceito socialmente”
(VASCONCELOS; SUDO; SUDO, 2004, p.66). É assim que começa o artigo “Um peso na
alma: o corpo gordo e a mídia”. Desenvolvendo esse pensamento, as autoras continuam a
discorrer sobre o corpo como local da junção entre natureza e cultura, destacando seu duplo
título: um que nos é dado, sem que sejamos consultados e um que nos é exigido pela instância
social das épocas e das culturas.
A sociedade contemporânea, marcada pela valorização da magreza, acaba
transformando a gordura no símbolo da falência moral e o gordo, além de apresentar um padrão
corporal inadequado, passa a carregar um caráter pejorativo, sendo considerado inferior. A
cultura individualista, caracterizada pelo narcisismo, transforma o desejo de onipotência do
sujeito na busca pelo sucesso individual. Vasconcelos, Sudo e Sudo (2004) apontam a questão
comercial como a maior responsável pela divulgação de novos hábitos, tendo seu discurso
amparado pelo rigor científico e pelo “feitiço” da propaganda. Nesse contexto, a magreza passa
a ser glorificada como um sinal externo de sucesso.
37
Na cultura da atualidade, marcada por valores dominantes como competição,
consumismo, o corpo é um corpo pautado no individualismo, “contido pela
musculatura”, é um “corpo mercadoria”, um “corpo aparência”, um “corpo-
ferramenta”, é um “corpo-consumidor”, um corpo com função de promoção
social, que pode trazer um retorno, um corpo que deve expressar saúde [...]
(VASCONCELOS; SUDO; SUDO. 2004, p.76)
Partindo desse pressuposto o gordo foge a norma, sendo visto como “sem saúde”, e é
estigmatizado pelo excesso. Ter alguns “quilinhos a mais” marca o sujeito negativamente por
apresentar um tributo que o torna diferente dos demais. Por outro lado, ser magro, além de
enaltecer o indivíduo, se manifesta como sinal de equilíbrio e felicidade. O controle da
aparência física se transformou em uma questão de boas maneiras, visto que o corpo é agora
entendido como símbolo da própria felicidade, sendo o resultado de um esforço, um cartaz de
como o sujeito é internamente (VASCOCELOS; SUDO; SUDO, 2004 apud BUCKNER,
2002).
Logo, a imagem corporal passa a ser influenciada por esse culto à magreza e se torna
uma medida do desempenho individual de cada pessoa. Portanto, mídia tem um papel crucial
na divulgação e na construção de uma realidade homogênea. Por meio de discursos que
misturaram a declaração de médicos, especialistas, psicólogos, nutricionistas, personal trainers
e o próprio sujeito, ela faz com que essa discussão abranja vários outros domínios além da
saúde, como o social e o moral.
Vasconcelos, Sudo e Sudo (2004) apontam que nem sempre é necessário que os veículos
classifiquem os sujeitos como gordos, através da divulgação do peso e da altura da pessoa eles
deixam o leitor visualizar o excesso. Além disso, é comum a associação da gordura a indivíduos
desajustados socialmente, que buscam preencher seu vazio com a comida. As autoras nos
apresentam uma série de comentários, presentes em notícias analisadas por elas, que ilustram
tal ideia: “Todo gordo é ansioso, tem um vazio na alma que tenta preencher com a comida”
(Fernanda Fernandes, gerente-geral dos Vigilantes do Peso) ou “Eu já vou para geladeira aos
prantos. Sei que não vou conseguir parar. Sinto um enorme vazio e, quanto mais eu como, mais
me sinto vazia - desabafa” (Bianca Barbosa, 22, estudante) (VASCONELOS; SUDO; SUDO,
2004, p.80).
Tais reportagens parecem seguir um padrão: tentar ser uma importante fonte de
informações, trazendo descobertas inovadoras e palavras de especialistas sobre o assunto em
questão. “De qualquer forma, estar fora do peso ideal, independente de vaidades, requer, em
muitos casos, cuidados médicos. Às vezes, por trás de alguns inocentes quilinhos a mais, pode
38
estar escondida alguma grave patologia” (VASCONELOS; SUDO; SUDO, 2004, p.83) é outro
exemplo apresentado pelas autoras que ilustra a constatação anterior.
Vemos então que a mídia, embasada em falas de profissionais ou resultados de
pesquisas, acaba reforçando um estilo de vida que se ampara no discurso da saúde para
conquistar notoriedade. Consequentemente, o corpo deve ser comedido, comportado e
controlado, uma vez que o excesso é visto como um risco ao bem estar e, dentro dessa
perspectiva, o desleixo e/ou a falta de cuidado consigo mesmo traria como resultado a doença.
Assim, ideias como exercitar-se, cuidar-se e ter uma rotina saudável ganham força, destacando
ainda mais um ideal a ser seguido.
Nessa cultura em que o corpo é a essência da identidade dos indivíduos, seus adeptos
são esmagados pela proliferação de imagens homogêneas, por ideologias dominadoras e pelo
consumismo. A aparência física e os cuidados estéticos se tornam elementos centrais nesse
estilo de vida, e a preocupação com o belo é carregada de investimento pessoal. Com os novos
cosméticos, cirurgias, exercícios físicos, suplementos alimentares e artifícios da elegância, cria-
se a ideia de que só é feio e está “fora de forma” quem quer. Somos pressionados em numerosas
circunstâncias a concretizar, em nós mesmos, o corpo ideal de nossa cultura (TAVARES,
2003).
A indústria da saúde, apoiada pelos meios de comunicação, torna-se responsável pela
criação de desejos e pelo reforço de imagens, padronizando assim as silhuetas. Silhuetas estas
que, ao estarem fora da medida certa, deixam o sujeito insatisfeito e pressionado a entrar no
padrão. Russo (2005) ressalta que o reforço dado pela mídia em mostrar corpos atraentes, faz
com que uma parte de nossa sociedade se lance na busca de uma aparência física idealizada.
Seguindo essa linha de pensamento, podemos concluir que o belo não é mais
considerado um “dom” da natureza, e sim o resultado de um esforço pessoal do indivíduo,
portanto a beleza não é algo dado, mas construído. “Devido à mais nova moral, a da “boa
forma”, a exposição do corpo, em nossos dias, não exige apenas dos indivíduos o controle de
suas pulsões, mas também o (auto) controle de sua aparência física” (GOLDENBERG;
RAMOS, 2002, p.25).
Novaes (2005) discorre sobre a linha tênue que separa a feiura e a beleza na atualidade.
Hoje, diferentemente do passado no qual se valorizava um todo harmônico, a estética do corpo
é dividida em recortes da anatomia humana. Vivemos em um momento ressaltado pela
“fiscalização do olhar”, expressão utilizada pela autora para descrever atenção minuciosa que
39
se faz sobre o corpo com o aval da ciência. Esse mesmo olhar contribui para regulamentar
diferenças e determinar padrões estéticos em termos daquilo que é próprio e impróprio,
adequado ou inadequado, normal ou anormal.
2.1.4. O discurso científico
Nessa incessável busca por um ideal, o corpo acaba sendo dividido em partes específicas
tais como barriga, coxa, braços, cintura, perna, lombar, etc. E para cada uma delas existe um
produto e/ou um exercício específico para seu desenvolvimento. Tudo é detalhado e divido por
meio do rigor científico. São explicações biomédicas, entrevistas com profissionais de áreas
exclusivas, artigos e pesquisas em prol de um organismo saudável e feliz. Entretanto, Goetz et
al. (2007) alertam que:
Estar no padrão midiático difundido pelo belo, do magro e do jovem, adotar
técnicas sugeridas que são apresentadas como simples e acessíveis, produz um
fenômeno crescente de culto ao corpo, conduzindo a um paradoxo, que ocorre
quando não há correspondência entre a imagem corporal difundida nas
publicações e a imagem corporal da maioria das pessoas, levando-as muitas
vezes, a buscar tais padrões associados ao corpo por meio de sacrifícios que
chegam à doença ou até à morte, tudo em busca de um padrão ou modelo dito
ideal. (GOETZ et al., 2007, p.234).
Beleli (2007) debate essa produção de discursos dentro da publicidade e conclui que
mais do que divulgar novos produtos e tendências, a publicidade informa as pessoas quem elas
realmente são, remetendo-as ao assujeitamento de padrões socialmente aceitos. Ao mesmo
tempo em que o indivíduo é responsável pela manutenção e controle sobre si, a ciência lhe
fornece todo o aparato técno-científico para que ele possa manter sua imagem corporal dentro
dos padrões vigentes.
Dessa forma, conforme apontam Albino e Vaz (2008) em seu um estudo de caso sobre
a revista Boa Forma, as publicações acerca dessa temática apresentam uma série conjuntos
técnicos que parecem ser os principais métodos de disciplina e controle das formas corporais:
dietas, exercícios, cosméticos e tratamentos estéticos de outra natureza. Cada um deles terá suas
especificidades discutidas ao longo das páginas da revista, sendo posteriormente apresentados
espaços, periodicidades, intensidades, modos de aplicação, momentos de uso e instrumentos
adequados. Tudo é minuciosamente detalhado, acompanhado de instruções e imagens
ilustrativas para que o leitor possa vigiar sua conduta e acompanhar seus resultados. Na
disciplina dos corpos, essencial é o controle do processo.
40
Controle representado pelo esquadrinhamento, divisão e recorte da anatomia humana,
para que ela possa ser analisada de forma eficiente. Sua necessidade de racionalização cresce
na medida em que ela deve ser exibida e admirada. “Há uma “moralidade” na beleza que pode
ser outorgada como um dom, mas que é, sobretudo, o resultado possível de uma conduta
vinculada a um asceticismo necessário ao embelezamento” (ALBINO; VAZ, 2008. p.205).
Para isso, é necessária além da rotina de exercícios, uma dieta balanceada na qual há
um controle no número de calorias, quantidade de nutrientes, percentual de gordura, etc. O
acesso a essas informações, logo nos rótulos dos produtos, permite que as pessoas façam a
“escolha certa”, podendo assim dominar seus corpos. Essa interiorização da vigilância, por
meio da culpa, é um fator determinante para aqueles que desejam progresso e transformação.
Novaes (2005, p.7) explica que “de dever social (se conseguir, melhor), a beleza tornou-se um
dever moral (se quiser eu consigo). O fracasso não se deve mais a uma impossibilidade mais
ampla, mas a uma incapacidade individual”.
Além disso, destacam Albino e Vaz (2008), é possível classificar os diferentes “tipos”
de beleza de acordo com o biotipo do indivíduo: “esportista” e “sereia” são alguns exemplos.
Cada um deles irá receber recomendações específicas de embelezamento, prevalecendo a
máxima de que todos podem ser bonitos desde que invistam em si mesmos e cuidem de sua
saúde.
[...] O discurso cientificista, manifesta o espírito racionalista do tempo
presente que predica números e cálculos de custos e benefícios, determinando
investimentos. Ao mesmo tempo, uma vinculação mágica se combina com os
discursos científicos, talvez porque o corpo, como resultante do cruzamento
entre natureza e cultura, seja mesmo o território privilegiado para isso. Nas
predicações e justificativas para o desempenho corporal, isso atinge esferas
ainda mais altas porque a adesão à boa forma se dá pelas crenças nos
resultados rápidos e com prazo determinado, associados aos discursos
legitimadores dos especialistas de diversos tipos que oficiam os rituais de
embelezamento: dermatologista, nutricionista, personal trainer [...] entre
outros profissionais que cada vez mais são considerados indispensáveis na
busca (infinita) pela beleza (ALBINO; VAZ, 2008, p. 211).
Entretanto, apesar das pessoas terem de exercer a todo tempo esse autocontrole sobre
suas vontades, para que possam assim disciplinar seu corpo, essa missão lhes é transmita pela
mídia não como uma tarefa, mas como parte de sua rotina diária. Tais medidas devem ser
adotadas uma vez que o mesmo se “rebela”, precisando ser contido. A disciplina e o sofrimento
andam em conjunto, sendo que a ênfase recai sobre a primeira, enquanto a segundo é visto como
necessário para o alcance das metas e objetivos. Nas palavras de Novaes (2005, p.4) “o prazer
41
é irreversivelmente associado ao esforço, o sucesso à determinação, e a intensidade do esforço
é claramente proporcional à angústia provocada pelo olhar do outro”.
Surge então um vocabulário bélico de ações que devem tomadas para se exercer o tal
controle: “torrar gordurinhas”, “detonar” quilos extras, “contra-atacar” a gordura, fazer
“planos” e traçar “programas” (ALBINO; VAZ, 2008). Por meio da ciência a razão encontra o
poder de legitimar ações humanas, em especial as exercidas sobre o corpo. Nesse contexto, os
especialistas se tornam verdadeiras referências, não sendo permitido ter desconfianças frente
ao seu discurso. O fetichismo da linguagem técnico-científica empregada pelos veículos garante
o caráter “mágico” de suas publicações. Com isso, podemos concluir que:
A premissa de reconstituir e disciplinar o corpo para atingir a boa forma, nos
moldes em que esta passa a ser definida e vivida ao longo do século XX, passa
a ser um modo de viver a vida que deve ser incorporado ao cotidiano de cada
um/a, bem como uma alternativa de prazer, um modo de aliviar o estresse,
uma forma de divertimento e distração que conta com o uso de recursos
tecnológicos e científicos: cosméticos, cirurgias plásticas, dietas, academias,
massagens, atividades físicas (ANDRADE, 2003, p.139).
2.2. Um novo local de fala: as redes sociais
O ser humano possui a necessidade de se relacionar com outras pessoas e a forma como
isso ocorre pode ser diversifica, principalmente nos dias de hoje. O convívio entre os indivíduos
pode se dar por meio de associações de bairros, escolas, amizades, grupos políticos, entre
outros. Entretanto, um dos canais que mais vêm se destacando na atualidade são as mídias
sociais, que dão suporte às redes sociais na internet.
Ciribeli e Paiva (2011) explicam que as redes sociais estão presentes em quase todos os
lugares e são formadas por pessoas ou organizações que partilham valores e objetivos comuns,
não sendo limitadas a uma estrutura hierárquica. Já as mídias sociais, que apesar de estarem no
mesmo universo da primeira, seriam o meio ao qual as redes sociais utilizam para se comunicar.
As mídias dispõem de ferramentas que facilitam a dialogo entre os usuários, inteirando-os do
conteúdo gerado por eles mesmos.
As redes sociais que se formam por meio das plataformas e/ou ferramentas de
mídias sociais têm como palavras-chave para sua operação, entre outras:
colaboração, cooperação, replicação, fluxo, agilidade; e como palavras-chave
para sua constituição, entre outras: nó, hub (ponto central), componentes,
conexões e sinais (CORRÊA; SOUSA; RAMOS, 2009, p. 209).
42
O compartilhamento de conteúdos e o estabelecimento de conversações traduzem o
processo comunicativo posto em prática por meio das ambiências de mídias sociais. Esse
sistema se organiza, dentro do ciberespaço, através do contato entre os usuários por critérios
de afinidade e/ou similaridade temática, de interesses, de conhecimento ou até mesmo de
entretenimento. As redes se instalam em ambientes que possam oferecer aos sujeitos
funcionalidades que estimulem uma ação coletiva (CORRÊA; SOUSA; RAMOS, 2009).
As mídias sociais, dentre outros fatores que levam os usuários a fazerem parte delas, se
destacam por gerarem facilidade no processo de comunicação e por tornarem diferentes
informações acessíveis às pessoas (CIRIBELI; PAIVA, 2011). Além disso, de acordo com
Recuero (2009), a participação em redes sociais na internet independe da classe social,
destacando as lan houses como locais em que jovens das classes C e D podem ter acesso à rede
para poder interagir com seus amigos. Assim como os computadores e a internet, as mídias
sociais vieram para ficar. Elas já fazem parte da vida das pessoas, e a cada novo dia
diversificam-se suas formas de uso.
Esse espaço, constituído como “lugares de fala”, legitimados pelos
agrupamentos sociais, constroem as percepções que os indivíduos têm dos
atores sociais[...]É preciso, portanto, que para que se identifiquem e sejam
identificados, os indivíduos coloquem informações que contém um pouco
sobre a maneira como pensam e agem, criando uma individualidade própria,
para que possa gerar algum tipo de empatia no contexto anônimo do
ciberespaço. Esse requisito é fundamental para que a comunicação possa ser
estruturada. (PIZA, 2012; apud RECUERO, 2006)
O uso convencional da internet vem sendo renovado para a autobiografia, isto é, as
pessoas utilizam a rede como meio de transmissão informações sobre si e sua vida (SIBÍLIA,
2008). O usuário hoje é, ao mesmo tempo, autor, narrador e personagem de sua história nas
mídias sociais. Assim, conforme discorre Silva (2012), é possível encararmos a vida cotidiana
como uma sucessão de acontecimentos que se desdobram em um espaço bibliográfico: as linhas
do tempo ou timelines12. Agora, quem está em pauta é o “eu”, e isso fica claro ao analisarmos
a primeira frase que aparece ao abrirmos páginas como o Facebook e o Twitter: “No que você
está pensando?” e “O que está acontecendo?”, respectivamente. Ambas colocam o usuário em
destaque, sendo ele a principal razão de existir das diferentes mídias sociais.
Esses novos espaços de fala que vem sendo criados corroboram com a principal ideia
desse tempo: colaborar. “Verbo que posiciona e desloca simultaneamente o lugar do sujeito,
12 Espaço, dentro do perfil do usuário, no qual ele pode compartilhar informações sobre ele e sobre assuntos de
seu interesse, como fotos, vídeos, textos ou links para outros sites.
43
convidando-o a um constante trânsito de narração e de seu cotidiano” (SILVA, 2012, p.5). A
todo tempo estamos sendo estimulados a compartilhar o que estamos fazendo, revelando o
protagonismo do indivíduo em relação às mídias, conforme apontado por Türcke (2010). Em
tempos de “emito, logo existo”, os que eram antes apenas receptores, agora são sujeitos capazes
de produzir conteúdo de acordo com seu interesse.
É por meio desse exercício diário de colaboração que o usuário ganha status e
visibilidade, o que garante sociabilidade dentro da rede. Ao expor aos outros sua intimidade,
suas experiências e até mesmo seus padrões de consumo, pressupõe-se a promessa de ser visto
e assim novas interações vão sendo estabelecidas, aumentando cada vez mais seu ciclo social.
No intuito de construir referências identitárias conforme tendência contemporânea, é comum a
“atualização permanente - e sempre recente - das informações, por meio de fragmentos de
conteúdo adicionados a todo momento” (SIBÍLIA, 2008, p.116).
Recuero (2009) explica que esses fragmentos de conteúdo são peças fundamentais para
construir a imagem que o indivíduo deseja representar de si, ou seja, é por meio do conteúdo
que escolhemos compartilhar, que criamos uma representação acerca de nós mesmos e de nosso
estilo de vida. Carrera (2012, p.151) complementa afirmado que as mídias sociais são “matéria-
prima para a construção da sua subjetividade do ciberespaço, corroborando sua identificação a
gostos que atestam a sua suposta veracidade do ethos que deseja representar”.
Pode-se inferir que o nosso perfil, dentro das diversas redes em que estamos inseridos,
constrói o alicerce para o gerenciamento de nossa subjetividade. Goffman (1985) fala sobre os
papeis sociais exercidos por cada indivíduo, dentro ou fora de um grupo, nos quais há uma
obrigação de se transmitir uma certa mensagem na presença de alguns, e a exigência de não
compartilhar certas impressões na presença de outros, sempre empenhando seu papel, seja ele
individual ou em equipe. Dessa forma, o fato de se estar presente em uma mídia social já
demanda determinados comportamentos e regras a serem seguidas.
Nesse contexto, o papel da plateia para o sucesso da representação é essencial,
uma vez que a ela cabe a legitimação da imagem construída, do ethos
desejado. [...] O outro, assim, representa o lugar de legitimação do sujeito, em
um ambiente no qual é preciso “existir” de forma colaborativa. Sem a
cumplicidade do interlocutor, a identidade e os papeis representados não
adquirem validade necessária à interação (CARRERA, 2012, p.157).
44
Logo, a legitimação do “eu” se dá por meio do número de curtidas13, comentários e
seguidores que se tem, assim quanto maiores eles forem, maior será seu capital social14.
Entretanto, devemos destacar que diferentemente das interações que ocorrem face a face, as no
meio digital possuem uma característica específica: a possibilidade do gerenciamento da
resposta dos interlocutores. Dentro de seu perfil o usuário pode escolher quais mensagens
poderão continuar sendo expostas, caso contrário ele pode deletar todo o conteúdo que não lhe
agrada.
Goffman (1985) chama de intromissões inoportunas as mensagens indesejadas que
possam trazer abalos à representação do autor. Assim, mesmo com a possibilidade de ocultar
comentários indesejados, não é possível saber se houve ou não a visualização dos mesmos pelos
outros participantes da rede. Fica claro então que, ao estar conectado, o indivíduo vive uma
constante negociação com seu círculo social. Por consequência, podemos concluir que os
usuários das mídias sociais, ao mesmo tempo em que reafirmam práticas sociais já existentes,
ajudam a construir e legitimar a identidade do grupo que participam.
Nos é apresentado então uma das principais revoluções trazidas pela emergência das
redes sociais: a de dar voz ao cidadão comum. Hoje, não é mais necessário ser técnico ou
especialista em determinado assunto para discuti-lo, estamos a distância de alguns cliques, seja
por meio do celular, do tablet ou computador, de todo o conteúdo que a internet pode nos
oferecer. Embora saiba-se que o Brasil ainda apresenta problemas de conexão, como uma banda
larga que precisa melhorar, que não chega a todos os brasileiros e é cara, ainda sim destaca-se
a adesão do brasileiro às mídias sociais.
Segundo dados15 de 2014 da SurveyMonkey, em parceria com a Social@Ogilvy, os
brasileiros são os que passam mais tempo online nas mídias sociais, totalizando 13,8 horas
mensais. Em segundo lugar vem os russos com 10,8 horas, e os argentinos ficam em terceiro,
com 10,2 horas. Os Brasil também está entre os povos que mais compartilham conteúdo na
internet (71% dos internautas), ficando atrás apenas da China (80%) e de Hong Kong (73%).
13 Likes ou, em português, curtidas é um instrumento presente no aplicativo que simboliza o fato do usuário ter
gostado da publicação. A cada vez que uma pessoa dá um like em um post, todos os seus amigos no aplicativo
podem ver que ela gostou do conteúdo. 14 Capital social é um bem construído coletivamente, ou seja, construído pela participação das pessoas em um
grupo. Essa participação gera benefícios para os indivíduos, como por exemplo, o acesso à informações (que só é
obtido quando o indivíduo está conectado ao grupo) e para o grupo (que se beneficia do conhecimento individual).
Recuero (2011) acredita que na internet esse valor é construído com bem menos investimento, uma vez que estar
presente em um uma mídia social gera pouco custo. Dessa forma, a autora conclui que as redes sociais online
tendem a ser maiores, mais complexas e menos multimodais que as off-line. 15 Disponível em: < http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2014/07/brasileiros-lideram-ranking-de-horas-
gastas-em-redes-sociais-diz-estudo.html >. Acesso: 19/10/2014.
45
Segundo o levantamento, desses brasileiros que acessam as redes, 41% compartilham
conteúdos com o intuito de promoverem alguma causa e 21% têm como objetivo manter contato
com amigos.
Vivencia-se um processo que está em franca ascensão: a era da revolução do “eu”, na
qual o indivíduo é narrador, produtor e receptor de conteúdo. O sujeito ganha cada vez mais
voz e engaja-se de forma ativa nas diversas redes sociais, sejam elas on ou off-line.
2.3. Identidade e Identidade fitness
“As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em
declínio, fazendo surgir outras novas e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como
um sujeito unificado” (HALL, 2005, p. 7). Atualmente, não é mais possível falarmos sobre um
indivíduo de identidade única, o mundo, assim como as pessoas, encontra-se em constante
mudança, fazendo com que estejamos sempre nos adaptando. Segundo Hall (2005), esse
processo é o resultado de uma ampla mudança que vem deslocando as estruturas e os processos
centrais das sociedades modernas, abalando os antigos quadros de referência que davam aos
indivíduos uma ancoragem estável no mundo social.
Diferentemente do passado, tempo no qual havia-se uma maior estabilidade, cabendo
aos sujeitos o exercício de uma função específica dentro da sociedade, hoje as pessoas podem
cumprir diferentes papéis, dependendo de seu interesse. Essa dinamicidade trazida com essa
era faz com que nos identifiquemos com mais um tipo de padrão, permitindo a fragmentação
da nossa personalidade, isto é, ao mesmo tempo em que somos um sujeito único, possuímos
uma identificação multifacetada.
Percebe-se então que este acontecimento é fruto do momento histórico que estamos
vivenciando. Segundo Giddens (1938) a modernidade pode ser entendida por meio de duas
dimensões: o “mundo industrializado” e o capitalismo. Enquanto na primeira dimensão vemos
as relações sociais implicadas no uso generalizado da força material e do maquinário no
processo de produção, na segunda destacam-se os mercados competitivos e a mercantilização
da força de trabalho.
É nesse cenário, marcado pelo dinamismo, pela fluidez da informação, pela sociedade
em rede e pelo poder do capital que estamos inseridos hoje. Nos ajudando a entender melhor
esse ambiente, Giddens (1938) elenca três elementos principais que contextualizam esse
período:
46
Separação de tempo e espaço: a condição para a articulação das relações
sociais ao longo de amplos intervalos de espaço-tempo, incluindo sistemas
globais.
Mecanismos de desencaixe: constituem fichas simbólicas e sistemas
especializados (em conjunto = sistemas abstratos). Mecanismos de
desencaixe, separam a interação das particularidades do lugar.
Reflexividade Institucional: o uso regularizado do conhecimento sobre as
circunstâncias da vida social como elemento constitutivo de sua organização
e transformação (GIDDENS, 1938, p. 26).
Essas três influências dinâmicas nos ajudam a entender o que viriam as ser as mudanças
estruturais apontadas pelo autor, como por exemplo: a fragmentação das paisagens culturais de
classe, gênero, sexualidade, etnia, raça, nacionalidade, etc. Nesse contexto, já não é mais viável
sustentarmos a ideia de um indivíduo unificado, tendo em vista o abalo dos fatores que no
passado forneciam uma estabilidade social. Assim, completa Hall (2005), as identidades
pessoais, acompanhando esse processo de fragmentação, também mudam, afetando a ideia
tradicional que temos de nós mesmos como sujeitos integrados.
A modernidade acaba por introduzir um dinamismo elementar nas coisas e nas relações
humanas. Por consequência, o “eu” acaba sendo explorado e construído como parte de um
processo reflexivo que conecta as mudanças pessoais e sociais vivenciadas pelo indivíduo.
Corroborando com esse pensamento, Giddens (1938, p. 27) completa: “em tais circunstâncias,
os sistemas abstratos passam a estar centralmente envolvidos não só na ordem institucional da
modernidade mas também na formação e continuidade do eu”.
Nota-se que a contemporaneidade é marcada pelo quebra de paradigmas e tradições,
sendo caracterizada pelo rompimento e pela substituição do referencial protetor da pequena
comunidade para a instauração de organizações maiores e mais impessoais (GIDDENS, 1938).
Tal transformação caminha ao encontro dos pensamentos de Hall (2005) ao afirmar que, por
definição, as sociedades modernas são de mudança constante, rápida e permanente.
Portanto, é possível dizer que as diferenças identitárias são o que distinguem a
atualidade do passado. Hoje, múltiplas identidades são construídas e reconstruídas ao longo do
tempo, isto é, elas se desenvolvem em conjunto com a sociedade. Conclui-se então que “as
práticas sociais são constantemente examinadas e reformadas à luz das informações recebidas
sobre aquelas próprias práticas, alternando, assim, constitutivamente, seu caráter” (HALL, 2005
apud GIDDENS, 1990). Logo, questões como tempo e espaço são coordenadas básicas para
todos os sistemas de representação (escrita, desenho, pintura, arte, fotografia, etc.).
47
Tendo em mente esse amplo cenário, Hall (2005, p. 11 - 13) propõe três concepções
distintas de identidade: o sujeito do Iluminismo, o sujeito Sociológico e o Sujeito Pós-Moderno.
1. Sujeito do Iluminismo: baseado em uma concepção da pessoa humana como um
indivíduo centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência
e de ação. A identidade estaria situada em um núcleo interior do sujeito,
nascendo e se desenvolvendo com ele, ainda que permanecendo essencialmente
a mesma - idêntica - ao longo de sua existência. O centro indispensável do eu
seria a identidade de uma pessoa.
2. Sujeito Sociológico: essa concepção reflete a complexidade do mundo moderno
e a consciência de que esse núcleo interior do sujeito não é autônomo e
autossuficiente, sendo formado, também, pela interação entre o eu e a sociedade.
O homem ainda possui sua essência interior, seu “eu real”, mas este é formado
e modificado em um diálogo continuo com os mundos culturais exteriores a ele.
A identidade, nesse caso, preenche o espaço entre o “interior” e o “exterior”,
entre o mundo pessoal e o público. Assim, ao mesmo tempo em que projetamos
“nós mesmos”, também internalizamos diferentes significados e valores,
tornando-os “parte de nós”. Conclui-se então que o sujeito previamente vivido,
como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado;
composto não apenas de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes
contraditórias ou não resolvidas.
3. Sujeito Pós-Moderno: nesta concepção o indivíduo é visto como não tendo uma
identidade fixa, essencial ou permanente. Ele assume identidades diferentes em
diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu”
coerente. Fica claro o caráter móvel das identificações, ou seja, à medida que os
sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos
apresentados a uma multiplicidade de identidades possíveis, com cada uma das
quais poderíamos nos identificar, mesmo que temporariamente.
Depreende-se dessas explicações que atualmente as pessoas procuram se identificar com
aquilo que lhes agrada no momento presente, não se prendendo a ele de forma definitiva. No
futuro outras opções interessantes de significação podem surgir, fazendo maior ou menor
sentido para os sujeitos, o que gera esse caráter temporário das identidades. Ao mesmo tempo
em que possuímos um núcleo individual, aquilo que nasce e se desenvolve junto conosco ao
48
longo de nossas vidas, também somos influenciados e moldados de acordo com o ambiente
cultural em que estamos inseridos. Assim, somos o resultado da união entre um eu “individual”
e um eu “coletivo”. Por consequência, estamos em constante reformulação, não havendo uma
identidade única e imutável.
Nesse sentido, cada indivíduo busca adotar um estilo de vida que se adapte às suas
necessidades pessoais. Giddens (1938) define a expressão “estilo de vida” como um conjunto
mais ou menos integrado de práticas que uma pessoa abraça, não só porque essas práticas
preenchem necessidades utilitárias, mas porque dão forma material a uma narrativa particular
de auto identidade. Percebe-se que esse termo não é aplicável em sociedades tradicionais, uma
vez que implica a escolha dentro de uma pluralidade de opções. Logo, os estilos de vida são
práticas de rotina incorporadas em hábitos de vestir, comer, modos de agir e lugares preferidos
de encontrar os outros. Entretanto, deve-se destacar o fato das rotinas estarem abertas a
mudanças, tendo em mente o caráter mutável das identidades.
Assim, “todas essas escolhas (assim como as maiores e mais importantes) são decisões
não só sobre como agir, mas também sobre quem ser. Quanto mais pós-tradicionais as situações,
mais o estilo de vida diz respeito ao próprio centro de auto identidade, seu fazer e refazer”
(GIDDENS, 1938, p. 80). Nesse mundo de inúmeras opções e alternativas, o planejamento
estratégico da vida assume um papel de extrema importância. Em suma, ele é reflexo
organizativo do “eu”.
Logo, planejar nossa rotina nada mais é do que preparar um curso de ações mobilizadas
em termos da biografia do eu. Definimos horários para acordar, comer, sair, ir à academia,
dormir, etc. Tudo é pensando de acordo com as práticas que adotamos, da menor a maior
escolha. Vemos então que a disposição de tempo a ser investido em cada uma dessas escolhas
é proporcional aquilo que consideramos importantes, ou seja, é um reflexo de nosso estilo de
vida.
Agora, após havermos trilhado todo esse percurso que teve início nas discussões sobre
as apropriações do corpo ao longo da história, do que é imagem corporal, a relação existente
entre o corpo e a saúde e de como esse assunto vem sendo abordado na mídia, chegamos em
um momento crucial para que possamos dar continuidade a esta pesquisa: o esboço do que vem
a ser uma identidade fitness.
A praxes fitness, conforme visto, é o resultado da adoção de hábitos saudáveis (cuidados
com a higiene corporal, a suspensão do uso do tabaco e a limitação de ingestão de álcool,
49
práticas de relaxamento e meditação, execução de exercícios físicos na dosagem correta, etc.),
em conjunto com um equilíbrio emocional, intelectual e social. Nessa perspectiva, a
preocupação com a ecologia do corpo seria o núcleo interior desse estilo de vida, enquanto a
atenção aos hábitos saudáveis seriam as influências externas à ele.
Consequentemente, a identidade fitness pode ser caracterizada como a consonância
entre o corpo e a mente, na busca por resultados que são específicos ao indivíduo, isto é, cada
pessoa possui uma visão pessoal do que viram ser os mesmos. Enquanto alguns podem
considerar o corpo hipertrofiado como sua maior conquista, outros são depositam seu resultado
na construção de uma rotina saudável. Ressalta-se o caráter subjetivo das identidades, sendo
elas uma representação pessoal de cada sujeito, o que os une são as práticas e comportamentos
adotados por eles.
Depreende-se então que os indivíduos dão forma a suas personalidades de maneiras
específicas. Apesar de todos estarem dentro de um mesmo grupo, o fitness, cada um reflete o
seu “eu” dentro de uma perspectiva. Isso fica claro ao analisarmos as 10 contas selecionadas
para estudo. Os perfis escolhidos apresentam suas rotinas de modo individual, ainda que todos
propaguem o mesmo estilo de vida.
Nesse contexto, as mídias sociais emergem como o espaço no qual as identidades
ganham materialidade. Por meio de suas diferentes ferramentas, sejam elas textos, fotos, vídeos,
colagens, áudios ou quaisquer outros instrumentos, elas dão vida a algo intangível. Dessa forma,
as linhas do tempo se tornam o ambiente ideal para o compartilhamento de informações acerca
de si, sendo elas o reflexo organizativo de nossa identidade.
50
CAPÍTULO III
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Chegamos a uma parte de extrema importância neste trabalho, a determinação dos
procedimentos metodológicos que serão utilizados para que possamos alcançar o objetivo dessa
monografia: esboçar como se constrói, funciona e se organiza a identidade fitness dentro do
Instagram. Tendo esse desafio em mente, caminhou-se durante dois capítulos entre os conceitos
fundamentais que abrangem a temática fitness (Corpo, Saúde e Imagem Corporal) e a
recorrência desse assunto na mídia, que é fortemente atrelada a um discurso científico para
legitimar as informações divulgadas, e finalmente, introduzindo as mídias sociais como um
novo local de fala do indivíduo, revolucionando a maneira tradicional de produção e divulgação
de conteúdo.
As redes sociais, com o advento das mídias sociais, ganharam um novo espaço de
diálogo: a internet. Agora, as informações circulam de forma cada vez mais rápida e em um
formato multidirecional, não havendo apenas um interlocutor, mas sim uma variedade de
pessoas se comunicando. Além disso, a questão geográfica que antes limitava o alcance das
redes, atualmente não é mais um problema. Os sujeitos não necessitam estarem próximos
fisicamente para que possam interagir. Por meio de seus celulares, tablets, notebooks e
computadores, as pessoas estão a alguns cliques de distância umas das outras.
É nesse contexto que está inserido o objeto de estudo dessa monografia. O que estamos
vivenciando ainda é novo se considerarmos que o aplicativo completou quatro anos em agosto
de 2014. Ao longo desse período várias mudanças foram instauradas para que ele possuísse a
abrangência e a popularidade que tem hoje. Por este motivo, antes de discutirmos os
procedimentos metodológicos adotados para esta pesquisa, apresentaremos brevemente o que
é, como funciona, quais são suas principais ferramentas e como se estabelecem as dinâmicas de
uso dentro do Instagram. Por último, serão expostos alguns dados numéricos sobre ele,
demonstrando sua alta aceitabilidade e disseminação.
A exibição de seus instrumentos se faz importante visto que alguns dos critérios de
seleção dos perfis a serem estudados só podem ser compreendidos a partir do momento em que
o leitor conhece as dinâmicas desta mídia social.
51
3.1. O fenômeno Instagram
O Instagram surgiu ao público no dia 6 de outubro de 2010, desenvolvido pelos
engenheiros de programação Kevin Systrom e pelo brasileiro Mike Krieger. Segundo os
próprios criadores, o mesmo tem como objetivo resgatar a nostalgia do instantâneo, sentimento
que antes estava relacionado ao uso de câmeras fotográficas de filme e polaroides, maquinas
cujas fotos revelam-se no ato do disparo. Para utilização do aplicativo é necessário ter um
smartphone ou tablet com câmera, no entanto, é mais utilizado por aqueles que possuem o
primeiro.
Por ser gratuito, seu acesso e disseminação fica facilitado. Ele encontra-se disponível
para download na Apple Store, para os usuários de Iphone, e na Play Store, para os usuários de
aparelhos Android, que são lojas virtuais nas quais ficam hospedados uma gama de aplicativos
que estão à disposição daqueles que desejarem tê-los em seu aparelho. Uma vez instalado, faz-
se necessário um cadastro básico e a escolha de um username16, que passará a identificar o
indivíduo dentro da rede. Neste ponto, vale enfatizar o fato do nome escolhido pode definir o
“grupo” do qual a pessoa participa, sendo muito comum, dentro do universo fitness, a utilização
do termo fitness no seu nome de usuário (ex: bela_fitness). Além disso, é necessária uma
imagem de si próprio ou de algo para representar visualmente o usuário.
O compartilhamento de fotos na rede pode ser realizado de duas formas: fotografar a
partir do próprio aplicativo ou aproveitar alguma imagem que já esteja no álbum do celular.
Entretanto, “apesar das várias possibilidades de subir uma imagem, existe uma regra subjetiva
que é seguida por parte dos usuários, que é a de fotografar exclusivamente com o celular”
(PIZA, 2012, p.8). Após a escolha da fotografia, é possível dar um título a ela, seja para dizer
onde ela foi tirada ou para escrever uma frase simbólica com significado subjetivo para ilustra-
la. Em seguida, há a opção de se marcar a geolocalização17 de onde ela foi tirada, de se marcar
os usuários (desde que estes tenham uma conta na rede) presentes na mesma e também de
compartilhar a imagem em outras redes sociais como o Facebook e/ou o Twitter.
Um dos principais motivos para o destaque do Instagram é a possibilidade de se aplicar
filtros18 para incrementar as fotografias. O aplicativo em si já possui 20 possibilidades
diferentes para a escolha do indivíduo. No geral, eles dão a imagem um aspecto envelhecido,
16 Nome de usuário, em português. 17 A geolocalização é um recurso que descobre a sua localização geográfica por meio do seu celular ou navegador.
Para descobrir onde você está, pode ser usado o GPS do celular ou mesmo seu endereço de internet. 18 Um filtro fotográfico é um acessório de câmera fotográfica ou de vídeo que possibilita o manejo de cores e/ou
a obtenção de efeitos de luz pela sua inserção no caminho ótico da imagem.
52
remetendo as câmeras analógicas. Assim, as formas de criação se tornam ilimitadas, o que atrai
diversos internautas, exatamente pelo fato de proporcionar individualidade aos mesmos. A
facilidade e a rapidez de edição são fatores que ressaltam o aplicativo. Nesse sentido, ele parece
unificar comunicação e imagem, justamente por ser pautado no sujeito.
Figura 2 - Exemplificação dos filtros presentes no aplicativo
Fonte: Instagram
É importante salientar que não há um consenso técnico ou mesmo a existência de regras
para a publicação e a apreciação de imagens na rede. As composições fotográficas não
obedecem um formato específico, típico das imagens tradicionais. Não que esses aspectos sejam
descartados, “mas há nesta rede uma forma de narrativa que se sobrepõe a isto e portanto
alimenta a profusão de imagens” (SILVA, 2012, p.6). Refletindo sobre essa nova maneira de
se fotografar por um viés comunicacional, verifica-se que o Instagram dá ao sujeito o status de
observador e protagonista quanto ao conteúdo produzido, na medida em que ele compartilha
seu cotidiano e acompanha a vida de outros usurários por meio de suas publicações.
Como resultado desse processo, muitos internautas ficam preocupados com a
repercussão da imagem publicada, aguardando um retorno da audiência por meio das opções
“curtir” ou “comentar” a foto. Fica evidente o aspecto significativo das redes sociais nos dias
de hoje: o desejo de ver e ser visto, que está presente desde o cadastro na rede. A base de
53
relacionamento do aplicativo se mantém entorno de ter amigos ou seguidores19, informações
que se encontram no topo de cada perfil. Ali também estão presentes dados como o nome do
usuário, foto do perfil, quantidade de imagens publicadas, quantos seguidores a conta possui e
quantas pessoas está seguindo.
Figura 3 - Apresentação de um perfil
Fonte: Instagram
Para explicar melhor a imagem acima colocamos números que representam espaços
importantes dentro de cada perfil, seguindo sua ordem numérica temos: foto que ilustra o perfil,
biografia, fotos publicadas pelo usuário, nome do usuário, número de fotos publicadas, número
de seguidores e número de usuários que segue, respectivamente.
Outra função que tem como objetivo promover a interação entre os usuários é a busca
por diferentes contas na sessão “popular”, local no qual estão presentes as imagens mais
curtidas no momento. Ao selecionar qualquer foto dessa página, a pessoa poderá visualizar
todas as outras fotos enviadas por este perfil. Existem ainda as hashtags, que são um comando
19 Indivíduos que estão vinculados à conta de usuários, com o intuito de acompanhar continuamente as atualizações
do outro na rede.
54
que tem como intuito agrupar imagens relacionadas a determinados assuntos pautados em um
tópico específico de interesse do usuário. Para criar uma hashtag é necessário taguear20 uma
fotografia com o símbolo #, mais uma descrição do assunto (ex: #love, #sol, #saúde, #amigos
e assim por diante). Quando o usuário clicar em uma hashtag, todas as imagens tagueadas com
localizadores iguais irão aparecer.
Figura 4 - Exemplificação da sessão "popular" do aplicativo
Fonte: Instagram
Assim como no caso anterior, para melhor exemplificarmos a sessão “popular”, foram
utilizados os números 1 e 2, que representam a quantidade de fotos disponíveis com a mesma
hashtag e as imagens agrupadas com igual tag, respectivamente. Vê-se então que o Instagram
possui uma dinâmica organizativa que estimula os indivíduos a estarem em constante contato,
além de convidá-los a todo instante a compartilhar o que estão fazendo e categorizar suas
atividades dentro de hashtags.
Podemos dizer que este aplicativo consolida a demanda narrativa e de
visibilidade do sujeito contemporâneo. Por estas e outras razões mobiliza
milhões de pessoas, confrontando o modelo convencional de se fotografar
mesmo na era digital e otimizando o processo de edição de imagens (SILVA,
2012, p.4).
20 "Tags” são palavras-chaves que o usuário pode adicionar aos favoritos que quer salvar para ajudá-lo a organizar
seu conteúdo. Em vez de organizar os favoritos em uma estrutura tradicional de pastas, é possível "taguear" uma
página com várias tags.
55
Isso nos ajuda a entender o porquê esta rede, lançada em outubro de 2010, em apenas
três anos, alcançou 150 milhões de usuários ativos, tendo um ritmo de crescimento maior do
que o do Twitter e do Facebook. Traduzido em 25 idiomas, seis em cada dez utilizadores são
de fora dos Estados Unidos. Além disso, 57% deles acessam o aplicativo diariamente, dos quais
35% utilizam o mesmo mais de uma vez ao dia. Em média, as pessoas gastam duzentos e
cinquenta e sete minutos por mês no Instagram.
Segundo dados de 2014 do Maxime Social Bussines (MCB)21, grupo especializado em
pesquisas e treinamentos em mídias sociais, desde o lançamento 16 bilhões de imagens já foram
publicadas, havendo uma média de 55 milhões de fotografias novas por dia. A cada segundo
são registrados 8.500 likes e 1.000 comentários, o que deixa o nível de interação do aplicativo
15 vezes maior que o do Facebook. O filtro mais popular é o normal (#NoFilter), presente em
50% das fotos na rede, enquanto a hashtag mais utilizada é #love (amor em português). A cada
dez fotos publicadas, oito apresentam pelo menos uma tag.
Em termos de organizações, aponta o MCB, mais de 1.300 marcas consideradas grandes
estão presentes no aplicativo. As 50 mais populares têm, em média, 722.000 seguidores, tendo
como líder global a Nike, com mais de 6 milhões. Por semana, essas páginas postam 5,5 vezes,
sabendo que 10 em cada 9 delas já publicou pelo menos um vídeo na rede, apesar de seu uso
ainda ser baixo, correspondendo a 6% do total de publicações.
Conclui-se que “o fenômeno Instagram é consequência de um processo dinâmico,
resultante das condições propícias da era da tecnologia da informação” (PIZA, 2012, p. 43).
Assim, a quantidade de usuários presente no aplicativo pode indicar uma preferência pela
rapidez e pela dinâmica de propagação de dados. Além disso, o indivíduo é a peça chave para
seu funcionamento, o que agrega valor a esta rede social.
3.2. Critérios de seleção dos perfis a serem estudados
Ao falarmos de assuntos como saúde, corpo, exercícios e por fim sobre a temática
fitness, vários são os resultados encontrados, o que nos mostra a abrangência dessa questão na
atualidade. Em uma busca rápida ao Google22, digitando a seguinte frase: “Perfis Fitness
Instagram”, em menos de 1 segundo aparecem 52.900 resultados, com mais de 50 páginas de
busca em português. Já no Instagram, ao digitarmos a hashtag #fitness, mais de 48 tipos de
21 Disponível em: < http://maximizesocialbusiness.com/instagram-stats-need-know-12772/ > Acesso:
21/10/2014 22 Um indexador de buscas na internet: www.google.com.br.
56
variação com a tag fitness aparecem. A inscrição mais popular (#fitness), com mais de 51
milhões de publicações, e a menos popular (#fitnessapparel), com 30 mil publicações.
Figura 5 - Resultado da busca pela hashtag fitness (#fitness)
Fonte: Instagram
Entretanto, ao fazermos a mesma pesquisa buscando identificar os usuários que
possuem em seu “nome” a palavra fitness, o resultado diminui para o número de 49 perfis.
Dentre eles, em sua grande maioria, estão lojas de suplementação/alimentação saudável ou
perfis motivacionais. Enfatiza-se mais uma vez o imaginário existente entre o corpo, a mente e
a saúde: uma alimentação saudável, seguida por uma rotina de exercícios, deixará o sujeito com
um corpo bonito e saudável, gerando sociabilidade. Essa associação corrobora com a ideia de
onipotência dos indivíduos: se eu quiser algo e me esforçar para isso, eu consigo alcançar meus
objetivos. Novamente, não há mais desculpas para ser “feio” ou estar “fora de forma”.
Em um universo tão grande e complexo, faz-se necessária a seleção de uma amostra
para que se possa estudar de forma mais profunda, como essas identidades são construídas
dentro do Instagram e de que forma esses perfis se comunicam com seus seguidores. Para isso,
foram elaborados cinco critérios de seleção, sendo eles:
1. Ter mais de 40 mil seguidores: Apesar de estarmos tratando de um tema amplamente
divulgado e debatido atualmente, as questões levantas por ele são extremamente
específicas: alimentação, práticas saudáveis, cuidados com corpo, exercícios, etc. Desta
forma, possuir mais de 40 mil seguidores, tendo em mente essa especificidade, é tida
57
como uma quantidade expressiva. Não são muitos os indivíduos que tem interesse em
seguir um perfil que aborde diariamente um assunto tão particular. Assim, possuir esse
alto número de usuários seguindo sua conta demonstra sua influência dentro da rede.
Ainda mais, ao saberemos que a grande maioria dos perfis são seguidos apenas por
pessoas dentro do seu círculo social.
2. Possuir mais de 1100 publicações: A escolha desse número não foi ao acaso, se
dividirmos esse valor pela quantidade de dias que possuímos no ano, 365, o resultado é
aproximadamente 3 posts diários, um para cada período do dia (manhã, tarde e noite).
Logo, fica clara a assiduidade do perfil na rede, revelando a vontade do utilizador em
compartilhar o seu dia a dia e seu estilo de vida. Embora o Instagram não divulgue a
média de publicações por usuário, acredita-se que pelo menos 3 publicações diárias seja
uma cifra expressiva.
3. Caráter motivacional em suas publicações: Todos os perfis selecionados são contas
pessoais, não havendo nenhuma que represente uma organização. Além disso, estas
contas se comprometem não somente a falar de sua rotina ativa e saudável, mas também
a motivar e encorajar outras pessoas a cumprem a mesma, o que destaca o discurso
motivacional como estratégia de formação de laços.
4. Ser, dentro da rede, referência na temática fitness: Todos os perfis selecionados,
independentemente da área de formação e/ou atuação do responsável, são considerados
referência quando falamos sobre o estilo de vida fitness. Tal popularidade é expressa
pelo número de seguidores, comentários e likes presentes nessas páginas.
Diferentemente da mídia tradicional, espaço no qual uma figura ganha destaque ao
aparecer nos grandes veículos, no Instagram a relevância de um perfil é exposta por
meio desses dados.
5. Serem contas brasileiras.
Tendo como base esses cinco critérios, dezenove perfis poderiam ser estudados.
Entretanto, por escolha do pesquisador, decidiu-se trabalhar apenas com dez contas, adotando
como critério final de seleção as páginas que possuíssem o maior número de seguidores. Optou-
se por essa quantidade ao levarmos em consideração o fato de todos os perfis levantados serem
ativos na rede, havendo uma quantidade significativa de postagens diárias, permitindo um
estudo profundo sobre o assunto. Gil (1995) acredita que ao selecionarmos uma pequena parte
de uma população é importante que ela seja representativa.
58
Assim sendo, a relevância do conteúdo produzido e os critérios de seleção elencados
anteriormente são os fatores que buscaram garantir a representatividade desse grupo. Outra
questão importante para a escolha da amostragem foi o tempo disponível para a pesquisa, uma
quantidade maior do que essa impossibilitaria o estudo. Logo, foram elegidos os seguintes
perfis, elencados a seguir pelo seu número de seguidores:
Quadro 1 - Listas dos perfis selecionados
Perfis Selecionados
Nome Seguidores Publicações
FikaFitness23 49.000 1.320
MarinaIris24 90.806 4.135
Kilorias25 98.000 1.271
Penelope_Nova26 119.00 1.102
FrangoComBatataDoce27 210.000 2.161
CarolBuffara28 357.000 6.530
BlogDaMimis29 505.000 4.221
GabrielaPugliesi30 772.000 6.541
Bella.Falconi31 1,1 milhões 6.313
GraOficial32 1,2 milhões 5.881
Fonte: autoria própria
3.3. O caminho das pedras
A pesquisa social, como é o caso dessa monografia, é um processo que utiliza da
metodologia cientifica para obtenção de novos conhecimentos no campo da realidade social,
que pode ser entendida como todos os aspectos relativos ao homem em seus múltiplos
relacionamentos com outros indivíduos e instituições sociais (GIL, 1995).
Para isso, adotou-se o nível de pesquisa exploratória como norte deste projeto. Esse tipo
de abordagem, de acordo com Gil (1995), tem como finalidade desenvolver, esclarecer e
modificar conceitos e ideias, com vistas na formulação de problemas mais precisos ou hipóteses
pesquisáveis para estudos posteriores. Assim sendo, tem-se como objetivo a busca por uma
23 www.instagram.com/fikafitness 24 www.instagram.com/marinairis 25 www.instagram.com/kilorias 26 www.instagram.com/penelope_nova 27 www.instagram.com/frangocombatatadoce 28 www.instagram.com/carolbufara 29 www.instagram.com/blogdamimis 30 www.instagram.com/gabrielapugliesi 31 www.instagram.com/bella.falconi 32 www.instagram.com/graoficial
59
visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato, consistindo como uma primeira
etapa de uma investigação mais ampla. O produto final desse processo será então um problema
mais esclarecido, passível de investigação, mediante processos mais sistemáticos.
Ou seja, aqui trabalharemos os perfis fitness do Instagram dentro de uma série de
categorias descritas posteriormente nesse capítulo, para que depois seja possível analisar como
sua identidade é construída nessa rede social. Optou-se especificamente pela perspectiva
exploratória pelo fato do tema abordado ser pouco discutido, tonando-se difícil a formulação
de hipóteses precisas e operacionalizáveis. O interesse por esse assunto surgiu pela razão do
mesmo, apesar de ser amplamente debatido, sobretudo pelos veículos de comunicação, possuir
pouca produção científica acerca das identidades construídas nas mídias sociais, em especial o
Instagram.
A partir desse delineamento do tema da pesquisa, estabeleceu-se um sistema conceitual
de assuntos relacionados ao objeto de estudo, para que o problema assumisse significado
científico. Agora, serão apresentadas as estratégias adotadas para que seja possível realizar o
contraste entre a teoria apresentada e os fatos a serem analisados, ou seja, os meios técnicos de
investigação.
3.3.1. Pesquisa Bibliográfica
“A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituída
principalmente de livros e artigos científicos” (GIL, 1995, p.71). Apesar de todos os estudos
exigirem algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas realizadas exclusivamente a partir
de fontes bibliográficas. Nesta monografia, tal metodologia foi utilizada como base para o
levantamento de dados sobre os assuntos que envolvem e dão sentido a prática fitness. Foi a
partir desses conhecimentos que se tornou possível a elaboração de toda discussão realizada até
o momento nesse trabalho.
Essa técnica permite o entendimento de fatos e fenômenos que são muito mais amplos
do que se pode pesquisar diretamente, como o levantamento das percepções do corpo ao longo
da história, o debate sobre o surgimento das academias e também como o corpo vem sendo
apropriado pelo mercado e pela mídia. Gil (1995, p.72) conclui que “em muitas situações, não
há outra maneira de conhecer os fatos passados senão com base em dados secundários”.
60
Sendo assim, a pesquisa bibliográfica constituiu o primeiro passo a ser seguido para dar
ao nosso objeto de estudo caráter científico, aprofundando as discussões acerca dessa temática
e apresentando os conceitos básicos que a envolvem. Foi a partir desse levantamento que se
tornou possível sustentar todas as proposições e análises que serão apresentadas no próximo
capítulo.
Para isso, foram expostos os pensamentos de diversos autores, de diferentes áreas do
conhecimento, desde a sociologia à educação física. Entre eles: Cassimiro e Galdino (2012),
que nos ajudam a fazer uma perspectiva história das apropriações da percepção do corpo ao
longo do tempo. Já Tavares (2003), Barros (2005) e Cash e Puzinsky (1990) discorrem sobre a
Imagem Corporal. Segre (1997), Sabino (2002) e Berlinguer (1999) discutem o conceito de
saúde, dissertam sobre a chamada “indústria da saúde” e finalmente falam sobre a “saúde
global” como finalidade social desejável nos dias de hoje.
Além deles, Moraes (2006), Rodrigues (2012) e Dantas (2009) nos trazem o contexto
em que surgem as primeiras academias, em que época iniciou-se a demanda por profissionais
de nível superior em educação física e nos apresentam a definição do termo fitness,
respectivamente. Ciribeli e Paiva (2011) discutem a diferença entre as redes e as mídias sociais,
enquanto Recuero (2009) explica que a presença dos indivíduos nas mídias sociais independe
de sua classe social. Complementando esse pensamento, Síbilia (2008) e Silva (2012) falam
sobre a renovação do uso tradicional da internet para a autobiografia. Por fim, são trazidas as
contribuições de Giddens (1938) e Hall (2005) acerca da construção de identidades.
Conclui-se então que aqui a pesquisa bibliográfica foi utilizada como fonte de
entendimento do passado para que fosse possível a construção de um quadro geral sobre o
presente, nos dando a base teórica necessária para propormos como esse processo vem se
instaurando, especialmente no que diz respeito à construção de identidades.
3.3.2. Entrevistas
Uma das propostas deste trabalho foi à realização de entrevistas com os gestores dos
perfis analisados, buscando apresentar suas visões acerca da temática fitness e tentando
entender de que forma eles se organizam e planejam para transmitir os conteúdos publicados
em suas páginas. Dessa forma, poder-se-ia obter uma visão “backstage” de como essa
identidade ganha materialidade.
61
Contudo, apesar de todo esforço empregado na elaboração das perguntas, seu indicie
de resposta foi muito baixo. Apenas 10% do total de entrevistados, isto é, um perfil, enviaram
o feedback das questões levantadas. Por este motivo essa técnica foi desconsiderada na análise
de resultados, uma vez que um percentual tão baixo de respostas inviabiliza o caráter científico
desse método. No entanto, optou-se por deixar este tópico no trabalho para exemplificar todos
os caminhos pensados e estruturados durante essa jornada para que se fosse possível chegar ao
objetivo proposto: entender como a identidade fitness é estruturada no Instagram.
Tendo em vista a disposição geográfica dos perfis selecionados, as entrevistas foram
realizadas por meio eletrônico, envio de e-mails aos gestores, considerando a inviabilidade
técnica do pesquisador encontra-se com todos eles. O quadro a seguir apresenta sua
distribuição:
Quadro 2 - Distribuição geográfica dos perfis selecionados
Perfil – Localidade
Nome Localidade
FikaFitness Campinas / SP
MarinaIris Bauru / SP
Kilorias São Paulo / SP
Penelope_Nova São Paulo / SP
FrangoComBatataDoce Rio de Janeiro / RJ
CarolBuffara Rio de Janeiro / RJ
BlogDaMimis Florianópolis / SC
GabrielaPugluiesi Rio de Janeiro / RJ
GraOficial São Paulo / SP
Bella.Falconi Orlando - Flórida / Estados Unidos
Fonte: autoria própria
Apesar dos contatos não terem sido estabelecidos de forma presencial, seus objetivos
são os mesmos de uma entrevista convencional, voltados para o diagnóstico e para orientação
(GIL, 1995). Conhecendo a especificidade do público abordado, optou-se pela entrevista
focalizada. Caracterizada por abordar um tema particular essa aproximação tem como objetivo
a obtenção de uma visão geral do problema pesquisado, bem com a identificação de alguns
aspectos da personalidade do abordado.
Para isso, foram elaboradas sete perguntas abertas vislumbrando um melhor
entendimento do objeto de estudo. A escolha do número de questões foi baseada no formato
62
em que elas seriam enviadas, eletrônico, e também refletindo sobre a disposição do pesquisado
em respondê-las, considerando o fato de que quando estamos utilizando o computador nossa
atenção é disputada por sites, aplicativos, músicas, jogos, entre outros. Optou-se então por
reduzir a quantidade de questões na tentativa de fazer com que o entrevistado respondesse de
forma mais profunda o que lhe foi perguntado, permitindo uma análise mais elabora das
respostas.
Os questionamentos levantados buscavam entender como funciona a rotina de produção
de conteúdo desses perfis, de que forma eles abordam a temática fitness dentro de seus posts,
suas principais motivações para continuarem suas rotinas de treinos e alimentação controladas
e, por fim, o que é ser fitness para eles. O roteiro da entrevista encontra-se no apêndice desta
monografia, na página 94.
3.3.3. Análise de Conteúdo
Para Bardin (1979), a análise de conteúdo abrange iniciativas de explicitação,
sistematização e expressão do conteúdo de mensagens, com a finalidade de se efetuarem
deduções lógicas e justificáveis a respeito da origem das mesmas (quem as emitiu, em que
contexto, e/ou que efeitos se pretende causar por causa delas). Ou seja, ela é:
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por
procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitiriam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) destas mensagens (BARDIN, 1979, p.42).
De acordo com a definição apresentada esse procedimento metodológico oscila entre
dois polos que envolvem a investigação científica: o rigor da objetividade e a fecundidade da
subjetividade. Como resultado desse processo há a elaboração de categorias qualitativas e/ou
quantitativas que devem levar o pesquisador a uma nova leitura da comunicação, baseando-se
na dedução e na inferência. Essa nova compreensão do material analisado, que vem substituir
a leitura “normal” por parte dos leigos, tem como objetivo revelar o que está escondido, latente
ou subentendido nas mensagens.
Para isso, Bardin (1979) enumera três etapas que devem ser seguidas visando uma
melhor compreensão do material a ser analisado:
63
1. Pré-Análise: essa etapa consiste na escolha do material a ser estudado (o corpus), a
definição dos objetivos da análise e, por fim, a elaboração de indicadores e/ou
categorias que fundamentem a interpretação final;
2. Codificação: processo no qual os dados brutos são transformados sistematicamente
e agregados em unidades (as quais permitem uma descrição mais clara do conteúdo
analisado);
3. Tratamento dos resultados: inferência e interpretação, nessa etapa são apresentados
os principais resultados fornecidos pelas análises.
Conclui-se então que a análise de conteúdo concebe ao pesquisar um conjunto de
procedimentos sistemáticos que determinam o caminho a ser seguido, para que se possa chegar
a uma nova compreensão do material estudado, permitindo a construção de novos
conhecimentos. Dessa forma, as categorias levantadas devem possuir atributos fortes que
definam sua qualidade, em termos de expressão dos significados contidos no objeto estudado.
Neste capítulo abordaremos a fase de pré-análise, apresentando o período de tempo em
que analisaremos os perfis, definindo o objetivo desse estudo e finalmente apresentado as
categorias elaboradas para que seja possível a aplicação desse método. Já na próxima e última
parte desta monografia, apresentaremos os principais resultados encontrados (codificação) após
essa análise, junto com as conclusões e considerações finais (tratamento dos resultados) acerca
desse tema.
Quadro 3 - Explicação dos requisitos para pré-análise
Requisitos da Pré-Análise
Período de publicações a ser analisado
Tendo em mente a assiduidade de
publicações dos perfis, havendo pelo menos
três posts diários, optou-se por trabalhar com
eles no período de uma semana. Assim,
analisamos as 10 contas nas seguintes datas:
de 29/09/2014 até 05/10/2014.
Objetivo da análise
Esboçar como se constrói, funciona e
organiza a identidade fitness dentro do
Instagram.
Quantidade de categorias elencadas
Foram elaboradas quatro categorias para que
possamos classificar e identificar de que
forma a identidade fitness é trabalhada
dentro do Instagram.
Fonte: autoria própria.
64
Dentro de todo o leque de possibilidade de análise dos perfis, desde seu nome até a
escolha da imagem do usuário, optou-se por trabalhar com cinco categorias específicas que nos
ajudassem a entender melhor como essa identidade fitness é construída. Assim, o foco de todos
os itens apresentados a seguir é entender de que forma esse perfil fitness é representando dentro
do Instagram. Por esse motivo, foram desconsiderados todos os outros tipos de análises
plausíveis que não contemplem o objetivo proposto.
Quadro 4 - Definição das categorias de classificação
Categorias
Número Nome
1 Funções da linguagem apresentada nas legendas das fotografias publicadas.
2 As figuras representadas nas imagens publicadas.
3 Tipos de publicações.
4 Formas de contato presentes na biografia.
Fonte: autoria própria.
Agora, segue uma descrição detalhada de cada uma das categorias elaboradas:
Categoria 1 (funções da linguagem apresentada nas legendas das fotografias publicadas):
Segundo Jakobson (1969), para melhor compreensão da linguagem, é necessário estudarmos os
elementos da comunicação (emissor, receptor, referente, código, canal e mensagem). A partir
deles, o autor distinguiu seis funções da linguagem, relacionando cada uma delas a um dos
componentes do processo comunicativo. Logo, em cada ato da fala, dependendo de sua
finalidade, destaca-se um dos elementos da comunicação, e, por conseguinte, uma das funções
da linguagem (JAKOBSON, 1969, p. 123 – 128):
1. Função denotativa (ligada ao referente da mensagem): transmite uma informação
objetiva sobre a realidade, dando prioridade aos dados concretos, fatos e circunstâncias.
É a linguagem característica das notícias e do discurso científico, colocando em
evidência o referente, ou seja, o assunto ao qual a mensagem se refere.
2. Função emotiva (ligada ao emissor da mensagem): reflete as emoções, sentimentos e
também o estado de ânimo do emissor. Um indicador característico dessa função é o
uso acentuado de interjeições e sinais de pontuação (reticências, pontos de exclamação,
etc.).
3. Função Conativa (ligada ao receptor da mensagem): tem como objetivo influenciar o
receptor, convencendo-o de algo ou dando-lhe ordens. Nesse caso, como o emissor
65
dirige-se diretamente ao receptor, é comum o uso de vocativos e imperativos. Esse tipo
de linguagem é empregado principalmente em discursos, sermões e propagandas.
4. Função Fática: (ligada ao canal de transmissão da mensagem): sua finalidade é
estabelecer, prolongar ou interromper o processo de comunicação. É utilizada para
iniciar o contato entre o emissor e o receptor, sendo empregada principalmente em falas
telefônicas e saudações.
5. Função metalinguística (ligada ao código da mensagem): é utilizada pelo emissor para
explicar um código usando o próprio código. As gramáticas e os dicionários são ótimos
exemplos da metalinguagem.
6. Função poética (ligada diretamente a mensagem transmitida): é aquela que coloca em
evidência a forma da mensagem, preocupando-se mais em como dizer do que com o
que dizer. Embora essa função seja própria de obras literárias, ela não é exclusiva da
poesia e da literatura, sendo utilizada também, com frequência, em expressões
cotidianas de valor metafórico e na publicidade.
Entretanto, embora distingamos seis aspectos básicos da linguagem, dificilmente
encontram-se mensagens que preencham uma única função. Por isso, nesta categoria,
classificaremos as publicações de acordo com a função da linguagem predominante no post.
Categoria 2 (as figuras representadas nas imagens publicadas): Aqui iremos especificar as
publicações de acordo com as figuras representadas nas imagens. O que define a qual item cada
post faz parte é o que aparece na fotografia. Logo, há a necessidade de criação de tópicos para
que seja possível classificar cada uma das publicações.
1. Pessoas em ambientes externos (parques, praia, rua, lugares ao ar livre em geral nos
quais as pessoas possam praticar atividades físicas, meditar ou aproveitar seu dia, além
de shoppings, aeroportos, lojas. Em suma, locais cotidianos.);
2. Pessoas em ambientes destinados a prática de atividades físicas (academias, casas de
dança, ginásios, parques, etc.);
3. Fotos de alimentos e suplementos;
4. Selfies33 ou retratos;
33 Selfie é uma palavra em inglês, um neologismo com origem no termo self-portrait, que significa autorretrato, e
é uma foto tirada e compartilhada na internet.
66
5. Fotos de objetos (acessórios, roupas, itens de malhar, sapatos, etc.);
6. Fotos de paisagens;
7. Vídeos;
8. Publicação elaborada (esse tipo de post é caracterizado por apresentar maior
complexidade como a utilização de montagens, uso de alguma arte gráfica para dar
destaque a fotografia ou também por não apresentar uma imagem em si, podendo ser
apenas uma mensagem escrita);
É importante ilustrar o caráter exclusivo de cada um desses itens, nenhuma publicação
poderá ser enquadrada em mais de um deles.
Categoria 3 (Tipos de publicações): Diferentemente da categoria anterior, que classifica as
publicações de acordo com as imagens apresentadas, neste momento classificaremos os posts
de acordo com seu conteúdo (considerando seu conjunto total: imagem e legenda). Para isso
também foram enumeradas uma série de itens para melhor identificar cada uma das
publicações:
1. Motivacional (motivar seus seguidores a persistirem na luta por seus objetivos);
2. Inspiracional (trazer exemplos pessoais e/ou de outros indivíduos que conseguiram
mudar seus hábitos e obtiveram sucesso em sua jornada);
3. Explicativa (postagens que falem sobre os benefícios de determinado produto e/ou
alimento ou também explicações de treinos e exercícios);
4. Chamadas para sites externos ao Instagram;
5. Merchandising (dar destaque a determinados produtos e/ou marcas específicas);
Nesse quesito a escolha de um dos itens inviabiliza a seleção de outro. Cada post só pode
ser enquadrado dentro de uma classe.
Categoria 4 (Formas de contato presentes na biografia): Essa categoria tem como foco
entender de que forma pode-se estabelecer a interação entre o usuário e seus seguidores. Para
isso, evidenciou-se os meios disponíveis para que um seguidor pudesse entrar em contato com
o gestor do perfil caso tivesse interesse, desde que essas informações estivessem presentes na
biografia do dono página.
1. Telefone de contato;
67
2. E-mail pessoal;
3. E-mail de assessoria;
4. Site;
Nesse caso, como o contato pode ser estabelecido por mais de uma forma, é possível
que os perfis se enquadrem em mais de um item.
Conforme discutido no início desse capítulo, essa monografia possui um caráter
exploratório, buscando-se desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, com vistas na
formulação de problemas mais precisos para estudos posteriores. Optou-se por esse caminho
pelo fato do tema escolhido ser pouco explorado, tonando-se difícil a formulação de hipóteses
precisas e operacionalizáveis. Logo, os dados, análises e conclusões que serão apresentados na
próxima parte têm como objetivo a busca por uma visão geral, de tipo aproximativo, acerca da
construção da identidade fitness no Instagram, consistindo como uma primeira etapa de uma
investigação mais ampla.
68
CAPÍTULO IV
4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE
Após todo o caminho percorrido até o momento, um estudo sobre as apropriações do
corpo ao longo da história e sua relação com a saúde, à discussão sobre como as imagens
corporais são moldadas de acordo com a época e com a cultura em que se estão inseridas, a
influência da mídia na construção do imaginário acerca de um corpo ideal, o aparecimento das
mídias sociais como um novo espaço de fala do indivíduo, o debate sobre a construção de
identidades no período pós-moderno e, por fim, a apresentação dos procedimentos
metodológicos escolhidos para analisar o objeto de estudo, chegou o momento de ponderar
sobre o material coletado.
Nesse capítulo estão presentes as fases de codificação (transformação sistemática de
dados brutos em unidades específicas) e tratamento dos resultados (interpretação dos principais
resultados oferecidos pelas análises realizas). Isto é, aqui serão apresentadas as principais
descobertas sobre o objeto de estudo, buscando-se estabelecer uma visão geral de como é
construída a identidade fitness no Instagram. Para tal, essa porção do trabalho será dividida em
três partes: dados gerais sobre as contas analisadas, dados específicos sobre cada uma das
categorias propostas e considerações.
Durante a primeira etapa serão expostas informações tais como o número de publicações
analisadas, a frequência de publicação dos perfis, distribuição das contas de acordo com gênero
e, por último, a formação acadêmica dos gestores dessas páginas. Em um segundo momento
serão apresentados os principais apontamentos de cada uma das quatro categorias elencadas.
Finalmente, serão exibidas as principais conclusões extraídas após a análise dos dez perfis
estudados.
4.1. Dados Gerais
Conforme informado previamente, durante um período de 7 dias, de 29/09/2014 até
05/10/2014, foram analisadas as publicações de 10 contas fitness dentro do Instagram. Nesse
espaço de tempo foram publicadas 250 imagens, somatório das fotos de todos os perfis, o que
gerou um montante de 35,7 posts diários, ou seja, aproximadamente 3,5 publicações/dia por
69
perfil. Enquanto cada uma dessas contas foi analisada como um todo, seus posts foram
estudados e classificados, um por um, dentro de três categorias: funções da linguagem
apresentadas nas legendas, figuras representadas nas imagens publicadas e o tipo de publicação
utilizada.
4.1.1. Distribuição dos perfis de acordo com gênero
Gráfico 1 - Distribuição dos perfis de acordo com gênero
Fonte: autoria própria.
Ao analisarmos a distribuição dos perfis de acordo com o gênero das pessoas que os
gerenciam, fica clara a predominância de mulheres. Enquanto elas representam 80% das contas,
os homens ficam apenas com 20% dessa fatia. Além disso, somente um dos perfis é gerido
exclusivamente por um homem (FikaFitness), sendo o outro administrado por um casal
(FrangoComBatataDoce). Depreende-se que, na amostra selecionada, a temática fitness no
Instagram é representada principalmente pelo gênero feminino.
Esses números refletem os dados levantados pela Sociedade Internacional de Cirurgia
Plástica (ISASP) no ano de 2013, nos quais as mulheres aparecem como público principal na
realização de procedimentos cirúrgicos (87,2%). Seriam esses resultados o reflexo da cobrança
estética sobre as mulheres em nossa sociedade? O corpo feminino é cada vez mais
estereotipado, não havendo espaço nas capas das revistas, nos anúncios televisivos ou nos
jornais para as mulheres “comuns”, isto é, aquelas que não seguem o padrão corporal e estético
imposto pela mídia.
Homens
20%
Mulheres
80%
Distribuição de gêneros
Homens Mulheres
70
Essa cobrança, tão rotineira nos dias de hoje, se repete então nas mídias sociais. As
mulheres aparecem como as principais representantes desse novo estilo de vida que vem sendo
divulgado na rede: o fitness. São elas que agora compartilham sua rotina de treinos, de
alimentação, falam sobre os cuidados que se deve ter com o corpo, dão dicas de moda,
discorrem sobre tratamentos estéticos, transmitem mensagens motivacionais, apresentam quais
suplementos utilizam, entre outros. O discurso que antes era difundido pelos veículos
tradicionais, muitas vezes amparado por especialistas que tem a seu favor o rigor científico,
agora é transferido para o cidadão comum, neste caso para as mulheres.
Diferentemente do passado, tempo no qual o expert ganhava prestígio e reconhecimento
ao aparecer nos grandes meios de comunicação como a televisão, hoje este destaque é obtido a
partir do momento em que tal profissional é indicado por um destes perfis. As figuras fitness,
ao ganharem espaço e voz dentro da rede, acabam se tornando referências em um assunto no
qual não possuem formação acadêmica. Dessa forma, para que o seu discurso seja “validado”,
eles trazem os especialistas para “dar sentido” ao estilo de vida por eles propagado, tentando
dar respaldo cientifico aos seus resultados. Por exemplo34:
Figura 6 – Post do perfil FrangoComBatataDoce com informações de especialista
Fonte: Instagram.
Nessa perspectiva a linguagem científica dá a essas contas o status de “profissional”,
diferenciando-as das amadoras que não possuem informações qualificadas para transmitir.
34 Disponível em: < http://instagram.com/p/t7gJv8v1lI/?modal=true> Acesso: 26/11/2014.
71
Outra questão que merece ser exaltada é fato de que ao mesmo tempo em que se sobressai a
importância de se ser assistido por um profissional da saúde, o especialista bem cotado para
ajudar as pessoas seria aquele indicado por essas contas. Fica evidente a relevância e a
influência adquirida por estes perfis, sendo eles os responsáveis por “alavancar” a carreira de
determinadas pessoas, papel antes desempenhado, quase exclusivamente, pela mídia
tradicional.
4.1.2. Formação acadêmica dos gestores
Gráfico 2 - Formação acadêmica dos gestores
Fonte: autoria própria.
Conforme debatido no tópico anterior, ser formado em alguma área relacionada a saúde
não é requisito fundamental para que um perfil seja considerado referência na temática fitness.
Prova disso é o fato de apenas três contas possuírem gestores com formação em ciências da
saúde, aqui representadas pela educação física, pela fisioterapia e pela nutrição. A distribuição
completa dos perfis e a área de formação de seus gestores encontram-se a seguir:
Quadro 5 - Área de formação dos gestores
Perfil – Área de formação dos Gestores
Nome Gestor – Formação
FikaFitness
Thiago Vasc – Comunicação Social (Publicidade
e Propaganda)
MarinaIris
Marina Íris – Comunicação Social (Publicidade e
Propaganda)
Arquitetura e
Urbanismo
9%
Desenho Industrial
9%
Direito
9%
Educação Física
18%
Fisioterapia
9%
Jornalismo
9%
Nutrição
9%
Publicidade e
Propaganda
28%
Formação Acadêmica
Arquitetura e Urbanismo Desenho Industrial Direito
Educação Física Fisioterapia Jornalismo
Nutrição Publicidade e Propaganda
72
Kilorias Paola Machado – Educação Física
Penelope_Nova Penélope Nova – Estudante de Educação Física
FrangoComBatataDoce
Roberta Pacheco – Estudante de Arquitetura e
Urbanismo
Rodrigo Purchio – Comunicação Social
(Publicidade e Propaganda)
CarolBuffara Carol Buffara- Comunicação Social (Jornalismo)
BlogDaMimis Michelle Franzoni Frantz – Fisioterapia
GabrielaPugluiesi Gabriela Pugliesi – Desenho Industrial
GraOficial Gracyanne Barbosa – Direito
Bella.Falconi Izabella Falconi – Estudante de Nutrição
Fonte: autoria própria.
Primeiramente, devemos apontar o grau de instrução do grupo estudado: a grande
maioria já conclui o ensino superior. Alguns inclusive já possuem pós-graduação, mestrado e
doutorado, como é o caso da Michelle Frants. Além disso, outro dado que chama a atenção é
fato de que 64% dos gestores não apresentam formação em áreas ligadas à saúde. Na amostra
estudada, o conjunto de maior representatividade é aquele de pessoas formadas em
Comunicação Social (4 indivíduos – 36,36% dos gestores).
Nesse contexto, saber abordar e contextualizar de forma interessante a temática fitness
e todos os seus assuntos correlacionados é mais relevante do que possuir formação acadêmica
na área. Ou seja, a forma de se transmitir a mensagem é tão importante quanto o assunto que
está sendo repassado. Os seguidores dessas contas já possuem algum tipo de afinidade com esse
conteúdo, o que lhes interessa é como eles podem inseri-los em seu dia a dia. Assim, cabe às
contas fitness serem o espelho dos mesmos, o exemplo a ser seguido.
As pessoas que seguem esses perfis, mesmo que não possuam grande conhecimento na
área, já praticam algum tipo de exercício físico, fazem algum tipo de dieta ou pelo menos
possuem algum interesse nesse assunto, não é ao acaso quem já segue algumas páginas fitness.
Devido a especificidade desse tema pressupõe-se um interesse mínimo para que alguém
acompanhe diariamente, por meio de posts no Instagram, a rotina de outra pessoa. Busca-se
então dicas de exercícios, de bons profissionais para se consultar, alimentos pré/intra/pós-
treino, lugares com comidas saudáveis, suplementos de boa qualidade, objetos que ajudem as
pessoas atingirem seus objetivos, entre outros, isto é, informações presentes em contas como as
estudadas nesse trabalho.
73
Esses perfis seriam uma inspiração, um modelo a ser seguido, constituindo a prova viva
de que se as pessoas que realmente quiserem algo e se esforçarem para isso, conseguem
alcançar. Salienta-se mais uma vez a premissa elaborada por Novaes (2005, p.7) de que “de
dever social (se conseguir, melhor), a beleza tornou-se um dever moral (se quiser eu consigo).
O fracasso não se deve mais a uma impossibilidade mais ampla, mas a uma incapacidade
individual”.
Nessa perspectiva, as linhas do tempo se tornam o cenário ideal para o
compartilhamento da rotina saudável e ativa desses perfis, sendo esse cotidiano representado
por meio de fotos, vídeos e legendas. Através dessas ferramentas a temática fitness se adequa a
cada uma das publicações do usuário, o que transmite aos seus seguidores a ideia de que é
possível adaptar esse estilo de vida ao seu dia a dia, bastando apenas vontade, disposição e
determinação por parte do indivíduo. Tomemos a seguinte postagem35 como exemplo:
Figura 7 – Post do perfil GraOficial com informações sobre sua dieta
Fonte: Instagram.
Na imagem temos um recipiente com comida, identificado pela dona do perfil como
uma “marmita”, ressaltando o pensamento de que a refeição foi produzida anteriormente a
fotografia, sendo consumida em um ambiente inusitado: um aeroporto. Ou seja, é possível evitar
“furos” na dieta independentemente de onde você esteja, cabendo ao sujeito a função de
35 Disponível em: < http://instagram.com/p/vMSq8PmTX5/?modal=true> Acesso: 28/10/2014.
74
preparar suas refeições antes de sair de casa. Além disso, a autora da fotografia transmite a
sensação de que é razoável carregar entre seus objetos pessoais uma “marmita”, diferentemente
do consenso social que pode associar a utilização da mesma a pessoas de baixa renda.
Entretanto, tenta-se descontruir esse imaginário na publicação, ainda mais ao notarmos que
fotografia foi realizada em outro país, o que revela as boas condições de vida da fotógrafa.
Novamente são acentuadas a disposição e a vontade do sujeito como fatores necessários
para se alcançar a imagem corporal desejada. Se os próprios perfis fitness, mesmo não
possuindo formação específica na área da saúde, conseguem manter uma alimentação
balanceada e uma rotina de treinos regulares, por que o resto das pessoas não conseguiria?
Surge então uma dualidade: ao mesmo tempo em que esses indivíduos são cidadãos comuns
como quaisquer outros, os mesmos representam uma parcela privilegiada da sociedade, por
terem obtido êxito em seus esforços e alcançado o corpo “ideal”.
Percebe-se que, por mais que os gestores desses perfis tentem transmitir a impressão de
que são pessoas “normais”, suas publicações os tornam diferentes. São poucos os indivíduos
que conseguem ter acesso aos tratamentos estéticos, às academias, a utilização de suplementos,
a alimentação, as roupas e acessório de malhar, entre outras coisas que essas contas fitness
apresentam. Não é ao acaso que elas se tornam referência nesse assunto, seu status é o que as
deixam em evidência.
4.2. Dados Específicos - Análise das categorias
Nesse momento, daremos início à análise dos principais resultados obtidos em cada uma
das quatro categorias elencadas nesta pesquisa: funções da linguagem apresentadas nas
legendas das fotografias publicadas, as figuras representadas nas imagens publicadas, tipos de
publicações e formas de contato presentes na biografia.
4.2.1. Categoria 1: Funções da linguagem apresentadas nas legendas das
fotografias publicadas
É importante estudarmos o conteúdo presente no título das imagens, uma vez que ele
nos ajuda a compreender a mensagem que se deseja transmitir com o post. Assim, essa categoria
tem como objetivo classificar a linguagem empregada nas legendas, buscando apresentar a
finalidade presente nas mesmas.
75
Gráfico 3 - Função da linguagem empregada
Fonte: autoria própria.
A função da linguagem mais recorrente entre as 250 publicações analisadas foi a
denotativa, com um índice de 55% (138 posts). Caracterizada por transmitir uma informação
objetiva sobre a realidade, dando prioridade aos dados concretos, fatos e circunstâncias, essa é
a linguagem característica do discurso científico. Contrastando esse percentual, tem-se o fato
de que 64% dos gestores dessas contas não possuírem formação na área da saúde, isto é, mesmo
eles não tendo conhecimento aprofundando no assunto, suas legendas apresentam informações
que agregam valor a temática fitness.
Em muitos casos as publicações expressam as recomendações de técnicos como
personal trainers, nutricionistas, esteticistas e educadores físicos. Além disso, também é
possível encontrar legendas que falem sobre os nutrientes presentes em determinados
alimentos, os benefícios de uma rotina ativa, as formas de utilização de alguns aparelhos de
musculação, a dosagem de suplementos que cada gestor utiliza, como preparar pratos de
maneira mais saudável, etc. Em síntese, são repassados conhecimentos que podem acrescer algo
na vida de seus seguidores, os inspirando. Tomemos a seguinte legenda36, extraída da página
BlogDaMimis, como exemplo:
Adoroooooooo! Olha a saladinha do findi! A receita completa com as
quantidades tá no site, mas nessa coloquei tudo de olho mesmo! O grão de
bico deixei de molho por 8hrs na água e cozinhei a pressão por 20 minutos.
Não esquece a azeitona preta, pq eu esqueci! Kkk uma delícia! Faz aí!
#projetomimis #receitadamimis #videodicasdamimis
36 Disponível em: < http://instagram.com/p/tyikGfClQv/?modal=true > Acesso: 23/10/2011.
Denotativa
55%
Emotiva
22%
Conativa
1%
Fática
7%
Metaliguistica
0%
Poética
15%
Funções da linguagem
Denotativa Emotiva Conativa Fática Metaliguistica Poética
76
Pode-se inferir que o emprego da linguagem denotativa tem como objetivo suprir uma
demanda por parte dos usuários. As pessoas procuram informações e dicas que possam ser
aplicáveis em seu cotidiano, utilizando os perfis fitness como um canal de busca de dados que
lhes interessem. Emerge então uma relação dúbia na qual o emissor transmite conteúdos que
lhe concedem reconhecimento e o receptor os utiliza em benefício próprio, lembrando o que já
acontece em veículos tradicionais, tal como o jornal.
Em segundo lugar vem a função emotiva, com o percentual de 22% (56 posts). As
publicações desse nível têm como característica refletir os sentimentos, o estado de humor e os
sentimentos do emissor. Constantemente são empregadas interjeições e sinais de pontuação em
excesso. Neste caso, as postagens vêm carregadas de opiniões pessoais dos autores, junto com
depoimentos, desabafos ou até mesmo confissões. Também estão presentes nessa classe
mensagens de incentivo e inspiração; é muito comum que nesse item os donos dos perfis contem
fatos de sua vida pessoal, narrando histórias próprias. Como exemplo, uma publicação37 do
perfil Bella.Falconi:
Não, eu não tenho temporadas “off”. Não, eu não estou me preparando para
uma competição. Não, eu não tenho uma sessão de fotos chegando. E não,
não estou de dieta para caber no meu vestido de noiva. Essa sou eu, o ano
todo. Por que? Porque eu não levo o treino e a alimentação saudável como
um “projeto”. Esse é meu estilo de vida e eu não o sigo “só por causa de
algo”. E a luz do provador da Urban tava ótima hoje! Hahahahaha.
Assim, ressalta-se o caráter humano dessas páginas, aproximando-as do cidadão
comum. Seus donos, assim como todas as pessoas, passam por situações estressantes, têm
preguiça, cometem “furos” na dieta, têm bons e maus dias e assim por diante. Esse tipo de post
acabada construindo um elo de ligação entre as partes evolvidas no diálogo (emissor e receptor).
Dessa forma, esses perfis deixam de ser apenas um local na rede nos quais os indivíduos buscam
dados, transformando-os em verdadeiros “amigos virtuais”, alguém em que o usuário possa se
espelhar, se motivar e também tirar dúvidas.
A última função encontrada, que possui maior expressividade, é a poética (12% - 37
posts). Sua utilização é marcada pelo emprego de emojis38 ou frases com conteúdo metafórico
que buscam transmitir o estado de espírito e de humor do emissor. Em geral, essas publicações
37 Disponível em: < http://instagram.com/p/uTL_GXh5Fd/?modal=true >. Acesso: 23/10/2014. 38 Emojis são imagens (usualmente pequenas) que traduzem ou querem transmitir o estado emotivo e/ou
psicológico de quem os emprega, por meio de ícones ilustrativos (geralmente caracterizados por uma expressão
facial).
77
vêm acompanhadas por imagens de paisagens e alimentos, ou seja, fotografias que por si só
transmitem uma mensagem, tornando a legenda um acessório “extra” à foto. Exemplo39:
Figura 8 - Legenda de uma foto presente no perfil CarolBuffara representando a função poética
Fonte: Instagram
4.2.2. Categoria 2: As figuras apresentadas nas imagens publicadas
Essa categoria tem como objetivo apresentar de que forma a temática fitness é ilustrada
dentro das fotografias presentes nas páginas analisadas. Para isso, a imagens foram classificadas
dentro de oito possibilidades, o que nos permitiu entender como esse tema ganha materialidade.
Finalmente, foi possível apontar as figuras que dão face a esse estilo de vida.
Gráfico 4 - Figuras representadas nas imagens publicadas
Fonte: autoria própria.
Diferentemente da classe anterior, esse grupo apresentou resultados próximos uns dos
outros. Isso nos aponta uma disposição dos perfis em exibir a temática fitness na maior
variedade de formas possíveis. Tendo em mente a especificidade do assunto tratado, abordá-lo
diariamente, e em média 3,5 vezes ao dia, em um único formato, poderia deixar o usuário
39 Disponível em: <http://instagram.com/p/uU_OU5IU6x/?modal=true> Acesso: 28/10/2014.
Pessoas em
ambientes
externos
9%
Pessoas em
ambientes
destinados a
pratica de
atividades
físicas
14%
Alimentos e
suplementos
20%
Selfies e retatos
15%
Objetos
16%
Paisagens
3%
Vídeos
9%
Publicações
elaboradas
14%
FIGURAS APRESENTADAS
78
entediado. Entretanto, os gestores dessas contas têm consciência de que um indivíduo
insatisfeito é um seguidor perdido.
Busca-se entreter e informar seu público da maneira mais completa possível. Isso fica
evidente quando encontramos publicações que “fogem” um pouco a essa temática, tais como
fotografias de paisagens, vídeos descontraídos, retratos pessoais e fotos em ambientes externos
(clubes, shoppings, etc.). A capacidade criativa do gestor em dialogar com seus seguidores sem
deixar que eles se dispersem e, ao mesmo tempo agregar valor ao conteúdo produzido, é o que
faz um perfil se destacar entre os demais. Para tal, o que vale é a imaginação, a habilidade de
cada um em chamar a atenção do próximo.
Destacam-se assim as publicações que trazem fotografias em ângulos inusitados,
imagens mais elaboradas, vídeos explicando exercícios, montagens de fotos com algum passo
a passo a ser seguido, depoimentos de profissionais, fotos com o “antes e o depois”, objetos
apresentados por diversos lados, qualquer figura que torne o post atrativo visualmente,
despertando a atenção do usuário. Por exemplo, o vídeo40 publicado pela página GraOficial:
Figura 9 - Vídeo do perfil GraOficial apresentando o passo a passo do seu treino de pernas
Fonte: Instagram
O Instagram possui um apelo visual muito grande, é a imagem e/ou o vídeo publicado
que aciona a curiosidade das pessoas para a legenda. Se esse estímulo não for forte o suficiente,
40 Disponível em: < http://instagram.com/p/uwZl7wGTe6/?modal=true > Acesso: 01/11/2014.
79
a parte escrita do post passará despercebida. Salienta-se a importância da imagem postada. Não
basta o gestor abordar o estilo de vida fitness em diferentes formatos, ele também deve se
preocupar com a composição da foto/vídeo, já que isto é o que o meio – Instagram - exige. Não
é pedido um rigor técnico da fotografia, mas espera-se que ela desperte um interesse mínimo
no indivíduo.
Trabalhar as cores, os contratastes, aplicar um filtro, mudar a angulação, marcar o lugar
em que a fotografia foi tirada, são ferramentas que o próprio aplicativo já traz ao usuário, sem
que ele precise recorrer ao auxílio de outros programas. Assim, trabalhar a imagem antes de
publica-la não requer um esforço muito grande, o que acaba tornando essa edição um requisito
básico para aqueles que desejam ter um post de maior repercussão na rede.
Entre todas as figuras relatadas as que apresentaram maior recorrência foram as de
alimentos e suplementos (20% - 50 posts). Estes, além de ilustrarem facilmente o estilo fitness
por meio de uma alimentação balanceada e controlada, são também produtos que permitem ao
fotógrafo uma maior liberdade de criação. É possível elaborar diferentes combinações e
composições com os mantimentos, estimulando o interesse do usuário na publicação, além de
ser factível o fechamento do post com uma legenda interessante, como, por exemplo, o
detalhamento de uma receita.
Figura 10 - Foto do perfil FikaFitness ilustrando sua dieta
Fonte: Instagram
80
Outra questão interessante é a publicidade de tais produtos. Conforme ilustrado na
figura41 anterior, há uma exposição da marca do suplemento utilizado na dieta do usuário.
Informações como essas podem nos levar a crer que esses perfis estão sendo financiados para
divulgar esses mantimentos, fato ilustrado na categoria seguinte, que aponta as publicações de
merchandising como sendo a mais frequente nestas páginas.
Conclui-se que tanto a imagem quanto a figura nela representada são elementos
fundamentais para despertar a curiosidade na leitura da publicação. Além disso, uma boa
combinação entre a foto e a legenda pode elevar o engajamento do post, o que resulta em uma
maior quantidade de comentários e curtidas e, como consequência, um perfil mais influente e
reconhecido.
4.2.3. Categoria 3: Tipos de publicação
Neste momento, busca-se entender o objetivo do post dentro de quatro alternativas:
motivacional (motivar os usuários a persistirem na luta por seus objetivos), inspiracional (trazer
exemplos pessoais e/ou outras pessoas que conseguiram mudar seus hábitos e obtiveram
sucesso em sua jornada), explicativa (postagens que falem sobre os benefícios de determinado
produto e/ou alimento ou também explicações de treinos e exercícios), chamadas para sites
externos ou merchandising (dar destaque a determinados produtos e/ou marcas específicas).
Assim, poderemos classificar os mesmos de acordo com seu conteúdo, apresentando ao leitor
o tipo de publicação mais recorrente dentro desses perfis.
Gráfico 5 - Tipo de publicação
Fonte: autoria própria.
41 Disponível em: < http://instagram.com/p/uyauNbPm8c/?modal=true >. Acesso: 01/11/2014.
15%
30%
15%
9,6%
30,4%
Tipo de publicação
Motivacional
Inspiracional
Explicativo
Chamadas para sites
externos
Merchandising
81
Nessa categoria analisou-se o conjunto da postagem (legenda + imagem), para que fosse
possível se chegar aos dados apresentados. Contrastando com o grupo anterior, nessa classe não
há uma paridade entre itens expostos. A opção que mais se difere das demais é a chamada para
sites externos (9,6% - 24 posts). Sua menor recorrência deve-se ao fato desse tipo post não
transmitir muitas informações ao usuário, funcionando apenas como um convite. Cabe ao
interessado abrir o link para se aprofundar no assunto. Por este motivo, evita-se sua utilização
em excesso, quanto mais simples e direto for o diálogo, melhor.
Em contra partida, não há qualquer tipo de restrição quanto ao uso de merchandising
(30,4% - 76 posts). A todo momento são indicados produtos, marcas, profissionais, lugares,
locais, objetos e acessórios que agradam os donos dos perfis, o que pode explicar o uso
constante da linguagem denotativa e a exposição de alimentos e suplementos específicos. Além
do mais, esse tipo de publicação é o meio mais utilizado pelos gestores para conseguir adquirir
status dentro do aplicativo. A partir do momento em que diferentes empresas e especialistas
entram em contato com os mesmos para que eles façam o anúncio de seus produtos e serviços,
essas contas ganham destaque, poucos são os perfis que alcançam tal notoriedade.
Conforme dito anteriormente, o emprego desse tipo de publicação pode ser fruto de um
financiamento para publicidade. Logo, essas contas promovem sua imagem enquanto divulgam
aquilo que lhes interessa. Destaca-se mais uma vez o caráter profissional, nada é feito por acaso
dentro dessas páginas. Prova disso é a distribuição quase que uniforme das publicações: 15%
motivacionais, 15% explicativas, 30% inspiracionais e 30,4% merchandising. Esse
balanceamento do que é exposto releva o caráter estratégico por trás desses perfis. O
gerenciamento do conteúdo adquire caráter central na gestão dos mesmos. Saber o melhor
formato para transmitir as mensagens é tão importante quanto o conteúdo que elas carregam.
Para falar sobre itens mais complexos, como o uso de suplementos, é recomendável o
emprego de uma publicação explicativa; já para discutir os benefícios da adoção de uma
alimentação saudável é interessante optar pela linha motivacional, o dialogo sobre avanços
físicos o uso de mensagens inspirativas pode gerar um melhor resultado. Os seguidores dessas
contas podem até não reparar, mas junto com todos os posts está presente um planejamento.
É por meio das postagens que se estabelece o vínculo entre os perfis e seus seguidores.
Cada uma das publicações significa o início de um novo diálogo, e é por este motivo que elas
devem sempre chamar a atenção das pessoas, mantendo essa relação quente, íntima, fazendo
com que o indivíduo permaneça um seguidor fiel, acompanhando, comentando e curtindo a
82
página. Um modelo rígido e estático atrapalharia essa dinâmica, introduzindo um ruído nesse
diálogo.
O Instagram é uma rede dinâmica por natureza. Segundo dados42 de 2014 do Maxime
Social Bussiness (MCB), grupo especializado em pesquisas e treinamentos em mídias sociais,
a cada minuto são publicadas aproximadamente 38 mil fotografias, enquanto a cada segundo
são registrados 8.500 curtidas e 1.000 comentários. Nesse universo tão complexo, as
informações fluem de forma cada vez mais veloz, e como resultado desse processo as linhas do
tempo são atualizadas frequentemente. Sendo assim, o post que não consegue criar uma
conexão com o usuário é ofuscado em meio à infinidade de conteúdo presente no aplicativo.
4.2.4. Categoria 4: Formas de contato presentes na biografia
Estudar as formas de contato presentes na biografia desses perfis é importante para que
possamos entender como pode-se estabelecer a interação entre o usuário e seus seguidores, para
além dos comentários. Além disso, tais informações evidenciam a vontade dessas contas em
serem contatadas, não apenas para dúvidas, mas também para contatos profissionais,
ressaltando mais uma vez o caráter diferenciado dessas páginas.
Gráfico 6 - Formas de contato presentes na biografia
Fonte: autoria própria.
Ao fazermos uma análise simples dos 10 perfis selecionados, lendo apenas suas
biografias no Instagram, percebe-se uma “profissionalização” das mesmas. Em todos os casos
os mesmos possuem um site fora do aplicativo, o qual traz informações mais detalhadas sobre
42 Disponível em: < http://maximizesocialbusiness.com/instagram-stats-need-know-12772/ >. Acesso:
25/10/2011.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
E-mail pessoal E-mail profissional ou
de assessoria
Site Tefone
Formas de contato
83
sua rotina de treinos, sobre sua alimentação, passa dicas, se apresentam de forma mais
particular, entre outros.
Além disso, ainda na biografia, é possível encontrar e-mails e/ou telefones para contato,
sejam estes para publicidade, para dúvidas ou para parcerias, o que destaca ainda mais esse
caráter “profissionalizante”. Outro fato que merece ser realçado são as expressões e hashtags
utilizados pelos perfis para se identificar, tais como: Life Coach e Heathly Lifestyle, expressões
derivadas da língua inglesa, que em português significam, respectivamente: “Treinador de
vidas” e “Estilo de vida Saudável”.
Figura 11 - Exemplificação da biografia dos perfis Penelope_Nova, GraOficial, Bella.Falconi e
BlogDaMimis
Fonte: Instagram
A distinção destes perfis em relação aos demais inicia-se a partir do momento em que
se abre sua página. Diferentemente das contas tradicionais, nas quais os usuários apresentam
uma biografia simplificada, colocando apenas seu nome e sua idade, as personalidades fitness
apresentam diferentes formas de contato, além dos habituais comentários nas fotografias.
Revela-se então uma disposição por parte do gestor em ser visto, reconhecido e contatado.
84
Nessa perspectiva, o número de seguidores, de curtidas e comentários nas fotos publicadas
revela a popularidade dessas contas.
Em certa medida, é possível compararmos o funcionamento desses perfis ao de uma
organização, já que eles possuem uma rotina de publicação, um planejamento de seus posts,
uma distribuição dos assuntos a serem tratados, entre outros fatores. Entretanto, ao contrário de
uma empresa tradicional, que tem como objetivo a venda de determinado produto ou serviço,
essas páginas estão voltadas a propagação de um estilo de vida, que por sua vez está associado
ao acolhimento de determinadas práticas e a utilização de certos produtos. Nessa esfera, os posts
seriam os meios para divulgação do estilo de vida fitness, para a promoção dos próprios perfis
e também para a propaganda de produtos.
Portanto, existe uma tripla relação em jogo: o fitness como o propulsor de determinados
hábitos de consumo, o perfil como marca43 e o Instagram como ferramenta de negócios.
Enquanto o primeiro promove a adoção de certos comportamentos, o segundo é frisado por dar
notoriedade à eles, transformando essa mídia social em um ambiente de negócios. As empresas
buscam essas personalidades devido a sua notoriedade dentro da rede. Desse modo, tais contas
se tornam anunciantes de produtos sem se transformarem em “garotas propagandas” dos
mesmos, promovendo sua própria imagem/marca.
Os perfis fitness, por possuírem um público de nicho44, são uma opção interessante para
as organizações que desejam difundir seus produtos e serviços para uma porção específica do
mercado. Essas páginas ao falarem por exemplo sobre a importância da atividade física no dia
a dia das pessoas, acabam expondo seu vestuário, os acessórios de sua preferência, os
suplementos que utilizam, apontando os profissionais de sua confiança, as academias que
frequentam, e assim por diante. Constata-se que a partir do momento em que se coloca em alta
esse estilo de vida, todo o mercado que envolve esse temática também é ressaltado.
Concluindo, é possível apontar estes perfis como sendo verdadeiros “profissionais do
Instagram”. Ao fazerem uso do seu capital social para promover tal estilo de vida, estas páginas
fazem desse aplicativo um local de comércio. A visibilidade e a influência adquirida por elas é
tão grande que as mesmas acabam sendo pautadas por veículos tradicionais de comunicação,
ganhando relevância e destaque também fora do aplicativo. Exemplo disso é musa fitness do
43 Neste trabalho o termo foi utilizado como a representação simbólica de uma entidade, qualquer que ela seja,
algo que permite identificá-la de um modo imediato como, por exemplo, um sinal de presença, um nome. 44 Nicho é a porção específica de um mercado, geralmente uma parte pequena, com necessidades e hábitos
específicos.
85
Instagram Bella Falconi, que conquistou tamanho reconhecimento e acabou se tornando a
embaixadora oficial da marca americana de suplementos USN.
4.3. Considerações
Levando em consideração os dados levantados e analisados nesse trabalho, chegou o
momento de esboçar-se como a identidade fitness é construída no Instagram. Tomando como
base os dados gerais acerca das dez contas selecionadas e os principais apontamentos de cada
uma das quatro categorias propostas, será apresentado um delineamento inicial sobre as
características que identificam o usuário fitness dentro dessa mídia social.
Para se dar início a essa discussão é importante salientar as mudanças instauradas pelas
redes sociais online na atualidade. Elas, ao colocarem o cidadão comum em destaque, acabam
dando voz àquelas pessoas que antes não encontravam espaço para expressar suas ideias e
opiniões. Nesse contexto, as mesmas surgem como um local no qual as pessoas podem se
expressar e falar sobre si. Em certa medida, as linhas do tempo acabam por refletir quem nós
somos ou quem gostaríamos ser.
Deste modo, identidades são traduzidas por meio de publicações e as diferentes
ferramentas apresentadas por cada mídia social ilustram o reflexo organizativo do “eu”. No
Instagram, as fotos, os vídeos e as legendas são os instrumentos encontrados pelos sujeitos para
articular suas personalidades. Assim, seus usuários devem adaptar-se a esses aspectos para
produzir e transmitir conteúdos acerca si. Logo, o meio de transmissão da mensagem é tão
importante quanto as informações repassadas, isto é, saber adequar seu discurso dentro das
especificidades da rede em que se está inserido é fundamental para um bom funcionamento das
páginas.
Revela-se a importância de se saber abordar criativamente a temática fitness, tendo em
mente as limitações do aplicativo. O gestor da página, além de ter que chamar a atenção de seus
seguidores dentro desse formato pré-estabelecido, deve também agregar valor à sua publicação
para que ela ganhe destaque. Cada post representa a construção de um novo diálogo, e por este
motivo o mesmo deve permanecer interessante, mantendo a relação existente entre o emissor e
o receptor acesa, para que ocorra a fidelização do usuário.
Nessa perspectiva, o planejamento e gerenciamento dos assuntos abordados ganha
caráter estratégico. Os tipos de publicações utilizadas para essa discussão também são de
extrema importância, uma vez que são elas que estabelecem o vínculo existente entre a página
86
e seus seguidores. Além disso, uma boa combinação entre a fotografia e a legenda empregadas
é o que gera um post com maior engajamento e como consequência um perfil mais influente e
conhecido.
Conforme debatido anteriormente, a dinamicidade do Instagram faz com que seus
usuários se preocupem com a apresentação de seu material, atentando-se ao fato da infinidade
de conteúdos presentes na rede. Um post que não desperte a curiosidade das pessoas, não
estabelecendo uma conexão com seu leitor, é um post “invisível”. Assim, trabalhar as imagens
e a legendas publicadas torna-se um requisito mínimo para aqueles que desejam colocar sua
página em evidência.
Esses perfis, ao divulgarem conteúdos interessantes e diferenciados, incorporando valor
ao cotidiano de seus seguidores, transformam suas páginas em um banco de dados acerca da
temática fitness. Mais do que isso, tornam-se também “amigos-virtuais” das pessoas, sendo um
modelo a ser seguido por aqueles que adotam ou pretendem aderir tal estilo de vida. Verifica-
se que o discurso saudável, anteriormente explorado pelos veículos tradicionais de
comunicação, é passado para as mãos do cidadão comum.
Entretanto, esse cidadão possui características extremamente singulares. Essa
diferenciação inicia-se pelo gênero dominante entre as personalidades fitness: o feminino. Em
80% dos casos estudados esse estilo de vida é representado por mulheres, ou seja, são elas que
dão vida e promovem essa temática dentro do aplicativo. Além disso, apesar delas serem
pessoas “normais” como quaisquer outras, as mesmas representam uma parcela restrita da
sociedade: aquelas que conseguiram alcançar a imagem corporal desejada.
Outro fato marcante é a formação acadêmica das pessoas que dão face a esse assunto,
mais da metade é formada em áreas exteriores às ciências da saúde. O grupo de maior
representatividade é aquele composto por gestores graduados em comunicação social (36,6%),
número que dialoga com a cobrança criativa exaltada pelo aplicativo para aqueles que desejam
obter destaque. Todavia, essa capacidade de criação deve adaptar-se a uma linguagem objetiva,
amparada em dados concretos, fatos e circunstâncias, característicos do discurso científico
(55% das publicações fazem uso da linguagem denotativa).
Isso fica claro ao notarmos o tipo de post mais utilizado: merchandising. Para que essas
páginas possam “vender” e/ou promover determinados serviços e produtos, é necessário o
emprego de uma linguagem mais “técnica”, comprovando a eficácia dos mesmos e
compensando o fato de seu gestor não possuir expertise científica no assunto abordado. Prova
87
disso são as figuras mais representadas nas imagens publicadas: alimentos e suplementos. Para
discutir suas formas de uso e seus benefícios para a saúde e para o corpo, é indispensável
conhecimento na área, e, para isso, os perfis contam com a ajuda de especialistas de sua
confiança.
Além de tudo, em inúmeros posts são destacadas a vontade e a disposição por parte do
usuário como fatores fundamentais para o alcance da imagem corporal desejada, ou seja,
transmite-se a ideia de que a mudança só é possível se o indivíduo estiver disposto. Mais uma
vez é posta em evidência a onipotência das pessoas sobre os seus corpos. Enquanto os perfis
fitness repassam aos seus seguidores os caminhos técnicos a serem seguidos para se chegar
aonde se deseja, cabe às pessoas segui-los. Nessa perspectiva, não há mais desculpas para ser
feio ou fora de forma, cabendo a culpa do “fracasso” ao próprio sujeito.
Por possuírem um público específico, as personalidades fitness se tornam um canal
interessante para as organizações que desejam divulgar seus produtos e serviços à um público
com necessidades particulares. Enquanto as primeiras propagam um estilo de vida, as empresas
vendem mercadorias que dão materialidade a essa temática. Nesse ângulo, o Instagram se
transforma em uma verdadeira ferramenta de negócios na qual tais personalidades possuem
grande influência.
A identidade fitness no aplicativo ainda é associada a uma alimentação controlada, a
utilização de suplementos e à prática de exercícios físicos. Sendo representada prioritariamente
por mulheres, que apesar de não possuírem formação acadêmica na área da saúde, utilizam o
discurso científico para promover um estilo de vida e todo o mercado que ele abrange. Assim,
tais personalidades acabam se tornando “profissionais do Instagram”.
Conclui-se então que os perfis fitness transformam-se em verdadeiras marcas dentro da
rede ao fazerem uso do seu capital social para promover diferentes produtos e serviços. Como
consequência, tudo aquilo que é associado a eles recebe grande repercussão e transmite a ideia
de confiabilidade, tendo em vista a influência e o respeito adquirido pelos mesmos.
Entretanto, conforme assinalando por Hall (2005), as sociedades modernas são
caracterizadas por estarem em mudança constante, rápida e permanente, fazendo surgir novas
identidades e fragmentando os indivíduos. Assim, não é possível tomarmos esses apontamentos
como definitivos e imutáveis. No futuro, esse mesmo grupo pode apresentar feições distintas,
o que destaca o caráter exploratório dessa pesquisa.
88
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante quatro capítulos, buscou-se identificar de que forma a identidade fitness é
construída dentro do Instagram. Todavia, conforme explicado anteriormente, essa pesquisa teve
como objetivo lançar uma visão inicial acerca desse acontecimento, não tendo a pretensão de
apontar os caminhos a serem seguidos por estudos posteriores ou apresentar dados que
comprovem uma verdade absoluta. Os resultados aqui assinalados visaram à formulação de um
problema mais preciso, passível de investigações futuras.
Para que se fosse possível compreender como tal fenômeno é caracterizado dentro da
rede, ao longo desse trabalho foram apresentados autores, conceitos e métodos que nos
permitissem um maior aprofundamento no assunto. Após todo esse percurso, um dos fatos que
se destacou foi o papel exercido pelas mídias sociais, sendo elas o local dentro do ciberespaço
no qual as pessoas podem elaborar sua subjetividade, tendo seus perfis como o reflexo
organizativo de sua personalidade. Por meio de suas diferentes ferramentas, estilos de vida
ganham forma, refletindo a “essência” de seus usuários.
Percebeu-se então que o sujeito pós-moderno utiliza as redes sociais disponíveis ao seu
redor para dar forma ao seu “eu”. Nesse contexto, os perfis analisados avaliam os instrumentos
que possuem a sua disposição (fotos, vídeos e legendas) para elaborar conteúdos atrativos.
Essas contas, ao se apropriarem do discurso fitness empregado pelos veículos de comunicação
e o abordarem de maneira diferenciada e chamativa, conquistam espaço e relevância dentro e
fora do aplicativo.
Todavia, foi possível identificar uma série de características comuns a todas elas, o que
instigou a realização desta pesquisa. Levando esse fato em consideração, a estrutura teórica
abordada para se entender como esse processo é formulado contemplou historicamente e
teoricamente as apropriações do corpo ao longo do tempo e a influência da mídia na construção
de imagens corporais.
Fazendo o uso da análise de conteúdo como procedimento metodológico, foram
estudadas, no período de uma semana (29/09/2014 até 05/10/2014), 250 publicações contidas
em 10 páginas do Instagram. Como resultado dessa técnica pôde-se perceber que a identidade
fitness no aplicativo é representada em 80% dos casos por mulheres, que ao fazerem o uso da
linguagem denotativa tem como intuito a promoção de um estilo de vida e todo mercado que
89
ele abrange. Além disso, o fitness é caracterizado pelo acolhimento de uma alimentação
controlada, ao uso de suplementos e a pratica de exercícios.
Esse rigor alimentar e corporal ganha amplitude nas seguintes expressões: “frango com
batata doce” e “no pain, no gain45”. Enquanto a primeira revela a restrição alimentar adotada
por esses perfis, a segunda demostra a determinação que se deve ter para alcançar a forma física
almejada. Nessa perspectiva, o sujeito é apontando como único responsável pela manutenção
do seu corpo, assim, a saúde deixa de ser o resultado de uma série de variáveis para se tornar o
reflexo do cuidado dos indivíduos consigo mesmos.
Ressalta-se que essa monografia representa um primeiro esforço para o entendimento
de como identidades são construídas e caracterizadas nas mídias sociais. Aqui, optou-se por
estudar um grupo específico no Instagram, em trabalhos posteriores a este é possível a escolha
de outras redes e uma classe de observação distinta. Além da análise de conteúdo, também
podem ser adotados outros caminhos como procedimento metodológico, tentando dar ao objeto
de estudo um novo olhar, trazendo diferentes ângulos e abordagens.
Por fim, deve ser exaltado o caráter transitório de pesquisas como essa. O que está sendo
explorado hoje, amanhã pode ser totalmente reestruturado. As mídias sociais exigem uma
capacidade de adaptação muito grande por parte de seus usuários. Dessa forma, os dados aqui
apresentados podem ser utilizados para comparações futuras, distinguindo o passado do
presente, todavia não podem ser assimilados como imutáveis.
45 Expressão derivada da língua inglesa que, em português, pode traduzida como: sem sacrifício, sem ganho.
90
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APÊNDICE I
Roteiro de entrevista envidado para os perfis selecionados para análise.
Prezado,
Bom dia! Meu nome é Felipe Mayer e sou aluno do oitavo semestre do curso de
Comunicação Organizacional da Universidade de Brasília (UnB). Como parte o meu Trabalho
de Conclusão de Curso, para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, estou
fazendo uma pesquisa sobre o usuário fitness no Instagram.
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer sua participação nesta pesquisa. Também
gostaria de esclarecer algumas informações importantes. Esta investigação, desenvolvida junto
com minha orientadora Janara Sousa (link para currículo lattes), professora do curso de
Comunicação Organizacional da UnB, tem por objetivo compreender como se organizam os
perfis fitness dentro da rede social Instagram. Além disso, informo que todas as informações
são confidenciais e serão utilizadas somente para fins estritamente acadêmicos.
A entrevista a seguir contém sete perguntas abertas para que possamos compreender
como esses perfis fitness, assim como o seu, se organizam dentro da rede. A ideia é ser algo
pequeno e simples de responder, mas que possibilite uma resposta em profundidade, não
ocupando mais do que quinze minutos de seu tempo.
Agradeço a colaboração!
1. Qual sua área de formação?
2. Qual é sua motivação para continuar com sua rotina de treinos e alimentação?
3. A quanto tempo você é adepto desse estilo de vida (o fitness)?
4. O que é ser fitness para você?
5. Como você seleciona os assuntos que entraram em sua página?
6. Como funciona sua rotina de produção de conteúdo? Você possui algum planejamento de
suas postagens?
7. Você considera a sua "imagem" como sua principal fonte de renda?