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i Frederico Jorge Saad Guirra OS V JOGOS MUNDIAIS MILITARES NO BRASIL E A REINSERÇÃO DO ESPORTE MILITAR NA POLÍTICA ESPORTIVA NACIONAL CAMPINAS 2014

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Frederico Jorge Saad Guirra

OS V JOGOS MUNDIAIS MILITARES NO BRASIL E A REINSERÇÃO DO ESPORTE MILITAR NA POLÍTICA ESPORTIVA

NACIONAL

CAMPINAS

2014

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Frederico Jorge Saad Guirra

OS V JOGOS MUNDIAIS MILITARES NO BRASIL E A REINSERÇÃO DO ESPORTE MILITAR NA POLÍTICA ESPORTIVA

NACIONAL Tese apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutor, em Educação Física na Área de Educação Física e Sociedade.

Orientador: Prof. Dr. Lino Castellani Filho Este exemplar corresponde à versão final de Tese defendida pelo aluno Frederico Jorge Saad Guirra e orientada pelo Prof. Dr. Lino Castellani Filho.

Assinatura do Orientador

CAMPINAS

2014

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RESUMO

As duas primeiras décadas do século XXI vêm reservando ao Brasil uma série de megaeventos esportivos iniciados em 2007 com os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, seguidos da realização da V edição dos Jogos Mundiais Militares (JMMs), em 2011, da Copa das Confederações e da Gymnasíade, em 2013 e do Mundial de Futebol FIFA, em 2014, ainda vindo à frente os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, em 2016, a Copa América de Futebol, em 2017 e da Universíade, em 2019. Esses megaeventos integram as estratégias governamentais brasileiras para a almejada inserção protagônica do país no cenário mundial, em um movimento de reposicionamento geopolítico definidor, para tanto, de uma sincronia entre a agenda definida pelos segmentos conservadores do campo esportivo brasileiro — por si só, conservador — e a "nova" ordem político-econômica mundial, configurativa muito mais do quadro de atendimento dos interesses do desenvolvimento urbano centrado na lógica dos negócios, do que propriamente daquele vinculado à materialização de uma política esportiva. Essas ideias constituem o ponto de partida do presente estudo, que versará sobre o Esporte Militar, no Brasil, das quais deriva a questão central que norteia esta pesquisa: Qual o atual lugar do Esporte Militar na política esportiva brasileira? A resposta a esse questionamento concretiza o objetivo geral deste estudo, ou seja, analisar a estratégia de sua reinserção na política esportiva, tendo os V JMMs como elemento canalizador de suas ações, no âmbito dos megaeventos esportivos. As questões foram enfrentadas a partir dos dados obtidos em uma pesquisa de cunho documental/bibliográfico, tendo como referencial teórico o Materialismo Histórico-Dialético e ancorada em peças orçamentárias, dispositivos normativos, matérias jornalísticas, por meio dos quais se pretendeu desvelar as entrelinhas do discurso acerca da realização de uma edição dos JMMs no Brasil. Para dar conta de tal tarefa, o caminho percorrido incluiu os seguintes objetivos específicos: i) partindo da realização da V Edição dos JMMs, retornar às quatro edições anteriores, identificando a participação do Esporte Militar Brasileiro, em diálogo com a política esportiva, à época de cada uma delas; ii) analisar o “dia seguinte” aos JMMs, os investimentos realizados, seus legados, a preparação brasileira para as Olimpíadas de Londres, em 2012, os JMMs em 2015 e os Jogos Olímpicos, em 2016; iii) analisar criticamente a realização dos Jogos Mundiais Militares no Brasil à luz do referencial teórico adotado. Foi possível constatar que o posicionamento estratégico das Forças Armadas junto ao Governo Federal e às entidades de administração do esporte nacional, por meio da realização dos JMMs, no Brasil, fez parte de um planejamento muito bem articulado, voltado à desoneração dos Jogos Olímpicos de 2016, e à expansão do esporte de alto rendimento, por meio dos Programas de cunho esportivo do Governo Federal, em que os militares figuram como parceiros, derrubando a tese de que os JMMs serviram apenas como evento-teste para a realização da Copa do Mundo FIFA, em 2014, e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Verão, em 2016.

Palavras-chave: Esporte Militar. Megaeventos Esportivos. Política Esportiva Brasileira. V

Jogos Mundiais Militares.

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ABSTRACT The first two decades of the twenty-first century come to Brazil reserving a number of mega sporting events started in 2007 with the Pan-American Games in Rio de Janeiro, followed the completion of the V edition of the Military World Games (MWG), in 2011, of the Cup confederations and Gymnasíade in 2013 and the FIFA World Cup in 2014, still coming forward the Olympic and Paralympic Games in 2016, the America's Cup Football in 2017 and the Universiade in 2019. These mega events integrate Brazilian governmental strategies for the targeted insertion of the protagonist the world stage, in a move of defining geopolitical repositioning, therefore, of synchrony between the schedule defined by conservative segments of the Brazilian sports field - alone, conservative - and the "new "global political-economic order, configurative much of the framework for meeting the interests of urban development centered on business logic, than that linked to the materialization of a sporting policy. These ideas constitute the starting point of this study, which will focus on the Military Sports in Brazil, which derives the central question guiding this research: What is the actual place of Military sports in Brazilian policy sporting? The answer to this question embodies the objective of this study, analyzing the yours strategy of reinsertion in sporting policy and the V JMMs as plumber element of their actions within the sports mega-events. The issues were addressed from the data obtained in a survey of documentary / bibliographic nature, having as theoretical-Dialectical Materialism History, anchored in budget pieces, regulatory requirements, newspaper articles, through which it was intended to unveil the subtext of the speech about performing an edition of JMMs in Brazil. To realize this task, the path taken included the following specific objectives: i) to present the context of realizing the V edition of the JMM; ii) analyze the following day to JMMs, investments, their legacies, Brazil's preparations for the London Olympics in 2012, the JMMs in 2015 and the Olympics in 2016; iii) to review the achievement of the World Military Games in Brazil in light of the theoretical framework adopted. It was found that the strategic positioning of the Armed Forces from the Federal Government and entities to administer the national sport, through the realization of JMMs in Brazil, was part of a well articulated plan, aimed at relief of the 2016 Olympic Games, and the expansion of high performance sport through programs sporty of the Federal Government, in which the military figure as partners, dropping the thesis that JMMs served only as a test event for the hosting of the FIFA World Cup in 2014, and the Olympic and Paralympic Summer Games in 2016. Keywords: Military Sports. Sporting Mega-Events. Brazilian Sporting Policy. V Military World Games

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................................01 2 A REALIZAÇÃO DOS JOGOS MUNDIAIS MILITARES NO BRASIL................................................................................................................................07 1.1 Qual o significado da realização de uma edição dos JMMs para a lógica esportiva brasileira? Uma viagem à história dos Jogos Mundiais Militares..... ..................................10 1.2 A primeira edição dos Jogos Mundiais Militares – Roma 1995....................................19 1.3 A Segunda edição dos Jogos Mundiais Militares – Zagreb 1999..................................24 1.4 A Terceira edição dos Jogos Mundiais Militares – Catânia 2003..................................28 1.5 A Quarta edição dos Jogos Mundiais Militares – Hydrabad 2007.................................33 1.6 A Quinta edição dos Jogos Mundiais Militares – Brasil 2011.......................................39 1.6.1 A Construção das Vilas Militares...............................................................................41 1.6.2 A formação da Comissão de Planejamento Operacional (CPO)..................................46 1.6.3 A formação da delegação militar brasileira e as modalidades disputadas.................52 1.6.4 As modalidades disputadas e os resultados alcançados..............................................54 1.6.5 Repercussão alcançada na Mídia geral e especializada...............................................59

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2 O QUE ESTAVA RESERVADO AO BRASIL NO “DIA SEGUINTE” À REALIZAÇÃO DOS JOGOS MUNDIAIS MILITARES NO BRASIL........................71 2.1 Recursos investidos ........................................................................................................72 2.2 Os legados deixados pelos Jogos Mundiais Militares.....................................................82 2.2.1 Os legados socioeducacionais......................................................................................83 2.2.2 Os legados materiais....................................................................................................92 2.2.3 O legado advindo do Programa Atletas de Alto rendimento.......................................98 2.3 Como o Esporte Militar brasileiro se prepara para a VI edição dos Jogos Mundiais

Militares em 2015................................................................................................................104

3 DO UFANISMO À REALIDADE BRASILEIRA: UMA ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A REALIZAÇÃO DOS JOGOS MUNDIAIS MILITARES NO BRASIL..............................................................................................................................119 3.1 O Brasil como sede dos Jogos Olímpicos em 2016......................................................119 3.2 V Jogos Mundiais Militares no Brasil: posicionamento estratégico do Esporte Militar a serviço da agenda Rio-2016................................................................................................132 3.2.1 O Complexo de Deodoro...........................................................................................144 3.3 A expansão do esporte de alto rendimento: o verdadeiro legado socioeducacional dos Jogos Mundiais Militares....................................................................................................155 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................175 5 REFERÊNCIAS............................................................................................................183 6 ANEXOS.........................................................................................................................195

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho, em especial, à minha

amada esposa, Andrea, companheira de todos os

momentos, e a meus três lindos e abençoados

filhos, presentes de Deus em minha vida,

Frederico Filho, Felipe e Davi, meus eternos

amores, nos quais eu busco a minha paz e

revigoro as minhas forças a cada instante, para

suportar os desafios da vida.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a Deus, companheiro de todas as

horas, por ter-me permitido concluir mais esta jornada em minha vida, robustecendo-me a

cada instante para suportar os inúmeros obstáculos encontrados.

Agradeço aos meus pais, Aldemar e Celeste, pela paciência, compreensão,

carinho, principalmente pelos ensinamentos que tanto me auxiliaram e auxiliam em meu

cotidiano, seja na vida profissional, ou em meus desafios como pai e marido.

À minha família, tios, tias, primos, em especial às minhas irmãs, Flávia e

Carolina, por todo o apoio a mim destinado, não só agora, mas em todos os momentos

dessas mais de quatro décadas já vividas.

Aos meus sogros, carinhosamente chamados de “seu Valmir” e “dona

Raimunda”, pelas palavras de motivação, e por, principalmente, terem assistido minha

esposa, Andrea, e meus filhos, nos momentos de minha ausência, que não foram poucos.

À minha companheira, Andrea, por ter conseguido cuidar tão bem de nossa casa,

de nossos filhos, e que por tantas vezes abandonou seus afazeres pessoais para me receber

nos tantos momentos de idas e vindas, ao longo desse trajeto. Agradeço, ainda, por toda

compreensão, amor e carinho a mim dedicados nesses mais de treze anos de matrimônio.

A meus filhos, Frederico, Felipe e Davi, pois cada um, à sua maneira, sempre

me encheu de energia e vontade, para nunca desistir diante da saudade.

Não poderia deixar de agradecer ao Rodrigo, meu cunhado, por me receber em

sua casa, em Goiânia, por inúmeras vezes, sempre prestativo e com palavras de motivação,

quando as forças pareciam se esvair.

Aos tantos professores com quem tive contato na Faculdade de Educação Física,

e na Faculdade de Educação da Unicamp, meu obrigado pela oportunidade de

compartilhar o conhecimento e de tanto aprender com eles.

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Aos inúmeros colegas que estiveram ao meu lado nesses anos, dividindo o espaço

das salas de aula, pelas palavras de carinho e de força.

A todos os funcionários da FEF/Unicamp, pela atenção a mim dispensada,

sempre que precisei, muitas vezes, estando a distância.

Aos companheiros do Observatório do Esporte, embora muitos eu não conheça

ainda pessoalmente, que muito contribuíram para minha formação profissional e humana,

pela troca de experiências e pelo debate proporcionado em tantos momentos.

À minha banca de doutorado, em especial, ao Professor Dr. Fernando

Mascarenhas Alves e ao Professor Dr. Augusto César Rios Leiro, pela contribuição com

este estudo, desde a qualificação, trazendo para o nosso debate elementos de suma

importância para a constituição desta tese. Às Professoras Dra. Elaine Prodócimo e Sílvia

Cristina Franco Amaral, que acompanham a minha trajetória, desde a entrada no

Mestrado.

Gostaria de agradecer ao meu eterno mestre, professor Nivaldo David, por ter-

me apresentado, ainda na época de faculdade, uma Educação Física que merecia ser vista

sob outros olhares, e que deveria ser construída no campo social, nos embates de cada dia.

Gostaria de encerrar agradecendo de forma especial ao meu orientador,

Professor Dr. Lino Castellani Filho, homem de caráter ilibado, exemplo de professor e de

amigo, pela grande oportunidade de me proporcionar a realização de um sonho que

sempre foi tê-lo como orientador, e, principalmente, por ter-me oportunizado partilhar,

nesses anos, do seu grande conhecimento, não só da Educação Física, mas também da

vida, que leva com tanta simplicidade. Lino, o meu muito obrigado a você!

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Delegação Militar brasileira nos Jogos de Roma – Itália -1995......................24 Figura 02 – Delegação Militar brasileira nos Jogos de Zagreb - Croácia - 1999................28 Figura 03 – Delegação Militar brasileira nos Jogos em Catânia – Itália - 2003..................33 Figura 04 – Delegação Militar brasileira nos Jogos em Hyderabad – Índia – 2007............39 Figura 05 – Vila Branca – Marinha do Brasil......................................................................42 Figura 06 – Vila Verde – Exército Brasileiro......................................................................43 Figura 07 – Vila Azul – Aeronáutica...................................................................................44 Figura 08 – Delegação Militar brasileira nos Jogos no Rio de Janeiro - Brasil – 2011.......52

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LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Treinamento dos voluntários do Projeto Rondon Esportivo..............................................................................................................................49 Quadro 2 - Instituições de Ensino Superior Credenciadas para participar dos Jogos Mundiais Militares...............................................................................................................50 Quadro 3 - Modalidades Esportivas realizadas nos V Jogos Mundiais Militares...............................................................................................................................55 Quadro 4 – Atletas do Alto Rendimento nacional incorporados às Forças Armadas por modalidades esportivas........................................................................................................56 Quadro 5 – Investimentos realizados nos Jogos Mundiais Militares nos exercícios 2008, 2009, 2010 e 2011................................................................................................................74 Quadro 6 – Distribuição dos recursos federais por demandas dos Jogos Mundiais Militares...............................................................................................................................75 Quadro 7 – Orçamento Geral da União para os V Jogos Mundiais Militares...............................................................................................................................76 Quadro 8 – Distribuição dos gastos com os JMMs, segundo o Tribunal de Contas da União – TCU...................................................................................................................................92 Quadro 9 – Resultados mais expressivos das equipes militares brasileiras em preparação para os JMMs......................................................................................................................106 Quadro 10 – Resultados obtidos no ano de 2009 no Programa Atletas de Alto rendimento...........................................................................................................................107

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

APO Autoridade Pública Olímpica BENNET Instituto Metodista Bennet CBCE Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte CBD Confederação Brasileira de Desportos CBF Confederação Brasileira de Futebol CCFEx Centro de Capacitação Física do Exército CDE Comissão de Desporto do Exército CDFA Comissão Desportiva das Forças Armadas CDMB Comissão Desportiva Militar do Brasil CEFAN Centro de Educação Física Adalberto Nunes CET Companhia de Engenharia e Tráfego CME Comissão Militar Esportiva CND Conselho Nacional de Desportos CISM Conseil International Du Sport Militaire COB Comitê Olímpico Brasileiro COI Comitê Olímpico Internacional CONFEF Conselho Federal de Educação Física CPO Comitê de Planejamento Operacional DDE Departamento de Desportos do Exército EAD Educação a Distância EF Educação Física

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EMFA Estado Maior das Forças Armadas EPT Esporte Para Todos EsEFEX Escola Superior de Educação Física do Exército EUA Estados Unidos da América FACHA Faculdades Integradas Hélio Alonso FIFA Federation International Futebol Association FTESM Faculdade Souza Marques IBMR Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação IES Instituições de Ensino Superior IOB Instituto Olímpico Brasileiro IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas Avançadas JMM Jogos Mundiais Militares LMF Liga Militar de Futebol LSE Liga de Sports do Exérctio LOA Lei Orçamentária Anual

MD Ministério da Defesa ME Ministério da Educação ME Ministério do Esporte OM Organizações Militares ONU Organização das Nações Unidas PAA Programa Atletas de Alto Rendimento PCdoB Partido Comunista do Brasil PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro

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PPA Plano Plurianual PT Partido dos Trabalhadores R7 Rede Record TCU Tribunal de Contas da União SPEEL Seminário de Políticas Públicas em Esporte e Lazer UAM Universidade Anhembi Morumbi UCB Universidade Castelo Branco UFF Universidade Federal Fluminense UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro UNB Universidade de Brasília UNESA Universidade Estácio de Sá

UNIABEU Centro Universitário Abreu UNIAGRO Universidade do Grande Rio UNILEVER Companhia multinacional que produz bens de consumo

UNISUAM Centro Universitário Augusto Mota UPP Unidade de Polícia Pacificadora URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas UVA Universidade Veiga de Almeida

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A democratização das entidades de administração e

prática esportivas urge ser realizada de modo a

eliminar-se de uma vez por todas a configuração delas

como verdadeiros feudos nas mãos de senhores

feudais modernos que se eternizam no poder, fazendo

uso privado da estrutura esportiva nacional que

deveria estar a serviço de efetivar a máxima

constitucional de termos o Esporte como direito

social.

Lino Castellani Filho

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INTRODUÇÃO

O esporte brasileiro está cumprindo, no decorrer das duas primeiras décadas do

século XXI, uma intensa e importante agenda esportiva, marcada pela chegada das

principais competições mundiais em solo brasileiro. Para o Brasil, esse ciclo de grandes

eventos esportivos teve seu início, em 2007, com os Jogos Pan-Americanos do Rio de

Janeiro, seguidos pela V edição dos Jogos Mundiais Militares, em 2011, a Copa das

Confederações, e a Gymnasíade, em 2013, o Mundial de Futebol, em 2014, e seguirá com

os Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016, a Copa América, em 2017, e a Universíade,

em 2019.

No entanto, a realização desses megaeventos em solo brasileiro responde muito

mais à lógica de desenvolvimento urbano centrado no negócio imobiliário e turístico do que

propriamente à da política esportiva, estabelecendo, assim, uma sintonia entre os interesses

do setor conservador1 do campo esportivo brasileiro e a nova ordem político-econômica

mundial. Vainer (2011) esclarece que esses megaeventos esportivos não acontecem por

mero acaso, mas fazem parte de um novo modelo de planejamento urbano em que muito

mais do que o atendimento aos interesses da população, estão os interesses voltados para o

grande capital, os grandes negócios financeiros, transformando as cidades em empresas que

concorrem no mercado com outras ‘cidades-empresas’, na busca de capitais, investimentos

e pelos próprios eventos2. Para o mesmo autor esses megaeventos: “[...] realizam, de

maneira plena e intensa, a cidade de exceção. A cidade dos megaeventos é a cidade das

decisões ad hoc, das isenções, das autorizações especiais... e também das autoridades

especiais" (VAINER, 2010, p. 11).

1 O setor conservador do campo esportivo brasileiro é constituído por entidades com personalidade jurídica de direito privado (entidades de administração do esporte brasileiro) como a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), as Confederações, Federações e Clubes desportivos. Mais recentemente se aliou a este grupo um Conselho, o CONFEF (Conselho Federal de Educação Física). 2 Entrevista com o professor Carlos Vainer do IPPUR/UFRJ (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro), podendo ser vista na íntegra no endereço eletrônico:http://carosamigos.terra.com.br/index/index.php/cotidiano/1216-entrevista-carlos-vainer. Acessado em 06/06/2013.

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Tais fatos encontram terreno fértil principalmente quando se verifica, no Brasil,

a ausência de um Sistema Nacional de Esporte, cujas competências e responsabilidades

sejam bem definidas, e a presença de um Ministério que, aliado a entidades de

administração do esporte em busca de legitimação e reconhecimento dentro do campo

esportivo, torna sua agenda refém da agenda definida por esse grupo, ou seja, voltada para

o esporte de alto rendimento, em detrimento da manifestação do esporte como prática social

e conquista cultural do povo.

Nesse contexto, sobressai-se a realização da V edição dos Jogos Mundiais

Militares e que chama a atenção e aguça o interesse do pesquisador pelo tema, num

primeiro momento, pela curiosidade em busca do conhecimento acerca da especificidade do

esporte militar. Em um segundo momento, chama a atenção, quando se questionam as

possíveis razões que justificaram a escolha de um país, sem nenhuma tradição no esporte

fardado, credenciando-o a sediar uma edição dos JMMs.

Essa falta de tradição parece não ter sido suficiente para impedir que o Brasil se

candidatasse e vencesse, em 2007, a Turquia, em Burkina Faso, na África Ocidental, na

disputa para sediar a V edição dos Jogos Mundiais Militares, que chegou ao Brasil no ano

de 2011 com status de um megaevento esportivo. Também foi determinante para definir o

objeto desta tese a constatação da insipiência de estudos sobre o Esporte Militar Brasileiro,

motivador da, até certo ponto, “surpresa” demonstrada tanto pela mídia especializada,

quanto pelo meio acadêmico.

A relevância dessa temática aumenta, quando se percebe que a escolha não se dá

por obra do acaso, mas se alinha ao pensamento do governo brasileiro, num momento de

reposicionamento do país no cenário mundial, dando visibilidade a ele e provocando a

abertura de uma janela3 de oportunidades político-econômicas4 e de sua inserção, de forma

3 Termo utilizado por André Singer em entrevista ao Instituto Humano Usininos em 29 de novembro de 2010. Entrevista na íntegra no endereço eletrônico: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3674&secao=352. Acessado em 08/06/2013. 4 André Singer em seu livro intitulado Os Sentidos do Lulismo, cita essa janela de oportunidades como a grande sacada de Lula, que tem: “[...] a percepção “de que havia uma janela de oportunidade para fazer uma política distributiva, mesmo mantendo a orientação macroeconômica que vinha do governo anterior. (...) Tenho a impressão de que isso não estava na previsão de ninguém”. O autor ainda complementa dizendo que: “A conjuntura econômica mundial favorável entre 2003 e 2008, não só por apresentar um ciclo de expansão

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protagônica, nesse cenário, utilizando como estratégia para atingir esse objetivo os

megaeventos esportivos. Além disso, tais oportunidades propiciam, cada vez mais, a

legitimação do discurso das entidades conservadoras do campo esportivo brasileiro, por

meio do qual acreditam incluir o país entre as principais potências do esporte internacional.

Diante de tais considerações, aumenta ainda mais a pertinência deste estudo, que

elencou como seu objeto o Esporte Militar brasileiro, do qual emerge a questão central que

norteará esta pesquisa: Qual o atual lugar do Esporte Militar na política esportiva

nacional? Dessa pergunta central deriva o objetivo geral do trabalho, ou seja, analisar a

estratégia de sua reinserção na política esportiva brasileira, tendo os V Jogos Mundiais

Militares como elemento canalizador de suas ações no âmbito dos megaeventos esportivos.

A hipótese inicial desta tese é a de que os JMMs em solo brasileiro aconteceram como parte

de um planejamento estratégico advindo da parceria estabelecida entre o Comitê Olímpico

Brasileiro, o Governo Federal e as Forças Armadas, objetivando o cumprimento de uma

agenda pré-definida, com vistas a um projeto muito maior, ou seja, a subsequente

participação brasileira nos Jogos Olímpicos de 2016, na cidade do Rio de Janeiro.

Outros questionamentos também relevantes para a compreensão da discussão

acerca do assunto se materializam por meio dos seguintes objetivos específicos: i) partindo

da realização da V Edição dos JMMs, retornar às quatro edições anteriores, identificando a

participação do Esporte Militar Brasileiro em diálogo com a política esportiva, à época de

cada uma delas; ii) analisar o “dia seguinte” aos JMMs, os investimentos realizados, seus

legados, a preparação brasileira para as Olimpíadas de Londres, em 2012, os JMMs em

2015, na Coreia, e os Jogos Olímpicos, em 2016; iii) analisar criticamente a realização dos

Jogos Mundiais Militares no Brasil à luz do referencial teórico adotado.

As questões foram respondidas por meio de uma pesquisa qualitativa, de cunho

documental/bibliográfico, que se ancorou em matérias jornalísticas, em material impresso,

como a revista Verde Oliva das Forças Armadas, e virtual, como a consulta a sites

especializados do Conselho Internacional de Esporte Militar, da Comissão Desportiva

capitalista como por envolver um boom de commodities, ajudou a produzir o lulismo. No entanto, foram as decisões do primeiro mandato, intensificadas no segundo, que canalizaram o vento a favor da economia internacional para a redução da pobreza e a ativação do mercado interno. Lula aproveitou a onda de expansão mundial e optou por caminho intermediário ao neoliberalismo da década anterior” (SINGER, 2012, p.16).

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Militar do Brasil, da Escola Superior de Educação Física do Exército, da Comissão

Desportiva do Exército, do Centro de Capacitação Física do Exército; ao site oficial dos

Jogos Mundiais Militares no Brasil e notícias da mídia em geral e esportiva. Foram

utilizados também relatórios de acompanhamento dos Jogos, por meio da página eletrônica

do Tribunal de Contas da União, do site Contas Abertas, e do Portal da Transparência do

Governo Federal, com a ajuda dos quais tivemos a pretensão de desvelar as entrelinhas da

organização e realização da V edição dos JMMs no Brasil.

O método utilizado foi o Materialismo Histórico-Dialético, o qual permitiu

pautar-nos pela categoria da contradição, da não aceitação da forma linear como os fatos

são colocados e aceitos, levando-nos a investigá-los à luz do seu movimento, “[...] visando,

assim, ultrapassar os limites da lógica formal” (KOSIK, 1976). Para tanto, utilizamos uma

técnica denominada triangulação de dados que, segundo Mynaio (2007), nos permite

analisar a pesquisa, estabelecendo um vínculo entre pensamento e ação, relacionando as

questões que se deseja investigar em relação a interesses e circunstâncias condicionados

socialmente, sendo impossível conceber certo fenômeno como algo isolado, sem raízes

históricas e sem vinculações estreitas e essenciais com a macrorrealidade social.

Além disso, as questões colocadas foram analisadas na interlocução com os

seguintes autores: Castelan (2011), Castellani Filho (1985, 2008, 2009, 2010, 2012, 2014),

Correa (2006), Gaffney (2011), Hobsbawn (2010), Kosik (1975), Lardies (1971), Linhales

(2006), Mascarenhas F. (2012), Mascarenhas G. (2011), Mynaio (2007), Ferreira Neto

(1998), Rolnik (2012), Trivinõs (2008), Vainer (2011).

Dessa forma, o estudo foi estruturado em três capítulos, assim dispostos:

No primeiro capítulo foi abordada, de forma mais descritiva, a realização dos V

Jogos Mundiais Militares no Brasil, a partir do qual buscamos retornar à gênese do Esporte

Militar na política esportiva brasileira, o surgimento do Conseil Internacional du Sport

Militaire e, a partir dele, a criação dos Jogos Mundiais Militares; a participação brasileira

nas quatro edições anteriores dos JMMs, dialogando com a política esportiva brasileira à

época de cada uma delas, buscando identificar o lugar ocupado pelo Esporte Militar nessa

política que credenciasse o país a sediar uma edição dos Jogos Mundiais Militares. No

caminho percorrido, focalizou-se a construção das vilas militares, a configuração da CPO –

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Comissão de Planejamento Operacional dos Jogos -, a formação da delegação militar

brasileira, vistos sob a lente da mídia em geral e da especializada e a opinião do público em

geral.

No segundo, buscamos apresentar o “dia seguinte” aos V Jogos Mundiais

Militares no Brasil, trazendo os legados por ele deixados, sob a ótica dos principais

interessados, como as Forças Armadas, o Governo Federal e o Comitê Olímpico Brasileiro;

os valores investidos, os legados socioeducacionais, os resultados obtidos e a preparação da

delegação brasileira para os Jogos Olímpicos, em Londres/2012, os JMMs, em 2015, na

Coreia do Norte e no Rio, em 2016, por meio da sintonia estabelecida entre a agenda

esportiva civil e a militar tanto em nível nacional como internacional.

No terceiro capítulo, apresentamos uma análise crítica acerca da realização dos V

Jogos Mundiais Militares no Brasil, tendo como ponto de partida a escolha brasileira para

sediar os Jogos Olímpicos, em 2016, o posicionamento estratégico das Forças Armadas

frente às entidades de administração do esporte nacional e à agenda Rio-2016, e à expansão

do esporte de alto rendimento como o verdadeiro legado socioeducacional dos Jogos

Mundiais Militares.

Nas Considerações Finais buscamos fazer uma síntese dos capítulos anteriores,

com vistas à resposta à questão central deste estudo, também sob uma perspectiva crítica,

retomando e avaliando os objetivos deste trabalho e o nível de satisfação obtido na sua

contemplação.

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CAPÍTULO 1 - A REALIZAÇÃO DOS JOGOS MUNDIAIS MILITARES NO BRASIL

É vital o historiador lutar contra a mentira.

O historiador não pode inventar nada, e sim revelar o passado que

controla o presente às ocultas.

Eric Hobsbawn

Em julho de 2011, foi realizada, em solo brasileiro, a V edição dos Jogos

Mundiais Militares, um megaevento esportivo que, durante os 09 dias de sua realização,

transformou a cidade do Rio de Janeiro na capital mundial do esporte militar, trazendo para

tanto uma grandiosa estrutura que contou com números impressionantes, como a presença

de 110 países, 6.000 atletas que disputaram 459 medalhas de ouro, 459 de prata e 503 de

bronze, 2.000 delegados e árbitros, e 1.706 oficiais. Somada a esses números, os Jogos

ainda puderam contar com uma força de trabalho de 25.735 pessoas, sendo 2.267

voluntários, 17.952 militares de apoio, 4.647 terceirizados e 724 envolvidos nas operações

do evento, superando em números os Jogos Pan-americanos – Rio 20075.

O Brasil foi escolhido para sediar os JMMs, em Ougadougou, capital de Burkina

Faso, na África Ocidental, em maio de 2007, durante a 62ª Assembleia Geral do CISM

(Conselho Internacional du Sports Militaire), que contou com a participação de 133 países.

Apresentaram-se como candidatos a sediar os Jogos, em 2011, Brasil e Turquia, e o país

latino-americano levou a melhor, sendo escolhido para sediar o evento, que aconteceria de

16 a 24 de julho de 2011, na cidade do Rio de Janeiro. O CISM justificou ser decisiva a

5 Dados retirados do site oficial dos Jogos, presente na página: http://www.rio2011.mil.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2544%3Ajogos-mundiais-militares-rio-2011-chegam-ao-fim-com-saldo-positivo-e-brasil-na-frente-&catid=40%3Arelease&Itemid=73&lang=pt. Acessado em 10/07/2012.

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escolha do Brasil e da cidade do Rio de Janeiro, pelas já existentes estruturas esportivas

construídas para a realização do Pan e do Para-Pan de 2007, que se alia à experiência na

realização de grandes eventos e ao extremo interesse demonstrado pelas autoridades locais

em sediar o evento, fato este que ajudou a “bater o martelo” a favor das Forças Armadas

Brasileiras.

Para dar conta de tal tarefa, o Brasil já contava com uma instituição específica

para as questões relativas ao Esporte de cunho militar, a Comissão Desportiva Militar do

Brasil (CDMB), órgão subordinado ao CISM, criado em 1956, com sede em Brasília,

integrando a estrutura do Ministério da Defesa, estando vinculada à Secretaria de Pessoal,

Ensino, Saúde e Desporto. A CDMB possui como principal responsabilidade organizar e

coordenar os assuntos referentes ao esporte militar no Brasil, por meio do qual trabalha em

parceria com as Forças singulares na elaboração de competições esportivas entre as Forças

Armadas, quais sejam: Exército, Marinha e Aeronáutica6. Atualmente, ela trabalha com 14

modalidades esportivas, priorizando as categorias com características essencialmente

militares: Atletismo, Basquete, Cross-Country, Esgrima, Futebol, Judô, Natação,

Orientação, Paraquedismo, Pentatlo Militar, Tênis, Tiro, Triatlo, Vôlei.

Essa comissão foi presidida à época dos JMMs pelo Vice-almirante Bernardo

José Pierantoni Gambôa, que permaneceu no cargo por um período maior que o estipulado

pelas normas do CISM, que prevê a passagem de comando a cada dois anos, em relação à

presidência, por causa da escolha do Brasil para sediar a V edição dos Jogos Mundiais

Militares. O Vice-almirante só foi substituído no ano de 2012 pelo General de Divisão

Fernando Azevedo e Silva 7, que comandou o Centro de Capacitação Física do Exército

(CCFEx), no Rio de Janeiro, por três anos, acumulando também a função de presidente da

Comissão de Desportos do Exército (CDE), cargo que fez com que reunisse experiência na

área de desporto militar.

A CDE realiza um trabalho similar ao da CDMB, em nível do exército, estando

esta Comissão subordinada ao Centro de Capacitação Física do Exército (CCFEx), criado

6 Informações retiradas do site dos Jogos Mundiais Militares no Brasil, no endereço: http://www.rio2011.mil.br/index.php?option=com_content&view=article&id=246&Itemid=103&lang=pt 7 Texto na íntegra no endereço eletrônico: http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2012/02/08/comissao-desportiva-militar-tem-novo-presidente. Acessado em 10/07/2012.

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em 1915, tendo como seu órgão precursor a Liga de Futebol Militar (LFM)8. Está

localizada no histórico morro “Cara de Cão”, no bairro da Urca, dentro da Fortaleza de São

João, e tem como principal objetivo planejar, organizar, dirigir coordenar, controlar e

supervisionar a prática desportiva do exército brasileiro. À CDE coube a responsabilidade,

o planejamento e a preparação dos selecionados militares brasileiros de 10 das 20

modalidades desportivas que seriam disputadas nos JMMs, perfazendo um total de 58% da

delegação militar brasileira, cabendo à Marinha a preparação de 6 modalidades e à

Aeronáutica, outras 4, conforme pode-se comprovar no anexo 1. As equipes preparadas

pelo Exército utilizaram, como estrutura para o treinamento, a Escola Superior de Educação

Física do Exército – EsEFEX9, instituição criada em 19 de outubro de 1933, no governo de

Getúlio Vargas, que se tornou a: “[...] célula-mater na formação de profissionais para a área

no país, sendo nomeado seu primeiro comandante o Major Raul Mendes de Vasconcelos”.

(FERREIRA NETO, 1998, p. 296), e que conta atualmente com uma estrutura esportiva

completa com campo de futebol, sala de musculação, pista oficial de atletismo e piscina

semiolímpica.

Porém, antes da escolha brasileira para sediar a V edição dos JMMs, outras

quatro foram realizadas, sendo a primeira na cidade de Roma, em 1995, a segunda, na

Croácia, em 1999, a terceira, em 2003, em Catânia, na Itália, e a quarta, em Hyderabad, na

Índia, em 2007. A edição brasileira no Rio de Janeiro em 2011 foi a quinta edição, e a sexta

está prevista pra acontecer em Mungyeong, na Coreia do Norte, em 2015. Nesse sentido,

para uma melhor compreensão do contexto da realização de uma edição dos Jogos

Mundiais Militares no Brasil, emerge como premissa básica, a necessidade de retornar à

realização de cada uma das quatro edições anteriores, analisando-as sob a ótica da criação

do Conselho Internacional de Esporte Militar, trazendo dados da participação brasileira em

8 Informações retiradas da Revista Verde-Oliva do Exército Brasileiro, edição especial sobre o Exército brasileiro nos V Jogos Mundiais Militares. 9 Na data de 19 de outubro, o Governo Vargas pelo decreto 23252, muda a denominação do CMEF para Escola de Educação Física do Exército, dando-lhe nova organização, atualizando os seus currículos e ampliando os seus objetivos. Desde então, a EsEFEx assumiu uma função de formadora com atuação em todo o território nacional, frequentemente em condições pioneiras em diversas regiões. Esta vocação para influenciar a Educação Física em escala nacional – e mais tarde admitindo alunos do exterior – passou por estágios distintos, refletindo o próprio desenvolvimento do esporte e atividades físicas de lazer, ora em perspectiva militar (instrutores), ora civil (professores e médicos). Retirado do endereço eletrônico: http://www.esefex.ensino.eb.br/. Acessado no dia 10/05/2013.

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cada um dos períodos correspondentes a uma edição dos Jogos, em interlocução com a

estruturação do Esporte Militar na legislação e na política esportiva brasileira, à época.

Buscar-se-ão, assim, elementos que nos ajudarão a explicar o porquê de uma mudança de

postura das entidades que administram o esporte brasileiro em sediar, em um país sem

nenhuma tradição nesse esporte, uma edição dos JMMs.

1.1– Qual o significado da realização de uma edição dos JMM para a lógica esportiva

brasileira? Uma viagem à história dos Jogos Mundiais Militares.

O século XX tornou-se, sem sombra de dúvidas, um dos períodos mais

conturbados e incertos da história da humanidade, marcado profundamente por conflitos

bélicos e pelo neocolonialismo. Para Hobsbawn (2010), “[...] foi um século breve e

extremado, sua história e suas possibilidades edificaram-se sobre catástrofes, incertezas e

crises [...]”, tendo em sua primeira etapa a “Era da Catástrofe”, ocasionada por duas guerras

mundiais, que ele classifica como um embate só: a “Guerra dos 31 Anos” (1914-1945), o

que levou o mundo e principalmente a Europa, a presenciar um grande derramamento de

sangue. Para o mesmo autor, o final da Segunda Grande Guerra Mundial trouxe consigo

uma série de soluções que acompanharam o cenário político-econômico por várias décadas:

Os impressionantes problemas sociais e econômicos do capitalismo na Era da Catástrofe aparentemente sumiram. A economia do mundo ocidental entrou em sua Era de Ouro; a democracia política ocidental, apoiada por uma extraordinária melhora na vida material, ficou estável; baniu-se a guerra para o Terceiro Mundo. Por outro lado, até mesmo a revolução pareceu ter encontrado seu caminho para frente. Os velhos impérios coloniais desapareceram ou logo estariam destinados a desaparecer. Um consórcio de Estados comunistas, organizado em torno da União Soviética, agora transformada em superpotência, parecia disposto a competir na corrida pelo crescimento econômico com o Ocidente. Isso se revelou uma ilusão, mas só na década de 1960 essa ilusão começou a desvanecer-se. Como podemos ver agora, mesmo o cenário internacional se estabilizou, embora não parecesse. Ao contrário da Grande Guerra, os ex-inimigos – Alemanha e Japão – se reintegraram na economia mundial (ocidental), e os novos inimigos – os EUA e a URSS – jamais foram realmente às vias de fato. (HOBSBAWN, 1995, p. 57).

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É nesse contexto de devastação provocado pelos holocaustos das duas Grandes

Guerras Mundiais, em meio à chamada “Era de Ouro”10 do capitalismo mundial e a guerra

ideológica entre os EUA e a URSS, em busca de uma hegemonia política, econômica e

militar do mundo denominada Guerra Fria11, que surge, em 1948, o CISM – Conseil

Internacional du Sport Militaire, criado pela Bélgica, Luxemburgo, França, Dinamarca e

Holanda, países do bloco aliado, vencedores da 2ª guerra, em Nice, durante um evento de

esgrima, cujo principal intuito era integrar as nações que participaram dos grandes conflitos

bélicos na primeira metade do século XX, na Europa. Esse Conselho tinha, ainda, por

objetivo, contribuir para a paz mundial, por meio do esporte e pela união das Forças

Armadas, utilizando como lema: “amizade através do Esporte”.

Na mesma década de 40, o Brasil vive em pleno Estado Novo, período em que

Getúlio Vargas governou o Brasil, de 1937 a 1945, tendo como principais características a

ausência de democracia, forte censura aos meios de comunicação e aplicação de um regime

de caráter Populista. Segundo Souza (2012) 12, o Populismo era uma importante estratégia

do ditador brasileiro que se ancorava em uma visível teatralização do poder, lugar de onde

o líder carismático utilizava de grandes eventos e dos novos meios de comunicação para se

dirigir à nação. Não fazendo questão de um intermediário que viabilizasse tal diálogo entre

a população e o Estado, os governantes populistas utilizavam de um discurso direto e ao 10 Para o historiador Eric Hobsbawn (1995, p.171), a Era de Ouro do capitalismo se caracteriza por um lado pela “profunda e irreversível” transformação econômica, social e cultural promovida pelo capitalismo, e por outro lado, pela grande aceleração da modernização de países agrícolas atrasados, inspirados pela Revolução Russa de 1917. Nesse período dá-se uma infinidade de “estratégias rivais” entre “capitalismo” e “socialismo”, protagonizados pelos EUA e a URSS e suas consequências concretas: as revoluções sociais, a Guerra Fria, a questão do “Socialismo Real”, e a situação do terceiro Mundo. 11 Definida por Hobsbawn (2010, p. 223) como sendo “[...] o período que vai desde o lançamento das bombas atômicas até o fim da União Soviética, como um período não homogêneo, e que divide o mundo em duas metades tendo como divisor de águas o início da década de 1970”. A Segunda Guerra mal terminara e a humanidade já se encontrava mergulhada no que se pode encarar como uma Terceira Guerra Mundial. Ainda segundo o autor, a peculiaridade da guerra ideológica entre EUA e URSS, era a de que em termos objetivos não existia perigo iminente de guerra mundial, mas havia uma distribuição global das forças no final da Segunda Guerra, que equivalia a um equilíbrio de poder desigual mas não contestado em sua essência. A URSS controlava uma parte do globo ou sobre ele exercia predominante influência com o seu exército vermelho, e outras Forças Armadas comunistas e não se utilizava da força militar para tentar ampliá-la, os EUA sobre o resto do mundo capitalista, incluindo os oceanos e o hemisfério norte assumindo o que restava da velha hegemonia imperial das antigas potências coloniais, mas não intervinha na zona aceita de hegemonia soviética. 12 http://www.mundoeducacao.com.br/politica/populismo.htm. Acessado em 20/02/2013.

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mesmo tempo inflamado para conclamar o apoio popular. Na verdade, o Populismo de

Getúlio era uma manipulação demagógica do poder burguês sobre o proletariado cujo

principal objetivo era destituir as forças de oposição ao governo por parte dos trabalhadores

(IANNI, 2006).

O Brasil vivia um governo de exceção sob os auspícios de uma ditadura que

tinha por modelo o nazismo de Hitler e o fascismo de Mussolini, cujas ideias eram

inspiradoras de todo o contexto sociopolítico brasileiro, incluindo nessa esteira, o esporte.

Para Getúlio era fato importante levar ao povo brasileiro a imagem de uma nação em

crescimento, possuidora de riquezas naturais inigualáveis e de um setor industrial em

franco crescimento, sendo este capaz de projetar o Brasil para muito além de suas fronteiras

territoriais. É no delineamento desse cenário que vimos emergir o primeiro dos sete (07)

pontos que serão abordados ao longo deste capítulo, que nos conduzirão na tarefa de

encontrar respostas à problematização inicial desta tese, ou seja, identificar qual o atual

lugar do Esporte Militar na estrutura esportiva nacional, buscando elementos que sustentem

nossa hipótese inicial de que a realização dos JMMs no Brasil só se justificou se olhada sob

os interesses do Governo Federal e do COB, visando à realização dos Jogos Olímpicos, no

Rio, em 2016.

Seguindo então a lógica do Governo getulista, o Brasil presencia o surgimento

do primeiro dispositivo legal que trouxe consigo o claro intuito de disciplinar e organizar o

campo esportivo brasileiro13, em 14 de abril de 1941, quando é assinado o Decreto-Lei

3.199 que criou em seu Art. 1º o CND – Conselho Nacional de Desportos, vinculado ao

13 Castellani Filho (2008) nos relata que, até então, o governo ainda não havia lançado seus olhares sobre o campo esportivo, e um fato fez com que fosse chamada a atenção do presidente, principalmente pelo seu resultado negativo culminando na ordem dada ao então Ministro João Lyra Filho da criação de um projeto que disciplinasse o esporte no Brasil, construindo amparos legais que organizassem esse campo, com o claro objetivo de incorporá-lo às ações governamentais para que o Estado pudesse, também, assim como na política, na economia, na educação, intervir no âmbito do esporte brasileiro. Além disso, até então, o Brasil permitia em sua organização esportiva que mais de uma Confederação tivesse comando sobre a mesma modalidade de esporte. Outro fator que poderia também ter contribuído para que o Estado lançasse os olhares sobre essa área e acelerasse sua intervenção sobre ela foi o fato de que, para o poder público, as disputas e rivalidades entre os grupos nesse campo eram focos de disputas políticas, motivo para impedir que opositores ao Governo fizessem campanha contra a forma autoritária de como ele conduzia os setores da vida social brasileira. O Estado interviria para garantir a neutralidade entre esses grupos, consolidando assim uma estrutura que garantisse o funcionamento do sistema esportivo brasileiro tendo por base princípios corporativos e arbitrários. (LINHALES, 2006).

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Ministério da Educação e Saúde, que tinha por objetivo primeiro orientar, fiscalizar e

incentivar a prática dos desportos, em todo o país. (LARDIES, 1971).

Nesse mesmo documento, o esporte de ordem militar14 no Brasil aparece

normatizado, pela primeira vez, no Art. 11, porém com sua organização à parte, juntamente

com o esporte universitário, o esporte da juventude brasileira, da marinha, do exército e de

outras forças policiais, como policiais militares e bombeiros, sempre sob a supervisão do

CND e dirigido por Confederações e entidades especiais. Correia (2006, p.420) relata que

“O esporte militar no Brasil até o final da década de 1940 desenvolveu-se de forma isolada

em cada Força Singular (Marinha, Exército e Aeronáutica) e Auxiliar (Polícias Militares e

Bombeiros dos Estados)15.”

De volta ao cenário mundial, houve várias tentativas de organizar competições

esportivas entre os países das Forças Aliadas, após o final da Primeira Guerra, tentativas estas

que não obtiveram muito êxito, caindo logo no esquecimento por parte dos órgãos militares.

Porém, com o encerramento da Segunda Grande Guerra, em 1945, e por meio de um

campeonato de atletismo realizado em Berlim, em 1946, entre os países que compunham as

Forças Aliadas, foram nomeados o Coronel Debrus e o Major Mollet para criarem o CDFA- 14 No Brasil desde o início do século XX existiram várias tentativas de dar ao esporte militar uma organização. Nesse sentido, é a partir da segunda década deste século principalmente no exército, que essa organização parece se delinear, com a criação da LMF – Liga Militar de Futebol em 1915, que modificaria seu nome para LSE – Liga de Sports do Exército em 1920. Em 1922, já sob o comando da missão militar francesa, comemorando o centenário da independência, a Liga cria a Comissão Militar Esportiva, que é designada para, em parceria com a Confederação Brasileira de Desporto, realizar, pela primeira vez na América do Sul, os Jogos Latino-Americanos, ficando responsável por conduzir os esportes tipicamente militares, como os Hípicos, o Atletismo, o Tiro, a Esgrima, o Futebol e o Pentatlo Moderno. Almeida (2010, p. 11) nos relata que: “A marinha também possuía uma Liga de Sports, porém seu principal intuito era a formação de monitores de educação física”. De 1922 a 1929, são realizadas algumas competições esporádicas dentro do exército, sendo que, nesse período, o esporte militar possuía extrema dificuldade para a realização de suas competições, suspendendo, então, as atividades da Liga Mesmo assim, em 1929, é realizada a I Olimpíada do Exército, e em 1930 é inaugurado o Centro Militar de Educação Física, que cria uma diretoria de Educação Física em substituição à LSE – Liga Sports do Exército, subordinada ao Ministro da Guerra, tendo como órgão técnico a futura Escola Superior de Educação Física do Exército, que foi criada em 1933, pelo então presidente da República Getúlio Vargas, em 19 de outubro de 1933, por meio do decreto 2.3252/1933. 15 Merece ser ressaltado no que tange à especificidade do Esporte Militar, que, desde o primeiro ordenamento legal do esporte nacional, na década de 40 do século passado, ele tinha a prerrogativa de participar do esporte federado. Castellani Filho (2008) deixa clara a existência de um pseudo-sistema esportivo que normatizava apenas o esporte de alto rendimento, o esporte federado, estabelecendo a lógica de que tanto o esporte estudantil quanto o esporte militar poderiam participar de competições do esporte federado, não sendo a recíproca verdadeira, ou seja, o esporte federado (clubes) não poderia participar de competições organizadas pelo esporte estudantil e militar.

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Conselho Desportivo das Forças Armadas - que durou pouco tempo por conta de

discordâncias políticas16. Porém,

O desejo dos militares de se encontrarem em arenas esportivas no lugar de campos de batalha não era uma novidade em 1948. Na realidade, os primeiros Jogos Inter-Aliados foram realizados logo após o fim da Primeira Guerra Mundial, a partir de uma iniciativa do General Pershing e de sua comitiva, contando com a participação de 18 nações representantes de cinco continentes. Em 1919, em Joinville, nos subúrbios de Paris, 1.500 atletas competiram em 24 modalidades diferentes diante de grande público.17

Com a criação do Conselho, começaram a ser realizadas, de forma mais efetiva,

competições, em nível internacional, de modalidades esportivas com maiores características

do esporte militar, como a esgrima, o pentatlo, as corridas e o tiro. Outro fato importante é

que, aos poucos, diversos países foram aderindo ao CISM, dentre os quais podemos citar a

Argentina e o Egito, em 1950, os Estados Unidos da América em 1951, e, em 1952,

Paquistão, Síria, Líbano e Iraque, tendo o Brasil se filiado ao Conselho, em 1958. Na

mesma década de 50, mais precisamente em 1951, no Brasil, por iniciativa do

Departamento de Desporto do Exército – DDE - é fundada uma sede do Conselho

Desportivo das Forças Armadas (CDFA), cujo principal objetivo era organizar as

competições em nível militar no âmbito nacional18, porém seu reconhecimento, dentro da

legislação esportiva brasileira, só acontece por meio do Decreto nº 38.778, de 27 de

fevereiro de 1956, que “Dispõe sobre a criação da Comissão Desportiva das Forças

Armadas” (LARDIES, 1971, p. 51).

16 Texto na íntegra no site: http://www.cism-milsport.org/eng/002_ABOUT_CISM/History/History.asp. Acessado em 10/07/2012. 17 http://www.30cismworldmilitaryvolleyball.com/index_port.asp. Site oficial do 30º Campeonato de Voleibol Militar realizado no Brasil em julho de 2009. Acessado em 22/08/2012. 18 Segundo (CORREA, 2006), no Brasil, o esporte militar se desenvolveu isoladamente até a década de 40, dividido em forças Singular (Marinha, Exército e Aeronáutica), e Auxiliar (Policiais Militares e Bombeiros dos Estados). Devido ao grande crescimento do CDFA, com as questões relativas ao Esporte Militar, e visando fortalecer cada vez mais a sua estrutura e comando, O CND (Conselho Nacional de Desportos) reconheceu de forma imediata, a importância do Conselho como formador de atletas de representação para os selecionados nacionais com ênfase no esporte olímpico, segundo Correa (2006), fato que acontece até os dias atuais em termos de entidades que dirigem o esporte nacional.

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Essa Comissão deveria, a partir de então, estar subordinada diretamente ao

Estado Maior das Forças Armadas (EMFA), porém ainda ligada ao DDE e trazendo em sua

composição, dirigentes esportivos do exército, da marinha e da aeronáutica, cujo presidente

seria o oficial de maior hierarquia. No ano de 1958, o CDFA desvincula-se do DDE e se

torna uma instituição própria, apenas vinculada ao EMFA. Ainda na década de 50, a CDFA

se filiou ao CISM, ampliando, assim, sua participação em competições internacionais.

Nas décadas de 60 e 70 o CISM realizou várias competições, em nível

internacional, com o intuito de agregar cada vez mais as Forças Armadas de todo o mundo.

Na década de 80 nota-se um grandioso crescimento dessa instituição provocado por

importantes acontecimentos que modificaram todo o contexto social, político e econômico do

mundo, como a Queda do Muro de Berlim, o Consenso de Washington e o fim da Guerra

Fria. Só após tais acontecimentos o CISM atinge a universalidade e obtém o seu

reconhecimento por parte do Comitê Olímpico Internacional (COI), impulsionando ainda

mais o seu crescimento, recebendo em apenas quatro anos (1990 a 1994) a adesão de mais de

31 novos países. Outro importante fator que em muito contribuiu para o grande crescimento

do CISM, no início da década de 90, foi a adesão dos países do leste europeu que

compunham o Pacto de Varsóvia e que até então tinham em seu seio uma instituição muito

parecida denominada SKDA, e que também passou a não existir após o declínio da URSS

(União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).

Somente na década de 60 o Esporte militar começa a se integrar à lógica

esportiva brasileira, momento em que destacamos um segundo ponto, quando a CDFA se

une a Confederação Brasileira de Desportos (CBD)19 e outras entidades civis, em busca da

19 O Decreto-lei 3.199 de 14 de abril de 1941, estabelece as bases de organização de todo o país. No capítulo III – Das Confederações Desportivas em seu Art. 12, Art. 12. Coloca as confederações, imediatamente colocadas sob a alta superintendência do Conselho Nacional de Desportos sendo estas as entidades máximas de direção dos desportos nacionais. Art. 15. Consideram-se, desde logo, constituídas para todos os efeitos, várias Confederações, dentre elas a CBD – Confederação Brasileira de Desportos. Parágrafo único. A Confederação Brasileira de Desportos, compreenderá o foot-ball, o tênis, o atletismo, o remo, a natação, os saltos, o water-polo, o volley-ball o hand-ball, e bem assim quaisquer outros desportos que não entrem a ser dirigidos por outra confederação especializada ou eclética ou não estejam vinculados a qualquer entidade de natureza especial nos termos do art. 10 deste decreto-lei; as demais confederações mencionadas no presente artigo têm a sua competência desportiva determinada na própria denominação. Retirado do endereço

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criação de novas competições, conhecimento técnico e experiência em administração

desportiva, realizando uma série de intercâmbios internacionais. Em 1964, o Decreto nº

54.559, de 23 de outubro, do então Presidente da República, Castelo Branco, altera a

formação organizacional da CDFA desligando-a da DDE e deixando-a subordinada

diretamente ao EMFA. Na década de 70, consolida-se a semente plantada pela CDFA na

década de 60, quando a seleção brasileira de futebol se sagra tricampeã, tendo realizado seu

treinamento na EsSEFEx, estendendo-se à revelação de atletas, como o Cabo João do pulo,

que era do exército, e o Taifeiro Nélson Prudêncio, que pertencia à Aeronáutica.

Futuramente, por meio do Decreto 78.392 de 1976, regulamentado pelo Decreto 80.072 de

1983, a CDFA, se tornaria a atual CDMB (Comissão Desportiva Militar do Brasil).

(CORREA, 2006).

Em 1975, o decreto-lei 3.199/41 dá lugar à lei 6.251, de 08 de outubro,

regulamentada pelo Decreto 80.228/77, constatando que não foram alterados os parâmetros

autoritários e políticos da lei vigente para o esporte, por buscar reafirmar a autoridade da

intervenção do Estado sobre o campo esportivo. Tanto o Decreto-lei 3.199/41 quanto a lei

6.251/75 apresentam poucas modificações em seu texto com relação ao esporte militar,

porém em seu Art. 34, a nova organização do Sistema Desportivo Nacional traz uma

significativa alteração, quando autoriza as equipes do desporto militar a “[...] participar de

campeonatos e torneios regionais e nacionais dirigidos ou organizados pelas confederações

e federações dirigentes do desporto comunitário nas regiões sob a jurisdição destas

entidades” (BRASIL, 1975, art. 34). É importante ressaltar que, na Lei, desporto

comunitário é sinônimo de desporto Federado.

Também é importante ressaltar que tanto o Decreto-lei 3.199/41 quanto a Lei

6.251/75, os dois primeiros documentos oficiais do esporte brasileiro, são advindos de

períodos autoritários de exceção e marcados por um forte clima de violência e repressão,

física e ideológica, junto à população brasileira. Em 1975, período em que a lei entra em

vigência, o Brasil vive os anos de chumbo da ditadura militar, momento em que o governo

eletrônico http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del3199.htm. Acessado em 09/05/2013.

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intervém na sociedade, tendo como parceiro para suas ações as Forças Armadas. Porém,

essa proximidade parece ficar limitada a ações estratégicas do Governo, pois o esporte

militar não consegue alçar voo na legislação esportiva, dando mostras de que permaneceria

sempre em segundo plano e obediente às determinações do campo do alto rendimento, este

sim, sempre amparado e sustentado na legislação esportiva, garantindo sempre uma

adequação necessária em cada momento da história político-econômica do Brasil.

A apresentação desse novo quadro também modifica o contexto do Esporte

Militar Brasileiro, principalmente quando fica constatado que a CDFA - que viveu na

década de 60 seus tempos de glória, principalmente pela aproximação da CBD e das

entidades civis - começa a ver, ao final da década de 70, no bojo das modificações ora

apresentadas na legislação, que essa parceria começaria a dar sinais de ruptura, levando as

Forças Armadas a uma perda substancial de recursos que eram destinados à realização de

suas competições e que eram cedidos pelo Governo por intermédio da CBD20. Tal fato faz

emergir o terceiro ponto que merece nossa especial atenção, pois, com todo o contexto

delineado pela legislação em favor do esporte de rendimento, pelo alto investimento

científico em pesquisas na área do Esporte Performance, da saúde e da prática da atividade

física, o Esporte Militar adentra a década de 80 relegado a um isolamento ainda maior,

proporcionado pelo novo momento do contexto esportivo nacional.

Na década de 80, a Comissão de Reformulação do Desporto Nacional21,

Presidida por Manoel Gomes Tubino, reconceitua o esporte no Brasil para fins de definição

20 Texto na íntegra no endereço eletrônico disponível em: http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/26.pdf. Acessado em 10/06/2013. 21 Manoel Gomes Tubino era Professor de Educação Física e Capitão de Fragatta da Marinha Brasileira nas décadas de 60 e 70. Na década de 80 ocupou o cargo de Presidente do Conselho Nacional de Desportos e em 1989 acumula o cargo de Secretário da SEED – Secretaria de Educação Física e Desporto do MEC. Na mesma década de 80 e em meio ao clima eufórico da “ampla democratização política” da Nova República e o fim do período de ditadura militar no Brasil. o governo institui, pelo Decreto nº 91.452, de 19 de julho de 1985, e regulamenta pela Portaria Ministerial nº 598, de 1º de agosto de 1985, a Comissão de Reformulação do Desporto Nacional, que seria Presidida pelo próprio Manoel Gomes Tubino. Essa comissão tinha a missão de dar novo conceito ao esporte, no Brasil, para fins de definição do Sistema Nacional de Desportos, e reformula o citado no Art. 10 da lei 6.251/75, indicando que: “[...] para efeito de caracterização e definição de sistemas e sub-sistemas do Sistema Desportivo Nacional que sejam reconhecidas as seguintes formas de organização desportiva”: Desporto Federado; II – Desporto Universitário; III – Desporto Escolar; IV – Desporto Classista; V – Desporto Militar; VI – Desporto Não-Formal ou de Promoção Social; VII - Desporto Profissional. Castellani Filho (1985) relata que o governo agiu com rapidez, constituindo comissões,

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do Sistema Nacional de Desportos. Neste documento intitulado “Uma Nova Política Para o

Desporto Brasileiro – Esporte, Uma Questão de Estado” o Esporte Militar é tratado no

documento elaborado pela Comissão de Reformulação, na Indicação nº 11, do Título: Do

Esporte Militar, por meio do qual a Comissão reconhece que esse esporte, “[...] abrange as

três (03) manifestações do conceito de Esporte indicado para o Brasil (Esporte Educação,

Esporte Participação e Esporte Performance)”.

Nota-se que na Indicação nº 11 não se encontra estabelecido de que forma serão

repassados recursos ao Esporte Militar, ficando isso a critério de uma legislação específica

que lhe assegure condições para a realização de suas competições, mesmo sendo indicado

no texto elaborado pela Comissão de Reformulação que “[...] o Brasil deva representar-se

em todas as competições internacionais promovidas pelo CISM oferecendo todas as

condições para uma boa representação nacional”. Outro fato que chama a atenção no texto

da Comissão é a tendência explícita de direcionamento do Esporte Militar para os estudos

voltados à área do treinamento e da performance, características marcantes do período e

que vinham ao encontro dos anseios do esporte federado. Dessa forma, ainda percebe-se

que, assim como nos primeiros ordenamentos da legislação esportiva brasileira, tanto o

Esporte Militar quanto o Esporte Estudantil, que engloba o esporte universitário e o esporte

escolar, permaneciam subordinados aos anseios do desporto de alto rendimento e do campo

esportivo que o comandava (formado pelas Confederações, Federações e Clubes).

Ao contrário da apática e submissa realidade do Esporte Militar Brasileiro, o

Esporte Militar em nível mundial, por meio do CISM, alia à sua crescente abrangência em

número de países a ele filiados, as importantes parcerias firmadas com renomadas

instituições esportivas internacionais para reavivar, na década de 90, o ideal que habitava o

imaginário do General Pershing, em 1919, ao Final da Primeira Guerra Mundial, e o do

Coronel Debrus e do Major Molet, na década de 40, que expressavam o desejo de realizar

uma grande competição que agregasse delegações do mundo inteiro nas mais diversas

propondo uma possível reformulação na legislação esportiva, e que tal estratégia tinha por principal objetivo desmobilizar as classes trabalhadoras, antecipando, assim, a proposição de reformas pelo governo antes que elas fossem encabeçadas pelo povo. Sob essa ótica, seria percebido: “[...] o porquê do caráter esdrúxulo das comissões constituídas, as quais possuem como único mérito, despertar a criatividade das ‘autoridades’ na busca de justificativas para a presença desta ou daquela personagem nas comissões” (CASTELLANI, 1985).

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modalidades esportivas. Foram, então, criados os Jogos Mundiais Militares, com o objetivo

de comemorar os 50 anos do final da Segunda Grande Guerra Mundial, e os 50 anos da

assinatura da Carta das nações Unidas22, e que seriam disputados em um intervalo de quatro

anos, e sempre em ano anterior à realização dos Jogos Olímpicos. Essa organização ocupa

uma posição de destaque no rol das maiores entidades esportivas mundiais, ficando em 3º

lugar em número de associados, tendo um milhão de atletas ao redor do mundo e ficando

atrás apenas do COI (Comitê Olímpico Internacional) e da FIFA (Federação Internacional

de Futebol), o que, de certa forma, lhe garante uma importância e, por que não dizer, certo

“status” na inserção do evento na agenda esportiva mundial23.

1.2 A primeira edição dos Jogos Mundiais Militares – Roma 1995.

O final da década de 80 e o início dos anos 90 acontecem em meio à turbulência

de importantes acontecimentos em nível mundial, como o Consenso de Washington24 e a

22 A Carta das Nações Unidas, ou Carta de São Francisco é o acordo que forma e estabelece a organização internacional alcunhada Nações Unidas, documento que, logo após a Segunda Guerra Mundial, criou a Organização das Nações Unidas em substituição à Liga das Nações como entidade máxima da discussão do Direito internacional e fórum de relações e entendimentos supra-nacionais. Foi assinada em São Francisco a 26 de junho de 1945 pelos cinquenta e um Estados membros originais. Como Carta, trata-se de um acordo constitutivo, e todos os membros estão sujeitos aos seus artigos. Ademais, a Carta postula que as obrigações às Nações Unidas prevalecem sobre quaisquer outras estabelecidas em tratados diversos. Grande parte dos países ratificaram-na. Retirado do site:

http://www.oas.org/dil/port/1945%20Carta%20das%20Na%C3%A7%C3%B5es%20Unidas.pdf. Disponível em 29/04/2013. 23 Dados obtidos na Revista Verde-Oliva do Exército Brasileiro – Brasília – DF. ANO XXXIX – nº 213 – Edição Especial de dezembro de 2011. Brasília-DF • Ano XXXIX • Nº 213 • Especial Dezembro 2011 - - Brasília-DF • Ano XXXIX • Nº 213 • Especial Dezembro 2011. 24 Em novembro de 1989, reuniram-se na capital dos Estados Unidos funcionários do governo norte-americano e dos organismos financeiros internacionais ali sediados - FMI, Banco Mundial e BID - especializados em assuntos latino-americanos. O objetivo do encontro, convocado pelo Institute for International Economics, sob o título "Latin American Adjustment: How Much Has Happened?", era proceder a uma avaliação das reformas econômicas empreendidas nos países da região. Para relatar a experiência de seus países também estiveram presentes diversos economistas latino-americanos. Às conclusões dessa reunião

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queda do muro de Berlim, ambos impulsionando a expansão do neoliberalismo por todo o

mundo, estabelecendo uma rota neoliberal a que muitos denominaram de recolonização de

muitas regiões do mundo, principalmente as mais pobres. Para alguns autores, o

Neoliberalismo não poderia ser tratado apenas como uma simples mudança de panorama

econômico ou político, provocado pelo enfraquecimento do Estado de bem-estar social,

mas deveria ser visto como o surgimento de uma nova força ideológica, como afirmado por

Therborn (1995, pg.39), que o considera:

[...] uma superestrutura ideológica e política, que acompanha uma transformação histórica do capitalismo moderno, por isso não se trata apenas de algo impensado e volúvel, mas algo pensado para aquele momento e para o crescimento que se pretendia alcançar dentro de uma economia forte e ao mesmo tempo exclusiva.

Anderson (1995, p.22) trata essa superestrutura como “[...] um movimento

ideológico, em escala verdadeiramente mundial, como o capitalismo jamais havia

produzido no passado. Trata-se de um corpo de doutrina coerente, autoconsciente,

militante, lucidamente decidido a transformar todo o mundo”.

Nesse cenário delineado a partir de vultosos acontecimentos que modificaram a

estrutura político-econômica mundial, acontece a primeira edição dos Jogos Mundiais

Militares, em Roma, na Itália, de 04 a 16 de setembro de 1995, país liderado por Benito

Mussolini, que compôs juntamente com a Alemanha de Hitler e o Japão de Hiroíto, o grupo

do eixo na Segunda Grande Guerra Mundial, e que foram derrotados pelos países aliados e

fundadores dos Jogos Mundiais Militares. Na ocasião dos Jogos seriam comemorados os 50

anos do final da Segunda Grande Guerra Mundial e os 50 anos da assinatura da Carta das

Nações Unidas.

Ressalta-se que, apesar da comemoração do cinquentenário da assinatura da

Carta das Nações Unidas e do discurso do CISM de que os Jogos serviriam para agregar os

militares de todo o mundo, Cuba não foi convidada a participar do evento, pois foi suspensa

da Organização dos Estados Americanos (OEA)25, órgão criado em 30 de abril 1948 (no

é que se daria, subseqüentemente, a denominação informal de "Consenso de Washington". (BATISTA, 1994, p. 07). 25 A suspensão foi revogada em 2009 pela 39ª Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos. Seria criado um grupo de trabalho para tratar do retorno de Cuba às atividades da entidade.

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mesmo ano e mês da fundação do CISM), em 31 de janeiro de 1962, e vinculado à

Organização das Nações Unidas (ONU), por declarar o caráter socialista da Revolução

Cubana e seu estreitamento de relações e união à URSS, durante a Guerra Fria.

Em números, estiveram reunidos 93 países filiados ao CISM, com a participação

de 4.017 atletas, disputando 17 modalidades esportivas: atletismo, basquetebol, boxe,

ciclismo, esgrima, equitação, futebol, judô, wrestling, natação (polo aquático, mergulho,

salvamento), paraquedismo, pentatlo moderno, pentatlo militar, pentatlo naval, tiro, triatlo,

voleibol, 2.600 pessoas mobilizadas, 1.100 veículos colocados à disposição do evento,

500.000 espectadores, 15 locais diferentes utilizados em Roma e nos seus arredores, e mais

de 200.000 pessoas reunidas para assistir à prova de ciclismo. O Estádio Olímpico de Roma

foi o palco da abertura do evento, sob as bênçãos do Papa João Paulo II, e reuniu mais de

30.000 expectadores, tendo cobertura dos meios de comunicação locais de mais de 16 horas

de transmissão ao vivo, sendo assistidas por mais de 08 milhões de pessoas no mundo

inteiro26.

Na ocasião, o presidente do COI, Juan Antônio Samaranch, expressou a

satisfação em ter o CISM como parte integrante do Comitê e o Esporte Militar haver

conquistado uma grande importância no cenário esportivo mundial: Estou aqui para

sublinhar a grande importância do esporte militar no mundo do esporte. O Papa João

Paulo II, que também esteve presente na solenidade de abertura dos Jogos, fez questão de

manifestar o seu apoio ao evento e dizer que: Estamos felizes em perceber que o seu evento

esportivo representa uma nova forma de comunicação entre as Forças Armadas do mundo.

É uma nova filosofia que incentiva um processo de paz real.

Entre os principais atletas que disputavam os Jogos, podem ser citados o fundista

e maratonista queniano Paul Tergat, que foi prata nos 5.000m, e um jovem chamado

Alessandro Del Piero, que havia se alistado no exército italiano, pouco tempo antes da

competição, o que não impediu que a Itália fosse eliminada dos Jogos, ainda nas quartas de

26 Dados retirados do site oficial do CISM endereço eletrônico: http://www.cism-milsport.org/eng/005_WORLD_GAMES/1995_rome/1995_rome. Acessado em 06/07/2012.

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final, e a França fosse a grande campeã no futebol27. O basquetebol teve uma final digna de

Guerra Fria: Rússia x Estados Unidos, com vitória fácil dos russos por 113 a 72. O nadador

russo, Denis Pankatrow, foi escolhido como o melhor atleta dos Jogos, saindo vencedor das

provas de 100 e 200 metros borboleta, estabelecendo novos recordes militares. No ano

seguinte, ele ganharia a medalha de ouro das mesmas provas nos Jogos Olímpicos de

Atlanta. No quadro de medalhas (no anexo 2), domínio amplo dos ex-soviéticos, com 62

ouros, contra 22 da Itália e 11 da China.

Um fato em particular nos chamou a atenção, principalmente quando observou-

se no quadro geral de medalhas dos Jogos Mundiais Militares da capital italiana, a fraca

participação norte-americana nessa competição, sendo apenas o 8º colocado nos Jogos,

repetindo a mesma colocação em Zagreb – 1999, 22º lugar em Catânia, na Itália, 15º lugar

em Hyderabad, 2003, e um 30º lugar no Brasil, em 2011. Este fato é justificado pelas

Forças Armadas Norte-Americanas pelo grande investimento feito ao esporte universitário,

principal celeiro de atletas olímpicos nos Estados Unidos, não sendo o objetivo principal

fazer altos investimentos no Esporte Militar. Quando o assunto é o lugar ocupado pelo

Brasil, no quadro de medalhas da 1ª edição dos Jogos, sua participação foi pífia, alcançando

apenas a 37ª colocação no quadro geral de medalhas, sendo conquistadas apenas: 1 prata –

equipe de pentatlo militar e 2 bronzes – Gleyson Alves (judô, até 60kg) e Alexander

Guedes (judô, até 78kg).

Em solo brasileiro não foi diferente, e a década de 90 também se

inicia sob a égide do pensamento que trazia em seu bojo os mesmos ideais neoliberais

defendidos pelas duas grandes potências mundiais, à época, a Inglaterra e os Estados

Unidos da América. Nesse momento, dá-se início, então, à era Collor, um filho da ditadura

militar que chega à presidência da república, no momento em que o país ainda vive um

clima de “redemocratização”, tendo como característica marcante do seu governo o

enaltecimento da iniciativa privada, a terceirização e a redução de gastos com os serviços

públicos, marca das economias neoliberais. Esse cenário também se apresenta no campo

27 Dados obtidos por meio do endereço eletrônico: http://globoesporte.globo.com/platb/memoriaec/2011/07/18/a-historia-dos-jogos-militares-mundiais/. Acessado em 29/04/2012.

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esportivo, principalmente quando o Estado cria, em 1993, a Lei 8.672 de 06 de julho de

1993, que ficou conhecida como Lei Zico que ganhou essa alcunha por causa do então

Secretário de Esportes do Governo Collor, Artur Antunes Coimbra, o Zico, tendo como

principal meta a descentralização e a maior autonomia das entidades esportivas,

diminuindo, assim, a interferência estatal sobre essas instituições. (CASTELLANI FILHO,

2008, pg. 136).

O mesmo autor (2008), ainda nos relata que nesse momento: “[...] O esporte é

submetido, portanto, ao mercado e o Estado sai de cena. Reforça-se a tese de que a

estrutura esportiva deveria ser ratificada. É fortalecida a ideia de que a sua base

organizativa deve dar-se tendo por sustentáculo as entidades com personalidade jurídica de

direito privado”. Essa Lei pouco contribui para uma possível democratização do esporte e

seu reconhecimento, como uma forma de apropriação cultural, mas delineia uma nova

forma de atuação estatal sobre o esporte brasileiro.

A lei Zico em seu texto oficial não traz maiores referências ao esporte de cunho

militar, ainda vigorando o documento elaborado na década de 80 pela Comissão de

Reformulação do Desporto Nacional. Sob essa ótica, é enviada a Roma para a primeira

edição dos JMMs uma delegação militar brasileira que teve uma participação nada louvável

ocupando o 37º lugar no quadro geral de medalhas dos jogos. Abaixo, foto da delegação

militar brasileira que representou o país nos primeiros JMMs em Roma:

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Figura 01. Delegação Militar brasileira que disputou os jogos em Roma-1995.

Fonte: Revista das Forças Armadas – 2011.

1.3 A Segunda edição dos Jogos Mundiais Militares – Zagreb 1999.

O enfraquecimento dos países do leste Europeu no fim da Guerra Fria e pela

Queda do Muro de Berlim, em 1989, trouxe para alguns países grandes consequências,

dentre as quais a Guerra de Independência da Croácia, de 1991 a 1995, uma batalha

sangrenta que devastou o país e grande parte de sua população pela luta entre Croatas e

Sérvios que não aceitavam a ideia de sua independência da República Socialista da

Iugoslávia. A região, conhecida como Região dos Balcãs, tem, segundo especialistas, duas

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principais razões para ter se tornado uma das áreas mais explosivas do planeta: 28A mistura

no mesmo território de populações diversas etnicamente, com línguas, costumes e religiões

diferentes, fez com que o nacionalismo se tornasse um causador perene de guerras, e as

frequentes intervenções, brutais ou meramente incompetentes, das demais potências

europeias e também dos EUA, em geral, apenas contribuíram para aumentar a temperatura

dos conflitos armados que, nessa região, ceifaram, desde a Segunda Guerra Mundial,

incluindo a Guerra pela Independência da Croácia, mais de 2,5 milhões de vidas. Essa

explosiva região ainda possui três religiões diferentes, sendo: cristãos ortodoxos na Sérvia,

católicos na Eslovênia e Croácia, muçulmanos na Macedônia; as outras Repúblicas têm

maior mistura de grupos religiosos.

Devido à imensa devastação do país provocada pelos vários conflitos armados,

desde o início do século XX, e principalmente pela Guerra Civil que assolou a região,

surgiu no seio do CISM a ideia de sediar a segunda edição dos JMMs na Croácia, com o

intuito de levar à população desse país a paz e a esperança por meio do esporte. Sob esse

pensamento, os Jogos aconteceram de 08 a 17 de agosto de 1999, em Zagreb,

surpreendendo a todos pela grandiosa estrutura que contou com 6734 participantes29, 82

países filiados ao CISM, 20 modalidades foram disputadas, sendo duas delas esportes de

demonstração: track and field (incluindo maratona), basquetebol, boxe, ciclismo, esgrima,

futebol / futebol, handebol, judô, orientação, lutas, natação (polo aquático, mergulho,

salvamento), paraquedismo, pentatlo militar, pentatlo naval, taekwondo, tiro, triatlo, esporte

de demonstração, voleibol, remo e canoa-caiaque. Ainda, 2.600 pessoas foram mobilizadas

para auxiliar nos Jogos, sendo que 5.124 estavam diretamente envolvidas com a segurança

do evento, e 600 pessoas para cuidar da preparação da alimentação, 465 veículos para o

transporte e auxílio à Comissão organizadora. Os Jogos ainda contaram com mais de 42

horas de transmissão, 12 horas, ao vivo, sendo assistidos por mais de 250 000 espectadores.

Ainda foram utilizadas 44 diferentes instalações desportivas em Zagreb e seus

arredores, mais 05 arenas diferentes para esportes fechados in door, e seis hotéis para alojar

28 Matéria retirada do Jornal Folha de São Paulo, no endereço eletrônico: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/balcas-instabilidade_historica.shtml. Acessado no dia 23/04/2012. 29 Informações retiradas do site oficial do CISM, no endereço eletrônico: http://www.cism-milsport.org/eng/005_WORLD_GAMES/1999_zagreb/1999_zagreb.asp. Acessado em 04/05/2013.

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as delegações convidadas. À cerimônia de abertura assistiram 30.000 espectadores no

Estádio Maksimir de Zagreb, com transmissão ao vivo pela TV nacional croata.

Deve ser ressaltado que em terras brasileiras, um ano antes da realização dos

Jogos em Zagreb (1999), o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, em

seu segundo mandato, utilizou-se de outro importante personagem da história esportiva

brasileira que emprestou seu nome a uma lei, a 9.615 de 24 de março de 1998, conhecida

como Lei Pelé, que pouco altera a Lei Zico, mas que, segundo Castellani Filho (2008,

p.137): “[...] havia a necessidade de ter a chancela do Pelé (o DNA do Pelé) numa nova lei;

numa nova configuração de uma lei esportiva brasileira, que reforça a lógica de um Estado

financiador da política esportiva centrada nas entidades esportivas com personalidade

jurídica de direito privado”.

Em seu texto oficial, a lei Pelé traz uma única referência ao Esporte Militar

também não trazendo maiores contribuições a ele, apenas reafirmando e contribuindo para

o quadro já instaurado na legislação esportiva brasileira desde a sua gênese, atribuindo ao

esporte de alto rendimento uma importância cada vez maior, ainda trazendo a reboque o

Esporte Militar e o Esporte Estudantil, conforme aparece em seu Art. 4430, por meio do

qual:

É vedada a prática do profissionalismo, em qualquer modalidade, quando se tratar de:

I - desporto educacional, seja nos estabelecimentos escolares de 1º e 2º graus ou superiores;

II - desporto militar;

III - menores até a idade de dezesseis anos completos.

Tem-se então a comprovação, por meio de dispositivos legais, que, tanto a Lei

Zico, quanto a lei Pelé, têm por principal objetivo modificar a forma como o Estado

30 Presidência da República – Casa Civil – Subchefia para Assuntos Jurídicos – Lei Nº 9.615, 24 de março de 1998. Endereço eletrônico: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9615consol.htm. Acessado em 28/08/2012.

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intervém junto ao campo esportivo brasileiro, inaugurando, a partir de então, em sintonia

com o novo contexto político-econômico mundial, uma nova forma de atuação estatal sobre

o esporte, não mais como interventor, mas, agora, como agente financiador, focando suas

atenções no modelo mercadológico e no surgimento de entidades com personalidade

jurídica de direito privado, que passam, a partir de então, a exercer papel dominante e

hegemônico dentro do campo esportivo brasileiro, momento em que apontamos um quarto

ponto a ser destacado.

O Brasil também participa dos JMMs na Croácia, terminando a competição com

outra participação sem destaque, ocupando o 22º lugar no quadro geral de medalhas

(conforme anexo 3), obtendo apenas: 1 ouro – Alexander Guedes (judô, até 81kg), 4 pratas

– Godoy de Oliveira (atletismo, 800m), Carlos Alberto Silva (pentatlo militar individual),

equipe de pentatlo militar e revezamento do pentatlo militar, 3 bronzes – Fulvio Myata

(judô, até 60kg), Sebastian Pereira (judô, até 73kg) e Ribamar Bandeira (pentatlo militar

individual).

A partir da nova lógica estabelecida para a política e para o campo esportivo

brasileiro, o Esporte Militar vê seus anseios de fortalecimento e reconhecimento dentro do

campo esportivo ganhar outro norte, o que Correa (2006, p.419) chama de pontos de

inflexão, que atrapalharam seus rumos, a partir do final da década de 70 e que se agravaram

nos anos 90 e 2000, quando o esporte passa a ser premido por uma outra lógica. Esses

pontos de inflexão seriam três: o primeiro se dá quando a comunidade científica inicia um

investimento maciço no campo da pesquisa do esporte Performance, por meio da qual as

universidades começam a desenvolver cursos de especialização em Educação Física,

criando laboratórios e centros de excelência esportiva. O segundo ponto refere-se ao

surgimento da nova legislação brasileira e à falta de representatividade da CDMB junto ao

Congresso Nacional, pois, pela nova lógica, as entidades gestoras do esporte brasileiro se

fortalecem politicamente buscando apoio no Congresso, fato este que gera uma diminuição

de recursos investidos no Esporte Militar.

O terceiro ponto refere-se a uma adequação das entidades gestoras do esporte

brasileiro à nova ordem financeira, entidades premidas pela lógica neoliberal e pelos

dirigentes que comandam o esporte de alta competição, momento em que é aprovada, junto

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ao Congresso Nacional, a lei Agnelo-Piva, que destina 2% da verba oriunda das loterias

para o esporte olímpico e paralímpico, fato que dá uma nova ênfase ao esporte de

competição no Brasil. Devido a fatos que acontecem fora do CBDM, como a ausência de

representatividade junto ao meio político e por não estar incorporado ao grupo de entidades

que dominam o campo esportivo brasileiro, ela sobrevive, buscando “[...] tentativas de

manter o esporte militar junto às entidades gestoras civis na busca de melhores resultados

esportivos”. (CORREA, 2006, p. 03).

Figura 02. Delegação Militar Brasileira em Zagreb 1999.

Fonte: Revista das Forças Armadas – 2011.

1.4 A terceira edição dos Jogos Mundiais Militares – Catânia 2003.

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Já na primeira década dos anos dois mil, a Itália voltaria a ser o palco da

realização de uma edição dos Jogos Mundiais Militares, só que desta vez a cidade escolhida

seria Catânia, segunda maior cidade da Sicília, e que foi escolhida pelo CISM, após a

desistência de Madrid, praticamente às vésperas do início do evento militar. Nesse mesmo

período, o General italiano Gianni Gola era o Presidente do CISM (1998-2010) e também

membro da Comissão de Esporte para Todos do COI, o que fez com que, mesmo com a

desistência da capital espanhola, a realização da terceira edição dos jogos fosse considerada

um grande sucesso e aconteceu de 04 a 11 de dezembro de 2003, aos pés do vulcão Etna,

um dos mais ativos do planeta e que se encontra entre as penínsulas de Messina e da

Catânia.

Estiveram presentes nesses Jogos 87 países filiados ao CISM, concorrendo em

11 modalidades esportivas, sendo que todos os atletas participantes eram do meio militar.

Foram alojados em hotéis da região escolhidos estrategicamente próximos aos locais de

competição, e, segundo a Comissão organizadora do evento, só não esteve presente um

número maior de países e a disputa de um número maior de modalidades esportivas, por

causa da data escolhida para a sua realização, mês de dezembro, quando muitas instituições

militares estão com seus contingentes em período de férias, ou envolvidos em outras

atividades 31. O Brasil conseguiu nesta terceira edição seu melhor resultado, desde a

primeira, em Roma, em 1995, ficando em 15º lugar no quadro geral de medalhas

(representado no anexo 04), tendo conseguido: 1 ouro – Bruno Pacheco (atletismo, 100m),

4 pratas – Bruno Pacheco (atletismo, 200m), Rafael Araújo (atletismo, 100m), Sérgio

Santos (atletismo,110m com barreiras), Daniel Hernandez (judô, acima de 100kg), 1 bronze

– Rafael Oliveira (natação, 50m costas).

Nesse mesmo ano, no Brasil, o processo de “redemocratização” do país, iniciado

em 1985 com a Nova República, parece chegar ao seu ápice, quando, por meio de uma

eleição direta e, movido pela vontade de grande parte da população brasileira, chega ao

poder Luís Inácio Lula da Silva, candidato do Partido dos Trabalhadores. A posse de Lula

31 Matéria na íntegra no endereço eletrônico em: http://www.cism-milsport.org/eng/005_WORLD_GAMES/2003_catania/2003_catania.asp. Acessado em 30/04/2013.

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30

como presidente da república fez renascer no povo brasileiro um forte anseio de mudança,

porque trouxe em seu discurso um clima permeado de novas expectativas e, por que não

dizer, de novas esperanças. No campo esportivo, essa expectativa também acontece,

principalmente quando o presidente eleito desvincula a pasta do Esporte da pasta do

Turismo, criando um Ministério do Esporte, inédito, independente, não vinculado a outros

ministérios, dando, assim, esperança de um novo tempo também para o esporte brasileiro.

Esse Ministério é dirigido, desde a sua gênese, pelo PCdoB, e a presença de

setores petistas dentro da estrutura do recém-criado Ministério se dá muito mais por

imposição do governo de transição, do que por vontade desse partido. Em primeiro lugar, a

pasta do Ministério é assumida pelo então Deputado Federal Agnelo dos Santos Queiroz, 1º

Ministro do Esporte da história do nosso país, (no primeiro mandato de Lula) e,

posteriormente, por seu sucessor, Orlando Silva de Jesus Júnior, até então Secretário

Executivo do próprio Ministério, ambos do PCdoB. O PT já possuía, em sua bagagem, a

experiência adquirida em duas décadas de administração governamental no campo popular

e democrático. Já o PCdoB não possuía nenhuma expressão no campo esportivo brasileiro.

Castelan (2011) nos esclarece que a terceirização do Ministério do Esporte por parte do PT

ao PCdoB atende aos compromissos de campanha do Presidente Lula, pois este partido

sempre foi um parceiro de primeira hora do PT, sempre possuiu uma história de lutas ligada

à esquerda brasileira, e também se tornaria uma forma de partilhar poder com partidos que

lhe daria sustentação no Congresso Nacional.

Novos ares pareciam embalar este novo momento, ou pelo menos se esperava

por isso, quando o Ministério do Esporte cria em um mesmo ano o Programa Segundo

Tempo, o Programa Forças no Esporte, em parceria com o Ministério da Defesa e o

Programa Esporte e Lazer da Cidade, todos em 2003. No ano de 2004, o recém-criado

Ministério do Esporte dá um importante passo em direção às questões referentes ao esporte

brasileiro, quando institui, pelo Decreto Presidencial de 21 de janeiro de 2004, a “A

Conferência Nacional do Esporte” 32, que se configura como um espaço de debate,

32 No que se refere às Conferências Nacionais de Esporte e Lazer, realizadas em 2004, 2006 e 2010, por mais que tenham tido sentido pedagógico, ao envolver nos âmbitos municipais, regionais e estaduais número significativo de pessoas na discussão de questões afetas à política esportiva brasileira, não efetivaram aquilo para a qual foram estabelecidas, o que pode ser observado e comprovado no próprio Decreto presidencial que

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31

formulação e deliberação das Políticas Públicas de Esporte e Lazer para o país” 33. A edição

de 2004 da Conferência trouxe, como tema principal, Esporte, Lazer e Desenvolvimento

Humano; a segunda, em 2006, teve como eixo central o tema Construindo o Sistema

Nacional de Esportes e lazer34. Castellani Filho (2010) expressa que o modelo conceitual

da Conferência:

[...] não poderia ser mais bem desenhado: trata-se de ampliar a participação da sociedade civil organizada nas questões afetas à definição das políticas esportiva e de lazer brasileiras, trazendo para esse espaço aquilo que já se encontra enraizado na cultura política de outros campos/segmentos sociais, qual seja, a imperiosa necessidade da presença do controle social e da participação popular na definição das ações do poder público voltadas para a elaboração e execução de suas políticas.

Segundo o mesmo autor 35, a primeira Conferência teve o mérito de, pela vez

primeira, abrir um espaço para a construção coletiva e colegiada, espaço antes ocupado por

conferencistas na tomada de decisões na história esportiva brasileira. A segunda já chegou

trazendo consigo:

[...] o peso da desconfiança pela ausência de implementação das deliberações havidas por ocasião da 1ª, ainda mobilizaram municípios, estados e regiões em fases que antecederam sua etapa nacional, colocando todos refletindo sobre o sistema esportivo e de lazer dos brasileiros. (CASTELLANI FILHO, 2010).

as criou. Nele está explicitado seu papel consultivo/deliberativo acerca da política esportiva nacional, configurando-se, conforme palavras de Castellani Filho (2010), engodo, empulhação. Castellani Filho e Castelan (2011) fortalecem a tese de que principalmente a III Conferência Nacional serviu como instância legitimadora da agenda instituída entre o setor conservador do campo esportivo brasileiro e o Ministério do Esporte, visando à realização dos principais megaeventos esportivos mundiais no Brasil. Ainda em Castellani Filho (2010), encontramos a afirmação de que o documento que a anuncia é forjado em uma matriz aparentemente ousada, mas tacanha quando revelada sua base paradigmática - a do alto rendimento - e sua perversa materialização em políticas de governo. 33 Retirado do site do Ministério dos Esportes: http://www.esporte.gov.br/conferencianacional/default.jsp, disponível em 02/05/2012. 34 Texto na íntegra encontrado no endereço eletrônico: http://www.universidadedofutebol.com.br/III+CONFERENCIA+NACIONAL+DE+ESPORTE+E+LAZER+INTERVIR+E+PRECISO. Acessado no dia 22/11/2012. 35 Retirado do site: http://www.universidadedofutebol.com.br/III+CONFERENCIA+NACIONAL+DE+ESPORTE+E+LAZER+INTERVIR+E+PRECISO, disponível em 01/05/2012.

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32

Na verdade, o que se pôde notar, na prática, foi que em pouco tempo o tão

sonhado Ministério do Esporte e o compromisso de mudança que ele trazia em seu

discurso, não conseguiram desvincular-se da presença de velhos parceiros históricos e

mandatários do esporte brasileiro 36, advindos das Confederações, Federações, Clubes, da

CBF, do COB e, mais recentemente, do CONFEF, deixando claro que eles ainda coabitam

ao lado do governo, ditando as regras do jogo e valendo-se da história e da legislação

esportiva brasileira para legitimar suas ações. Em consonância com os interesses desse

grupo, também fica entendido que, após os quatro primeiros anos de Lula à frente do

Governo brasileiro, e os dois primeiros anos de seu segundo mandato, o Ministério do

Esporte não conseguiu romper com a ideia do esporte vinculado à sociedade de consumo:

“[...] que tem o esporte como uma prática social e, também como um elemento da cultura,

mas um elemento da cultura a ser apropriada por aqueles que tem poder aquisitivo para por

ele poder pagar...” (CASTELLANI FILHO, 2008, p.138). Ainda hoje pode-se notar que ao

final do segundo mandato do Presidente Lula e nos dois primeiros anos do Governo Dilma,

a situação permanece inalterada, e com a responsabilidade de cumprir os compromissos

assumidos frente à agenda esportiva mundial. Abaixo segue foto da delegação militar

brasileira que disputou os jogos em Catânia, na Itália, em 2003.

36 No campo esportivo brasileiro existe uma fração conservadora constituída por entidades com personalidade jurídica de direito privado como o Comitê Olímpico Brasileiro, pela Confederação Brasileira de Futebol, pelas Confederações, Federações e os clubes desportivos, e o Conselho Federal de Educação Física. No Brasil, essas entidades de administração do esporte possuem uma história altamente vinculada às ações estatais e à legislação esportiva brasileira desde os seus primeiros ordenamentos, em 1941, fato este que lhes conferiu um forte poder decisório junto à política esportiva direcionando-a, sempre de acordo com os seus interesses, ou seja, buscando enfatizar como prioridade, o esporte de representação nacional, de alto rendimento.

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33

Figura 03. Foto da Delegação Militar brasileira em Catânia – 2003

Fonte: Revista das Forças Armadas – 2011.

1.5 A quarta edição dos Jogos Mundiais Militares – Hyderabad 2007.

Já no ano de 2007 aconteceria a quarta edição dos Jogos Mundiais Militares, em

Hyderabad37, na Índia, de 14 a 21 de outubro. Pela vez primeira os JMMs desembarcaram

em um país fora do continente europeu e, segundo dados do CISM, os Jogos de Hyderabad

foram o maior evento esportivo militar já realizado em todo o mundo, tendo como lema

“Respeito e compreensão mútua entre os povos”. Participaram do evento 101 países

filiados ao Conselho, 5.000 atletas, foram disputadas 12 modalidades esportivas, em um

37 Informações retiradas do site oficial do CISM, no endereço eletrônico: http://www.cism-milsport.org/eng/005_WORLD_GAMES/2007_hyderabad/2007_hyderabad.asp. Acessado no dia 10/05/2013.

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total de 680 horas de competição, tendo sido quebrados mais de 27 recordes militares, 17

conquistados por mulheres38, sendo três deles em nível internacional,

O Egito venceu Camarões na final do futebol masculino. No vôlei, deu China no

masculino e no feminino. O judoca grego Ilias Iliadis, campeão olímpico em 2004, levou o

ouro na categoria até 90kg e estará no Rio defendendo o seu título. Mais uma vez Rússia e

China travaram um duelo pela primeira posição no quadro de medalhas. E novamente os

russos terminaram no topo, com 42 ouros contra 38 dos asiáticos.

O Brasil obteve sua segunda pior participação nesses Jogos, ocupando, ao final

da competição, o 33º lugar no quadro de medalhas (anexo 5), ficando atrás apenas do 35º

lugar conseguido em Roma – 1995 - na primeira edição dos Jogos. As medalhas foram: 2

pratas – Thiago Sales de Jesus (atletismo, 400m com barreiras) e João Gabriel Schlitler

(judô, mais de 100kg), 1 bronze – Hugo Peçanha (judô, até 90kg).

O ano de 2007 seria marcado, logo em seu início, no Brasil, pela posse do então

reeleito Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, do PT, que obteve nas urnas

uma votação expressiva sobre o candidato do PSDB, José Serra. Nesse mesmo momento,

assumia a pasta do Ministério do Esporte, Orlando Silva de Jesus Júnior, até então

Secretário Executivo do próprio Ministério, do PCdoB, em substituição ao então eleito

Governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz.

O então Ministro do Esporte, sob o aval do Presidente e, em busca da tão

almejada legitimidade no campo esportivo, parte em busca do estabelecimento de parcerias,

momento que ocasiona seu encontro com o setor conservador do esporte brasileiro, que

aceita o compromisso de trazer, a reboque, o Ministério do Esporte, legitimando suas ações,

porém estabelecendo como moeda de troca para a parceria a utilização de verbas públicas

para realizar seus interesses e o cumprimento de uma agenda que, a partir de então, seria

38 As mulheres participam dos Jogos Mundiais Militares desde a sua primeira edição, em percentual da ordem de 1/3 do efetivo de atletas. Participam em 17 das 20 modalidades, deixando de disputar o boxe, basquetebol e pentatlo aeronáutico. Nesses V JMMs, a delegação brasileira esteve composta por 109 mulheres, em um total de 268 atletas (cerca de 40% dela, portanto). Matéria na íntegra no endereço: http://www.adesg.net.br/noticias/jogos-mundiais-militares-aderem-a-campanha-da-onu-pelo-fim-da-violencia-contra-mulheres.

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determinada por esse mesmo grupo. Castellani Filho (2009) nos faz pensar que essa busca

por legitimação por parte do Ministério levava:

[...] dia após dia, a uma submissão consentida aos setores conservadores, que acabou por se traduzir na capitulação e aprisionamento dos responsáveis pela definição e execução da política esportiva aos interesses daquela fração do campo esportivo … O que não sabíamos era que cada vez mais e mais, esse processo de aprisionamento, de se terem como reféns daqueles segmentos, passaria a ganhar contornos estarrecedores, somente passíveis de serem compreendidos através da analogia com o que se tornou conhecido internacionalmente sob o nome de Síndrome de Estocolmo...39

Nessa ótica e, munidos de amplo apoio ideopolítico para o cumprimento das

metas e ações definidas, esse setor conservador do esporte brasileiro encontra um amplo

apoio e um clima favorável e consensual para fazer dos seus interesses os interesses do

próprio governo, dando à realização de suas aspirações uma legitimação com ares de

política social e como sendo de aceitação pública.

Podemos citar como parte dessa estratégia de legitimação a realização da III

Conferência Nacional do Esporte e Lazer, que resultou na elaboração de um Plano Decenal

de Esporte e Lazer, composto por metas e ações, com o claro intuito de colocar o Brasil, em

dez anos, entre as dez maiores potências esportivas mundiais, fazendo surgir em nosso

entendimento o quinto ponto a ser destacado em nossa busca por identificar o lugar do

Esporte Militar na estrutura esportiva brasileira, pois, nesse momento, conforme nos relata

Castelan (2011, p.67) “Toda a Conferência e uma parte de suas deliberações foram voltadas

para as transformações necessárias para o Brasil sediar os dois megaeventos que já constam

em sua agenda política, e para tentar transformar o Brasil em uma potência Olímpica”.

Como toda a legislação esportiva brasileira é pautada por sua verticalização, agora, não se 39 Estado psicológico em que as vítimas passam a identificar-se emocionalmente com os criminosos, inicialmente como modo de defesa, por medo de retaliação e/ou violência por parte deles. Um mínimo gesto de gentileza dos raptores normalmente é ampliado, pois, do ponto de vista das vítimas, é extremamente difícil, ou até impossível, obter uma visão clara da realidade nessas situações e obter uma mensuração do perigo real. Deste modo, as tentativas de libertação são tidas como uma ameaça, pois a vítima pode correr o risco de ser magoada. É importante salientar que os sintomas resultam de um estresse físico e mental (emocional) extremo. O complexo e comportamento duplo de afetividade e ódio concomitantes junto aos raptores é considerado como uma estratégia de sobrevivência por parte dos reféns. Texto na íntegra no endereço eletrônico: http://www.infoescola.com/doencas/sindrome-de-estocolmo/. Acessado no dia 21/11/2012.

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apresenta de forma diferenciada, vindo as decisões sobre a realização de megaeventos

esportivos no Brasil, a partir das decisões tomadas pelo COB e representantes do Ministério

do Esporte, sem que houvesse qualquer participação da sociedade civil.

(MASCARENHAS, 2012).

Castelan (2011, p. 24) nos remete ao pensamento de que: “Não é necessário um

grande estudo para constatar que há uma enorme diferença entre a agenda política proposta

pelas Conferências e a cumprida pelo Ministério do Esporte”. Fica, então, subentendido que

as Conferências Nacionais de Esporte e Lazer não passaram de um engodo, muito bem

arquitetado, manifestado pela ausência de: “[...] disposição dos senhores dos anéis de

debaterem mudanças em uma estrutura que lhes vem servindo como se feita sob medida a

seus interesses de manutenção do status quo...”40 CASTELLANI FILHO, 2010). Nesse

sentido, principalmente a III Conferência Nacional de Esportes possuiu um caráter de

legitimação do esporte de alto rendimento, o que provocou uma descontinuidade, em

relação às Conferências anteriores, realizadas em 2004 e 2006. O objetivo agora se

apresenta com clareza: colocar o Brasil entre as dez maiores potências do esporte mundial,

em dez anos, explícito no tema da III Conferência (10 pontos em 10 anos para projetar o

Brasil entre os 10 mais), mesmo que, em alguns momentos, na pauta dessa Conferência,

fosse discutida a prática esportiva desvinculada desse contexto.

A descontinuidade ainda é percebida, quando se observa que a vinda de grandes

eventos esportivos para o Brasil não encontra eco nas deliberações das duas primeiras

Conferências (2004, 2006) e também não aparecem, no documento da Política Nacional de

Esporte, os três documentos que deveriam orientar o Plano Plurianual (2008/2011),

conforme nos mostra Castelan (2011, p.133). Merece ser destacado que essa

descontinuidade encontrada entre as três Conferências também faz parte de uma estratégia

não só política, mas também econômica, levando-nos à compreensão de que discutir uma

agenda esportiva, em um espaço democrático e com a participação da sociedade civil,

poderia se tornar um grande risco ao atendimento dos interesses do setor conservador do

campo esportivo brasileiro. 40 Retirado do site: http://www.universidadedofutebol.com.br/Jornal/Colunas/3,11191,III+CONFERENCIA+NACIONAL+DE+ESPORTE+E+LAZER+INTERVIR+E+PRECISO , disponível em 02/05/2010.

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Outro fato que poderia se contrapor aos anseios do setor conservador desse

campo se refere à permanência de intelectuais do PT dentro do Ministério do Esporte, fato

que se modifica com a reeleição do Presidente Lula, em 2006, momento em que o PT

continua, sim, na estrutura do Ministério, porém agora não mais de forma combativa e

contra-hegemônica como o grupo anterior, mas se submetendo à lógica conservadora

desejada pelo PCdoB.

O texto escrito há quase três décadas pelo Professor Lino Castellani Filho,

intitulado “Digressões sobre a Política Esportiva no Reino do Faz-de-Conta” datado de

1985, em pleno clima eufórico da Nova República, pode facilmente descrever a atual

situação da política esportiva brasileira no exato momento em que os V Jogos Mundiais

Militares aportam no Brasil, analisando que:

O tratamento que vem sendo dado às questões sócio-econômicas, longe está de alterar estruturalmente o quadro social brasileiro, assumindo, portanto, uma conotação puramente paliativa, superficial. No campo esportivo, vêm sendo levado a efeito, ações que buscam remover o “entulho autoritário” que nele se amontoou ao longo desses anos de obscurantismo. [...] Porém, mais do que “entulho autoritário”, o que vemos é toda a estrutura esportiva impregnada pela SEDIMENTAÇÃO, em suas raízes, desse “entulho”. É própria estrutura de poder das Confederações, Federações, Clubes que deve ser questionada. A metáfora utilizada pelo Presidente do CND, denominado de verdadeiros “Feudos” às Confederações reflete bem o verdadeiro cerne do problema.

O reino de faz de conta parece ainda continuar o mesmo e as ações ainda

continuam paliativas quando se referem ao esporte como patrimônio cultural e direito

constitucional garantido à população brasileira. O extinto CND apenas modificou sua

roupagem para se adequar às modificações necessárias para sua sobrevivência e inserção

dentro do novo contexto político/econômico estabelecido pelo neoliberalismo. Nessa nova

roupagem, o Comitê Olímpico Brasileiro, as Confederações, Federações e Clubes ficaram

com a tarefa de fiscalização e organização do esporte, operacionalizando, agora, a

elaboração de uma agenda que tem a realização de grandes eventos esportivos como

prioridade para a construção de uma política esportiva capaz de inserir o Brasil,

definitivamente, no cenário político/econômico mundial.

O contexto delineado serve de pano de fundo para a apresentação do objeto

deste estudo - Os V Jogos Mundiais Militares - e nos mostra que, comparando as quatro

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edições anteriores dos Jogos, o Brasil nunca ocupou um lugar de destaque entre as

principais potências esportivas militares mundiais, ocupando um lugar muito mais

figurativo do que protagônico, fato que se comprova quando observada a presença quase

inexpressiva do Esporte Militar na legislação e na estrutura esportiva brasileira, ideia que

provoca o surgimento de um sexto importante ponto que merece nossa especial atenção

neste capítulo.

A constatação de tais fatos nos leva ao entendimento de que não só a política

esportiva brasileira, à época dos Jogos Militares, mas também todo o processo de

candidatura do Brasil para sediar o megaevento militar não aconteceram por acaso, ou

como algo impensado, mas, sim, obedeceram a uma estratégia política e econômica

planejada e muito bem articulada, cujo principal objetivo foi o atendimento aos anseios de

uma agenda esportiva determinada por um grupo conservador, hegemônico e reacionário,

que controla a política esportiva brasileira há várias décadas, priorizando o esporte de alto

rendimento. Essa prioridade é atendida e se materializa, quando o país assume o

compromisso de sediar os dois maiores eventos esportivos do planeta, a Copa do Mundo

FIFA – 2014 e as Olimpíadas – Rio 2016.

Também reforça essa afirmação a criação de Programas, como o Projeto Atletas

de Alto Rendimento em 2008/2009, que inseriu atletas de alto rendimento do esporte

nacional nas Forças Armadas, visando melhores resultados, não só na V edição dos JMMs,

mas em atendimento a um projeto muito maior que seriam os Jogos Olímpicos em 2016. O

Plano Brasil Medalhas em 2012 que traz como meta principal o mesmo lema utilizado na

III Conferência Nacional de Esporte e Lazer: “Por um Time chamado Brasil: 10 pontos em

10 anos para projetar o Brasil entre os 10 mais”, o Projeto Time Brasil em 2012, que traz

como lema motivador: “A Gente veste a mesma camisa”, que contou com um investimento

milionário do Governo Federal para a formação, preparação de atletas do alto rendimento

brasileiro, visando os Jogos Rio 2016 e o Projeto Educação e Esporte que visa reativar os

JEB’s, em parceria com as Forças Armadas, são ações do Governo Federal que serão

abordadas com maior ênfase nos capítulos seguintes.

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Figura 04. Foto da Delegação Militar brasileira em Hyderabad, Índia

Fonte: Revista das Forças Armadas

1.6 A quinta edição dos Jogos Mundiais militares

Após a escolha brasileira para ser s

pelas Forças Armadas de Rio 2011 e

que certos questionamentos permeassem o imaginário de alguns poucos ol

atentos, em busca da razão de se realizar uma competição Militar com tamanhas proporções

em um país sem a menor tradição nesse tipo de competição.

Nesse mesmo ano, assume a Presidência da República

primeira mulher a ser eleita para governar o Brasil, substituind

Luís Inácio Lula da Silva. Mesmo diante de alguns questionamentos, a então

39

Foto da Delegação Militar brasileira em Hyderabad, Índia –

Fonte: Revista das Forças Armadas – 2011.

.6 A quinta edição dos Jogos Mundiais militares – Brasil 2011 – Os Jogos da Paz.

brasileira para ser sede da V edição dos JMMs, em 2009

de Rio 2011 e Jogos da paz, algo parecia não estar claro

que certos questionamentos permeassem o imaginário de alguns poucos ol

atentos, em busca da razão de se realizar uma competição Militar com tamanhas proporções

em um país sem a menor tradição nesse tipo de competição.

assume a Presidência da República Brasileira Dilma Roussef, a

meira mulher a ser eleita para governar o Brasil, substituindo seu companheiro de partido,

Luís Inácio Lula da Silva. Mesmo diante de alguns questionamentos, a então

– 2007.

Os Jogos da Paz.

s, em 2009, batizada

Jogos da paz, algo parecia não estar claro, permitindo

que certos questionamentos permeassem o imaginário de alguns poucos olhares mais

atentos, em busca da razão de se realizar uma competição Militar com tamanhas proporções

Dilma Roussef, a

o seu companheiro de partido,

Luís Inácio Lula da Silva. Mesmo diante de alguns questionamentos, a então nova chefe do

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40

Estado brasileiro se sente no dever de cumprir com os compromissos assumidos por Lula

diante da comunidade internacional, que incluiu uma agenda esportiva que se iniciou com a

realização do Pan em 2007, sendo seguido em 2011 pelo megaevento esportivo militar.

Megaevento este que assumiu grandes proporções pelos números apresentados, como já

exposto anteriormente: 110 países, 6.000 atletas, 2.000 árbitros e delegados, 1.706 oficiais,

25.735 pessoas sendo 2.267 voluntários, 17.952 militares de apoio, 4.647 terceirizados e 724

envolvidos nas operações do evento, e que traz como trunfo a inédita realização de uma

edição dos JMMs em um país da América Latina.

Para dar conta de tal tarefa e obter uma participação protagônica nos Jogos, as

Forças Armadas brasileiras buscaram uma preparação que envolvia uma superestrutura

física, como a construção de três vilas militares, batizadas de Vila Verde, Vila Azul e Vila

Branca, construídas em terrenos da União, sob a responsabilidade das Forças Armadas, um

grandioso investimento financeiro por parte do Governo Federal, principal patrocinador da

competição militar41, a estruturação de um Comitê de Planejamento Operacional (CPO) que

reuniu uma grande força de trabalho para o evento, contendo organizações militares,

voluntários e várias Instituições de Ensino Superior e a formação de uma superincorporada

delegação, composta por atletas do alto rendimento brasileiro que foram inseridos nos

quadros das Forças Armadas por meio de um Programa desenvolvido pelo Governo Federal

em parceria com o COB, intitulado Projeto Atletas de Alto rendimento, como veremos a

partir de agora.

Merece ressaltar que os preparativos do Governo Federal visando à realização dos

Jogos Mundiais Militares se iniciaram no mesmo ano da escolha do país, em 2007, quando o

Ministro da Defesa, Nélson Jobim, por meio da Portaria n° 1.402/MD, datada de 26 de

outubro, estabeleceu a criação de um grupo permanente de trabalho visando ao

planejamento, organização, coordenação e execução dos JMMs conforme pode ser visto no

anexo 06. No ano seguinte, 2008, o Presidente Lula criou o Comitê Interministerial de

Gestão das Ações Governamentais que contou com a presença de 12 Ministros de Estado

conforme comprova o anexo 07. Nesse mesmo documento o chefe de estado brasileiro utiliza

41 Tema que será abordado de forma mais enfática no capítulo seguinte.

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41

as palavras “Responsabilidade de Todos os Brasileiros”, conferindo não só ao Comitê, mas a

toda a população a responsabilidade do sucesso da realização dos Jogos, algo bem

característico de seu governo ufanista.

Um fato em especial nos chamou a atenção, principalmente quando percebemos

que junto ao Comitê Interministerial aparece, pela primeira vez, em caráter oficial, qual seria

o apoio oficial dos JMMs: o Ministério do Esporte, o Ministério da Defesa por meio dos

Comandos da Marinha, Exército e Aeronáutica e o Comitê Olímpico Brasileiro representado

por seu presidente, Carlos Arthur Nuzman, fato que fortalece a nossa tese inicial de que os

Jogos Mundiais Militares só justificaram sua vinda ao Brasil para atender aos anseios do

esporte olímpico nacional (anexo 08). Nos anexos 08 e 09, pode ser observado que Nuzman

aparece em local de destaque ao lado do Comitê Interministerial e dos Comandantes das

Forças Armadas, lidando diretamente com os assuntos que se referem à gestão e à

organização dos Jogos.

1.6.1 A construção das vilas militares.

Foi construída uma superestrutura composta por 106 edifícios, com 1206

apartamentos de três quartos comuns e um reversível, sendo cada imóvel com

aproximadamente 100m42 conforme apresentado no anexo 10. Pela vez primeira na história

das Olimpíadas Mundiais Militares, foram construídas vilas para atender aos jogos e,

segundo a CPO, além de servir de local para a hospedagem de atletas e árbitros da

competição, posteriormente, essas vilas teriam como objetivo reduzir o déficit habitacional

entre os militares das Forças Armadas de todo o país e ainda atender à hospedagem de atletas

nas Olimpíadas 201643. Nesse sentido, as vilas foram construídas obedecendo aos requisitos

ambientais do município do Rio de Janeiro e a conceitos de sustentabilidade ecológica,

contemplando, assim, todas as normas do Conselho Mundial de Esporte Militar. Segundo a

Comissão organizadora dos Jogos, os apartamentos possuem descargas ecológicas nos

42 Informações retiradas do site oficial dos Jogos Mundiais Militares-Rio 2011: www.rio2011.mil.br acessado em 15/06/2012. 43 Informação retirada do site: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2011/07/vilas-para-atletas-dos-jogos-militares-temchurrasqueira-e-salao-de-festas.html. Acessado em 11/07/2011.

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42

banheiros, cisternas para aproveitamento das águas das chuvas, pavimentação permeável e

semipermeável para não sobrecarregar a rede pluvial, além de estação de controle e

tratamento de resíduos e esgoto. Os condomínios abrigam ainda áreas de plantio de espécies

da flora da Mata Atlântica.

Figura 05 - Vila Branca

Fonte: http://www.rio2011.mil.br/index

A Vila Branca foi edificada em Campo Grande 44, sendo de responsabilidade da

Marinha, e foi composta por 22 blocos, totalizando 396 apartamentos, tendo cada unidade

entre 100 e 110m2 distribuídos em três quartos, sala, banheiro, varanda, suíte e cozinha. A

grandiosa estrutura de Campo Grande ainda conta com um espaçoso restaurante,

churrasqueiras e capela45 e, segundo dados das Forças Armadas, a vila tem capacidade de

44 Dados retirados do site: http://www.rio2011.mil.br/index.php?option=com_content&view=article&id=335&Itemid=221&lang=pt. Acessado em 09/07/2012. 45 A construção de uma capela com recurso do Governo Federal dentro das Vilas Militares em atendimento aos V JMMs, não fere a laicidade do Estado, pois atende ao disposto na Constituição Federal de 1988 que

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43

alojar 912 pessoas, confortavelmente, além de possuir uma área de convivência, com

internet, academia e salas de reunião. Essa vila, pela sua localização, abrigou os atletas do

pentatlo naval, boxe, vela, orientação e taekwondo.

Figura 06 - Vila Verde

Fonte: http://www.rio2011.mil.br/index

A Vila Verde, de responsabilidade do Exército, localizada em Deodoro, na Zona

Oeste, também contou com uma confortável estrutura de hospedagem: 17 blocos de seis

andares, compostos por 406 apartamentos de quatro quartos, sendo uma suíte e um

reversível, dois salões de festas, oito churrasqueiras, duas quadras poliesportivas,

restaurante e dois parques infantis. Essa vila contou com capacidade para alojar 2.500

pessoas.

prevê em seu art. 5º, inciso VII que: “ [...] é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.” Também no texto da lei 6.923, de 29/6/1981, alterada pela lei 7.672, de 23/9/1988, ficou previsto o Serviço de Assistência Religiosa nas Forças Armadas: 1) «O Serviço de Assistência Religiosa tem por finalidade prestar assistência religiosa e espiritual aos militares, aos civis das organizações militares e às suas famílias, bem como atender a encargos relacionados com as atividades de educação moral realizadas nas Forças Armadas.» (Lei 6.923, art. 2º) 2) «O Serviço de Assistência Religiosa será constituído de Capelães Militares, selecionados entre sacerdotes, ministros religiosos ou pastores, pertencentes a qualquer religião que não atente contra a disciplina, a moral e as leis em vigor.» (Lei 6.923, art. 4º) 3) «Cada Ministério Militar atentará para que, no posto inicial de Capelão Militar, seja mantida a devida proporcionalidade entre os Capelães das diversas regiões e as religiões professadas na respectiva Força.» (Lei 6.923, art. 10).

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44

Figura 07 - Vila Azul

Fonte: http://www.rio2011.mil.br/index

A vila Azul ficou a cargo da Aeronáutica e ficou localizada no Campo dos

Afonsos. Possui 67 blocos de 03 andares, cada um com 402 apartamentos, compostos por

sala com varanda, três quartos, sendo uma suíte, banheiro, copa e cozinha. Abrigou atletas

do basquetebol, vôlei, natação judô, pentatlo aeronáutico, vôlei de praia, pentatlo moderno

e triatlon.

A construção das Vilas Militares se tornou exemplo de sustentabilidade e motivo

de orgulho, tanto para as Forças Armadas quanto para o principal patrocinador dos Jogos, o

Ministério do Esporte, justificando o alto valor gasto com a construção das edificações: R$

432.350,00 milhões. O Secretário de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, Ricardo

Leyser, fez questão de frisar que:

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45

[...] o governo federal fez um planejamento de longo prazo para as instalações que vêm sendo construídas na região desde os Jogos Pan-americanos de 2007, quando o Ministério do Esporte ergueu o Complexo Esportivo de Deodoro, formado pelo Centro Nacional de Tiro Esportivo Tenente Guilherme Paraense, o Centro Nacional de Hipismo General Eloy Menezes, o Centro de Pentatlo Moderno Coronel Eric Tinoco Marques e o Centro de Hóquei sobre Grama Sargento João Carlos de Oliveira. Esse legado nos permitiu ganhar a disputa pelos Jogos Mundiais Militares, que, por sua vez, estão nos deixando a Vila Verde. O local abrigará participantes dos Jogos Olímpicos e dos Jogos Paraolímpicos de 2016. No intervalo entre os eventos e logo após os Jogos de 2016, será moradia de militares do Exército que virão ao Rio para cursos de pós-graduação”, afirma o secretário.

O secretário ainda explicou que:

O Comitê Olímpico Internacional (COI) confere à questão ambiental a mesma importância que dá ao esporte: “O COI valoriza o uso racional de recursos na construção de instalações porque não aprova elefantes brancos”. Ele acrescenta que são trabalhadas duas vertentes de sustentabilidade na organização dos Jogos Olímpicos. “Uma é a ambiental, para minimizar impactos negativos das construções e do uso futuro das instalações. A outra é econômica, com racionalidade de investimentos”. 46

Ainda segundo a organização dos JMMs todos, ao regressarem aos seus países,

deveriam levar uma memorável lembrança do Rio-2011, porque as Vilas foram construídas

para oferecer, durante os Jogos, serviços destinados a atender às necessidades dos atletas

como nunca antes visto nas edições anteriores dos Jogos, como: Clube CISM: com loja de

lanches e de conveniência, Correios, bancos e casa de câmbio, lavanderia e posto

telefônico, Centros de Serviços às Delegações, Centros de Informações Esportivas (SIC),

Salas de Reuniões, Postos de Atendimento Médico, Salas de Imprensa, Centros de Boas

Vindas e sala de credenciamento. 47

As Forças Armadas também tinham a preocupação de que todos os participantes

levassem dos JMMs no Rio, e principalmente das instalações das Vilas Militares a melhor

impressão possível, pois, até então, a edição brasileira foi a única das quatro já realizadas

46 Entrevista concedida pelo Secretário Nacional de Alto Rendimento, Ricado Leyser, ao site Vale do Esporte, no endereço eletrônico: http://valedoesporte.com.br/site/noticia/visualizar/id/1357. Acessado em 10/07/2012. 47 Dados obtidos no endereço eletrônico: http://www.revistaforcasarmadas.com.br/revista/conteudo/vilas-militares. Acessado em 01/05/2013.

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46

que construiu locais específicos para alojar os atletas, comissões e árbitros para o evento,

uma vez que em outras edições eles ficaram hospedados em vilas militares, dentro dos

quartéis e em hotéis, nos arredores das cidades sede. Um fato que chama a atenção é o de

que após os Jogos as vilas seriam transformadas em moradias para militares da reserva,

para alojar alunos de cursos de Pós-graduação, e também para moradia de oficiais que

trabalhariam em quartéis próximos às vilas. No entanto, essas informações parecem

desconexas, quando o assunto é a utilização dessas estruturas para servir aos Jogos

Olímpicos em 2016, pois as famílias teriam que ser removidas de suas moradias para que

outras pessoas as utilizassem durante os Jogos, retornando logo após o término da

competição, demonstrando que muito mais do que atender aos JMMs e ao pensamento de

dar moradia às famílias dos militares, a construção das vilas visou muito mais atender ao

COB e seus anseios quanto aos compromissos assumidos junto à agenda Rio-2016.

Esse fato abre caminho para um sétimo e último ponto que nos remeterá à

compreensão de que a reinserção estratégica do Esporte Militar brasileiro, por meio da

realização dos JMMs, ganha força e visibilidade em função da agenda Rio-2016 e do

projeto de expansão do esporte de alto rendimento tanto em escolas, quanto em clubes

desportivos, e não para o fortalecimento desse esporte em meio ao campo esportivo

nacional ou em meio ao mundo militar.

1.6.2 A Formação do Comitê de Planejamento Operacional (CPO).

A edição brasileira das Olimpíadas Militares foi regida por normas do CISM e

da Federação Internacional de Desporto e todo o planejamento, o gerenciamento e a

execução dos jogos ficaram a cargo das Forças Armadas em parceria com o COB, e foram

divididas em três níveis: Comitê Interministerial de Gestão das Ações Governamentais –

formado por 12 ministros e pelos comandantes das três Forças (Marinha, Exército e

Aeronáutica), Comitê Executivo – constituído por representantes de cada uma das

principais áreas de controle dos Jogos: Gestão de Pessoas, Relações Corporativas,

Operações dos Jogos, Logística, Segurança e Inteligência, Comando e Controle, com a

finalidade de operacionalizar as ações necessárias para a realização do evento; Comitê de

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47

Planejamento Operacional (CPO) – responsável pelo planejamento e pela execução dos

Jogos, (anexo 11). Este Comitê ficou sob o comando do Conselho Interministerial cujo

presidente foi o Ministro da defesa, Nélson Jobim, e da Comissão Executiva coordenada

pelo Dr. Ari Matos (conforme anexo 12).

A CPO – Comissão de Planejamento Operacional das Forças Armadas - durante

a realização dos Jogos contou com um importante parceiro, uma Força de trabalho

(anexo13), formada por Organizações Militares, alunos e professores selecionados de

dezesseis Instituições de Ensino Superior e Voluntários, um grupo de apoio formado por

professores de escolas estaduais do município do Rio de Janeiro e profissionais de

fundações, e funcionários de empresas terceirizadas. As Organizações Militares do Estado

do Rio de Janeiro, também designadas como OM (anexo 14), tinham como papel principal

administrar, organizar e preparar cada local de competição, trabalho que seria realizado

pelo efetivo de cada Instituição e que abrangeria as áreas de logística, limpeza, assessoria

de imprensa, assistência médica, inteligência e segurança. Ainda no anexo 14, assim como

no anexo 15, pode ser observada a distribuição das OMs por locais de realização das

provas.

Aos voluntários ficou designada a tarefa de auxiliar as instituições Militares,

cujo perfil de seleção e de área de trabalho foi escolhido de acordo com a área funcional de

cada um, garantindo, assim, um melhor funcionamento das equipes de apoio. Foram

escolhidos 2.117 voluntários que fizeram sua inscrição, via internet, no site oficial dos

Jogos, no endereço eletrônico: www.rio2011.mil.br, sendo que logo após a seleção dos

inscritos foi dado início a um treinamento presencial e virtual, por meio da contratação da

Fundação Tropowsky 48, especializada em tecnologia de multimídia, porque muitos dos

48 A Fundação Trompowsky é uma entidade privada de direito privado e, portanto, não recebe recursos orçamentários. O curador da entidade é o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e só a ele são prestadas contas anuais. A FT tem contato direto com o Exército, pois é uma fundação credenciada ao Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx). A entidade também apoia projetos de pesquisa, ensino e extensão e de desenvolvimento científico e tecnológico dos governos federal, estadual e municipal, de universidades, de instituições de ensino e pesquisa, de fundações e de empresas privadas. Informações retiradas do site: http://www.trompowsky.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=114:marechal-trompowsky&catid=13

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48

selecionados eram de outros Estados. Por meio de um cadastro os voluntários teriam acesso

diário ao material referente às funções a serem realizadas durante a competição, sempre sob

a supervisão de oficiais da Força e de tutores da Fundação. Ainda segundo a Organização,

qualquer cidadão civil e militar poderia se candidatar para atuar como voluntário, desde que

fossem obedecidos alguns procedimentos e orientações, que foram apresentados às IES49 e

aos voluntários credenciados durante a fase de treinamento, no quesito: Critérios para o

Voluntariado, que possuíam a seguinte ordem:

-Possuir idade mínima de 18 anos, até 30 de junho de 2011.

-Estar disponível para trabalhar qualquer dia da semana, incluindo fins de semana.

-Disponibilidade para trabalhar em turnos de 8 horas por dia.

-Disponibilidade para todo o período do Evento.

-Preferência para os que falarem outro(s) idioma(s).

-Frequentar todas as sessões de treinamento.

-Dar prioridade aos voluntários que residam próximo às instalações.

Ainda durante a apresentação, a CPO fez questão de frisar que a boa preparação

dos voluntários seria de suma importância para o sucesso do evento, e que ela deveria

acontecer obedecendo a três formas diferentes de treinamento conforme o quadro abaixo:

49 Material elaborado pela CPO – Comissão de Planejamento Operacional dos Jogos, para ser apresentado em palestra as IES e Voluntários credenciados aos Jogos da Paz, retirado do site: http://www.rio2011.mil.br/index.php?option=com_content&view=article&id=521&Itemid=637&lang=pt. Acessado em 25/08/2012.

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49

Quadro 1. Treinamento dos Voluntários do Projeto Rondon Esportivo

Fonte: Palestra IES Projeto Rondon Esportivo – abril 211 – pdf.

As Forças Armadas, por meio da Comissão Organizadora dos jogos, elaborou um

manual de treinamento geral, contendo todas as informações necessárias para que os

voluntários pudessem se orientar e saber desempenhar cada um o seu papel, de acordo com

os locais designados para o trabalho e a função a ser desempenhada50. Nesse sentido,

fizeram questão de frisar, durante a fase de treinamento, que a Força de Trabalho dos jogos,

no desempenho de suas atribuições, deveria ter como metas o respeito, o

comprometimento, a utilidade, a cordialidade, a alegria e, principalmente, a hierarquia. Para

dar uma maior visibilidade e organização à equipe de trabalho, foi distribuído um Kit de

materiais que deveria ser utilizado durante os dias de competição, contendo os seguintes

itens: camisa polo, agasalho, calça reversível, bloco de anotações; caneta, squeeze, bolsa,

capa de chuva e boné.

50 Manual de Treinamento Geral dos V Jogos Mundiais Militares. Endereço eletrônico: http://www.rio2011.mil.br/phocadownload/manual_treinamento_geral.pdf. Acessado em 26/08/2012.

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50

Porém, após a entrega desse material, foram elaboradas algumas normas a serem

respeitadas acerca da sua utilização, assim apresentadas aos voluntários:

- É obrigatório que todos os envolvidos estejam utilizando seus respectivos uniformes

dentro de todas as instalações.

- A utilização de qualquer item do kit estará restrita aos Jogos, ou seja, não será permitida a utilização de qualquer item do mesmo, fora do turno de trabalho, ou antes do início do evento. - Cada item do kit não poderá ser substituído, sendo ao integrante da Força de Trabalho vedado o uso da camisa polo com uma calça jeans, por exemplo. - O calçado, assim como as meias, deverá ter branco ou preto como cores predominantes. - Calçados com salto ou chinelos não poderão ser utilizados. - Após o recebimento do uniforme, os cuidados necessários para sua utilização durante os Jogos serão de responsabilidade de cada um, da mesma forma como a apresentação dele, durante os turnos de trabalho.

Para auxiliar os voluntários durante a competição foram credenciados alunos e

professores de 19 Instituições de Ensino Superior, conforme demonstrado no quadro a

seguir:

Quadro 2. IES Credenciadas para participar dos V JMMs

Fonte: Palestra IES Projeto Rondon Esportivo – abril 211 – pdf.

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Na visão da Comissão Organizadora, a participação das IES junto ao voluntariado

seria imprescindível, pois elas ofereceriam, por meio de seus alunos e professores, pessoal

com alto nível de competência, capacidade de liderança e um status de “intelectualidade” e

de saber acadêmico aos Jogos, demonstrando que a parceria entre a Academia e as Forças

Armadas negaria um mito existente de contradição e embates entre ambas, e que estariam

nesse grandioso momento que o país estava iniciando unidas, em prol da nação, e não dos

interesses pessoais de cada Instituição. Para cumprir com essa tarefa, a Força assinou um

termo de cooperação, em junho de 2011, com IES vinculadas ao Projeto Rondon 51, Projeto

do Governo Federal que iniciou suas atividades em 1967, funcionando ativamente nas

décadas de 70 e 80, sendo extinto no final da década de 80. Em 2005, o Projeto Rondon

voltou à pauta dos programas governamentais com o Presidente Lula, sendo atribuída a sua

coordenação ao Ministério da Defesa. No ano de 2011, as Forças Armadas, por meio do

Comitê de Planejamento Operacional, assinou um termo de cooperação voluntária com 16

IES para que professores e estudantes pudessem participar da organização dos V JMMs ao

lado dos militares 52 recebendo então essa parceria o nome de Rondon Esportivo 53. Para as

Forças Armadas essa união de conhecimentos seria fundamental, pois:

51 O Projeto Rondon foi criado em 1967 e durante as décadas de 1970 e 1980, permaneceu em franca atividade, tornando-se conhecido em todo o Brasil. No final dos anos oitenta, o Projeto deixou de receber prioridade no Governo Federal, sendo extinto em 1989. Em 2005, já com uma nova roupagem, o Projeto Rondon voltou a figurar na pauta dos programas governamentais, sendo atribuída a sua coordenação ao Ministério da Defesa. Desde então, o Rondon já levou mais de 12.000 rondonistas a cerca de 800 municípios. Hoje, o Projeto encontra-se em processo de consolidação, com uma procura cada vez maior pelas universidades e pelos universitários. O Rondon é mais que um projeto educacional e social, é uma poderosa ferramenta de transformação social, na medida em que conscientiza jovens que terão nas mãos o destino deste país e da importância do seu papel de protagonista na busca de uma sociedade mais justa.

52 Em nosso entendimento a aproximação dos militares da CPO, dos professores e estudantes do Projeto Rondon muito mais do que o estabelecimento de uma parceria para atendimento a realização dos JMMs, tinha objetivos específicos. Dentre estes pode-se destacar a tentativa de demonstrar que as IES não só colaboravam, mas apoiavam a iniciativa do megaevento militar. Um outro ponto a ser destacado seria o atendimento ao apelo ufanista do governo Lula de crescimento da nação por meio dos jovens, fato que fica explícito quando se encontram em meio aos objetivos do Projeto Rondon a responsabilidade destes como construtores do destino do país, da mão de obra especializada. Nesse sentido ainda se encontra a busca por mão de obra qualificada para gerar esse crescimento do país e do mercado interno como em épocas passadas do Governo Getúlio Vargas, e no período da Ditadura Militar, fortemente marcados por governos de exceção e voltados para o desenvolvimento industrial do país, e também mão de obra gratuita para os próximos megaeventos à serem realizados no Brasil, principalmente a Copa 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016.

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[...] todo mundo está aprendendo com o que está acontecendo, do ponto de vista militar e civil. O ganho é para todos. Houve essa integração e, com certeza, esse conhecimento poderá ser replicado em outros eventos, até nos Jogos Olímpicos. O importante é que a experiência não ficou restrita à área militar.

O Vice-almirante ainda lembra que a presença desses profissionais junto à

organização dos Jogos Militares, reforça uma parceria que já se estabelece por muitas

décadas e que, embora muitos não saibam, ela, a Educação Física brasileira sempre possuiu

uma forte ligação com as Forças Armadas. Além disso, também foi apontada pela

Organização dos Jogos a importância do aprimoramento profissional de milhares de

estudantes e profissionais de diversas áreas do ensino, principalmente para os profissionais

da área da Educação Física, cuja presença, segundo a Organização, foi fundamental para o

sucesso do evento, além de uma excelente oportunidade para a formação profissional dos

alunos.

1.6.3 A formação da delegação militar brasileira

Figura 08. Delegação Militar brasileira nos Jogos no Rio de Janeiro - Brasil – 2011

Fonte: http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=69040

53 O Projeto Rondon Esportivo abrange cerca de 1.250 jovens universitários que terão a oportunidade de participar de um grande evento, adquirir uma experiência de nível internacional e aplicar seus saberes acadêmicos, enquanto realizam um trabalho voluntário. Texto na íntegra no endereço eletrônico no site: http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/06/21/jogos-mundiais-militares-assinam-convenio-para-projeto-rondon-esportivo. Acessado em 14/07/2012.

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O Brasil esteve presente em todas as edições dos Jogos Mundiais Militares,

porém as colocações conquistadas não foram satisfatórias: 37º lugar em Roma (1995), 22º

lugar em Zagreb (1999), 15º lugar em Catânia (2003) e 33º lugar em Hyderabad (2007).

Para a Comissão Desportiva Militar Brasileira, o baixo desempenho das edições anteriores

causou uma enorme preocupação, o que ocasionou uma mudança no planejamento para os

jogos no Brasil, o que na visão dessa Comissão devia ser encarado com um olhar

diferenciado daquele adotada para a participação nas edições anteriores dos Jogos, pois

tratava-se de elevar os padrões de desempenho das equipes militares que representariam o

país.

Para atender a essa expectativa de elevar os padrões de competitividade e de

desempenho esportivo foram incorporados atletas de alto rendimento do esporte brasileiro

às Forças Armadas, por meio de um edital público, sendo realizadas seletivas para sua

escolha, desde 2009, à procura dos melhores, para se tornarem militares temporários com

contratos que variavam de quatro a oito anos, como forma de buscar melhores resultados na

competição. Nesse sentido, a partir da escolha brasileira para sediar os Jogos, a CDE –

Comissão de Desportos do Exército - órgão responsável pela preparação das equipes,

realizou um trabalho para que fosse autorizada a criação de vagas para sargentos técnicos

temporários e especialistas em Educação Física e Desporto de Alto Rendimento. Foram

lançados três editais de convocação para atender às modalidades de atletismo, basquetebol,

judô, esgrima, natação, futebol, taekwondo, triatlo, voleibol, vôlei de praia, pentatlo

moderno, pentatlo militar, paraquedismo e hipismo. Obedecendo à ordem de publicação

dos editais, os atletas ingressaram em três etapas, sendo o primeiro edital lançado em 09 de

novembro de 2009, o segundo, em 1º de março de 2010 e o terceiro, em 1º de março de

201154.

Esses atletas adquiriram as patentes pelo período de um ano, renováveis por

mais sete anos, com os salários variando de R$ 1,5 mil a R$ 2,8 mil mensais, sendo que na

Marinha os atletas foram incorporados como praças de 2ª classe da reserva (RM2), área de

treinamento físico militar; no Exército, como Sargento Técnico Temporário, no campo do

54 Fonte dos dados Revista Verde-Oliva – Ano XXXIX – Nº 213 – Especial de Dezembro de 2011.

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desporto de alto rendimento55. Os atletas também foram atraídos, além do soldo, pela

possibilidade das viagens, a infraestrutura esportiva, o plano de saúde e os horários para

treinamento. Segundo o Vice-almirante Gambôa, Presidente da CMDB 56, eles foram

incorporados para serem atletas, somente atletas, portanto, com disponibilidade de tempo e

estrutura para treinar.

A CDMB – Comissão Desportiva Militar do Brasil - frisou que essa era:

[...] uma ação conjunta entre Forças Armadas, Comitê Olímpico Brasileiro e confederações nacionais, com respaldo dos ministérios da Defesa e do Esporte, a militarização de atletas deixa de ser uma tendência de ocasião e se torna um processo irreversível, mas a Comissão Desportiva Militar Brasileira (CDMB) adverte: para usufruir das vantagens de ser um atleta militar, o rendimento será fundamental. É uma troca. Quem apresentar resultados, terá a contrapartida, como no Bolsa Atleta. Mas não há interrupção no projeto. Os atletas admitidos para os Jogos Militares serão avaliados anualmente, já com vistas às Olimpíadas de 2012 e 2016. Novos nomes entrarão para as Forças Armadas para 2020 informou a assessoria da Comissão Desportiva Militar Brasileira (CDMB)57.

1.6.4 As modalidades disputadas e os resultados alcançados

Durante os 09 dias de competição, 20 modalidades esportivas foram disputadas,

ficando à frente das 17 disputadas em Roma, em 1995, das 11 na Catânia, em 2003, das 14,

em Hyderabad, em 2007, e igualando o número das disputadas em Zagreb, na Croácia, em

1999. Essas modalidades esportivas foram divididas em 36 disciplinas e cinco categorias,

ou seja, esportes individuais, coletivos, de demonstração, esportes militares e de combate,

obedecendo à seguinte ordem de distribuição: o Exército seria responsável pela maior parte

das modalidades esportivas, sendo em número de 10, por possuir uma maior estrutura na

área de Educação Física, por meio da EsEFEX. A Marinha ficaria com 05 modalidades:

55 Portal Militar em entrevista com o Vice-almirante Bernardo José Pierantoni Gambôa, no site: http:// http://www.militar.com.br/modules.php?name=Noticias&new_topic=34. Acessado em 14/07/2012. 56 “Atletas entram nas Forças Armadas para disputar Jogos Militares”, texto na íntegra no endereço eletrônico: http://www.militar.com.br. Acessado em 15/07/2012. 57 Dados retirados do site oficial dos Jogos Rio 2011, no endereço eletrônico: http://www.rio2011.mil.br/clipping/7151377.pdf. Acessado em 28/08/2012.

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boxe, futebol, basquetebol, atletismo e vela, e à Aeronáutica ficariam designadas 4

modalidades. Segue abaixo o quadro das modalidades disputadas nos V JMMs:

Quadro 3. Modalidades Esportivas realizadas nos V Jogos Mundiais Militares

Fonte: 65ª Assembleia Geral e Congresso do CISM – informações gerais sobre os V JMMs no Rio 2011

– pdf.

Para dar conta da tarefa, as Forças Armadas constituíram uma Delegação,

formada por 268 atletas, 157 homens e 107 mulheres, composta por nomes com grande

expressividade no esporte de alto rendimento brasileiro, que adentraram as Forças Armadas

para treinar e disputar as Olimpíadas Militares, com o propósito, para muitos deles, de

reaparecimento no cenário esportivo nacional e internacional, como a judoca Ednanci Silva

e Anderson Rodrigues do vôlei; para outros, a continuidade à preparação para os Jogos

Olímpicos de Londres, em 2012, como Diogo Silva e Natália Falavigna do Taekwondo, o

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judoca Leandro Guilheiro e Joana Maranhão da natação, sendo alguns desses atletas e suas

conquistas conforme demonstrado no quadro abaixo:

Quadro 4. Atletas do Alto Rendimento nacional incorporados às Forças Armadas por modalidades esportivas

FUTEBOL FEMININO: Marinheira Tânia Maranhão. (prata nas Olimpíadas de Pequim) Marinheira Maycon .(prata nas Olimpíadas de Pequim) TAEKWONDO: Marinheiro Diogo Silva (campeão Pan-americano) 3º Sargento Natália Falavigna (campeã mundial e medalha de bronze nas Olimpíadas de Pequim). JUDÔ Marinheira Ketleyn Quadros (bronze em Pequim) 3º Sargento Leandro Guilheiro (bronze nas Olimpíadas de Pequim e prata em Atenas) 3º Sargento Luciano Correia (ouro em circuito mundial, ouro em mundial e bronze em Pan-americano) 3º Sargento Flávio Canto (bronze em Olimpíadas e ouro em Copa do Mundo) NATAÇÃO 3º Sargento Poliana Okimoto (prata no Pan-americano, campeã mundial e líder do ranking mundial em 2009) 3º Sargento Kaio Marcio (dois ouros e uma prata no pan/2007, duas pratas e um bronze no pan/ 2003, ouro e bronze em mundial de natação) 3º Sargento Joana Maranhão (seis recordes sul-americanos, bronze nos jogos pan-americanos e finalista nas olimpíadas de Atenas. PENTATLO MODERNO 3º Sargento Yane (ouro no Pan -2007, ouro no Brasileiro e prata na Copa do Mundo) 3º Sargento Larissa prata no Pan-americano e prata no Brasileiro) TIRO 3º Tenente coronel aviador Julio Almeida (prata no Pan-americano e participou das Olimpíadas de Pequim) VELA Marinheira Isabel Swan (bronze nas Olimpíada de Pequim) Marinheiras Juliana Mota e Martine Grael (títulos Nacionais e Internacionais em diversas

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regatas). VOLEIBOL MASCULINO 3º Sargento Raphael Oliveira (campeão Italiano); 3º Sargento Anderson Rodrigues (campeão Olímpico, da Liga Mundial e Pan-americano); 3º Sargento Douglas Cordeiro (campeão da Liga Nacional pela seleção Brasileira Infanto/Juvenil); 3º Sargento Lucas Provenzano (campeão Sul-americano Infantil e Juvenil pela seleção brasileira de base ); 3º Sargento Vinicius Siqueira (campeão mundial Interclubes, da Superliga Nacional e da Superliga Espanhola); 3º Sargento Thiago Sens (integrante da seleção brasileira 2006, campeão brasileiro juvenil e da Superliga Nacional VOLEIBOL FEMININO ESGRIMA 3º Sargento Renzo Agresta (bronze no Panamericano, disputou nas olimpíadas de Pequim e Atenas). TRIATLO 3º Sargento Carla Moreno (prata nos Jogos Panamericanos de Winnipeg, hepta campeã do troféu Brasil de triatlo). ATLETISMO 3º Sargento Vicente Lenilson (ouro no revezamento 4x100 nas Olimpíadas de Sidney) Marinheiro Wallace Vieira ( ouro na prova de 400m do Troféu Brasil e bronze no Mundial Militar de Atletismo de 2009) por Carla Belizária.

Fonte: Ascom – Ministério do Esporte Bastaram apenas quatro anos para que os “estudos” e “estratégias” elaborados

pelos militares surtissem efeito, quando o selecionado militar brasileiro, “engrossado” pelos

novos “militares” advindos do alto rendimento, levassem ao lugar mais alto do pódio as

Forças Armadas brasileiras, quando, deixando para trás o 33º lugar dos Jogos em

Hyderabad protagoniza um feito fantástico, ao conseguir o 1º lugar no quadro geral de

medalhas, em 2011, no Rio de Janeiro, na V edição. A conquista brasileira desbancou

equipes com tradição em Jogos Militares, como a China, a Itália, a França e a Alemanha,

que possuem militares de carreira na composição de suas equipes. O Brasil conquistou 114

medalhas, conforme o quadro oficial de medalhas da competição (no anexo 16), tendo até a

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décima colocação; o Brasil em primeiro, China em segundo, Itália em terceiro, Polônia em

quarto, França em quinto, Coreia do Sul em sexto, Coreia do Norte em sétimo, Alemanha

em oitavo, Quênia em nono, e Ucrânia em décimo lugar.

Motivo de orgulho para as Forças Armadas, a importância do feito realizado pelo

escrete militar brasileiro ganha destaque, se comparado com o número de medalhas

conquistadas em edições anteriores, em Roma, Zagreb, Catânia e Hyderabad, quando a

posição brasileira no quadro de medalhas sempre foi motivo de descontentamento e

preocupação para os militares brasileiros. Desta feita, a convocação de atletas de alto

rendimento e os resultados obtidos foram justificados pela CDMB como fato comum em

outros países58, e que o modelo deveria ser seguido pelas Forças Armadas Brasileiras, pois

esse procedimento era completamente legal, e, portanto, não se estava desrespeitando

nenhuma norma. Segundo o Vice-almirante Gambôa 59, foram realizados estudos em países

desenvolvidos e que ocupavam as primeiras colocações no quadro de medalhas de edições

anteriores dos Jogos, como França, Alemanha e Itália, e que além desse estudo, a parceria e

a colaboração do COB – Comitê Olímpico Brasileiro - do Ministério do Esporte e das

Confederações havia sido determinante para o sucesso da edição brasileira dos JMMs. O

militar, presidente da CBDM, ainda reforçou que:

[...] não cabe na cabeça de ninguém que qualquer país que vá organizar os Jogos só coloque medalha no peito dos outros. Esperamos que nossos atletas - tenho certeza e estou muito confiante nisso - vão nos dar muito orgulho e muita alegria. Vamos entregar medalhas também para os atletas brasileiros.

58As Forças Armadas brasileiras se apossaram desse discurso como forma de justificar a manobra de incluir atletas do alto rendimento nacional à hoste militar. É fato que em países com grande tradição militar - principalmente os do Leste europeu, como os da já extinta “Cortina de Ferro”-, essa tradição era comum durante a Guerra Fria. Isso pela percepção da população desses países, da existência de dois caminhos para ascender economicamente: o Exército ou a fuga para o exterior. Esses atletas então viviam nas vilas militares, cumprindo rotina militar, o que não acontece no caso brasileiro. No Brasil o atleta entra para a Força, mas não vive a vida militar. Sua única função é competir como militar. O que os atrai é esta relativa estabilidade, afirmou a judoca Érika Miranda, o que nos remete ao pensamento defendido neste estudo, de que no Brasil, a inclusão de atletas se deu principalmente pela reinserção estratégica do Esporte Militar na política esportiva nacional visando os Jogos Olímpicos no Rio, em 2016, através das condições oferecidas aos atletas de alimentação, treinamento, viagens, além do “soldo”, para eles, atletas, garantia de estabilidade financeira. 59 Entrevista concedida pelo Vice-almirante Bernardo José Pierantoni Gambôa ao site Terra, no endereço eletrônico: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5086882-EI6583,00-Atletas+entram+nas+Forcas+Armadas+para+disputar+Jogos+Militares.html. Acessado em 15/06/2012.

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Para a Comissão Militar Brasileira, esse estudo de benchmarking60 serviu de

amparo para a convocação dos atletas, sob a alegação de que o sucesso das equipes

militares dos países que ocupavam as cinco primeiras colocações no quadro de medalhas

das quatro primeiras edições das Olimpíadas Militares, se devia ao fato de essas equipes

possuírem atletas de alto rendimento nas Forças Armadas de seus países. Ainda foi

apontado o caso dos países do leste europeu que sempre se utilizaram desse artifício, e que

nem mesmo os Jogos Olímpicos possuíam mais essa restrição, permitindo que profissionais

participassem da competição e recebessem salários e patrocínios, pois os atletas precisavam

sobreviver e sustentar suas famílias e, nesse sentido, o esporte não poderia mais ser

somente amador, devia ser remunerado pelo serviço prestado.

1.6.5 Repercussão alcançada na Mídia Geral e Especializada.

A forma como foi configurada a delegação militar brasileira, enfileirando atletas

de carreira militar e atletas de alto rendimento do esporte nacional, como estratégia para a

busca de melhores resultados na competição, foi vista como um fato normal, corriqueiro,

não só pela Comissão organizadora dos Jogos, que afirma ser esse fato comum em outros

países e que deveria ser seguido pelo Brasil, mas também pela posição de conformidade

com que a mídia nacional tratou o fato, antes, durante e depois do evento militar. O Jornal

do Brasil, em sua edição do dia 15 de julho de 2011, trouxe em seu caderno de esporte a

seguinte matéria: Delegação Brasileira está pronta para a cerimônia de abertura61. A

Agência Brasil, Empresa Brasil de Comunicação, publicou, no dia 14 de julho de 2011,

matéria sobre a delegação militar brasileira intitulada: Delegação Brasileira nos Jogos

60 O Benchmarking é um método utilizado pelas empresas para melhorar a sua gestão, mediante a realização contínua e sistemática de levantamentos, comparações e análises de práticas, processos, produtos e serviços prestados por outras empresas, normalmente reconhecidas como representantes das melhores práticas. O processo gera informações importantes para que as empresas conheçam diferentes maneiras de lidar com situações e problemas semelhantes e, desta forma, contribui para que possam aperfeiçoar os seus próprios processos de trabalho e determinar as "melhores" práticas para um processo ou produto em particular. Informação retirada do site: http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/Gestao/AvaliacaoMercado/Benchmarking/. Acessado em 17/06/2013. 61Matéria na íntegra no endereço eletrônico: http://www.jb.com.br/jogos-mundiais-militares/noticias/2011/07/15/delegacao-brasileira-esta-pronta-para-cerimonia-de-abertura/. Acessado no dia 16/11/2012.

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Militares terá campeões olímpicos e mundiais, exaltando a participação de atletas

renomados do alto rendimento brasileiro como militares, na busca por medalhas na

competição62.

A Folha de S. Paulo, em matéria do dia 15 de julho de 2011, traz o seguinte

título, em reportagem no caderno de esporte: Liberada pela Fina, Fabíola Molina disputará

Jogos Militares, frisando, ao final, que: “Esta será a primeira vez que Fabíola Molina

disputará os Jogos Mundiais Militares, que acontecem a cada quatro anos. A atleta, que

ingressou no Exército em 2010 como Tenente, já competiu em um Campeonato Mundial

organizado pelas Forças Armadas” 63. A Revista Veja, em matéria do dia 18 de julho de

2011, traz em sua página de Esportes, reportagem intitulada: A tropa de elite do esporte

brasileiro: Os soldados, sargentos ou marinheiros que defendem o Brasil nos jogos são

atletas de ponta que encontram nas Forças Armadas infraestrutura e benefícios como

plano de saúde 64. A mesma revista, em 24 de julho de 2011, ainda traz em seu espaço

destinado ao esporte, a seguinte manchete: Brasil em primeiro nos Jogos Mundiais

Militares. Vôlei brasileiro leva a melhor sobre a China em quatro finais. Hoje, último dia

de competição, futebol feminino e basquete disputam o ouro65.

No Jornal Correio Brasiliense, em seu caderno intitulado “Super Esportes”,

aparece como manchete a seguinte chamada: Agora é Guerra: Seguindo modelos europeus,

o Brasil utiliza pela primeira vez atletas olímpicos na disputa. Delegação fardada nacional

terá nomes como: Flávio Canto, Jardel Gregório e Edinanci Silva. O referido jornal, ainda

fez questão de frisar em sua reportagem, que os atletas que ingressaram nas Forças

Armadas seguiram, durante alguns meses, uma rotina rígida, incluindo marchar e cantar o

hino nacional66. O Portal R7 notícias, da Rede Record de televisão, no dia 27 de julho de

62 Matéria na íntegra no site: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-07-14/delegacao-brasileira-nos-jogos-militares-tera-campeoes-olimpicos-e-mundiais. Acessado no dia 16/11/2012. 63 Reportagem retirada do Jornal Folha de São Paulo, no endereço eletrônico: http://www1.folha.uol.com.br/esporte/944138-liberada-pela-fina-fabiola-molina-disputara-jogos-militares.shtml. Acessado no dia 16/11/2012. 64 Reportagem na íntegra no endereço eletrônico, no site: http://veja.abril.com.br/noticia/esporte/a-tropa-de-elite-do-esporte-brasileiro. Acessado em 17/11/2012. 65 Revista Veja digital, no site: http://veja.abril.com.br/noticia/esporte/brasil-em-primeiro-nos-jogos-mundiais-militares. Acessado no dia 17/11/2012. 66 Jornal Correio Braziliense, em reportagem intitulada “Agora é Guerra”. Disponível no site: www.mar.mil.br/hotsites/sala_imprensa/marinha_na_midia. Acessado em 17/11/2012.

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2012, traz em seu caderno de Esportes reportagem com o título: Um quinto dos atletas

brasileiros nos Jogos Olímpicos é militar. Diogo Silva e Sarah Menezes se alistaram à

Marinha em 200967. Na reportagem, o General de divisão Fernando Azevedo e Silva

esclarece que:

A grande quantidade de "atletas militares" se explica pelo Programa de Incorporação de Atletas de Alto Rendimento nas Forças Armadas iniciado pelo governo brasileiro em 2008. O general de divisão Fernando Azevedo e Silva disse à BBC Brasil que o programa foi criado para fortalecer a equipe brasileira para a 5ª edição dos Jogos Mundiais Militares, realizados no ano passado no Rio de Janeiro. No entanto, o projeto também visava inicialmente à preparação de atletas para as Olimpíadas de Londres e os Jogos de 2016 no Brasil. Segundo Silva, o objetivo das Forças Armadas com o programa é fortalecer o esporte de forma geral no país.

A TV Brasil, em reportagem exibida no dia 22 de julho de 2011, traz como

destaque, matéria com o título: TV Brasil faz maior cobertura dos Jogos Mundiais

Militares.

A TV Brasil cumpre seu papel e conclui no domingo (24) a maior cobertura da TV aberta sobre a realização dos Jogos Mundiais Militares 2011, no Rio de Janeiro. Antes da Cerimônia de Encerramento dos Jogos, que será transmitida diretamente e com exclusividade pela emissora pública, do Estádio Olímpico João Havelange – o Engenhão – a equipe de esportes faz um balanço da disputa68.

Percebe-se que a mídia em geral adotou uma postura acrítica, quando não

favorável, diante da forma como foi composta a delegação militar brasileira, sendo que o

papel de manifestar-se criticamente sobre o fato, ficou a cargo de alguns poucos meios de

comunicação, como as mídias alternativas, redes sociais e blogs da internet, como visto no

portal “Cada Minuto” 69, por meio do qual o advogado Adrualdo Catão, em seu blog, no 21

de julho de 2011, traz como destaque a seguinte reportagem: Atletas militares ou militares

67 Matéria retirada do site: http://rederecord.r7.com/londres-2012/noticias/um-quinto-dos-atletas-brasileiros-nos-jogos-olimpicos-e-militar/. Acessado no dia 17/11/2012. 68 Matéria na íntegra no endereço eletrônico: http://www.ebc.com.br/sobre-a-ebc/sala-de-imprensa/2011/07/tv-brasil-faz-maior-cobertura-dos-jogos-mundiais-militares. Acessado no dia 17/11/2012. 69 Texto retirado do Portal Cada Minuto, no endereço eletrônico: http://cadaminuto.com.br/noticia/2011/07/21/atletas-militares-ou-militares-atletas-uma-fraude-esportiva. Acessado no dia 17/11/2012.

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atletas: uma fraude esportiva. Brasil contrata atletas para se fantasiar de militares. Esse

tipo de prática é uma fraude contra o espírito dos jogos militares. Adrualdo também faz

questão de frisar, em sua reportagem, que o feito realizado pelas Forças Armadas é: “[...]

fraude. É patético. É ridículo. Sinto vergonha alheia quando vejo isso. Por um salário de

Sargento os atletas vão ganhar medalhas para as Forças Armadas e quem paga a conta?

Nós, é claro!”, e que o fato que mais o incomoda, é:

O que mais me choca é o silêncio da imprensa. Tratam isso tudo como se fosse uma coisa normal. Procurando na rede, vi essa matéria de 2009 que trata com toda a naturalidade essa situação ridícula. É a nossa imprensa esportiva altamente crítica! Compara o Brasil com a Rússia e a China. (Que bela comparação!) Cita até a França. Em tese, fazem o mesmo. Será? Uma coisa é ter militares se tornando atletas, outra é fantasiar atletas com roupa militar. (Grifos do autor).

A mídia jornalística também se manteve em silêncio, quando o assunto em

questão foram os recursos investidos e a quem caberia “pagar a conta da festa”. Podemos

citar, com raríssima exceção, o Jornalista Élio Gaspari, do Jornal Folha de S. Paulo, que

publicou em sua coluna, no dia 07 de julho de 2011, a seguinte matéria intitulada: CONTA

DA FESTA - Da linha de partida à de chegada, os oito dias de Jogos Mundiais Militares

custaram à Viúva R$ 1,8 bilhão. O investimento do governo federal para formação de

alunos do ensino profissionalizante, incluindo transporte e alimentação, será de R$ 2

bilhões. O Jornalista Luís Ernesto Magalhães do Jornal O Globo, do dia 26 de julho de

2011, trouxe, em sua coluna RIO, a seguinte reportagem: Jogos Militares estouram

orçamento em 28% frisando que [...] nem tudo é festa. Os preparativos chegam à reta final

com o orçamento estourado. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), os gastos do

Ministério da Defesa com o evento já atingem R$ 1,5 bilhão - 28% acima do previsto, cerca de

R$ 1,2 bilhão70.

Nem mesmo a crítica e conservadora mídia esportiva brasileira chamou a

atenção para a estratégia elaborada pelas Forças Armadas, diante da forma como sua

delegação havia ocupado a primeira colocação no quadro de medalhas da competição,

muitos também tratando o fato como sendo lícito, apenas se preocupando em noticiar, de

70 Retirado do endereço eletrônico http://oglobo.globo.com/rio/jogos-militares-estouram-orcamento-em-28-pele-vai-acender-pira-na-cerimonia-de-abertura-2757152. Acessado no dia 18/11/2012.

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forma rápida, sem muitos detalhes, o feito realizado. Porém merece ser ressaltado que

algumas exceções são encontradas na mídia especializada, como o Jornalista José Cruz,

que, em seu blog71, fez repercutir a notícia sobre a forma utilizada pelas Forças Armadas

para compor o seu escrete e disputar os jogos, como sendo uma jogada do país intitulada

por ele como “Potência da Ilusão”, conferindo o sucesso do resultado alcançado na

competição “[...] graças ao contrato emergencial de atletas olímpicos que foram atraídos,

principalmente, por condições favoráveis para treinamento e viagens, por boa

infraestrutura”.

Nesse mesmo sentido, o Jornalista Juca Khfouri72 também noticiou sobre a

manobra utilizada pelas Forças Armadas, em reportagem intitulada “Farsas Armadas”,

levantando a questão acerca do salto obtido no quadro de medalhas nos jogos da quarta

edição na Índia, para a quinta edição no Brasil “[...] Se só as conquistas dos militares

profissionais fossem consideradas, o Brasil encerraria o evento em nono lugar. Os

recrutados foram responsáveis por 40 ouros, 29 pratas e 28 bronzes. Trata-se de um caso

típico de “Me engana que eu gosto”, e que nos próximos jogos fora do Brasil não se

repetirá”. O Jornalista Gustavo Alves traz no caderno de esporte do Jornal A Folha de S.

Paulo, em matéria do dia 15 de julho de 2011, reportagem com o seguinte título: Brasil

joga Jogos Militares com refugos de clubes - Evento no Rio começa hoje com futebol,

destacando que: Com o reforço de veteranos que não chegaram a ter uma carreira de

destaque, a seleção de futebol dá início hoje aos Jogos Mundiais Militares, no Rio de

Janeiro, em partida contra a Argélia73.

Quanto à opinião pública, a forma como as Forças Armadas incorporaram

atletas civis em meio aos militares foi vista de forma positiva, conforme pode-se observar

em alguns depoimentos: Acho muito interessante a incorporação de atletas civis nas forças

armadas. Num País onde o esporte não tem apoio, essa ideia só vem a ajudar os atletas a

se manterem. O Brasil acha que só existe futebol, esses realmente não precisam de ajuda,

71 Blog do jornalista José Cruz no endereço eletrônico: http://blogdocruz.blog.uol.com.br/arch2011-07-01. Acessado em 23/08/2012. 72 Blog do jornalista Juca Khfouri no endereço eletrônico: http://blogdojuca.uol.com.br/2011/07farsas-armadas/. Acessado no dia 23/08/2012. 73 Reportagem na íntegra no endereço eletrônico: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk1507201116.htm. Acessado em 17/11/2012.

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pois já ganham muito dinheiro, mas o resto dos atletas não tem patrocínio e apoio de nada,

e merecem toda e qualquer ajuda para continuarem lutando por medalhas. Na mesma

reportagem foram apontadas como principais reclamações por parte da população: [...] a

grande distância dos locais de competição, a total falta de condução, deficiência na

divulgação de como eram distribuídos os ingressos gratuitos, horários dos jogos

(geralmente durante a manhã e tarde, horário de trabalho da maioria das pessoas) e a

incorporação de atletas civis nas Forças Armadas74.

As Forças Armadas tinham com clareza que para o conhecimento da opinião

pública acerca de uma competição, em nível militar, e da presença de algumas modalidades

esportivas que não faziam parte do cotidiano esportivo dessa população, necessitariam, por

parte da organização, de uma excelente estratégia de comunicação e marketing. Na

verdade, o grande desafio da divulgação das Olimpíadas seria “[...] universalizar o

conhecimento da competição, cuja prioridade seria a população do Rio de Janeiro”

(VERDE-OLIVA, p.44). A Comissão Organizadora também tinha ciência de que, apesar

de o país ter sido escolhido para sediar o evento, desde maio de 2007, e ser visto por muitos

pela sua importância como o primeiro grande evento-teste na preparação do país para os

Jogos Olímpicos de 2016, a divulgação deixou a desejar, fato admitido pelo próprio

Coronel da Brigada Jamil Megid Jr., Coordenador Geral da CPO – Comissão de

Planejamento Operacional dos Jogos -, que deixou claro que dois fatores foram

determinantes para a ausência de uma melhor divulgação do evento: em primeiro lugar,

pela falta de conhecimento prévio por parte da população acerca da especificidade de uma

competição militar, e, em segundo lugar, pelo alto custo da divulgação diante do recurso

liberado pelo Governo Federal, nos principais meios de comunicação, nos últimos três

meses que antecederam o evento, e, no exterior, por meio de um boletim diário de quinze

minutos transmitido para 120 países, via satélite75. Um fato nos chamou a atenção: que,

74 Caderno de esportes do portal Terra, publicado no dia 23 de julho de 2011, sobre a matéria: Jogos Mundiais Militares tem arquibancadas e hotéis vazios. Matéria na íntegra no endereço eletrônico: http://esportes.terra.com.br/jogos-mundiais-militares-tem-arquibancadas-e-hoteis-vazios,73bcdf54763ba310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. Acessado no dia 18/11/2012. 75 Entrevista do Coronel da Brigada Jamil Megid Júnior, concedida ao site: http://infosurhoy.com/cocoon/saii/xhtml/pt/features/saii/features/main/2011/07/25/feature-02. Acessado em 20/06/2012.

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sendo os Jogos Mundiais Militares o terceiro maior evento esportivo do planeta, não foi

percebida praticamente nenhuma repercussão dele no exterior, a não ser pelos depoimentos

dos próprios atletas participantes.

Buscando então dar uma maior visibilidade ao evento, corrigindo as falhas da

Comissão organizadora, objetivando assim uma maior aproximação do público, em geral, e

maior identificação com ele, a organização cria, em 2010, um concurso para a escolha do

nome do mascote dos V JMMs, realizado via internet, por meio do site oficial dos Jogos, no

endereço eletrônico www.rio2011.mil.br, sendo escolhido o nome Arion (em grego, o que

detém a energia), recebendo 41.069 votos de pessoas de todo o país. Essa estratégia tinha

também como principal objetivo atingir o público infantil, aguçando-lhe a curiosidade e o

desejo de conhecer as particularidades da vida militar. Outro aspecto importante era que

Arion era um garotinho que, ao ser tocado, se transformava em um Superatleta, corajoso e

destemido, apaixonado pela vida militar, e que era acompanhado por uma “Tropa da Paz”,

que representava a Marinha, o Exército e a Aeronáutica e as Forças singulares.

Para o público adulto a estratégia foi diferente, sendo todas as entradas para os

locais de competições dos Jogos Militares distribuídas gratuitamente, mas, para garantir os

bilhetes, seria necessário cadastrar-se no site, no endereço eletrônico (www.rio2011.mil.br)

e escolher o local da retirada (Forte de Copacabana, Praça Marechal Hermes, Palácio

Duque de Caxias e Resende Shopping). Feito isso, o interessado receberia um novo e-mail,

confirmando a reserva. Porém a distribuição gratuita de ingressos parece não ter surtido

muito efeito, principalmente quando foi constatada a pouca presença do público nos locais

de competição. O Portal Terra, do dia 23 de julho de 2011, trouxe a seguinte reportagem:

A baixa frequência de público foi comum nas arenas de competições da 5ª edição dos Jogos Mundiais Militares. Mesmo com a desburocratização na retirada de ingressos anunciada na terça-feira pelo comitê organizador não houve aumento de torcedores. Neste sábado, penúltimo dia dos Jogos, quando ocorrem várias semifinais e finais, as arquibancadas continuaram vazias, apenas um número um pouco maior de torcedores acompanharam os jogos de vôlei. Em algumas arenas como a construída no Posto 2, em Copacabana, onde aconteceram os jogos de vôlei de praia, as arquibancadas também ficaram vazias. No entanto, a bilheteria não estava disponibilizando ingressos para as pessoas que queriam entrar para

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assistir, informando que não havia ingressos disponíveis. De acordo com uma voluntária dos Jogos, não havia nem 100 pessoas assistindo a competição entre os brasileiros Rogério e Roberto contra os jogadores do Sri Lanka Rathnapala e Perera76.

Em alguns depoimentos fica expressa a insatisfação do público civil diante da

falha na divulgação quanto à distribuição gratuita dos ingressos e aos locais de realização

das provas: os Jogos Militares eram somente para o público militar. Não vi nenhuma

propaganda, matéria ou anúncio, informando que a população civil podia assistir, e muito

menos que os ingressos eram de graça77. Em um depoimento, colhido pela equipe do Portal

Terra, a entrevistada disse que:

[...] ouviu falar dos jogos, mas não foi em nenhuma competição. Ela diz que acredita no potencial do evento, já que muitos empregos podem ser gerados, além de servir como teste para a realização dos Jogos olímpicos e Copa do Mundo. "É um evento com pessoas de vários países, que traz uma nova experiência não só para a cidade, como para a população do Rio de Janeiro. É importante para o Rio mostrar que tem capacidade". No entanto, ela acredita que a população em geral não tem comparecido. "Quem vai, ou tem ligação com o esporte, ou tem algum conhecido competindo".

Mesmo diante de tais fatos, e, segundo a Comissão de Divulgação e Marketing

das Forças Armadas, houve um grande empenho por parte da organização do evento e esse

empenho foi responsável por grande parte do sucesso da competição, além do fato de levar

mais de 200.000 pessoas aos locais de realização dos jogos e competições, com a presença

de mais de 25.000 pessoas na cerimônia de abertura, no Maracanãzinho, onde o Soldado

Edson Arantes do Nascimento78 foi o responsável por acender a pira olímpica. (VERDE-

76 Matéria na íntegra no endereço eletrônico: http://esportes.terra.com.br/jogos-mundiais-militares-tem-arquibancadas-e-hoteis-vazios,73bcdf54763ba310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. Acessado no dia 18/11/2012. 77 Depoimento dado ao Portal Terra, em 23 de julho de 2011, no endereço eletrônico: http://esportes.terra.com.br/jogos-mundiais-militares-tem-arquibancadas-e-hoteis-vazios,73bcdf54763ba310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. Acessado no dia 18/11/2012. 78 No fim da década de 1950, Pelé serviu ao Exército. Defendeu a seleção de futebol das Forças Armadas e fez muitos gols, contabilizados entre os mais de mil tentos que fez na carreira. Na noite da abertura dos Jogos Mundiais Militares, dia 16 de julho de 2011, seu passado como soldado não foi esquecido e o Atleta do Século XX, emocionado, acendeu a Pira do 5º Jogos Mundiais Militares. Informação retirada do endereço

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OLIVA, 2011, p.18). Durante a realização dos Jogos, de 16 a 24 de julho de 2011, foram

mais de 6.000 inserções em jornais, revistas, emissoras de televisão e rádio, sites e blogs,

no Brasil e no exterior, 1095 jornalistas e fotógrafos credenciados, produzindo 372 matérias

e 106 resumos, 6,3 milhões de acessos ao site do Rio 2011, desde que foi ao ar. Foram mais

de mil peças de mídia exterior, 32 anúncios em jornais e revistas e 751 inserções em

televisão aberta e por assinatura que adquiriram os direitos de cobertura e imagem dos

Jogos, como: Rede Record, Band, TV Brasil, Bandsports, ESPN Brasil, Esporte Interativo e

Sportv.

Com relação à transmissão dos Jogos pela televisão, a Comissão de Planejamento

Operacional fez questão de frisar que, pela primeira vez na história, uma empresa de

Televisão pública, a TV Brasil, seria a responsável pela transmissão de um megaevento

esportivo realizado no país. Para o major Veiga, responsável pela parte de transmissão da

Olimpíada Militar: “[...] a opção do CPO pelo credenciamento da TV pública vai ampliar

ainda mais a divulgação dos Jogos. Nosso objetivo não é aferir receita, mas abrir ao

máximo o leque de transmissão dos Jogos, desde que atendidas às exigências mínimas. É

uma troca por divulgação", considerou.

A Comissão ainda fez questão de afirmar que: “[...] A parceria celebrada com a

TV Brasil não foi a primeira. Em agosto, as TVs privadas assinaram o mesmo contrato. Na

ocasião, representantes da Rede Bandeirantes, da ESPN, TV Esporte Interativo e Rede

Globo confirmaram presença nas transmissões dos Jogos da Paz em TV aberta, a cabo e por

satélite”.

Porém, um fato em especial merece aqui ser ressaltado, principalmente no que se

refere à produção de imagens por parte das empresas credenciadas e detentoras do direito

de transmissão dos Jogos, e que não foi abordado pela CPO. Foi a contratação de uma

empresa internacional, ligada diretamente à FIFA, para comandar essas empresas

brasileiras, conforme abordado pelo Coronel Megid em entrevista:

[...] haverá produção de imagens, serão feitas por uma empresa internacional, mas abrimos uma concorrência no Brasil. Então, houve necessidade de empresas brasileiras serem reunidas por essa empresa

eletrônico: http://esportes.r7.com/esportes-olimpicos/noticias/emocionado-soldado-pele-acende-a-pira-dos-jogos-mundiais-militares-no-rio-de-janeiro-20110716.html. Acessado em 17/06/2013.

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internacional, a Sport Extra Time, que atende basicamente a FIFA. E vai produzir, então, imagens, boletins diários e a transmissão internacional. Essas emissoras de TVs brasileiras são as que estão cadastradas como emissoras oficiais para transmitir ao vivo ou em videoteipe os eventos dos jogos. 79

A contratação dessa empresa, a Sport Extra Time, faz levantar certos

questionamentos: por que uma empresa ligada diretamente à Federação Internacional de

Futebol, seria a responsável pelo gerenciamento do plano de produção de conteúdo dos V

Jogos Mundiais Militares? Será que o interesse da FIFA na produção dessas imagens não

estaria diretamente ligado ao mundial de futebol realizado, em 2014, no Brasil, sendo

inclusive uma forma de não apresentar possíveis erros, pois os V JMMs foram considerados

por muitos “um evento-teste” para a Copa 2014 e os Jogos Olímpicos em 2106?

A contratação dessa empresa não seria já parte do acordo selado entre o setor

conservador do campo esportivo brasileiro, representado aqui pela CBF e pelo COB, com

suas instâncias superiores, a FIFA e o COI, para dar visibilidade ao evento, no sentido de

mostrar à população brasileira e ao mundo como o Brasil está inserido definitivamente no

cenário mundial e se tornou um lugar favorável a grandes investimentos financeiros e

preparado para sediar as principais competições do calendário esportivo mundial?

Ao longo deste capítulo buscou-se, em primeiro lugar, apresentar a V edição dos

Jogos Mundiais Militares, desde o momento da escolha brasileira como país sede, até a sua

realização em julho de 2011. Porém para uma melhor contextualização dos elementos que

constituíram essa escolha, e, principalmente por se tratar de um país sem a menor tradição

nesse tipo de esporte, fez-se necessário buscar elementos que fortalecessem a hipótese

inicial desta tese de que os V Jogos Mundiais Militares no Brasil aconteceram como parte

de um planejamento estratégico advindo da parceria estabelecida entre o Comitê Olímpico

Brasileiro, o Ministério do Esporte, e as Forças Armadas, vislumbrando o cumprimento de

uma agenda pré-definida que objetiva um projeto muito maior, que é a realização dos Jogos

Olímpicos de 2016, na cidade do Rio de Janeiro.

79 Audiência pública em 31-05-2011 sobre os Jogos Mundiais Militares na Câmara dos Deputados, junto a Comissão de Turismo e Desporto – número: 0628/11. Acessado em 23/08/2012.

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Para tanto foram elencados pontos considerados de suma importância e que nos

desvelaram o lugar ocupado pelo Esporte Militar na Estrutura esportiva brasileira, o que

também nos auxiliou no fortalecimento de nossa hipótese.

Essa busca, que partiu da própria realização dos JMMs, retornando à década de

40 do século passado, perfazendo todo o caminho desse esporte dentro da legislação

esportiva brasileira, em diálogo com importantes momentos da história, não só esportiva,

mas político-econômico-social do país, nos deu elementos para afirmar que esse esporte

nunca possuiu um lugar de destaque dentro do campo esportivo nacional que justificasse o

lugar protagônico assumido por ele na realização de uma edição dos Jogos Mundiais

Militares. Esse fato só se justifica, se olhado pela ótica da política expansionista do

Governo Federal, incluindo como estratégia a vinda dos principais megaeventos esportivos

para o país.

A compreensão desse cenário nos remeteu à necessidade de abordar outro

momento de suma importância ao nosso estudo, que apresentou o “dia seguinte” à

realização dos Jogos Mundiais Militares, por meio do qual buscamos apresentar como

foram investidos os recursos financeiros liberados para os Jogos, e a quem coube a missão

de pagar a “conta da festa” deixada por eles, quais foram os principais legados deixados

para o esporte nacional e para a população civil, e como se deu a sintonia estabelecida entre

os Ministério da Defesa, do Esporte, e o Comitê Olímpico Brasileiro, tendo ela como

principal meta a preparação brasileira para os Jogos Olímpicos que aconteceram em

Londres - 2012, os Jogos Mundiais Militares em Mungyeong, na Coreia do Norte, em 2015

e as Olimpíadas do Rio, em 2016. Os objetivos acima descritos abrem então caminho para a

composição do segundo capítulo desta tese, que será apresentado a seguir.

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CAPÍTULO 2 - O QUE ESTAVA RESERVADO AO BRASIL NO DIA SEGUINTE À REALIZAÇÃO DOS V JOGOS MUNDIAIS MILITARES?

Existe um comportamento padrão em relação aos megaeventos no Brasil. As obras para esses

eventos esportivos não fazem parte do planejamento urbano de longo prazo para a

cidade. Ao contrário, o megaevento vira o plano estratégico da cidade. É o que chamamos

planejamento de curto prazo; planejamento para o evento em si, e não para a cidade na

totalidade do seu território.

Chris Gaffney

O Esporte Militar no Brasil atingiu seu ápice com a realização dos Jogos

Mundiais Militares, o que permitiu, na visão das Forças Armadas, uma série de

contribuições e novas perspectivas não só para ele, mas, também, para o esporte nacional,

consolidando, assim, um projeto que tem por objetivo maior a busca por sua inserção no

campo esportivo brasileiro, o posicionamento do país entre as principais potências

esportivas militares mundiais e o atendimento aos interesses do Comitê Olímpico Brasileiro

e ao esporte de alto rendimento nacional.

Para que os objetivos acima descritos fossem e sejam alcançados, as Forças

Armadas, contaram com um investimento bilionário por parte do Governo Federal, via

Ministério do Esporte e Ministério da Defesa. Deve-se ressaltar que não é nossa pretensão

adentrar de forma minuciosa a temática referente aos valores investidos para a realização

dos Jogos Mundiais Militares, em solo brasileiro, o que nos permitiu abordar aqui somente

aquilo que entendemos ser realmente pertinente ao nosso estudo, buscando o

estabelecimento de uma relação deste com outros importantes fatores que foram vistos

pelas Forças Armadas como legados, e que também se apresentaram como importante

forma de desoneração, por parte do COB, dos gastos referentes à realização dos Jogos

Olímpicos em 2016.

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Assim, o delineamento deste capítulo foi pensado para apresentar os fatos na

visão dos principais interessados no posicionamento estratégico do Esporte Militar, por

meio da vinda dos Jogos Mundiais Militares para o Brasil, as Forças Armadas, o Governo

Federal e o Comitê Olímpico Brasileiro, buscando mostrar a disparidade entre o discurso

apresentado por esses atores, e o que de fato se observou na prática. Nesse sentido, o debate

que se intensificará no terceiro capítulo deste estudo, buscará uma maior sustentação para

refutar a vinda dos JMMs ao Brasil apenas como evento-teste, como algo não planejado e

estrategicamente pensado, como parte da lógica estabelecida pela agenda Rio-2016.

2.1 Os Recursos investidos.

A realização da V edição dos Jogos Mundiais Militares foi integralmente

financiada pelo Governo Federal, e, para que fosse cumprido todo o seu planejamento, foi

necessário um grande investimento financeiro80, que integrou o PPA – Plano Plurianual do

Governo - no período de 2008/2011, inserido na pasta do Ministério do Esporte, no

Programa 0181, denominado Brasil no Esporte de Alto Rendimento – Brasil Campeão. Sua

inserção no orçamento do Ministério do Esporte foi justificada pela CPO como sendo uma

competição esportiva de grande importância para a preparação do país para sediar a Copa

do Mundo FIFA-2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 e que teria como grande atrativo a

presença de atletas renomados do esporte nacional, que se incorporaram às Forças Armadas

e se encontravam em fase de preparação para as Olimpíadas de Londres, em 2012.

Aldo Rebelo, Ministro do Esporte, em solenidade de assinatura de um protocolo

de intenções para a utilização da Escola Superior de Educação Física do Exército, como

sede de treinamento dos atletas brasileiros para os Jogos de 2016, no Rio, disse que, para

garantir o sucesso dos Jogos Militares e das outras grandes competições que viriam, logo a

seguir, o governo federal precisava fazer a sua parte, ou seja, entrar

[...] com a parte mais importante, que são os recursos. Não tem como a prefeitura e o governo do estado assegurar o êxito de um evento desse

80 Vale ser ressaltado que o investimento realizado exclusivamente pelo Governo Federal com a realização dos JMMs no Brasil, da ordem de R$ 1,5 bi, é ínfimo, se comparado com os gastos na realização da Copa do Mundo FIFA em 2014, e com os Jogos Olímpicos de Verão em 2016.

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porte, sem os recursos federais. Muitas vezes não estaremos presentes nos eventos relacionados à preparação dos Jogos, mas na hora de resolver os problemas o governo federal estará sempre ao lado da prefeitura e do governo do estado81.

Sob essa alegação, ao Estado e à Prefeitura do Rio de Janeiro fixaram apenas

atribuições, como forma de estabelecimento de parceria com o Ministério do Esporte e da

Defesa na organização do evento, conforme palavras do próprio Coordenador de

Planejamento Operacional dos Jogos, Coronel Jamil Megid Jr., em audiência na Comissão

de Turismo e Desporto, em maio de 201182:

Dentro da complementação de recursos para os jogos, foram debatidas não obrigações, mas ações e tarefas do governo do Estado ou da Prefeitura da cidade em proveito dos Jogos Mundiais Militares, mas em áreas atinentes ao governo do Estado ou à Prefeitura. Então, foi acertada uma lista de tarefas ou uma matriz de responsabilidades, como o pessoal costuma chamar. E muitas ações foram desenvolvidas. O governo do Estado está nos apoiando na parte de energia elétrica e no sistema de transporte – por exemplo: com o bilhete único, os voluntários poderão circular pela cidade. A Prefeitura da cidade está nos auxiliando com o apoio do novo Centro de Operações da Prefeitura, que vamos utilizar. Ele dá uma boa ideia do mapa da cidade. Cito também a CET-Rio e o desenvolvimento de programas culturais.

Em cumprimento a tal intento, existiu primeiramente uma previsão de gastos

com a realização dos Jogos, na casa de R$1.181.750 bi, distribuídos em despesas de custeio

de investimento ao longo de 2008 a 2011, conforme apresentado no quadro abaixo:

81 http://esportes.terra.com.br/noticias/0,,OI5499260-EI14532,00-COB+e+Exercito+fecham+acordo+para+construir+QG+esportivo+brasileiro.html. Acessado em 28/08/2012. 82 Audiência pública realizada com Bernardo José Pierantoni Gambôa - Vice-Almirante, Presidente da Comissão Desportiva Militar do Brasil (CDBM) e com Jamil Megid Júnior - General de Brigada, Coordenador Geral do Comitê de Planejamento Operacional dos V Jogos Mundiais Militares, a respeito da organização e os preparativos para os V Jogos Mundiais Militares, a ser realizado na Cidade do Rio de Janeiro, entre os dias 16 e 24 de julho de 2011.

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Quadro 5. Investimentos realizados nos Jogos Mundiais Militares nos exercícios

2008, 2009, 2010 e 2011.

Fonte: 83TCU

Dessa forma, tendo como objetivo dar andamento aos projetos e demais

atividades previstas para os V JMMs e contemplados no planejamento orçamentário da

União, a aplicação dos recursos federais observou a seguinte distribuição e proporção,

conforme disposto no quadro a seguir:

83 ACÓRDÃO Nº 1443/2011 – TCU – Plenário - Processo nº TC 029.738/2010-5. Assunto: Relatório de Acompanhamento.

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Quadro 6. Distribuição dos recursos federais por demandas dos Jogos Mundiais

Militares

Fonte: TCU 84

É importante destacar que, no segundo semestre de 2010, a previsão de gastos

com os JMMs, que era de R$1.181.750 bi, sofreu uma grande alteração, sendo ajustada

para R$ 1.481.750.000,00, justificada, segundo a Comissão Organizadora, pela necessidade

de “gastos extras” de modo que o acréscimo de recursos correspondentes a R$ 300 milhões

fosse incluído na Lei Orçamentária Anual – LOA 2011, e deveria ser aplicado conforme

números abaixo:

Gestão e Administração do Programa (41,23%) ..................... R$ 123.700.000,00

Instalações Esportivas (39,17%) .................................................R$ 117.500.000,00

Vilas Olímpicas (15,00%) ............................................................R$ 45.000.000,00

Segurança e Inteligência (4,60%) ...............................................R$ 13.800.000,00

84 ACÓRDÃO Nº 1443/2011 – TCU – Plenário - Processo nº TC 029.738/2010-5. Assunto: Relatório de Acompanhamento.

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Ainda no segundo semestre do ano de 2010, mais precisamente em 28 de

dezembro de 2012, a edição da MP 515/2010 que versou sobre o projeto de Construção e

Adequação das Instalações Esportivas, recebeu um adicional do valor de R$ 40 milhões, e

que, somados aos R$ 300.000.00 acrescidos anteriormente, fizeram o orçamento dos jogos

em 01 de junho de 2011 chegar à marca de R$ 1.521.750.000,00. O Orçamento Geral da

União nos exercícios 2008/2009, 2010 e 2011 confirmam os números acima descritos e nos

apresenta, com maior clareza, de que forma os recursos foram distribuídos dentro do

Programa Brasil no esporte de Alto-rendimento – Brasil Campeão, no triênio 2009/ 2011,

sendo que no ano de 2009 foi liberado ao Ministério da Defesa, via Ministério do Esporte,

um montante de R$ 275.000.000; no ano seguinte, 2010, foi liberado ao mesmo Ministério

da Defesa um montante de R$ 580.500.000 e no ano da realização dos JMM o valor

liberado foi de R$ 618.000,00 milhões, conforme quadro abaixo:

Quadro 7. Orçamento Geral da União para os V Jogos Mundiais Militares

Resenha Diária produzida pela ASCOM/MD - quarta-feira, 9/02/2011.

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O estudo realizado por Castellan (2011, p. 65) em sua dissertação de mestrado

sobre As Conferências Nacionais de Esporte e Lazer, nos traz uma importante constatação

no que se refere ao altíssimo valor investido para a realização dos Jogos Mundiais

Militares, principalmente no que tange ao Programa 0181, denominado Brasil no Esporte

de Alto-rendimento, relatando-nos que suas ações só aparecem no orçamento da União em

2010, ou seja, no mesmo ano em que foi elaborado o Plano Decenal de Esporte e Lazer,

sendo que até então as ações do Orçamento

[...] não previam, no ato de sua aprovação, ações voltadas para a realização do V Jogos Mundiais Militares. Porém, em sua última alteração, publicada em 2010, o anexo trazia alterações nas ações, redistribuindo os gastos no sentido de priorizar os Jogos Militares. Isso significa que as agendas dos outros programas serão readequadas de forma a comportar as ações necessárias para a realização dos mega eventos esportivos no Brasil como já está acontecendo com o V Jogos Mundiais Militares neste ano de 2011.

O próprio site do Ministério da Defesa, por meio de sua Assessoria de

Comunicação, publicou uma matéria especial do Jornalista José Cruz para o site Contas

Abertas, intitulado: Orçamento: o primeiro adversário dos Jogos Mundiais Militares, no

qual admite que o próprio orçamento da União para a realização dos JMMs, em 2011, não

aparecem nas ações do ano de 2010 do Programa Brasil no Esporte de Alto-rendimento, o

que vem confirmar o descrito por Castelan (2011) em seu estudo. A matéria deixa claro que

A cinco meses da abertura dos Jogos – de 16 a 24 de julho – o Brasil ainda não tem sancionado o orçamento federal para 2011. O documento, aprovado pelo Congresso Nacional ao apagar das luzes do ano legislativo de 2010, ainda aguarda a assinatura da presidente Dilma Rousseff, que, com a equipe econômica, estuda possíveis cortes. A surpresa será se tiver valores contingenciados para os jogos, isto é, suspensão de gastos por alguns meses.

De forma geral, convém ressaltar que outros sites também repercutiram a

questão dos altos valores investidos na organização e realização da V edição dos Jogos

Mundiais Militares, como o site Contas Abertas, cujo Diretor-presidente Gil Castelo

Branco, que foi Secretário-Executivo do Ministério do Esporte, no primeiro ano da gestão

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Agnelo Queiroz, nos apresentou tabela do Orçamento Geral da União, tendo como fonte o

Ministério da Defesa (anexo 17), discriminando os valores aprovados, empenhados e pagos

nos anos de 2009, 2010 e 2011 para os gastos com os V JMMs. Outra fonte, o site Notícias

Militares 85, traz matéria que vem ao encontro da informação apresentada pelo Contas

Abertas, incluindo o seguinte comentário:: rçamento de 2011:

[...] enquanto o Orçamento Geral da União para 2011 não é sancionado, as necessidades financeiras da organização dos jogos são atendidas com R$ 25 milhões de verba suplementar, mas apenas para despesas de custeio, como água, luz, telefone e folha de pagamento. O valor ainda é tímido, já que a previsão orçamentária para 2011 chega a R$ 618 milhões.

As informações acima apresentadas nos confirmam, em primeiro lugar,

exatamente o que procuramos aqui enfatizar, que o Governo Federal foi o único financiador

dos Jogos Mundiais Militares no Brasil, e, em segundo lugar, que o Governo Federal

esperou até o último instante, para liberar um investimento bilionário que foi retirado

inteiramente dos cofres públicos, sem nenhum questionamento, e que não teve como fonte

nenhum tipo de recurso privado envolvido para a sua realização. Este fato também pôde ser

comprovado na própria fala do Vice-almirante e Presidente da CDMB Bernardo José

Pierantoni Gambôa, na Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados, em 31

de maio de 2011, quando, sabatinado pelo Deputado Federal Romário, sobre qual seria a

origem dos recursos para a realização dos JMMs, respondeu que eram advindos do

Governo Federal, da LOA - Lei Orçamentária Anual, não existindo nenhum tipo de recurso

da iniciativa privada envolvido diretamente na competição86.

Podemos perceber ainda que existe um sério problema de sintonia entre as falas

dos próprios militares, quando o apresentado pelo Vice-Almirante contraria o relatado pelo

Secretário de Organização Institucional do Ministério da Defesa, Ari Matos Cardoso, em

entrevista ao Blog “Em Off”, realizada em 31 de julho de 2009, momento em que afirmou

que haveria sim participação de entidades privadas, patrocinando os JMMs, pois:

85 Informações retiradas do endereço eletrônico: http://noticiasmilitares.blogspot.com.br/2011/02/orcamento-o-primeiro-adversario-dos.html. Acessado em 11/05/2013. 86 Audiência pública realizada com Bernardo José Pierantoni Gambôa - Vice-Almirante, Presidente da Comissão Desportiva Militar do Brasil (CDBM) e com Jamil Megid Junior - General de Brigada, Coordenador Geral do Comitê de Planejamento Operacional dos 5º Jogos Mundiais Militares, a respeito da organização e os preparativos para os V Jogos Mundiais Militares, a ser realizado na Cidade do Rio de Janeiro, entre os dias 16 e 24 de julho de 2011.

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[...] sendo um evento de proporções internacionais, há o outro lado das grandes organizações de querer participar. Está dentro do nosso planejamento uma articulação com as grandes empresas brasileiras. Queremos que elas participem e patrocinem. Já há o caso da Petrobras, que está patrocinando o paraquedismo, e estamos nos articulando com a Vale e outras empresas. Está no planejamento estratégico da CDMB a busca da relação com as entidades privadas para viabilizar os V Jogos Mundiais Militares87.

O Militar ainda fez questão de salientar na Comissão Parlamentar que foram

recolhidos os devidos impostos sobre os valores gastos, não havendo isenção esportiva, que

normalmente pode ser concedida para eventos de grande proporção: “[...] o Governo

Federal recolheu cerca de 140 milhões de reais aos cofres públicos estaduais e federais, à

guisa de impostos sobre todos os eventos que estamos executando[...]”, reforçando mais

uma vez que “[...] não houve recursos advindos de instituições privadas, todos os recursos

foram do Governo Federal”.

O fato de o Governo Federal configurar como o principal financiador dos

JMMs, nos levou a analisar essa questão sob dois olhares: o primeiro nos remeteu ao Brasil

como um país possuidor de um histórico não muito animador, quando o assunto gira em

torno dos direitos sociais, país extremamente carente nas áreas de infraestrutura, e em

diversos setores, como habitação, saneamento básico, educação, e, principalmente, na

geração de emprego para os jovens que estão ingressando no mercado de trabalho. Aliás,

com relação a este último podemos recorrer aqui mais uma vez à coluna no Jornal Folha de

S. Paulo, do dia 07 de julho de 2011, quando o Jornalista Élio Gáspari compara o bilionário

gasto com os Jogos Mundiais militares, em apenas 09 dias, com todo o investimento do

governo federal para formação de alunos do ensino profissionalizante, incluindo

transporte e alimentação, que seria de R$ 2 bilhões em um ano.

O segundo nos mostrou que não haveria razão para ser diferente, pois, se

afirmamos ao longo de nosso estudo que a lógica da realização dos JMMs no Brasil só se

justifica pela reinserção estratégica do Esporte Militar junto aos anseios de entidades de

87 Matéria retirada do blog “ Em Off”, que traz o texto na íntegra no endereço eletrônico: http://emoff.blog.terra.com.br/2008/07/31/jogos-militares-reunirao-4500-atletas-em-2011/. Acessado em 20/01/2013.

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administração do esporte nacional, como o Comitê Olímpico Brasileiro, vindo ao encontro

dos anseios do Esporte de representação nacional, situação esta que é perpetuada há

décadas dentro do conservador campo esportivo brasileiro, os valores públicos investidos

para a concretização do megaevento militar deveriam mesmo advir dos cofres públicos. A

liberação desse recurso pelo Governo não só como forma de desonerar a preparação para os

Jogos Olímpicos em 2016, mas também como parte do acordo selado entre os atores

envolvidos, incluindo aí o Ministério do Esporte, demonstra ser esse o preço a ser pago por

sua legitimação e reconhecimento dentro do campo esportivo nacional, conforme já foi

abordado no primeiro capítulo desta tese.

Materializando o que foi acima descrito, recorremos mais uma vez ao site

Contas Abertas88, em matéria publicada em 12 de agosto de 2012, na qual, Gil Castelo

Branco – Diretor-Presidente do site - apresenta de forma discriminada como estariam

repartidos os recursos do Governo a favor do esporte de alto rendimento, em detrimento do

educacional e de participação, incluindo os gastos relativos à contratação de atletas civis

para compor o quadro das Forças Armadas, com vistas à preparação para os Jogos:

No último ciclo olímpico, de 2009 a junho de 2012, o governo federal destinou R$ 6,2 bilhões ao esporte brasileiro, nas manifestações de rendimento, educacional e de participação. Esses recursos foram provenientes do Orçamento Geral da União (R$ 3,9 bilhões), Lei Agnelo/Piva (R$ 578,3 milhões), Lei de Incentivo (R$ 523,4 milhões), Empresas Estatais (R$ 771,3 milhões) e Timemania (R$ 390,9 milhões). Para este balanço foi desconsiderado o exercício de 2008, quando ainda estavam sendo pagas despesas referentes aos Jogos Panamericanos e à Olimpíada de Pequim. Do total de verba pública para o esporte, as modalidades olímpicas receberam R$ 1,4 bilhão no período analisado. Cerca de 10% deste valor, R$ 142,9 milhões, foram para as atividades paralímpicas. A principal fonte de financiamento do esporte é o Orçamento Geral da União, com R$ 3,9 bilhões. Neste valor está incluído todo o dispêndio do Ministério do Esporte e parcelas afins de outras pastas. Por exemplo, a da Defesa com a contratação de atletas para reforçar a equipe nos Jogos Mundiais Militares que ainda são

88 Informações retiradas do site Contas Abertas no endereço eletrônico: http://www.contasabertas.com.br/WebSite/Noticias/DetalheNoticias.aspx?Id=981. Acessado em 11/05/2013. Merece ainda ser ressaltado que o Diretor-presidente do site Contas Abertas, Gil Castelo Branco, foi Secretário-Executivo do Ministério do Esporte no primeiro ano da gestão Agnelo Queiroz, sendo por este exonerado por pressão dos três secretários nacionais então presentes, descontentes com sua forma centralizadora e autoritária de gestão.

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mantidos como oficiais das Forças Armadas. Já o esporte de rendimento em geral, inclusive as modalidades não-olímpicas (futevôlei, caratê, boliche etc.) foi contemplado com R$ 1,8 bilhão. Porém, para as modalidades olímpicas, especificamente, o Orçamento Geral da União destinou R$ 120 milhões, enquanto as paralímpicas receberam R$ 22,1 milhões. Os dados constam do SIAFI (Sistema Integrado de Administração Financeira).

A distribuição acima descrita nos permitiu mais uma vez dialogar com o estudo

de Castelan (2011), quando ela constata a existência de uma enorme diferença, na verdade,

de um descompasso, existente entre a agenda política proposta pelo Governo, expressa

pelas Conferências e a cumprida pelo Ministério do Esporte, principalmente pela III

Conferência que teve como principal meta traçar um planejamento estrategicamente

voltado ao esporte de alto rendimento, objetivando projetar o Brasil em dez anos entre as

dez maiores potências esportivas mundiais. Esse descompasso não pode ser visto como

mero acaso, principalmente porque ficou claro que o maior derrame de dinheiro público

aconteceu principalmente no momento em que o Plano Decenal de Esporte e Lazer

legitimou os megaeventos esportivos como prioridade para a agenda governamental. Como

já citado, com os Jogos Mundiais Militares, também não foi diferente, pois os gastos

destinados a ele só aparecem no orçamento da União em 2010, ou seja, no mesmo ano da

realização dessa Conferência e praticamente no final do triênio 2008/2011, o que deixou

clara a intenção do Governo Federal, e a falta de transparência com que omitiu os gastos

com a competição militar, somente começando a apresentá-los perto de sua realização.

Os recursos investidos na organização e realização dos Jogos Mundiais Militares

no Brasil nos desvelaram algumas particularidades que nos deram subsídios para explicar o

porquê da escolha brasileira para sediar tal edição, principalmente porque, dentro da lógica

estabelecida, este seria um interessante caminho de desoneração com os gastos dos Jogos

Olímpicos em 2016, uma grande oportunidade para um financiamento indireto e a

profissionalização de atletas civis, incorporados às Forças Armadas pelo Programa Atletas

de Alto Rendimento, mesmo contraditando a Lei Pelé, e a aquisição de importantes

estruturas sob o comando dos militares que passariam então a servir ao Time Brasil, à

seleção olímpica nacional e, concomitantemente, aos interesses educacionais do COB, por

meio do Instituto Olímpico Brasileiro - IOB.

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Assim, percebe-se que o caminho que começou a ser alinhavado ainda no

Governo Fernando Henrique Cardoso, com a escolha do Brasil para sediar o Pan, em 2007,

e prosseguiu no Governo Lula, nesse mesmo ano, com a escolha brasileira para realizar

uma edição dos V JMMs, em 2011, passando pela Copa das Confederações, em 2013, pelo

Mundial de Futebol, em 2014, e que chegará ao Rio de Janeiro com os Jogos Olímpicos,

em 2016, destitui definitivamente a alcunha de “evento-teste” dada ao Megaevento militar,

ratificando a lógica de que esses megaeventos esportivos fazem parte de uma agenda muito

bem definida e planejada, e não de mero acaso. Como forma de confirmar esta tese,

abordaremos nos próximos parágrafos os legados deixados pela competição militar,

buscando compreendê-los também como parte da lógica estabelecida por essa agenda.

2.2 Os Legados deixados pelos V Jogos Mundiais Militares ao Brasil.

No imaginário das Forças Armadas Brasileiras a realização dos JMMs deixou

uma série de legados ao esporte nacional e à população da cidade do Rio de Janeiro,

principal público esperado para o evento. O primeiro, pela construção das três Vilas

Militares, a Branca, a Azul e a Verde, as obras de construção e ampliação do Complexo

Esportivo da Fortaleza de São João, do Complexo Esportivo de Deodoro e do Centro de

Educação Física Adalberto Nunes, além do Programa Atletas de Alto Rendimento que

incorporou atletas civis na carreira militar, delineando uma preparação que transcendia os

JMMs, e partiu rumo a Londres 2012, aos Jogos Mundiais Militares em Mungyong, na

Coreia do Norte, em 2015 e aos Jogos Olímpicos no Rio, em 2016. O segundo se utilizou

da capilaridade militar para a formação de crianças e jovens, por meio da parceria

estabelecida entre os Ministérios da Defesa, do Esporte, da Educação e do COB para o

desenvolvimento de Programas esportivos de cunho socioeducacionais, além da

aproximação da sociedade civil do mundo militar e de suas especificidades.

Também foi visto pela Comissão Organizadora dos JMMs outro importante

legado que se referiu ao novo posicionamento do país, diante das principais potências

esportivas militares mundiais, demonstrado pelo quadro geral de medalhas no qual o Brasil

ocupou um lugar protagônico, com uma delegação de atletas civis incorporados à hoste,

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acreditando assim estar dando sua parcela de contribuição para o objetivo maior a ser

alcançado na intitulada década de ouro do esporte brasileiro, ou seja, a realização dos Jogos

Olímpicos, em 2016. Tomemos, então, como ponto de partida para nossa explanação, os

legados socioeducacionais.

2.2.1 Os Legados Socioeducacionais

Na visão dos militares, a aproximação da população civil do universo militar,

principalmente das crianças, foi apontada como uma meta essencial alcançada pela

Comissão Organizadora dos Jogos, principalmente porque proporcionou à população civil a

oportunidade de entrar em contato com algumas modalidades esportivas específicas do

meio militar, e, ao mesmo tempo, despertar nas crianças e jovens ali presentes o desejo de

seguir a carreira militar, fato que no Brasil vem diminuindo a cada ano. O Coronel Jamil

Megid, Coordenador de Planejamento Operacional dos JMMs, destacou que para atingir tal

intento houve a necessidade de ser realizado um importante trabalho de divulgação, como

já citado no primeiro capítulo deste estudo, iniciando três meses antes do início da

competição, para atrair a atenção do público infantil e juvenil, utilizando uma estratégia que

unia particularidades do universo dessas crianças com a temática a ser desenvolvida pelos

Jogos. O Coronel ainda relatou que na questão da divulgação

[...] não só as famílias que moram no entorno dos quartéis sabiam dos jogos. Conseguimos que todo mundo falasse a respeito. Quando colocamos acesso ao ingresso pela internet, para civis e militares, vimos um fluxo muito grande de público civil. E isso é uma grande satisfação, pois os Jogos são para a sociedade. Essa era a finalidade: promover essa integração e o conhecimento do esporte militar pelo público civil. Com certeza, isso ainda vai trazer benefícios futuros. Muitas dessas crianças que assistiram às provas vão querer se tornar militares para ser esportistas, para praticar aquele esporte que viram, como os pentatlos, que chamaram muito a atenção da garotada. Esse é aquele benefício intangível hoje, mas que terá desdobramentos futuros amanhã 89.

89 Entrevista realizada com o Coordenador de Planejamento Operacional dos Jogos Militares, Coronel Jamil Megid Jr. Realizada no dia 25/07/2011. Texto na íntegra no endereço eletrônico: www.inforsuhoy.com. Acessado no dia 08/12/2012.

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Para chamar a atenção dos pequenos, as Forças Armadas deram, então, ao

cartunista Maurício de Souza a missão de criar uma logomarca que traduziria toda a

representatividade a ser alcançada pelos JMMs no Brasil, que se materializou em uma

pomba, simbolizando um dos objetivos a serem atingidos pelo CISM, ou seja, levar a paz

por meio do esporte, mesmo objetivo da primeira edição dos JMMs, em Roma, em 1995, e

que batizou a edição brasileira de “Jogos da Paz”. A criação desses bonecos-mascotes, além

da representação identitária com a edição brasileira dos Jogos Mundiais Militares, tinha

também como importante objetivo aproximar-se das crianças, aguçando-lhes a curiosidade

e o desejo de conhecer as particularidades da vida militar.

Para os militares a utilização da capilaridade militar para auxiliar na formação

de milhares e milhares de crianças foi imprescindível, e ficou muito maior depois dos

Jogos, pois um dos pontos fortes das Forças Armadas, segundo eles, está exatamente na

questão da disciplina e da preparação para a vida, mostrando, também, que um militar

poderia defender a nação por meio do esporte. O presidente da CDMB, o Vice-Almirante

Bernardo José Pierantoni Gambôa, em audiência pública 90 realizada pela Comissão de

Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados declarou que

[...] os militares querem com a competição, dar ênfase ao treinamento físico como ferramenta de desenvolvimento esportivo e de inclusão social, principalmente através do atendimento a milhares de crianças e jovens nos programas Segundo Tempo e Mais Educação do Governo Federal, promover os níveis de segurança e de inteligência, reforçando políticas públicas, aproveitar profissionais de diversas áreas e atividades, em âmbito nacional e ainda ampliar a infra-estrutura esportiva para competição e treinamento de alto rendimento, visando as Olimpíadas 2016.

O Ministério do Esporte, principal financiador dos JMMs, reforça o dito pelo

Vice-almirante, salientando que a atuação das Forças Armadas tem sido de suma

importância no processo de formação das crianças, principalmente com o desenvolvimento

de núcleos do Programa Segundo Tempo – Forças no Esporte - resgatando a integridade

90 Matéria sobre a audiência pública da Comissão organizadora dos Jogos Mundiais Militares no site: http://www2.camara.gov.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/ctd/noticias/maior-conquista-dos-5o-jogos-mundiais-militares-sera-o-legado-social. Acessado em 30/05/2012.

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delas, o espírito de cidadania, devolvendo a elas a oportunidade de sonhar com um futuro

melhor. Wadson Ribeiro, Secretário Nacional de Esporte Educacional, destacou em

solenidade realizada para o congresso técnico dos V JMM que:

A partir dos Jogos Pan-Americanos de 2007, o principal legado que os Jogos Mundiais Militares de 2011, a Copa das Confederações, em 2013, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016 trazem como benefício aos jovens é a possibilidade de eles terem a inclusão social num momento em que se constrói a solidariedade e a paz, valores inerentes ao esporte91.

Na mesma fala o Secretário ainda fez questão de destacar que o Projeto

desenvolvido pelas Forças Armadas, desde o ano de 2003, denominado PROFESP92 -

Forças no Esporte - Segundo Tempo - que conta, também, com a parceria do Ministério do

Esporte e do Ministério do Desenvolvimento Social, segue essa linha de raciocínio,

objetivando auxiliar na melhoria de vida de milhares de famílias carentes, em todo o Brasil,

por meio do esporte. Nesse programa, as crianças recebem reforço escolar, atividades

esportivas, conhecimentos básicos sobre higiene, além de assistência médica e

odontológica, sendo os recursos financeiros liberados pelo Ministério do Esporte para

contratação de profissionais e materiais esportivos e para a alimentação das crianças, por

meio do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome93. Merece aqui ser

ressaltado que, na literatura acadêmica, já existem estudos desenvolvidos em nível de

mestrado e doutorado, que abordam o programa e é possível obter maiores informações no

site do Ministério do Esporte, no endereço eletrônico www.esporte.gov.br.

Sob essa lógica, o investimento realizado com as crianças e jovens muito mais

do que oferecer atividades esportivas, revelou serem eles possuidores de um grandioso

potencial de ascensão esportiva, de formação de futuros atletas e de preparação de futuros

91 Texto editado pela ASCON- Acessória de Comunicação do Ministério do Esporte, durante o Congresso Técnico dos Jogos Militares no Rio de Janeiro, no dia 16/07/2011, onde o Secretário Nacional de Esporte Educacional, Wadson Ribeiro, apresenta aos chefes das delegações estrangeiras o Programa Segundo Tempo do Governo Federal, e destaca a importância da parceria do Ministério do Esporte com as Forças Armadas. http://www.esporte.gov.br/snelis/segundotempo/noticiaDetalhe.jsp?idnoticia=7151. Acessado em 12/07/2012. 92 Programa Forças no Esporte gestado no final do Governo de Fernando Henrique Cardoso em 2002. 93 Retirado do endereço eletrônico: http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/08/10/parceria-entre-ministerios-leva-esporte-para-criancas-do-distrito-federal. Acessado em 10/09/2012.

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jovens ingressantes nas Forças Armadas, fato que pôde ser constatado nas falas acima,

sendo que este último fato baseia-se na redução, de forma surpreendente, do ingresso de

jovens na carreira militar, explicado pela crise financeira brasileira e o baixo orçamento

destinado ao Ministério da Defesa, fazendo-os então acreditar que o esporte, neste caso, o

militar e o de alto rendimento, faria a mediação e serviria como principal atrativo para que

as crianças e os jovens atendidos pelos Programas vislumbrassem uma possibilidade de

futuro dentro da carreira militar.

O Presidente da CDMB, Vice-almirante Gambôa, destacou que a realização

dos Jogos Mundiais Militares deixou uma impressão positiva no público infanto-juvenil,

deixando a certeza de que:

Todos foram impregnados pelos exemplos de dedicação e superação demonstrados pelos nossos atletas, despertando um desejo de transformar-se em um deles no futuro. Aí, sem dúvida, apresenta-se a oportunidade para a detecção de novos talentos esportivos, preconizada pelos Programas ‘Segundo Tempo’ e ‘Forças no Esporte’.

Durante a solenidade de abertura dos Jogos Mundiais Militares, em 16 de julho

de 2011, no Estádio Engenhão, 1300 crianças protagonizaram um momento especial para

os militares, quando apresentaram uma coreografia que anunciava a chegada dos Jogos da

Paz, sendo diplomadas com o título de “Guerreiros da Paz”. Esta diplomação foi realizada

em 23 de setembro de 2011, no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes

(CEFAN). Os jovens agraciados são moradores de cerca de 20 comunidades populares,

entre elas, o Complexo do Alemão. Vale destacar que os estudantes do Programa Segundo

Tempo atendidos pelas Forças Armadas, residem em áreas de vulnerabilidade social, e são

alunos da rede pública que, no período oposto ao do ensino regular, recebem, além da

prática esportiva, reforço escolar, alimentação, atendimento médico e odontológico e

transporte94.

Um fato em especial merece atenção de nossa parte, principalmente no que diz

respeito às áreas de vulnerabilidade social atendidas pelo PROFESP – Programa Forças no

94 http://www.esporte.gov.br/ascom/noticiaDetalhe.jsp?idnoticia=7482. Acessado em 15/09/2013,

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esporte – Segundo tempo, principalmente quando se nota que os Jogos Mundiais Militares

acontecem na cidade do Rio de Janeiro, em 2011, no exato momento em que o Estado vive

uma verdadeira guerra urbana, uma batalha fora das arenas esportivas, contra o domínio de

grupos organizados pelo tráfico de drogas nas favelas do Rio. Como forma de intensificar

esse combate, a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro cria, a partir de 2008, as

UPPs – Unidades de Polícia Pacificadora - que têm por principal objetivo retomar as áreas

dominadas pelos “Estados paralelos”, e levar paz e confiança aos seus moradores.

A situação nos permitiu visualizar que um dos títulos dados à V edição dos JMMs

no Brasil, o de Jogos da Paz, pode estar diretamente ligado ao processo de pacificação das

favelas cariocas, pois, se a paz a ser conquistada pela cidade do Rio de Janeiro se configura

pela luta contra o poder paralelo e seu domínio sobre as favelas, este poderia se tornar um

grande empecilho junto aos interesses do setor imobiliário e do desenvolvimento urbano,

atrapalhando, assim, a apresentação ao mundo da imagem de uma cidade segura e com

grande potencial de investimento financeiro, um lugar bom para se viver, sem violência, e

que passou a ter esse objetivo no exato momento em que o Brasil passa a elaborar uma

agenda, vislumbrando a cidade maravilhosa como uma das sedes do Mundial FIFA-2014, e

a sede dos Jogos Olímpicos de Verão, em 2016. Completando esse processo, os Programas

do Governo Federal desenvolvidos em parceria com as Forças Armadas, como o PROFESP

e o Mais Educação teriam como objetivo levar às comunidades de tais localidades o

esporte, como meio de pacificação.

Sob essa lógica, o processo de pacificação também incluiu seus moradores, o

que levou as Forças Armadas a possuir um papel estratégico nessa investida do Governo do

Rio de Janeiro e do Governo Federal, entendendo que esses Programas, que funcionam no

contraturno escolar, dentro de áreas sob a jurisdição dos militares, poderiam também

prestar um importante auxílio para que o objetivo seja alcançado. Assim, a presença dos

militares e dos Programas do Governo Federal em que figuram como parceiros teriam ainda

outro objetivo, e que viria ao encontro dos interesses das entidades que comandam o

esporte nacional, sendo determinantes para os planos do esporte de alto rendimento

nacional, principalmente no que se refere à detecção e formação de talentos esportivos,

embora, na prática, não apareça no discurso dos militares, pois eles se pautam no uso da

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capilaridade militar voltada para a importância da formação do futuro cidadão e não do

futuro atleta.

Pudemos perceber, ao longo de nosso estudo, que o discurso dos militares

acerca do uso dessa capilaridade, não se manteve e logo caiu por terra, quando, no ano de

2013, o próprio Ministério da Defesa, em parceria com os Ministérios da Educação e do

Esporte, apresentaram o Programa Atleta na Escola, que contou em seu lançamento com a

presença dos Ministros da Educação, Aloízio Mercadante, do Esporte, Aldo Rebelo, e do

diretor do Departamento de Desporto Militar do Ministério da Defesa, General-de-divisão

Fernando Azevedo e Silva, representando o ministro Celso Amorim.

O Programa surgia com suas metas muito bem definidas e tendo por principal

objetivo: “[...] democratizar o acesso ao esporte no ambiente escolar, por meio da

realização de competições de atletismo atingindo no ano de 2013, 5 milhões de estudantes

entre 12 e 17 anos”. O Programa que começou em junho de 2013 teve a seguinte

formatação:

O Atleta na Escola começa a ser executado em junho, com a realização de corridas de velocidade e de resistência, além de provas de salto. Haverá quatro fases em 2013. A etapa Escolar, programada para ser realizada até 8 de junho, tem estimativa de participação de 20 mil escolas e 5 milhões de estudantes, dos quais serão classificados 720 mil. Já a fase Municipal (organizada por municípios com mais de 100 mil habitantes) ou Regional (no caso de cidades com população inferior a 100 mil habitantes, que serão agrupadas pelo governo estadual) acontecerá de 10 de junho a 31 de julho. Seguem na competição 14.400 classificados. A etapa Estadual será concluída até 15 de agosto (alunos de 12 a 14 anos) e 30 de setembro (alunos de 15 a 17 anos). Avançam 648 atletas. A ultima fase, a Nacional, vai ocorrer durante os Jogos Escolares da Juventude, competição organizada todos os anos pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Entre os atletas potenciais a serem avaliados, estão 12 mil estudantes do Programa Segundo Tempo/Forças no Esporte, atendidos atualmente em mais de 100 núcleos implantados em unidades das Forças Armadas no país. Ao estimular a formação de atletas escolares e identificar talentos potenciais, o novo programa terá reflexos no plano Brasil Medalhas, de esporte de alto rendimento, que pretende levar o país à lista dos dez melhores no ranking olímpico.95

95 Ministério do Esporte, informações retiradas do site: http://www.esporte.gov.br/ascom/noticiaDetalhe.jsp?idnoticia=10446. Acessado em 17/05/2013.

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Merece também ser salientado que a parceria entre as Forças Armadas, por meio

do Ministério da Defesa, com os Ministérios do Esporte e da Educação, traz, desde 2008,

momento em que é escolhido o Comitê Interministerial que cuidaria da organização dos

JMMs, o Comitê Olímpico Brasileiro a tiracolo, o que faz aumentar a criação e a

abrangência de outros importantes programas esportivos, todos pensados e voltados para o

esporte de representação nacional, alguns visando resultados em curto prazo, pensando nos

JMMs na Coreia do Norte, em 2015 e nos Jogos Olímpicos de 2016, como o Projeto Brasil

Medalhas e o Projeto Atletas de Alto Rendimento.

Outros contemplam um planejamento um pouco mais em longo prazo e se

utilizam da expansão do esporte de rendimento dentro das escolas, como o Programa

Segundo Tempo – Forças no Esporte, o Programa Atleta na Escola, o Programa Mais

Educação e o Projeto Educação e Esporte, todos visando crianças e jovens em faixas etárias

de 07 a 17 anos. Não nos debruçaremos aqui a explanar de forma mais detalhada sobre

esses Programas, pois eles serão abordados no terceiro capítulo de nosso estudo, servindo-

nos como alicerce para fortalecer nossa tese inicial de que a realização dos Jogos Mundiais

Militares no Brasil só tem sentido, se analisada sob a ótica das entidades de administração

do esporte nacional e da perpetuação do modelo piramidal vigente, há décadas, no cenário

esportivo nacional.

Apesar da fala do Vice-almirante Gambôa, na tentativa de justificar que os

locais de realização das provas dos JMMs estiveram sempre com um bom número de

espectadores, este fato não pôde ser comprovado na prática, pois a maioria das provas

foram realizadas dentro das próprias bases militares, onde muitos conseguiram entrar sem

ingressos, não havendo, portanto, como computar o número exato de espectadores nesses

locais. Na verdade, o que pôde ser percebido nas arenas de disputas foram arquibancadas

vazias, apesar de os ingressos para assistir aos jogos terem sido distribuídos, gratuitamente,

o que causou um reflexo negativo, segundo o Sindicato de hotéis, bares e restaurantes do

Rio de Janeiro que aguardavam um grande movimento de turistas, o que não aconteceu,

fazendo-os trabalhar com uma média de público bem abaixo do esperado.

Já que os Jogos aconteceram e, não havendo como retroceder, a ocasião até

poderia ter sido uma grande oportunidade para a população em geral ter acompanhado de

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perto provas e modalidades esportivas que não são tão comuns no meio civil, porém, o que

se notou para que esse fato não se consumasse e que também influenciou diretamente na

presença negativa do público aos locais de competição, foi a péssima divulgação sobre os

locais de realização das provas e sobre o evento em si, faltando uma explicação prévia

sobre o que seriam os Jogos Mundiais Militares, quais as modalidades disputadas, e por que

o Brasil seria sede de uma competição militar de tamanhas proporções. O Coronel Jamil

Megid, Coordenador Operacional dos Jogos, ainda tentou explicar que foi realizado um

trabalho de divulgação com três meses de antecedência do início da competição, como já

abordado no primeiro capítulo, porém ele demonstrou não ser suficientemente contundente

para atrair a atenção da população, que compareceu em pequenos números, mais por

curiosidade do que para torcer, sem entender muito bem o que estava acontecendo.

Em geral, o que se observa em competições de grande vulto, como a Copa do

Mundo e os Jogos Olímpicos de Verão, é que se costuma realizar uma grande divulgação

que envolve os grandes meios de comunicação, como rádio, televisão, internet, redes

sociais, entre outros, durante anos, o que não aconteceu no caso dos JMMs, sem levar em

consideração que o megaevento militar ocupa o 3º lugar no rol das maiores competições do

mundo, e que contou na edição brasileira com a presença de mais de 4.000 atletas, e com o

qual foi investido mais de R$ 1 bi dos cofres públicos, deixando-nos a impressão de que era

mesmo para ser assim, pois, se os próprios recursos para a sua realização só começaram a

ser liberados ,como demonstrado em nosso subitem que versou sobre os recursos investido

no ano de 2010, tudo estava a contento. Tal fato nem mesmo se justifica por algumas

emissoras de televisão terem sido credenciadas, de forma gratuita, para o direito de

transmissão dos Jogos, como já citado no primeiro capítulo, principalmente porque, na

verdade, ao vivo mesmo, só foram transmitidas algumas poucas provas, sendo a maior parte

delas levadas à população por VT.

Nessa mesma esteira, destacamos que não encontramos em nosso estudo

nenhuma repercussão internacional causada pela V edição dos JMMs, mas, sim,

encontramos na fala de vários atletas diversas críticas relacionadas ao transporte, como

pôde ser constado na fala da equipe de Orientação Irlandesa que esperou mais de três horas

nas dependências do Aeroporto Tom Jobim por um ônibus da Comissão Organizadora para

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levá-la ao alojamento: "Não tivemos nenhum problema com as malas, nenhum problema

com a equipe de imigração. Mas ficamos das 9h30 às 12h30 aguardando". Esta mesma

delegação, ao chegar a uma das vilas militares, onde se hospedaria, encontrara outro

problema: “Chegamos por volta das 14h. Só fomos conseguir água às 15h45, e comida às

16h". Já com o time de futebol feminino da Holanda os problemas foram outros, pois,

segundo a capitã da equipe e a Segunda Tenente Daisy Jansen conta, ela e suas colegas não

puderam tomar banho quente, devido a problemas nos chuveiros. Ela também franze o

rosto ao falar do arroz e feijão servidos diariamente. "Nós queríamos mais opções de

vegetais, não apenas feijão".

Acrescentam-se a isso os problemas encontrados com a conexão à internet, que

não funcionou direito, deixando muitos atletas estrangeiros sem comunicação com amigos e

parentes, além de muitas reclamações deles sobre o barulho, pois, das janelas dos

alojamentos recém-construídos e inaugurados oficialmente, havia mais de um mês,

marteladas ainda podiam ser ouvidas em alguns blocos, uma vez que empregados colavam

adesivos com indicações de onde estariam localizados os restaurantes, quartos e salas de

reuniões96.

E mesmo diante dos fatos, o que mais nos chamou a atenção, foi o encontrado

na Revista Verde Oliva, em sua edição especial sobre os Jogos Mundiais Militares,

publicada em dezembro de 2011, quando, na página de nº 56, intitulada: “Apreciações e

Depoimentos sobre os V Jogos Mundiais Militares” só foram colhidos os depoimentos de

pessoas ligadas diretamente à organização do evento, como o do Coronel Hamad,

presidente do CISM, do Ministro da Defesa, Nélson Jobim, do Rei Pelé, que carregou a

tocha na abertura dos Jogos, de Nelson Pessoa Filho, Coordenador do centro Nacional de

Hipismo e, como não poderia faltar, o de Carlos Arthur Nuzman, um dos principais

interessados nos benefícios trazidos pela realização dos JMMs à preparação brasileira para

sediar os Jogos Olímpicos em 2016, revelando-nos que para tais atores o objetivo foi

alcançado, deixando tudo em casa, como combinado, sem muito alarde, mesmo diante de

muitas críticas e reclamações.

96 http://esportes.terra.com.br/transtornos-marcam-chegada-de-atletas-para-jogos-militares,a82cdf54763ba310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. Acessado em 18/09/2013.

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2.2.2 O Legado Material

No que se refere ao legado material, o que se percebeu foi que o maior

investimento realizado para a concretização do evento foi o destinado à construção das três

Vilas Militares, denominadas de “Vila Verde”, situada em Deodoro, “Vila Branca”, em

Campo Grande e a “Vila Azul”, no Campo dos Afonsos, locais da Zona Oeste e Norte do

Rio de Janeiro, para a qual foi empregado um recurso público da ordem de mais de R$ 500

milhões de reais por parte do Ministério da Defesa, fato confirmado pelo quadro abaixo:

Quadro 8. Distribuição dos gastos com os JMMs, segundo o TCU.

Fonte: TCU – 002.649/2011-0

Para o Ministério da Defesa, a construção das três vilas militares, em seu

projeto inicial, tinha dois objetivos: o primeiro, ser uma inovação, algo inédito em uma

edição dos Jogos Mundiais Militares, visto que, nas outras quatro edições, os atletas,

árbitros e comissões técnicas ficaram hospedados em hotéis e alojamentos dentro das vilas

militares. Em segundo lugar, a construção dessa superestrutura seria um importante legado,

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deixado com o objetivo de reduzir o déficit habitacional entre os militares das Forças

Armadas do Rio de Janeiro, e também atender às necessidades de hospedagem de atletas,

árbitros e comissões técnicas nos Jogos Olímpicos, em 2016. Essa afirmação pode ser

constatada na fala do Secretário Geral da candidatura Rio – 2016, Carlos Roberto Osório,

que disse em entrevista concedida à TV Brasil, em 24 de setembro de 2009, que:

Tudo o que foi oferecido aos Jogos Mundiais Militares no Rio, em termos de infraestrutura, está contido dentro do projeto da candidatura Olímpica do Rio de Janeiro, que foi traçado a longo prazo, iniciando com os Jogos Sul-americanos em 2002, passou pelos Jogos Panamericanos em 2007, vem para os Jogos Militares em 2011, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.

O Ministro da Defesa, Nélson Jobim, em solenidade97 de inauguração da Vila

Verde, em 2011, também fez questão de destacar a importância da construção dessas

estruturas, principalmente porque elas seriam:

[...] um passo essencial para a organização dos 5º Jogos Mundiais Militares e para a realização desse ciclo esportivo que culminará nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Há que se pensar no legado palpável dos Jogos e esse é um dos principais exemplos. As Vilas de Atletas dos Jogos da Paz serão usadas por cerca de 5.500 atletas e 1.800 delegados de cerca de 100 países. Estou certo de que as Forças Armadas vão provar mais uma vez que são um exemplo de seriedade e correção.

O CISM, por meio de seu representante maior, o Coronel Hamad Kalkaba

Malboum, fez questão de reconhecer que seria: “[...] a primeira vez em toda a história do

CISM que temos instalações desse nível. Sou extremamente grato pelo investimento e pelo

enorme esforço dos brasileiros em fazer dos Jogos Mundiais Militares um evento de

altíssimo nível” 98. O Comandante do Exército, General-de-Exército, Enzo Martins Peri,

também fez questão de frisar que a construção das vilas se tratava de: Um projeto excelente.

Uma execução muito bem feita. Acredito que, além do aperfeiçoamento dos nossos atletas

97 Informações retiradas do endereço eletrônico: http://www.revistaforcasarmadas.com.br/revista/estrutura/ministro-da-defesa-e-presidente-do-cism-prestigiam-inaugurac-o-da-vila-verde. Acessado em 13/05/2013. 98 Revista das Forças Armadas, matéria na íntegra no endereço eletrônico disponível em: http://www.revistaforcasarmadas.com.br/revista/estrutura/ministro-da-defesa-e-presidente-do-cism-prestigiam-inaugurac-o-da-vila-verde. Acessado em 22/05/2013.

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e das nossas instalações, a construção da Vila Verde é o legado principal para o exército

deixado pelos Jogos Mundiais Militares. Alguns atletas também fizeram questão de

comentar as instalações da Vila Verde, de responsabilidade do Exército, como o chefe de

delegação e representante do exército da França, que há 20 anos participa de competições

de tiro, Gallois Yves, que não poupou elogios dizendo: São os melhores quartos que já vi.

Nos sentimos em casa.

Percebe-se que praticamente em todas as falas dos militares, os Jogos Olímpicos

no Rio, em 2016, figuram como o objetivo principal da realização dos JMMs no Brasil, fato

que só corporifica nossa tese de que a realização do megaevento militar só se justifica por

esse motivo, e pelos anseios do grupo de atores envolvidos em sua realização. Para a

Comissão organizadora, a construção das Vilas Militares configurou como importante

resultado que sedimentou o Esporte Militar dentro do campo esportivo brasileiro e também

no cenário esportivo mundial, demonstrando que a prova a que haviam sido submetidas as

Forças Armadas foi cumprida com êxito, e que não só os militares, mas, também, o Brasil,

possuía uma grande capacidade de organização para realizar competições de grande vulto,

como os megaeventos esportivos, que viriam logo a seguir. Essa sedimentação, segundo os

militares, se estendeu por meio de outras importantes obras realizadas em estruturas

esportivas, como a executada na Fortaleza de São João, na Urca, a obra realizada no

Círculo Militar, em Deodoro, e a reforma e ampliação do Centro de Educação Física

Adalberto Nunes, da Marinha.

Na Fortaleza encontram-se pontos estratégicos para o projeto Rio-2016 e para o

Time Brasil, como a EsEFEX - Escola Superior de Educação Física do Exército, o CCFEx

– Centro de Capacitação Física do Exército e o IPCFEx - Instituto de Pesquisa e

Capacitação Física do Exército, sendo esta uma organização militar subordinada ao

Exército que possui um moderno centro tecnológico de pesquisa e treinamento, contendo

laboratórios de fisiologia do exercício, laboratório de biomecânica, laboratório de

psicofisiologia e laboratório de bioquímica, que também foi modernizado, visando o

treinamento da seleção olímpica nacional.

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Podem ainda ser citadas algumas reformas e ampliações realizadas nesse

complexo99, como: a recuperação da Pista de Atletismo da EsEFEX, reforma do Campo de

Futebol da EsEFEX, Reforma do Alojamento de Atletas da CDE, Construção de um

Ginásio Poliesportivo, Construção do Complexo Aquático, Construção da Seção de Saúde e

Fisioterapia, Restauração do Ginásio Leite de Castro e a Restauração da Quadra de Tênis.

As obras realizadas na Fortaleza militar faziam parte do cumprimento da agenda

estabelecida para a realização dos JMMs no Brasil, visando ao cumprimento de outro

objetivo, este o principal, e estabelecido por meio de um acordo100 selado entre o COB e o

Exército para que as instalações militares pudessem servir como local para treinamento e

hospedagem de uma parte da delegação brasileira em treinamento para os Jogos Olímpicos,

em 2016. Este acordo se materializou por meio de uma solenidade na qual estiveram

presentes: o Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, Carlos Arthur Nuzman, Presidente do COB,

o Comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, o Comandante do Centro de

Capacitação Física do Exército, general Fernando Azevedo e Silva, além de atletas de alto

rendimento do esporte brasileiro.

Na ocasião, o Presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, mandatário do

esporte nacional e detentor de cinco mandatos à frente da Instituição, elogiou a parceria

firmada entre as entidades, entendendo que essa união seria extremamente benéfica para o

esporte nacional e que o Forte era o local ideal para a preparação dos atletas brasileiros. A

partir de então, o Comitê Olímpico Brasileiro passaria a elaborar seu planejamento para que

o Time Brasil, a seleção olímpica nacional começasse a treinar na EsEFEx, em julho de

2012.

O Exército fez questão de enfatizar que as contribuições das Forças Armadas ao

esporte olímpico nacional não parariam por aí, pois somavam-se às obras de reestruturação

realizada na Escola Superior de Educação Física outras importantes áreas militares vistas

como legados esportivos deixados pelos Jogos Panamericanos, em 2007, que também

foram aperfeiçoados para atender à estrutura desportiva dos JMMs, podendo citar aqui o 99 Informações retiradas da Revista do Exército Brasileiro – Verde Oliva – Edição Especial sobre os V JMM – Dezembro de 2011. 100 Texto na íntegra no endereço eletrônico: http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,cob-e-exercito-se-acertam-por-uso-de-esefex-em-2016,805537,0.htm. Acessado em 15/05/2013.

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Centro Nacional de Tiro (CNTE), o Centro nacional de Hipismo, na escola de equitação do

Exército (EsEqEx), a Piscina de 50 m localizada no círculo da Vila Militar (CMVM) e dois

campos de Hóquei sobre grama, todos localizados no Complexo Desportivo Militar de

Deodoro, na Zona Oeste da cidade, um importante bairro de classe média do Rio de

Janeiro.

Assim como a EsEFEX e o CCFEx, o Complexo Esportivo de Deodoro possuía

uma importância fundamental não só para a Comissão Organizadora dos JMMs, mas

também para os planos do COB e o cumprimento de sua agenda, visando os Jogos em

2016. Construído para atender às necessidades do Exército Brasileiro, por sua proximidade

da Vila Militar de Deodoro e, como já dito, por se localizar em um bairro de classe média

do Rio de Janeiro, a partir de 2005, a área foi comprada pelo Governo Federal e

transformada em um dos principais locais de realização de provas dos Jogos Pan-

americanos de 2007, modificando seu nome de Círculo Militar de Deodoro para Complexo

Desportivo de Deodoro, quando abrigou as provas de hipismo, pentatlo moderno, hóquei,

tiro esportivo e tiro com arcos. Para os JMMs, foi integrada a essa estrutura a Vila Verde, a

maior das três Vilas Militares de responsabilidade do Exército e que passaria também a ter

maior visibilidade por parte do COB, exatamente por sua localização dentro do complexo.

Visando então ao atendimento do Complexo Esportivo e atendimento à agenda

Rio 2016, em maio de 2012, o Ministério do Esporte firmou um acordo de cooperação

técnica com o Governo do Estado do Rio de Janeiro e a APO (Autoridade Pública

Olímpica), para a elaboração de um relatório denominado Sports Client Brief, que

apresentaria todas as modificações desportivas desejadas para adequar o Complexo ao

atendimento das necessidades dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. O relatório cita

que o principal objetivo dessa reestruturação atende às modificações necessárias à

realização desses Jogos, consolidando, dessa forma, o legado dos Jogos, com a previsão de

sua utilização, como área residencial, comercial, misto de instalações esportivas e

institucionais, mantendo a destinação das áreas jurisdicionais ao comando do Exército101.

Seriam ainda realizadas várias obras para uma completa reforma de infraestrutura no

101 Documento intitulado Sports Client Brief, sexta versão, outubro de 2012, Rio de janeiro, Brasil.

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transporte (incluindo novas estradas e duas Vias Expressas para ônibus, BRT – Bus Rapid

Transport, chamadas Transbrasil e Transolímpica 102) e ainda na conexão com a linha de

trem existente, a reforma das três estações que atendem a região: Deodoro, Vila Militar e

Magalhães Bastos, tudo para atender aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016.

Completa a lista outra importante estrutura deixada pela realização dos V JMMs

e ressaltada pelas Forças Armadas e pelo COB, como de suma importância para os Jogos

Olímpicos, em 2016, que foram as dependências do CEFAN, localizado no Bairro da

Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro, da Marinha Brasileira, que conta com uma grandiosa

estrutura, contendo: alojamento para a delegação e estrutura para treinamento de

basquetebol, voleibol, natação, nado sincronizado, saltos ornamentais, futebol, atletismo,

voleibol de praia e basquetebol em cadeira de rodas e possui experiência em sediar eventos

esportivos internacionais. O CEFAN também passou por inúmeras reformas para atender

aos JMMs, tanto de ampliação como de modernização.

As Forças Armadas tinham plena convicção de que as obras de reestruturação e

ampliação de importantes áreas sob sua jurisdição haviam permitido um posicionamento

favorável do Esporte Militar brasileiro dentro da elite do esporte nacional, dando a ele uma

visibilidade nunca antes alcançada. O Presidente do CDMB enfatizou que a parceria, por

ele chamada de parceria de cooperação, estabelecida entre as Forças Armadas, o Governo

Federal e o Comitê Olímpico Brasileiro se configuraram como um importante legado não

só para o Esporte Militar como também para o esporte nacional, pois, de acordo com o

planejado, e pelos objetivos a alcançar, esse projeto deveria transcender o ano de 2011 e se

projetar para

[...] além dos Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro, pois o desporto militar é parte do sistema nacional, não sendo um fim em si mesmo. O intenso relacionamento com o Ministério do Esporte, com o COB e com as Confederações faz com que o desempenho do atleta, em uma competição da importância dos Jogos Militares, dite sua permanência na elite do esporte brasileiro103

.

102 Via de 23 Km de extensão na Avenida Marechal Fontenelle, em Sulacap, que ligará a Barra da Tijuca a Deodoro, com pistas para carros e sistema BRT. 103 Entrevista realizada com o Vice-almirante Gambôa Presidente da Comissão Desportiva Militar do Brasil,no endereço eletrônico:

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Neste ponto, é possível dizer que outro legado se une aos já apresentados, sendo

apontado pelas Forças Armadas como um dos mais importantes que foi a incorporação de

atletas civis à carreira militar, por meio do Programa Atletas de Alto Rendimento,

desenvolvido desde o ano de 2009, assunto que abordaremos a seguir.

2.2.3 O Legado advindo do Programa Atletas de Alto rendimento

Para as Forças Armadas brasileiras o resultado alcançado na V edição dos JMMs

no Brasil deixaram um importante legado para o esporte nacional, além de ser motivo de

orgulho pela conquista de uma posição de respeito perante os demais países que integram o

CISM. O projeto inicial era ficar entre os três primeiros, porém a brilhante participação da

delegação brasileira, conquistando o primeiro lugar no quadro geral de medalhas, alcançou

o melhor resultado da história de um escrete brasileiro em competições internacionais, tanto

nos JMMs quanto em nível de Jogos Olímpicos. Esse objetivo só pôde ser alcançado, frisa

a CPO, graças ao Programa Atletas de Alto Rendimento e a importante parceria firmada

com o Comitê Olímpico Brasileiro, na preparação de atletas incorporados às Forças

Armadas, que serviriam às seleções nacionais, após os Jogos, rumo a Londres-2012, aos

Jogos Mundiais Militares na Coreia, em 2015, e à edição brasileira dos Jogos Olímpicos,

em 2016.

A materialização desse objetivo já pôde ser observada, um ano após o final dos

Jogos Militares, quando dos 256 atletas que compuseram a delegação brasileira nos Jogos

Olímpicos de Londres, em 2012, 51 são atletas incorporados às Forças Armadas, e que

participaram de 12 modalidades esportivas, entre elas, atletismo, esgrima, tiro, natação,

pentatlo, judô e taekwondo. Dentre os principais nomes estão o judoca Leandro Guilheiro,

Diogo Silva, no Taekwondo, Sarah Menezes, no Judô feminino, Yane Marques, no pentatlo

http://www.rio2011.mil.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1134%3Aentrevista-com-o-presidente-da-comissao-desportiva-militar-do-brasil-vice-almirante-bernardo-jose-pierantoni-gamboa&catid=42%3Anoticias&Itemid=75&lang=pt .Acessado no dia 22/08/2012.

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moderno, e Felipe Kadai, também no judô masculino. Em Londres o Brasil chegou ao

número de 17 medalhas, três de ouro, cinco de prata e nove de bonze, sendo que destas, 5

foram conquistadas por atletas incorporados à Marinha e ao Exército, como: Sarah

Menezes (ouro no judô), Yane Marques (bronze no pentatlo moderno), Felipe Kitadai

(bronze no judô), Mayara Aguiar e Rafael Silva (bronze no judô).

Um fato merece ser destacado, pois 111 dos 256 atletas que formaram a

delegação brasileira que participou dos Jogos Olímpicos de Londres são beneficiados pelo

Bolsa-Atleta do Governo Federal, e das dezessete medalhas conquistadas, 12 são de

beneficiados pelo Programa, sendo que todos os atletas acima mencionados que foram

incorporados às Forças Armadas, conseguindo as 5 das 17 medalhas, também recebem o

Benefício do Governo. Na categoria “Atleta Olímpico/Paralímpico” o Programa concede à

Sarah Menezes ouro em Londres, pela Caixa Econômica Federal, o que corresponde a R$

3,1 mil por mês, somados aos R$ 1.400,00 que recebe como soldo da sua incorporação à

Marinha; já o auxílio concedido a Felipe Kitadai, na categoria “Atleta Internacional”, é

menor: R$ 1.850 mensais pelo Bolsa Atleta e R$ 2.500,00 por sua incorporação como

sargento técnico temporário do Exército104.

Na visão desses atletas de alto rendimento do esporte nacional incorporados às

Forças Armadas, o principal legado advindo da união entre as Forças Armadas e o COB são

as condições de treinamento oferecidas, conforme relata a medalhista de bronze em

Londres e penta-atleta Yane Marques: “Não tenho patrocínio e não conquistaria o bronze se

não fosse o Exército, treino no Centro de Capacitação em Educação Física do Exército, na

Urca” 105. O “Sargento” do Exército brasileiro e judoca, Leandro Guilheiro, também fez

questão de destacar que:

O Exército está dando muita coisa para nós. São oferecidas estruturas de treinamento, apoio físico, médicos, fisioterapia. Tem também uma comissão técnica militar que tem viajado com a gente, tem nos dado

104Informações disponíveis em: http://www.contasabertas.com.br/WebSite/Noticias/DetalheNoticias.aspx?Id=967. Acessado em 22/05/2013. 105 Atletas que se incorporaram às Forças Armadas treinam de olho nas Olimpíadas. Em Londres-2012, militares ganharam cinco medalhas individuais. Texto na íntegra no endereço eletrônico em: http://oglobo.globo.com/esportes/nas-cores-da-farda-brilho-da-gloria-6265764#ixzz2IYYUbQt9

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100

apoio. O Exército também tem bancado algumas viagens. Então, estamos aproveitando da melhor forma possível. Tomara que esse legado fique para as próximas gerações, espero que não pare em 2016 – destacou o judoca medalhista olímpico Leandro Guilheiro, agora também sargento do Exército Brasileiro.

É importante dizer que o Programa Atletas de Alto Rendimento, fruto da

parceria do Ministério da Defesa e do Ministério do Esporte, iniciado em 2009, faz parte de

uma série de outros programas do Governo Federal, todos iniciados sob o comando do PT

frente ao Governo Federal, que visam desenvolver o esporte de alto nível no Brasil,

inclusive no ambiente escolar, como já citado anteriormente, dentre os quais podemos citar:

o Projeto Brasil Medalhas, o Programa Atletas de alto rendimento, o Programa Bolsa-

Atleta, Programa Bolsa-Técnico, Programa de Apoio ao Atleta, o Programa Segundo

Tempo – Forças no Esporte, Programa Mais Educação, Programa Atleta na Escola, Projeto

Educação e Esporte, e o Programa Bolsa-Pódio.

O General-de-Brigada e presidente do CDE, Décio dos Santos Brasil vê o

legado deixado pela incorporação dos atletas de alto rendimento às Forças Armadas,

principalmente ao Exército, como um grande avanço, tanto para os atletas como para o

esporte nacional, servindo de preparação para os dois maiores eventos esportivos mundiais

a serem realizados no Brasil, em 2014 e 2016. Essa visão também é compartilhada tanto

pela Marinha quanto pela Aeronáutica que acreditam que ambos os envolvidos saíram

ganhando, pois, da mesma forma que o esporte militar brasileiro ganhou prestígio e respeito

diante dos demais selecionados militares pelo resultado obtido, os atletas de alto

rendimento que ingressaram na Força, além do soldo, ganharam uma superestrutura

esportiva de alto nível para treinamento, auxílio em viagens, condições de treinamento,

como alimentação, serviço médico e odontológico, além de disputarem uma competição em

altíssimo nível. O Vice-almirante deixou claro que um dos pontos fortes da permanência

desses atletas na vida militar era a questão da disciplina, dos horários de treinamento e das

especificidades da vida na caserna, além de dividirem com os militares de carreira suas

experiências, dentro da especificidade de cada esporte, pois, no treinamento, acabariam se

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aprofundando neles e isso seria muito importante para o acúmulo de experiências, além de

um espelho e um estímulo para nossos atletas106.

O Presidente do CDMB, Vice-almirante Bernardo José Pierantoni Gambôa,

ainda fez questão de ressaltar que a incorporação dos atletas de alto rendimento brasileiro

às Forças Armadas faz parte de um dos principais objetivos políticos dos V Jogos Mundiais

Militares no Brasil, em longo prazo, um verdadeiro legado, que ele acredita ser uma

demonstração clara: “[...] da representatividade do país no contexto esportivo militar

internacional. Eu me permito dizer que não é só militar, que é o forte, são os focos mais

próximos. Mas nós visamos na realidade aos dois próximos Jogos Olímpicos, os de 2012 e

2016.”107.

Atrelado ao Programa Atletas de Alto rendimento, o COB conseguiu outra

grande conquista em sua parceria com as Forças Armadas e o Ministério do Esporte, que

foi a criação do Instituto Olímpico Brasileiro (IOB),108 oficializado por meio da assinatura

de um protocolo de intenções para a criação de um centro de treinamento, que tinha por

meta a preparação de atletas tanto militares quanto civis, visando os Jogos Olímpicos, em

2016, no Rio. Para tanto, seria utilizada a EsEFEX, como sede de treinamento para o Time

Brasil. Para a solenidade de assinatura do documento estiveram reunidas autoridades

interessadas no assunto, como o Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, Carlos Arthur Nuzman,

Presidente do COB,o Comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, o Comandante

do Centro de Capacitação Física do Exército, general Fernando Azevedo e Silva, além de

atletas de alto rendimento do esporte brasileiro.

A partir de então, ficou estabelecido que o IOB teria como objetivo primeiro

capacitar profissionais, visando as Olimpíadas no Rio, promovendo uma série de cursos de

especialização, em várias áreas do esporte, aumentando, assim, o número de profissionais

106 Entrevista na íntegra do Vice Almirante Bernardo José Pierantoni Gambôa, Presidente da CBDM no sote: http://www.militar.com.br/modules.php?name=Noticias&new_topic=34. Acessado no dia 16/07/2012. 107 Audiência pública na Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados no dia 31/05/2011., pg.03. 108 A criação do IOB dá conta de explicar a grande rejeição do presidente do COB Carlos Arthur Nuzman ao trabalho em parceria com as universidades brasileiras, pois sempre teve como anseio um instituto que fosse coordenado sob sua tutela e comando.

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voltados para a área do alto rendimento. Nessa solenidade o presidente do COB, Carlos

Arthur Nuzman, declarou que

Não adianta termos somente atletas talentosos dentro das quadras se não tivermos o apoio de uma equipe qualificada. O IOB veio para preencher uma lacuna dentro do esporte brasileiro. Uma lacuna na formação de quadros em diversos setores necessários ao desenvolvimento do esporte, seja ele olímpico ou não. A ideia é abrir oportunidades a profissionais das mais diversas áreas, ligadas à gestão esportiva, sejam eles técnicos, assistentes, preparadores físicos, médicos, advogados, jornalistas e administradores", afirmou Carlos Arthur Nuzman, lembrando ainda que há 35 anos criou nesta mesma instituição (EsEFEX) os primeiros cursos de formação de treinadores de voleibol. É a mesma caminhada que o vôlei fez há 35 anos, quando eu criei os cursos de formação de técnicos. Todos eles, hoje já consagrados, passaram por aqui. A ideia é abrir a oportunidade para esses profissionais em todos os esportes109.

As Forças Armadas, motivadas principalmente pelos resultados alcançados nos

V Jogos Mundiais Militares, buscaram estabelecer seu espaço, enviando oficiais para o

IOB, visando melhorar a qualificação de seus profissionais para a atuação junto ao esporte

de alto rendimento. Esse fato fica confirmado em novembro de 2012, quando a Marinha do

Brasil envia três profissionais para ingressar no curso inaugural da Academia Brasileira de

Treinadores, realizado pelo Comitê Olímpico Brasileiro por meio do Instituto Olímpico

brasileiro, objetivando “[...] complementar, por meio de atividades educacionais, a

formação profissional de treinadores do esporte de alto rendimento, e, desse modo,

contribuir de forma relevante para a conquista de resultados no esporte olímpico”. 110

Alicerçado por esse pensamento, o COB ainda criou o Programa de Apoio ao

Atleta, realizado pelo Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), departamento de educação do

COB, com o objetivo de dar suporte e planejamento à formação global dos atletas, com o

109 O Instituto Olímpico Brasileiro é um centro de estudos e difusão de conhecimento de referência nacional sobre esporte olímpico. Um de seus objetivos é promover o intercâmbio e a difusão de conhecimento, a partir de cursos, seminários, congressos e demais eventos acadêmicos. O IOB visa fomentar a pesquisa, desenvolver e manter uma base de dados de informações relacionadas ao esporte (artigos, vídeos, gravações, manuais, imagens e documentos em geral), além de promover o desenvolvimento e a elaboração de ferramentas de apoio à tomada de decisão. O Instituto tem o propósito de compartilhar as melhores práticas e tecnologias com atletas, preparadores físicos, gestores, técnicos, treinadores e demais profissionais envolvidos com o esporte. 110 Texto retirado do endereço eletrônico: http://globoesporte.globo.com/platb/esporte-militar/2012/11/02/mb-tem-3-representantes-na-academia-brasileira-de-treinadores-do-cob/. Acessado no dia 20/01/2013.

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objetivo de prepará-los da forma mais adequada para quando deixarem o esporte de

competição, assumirem uma nova atividade profissional.111 O curso teria a duração de 1

ano e uma das principais atividades é o processo de Coaching, liderado pelo ex-capitão da

seleção brasileira de vôlei, Antônio Carlos Moreno, com quatro participações em Jogos

Olímpicos. Todos os atletas passariam por um ciclo de atendimentos, totalizando, em

média, 12 sessões por ano, que visavam alcançar alguns objetivos, entre eles: enaltecer os

pontos fortes; ensinar a lidar com os pontos fracos; ajudar a descobrir seus objetivos e

como alcançá-los; propiciar autoconhecimento; ajudar a nortear as ações para conquistar

objetivos. O presidente do COB frisou a importância do programa para o esporte nacional e

para a vida do atleta, dizendo que:

O desafio dos atletas não é fácil. Decidir que chegou a hora de parar e fazer a transição, sem uma preparação, é muito difícil. A ideia do Instituto Olímpico Brasileiro é cada vez atender o atleta mais cedo. É fundamental para o nosso futuro termos atletas buscando opções nas mais diversas áreas, para poderem continuar no esporte. Os atletas já têm um grande conhecimento, uma bagagem e uma vivência esportiva que não se aprende em livros. (IDEM, IBIDEM).

O PAA já formou uma primeira turma, que contou com nomes de expressão do

esporte Olímpico brasileiro, como: Adriana Behar (vôlei de praia), Bruno Souza

(handebol), Camila Carvalho (remo), Cassius Duran (saltos ornamentais), Daiane dos

Santos (ginástica artística), Daniela Polzin (judô), Hugo Hoyama (tênis de mesa), Emanuel

Rêgo (vôlei de praia), Marina Canetti (polo aquático), Marcelo Elgarten (vôlei), Maurren

Maggi (atletismo) e Nalbert Bittencourt (vôlei). A segunda turma, que iniciou as atividades

em maio de 2013, é formada por: Anderson de Oliveira Rodrigues (voleibol); Fabíola

Molina (natação); Lara Puglia Teixeira (nado sincronizado); Marcelo Machado (basquete);

Monique Ferreira (natação); Pedro Cunha (vôlei de praia); Raquel Peluci (voleibol); e

Vicente Lenilson (atletismo)112.

111 Matéria retirada do site oficial da Confederação Brasileira de Basquetebol no endereço eletrônico: http://www.cbb.com.br/Noticias/Show/11251. Acessado em 21/05/2013. 112 Matéria na íntegra no endereço eletrônico: http://www.cbb.com.br/Noticias/Show/11251. Acessado em 21/05/2013.

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2.3 Como o Esporte Militar brasileiro se prepara para a VI edição dos Jogos Mundiais

Militares em 2015

Obedecendo ao determinado pelo CISM de que os JMMs deveriam acontecer de

quatro em quatro anos, sempre em ano anterior à realização dos Jogos Olímpicos, a cidade

coreana de Mungyeong foi escolhida, durante o encerramento da 66ª Assembleia e

Congresso do Conselho Internacional de Esportes Militares (CISM), em Seul, também na

Coreia do Sul, em 2011, para sediar a VI edição dos JMMs, que deve ser realizada, de 29

de maio a 05 de junho de 2015.

Para tal objetivo, o Complexo Esportivo e Atlético das Forças Armadas coreanas

receberá 12 modalidades, sendo que o tiro com arco, especialidade do país asiático, foi

definido como esporte- demonstração. Esta não será a primeira vez em que o país receberá

um grande evento esportivo. A Coreia do Sul foi sede dos Jogos Asiáticos, em 1986, dos

Jogos Olímpicos e Paralímpicos, em Seul, em 1988, e da Copa do Mundo de 2002, esta

última em parceria com o Japão113. Para a VI edição dos JMMs foi construído o KAFAC,

um novo e moderno centro desportivo, com uma área de 1.475,818.41 ㎡ recém- construído

na cidade de Mungyeong. O CISM inspecionou os locais em construção, em outubro de

2012, e constatou que a situação das obras era muito positiva, com cerca de 85% das obras

do edifício completadas, diferentemente do Brasil, que entregou as Vilas praticamente na

hora do evento. O centro possui 50 edifícios divididos em 40 centros de treinamento e 10

instalações de alojamento e escritórios.

Em 2015, um mínimo de 10 esportes será organizado no centro de KAFAC. A

SUMOC, Comissão Organizadora dos Jogos relatou que:

113 Informações retiradas do endereço eletrônico: http://www.lancenet.com.br/minuto/Coreia-Sul-sera-Jogos-Militares_0_479952236.html. Acessado em 20/05/2013.

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[...] apesar de suas intenções de candidatura para sediar 25 esportes, alguns constrangimentos orçamentais obrigou SUMOC para reduzir o número de esportes. Depois de uma longa discussão e reflexão com os responsáveis desportivos, decidiu-se reduzir o número de esportes para cerca de 20. Esses esportes será decidido o mais rápido possível, mas os três pentatlos CISM, os nossos próprios esportes do CISM, foram confirmados114.

No Brasil, com a garantia da continuidade do Programa Atletas de Alto

Rendimento, após o término dos V JMMs e com vistas ao atendimento dos Jogos

Olímpicos em Londres, em 2012, dos JMMs na Coreia, em 2015, e dos Jogos no Rio, em

2016, a preparação dos atletas incorporados às Forças Armadas continuou, tendo eles

dividido seu tempo de treinamento e competições, entre a agenda esportiva militar nacional

e internacional e também a agenda civil dentro e fora do país. Aliás, essa é uma prática que

ficou comum depois da incorporação desses atletas civis à hoste, em 2009, fato que pode

ser comprovado por meio dos quadros abaixo apresentados que destacam os melhores

resultados dos atletas da cooptada delegação militar brasileira, em sua fase de preparação

para os JMMs no Brasil como pode ser observado no quadro abaixo:

114 Site oficial do CISM – JMM da Coréia do Norte: http://www.cismmilsport.org/portfolio/mungyeong/. Acessado no dia 23/05/2013.

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Quadro 09. Resultados mais expressivos das equipes militares brasileiras em preparação

para os JMMs.

Fonte: Revista Verde-Oliva – Ano XXXIX – nº 213.

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107

Quadro 10. Resultados obtidos no ano de 2009 no Programa Atletas de Alto rendimento

Fonte: www.rio2011mil.com.br

No primeiro, podemos notar o domínio de competições militares, com duas

exceções: o Grand Slan de Judô e o Campeonato Mundial de Tiro (Fogo Central), sendo

que, no caso do Judô, se fizermos uma comparação com as medalhas conquistadas pela

delegação brasileira em Londres-2012, que foram 17, esta foi a modalidade que subiu ao

pódio mais vezes, sendo 4 do judô, na qual 2 foram de ouro e conquistadas por atletas

incorporados às Forças Armadas que recebiam o benefício do Governo Federal – Bolsa-

Atleta. O segundo nos apresenta apenas competições esportivas do calendário civil,

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confirmando a existência de uma sincronia muito bem planejada entre os calendários civil e

militar para esses atletas.

O General-de-Brigada Décio dos Santos Brasil, que assumiu o CDE no lugar do

General-de-Divisão, Fernando Azevedo e Silva, eleito Presidente da CDMB, no lugar do

Vice-almirante Bernardo José Pierantoni Gambôa, e que até o presente momento ocupa a

Presidência da APO – Autoridade Pública Olímpica - após os JMMs, ressaltou que a

sincronia entre as agendas foi uma estratégia pensada pelas Forças Armadas, para que esses

atletas não fiquem sem ritmo de competição, pois seria necessário não perder o foco, e visar

sempre a conquista de bons resultados seria imprescindível para: “[...] mantê-los

constantemente em treinamento nas suas bases, como militares, nas suas bases de origem,

seus estados de origem, seus clubes de origem”.

O que o General não deixou claro em sua fala, e também não haveria razão para

fazê-lo, foi explicar que essa sincronia fazia parte do estabelecido entre as Forças Armadas

e o COB para a preparação dos atletas para os Jogos em Londres – 2012, e no Rio, em

2016. E, como forma de legitimar a estratégia elaborada pelos atores acima descritos, ainda

tentou justificar a sincronia, afirmando que periodicamente os atletas incorporados à Força

se dirigem ao CCFEX, para fazer uma reciclagem, participar de competições militares e,

com isso, adquirem uma melhora em seu condicionamento físico e de preparação, o que

também é um fruto desse trabalho.”115

A fala do General, ao mesmo tempo em que justifica a continuidade do

Programa Atletas de Alto rendimento, como vital para o esporte nacional, fazendo questão

de salientar que o resultado alcançado nos JMMs no Brasil só foi compensador exatamente

por causa da incorporação dos atletas, causando inclusive surpresa, pois eles aguardavam

uma terceira colocação, mas não a primeira, apresentou-se de forma cética em entrevista

concedida à Revista Diálogo do Exército Brasileiro, quando foi questionado sobre como

estavam as expectativas das Forças Armadas para os JMMs, em 2015, na Coreia, dizendo

que

115 Entrevista com o General-de-Brigada Décio dos Santos Lopes para a revista Diálogo do Exército brasileiro, podendo ser acessada na íntegra no endereço eletrônico; http://dialogo-americas.com/pt/articles/rmisa/features/regional_news/2013/03/20/feature-ex-4014. Acessado em 20/05/2013.

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Talvez seja muito difícil repetir o feito dos JMMs no Brasil, porque sabemos que a Coreia do Sul, que sediará os próximos Jogos, montou um centro de treinamento militar de alto nível também. Assim sendo, nosso objetivo primeiro é desempenhar um bom papel na Coreia em 2015. Depois, com certeza, o nosso programa de treinamento de atleta de alto nível vai colaborar para um bom resultado nas Olimpíadas de 2016.

Na mesma entrevista o General Décio ainda foi questionado sobre o futuro dos

atletas que foram incorporados às Forças Armadas pelo Programa Atletas de Alto

rendimento, após os JMMs no Brasil, se eles haviam sido dispensados, ou se receberam um

convite para continuar. O militar respondeu que

A nossa lei do serviço militar é perene, não tem modificação nem especificidade para atender determinadas situações. Ela é uma lei fixa, que atende a todos os segmentos, do soldado que incorpora anualmente e dá baixa, até aqueles efetivos que estão temporariamente, por um tempo limitado, e que são soldados, cabos, subtenentes, sargentos e oficiais. O contrato é renovado anualmente e eles podem ficar no máximo oito anos, porque, se passar de oito anos, com o trabalho público anterior, talvez seja ultrapassado o limite de dez anos e isto criaria um vínculo permanente. Então a lei do serviço militar permite que o militar de determinadas áreas de interesse possa ficar até oito anos. O mesmo acontece com o atleta de alto rendimento, que entrou nessa lei; com o suporte dessa lei, ele é considerado parte das Forças Armadas, ainda que as leis sejam específicas para cada Arma. Atualmente, temos quase 130 atletas de alto rendimento, contratados como sargentos técnicos temporários. Eles podem renovar seus contratos anualmente, quando há interesse nosso; eles são voluntários e deve haver o interesse da força de renovar o seu serviço anualmente, no máximo por oito anos. Quer dizer, aqueles que entraram no primeiro edital, que foi em 2009, adicionando oito anos, eles chegarão a 2017, o que ultrapassa os Jogos Mundiais Militares da Coreia e as Olimpíadas do Brasil. Então eles podem ficar e participar de ambos os eventos. (IDEM, IBIDEM)

Mesmo diante das explicações nada convincentes do Coronel, tudo seguiu como

planejado e, em conformidade com o calendário esportivo nacional e internacional das

agendas civil e militar, fato que pode ser comprovado, em dezembro de 2012, quando o

Ministério da Defesa aprovou o Programa desportivo Militar para o ano de 2013 que é

elaborado anualmente e define os eventos oficiais em que a Comissão Desportiva Militar

do Brasil (CDMB), órgão ligado à Defesa, poderá enviar uma representação militar

brasileira (anexo 18). Nos anexos 19 e 20 podem-se observar as competições desportivas

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militares internacionais realizadas pelo CISM, que trazem os calendários esportivos dos

anos de 2013 e 2014. Ressalta-se que, ao contrário do afirmado pela CDE, no que tange à

elaboração anual do Programa Desportivo Militar, até o presente momento, em julho de

2014, o calendário de competições ainda não foi apresentado.

O Exército brasileiro frisou que esses eventos integram o Ciclo Desportivo

Olímpico (2012/2016) e o Ciclo Desportivo Militar (2011/2015) e, embora o principal

objetivo seja a preparação para a sexta edição dos Jogos Mundiais Militares – que

acontecerão na Coreia do Sul, em 2015 - na visão das Forças Armadas, eles permitem que

atletas militares busquem índices que os habilitem a participar dos Jogos Olímpicos-2016,

no Rio de Janeiro, fato este que não poderia ser diferente, pois os principais medalhistas

dos JMMs no Brasil foram atletas civis incorporados às Forças Armadas.

A Comissão Desportiva Militar do Brasil relatou que, cerca de 330 atletas

incorporados pelo Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas, têm o seu

desempenho avaliado por meio dessas competições, sendo que somente os mais

qualificados nas seletivas e nos campeonatos das Forças são selecionados para a

participação nos campeonatos mundiais do Conselho Internacional do Esporte Militar

(CISM).116 Também como parte do planejamento, o Exército Brasileiro, por meio da

EsEFEX, no dia 19 de abril de 2013, data em que se comemorou o dia do Exército,

incorporou uma nova turma com 12 atletas de alto rendimento ao quadro das Forças

Armadas, sendo sete Sargentos e cinco Soldados, nas modalidades de judô, taekwondo, tiro

esportivo, vôlei feminino, boxe, atletismo e futebol, todos atletas de ponta do alto

rendimento nacional e que estão muito bem colocados no ranking nacional e internacional e

que já concluíram o Estágio Básico. Fazem parte dessa turma nomes como o do atirador

esportivo Felipe Almeida Wu, Claudia Bueno da Silva, convocada para a Seleção Brasileira

de Vôlei e Esquiva Falcão Florentino, medalhista de prata em Londres, em 2012, e que, a

partir de então, passarão a ostentar a farda Verde-Oliva e representarão o Brasil em

competições nacionais e internacionais, tanto do calendário do CISM como do calendário

civil.

116 Matéria na íntegra no endereço eletrônico disponível em: http://www.exercito.gov.br/web/imprensa/resenha. Acessado em 23/05/2013.

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Na ocasião, o Exército realizou a formatura de encerramento do Estágio Básico

de Sargento e Soldado Técnico Temporário (EBST)/(EFBSd) em Atividade Física e

Desporto de Alto Rendimento, sendo a solenidade presidida pelo General-de-Brigada,

Décio dos Santos Brasil, Presidente da Comissão de Desportos do Exército (CDE) e

Comandante da Fortaleza de São João, que está servindo de local de treinamento para o

Time Brasil, a Seleção Olímpica Nacional, em preparação para as Olimpíadas do Rio, em

2016117.

Não foi necessário um grande esforço para perceber que os militares insistem

em acreditar que possuem lugar protagônico tanto nas questões referentes ao Esporte

Militar como na sincronia dos calendários, o que não acontece em nenhuma das duas

questões, pois a própria fala do General Décio apresentada em parágrafos anteriores

corporifica a tese de que, apesar de incorporados às Forças Armadas, os atletas do alto

rendimento nacional priorizam não só as competições do calendário civil, como sua

permanência em seus clubes de origem, fato este que não encontrou nenhum obstáculo.

Outro fator que colabora para esse quadro também pode ser notado tanto nas competições

da fase de preparação quanto nos calendários apresentados nos anexos, pois as grandes

competições do circuito nacional e internacional são civis e não militares, e também são as

preferidas dos atletas por causa das premiações oferecidas em dinheiro e da visibilidade que

elas trazem a eles, o que não acontece nas competições militares.

Pôde-se, inclusive, notar pelos calendários apresentados que atletas de

modalidades por equipe, como o voleibol, o basquetebol, o futebol de campo masculino e

feminino e também do atletismo, não participam de competições do calendário do CISM, o

que deixa entendido que estão em atividade em outros locais, como clubes e equipes

profissionais. E, mesmo que Mungyoung, em 2015, faça parte do Ciclo Desportivo Militar,

o que é extremamente importante para os militares, a rota aponta em outra direção, ou seja,

sempre para a cidade maravilhosa, em 2016.

Os atletas que aderiram ao Programa de incorporação de atletas de alto

rendimento às Forças Armadas, em cumprimento aos calendários esportivos nacionais e 117 Matéria na íntegra no endereço eletrônico disponível em: http://globoesporte.globo.com/platb/esporte-militar/2013/04/28/exercito-incorpora-nova-turma-de-atletas-de-alto-rendimento/. Acessado em 24/05/2013.

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internacionais, foram protagonistas, no ano de 2013, de alguns expressivos resultados

como, por exemplo, o da Copa Pan-Americana de Triatlo, realizada no dia 7 de abril de

2013, na praia do Cabo Branco, em João Pessoa-PB, tendo como destaque atletas militares

que dominaram as provas masculina e feminina. Contando com a presença dos principais

triatletas do país e do continente e sob um sol de 40 graus, os atletas militares do Exército e

da Marinha obtiveram ótimos resultados. No masculino os triatletas militares, 3º Sargento

Juraci Moreira (2h00m38) e 3º Sargento Bruno Matheus (2h01m40), ambos integrantes do

Programa para Atletas de Alto Rendimento da Comissão de Desportos do Exército (CDE),

conquistaram o 2º e o 3º lugares respectivamente. A prova foi vencida pelo atleta Diogo

Sclebin (1h59m37s).

A seleção olímpica de tiro esportivo do Brasil, que integra a seleção nacional

que participará dos Jogos Mundiais Militares na Coreia e dos Jogos Olímpicos do Rio, em

2016, e que é formada por atletas da CDE (Comissão de Desporto do Exército),

participando da Copa do Mundo da Federação Internacional de tiro esportivo (ISSF) dos

EUA, disputada de 4 a 13 de maio de 2013, conseguiu pela primeira vez na história do tiro

de carabina do Brasil classificar-se para a final de uma Copa do Mundo. O feito foi

conquistado pelo Major Rippel, do 28º Batalhão de Infantaria Leve (Campinas – SP), atleta

da CDE e também integrante da Seleção Brasileira Militar de Tiro. Na fase eliminatória,

o Major Rippel ficou em 3º lugar, com 625.3 pontos. Na final, conquistou o 5º lugar

individual, a melhor classificação de um atleta brasileiro de carabina, em todos os tempos.

A Seleção Militar Brasileira de pentatlo moderno conquistou, no dia 1º de maio

de 2013, o título do Campeonato Internacional de Pentatlo Moderno do Exército Britânico,

na cidade de Saldhurst – Inglaterra - competição válida pelo calendário do Conselho

Internacional do Desporto Militar (CISM), tendo como principal destaque a 3º Sargento

Yane Marques (bronze em Londres), que conquistou o 1º lugar individual feminino.

Quatro meses mais tarde, a sargento Yane conseguiria um feito inédito, ao se sagrar vice-

campeã mundial de pentatlo moderno, em competição realizada na cidade de Kaohsiung,

Taiwan. Ainda em setembro de 2013, a sintonia dos calendários civil e militar, na verdade,

mais o primeiro do que o segundo, oportunizou à seleção brasileira de judô realizar a sua

melhor participação da história em campeonatos mundiais, com seis medalhas individuais e

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uma por equipe. O mundial foi realizado na cidade do Rio de Janeiro, mostrando que o

Programa Atletas de Alto Rendimento vem surtindo efeito, pois todas as medalhas ganhas

pela seleção brasileira vieram de atletas ligados ao programa. Na Argentina Open de

Taekwondo também no mês de setembro, em Buenos Aires, as atletas Talisca Reis, da

Marinha, e Raphaella Galacho, do Exército, conquistaram, respectivamente, o vice-

campeonato e a medalha de bronze em suas categorias.

Esses resultados não nos causam estranheza, muito pelo contrário, eles

confirmam nossa tese de que o posicionamento estratégico das Forças Armadas a serviço

da agenda Rio-2016 estava dando certo, proporcionando aos atletas do alto rendimento

nacional incorporados à hoste condições de treinamento, como previsto.

Merece ser destacado que o calendário civil também proporcionou aos

militares, o atendimento a outro parceiro histórico da Instituição, a CBF, quando, em julho

de 2012, passou a abrigar, na EsEFEX, os treinos da seleção brasileira de futebol em sua

preparação para os Jogos Olímpicos de Londres, substituindo a Granja Comary, até então

residência oficial da seleção. O então presidente da CBF, José Maria Marin, bancou parte

da reforma do campo da escola para que os gramados atendessem aos padrões do técnico

do selecionado brasileiro, Mano Menezes. Marin que, depois da sua entrada no comando da

Instituição havia colocado três militares em cargos estratégicos, frisou que: “[...]O treino de

amanhã será a imagem mais simbólica da aproximação da CBF com os militares”118.

No dia 7 de maio do ano seguinte, em 2013, a CBF assinou um Termo de

Permissão de Uso da Escola de Educação Física do Exército para que a Seleção Brasileira

de Futebol pudesse usufruir da agora completa estrutura esportiva presente na Escola para

os treinamentos para a Copa das Confederações, em junho de 2013. O que nos chamou a

atenção foi o fato de a Seleção Canarinho não haver colocado os pés nas estruturas da

EsEFEX, desde a Copa de 70, quando realizou seus treinamentos para a Copa do México.

Representando o Exército Brasileiro na solenidade, estavam presentes o Comandante do 118 Matéria na íntegra no endereço eletrônico: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/53677-marin-aproxima-cbf-de-militares.shtml. Acessado em 19/06/2014. Lá, o time comandado por Zagallo fez a preparação antes de embarcar para a conquista do tricampeonato no México. A Esefex ficou conhecida como centro de "cientificação do treinamento esportivo" no Brasil. A escola da Urca deu até um treinador para a seleção brasileira. Formado nos anos 60 na instituição, Claudio Coutinho foi um dos responsáveis pela preparação física do time de 70 e comandou no campo a seleção no Mundial de 1978, na Argentina.

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CCFEx e Presidente da Comissão de Desportos do Exército, General Brasil; o

Subcomandante do CCFEx, Coronel Araújo, e o Comandante da Escola de Educação Física

do Exército (EsEFEx), Tenente-Coronel Romaguera. Pela CBF, o técnico da Seleção

Brasileira de Futebol, Luis Felipe Scolari, “o Felipão”, e o coordenador técnico da CBF,

Carlos Alberto Parreira, participaram da solenidade que tinha por finalidade assinar o termo

e já deixar tudo acertado para a utilização do campo de futebol da EsEFEx, pela Seleção

Canarinho, visando à preparação para o jogo amistoso do Brasil com a Inglaterra, que

aconteceu no dia 02 de junho, na reinauguração do Maracanã em preparação para a Copa

das Confederações. Brasil acima de tudo!119

Já no ano de 2014, os atletas civis incorporados às Forças Armadas continuam

revezando suas participações entre o calendário civil e o militar, mesmo a Comissão de

Desporto do Exército não tendo apresentado o calendário de competições, como feito no

ano de 2013, fato comprovado no mês de março, quando aconteceram em Santiago do

Chile os X Jogos Desportivos Sul-Americanos, competição esta em que a Marinha do

Brasil foi representada por 34 atletas nas seguintes modalidades: atletismo, boxe, judô,

levantamento de peso olímpico, lutas associadas, natação, vela e taekwondo, conquistando

26 medalhas, sendo 11 de ouro, 6 de prata e 9 de bronze. O comando geral da Marinha

justificou o resultado devido ao sucesso

“[...] do trabalho que tem sido feito pelo Programa Olímpico da Marinha, os atletas de boxe, judô e atletismo se destacaram e conquistaram importantes lugares no pódio. No boxe foram cinco medalhas (4 de ouro e 1 de bronze), no judô cinco medalhas (1 de ouro, 2 de prata e 2 de bronze) e no atletismo foram oito medalhas (5 cinco de ouro, 1 de prata e 2 de bronze).”120

O Brasil ficou em primeiro lugar na classificação geral dos Jogos Sul-

Americanos.

No mês seguinte, em abril, os atletas da Força Aérea Brasileira, conseguiram

importantes resultados nas modalidades de triatlo, orientação, handebol e basquete, sendo

que no handebol, a seleção brasileira irá disputar o Campeonato Mundial Júnior Feminino

119 Matéria na íntegra no endereço eletrônico disponível em: http://globoesporte.globo.com/platb/esporte-militar/. Acessado em 25/05/2013. 120 Matéria publicada no endereço eletrônico: http://folhamilitar.com.br/2014/05/atletas-da-marinha-conquistam-26-medalhas-nos-x-jogos-sul-americanos-2014/. Acessado em 19/06/2014.

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de Handebol, que será disputado de 28 de junho a 13 de julho, na Croácia. Na divisão de

responsabilidades, a FAB gerencia as modalidades feminina e masculina de basquete,

badminton e handebol. Os esportes coletivos tiveram praticamente os times inteiros

incorporados. No caso do handebol, a maioria dos atletas são oriundos da seleção brasileira

sub21. A ideia é a de que eles possam treinar em conjunto para ter mais entrosamento e

estarem mais preparados para os campeonatos. Roney Franzini, 21 anos, é um exemplo.

Jogador desde os 12 anos, ele se inspira na tática adotada pelo treinador espanhol Jordi

Ribeiro com o time feminino da modalidade. “Praticamente todas jogam juntas na Hungria.

Fica mais fácil”, analisa121. Foram incorporados à FAB atletas do alto rendimento nacional,

entre eles, Marilson Gomes dos Santos, 36 anos, maratonista renomado no Brasil e que

acumula títulos, como o tricampeonato na Corrida de São Silvestre, o bicampeonato na

Maratona de Nova Iorque e recordes dos cinco mil e dez mil metros. Mesmo com uma

carreira consolidada no atletismo, Marilson visualizou a oportunidade de realizar um sonho

de infância. “Eu espero subir muitas vezes no pódio representando a Força Aérea”.

Vale ressaltar que, desde a incorporação dos atletas civis à hoste, por meio da

criação do Programa Atletas de Alto Rendimento, em 2009, ao contrário do Exército e da

Marinha, a Força Aérea Brasileira não havia ainda participado dessa incorporação, fato que

só acontece em janeiro de 2014 quando: “[...] uma nota de rodapé no site da Força Aérea

Brasileira informa que estão abertas, desde terça-feira, as inscrições para um processo

seletivo que visa a ‘contratação’ de 136 atletas de alto rendimento para comporem os

quadros da Aeronáutica Brasileira”. O fato estranho e que nos chamou a atenção foi que

[...] até o início da tarde desta sexta-feira, nem o ministério do Esporte nem o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) haviam divulgado a existência do edital. A própria assessoria do ministério do Esporte confirma que Aldo Rebelo não tinha conhecimento da abertura do edital. Aliás, ninguém parece saber do mesmo. A CBTArco (tiro com arco) só foi informada na quinta-feira, mesmo dia em que a CBBd (badminton) foi avisada. A assessoria do COB disse que só recebeu e-mail nesta sexta-feira. A FAB alega que não precisaria avisar ninguém. Afinal, as confederações e o COB sabiam que o edital sairia em janeiro e ele foi publicado em Diário Oficial. No mesmo dia em que o edital foi publicado

121 Texto na íntegra em: http://www.brasil.gov.br/defesa-e-seguranca/2014/04/atletas-de-alto-rendimento-da-fab-iniciam-instrucao-militar-no-rio-de-janeiro, Acessado em 19/06/2014.

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(terça) começaram as inscrições, que seguem apenas por 10 dias, até sexta-feira da próxima semana122.

Este acontecimento demonstra que a estratégia utilizada pela FAB não fugiu ao

padrão utilizado pelos parceiros do Exército e da Marinha, utilizando-se da abertura de um

edital, sem muito alarde, e de forma quase secreta para a contratação de atletas do meio

civil para ocupar vagas destinadas àqueles que desejam seguir a carreira militar. Quando

questionada, a Instituição alegou que “[...] 10 dias são suficientes e que não há nada que

impeça, legalmente, um edital ser lançado no dia de abertura de inscrições para um

concurso público”.

Assim, mediante tudo o que foi apresentado neste capítulo, vimos cada vez mais

fortalecida a tese inicial deste estudo, apresentada em sua parte introdutória, de que a

realização dos Jogos Mundiais Militares no Brasil muito mais do que servir como “evento-

teste”, para os dois maiores megaeventos esportivos que viriam a seguir, a Copa FIFA

2014 e os Jogos Olímpicos no Rio, em 2016, ou fortalecer o Esporte Militar nacional, fez

parte de um movimento estratégico estabelecido entre as Forças Armadas, o Governo

Federal e o Comitê Olímpico Brasileiro, visando a reinserção do Esporte Militar no campo

esportivo nacional, a realização dos Jogos Olímpicos, no Rio, em 2016, e a expansão do

esporte de alto rendimento.

Confirmamos também a existência de uma disparidade entre o discurso dos

atores acima citados e o que realmente pôde ser observado, na prática, fato que também não

se constituiu como um empecilho para que os objetivos desse grupo fossem e sejam

plenamente alcançados, trazendo importantes contribuições para o esporte de alto

rendimento nacional.

Motivados pela falácia desse discurso, questionamos a linearidade aparentemente

positiva de como a realização dos JMMs foi levada ao país e ao mundo pelas Forças

Armadas, o Governo Federal e o COB, disseminando a falsa imagem do Brasil como

possuidor de uma grande tradição nesse tipo de esporte, e como sendo lícitos alguns fatos

abordados, como a incorporação de atletas civis ao meio militar, e o bilionário investimento

122 Matéria retirada do endereço eletrônico: http://blogs.estadao.com.br/olimpilulas/aeronautica-faz-procura-secreta-por-136-atletas-de-alto-rendimento/. Acessado em 19/06/2014.

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advindo exclusivamente do Governo Federal, todos vistos como legados, e como

importante forma de desoneração dos gastos relacionados aos Jogos, no Rio, em 2016.

Assim, com o intuito de intensificar esse debate, buscando analisar os fatos em

suas entrelinhas, abrimos aqui o caminho para o delineamento do terceiro capítulo desta

tese, que elencou como ponto de partida o que para nós se configurou, desde as primeiras

linhas deste estudo, como o principal elemento motivador para a vinda dos Jogos Mundiais

Militares e das principais competições esportivas do planeta para o Brasil, a escolha do país

em 02 de outubro de 2009 para sediar os XXXI Jogos Olímpicos da era moderna, que

acontecerão em 2016, na cidade do Rio de Janeiro, conforme apresentaremos nas páginas a

seguir.

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CAPÍTULO 3 - DO UFANISMO À REALIDADE BRASILEIRA: UMA

ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A REALIZAÇÃO DOS JOGOS

MUNDIAIS MILITARES NO BRASIL

[...] o que temos hoje é um Estado interventor na indução de uma política esportiva, mas na indução da

política esportiva em consonância e, o pior, em concordância com o que o

campo esportivo, de natureza conservadora, enxerga e entende que

deva ser prioritário na política esportiva: o esporte de rendimento, o esporte de representação nacional que supõe os

grandes eventos esportivos (Jogos Pan-americanos, Copa do Mundo, Jogos

Olímpicos).

Lino Castellani Filho

3.1 O Brasil como sede dos Jogos Olímpicos em 2016

Em 02 de outubro de 2009 o Brasil ficou extasiado, ao receber o anúncio feito

pelo presidente do COI – Jaques Rogge - de que seria, em 2016, a próxima sede dos Jogos

Olímpicos. O Jornal o Estadão assim noticiou, em seu caderno de “Esportes”, o feito

realizado:

O Rio receberá a Olimpíada de 2016. A capital fluminense venceu a concorrência com Madri, Tóquio e Chicago entre os membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) na eleição em Copenhague, na Dinamarca. Será a primeira vez que a América do Sul receberá o evento. Assim, o Brasil receberá os dois maiores eventos do esporte mundial num período de dois anos, porque também será palco da Copa de 2014. A escolha foi acirrada. A candidatura brasileira venceu Madri na última rodada da reunião por 66 votos a 32, nesta sexta-feira, sendo que Tóquio e a então favorita Chicago caíram nas rodadas anteriores. E foi muito festejada tanto pelos responsáveis quanto pelos torcedores, principalmente na praia de Copacabana, onde foi concentrada a espera pelo resultado. Para sediar

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os Jogos Olímpicos, o Rio defendeu a tese de que deveria ser escolhida pelo ineditismo do local e pelo positivo momento econômico. "Os Jogos Olímpicos no Rio serão inesquecíveis, pois estarão cheios da magia e da paixão do povo brasileiro", discursou o presidente Lula, na apresentação. A realização dos Jogos Pan-Americanos em 2007 foi citada como prova de que os brasileiros podem realizar grandes eventos. Tecnicamente, o projeto prevê a utilização de instalações construídas para a competição, como o Estádio Engenhão. E investimentos em torno de US$ 14 bilhões (cerca de R$ 25 bilhões).123

Presentes à cerimônia na capital da Dinamarca, além do Presidente Luís Inácio

Lula da Silva, alguns personagens que constituiriam, a partir de então, um importante grupo

de coalizão para o desenvolvimento do sonhado projeto olímpico brasileiro. Esse grupo,

segundo Mascarenhas (2012, p.44) foi composto por: “Jacques Rogge, presidente do COI,

Arthur Nuzman, presidente do COB, Mike Lee, o marqueteiro da campanha, Eike Batista, o

principal patrocinador, Orlando Silva, ministro do esporte, Sérgio Cabral e Eduardo Paes,

respectivamente, o governador do Estado e o prefeito da cidade do Rio de Janeiro”. Ainda

reforçam esse time Edson Arantes do Nascimento, o rei Pelé, a medalhista Olímpica Isabel

Swan, o ex-presidente da FIFA, João Havelange, e o presidente do Banco Central,

Henrique Meirelles. Na ocasião, o Presidente Lula afirmou que: “Dinheiro para isso,

garantem as autoridades, existe. Entre as dez maiores economias do mundo, só o Brasil

nunca organizou os Jogos Olímpicos” 124.

Movido pela emoção do momento, o presidente do Banco Central fez questão de

afirmar que o Brasil tem:

[...] a 10ª maior economia do mundo e o Banco Mundial prevê que seremos a quinta até 2016. Já somos o quinto maior mercado publicitário

123 Matéria retirada do site do Jornal Estadão, disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,rio-e-escolhido-como-cidade-sede-da-olimpiada-de-2016,444804,0.htm. Acessado em 13/08/2013. 124 Merece aqui ser ressaltado que alguns atores que fizeram parte do grupo que acompanhou o Presidente Lula à Dinamarca como João Havelange, Eike Batista e o então Ministro do Esporte Orlando Silva, pouco tempo depois sairiam de cena de maneira conturbada e vexatória. Eike Batista que já foi o homem mais rico do Brasil viu seu império ruir em 2013 após uma forte crise no setor financeiro o que levou as empresas do Grupo X cair em descrédito no cenário econômico. Havelange, Presidente da FIFA por quase duas décadas: de 1979 à 1998, ex presidente do COI, e Presidente de Honra da FIFA, foi acusado de corrupção em 2011, o que o fez renunciar ao cargo de honra na Instituição. Orlando Silva, que havia se tornado Ministro do Esporte no segundo mandato do Presidente Lula, pediu demissão em outubro de 2011, após denúncias de desvio de recurso no Ministério.

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do mundo e ainda estamos crescendo. E graças ao descobrimento do maior campo petroleiro do mundo, temos também grande reserva de petróleo. Nossa força econômica trouxe a certeza que podemos ter os Jogos Olímpicos.

A escolha brasileira para sediar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, em 2016,

assim como os Jogos Mundiais Militares, em 2011, a Copa das Confederações, em 2013, o

Mundial de Futebol FIFA, em 2014 e a Copa América, em 2017, aconteceu em um

momento em que o Brasil se reposicionou estrategicamente no cenário mundial, de forma

protagônica, impulsionado principalmente pela conjuntura econômica favorável entre os

anos de 2003 e 2008, e também por um fenômeno denominado por Singer (2012, p. 21) de

“lulismo":

[...] que uniu as decisões do primeiro mandato, intensificadas no segundo, e que canalizaram o vento a favor da economia internacional para a redução da pobreza e a ativação do mercado interno. Lula aproveitou a onda de expansão mundial e optou por caminho intermediário ao neoliberalismo da década anterior125.

Sob essa ótica, o Professor Fernando Mascarenhas da Universidade de Brasília,

em seu texto intitulado: “O Bloco Olímpico: Estado, Organização Esportiva e Mercado, na

configuração da agenda Rio-2016” nos afirma que o sucesso da agenda e da candidatura

brasileira para sediar os Jogos nesse ano resultaria

[...] de uma coalizão de forças cujas pretensões e interesses repercutem como a própria vontade geral, isto é, o interesse geral de toda a sociedade ou nação. No entanto, além de ter reforçado a condição de Lula como condottiere e mito, tal projeto se articulou ao projeto de governo, ao modelo neodesenvolvimentista e à política externa de reposicionamento do país na geopolítica mundial. Ancorou-se, por um lado, numa política conservadora de aproximação e subordinação do Estado brasileiro às

125

André Singer define o lulismo como sendo um projeto sem rupturas e pluriclassista que incorpora representações de trabalhadores e empresários, projeto que é marcado também por uma forte identificação dos pobres - ou seja, do subproletariado - com a figura de Lula, conferindo-lhe força para mediar interesses conflitantes e apresentar suas propostas como sendo boas para todos. No entanto, para além da vontade e empenho do líder e do mito, a candidatura olímpica está articulada a um projeto mais geral de desenvolvimento nacional, matizado pelo reposicionamento do país na geopolítica mundial e recuperação do papel do Estado.

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entidades proprietárias dos Jogos, COI e COB, e, por outro, num projeto empreendedor orientado para o mercado, correspondendo aos interesses de determinadas frações da burguesia, o que corresponde ao intento de reorganização do capitalismo brasileiro” (MASCARENHAS, 2012, p. 18).

O delineamento desse cenário favorável permitiu que o então Presidente Lula,

munido do bom momento econômico vivido pelo país e gozando de prestígio frente a

importantes organizações internacionais, fortalecesse junto a eles a candidatura brasileira

aos Jogos, vislumbrando um projeto que trouxe, em um primeiro momento, o discurso

ufanista pautado na retórica olímpica, tendo o esporte como o mais nobre e importante

instrumento de desenvolvimento da nação brasileira. Posteriormente, em um segundo

momento, ao cair das máscaras, deixou claro que o verdadeiro motivo tanto para o seu

envolvimento pessoal assim como o do “seleto” grupo que o acompanhava, conformava-se

à "nova" ordem político-econômica mundial, um reposicionamento do país muito mais

centrado no atendimento aos interesses do desenvolvimento urbano, pautado pela lógica

dos negócios, do grande capital, que propriamente na materialização de uma política

esportiva.

É certo afirmar que esse reposicionamento também permitiu que as atenções se

voltassem para outro tipo de investimento, que se alia à paixão nacional pelo esporte, sua

penetração em todos os níveis da sociedade e à força mercadológica que ele traz,

concebendo, assim, uma visão paradisíaca do novo campo a ser explorado e conquistado, os

locais de realização dessas competições, as cidades, seu espaço geográfico, suas

possibilidades imobiliárias, seus atrativos turísticos e a mão de obra a ser utilizada.

Schimmel (2011, p.07) relata que a vinculação do esporte a sistemas políticos, como no

caso brasileiro, e como instrumento de legitimação de poder,

[...] é tão antigo quanto o próprio esporte internacional. Desde que as pessoas começaram a jogar por uma bandeira, com o nome de seu país nas costas, o esporte pode ser manipulado para atender a interesses políticos. Para ser honesta, é exatamente isto que o Brasil está fazendo agora. O Brasil está usando o esporte para anunciar sua chegada no cenário internacional. O Brasil está anunciando para o mundo: que nós temos importância, prestem atenção em nós. A imagem do Brasil que será projetada pela Copa do Mundo e pelos Jogos Olímpicos será de

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segurança, de felicidade – tudo que torne o país atraente para quem quiser investir aqui126.

Em fala proferida no Comitê Olímpico Internacional, em 02 de outubro de 2009,

momentos antes da escolha brasileira como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, em rede

internacional, o Presidente Lula deixou claro o caráter ufanista de seu discurso, legitimando

a sua responsabilidade, como chefe de Estado e defensor dos interesses de todo o povo

brasileiro, conforme pequeno trecho transcrito a seguir:

Com muito orgulho represento aqui as esperanças e sonhos de mais de 190 milhões de brasileiros, muitos nos acompanham na TV neste momento, em telões nas areias de Copacabana, nas vitrines das lojas em São Paulo, ou em pequenos televisores as margens do Rio Amazonas. Estão todos unidos torcendo pelo Rio de Janeiro. Somos um povo apaixonado pelo esporte, apaixonado pela vida, e olhando para os cinco aros do símbolo olímpico vejo nele meu país, um Brasil de homens e mulheres de todos os continentes, todos orgulhosos de suas origens e mais orgulhosos ainda de se sentirem brasileiros. Não só somos um povo misturado, mas gostamos de ser misturado, e é isso que faz a nossa identidade. Digo com toda franqueza, chegou a nossa hora, chegou entre as dez maiores economias do mundo, o Brasil é o único país que não sediou os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, entre os países que buscam hoje indicação, somos os únicos que nunca tivemos esta honra. Para os outros será apenas mais uma olimpíada, para nós será uma oportunidade sem igual. Aumentará a autoestima dos brasileiros, consolidará conquistas recentes, estimulará novos avanços... É hora de acender a pira olímpica num país tropical, na mais linda e maravilhosa cidade, o Rio de Janeiro. Para a América do Sul será um momento mágico, para o movimento olímpico uma oportunidade de sentir o calor de nosso povo, a exuberância de nossa cultura, o sol da nossa alegria. 127

O discurso do presidente possui um forte apelo simbólico, que manifesta

claramente ser ele o verdadeiro representante do povo brasileiro, legitimado pela maciça

votação na campanha presidencial de 2006 e várias vezes confirmada pelas pesquisas, que 126 Socióloga americana que esteve no Brasil a convite do centro de Estudos Avançados da Universidade Estadual de Campinas, para proferir uma série de palestras acerca do tema sobre impactos sociais, políticos e econômicos dos megaeventos esportivos. Artigo na íntegra no endereço eletrônico: www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/setembro2011/ju508.pag67.php. Acessado no dia 08/12/2012. 127 Trecho transcrito de vídeo do discurso do Presidente Luís Inácio Lula da Silva no COI, no ato da escolha brasileira para ser sede dos jogos olímpicos em 2016. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=A5zrPRusLcY. Acessado em 15/08/2013.

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apontavam o governo Lula com porcentagens altíssimas de aprovação. Refutando a fala do

chefe da nação brasileira, o professor Carlos Vainer, do Instituto de Pesquisa e

Planejamento Urbano da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostra-nos que:

Grandes projetos com forte apelo simbólico (grandes museus, por exemplo), megaeventos esportivos e exposições internacionais comparecem com uma monótona regularidade em estratégias que, paradoxalmente, não se cansam de proclamar sua originalidade e criatividade. Mas, sem dúvida, trata-se de negócio, e não de arte, quando se constroem novos e majestosos museus. Assim como se trata de negócio em não de esporte, quando se organizam Jogos Olímpicos e Copas do Mundo de Futebol. (2011, pp. 13-14)

O discurso alicerçado na retórica olímpica, amplamente utilizado pelo

Presidente, também segundo o professor da UFRJ, “[...] não consegue mais esconder a

essência da operação. Como compensação às cidades e nações que se prestam a investir

bilhões para quinze ou trinta dias de glória, promete agora o chamado ‘legado’. Em troca

do negócio, vamos cuidar do meio ambiente, dos transportes, da questão social”.

(VAINER, 2011, p.14). Percebe-se, então, que a vinda de megaeventos esportivos para o

Brasil, quando olhada para além do discurso, não se dá em prol de melhorias dos espaços e

de dignificar as condições de vida da população local. Longe disso, possui o claro intuito de

estabelecer espaços, demarcar territórios, apossar-se do patrimônio público, principalmente

nos setores comerciais mais lucrativos, como o setor hoteleiro, comercial, turístico, de

infraestrutura e imobiliário. Essa demarcação de territórios “[...] realiza, de maneira plena e

intensa, a cidade de exceção. A cidade dos megaeventos é a cidade das decisões ad hoc, das

isenções, das autorizações especiais... E também das autoridades especiais" (VAINER,

2010, p. 11).

Essa cidade das autorizações especiais seria, então, de acordo com o

pensamento de Mascarenhas (2011, p.36) uma confluência de interesses entre os

[...] dois campos emergentes no cenário neoliberal contemporâneo: a nova economia do esporte e o novo paradigma de planejamento e gestão das cidades. Por um lado, tal confluência resulta em profunda mudança na organização das competições olímpicas, tornadas megaeventos de ampla projeção midiática e de crucial envolvimento do setor privado e, portanto,

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com capacidade crescente de impacto urbanístico. Por outro, resulta na incorporação do esporte (enquanto campo portador de sentidos e significados) na veiculação de uma imagem positiva da cidade que organiza tais eventos: imagem da cidade competitiva, disciplinada, saudável, vigorosa e empreendedora, pronta para competir com êxito, no atual contexto de “guerra de lugares”, pela atração de investimentos privados.

Em cumprimento a esse objetivo, o esporte passa a ocupar um lugar secundário,

deixando de representar o papel protagônico a ele conferido no discurso das autoridades

brasileiras, servindo agora apenas como uma oportunidade para que o planejamento

definido para as cidades seja desenhado, a partir do planejamento para o atendimento dos

megaeventos esportivos e as modificações necessárias para recebê-los, em detrimento das

reais necessidades da população. O Economista Marcelo Proni (2012) deixa entendido que

existe, sim, uma necessidade de modificação na infraestrutura das cidades para a realização

desses grandes eventos esportivos, porém essas modificações não deveriam depender deles

para existirem. Em relação à queda de braço entre o Governo e o seu grupo de supostos

“colaboradores” e a população, que deveria ser a primeira beneficiada pelas obras, e

supostos legados advindos desses megaeventos, Vainer (2011, p.14-15) deixa claro que já

sabemos de antemão que os grandes vencedores desses Jogos são

[...] as grandes empreiteiras e os grandes proprietários de terras, que terão seu patrimônio fundiário valorizado pelos investimentos bilionários. Enquanto isso, os perdedores também já são conhecidos e permanecerão desprovidos de transporte naquelas áreas onde reside a imensa maioria da população de nossas cidades. O legado, já sabemos de antemão: uma vez mais, a socialização dos custos e a privatização dos benefícios. E cidades ainda mais desiguais e injustas. (2011, p. 14-15).

A subordinação das cidades à agenda definida pelo Governo, em parceria com os

megaempresários, causa uma revolução no sistema urbano brasileiro que, no discurso,

aparece em primeiro plano com ares de política pública, vindo ao encontro dos anseios e

necessidades da população, mas, em segundo plano, desencadeia outro fator de extrema

gravidade para o meio social brasileiro, qual seja, a desapropriação de milhares de

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famílias128 residentes em locais “estratégicos” e que, pela localização de suas moradias,

impedem a ordem natural do progresso e da nova ordem a ser seguida, a instalação de

canteiros de obras que visam atender ao reordenamento urbano e à modernização das

cidades. Em nome dessa modernização, direitos humanos são violados, famílias perdem

suas moradias e também sua dignidade como cidadãos. Miranda e Merladet (2012)129

afirmam que: “Mega-eventos e mega-projetos urbanísticos têm gerado mega-violações de

direitos e mega-desigualdades”. Incui-se nas violações advindas desses megaeventos a falta

de participação popular nas decisões tomadas por um pequeno grupo que, em nome da

legitimação do seu discurso, se estabelece como representante da vontade geral da nação,

fazendo dos seus interesses os interesses desse grupo de pessoas.

Tais fatos parecem não acontecer apenas no Brasil, mas ser comuns em países

que se tornaram sedes de Megaeventos esportivos, pois em Londres130, cidade-sede dos

Jogos Olímpicos em 2012, fatos semelhantes aconteceram, quando moradores do Leste da

capital inglesa foram impedidos de opinar sobre a forma como o governo vinha

administrando suas políticas urbanas e pela ausência de uma organização que lhes desse o

direito de voz sobre as decisões. Na África do Sul, por causa da Copa do Mundo, os negros

128 Para a urbanista Raquel Rolnik o termo gentrificação (enobrecimento), foi muito utilizado pelo autor Neil Smith para explicar o fenômeno que ocorreu no final dos anos 80, se fortaleceu nos anos 90 nas principais cidades da Europa e Norte Americana. Após o ciclo de reestruturação industrial, quando se tem um custo mais barato de produção na América, Ásia e Índia, as grandes indústrias foram abandonando os terrenos de suas instalações, por sua vez os empregados dessas indústrias que ocupavam as áreas ao redor foram expulsos para outras regiões, ocorreu então o que se chama “esvaziamento econômico e funções”, dando lugar para renovação dessas áreas chamando de “revitalização”, sendo ocupados por “complexos imobiliários financeiros”. A professora ainda cita que o processo de gentrificação tem três elementos: 1 – Substituição população por pessoas que possuem poder aquisitivo maior; 2 – Novos espaços culturais para essa nova classe, pessoas renomadas assinam projetos, obras, para aumentar o prestigio do local; 3- Os Artistas, a “ponta da lança” desse processo, pois, através de suas intervenções agregam valor ao local que antes era inabitável, fazendo com que se valorize ainda mais. Disponível em < https://storify.com/ritacorreia/gentrificac-o-conceito-e-debate-sobre-o-direito-a-1> Acessado em 30/11/2014.

129 Texto na íntegra no endereço eletrônico: Artigo originalmente publicado em: http://www.acomuna.net/index.php/contra-corrente/3791-copa-do-mundo-para-quem. Acessado em 22/02/2012.

130 Texto na íntegra no site: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/21799/as+vesperas+dos+jogos+londres+limpa+area+do+parque+olimpico+de+pobres+e+indesejados.shtml. Acessado em 24/05/2012.

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127

mais pobres foram removidos do centro de Cape Town para “Blikkiesdorp”, uma favela de

conteiners de latão com nome de campo de concentração nazista a mais de 30 quilômetros

da cidade131. Sob a liderança de entidades de administração do esporte, em nível

internacional, como a FIFA e o COI e, no caso brasileiro, o COB, que atuam em parceria

com grandes empresas nacionais e internacionais e os políticos aliados aos seus interesses,

a população torna-se excluída, em termos de participação democrática das operações

urbanas a serem realizadas em decorrência de Copas e Olimpíadas. Essa exclusão serve

para impedir possíveis questionamentos e revela a tentativa de se reproduzir um modelo

hegemônico de cidade: limpa, moderna, desenvolvida, eficiente e sem pobreza, um modelo

de cidade espetáculo. (MIRANDA & MERLADET, 2012).

Merece ser ressaltado que, em direção contrária a tais fatos, no Brasil, já existem

movimentos populares empenhados em lutar ao lado das famílias, na tentativa de reduzir os

impactos causados pelo neourbanismo imposto às cidades, como a Resistência Urbana, uma

Frente Nacional de Movimentos presente na maioria dos Estados brasileiros, o Comitê

Popular dos Atingidos pela Copa, em Belo Horizonte, o Comitê popular Rio Copa e

Olimpíadas lançou, no dia 19 de abril de 2012, no Rio de Janeiro, um dossiê cujo texto traz

inúmeras denúncias acerca de violações dos direitos humanos e da perda de direito por

parte da população de participar dos momentos decisórios sobre as questões de suas

próprias moradias, sendo que 5.325 famílias sofrem, diariamente, ameaças de remoção em

24 comunidades, e 1.860 já foram removidas132. O documento também trata da

[...] subordinação dos interesses públicos aos interesses de entidades privadas (entre as quais destacam-se o Comitê Olímpico Internacional e grandes corporações), fala do desrespeito sistemático à legislação urbana e aos direitos ambientais, aos direitos trabalhistas e ao direito ao trabalho, fala do desperdício dos recursos públicos, que deveriam estar sendo destinados às prioridades da população. Enfim, fala da violação do direito à cidade.

131 Atingidos pela Copa-BH. http://atingidoscopa2014.wordpress.com/. Acessado em 25/05/2012. 132 Blog de Raquel Rolnik: http://raquelrolnik.wordpress.com/2012/04/20/copa-e-olimpiadas-dossie-lancado-ontem-no-rio-denuncia-violacoes-de-direitos-humanos/. Acessado em 30/05/2012.

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128

Na data de 13 de agosto de 2012, o movimento prometeu entregar ao prefeito da

cidade do Rio de Janeiro, que recebeu em Londres a bandeira olímpica que simboliza a

próxima cidade-sede dos Jogos, um troféu em alusão às inúmeras remoções realizadas na

cidade: “Ao mesmo tempo em que o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, recebe a

bandeira olímpica, 22 mil pessoas vivem com medo de perder suas casas, sendo que 8 mil

já foram removidas, afetando diretamente 24 comunidades”.133 Vale ressaltar que, em 09 de

maio de 2013, foi lançada na cidade do Rio de Janeiro a segunda edição do dossiê que trata

das violações dos direitos humanos. Em primeiro de dezembro de 2012,134 mais de 80

organizações de movimentos sociais e culturais assinaram o manifesto "Copa para quem?"

em São Paulo, por meio do qual foram convocados movimentos em todas as cidades-sede

da Copa do Mundo FIFA no Brasil, exigindo maior transparência na utilização dos recursos

públicos utilizados e também sobre a violação dos direitos humanos com a retirada de

milhares e milhares de famílias de suas residências, em nome da nova organização do

espaço urbano. A data desse ato coincide com o dia em que acontece o sorteio dos grupos

que participariam da Copa das Confederações, em 2012, no Brasil.

Barandão (2014) em entrevista concedida ao Jornal da Unicamp135 sobre sua

Dissertação de Mestrado defendida em fevereiro do mesmo ano, intitulada: “A Copa FIFA

2014 para além da política esportiva: estudo do dissenso entre os interesses da ‘cidade

empresarial’ e os citadinos através da análise da ação dos movimentos sociais”, nos relata

que alguns desses movimentos: “[...] criticam não apenas as remoções, mas a forma como

são executadas, sem o cumprimento de leis internacionais ratificadas pelo Brasil e que

dizem respeito, entre outros aspectos, ao aviso com antecedência e participação dos

moradores no processo e na definição do local para realocação”. O tema extremamente

atual e de grande relevância motivou a pesquisadora a realizar um mapeamento de vários

movimentos sociais organizados que participam ou participaram do embate político contra

aqueles responsáveis pelos impactos contrários aos interesses dos setores sociais

133 http://comitepopulario.wordpress.com/2012/08/13/apos-bandeira-olimpica-eduardo-paes-recebera-trofeu-em-alusao-as-remocoes-no-rio/. 134 Texto na íntegra no endereço eletrônico: http://www.dw.de/organiza%C3%A7%C3%B5es-brasileiras-convocam-protestos-contra-a-copa-do-mundo-de-2014/a-16416909. Acessa do no dia 07/12/2012. 135 Jornal da Unicamp – Edição de 19 a 25 de maio de 2014.

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desprivilegiados, discutindo os aspectos políticos, econômicos e principalmente sociais

decorrentes da realização da Copa do Mundo de 2014 nas 12 cidades-sede escolhidas.

(BARANDÃO, 2014).

A questão da remoção de milhares e milhares de famílias de suas casas, em

nome de uma política estabelecida para a realização de obras que atendam aos megaeventos

esportivos no Brasil, repercutiu de tal forma que, em maio de 2012, na Organização das

Nações Unidas (ONU), o país foi sabatinado e questionado pelas remoções forçadas de

populações de terrenos que darão lugar a obras da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016.

Apesar da fala da Ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, garantindo que na

questão da realização dos megaeventos esportivos no Brasil, os direitos da população não

seriam violados, na prática, a realidade se mostrou regida por outra lógica136, na verdade,

pela existência de forças maiores e mais bem organizadas que Mascarenhas atribuiu a

[...] uma coalizão que transcende ao poder estatal, aglutinando interesses do COI, COB e mercado”. Nessa coalizão, o Estado não fica alheio a esse processo, contribui com ele como: [...] agente organizador da hegemonia de dadas frações de classe no seio do bloco de poder.(MASCARENHAS, 2012, p.51).

Segundo André Rego Viana, do IPEA- Instituto de Pesquisas Econômicas

Aplicadas - em fala na UNB, em Brasília, no ano de 2012, no II SPPEL137- Seminário de

Políticas Públicas, Esporte e Lazer: “[...] o Brasil na verdade recebeu uma franquia desse

grupo de instituições internacionais, e são eles os detentores do monopólio da realização

desses megaeventos esportivos, incluindo nesse grupo, também a FIFA”. Nessa franquia,

tanto o Governo Federal quanto os governos dos Estados aproveitam para incluir obras que

deveriam ser realizadas pelas administrações públicas no pacote de gastos dos jogos,

tomando, assim, um tom de política pública, de melhorias para as cidades e de benefícios

136 Matéria do Jornal Folha de São Paulo, do dia 25-05-2012, pelo endereço: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1096138-onu-questiona-brasil-sobre-grandes-obras.shtml. Acessado em 27/05/2012. 137 Vídeo na íntegra das palestras no endereço: http://www.youtube.com/watch?v=YU6mFL6NoTU&list=PL42E4F28EF9252B81&index=4&feature=plpp_video. Acessado em 30/05/2012.

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para a população local. Ainda segundo Barandão (2014), tais grupos, em nome de seus

interesses, justificam as remoções forçadas para “[...] favorecer a mobilidade urbana,

proteger as populações de riscos ambientais e inclusive melhorar suas condições de vida”.

Trazemos ao nosso debate a ideia da qual partilhamos de que os megaeventos

esportivos transformam as cidades-sede em cidades de exceção (VAINER, 2011), com

licenças especiais que habilitam seus organizadores, em nome da realização desses

projetos, à criação de leis específicas para beneficiar pequenos grupos de megaempresários

que buscam levar vantagem, não importando que famílias sejam removidas de suas casas,

leis sejam violadas, ou sejam investidas grandes quantias em dinheiro público que deveriam

estar sendo aplicadas para melhoria da qualidade de vida da população, tudo em nome do

padrão FIFA, ou do tão sonhado projeto olímpico brasileiro.

O Professor Fernando Mascarenhas, da Universidade de Brasília, um estudioso

das questões relativas às políticas públicas de esporte e lazer e megaeventos esportivos,

publicou, no dia 16 de agosto de 2013, em seu blog138 um artigo intitulado “A Cor do

Elefante” em que relata a participação do Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, em uma

audiência pública realizada no Senado Federal, em 13 de agosto do corrente ano, durante a

qual aproveitou a oportunidade dada pela Subcomissão Permanente da Copa de 2014 e das

Olimpíadas de 2016 para rebater as críticas acerca dos gastos excessivos e da subutilização

das arenas construídas para o Mundial. Em uma de suas falas, o Ministro Aldo assim se

expressou: “Os estádios construídos para a realização da Copa do Mundo de 2014 não são

elefantes brancos, mas sim elefantes de ouro". Em uma tentativa de explicar o dito, ele

completou dizendo que a construção desses estádios representariam algo bom para o povo

brasileiro, na verdade “[...] diversas oportunidades de negócio e de geração de renda”.139

Tal fala do Ministro do Esporte não esconde, muito pelo contrário, salienta o

principal objetivo da vinda de megaeventos esportivos ao Brasil, no caso aqui citado do

Mundial de Futebol FIFA-2014, utilizando-se da expressão “elefantes de ouro”, que,

138 http://blogdomasca.blogspot.com.br/2013/08/a-cor-do-elefante.html. Acessado dia 28/08/2013. 139 Agência do Senado – 24 horas News - http://wwww.24horasnews.com.br/esportes/ver/novos-estadios-sao-elefantes-de-ouro-diz-ministro-do-esporte.html#sthash.MwNfyj2U.dpuf

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traduzida para uma linguagem mais coloquial, significa: dinheiro, lucro, para justificar os

gastos do Governo.

Ainda no que tange aos gastos do Governo brasileiro no Mundial FIFA- 2014,

não poderíamos deixar de destacar aqui a presença de outros movimentos que se

organizaram, e se levantaram em todo o país contra a realização desse megaevento

esportivo. O de maior impacto aconteceu em junho de 2013, durante a Copa das

Confederações, nas portas do Estádio Nacional de Brasília, por meio do qual “A

contestação da Copa estava em pauta, mas a onda de passeatas teve início com o

Movimento Passe Livre em São Paulo e englobava as mais diversas reivindicações como

saúde, transporte, e educação de qualidade.” 140 Essas manifestações adentraram o ano de

2014, com a promessa de se intensificar às vésperas do Mundial de Futebol, ainda tendo

como tônica o descaso do Governo com importantes áreas das políticas públicas.

Reconhecemos aqui a legitimidade das manifestações e dos movimentos sociais

que foram às ruas reivindicar uma sociedade mais justa e o comprometimento do Governo

Federal com as políticas públicas, principalmente nas áreas acima descritas, porém cabe-

nos destacar que os gastos realizados com os megaeventos esportivos, e principalmente

com a Copa do Mundo, no Brasil, são pequenos, se comparados com os gastos com saúde e

educação, por exemplo, no ano de 2013, como comprovado por Felipe Rodrigues, citado

por Castellani Filho (2014) 141, que traz um cotejo “[...] entre o orçamento da União e os

investimentos públicos para a Copa além de não descurar da legitimidade das mobilizações

sociais, todavia não as tratando de forma monolítica ao sinalizar os distintos motivos que as

originam”. “Orçamento da União: ―R$ 79.331 bilhões para a Saúde só em 2013ǁ. ―R$ 38.093

bilhões para a Educação só em 2013ǁ. ―R$ 26.621 bilhões para a Copa desde a escolha do Brasil

como sede até a realização do evento em 2014. Média, portanto, de R$ 4 bilhões por anoǁ”.

Sobre esse assunto, Castellani Filho (2014), nos remete ao pensamento de que

A dimensão política de tais mobilizações se sobressai menos pela sua pertinência – de fato as condições da Educação Pública brasileira são merecedoras de atenção especial –e mais pela ausência de cotejo com

140 Matéria na íntegra na página eletrônica: http://esportes.terra.com.br/brasil/na-copa-dos-protestos-mazelas-do-pais-e-fifa-viram-vilas-e-aliviam-Marin,13daae370399f310VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html. Acessado em 18/08/2013. 141 Megaeventos esportivos no Brasil: de expressão da política esportiva brasileira para a da concepção neodesenvolvimentista de planejamento urbano. Lino Castellani Filho. Motrivivência, 2014, p.98-114.

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dados insofismáveis, como os trazidos pelo professor do Instituto de Economia da Unicamp, Marcelo Proni. Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, ele esclarece que ― o investimento total em infraestrutura na preparação para a Copa equivale a cerca de 5% do valor dos investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), ao passo que os empréstimos do BNDES concedidos para a construção e reforma das arenas corresponde a menos de 3% do montante que essa instituição financeira empresta anualmente.

Assim, tais constatações nos desvelam que as decisões tomadas pelo Governo

brasileiro, em parceria com seu grupo de aliados, independentemente de qual seja o

resultado da competição esportiva, que não ocupa lugar protagônico no cenário das

violações de direitos humanos e do valor gasto em dinheiro público, tendem a perpetuar a

legitimação de uma política esportiva para o país pautada na exclusão, na ausência de

diálogo e na legitimação de poder, utilizando-se do esporte apenas como uma grande

oportunidade empresarial e comercial, distanciando-se completamente da importância do

que poderia significar a realização de um Mundial de Futebol e de uma edição dos Jogos

Olímpicos no Brasil e dos benefícios que eles poderiam deixar como legado,

principalmente à população brasileira.

3.2 V Jogos Mundiais Militares no Brasil: posicionamento estratégico do Esporte

Militar a serviço da agenda Rio-2016

Diante do cenário acima delineado, encontramos o terreno pretendido para

ancorar o pensamento de que a vinda dos principais megaeventos esportivos para o Brasil,

na intitulada década do esporte brasileiro, aconteceu mais como reflexo dos interesses

empresariais do que propriamente de uma política esportiva, fazendo na realidade com que

o esporte viesse em segundo plano, visando o cumprimento da agenda estabelecida tanto

pelo Governo Federal e seu grupo de aliados, quanto pelo setor conservador do campo

esportivo brasileiro que também integra esse grupo, denominado por Mascarenhas (2012,

p.18) de bloco olímpico, “[...] o bloco de poder inerente às Olimpíadas de 2016, que

transcende o poder estatal, aglutinando interesses entre entidades de administração do

esporte e empresariais”.

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Como não havia de ser diferente, a realização dos Jogos Mundiais Militares no

Brasil também seguiu o mesmo planejamento, o que faz cair por terra o codinome dado a

ele de evento-teste, e legitima sua vinda ao Brasil como um caminho intencional muito bem

articulado pelo Governo brasileiro em cumprimento aos seus anseios. Além disso, ficaria

garantida uma série de legados ao esporte de alto rendimento nacional, o que também

beneficiaria diretamente as Forças Armadas, como a reforma de estruturas esportivas em

locais pertencentes às Forças Armadas, oferecimento de um salário, na verdade, um soldo,

seguindo a linguagem militar, a atletas civis do alto rendimento nacional que foram

incorporados às Forças Armadas, em busca de melhores condições para treinamento,

alimentação, hospedagem, apoio médico e nutricional, incluindo aí o pagamento de suas

despesas com viagens nacionais e internacionais. Dentro da lógica estabelecida neste

estudo, o êxito da realização dos V JMMs deve ser analisado sob a ótica da articulação das

entidades de administração do esporte nacional, do Governo Federal e das Forças Armadas,

que não se configurou em momento algum como subserviente ao processo, pois cada um

desses atores foi beneficiado de acordo com seus interesses.

Dessa forma, em busca do chamado sonho olímpico e da postura estratégica de

reinserção do Esporte Militar junto à lógica esportiva brasileira, por meio da realização dos

JMMs, alguns atores aparecem de forma protagônica, como Carlos Arthur Nuzman,

presidente do COB e representante da fração conservadora do campo esportivo brasileiro

que integra o grupo de coalizão que acompanhou o Presidente Luís Inácio Lula da Silva

rumo ao chamado “projeto olímpico brasileiro” até 2009, e que passou a acompanhar a

Presidenta Dilma Roussef, a partir de 2010, seguindo até os dias atuais142.

O mandatário do esporte nacional - que possui um currículo invejável à frente

das instituições que capitaneia, tendo ocupado por 20 anos o comando da CBV –

Confederação Brasileira de Voleibol, aos quais podem ser somados os 21 anos a serem

142 É importante ressaltar que a presença dessa fração conservadora do campo esportivo brasileiro junto ao Governo também não se deu por mero acaso, mas por encontrar amplo apoio ideopolítico e um clima consensual e harmônico para o cumprimento das metas e ações definidas por sua agenda, para fazer dos seus interesses os interesses do próprio governo, assim como Lula fez dos seus interesses os do povo brasileiro, dando à realização de suas aspirações, uma legitimação com ares de política social e como sendo de aceitação pública.

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completados em 2016 à frente do COB, e que completou recentemente o seu quinto

mandato à frente da Instituição - interfere diretamente nas decisões tomadas pelo Ministério

do Esporte, principal financiador dos JMMs, o que ocasionou com o consentimento do

Governo Federal, a vinda dos Jogos Mundiais Militares ao Brasil, visando à preparação

brasileira para os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012 e, no Brasil, em 2016.

Portanto, um dos objetivos principais deste capítulo é estabelecer um diálogo

com a introdução deste trabalho, refutando a linearidade do discurso apresentado, tanto

pelas Forças Armadas quanto pelo Comitê Olímpico Brasileiro, analisando sob uma

perspectiva crítica a forma como os fatos aconteceram e foram apresentados, trazendo

elementos para o debate que comprovem a nossa tese de que a realização dos JMMs não

aconteceu de forma descontextualizada, mas fez parte de uma estratégia para a inserção

protagônica do país no cenário internacional, movida pelo alinhamento da agenda do setor

conservador do campo esportivo brasileiro com a política econômica do Governo Lula.

Como forma de melhor organizar nossa análise, elencamos como ponto de partida os

supostos legados tangíveis deixados pelos JMMs, trazendo à tona a participação das Forças

Armadas no projeto determinado pela agenda Rio-2016 e a constante presença de Nuzman

junto aos militares, tanto antes quanto após a realização dos Jogos, demonstrando, assim,

uma forma de “demarcar território” e de não permitir possíveis contratempos a essa agenda.

A proximidade do COB junto às Forças Armadas começa a ganhar uma maior

visibilidade, em setembro de 2010, quando, de forma surpreendente, o dirigente brasileiro,

presidente do Comitê Rio-2016, recebeu do Comando Geral do Corpo de Fuzileiros Navais

da Marinha uma condecoração com a Medalha do Mérito Desportivo Militar. A cerimônia

de entrega dessa condecoração foi realizada

[...] pelo Ministro da Defesa interino e Comandante da Marinha, Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto. A homenagem foi realizada no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes - CEFAN, no Rio de Janeiro, e integrou a inauguração do Centro de Reabilitação Físico-funcional do CEFAN. O almirante Julio Soares de Moura Neto justificou a homenagem. "Essa medalha é um reconhecimento da Marinha e do Corpo de Fuzileiros Navais ao trabalho do Nuzman pelo esporte brasileiro. Estamos às vésperas de realizar os V Jogos Mundiais Militares, em julho de 2011, com pelo menos 220 atletas

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em 13 modalidades, e essa preparação inclui atletas que lutarão por uma vaga nos Jogos Olímpicos de Londres 2012 e depois em 2016, aqui no Brasil. O período de revitalização pelo qual passa o CEFAN simboliza o compromisso da Marinha com o nosso esporte. E dentro desse amplo trabalho gostaríamos de ressaltar o papel do Nuzman para o esporte brasileiro", destacou. 143

As entrelinhas desse acontecimento trazem importantes pontos para nossa

análise, sendo que o primeiro deles diz respeito à grandiosa obra de reestruturação e

modernização realizada no Centro de Educação Física da Marinha, para atendimento à

agenda dos Jogos Mundiais Militares no Rio de Janeiro, no mesmo período em que o

cartola brasileiro recebe a premiação. Essa obra, que os militares da Marinha Brasileira

chamam de “revitalização”, transformou o local que já possuía uma grandiosa estrutura

para o treinamento de várias modalidades esportivas, como já relatado no capítulo anterior,

em uma dispendiosa superestrutura que custou aos cofres públicos, sendo descentralizados

do orçamento dos JMMs, R$ 1.950.000.000144, composta por um parque aquático com

tanque para saltos ornamentais e uma piscina de 50m aquecida, ginásio poliesportivo

climatizado, pistas de atletismo, dois campos de futebol e quatro quadras de vôlei de praia,

acomodação contando com 394 leitos, divididos em alas masculina e feminina, e serviço de

reabilitação físico-funcional para os atletas, salas de condicionamento físico e musculação,

primeiros socorros, tratamento médico, fisioterapia e massagem, além de área de descanso

e restaurante e ainda uma sala de reuniões com equipamentos multimídia e sala privada

para a gerência da delegação.

Questionamos, tanto o valor investido quanto a modernização feita no CEFAN,

porque, até onde sabemos, a Marinha do Brasil não desponta como formadora de atletas

com alta expressão no cenário Nacional Esportivo e muito menos no mundial, que

justifique tamanha estrutura e gasto, ao contrário, o que pode ser visualizado, inclusive na

página oficial do Centro Adalberto Nunes, no site oficial dos Jogos Olímpicos e

143 Matéria na íntegra no endereço eletrônico disponível em: http://www.cob.org.br/noticias-cob/marinha-condecora-nuzman-com-a-medalha-do-mrito-desportivo-militar-012418. Acessado em 21/08/2013. 144 Informação retirada do endereço eletrônico: http://www.camara.gov.br/internet/Comissao/index/mista/orca/tcu/PDFs/Acordao21572011-TCU-Plen%C3%A1rio.pdf, página 13. Acessado em 22/08/2013.

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Paralímpicos, no Brasil, no qual figura como um dos locais de pré-treinamento do chamado

“Time Brasil”, são os nomes de atletas civis do alto rendimento brasileiro incorporados à

Marinha pelo Programa Atletas de Alto Rendimento, como: Jadel Gregório e Ana Claudia

Lemos, do atletismo, e Tânia Maria Pereira Ribeiro (Tânia Maranhão) e Andréa dos Santos

(Maycon) do futebol feminino 145. O presidente do COB, na mesma solenidade em que foi

condecorado, fez questão de deixar claro em seu discurso que sua ligação com a Instituição

não é recente, o que pode nos remeter ao pensamento de que a premiação também foi

concedida ao dirigente em agradecimento pela oportunidade única e nunca imaginada dada

a inexpressividade do Esporte Militar no campo esportivo brasileiro para se tornar sede de

uma edição dos JMMs:

[...] Tive um grande incentivador no esporte, que foi o Almirante Trancoso, pai de um grande amigo meu. E foi durante uma visita ao Colégio Naval, em 1954, que percebi o esporte como um caminho para a minha vida. Tenho também uma relação muito próxima com o CEFAN, pois além de estar presente na sua inauguração, foi aqui que a Seleção Masculina de Vôlei, da geração de Bernard, Renan, Montanaro e tantos outros, realizou a preparação que geraria uma série de títulos para o voleibol brasileiro. Esta homenagem me faz reviver meus primórdios como atleta e como dirigente. ‘Estou muito emocionado e honrado em receber esta medalha’, afirmou Nuzman.

Dois anos mais tarde, em maio de 2013, o COB aparece novamente em uma

solenidade, ao lado das Forças Armadas, quando assina com a Marinha do Brasil um

convênio para a utilização do CEFAN para treinamento de quatro modalidades olímpicas

brasileiras, o nado, o tiro, o polo aquático e a vela. Ficava assim então comprovado que o

planejado pelo dirigente seguia seu curso normal, quando o treinador da equipe de Vela do

Brasil, o medalhista olímpico Torben Grael, filho do ex-presidente da CDFA – Comissão

Desportiva das Forças Armadas Dickson Melges Grael - e aliado de Nuzman, frisou que o

local seria de suma importância para a preparação dos atletas brasileiros, principalmente os

seus, dizendo que o local: “Tem tudo o que a gente precisa num centro de treinamento. Na

vela, o fator casa é muitíssimo importante”.

145 http://www.rio2016.com/pregamestraining/pt/centro-de-educacao-fisica-almirante-adalberto-nunes-cefan. Acessado em 22/08/2013.

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No ato de assinatura do convênio, Nuzman, fazendo uso de uma das suas maiores

qualidades, a dissimulação, e a falsa “humildade”146, agiu com surpresa como se de nada

soubesse e que o projeto para a utilização de tal estrutura fosse novidade, quando ressaltou

que a Marinha: “[...] conta com locais de treinamento para várias modalidades e estão

disponibilizando isso para o COB somente agora”. E ainda complementou: “O próximo

alvo é a Aeronáutica por meio do uso da Universidade da Força Aérea, em Sulacap, na zona

oeste, por atletas do atletismo”. Uma das provas de que a reforma das estruturas do CEFAN

aconteceu para abrigar as competições dos JMMs, porém visando os Jogos em 2016,

encontra-se no próprio acordo que estabeleceu a utilização do Centro até o fim dos Jogos

Olímpicos em 2016, tendo como contrapartida do COB, porém, como sabemos, saindo dos

cofres públicos, pelo uso das instalações um investimento na área de infraestrutura da

ordem de R$ 350 mil, em 2013, sendo este valor repetido nos anos seguintes até o final dos

Jogos. 147

O próprio site oficial dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Brasil confirma a

informação de que: “O CEFAN será utilizado como instalação oficial de treinamento

durante os Jogos Rio 2016™, e seu uso como local de treinamento Pré-Jogos só será

permitido até 31 de março de 2016, período a partir do qual a instalação passará a ser

utilizada pelo Rio 2016™” 148.

A saga do Comitê Olímpico Brasileiro juntos aos militares segue caminho e,

como acontecido com a Marinha, o próximo alvo seria o Exército Brasileiro, quando em 1º

146 A falsa humildade Nuzman pode ser vista em entrevista transcrita pelo jornalista José Cruz em seu blog no dia 01 de dezembro de 2012, quatro meses após o vexame brasileiro na Olimpíada de Londres, o cartola brasileiro expressa que: “Sem querer ser arrogante nem melhor ou pior do que ninguém, é preciso lembrar que não havia e não há ninguém tão preparado para esse cargo (presidente do COB) como eu”146. Advogando em benéfico próprio, o dirigente ainda se posiciona em mão contrária a projetos de lei que tramitam no Congresso nacional, que limitam o tempo de duração dos mandatos dos dirigentes esportivo argumentando: “[...] não concordo com a iniciativa. O que é bom e está dando certo não deve mudar. Na ditadura militar, queriam limitar o mandato dos presidentes de confederações esportivas a três anos, renováveis por mais três, não funcionou. Certas batalhas levam tempo para ser vencidas e demandam experiência. É o caso da conquista da organização de uma Olimpíada. Comecei a plantar essa semente lá atrás, há mais de uma década”. 147 Matéria na íntegra no endereço eletrônico: http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2013/05/1278063-forcas-armadas-viram-tabua-de-salvacao-para-os-esportes-no-rio.shtml. Acessado em 17/05/2013. 148 http://www.rio2016.com/pregamestraining/pt/centro-de-educacao-fisica-almirante-adalberto-nunes-cefan. Acessado em 21/08/2013.

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dezembro de 2011, apenas sete meses após o término dos JMMs, foi selado um acordo

entre ele e o Comitê para a utilização da EsEFEX, assim noticiado pelo Jornal Estadão:

O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e o Exército assinaram nesta quinta-feira um protocolo de intenções para a utilização da Escola de Educação Física (EsEFEx), na Urca, na zona sul do Rio de Janeiro, como centro de treinamento de parte da delegação brasileira para os Jogos de 2016. O acordo é uma extensão da parceria entre as entidades, que começou com a militarização de atletas de ponta para a disputa - e consequente conquista do 1.º lugar - dos Jogos Mundiais Militares deste ano, realizados na capital fluminense. A EsEFEx, que fica dentro da Fortaleza de São João, terá capacidade para receber 14 esportes dos 28 que serão disputados nos Jogos do Brasil como atletismo, judô, esgrima, vôlei e todos os esportes aquáticos. Os demais esportes ficarão em centros "pulverizados". "É o único centro de treinamento do mundo com duas praias e aos pés de um dos maiores símbolos do Rio de Janeiro, o Pão de Açúcar", disse o superintendente de Esportes do COB, Marcus Vinícius Freire.

A matéria de jornal acima traz uma importante informação para nossa análise,

apesar da forma acrítica com que noticiou a ligação do Comitê Olímpico Brasileiro com as

Forças Armadas, por meio da criação, em 2009, do Programa Atletas de Alto Rendimento

quando foi incorporada à hoste a primeira turma de atletas do alto rendimento brasileiro,

de forma intencional e planejada, já vislumbrando o Brasil como a próxima sede dos

JMMs. Para a solenidade de assinatura do documento estiveram reunidas autoridades

interessadas no assunto, como o Ministro do Esporte, Aldo Rebelo e Carlos Arthur

Nuzman, Presidente do COB, o Comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, o

Comandante do Centro de Capacitação Física do Exército, general Fernando Azevedo e

Silva, além de atletas de alto rendimento do esporte brasileiro.

O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, como não poderia deixar de ser,

elogiou a parceria firmada entre as entidades, entendendo que essa união seria

extremamente benéfica para o esporte nacional e que o Forte era o local ideal para a

preparação dos atletas brasileiros porque contava com: “[...] um alojamento de 140 leitos e

outro, com 120, e está sendo construído com recursos do Exército”, como se os recursos

dessa Instituição não fossem recursos públicos, advindos do Ministério da Defesa, que

recebe recursos do Governo Federal. O COB esperava que a delegação brasileira

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começasse a treinar na EsEFEx, logo após a Olimpíada de Londres. "Aqui será a casa do

esporte olímpico brasileiro e a base de preparação do Time Brasil”. O superintendente de

Esportes do COB, Marcus Vinícius Freire, um dos principais assessores de Nuzman, ao

visitar as instalações na Fortaleza de São João, ainda fez questão de frisar que:

O espaço será usado também durante os Jogos de 2016. O superintendente do COB comparou a EsEFEx ao centro esportivo Crystal Palace, em Londres, que será a base de treinamentos da delegação brasileira durante a Olimpíada do ano que vem. Até 2016, os alojamentos serão compartilhados com o Exército, mas, durante os Jogos do Rio, serão de exclusividade do COB.

Merece ainda ser ressaltado que as estruturas físicas da Escola de Educação

Física do Exército, também passaram por uma grande modernização, principalmente em

seus laboratórios de fisiologia do exercício, laboratório de biomecânica, laboratório de

psicofisiologia e laboratório de bioquímica, realizada a pedido do COB, com claro objetivo

de sua utilização para o aprimoramento das capacidades físicas de atletas de alto

rendimento, já que as estruturas do Forte seriam utilizadas como alojamento e local de

treinamento para uma parte da seleção olímpica brasileira.

Dois fatos nos chamaram atenção e ainda reforçam a “parceria” dos militares do

Exército com as entidades de administração do esporte nacional. O primeiro aconteceu

quando as modernas instalações da Escola deram espaço, em maio de 2013, a outro

parceiro histórico das Forças Armadas, a Confederação Brasileira de Futebol, que, por meio

de seu presidente, o Sr. José Maria Marin, figura conhecida dos militares, que ocupou o

cargo de Governador de São Paulo, no início da década de 80, ainda no período da ditadura,

solicitou a utilização gratuita da área pertencente ao Forte para o treinamento da seleção

brasileira de futebol em sua preparação para a Copa das Confederações que aconteceria em

junho de 2013.

Como faz parte do acordo das Forças Armadas com o COB não levantar muitos

questionamentos, o Exército atendeu ao pedido do dirigente da CBF, e demonstrou sua

satisfação em receber a seleção, o que ficou expresso nas palavras do general de Brigada

Décio dos Santos Brasil – Presidente da Comissão de Desportos do Exército: “Exército

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Brasileiro e CBF: são presenças marcantes nos campos da Glória. Mais de 40 anos de

parceria". O general ainda frisou que: “[...] essa parceria já existe há muito tempo, desde a

Copa de 1970". O Coordenador técnico da seleção brasileira e ex-militar, Carlos Alberto

Parreira, preparador físico do escrete canarinho na Copa de 70, agradeceu a gentileza de

Marin, e devolveu os elogios do general respondendo que: "Para a CBF, é um orgulho

muito grande retornar à casa que nos acolheu tão bem em 1969, um lugar que nos dá sorte".

Aos olhares mais desatentos, a gratuidade da utilização das estruturas da

EsEFEX pode ter sido apenas uma forma gentil de colaborar com o momento eufórico e de

preparação que viveu a seleção brasileira rumo à Copa em 2014. Aos mais atentos, e sob a

lente de um olhar mais crítico, esse fato reforça a parceria das Forças Armadas com as

entidades de administração do esporte nacional, como o COB e a CBF. Na verdade, o ato

do presidente da CBF causou um grande desconforto ao Exército pelo fato de outras

equipes que utilizam o local para treinamento, como a UNILEVER, do técnico

Bernardinho, pagarem R$ 8.000,00 por mês para treinar no ginásio, e o Fluminense pagar

R$ 3.000,00 cada vez que utiliza o campo de futebol da Escola.

Una-se a esse um segundo fato datado de 20 de fevereiro de 2013 que também

colocou o Exército brasileiro na mesma situação frente às citadas entidades, quando o

presidente do COB, em uma clara demonstração de poder, após uma reunião com uma

Comissão especial do COI, anunciou a mudança da realização das provas de saltos

ornamentais dos Jogos Olímpicos do Parque Aquático Maria Lenk para o Forte de

Copacabana. O que nos chamou a atenção foi o fato de que o Exército só ficou sabendo da

modificação de locais, por meio da imprensa, não sendo comunicado oficialmente nem pelo

COB, nem pelo Comitê organizador para os Jogos em 2016, que são dirigidos pela mesma

pessoa, o mandatário Nuzman. Em matéria datada de 02 de maio de 2013, o Jornal O

GLOBO traz em seu caderno especial destinado às Olimpíadas de 2016 o seguinte título de

reportagem que torna a posição do Exército ainda mais vexatória: “Só faltou combinar com

o Exército... Nuzman anunciou projeto de realizar provas da modalidade em instalação

militar sem ter solicitado às Forças Armadas”. O desfecho da decisão tomada pelo dirigente

brasileiro foi resolvido, como era de se esperar, e foi assim noticiado pelo Jornal:

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Procurado pela imprensa, o Comitê Rio-2016 informou que, após “contatos informais” com representantes das Forças Armadas, o comitê informou à comissão de coordenação do COI para os Jogos propostas de alterações de locais de competição: “A partir da concordância do COI, o Rio 2016 formalizará às partes interessadas a solicitação de uso das instalações de Deodoro para as disputas de rúgbi, hóquei na grama e basquete, além do Forte de Copacabana para os saltos ornamentais.” Ou seja: somente agora, depois de conseguir o aval do COI e de Nuzman anunciar o que não estava acertado, é que o comitê organizador da Rio-2016 vai formalizar, junto ao Exército, o pedido de cessão de novos espaços para modalidades, como rúgbi, hóquei, basquete e saltos ornamentais.149

A questão da modernização e ampliação das estruturas esportivas em áreas

pertencentes às Forças Armadas e a disputa de poder aí existente deixam passar em branco

uma questão muito mais séria e ligada diretamente às grandes quantias em recursos

públicos investidos nesse processo e que fazem aumentar os questionamentos acerca dos

supostos legados deixados pelos JMMs à população do Rio de janeiro. Se tomarmos como

exemplo que a reforma dessas estruturas foi realizada, segundo normas estabelecidas pelo

Comitê Olímpico Internacional, visando os Jogos Olímpicos e o treinamento de atletas de

alto rendimento, chegaremos à conclusão de que os equipamentos esportivos colocados

nessas estruturas são de alto nível, com custo elevado, e passam então a não ser de acesso à

população local. Como a população, que deveria ser a principal beneficiada pelos legados,

poderia usufruir de tais benefícios? O professor visitante da Universidade Federal

Fluminense, Chrys Gaffney, que também integra o Comitê Popular da Copa e das

Olimpíadas do Rio traz uma importante contribuição ao debate, dizendo que essa questão se

trata de um

[...] processo de exclusão em vários sentidos. Exclusão no acesso ao lazer, já que o Rio está investindo apenas na construção de equipamentos de alto rendimento esportivo, e não há recursos para espaços e equipamentos de recreação para a população, tampouco investimento no esporte de base. O COB tem mandado atletas para os EUA e outros países para treinar para as Olimpíadas, em vez de investir em equipamentos aqui, para

149 Matéria na íntegra no endereço eletrônico: http://oglobo.globo.com/topico-rio-2016/so-faltou-combinar-com-exercito-7643596. Acessado em 22/08/2013.

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democratizar o esporte, oferecer oportunidades para toda a população. Dessa forma, vemos uma exclusão da participação popular no esporte150.

Em direção contrária à afirmação de Gaffney, tanto os militares quanto o COB,

alegaram, quando sabatinados na Comissão de Desporto e Turismo da Câmara dos

Deputados, em maio de 2011, e questionados sobre quais seriam os legados materiais

deixados pelos JMMs, que “[...] a infraestrutura para os Jogos Olímpicos de 2016 foi

melhorada – e esse é o legado material, aguardemos para ver o que será aproveitado daqui a

5 anos – e além disso, as Forças Armadas querem dar ênfase ao treinamento físico como

ferramenta de desenvolvimento esportivo e de inclusão social”, afirmou o presidente da

CDMB, o Vice-almirante Bernardo José Pierantoni Gambôa. A afirmação do Vice-

almirante enfatiza, acima de tudo, que o projeto Rio-2016 é o foco principal e ainda reforça,

mais uma vez, que as Forças Armadas se posicionaram estrategicamente, em nome de algo

que só existe no seu imaginário, num forjado primeiro lugar, tendo como protagonistas

atletas do alto rendimento nacional, credenciando, assim, os militares brasileiros a

figurarem no cenário esportivo nacional e internacional, de forma protagônica.

O discurso do presidente da CDMB ainda é reforçado e ecoa em meio a seus

subordinados, como comprovado na fala do Coordenador Geral do JMM, o General de

Brigada, Jamil Megid Jr.: “Olhando os benefícios para todas as comunidades que estão no

entorno dos quartéis onde foram realizadas algumas competições, o legado é a

infraestrutura esportiva, com as construções e remodelações que fizemos.” E reforça

demonstrando sua total alienação, ou, na verdade, confirmando o discurso combinado,

dizendo que o importante foi o estabelecimento da

[...] parceria com o Comitê Olímpico Brasileiro na preparação de atletas olímpicos militares que também vão servir às seleções nacionais. Daqui para frente, ao colocar a nossa tropa para treinar em espaços mais adequados, com equipamentos esportivos de última geração, vamos favorecer a preparação física do militar e sua eficiência em combate. Portanto, valeu plenamente o esforço.

150 Jogos Mundiais Militares: legado do Pan-Americano ou legado de exclusão? Retirado do endereço eletrônico: http://observatoriodasmetropoles.net/index.php?option=com_content&view=article&id=1719&catid=45&Itemid=88&lang=pt. Acessado em 24/08/2013.

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Percebemos que, em nenhum momento, tanto na fala dos representantes das

Forças Armadas quanto na fala dos dirigentes do COB, fica claro que exista uma real

procupação com o valor em dinheiro público investido na realização dos Jogos, ou, pelo

menos, na forma como a população poderia ser beneficiada pela modernização das

estruturas, apesar de o discurso oficial insistir, de forma incoerente, em desmentir a

realidade dos fatos, o que pode ser facilmente percebido nas passagens acima descritas.

Percebe-se também que o discurso é algo ensaiado, combinado, em dois coros, e sempre

traz como tônica a realização dos Jogos Olímpicos e seus possíveis benefícios ao país, e,

mesmo assim, sabedores desse objetivo, os militares brasileiros parecem não se incomodar

com a situação, mesmo porque também foram, e muito, beneficiados pela parceria

estabelecida com o Comitê Olímpico Brasileiro e o Ministério do Esporte.

Se olhados por essa ótica, tanto o CEFAN quanto a EsEFEX figuram com

extrema importância para os planos do Comitê Olímpico Brasileiro, principalmente para o

objetivo para o qual foram remodelados, ou seja, como locais de treinamento para os atletas

de alto rendimento do chamado Time Brasil que visou, em curto prazo, os Jogos de

Londres, em 2012, e, em médio prazo, os Jogos do Rio, em 2016, e não para o treinamento

de militares de carreira que sempre participaram de competições militares, tanto no Brasil

como no exterior, e nunca mereceram destaque dentro do contexto esportivo brasileiro, fato

que pode ser comprovado pela própria mídia especializada que, em raríssimos momentos,

noticiou algo significante sobre o Esporte Militar Brasileiro.

A ideia de que tanto o Centro de Educação Física Adalberto Nunes quanto a

Escola Superior de Educação Física do Exército pouco poderiam contribuir, se, analisadas

pela ótica do negócio imobiliário e do desenvolvimento urbano, principalmente por já

possuírem edificações em locais tradicionais e históricos, como é o caso do Forte de São

João, nos levou a indagar: onde estaria o benefício direto dos Jogos Mundiais Militares

para as entidades empresariais que endossaram a candidatura brasileira para a vinda dos

megaeventos esportivos para o Brasil? Qual seria a moeda de troca?

Em busca de respostas ao nosso questionamento, e, encaixando as peças do

quebra-cabeça, defrontamo-nos com algo que possui, sim, ligação com os militares, de

grande valor financeiro, e que não representava somente uma reforma ou remodelação de

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infraestruturas já existentes e que caberia perfeitamente como pretexto para reunir em um

mesmo lugar estruturas esportivas de altíssimo nível e negócio imobiliário, um lugar

perfeito para se viver e investir, e que foi visualizado tanto pelo Governo Federal quanto

pelas entidades que o acompanham, muito antes da escolha brasileira para sediar a V edição

dos Jogos Mundiais Militares, em Burkina Faso, em 2007.

3.2.1 O Complexo Esportivo de Deodoro.

No início, tratava-se apenas de uma área militar situada no bairro de Deodoro,

na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, que foi construída para atender às necessidades

do Exército Brasileiro, por sua proximidade da Vila Militar de Deodoro. No ano de 2005, o

Governo Lula comprou a área, visando transformá-la em um dos locais de provas dos Jogos

Pan-americanos, a serem realizados, em 2007, no Rio de Janeiro, quando então recebeu o

nome de Complexo Desportivo de Deodoro, custando aos cofres públicos R$ 120.000.000.

Apesar de o Brasil ter sido escolhido para sediar o Pan, em 2002, no Governo Fernando

Henrique Cardoso, a compra do Complexo se tornou para nós um forte indício de que os

planos para aquela região seriam para além de um local de competições esportivas,

principalmente se analisado por sua localização na Zona Oeste do Rio e por sua dimensão

que chega aos 2,1 milhões de metros quadrados.

O Complexo que foi apontado pelas Forças Armadas com orgulho e um dos

legados mais importantes deixados pelo Pan de 2007, sendo decisivo para potencializar a

escolha brasileira para sediar os JMMs, em 2011, foi praticamente esquecido, após a

competição latino-americana e apontado pela imprensa ligada ao Governo do estado do Rio

de Janeiro, em maio de 2013, como um dos legados mais ativos do Pan de 2007, recebendo

uma competição por semana, dando ao local um status diferenciado, quando comparado

com a situação bastante diferente de outras importantes estruturas construídas com recursos

públicos e que não puderam ser utilizadas pela população. Dessas últimas, temos: o

Engenhão, principal estrutura da competição completou um ano de interdição, em março de

2014, por problemas na sua cobertura e só deverá ser reaberto no final de 2014. Ele que

custou R$ 380 milhões, mais que o quádruplo previsto no orçamento inicial, que era de R$

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60 milhões, foi construído e está sendo reformado pelo Consórcio formado por OAS e

ODEBRECHT e sua concessão até antes da interdição pertencia ao Botafogo, que paga à

prefeitura, mensalmente, um valor de R$ 450 mil, que é o custo de manutenção da Arena, e

que, na Copa, em 2014, será utilizado somente como campo de treinamento das seleções

que se hospedarão no Rio de Janeiro151.

A Arena Olímpica do Rio, que custou R$ 120 milhões, localizada na Barra da

Tijuca, que após os jogos ficou inutilizada e, apesar de ter sido construída pela prefeitura,

foi realizada uma licitação que teve como única proposta, a da GL Events até 2016. Em

2007, a Arena teve o seu nome modificado para HSBC Arena, tendo o banco HSBC

comprado os direitos do nome, por meio de licitação, em setembro de 2007, tornando-se a

maior casa de shows e de eventos corporativos da cidade152; a Marina da Glória, espaço

pertencente à prefeitura do Rio, e que deveria passar por um processo de revitalização por

meio do Grupo que adquiriu os direitos de concessão, desde 2009, por R$ 150 milhões, o

grupo EBX - MGX Marinas do ex-megaempresário Eike Batista, um dos principais

patrocinadores da campanha para trazer os Jogos em 2016 ao Brasil, volta à estaca zero, em

2014. Após os grupos comandados pelo magnata entrarem em crise financeira, a concessão

da marina passa ao Grupo BR Marinas, que terá que oficializar uma nova proposta para ter

o direito de começar as obras no local. O novo valor de concessão é mantido em sigilo.

Assim, mudarão apenas os gestores ligados a Eike, entrando os da nova controladora.153.

O Parque Aquático Maria Lenk, que custou aos cofres públicos R$ 85 milhões,

e que foi concedido ao COB, logo após o PAN, realizou poucas competições e deverá

permanecer fechado até 2015, devendo passar por um processo de modernização, pois,

segundo o COI, ele não atende aos requisitos para as competições aquáticas dos Jogos

Olímpicos154.

151 Matéria retirada do endereço eletrônico: http://espn.uol.com.br/noticia/398941_um-ano-sem-engenhao-prejuizo-promessas-e-mais-obras-relembre%20%20-%20%20engenhão. Acessado em 30/05/2014. 152 Disponível em: http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/noticia/2013/05/legado-do-pan-arena-olimpica-vira-casa-de-shows-e-pouco-ve-esporte.html. Acessado em 30/05/2014. 153 Matéria na íntegra em: http://tnonline.com.br/noticias/economia/34,242738,13,02,marina-da-gloria-continua-nas-maos-de-eike-batista.shtml. Acessado em 30/05/2014. 154 Matéria na integram em <http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/Jornal/Cidade/Rumo-a-2016.-E-onde-esta-o-legado-do-Pan%3F-3626.html#.U4i4dv5OXrc> Acessado em 30/05/2014.

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Completam a lista: a Vila Olímpica, que, após a competição, teve suas 1480

moradias vendidas à população do Rio de janeiro, e que enfrenta sérios problemas

estruturais, como ruas afundadas, falta de áreas esportivas em condições de uso e

rachaduras nas moradias; o Velódromo do Rio, que custou R$ 14 milhões aos cofres

públicos e que esteve ameaçado de demolição, assim como o Estádio Célio de Barros e o

parque Aquático Júlio Delamare, e não será utilizado nos Jogos Olímpicos por não estar

adequado às normas do COI, dando lugar a uma moderna estrutura localizada no Parque

Olímpico, com orçamento previsto em R$ 136,9 milhões, praticamente 10 vezes mais do

que custou a estrutura anterior para atender aos Jogos Pan-Americanos de 2007, e cujas

obras começaram com 4 meses de atraso, iniciando em fevereiro de 2014155; o Estádio de

Remo da Lagoa que não possui garagens suficientes para abrigar as embarcações e os

atletas, necessitando de modernizações para atender aos Jogos em 2016.

E, ainda, o Complexo do Maracanã, no qual foi gasto mais de R$ 1,3 bi,

incluindo as estruturas temporárias, praticamente reconstruído o estádio para o Mundial de

Futebol em 2014, e que necessitará de futuras modificações para atender aos Jogos em

2016. Em janeiro de 2014, o Governo do estado do Rio e a Complexo Maracanã S.A.,

grupo formado pela empresa IMX de Eike Batista e pela empreiteira Odebrecht,

oficializaram um aditivo ao contrato original de concessão que previa a demolição do

Parque Júlio Delamare, do Estádio Célio de Barros, o Museu do Índio e a Escola Municipal

Friedenreich, para a construção de estacionamentos e lojas. O contrato fechado com a

Concessionária é de 35 anos, sendo pagas 33 parcelas de R$ 5,5 milhões, totalizando R$

181, 5 milhões156.

Dessa forma, logo após os Jogos Mundiais Militares, o Complexo Esportivo de

Deodoro, de maneira diferenciada de outras áreas militares que apenas receberam reformas

e remodelações em suas estruturas, como o CEFAN e a EsEFEX, recebeu a primeira de

155 Rio inicia obra de velódromo para os Jogos Olímpicos em 2016. Matéria no endereço eletrônico: http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,rio-inicia-obra-de-velodromo-para-os-jogos-olimpicos-de-2016,1135395,0.htm. Acessado em 29/05/2014. 156 Uol esportes. Disponível em: http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2013/05/09/grupo-de-eike-vence-licitacao-e-assume-maracana-ainda-este-mes.htm. Acessado em 30/05/2014.

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várias investidas que viriam do COI e do COB que, em nome do cumprimento da agenda

Rio-2016, exigiram a alteração de seu nome de Complexo Esportivo de Deodoro para

Parque Olímpico de Deodoro. Nota-se que existe uma sequência de acontecimentos que

obedecem a um planejamento, desmentindo, assim, a ideia de que as coisas aconteceram

por mero acaso, ou de hora para outra, e que pela grandiosidade da trama e pelo nível dos

atores envolvidos, nos esclarece que a pouca divulgação dos Jogos Mundiais Militares, a

forma silenciosa de como ele veio e se foi, e o silêncio da imprensa esportiva brasileira,

salvo raras exceções, também fez parte desse planejamento, pois, se assim não fosse,

poderia levantar suspeitas e questionamentos junto à população brasileira.

A partir de então, a humilde região de Deodoro na Zona Oeste do Rio de Janeiro

que se encontra entre a linha férrea da RFFSA e as áreas militares se tornaria

[...] a segunda região mais importante dos Jogos depois da Barra da Tijuca. Atualmente abrange cinco instalações que desde 2007 receberam 250 competições – média de praticamente uma a cada semana –, além de projetos de categoria de base do pentatlo moderno e do judô. São elas: o Centro Nacional de Tiro Esportivo, o Centro Nacional de Hipismo, Centro de Pentatlo Moderno, Centro de Hóquei sobre Grama e o Ginásio de Judô. Para 2016, a obra mais complexa será a raia da canoagem slalom, dentro do Parque Radical. A construção vai reproduzir a correnteza de um rio e precisa ser a primeira a sair do papel. Também fará parte do Parque Radical a pista de moutain bike, provisória, e a de BMX, definitiva. Depois dos Jogos, o local deverá ser licitado para a iniciativa privada para exploração comercial157.

Em busca de tal objetivo, em maio de 2012, o Ministério do Esporte não perdeu

tempo e agiu com avidez, firmando um acordo de cooperação técnica com o Governo do

Estado do Rio de Janeiro e a APO (Autoridade Pública Olímpica), para a elaboração de um

relatório denominado Sports Client Brief, um relatório que apresentaria, então, todas as

modificações desportivas desejadas para adequar o Complexo ao atendimento das

necessidades dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. Essa parceria recebeu um

investimento da ordem de R$ 39.330.608,96 do Governo Federal, via Ministério do

Esporte, por meio do Convênio nº 776444, para que fosse realizado o estudo e 157 Retirado do endereço eletrônico: http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/noticia/2013/05/legado-do-pan-mais-ativo-deodoro-recebe-uma-competicao-por-semana.html. Acessado em 16/05/2013.

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confeccionado o relatório, de acordo com as normas do COI. Ficou estabelecido no

Convênio, como não poderia deixar de ser, que, em atendimento aos anseios das entidades

empresariais que avalizaram o projeto olímpico, algumas áreas do Parque Olímpico de

Deodoro que foram construídas para apoiar as modificações nas estruturas esportivas já

existentes, seriam destinadas à exploração comercial, após os Jogos de 2016.

O Documento deixa clara sua utilidade e cita que o principal objetivo dessa

reestruturação atende às modificações necessárias à realização dos Jogos Olímpicos de

2016, consolidando, dessa forma, o suposto legado dos Jogos, com a previsão de sua

utilização como área residencial, comercial, misto de instalações esportivas e institucionais:

“[...] mantendo a destinação das áreas jurisdicionais ao comando do Exército”.158 Este

documento, o Sports Client Brief, confirma a tese central deste estudo que afirma em sua

parte introdutória a existência de uma sintonia entre a vinda de megaeventos esportivos

para o Brasil e o crescimento do país, alinhada à compreensão de planejamento e

desenvolvimento urbano centrado no mercado imobiliário e turístico. Após as modificações

previstas, o Parque Olímpico de Deodoro contará com uma superestrutura, contendo as

seguintes instalações esportivas:

- Centro Nacional de Hipismo

- Centro Nacional de Tiro Esportivo

- Parque Radical, que inclui:

- Centro Olímpico de BMX (Ciclismo BMX)

- Parque Olímpico de Mountain Bike (Ciclismo Mountain Bike)

- Estádio Olímpico de Canoagem Slalon

- Domínio Comum do Parque radical

- Centro Aquático de Pentatlo Moderno (Pentatlo Moderno)

- Hipismo Combinado (Pentatlo Moderno)

- Domínio Comum do Pentatlo Moderno

158 Documento intitulado Sports Client Brief, sexta versão, outubro de 2012, Rio de janeiro, Brasil.

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- Arena de Deodoro (Esgrima e Pentatlo Moderno)

- Centro de treinamento de Hóquei sobre grama (Competição Paralímpica de futebol de 5 e

de 7)

- Live Site

- Acomodação para técnicos e oficiais.

Completando o projeto, serão ainda realizadas obras para uma completa reforma

de infraestrutura no transporte (incluindo novas estradas e duas Vias Expressas para ônibus,

BRT – Bus Rapid Transport, chamadas Transbrasil e Transolímpica159) e ainda na conexão

com a linha de trem existente, a reforma das três estações que atendem as regiões: Deodoro,

Vila Militar e Magalhães Bastos, tudo para atender aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de

2016.

Neste ponto, a diferença entre os interesses com a realização dos Jogos

Mundiais Militares para o Brasil e para as Forças Armadas está clara: para o Brasil, em

atendimento à política adotada pelo Governo Lula, visando à inserção estratégica do país no

cenário mundial e ao estabelecimento de uma sincronia entre a agenda definida pelos

segmentos conservadores do campo esportivo brasileiro e a nova ordem político-econômica

mundial, tornava-se necessário posicionar estrategicamente o Esporte Militar brasileiro

nesse cenário, colocando-o a serviço dos Jogos Olímpicos de 2016, principalmente pela sua

visibilidade e representação como a terceira maior competição esportiva do planeta. Para os

militares, a realização dos Jogos Mundiais Militares, no Brasil, e o primeiro lugar

alcançado, significava a conquista do tão almejado espaço no campo esportivo brasileiro,

dando, assim, ao Esporte Militar, que sempre ocupou um lugar secundário na política

esportiva brasileira, visibilidade no cenário internacional e o estabelecimento de parcerias

com o Ministério do Esporte e o COB.

Deve-se ter clareza de que, tanto o projeto para o Complexo Olímpico de

Deodoro160 quanto para os demais locais destinados à produção da cidade olímpica cumpre

159 Via de 23 Km de extensão na Avenida Marechal Fontenelle, em Sulacap, que ligará a Barra da Tijuca a Deodoro, com pistas para carros e sistema BRT. 160 A partir do momento em que se define o projeto para o Parque esportivo de Deodoro, hoje Parque Olímpico de Deodoro, as atenções se voltam para essa área da cidade do Rio de Janeiro, habitada por uma

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o esperado dentro de uma visão mercadológica do espetáculo urbano, de reorganização dos

espaços públicos e de que se percebeu na vinda de megaeventos esportivos para o Brasil

uma grande oportunidade para um negócio extremamente rentável, moderno e atraente,

como devem ser as cidades que realizam tais eventos. Na ocasião, essas cidades se

transformam em cidades-empresas e em um importante instrumento de legitimação e

coesão social. O caso do bairro da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro é um caso típico

de uma oportunidade de negócio que não poderia passar em branco e que só chamou a

atenção depois de divulgado o projeto para o Parque Olímpico de Deodoro. Prova disso foi

a matéria noticiada pelo Jornal O GLOBO, no dia 05 de maio de 2013, assim intitulada:

“Palco dos Jogos, Deodoro ganha atenção após anos de abandono”. E assim continua:

Na lista das quatro grandes áreas do Rio que receberão os Jogos Olímpicos, figura ao lado de Barra da Tijuca, Copacabana e Maracanã um bairro que há muito tempo está fora do mapa da cidade, ao menos no que se refere à atenção do poder público. Espremido entre a linha férrea e vastas áreas militares, Deodoro convive com esgotamento sanitário precário, vias mal conservadas, ausência de equipamentos culturais, rios poluídos e enchentes nos períodos de chuva forte. Com 43,2% de seus 9.354 moradores vivendo com uma renda entre meio e dois salários mínimos e outros 41,5% dependendo de benefícios do governo, o bairro começa a atrair os holofotes no momento em que se define o projeto do Parque Olímpico de Deodoro, palco de nove modalidades em 2016. E vive a expectativa de, apagada a tocha olímpica carioca e desmontadas as

população de baixa renda que vive basicamente dos Programas sociais do Governo Federal, e de uma renda de no máximo dois salários mínimos. O potencial da área militar, que pertence à união, e, portanto, não pode ser vendida, se insere no processo de reurbanização e de gentrificação da região, motivado principalmente pela Transolímpica que ligará Deodoro a Barra da Tijuca (coração dos Jogos em 2016). Visando minimizar o processo de desapropriações, no caminho da via, foi realizado após pressão de moradores dos bairros envolvidos, um acordo entre os militares e a Prefeitura da cidade alterando o traçado do BRT, que passaria então por dentro de áreas militares em Deodoro, o que não evitaria a desapropriação das famílias de militares que habitam no local. Ficou também acordado que seria desmatada uma grande área de mata Atlântica, num total de 200.000 hectares, motivo este explicado pelas autoridades locais como de utilidade pública, portanto, permitido e amparado por lei federal, e, como sendo a solução para que não haja a necessidade de mais desapropriações nos bairros do entorno de Deodoro, que ficam no caminho da construção da via expressa. Para Mendes (2010), o conceito de gentrificação utilizado por Neil Smith se dá por meio de um processo de “filtragem social” da cidade. Vem desencadear um processo de recomposição social importante em bairros antigos das cidades, iniciando um processo que opera no mercado de habitação, de forma mais vincada e concreta nas habitações em estado de degradação dos bairros tradicionalmente populares. Correspondendo à recomposição (e substituição) social desses espaços – tradicionalmente da classe operária/ popular – e à sua transformação em bairros de classes média, média-alta – não se pode deixar de referir, por conhecimento desse processo de “substituição social”, o reforço da segregação sócio-espacial, que na sua sequência parece aprofundar a divisão social do espaço urbano.(MENDES, 2010, p.23)

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estruturas temporárias dos Jogos, encontrar mudanças definitivas em sua paisagem.161

Motivado por tal reportagem, vimos surgir o seguinte questionamento: se não

houvesse a realização da Copa do Mundo, em 2014, e dos Jogos Olímpicos, em 2016, não

haveria nenhum tipo de reorganização dos espaços urbanos, pensando em melhorias que

visassem uma melhor qualidade vida para a população? As pessoas que moram nas

redondezas de Deodoro não são merecedoras de um transporte urbano de qualidade e

condições mínimas de sobrevivência, como saneamento básico e o direito ao lazer?

Gaffney (2011) nos diz que todos os fatos que cercam a vinda de megaeventos esportivos

ao Brasil possuem um comportamento padrão, sendo que “As obras para esses eventos

esportivos não fazem parte do planejamento urbano de longo prazo para a cidade. Ao

contrário, o megaevento vira o plano estratégico da cidade. É o que chamamos

planejamento de curto prazo; planejamento para o evento em si, e não para a cidade na

totalidade do seu território”.

Sob este pensamento, o Complexo Esportivo de Deodoro, atual Parque Olímpico

de Deodoro, também recebeu para a realização dos V Jogos Mundiais Militares uma

imponente estrutura denominada Vila Verde, de responsabilidade do Exército brasileiro

que, somada à Vila Branca, também denominada Vila naval do Gandu do Sapê, em Campo

Grande, sob o comando da Marinha, e a Vila Azul pertencente à Aeronáutica, no Campo

dos Afonsos, formaram um importante legado material deixado pelo megaevento militar,

como abordado tanto no primeiro quanto no segundo capítulo deste trabalho. Pela primeira

vez na história da competição militar foram construídas estruturas específicas para alojar as

delegações dos mais de 110 países participantes, suas comissões técnicas e as equipes de

arbitragem que, nas edições anteriores, ficavam alojados na caserna.

Motivo de orgulho para as Forças Armadas, a construção das vilas faz levantar

um importante questionamento: seria realmente necessária a construção de três estruturas

avaliadas em R$ 400.000.000 retirados dos cofres públicos para atender apenas aos 09 dias

161 Matéria na íntegra no endereço eletrônico: http://oglobo.globo.com/rio/palco-dos-jogos-deodoro-ganha-atencao-apos-anos-de-abandono-8294725#ixzz2dBkiQTYy. Acessado no dia 27/08/2013.

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de competição dos JMMs? Os atletas e as Comissões Técnicas participantes dos Jogos não

poderiam ter se hospedado em hotéis, ou áreas militares da cidade do Rio de Janeiro, como

aconteceu nas outras quatro edições? Com certeza não, a não ser que o objetivo dessa

dispendiosa obra fosse outro e estivesse diretamente ligado à realização dos Jogos em 2016,

como pudemos observar nas linhas acima descritas, comprovando, mais uma vez, serem as

Forças Armadas, por meio dos Jogos Militares, uma importante forma de desonerar os

gastos do COB com os Jogos Olímpicos.

Aqui podemos perceber mais uma vez que existiu uma grande falta de sintonia

entre o discurso utilizado pelas Forças Armadas e o utilizado pelo COB, com relação à

utilização dessas estruturas após os JMMs. O complexo de prédios, segundo os militares,

seria utilizado, em um primeiro momento, para hospedagem de árbitros, comissões técnicas

e atletas, durante a realização dos JMMs, e, logo em seguida, ao apagar das luzes, seriam

destinados a militares, para compensar o déficit habitacional de militares da reserva.

Fazendo uso da palavra, o Comitê Olímpico Brasileiro disse que, após o evento militar, as

vilas poderiam ser utilizadas pelas Forças Armadas para tal intento, porém a Vila Verde em

Deodoro deveria ser desocupada próximo aos Jogos em 2016 para ser utilizada como

alojamento para oficiais técnicos e a equipe de apoio aos patrocinadores. Como isso

funciona? Entrega-se um local para moradia a famílias de militares, como forma de reduzir

o déficit habitacional e, logo em seguida, são retiradas do local, durante a realização dos

Jogos, para logo em seguida devolvê-lo ao dono?

A construção das Vilas Militares trouxe consigo uma triste realidade que se

tornou prática corrente no Brasil, principalmente quando existe o envolvimento de verbas

públicas. O TCU – Tribunal de Contas da União - abriu uma investigação contra a

Comissão Organizadora dos JMMs por questão de irregularidades nas obras, construídas

sem licença ambiental prévia, item que se faz indispensável na elaboração de projetos para

a construção de edifícios. O não cumprimento desse quesito ocasionou uma série de

dificuldades, que foram, desde a alteração do projeto de locação da obra, até o atraso em

seu início. Outras importantes irregularidades ainda foram encontradas, como a troca de

pisos realizada nas construções, sem motivo aparente, gerando gastos extras; o pagamento a

fornecedores, antes da conclusão dos serviços, sobrepreço a itens considerados em

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duplicidade e desvio de recursos em favor de instituições que estão ligadas a militares e

prestam serviços às Forças Armadas, sem licitação, o que na visão do Tribunal não se

justifica diante dos serviços envolvidos. Passemos a apresentar alguns fatos.

Em primeiro lugar, um acontecimento curioso está ligado diretamente ao

expresso nas linhas acima, quando apenas quatro meses após o término dos Jogos Mundiais

Militares, a Presidenta da República, Dilma Roussef, nomeou o Coordenador dos JMMs, o

Coronel Jamil Megid Jr., como Coordenador das Forças Armadas na questão “Segurança”,

para a vinda dos demais megaeventos que viriam ao Brasil, como a Copa das

Confederações e a Jornada Mundial da Juventude, em 2013, a Copa do Mundo FIFA, em

2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016. Durante os Jogos de Londres, em 2012, a Presidenta

deixou clara sua preferência pelo militares para realizar a segurança de tais eventos,

alegando a realização dos JMMs como um importante teste realizado e que havia tudo

ocorrido na mais perfeita ordem, o que os credenciava a tal tarefa. Essa escolha aconteceu

no exato momento em que o Coronel estava sob investigação do TCU, por causa do aluguel

de mobiliário para as três vilas militares construídas para os Jogos Mundiais Militares. Em

matéria publicada em 26 de novembro de 2012, o Jornal O GLOBO diz que o

superfaturamento teria ocorrido, quando: “[...] o Comitê Rio 2011 decidiu, no fim de 2010,

alugar o mobiliário — camas, bebedouros, cestos de lixo, travesseiros, entre outros itens —

em vez de comprá-los. Quatro oficiais foram citados pelo TCU como responsáveis

solidários, inclusive o general Jamil, na época Coordenador do Comitê de Planejamento”. 162

Perguntado sobre o acontecido, o Coronel Jamil Megid Jr. se justificou, dizendo

que a grande burocracia demorou muito para formar o Comitê que seria responsável pela

realização dos Jogos Mundiais Militares e que o prazo de sua formação até os Jogos não era

suficiente para toda a organização do megaevento militar, que seria de dois anos. O Coronel

que chefiou a Comissão Organizadora dos JMMs disse que, dada a grande carência de

pessoal “[...] dos 1.500 cargos previstos, apenas 300 foram preenchidos —, o Comitê

162 Matéria retirada do endereço eletrônico: http://oglobo.globo.com/rio/tcu-investiga-general-frente-de-megaeventos-do-rio-6840340#ixzz2dIL6OXwt. Acessado em 28/08/2013.

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Organizador Rio-2011 buscou fornecedores com ‘alto grau de confiabilidade’ para

desempenhar as tarefas”. A matéria do Jornal ainda trouxe outras importantes

irregularidades realizadas pelas Forças Armadas no que diz respeito às vilas militares:

Os gastos dos Jogos Mundiais Militares vêm sendo alvo de uma série de auditorias do TCU devido a suspeitas de irregularidades no uso de recursos. No acórdão mais recente, divulgado no mês passado, o Tribunal de Contas exigiu que dois servidores esclareçam porque supostamente pagaram duas vezes pelo mesmo serviço: o fornecimento de estacas para construir as fundações da Vila Olímpica de Deodoro, onde parte das delegações ficou hospedada. Os servidores citados no acórdão do ministro José Jorge foram o chefe da seção de Orçamentos e Custos, Luiz Alfredo Vetorini; e Eduardo Ruffo Monteiro Nunes, chefe da Comissão Regional de Obras da 1ª Região Militar do Exército.

No relatório, o TCU observou que, em um processo anterior, o órgão já havia identificado um sobrepreço de mais de R$ 2,1 milhões no contrato. Com isso, o tribunal recomendara a revisão do contrato, o que não aconteceu. Segundo o relatório, problema semelhante também foi identificado no contrato da Vila Olímpica da Marinha, que foi revisto, garantindo uma economia de R$ 3,7 milhões.

Tal investigação parece não ter incomodado muito a Presidenta Dilma que,

mesmo diante dos fatos, fez questão de escolher o Coronel para tamanha responsabilidade

diante dos próximos megaeventos que viriam ao Brasil. Na verdade, a chefe de Estado

parece ter feito vista grossa e, diante do estabelecido pela agenda Rio-2016 as coisas

deveriam caminhar como combinado, tudo no padrão FIFA e COI.

Merece ainda ser ressaltado que, no ano de 2010, ou seja, um ano antes da

realização dos Jogos Mundiais Militares, o mesmo Tribunal de Contas da União encontrou

fortes indícios de irregularidades em contratos que somam R$ 27,3 milhões, realizados sem

licitação entre o Ministério da Defesa e três instituições ligadas diretamente às Forças

Armadas, já dentro do mandato de Dilma frente à presidência da república, o que faz

aumentar sua conformidade com a escolha dos militares para coordenar a segurança dos

megaeventos citados anteriormente. Foram três os contratos colocados sob investigação do

TCU sendo que:

O de maior valor foi com a Fundação Ricardo Franco (FRF), vinculada ao Instituto Militar de Engenharia (IME), para a prestação de serviços que somam R$ 19,5 milhões. A entidade é suspeita de fraudes em várias licitações do próprio IME e do Departamento Nacional de Infraestrutura

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Terrestre (Dnit), realizadas entre 2004 e 2006, que chegam a R$ 15,5 milhões e estão sendo investigadas pelo Ministério Público Militar. Mais R$ 4,8 milhões foram destinados à Fundação de Apoio Roberto Trompowsky Leitão de Almeida. A terceira instituição contratada para os V Jogos Mundiais Militares, por R$ 3 milhões, é o Instituto de Fomento e Inovação do Exército Brasileiro (Ifiex). "Essas e outras entidades vêm prestando serviços sem licitação, fato que não se justifica diante dos serviços envolvidos (...) que, em princípio, poderiam ser licitados (...)", diz um trecho do relatório do TCU votado na semana passada.163

Continuando a saga e, ainda como parte dessa lógica, no ano de 2013, o sucesso

da realização dos JMMs no Brasil fez com que a Chefe da Nação brasileira indicasse para

dirigir os trabalhos frente à APO – Autoridade Pública Olímpica - o General Fernando de

Azevedo e Silva, ex-Diretor do DDE – Departamento de Desporto do Exército - e que

substituiu o Vice-almirante Bernardo José Pierantoni Gambôa no CDMB, em 2012, após os

JMMs no Brasil. O General ocupou o lugar do ex-Ministro Márcio Fortes que renunciou ao

cargo, em agosto de 2013, e assumiu com o dever de apresentar uma Matriz de

Responsabilidades para a realização dos Jogos Olímpicos no Brasil, matriz esta que ainda

não existe, então, faltando apenas dois anos para a realização do megaevento esportivo no

Brasil.

3.3 A expansão do esporte de alto rendimento: o verdadeiro legado socioeducacional

dos JMMs

Desde o início dos anos 40, momento em que é criado o CND – Conselho

Nacional de Desportos - por meio do Decreto-lei 3.199/41, pôde-se constatar que o esporte

brasileiro tomaria contornos nada agradáveis, principalmente quando fica claro em seu

texto que o Conselho elegeria como seus aliados diretos as Confederações, Federações e

Clubes Desportivos, com o claro intuito de levar ao campo esportivo brasileiro o mesmo

controle implantado por Vargas à sociedade brasileira. Hoje, mais de sete décadas se

passaram e a situação ainda permanece inalterada, podendo-se notar como principal

163 Matéria retirada do site do Jornal O GLOBO no endereço eletrônico: http://oglobo.globo.com/rio/tcu-investiga-contratos-assinados-sem-licitacao-para-os-jogos-mundiais-militares-2952108#ixzz2dMNkfpJj. Acessado em 29/08/2013.

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modificação nesse quadro a forma de atuação do Estado, passando, a partir do final dos

anos 80, de interventor a financiador, obedecendo, assim, ao momento político-econômico

vigente no país e no mundo. É certo afirmar que o esporte brasileiro se encontra nas duas

primeiras décadas do século XXI ainda sob o comando e os desmandos das mesmas

instituições, entidades de administração do esporte que compõem a fração conservadora do

campo esportivo brasileiro, como o Comitê Olímpico Brasileiro, a Confederação Brasileira

de Futebol, as Confederações, Clubes e Federações esportivas.

Sob essa lógica, a realização dos V Jogos Mundiais Militares no Brasil só se

justifica, se olhada sob a lente dos interesses de tais entidades, principalmente do Comitê

Olímpico Brasileiro, e de como ele poderia se beneficiar dos possíveis legados a serem

deixados, e para onde eles seriam direcionados. Seria um grande erro acreditar que os

JMMs aportaram no Brasil, de forma despretensiosa e descontextualizada, pois todas as

suas ações foram estrategicamente pensadas e executadas para beneficiar o esporte de alto

rendimento nacional e sua expansão, não só dentro das estruturas sob o comando dos

militares. O projeto é muito mais amplo e abrange também sua atuação dentro de escolas e

praças esportivas.

Portanto, ele cumpre o estabelecido pela agenda definida na ocasião da III

Conferência Nacional de Esporte e Lazer que resultou na elaboração do Plano Decenal,

corroborando o objetivo de colocar o Brasil entre as dez maiores potências esportivas

mundiais, mesmo que isso seja utópico e fantasioso, principalmente quando se espera fazer

em 10 anos o que não se conseguiu fazer em mais de 70.

Sobre esse chão, buscaremos aqui contraditar outros importantes legados

abordados pelas Forças Armadas, no capítulo anterior, como frutos da realização dos

JMMs, como o Programa Atletas de Alto Rendimento e os legados socioeducacionais,

trazendo elementos para comprovar que, nas entrelinhas do discurso dos militares, está um

projeto que se utiliza da capilaridade militar para expansão do esporte de alto rendimento

como discurso legítimo de um país que se utiliza do espírito olímpico como forma de

alienação de sua população.

A incorporação de atletas do alto rendimento nacional às Forças Armadas,

iniciado em 2009, teve dois claros objetivos: trajar uma série de atletas civis com roupas

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militares para que o Brasil não desse sequência a sua vexatória participação constatada nas

edições anteriores dos JMMs, o que deu certo, quando as Forças Armadas Brasileiras

terminam os Jogos em 1º lugar, e oferecer a esses atletas uma estrutura para treinamento

que eles não possuíam, desde o local até o custeio de viagens nacionais e internacionais. Se

não houvesse a incorporação desses atletas à caserna, o Brasil teria terminado os JMMs em

oitavo ou nono lugar, o que em nossa visão não seria nada vergonhoso e teria sido até muito

mais honroso, pois teriam participado realmente da competição apenas aqueles que vivem o

dia a dia do mundo militar e que nunca tiveram seus resultados divulgados, por não

possuírem um nome de expressão no cenário esportivo nacional, sendo muitos deles atletas

detentores de títulos mundiais em suas modalidades em competições militares, e também

não haveria a necessidade de forjar um tropa, que não pertence aos quadros militares.

É nítido que o interesse em elaborar uma delegação cooptada acontece, em

2009, no mesmo instante em que o Brasil foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos em

2016, momento em que o COB percebe uma grande possibilidade de, por meio da

realização dos JMMs, elaborar uma trama sem precedentes na história esportiva brasileira,

com o claro intuito de se utilizar das benesses que eles poderiam trazer, como a

desoneração dos gastos a serem realizados para o cumprimento da agenda Rio-2016 e o

pagamento de atletas do alto rendimento do esporte nacional. Como forma de alcançar tal

intento, tornou-se necessário elevar os padrões de desempenho da tropa, de forma muito

distinta das demais participações anteriores e seria um verdadeiro caos sediar uma edição

dos Jogos Militares e não figurar entre os vencedores.

Após o sucesso da manobra militar, pode-se constatar que a incorporação dos

atletas prossegue após a realização dos JMMs e possui, inclusive, um critério para que eles

possam continuar em seus quadros, tendo como base os resultados alcançados. Eles são

avaliados por uma equipe elaborada pelas Forças Armadas, em conjunto com o COB,

sempre após a participação em competições, tanto nacionais quanto internacionais, com

base no ranking de suas federações de origem, o que abre espaço para uma possível

dispensa, caso os resultados não sejam satisfatórios. Caso sejam, esses atletas assinam

então um contrato por um ano, que poderá ser renovado por mais seis anos, não podendo se

estender para além dos sete anos, pela própria norma da Instituição.

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Desde então, o programa denominado Atletas de Alto Rendimento ganhou uma

visibilidade especial nos planos da agenda Rio-2016, o que levou o Governo Federal, via

Ministério da Defesa, a destinar uma grande soma em dinheiro para bancar os salários dos

atletas, que variam de R$ 1.000 a R$ 3.000 mensais. A lista incluía 300 nomes, totalizando

R$ 600.000.000 por mês, uma média de R$ 2.000 reais por atleta, o que significa dizer que,

em proporção, ele supera o maior programa de apoio individual do mundo, o Bolsa-Atleta

do Ministério do Esporte, que gastou, no ano de 2011, o mesmo da realização dos JMMs,

R$ 3,7 milhões mensais, e beneficiou 3.165 atletas no mesmo ano, 2.865 pessoas a mais do

que o número total dos militares incorporados às Forças Armadas.

Abrimos aqui um parêntese para trazer alguns dados sobre o Programa Bolsa-

Atleta que, embora não seja o foco de nossa pesquisa, tornou-se uma importante fonte de

patrocínio para os atletas militares incorporados às Forças Armadas que passaram a contar

com, além de locais altamente preparados para o desenvolvimento do esporte de alto nível

pelas modernas estruturas situadas dentro das áreas militares, como o CEFAN e a EsEFEX,

com a somatória de valores advindos do Programa Atletas de Alto Rendimento e do Bolsa-

Atleta. No ano de 2013, o Programa obteve um número recorde de atendidos, que foi de

4.992 atletas de 55 modalidades esportivas e que pertencem aos programas dos Jogos

Olímpicos e dos Jogos Paralímpicos. Ainda em 2013, o Orçamento Geral da União

reservou R$ 180 milhões para pagamento da Bolsa-Atleta, sendo que as bolsas têm valor de

R$ 370 (categorias Estudantil e de Base), R$ 925 (Nacional), R$ 1.850 (Internacional) e R$

3.100 (Olímpica/Paralímpica). A lista publicada no Diário Oficial da União trouxe entre os

principais nomes os atletas Sarah Menezes - ouro nos JMMs e ouro em Londres; Felipe

Kitadai do judô - medalha de ouro nos JMMs e ouro também em Londres, em 2012; Rafael

Silva - também ouro no judô nos JMMs e bronze em Londres e Yane Marques do pentatlo-

moderno - ouro nos JMMs e bronze em Londres, todos pertencentes aos quadros das Forças

Armadas.

Em setembro de 2013, aconteceu na cidade do Rio de Janeiro o Mundial de judô,

momento em que o selecionado nacional alcançou o seu melhor resultado da história em

mundiais, conquistando sete medalhas, seis individuais e uma por equipe, sendo que todos

os pódios foram ocupados por atletas militares incorporados ao Programa Atletas de Alto

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Rendimento e que recebem benefícios advindos do Bolsa-Atleta. Para os militares, essa é a

prova concreta de que o investimento realizado na incorporação dos atletas às Forças

Armadas está dando certo, mesmo que tal estratégia se constitua como uma farsa, o que não

parece incomodá-los. Não é necessário um grande esforço para perceber que o verdadeiro

legado deixado pelo Programa, após a realização dos Jogos Mundiais Militares, não se deu

no sentido de fortalecer o Esporte Militar, mas, sim, de servir como um caminho, uma via

de acesso para desonerar os gastos do COB, com a preparação de atletas de alto

rendimento, delegando essa responsabilidade a outra instituição, que teria como motivo a

realização de um mundial militar, constituindo, assim, um caminho legítimo. Para

conhecimento, ressalta-se que a desoneração aliviaria os gastos já realizados com os Jogos

Olímpicos que, na sua previsão inicial girariam em torno de R$ 23,2 bi, mas, no momento

em que o Brasil se apresenta para sediar o evento, já ultrapassou, em 2013, os R$ 28,8 bi,

podendo alcançar os R$ 35 bi.

A desoneração somada à incorporação dos atletas inclui também outro fator,

uma forma de financiamento indireto, criando um vínculo de profissionalização164, o que

contradita a Lei 9.615/98, conhecida como Lei Pelé que, em seu artigo 44, exprime que:

É vedada a prática do profissionalismo, em qualquer modalidade, quando se tratar de:

I - desporto educacional seja nos estabelecimentos escolares de 1º e 2º graus ou superiores;

II - desporto militar;

III - menores até a idade de dezesseis anos completos.165

164 Os atletas do alto rendimento incorporados ao “Programa Atletas de Alto rendimento”, foram/são submetidos – antes de assumirem suas funções nas Forças Armadas - a um curso de formação que tem duração média de algumas semanas, cumprindo, assim, nesse período, atividades próprias do cotidiano militar. Terminado o curso de formação, eles retornam as suas rotinas de treinamento esportivo, ficando condicionados a encaminhar informações sobre o local e a frequência de treinamento às suas bases militares de origem, com vistas ao controle por parte da instituição militar. Portanto, esses atletas não cumprem a mesma rotina dos demais militares de mesma patente, circunscrevendo-a aos treinamentos esportivos e jogos, daí derivando seus soldos, conforme explicitado no próprio edital que lhes oportunizou o ingresso na vida militar.

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160

Os atletas militares que recebiam o benefício do Programa, assim como outros

atletas do alto rendimento nacional, esbarraram em um impedimento imposto pelo próprio

Programa que não permitia que fosse destinado esse recurso a esportistas com patrocínio

individual e que recebessem salário dos patrocinadores, fato que fez com que o COB, em

conjunto com o Ministério do Esporte, agisse com extrema rapidez, aglutinando forças

dentro do Congresso Nacional para que fosse criado, então, um dispositivo que legalizasse

a situação, momento em que é votada e aprovada a lei 12.395, de 16 de março de 2011, que

alterou as Leis nº 9.615, de 24 de março de 1998, que institui normas gerais sobre desporto,

e a 10.891, de 9 de julho de 2004, que institui a Bolsa-Atleta, criando então os Programas

Atleta Pódio e Cidade Esportiva e que revogou também a Lei 6.354, de 2 de setembro de

1976, que dispôs sobre as relações de trabalho do atleta profissional de futebol.

A contradição é algo que habita o discurso das entidades que comandam o

esporte nacional, pois, no mesmo instante em que o Governo investe maciçamente no

esporte de representação nacional, criando dispositivos para sua potencialização,

patrocinando muitos atletas que já se encontram encerrando suas carreiras, como muitos

dos que participaram dos Jogos Mundiais Militares, apontam como de suma importância o

investimento nas categorias de base e estudantil que supostamente seriam um investimento

em longo prazo, porém destinam um pífio investimento do benefício do Governo de apenas

R$ 370,00 por mês.

Por essa razão, a adesão de atletas do alto rendimento à hoste é tão grande, pois

a oportunidade de ingressar nas Forças Armadas, sem concurso, apenas por meio de edital e

ainda de contar com a possibilidade de ter um soldo e condições ideais para treinamento,

atraiu muitos atletas que, sem resultados expressivos em nível nacional e internacional, não

teriam nenhuma condição de conseguir o benefício do Governo Federal, que conta com

grandes nomes do esporte nacional. Se observarmos a configuração da cooptada delegação

militar brasileira, veremos que esses atletas dividem espaço com outros que estão no auge

165 Presidência da República – Casa Civil – Subchefia para Assuntos Jurídicos – Lei Nº 9.615, 24 de março de 1998. Endereço eletrônico: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9615consol.htm. Acessado em 28/08/2012.

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da carreira e que são reais possibilidades de medalhas olímpicas para o país e que, portanto,

necessitam de condições especiais de treinamento, justificando aí a grande remodelação

realizada nas estruturas esportivas dentro de áreas pertencentes às Forças Armadas, como o

CEFAN e a EsEFEX. Essa situação revela outra contradição, no momento em que se

percebe que os atletas militares incorporados às Forças Armadas, em grande parte, são os

mesmos patrocinados pelo Ministério do Esporte e que fazem parte do Time Brasil, a

seleção olímpica nacional, ou seja, em via de mão única, tudo vem e volta ao alto

rendimento.

Na verdade, o projeto é muito maior e os Programas Atletas de Alto rendimento

e o Bolsa-Atleta apenas complementam uma série de outros Programas do Governo Federal

que possuem amparo de legislação específica, buscando o seu financiamento, como a LEI

N° 10.264 de 16 de julho de 2001, conhecida como Lei Agnelo/Piva, por meio da qual se

estabelece que 2% da arrecadação bruta de todas as loterias federais do país sejam

repassados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e ao Comitê Paralímpico Brasileiro; LEI

Nº 11.438, de 29 de dezembro de 2006, conhecida como Lei de incentivo ao Esporte, que

prevê a dedução de 4% do imposto devido na declaração anual por pessoa jurídica, e 6%

por pessoa física, e que deveriam atender às seguintes manifestações, conforme disposto na

lei:

Art.2º - Os projetos desportivos, em cujo favor serão captados e direcionados os recursos oriundos dos incentivos previstos nesta Lei, atenderão a pelo menos uma das seguintes manifestações: I - desporto educacional; II - desporto de participação; III - desporto de rendimento166

Esses dispositivos legais apenas exemplificam que, quando o assunto é o

financiamento do esporte de competição, de representação nacional, as Leis sempre foram

criadas e alteradas para beneficiá-lo, como também ao grupo que o legitima, fato que pode

ser comprovado, ao longo da própria legislação esportiva brasileir. É por certo que a

166

Diário Oficial da União - Ano CXLIII No- 249-A Brasília - DF, sexta-feira, 29 de dezembro de 2006. Acessado no endereço eletrônico: http://www.esporte.gov.br/arquivos/ministerio/legislacao/lei1143829122006.pdf. Acessado dia 06/09/2012.

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entrada de Lula na Presidência da República não conseguiu romper com esse quadro,

fugindo completamente das expectativas de alguns grupos dentro do campo esportivo que

não compactuavam com a forma conservadora e absolutista com que tais entidades

conduziam o processo, como o Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte - CBCE.

Castellani Filho (2008) nos relata que o que se observou foi que os quatro anos do Governo

Lula, já em pleno 2º mandato (no 2º ano de seu 2º mandato) não foram suficientes para

romper com a barreira do esporte vinculado à sociedade de consumo, a ser apropriado por

aqueles que têm poder aquisitivo para por ele pagar.

A manutenção desse quadro demonstrou, na verdade, a ausência de um Sistema

Nacional de Esporte e Lazer, por meio do qual se vislumbrem seus objetivos e metas e que

orientem uma política esportiva que abranja todos os setores da sociedade brasileira,

valendo-se do real conceito de esporte, como um elemento da cultura e fruto da construção

social, portanto, direito de todos, incluindo também aí o esporte de representação nacional,

mas não somente ele, como tem sido. Tal ausência faz com que o domínio e a vontade das

entidades de administração do esporte se legitimem como uma política de esporte para o

país e que os recursos que deveriam ser destinados a esse Sistema fiquem totalmente à

mercê de seus planejamentos e metas. Para que a política esportiva seja eficiente, faz-se

necessária uma postura diferenciada do Governo Federal e do seu Ministério do Esporte o

que se torna muito difícil diante do quadro atual de submissão consentida por ele

apresentado e que faz com que ele caminhe a reboque de tais entidades, fazendo com que

todo o povo brasileiro também se submeta aos desmandos de um pequeno grupo que se

utiliza do Estado brasileiro apenas como agente financiador de uma política excludente e

onerosa aos cofres públicos.

Diante de tal quadro de submissão, e para que os objetivos desses grupos fossem

e sejam alcançados, o Governo Federal criou então uma série de programas que

envolveriam ações dos Ministérios do Esporte e da Educação e que somados aos programas

citados anteriormente partiriam da mesma premissa: legitimar o esporte de rendimento,

com o claro intuito de colocar o país em dez anos entre as dez maiores potências esportivas

mundiais, além, é claro, de utilização da força mercadológica que ele traz como fenômeno

social. Como via de acesso, a parceria das Forças Armadas junto a tais programas assume

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então um lugar protagônico, mas no sentido de legitimar a expansão do esporte de alto

rendmento, cedendo pessoal e suas estruturas esportivas espalhadas por todo o território

nacional. Embora já citados no segundo capítulo deste trabalho, abordaremos aqui

novamente, alguns dos principais programas esportivos do Governo Federal, como forma

de melhor exemplificar como a expansão do esporte de alto rendimento tem avançado

irmanado com o sonho olímpico brasileiro em todos os locais de prática esportiva,

incluindo, nesse bojo, a escola.

PROJETO BRASIL MEDALHAS: Tem como foco estabelecer metas, programas, ações,

necessidades e parcerias, no sentido de ampliar a possibilidade de conquista de medalhas

pela Delegação do Brasil nos Jogos Olímpicos Rio 2016. No ano de 2012, o Ministro do

Esporte, Aldo Rebelo, e a Presidente Dilma Roussef anunciaram um investimento da ordem

de 1 bilhão de reais aos já contabilizados 1,5 bilhões previstos para o próximo ciclo

olímpico.

PROJETO ATLETA DE ALTO RENDIMENTO: Tem como meta estabelecer parceria

entre o Ministério do Esporte e as Forças Armadas, no sentido de apoiar os atletas de alto

rendimento e melhorar seu desempenho, bem como na descoberta de novos talentos

esportivos, incorporando nas Forças Armadas atletas civis do alto rendimento nacional.

PROGRAMA BOLSA-ATLETA – Tem como meta atletas de alto rendimento que não

possuem patrocínio e condições para se dedicarem exclusivamente ao esporte. Por meio

dele, o governo repassa uma contribuição mensal, que varia de acordo com os resultados

obtidos pelo atleta. Em contrapartida, o beneficiado deve cumprir pré-requisitos, como estar

matriculado em instituições de ensino, participar de competições, ter vínculo com entidades

esportivas e comprovar participação em treinamentos. Os valores repassados são de R$ 300

para o nível estudantil, R$ 750 para o nacional, R$ 1,5 mil para o internacional e R$ 2,5 mil

para categoria olímpica e paralímpica.

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PROGRAMA BOLSA-TÉCNICO - Voltado a técnicos, fisioterapeutas, psicólogos e

outros profissionais de apoio ao atleta, para oferecer suporte e melhorar o seu rendimento e

também das equipes, com o foco nos Jogos Olímpicos de 2016.

PROGRAMA DE APOIO AO ATLETA - Realizado pelo Instituto Olímpico Brasileiro

(IOB), departamento de educação do COB, o PAA dará suporte e planejamento à formação

global dos atletas, com o objetivo de prepará-los da forma mais adequada para quando

deixarem o esporte de competição, assumirem uma nova atividade profissional.

PROGRAMA SEGUNDO TEMPO – FORÇAS NO ESPORTE: Tem por objetivo

assegurar a prática do esporte a crianças e adolescentes, para possibilitar o processo de

desenvolvimento e formação do cidadão, a prevenção do uso de drogas e o apoio para essas

mudanças, objetivando assegurar um novo padrão de vida, decorrente da prática de

atividades físicas e da iniciação esportiva.

PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO: Trata-se do esforço para construção de uma ação

intersetorial entre as políticas públicas educacionais e sociais, contribuindo, desse modo,

tanto para a diminuição das desigualdades educacionais, quanto para a valorização da

diversidade cultural brasileira. Por isso, coloca em diálogo as ações empreendidas pelos

Ministérios da Educação – MEC, da Cultura – MINC, do Esporte – ME, do Meio Ambiente

– MMA, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS, da Ciência e da

Tecnologia – MCT e, também da Secretaria Nacional de Juventude, passando a contar, em

2010, com o apoio do Ministério da Defesa, na possibilidade de expansão dos territórios

educativos. (BRASIL, 2011, p.06)

PROGRAMA ATLETA NA ESCOLA: Tem por principal objetivo democratizar o acesso

ao esporte no ambiente escolar, por meio da realização de competições de atletismo; o

programa atingiu, no ano de 2013, 5 milhões de estudantes entre 12 e 17 anos. Entre os

atletas potenciais a serem avaliados, estão 12 mil estudantes do Programa Segundo

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Tempo/Forças no Esporte, atendidos atualmente em mais de 100 núcleos implantados em

unidades das Forças Armadas no país.

PROJETO EDUCAÇÃO E ESPORTE: O seu principal objetivo é o de reativar os Jogos

Estudantis Brasileiros (JEB’s) e outras iniciativas, no sentido da educação complementada

pelo esporte, utilizando a estrutura e o apoio das Forças Armadas.167

PROGRAMA ATLETA PÓDIO: Criado pela Lei 12.395 de 2011, faz parte do Plano

Brasil Medalhas 2016, e se destina a beneficiar atletas com chances reais de conquistar

medalhas nos Jogos Rio-2016, para atingir a meta de colocar o Brasil entre os dez primeiros

no quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos e entre os cinco primeiros nos Jogos

Paralímpicos do Rio de Janeiro.

Tomemos como ponto de partida para nossa análise o Programa Forças no

Esporte-Segundo Tempo - instituído no final do Governo FHC e iniciado, de forma mais

sólida, no Governo Lula, com a criação do Programa Segundo Tempo, que trouxe como

premissa básica: a integração social, os cuidados gerais com a saúde, a prevenção de

situações de risco em crianças e jovens por meio da prática esportiva, valorizando a

inclusão, o desenvolvimento da cidadania e a inserção no trabalho, além do

desenvolvimento ético e moral dos futuros cidadãos. Apesar do belo discurso, na prática,

essas metas não se materializaram, deixando transparecer o seu objetivo principal, a

manutenção do modelo piramidal elaborado há décadas para o esporte brasileiro, por meio

do qual a base da pirâmide serve necessariamente para dar sustentação ao seu ápice, ou

seja, detectar talentos para o esporte de representação nacional. Contraditamos também a

tese de que o Programa tenha caráter de política pública, principalmente em concordância

com Castellani Filho (2008), quando diz que o número de crianças a serem atendidas limita

qualquer tentativa de denominá-lo como uma política pública social, além de sua ausência

167 Comissão Desportiva Militar do Brasil - https://www.defesa.gov.br/index.php/esporte-militar.html. Acessado em 04/09/2012.

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de difusão e de penetração em todo o território nacional e do pífio orçamento destinado a

sua realização.

Outro fator que deve ser considerado se dá a partir do momento em que o Plano

Decenal de Esportes e Lazer legitima a institucionalização do Desporto Escolar como meio

de atingir o objetivo de colocar o Brasil entre as dez maiores potências do esporte mundial.

Como o Programa Segundo Tempo é desenvolvido basicamente em escolas, por todo o

Brasil, o Governo encontra terreno fértil para sua utilização dentro desse ambiente, visando,

assim, a possibilidade de detecção de possíveis talentos, alunos que apresentem um possível

potencial a ser desenvolvido para o esporte de representação nacional.

Com vistas a atender à demanda, a capilaridade militar passa então a fazer parte

desse planejamento estratégico como um elemento de fundamental importância para a

disseminação da prática esportiva por todo o país, em áreas militares, fato que pode ser

comprovado na página oficial da CDMB, por meio da qual os militares exaltam sua

contribuição ao Programa, apontando que apenas no ano de 2012 o número de beneficiados

atendidos pelo Programa Segundo Tempo - Forças no Esporte - dentro de quartéis e

espaços militares, em todo o país, totalizou 10.600 crianças e jovens em mais de 100

núcleos de atendimento (conforme anexo 21), o que para nós demonstra a existência de um

quadro extremamente preocupante, pela forma de condução e os objetivos determinados

pelo Programa para a formação dessas crianças.

Balizadas por esse pensamento, as Forças Armadas, como exército pacificador,

utilizaram-se dessa mesma capilaridade para levar às comunidades, principalmente as da

cidade do Rio de Janeiro, o esporte, não como um elemento de construção social, capaz de

auxiliar na formação integral dessas crianças, mas como um forte meio de pacificação168 e

168 No ano de 2007 o Brasil foi escolhido para sediar tanto os V JMMs, em 2011,quanto a Copa do Mundo FIFA, em 2014. No mesmo ano, 2007, o Governador Sérgio Cabral, integrante do bloco que acompanharia o então Presidente Lula, em 2009, quando da escolha brasileira para sediar os Jogos Olímpicos de Verão, em 2016, assume o Governo do Estado do Rio, criando em 2008 o PRONASCI – Programa Nacional de Segurança Pública e Cidadania, e as UPP’s – Unidades de Polícia Pacificadora, com o claro intuito de pacificar as favelas da cidade do Rio ocupadas pelo poder paralelo respaldado no tráfico de drogas. Essa pacificação tinha por principal objetivo reorganizar aqueles espaços, dando a certeza de que o Rio de Janeiro, a partir de sua escolha para sediar esses megaeventos esportivos, seria uma cidade segura e boa para se investir, o que viria ao encontro do grande capital, principalmente por meio de grandes negócios imobiliários. As Forças Armadas aparecem nesse cenário em lugar protagônico, e o título de Jogos da Paz dado aos JMMs segue a mesma lógica do novo momento vivido pela cidade do Rio de Janeiro com relação à ocupação das

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controle, não só delas, mas também das pessoas que habitam nesses locais que são

constituídos por áreas com alta vulnerabilidade social e extrema carência de infraestrutura,

e que passaram pelo processo de pacificação iniciado a partir de 2008 por meio das UPPs –

Unidades de Polícia Pacificadoras - como é o caso da favela do Alemão169. Essas Unidades,

segundo Carvalho (2013, p.293), possuem um caráter de dominação e de legitimação de

[...] um novo modelo de Segurança Pública e de policiamento que promove a aproximação entre a população e a polícia, aliada ao fortalecimento de políticas sociais nas comunidades. Ao recuperar territórios ocupados há décadas por traficantes e, recentemente, por milicianos, as UPPs levam a paz às comunidades.

Assim fica clara a ligação entre esse processo de pacificação e um dos

codinomes dados aos Jogos Mundiais Militares de “Jogos da Paz”, que trouxe em suas

entrelinhas o claro intuito de mostrar que o esporte deveria adentrar esses locais como meio

de doutrinação de sua população, mostrando o Brasil ao mundo como um lugar seguro,

bom para se morar e investir vindo assim em concordância com o atendimento aos

interesses do desenvolvimento urbano, dos negócios e do mercado, como já abordado no

início deste capítulo, alicerçado pela vinda de megaeventos esportivos para o país. Inclui-se

também nesse bojo o desenvolvimento do esporte de alto rendimento como esperança de

futuro para muitos desses jovens.

Diante de tal constatação, o objetivo dessa pacificação “forjada”, que fez subir

os morros cariocas um exército pacificador, detentor de um caminho que levaria à paz, se

une à tese deste estudo, corporificando-a e demonstrando que, assim como a realização dos

JMMs no Brasil, a meta principal a ser atingida sempre foi a realização dos Jogos

favelas pelos militares, tendo como prova a realização da Corrida da Paz alguns meses antes do início do megaevento militar, por meio da qual civis e militares tiveram como percurso as comunidades pacificadas em uma demonstração de que esporte, paz e segurança devem caminhar juntos, e de que essa paz só é possível pela presença dos militares nessas comunidades. 169 Segundo Carvalho (2013, p. 287): A primeira unidade de polícia pacificadora foi instalada em dezembro de 2008 na favela Santa Marta localizada em Botafogo, zona sul da cidade. A ocupação, vocabulário utilizado pela polícia militar, foi feita pelo Batalhão de Operações Especiais (BOPE) que permaneceu na favela até a entrada de 125 policias sob o comando da Capitão Pricilla Azevedo (Cunha e Mello, 2011). A partir de então, inaugurou-se uma nova modalidade de ação executada pela secretaria de segurança pública e direcionada às favelas cariocas que atualmente já está estabelecida em 28 unidades localizadas em diferentes favelas ou conjuntos de favelas no Rio de Janeiro.

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Olímpicos, em 2016, pois os investimentos em segurança na cidade do Rio de Janeiro,

principalmente nas favelas, não se deram por acaso, mas estão ligados intimamente aos

ideais do bloco olímpico (MASCARENHAS, 2012), visando modificar a imagem da cidade

e assegurar aos comitês organizadores da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos que o Rio

de Janeiro está seguro no que diz respeito à violência (CARVALHO, 2013). A mesma

autora ainda nos chama a atenção para um fato que a muitos passou desapercebido e que

não aconteceu como mero acaso:

Não à toa, a Capitão da UPP Santa Marta integrou a comitiva oficial do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) na ocasião da 121º sessão do Comitê Olímpico Internacional em Copenhague, Dinamarca, quando fora anunciada a escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede dos jogos de 2016. Sua participação pode ser compreendida como uma espécie de aval para os organizadores das Olimpíadas de que a ação de segurança em curso na cidade estava sendo bem sucedida.

Nesse sentido, todo o planejamento realizado pelos Ministérios da Educação,

do Esporte e da Defesa, em parceria com o Comitê Olímpico Brasileiro no

desenvolvimento de vários dos programas governamentais que foram descritos neste

estudo, traz uma legitimação para o projeto de expansão do esporte de alto rendimento,

como meio de pacificação e também dentro do ambiente escolar, pautando-se na crença de

que só o esporte, atrelado à educação, poderá produzir resultados consistentes para o

desenvolvimento do nosso país. A materialização dessa legitimação pode ser vista com a

criação do Programa Atleta na Escola que reforçou ainda mais a ligação dos Projetos

socioesportivos do Governo Federal, pois ele já surgiu com o objetivo de democratizar a

prática esportiva dentro do ambiente escolar, com crianças entre 07 e 17 anos, a mesma

idade de atendimento do Forças no Esporte, focando a detecção de possíveis talentos em

uma faixa etária considerada ideal para tal objetivo.

O Portal Copa 2014, criado pelo Governo Federal para tratar de assuntos

referentes ao Mundial de Futebol no Brasil e que faz parte do site do Ministério do Esporte,

traz, de forma muito clara, quais seriam os principais potenciais atletas a serem avaliados

dentro do Programa:

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[...] os mais de 12 mil estudantes do Programa Segundo Tempo/Forças no Esporte, atendidos atualmente em mais de 100 núcleos implantados em unidades das Forças Armadas no país. “Temos no Brasil muitas crianças e adolescentes com o biotipo de atletas. O menino corre e pula. A tarefa dos ministérios do Esporte, da Educação e da Defesa é colocar isso em prática”, afirmou Aldo Rebelo. Ao estimular a formação de atletas escolares e identificar talentos potenciais, o novo programa terá reflexos no plano Brasil Medalhas, de esporte de alto rendimento, que pretende levar o país à lista dos dez melhores no ranking olímpico.170

O Plano Brasil Medalhas passa, então, a ser meta alcançada tanto pelo Atleta na

Escola, quanto pelos demais Programas esportivos desenvolvidos pelo Governo Federal

com o principal objetivo de ampliar a possibilidade de conquista de medalhas pela

Delegação olímpica nacional, que conta com um investimento da ordem de R$ 2,5 bi

advindos do Governo Federal, via Ministério do Esporte, e a serem gastos até o ano dos

Jogos, em 2016. Em contas rápidas, se pegarmos esse valor e o dividirmos pelas 17

medalhas conquistadas em Londres, em 2012, chegaremos à quantia de R$ 147 mi por

medalha, o que, em nossa visão, torna-se algo inimaginável, principalmente se tomarmos

como linha de raciocínio, por exemplo, a questão da carência de políticas públicas para o

setor esportivo nacional, incluindo aí a ausência de infraestrutura na maioria das escolas

brasileiras, sem contar com os outros inúmeros problemas sociais que o Brasil enfrenta,

como falta de saneamento básico, de escolas e de uma educação de qualidade, além de

outros tantos.

Durante a solenidade de lançamento do Programa Atleta na Escola, em maio de

2013, na qual estavam presentes os Ministros do Esporte, Aldo Rebelo, o da Defesa, Luiz

Gustavo Rabelo, o então Ministro da Educação, Aloízio Mercadante, fazendo uso da

palavra, demonstrou seu desconhecimento no que se refere tanto à importância da

Educação Física na formação e emancipação do futuro cidadão como da sua compreensão

do que seria a utilização do esporte como um fenômeno social e cultural dentro das escolas

pelo Brasil afora, quando destacou a existência de uma grande necessidade de implantar

uma cultura esportiva entre os jovens, em todo o Brasil, principalmente dentro da escola,

pois o que se está objetivando é a construção da perspectiva de um legado: “[...] das

170 http://www.esporte.gov.br/ascom/noticiaDetalhe.jsp?idnoticia=10446. Acessado em 01/09/2013.

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Olimpíadas e da Copa, que é esse espírito olímpico na sala de aula, nas nossas escolas.

Vamos adotar uma política permanente, dar um salto na atividade esportiva nas escolas do

Brasil, começando pelo atletismo”.

A mesma fala ressaltada por Mercadante também pôde ser identificada em

2008, um ano antes da escolha brasileira, tanto para sediar os Jogos Mundiais Militares

quanto os Jogos Olímpicos, em 2016, quando o então Ministro do Esporte, Orlando de

Jesus Silva, que perderia o cargo dois anos mais tarde por motivos de corrupção junto ao

Programa Segundo Tempo, concedeu uma fala ao Jornal Folha de S. Paulo, no dia 18 de

março, que trouxe a seguinte chamada para a entrevista:

Com um olho na candidatura olímpica a 2016 e outro no alto rendimento, as escolas formam um dos alicerces do plano nacional esportivo formulado pelo Ministério do Esporte. A pasta já discute com o Ministério da Educação alterações no currículo da educação física escolar para promover a massificação do esporte e, assim, aumentar a base de onde saem os atletas de ponta. Cerca de R$ 30 milhões do orçamento do Esporte neste ano serão destinados a ações nesse sentido.

O Ex-Ministro, fortalecendo essa afirmação, fez questão de ressaltar que um

dos grandes problemas do desenvolvimento do nosso esporte nacional, de uma conquista

mais efetiva de medalhas, estava no grande distanciamento do esporte de rendimento da

escola, fato, por exemplo, que não aconteceu com Londres, pois, para “[...] ganhar o direito

de organizar os Jogos de 2012, foi muito importante o trabalho que fez nas escolas. Esse foi

um dos pilares da candidatura. O Brasil pode aprender com Londres. Não existe alternativa

para massificar a prática do esporte a não ser associá-lo à educação”. E ainda

complementou: “No caso das escolas que não têm quadras, a ideia é associá-las a áreas

esportivas das comunidades ou até os clubes locais. Vamos cruzar esporte estudantil com

detecção de talentos para direcionar talentos ao alto rendimento”.

Dessa forma, o binômio Educação/Esporte tinha então traçado como objetivo

principal a potencialização dos Jogos Escolares Brasileiros (JEB’s) no sentido da educação

complementada pelo esporte, utilizando a estrutura e o apoio das Forças Armadas,

aumentando, assim, a expansão do esporte de rendimento nas escolas. Os Jogos Escolares

Brasileiros, na verdade, fazem parte da primeira etapa do Atleta na escola que visa à

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identificação de talentos esportivos, sendo a segunda a integração deste ao NEE – Núcleo

de Esporte Escolar - que acolheria os talentos, dando-lhes suporte para treinamento e

alimentação.

Já existem outras competições voltadas para o desenvolvimento do esporte de

alto rendimento no meio escolar, como os Jogos da Juventude e as Olimpíadas Escolares

que também foram potencializados, principalmente com a criação da lei Agnelo Piva, em

2001, quando o Comitê Olímpico e Paralímpico Brasileiro assumiu a realização da fase

nacional dos Jogos da Juventude que começou a vigorar em 1995, com o intuito de formar

base para o esporte de alto rendimento nacional, porque o texto da lei determinava que 10%

dos recursos das loterias deveriam ser destinados a esses Comitês e investidos no esporte

escolar. Em 2005, são criadas as Olimpíadas Escolares, fruto de uma parceria do Ministério

do Esporte, do COB e da rede Globo, e que possui as fases escolares, municipais, estaduais

e a nacional, envolvendo escolas de todo o Brasil, com o claro intuito da descoberta de

novos talentos para o esporte de representação nacional.

Como parte dessa lógica, percebemos em nosso estudo, uma movimentação que

nos chamou a atenção e passou despercebida, no exato momento em que o Ministério do

Esporte, o Ministério da Educação e o Ministério da Defesa lançaram o Programa Atletas

na Escola, em 2013, quando foi assinado um decreto que instituiu um grupo de trabalho

com representantes dos três ministérios para a criação da Universidade do Esporte. Para a

lógica estabelecida por este estudo, essa ação vinha ao encontro de tantas outras aqui já

elencadas, demonstrando uma articulação muito bem planejada do Governo e do COB,

almejando ampliar cada vez mais a formação de profissionais para o alto rendimento

nacional, agora, em nível universitário, pois todo o cenário era favorável à ação.

O objetivo da Universidade seria criar ciência para o desenvolvimento do

esporte brasileiro, aproveitando as estruturas e equipamentos utilizados nos Jogos

Olímpicos do Rio de Janeiro, o que faz por fortalecer mais uma vez a tese de que o legado

físico deixado pela realização de megaeventos esportivos no Brasil, não tem por finalidade

a população, as comunidades que residem no entorno dos locais onde foram edificadas as

estruturas, o que demonstra clara situação de submissão a grupos de megaempresários e

entidades de administração do esporte, com decisões tomadas verticalmente, sem a

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participação popular, embora o discurso de tais atores enfatizem a importância da

população nesse processo.

Essa movimentação em torno da criação da Universidade do Esporte está

diretamente ligada ao IOB, que se constitui no departamento de educação do COB para o

esporte olímpico brasileiro, cujo objetivo maior é gerar e difundir conhecimento, ao

promover uma formação profissional de alta qualidade pelo desenvolvimento de programas

de capacitação e desenvolvimento de cursos, por meio de seminários, congressos e demais

eventos acadêmicos e científicos, contribuindo de forma significativa para o

amadurecimento do esporte nacional de alto rendimento.

Sob essa lógica, ao unirmos as peças do quebra-cabeça, temos a percepção de

que a remodelação e ampliação de importantes áreas militares, como a EsEFEX, servindo

como local de treinamento para o Time Brasil, a formação e capacitação de profissionais

voltadas exclusivamente para o esporte de competição, por meio do IOB, e futuramente da

Universidade do Esporte, somadas às inúmeras investidas do COB e dos demais atores

descritos neste estudo às escolas, garantiriam ao Brasil uma formação esportiva que

contemplaria da base ao alto rendimento, o que seria um grande passo para transformar o

país em uma potência olímpica.

Assim, também, como parte dessa lógica, a Universidade deveria ser entregue

ao Comitê Olímpico Brasileiro, sob o comando de seu presidente, para a realização de um

sonho pessoal, que é ter sob seu comando uma instituição educacional em nível superior,

um objetivo nunca alcançado, fato que fez com que ele sempre tivesse uma grande

dificuldade no estabelecimento de parcerias com as universidades brasileiras.

Pôde também ser percebido que ações ligadas ao campo educacional,

principalmente ao universitário, foram realizadas nos Jogos Mundiais Militares. No ano de

2005, o Presidente Lula fez ressurgir o Projeto Rondon, agora sob a supervisão do

Ministério da Defesa, no mesmo momento em que ele parte em busca de seu segundo

mandato, retornando a comunidades mais afastadas e ribeirinhas grupos de estudantes

universitários. No ano de 2011, esse Projeto deu origem ao Projeto Rondon Esportivo que

se constituiu, como já abordado no primeiro capítulo, em uma parceria entre as Forças

Armadas e as Instituições de Ensino Superior, permitindo que os alunos dessas instituições

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pudessem participar da organização de um megaevento esportivo, ao fornecerem, de forma

gratuita, mão de obra especializada para os dias de competição dos JMMs.

A utilização da Força de Trabalho advinda das 19 IES credenciadas pelas Forças

Armadas para auxiliar na organização dos JMMs não deixou para alunos pertencentes a

elas o que poderia se constituir como um verdadeiro legado para sua formação, o

conhecimento a ser adquirido e a experiência prática na organização de um megaevento

esportivo, pois a participação deles ficou subordinada a locais pré-determinados de

realização de provas, ao serviço de socorristas, informática, fisioterapia e condução das

delegações, não lhes sendo permitido o acesso, mesmo que indireto, às questões relativas à

coordenação e gestão do megaevento militar.

Salta-nos aos olhos a percepção de que o esporte e sua extrema capacidade de

unir povos e nações, por sua grande aceitação e penetração social, poderia ser utilizado para

colocar na mesma trincheira os militares, responsáveis por um dos maiores massacres já

registrados na história brasileira, vivido durante os anos de chumbo da Ditadura Militar, e

estudantes universitários, que faziam oposição a eles, em outros momentos, unidos em prol

das aspirações do Governo e de um Ministério do Esporte comandado por um ex-

combatente dessa mesma ditadura, o Sr. Aldo Rebelo.

Diante de tais constatações, vemos corporificado, cada vez mais, nosso

pressuposto de que a realização dos JMMs no Brasil deixou, sim, um grande legado, mas

não voltado à formação socioeducacional de jovens e crianças que participam dos

programas em que as Forças Armadas figuram como parceiros do Ministério do Esporte,

como o Forças no Esporte, o Mais Educação e o Atleta na Escola, mas ao esporte de alto

rendimento nacional e um projeto que vai para além deles, constituindo, assim, uma via de

acesso para que o COB legitime, cada vez mais, suas ações não mais somente dentro do

campo esportivo brasileiro, mas, como comprovado, também dentro do campo educacional

e profissional.

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Considerações Finais

Pensar os V Jogos Mundiais Militares e as questões referentes a ele, no Brasil,

não se traduziu em uma tarefa muito fácil sob vários aspectos, principalmente pela ausência

de tradição de estudos sobre o Esporte Militar no campo esportivo brasileiro. Dessa forma,

quando chegamos a um consenso de que a realização de um megaevento militar no Brasil

mereceria ser observado sob uma lente diferenciada, tínhamos plena consciência de que o

primeiro dos vários passos a serem dados nessa direção deveria apontar, necessariamente,

para a identificação de qual seria o atual lugar do Esporte Militar na estrutura esportiva

brasileira, questionamento este que se constituiu na pergunta central desta tese, e que

acabou por motivar o objetivo, ou seja, analisar a estratégia de sua reinserção na política

esportiva brasileira, tendo os V Jogos Mundiais Militares como elemento canalizador de

suas ações no âmbito dos megaeventos esportivos.

Na busca de atingir tal intento, o estudo nos mostrou a necessidade de localizar

no cenário da década de 40 do século passado, a gênese da política esportiva brasileira, por

meio do surgimento do primeiro dispositivo legal elaborado para o esporte brasileiro, o

decreto-lei 3.199/1941, que traria em seu texto a primeira referência legal sobre o esporte

de cunho militar, já o colocando com sua organização à parte dentro da legislação esportiva

nacional. Constatamos, ainda, a partir dos estudos de Castellani Filho (1985; 1988) que, por

mais de três décadas, a legislação esportiva nacional permaneceu sem maiores alterações,

garantindo apenas as modificações necessárias para ratificar a condição hegemônica do

esporte de representação nacional. Indo nessa direção, a Lei 6.251/1971 autoriza o Esporte

Militar – tal qual o esporte estudantil – a se envolver com o chamado “esporte

comunitário”, de fato, nada mais, nada menos do que o esporte federado.

Esse processo de reconstrução de alguns importantes pontos da política

esportiva nacional e de seu diálogo com o momento político-econômico brasileiro, como

abordado no primeiro capítulo desta tese, nos mostrou que nas décadas de oitenta e

noventa, não obstante o esforço legal, a tradição clubística associativista de nossa cultura

esportiva, associada à ausência de acenos sistemáticos e regulares à prática esportiva no

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âmbito militar fez com que o Esporte Militar brasileiro se limitasse a apenas alguns poucos

campeonatos militares realizados no Brasil e no exterior, de forma esporádica.

Dessa forma, o primeiro capítulo deste estudo foi delineado para nos

encaminhar a responder o questionamento central desta tese, mostrando-nos que o lugar

ocupado pelo Esporte Militar na Estrutura Esportiva brasileira foi secundário, não vindo a

ocupar um lugar que o destacasse no campo esportivo nacional. Um rápido olhar à história

recente do Brasil ainda nos revela que nem mesmo em alguns importantes momentos da

política nacional, em que os militares figuraram como parceiros de primeira hora junto ao

Governo, como na ditadura implantada por Getúlio Vargas ao Brasil, nas décadas de 30 e

40, e, ao longo das mais de duas décadas de ditadura civil-militar, vividas pelo Brasil de

1964 a 1985, essa forma de estruturação esportiva não conseguiu um lugar protagônico

dentro do campo esportivo brasileiro, ficando praticamente ignorada em vários momentos.

Una-se a isso, ainda, o fato de o Brasil ter participado de todas as quatro edições

dos Jogos Mundiais Militares, desde a sua criação, no ano de 1995, terminando todas de

forma nada louvável, tendo ocupado um 37º lugar, em Roma, um 22º na Croácia, um 15º

em Catânia e um 33º lugar em Hydebarad, na Índia, deixando claro que tanto a história do

Esporte Militar no Brasil, quanto sua participação em JMMs, não avalizavam sua

candidatura, em 2007, na Índia, para sediar uma edição desses Jogos.

Porém, se analisada sob outra lógica, como proposto, a realização dos principais

megaeventos esportivos em solo brasileiro - incluindo aí os JMMs que são realizados pelo

CISM, instituição que ocupa o terceiro lugar em número de associados, com um milhão de

atletas, e ocupa posição de destaque junto às principais entidades de administração do

esporte internacional, como a FIFA e o COI, responde tanto a uma determinada lógica de

desenvolvimento urbano, quanto propriamente à da política esportiva, estabelecendo,

assim, uma sintonia entre os interesses do setor conservador do campo esportivo brasileiro

e a nova ordem político-econômica mundial. Encontramos aí subsídios para contradizer a

própria história do Esporte Militar no Brasil, explicando o porquê de um país sem nenhuma

tradição no esporte da caserna ter sido escolhido para tornar-se sede de uma edição dos

Jogos Mundiais Militares.

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Tendo por base a lógica acima descrita e, buscando ampliar o debate, coube-nos

reunir elementos para ratificá-la, instante em que, para tanto, visualizamos o “dia seguinte”

à realização dos Jogos Mundiais Militares, que trouxe como tônica ao nosso debate a

questão dos legados por eles deixados, caracterizando-se como o momento propício para

apresentá-los sob a lente dos principais atores envolvidos em sua realização, iniciando um

debate cujo principal ponto de discordância não se fixou na investigação de sua existência,

pois, como comprovado, eles existiram, mas em identificar a quem esses legados

beneficiaram, e com qual objetivo, já que foi investida uma grande quantia em dinheiro

público destinado pelo Governo Federal para a realização do megaevento.

Visto pela lente dos militares, esses legados significaram uma grande

contribuição ao esporte nacional, credenciando o Esporte Militar a almejar um lugar no

campo esportivo brasileiro sem precedentes na sua história. Uma análise mais aprofundada

evidenciou uma contradição presente no discurso dos principais atores envolvidos na

realização dos Jogos, as Forças Armadas, o Governo Federal e o Comitê Olímpico

Brasileiro, deixando-nos evidências para afirmar que esses legados tinham outro endereço e

apontavam para o cumprimento das ações de uma agenda que via no posicionamento

estratégico do Esporte Militar, o início de um caminho que tinha por principal finalidade a

realização dos Jogos Olímpicos, no Rio, em 2016.

Percebeu-se, então, sob a égide desse fato, a existência de uma trama muito bem

articulada, por meio da qual os legados deixados pelos JMMs traziam implicações distintas

a cada um desses atores. Para as Forças Armadas, significaram o reconhecimento do

Esporte Militar pelo campo esportivo nacional, dando a ele visibilidade internacional diante

das grandes potências militares esportivas, conquistada, principalmente, pelo resultado

alcançado no quadro geral de medalhas, por meio de uma forjada “Tropa de Elite” formada

por atletas civis incorporados ao meio militar.

Além disso, essa visibilidade se potencializou pelo estabelecimento de

importantes parcerias firmadas com o Governo Federal e com o COB, no intuito da

realização de importantes programas esportivos, como os já citados, Forças no Esporte,

Mais Educação, Atleta na Escola e o Esporte e Educação, dentre os muitos outros em que

os militares se utilizaram da capilaridade militar, da ordem e da disciplina, tão comuns ao

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meio, para contribuir com a formação do caráter de milhares e milhares de crianças, o que

se constituiu como um legado socioeducacional, mas que se apresentou com outro claro

objetivo, o de massificar o esporte, extraindo da quantidade a qualidade necessária para

atender às necessidades do esporte de alto rendimento nacional. Seguia-se, assim, a lógica

estipulada pelo modelo piramidal elaborado para o esporte brasileiro, balizado agora pelo

sonho olímpico, que motivou a III Conferência Nacional de Esporte e Lazer e a elaboração

de um Plano Decenal, cuja meta a ser alcançada era colocar, em 10 anos, o Brasil, entre as

10 maiores potências esportivas mundiais. Portanto, os argumentos levantados derrubam a

tese de subserviência das Forças Armadas, revelando a existência de um acordo no processo

de realização dos Jogos Mundiais Militares, em solo pátrio, extremamente interessante aos

anseios militares de visibilidade nacional e internacional.

Para o Governo Federal, principal financiador dos Jogos, a liberação de um

investimento na casa de R$ 1,5 bi, ínfimo, se comparado aos valores investidos com a Copa

do Mundo FIFA - 2014 e com os Jogos Olímpicos, em 2016, significou o cumprimento da

parte a ele destinada, confirmada na própria fala do Ministro do Esporte, no arranjo com as

entidades de administração do esporte nacional pela legitimação de suas ações dentro do

campo esportivo.

Não menos importante, o posicionamento estratégico do Esporte Militar

brasileiro possibilitou uma importante contribuição à agenda Rio-2016, principalmente no

que tange à lógica do desenvolvimento urbano centrado no negócio imobiliário e turístico,

que foi a utilização do Complexo de Deodoro, atual Parque Olímpico de Deodoro,

importante área militar onde se encontra o maior quartel do Brasil e a maior concentração

militar da América latina. Primeiramente, por se tratar de uma região de classe média,

situada na Zona Norte do Rio de Janeiro. Depois, por possuir uma localização estratégica,

pois essa região é cortada pela Central do Brasil, possuindo a maior estação de trem do

subúrbio da cidade, fazendo a sua ligação ao centro da cidade e outras importantes

localidades do subúrbio e da Região Olímpica ao Rio, local onde está sendo construída a

Transolímpica, uma via de 23 km que ligará a Barra da Tijuca a Deodoro, com pistas para

carros e sistema BRT.

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Ainda com relação ao Complexo Olímpico de Deodoro, nos pautamos nos

estudos de Vainer (2011) para afirmar que ele se inclui na formatação da cidade olímpica,

que prevê, na reorganização dos espaços públicos, excelentes oportunidades para negócios

rentáveis, modernos e atraentes, como devem ser as cidades que se tornaram sedes de

megaeventos esportivos, transformando-as em cidades cujas prerrogativas de planejamento

urbano passam a obedecer aos ditames da lógica empresarial em detrimento de outra

voltada aos interesses de sua população, notadamente aquela de baixa renda.

O cenário delineado a partir dessa noção de cidade nos trouxe a compreensão

de que um dos títulos dados aos Jogos Mundiais Militares, no Brasil, de “Jogos da Paz”,

simbolizado por meio de uma pomba, trazia em suas entrelinhas uma mensagem subliminar

que nos encaminhou ao entendimento de que a verdadeira paz a ser conquistada não seria

nas arenas de competição, destoando do sentido primeiro dos JMMs de levar a paz pelo

mundo, por meio de uma competição esportiva, mas estaria ligada ao processo de

pacificação e à disputa por espaço nas favelas cariocas. O domínio dessas áreas por

traficantes e gangues poderia, na visão do Governo, constituir-se em grande empecilho à

consecução de sua agenda e também do setor imobiliário, o que poderia atrapalhar a

apresentação ao Brasil e ao mundo da imagem de uma cidade do Rio de Janeiro realmente

maravilhosa, como um local com grande potencial de investimento financeiro, seguro e

bom para se viver.

Já para o Comitê Olímpico Brasileiro, entidade máxima de administração do

esporte olímpico nacional e maior representante da fração conservadora do campo

esportivo brasileiro, o “dia seguinte” à realização dos Jogos Mundiais Militares trouxe

excelentes oportunidades para cumprir o proposto por sua agenda, principalmente porque

os legados advindos da realização da edição brasileira dos Jogos Mundiais Militares se

apresentaram como importante forma de desoneração dos gastos a serem realizados com os

Jogos Olímpicos, no Brasil, em 2016. Essa desoneração pôde ser percebida principalmente

por meio da criação do Programa Atletas de Alto Rendimento, não coincidentemente criado

no ano de 2009, no mesmo ano da escolha brasileira para sediar os Jogos Olímpicos, em

2016. Esse programa incorporou atletas civis na carreira militar, com o claro intuito de

fornecer a eles condição para treinamento, viagens e salário, passando, a partir de então, a

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dividir seus períodos de treinamento e competição entre o calendário civil e o militar, muito

mais o primeiro que o segundo, visando os Jogos Mundiais Militares, no Rio, em 2011, os

Jogos Olímpicos em Londres, em 2012, os Jogos Mundiais Militares na Coreia do Norte,

em 2015, e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Rio, em 2016, como explicitado.

Pode ser somada a isso, a construção das três Vilas Militares, “Vila Verde”, de

responsabilidade do Exército brasileiro, acrescida da “Vila Branca”, também denominada

Vila naval do Gandu do Sapê, em Campo Grande, sob o comando da Marinha, e a “Vila

Azul” pertencente à Aeronáutica, no Campo dos Afonsos, que tinham o intuito de dar

hospedagem às delegações durante os JMMs, sendo, logo após seu término, cedidas a

militares da reserva, conforme a própria fala dos militares, mas que, de fato, teria como

principal objetivo alojar árbitros e a imprensa internacional, durante os Jogos Olímpicos,

em 2016, fato este que não justifica um investimento da ordem de mais de R$ 400 mi, pois

em outras edições dos JMMs, as delegações ficaram hospedadas em vilas militares e hotéis,

o que poderia ter acontecido no Brasil. Merece aqui ser ressaltado que, logo após os JMMs,

não foram encontradas maiores informações sobre as Vilas, e se realmente seguiram seu

planejamento de doação a militares da reserva, conforme anunciado, porém no que diz

respeito à Vila Verde, o projeto não foi cumprido, pois a prefeitura da cidade do Rio travou

“uma queda de braço” para que o alojamento de árbitros e da mídia internacional ficasse na

zona portuária do Rio, e, logo em seguida, solicitou do COI a modificação para a Zona

Norte, em Curicica, questão não autorizada pela entidade internacional. Portanto, a Vila

Verde não foi utilizada por militares da reserva, como também não servirá de alojamento

para árbitros e a mídia, como no projeto inicial.

E mais: a ampliação e remodelação de importantes estruturas sob a jurisdição

das Forças Armadas, principalmente as encontradas na EsEFEX, no CEFAN, e no

CCFEX, após a realização dos JMMs, em 2011, foram incorporadas ao COB por meio de

acordos assinados entre as Forças Armadas e o Ministério do Esporte, visando à preparação

da delegação brasileira, o “Time Brasil”, em sua escalada rumo a Londres, a Mungyeoung e

ao Rio de Janeiro, em 2016.

Em decorrência disso, ficou claro que o posicionamento estratégico das Forças

Armadas no campo esportivo brasileiro, por meio da realização dos JMMs, para além dos

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objetivos acima descritos, possibilitaria ao COB o alcance de outro objetivo de importância

fundamental para o cumprimento de sua agenda, que visava o desenvolvimento de ações

voltadas à formação de quadros técnicos voltados ao esporte de alto rendimento,

primeiramente pela criação do IOB – Instituto Olímpico Brasileiro - que tinha por principal

finalidade a formação de ex-atletas, militares e professores de Educação Física, para atuar

no esporte de alto rendimento nacional, e que passaria a utilizar a EsEFEX, como local para

a capacitação desses profissionais. Em um segundo momento, o intuito era a criação da

Universidade do Esporte que, segundo o COB, ampliaria a formação de profissionais para o

alto rendimento nacional, agora, em nível universitário, e não mais em nível técnico, como

vinha acontecendo, anteriormente, aproveitando, então, as estruturas e equipamentos

utilizados nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, podendo, assim, contribuir, de forma

significativa, para o amadurecimento do esporte nacional de alto rendimento.

Percebe-se que o delineamento desse cenário obedece a uma ordem cronológica

de acontecimentos, que deverá sempre ser analisada a partir do segundo mandato do

Presidente Lula, momento em que se intensificou a submissão consentida do Ministério do

Esporte às entidades de administração do Esporte nacional, como o COB, e internacional,

como o COI e a FIFA. A partir daí, a busca pelo sonho olímpico brasileiro alavancou uma

série de fatos muito bem articulados que deram ao setor conservador do esporte nacional

possibilidades reais de enxergar, no campo educacional brasileiro, uma grande

oportunidade para fazer valer seus ideais de expansão do esporte de alto rendimento, dentro

das escolas, mais precisamente no campo da Educação Física, unindo também a ele, como

já descrito, os Programas de cunho esportivo do Governo Federal que são regidos por essa

mesma lógica.

Pelos argumentos levantados neste estudo gostaríamos mais uma vez de afirmar,

que, ao contemplar seu objeto de estudo, o Esporte Militar Brasileiro, não encontramos,

seja na história, seja na política esportiva brasileira, elementos suficientes para embasar a

realização, nos anos dois mil, de uma edição de um megaevento militar de tamanhas

proporções, no Brasil, fato que nos garantiu responder tanto ao questionamento central

desta tese, o de identificar qual o atual lugar do Esporte Militar na estrutura esportiva

brasileira, quanto ao seu objetivo geral, o de analisar a estratégia de sua reinserção na

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política esportiva brasileira, tendo os V Jogos Mundiais Militares como elemento

canalizador de suas ações, no âmbito dos megaeventos esportivos.

Ao encontrar respostas para tais questionamentos, reunimos elementos para

confirmar a nossa hipótese inicial de que os JMMs em solo brasileiro aconteceram como

parte de um planejamento estratégico advindo da parceria estabelecida entre o setor

conservador do campo esportivo, representado pelo Comitê Olímpico Brasileiro e o

Ministério do Esporte, objetivando o cumprimento de uma agenda pré-definida, com vistas

a um projeto que se encaminhava à realização dos Jogos Olímpicos de 2016, na cidade do

Rio de Janeiro. Desta feita, ficou comprovado que a vinda desse megaevento esportivo

militar ao Brasil para além de servir como “evento-teste”, como os atores envolvidos em

sua realização frisaram, servindo apenas como forma de preparar o país para sediar os dois

principais megaeventos esportivos mundiais que aportariam no Brasil em 2014 e em 2016,

demonstrou a reinserção do Esporte Militar na política esportiva nacional, como parte de

um planejamento previamente articulado e muito bem pensado, obedecendo, assim, ao

estipulado pela agenda esportiva nacional, em tempos muito propícios para o

posicionamento do país no cenário político-econômico internacional.

Além disso, a realização da V edição dos Jogos Mundiais Militares, assim como

a vinda das principais competições esportivas mundiais ao Brasil só foi possível pelo

prevalecimento, nos tempos atuais, da lógica da cidade empresarial, moderna, um lugar

perfeito para a realização de grandes investimentos, um lugar seguro e perfeito para se

viver, que obedeça a um novo modelo de planejamento urbano, voltado aos interesses do

grande capital em detrimento do atendimento aos interesses da população, que fica à

margem desse processo, e que visualize um casamento perfeito, na vinda desses

megaeventos, unindo interesses econômicos e esportivos.

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ROLNIK, Raquel. Copa e olimpíadas. Disponível em <http://raquelrolnik.wordpress.com/2012/04/20/copa-e-olimpiadas-dossie-lancado-ontem-no-rio-denuncia-violacoes-de-direitos-humanos/.> Acessado em 30/05/2012. Site oficial do 30º Campeonato de Voleibol Militar realizado no Brasil em julho de 2009. Disponível em <http://www.30cismworldmilitaryvolleyball.com/index_port.asp. > Acessado em 22/08/2012. SAVIANI, Dermeval. Análise crítica da organização escolar brasileira através das leis 5.540/68 e 5.692/71. In: GARCIA, Walter E. Educação brasileira contemporânea: organização e funcionamento. São Paulo: McGraw- Hill, 1976. SOUZA, Carlos Eduardo de. A formação do estado capitalista no Brasil e a institucionalização do esporte na aparelhagem estatal: entre os anos de 1930 e 1990. IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012. SOUZA, D. A. Futebol e resistência cultural no Primeiro Governo Vargas (1930 – 1945). Revista Digital. Buenos Aires. Año 14, Nº 131. Abril de 2009. SOUZA, Gustavo Lopes Pires de. Manual de Direiro Desportivo. Disponível em <http://www.sateducacional.com.br/admin/cursos/uploads/demonstracao2final.pdf.> Acessado no dia 04/09/2012. THUM, Tássia. Vilas para atletas dos Jogos Militares têm churrasqueira e salão de festas. Disponível em < http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2011/07/vilas-para-atletas-dos-jogos-militares-tem-churrasqueira-e-salao-de-festas.html. > Acessado em 11/07/2011. VAINER, Carlos. Prefácio. In MASCARENHAS, Gilmar et al. O jogo continua: megaeventos esportivos e cidades. Rio de janeiro; EdUERJ, 2011. 302 p. VIANA, André Rêgo. Megaeventos, Cidade e Lazer - II SPPEL. Disponível em < http://www.youtube.com/watch?v=YU6mFL6NoTU&list=PL42E4F28EF9252B81&index=4&feature=plpp_video.> Acessado em 30/05/2012.

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194

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195

ANEXOS

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196

ANEXO 1.

Fonte: 65ª Assembléia Geral e Congresso do CISM – Informações Gerais sobre os 5º JMM – Rio 2011 – pdf.

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ANEXO 2. Quadro de Medalhas

1 Rússia

2 Itália

3 China

4 França

5 Coreia do Norte

6 Alemanha

7 Ucrânia

8 Estados Unidos

9 Turquia

10 Polônia

11 Roménia

12 Quénia

13 Bélgica

14 Suécia

15 Irã

16 Áustria

17 Coreia do Sul

18 Finlândia

19 Noruega

197

Quadro de Medalhas – Jogos Mundiais Militares em Roma –

O país sede está destacado.

62 28

22 16

11 20

9 13

Coreia do Norte 9 8

8 16

7 14

Estados Unidos 6 7

6 1

4 5

4 5

4 3

3 3

3 1

2 5

2 0

1 5

1 5

1 3

– 1995

37 127

13 51

15 46

15 37

5 22

22 46

9 30

8 21

2 9

8 17

6 15

5 12

3 9

1 5

3 10

0 2

8 14

1 7

3 7

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20 Marrocos

Eslováquia

22 Países Baixos

Arábia Saudita

24 Azerbaijão

República Checa

26 Cazaquistão

27 Arménia

Hungria

Suíça

Síria

31 Canadá

Gabão

Emirados Árabes Unidos

34 Belarus

35 Tailândia

36 Brasil

37 Argélia

Irlanda

Mongólia

198

1 2

1 2

1 1

Arábia Saudita 1 1

1 1

República Checa 1 1

1 0

1 0

1 0

1 0

1 0

1 0

1 0

Emirados Árabes Unidos 1 0

0 4

0 3

0 1

0 1

0 1

0 1

2 5

2 5

1 3

1 3

0 2

0 2

3 4

2 3

2 3

2 3

2 3

0 1

0 1

0 1

8 12

3 6

2 3

0 1

0 1

0 1

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Fonte: http://www.rio2011.mil.br/

40 Bulgária

41 Estônia

Eslovênia

43 Croácia

Dinamarca

Grécia

Portugal

199

Fonte: http://www.rio2011.mil.br/

0 0

0 0

0 0

0 0

0 0

0 0

0 0

4 4

2 2

2 2

1 1

1 1

1 1

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ANEXO 3.

Quadro de Medalhas - Jogos Mundiais Militares da Croácia

O país sede está

Ordem País

1 Rússia

2 China

3 Itália

4 Croácia

5 Coreia do Sul

6 Alemanha

7 França

8 Estados Unidos

9 Ucrânia

10 Coreia do Norte

11 Eslovênia

12 Polônia

13 Belarus

14 Áustria

15 Quénia

16 Letônia

17 Países Baixos

18 Bulgária

19 Azerbaijão

20 Argélia

200

Jogos Mundiais Militares da Croácia – 1999

O país sede está destacado

País

46 35 31

29 21 16

16 20 21

11 12 20

Coreia do Sul 10 4 4

9 11 12

9 5 10

Estados Unidos 8 10 8

7 17 13

Coreia do Norte 6 5 8

6 4 5

5 3 4

5 2 14

4 6 5

4 5 5

4 1 1

Países Baixos 2 2 2

2 2 1

2 1 6

2 1 0

1999

Total

112

66

57

43

18

32

24

26

37

19

15

12

21

15

14

6

6

5

9

3

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21 Irlanda

22 Brasil

23 Romênia

24 Finlândia

Turquia

26 Bélgica

Egito

28 Catar

Tunísia

30 Senegal

Tanzânia

32 Grécia

33 Noruega

34 Lesoto

35 República Tcheca

36 Chipre

37 Eslováquia

38 Lituânia

39 Geórgia

40 Arábia Saudita

41 Namíbia

42 África do Sul

Suíça

201

2 0 3

1 4 3

1 2 1

1 1 1

1 1 1

1 0 3

1 0 3

1 0 1

1 0 1

1 0 0

1 0 0

0 7 2

0 5 7

0 3 1

República Tcheca 0 2 1

0 2 0

0 1 4

0 1 3

0 1 2

Arábia Saudita 0 1 1

0 1 0

África do Sul 0 0 2

0 0 2

5

8

4

3

3

4

4

2

2

1

1

9

12

4

3

2

5

4

3

2

1

2

2

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Fonte: http://www.rio2011.mil.br/

44 Barbados

Botsuana

Canadá

Costa do Marfim

Espanha

Sudão

Suécia

202

Fonte: http://www.rio2011.mil.br/

0 0 1

0 0 1

0 0 1

Costa do Marfim 0 0 1

0 0 1

0 0 1

0 0 1

1

1

1

1

1

1

1

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ANEXO 4.

Quadro de Medalhas – Jogos Mundiais Militares

O país sede está destacado.

Ordem

1 Rússia

2 China

3 Itália

4 Ucrânia

5 Coreia do Norte

6 Coreia do Sul

7 Quénia

8 Belarus

9 Eslováquia

10 Marrocos

11 Roménia

12 Uzbequistão

13 Letónia

14 Polónia

15 Brasil

16 Arábia Saudita

17 Eslovénia

18 Grécia

19 Estados Unidos

20 República Checa

21 Barém

Estónia

23 Canadá

203

Jogos Mundiais Militares – Catânia – 2003.

O país sede está destacado.

País

33 39 36

31 16 13

25 14 22

7 14 5

Coreia do Norte 5 2 2

Coreia do Sul 4 4 4

4 3 2

4 1 7

4 1 1

4 0 1

2 7 9

Uzbequistão 2 1 6

2 1 3

2 1 1

1 5 0

Arábia Saudita 1 3 2

1 2 3

1 2 1

Estados Unidos 1 1 2

República Checa 1 1 1

1 1 0

1 1 0

1 0 4

2003.

Total

108

60

61

26

9

12

9

12

6

5

18

9

6

4

6

6

6

4

4

3

2

2

5

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24 Tunísia

25 Países Baixos

Sérvia e Montenegro

27 Hungria

28 Áustria

29 França

30 Síria

31 Azerbaijão

32 Lituânia

33 Egipto

Ruanda

Sri Lanka

Tanzânia

Turquia

38 Argélia

Cazaquistão

Suécia

41 Bélgica

Finlândia

43 Botsuana

Barbados

Colômbia

Chipre

Índia

Jamaica

Jordânia

204

1 0 2

Países Baixos 1 0 1

Sérvia e Montenegro 1 0 1

0 5 3

0 3 4

0 3 2

0 2 1

0 1 5

0 1 1

0 1 0

0 1 0

0 1 0

0 1 0

0 1 0

0 0 3

Cazaquistão 0 0 3

0 0 3

0 0 2

0 0 2

0 0 1

0 0 1

0 0 1

0 0 1

0 0 1

0 0 1

0 0 1

3

2

2

8

7

5

3

6

2

1

1

1

1

1

3

3

3

2

2

1

1

1

1

1

1

1

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Catar

Fonte: http://www.rio2011.mil.br/

205

0 0 1

Fonte: http://www.rio2011.mil.br/

1

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ANEXO 5.

Quadro de Medalhas – Jogos Mundiais Militares em Hyderabad

O país anfitrião está destacado

Ordem

1 Rússia

2 China

3 Alemanha

4 Itália

5 Ucrânia

6 Quénia

7 Uzbequistão

8 Polônia

9 Eslovénia

10 Arábia Saudita

11 Coreia do Norte

12 Grécia

13 Turquia

14 Belarus

15 Estados Unidos

16 Coreia do Sul

17 Noruega

18 Romênia

19 Áustria

20 Índia

21 Eslováquia

22 Países Baixos

206

Jogos Mundiais Militares em Hyderabad

O país anfitrião está destacado

País

42 29 29

38 22 13

7 10 13

7 8 14

5 6 15

5 5 2

5 2 7

4 5 7

4 4 1

Arábia Saudita 4 0 1

Coreia do Norte 3 8 10

3 5 3

3 2 4

2 10 11

Estados Unidos 2 6 2

Coreia do Sul 2 4 7

2 3 0

2 2 5

2 1 9

2 1 7

2 1 1

Países Baixos 2 0 2

Jogos Mundiais Militares em Hyderabad – 2007

Total

29 100

13 73

13 30

14 29

15 26

2 12

7 14

7 16

1 9

1 5

10 21

3 11

4 9

11 23

2 10

7 13

0 5

5 9

9 12

7 10

1 4

2 4

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23 Bélgica

24 Qatar

25 Sudão

26 Marrocos

27 Sri Lanka

28 Equador

28 Egito

28 Estónia

31 Azerbaijão

32 Irã

33 Letônia

33 Brasil

33 Finlândia

36 França

37 Bahrein

38 República Tcheca

39 Suíça

39 Tunísia

41 Bulgária

41 Camarões

41 Hungria

44 Lituânia

45 Argélia

46 Emirados Árabes Unidos

47 Espanha

207

2 0 0

1 2 2

1 1 1

1 1 0

1 0 1

1 0 0

1 0 0

1 0 0

0 3 1

0 2 2

0 2 1

0 2 1

0 2 1

0 1 5

0 1 3

República Tcheca 0 1 2

0 1 1

0 1 1

0 1 0

0 1 0

0 1 0

0 0 6

0 0 4

Emirados Árabes Unidos 0 0 2

0 0 1

0 2

2 5

1 3

0 2

1 2

0 1

0 1

0 1

1 4

2 4

1 3

1 3

1 3

5 6

3 4

2 3

1 2

1 2

0 1

0 1

0 1

6 6

4 4

2 2

1 1

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47 Afeganistão

47 Dinamarca

Fonte: http://www.rio2011.mil.br/

208

0 0 1

0 0 1

Fonte: http://www.rio2011.mil.br/

1 1

1

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209

ANEXO 6.

Fonte: 65ª Assembléia Geral e Congresso do CISM –Informações Gerais sobre os 5º JMM no Rio 2011 – pdf.

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210

ANEXO 7.

Fonte: 65ª Assembléia Geral e Congresso do CISM –Informações Gerais sobre os 5º JMM no Rio 2011 – pdf.

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211

ANEXO 8.

Fonte: 65ª Assembléia Geral e Congresso do CISM –Informações Gerais sobre os 5º JMM no Rio 2011 – pdf.

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212

ANEXO 9.

Fonte: 65ª Assembléia Geral e Congresso do CISM –Informações Gerais sobre os 5º JMM no Rio 2011 – pdf.

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213

ANEXO 10.

Fonte: 65ª Assembléia Geral e Congresso do CISM –Informações Gerais sobre os 5º JMM no Rio 2011 – pdf.

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214

ANEXO 11.

Fonte: 65ª Assembléia Geral e Congresso do CISM –Informações Gerais sobre os 5º JMM no Rio 2011 – pdf.

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215

ANEXO 12.

Fonte: 65ª Assembléia Geral e Congresso do CISM –Informações Gerais sobre os 5º JMM no Rio 2011 – pdf.

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216

ANEXO 13.

Fonte: 65ª Assembléia Geral e Congresso do CISM –Informações Gerais sobre os 5º JMM no Rio 2011 – pdf.

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217

ANEXO 14.

Fonte: http://www.rio2011.mil.br/

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218

ANEXO 15.

Fonte: http://www.rio2011.mil.br/

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ANEXO 16.

Quadro de Medalhas – Jogos Mundiais Militares no Brasil

País sede destacado.

Ordem País

1 Brasil

2 China

3 Itália

4 Polónia

5 França

6 Coreia do Sul

7 Coreia do Norte

8 Quénia

9 Alemanha

10 Ucrânia

11 Irã

12 Noruega

13 Catar

14 Chile

15 Áustria

16 Lituânia

17 Bielorrússia

18 Letónia

19 Suécia

219

Jogos Mundiais Militares no Brasil – 2011

País sede destacado.

País

45 33 36

37 28 34

14 13 24

13 19 11

11 3 3

Coreia do Sul 8 6 8

Coreia do Norte 7 2 3

6 5 5

5 19 11

5 4 9

5 3 2

4 5 2

3 1 2

2 4 2

2 2 2

2 1 2

2 4

2 2

2

114

99

51

43

17

22

12

16

35

18

10

11

6

8

6

5

6

4

2

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20 Marrocos

21 Turquia

22 Venezuela

Cazaquistão

24 Suíça

25 Eslovénia

26 Bahrain

Finlândia

28 Argélia

29 Estónia

30 Estados Unidos

31 Países Baixos

32 Síria

33 Roménia

34 Bélgica

35 Uganda

36 Canadá

37 Croácia

Dinamarca

Equador

40 Grécia

41 Tunísia

220

1 7 1

1 5 4

1 3 6

1 3 6

1 3 5

1 2 6

1 2 4

1 2 4

1 2 3

1 2 2

Estados Unidos 1 1 3

Países Baixos 1 1 2

1 1

1 2

1 2

1 1

1 1

1

1

1

5 3

3 1

9

10

10

9

9

9

7

7

6

5

5

4

3

3

2

2

1

1

1

1

8

4

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42 República Dominicana

43 Jordânia

44 Hungria

Egito

46 Índia

47 Namíbia

Sri Lanka

Camarões

Uruguai

51 Argentina

Chipre

Paquistão

Suriname

Eslováquia

TOTAL

Fonte: http://www.rio2011.mil.br/

221

República Dominicana 1 2

1 1

1

1

3

2

2

2

2

1

1

1

1

1

195 194 239

Fonte: http://www.rio2011.mil.br/

3

2

1

1

3

2

2

2

2

1

1

1

1

1

628

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222

ANEXO 17.

Portal Contas Abertas, Ministério da Defesa. Assessoria de Comunicação, dia 09/02/2011 – pdf.

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223

ANEXO 18.

Fonte: http://www.cde.ensino.eb.br/media/file/CALENDaRIO_ESPORTIVO_MILITAR_2013.pdf

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224

ANEXO 19.

Calendário 2013 - CISM Campeonato Mundial Militar

DATA SPORT EVENTO

13-17 março

CROSS-COUNTRY 55 militares Campeonato Mundial de Cross-Country

Apatin - Sérvia

OCR: Tenente-Coronel AlShino

(BRN)

25-29 março

Annecy 2013

CISM World Games de Inverno

Jun 26-04 julho

VELA 46 º Campeonato Mundial de

Vela Militar Bergen, Noruega

29 junho - 7 julho

JUDO 35 º Mundial de Judô Militar

Astana, Cazaquistão

OCR: Coronel Hulme (NAM)

02-14 julho

Baku 2013

1 CISM World Football Trophy

08-17 julho

Pentatlo naval 49 º Campeonato Mundial Militar de Pentatlo Naval

Rio de Janeiro, Brasil

OCR: General Whitecross

(CAN)

26 agosto-1 setembro

ORIENTAÇÃO 46 º Campeonato Mundial

Militar de Orientação Eksjo, Suécia

OCR: Coronel Ompebe (CGO)

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2-06 setembro

9-16 setembro

14-21 outubro

14-25 outubro

22-28 outubro

09-18 novembro

23 de novembro

Fonte: http://www.cismmilsport.org/portfolio/calendar

225

CICLISMO 23 º Campeonato Mundial de

Ciclismo Militar Leopoldsburg / Beringen,

Bélgica

CISM Pará-Sport Projeto Piloto Evento

Track & Field Concorrência Warendorf, na Alemanha

TAEKWONDO 22 º Campeonato Mundial

Militar de Taekwondo Fort Bliss, Texas, EUA

OCR: Capitão da Marinha

SERRANO (BRA)

Pára-quedismo 37 º Campeonato Mundial Militar de Paraquedismo

Qionglai, China

WRESTLING 28 Mundial Militar de

Wrestling Campeonato

Irã, Teerã

Pentatlo Militar 60 º Campeonato Mundial de

Pentatlo Militar Rio de Janeiro, Brasil

OCR: Tenente-Coronel AlShino

(BRN)

MARATHON 45 Marathon Mundial Militar

Paramaribo, Suriname

OCR: Coronel JUMA (BDI)

ort.org/portfolio/calendar-2013

CICLISMO

23 º Campeonato Mundial de Ciclismo Militar

Leopoldsburg / Beringen,

Bélgica

Sport Projeto Piloto Evento

Track & Field Concorrência Warendorf, na Alemanha

TAEKWONDO 22 º Campeonato Mundial

Militar de Taekwondo Fort Bliss, Texas, EUA

OCR: Capitão da Marinha

SERRANO (BRA)

quedismo 37 º Campeonato Mundial Militar de Paraquedismo

Qionglai, China

WRESTLING 28 Mundial Militar de

Wrestling Campeonato

Irã, Teerã

Pentatlo Militar 60 º Campeonato Mundial de

Pentatlo Militar Rio de Janeiro, Brasil

Coronel AlShino

(BRN)

MARATHON 45 Marathon Mundial Militar

Paramaribo, Suriname

OCR: Coronel JUMA (BDI)

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ANEXO 20.

Calendário 2014 DATA

24-29 março

21-30 junho

Junho

Julho

13-17 agosto

24-30 agosto

30 agosto - 5

setembro

Setembro / outubro

02-11 outubro

226

Calendário 2014 - CISM Campeonato Mundial Militar SPORT EVENTO

PISTAS 52 º Campeonato Mundial de Ski Militar

Sodankyla, Finlândia

VÔLEI DE PRAIA 1 º Campeonato Mundial Militar de Vôlei

de Praia

Warendorf, na Alemanha

NATAÇÃO E SALVAMENTO 46 Piscina e Campeonato Mundial Militar

salva-vidas

Tenero, Suíça

VOLEIBOL

34 º Campeonato Mundial Militar de Voleibol

Rio de Janeiro, Brasil

CROSS COUNTRY 56 º Campeonato Mundial Militar de

Cross Country

Beirute, Líbano

ORIENTAÇÃO

47 º Campeonato Mundial Militar de Orientação

Gussing, na Áustria

CISM 2 WORLD CADETE GAMES Quito / Salinas 2014

Pára-quedismo 38 º Campeonato Mundial Militar de

Paraquedismo

TBD, Indonésia

Pentatlo Militar 61 º Campeonato Mundial de Pentatlo

Militar Mungyeong, República da Coreia

CISM Campeonato Mundial Militar

52 º Campeonato Mundial de Ski Militar Sodankyla, Finlândia

VÔLEI DE PRAIA

1 º Campeonato Mundial Militar de Vôlei

Warendorf, na Alemanha

NATAÇÃO E SALVAMENTO

46 Piscina e Campeonato Mundial Militar

34 º Campeonato Mundial Militar de

Rio de Janeiro, Brasil

CROSS COUNTRY

56 º Campeonato Mundial Militar de

47 º Campeonato Mundial Militar de

Gussing, na Áustria

CISM 2 WORLD CADETE GAMES

Quito / Salinas 2014

quedismo 38 º Campeonato Mundial Militar de

Pentatlo Militar 61 º Campeonato Mundial de Pentatlo

Mungyeong, República da Coreia

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Outubro

13-21 novembro

TBD

TBD

Fonte: http://www.cismmilsport.org/portfolio/calendar

227

WRESTLING 29o Campeonato Mundial de Wrestling

Militar Lakehurst, NJ / Camp Lejeune, Carolina do

Norte, EUA

GOLF 8 Campeonato Mundial de Golfe Militar

Reino do Bahrein

TAEKWONDO

23 Mundiais Militares Campeonato de Taekwondo Teerã, Irã

BOXE 55 º Campeonato Mundial Militar de Boxe

TBD, Cazaquistão

ort.org/portfolio/calendar-2014

29o Campeonato Mundial de Wrestling

Lakehurst, NJ / Camp Lejeune, Carolina do

8 Campeonato Mundial de Golfe Militar Reino do Bahrein

23 Mundiais Militares Campeonato de

55 º Campeonato Mundial Militar de Boxe

TBD, Cazaquistão

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228

ANEXO 21.

Fonte: Marinha do Brasil – Local de atendimento do Programa Segundo Tempo – Forças no Esporte no ano de 2012 – pdf.

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229

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230

Fonte: Exército Brasileiro. Locais de Atendimento do Programa Segundo Tempo – Forças no Esporte – pdf/Ano 2012.

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231

Fonte: Força Aérea Brasileira. Locais de Atendimento do Programa Segundo Tempo – Forças no Esporte – PDF/Ano 2012. .