FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

17
7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 1/17 2013 Tradução técnica: Gustavo Razzera Fotógrafo e Artista Gráfico Bacharel em Filosofia pela UFRGS

Transcript of FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

Page 1: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 1/17

2013

Tradução técnica:Gustavo RazzeraFotógrafo e Artista Gráfico

Bacharel em Filosofia pela UFRGS

Page 2: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 2/17

Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, àBOOKMAN EDITORA LTDA., uma empresa do GRUPO A EDUCAÇÃO S.A.Av. Jerônimo de Ornelas, 670 – Santana90040-340 – Porto Alegre – RSFone: (51) 3027-7000 Fax: (51) 3027-7070

É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquerformas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Webe outros), sem permissão expressa da Editora.

Unidade São PauloAv. Embaixador Macedo Soares, 10.735 – Pavilhão 5 – Cond. Espace CenterVila Anastácio – 05095-035 – São Paulo – SPFone: (11) 3665-1100 Fax: (11) 3667-1333

SAC 0800 703-3444 – www.grupoa.com.br

IMPRESSO NA CHINAPRINTED IN CHINA

Obra originalmente publicada sob o títuloThe Photographer’s Vision: Understanding and Appreciating Great Photography ISBN 978-0-240-81518-3

Copyright © 2011, The Ilex Press Ltd. Todos os direitos reservados.

Gerente editorial: Arysinha Jacques Affonso

Colaboraram nesta edição:

Editora: Mariana Belloli

Capa: VS Digital, arte sobre capa original

Leitura final: Mirella Nascimento

Editoração eletrônica: Techbooks

Catalogação na publicação: Natascha Helena Franz Hoppen, CRB10/2150

F855v Freeman, Michael.

  A visão do fotógrafo : entendendo e apreciando grandes  fotografias / Michael Freeman ; tradução técnica: Gustavo  Razzera. – Porto Alegre : Bookman, 2013.  192 p. : il. color. ; 23,5 x 25,5 cm.

  ISBN 978-85-65837-64-4

  1. Fotografia. I. Título.

CDU 77

Page 3: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 3/17

3. HABILIDADES DO FOTÓGRAFO  126  Surpreenda-me 128

  Veja diferente 129

  Contraste inesperado 131

  Retarde 133

  Faça conexões 135

  A habilidade de capturar  137

  Mãos à obra 138

  Perfeito imperfeito 140  Reação 144

  Timing  146

  Intervenção 152

  Habilidades de composição  156

  Assuntos assertivos 159

  Saiba o que funciona 160

  Estilos de composição 162

  Suspeite da composição 166  Cor e não cor  168

  O problema dos críticos de arte com a cor 171

  A dinâmica do preto e branco 176

  Iluminação  181

  Índice 186

  Créditos das Fotos 190

  Bibliografia 192

  INTRODUÇÃO 6

1. UMA ARTE MOMENTÂNEA 8  O que uma fotografia é... e o que não é 10

  Em que consiste um boa fotografia 13

  As qualidades de uma boa fotografia 14

  O público importa? 24

  Como o fotografar acontece 26

  Fotografia global 30

  Como ler fotografias 34

2. ENTENDENDO O PROPÓSITO  38  Os gêneros da fotografia 40

  Paisagem 40

  Arquitetura 44

  Retrato 46

  Fotojornalismo 50

  Vida selvagem e natureza 59  Esporte 60

  Natureza-morta 61

  Moda 65

  Científica 67

  Para quê?  68

  A imagem isolada 69

  A exposição com curadoria 75

  A imagem publicada isolada 77  O ensaio fotográfico 78

  O livro fotográfico 89

  O slideshow 92

  Sites e e-books 96

  Da captura ao conceito 98

  Modernismo e surrealismo 98

  Vidas diferentes das nossas 103

  Polêmica 106

  Midiático 109

  Exploração 110

Invenção 116

  Trapaça 118

Conceito 120

SUMÁRIO

Page 4: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 4/176 A V I S Ã O D O F O T Ó G R A F O

  Pittsburg, Estados Unidos, c. 1979–1980,por Lee Friedlander

No entanto, uma questão de identidade agora

afeta a fotografia. Ela vem se instalando, e ficando

mais forte, ao longo das últimas três décadas. Oque está em jogo é o caso de a fotografia estar

fundada na captura ou na criação de imagens

fabulosas, independentemente de elas virem da

realidade ou da imaginação. A captura é a habilidade

natural da fotografia ou, se você preferir, seu

modo padrão, tendo eventos, pessoas e cenas por

sua matéria-prima, tudo acontecendo mais ou

menos sem a interferência do fotógrafo. Esse é o

fotógrafo enquanto testemunha, observador. Mesmo

assim, ao longo da história da fotografia, houve

tentativas de fazer as imagens acontecerem por

construção, direção, criação. Quadros narrando uma

história; experimentos surrealistas com processos,

colagens, elucubrações de estúdio, arranjos de

naturezas-mortas. Por que deveria ser diferente?

O que mudou foi o entendimento de que a

fotografia seja apenas uma coisa ou outra. O que

aconteceu em frente à câmera realmente foi o que

parece ser, ou trata-se de outro tipo de fotografiaem que as coisas são fabricadas? O processo da

fotografia em grande parte manteve essas duas

maneiras separadas, com exceção de engenhosas,

porém raras, tentativas de alterar a realidade. Mas

essa distinção, para muitas pessoas, talvez até para

a maioria, desapareceu. Os agentes da mudança

foram a tecnologia digital, a promoção e a aceitação

do conceito como direção válida para a fotografia.

Havia sinais disso no início do século XX, mas foi só

nos anos 1970 que a fotografia conceitual engrenou.

A primazia do conceito sobre a atualidade deu

aos fotógrafos a permissão de usar técnicas que

alteram a substância das imagens. Essas técnicas

INTRODUÇÃO

Afotografia passou por muita coisa nos últimos

anos. Isso fica evidente no modo como ela é

praticada – isto é, digitalmente, cobrindo mais davida e das vivências do que antes era possível ou

mesmo desejável –, mas talvez não tão evidente

no modo como é apreciada. Desde os anos 1970, a

fotografia passou a ser aceita como forma de arte

amadurecida. Isso causou um efeito dominó, na

medida em que o tipo de fotografia que nunca fora

concebida como arte – a maioria – hoje é exibido,

colecionado e apreciado do mesmo modo que outras

artes. Mais e mais pessoas adotaram a fotografia

seriamente, para fins de expressão criativa em vez de

apenas para fotos da família e de amigos. Isso deixa

a fotografia, mais que qualquer outra arte, sujeita a

reações do tipo “eu poderia fazer isso”.

Seria de se pensar que, com a ampla adoção da

fotografia por todos, nós seríamos ensinados desde

cedo a acompanhá-la, como se fosse uma versão

visual da alfabetização, certo? Longe disso. Embora eu

não possa reparar tudo isso aqui e agora, vale a pena

dar uma olhada em todo o espectro da fotografiapara mostrar o quanto ela pode ser enriquecedora.

Mesmo assim, raramente ela é tratada como um todo.

Escrever sobre fotografia tende a ser partidarista. A

fotografia fine-art  geralmente é tratada em separado,

assim como o fotojornalismo, a publicidade e

assim vai. Pessoalmente, não vejo por que deva ser

assim, especialmente agora que os vários gêneros

de fotografia parecem estar migrando. Os museus

fazem coleções de fotografia de moda, a publicidade

emprega fotojornalismo, a fotografia de paisagem

mexe em questões sociais. Como um número cada

vez maior de pessoas, prefiro pensar na fotografia

como uma coisa só.

– digitais – continuam a evoluir, mas já são tão

sofisticadas ao ponto de não serem detectáveis

quando em mãos habilidosas. Talvez a mudançamais importante de todas seja que, na maior parte

do tempo, essas técnicas não operam no contexto da

detecção. Para muitas pessoas, não é importante se

uma fotografia é real ou não. O que conta mais é se

a fotografia é inteligente e atraente. Isso não agrada

a todos, é claro, mas é a realidade da fotografia

contemporânea e demanda explicação. Ou pelo

menos uma tentativa de integrar a “fotografia

enquanto ilustração” com a “fotografia enquanto

registro”. Esse é um dos meus objetivos aqui, no

âmbito da capacidade de ler, apreciar e ter opiniões

sobre fotografias, seja qual for a forma que elas

se apresentem.

Page 5: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 5/17

7I N T R O D U Ç Ã O

 © L  e eF 

r i   e d l   a n d  er  , c  or  t   e s i   a F r  a  enk  el   G  a l  l   er  y ,

 S  a nF r  a n c i   s  c  o

Page 6: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 6/17

PARTE 1

UMA ARTEMOMENTÂNEA

Page 7: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 7/17

9U M A A R T E M O M E N T Â N E A

Agora que as fotografias digitais

podem ser processadas e alteradas

para se parecerem com ilustrações, que

a arte contemporânea está livre para

usar a fotografia como ponto de partida

em vez de apenas ser um produto final,

pode ser útil ter claro o que é singular

com respeito a uma fotografia. E, logo de

início, vale tratar da já familiar questão

sobre o que pode ser feito digitalmente

a uma fotografia, em pós-produção, para

alterá-la. Um problema para muitas

pessoas é que a fotografia possa perder

sua legitimidade. Outro é que talvez ela

possa, de certo modo, não ser mais uma

fotografia, mas uma forma diferente de

imagem. Esse é um grande debate, mas,

para os propósitos deste livro, eu adoto a

seguinte visão, possivelmente simplista:

não há nada inerentemente errado com

a otimização e a manipulação digital de

uma fotografia – desde que ninguém

fique fingindo que ela não está sendo

usada.

De modo simples, uma fotografia...

  Toma diretamente da vida real

  É rápida e fácil

  Pode ser tirada por qualquer um

  Tem um visual específico

Essas são as diferenças evidentes,

claras, entre a fotografia e as outras

artes visuais, mas surgem implicações

interessantes quando começamos a

cavar mais fundo, que revelam por que a

fotografia agora é o meio de expressão

criativa mais popular em todo o mundo.

Page 8: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 8/17

10 A V I S Ã O D O F O T Ó G R A F O

TOMA DIRETAMENTE DA VIDA REALEmbora a câmera possa ser usada para construir

imagens, particularmente no trabalho em estúdio,a maior força da fotografia está no fato de o mundo

a nossa volta ser a fonte de material. Isso eleva a

importância do assunto, o evento; e o relatar disso

é algo em que a fotografia se destaca. Ao mesmo

tempo, essa facilidade de captura reduz o valor da

representação fiel, porque ela virou lugar comum

– bem diferente daquela visão mais antiga da

pintura, quando Leonardo da Vinci escreveu em seus

cadernos que “mais valorosa é a pintura que seja

mais semelhante à coisa representada.” Em vez disso,

o modo como os fotógrafos documentam – o estilo e

o tratamento – torna-se mais significativo.

Em um nível mais profundo, há um paradoxo

inerente entre representar a realidade e ainda assim

ser algo à parte enquanto imagem autônoma.

Outras artes, como a pintura, a poesia e a música,

claramente são construtos. Na cabeça de ninguém

há confusão quanto a um poema ou uma música

terem origem em outro lugar que não na mente de

seu criador e que a experiência de vida a que eles

se referem foi filtrada por uma imaginação e de

que isso levou algum tempo para ser feito. Nesse

respeito, as fotografias criam confusão. A imagem é,

na maioria dos casos, tão claramente uma imagem

de uma cena real, objeto ou pessoa, mas ainda assim

continua a ser apenas uma imagem que pode ser

vista em diferentes circunstâncias. Ela é da vida

real e ao mesmo tempo separada. Essa contradiçãodá muitas possibilidades para exploração. Uma

quantidade considerável da fotografia fine-art  

contemporânea faz exatamente isso, inclusive

construções para imitar conteúdo da vida real.

É RÁPIDA E FÁCILA fotografia pode explorar e capturar todos os

aspectos da vida – e cada vez mais, à medida que

o equipamento melhora. Um exemplo disso é

a melhor sensibilidade à luz dos sensores, que

possibilitou a criação de imagens noturnas e em

pouca luz. Essa é uma poderosa força motriz

por trás da imensa popularidade da fotografia.

É preciso pouco ou nenhum preparo para

capturar uma imagem, o que quer dizer que

existem muitas possibilidades para expressãocriativa. Com as câmeras digitais facilitando e

tecnicamente tornando isso mais preciso, elas

também concentram mais e mais a atenção sobre

a composição e na visão particular de cada pessoa.

Ou pelo menos deveriam, contanto que não nos

deixemos levar pelo lado do “brinquedo novinho

em folha” da fotografia. “A fotografia é a mais fácil

das artes”, escreveu a fotógrafa Lisette Model, “o que

talvez faça dela a mais difícil.” É inquestionável que

a fotografia demande menos mão de obra técnica

no sentido de tempo e esforço físico necessários

a outras artes visuais, algo que deixa muitos

profissionais na defensiva. Mas, em seu lugar, o ato

de criação é estendido e levado adiante na avaliação

e seleção de imagens já capturadas. Além da edição,

como é chamada essa etapa, o processamento

e impressão das imagens é também uma parte

posterior e importante do processo.

PODE SER TIRADA POR QUALQUER UMIsso nunca acontecera nas artes. A fotografia é

agora praticada quase universalmente, não apenas

para registrar momentos familiares. Não é mais

uma questão de artistas e profissionais de um

lado e público do outro. As câmeras digitais, o

compartilhamento pela Internet e o declínio da

mídia impressa tradicional deixou a fotografia

ao alcance de quase qualquer um como meio deexpressão criativa. E não é o caso que esses milhares

de fotógrafos se sintam atrelados à opinião de uns

poucos. Muitos estão perfeitamente felizes com

as opiniões de seus iguais, já que o público e os

fotógrafos são as mesmas pessoas. Tudo isso amplia

o alcance da fotografia contemporânea e a torna

mais complexa, com padrões e valores diferentes e

concorrentes. Criar boas fotografias não depende

de um plano de carreira, o que uma boa notícia

para todos, exceto os profissionais. O pior é que um

número grande de imagens tendem a confundir

qualquer julgamento de excelência, lembrando que a

Internet está inundada de imagens.

O QUE UMA FOTOGRAFIA É... E O QUE NÃO É

Page 9: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 9/17

11U M A A R T E M O M E N T Â N E A

  Cena do desmoronamento de um prédio,Xi’an, Shanxi, 2000, por Xie HaitaoEsta é uma primeira imagem difícil para o livro,mas ela ilustra de modo descomprometido o que afotografia faz que nenhuma outra arte pode fazer(exceto o vídeo). Ela pode relatar exatamente o queestava em frente à câmera naquele lugar, naquele diae naquele momento na história. Podemos não gostar

do que vemos, mas essa é a natureza do contratoespecial entre o fotógrafo e o espectador. Imagenssem retoques, capturadas da vida, constituiam aforma original da fotografia, e muitos dirão que essaé a sua forma mais legítima.

“ H  um a n

i   s m on a  C h i  n a  :  R  e gi   s  t  r  o C  on t   em p or  â n e o d  a F  o t   o gr  a f  i   a ” X i   eH  a i   t   a  o /  F  O T  O E  /  www .f   o t   o e . c  om /  i  m a  g e /  1   0 1  2  6 1  4  9 

Page 10: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 10/17

12 A V I S Ã O D O F O T Ó G R A F O

 Da série Four Seasons in One Day , 2007,por Laura El-Tantawy

Uma tarde quente agracia o centro de Londresenquanto os transeuntes se refrescam com

casquinhas de sorvete. O foco incomum e até

um pouco de borrado de movimento, com a

suavidade da gama tonal, faz desta uma imagem

muito “fotográfica”, apesar do modo como a

fotógrafa joga com a ilusão e a justaposição. Ela

se apresenta como captura do mundo real, e não

uma ilustração manipulada, e isso permite que

El-Tantawy experimente e intrigue com seu modo

distinto de olhar.

TEM UM VISUAL ESPECÍFICOSeja qual for a escolha de papel, textura e

acabamento que você faça para uma impressão,a imagem em si é desprovida de uma terceira

dimensão. O quadro é uma janela, e isso separa a

fotografia da pintura e de qualquer tipo de imagem

criada à mão. De muitas formas, essa falta de

presença física faz da exibição em tela um meio

perfeito, e é assim que um número cada vez maior

de imagens está sendo vista.

Em termos de seu visual, a fotografia começa

com a expectativa do espectador de que os

conteúdos sejam “reais” – tomados da vida real. De

fato, nós associamos a aparência de uma fotografia

a duas coisas: como nós mesmos vemos e como

nós aprendemos a aceitar que seja o visual de uma

fotografia. Somos muito sensíveis ao naturalismo

e ao “realismo” de uma fotografia. Quanto

mais uma fotografia afasta a imagem disso, viaprocessamentos complicados ou técnicas incomuns

de pós-produção, menos a imagem é fotográfica.

Isso não é uma crítica, apenas uma declaração de

um fato óbvio. O visual fotográfico básico se funda

na suposição de que muito pouco foi feito à imagem

desde o momento que foi capturada. A fotografia

também tem seu próprio vocabulário de imagens,

não encontrado em outro lugar. Esse vocabulário

inclui coisas como o foco diferencial, um alcance

dinâmico limitado, borrado de movimento, artefatos

de chamuscamento, cores não completamente

saturadas e a possibilidade de deixar a imagem em

preto e branco.

L  a  ur  a E l  - T  a n t   a 

w y

Page 11: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 11/17

13U M A A R T E M O M E N T Â N E A

EM QUE CONSISTE UMA BOA FOTOGRAFIA

“Bom” pode soar vago para uma generalização,

mas representa algo útil para cada um

de nós. E, é claro, bom significa estar acima domedíocre ou mesmo do comum. Por definição, a

maioria das fotografias não é boa. Isso não desce

bem para muitas pessoas, porque todos querem

que os outros gostem de si, e a crítica é cada vez

mais vista como deseducada e desnecessária. Isso é

bobagem, é claro, e eu não vou avalizar uma coisa

dessas aqui. A excelência resulta da destreza, da

habilidade e (normalmente) do trabalho duro. E é

isso que faz valer a pena escrever sobre o assunto:

descobrir o que compõe a melhor fotografia e por

que ela se destaca.

A facilidade de fotografar garante que sempre

haverá uma enorme maioria de fotografias

ordinárias, sem graça. Usar a câmera para

algo além do clique semiautomatizado requer

atentar para o que uma fotografia pode ser. O

fotógrafo norte-americano Walker Evans, que era

notavelmente articulado, resumiu a boa fotografia

assim: “distanciamento, falta de sentimentalismo,

originalidade, um monte de coisas que soam

um tanto vazias. Eu sei o que eles querem dizer.

Digamos, ‘impacto visual’ pode não dizer

muita coisa para ninguém. Apesar de eu poder

identificá-lo. Eu quero dizer que é uma qualidade

que algo tem ou não tem. Coerência. Bem, algumas

coisas são fracas, algumas são fortes.”

Todos nós temos ideias diferentes quanto a

o que “bom” queira dizer dentro do contexto dafotografia. Essa variedade de opiniões é importante.

Aqui, exploraremos o que sejam esses significados

e, mais importante, como os fotógrafos os colocam

em uso para fazer do bom, melhor. Eu tenho minhas

próprias ideias e naturalmente eu quero infectá-lo

com elas. Mas durante o processo de reuni-las aqui,

eu me vali de uma gama de opiniões de outras

pessoas sobre o assunto, por isso o que se segue não

é apenas pessoal.

Os aspectos listados a seguir são as qualidades

que eu acredito que definam uma boa fotografia.

Em cada uma, como veremos, há um mundo de

ideias, métodos e contradições a explorar. Você pode

objetar que eu não tenha incluído o termo “original”,

mas é porque essa é uma palavra muito carregada,

que deve ser usada com extremo cuidado. Vejo-a

passar de um para outro pela Internet sem muitas

restrições, na maior parte das vezes ignorantemente.

A menos que você deforme o sentido de “original”,pouquíssimos trabalhos criativos o são. A maioria

das ideias, mesmo em fotografia, desenvolve-se a

partir de outras. A verdadeira originalidade é rara.

Kant a entendia como qualidade da genialidade,

e eu temo que não estejamos mirando assim tão

alto. Ou então isso, de Arthur Koestler: “A medida

da originalidade de um artista é a medida que sua

ênfase seletiva se desvia da norma convencional e

estabelece novos padrões de relevância.” Reclamar

originalidade é perigoso. Pode ser que alguém tenha

feito o mesmo antes, mas o reclamante não foi

capaz de perceber.

O que faz uma fotografia ser boa é uma

questão completamente diferente. O julgamento de

grandiosidade transcende o bom e o muito bom,

quase sempre havendo conflito de opiniões. O

grandioso precisa passar no teste do tempo, como

em qualquer arte, e no início pode ser uma voz

solitária. Creio que várias das fotografias que temos

neste livro são grandes fotografias, mas não vou

estragar a brincadeira listando todas. Você terá suas

próprias opiniões e, se fiz meu trabalho a contento,

essas podem mudar quando você tiver terminado o

livro.

Page 12: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 12/17

14 A V I S Ã O D O F O T Ó G R A F O

1. É HABILIDOSAMENTE MONTADAExiste uma longa lista de qualidades consideradas

técnica e conceitualmente corretas. Elas incluem,

por exemplo, foco nítido no assunto principal, uma

exposição média que cubra o alcance dinâmico,

uma composição satisfatória e até mesmo uma

escolha de assunto que pareça valer a pena. Essas e

muitas outras são habilidades fotográficas básicas,

que não devem ser desprezadas, e há fortes motivos

para dominar todas elas. Se a imagem precisar

delas, então lá devem estar. Mas uma boa fotografia

pode dispensar muitas delas – com um motivo.

Há uma grande diferença entre estragar o foco

por ignorância ou por engano e desfocá-lo para

AS QUALIDADES DE UMA BOA FOTOGRAFIA

 G  u e or  g u

i  P i  nk h  a  s  s  ov /   M a  gn um P h  o t   o s 

obtenção de um efeito. O que conta é saber como a

composição, a iluminação e tudo o mais funciona.

Os fotógrafos que as dominam podem jogar

com elas.

Parte disso se deve a um processo habilidoso,

ou você poderia chamar de artesanal. Isso tende

a ficar mais evidente nas impressões e exibições.

Tudo que seja bem feito atrai a admiração por esse

simples fato. Isso vale não só para a fotografia,

mas para qualquer outra arte. Pode ser que nem

todas as etapas do processo sejam vistas na imagem

final, talvez sendo necessário outro fotógrafo para

apreciar o que esteve envolvido em sua feitura

mas, normalmente, e para a maioria das pessoas,

fica a sensação da habilidade que esteve envolvida.

Os tradicionalistas não apenas enaltecem essa

característica, como fazem disso algo essencial.

Fotógrafos mais experimentais podem subvertê-lo,

mas ninguém ignora isso de verdade.

Page 13: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 13/17

15U M A A R T E M O M E N T Â N E A

  George Town, Penang, 1990,por Gueorgui PinkhassovEsta é uma imagem complexa que valeuma boa olhada. O trompe l’oeuil  dos murospintados se estende na própria imagem, alémde o enquadramento preciso colaborar com asegmentação. O real e o i lustrado entrecruzados.Pinkhassov escreve: “A única coisa que conta éa curiosidade.”

 Da série Dream/Life, Sydney, 1998,por Trent ParkeChuva de verão. Um homem acomodado sob umtoldo na esquina das ruas George e Market, suagravata lançada sobre o ombro após correr em umatempestade em Sydney. A habilidade na composiçãodesta fotografia reside na sensibilidade de Parkerà luz – em particular, a luz de alto-contraste – e noenquadramento que aumenta a distância entre asfiguras, as equilibra e ainda deixa que o olho repousenas cintilantes gotas de chuva saltitando no meio.

T r  en t  P  a 

r k  e /   M a  gn um P h  o t   o s 

Page 14: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 14/17

A V I S Ã O D O F O T Ó G R A F O16

  Felix, Gladys e Rover, Nova York, 1974,por Elliott ErwittTodas as artes precisam tocar seu público. Existemmuitos tons, e Erwitt geralmente escolhe o humor.Em particular, ele gosta de cachorros e acha queas relações com seus donos é um rico filão a serexplorado. “Se você vai tirar fotos, é bom encontrarlugares onde tenha situações divertidas. Um camponudista é um deles, cachorros é outro, praias maisoutro. Eu disse que cachorros são pessoas com mais

cabelo. Eu disse isso. Eu disse outras coisas estúpidas.Cachorros são universais, eles não pedem licença deuso de imagem e geralmente são bem amistosos”,diz Erwitt.

E l  l  i   o t   t  E r wi   t   t   /   M a  gn um P h  o t   o s 

Page 15: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 15/17

17U M A A R T E M O M E N T Â N E A

2. PROVOCA UMA REAÇÃOAcima de tudo, uma boa fotografia é visualmente

estimulante, por isso recebe uma reação interessadade seu público. Talvez não de todo mundo, mas

de pessoas suficientes para mostrar que a imagem

está prendendo a atenção. Se nossa reação imediata

é “já vi isso tudo antes”, ela é um fracasso. Esse

pode ser um julgamento brutal, mas também pode

não importar nada em muitos tipos de trabalhos

de fotografia comercial, em que uma foto de

embalagem é uma foto de embalagem e um resort

em uma praia tropical precisa provar apenas que

fica em uma praia com palmeiras e céu azul. Mas

se estamos falando de “boa”, os padrões precisam

estar acima do ordinário. Os fotógrafos querem que

suas imagens sejam vistas, recebam atenção, sejam

debatidas. Isso vai acontecer apenas se a imagem

persuadir seu público, der ao espectador algo sobre

o que pensar.

Para a fotografia que pretende ser criativa, os

problemas começam quando tentamos antecipar

o público. Se preocupar muito com o modo comooutras pessoas possivelmente responderão a

uma fotografia pode levar a um caminho estéril,

resultando em imagens muito calculadas, que tentam

descaradamente agradar. Uma das últimas coisas que

quero quando mostro uma de minhas fotografias

a alguém é que pensem que ela tenta agradar seu

gosto, porque isso me faz parecer um vendedor.

Todas as artes têm isso em comum, e isso levanta

uma discussão já muito batida sobre o que faz de umtrabalho uma obra de arte – a intenção do artista ou

o julgamento do público. O público da fotografia

quer, entre outras coisas, ver algo de um jeito novo

por meio do olhar imaginativo de um fotógrafo. A

maioria das pessoas se sente traída se suspeita que o

fotógrafo está apenas tentando agradá-la.

3. OFERECE MAIS DE UMA CAMADA DEEXPERIENCIAÇÃO

Uma boa fotografia dá ao espectador mais do que aimagem imediata, evidente. Ela funciona em mais

de um nível. Tomemos como exemplo a imagem

na página 54, um impactante preto e branco de

Romano Cagnoni, de recrutas Ibo na Nigéria. Os

elementos gráficos são imediatamente poderosos –

uma massa de rostos brilhantes e dorsos conectados

com uma linha de figuras humanas de perfil acima.

Há uma riqueza de textura da impressão (apesar de

o original ser em cores). Ela também é opticamente

incomum, assim nos damos conta de uma

compressão extrema – de fato, ela foi fotografada

com um comprimento focal bem longo e de um

ponto de observação elevado. Descendo mais uma

camada, e há muito a ser descoberto, diversas

expressões em cada rosto. Veja, por exemplo, o rosto

mais pálido na extrema esquerda próximo ao final

do grupo principal, virado para fora e meio baixo,

boca aberta. Em que este jovem está pensando?

Isso nos leva ainda mais fundo nas camadas decontexto – o que está acontecendo aqui? Este é um

recrutamento de soldados durante a guerra de Biafra

e, enquanto tal, um rico documento histórico.

Em outras palavras, olhar para uma fotografia

é uma experiência em camadas. Entre as artes, a

fotografia tem de fato uma vantagem quanto a

isso, porque ela contém um paradoxo implicado

relacionado à realidade. A fotografia é retrato da

vida e também divorciada dela, ao mesmo tempo.De um ponto de vista criativo, isso oferece um bom

potencial a qualquer fotógrafo que se dispuser a

fazer uso dele. Já temos dois quadros de referência

aguardando serem exibidos e explorados. Mas

precisam ser trabalhados; precisam ser reconhecidos.

Arthur Koestler, cujo livro de 1964 The Act of

Creation foi uma investigação aprofundada dos

mecanismos da criatividade, cunhou a palavra

bissociativo para falar do trabalho em mais de um

plano, que ele considerava central ao processo, fosse

da ciência ou da arte. Na arte, ele significa justapor

dois ou mais planos de percepção, unindo mais de

um quadro de referência para produzir um modo

de ver, uma experiência, que a maioria das pessoas

nunca havia pensado – e que é tocante mesmo

assim. Por exemplo, W. Eugene Smith, trabalhando a

maior parte do tempo para a revista Life, combinou

fotojornalismo pesado com um estilo lírico, às vezesheroico, de iluminação, composição e escolha do

momento. Na época, isso pareceu contraditório,

mas Smith os reuniu com grande efeito em imagens

como Tomoko Uemura em seu banho e em seus

ensaios sobre Albert Schweitzer, um instituto

psiquiátrico no Haiti e Pittsburgh.

Tocar o espectador é fundamental. Nós

adoramos descobrir e queremos ser estimulados.

Nossas mentes têm prazer por encontrar conexões

e reparar em coisas que não eram imediatamente

óbvias. Ser muito óbvio em uma imagem é um

pecado muito maior do que ser obscuro, porque

insulta nossa inteligência. Uma imagem nua em

pelo, autoevidente, que não tem nada para oferecer

além da primeira olhada, dificilmente vale o tempo

de olharmos para ela, e certamente não é coisa de

ser apreciada. Finalmente, entre todas essas camadas

de experienciação e visualização, está o inesperado

e o imprevisto. Caso tudo isso dê a impressãode que todas as fotografias bem-sucedidas são

bem planejadas desde o início, muitas das mais

estimulantes fotografias contêm um pouquinho de

mágica. Pode ser até algo que o próprio fotógrafo

não estivesse ciente no início. Olhando as folhas

de contato posteriormente – ou o catálogo em tela

hoje com o digital – o fotógrafo pode descobrir

algo sobre um quadro que surpreenda, que o torne

especial, que é o caso na página 18 com a imagem deSeamus Murphy.

Que uma fotografia possa ter essas várias

camadas nem sempre depende de o fotógrafo estar

ciente dessa complexidade. Isso pode ocorrer depois,

na visualização. Mas neste caso, Murphy estava

afundado em questões afegãs e conhecia o contexto.

A coincidência gráfica é discutida mais adiante no

livro, em “Faça conexões” na página 135.

Page 16: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 16/17

A V I S Ã O D O F O T Ó G R A F O18

 Imagem da série Darkness Visible: Bamiyan,Província de Bamiyan, junho de 2003,por Seamus MurphyUma imagem forte que se lê em vários níveis.

Há pelo menos três camadas de experienciação,

dependendo de quão a fundo o espectador queira

ir. Não necessariamente na ordem de visualização,

primeiro há a imagem mostrando a consequência

da guerra, a guerra no Afeganistão. A vítima

mutilada segue seu caminho solitário pela dura

paisagem afegã. Depois, há a notável coincidência

de forma e momento. Vemos a correspondência

lembrarmos das notícias do jornal, percebemos

que ali é onde estavam os antigos Budas de

Bamiyan, antes de serem reduzidos a cascalho

pelo Talibã em 2001. Isso acrescenta outra camada,

de perda e intolerância. E de conflito religioso. A

intolerância religiosa destruiu os Budas. Uma guerra

com insinuações religiosas que começou com a

destruição das Torres Gêmeas destruiu a perna

do homem e ele, como explica o fotógrafo, é uma

vítima dos Hazara. Os Hazara, sendo muçulmanos

shia, padeceram particularmente sob a tirania do

Talibã. Portanto, uma equação de sofrimento.

 S  e a m u s 

 M ur  ph  y /  V I  I  N  e t  w or k 

entre o homem, ligeiramente inclinado para

frente neste momento de seu estranho caminhar,

e a sombra profunda na rocha ao fundo. Esta

é uma correspondência tão maravilhosa que o

primeiro pensamento que ocorre a quem quer que

se imagine na posição do fotógrafo é como ele

conseguiu isso. Fica claro que isso não é algo que

possa dirigir. Depois, em nossa hipotética jornada

pela fotografia, olhamos com mais atenção a

sombra na face da rocha. O que aconteceu lá? Ela

foi entalhada, mas está vazia. Se sabemos alguma

coisa sobre a história recente do Afeganistão, e

Page 17: FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

7/23/2019 FREEMAN. a Visão Do Fotógrafo

http://slidepdf.com/reader/full/freeman-a-visao-do-fotografo 17/17

19U M A A R T E M O M E N T Â N E A

  Ingressos para o teatro, Nova York, 1955, porWilliam KleinUma imagem enquadrada na tradição dafotografia de rua, uma forma muito específica defotojornalismo em que o fotógrafo anda e procura omomento não planejado, a coincidência com pessoas,ações ou formas, esperando o inesperado. E tambémesperando conseguir reconhecer esse momentorapidamente quando acontecer, para entãocapturá-lo. O homem aponta, este é o momento para

Klein. Mas, igualmente, ele está na posição certa eé capaz de entender e enquadrar a foto de maneiraelegante e simples.

 © Wi  l  l  i   a m

 K l   ei  n , C  or  t   e s i   a H  ow a r  d  G r  e en b  er  g G 

 a l  l   er  y , C i   d  a  d  e d  eN  ov a Y  or k