Frontal nº39 - Medicina nos Tempos Livres - Julho 2011

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Já saíu a 39ª Frontal! Lê e comenta...

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“O Médico Que Só Sabe Medicina, Nem Medicina Sabe”

São estas as palavras de Abel Salazar que inspiraram o tema desta nova edição da Frontal. E por acreditarmos na sua veracidade, esta edição traz para as páginas da Frontal o que se faz em Santana para além das aulas e dos livros.

Não é a primeira vez que a Frontal traz este tema à capa, contudo, é

sempre um prazer escrever sobre as actividades extra-curriculares dos nossos alunos e suas novidades e, acima de tudo, poder responder com a máxima convicção à pergunta: “Mas afinal o estudante de Medi-cina, não é aquele que passa a vida a estudar?” Também, mas não só. E realmente é isso que se passa, se a “Medicina é um Mundo” certa-mente que o Estudante de Medicina também o é.

Se, por um lado, mostramos o “mundo” que existe para além dos

livros, aquele que existe para além da porta da Associação de Estudan-tes também vem preencher páginas desta edição. O que era há 10 anos, o que foi há 6 anos e o que é HOJE, a AE foi e continua a ser construída a cada dia para os seus alunos. As iniciativas são várias, des-de a vertente científica, cultural, educacional e social, a tua AE não pára. De mochila às costas, material médico na mala, muita animação no bolso fomos até Avis, uma vez mais para rastrear a população local. Passámos pelas escolas, levámos aos mais novos as temáticas Saúde e Educação. Para os alunos realizamos o Curso Suporte Básico de Vida, que constituiu mais um sucesso. E num ambiente mais descontraído, mas não menos importante, colocámos o Nariz Vermelho e com mui-tos sorrisos à mistura decorreu a Operação Nariz Vermelho. Pegando na actualidade, voltámos à temática Reforma Curricular com as recen-tes novidades, pela Professora Doutora Maria Emília Monteiro.

Na “Colina da Saúde” a voz passa pelos Alunos e Professores. Nas

palavras da Professora Madalena Esperança Pina convidamos-te a conhecer este lugar que já faz parte do teu quotidiano, o Professor Miguel Seabra dá-nos a conhecer o CEDOC, e o Professor Pedro Costa senta-se e conversa connosco.

Com os exames à porta e o nível de ansiedade no máximo, deixamos

algumas sugestões de locais para estudar. Assim termina mais uma edição da Frontal e como não poderia dei-

xar de ser, “Sê Frontal”.

Os estatutos da Revista Frontal foram objecto de alteração. O novo Estatuto Editorial foi aprovado no dia 26 de Janeiro de 2009 em reunião de Direcção da AEFCML e está disponível para download em http://ae.fcm.unl.pt Frontal Revista da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Médicas - no 39, ano 25, Julho 2011 — Dezembro 2011 Director: Miguel Paiva Conselho Editorial Carla Simão, Francisco Valente, Miguel Paiva, Rui Malha.

Colaboraram neste número Beatriz Lança, Carlota Dias, David Tanganho, Francis-co Valente, Grupo de Teatro Miguel Torga, Inês Ricardo, Joana Seabra, João Sousa, Madalena Espe-rança Pina (Prof. Doutora), Maria Emília Monteiro (Professora Doutora), Miguel Paiva, Miguel Seabra (Prof. Doutor), Mónica Mamede, Nuno Bronze, Pedro Freire Costa (Professor Doutor), Ricardo Mexia (Dr.), Rita Rapazote (Dra.), Rui Malha, Saulo Saraiva, Tiago Duarte, Tiago Pack, Tuna Médica de Lisboa Edição e Propriedade AEFCML - Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa. Campo dos Mártires da Pátria, no 130 1169 - 056 LISBOA Telefone - 21 885 07 35 Fax - 21 885 12 20 [email protected] | [email protected]

Capa: Miguel Paiva Contra-capa: Fotografia vencedora do Prémio Júri do VI Fotoscópio (2011) por Miguel Nogueira Depósito Legal n.o 292101/09 Impressão e Acabamento Ind. Port. Tipografia Lda - Lisboa Tiragem 400 exemplares Periodicidade Semestral Todos os artigos reflectem exclusivamente a opinião dos seus autores. Permitida a citação, ainda que parcial, de textos, fotografias ou ilustrações, sob quaisquer meios, desde que indicando sempre a sua origem.

Índice

Ed

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03 Editorial

04 Mensagem do Presidente

06 A tua AE

16 Aconteceu na FCM

18 Reportagem

Medicina nos Tempos Livres

28 Medicina & Investigação

30 Sê Frontal

32 Chill Out

37 Sai de Casa

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Miguel Paiva Director da Revista Frontal

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C aros Colegas, A AEFCML prima anualmente pelo seu traba-lho na defesa dos interesses dos estudantes da FCM-UNL, bem como na promoção de

mais e melhores actividades extra componente curri-cular, que possam, de certa forma, melhorar a qualida-de dos Médicos que saem do Campo de Santana. Esta deve ser igualmente uma preocupação de todos e cada um dos tutores/assistentes/médicos/responsáveis dos Órgãos de Gestão. A ambição de ser-mos os melhores formadores deve ser transversal a toda a classe docente, por forma a incutir no aluno a vontade e o espírito do Conhecimento. Todos estamos cientes que temos Professores das melhores castas mas, o paradigma do ensino na nossa Faculdade terá que mudar. Não podemos permitir que uma obrigação do Processo de Bolonha (40 sema-nas) retire aos estudantes aquilo que é mais impor-tante na sua for-mação – Tempo para parar e apren-der! Permitam-me citar Aristóteles: “O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflecte.”. Hoje, falta tempo para a Reflexão diante da estátua do Doutor Sousa Martins. Estaremos portanto a formar Médicos Sensatos? Será a impregna-ção e débito contínuo de matéria a forma adequada para transmitir Conhecimento? A Reforma Curricular é uma página em branco, virada agora mesmo, pronta a ser escrita com a melhor das tintas. A inclusão de cadeiras optativas, a entrada da componente clínica a partir do 1º ano, a unificação das Unidades Curriculares que constituem as Áreas Ensino e Investigação através da elaboração dos Lear-ning Outcomes necessários ao fim de 6 anos de curso, são os pilares base desta Reforma. Finalmente Ciências

Médicas esqueces o papel do poder e do catedrático e te viras para o Futuro! Apesar deste esboço existem diversas arestas indubitavelmente por limar. Se a ideia não for concretizável ou devidamente aplicada, então seremos todos meros Filósofos. Contamos com o apoio, competência e vocação das pessoas que lideram este processo para que haja um farol orientador de todos os docentes e futuros alunos. A AEFCML estará atenta e pronta a ajudar. Ainda no que toca a Reformas, não podemos ficar indiferentes à necessária, pertinente e segura-mente bem-vinda alteração à Prova Nacional de Seria-ção, a entrar em vigor, supostamente, no ano de 2014. Em primeiro lugar, há que felicitar todos os Estudantes pela posição de força que ficou patente na RGA do dia 30 de Março. Com ela conseguimos fazer pressão para que a Prova não entrasse em vigor em 2012, sendo assim cumprida a Lei em vigor. Importa, contudo, (re)lembrar que ela vai avançar! Contra os pressupostos defendidos em RGA (Existência de uma Bibliografia

aconselhada e de uma Matriz orientadora, bem como a possibilidade de Revisão de Prova), o NBME vai avançar. Esta-mos neste momento “convenientemente” focados unicamente na sua data, mas importa

relembrar que somos contra qualquer modelo que não contenha estas mesmas premissas! Este Romance gerou no seio dos alunos a vontade de mudança. Que-remos que os exames finais dos anos clínicos sejam focados no raciocínio clínico e médico, em detrimento do estudo geral e abstracto. E queremos esta mudança já para o próximo ano lectivo! Em paralelo com a nova Reforma para o curso 2011/2017 e subsequentes, terá que existir uma Reestruturação nos anos clínicos, que siga esta ideologia, a implementar já em 2012. Só assim será seguro afirmar que, para além da ideia sub-jacente a uma melhor Seriação, estaremos igualmente a aproveitar a oportunidade de reformular a nossa, porventura, desadequada avaliação.

por Francisco Valente| 5º ano Presidente da AEFCML

O hoje e o amanhã doEstudante

da FCM-UNL

“A Reforma Curricular é uma página em branco, virada agora mesmo, pronta a ser escrita com a melhor das tintas. ”

Não posso igualmente deixar de referir que conhecemos com grande desagrado o aumento da Pro-pina Máxima para os 999,71€, para o ano lectivo 2011/12 (relativamente a 2010/11 – 986.88€). Da mes-ma forma, ao analisarmos a diminuição do valor da Bolsa Média na NOVA de 198,46€ para 157,85€ (no presente ano lectivo), verificamos que os estudantes da NOVA

vivem cada vez mais numa débil situação, podendo mes-mo tornar-se precária. Não poderá ser esquecido que as propinas devem ser encaradas pelas Universidades como uma fonte de rendimento direccionada especifica-mente para investimento nas condições de ensino e aprendizagem, verificando nós, diariamente, uma carên-cia neste campo, não obstante a actual conjectura finan-ceira do nosso País. Para finalizar, quero focar-me no tema central desta Frontal. Apelo-vos a explorarem as vossas poten-cialidades e mais valias e a desenvolverem actividades

para-Faculdade que vos enriqueçam pessoal e profissio-nalmente. Demasiadas vezes vejo o Curso e todas as suas valências passarem ao lado de todos nós, sem nos apercebermos que é possível conciliar a vida estudantil com os nossos gostos e bem-estar. E quando chegamos à cerimónia da Queima das Fitas, entre lágrimas alegres de tristeza (paradoxal bem sei), pensamos... porquê não

aproveitei?... porquê não consegui tirar o melhor de mim?... porquê já terminou?... Lembrando o Romano Aulo Celso “É função do Médico curar com segurança, rapidez e com prazer”. Os primeiros estão dependentes das nossas competências e conhecimentos; o último de nós próprios! Busquemos regozijo para lá do nosso Mestrado...

Um abraço,

Francisco Valente ●

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“Lembrando o Romano Aulo Celso “É função do Médico curar com segurança, rapidez e com prazer”.”

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XXI enem

P ara todos os ENÉMicos!! 7.00 am! O despertador toca, a mala está pronta, as energias recarregadas e muita vontade de ir para mais um grande ENEM!

É assim que vamos estar dia 1 de Dezembro, o gran-de dia!

O ENEM é um fim-de-semana esperado por todos aqueles que tiveram oportunidade de o pre-senciar, pelos que apenas dele ouviram falar, e até mesmo pelos que procuram uma nova experiência.

Mas afinal o que é o ENEM, para além do

simples significado das suas siglas (Encontro Nacio-nal de Estudantes de Medicina)? Pois, será sempre difícil defini-lo uma vez que não há, e posso garantir que nunca existirão, dois ENEMs iguais. No entanto há alguns momentos cruciais que não podem, de modo algum, faltar: conferências e workshops, jogos, festas, animação, amigos e muita diversão!

A organização compete rotativamente a uma

Associação de Estudantes das Faculdades de Medi-cina do país, sempre com o apoio da ANEM (Associação Nacional de Estudantes de Medicina). Este ano, compete-nos a nós, Faculdade de Ciências Médicas, a grande honra e responsabilidade de organizar o 21º ENEM. Somos uma equipa motiva-da, enérgica, inovadora e, fundamentalmente, pre-parada para trabalhar de modo a garantir-vos o fim-de-semana mais memorável de todos os tempos.

Ao longo de 21 anos inúmeras pessoas traba-

lharam no sentido de facultar a todos os alunos de Medicina uns dias nos quais estudantes de todos os pontos do país se reunissem e pudessem conviver numa atmosfera mais relaxada e diferente do que é habitual. Durante este tempo deixaremos os estu-dos e os livros para trás, para tomarmos um rumo dedicado a nós e ao grupo, onde não teremos espa-ço para quaisquer preocupações.

O ENEM já se realizou em diversos locais, desde o Algarve a Espanha e, até mesmo na Madei-ra; já foram contempladas actividades variadas, como desportos colectivos na praia, aulas de aeró-bica, momentos de karaoke, (de tudo um pouco). Já muitas ideias foram exploradas, ainda assim, tenta-remos superar as vossas expectativas, com a convic-ção de que iremos ser bem-sucedidos.

4 p.m! Prontos para retornar. Este dia 4 de

Dezembro será recordado com a nostalgia que lhe é

característica e, assim, ficará marcado o nosso

regresso. Contudo, a alegria de um fim-de-semana

em cheio será o sentimento pleno que todos pode-

rão viver, sabendo que mais dias destes marcarão o

nosso progresso académico. ●

por Inês Ricardo | 4º ano Vice-Presidente da AEFCML

ci

“ Quero fazer-te um convite. Queres ser

coordenadora do Departamento Ciências e

Investigação (DCI)?” Foram estas as pala-

vras que me abriram, não uma, mas imen-

sas portas. Portas essas que por trás escondem

palavras como responsabilidade, organização, tem-

po, empenho, trabalho, entre tantas outras. O DCI

era até então um departamento pouco explorado e

com poucas actividades ao longo do ano lectivo e

por isso, este ano a minha principal função é colo-

car este departamento ao nível de outros como o

de Saúde Pública, Saúde Reprodutiva e SIDA e de

Acção Social (todos estes do núcleo de

Medicina).

A primeira grande activida-

de foi a palestra sobre Gestão

Hospitalar, realizada no dia 28

de Fevereiro. Entre toda a

preocupação e afazeres que a

organização de uma activida-

de destas envolve, há sempre

um pensamento que nos

assombra: será que vamos ter

audiência? Nesta palestra tive-

mos cerca 180 estudantes da FCM

(e não só) e parte do corpo docente da

Faculdade incluindo o Sr. Director, o Pro-

fessor Doutor Caldas de Almeida. Este é o combus-

tível que nos move, que nos incentiva a continuar o

nosso trabalho e a olhar pelos interesses dos estu-

dantes da FCM, tentando sempre abordar alguns

temas menos explorados ao longo do nosso curso e

dar a conhecer outros horizontes.

Seguindo esta linha de pensamento, decor-

reu no dia 30 de Abril um curso de Suporte Básico

de Vida para profissionais de Saúde. A emergência

médica é uma área com a qual os estudantes da

FCM-UNL não têm muito contacto mas, que nem

por isso tem menos importância na sua formação

enquanto futuros médicos. Para além desta activi-

dade, o DCI disponibiliza mensalmente um conjun-

to de artigos sobre determinado tema de interesse

para os estudantes com o objectivo de os ajudar no

estudo e facilitar a pesquisa de material. Para tal

temos em atenção os temas mais abordados em

cada ano, como Diabetes, Hipersensibilidades,

Doença de Alzheimer, entre outros. A actividade

tem como nome “Mês Temático” e

os artigos estão disponíveis

quer no site ae.fcm.unl.pt

quer no facebook da

AEFCML.

Para terminar, faço-

vos um convite: parti-

cipem nas actividades

que a AE organiza

para vós, exponham as

vossas dúvidas, façam-

nos chegar as vossas críti-

cas construtivas, quer através

das Reuniões Gerais de Alunos

(RGAs), quer através do e-mail

[email protected], pois esta associação é feita por

todos nós e não por apenas aqueles que dão a cara

no momento das eleições.●

por Beatriz Lança | 3º ano Dpto. de Ciência e Investigação da AEFCML

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d sai da

CASCA

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A o longo deste ano lectivo, o Departamen-to de Saúde Reprodutiva e Sida (DSRS) da AEFCML tem direccionado a sua activida-de essencialmente para os alunos da

FCM-UNL. Apostando particularmente nos work-shops, através dos quais é possível uma abordagem mais interactiva e descontraída sobre várias ques-tões relacionadas com a temática da sexualidade e VIH-Sida, o seu trabalho tem sido feito primordial-mente para e com os alunos desta casa.

No entanto, uma linha de trabalho que o DSRS considera também de extrema importância prende-se com a participação em actividades extra-Faculdade, na qual é possível uma interacção activa com a comunidade em geral. Deste modo, foi com muito entusiasmo que o DSRS aceitou o convite feito pela Escola Secundária de Gama Barros (Cacém) para participar numa acção de sensibiliza-ção sobre Violência no Namoro, no âmbito da comemoração do dia dos Namorados.

A actividade consistia em levar à escola secundária um grupo de colaboradores do DSRS interessados em desenvolver um conjunto de acti-vidades dinâmicas e interactivas com o objectivo de alertar alunos do 9º ao 12º ano para a proble-mática da violência no namoro. Rapidamente se formou um grupo constituído pelos seguintes ele-mentos: Ana Rita Neto e Mónica Mamede (1ºano), Ana Maia Martins (2ºano), Ana Carlota Dias, Ana Carvalho Póvoa e Ana Leonor Matos (3ºano). A actividade ficou agendada para dia 18 de Fevereiro de 2011 por motivos de compatibilidade de horá-rios.

Embora o DSRS não estivesse inteiramente familiarizado com a temática da violência no namo-ro e sentisse que não era um tema sobre o qual teria à-vontade suficiente para desenvolver uma dinâmica de grupo adequada, rapidamente meteu

mãos à obra. Para tal, foi contactada a APF (Associação para o Planeamento da Família) que prontamente se propôs a organizar uma pequena acção de formação para os alunos interessados, bem como se deu início a uma maratona de leitura de diversas publicações e websites sobre a temáti-ca.

Dia 18 de Fevereiro a equipa do DSRS chegou à Escola Secundária de Gama Barros, onde os alu-nos nos aguardavam, alguns curiosos, outros des-confiados. O nosso grupo foi dividido em pares e cada par ficou com uma turma. Um nono, um déci-mo e um décimo segundo ano.

A actividade começou com um brainstorming sobre violência no namoro na qual foi pedido aos alunos que escrevessem num papel palavras que associavam ao tema. A maioria dos alunos escreveu palavras conotadas com violência física embora, surpreendentemente, bastantes alunos menciona-ram palavras que remetiam para a violência não física (psicológica, verbal, emocional e sexual). Seguidamente efectuámos o barómetro de atitu-des, actividade na qual várias frases com exemplos de violência foram lidas aos alunos e estes tinham que dizer caso concordassem ou discordassem. Esta actividade gerou bastante agitação em todas as turmas com os alunos a defenderem arduamen-te a posição tomada e tentando encontrar os mais diversos argumentos que a justificassem. Nesta actividade foi muito interessante reparar nas dife-renças encontradas entre as turmas, nomeadamen-te entre a do 9º e 12º. Para a maioria dos alunos do 9º ano, privar o/a namorado/a de estar com os amigos não é uma forma de violência enquanto que os do 12º claramente identificavam o padrão violento da situação.

A última actividade constou de um role-play em que dois alunos escolhidos ao acaso simularam

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DSRS V

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uma acção de violência no namoro e, após termi-narem, foram substituídos por outros dois alunos que simularam a mesma situação mas desta vez resolvida sem a recorrência à violência. O outcome desta actividade foi bastante positivo com a maio-ria dos alunos a identificarem os erros e a darem respostas alternativas mais inteligentes e saudá-veis.

Terminámos a nossa acção de sensibilização com uma breve conclusão sobre a temática onde focámos os pontos mais importantes e distribuí-mos folhetos com informação e contactos impor-tantes.

Ao avaliar a actividade não há dúvidas que é possível afirmar com certeza: superou todas as expectativas possíveis! Quer as do DSRS quer as dos alunos da Escola Secundária que nos fizeram prometer que regressaríamos em breve para falar de outras questões relacionadas com a sexualida-de e VIH-Sida. O entusiasmo e empenho dos alu-nos em todas as actividades foi admirável, a forma como interagiram surpreendente e a maneira

por Carlota Dias | 3º ano Coordenadora DSRS

como nos receberam memorável. O factor “idade” foi sem dúvida benéfico na transmissão da informação uma vez que os alunos sentiram maior proximidade por ser-mos jovens e assim, num misto de respeito e informali-dade, foi possível uma interacção bastante favorável entre alunos e DSRS.

Não há dúvida que o mais gratificante para nós,

DSRS, foi de facto saber que na hora e meia em que esti-

vemos com aqueles alunos conseguimos, de uma forma

mais ou menos intensa, alertar para a problemática, fazê

-los pensar e levá-los a identificar situações de risco.

Acredito que este tipo de actividades é muito enriquece-

dora para todos os elementos que nela participam e

penso que é uma das melhores formas de tentar fazer a

diferença e alertar consciências. Tenho esperança que o

impacto causado naqueles alunos tenha efeitos a longo

prazo e que o DSRS tenha mais oportunidades de desen-

volver acções semelhantes.●

Escola...

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O Departamento de Saúde Pública é visto como aquele que mais cedo aproxima os alunos da população em geral. Os ras-treios de Diabetes Mellitus, Hipertensão e

Colesterol são a sua grande marca e é, exactamente este, um dos objectivos deste departamento - possibi-litar um contacto mais próximo do que será, um dia, o teu futuro.

Neste âmbito, no fim-de-semana de 15, 16 e 17 de Abril, o departamento de Saúde pública, em parce-ria com a Câmara Municipal de Avis, realizou mais um rastreio! Mais um rastreio para muitos… Para mim, um rastreio bastante importante: o primeiro como coordenador deste departamento!

De malas às costas, o nosso grupo, constituído por 10 pessoas, partiu de Lisboa na tarde de sexta-feira e foi muito bem recebido pela bonita vila de Avis. Perfeitamente instalados no parque de campis-

mo, em apartamentos cedidos pela Câmara, foi reali-zada uma pequena formação para que todos perce-bessem em que moldes este rastreio iria ser realiza-do, dado que, para alguns, esta era a primeira vez que participavam numa actividade deste género.

Sábado pela manhã, prontos e cheios de vonta-de, fomos distribuídos por dois grupos em dois postos diferentes de rastreio. Começaram então a chegar as primeiras pessoas… Apesar do nervosismo e inexpe-riência por parte de alguns de nós, estas barreiras foram sendo quebradas ao longo da manhã. “Picadela no dedo aqui e ali” e de esfigmomanómetro numa mão e estetoscópio noutra, lá fomos rastreando, informando e aconselhando sobre hábitos de saúde e estilos de vida saudáveis… Assim decorreram os dias de sábado e domingo, sendo que neste último, o ras-treio foi realizado não nos espaços da Câmara, mas no Clube Náutico de Avis, nas paradisíacas margens

“PONHA AQUI O SEU DEDINHO”...

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A ANATOMIA DE UM RASTREIO

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da Barragem do Maranhão. Este foi sem dúvida um dia bastante agradável, com uma grande receptividade da população em geral e onde houve tempo para um bom mergulho na praia fluvial no final da tarde.

Pela noite, antes do regresso a Lisboa, reunimo-nos para um descontraído jantar onde partilhámos as experiências do nosso fim-de-semana.

O balanço final do rastreio foi bastante positivo. Foi cumprida a nossa missão de sensibilização junto da população, tendo sido encaminhados os casos conside-rados “de risco” para o centro de saúde.

O feedback recebido pelos estudantes? O melhor! O rastreio, para além de proporcionar um componente académico extra-curricular foi, para alguns, o primeiro contacto com a realidade médico-doente. Não posso ainda deixar de referir o espírito de companheirismo e amizade, que foi um dos pontos mais positivos do ras-treio! Formámos uma óptima equipa e a presença de alunos de diferentes anos é sempre um bom modo de aprender, trocar experiências e conhecimentos!

Tratados sempre de forma bastante calorosa pelas

“gentes” desta bonita terra alentejana, foram partilha-

das experiências de vida, histórias, sorrisos e, acima de

tudo, partilhámos um pouco daquilo que nos move:

fazer medicina! ●

“(…)de esfigmomanómetro numa mão e estetoscópio noutra, lá fomos rastreando, informando e aconselhando sobre hábitos de saúde e estilos de

vida saudáveis…”

A ANATOMIA DE UM RASTREIO

por Nuno Bronze | 3º ano Coordenador Dpto. Saúde Pública

HÁ 10 ANOS

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por Dr. Ricardo Mexia Antigo Presidente AEFCML AEFCMLAEFCMLAEFCML

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HÁ 6 ANOS

É uma reflexão interessante e difícil escolher entre os vários desafios enfrentados pela AEFCML há 10 anos atrás, mas aqui ficam alguns deles (tantas vezes discutidos em

reuniões intermináveis na inesquecível sala 3A): A nova Cantina terá sido dos mais comple-

xos que enfrentámos (e que se estendeu para antes e depois do nosso mandato). Desde duras reuniões de negociação e manifestações, passando pela produção de T-shirts e até confrontos físicos (!), foram inúmeras as peripécias que rodearam todo o processo.

Na altura estávamos também envolvidos no debate sobre a implementação do Processo de Bolonha. E dadas as implicações internacionais e a necessidade de termos uma voz na Europa, fomos uma das Associações Fundadoras do FAIRe (Fórum Académico para a Informação e Representação

Externa). O Hospital da Bonecada, um projecto caris-

mático da AEFCML e que conta já com uma série de parcerias, foi lançado também nesta altura, e fazendo aqui um mea culpa, recordo-me de que eu era dos seus mais acérrimos opositores, por duvi-dar da sua sustentabilidade financeira.

Não sendo uma actividade da AE, também

não pode ser esquecido o Grémio Académico, que

se desenvolveu nessa altura, tendo por base o

Código compilado pelo Luís Coentro. Quem vê hoje

a Noite de Santana, com tantos colegas trajados

não imagina que há 10 anos, quem aparecesse

trajado na Faculdade era sempre saudado com um

surpreendido “Ah... Não fazia ideia que também

estavas na Tuna...” ●

S ão 23:00 de um dia de Abril de 2005 e ter-minou finalmente a Reunião de Direcção da AEFCML. Os poucos que ainda moram em casa dos pais tinham avisado que essa

noite chegariam tarde porque havia “um jantar de turma seguido de copos algures”, que estranha-mente se tinha tornado uma justificação mais acei-tável do que (mais) uma noite dedicada à Associa-ção. Saímos, não sem antes olhar mais um bocadi-nho para a sala de convívio recentemente remode-lada (claramente por um elemento feminino, a avaliar pelas cores), e vamos para casa com uma sensação que hoje sei que se chama eudaimonia – a sensação de vida bem vivida, com significado.

O Cine@fac vai de vento em popa, há cada vez mais alunos interessados em colaborar con-nosco e estamos a um passo de conseguir que os Gato Fedorento venham a uma tertúlia no início do Verão. Ainda são pouco conhecidos, mas quase posso jurar que têm potencial.

Estão a ser ultimadas as negociações do Pro-

cesso de Bolonha e o Internato Médico está pres-tes a levar uma reviravolta. É provável que estes assuntos venham a mudar a forma como trabalha-mos no futuro. Não vejo maior honra do que fazer

parte dessa mudança. ●

por Dra. Rita Rapazote Antiga Presidente AEFCML

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AEFCML

A ntes de mais, é importante esclarecer um conceito óbvio mas que por tantos passa ao lado… A associação de estudantes é constituí-da por alunos, de modo a defender os seus

interesses e a proporcionar actividades para que se pos-sam não só divertir, mas sobretudo complementar e enriquecer a sua passagem pela FCM, cultural e acade-micamente. Conceito óbvio que por tantos é negligen-ciado, quando não só não colaboram, como nem tão pouco o reconhecem. Criticar destrutivamente é fácil e o português sabe tão bem fazê-lo.

O que fazer para dar um novo rumo à nossa AE?

Contam-me que em tempos a AE era movida, essencialmente, por um grande grupo de alunos que tinha como principal preocupação a implementação do Processo de Bolonha, a realização de festas e a procura de melhores condições para os estudantes. Será que mudou assim tanto? Diria que os assuntos que nos assombram actualmente são diferentes, mas não menos importantes. Já lá vamos.

As Associações de Estudantes são muitas vezes rotuladas como grupos revolucionários, quase como que sindicatos, por demonstrarem de certa forma os seus actos não só por palavras mas também por manifestações. Será que mudou assim tanto? Talvez não, uma vez mais as preocupações não são as mesmas mas a atitude de querer mudar e mostrar que os alunos também têm uma voz mantém-se.

Os grandes assuntos com que nos debatemos, localmente através do contacto directo com a Direcção da Faculdade e a nível nacional através da Associação Nacional de Estudantes de Medicina, prendem-se sobretudo com a implementação da nova Prova Nacio-nal de Seriação, abertura de novos cursos de medicina em Portugal, chegada de alunos a estudar no estrangei-ro, espaços de estudo dentro e fora da faculdade e ain-da com a Reforma Curricular. Em resposta ao passado versus presente, acho que apesar de não ter mudado a atitude, mudámos muito as relações e as bases de tra-balho que mantemos, não só com a Faculdade como

com outras entidades através da ANEM. As manifesta-ções deixam de ser uma constante pois passamos a ser ouvidos e conseguimos fazer, a pouco e pouco, a mudança que queremos ver. Daí a importância da parti-cipação dos estudantes nas Reuniões Gerais de Alunos. Ouvir os estudantes para os defender.

A nível de grandes projectos, a AEFCML não só preservou e alargou os horizontes de algumas activida-des como o Hospital da Bonecada e o Arraial de Santa-na, como criou e desenvolveu novos projectos: o Con-gresso iMed, inovar a Medicina, e os Arraiais da Nova e de Medicina, em parceria com as faculdades que consti-tuem a UNL e com a FML, respectivamente. A diferença baseia-se não só na dimensão dos projectos e conse-quentemente na sua visibilidade, mas também no tar-get que conseguimos agora alcançar, promovendo não só a nossa AE e os nossos projectos, mas também pro-movendo as relações interpessoais entre os estudantes das diferentes faculdades. De salientar que, o Hospital da Bonecada actual, recebe um grande número de esco-las e tem um impacto tremendo nos mais jovens. Já o Congresso iMed, proporciona uma formação extra-curricular em temas que estão a revolucionar as dife-

rentes áreas médicas, sendo uma mais-valia para nós, futu-

ros profissionais de saúde, como também possibilita um complemento à formação académica com workshops diversos, como o Suporte Básico de Vida.

Os departamentos da AE também cresceram muito. Todos, sem excepção. Os intercâmbios aumenta-ram o número de vagas, diversificando os locais das mesmas. Quanto aos departamentos da área cultural e recreativa, limito-me a dizer que passaram da sala de convívio de estudantes para o aquário da faculdade com direito a disc-jockey e sistema de som, o que nin-guém diria ser possível há uns anos atrás. O desportivo tem tentado manter as equipas da faculdade unidas e possibilitou a compra de novos equipamentos para as mesmas. A saúde reprodutiva e SIDA nos últimos 2 anos, teve um boom nas actividades de prevenção e educação nas escolas através de palestras ou de work-

HOJEHOJEHOJE

“(…)os alunos também têm uma voz(…)”

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shops, abordando desde a prevenção materna à homo-parentalidade. A saúde pública inova anualmente nas áreas de prevenção, mantendo os rastreios e as colhei-tas de sangue e chegando aos estudantes e à popula-ção na implementação de estilos de vida saudáveis. A ciência e a investigação tem-nos proporcionado novas informações na área científica, através da realização de um boletim científico e palestras. A acção social não só mantém a vertente do apoio ao aluno como ponte com os Serviços de Acção Social (SAS-UNL), como abrange actividades de cariz voluntário, como o apoio aos sem-abrigo e às crianças carenciadas, na qual os estudantes têm um papel activo e fundamental. O recém-criado departamento de marketing tem permitido manter as actividades da AE, através de um fundraising organiza-do e eficaz. Entretanto há todo um novo conceito no qual não me vou debater, pois envolveria abordar a evolução das redes sociais, meios de comunicação e afins, apenas para dizer que o departamento de infor-mação, web e design cresceu exponencialmente nos últimos anos, dando projecção às actividades da AE quer pelo website, facebook, ou newsletter. De um modo geral, posso afirmar que demos um passo em frente em projectos e actividades, proporcionando aos estudantes n formas de enriquecerem os seus currícu-los e a sua formação pessoal.

Agora pedem-me que dê resposta à seguinte pergunta: O que é a nossa Associação de Estudantes hoje? A minha resposta é simples: será que mudou assim tanto? Pois o princípio é o mesmo desde sempre: somos um grupo de alunos que tem por objectivo

defender o interesse dos alunos e promover activida-des para os mesmos de modo a enriquecer a sua passa-gem pela faculdade. Ora bem, um grupo de alunos. É importante perceber que organizar actividades e repre-sentar os alunos da nossa Faculdade requer organiza-ção, responsabilidade, tempo e muito empenho pes-soal. Mais importante que isso, é perceber que o asso-ciativismo é feito por nós, pelos alunos.

Dito isto, lanço o repto aos estudantes de se envolverem, participarem, aprenderem e construírem algo novo, investindo também na sua formação pes-soal. Já dizia Abel Salazar, O médico que só sabe Medi-cina, nem Medicina sabe. A tua AE está a mexer! E tu,

vais continuar parado? ●

por Tiago Pack | 5º Ano Vice-Presidente AEFCML

Apoios Anuais

14

À PROCURA DO SEU

PALHAÇO INTERIOR

15

por Saulo Saraiva | 2º ano Coordenador Dept. Cultural

S orrir está na ponta do nariz Diz-se que rir e sorrir são os melhores remédios. São baratos, e fazem bem ao corpo e à alma, não haja dúvida. Razões para sorrir, essas nunca faltam. Mas o

nosso quotidiano autista frequentemente nos obriga a repartir o olhar entre o relógio e o passeio, não sobran-do tempo para apreciar os detalhes mais simples que todos os dias se cruzam connosco.

Sorrir é também a forma mais simples e imedia-ta de comunicar. Não requer prática e até o bebé o reco-nhece e retribui. Independentemente do estímulo, esta forma de comunicação não-verbal espelha muito de cada um de nós. Uns mais arrebatados, outros comedi-dos, todos os sorrisos são bem-vindos em qualquer altu-ra e em qualquer lugar.

E foi justamente com um sorriso e dois braços abertos que no passado dia 31 de Março, recebemos na nossa Associação de Estudantes os nossos amigos Ope-ração Nariz Vermelho, representados pelo sorridente Mark Mekelburg, formador e director artístico, bem como um dos seus fundadores.

O Mark é nos restantes dias o Dr. P. P. P. Pipo-ca, um dos vários Doutores Palhaços que se encarregam de espalhar magia, risos e sorrisos pelas crianças inter-nadas em vários hospitais pelo país inteiro. Com a sua especialidade em nada, veste a bata branca, coloca o estetoscópio ao peito e sempre acompanhado pelo seu nariz vermelho e pela sua especial pronúncia, oferece consultas diferentes do habitual. São consultas com balões, música e muitos sorrisos partilhados. Indepen-dentemente do quadro clínico da criança, a sua receita é sempre a mesma: um nariz vermelho e um sorriso são os

melhores e mais adequados remédios. Mas desta vez foi ligeiramente

diferente. Sem bata nem nariz colorido, o Mark pagou um jantar ao Dr P. P. P. Pipoca, e ao som de La Vie en Rose, trouxe-nos uma tarde bem-disposta, com inúmeras reflexões escondidas nas suas alegres palavras, que nos aproxi-mou a todos, conhecidos e não conhecidos. Entre pala-vras, jogos divertidos e muitas palhaçadas, todos os par-ticipantes se desinibiram e esqueceram as suas preocu-pações durante aquelas breves horas. (Re)lembrou-nos a importância do sorriso no nosso dia-a-dia, e do impac-to desse gesto tanto nos outros, como em nós.

E por mais adormecido que possa estar em alguns, todos fomos capazes de descobrir o nosso palha-ço interior, que certamente será relembrado daqui a poucos anos no consultório, no bloco ou até na sala de espera. Arriscaria até dizer que num mundo pintado de preocupações, um médico poderá contribuir em muito para a recuperação de um doente, com uma postura algo mais que empática. Porque um sorriso não cura tudo, mas ajuda a curar.

E se me permitem o conselho, ficam aqui dois filmes que em muito ajudarão a descobrir o palhaço que existe em cada um de nós, pelo menos até ao próximo workshop da ONV: Modern Times e Patch Adams.

Da nossa parte deixo aqui um grande Obrigado aos nossos amigos da Operação Nariz Vermelho pelo seu importantíssimo trabalho diário que complementa na perfeição o trabalho do médico bem como do restante pessoal que presta os demais cuidados de saúde.

E tu que nos lês, já sorriste hoje? ●

A pós a apresentação, no 33º Aniversário da

FCM, dos princípios gerais para o NOVO

currículo, foi solicitado aos coordenadores

das sete Áreas de Ensino e Investigação

(AEI) em que a faculdade está organizada que identifi-

cassem as competências nucleares do Mestre em Medi-

cina, que dentro de cada área os alunos deverão adquirir

(conhecimentos, atitudes e procedimentos).

Depois de recebidas essas competências, cerca de

um mês depois, foi apresentada e

ratificada pela FCM, em Reunião

Geral de Docentes e na semana

seguinte em Reunião Geral com os

representantes dos alunos, uma

proposta de desenho curricular. A partir daí e até ao fim

de Abril. Foi solicitado, novamente aos coordenadores

das AEI que identificassem as unidades curriculares

(antigas disciplinas) que deveriam ser obrigatórias den-

tro de cada área, propusessem unidades curriculares

integradoras obrigatórias e ainda unidades opcionais.

Em final de Maio, a Direcção enviou ao Conselho

Científico e ao Pedagógico a proposta de desenho curri-

cular para o NOVO plano de estudos. Esta proposta foi

aprovada pelo Conselho Científico na sua reunião de 7

de Junho. O Conselho Pedagógico pronunciar-se-á sobre

ela na reunião agendada para o dia 22 de Junho. Foram

nomeados, pelo Científico, os regentes para as unidades

curriculares obrigatórias do 1º ano e já está agendada,

para a semana de 20-24 de Junho, a primeira reunião de

trabalho destes regentes para efeitos de articulação de

conteúdos e preparação de horários. As unidades curri-

culares opcionais, a disponibilizar no 1º ano em 2011-

2012 e a proposta de regime de transição (para alunos

do plano antigo que não obtenham aproveitamento em

todas as unidades curriculares do 1º ano actual) serão

submetidas ao Conselho Científico a 5 de Julho.

A apresentação do NOVO currículo a todos os

docentes e alu-

nos está calen-

darizada para o

dia 27 de

Junho.

O NOVO currículo será implementado gradual-

mente – o 1º ano em 2011-2012 e assim sucessivamen-

te. Há uma proposta de antecipar a implementação do

NOVO 6º ano em 2012-2013 que será oportunamente

discutida.

Paralelamente à preparação do NOVO currículo, o

Conselho Pedagógico terminou a elaboração a 18 de

Abril, de 3 documentos fundamentais para a organiza-

ção do ensino na FCM: Regulamentos de Assiduidade,

Avaliação e Organização Curricular. Estes foram aprova-

dos pelo Director e divulgados durante o mês de Maio.

As inscrições “online” serão alargadas a todos os anos do

curso (excepto 1º ano) e à elaboração de turmas.

16

ac

on

te

ce

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cm

COMO TEM

PASSADO?

“O NOVO currículo será implementado gradualmente – o 1º ano em 2011-2012

e assim sucessivamente. “

Independentemente da reforma, a FCM alargou o

ensino no CHLC (Ginecologia e Obstetrícia, Imagiologia e

Oftalmologia) e no Hospital Amadora-Sintra (2 serviços

de Medicina Interna). Para preservar o ratio, o currículo

em vigor alargará os

locais de estágio para

as instalações referi-

das. Estes novos acor-

dos não implicam a

eliminação dos locais

de estágios actuais.

Questões suscitadas pelos Alunos sobre o NOVO currícu-

lo:

Haverá clínica no primeiro ano?

Sim, a primeira unidade curricular clínica surge no

1º Ano: Suporte Básico de Vida, que é obrigatório.

No 2º ano haverá duas UC clínicas obrigatórias:

Imagiologia e Anatomia Clínicas e Introdução à Prática

Clínica. No 3º ano haverá 3 UC clínicas e assim, sucessi-

vamente, até ao 6º ano que será praticamente todo clí-

nico. O que se pretende é introduzir mais precocemente

a clínica e levar conteúdos das ciências básicas para uma

fase mais adiantada da formação onde a sua aprendiza-

gem será mais contextualizada.

Ninguém já na faculdade apanhará as mudanças?

Esta prevista a estudar a hipótese de poder dispo-

nibilizar a UC de suporte básico de vida aos alunos do

currículo antigo. E, tal como já se referiu, o NOVO 6º ano

poderá ser introduzido já em 2012-2013. Este 6º, conti-

nuará a ser um estágio prático com uma UC opcional e

uma UC Integradora “Preparação para a prática clínica:

integração de conhecimentos” que contribuirá de forma

muito directa para a preparação para a PNS, o NBME.

De regresso à reforma, em jeito de conclusão:

- Para que a clínica avance no currículo, os funda-

mentos têm de ficar reduzidos ao essencial e aprofunda-

dos no contexto da clínica;

- Colmataram-se lacu-

nas previamente identifica-

das no anterior currículo: as

competências em medicina

emergente e doente crítico;

as competências em aspec-

tos sociais, de comunicação,

gestão e organização do sistema nacional de saúde; as

competências na prescrição de medicamentos; o ensino

por simulação; a articulação e integração de conteúdos

para evitar duplicações; a preparação dos alunos para

um novo modelo de PNS.

Todo este processo será acompanhado por uma

formação dos doentes, iniciada no 1º ano, e pela moni-

torização rigorosa da implementação do NOVO currícu-

lo.●

Professora Doutora Maria Emília Monteiro Presidente do Conselho Pedagógico

17

“Para que a clínica avance no currículo, os fundamentos têm de ficar reduzidos

ao essencial e aprofundados no contexto da clínica;“

O estudante de

Medicina não

faz só

Medicina. Nem

o Médico.

Nem o

Professor.

Medicina é mais

que Doentes.

Medicina é

História,

Teatro, Música,

Desporto,

Escrita e por

fim, ser-se

Médico.

Viver a Colina da Saúde Prof. Doutora Madalena Esperança Pina

Professora Auxiliar da FCM Investigadora do Centro de Estudos de

História e Filosofia da Ciência / FCT

Grupo de Teatro Miguel Torga

GTMT Grupo de Teatro da FCM

Tuna Médica de Lisboa

TML Tuna Mista da FCM e FMUL

Reflexões de quem Nada por Tudo e por Nada

Joana Seabra Estudante no 2º ano da FCM-UNL

Entrevista ao Professor Doutor Pedro Freire Costa

Miguel Paiva e Rui Malha Estudantes no 2º ano da FCM-UNL

Departamento Web, Informação e Design AEFCML

por

Tema de CapaTema de CapaTema de Capa

Medicina nos Medicina nos Medicina nos Tempos LivresTempos LivresTempos Livres

20

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A Colina de Santana, uma das sete que

caracterizam Lisboa, tem um património

histórico, arquitectónico, artístico e

social há muito ligado à Saúde e à Medi-

cina em particular. O local vem despertando o interes-

se da investigação científica na área das Ciências da

Saúde, por se tratar de um fenómeno único, com

importância no contexto português e europeu. A Coli-

na da Saúde faz parte do quotidiano dos alunos da

Faculdade de Ciências Médicas, que a estudam, a

conhecem e dela fazem parte, porque o património da

colina é também humano.

Na base da colina começa o percurso. Lá em

baixo, a Praça da Figueira guarda a memória urbanísti-

ca e científica do Hospital Real de Todos os Santos,

grande hospital de fama europeia com fachada virada

ao Rossio.

Subindo a encosta, alcança-se o portal do Hos-

pital de São José, homenagem feita à vitória sobre os

franceses no contexto das Invasões. Abre-se caminho

para um complexo hospitalar activo desde 1775, o

“pai” dos emblemáticos Hospitais Civis, que ainda

marcam presença na gíria médica. Estes, oficialmente

criados em 1913 pelas reformas da República surgiam

gradualmente do movimento de anexação de espaços

conventuais ou da criação de novas construções hos-

pitalares. São Lázaro, Desterro, Capuchos, Santa Mar-

ta e um pouco mais longe, a Estefânia, Arroios e

Rêgo / Curry Cabral, constituiriam os Civis, escola clíni-

ca (e de vida) muito marcante para quem nela traba-

lhou. Perto, o Miguel Bombarda, que nunca pertenceu

ao conjunto, prestava, no sítio de Rilhafoles, assistên-

cia à Psiquiatria.

Pertencem à memória do espaço o Instituto

Bacteriológico Câmara Pestana, que começou a sua

actividade enquanto serviço do Hospital de São José

em 1892, o Instituto de Medicina Legal, criado em

1899 como Morgue de Lisboa e o Instituto Ricardo

Jorge, criado em 1889 como Instituto Central de Higie-

ne por Ricardo Jorge, que teve no Campo de Santana a

sua segunda casa.

O percurso chega ao topo, alcançando a Facul-

dade, construída para a Escola Médico-cirúrgica de

Lisboa, que funcionou nos terrenos do São José e no

Campo de Santana conheceu um projecto de arquitec-

tura que se coadunava com o valor do seu ensino.

Inaugurado em 1906 para o XV Congresso Internacio-

nal de Medicina, que contou com dois mil congressis-

21

tas, nele nasceu, em 1977, a Faculdade de Ciências

Médicas, como unidade orgânica da Universidade Nova

de Lisboa.

O edifício surpreende quem nele entra. É históri-

co, tem um património artístico único e liga-se harmo-

niosamente à colina. A Faculdade tem vida, nela se ensi-

na e aprende Medicina, nela se praticam os rigores da

investigação científica. Do seu património e da sua his-

tória fazem parte a sua vida enquanto espaço, o jardim

envolvente, a vista sobre o Castelo de São Jorge, a pro-

ximidade do Torel e o diálogo com a estátua de Sousa

Martins, homem notável de Ciência.

Pelas suas escadas subiram muitas figuras de

referência, entre médicos e cientistas, professores e

alunos. Até o Vasco Leitão, exímio conhecedor da Bri-

tish Pharmacopeia e do esternocleidomastoideo, deixou

na Faculdade a sua referência. Foi boémio e estudante

num âmbito ficcional mas de um documento cinemato-

gráfico de valor inestimável para a história do Cinema

português. Simboliza bem, no seu esforço para chegar

ao fim do curso, os alunos que vivem aquele espaço e

que são, afinal, o seu património humano. Da Faculdade

e da colina de Santana.

A Colina da Saúde consolidou-se da experiência e

da memória da Ciência e desta continua a viver. Criar o

hábito difícil de subir a Calçada do Moinho de Vento,

saber contorná-lo usufruindo do Elevador do Lavra,

lembrar o valor de um espaço que se fez da saúde e que

pertence à cidade, sentir a Faculdade como um manan-

cial de memória médica que se conjuga com a Ciência

mais actual e agarrar a capa com o orgulho de Santana,

que se fez do saber e da tradição.

Tudo isso é viver a Colina da Saúde e dela fazer

parte. ●

por Prof. Doutora Madalena Esperança Pina Professora Auxiliar da Faculdade de Ciências Médicas

da UNL, Investigadora do Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência / FCT

Foto: A Rainha D. Amélia no Dispensário de Alcântara, painel da autoria de Jorge Colaço, Faculdade de Ciências Médicas, Universida-de Nova de Lisboa, Serviço de Audiovisuais FCM/UNL.

1 º ano. Tudo é novidade, uma luminosidade estonteante, e uma escuridão imensa. Pes-soas para conhecer, sítios para nos integrar-mos. Por vezes, é tão fácil. Por vezes, não é.

Um sentimento de segurança, de pertença. De cumplicidade. Apoio. Loucuras, momentos que vão ficar. Momentos de riso incontrolável, discussões… e amigos outra vez. Uma família com quem podemos contar, sempre. Muitas horas passadas juntos, muitas noites na faculdade!

Será que “rouba” algum tempo? Cla-ro que rouba algum, mas isso é compen-sado de imensas formas. A auto-confiança que se ganha, a possibilidade de experimentar diversos papéis, de nos colocarmos na pele de alguém. Esta capacidade é vital num médico – a da empatia.

“O médico que só sabe de medicina, nem de

medicina sabe”, não é verdade? Há que experimentar outras coisas, abrir horizontes, fazer uma pausa. E o tea-tro está cá para isso tudo.

Existem mesmo aqueles que, já acabado o curso,

decidem continuar. Existe gente que vem de outras faculdades, existem mesmo aqueles que trabalham noutras áreas, e decidem vir. E porquê? Porque o GTMT se entranha na pele! Ser membro do GTMT não é um mero hobby, é um estilo de vida.

Grupo de Teatro Miguel Torga

22

Será que há tempo para tudo?

Porquê ser um GTMTiano?

Sonhar, Socializar, Partilhar

Novidade,

Indisponibilidade

Entrega, Expressar, Vergonha

Ser e Não Ser, Comunicar

Evoluir, Incompatibilidade,

Criar.

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A Tuna Médica de Lisboa nasceu através do

esforço conjunto de estudantes das duas

Faculdades de Medicina da cidade de Lisboa,

criando um precedente que permitiu ameni-

zar antigas rivalidades, sendo, nos dias que correm, um

dos símbolos mais marcantes da tradição académica das

duas Faculdades.

A Tuna que, na Faculdade de Ciências Médicas, se

apresenta todos os anos aos novos alunos na Noite de

Santana e na Noite da Tuna, deu início à sua vida artísti-

ca e boémia a 6 de Dezembro de 1995. Nos 15 anos de

existência da Tuna Médica, orgulhamo-nos de ter parti-

cipado em vários Festivais e Encontros de Tunas, amea-

lhando troféus como de “Melhor Solista” e “Melhor

Tuna em Palco” no I Festival de Tunas da Cidade de Lis-

boa, ou o de “Melhor Pandeireta”, “Melhor Instrumen-

tal”, ou “Tuna Mais Tuna” (entre outros!), ganhos

nos festivais em que, em 2011 participámos,

por Viseu, Coimbra, Lisboa e Leiria.

Em celebração do 15º aniversá-

rio, foi formalizada a existência da

Tuna Médica como Associação de

Jovens de forma a melhorar a nossa

organização e profissionalismo para

com os nossos amigos, fãs e patroci-

nadores.

E em 15 anos, por onde andámos?

Ao longo da nossa vasta história, participámos em

diversos programas de televisão, Congressos Médicos,

festas populares, feiras temáticas, diversas edições do

Natal dos Hospitais e até o “Diz que é uma espécie de

Magazine” na RTP. Já por 4 vezes saímos do continente

e rumámos à Madeira e aos Açores.

Hoje em dia uma renovação está em marcha, para

que a geração que agora nasce continue a espalhar pelo

país e pelo mundo a alegria e boa disposição em palco,

que com toda a reconhecida animação e vivacidade fora

de palco, se tornam o apanágio desta Tuna.

Ser TMLico não é simplesmente pegar na guitarra,

cavaquinho ou bandolim; muito menos subir a palco,

tocar 5 músicas, dizer adeus e obrigado pelos prémios. É

fazer parte de uma família que nos acolhe

porque dizemos que nos queremos jun-

tar, e porque se há Fado que nos leva

a mão ao peito, é o fado que dita a

“razão de ser Doutor e ser Fadis-

ta”. ●

23

Tuna Médica de Lisboa

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O uvimos falar recorrentemente de actividade física, de desporto e de competição, seja nas aulas, no telejornal, ou até numa conversa de metro em que se discute o último jogo do

Benfica. Sabemos na ponta da língua os efeitos benéficos

da actividade física e do desporto para a saúde, os aspectos fisiológicos que lhe estão subjacentes e até os músculos que utilizamos para fazer este ou aquele ges-to.

De um ponto de vista mais sociológico, sabemos o quão importante é o desporto como forma de integra-ção num grupo, ou até a sua importância para incutir o sentido de fair play…

Mas serão realmente estas as razões que nos fazem mover? Sim, talvez, quando pensamos numa prá-tica de uma ou duas horas por semana no ginásio, ou na piscina, libertando-nos do stress, do tédio, ou do peso que o quotidiano nos empresta.

Mas e a competição? O que nos faz atirar todos os dias para dentro de

água às 6h30 da manhã, e de nadarmos até estarmos demasiado cansados para sentir inclusive qualquer can-saço?

O que nos impele a suportar as dores que nos per-correm o corpo ordinariamente, mais aquelas, extraordi-nárias, a que apelidamos de lesões, que por vezes se lhes sobrepõem?

O que nos move quando o corpo nos manda parar, parar, parar e teimosamente não paramos de nadar?

Onde é que está a racionalidade no gosto que temos pela competição?

O que é que nos faz roçar os limites do suportável, uma e outra vez, só para no dia seguinte os tentarmos novamente superar?

Como explicar o prazer que nos dá toda aquela adrenalina que nos vai invadindo até se apoderar com-pletamente de nós?

E como verbalizar tal sensação…? Já todos vocês terão decerto experimentado

aquele “nervoso miudinho”, como se um milhão de bor-boletas nos esvoaçasse pelo estômago… também conhe-cido como o “Síndrome Pré-Oral de Anatomia”. Agora, deixem esse sentimento multiplicar-se… “exponencializar-se”, ao som de tambores, cornetas, gritos e assobios, num clamor crescente, vibrante, ensurdecedor…

Há um qualquer sentimento de êxtase, vindo não sei de onde que se apodera de nós, e durante aquele instante tudo parece possível. Há um momento em que nos libertamos de tudo… de todos os pensamentos, de todas as preocupações, da exaustão, da dor… um momento em que simplesmente só sentimos… nada, nada, e nada mais do que… nada!

E são esses momentos irracionais que nos dão a razão para continuar… apesar do cansaço que se apode-ra de nós ao final do dia quando chegamos a casa com a mala dos livros num ombro e o saco dos treinos no outro, do cansaço que por vezes leva a melhor e nos faz perguntar se valerá a pena… Mas vale sempre, e sempre

a pena! ●

Reflexões

N A DA

por Joana Seabra | 2º Ano Aluna da FCM-UNL

de quem por tudo

e por NADA

25

C onhecemos o Professor Pedro Costa das Teó-

ricas de Fisiologia, ou talvez mais... Alguns

mesmo só das teóricas, pela simpatia com

que nos cruzamos e trocamos uns minutos

de conversa pela faculdade.

Perguntámos se o Professor é uma pessoa curio-

sa. A resposta foi afirmativa e revelou que a pergunta

“Porquê?”, a mesma da primeira aula do ano, leva a

grande parte das suas actividades fora do âmbito médi-

co. É uma vontade semelhante a “esgravatar” para

obter os conhecimentos que acha adequados para res-

ponder às suas questões mais pertinentes, e a vontade

de descoberta em algumas formas de expressão artísti-

ca.

No meu caso é, quase sempre, um movimento

que parte da curiosidade… querer saber, por exemplo,

como se faz teatro? Como é que se escreve para o tea-

tro? A escrita para o teatro é diferente? Claro que é! E

quão diferente é? Que técnicas tem? Começa-se a

esgravatar... Mesmo que não se

faça teatro, sabe-se como se

faz. O resultado é que vamos ao

teatro e reparamos nos porme-

nores. Do meu ponto de vista é

particularmente enriquecedor:

dá tolerância e intolerância. No

fundo, é uma perspectiva muito

enriquecedora e aplicável à

escrita ou às artes plásticas. Uma pessoa pode mesmo

interessar-se pelas coisas de uma forma solitária. A pes-

soa escreveu sobre um assunto pelo qual se interessa?

Não... Fez alguma palestra? Não… Conversa sobre isso

com os amigos? Raramente. Podemos dividir as coisas

em dois níveis: actividades em grupo ou solitárias.

Quais prefere?

Têm muito mais piada as actividades não solitá-

rias. Ao longo da vida surgiu muita coisa, esgravatei mui-

ta coisa e tenho actividades solitárias e em grupo. Uma

muito solitária é a escrita, mas pensando bem, o verda-

deiro escritor é aquele que tem esperança em partilhar

o que escreve, publicando. A pintura também é solitária

e nos últimos anos pintei apenas para oferecer, porque

deixei de guardar coisas. É uma actividade solitária mas

a sua partilha é muito mais específica.

E a música?

A música pode ou não ser solitária e em grupo

tem muito mais piada. A música tem uma riqueza de

interacção muito interessante, mas mais uma vez, esta-

mos sempre a pensar no que está a acontecer numa

sociedade… Podemos estar num quarteto que, embora

toque muito

bem, um dos

músicos é hiper-

reactivo às falhas

e o ensaio torna-

se muito mais

cansativo. O

objectivo, natu-

ralmente, é fazer

as coisas como deve ser, mas a questão é o caminho que

se faz. Se há exemplo desse tipo de interacção é o Jazz.

As pessoas pensam que o improviso é uma coisa que cai

do céu, quando na verdade tem técnicas e cada músico

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REGENTE DE FISIOLOGIA ao

BATERISTA CURIOSO

do

Entrevista ao Professor Doutor Pedro Freire Costa Por Miguel Paiva e Rui Malha | WID AEFCML

“Têm muito mais piada as actividades não solitárias. Ao longo da vida surgiu muita coisa, esgravatei muita coisa e

tenho actividades solitárias e em grupo. ”

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apa

tem as suas preferências. O improviso pode correr bem

ou mal, mas tem regras e descobertas. Uma das coisas

engraçadas do Jazz é que ao longo do tempo os músicos

foram encontrando caminhos para formas, de modo a

integrar o improviso num todo. Não se inventou muito,

arranjaram-se formas de associação do que já existia.

As bases?

Um músico de Jazz difere dos outros por mais

cedo precisar de conhecer a estrutura da música; é um

caminho mais duro feito em simultâneo.

Que instrumentos

toca?

Sou baterista de

Jazz, e também uso o

piano para estudar har-

monia, mas não sou um

músico eficiente. Para

mim, para se ser um

músico eficiente, é preci-

so tocar de uma forma

razoável o que se gosta e

também o que não se gos-

ta; eu não sou eficiente a tocar o

que não gosto! Houve uma altura em que tocava nos

ensaios de uma Big Band, com uns músicos bons. Eu não

gosto muito do reportório de Big Band, daquelas com-

posições e de muitos dos arranjos. Eu não me sentia

motivado para estudar aqueles arranjos em casa e o

maestro dizia: “Ouve lá, não toques coisas tão elabora-

das”; queria, naturalmente, que eu tocasse como estava

escrito, de acordo com o arranjo; eu entusiasmava-me,

querendo aplicar estratégias de comping típicas do

pequeno grupo.

Acho que o que deve distinguir um amador de um

profissional é o facto de o amador não receber dinheiro,

ou não viver disso. Mas se o amador encarar a música

de uma forma displicente - “não tenho de tocar muito

bem” - não vale a pena. Por outro lado, o paternalismo

que se pode ter em relação aos amadores é triste. É tris-

te dizer “’tá bem, são amadores…”.

Tenho um amigo contrabaixista; vamos lá para

casa dele, tem uma bateria que é do filho, praticamos os

dois. Um dia apareceu um amigo dele que é saxofonista.

O meu avô dizia que “o contorno da personalidade das

pessoas se manifesta à mesa de jogo” e eu digo “se

forem jazzistas é quando estamos a tocar, é a forma

como as pessoas vão ao encontro umas das outras”.

Naquela tarde saiu tudo à primeira… parecia que tínha-

mos tocado durante anos. Era óbvio quando o saxofo-

nista acabava uma frase, e o baterista deve acentuar a

transição entre frases, que embora habitualmente

durem por dois ou quatro compassos, podem variar em

extensão. Outro exemplo

foi quando eu toquei com

outro músico e eu não percebi

bem a cabeça dele; o resultado

não foi o mesmo. Cada músico

de Jazz tem um pouco de músi-

co e de compositor. Não se

improvisa do nada, mas sim

sobre uma coisa que está escri-

ta e tem regras!

Em Portugal gostam de

Jazz?

Não, em Portugal são poucos os sítios

onde se toca Jazz ao vivo. De facto, não há muitos sítios

e ao fim de duas sessões a história é sempre a mesma: o

gerente pede para tocar música Brasileira e um tempo

depois 90% é música Brasileira…

Chegou a compor?

Tenho exercícios de composição, tenho para lá

uns papéis que escrevi, que foram usados como ferra-

mentas de auto-aprendizagem…

Voltando à escrita, publicou alguma coisa?

Sim, sim! Ficção. Gosto de escrever coisas peque-

nitas. O primeiro romance, “O Tempo da Ceia”, já esgo-

tado. Escrevi depois um romance para miúdos, um livro

de aventuras para leitores de onze, doze anos: “O Mer-

cador da Galáxia”. Contactei um editor, virado para este

género, disse que vinha a propósito de uma colecção

que iam começar. O tempo passou e estava a ser com-

plicado assinar o contrato. Desistiram da colecção, eu

fiquei cansado daquilo. O manuscrito ficou anos esque-

27

cido num disco de computador. Voltei a encontrá-lo

quando procurava outro texto, a propósito de cinema,

quando falei com um amigo cineasta. Insistiu em fazer-

mos um filme com uma história que eu tinha por acabar.

Foi assim que sur-

giu o argumento

cinematográfico,

de “Presa por um

Fio”, em que par-

ticipou uma aluna

que fizera teatro,

a Raquel Maia.

Com ela já tinha

feito outro filme com o Artur Lourenço [também ex-

aluno], uma adaptação de um conto de Tchekov. Na

produção de “Presa por um Fio” toda a equipa era pro-

fissional, excepto eu e a Raquel. Eles aceitaram a direc-

ção de um amador.

E o Mercador?

Fui relê-lo. Ainda gostava. O que se poderia

mudar? Nem uma vírgula! Fui ter com um editor que

disse sim e de uma forma mais escorreita. Isto há uns

cinco ou seis anos. Depois aconteceu uma coisa com

imensa piada: o livro foi seleccionado para o Plano

Nacional de Leitura! Acho que é o melhor que pode

acontecer a um livro para jovens leitores… Alguns alu-

nos de português vão fazendo trabalhos sobre o livro.

Os editores dizem-me que recebem pedidos de quinze,

dezassete livros de livrarias espalhadas pelo país fora e

de que nunca tinham ouvido falar! Está no nível B, o

superior de dificuldade, porque tem um “vocabulário

tramado” que vai apertando ao longo da história. É lite-

ratura juvenil, mas tem um ‘piscar de olho’ para os adul-

tos e muita alusão à mitologia grega. Tem o mistério das

viagens aventureiras, para manter o leitor agarrado. É

aquilo a que alguns costumam chamar o “segredo de

Sherazade”: o que dá ao leitor vontade de virar a pági-

na. Hoje existem já três capítulos para um segundo volu-

me.

Escreveu para mais que o cinema e livros?

Escrevi para o Grupo de Teatro Miguel Torga, e

levaram à cena duas vezes!

Teve sucesso, então?

Teve, teve! Pôs uma plateia a rir à gargalhada

uma noite inteira, mas tem um final que faz torcer o

nariz. Chama-se “O Som da Sedução”.

Voltando ao início… é o

motor da curiosidade. Que-

remos saber “Como é que

é?”. Ao ver cinema ou tea-

tro, fica-se em dois planos,

o do observador e o do

criador da obra; estou a ver

um filme e digo “Ah, gran-

de shot!”. Estou a ver o filme e digo, “Ele vai cortar para

ali“ e corta... Perguntam-me como sabia e respondo que

é óbvio! “Olha, que interessante movimento de câma-

ra”, “Olha, ele está com a câmara parada há dois minu-

tos e a cena está fantástica!”. Outras vezes ponho uma

data de atributos negativos.

Todas as histórias podem valer, tudo depende da

forma como são contadas… Quando conto histórias a

crianças conto sempre uma versão minha, e aí há dois

tipos de reacção: uns não gostam e outros ficam colados

à história! Pergunto: “Porque é que o lobo *dos três por-

quinhos+ não terá espirrado sobre a casa de palha?”.

Isto tem a ver com a forma de contar uma história… Mas

tem que ter o segredo de Sherazade!

O Professor é Curioso? Percebemos que sim e que

adora conversar sobre o que lhe dá gozo, sem necessi-

dade de justificação para nos sentarmos a conversar!●

“(…)o mistério das viagens aventureiras, para manter o leitor agarrado. É aquilo a que alguns costumam chamar o “segredo de Sherazade”: o que dá ao leitor vontade

de virar a página. ”

Nasceu em 1950. Licenciou-se em Medicina em Lisboa e é regente da cadeira de Fisiologia da Faculdade de Ciências Médicas da UNL. Viveu no Reino Unido, onde se doutorou na universidade de Bristol.

28

Me

dic

ina

e In

ve

stig

ão

A Unidade de I&D CEDOC (Centro de Estudos de Doenças Crónicas) é um Centro de Investi-gação formado em 2007, que visa a excelên-cia na investigação das ciências médicas diri-

gida às doenças crónicas. Encontra-se sediado na Faculdade de Ciências

Médicas, Universidade Nova de Lisboa e durante estes 3 anos de existência triplicou o número de investigado-res doutorados, de 25 para 72, com o objectivo princi-pal de estimular a investigação de excelência dentro da Faculdade. Para melhorar ainda mais a qualidade e a abrangência da sua pesquisa, o CEDOC definiu como prioridade fazer parte do Laboratório Associado de Oei-ras (LAO), composto por ITQB, IBET e IGC, em que se encaixa perfeitamente como o braço clínico e transla-cional. Esta união com o LAO representa uma oportuni-dade única para reflectir no nosso trabalho actual, as nossas forças e fraquezas, e desenvolver um plano estratégico para o futuro. Acreditamos que as conquis-tas até agora têm sido significativas e têm colocado o CEDOC dentro da agenda da investigação nacional.

O CEDOC é gerido por uma Direcção Executiva composta pelo Coordenador (Miguel Seabra) e 3 Coor-denadores de Grupo, que actuam como líderes de cada grupo (Biomedical and Translational Research - Sérgio Dias; Clinical Research- MJ Marques Gomes, Epidemio-logy, Health Policy and Services - JM Caldas de Almei-da). Conta presentemente com 20 grupos efectivos e 17 grupos associados.

O CEDOC visa unir a investigação clínica e epide-miológica em doenças crónicas com a investigação fun-damental e aplicada na pesquisa biomédica. Esta é uma meta ambiciosa, mas sentimos que estamos numa posição única para alcançar este objectivo. Em primeiro lugar, sendo o instituto de investigação da Faculdade de Ciências Médicas, o CEDOC está profundamente envolvido na formação da sua estratégia. Em segundo lugar, os investigadores CEDOC formam o núcleo do Programa de Pós-Graduação da FCM e contribuem acti-vamente nos seus currículos, reflectindo as metas do CEDOC. Em terceiro lugar, a organização do CEDOC em grupos visa promover a investigação interdisciplinar e transdisciplinar quebrando com as tradicionais especia-lidades médicas. Além do mais, é fortemente incentiva-da a colaboração entre investigadores da área biomédi-ca e clínica, utilizando um programa de financiamento interno como um incentivo. Em quarto lugar, a união ao LAO é mais uma oportunidade para promover os objectivos do CEDOC, através da promoção de futuras colaborações com a “expertise” biomédica, biotecnoló-

gica e biológica química. Em quinto lugar, a investiga-ção clínica do CEDOC é apoiada por dois dos três princi-pais Centros Hospitalares de Lisboa (CH de Lisboa Cen-tral e CH Lisboa Ocidental) e pelos Centros de Saúde da área de Lisboa.

Podemos então enumerar os objectivos gerais do CEDOC para os anos vindouros:

Tornar-se uma referência nacional nas nossas principais áreas de conhecimento científico, ou seja, Oncobiologia, Neuropsiquiatria e Saúde Mental, Infla-mação Crónica, Doenças Raras, Ensaios Clínicos e Novas Terapias.

Tornar-se competitiva internacionalmente nas áreas de cada um destes temas científicos.

Estimular a investigação translacional (“bench to bedside”) e a Medicina translacional (“bedside to bench”).

Desenvolver uma estratégia científica da Facul-dade de Ciências Médicas, NOVA.

Contribuir para o ensino pré e pós-graduado para melhorar a qualidade geral do ensino, incluindo a organização de cursos internacionais de alta qualidade em temas relevantes para a nossa missão.

Oferecer liderança para o ensino pós-graduado (Programa de Doutoramento) e supervisionar os douto-randos da Faculdade.

Associar-se ao Laboratório Associado de Oeiras e compartilhar recursos e “expertises” contribuindo com nossos objectivos científicos.

Participar plenamente na concepção e operaliza-ção do novo Hospital Central de Lisboa (Hospital de Todos-os-Santos), que está a ser desenvolvido como um futuro centro médico académico.

Desta forma, o CEDOC empreende passos decisi-vos no caminho da inovação na investigação, assumin-do-se como um parceiro dos investigadores e das empresas que connosco desejem colaborar, para a competitividade e o desenvolvimento das ciências médicas em Portugal.

por Professor Doutor Miguel Seabra Coordenador CEDOC

CEDOC...

29

O médico é, por natureza, um curioso. Como tal, a investigação é um importante comple-mento à formação médica, sendo inclusiva-mente obrigatória em muitas outras Faculda-

des médicas. Na FCM, essa tradição ainda não foi imple-mentada, mas o recente nascimento do CEDOC, assim como os projectos por este órgão estabelecidos, estão a dar aos alunos um importante incentivo para se inicia-rem na investigação, se assim desejarem.

A minha experiência começou pela procura de um grupo que investigasse uma temática do meu interesse. Assim, encontrei o grupo que, sob orientação da douto-ra Maria Paula Macedo, se debruça numa das problemá-ticas mais relevantes na actualidade (diabetes, pré-diabetes e insulinorresistência). Além do objecto de estudo, que desde cedo me interessou, também o pro-tocolo me atraiu, pois, contrariamente à ideia em que muitos alunos crêem (que o trabalho do investigador “é uma seca” e que os investigadores “são uns ratos de

laboratório”), o projecto da doutora Rita Patarrão permi-te conjugar o trabalho de laboratório com o trabalho de campo, contactando com pessoas numa perspectiva mais clínica e objectiva. Aliás, o pedido de participação de voluntários para esta investigação encontra-se espa-lhado pela Faculdade. Eu já participei e convido outros alunos a fazerem o mesmo, pois, como futuros médicos, é uma forma de darmos o nosso contributo para um mundo mais saudável.

Claro está que também há algumas dificuldades que se interpõem diante de quem quer investir na sua

iniciação à investigação médica. Digamos que o tempo não conta a favor dos estudantes de Medicina, a quem são impostos programas extremamente vastos. A situa-ção complica-se mais um pouco para quem se envolve em actividades extra-curriculares, sem por isso receber algo de concreto ou imediato. Mas “quem corre por gos-to não cansa” e, além disso, citando Abel Salazar, “o médico que só sabe de Medicina, nem de Medicina sabe”. As capacidades que desenvolvemos assim como os conhecimentos que adquirimos são, assim, algumas das recompensas que nos preparam para a nossa vida profissional futura.

Concluo, assim, convidando-vos a integrar um projecto de investigação da nossa Faculdade. Sem expe-rimentar, não poderão saber se realmente gostam ou não. Informem-se, pois há vários projectos, sobre assun-tos bastante distintos, um dos quais vos poderá interes-

sar.●

por João Sousa| 2º ano Aluno FCM-UNL

“Na FCM (…) estão a dar aos alunos um importante incentivo para se iniciarem na

investigação, se assim desejarem.”

...JUNTA-TE A NÓS!

Fr

on

ta

l

30

D e repente escureceu. Nunca tinha visto a noite tão escura, nem me havia aper-cebido que a lua brilhava tanto da varanda de minha casa. Perdi-me numa

cidade de cimento e pessoas, uma cidade onde todas as casas têm número e quem lá mora não tem nome. Com alguma sorte, uma alcunha que de certeza nem sequer se aproxima de “Senhor Simpá-tico”.

Nesta cidade, velha, mas sempre a mudar, a

não ser para os velhinhos que passam o dia senta-dos a jogar às cartas, a vida não pára. Eles são o que nos resta da cidade antiga, e resistem ao Pre-sente e à dita evolução. É difícil, mas o corpo humano resistiu mais que as árvores, que as pedras e que a força da água. A natureza foi impedida pelo novo homem de se manter aqui. E o pior é que não pôde fugir para outro lado.

Nesta minha cidade as pessoas não se cum-

primentam, mal se conhecem e dificilmente têm vontade de o fazer. Se o tentam são apelidadas de idiotas ou ignoradas. Nesta minha cidade não podes tentar fazer conversa com ninguém sem te arriscares a ser olhado de lado, ou de cima abaixo, para aqueles que se dão ao trabalho. O desprezo reina, a falta de educação impera.

A atracção pelo Presente rapidamente se

desvaneceu. Novidades deixaram de ser boas. Não interessa que as pessoas tenham a vida facilitada, perdem-se nela de igual forma e não se dedicam a nada que não eles. Queres ver que o Velho do Restelo tinha razão?

“O que se passa contigo?” Ou melhor: O que

se passa comigo? Comigo, Contigo, Connosco e no

fundo Com todos… O mistério da mente humana mais parece um labirinto sem saída. Também não podes voltar agora atrás, caro Amigo, que a porta fechou-se. Não te queiras, por isso, compreender. Nem tentes pensar no que se passa, porque vais perceber que não é sendo tratado como mais um que vais ser feliz.

Tenta recordar-te que o corpo humano foi

mais forte que a natureza. Uma vez na vida não houve árvore centenária que se mostrasse mais forte que tu. Como vês, caro Amigo, a carne e o osso foram mais fortes que a cinética destrutiva do metal. A madeira ardeu nas tentativas de nos der-rubar mas mantivemo-nos em pé.

Imagina que um dia eras o único no Mundo.

Gostavas? Caro Amigo, não precisas de dizer que não, nem de imaginar. Às vezes passas na rua e as pessoas só servem para ir contra ti, não ao teu encontro, porque encontro implica falar ou, pelo menos, trocar um olhar. Nesta minha cidade as pessoas só existem para nos impedir de seguir em frente. Nem sempre é esse o caminho, é certo, mas teres de dar voltas e voltas está longe de poder ser chamado o caminho mais fácil.

Os senhores da cidade velha ainda moram

nas mesmas casas, e os bancos do jardim já têm a marca do sítio onde apoiam a bengala. Aqueles velhos bancos de madeira estão mais desgastados nos sítios onde se sentam e percebe-se que um deles gosta de pôr o pé na armação de ferro, está mais gasta. Quem se preocupa com isto? Ninguém, afinal são os bancos deles e não são pintados há mais de dez anos… há mais de dez anos que eles são velhos.

O Velho do Restelo tinha razão. Não porque

era Velho. Se todos os velhos tivessem razão toda a

O NOSSO MU(N)DO

31

gente ia ao Domingo jogar às cartas com os ami-gos, em vez de não se falar. Caro Amigo, se te dis-serem que não há volta a dar olha-lhes de lado. Eu sei que não estás na melhor situação e que te vão atirar à cara a inutilidade do esforço, mas acredita. Tenta trazer o espírito dos antigos de volta. Eles merecem, também tu.

Se vasculharmos a memória, e regressarmos

a datas que não começavam por 20.. descobrimos que não estávamos em crise. Dantes era simples viver. Não custava respirar. Hoje respirar custa, cansa e, sobretudo, mata. Uma greve de respirar regada com uma dose de "please start speaking", tiravam este mundo mudo da crise (de valores).

Para além de ser difícil existir, ainda mais

complicado é coexistir. Quem é que disse que con-versar pagava imposto? É que não me avisaram e agora estou em dívida. Olha, mais uma! Felizmente não vem ninguém falar comigo para cobrar, porque o Senhor do Fraque não pode falar sem se arriscar à taxa imposta pelo Dr. Não Sei Quem.

Acredita em mim, há volta a dar. Tens de

encontrar os teus companheiros, dar-lhes a mão e prestar atenção ao Futuro.

Caro Amigo, um atestado de silêncio chega?

por Miguel Paiva | 2º ano Director da Frontal

Foto por: Tiago Duarte | 3º ano Ex-Director da Frontal

32

Cr

ón

ica

no

ch

ill

ou

t

Vai ver ONLINE

“ Joe Doe iniciou sessão”

Ora bem. Um ser pensante é aquele que

tem tendência para viver em sociedade, é

um ser social, tenho dito.

Então, num planeta pequeno e entre a beleza

das mulheres de Vénus e o encanto dos homens de

Marte, umas pessoas de chinelas de enfiar no

dedo, numas Faculdades escondidas no estrelato,

teriam de criar umas redes que unissem toda a

Humanidade num emaranhado de fios de pensa-

mento: Twitter, Facebook, hi5, Orkut, vieram até

nós e vieram para ficar.

O fenómeno teve a aprovação de todo o

Mundo, e também o nosso Por-

tugalinho, para manter a tradi-

ção, viria a fazer um big “Like” a

esse assunto.

Agora todo o mundo, todo

o mundo, pode mostrar as suas

fotografias e filmes aos seus ami-

gos através de um clique. Hein, grande mundo

este! Falar de país para país sem pagar taxas ou

minutos! Bravo! Bravíssimo! (aplausos).

Estão todos lado a lado, de braços dados

numas linhas que cruzam os ares por aí, vagas

como certeiras, cruzando pássaros, ciclistas, peões

e flores, conectando tudo o que tem uma ficha, um

ecrã e um indivíduo com polegares opositores que

lhe pegue.

As redes sociais vieram desunir, unindo. Vie-

ram juntar, separando. Fazer da fita-cola tesoura.

Os amigos de infância já não se encontram

no jardim, nos cafés ou no supermercado. Encon-

tram-se na Internet! Encontram-se nas redes que

todos conectam e se juntam às linhas de amizade

que fazem das pessoas pequenos nós nos arraiolos

da vida.

Hoje as relações são de fibra óptica.

Ora reflictam comigo, porquê?

Ora claro está, porque hoje as pessoas bus-

cam as outras como quem faz compras on-line.

Um Norte-a-Sul português ocupava uma tem-

porada no antes, eram horas e horas que afasta-

vam os extremos deste rectângulo, hoje faz-se num

milésimo, do milésimo de segundo. Com velocida-

des de 256 Kbps a 30Mbps. Assim eram as relações.

Hoje as pessoas conhecem-se num dia, falam com

a outra no seguinte por telemóvel (com dicionário

T9 para não dar muitos pontapés na gramática des-

ta língua que ocupa a 6ª posição no ranking das

mais faladas por aí), e ao terceiro dia levam com as

setas e o Cupido em cima.

As redes sociais a conectar, com força, por-

que “se não se consegue dizer o que se sente,

como se pode sentir o que se diz”. Na semana

seguinte, já sabem tudo sobre a outra, num proces-

so veloz de aquisição de informação, buscada pelas

redes sociais, telemóveis e afins. Desacatam-se

pelas palavras, imagens e filmes que pelos cristais

líquidos dos ecrãs se difundem, e quebram a cor-

rente. No dia seguinte conhecem uma nova pessoa.

Assim é. Assim não era. É a geração bionicle com

uns músculos, órgãos, pele, roupa, relógios e ócu-

los por cima, para esconder e lançar pinta.

No antes, em que o relógio fez crescer bigo-

des, enviavam-se cartas, postais. Esperava-se.

Esperava-se. Esperava-se. Esperava-se. Até o cons-

ciente sugar a ideia do outro, e depois o outro em

se eu estou

“As redes sociais vieram desunir, unindo. Vieram juntar, separando. Fazer da fita-cola

tesoura.”

Redes Sociais

33

si, quando chegasse, por fim, a carta. Esta andara

de mão em mão, caixote em caixote, carro em car-

ro, até ao destinatário. Era a morosidade que esta-

belecia relações sólidas, duras que nem cálculos.

Olhar para umas e para as outras é colocar

um vulcanito, como o basalto, que surgiu à superfí-

cie sem tempo de se arranjar, escuro, desprovido

de nata, ao lado

de um plutonito,

como o granito,

que teve tempo

de se ver ao

espelho, embe-

lezar-se de cris-

tais e vestir-se de gala. É comprar gato por cão.

A cusquice nunca havia visto uma auto-

estrada sem portagens como esta para avançar

sem limites de velocidade. Por detrás das teclas, de

perfil em perfil, as pessoas buscam e encontram os

outros, vêm com quem saem, com quem almoçam,

o que fazem. Os patrões vasculham, ou mandam

vasculhar, os concorrentes antes de os contratarem

como seus trabalhadores. As mães procuram saber

o que os filhos fazem quando não estão ao abrigo

das suas asas. Nada disto seria mau, claro está, se,

em lugar de meios electrónicos houvesse um recur-

so ao diálogo, ao face-to-face, em detrimento da

investigação desconfiada.

As crianças jantam com os telemóveis debai-

xo da mesa. Nunca se olhou tanto na direcção do

umbigo. O teclar é constante. Tudo carrega, pres-

siona, busca rede, conecção. Saem da mesa e

encerram-se nos quartos, porque são muito sociais

e têm de falar com os amigos todos através dos

chats e mensageiros.

Há duas vidas, hoje. A on-line e a real-one.

Mas não contem a ninguém, é um segredo nosso.

Nunca se falou tanto de pijama. Nunca se

falou tanto na cama. Nunca se falou tanto no

metro. Nunca se falou

tanto. Mas sempre se

falou, e hoje não se

fala. Hoje tecla-se,

posta-se, já não se usa

as cordas da voz.

E para que as redes

não guardem nelas o que se quer esconder, e por

distração foi escrito num devaneio, criaram-se apli-

cações, como “Last Night Never Happened: the

"Morning-After” para apagar tudo o que se escre-

veu nas últimas horas nessas plataformas. Apaga

tudo do on-line, mas fica o real-one, o mundo real,

onde ainda não temos máquinas do tempo.

Ficamos por aqui, que tenho de ir almoçar

um bife de vaca on-line acompanhado de batatas

com forma de webcam a cavalo.

Metam um like nisto. Não custa nada, e ainda

podem ganhar um teclado à prova de àgua, um

balde de pipocas e um bisturi com garantia vitalícia.

“Joe Doe terminou sessão”.●

3º ano Ex-Director da Frontal

“Nunca se falou tanto. Mas sempre se falou, e hoje não se fala. Hoje tecla-se,

posta-se, já não se usa as cordas da voz.”

Redes Sociais

34

Ch

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Ou

t

N uma Edição da “Frontal” especialmente dedicada ao que se faz além de estudar a nobre arte de curar, não podíamos deixar de ter uma secção dedicada exclusivamente a três grandes formas de lazer: o cinema, a música e o teatro. Por isso, chill out, e vê o que os meses quentes de

Verão te vão trazer (além de descanso, Sol e praia!).

EFEITO

Harry Potter e os Talismãs da Morte Parte 2 (14 de Julho) A derradeira batalha entre o Bem e o Mal está prestes a come-çar. Os riscos nunca estiveram tão altos e nenhum sítio é segu-ro o suficiente. Harry Potter e Lord Voldemort ultimam os por-menores do seu derradeiro confronto que vai envolver cente-nas de feiticeiros e que acarretará inúmeras baixas e vários sacrifícios.

por Rui Malha | 2º ano Web, Informação e Design

Super 8 (28 de Julho) No Verão de 1979, um grupo de amigos na pequena localida-de do Ohio, testemunham um catastrófico desastre de com-boio enquanto filmavam um filme em super 8 e depressa se apercebem que afinal não foi um acidente. Pouco depois, invulgares desaparecimentos e situações inexplicáveis come-çam a ocorrer…

Chefes Intragáveis (4 de Agosto) Para Nick, Kurt e Dale a felicidade absoluta consistiria no desa-parecimento permanente dos seus intragáveis chefes. Despe-direm-se não é uma opção, por isso, numa noite de copos e com base nos conselhos pouco saudáveis de um ex-presidiário, formulam um plano aparentemente infalível para se livrarem das respectivas entidades patronais

Green Lantern — Lanterna Verde (18 de Agosto) No universo, uma poderosa força protectora da justiça e da paz intergaláctica existe há séculos, a Green Lantern Corps. Nesta irmandade de guerreiros, cada Green Lantern usa um anel que lhe garante super-poderes mas quando um novo ini-migo ameaça destruir o equilíbrio do poder do universo, o seu destino repousa nas mãos do primeiro humano a ser seleccio-nado para integrar o grupo, Hal Jordan.

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PLACEBO Judas Priest — Pavilhão Atlântico Após incendiarem o mundo durante quase 40 anos e de levarem o seu estilo particular de heavy metal aos quatro cantos do planeta, os Judas Priest - uma das mais influentes bandas de heavy metal de todos os tempos, anunciou a última digressão, que passa por Portugal dia 27 de Julho no Pavilhão Atlântico. Bilhe-tes a 33 e 36€.

Bon Jovi — Parque da Bela-Vista A banda norte-americana liderada por Jon Bon Jovi vai regressar a Lisboa no próximo ano. O concerto está marcado para o dia 31 de Julho de 2011, no Par-que da Bela Vista e faz parte da “Open Air Tour” da banda. Os preços variam entre os 55 e os 250 euros, que incluem um pacote vip com ofertas especiais.

Jazz em Agosto — Fundação Calouste Gulbenkian Cecil Taylor, Wadada Leo Smith, Peter Brötzmann, John Hollenbeck, quatro personalidades que em diversos graus têm marcado gerações do jazz ao longo do tempo, desta-cam-se com especial brilho na programação da 28ª edição do Jazz em Agosto. Elas confirmam a identidade do festi-val que, desde 1984, retrata tendências e alternativas ino-vadoras de uma música em permanente evolução.

Casamento em Jogo — Teatro da Trindade Comédia dramática sobre as decepções, alegrias, memórias e traições entre um homem e uma mulher. Com Cucha Carvalheiro e Rogério Samora. Em cena até dia 30 de Julho.

Kabaret d’Glória — Glória Live Music Club Comédia musical onde os dois actores se desdobram em inúmeras personagens. Com Márcio Oliveira e Ricardo Bargão. Em cena dias 21 e 28 de Julho e 4 e 11 de Agosto.

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por David Tanganho | 2º ano Aluno FCM-UNL

Sa

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ca

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Para Estudar...

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P ara todos os estudantes a parte mais difícil do curso são as épocas de estudo

intensivo. Aquelas alturas em que as “directas” são quase diárias, mas a diver-

são muito pouca; em que o café é o nosso melhor amigo e o chocolate um companheiro. E para

quem não sabe bem onde estudar ou gosta de variar aqui estão algumas sugestões.

F aculdade de Ciências Médicas de Lisboa Agora aberta 24h, podes aproveitar para ficar na tua Faculdade a estudar! As entradas e as saídas

têm de ser feitas aquando da ronda do segurança, mas tens a oportunidade de estudar num espaço

que te é familiar.

Outros... Espaço Ágora Aqui podes encontrar 2 espaços perto do Tejo, abertos 24h por dia, um óptimo lugar para estudar e ler.

Regidos pela Associação Académica de Lisboa, localizam-se na zona lisboeta de Santos, mesmo junto à estação de comboios, do outro lado da linha ao atravessar a ponte sobre a mesma (tem máquina de snacks).

Biblioteca Municipal Central Junto à praça do Campo Pequeno e à estação do Metro com o mesmo nome. Um local bonito e sossega-

do para ler, navegar na Internet, estudar, onde se pode comer e beber, para além de ter um lindo jardim. CCB – Centro Cultural de Belém Aqui encontras o espaço ideal para relaxar, com uma maravilhosa vista para o Tejo e junto ao Mosteiro

dos Jerónimos. Tanto na esplanada como no centro de estudo Charles Gaulle podes passar várias horas a estu-dar e ainda ir a uma das muitas exposições patentes ou comprar um livro na livraria do centro.

Calouste Gulbenkian Localizado perto do metro da Praça de Espanha, tem magníficos jardins e várias zonas de estudo, livraria,

centro de exposições e diferentes áreas de refeições. Aqui é possível passar várias horas a estudar e também passear um pouco.

Open Space de Estudo Na Cantina Velha da Universidade de Lisboa, durante as épocas de exames, está aberta entre as 21h e as

7h nos dias de semana e entre as 14h e as 22h durante os fins-de-semana. Instituto Superior Técnico Bem perto da nossa Faculdade o Instituto Superior Técnico tem uma sala de estudo aberta 24h, mais

conhecida por “aquário” devido às suas paredes de vidro. Como vantagem adicional tem a cantina aberta tanto ao almoço como ao jantar.

Faculdade de Medicina de Lisboa No hospital de Santa Maria há salas de estudo abertas 24h bem como biblioteca de horários alargados,

aqui tens a oportunidade para estudar e confraternizar com outros estudantes de Medicina.

por Mónica Mamede | 1º ano Vogal AEFCML

Espaços IN Lisboa

Avisos MUITO Importantes

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Sa

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R e s t a u r a n t e S t o r i k

Jantares com flammes (incluindo entrada e sobremesa) e bebida a descrição, a 12€ de Domingo-3ªf, 13€ à 4ªf ou 14€ à 5ªf. Para desfrutares basta marcares mesa para o e-mail [email protected] ou para o 21 604 03 75 , mencionando que és sócio da AEFCML! Morada: Rua do Alecrim nº 30 B-D

E s p a ç o F á b u l a s

O Fábulas localiza-se no Chiado e é um restaurante, wine bar, galeria de arte e cyber café. Um sitio encan-tador com paredes em pedra, mobiliário antigo em que algumas mesas são antigas máquinas de costura. Tem uma agradável esplanada nas escadinhas da calçada. A ementa é à base de crepes, saladas e sandes e home-nageia as fábulas. Morada: Calçada Nova de São Francisco nº 14

S p a c e C l u b

Space Club é o nome da mais recente discoteca de Alcântara que abriu as portas no final de 2010 e pro-mete agitar as noites alfacinhas. A nova coqueluche de Lisboa, gerida pelo empresário Filipe Caetano, é um projecto ambicioso: 200m2 em open space com capaci-dade para albergar mais de quinhentas pessoas e que pretende trazer tanto artistas de renome como novos talentos da música nacional e internacional. Morada: Rua Isabel Saint-Léger nº 12

O site da

foi renovado!

Visita-nos em:

www.ae.fcm.unl.pt

M u v L o u n g e - B a r

O Cais do Sodré está a tornar-se num dos pólos noctur-nos mais movimentados da metrópole: os novos espa-ços sucedem-se e a movida parece ter por fim chegado a este antigo bairro de Lisboa. Aberto no final de 2010, o Muv é um dos mais recentes espaços multiusos que já conquistou os noctívagos alfacinhas. Restaurante, café, bar e clube nocturno, o Muv está sempre em movimento transformando-se ao crepúsculo num por-to-seguro com bons Dj's e Vj's e música ao vivo. Situa-do junto ao la Moneda e ao Lounge, não longe do Musicbox e do Europa, a nova atracção do Cais do Sodré tem andado na boca do mundo.

Os colaboradores da “FRONTAL” e toda a direcção da AEFCML, desejam a todos os alunos da FCM-UNL, uma boa época de exames e umas boas férias!

Á

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11