FUNÇÕES 01

download FUNÇÕES 01

of 97

Transcript of FUNÇÕES 01

  • 7/23/2019 FUNES 01

    1/97

    UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-RIDO

    PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM MATEMTICA

    ANTNIO JOSIMRIO SOARES DE OLIVEIRA

    O ENSINO E A APRENDIZAGEM DE FUNO EXPONENCIAL EM UM AMBIENTE

    DE MODELAGEM MATEMTICA

    MOSSOR

    2013

  • 7/23/2019 FUNES 01

    2/97

    ANTNIO JOSIMRIO SOARES DE OLIVEIRA

    O ENSINO E A APRENDIZAGEM DE FUNO EXPONENCIAL EM UM

    AMBIENTE DE MODELAGEM MATEMTICA

    Dissertao apresentada Universidade

    Federal Rural do Semirido UFERSA,campus Mossor, para a obteno do

    ttulo de Mestre em matemtica.

    Orientador: Prof. Dr. Antonio Ronaldo

    Gomes Garcia

    Este trabalho contou com o apoio financeiro da CAPES

  • 7/23/2019 FUNES 01

    3/97

    Ficha catalogrfica preparada pelo setor de classificao ecatalogao da Biblioteca Orlando Teixeira da UFERSA

    O46o Oliveira, Antnio Josimrio Soares de.

    O ensino e a aprendizagem de funo exponencial em umambiente de modelagem matemtica. /Antnio Josimrio

    Soares de Oliveira.Mossor-RN: 201395f.: il.

    Dissertao (Mestrado em Matemtica) UniversidadeFederal Rural do Semi-rido. Pr-Reitoria de Pesquisa ePs-Graduao

    Orientador: Prof.Dr. Antonio Ronaldo Gomes Garcia

    1.Aprendizagem significativa. 2. Modelagem matemtica.

    3.Funo exponencial. I Titulo.

    CDD: 511.8

    Bibliotecria: Marilene Santos de Arajo

  • 7/23/2019 FUNES 01

    4/97

  • 7/23/2019 FUNES 01

    5/97

    A Deus, pelo dom da vida, sabedoria e

    perseverana para superar as

    dificuldades que a vida nos impe

    diariamente.

    Aos meus pais, Gilvan Soares de Oliveira

    e Francisca Soares de Oliveira, pelos

    valiosos ensinamentos, pelo exemplo de

    superao, dignidade e honradez.

    A minha esposa Maria Sandilene e aos

    meus filhos Deborah Kamilly e Douglas

    Kauan, pelo carinho, apoio e incentivo nas

    horas que eu mais precisei.

  • 7/23/2019 FUNES 01

    6/97

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, por sempre ter me guiado nos momentos alegres e difceis. A certeza de

    sua presena me fortalece.

    Aos meus pais, Gilvan Soares de Oliveira e Francisca Soares de Oliveira, que no

    mediram esforos na criao dos seus filhos, dando-lhes uma educao pautada na

    dignidade, na austeridade, no respeito e na honradez.

    A minha esposa Maria Sandilene, pela compreenso nos momentos de ausncia,

    pelo carinho, pelo companheirismo, pela confiana e pela posio sempre otimista,mesmo diante das dificuldades.

    Aos meus filhos, Deborah Kamilly e Douglas Kauan, pela compreenso de minha

    ausncia, pelo carinho, pelas palavras de incentivo e por serem inspiraes

    constantes em minha vida.

    Aos meus familiares, irmos, sogros e cunhados, pelo apoio, pelo incentivo, pelaconfiana e por sempre estarem torcendo por mim a cada batalha enfrentada.

    Ao coordenador do Curso (PROFMAT UFERSA) e meu orientador, Prof. Dr.

    Antonio Ronaldo Garcia, pela dedicao, pelo apoio, pela objetividade, pela

    humildade e pela presteza com que atendeu a todos ns e, principalmente, pelas

    orientaes, pelo apoio, incentivo e pela confiana na minha pessoa.

    Ao Programa de Ps-Graduao da Universidade Federal Rural do Semirido-

    UFERSA, que atravs de sua Coordenao me oportunizou a realizao de um

    grande sonho.

    Aos colegas do curso, que contriburam significativamente com suas discusses,

    didticas ou conceituais, para o enriquecimento do meu currculo e para a concluso

    desse curso.

  • 7/23/2019 FUNES 01

    7/97

    "Em tempo de mudanas, os dispostos a

    aprender sempre so os que herdaro o

    futuro. Os que acham que j aprenderam

    tudo descobriro estar preparados apenas

    para viver num mundo que j no mais

    existe."

    (Eric Haffer).

  • 7/23/2019 FUNES 01

    8/97

    RESUMO

    Diante da necessidade urgente de se buscar novas estratgias de ensino de

    Matemtica, frente ao baixo rendimento de nossos alunos e a fim de minimizar os j

    reiterados problemas do ensino de Matemtica no Brasil, o presente trabalho, ao

    reconhecer a importncia da Modelagem Matemtica como uma metodologia de

    ensino que deve ser incorporada prtica pedaggica do professor, tem como

    objetivo apresentar uma proposta de atividade educacional para o Ensino Mdio

    com a Funo Exponencial em um ambiente de Modelagem Matemtica, articulada

    com a Resoluo de Problemas. Fundamentando-se, principalmente, nos trabalhos

    de Bassanezi (1999, 2009, 2012) e Barbosa (1999, 2003, 2004, 2009) sobre aModelagem Matemtica e motivados por estudos de Lima (1999, 2006) sobre o

    ensino de funes, a atividade apresentada explora, sobretudo, a conexo existente

    entre as funes exponenciais e as progresses geomtricas. Espera-se, como

    resultados, que o ensino da Funo Exponencial num ambiente de Modelagem

    Matemtica possibilite ao aluno, por meio da problematizao/ investigao e do

    conhecimento slido das caractersticas/propriedades dessas funes, juntamente

    com estratgias eficientes, definir qual o modelo matemtico que descreve (modela)um dado problema, opondo-se a um ensino em que as frmulas (modelos) j vm

    prontas e acabadas, como comumente ocorre na maioria de nossos livros didticos.

    Neste sentido, o desenvolvimento de atividades com a Funo Exponencial

    baseadas na Modelagem Matemtica promove, sobretudo, uma aprendizagem

    significativa, que permita ao aluno no s aplicar procedimentos, mas sim, diante de

    problemas matemticos ou no, refletir sobre eles a fim de interpret-los e

    solucion-los usando, de forma consciente, mtodos e conhecimentos apropriados.

    Palavras-chave: Aprendizagem Significativa. Modelagem Matemtica. Funo

    Exponencial

  • 7/23/2019 FUNES 01

    9/97

    ABSTRACT

    In view of the urgent necessity of searching for new mathematics teaching strategies

    in face of the low performance of our students and in order to minimize the reiterated

    problems of mathematics teaching in Brazil, the present paper, by recognizing the

    importance of mathematics modeling as a teaching methodology which should be

    incorporated to the teacher educational practice, it has as objective to present a

    proposal of educational activity for High School with the exponential function in an

    environment of mathematical modeling, articulated with solutions to problems. Basing

    especially in BASSANEZIs works (1999, 2009, 2012) and BARBOSA (1999, 2004,

    2009) on mathematics modeling and motivated by LIMAs studies (1999, 2006) onfunctions teaching, the presented activity explores mainly the existing connection

    between exponential functions and geometric progressions. We expect as results

    that the exponential function teaching in a mathematical modeling environment

    enables the students through problematization/investigation and solid knowledge of

    characteristics / properties of these functions, along with efficient strategies, defining

    what mathematical model describes/models a given problem, opposing a teaching in

    which formulas (models) already come ready and finished, as it usually happens inmost our textbooks. In doing so, the development of activities with exponential

    functions based on mathematical modeling promotes, above all, a significant

    learning that makes not only applying procedures, but in view of mathematical

    problems or not, reflect on them in order to interpret and solve them using, in a

    conscious way, methods and proper knowledge.

    Keywords: Significant learning. Mathematical modeling. Exponential function.

  • 7/23/2019 FUNES 01

    10/97

    SUMRIO

    1 INTRODUO....................................................................................................... 10

    2 O ENSINO DE MATEMTICA NO BRASIL: PROBLEMAS E SOLUES........ 15

    2.1 OS TRS COMPONENTES DO ENSINO DA MATEMTICA, SEGUNDO

    LIMA...........................................................................................................................19

    2.1.1 Conceituao...................................................................................................19

    2.1.2 Manipulao.....................................................................................................20

    2.1.3 Aplicaes........................................................................................................20

    2.2 O QUE DIZEM AS ORIENTAES CURRICULARES OFICIAIS.......................22

    2.2.1 A Resoluo de Problemas............................................................................24 2.2.2 O recurso Histria da Matemtica..............................................................25

    2.2.3 O recurso s Novas Tecnologias...................................................................26

    2.2.4 O recurso aos Jogos.......................................................................................30

    3 A MODELAGEM MATEMTICA............................................................................32

    3.1 A MODELAGEM MATEMTICA NA CONCEPO DA EDUCAO

    MATEMTICA ...........................................................................................................32

    3.2 PORQUE USAR A MODELAGEM MATEMTICA...............................................373.3 COMO FAZER MODELAGEM MATEMTICA.....................................................43

    3.4 ALGUNS OBSTCULOS APONTADOS PARA SE FAZER MODELAGEM

    MATEMTICA............................................................................................................48

    4 AS FUNES.........................................................................................................52

    4.1 BREVE HISTRICO SOBRE O CONCEITO DE FUNO.................................52

    4.2 PORQUE ESTUDAR FUNO............................................................................59

    4.3 SOBRE A DEFINIO DE FUNO...................................................................634.3.1 A Funo Exponencial....................................................................................64

    4.3.1.1 A Funo Exponencial nos livros didticos....................................................67

    5 ATIVIDADES DE MODELAGEM MATEMTICA COM A FUNO

    EXPONENCIAL..........................................................................................................70

    5.1 CULTURA DE BACTRIAS.................................................................................73

    5.2 DESINTEGRAO RADIOATIVA........................................................................75

    5.3 O FRUTICULTOR............................................................................................... 78

    5.4 CRESCIMENTO POPULACIONAL......................................................................80

  • 7/23/2019 FUNES 01

    11/97

    5.5 ELIMINAO DO LCOOL PELO ORGANISMO HUMANO.............................83

    CONCLUSES......................................................................................................... 86

    REFERNCIAS......................................................................................................... 89

    APNDICE ACaracterizao das Funes Quadrticas...................................94

  • 7/23/2019 FUNES 01

    12/97

    10

    1 INTRODUO

    So recorrentes os problemas que afetam o ensino de matemtica no Brasil.

    Os professores constantemente denunciam a falta de interesse por parte dos

    alunos ou muitas vezes reclamam que eles esto cada vez mais aprendendo menos.

    De fato, a experincia em sala de aula tem mostrado que o nvel e a qualidade da

    aprendizagem dos alunos em matemtica decrescem a cada dia. H quase um

    consenso entre alguns alunos e educadores que de fato a matemtica difcil e,

    portanto, aprend-la quase impossvel. H outros mais radicais que chegam a

    questionar sobre a necessidade real do ensino de matemtica no ensino bsico.

    Certamente esta tese agradaria a muitos alunos e tericos da educao, quedesconhecendo a verdadeira matemtica ou at mesmo resignadospelo destino,

    esbanjam teorias contrrias a necessidade de se estudar matemtica. evidente

    que esta no a melhor soluo.

    necessrio reconhecer, no entanto, que em alguns casos os alunos tm

    razo quando dizem que desconhecem a real necessidade da matemtica para sua

    formao e para a sua vida. Na realidade, a matemtica que tem sido ensinada por

    muitos professores no tem utilidade nenhuma, pois na maioria das vezes seresume a um emaranhado de frmulas prontas e a aplicao mecnica de

    procedimentos, e poucas vezes criam condies para que os alunos apliquem os

    conceitos estudados na resoluo de problemas reais de seu cotidiano. Dessa

    forma, quem de fato convive com a matemtica sabe que o verdadeiro problema que

    assola o ensino dessa disciplina tem origens na m formao inicial e continuada

    dos professores.

    Nesse sentido, conscientes e otimistas da possibilidade de umaaprendizagem significativa em Matemtica, mesmo sabendo que, devido a sua

    prpria natureza, o caminho que leva a uma verdadeira aprendizagem nessa rea

    do conhecimento muito mais difcil e longo, que acreditamos que alguma coisa

    tem que ser feita para reverter este estado de coisas. Pensar num ensino de

    matemtica que leve o aluno a pensar, a construir conhecimentos, a compreend-la

    e us-la em vrios contextos, aliado a capacidade de resolver problemas,

    matemticos ou no, certamente um primeiro passo para que se amenizem os

    velhos e novos problemas que afetam o processo de ensino e aprendizagem de

    Matemtica.

  • 7/23/2019 FUNES 01

    13/97

    11

    Ento, torna-se urgente e necessria a busca de metodologias de ensino de

    matemtica que privilegie, sobretudo, a capacidade do aluno de construir a sua

    prpria aprendizagem, de aplicar de forma proveitosa os conhecimentos

    matemticos e no simplesmente reproduzi-los. Cabe, nesse contexto, que o

    professor se torne um verdadeiro orientador do processo de aprendizagem e no

    algum que, supostamente, tem a nica palavra nesse processo. Assim, a

    Modelagem Matemtica, articulado com um ensino pautado na Resoluo de

    Problemas, indicada por muitos professores e educadores matemticos como uma

    estratgia de ensino que contribuir de forma decisiva para um processo de ensino e

    aprendizagem de matemtica mais til e efetivo.

    No que diz respeito ao ensino dos contedos em sala de aula, o que se v uma supervalorizao de regras, frmulas e procedimentos em detrimento de uma

    abordagem que priorize uma aprendizagem mais significativa, onde os alunos

    possam de fato apreender os conceitos e aplic-los na resoluo de problemas

    diversos, que sejam do seu cotidiano ou originados da prpria lgica interna da

    matemtica. Da a necessidade de se trabalhar com metodologias de ensino que

    promovam um ambiente em sala de aula que permita a conexo dos contedos

    matemticos entre si e com outros de importncia diria do aluno.Dessa forma, frente a essas consideraes, o presente trabalho apresenta

    uma proposta de ensino de funo exponencial em um ambiente de Modelagem

    Matemtica, destacando principalmente as propriedades exclusivas desse tipo de

    funo por acreditar, sobretudo, que essa forma de abordar as funes exponenciais

    contribuir para uma melhor construo do significado do conceito dessas funes

    por parte do aluno. Objetivamente, esses estudos sero guiados pelo seguinte

    questionamento: como trabalhar o ensino e a aprendizagem de funo exponencialem um contexto de Modelagem Matemtica, de forma a garantir uma aprendizagem

    significativa desse tpico importante da Matemtica?

    A escolha do tema foi motivada principalmente pelas inquietaes pessoais

    como professor de Matemtica por sentir um certo desconforto ao trabalhar com as

    funes e perceber que os principais problemas propostos na maioria dos livros

    didticos j trazem o tipo de funo que resolve uma dada questo, cabendo ao

    aluno fazer apenas o clculo correspondente. Observaes essas que foram de

    encontro com preocupaes semelhantes publicadas num livro intitulado Exame de

    textos: anlise de livros de matemtica para o ensino mdio de Lima (2001), onde

  • 7/23/2019 FUNES 01

    14/97

    12

    foi feita uma anlise criteriosa dos principais livros de matemtica do ensino mdio

    adotados nas escolas brasileiras.

    Aliado a isso, temos a necessidade de pautar o processo de ensino e

    aprendizagem de matemtica em metodologias que favoream uma aprendizagem

    eficaz e verdadeira que se caracteriza por [...] envolver o indivduo como um todo.

    Esta deve ir ao encontro de suas necessidades, gerando assim um desequilbrio

    para o mesmo, o que resulta em uma energia impulsora para que v busca daquilo

    que necessita aprender. (RIPPLINGER & BLANCHER, 2006, p. 3).

    abundante o nmero de trabalhos cientficos, como artigos, dissertaes,

    TCC e atividades referentes Modelagem Matemtica, colocando essa opo

    metodolgica para as aulas de Matemtica como uma tendncia atual no ensino dematemtica. Barbosa (2004, p.2), ao apresentar algumas idias tericas sobre a

    Modelagem Matemtica, destaca alguns argumentos em favor de sua incluso no

    currculo: motivao, facilitao da aprendizagem, preparao para utilizar a

    matemtica em diferentes reas, desenvolvimento de habilidades gerais de

    explorao e compreenso do papel scio-cultural da matemtica. Assim, nota-se

    que o trabalho com a Modelagem Matemtica cria, sobretudo, um ambiente de

    problematizao e investigao em sala de aula.Especificamente, em relao ao ensino de funes no Ensino Mdio foram

    referncias para nossos estudos as dissertaes de mestrado de Brucki (2011) e

    Schnardie (2011) que pesquisaram e sugeriram atividades, respectivamente, com

    as funes exponenciais e afins, usando a Modelagem Matemtica como ambiente

    de ensino.

    muito comum vermos questes sobre funes do tipo: Certa substncia

    radioativa desintegra-se de modo que, decorrido o tempo t, em anos, a quantidadeainda no desintegrada da substncia S = S0. 2

    -0,25t, em que S0 representa a

    quantidade de substncia que havia no incio[...](UEG-GO). A pergunta que se

    deve fazer: Por que o modelo matemtico apropriado para esta situao a funo

    do tipo exponencial e no a funo afim, por exemplo? Atividades deste tipo exigem

    apenas do aluno a necessidade de escolher o procedimento adequado para resolver

    o problema, no contribuindo em nada para uma independncia intelectual por

    parte do aluno.

    Nesse sentido, ressalta-se a problemtica desta pesquisa: apresentar uma

    proposta de atividade com a Funo Exponencial para o Ensino Mdio em um

  • 7/23/2019 FUNES 01

    15/97

    13

    ambiente de Modelagem Matemtica, abordando, principalmente, a relao dessas

    funes com as progresses aritmticas e geomtricas. A esse respeito, Barreto

    (2008, p. 2) conclui que ao se trabalhar com as funes a nfase deve estar no

    conceito, suas propriedades, interpretao grfica e aplicaes, ao invs, do

    enfoque tradicional que privilegia as manipulaes algbricas e uma linguagem

    excessivamente formal.

    A justificativa para escolha de uma atividade com as funes exponenciais se

    deve necessidade de delimitao do tema e por reconhecer que essas funes

    aparecem com maior freqncia em situaes reais do cotidiano do aluno, como na

    Matemtica Financeira, em situaes de crescimento populacional, na anlise do

    pH de substncias e da desintegrao radioativa de alguns elementos, bem comoem situaes de eliminao de algumas drogas pelo organismo, como veremos logo

    adiante.

    Quanto aos aspectos metodolgicos, o trabalho apresenta uma proposta de

    atividade de ensino da funo exponencial em um contexto de Modelagem

    Matemtica. Para tanto, considerando a natureza e objetivos do trabalho, foi

    realizada uma reviso bibliogrfica minuciosa de alguns trabalhos que tratam da

    mesma temtica, como artigos cientficos, monografias, dissertaes e livrosdidticos. Dessa forma, optou-se por uma pesquisa de abordagem qualitativa em

    que considera que h uma relao dinmica entre o mundo real e o sujeito, isto ,

    um vnculo indissocivel entre o objetivo e a subjetividade do sujeito que no pode

    ser traduzido em nmeros. (SILVA, MENEZES, 2001, p.20).

    Para tanto, as pesquisas foram ancoradas, principalmente, em autores como

    Barbosa (1999, 2003, 2004, 2009) e Bassanezi (1999, 2002, 2012), que tm se

    dedicado ao estudo da Modelagem Matemtica na perspectiva de EducaoMatemtica. Nesse mesmo sentido, orientaes curriculares oficiais, como os

    Parmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o Ensino Fundamental e para o

    Ensino Mdio (1998, 1999), as Orientaes Curriculares Nacionais para o Ensino

    Mdio (2006) e os PCN + Ensino Mdio (2002) foram suportes tericos importantes

    para concretizao desses estudos.

    Da mesma forma, Chaves (2006); Machado Jnior (2004); Figueredo e

    Bisognim (2006) e Leite (2008), entre outros, desenvolveram pesquisas no sentido

    de apontar atividades com Modelagem Matemtica para serem aplicadas em sala de

    aula com grupos de professores e alunos. Machado Jnior, ao citar Blum (1995),

  • 7/23/2019 FUNES 01

    16/97

    14

    define Modelagem Matemtica, por exemplo, como sendo um processo de

    construo de modelos que transforma uma situao com referncia na realidade

    em uma situao matemtica.

    Diversos trabalhos j foram realizados sobre o ensino da Funo

    Exponencial. Brucki (2011) desenvolveu estudos com uma turma de alunos de uma

    escola estadual paulista sobre atividades de Modelagem Matemtica para o ensino

    da Funo Exponencial, destacando, principalmente, a relao existente entre essas

    funes e as Progresses Geomtricas. Dentre suas concluses, podemos

    destacar: a Modelagem possibilita uma aprendizagem significativa, uma vez que

    essa metodologia por si s motivadora. Alm do mais, a Modelagem permite que

    os alunos faam uma relao teoria-prtica dos contedos estudados, a fim deresolver situaes-problema do seu cotidiano.

    DOMINONI (2005), por sua vez, apresenta em seu trabalho dissertativo de

    mestrado uma sequncia de atividades em um grupo de alunos de escola particular

    de uma cidade paranaense, explorando principalmente as diversas formas de

    representao da Funo Exponencial. Esta concluiu que o conhecimento de

    diversas formas de registro de representao da Funo Exponencial por parte dos

    alunos contribui de forma positiva para a construo do conceito desta funo.Para finalizar, estruturalmente o trabalho ser desenvolvido em quatro

    captulos. No captulo 1, sero discutidos alguns problemas que afetam o ensino de

    Matemtica no Brasil, bem como, sero apontadas algumas solues para esses

    problemas, conforme alguns educadores matemticos e especialistas. No captulo 2,

    ser apresentado um referencial terico sobre a Modelagem Matemtica,

    destacando, principalmente, o seu conceito e a sua importncia no ensino de

    Matemtica. No captulo3, ser feito um breve relato sobre a evoluo histrica doconceito de funo, sobre a importncia de seu ensino e sobre a definio de funo

    exponencial. Finalmente, no captulo 4, sero apresentados alguns problemas com a

    funo exponencial, ilustrando situaes do dia a dia do aluno que so modeladas

    por uma funo do tipo exponencial.

  • 7/23/2019 FUNES 01

    17/97

    15

    2 O ENSINO DE MATEMTICA NO BRASIL: PROBLEMAS E SOLUES

    Nas ltimas dcadas, muito se tem discutido sobre a educao brasileira, em

    particular, sobre o rendimento de nossos alunos em matemtica. Participaes em

    avaliaes nacionais, como SAEB (Sistema Nacional de Avaliao da Educao

    Bsica), ENEM (Exame Nacional do Ensino Mdio), ENADE (Exame Nacional de

    Desempenho de Estudantes), Prova Brasil, e internacionais como PISA (Programa

    Internacional de Avaliao de Alunos), entre outras, tm demonstrado,

    enfaticamente, um quase analfabetismo matemtico. S para termos uma ideia de

    nossa fragilidade em matemtica, na ltima edio do PISA, em 2009, ficamos na

    57 posio, num ranking de 65 pases.Os fatores que explicam esse desempenho muito baixo em matemtica so

    os mais diversos. Educadores matemticos e tericos da educao garantem que

    faltam metodologias acertadas, falta didtica que d conta de responder

    diversidade de personalidades e carncias cognitivo-afetivas de nossos alunos. Por

    outro lado, alguns professores e matemticos acreditam que o maior problema a

    falta de domnio dos contedos por parte dos professores que lecionam Matemtica.

    De qualquer forma, pelo menos um fato consensual: alguma coisa tem quer serfeita para amenizarmos essa situao, em que a maioria dos alunos termina o

    ensino bsico sem dominar se quer as quatro operaes bsicas.

    Alguns pesquisadores e professores tm apontado causas e sinalizam

    caminhos que podem amenizar esses ndices. Druck (2010, p.1) destaca a m

    formao dos professores como uma das causas responsveis por esses problemas

    e justifica:

    Em geral, os professores recebem durante sua formao uma

    overdose de teorias pedaggicas, sociologia da educao e

    psicologia infantil, em detrimentos de contedos matemticos

    e de boas prticas de ensino. A Aritmtica Elementar, raiz de

    todo o conhecimento matemtico estudada superficialmente,

    e os gregos Pitgoras, Thales, Arquimedes e outros esto

    expulsos das salas de aula pelo pouco domnio da Geometria

    por grande parte dos professores [...].

  • 7/23/2019 FUNES 01

    18/97

    16

    Nesse caso, a professora citada argumenta que um dos principais problemas

    na formao inicial do professor de Matemtica o excesso de teorias, mtodos, em

    detrimento de uma formao voltada mais para o domnio de contedos. De fato,

    quem tem uma mnima experincia com a matemtica sabe que um bom domnio

    dos contedos a serem ensinados em sala de aula um requisito necessrio e

    indispensvel para orientar e mediar, a contento, o processo de ensino e

    aprendizagem de matemtica. Com efeito, consenso que ningum pode ensinar

    aquilo que no sabe e no aprendeu, muito menos ser capaz de promover uma

    aprendizagem significativa, verdadeira de contedos que ele mesmo no domina.

    Contrapondo-se a esse entendimento, Bassanezi (1999, p. 16) se expressa

    da seguinte forma:

    a deficincia do professor de matemtica no est no conjunto

    de contedos matemticos aprendidos - muitas vezes, ele

    estudou matemtica de modo excessivo, tendo como

    referncia os contedos que ele precisa ensinar nos cursos do

    ensino fundamental e mdio , mas sim na essncia do

    processo que orientou sua formao. Isto , em geral, asdisciplinas so tratadas de modo independente uma das

    outras, consideradas como prontas/acabadas, sem origem e

    sem futuro e, quase sempre apresentadas/desenvolvidas sob

    o regime formalista dos teoremas e suas demonstraes; as

    aplicaes, quando sugeridas, s dizem respeito ao prprio

    contedo recm-ensinado. Em resumo, a matemtica

    trabalhada, num programa tradicional da Licenciatura, tem sidointeiramente privada de originalidade/ criatividade e apresenta-

    se desvinculada da fonte geradora dos contedos que a

    constituem.

    Nesse contexto, o autor concorda que temos problemas na formao do

    professor, mas no acredita que haja deficincias em termos de contedos, e sim na

    sua qualificao/atuao didtico-pedaggica, evidenciadas numa postura

    tradicional, formalista de abordar os contedos em sala de aula.

  • 7/23/2019 FUNES 01

    19/97

    17

    Druck (2010, p.2) insiste e revela que muitos professores que no dominam

    os contedos matemticos recorrem a tcnicas e modismos, afetando cada vez este

    quadro: Essa combinao perversa acabou por produzir o pano de fundo para o

    desastre que hora assistimos: aulas montonas e confusas, cheias de frmulas sem

    sentido, com a consequente falta de interesse e baixssimo nvel de conhecimento

    matemtico dos alunos. De qualquer forma, a formao precria do professor se

    revela como um dos principais fatores que afetam a qualidade do ensino de

    matemtica no Brasil.

    Por outro lado, educadores matemticos tm apontado quase que

    sistematicamente que a matemtica que est sendo dada em sala de aula sem

    utilidade para o aluno, intil para a sua vida, obsoleta para o momento em quevivemos, o que deixa os alunos desmotivados. Na realidade, o dia-a-dia do trabalho

    na sala de aula uma tentativa de transmisso de um conhecimento deslocado dos

    interesses dos alunos e que, para grande parte dos educadores, motivo de

    frustrao. (BARASUOL, 2006, p.2). A esse respeito, Bassanezi (1999, p.1) tambm

    comenta:

    Na verdade, a produo matemtica tem ocorrido de modosupostamente desvinculado de um contexto scio-cultural-

    poltico e com pouca preocupao em tornar-se utilitria ou

    mais bem definida em suas metas - o que, de certo modo,

    diferencia a Matemtica de outras Cincias. De fato, tal

    produo apresenta-se como fruto exclusivo da mente

    humana, resultando numa linguagem que almeja

    essencialmente elegncia e rigor.

    Nas entrelinhas podemos concluir que h uma preocupao em trazer a

    matemtica para o contexto do aluno, trabalhar situaes do dia a dia, dar mais

    sentido aos contedos e, sobretudo, dotar os alunos de conhecimentos e

    procedimentos matemticos a fim de resolver problemas reais de seu cotidiano.

    Nesse mesmo sentido, Druck (2003) traz algumas preocupaes quanto

    contextualizao ao afirmar que muitos professores no possuem conhecimento

    matemtico necessrio para decidir sobre qual matemtica est por trs de

    algumas situaes concretas. Algumas vezes, cita a autora, na busca incessante de

  • 7/23/2019 FUNES 01

    20/97

    18

    se trabalhar a matemtica no contexto do aluno, surgem propostas didtico-

    pedaggicas das mais variadas, muitas vezes inadequadas, como a criao da

    'matemtica junina' ou fazer a interpretao matemtica de um poema religioso.

    Ainda nessa mesma direo, muitos professores e matemticos tm

    compartilhado preocupaes quanto forma de se abordar alguns contedos

    matemticos em sala de aula. Lima et al.(2001), ao analisarem os principais livros

    didticos de Matemtica adotados no Ensino Mdio, concluram que a maioria

    desses livros trazem uma srie de enunciados cuja veracidade no demonstrada

    nem justificada, o que impede os jovens de desenvolverem o seu esprito crtico,

    aprender a raciocinar e, sobretudo, tomar decises baseada na anlise cuidadosa

    dos fatos.De fato, a experincia tem mostrado que um ensino baseado na transmisso

    de contedos por parte do professor, em que o aluno recebe passivamente os

    contedos e os reproduz, conforme regras e procedimentos, no garantem uma

    aprendizagem efetiva. Qualquer que seja a rea do conhecimento, o aluno tem que

    participar ativamente do processo e construo do conhecimento, entender que os

    mesmos so responsveis, com uma adequada orientao e mediao do professor,

    num contexto de erros e acertos, de forma perseverante, pela sua aprendizagem.Chaves e Bisognim ([s.d], p.1) corroboram essa opinio, ao fazerem a seguinte

    ponderao:

    Critica-se, no entanto, os contedos transmitidos

    exclusivamente de maneira tradicional. Para essa pedagogia,

    o aluno atento explicao e o professor apropriado de uma

    didtica coerente e clara, so fatores necessrios e suficientespara que se possa assegurar e efetivar o processo de

    aprendizagem. A prtica, no entanto, tem mostrado que no

    to simples assim, que a realidade de uma sala de aula evoca,

    muitas vezes, por um fazer diferenciado.

    Vale ressaltar que, qualquer que seja a mtodo de ensino usado pelo

    professor, no obteremos resultados positivos se no tivermos professores

    conscientes da importncia de seu papel histrico-social enquanto orientador e

    mediador do processo de ensino e aprendizagem, compromissados com a qualidade

  • 7/23/2019 FUNES 01

    21/97

    19

    do ensino, que tenham sobriedade para questionar e no ceder a orientaes de um

    sistema cada vez mais assistencialista e paternalista, que prioriza a quantidade em

    detrimento da qualidade. Da mesma forma, nenhum mtodo, nenhuma orientao

    de cunho pedaggico funciona se o nosso aluno real no estiver motivado,

    compromissado com a sua aprendizagem, se no desempenhar o seu verdadeiro

    papel de aluno na acepo prpria da palavra.

    2.1 OS TRS COMPONENTES DO ENSINO DA MATEMTICA, SEGUNDO LIMA.

    Considerando que a matemtica tem suas caractersticas prprias, assim

    como as demais reas das cincias e seus contedos exigem meios apropriadospara sua aquisio, Lima (1999), de forma simples e franca, sugere trs

    componentes bsicos aos quais o ensino de matemtica deve se apoiar:

    conceituao, manipulao e aplicao.

    O autor acredita que o conhecimento e a adoo por parte dos professores

    desses trs componentes, utilizados de forma no divorciada e equilibrada,

    permitiro que os alunos entendam e reconheam o mtodo matemtico. Alm do

    mais, iro dot-los de habilidades para lidar desembaraadamente com osmecanismos do clculo e dar-lhes condies para mais tarde saberem utilizar seus

    conhecimentos em situaes da vida real [...]. (LIMA, 1999, p.1). A seguir, iremos

    descrev-los:

    2.1.1 Conceituao

    Segundo o autor, a conceituao compreende a formulao correta dasdefinies, o domnio da notao/linguagem de uma certa teoria, o enunciado

    preciso das proposies , a prtica de formas distintas de raciocnio, como o

    dedutivo, por exemplo, a deduo(quando possvel) das frmulas e o

    estabelecimento de conexes entre diversos conceitos, ou seja, o saber.

    o saber fazer relaes entre temas matemticos, considerando os seus

    diversos contextos, e interpretar/reformular corretamente situaes e ideias

    matemticas. Pertencem a esse componente, tambm, a prtica e a compreenso

    da demonstrao, uma vez que demonstrar validar uma verdade matemtica, seja

    um teorema ou uma proposio, atravs da razo e no pela imposio.

  • 7/23/2019 FUNES 01

    22/97

    20

    Cabe destacar que um bom domnio dos conceitos matemticos por parte dos

    alunos garante, de forma consciente e consistente, a aplicao desses conceitos na

    resoluo de situaes-problemas Na realidade, esse componente corresponde ao

    que se faz, normalmente, nas chamadas aulas tericas.

    2.1.2 Manipulao

    Sabemos que o ensino de matemtica, na viso de muitos professores e

    alunos, resume-se a manipulao, que o saber fazer, ou seja, colocar em prti ca

    (manipular) via mtodos, algoritmos e frmulas, os conceitos matemticos. Para

    Lima (1999), a manipulao gil de equaes, de frmulas, de construesgeomtricas, de expresses numricas, acompanhadas do desenvolvimento de

    atitudes mentais, permite aos que fazem matemtica uma abordagem consciente e

    objetiva das situaes (problemas) matemticas. Outrossim, permite o treinamento

    desses procedimentos indispensveis para um fazer matemtico eficaz e gil. o

    que se faz geralmente ao se propor os chamados exerccios de fixao.

    No entanto, o autor observa que prtica no Brasil a supervalorizao da

    manipulao, decorrente, muitas vezes, da forma como a maioria dos livros didticostratam a matemtica, priorizando clculos mecnicos e repetitivos, trazendo listas

    extensas de questes do tipo calcule, em prejuzo de questes relacionadas ao dia

    a dia do aluno ou a questes de investigaes internas da matemtica.

    No h dvida que o excesso de manipulao tem guiado a grande maioria

    de nossos professores na seleo e organizao dos contedos a serem dados em

    sala de aula. Da por que reas importantes da Matemtica, como Geometria, por

    exemplo, tm sido abandonadas, por exigir no s a manipulao mecnica, mas,sobretudo, o raciocnio dedutivo e a capacidade visual, caractersticas que

    geralmente no so intrnsecas ao um ensino baseado simplesmente no domnio de

    procedimentos.

    2.1.3 Aplicaes

    Certamente, a possibilidade de aplicaes de conceitos e procedimentos

    matemticos para resolver problemas, sejam eles relacionados ao cotidiano, a

    questes de outras reas, sejam cientficas ou tecnolgicas, ou a questes prprias

  • 7/23/2019 FUNES 01

    23/97

    21

    da matemtica, o momento mais motivante e prazeroso para os alunos. Muitas

    vezes este momento d sentido e responde a muitas perguntas de por que de se

    estudar certos contedos. Para Lima (1999), as aplicaes so o emprego das

    noes e teorias da Matemtica para obter resultados, concluses em situaes do

    dia a dia ou em questes de outras reas do conhecimento, ou seja, o ato de

    contextualizar os conceitos e procedimentos matemticos. O mesmo ressalta que o

    trabalho com aplicaes em Matemtica desenvolve, entre outras habilidades, a

    criatividade, a autoestima, a capacidade de resolver problemas e, sobretudo, justifica

    e torna menos cansativo o ato de aprender.

    Para o mesmo autor, o trabalho com as aplicaes no ensino de Matemtica

    deve ser uma constante em sala de aula e desenvolvido num ambiente de resoluode situaes-problemas:

    Cada novo captulo do curso deveria comear com um

    problema cuja soluo requeresse o uso da matria que vai a

    ser ensinada. muito importante que o enunciado do

    problema no contenha palavras que digam respeito ao

    assunto que vai ser estudado naquele captulo. De resto, asaplicaes mais interessantes, durante todo o curso, so

    exemplos e exerccios cujo objeto principal no o assunto

    que est sendo tratado. Por exemplo: problemas sobre

    logaritmos em que a palavra logaritmo no aparea no

    enunciado ou exerccios que se resolvam com trigonometria,

    mas que no falem em seno, cosseno, etc. (LIMA, 1999, p. 6).

    Dessa forma, o uso equilibrado e no dissociado destes trs componentes no

    ensino da Matemtica trar como resultados uma aprendizagem efetiva e duradoura,

    um ensino que valorize mais o raciocnio, o ato de fazer pensar e menos baseado na

    reproduo e repetio de conceitos e procedimentos.

    Objetivamente, o principal ponto de convergncia desse estudo com as

    concepes de Lima (1999) (artigo este que teve uma contribuio importante na

    escolha do tema deste trabalho) foi a constatao de que a maioria dos alunos do

    Ensino Mdio no sabe diferenciar qual o modelo matemtico adequado para

    modelar uma dada situao. Por exemplo, se um dado problema resolvido usando

  • 7/23/2019 FUNES 01

    24/97

    22

    a funo afim, quadrtica ou exponencial, quando no se tem explicitamente o tipo

    de funo que deve ser usada.

    Claro, quando se defende a valorizao das aplicaes no ensino da

    matemtica no se pretende, de forma alguma, minimizar ou relativizar a importncia

    de conceitos e procedimentos, mas sim reconhecer que a principal finalidade da

    conceituao e da manipulao em Matemtica a possibilidade de aplicaes

    dessas ferramentas dentro da prpria Matemtica ou em problemas que tm

    referncia no dia a dia do aluno.

    Da mesma forma, no podemos adotar uma viso maniquesta e acreditar

    que devemos tirar das salas de aulas contedos que no permitam uma

    contextualizao fora da matemtica, como defendido por alguns educadores. Bastalembrar que, em geral, os matemticos no produzem matemtica pensando, num

    primeiro momento, em aplicaes imediatas. Agora, historicamente, percebemos

    que muita matemtica considerada terica e menos utilitria teve aplicaes

    surpreendentes, como, por exemplo, a inesperada aplicao da teoria dos nmeros

    primos na Criptografia, entre outros casos.

    2.2 O QUE DIZEM AS ORIENTAES CURRICULARES OFICIAIS

    No se pode negar que o professor hoje dispe de um vasto material relativo

    a orientaes curriculares, sejam elas didticas ou pedaggicas, que podem auxili-

    los na seleo e organizao dos contedos.

    Juntamente com os documentos de Secretarias Municipais e Estaduais de

    Educao, temos, seguramente, os Parmetros Curriculares Nacionais (PCN), sejam

    eles direcionados para o Ensino Fundamental ou Mdio e suas complementaes,como um dos principais documentos institucionais que orientam a prtica

    pedaggica docente no mbito da educao brasileira. Desse modo, considerando

    que as concepes expressas nestes documentos contribuiro para uma mudana

    de postura dos professores, se eles forem interpretados corretamente, iremos

    descrever suas principais propostas e opinies.

    Grosso modo, os PCN para o Ensino Fundamental (1998) apontam como

    obstculos enfrentados pelo Brasil em relao ao ensino de matemtica a m

    formao, a falta de polticas educacionais concretas, interpretaes equivocadas de

    concepes pedaggicas e, principalmente, a no adoo dessas propostas por

  • 7/23/2019 FUNES 01

    25/97

    23

    partes dos professores. Vale notar que essas orientaes, mesmo sendo voltadas

    para o ensino fundamental, tm carter geral e se aplicam, portanto, a qualquer nvel

    de ensino.

    Como exemplo de inovaes mal sucedidas, o documento alerta sobre a

    forma comum e no adequada de trabalhar a resoluo de problema como opo

    metodolgica: [...] quando incorporada, aparece como um item isolado,

    desenvolvido paralelamente como aplicao da aprendizagem, a partir de listagens

    de problemas cuja resoluo depende basicamente da escolha de tcnicas ou

    formas de resoluo memorizadas pelos alunos. (BRASIL, 1998, p.22). Um outro

    obstculo apontado, no menos importante, fruto de interpretaes equivocadas por

    parte de docentes e do corpo pedaggico das escolas, diz respeito a forma comoesses profissionais veem a ideia de contexto na sala de aula:

    [...] ao se trabalhar apenas com o que se supe fazer parte do

    dia-a-dia do aluno. Embora as situaes do cotidiano sejam

    fundamentais para conferir significados a muitos contedos a

    serem estudados, importante considerar que esses

    significados podem ser explorados em outros contextos comoas questes internas da prpria Matemtica e dos problemas

    histricos. Caso contrrio, muitos contedos importantes sero

    descartados por serem julgados, sem uma anlise adequada,

    que no so de interesse para os alunos porque no fazem

    parte de sua realidade ou no tm uma aplicao prtica

    imediata. (BRASIL, 1998, p.23).

    Da mesma forma, o documento critica a forma de como a Histria da

    Matemtica vendo sido trabalhada em sala de aula: muitas vezes se resume a

    apresentao de fatos ou biografias de autores, empobrecendo esse recurso to

    importante para as aulas de Matemtica, por mostrar a trajetria de construo e

    reconstruo de conceitos e procedimentos matemticos. Alm do mais, o trabalho

    com Histria da Matemtica deixa claro para os alunos que essa rea do saber

    fruto da produo humana e que muitas vezes reflete momentos e necessidades

    histricas. Alm do mais, mostra fatos importantes da construo ou reconstruo

  • 7/23/2019 FUNES 01

    26/97

    24

    dos conhecimentos matemticos, que podem apontar formas de se abordar certos

    conceitos em sala de aula.

    2.2.1 A Resoluo de Problemas

    A fim de orientar e amenizar as dificuldades apontadas, os autores desse

    documento sugerem a resoluo de problemas como uma das principais

    metodologias de ensino em Matemtica. Em termos gerais, a atividade com

    resoluo de problemas pressupe que sejam apresentados aos alunos situaes

    desafiadores (problemas), sejam elas construdas/geradas na prpria Matemtica ou

    relacionadas ao seu dia a dia, que demandem por parte do aluno a necessidade degerenciar informaes, escolher conceitos e procedimentos adequados na busca da

    resoluo do problema.

    Da, como consequncia, essa metodologia permite a criao de um ambiente

    desafiador, privilegiando o desenvolvimento do raciocnio, trocas de experincias

    entre alunos, e, sobretudo, a necessidade de justificar o processo de resoluo.

    Nessa viso, o ensino na perspectiva de resoluo de problemas se ope ao um

    ensino voltado para a reproduo e memorizao de conceitos, frmulas eprocedimentos. Os PCN (BRASIL, 1998, p.40-41) ainda caracterizam e definem mais

    precisamente, em forma de princpios, a resoluo de problemas:

    a situao-problema o ponto de partida da atividade matemtica e no a

    definio. No processo de ensino e aprendizagem, conceitos, ideias e

    mtodos matemticos devem ser abordados mediante a explorao de

    problemas, ou seja, de situaes em que os alunos precisem desenvolver

    algum tipo de estratgia para resolv-las;

    o problema certamente no um exerccio em que o aluno aplica, de forma

    quase mecnica, uma frmula ou um processo operatrio. S h problema se

    o aluno for levado a interpretar o enunciado da questo que lhe posta e a

    estruturar a situao que lhe apresentada;

    aproximaes sucessivas de um conceito so construdas para resolver um

    certo tipo de problema; num outro momento, o aluno utiliza o que aprendeu

    para resolver outros, o que exige transferncias, retificaes, rupturas,

  • 7/23/2019 FUNES 01

    27/97

    25

    segundo um processo anlogo ao que se pode observar na Histria da

    Matemtica;

    um conceito matemtico se constri articulado com outros conceitos, por meio

    de uma srie de retificaes e generalizaes. Assim, pode-se afirmar que o

    aluno constri um campo de conceitos que toma sentido num campo de

    problemas, e no um conceito isolado em resposta a um problema particular;

    a resoluo de problemas no uma atividade para ser desenvolvida em

    paralelo ou como aplicao da aprendizagem, mas uma orientao para a

    aprendizagem, pois proporciona o contexto em que se pode apreender

    conceitos, procedimentos e atitudes matemticas.

    Nesse contexto, o ensino atravs da resoluo de problemas permite que os

    alunos desenvolvam sua capacidade de aprender a aprender, habituando-os a

    determinar por si prprios respostas s questes que os inquietam, sejam elas

    questes escolares ou da vida cotidiana, ao invs de esperar uma resposta j pronta

    dada pelo professor ou pelo livro-texto (PINTO; SOARES,[s.d], p.1) e, como

    consequncia, promove o desenvolvimento de atitudes como perseverana, deformas eficazes de aprender , contribui para a conquista da autoestima e,

    principalmente, mostra que o fazer matemtico se d num ambiente de tentativas,

    de acertos e erros. Afinal de contas, a produo de matemtica ocorre, como j

    falado, num contexto de resoluo de problemas, sejam eles matemticos ou de

    demandas cientficas, tecnolgicas ou sociais.

    2.2.2 O recurso Histria da Matemtica

    Os PCN tambm apontam alguns recursos que podem propiciar contextos e

    contriburem na estratgia de busca de solues num trabalho com Resoluo de

    Problemas. Dentre eles, podemos destacar o recurso Histria da Matemtica. Ao

    reconhecer a importncia dessa ferramenta para o processo de ensino e

    aprendizagem de Matemtica, os autores justificam sua relevncia:

    Ao revelar a Matemtica como uma criao humana, ao

    mostrar necessidades e preocupaes de diferentes culturas,

  • 7/23/2019 FUNES 01

    28/97

    26

    em diferentes momentos histricos, ao estabelecer

    comparaes entre os conceitos e processos matemticos do

    passado e do presente, o professor cria condies para que o

    aluno desenvolva atitudes e valores mais favorveis diante

    desse conhecimento. (BRASIL, 1998, p.42).

    Nesse sentido, o recurso Histria da Matemtica se mostra como um aliado

    forte no processo de ensino e aprendizagem de matemtica por mostrar o caminho

    longo trilhado por esse conhecimento, sua evoluo, sua importncia na

    consolidao de outras reas, como a tecnolgica, e, sobretudo, ilustra muito bem

    para os alunos que suas dificuldades hoje de aceitar/compreender alguns conceitostambm foram sentidas no passado pelos matemticos, ou seja,

    O aluno reconhecer a Matemtica como uma criao

    humana, que surgiu a partir da busca de solues para

    resolver problemas do cotidiano, conhecer as preocupaes

    dos vrios povos em diferentes momentos histricos,

    identificando a utilizao da Matemtica em cada um deles eestabelecer comparaes entre os conceitos e processos

    matemticos do passado e do presente. (PORTANOVA, [s.d],

    p.1).

    Da, a necessidade do reconhecimento de que a matemtica est sendo

    sempre aprimorada, incorporando novos conceitos e mtodos, refletindo momentos

    e necessidades da sociedade. Outrossim, [...] o recurso Histria da Matemticapode esclarecer ideias matemticas que esto sendo construdas pelo aluno,

    especialmente para dar respostas a alguns porqus e, desse modo, contribuir para a

    constituio de um olhar mais crtico sobre os objetos de conhecimento. (BRASIL,

    1998, p.42).

    2.2.3 O recurso s Novas Tecnologias

    As novas tecnologias, sejam elas de comunicao ou de informtica, esto

    cada vez mais presentes no dia a dia dos nossos alunos. Recursos tecnolgicos

  • 7/23/2019 FUNES 01

    29/97

    27

    como computadores, celulares, tablets, o acesso aos meios de comunicao ou at

    mesmo as calculadoras, sendo usados de forma consciente e planejada, podem se

    tornar aliados fortes no processo de ensino e aprendizagem de Matemtica. Ento

    no podemos neg-las, muito menos tir-las do meio escolar; pelo contrrio,

    devemos encontrar formas eficazes de incorpor-las ao ensino.

    Sabidamente, o simples fato de se ter contato com novas tecnologias, com

    uma grande quantidade de informaes diariamente, no significa para o usurio

    uma automtica contribuio para a sua aprendizagem, algumas vezes podem at

    atrapalhar. Da a necessidade da escola desenvolver um trabalho contnuo a fim de

    conscientizar seus alunos quanto ao uso proveitoso e responsvel desses recursos,

    devidamente orientados pelos professores. Nesse sentido, os PCN (1998), fazendoreferncia a recursos como calculadoras, computadores e outras tecnologias, listam

    algumas de suas contribuies para o processo de ensino e aprendizagem de

    Matemtica:

    relativiza a importncia do clculo mecnico e da simples manipulao

    simblica, uma vez que por meio de instrumentos esses clculos podem ser

    realizados de modo mais rpido e eficiente;

    evidencia para os alunos a importncia do papel da linguagem grfica e de

    novas formas de representao, permitindo novas estratgias de abordagem

    de variados problemas;

    possibilita o desenvolvimento, nos alunos, de um crescente interesse pela

    realizao de projetos e atividades de investigao e explorao como partefundamental de sua aprendizagem;

    permite que os alunos construam uma viso mais completa da verdadeira

    natureza da atividade matemtica e desenvolvam atitudes positivas diante de

    seu estudo

    consensual que a matemtica tem papel decisivo na produo e execuode novos recursos tecnolgicos, mas vale lembrar que o conhecimento matemtico

    ou suas linguagens, muitas vezes, so necessrios tambm para o uso adequado

  • 7/23/2019 FUNES 01

    30/97

    28

    desses recursos. Da, que muita gente fica privado dessas ferramentas por se

    sentirem incapazes de manuse-los ou se sentem inseguros de us-los e, neste

    caso, um razovel conhecimento matemtico pode ajudar.

    Especificamente, em relao ao uso de computadores, os autores sustentam

    que eles podem ser usados, principalmente, como fonte de informao, como

    auxiliar no processo de construo de conhecimentos e, em alguns casos, como

    ferramenta para realizar algumas atividades como a construo de planilhas

    eletrnicas, banco de dados, etc.

    Certamente, de todos os recursos ditos tecnolgicos, a calculadora tem tido o

    seu uso mais questionado no ensino de Matemtica. A questo que se levanta se

    sua utilizao traz benefcios ou prejuzos para a aprendizagem. Alguns acreditamque se a calculadora no for bem usada, com atividades planejadas e direcionadas,

    ela pode deixar os alunos mal acostumados, ou seja, em alguns casos troca -se o

    clculo mental por um simples clculo mecnico.

    Alm do mais, o uso abusivo da calculadora, dependendo do nvel escolar,

    pode reduzir e dificultar algumas habilidades aritmticas. Uma vez um colega

    comentou que um aluno seu do Ensino Mdio perguntou se poderia usar a

    calculadora para somar 40 + 40!. muito provvel que esse aluno se quer observouo que estava somando. Esse fato isolado, mas emblemtico, ilustra muito bem

    nossa preocupao com o mau uso da calculadora.

    Claro, no simplesmente com este intuito que a calculadora deve ser usada.

    Os prejuzos que podemos ter pelo uso da calculadora podem estar relacionados

    forma de como ela usada. Neste sentido, os PCN tm nos apontado alguns

    caminhos:

    [...] constata-se que ela um recurso til para verificao de

    resultados, correo de erros, podendo ser um valioso

    instrumento de autoavaliao. A calculadora favorece a busca

    e percepo de regularidades matemticas e o

    desenvolvimento de estratgias de resoluo de situaes-

    problema, pois ela estimula a descoberta de estratgias e a

    investigao de hipteses, uma vez que os alunos ganham

    tempo na execuo dos clculos. Assim elas podem ser

  • 7/23/2019 FUNES 01

    31/97

    29

    utilizadas como eficiente recurso para promover a

    aprendizagem de processos cognitivos. (BRASIL, 1998, p.28).

    Assim, o uso adequado da calculadora pode desenvolver algumas

    habilidades, como a descoberta de regularidades, a verificao e interpretao de

    resultados, acompanhados da devida justificativa matemtica, e a confirmao ou a

    refutao de hipteses. Ademais, as propriedades de algumas operaes podem ser

    abordadas e exploradas na calculadora.

    Finalmente, no podemos deixar de fazer referncias a alguns programas de

    computadores (os softwares) que podem ser um suporte pedaggico a mais para

    professores e alunos. Existem vrios softwares educacionais, em particular deMatemtica, que permitem a construo e aplicao de conceitos. Muitos deles

    possibilitam a visualizao de propriedades e de demonstraes de relaes, o

    que seguramente torna o ensino e aprendizagem de matemtica mais motivante e

    realstico para o aluno. A esse respeito, Romero (2006) apresenta mais algumas

    contribuies do uso dos softwareseducacionais para as aulas de Matemtica:

    A tecnologia, especificamente os softwares educacionaisdisponibiliza oportunidade de motivao e apropriao do

    contedo estudado em sala de aula, uma vez que em muitas

    escolas de rede pblica e particular, professores utilizam

    recursos didticos como lousa e giz para ministrarem suas

    aulas, este um dos diversos problemas que causam o

    crescimento da qualidade no satisfatria de ensino,

    principalmente na rede estadual. (idem, 2006, p.1).

    evidente que os alunos devem ter conscincia de que os recursos

    tecnolgicos devem ser um aliado seu no processo de aprendizagem e que,

    portanto, deve ser usado no somente dentro do ambiente de sala de aula, mas,

    principalmente, fora das salas de aulas, j que, neste caso, os recursos disponveis

    so bem mais variados.

  • 7/23/2019 FUNES 01

    32/97

    30

    2.2.4 O recurso aos Jogos

    Os jogos so, sem sombra de dvida, um dos recursos mais importante para

    a motivao dos alunos, por ser natural o ato de brincar ede jogar. Assim, podem

    ser utilizados na Matemtica como pano de fundo para se propor problemas

    criativos, que demandem a criao de estratgias, o desenvolvimento do raciocnio

    rpido, a capacidade de concentrao e, sobretudo, a aplicao, dependendo da

    situao, de conceitos matemticos. Alm do mais,

    os jogos podem ser utilizados para introduzir contedos,

    verificar a aprendizagem, fixar conceitos j estudados eresgatar contedos anteriores. Essa prtica ir melhorar o

    relacionamento entre os alunos e tambm entre alunos e

    professor. Sero reforados valores de respeito, reciprocidade

    e confiana. (PASDIORA, 2008, p.6).

    Recorremos Flemming (2009, p.34) para citarmos mais algumas razes

    para trabalharmos com jogos nas aulas de Matemtica: os jogos podem minimizaras dificuldades de aprendizagens e, principalmente, facilitar o resgate de conceitos e

    propriedades Matemticas de forma mais espontnea e natural. No deixando de

    lembrar que seu uso pode desenvolver outras atitudes, como o conhecimento e o

    respeito a regras pr-estabelecidas e favorecem o trabalho coletivo. Nesse sentido,

    os jogos

    podem contribuir para um trabalho de formao de atitudes,enfrentar desafios, lanar-se busca de solues,

    desenvolvimento da crtica, da intuio, da criao de

    estratgias e da possibilidade de alter-las quando o resultado

    no satisfatrio necessrias para aprendizagem da

    Matemtica. (BRASIL, 1998, p.47).

    Portanto, objetivamos com este captulo (no o considere parte!) fazer um

    panorama do ensino da matemtica do Brasil, mostrando algumas dificuldades e

    apontando solues para super-las, segundo educadores, professores e as

  • 7/23/2019 FUNES 01

    33/97

    31

    orientaes curriculares oficiais. Acreditamos, enfim, que no nos distanciamos do

    tema em pauta, mas justificamos a necessidade de se criar novas formas e mtodos

    para o ensino da Matemtica.

    Explicitamente, percebemos que qualquer que seja a metodologia ou recurso

    usado no ensino de Matemtica o objetivo maior criar ambientes de ensino que

    permitam uma aprendizagem real, significativa, em que o aluno, lanando mo de

    conhecimentos e mtodos, possa us-los para resolver problemas, sejam eles

    escolares ou de sua realidade. E, seguramente, a adeso Modelagem Matemtica,

    num ambiente de resoluo de problemas, permitir darmos um passo importante no

    sentido de amenizar os j recorrentes e propagados problemas que afetam o

    processo de ensino e aprendizagem de Matemtica no Brasil. Claro, no captulo quese segue, iremos definir e caracterizar a Modelagem Matemtica como uma

    importante estratgia de ensino que deve ser incorporada a nossa prtica

    pedaggica.

  • 7/23/2019 FUNES 01

    34/97

    32

    3 A MODELAGEM MATEMTICA

    Conscientes da necessidade de se buscar alternativas no sentido de

    minimizar os j falados problemas do ensino de Matemtica no Brasil, educadores,

    pesquisadores e professores apontam algumas possibilidades. Dentre elas,

    podemos destacar a Resoluo de Problemas e a Modelagem Matemtica como

    metodologias de ensino que devem ser incorporadas prtica pedaggica do

    professor de Matemtica. No h dvidas, no entanto, que nas ltimas dcadas a

    Modelagem Matemtica vem ganhando adeptos e se tornando uma das principais

    alternativas metodolgicas de ensino de Matemtica, por aproximar o aluno da sua

    realidade, ou seja, permite a to sonhada relao teoria e prtica na Matemtica.Nesse sentido, pretendemos neste captulo caracterizar em termos mais

    especficos a Modelagem Matemtica como um ambiente de ensino e

    aprendizagem, uma vez que o nosso trabalho sugere o ensino da Funo

    Exponencial baseado nessa metodologia de ensino.

    Inspirados em Barbosa (2004), nos guiaremos, principalmente, pelas

    seguintes questes: O que Modelagem Matemtica? Por que Modelagem

    Matemtica? Como fazer Modelagem Matemtica? Quais so os obstculosapontados na aplicao da Modelagem Matemtica?

    3.1 A MODELAGEM MATEMTICA NA CONCEPO DA EDUCAO

    MATEMTICA

    No so recentes no Brasil estudos, pesquisas e argumentos em prol do uso

    da Modelagem Matemtica no ensino de Matemtica. Debates sobre a necessidadede se trabalhar as aplicaes em matemtica certamente conduziram reflexes a

    respeito de usar os conceitos matemticos para problematizar/investigar e resolver

    problemas que tm alguma relao com a realidade dos alunos, levando a uma

    conscincia da importncia do papel scio- cultural que a Matemtica desempenha.

    Pesquisadores sustentam que o surgimento da Modelagem Matemtica como

    estratgia de ensino no Brasil se deu na dcada de 70, tendo como um dos

    pioneiros o professor Aristides Camargos Barretos, da PUC do Rio de Janeiro, que

    realizou, na poca, a sua principal experincia de Modelagem em sala de aula numa

    turma de Clculo Diferencial e Integral, obtendo bons resultados. Posteriormente, os

  • 7/23/2019 FUNES 01

    35/97

    33

    professores D'Ambrsio e Bassanezi (ambos da UNICAMP) se engajaram em

    discusses no mbito nacional e internacional sobre o uso da Modelagem

    Matemtica; o que os levaram, posteriormente, a criar e coordenar cursos e projetos

    com a finalidade de criar grupos de pesquisa e estudos em Modelagem Matemtica.

    Mais tarde, Bassanezi se tornou um dos principais especialistas e disseminadores

    da Modelagem Matemtica, sendo referncia para muitos pesquisadores e

    estudiosos do tema. Temos ainda estudos mais recentes dos

    professores/pesquisadores Barbosa e Biembengut que tm dado contribuies

    tericas e prticas importantes sobre a Modelagem Matemtica.

    Diversas so as concepes sobre a Modelagem Matemtica na perspectiva

    da Educao Matemtica, contudo no h divergncias quanto aos seus objetivos.Bassanezi (1999, p.15) define Modelagem Matemtica como a arte de transformar

    problemas da realidade em problemas matemticos, resolv-los e, ento, interpretar

    suas solues na linguagem do mundo real. Nesse contexto, o autor acredita que

    essa forma de atuar/conceber o ensino de Matemtica aproxima o aluno, de certa

    forma, da Matemtica que feita nos laboratrios,que muitas vezes empresta a

    sua teoria/linguagem para solucionar ou deixar mais claros fenmenos e fatos de

    outras reas do conhecimento:

    Desse modo, a Matemtica tem penetrado fortemente na

    Economia, Qumica, Biologia, entre outras, na perspectiva da

    utilizao de modelos, quase sempre apoiados nos

    paradigmas que nortearam a Fsica - como as leis de

    conservao e analogias consequentes. Outras reas como

    Sociologia, Psicologia, Medicina, Lingustica, Msica, e mesmoa Histria, comeam a acreditar na possibilidade de ter suas

    teorias modeladas por meio da linguagem matemtica. (idem,

    p.11).

    Dessa forma, o processo de Modelagem Matemtica, em particular, visa

    problematizar, investigar e solucionar situaes/problemas vindo de outros

    contextos, como, por exemplo, de questes originadas em outras reas ou que

    tenham origem ou referncia na realidade do aluno, resultando na obteno de um

    modelo matemtico que traduza, em termos matemticos, a situao colocada.

  • 7/23/2019 FUNES 01

    36/97

    34

    Alm do mais, se busca trabalhar os contedos matemticos de uma forma

    que possibilite a construo dos conceitos matemticos, buscando relaes destes

    com o dia a dia [...]. (BURAK; BARBIERI, 2005, p.2). Resulta, ento que um modelo

    matemtico um conjunto consistente de equaes ou estruturas matemticas,

    elaborado para corresponder a algum fenmeno - este pode ser biolgico, social,

    psicolgico, conceitual ou at mesmo outro modelo matemtico (BASSANEZI,

    1999, p.12) ou em termos mais simples, como dizem Biembengut e Hein (2000),

    um conjunto de frmulas e relaes matemticas que traduz um fenmeno ou um

    problema real.

    De forma mais ampla, Bassanezi (idem, p.11) completa que modelo um

    processo artificial que ocorre quando procuramos agir/refletir sobre uma poro darealidade, na tentativa de explicar, compreender ou modific-la. O mesmo ainda

    pondera que um modelo nunca encerra uma verdade definitiva, uma vez que ele

    representa uma aproximao da realidade analisada. Na mesma direo desses

    autores, Barasuol (2006, p.3) considera a Modelagem Matemtica como um

    processo que envolve a obteno de um modelo matemtico e complementa:

    Este sob certa tica, pode ser considerado um processoartstico, visto que, para se elaborar um modelo, alm de

    conhecimento apurado de matemtica, o modelador deve ter

    uma dose significativa de intuio e criatividade para

    interpretar o contexto, saber discernir que contedo

    matemtico melhor se adapta e tambm ter senso ldico para

    jogar com as variveis envolvidas.

    Assim, um ensino de Matemtica que prioriza atividades, sejam elas simples

    ou mais complexas, que tenham como objetivo a interpretao via matemtica de

    fatos e situaes, permitir o seu reconhecimento, por parte de alunos e sociedade

    em geral, da sua utilidade, da sua presena nas questes que dizem respeito vida

    do aluno. Ademais, situaes de ensino nesses moldes desenvolvem, sem dvida,

    um sentimento, por parte do aluno, de ser um agente ativo de sua aprendizagem,

    levando em considerao que ele faz parte do processo de construo das solues

    e no um mero reprodutor de algoritmos e estratgias do professor. Acrescentamos,

    enfim, que uma Matemtica til e interessante no deve se distanciar do contedo

  • 7/23/2019 FUNES 01

    37/97

    35

    programtico bsico existente (BASSANEZI, 1999), sob pena de reduzir cada vez

    mais a qualidade e o nvel do ensino de Matemtica.

    Barbosa (2009), que tem publicado diversos estudos tericos e,

    principalmente, tem relatado experincias de atividades em sala de aula com

    Modelagem Matemtica, define essa metodologia de ensino em termos mais simples

    como o ato de abordar situaes do dia a dia ou de outras cincias por meio da

    Matemtica; o que nos parece uma definio mais adequada para os objetivos de

    nosso trabalho. Em outro momento, o mesmo autor explicita melhor o que entende

    por ambiente de Modelagem:

    [...] o ambiente de Modelagem est associado problematizao e investigao. O primeiro refere-se ao ato de

    criar perguntas e/ou problemas enquanto que o segundo,

    busca, seleo, organizao e manipulao de informaes e

    reflexo sobre elas. Ambas atividades no so separadas,

    mas articuladas no processo de envolvimento dos alunos para

    abordar a atividade proposta. Nela, podem-se levantar

    questes e realizar investigaes que atingem o mbito doconhecimento reflexivo. (BARBOSA, 2004, p.3).

    Nesse sentido, um ambiente de Modelagem Matemtica possibilita, por parte

    do aluno, a aplicao de teorias, linguagem, procedimentos e algoritmos da

    Matemtica, assim como a construo de novos conceitos , para abordar situaes

    que se relacionam, de alguma maneira, com o seu cotidiano. Alm do mais, a

    despeito de vrias concepes mais abrangentes, essa metodologia deve ser vistaapenas como uma estratgia de aprendizagem, onde o objetivo principal no de se

    chegar a um modelo, mas seguir etapas aonde o contedo matemtico vai sendo,

    no decorrer do processo, sistematizado e aplicado. (MACLYNE; SANTOS, 2007.

    p.8).

    Barbosa (2009) ainda explica que a Modelagem Matemtica no nico

    ambiente de ensino e aprendizagem que tem como objetivo a busca da resoluo de

    um problema. Uma outra metodologia com os mesmos objetivos a Resoluo de

    Problemas. No entanto, a primeira se diferencia da segunda por trabalhar temas

  • 7/23/2019 FUNES 01

    38/97

    36

    interdisciplinares, que tm origem ou tem relao do cotidiano dos mesmos, o que

    no ocorre geralmente com atividades de resoluo de problemas.

    Todavia, considerando a natureza e os objetivos deste trabalho, adota-se a

    concepo de que a Modelagem Matemtica est vinculada a um ambiente de

    Resoluo de Problemas, mas como dito antes, se busca objetivamente, como essa

    alternativa metodolgica, solucionar problemas provenientes do dia a dia dos alunos.

    Explicando melhor: em particular, pretendemos sugerir atividades de ensino da

    Funo Exponencial - via a resoluo de problemas contextualizados - baseadas,

    em seus objetivos e mtodos, na Modelagem Matemtica. Na realidade, esse

    entendimento tem suporte nas Orientaes Curriculares Nacionais para o ensino

    Mdio que dizem: A modelagem matemtica, percebida como estratgia de ensino,apresenta fortes conexes com a ideia de resoluo de problemas apresentada

    anteriormente [...]. (BRASIL, 2006, p.84).

    Especificamente, pretende-se, com este trabalho, apresentar situaes-

    problema que leve o aluno a decidir, apoiado nas caractersticas das principais

    funes elementares (afins, quadrticas, exponenciais, etc..) sobre qual o modelo

    matemtico adequado que modela tal situao. Essa viso de se ensinar/apreender

    os conceitos matemticos, em particular das funes, se contrape a posturaadotada geralmente pelos professores e autores de livros didticos, que do os

    modelos (frmulas) j prontos e acabados, sem necessidade do aluno agir, intervir,

    refletir sobre qual o modelo adequado para uma dada situao.

    Finalmente, Barbosa (2009); a par da importncia da Modelagem Matemtica

    para motivar nossos alunos e favorec-los na aprendizagem de Matemtica; atenta

    para o fato de que a busca de modelos matemticos tem sua importncia na

    sociedade como um todo. Ele lembra, como exemplo, que muitas empresas detransportes procuram uma representao matemtica que relacione seus custos e

    receitas, e da elas podem usar esses modelos para justificar, por exemplo, seus

    aumentos. Da mesma forma, as entidades de fiscalizao, 'sobre um ponto de vista

    tcnico,tomam esses modelos para analisarem possveis irregularidades. Enfim, o

    autor sugere que por trs da produo de um modelo pode estar o interesse de

    quem os produz, o que torna essa produo um processo no neutro. Da, sobre

    esse ponto de vista, a Modelagem Matemtica perpassa as salas de aula para ter

    sua importncia tambm no exerccio de nossa cidadania:

  • 7/23/2019 FUNES 01

    39/97

    37

    Parece-me que, do ponto de vista da cidadania, h um

    argumento mais crucial: a necessidade de os alunos

    perceberem a natureza enviesada dos modelos matemticos e

    o papel que eles podem ter na sociedade e nas cincias. Isso

    no significa o esquecimento do contedo matemtico, mas

    seu posicionamento como um 'meio' para convidar os alunos a

    enxergarem seu uso para alm dos limites da disciplina

    escolar. (BARBOSA, 2009, p.2).

    Nesta perspectiva, a preocupao do autor embasa algumas de nossas

    reflexes que sero citadas e explicitadas em momento posterior de que a falta deum repertrio bsico em matemtica, ou uma aprendizagem deficiente nesta rea do

    conhecimento, por parte dos alunos e cidados em geral, acaba por privar essas

    pessoas do exerccio pleno de sua cidadania.

    3.2 PORQUE USAR A MODELAGEM MATEMTICA

    Muitos professores e matemticos tm compartilhado preocupaes quanto forma de se abordar os contedos matemticos em sala de aula. Da, a necessidade

    premente do professor de Matemtica mudar sua a postura. No h mais espao

    para um ensino pautado na supervalorizao de regras, frmulas e procedimentos

    em detrimento de uma abordagem que priorize uma aprendizagem significativa,

    onde os alunos possam de fato apreender os conceitos e aplic-los na resoluo de

    problemas diversos, que sejam do seu cotidiano ou originados na prpria lgica

    interna da Matemtica.Muitos afirmam que essa metodologia tradicional do ensino de Matemtica,

    que se limita a expor os contedos, resolver e propor exerccios para que os alunos

    exercitem seus conhecimentos, sem o incentivo da participao ativa deles na

    construo e busca de solues est ultrapassada e que, portanto, um fator

    preponderante para o atual fracasso do processo de ensino e aprendizagem de

    Matemtica. Alis, a esse respeito, Barasuol assevera enfaticamente que:

    Esta forma de apresentao dos contedos depreende-se uma

    concepo de Matemtica em que a criatividade totalmente

  • 7/23/2019 FUNES 01

    40/97

    38

    desfigurada, induzindo os alunos impotncia frente

    sabedoria do mestre, que aparentemente encontra de imediato

    os melhores caminhos para a soluo de questes

    matemticas, em verdade, esse modo de proceder s

    possvel porque o professor j conhece antecipadamente

    aquele contedo. (BARASUOL, 2006, p.2).

    No entanto, acreditamos que o problema no est s na forma de expor os

    contedos, mas, sobretudo, se os contedos so selecionados e organizados com o

    objetivo de alcanar uma aprendizagem verdadeira, desenvolver o raciocnio e a

    capacidade de aplicar adequadamente conceitos e procedimentos para resolverproblemas. De outra forma: no adianta garantir a todo custo a audincia dos

    alunos, como aulas muito divertidas e com um certo apelo teatral, como hoje

    podemos presenciar em alguns casos . Assim, devemos

    descobrir novas formas de estabelecer o processo de ensino-

    aprendizagem, com a inteno de no somente melhorar a

    qualidade das aulas, mas tambm de adotar estratgias quelevem o aluno a questionar e traar novos caminhos, como

    forma de ultrapassar as dificuldades que se apresentam.

    (MACLYNE; SANTOS, 2007, p.8).

    Por isso, inadivel a necessidade de perseguir e assegurar uma

    aprendizagem slida, que leve o aluno a pensar e aplicar, conscientemente, seus

    conhecimentos matemticos para resolver seus problemas, sejam escolares ou no.Nesse sentido, acreditamos que a Modelagem Matemtica se impe como uma

    metodologia que pode contribuir de forma decisiva na busca de uma aprendizagem

    efetiva e mais reflexiva, pois:

    Atravs dela o aluno tem condies de desenvolver sua

    capacidade de reflexo, deixando de ser um mero repetidor e

    copiador de conhecimentos, podendo analisar, interpretar e

    discutir teoricamente o vivido na prtica, podendo assim

    avaliar as dificuldades encontradas, objetivando uma

  • 7/23/2019 FUNES 01

    41/97

    39

    aprendizagem mais interessante e agradvel. (SIQUEIRA;

    NATTI, 2009, p.4).

    Desse modo, estamos convictos de que um ensino de Matemtica que

    contemple em sua metodologia atividades simples ou mais complexas de

    Modelagem Matemtica despertar o interesse dos alunos pela investigao e

    pesquisa, tornar as aulas mais dinmicas e produtivas, o que resultar numa

    aprendizagem mais eficiente e til.

    Os Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio (1999), ao

    apontar algumas competncias e habilidades que devem ser desenvolvidas em

    Matemtica, em particular sobre o campo investigao e compreenso, nos remetema algumas caractersticas peculiares da Modelagem Matemtica que podemos usar

    a nosso favor para justificar o seu uso em sala de sala:

    Identificar o problema (compreender enunciados, formular questes etc).

    Procurar, selecionar e interpretar informaes relativas ao problema.

    Formular hipteses e prever resultados.

    Selecionar estratgias de resoluo de problemas.

    Interpretar e criticar resultados numa situao concreta.

    Distinguir e utilizar raciocnios dedutivos e indutivos.

    Fazer e validar conjecturas, experimentando, recorrendo a modelos,

    esboos, fatos conhecidos, relaes e propriedades.

    Discutir ideias e produzir argumentos convincentes.

    Por outro lado, as Orientaes Curriculares Nacionais para o Ensino Mdioreiteram as caractersticas citadas anteriormente e destacam algumas competncias

  • 7/23/2019 FUNES 01

    42/97

    40

    e procedimentos que o aluno pode desenvolver ao se trabalhar na sala de aula com

    atividades de Modelagem Matemtica:

    selecionar variveis que sero relevantes para o modelo a

    construir; problematizar, ou seja, formular o problema terico

    na linguagem do campo matemtico envolvido; formular

    hipteses explicativas do fenmeno em causa; recorrer ao

    conhecimento matemtico acumulado para a resoluo do

    problema formulado, o que, muitas vezes, requer um trabalho

    de simplificao quando o modelo originalmente pensado

    matematicamente muito complexo; validar, isto , confrontaras concluses tericas com os dados empricos existentes; e

    eventualmente ainda, quando surge a necessidade, modificar

    o modelo para que esse melhor corresponda situao real,

    aqui se revelando o aspecto dinmico da construo do

    conhecimento. (BRASIL, 2006. p.85).

    No h dvida que essas habilidades relacionadas Modelagem Matemticapor si ss deveriam ser considerados argumentos suficientes para garantir a adoo

    por parte dos professores dessa estratgia de ensino na Matemtica.

    Em Barbosa (2003, p.3), so citadas algumas razes para incluir a

    Modelagem Matemtica no currculo:

    Motivao: os alunos sentir-se-iam mais estimulados para o estudo de

    matemtica, j que vislumbrariam a aplicabilidade do que estudam na escola;

    Facilitao da aprendizagem: os alunos teriam mais facilidade em

    compreender as ideias matemticas, j que poderiam conect-las a outros

    assuntos;

    Preparao para utilizar a matemtica em diferentes reas: os alunos teriam a

    oportunidade de desenvolver a capacidade de aplicar matemtica em

    diversas situaes, o que desejvel para moverem-se no dia-a-dia e no

    mundo do trabalho;

  • 7/23/2019 FUNES 01

    43/97

    41

    Desenvolvimento de habilidades gerais de explorao: os alunos

    desenvolveriam habilidades gerais de investigao;

    Compreenso do papel sociocultural da matemtica: os alunos analisariam

    como a matemtica usada nas prticas sociais.

    Mas ele chama ateno, sobretudo, para o ltimo desses argumentos, por

    acreditar que ele est diretamente conectado com o interesse de formar sujeitos

    para atuar ativamente na sociedade e, em particular, capazes de analisar a forma

    como a matemtica usada nos debates sociais (idem, 2004, p.2). Nessaperspectiva, o autor considera que a Modelagem Matemtica pode ajudar as

    pessoas a tomarem decises e refletirem sobre as aplicaes da Matemtica usadas

    nas prticas sociais. Siqueira e Natti (2009, p.5) corroboram esse entendimento ao

    afirmarem que essa alternativa metodolgica, alm de desenvolver a capacidade de

    aplicar os conceitos matemticos em diversos contextos, promove uma

    aprendizagem significativa, [...] adquirindo conhecimentos voltados para sua

    cidadania, tornando-o cidado crtico, reflexivo e participante, atuando como agenteda transformao de seu ambiente, participando mais ativamente no mundo do

    trabalho, das relaes sociais, da poltica e da cultura.

    Percebe-se, ento, que as diversas defesas em favor da Modelagem

    Matemtica feitas por pesquisadores e professores recaem principalmente sobre a

    sua importncia social, ou seja, oferecer ao aluno e a sociedade em geral a

    oportunidade de reconhecer a Matemtica como um instrumento eficaz de atuao

    nas questes sociais. Dessa forma, os ganhos que se podem ter de seu uso no sereduzem apenas ao desenvolvimento de capacidades cognitivas, intelectuais, mas

    sim na possibilidade concreta de tornar o ensino de Matemtica mais atraente, mais

    criativo e agradvel. Ademais, permitir a entrada de temas de relevncia social

    nas aulas de Matemtica, o que pode contribuir para diminuir a rejeio e o medo

    que os nossos alunos tm da Matemtica. Chaves e Bisognim ([s.d],p.2) reforam

    essa concepo:

    Um dos mais relevantes aspectos com o qual o ensino por

    meio da Modelagem contribui, o social, pois atravs da

  • 7/23/2019 FUNES 01

    44/97

    42

    valorizao de temas atuais e da realidade, podemos trazer

    para a sala de aula assuntos em que, ao mesmo tempo em

    que se ensina Matemtica, desperta-se para problemas atuais

    da sociedade, problemas ambientais, econmicos, financeiros,

    dentre outros. O aluno sai de uma posio passiva, e como

    cidado integrado no mundo no qual faz parte, tem condies

    de contribuir, provocar mudanas, interagir, integrar e tomar

    decises.

    Finalmente, do ponto de vista do ensino das funes, alguns professores e

    educadores sustentam que o fato mais importante no tratamento de algumas

    funes, como afins, quadrticas e exponenciais, por exemplo, descobrir qual tipo de funo mais adequado para modelar um problema. Na realidade, o que

    vemos, na maioria dos livros didticos e na prtica em sala de aula, so situaes

    em que o tipo de funo que modela tal situao j est explicitado na questo,

    empobrecendo o processo de aprendizagem, dificultando o desenvolvimento do

    pensamento matemtico, ou seja, deixa-se de

    colocar os alunos em um processo de aprendizagem quevalorize o raciocnio matemtico nos aspectos de formular

    questes, perguntar-se sobre a existncia de soluo,

    estabelecer hipteses e tirar concluses, apresentar exemplos

    e contra- exemplos, generalizar situaes, abstrair

    regularidades, criar modelos, argumentar com fundamentao

    lgico-dedutiva (BRASIL, 2006, p. 70).

    Ainda, nesse sentido, Lima et al. (2006) afirmam que uma vez decidido o

    modelo adequado para um determinado problema, o tratamento matemtico da

    questo no oferece maiores dificuldades. Portanto, as maiores dvidas que

    ocorrem so referentes escolha do instrumento apropriado para o problema em

    questo. Da por que o trabalho com Modelagem Matemtica possibilitar ao aluno,

    por meio da problematizao, da investigao e do conhecimento slido das

    caractersticas/propriedades das funes elementares, juntamente com estratgias

    eficientes, definir qual o modelo matemtico que descreve a situao em questo,

  • 7/23/2019 FUNES 01

    45/97

    43

    opondo-se a um ensino em que as frmulas (modelos) j vm prontas e acabadas,

    como comumente ocorre com a maioria de nossos livros didticos.

    3.3 COMO FAZER MODELAGEM MATEMTICA

    No pretendemos aqui, de forma alguma, mostrar a forma correta de fazer

    Modelagem em sala de aula. Pelo contrrio, desejamos apresentar algumas

    maneiras, sendo resultados de convices tericas e experincias de alguns

    autores, de organizar e conduzir a Modelagem Matemtica como um ambiente de

    ensino, ou seja, de que forma aquelas concepes de Modelagem Matemtica

    luz da Educao Matemticase materializa em sala de aula como um ambiente deensino e aprendizagem e adotar uma como pano de fundo para desenvolvermos

    nossa atividade.

    Barbosa (2009) fala em casos para se referir s diferentes formas de se

    trabalhar Modelagem Matemtica em sala de aula. Esses casos mostram, na

    realidade, o nvel de complexidade da atividade proposta e as tarefas do professor

    e do aluno no desenvolvimento e busca da soluo do problema. No que se segue,

    iremos detalhar essa classificao:

    a) Caso 1: o professor apresenta a situao-problema e seus dados qualitativos e

    quantitativos, ou seja, fornece as informaes necessrias sua resoluo, cabendo

    aos alunos apenas o processo de investigao e sistematizao da resoluo, dessa

    forma no preciso procurar dados fora da sala de aula. O autor acrescenta ainda

    que neste caso o desenvolvimento da atividade mais previsvel para o professor,

    pois ele j conhece antecipadamente o problema e certamente os dadosnecessrios para sua resoluo. No entanto, para os alunos a atividade ainda

    desconhecida, o que favorece o surgimento de outras possibilidades de solues. O

    mesmo sugere que esse tipo de atividade deve ser feita em grupos, cabendo ao

    professor sanar eventuais dvidas, fazer algumas formalizaes e coordenar as

    discusses sobre as possveis solues. Em resumo, ele divide o caso 1 em trs

    momentos (BARBOSA, 2009, p.20-21):

    o convite o professor apresenta a situao-problema e discute com os

    alunos;

  • 7/23/2019 FUNES 01

    46/97

    44

    o trabalho em grupo os alunos, organizados em grupos, buscam produzir

    uma resoluo para a situao, tendo o acompanhamento do professor;

    a socializao os grupos de alunos apresentam suas resolues para

    discusso da turma;

    a formalizaoo professor pode fazer formalizaes (ou institucionalizao)

    de estratgias ou de tpicos matemticos.

    b) Caso 2: o professor apresenta a situao-problema para os alunos investigarem,

    mas no disponibiliza os dados para a sua resoluo. Assim, os alunos tm que sair

    da sala de aula e procurar informaes quantitativas e qualitativas sobre o problema

    em questo para resolv-lo. Neste caso, os alunos devem traar a sua prpria

    estratgia de soluo, alm do mais, esse tipo de atividade demanda mais tempo

    para sua execuo e a participao dos alunos mais efetiva e decisiva.

    c) Caso 3: os alunos formulam problemas sobre temas de seu interesse, buscam e

    coletam informaes necessrias a sua resoluo. Neste caso, a atividade deModelagem feita de forma mais aberta, podendo ser desenvolvida em forma de

    pequenos projetos, j que temos um processo mais complexo e longo.

    Percebemos que esses trs casos mostram algumas possibilidades/formas de

    se trabalhar Modelagem Matemtica na sala de aula. A escolha por um caso ou

    outro depende dos objetivos e experincia do professor, podendo optar por

    atividades mais simples e prticas (caso 1) que esto mais voltadas para a

    investigao e que podem ser feitas articuladas com a Resoluo de Problemas ouat mesmo desenvolver atividades mais complexas e longas (caso 1 e 2). Em

    qualquer que seja o caso, alerta o autor, devem ser sugeridas atividades sobre

    situaes que tenham referncia na realidade. Notamos, ainda, que em todos os

    casos o professor tem um papel decisivo, atuando como um orientador das

    atividades e revisor dos processos, bem como fica muito claro a diviso de

    responsabilidades entre professor e alunos, como mostra o quadro a seguir:

  • 7/23/2019 FUNES 01

    47/97

    45

    Caso 1 Caso 2 Caso 3

    Elaborao do

    problema

    Professor Professor Professor/alunos

    Coleta de dados Professor Professor/alunos Professor/alunos

    Resoluo Professor/alunos Professor/alunos Professor/alunos

    Quadro 1. Tarefas do professor e alunos no processo de Modelagem

    Ainda nesse contexto, a escolha de uma atividade de Modelagem Matemtica

    mais simples ou mais elaborada depende tambm do perfil dos alunos, das

    convices do professor e das condies da escola. O prefervel que o professor

    comece com atividades mais simples de investigao, em forma de Resoluo de

    Problemas, e depois passe a fazer tarefas mais elaboradas que demandem mais

    pesquisa e atuao dos alunos. De qualquer forma, como diz Biembengut (2009), a

    Modelagem Matemtica como mtodo de ensino pode ser feita de forma eficaz e

    simples da seguinte maneira: se expe o assunto, delimita o problema, desenvolve o

    contedo, apresenta exemplos, resolve e interpreta o problema em questo.

    Bassanezzi, por sua vez, admitindo que Modelagem Matemtica simplesmente uma estratgia utilizada para obtermos alguma explicao ou

    entendimento de determinadas situaes reais(BASSANEZZI, 2012, p.9) , lista e

    explica algumas etapas a serem seguidas ao se trabalhar com essa estratgia de

    ensino na sala de aula. Inicialmente, o autor assegura que o primeiro passo

    encontrar dados experimentais ou at mesmo algumas concluses de especialistas

    sobre o tema escolhido e que esses dados geralmente so apresentados atra