Funda-se Um Jornal, Instala-se Um Município

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208 FUNDA-SE UM JORNAL, INSTALA-SE UM MUNICÍPIO: A CIDADE DE LONDRINA ATRAVÉS DO JORNAL PARANÁ-NORTE 1934- 1936 Carlos Henrique Ferreira Leite 1 Orientadora: Profª. Drª. Sônia Maria Sperandio Lopes Adum RESUMO O Jornal Paraná-Norte foi o primeiro jornal fundado e editado na cidade de Londrina. Circulou entre os anos de 1934 a 1953, sendo o primeiro exemplar datado de 09/10/1934, aproximadamente dois meses antes da instalação de Londrina como município, que ocorreu em dez de dezembro do mesmo ano. Considerado como um importante patrimônio documental e histórico para Londrina e a região, o periódico retrata uma série de características e transformações peculiares dos primeiros anos da cidade em relação aos seus aspectos sociais, econômicos e políticos. Vinculado política, econômica e administrativamente à Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), o jornal foi utilizado como importante ferramenta propagandística para a divulgação e vendas de lotes na região, com destaque para a cidade de Londrina e suas transformações. Conforme estas considerações, buscaremos, portanto, identificar os principais elementos que configuram a cidade de Londrina em seus primeiros anos por meio do Jornal Paraná-Norte, especificamente entre os anos de 1934 a 1936. Palavras chave: Londrina, Paraná-Norte, Jornal. 1 Graduando do 4º ano em História pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).

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Uel; Londrina; Jornal

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FUNDA-SE UM JORNAL, INSTALA-SE UM MUNICÍPIO: A CIDADE DE LONDRINA ATRAVÉS DO JORNAL PARANÁ-NORTE 1934-

1936

Carlos Henrique Ferreira Leite1 Orientadora: Profª. Drª. Sônia Maria Sperandio Lopes Adum

RESUMO O Jornal Paraná-Norte foi o primeiro jornal fundado e editado na cidade de Londrina. Circulou entre os anos de 1934 a 1953, sendo o primeiro exemplar datado de 09/10/1934, aproximadamente dois meses antes da instalação de Londrina como município, que ocorreu em dez de dezembro do mesmo ano. Considerado como um importante patrimônio documental e histórico para Londrina e a região, o periódico retrata uma série de características e transformações peculiares dos primeiros anos da cidade em relação aos seus aspectos sociais, econômicos e políticos. Vinculado política, econômica e administrativamente à Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), o jornal foi utilizado como importante ferramenta propagandística para a divulgação e vendas de lotes na região, com destaque para a cidade de Londrina e suas transformações. Conforme estas considerações, buscaremos, portanto, identificar os principais elementos que configuram a cidade de Londrina em seus primeiros anos por meio do Jornal Paraná-Norte, especificamente entre os anos de 1934 a 1936. Palavras chave: Londrina, Paraná-Norte, Jornal.

1 Graduando do 4º ano em História pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).

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O presente artigo é o resultado parcial das pesquisas para o

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em História, intitulado “A Idéia de

Progresso em Londrina através do jornal Paraná-Norte 1934-1953”, cuja

proposta é identificar e analisar as formas e as características deste conceito

histórico presente de forma incisiva na história tradicional da cidade, por meio

do primeiro periódico fundado e editado em Londrina, o jornal “Paraná-Norte”.

Seu primeiro exemplar data de 09 de outubro de 1934, e a sua última edição

catalogada2 teria sido a de 24 de setembro de 1953. Na busca pelo objetivo

geral desta monografia, por meio das pesquisas e dos estudos das fontes,

paralelamente, identificamos novas visões e possibilidades de trabalho com a

fonte jornalística, que é considerada importante fonte documental para a

História. Sendo assim:

O jornal é uma das principais fontes de informação histórica, merecedor, portanto, de consideração dos historiadores, afirma José Honório Rodrigues. [...] A historiografia mais recente tem refletido muito sobre o significado do documento e foi a partir de redefinições nesse campo que as “suspeitas” contra a imprensa desapareceram. (CAPELATO, 1988, p. 20).

Neste sentido, um estudo crítico da fonte jornalística permite

ampliar os horizontes para novas reflexões, problemáticas e conhecimentos

sobre as sociedades do passado. Por meio do Jornal Paraná Norte, entre os

anos de 1934 a 1936, torna-se possível identificar elementos peculiares

referentes aos primeiros anos na cidade de Londrina, nos aspectos políticos,

econômicos e sociais. Assim, a

A imprensa oferece amplas possibilidades para isso. A vida cotidiana nela registrada em seus múltiplos aspectos, permite compreender como viveram nossos antepassados – não só os” ilustres” mas também os sujeitos anônimos. O

2 Por meio da iniciativa dos funcionários do Museu Histórico de Londrina Pe. Carlos Weiss e do Centro

de Documentação de Pesquisa Histórica da Universidade Estadual de Londrina, foram reunidos 983

exemplares, estimando um total de 1154 tiragens. Contudo, os levantamentos e pesquisas realizados pelas

duas instituições, não possibilitaram identificar a data de encerramento das atividades do jornal.

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Jornal, como afirma Wilhelm Bauer, é uma verdadeira mina de conhecimento: fonte de sua própria história e das situações mais diversas; meio de expressão de idéias e depósito de cultura. Nele encontramos dados sobre a sociedade, seus usos e costumes, informes sobre questões econômicas e políticas. (CAPELATO, 1988, p.21).

A partir destas considerações, iniciaremos nossa análise. Para

entendermos o contexto da cidade de Londrina entre os anos de 1934 a 1936

se faz necessário recuarmos alguns anos antes. Segundo o historiador José

Miguel Arias Neto3

Nos fins dos anos vinte e início dos anos trinta, do século XX, a região onde se inscreve hoje a cidade de Londrina foi ocupada e explorada por várias empresas privadas que adquiriram terras do governo do Estado do Paraná por meio de concessões de compra, com o intuito aparente de colonizá-las. (NETO, 2008, p.1).

As terras onde se estabeleceria o município de Londrina foram

adquiridas pela Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP)4 em 1924. No

ano de 1929, a Cia já estava fixada e estabelecida na região, com o domínio

das terras adquiridas através do governo do Estado do Paraná e com a posse

da Ferrovia São Paulo-Paraná, tendo como próximo objetivo a ocupação. A

área da Companhia, segundo Sônia Maria Sperandio Lopes Adum5, teve este

processo em três elementos distintos, mas inseparáveis: colonização rural,

fundação de núcleos urbanos e vias de comunicação. Até o ano de 1934, a

CTNP fundou quatro núcleos urbanos, dentre estes o que deu origem a cidade

de Londrina, fundada em 1929, estabelecendo seu domínio político e

3 NETO, José Miguel Arias. O Eldorado: Representações da política em Londrina (1930-1975). 2° Ed.

Londrina, EDUEL, 2008 4 Empresa Inglesa que adquiriu terras do governo, para implantação do processo de colonização.

5 ADUM, Sônia Maria Sperandio Lopes. Imagens do progresso: civilização e barbárie em. Londrina –

1930/1960. Assis, 1991. Dissertação (Mestrado em História Social) – Faculdade de Ciências e Letras –

Universidade Estadual Paulista, Dissertação de Mestrado.

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econômico na região norte do Paraná. O interesse da Cia. na venda das terras

e obtenção de lucro rápido pode ser identificado através dos documentos e

materiais de divulgação propagandísticos produzidos pela CTNP, com

distribuição tanto no Brasil quanto no exterior. As propagandas produzidas em

panfletos, jornais e revistas, enfatizavam a riqueza e a fertilidade das terras

roxas, livres de saúva, além de ressaltar a cidade de Londrina, sua sede, como

uma cidade progressista, como melhor lugar para se morar e viver. Ainda sobre

a propaganda, Nelson Dácio Tomazzi ressalta que a Cia.:

Desde o início fez intensa propaganda no Brasil e no exterior onde elaborou a um discurso que reforça aquele sobre as maravilhas da região, do progresso e da riqueza ali existente, visando antes de tudo trazer compradores para as terras que havia adquirido até então. (TOMAZZI, 1997, p. 206).

O investimento da CTNP na divulgação das terras foi um dos

principais fatores que contribuíram para a fundação no ano de 1934, do jornal

Paraná-Norte, dois meses antes da instalação de Londrina como município. A

criação de um periódico, além de servir como um novo suporte para a

propaganda da Companhia foi utilizado como seu principal porta-voz, em

divulgar e propagar seus interesses e ideologias. Além do financiamento e dos

interesses políticos da Cia., outras questões e interesses favoreceram para que

o projeto de um jornal fosse viabilizado. Marinósio Neto & Filho6 ao falar sobre

os interesses empresariais e políticos na produção de um periódico relata que

Carlos de Almeida, na época inspetor de quarteirão de Londrina e alto funcionário da Indústria de Madeira Siam, vislumbrando com os demais funcionários da Companhia de Terras Norte do Paraná, vantagens que um periódico traria para a divulgação de vendas de terras da região, entusiasmaram e convenceram o jornalista Humberto Puiggari Coutinho a editar o jornal que teria o nome de Paraná-Norte. (FILHO & NETO, MARINÓSIO, 1991, p.)

6 FILHO & NETO, Marinósio. História da Imprensa em Londrina. Londrina: UEL, 1991.

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Além dos nomes de Carlos de Almeida e de Puiggari Coutinho,

o primeiro descrito como pessoa influente na cidade e o segundo com

experiência profissional, o tipógrafo Belmiro Correa de Oliveira mudou-se para

Londrina com a família no ano de 1934 e instalou a primeira tipografia7 na

cidade, a Tipographia Oliveira, com o auxílio de João e Isolírio Correa de

Oliveira, seus filhos, que executavam trabalhos gráficos e impressos. O

financiamento da Cia. e a convergência de interesses políticos, econômicos e

as condições materiais ainda que precárias, possibilitaram a fundação do

Paraná-Norte com o primeiro exemplar de 09 de Outubro de 1934 (Figura 1),

tendo como primeiro diretor Carlos de Almeida e como redator Humberto P.

Coutinho.

No processo de produção na Tipographia Oliveira, o jornal era

composto e paginado por Isolírio e João Correa com auxilio de Puiggari

Coutinho e impresso na maquina tipo Minerva8 movida a pedal, com cerca de

500 tiragens. Nos primeiros anos, com algumas exceções9, os exemplares

possuíam duas folhas, totalizando quatro páginas (frente e verso), no formato

tablóide (28 x 37,5 cm). O custo para aquisição de exemplares variava de

acordo com o tipo de assinatura: Anual: 15$000, Semestral: 9$000 e os

exemplares avulsos poderiam ser adquiridos por $300 através de pagamento

adiantado. Nas imagens a seguir, algumas características do exemplar de

inauguração:

7 Estabelecimento destinado a composição, paginação e impressão tipográfica.

8 Pequena impressora manual, movida a pedal para impressão tipográfica.

9 Alguns exemplares comemorativos continham mais números de páginas e tamanho maior.

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Figura 1: Primeira página da primeira edição de 09 de outubro de 193410. Abaixo do nome do jornal, o nome do diretor Carlos de Almeida.

Na primeira página, o periódico é composto pelo editorial,

expressando as intenções, opiniões, críticas e interesses dos diretores e as

propagandas11 que dividiam o espaço com as notícias e matérias. A coluna

“Sociaes” trazia informações sobre festas, visitantes, editais, aniversários e

diversos outros eventos que aconteciam na região. Os anúncios (figura 2, 3 e

4) são predominantes no jornal.

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A data da primeira edição, segundo Marinósio Filho & Neto, não corresponde a data de circulação.

Devido a problemas com a impressora Minerva, o primeiro exemplar teria circulado no dia 12 de outubro

de 1934. 11

A propaganda do Hotel Luxemburgo, inaugurado em 1932, era colocada em destaque em quase todas

as edições dos primeiros anos do jornal.

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Figura 2: “Página 2”. No canto superior esquerdo, é descrito o expediente do jornal, valores e formas de assinaturas. Os anúncios preenchem o restante da página.

Figura 3: “Página 3”. Anúncios publicitários.

Figura 4: “Página 4”. Segunda página destinada exclusiva para

anúncios12.

Após as quatro páginas que fecham a edição, o jornal traz um

anúncio publicitário da CTNP:

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Por meio dos anúncios publicitários, como veremos adiante, é possível identificar diversas casas

comerciais e prestação de serviços por diversos profissionais presentes na cidade de Londrina neste

período.

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Figura 5: Propaganda CTNP.

Nos dois primeiros anos, o jornal manterá algumas

características da primeira edição, já que não possuía um projeto gráfico

padrão. Vale ressaltar, que todos os 116 exemplares neste período, são

acompanhados de um panfleto da CTNP (Figura 5), o que demonstra o vínculo

estreito entre o jornal e a Cia.

Aqui apresentamos algumas características gerais do Paraná-

Norte13, que nos permitira identificar os principais elementos que configuram a

cidade de Londrina em seus primeiros anos, especificamente entre os anos de

1934 a 1936. Para alcançar este objetivo, analisaremos separadamente as três

partes que compõem o jornal: O editorial, a coluna Sociaes e por fim os

anúncios e propagandas.

O editorial é o texto que expressa a opinião do Jornal, ou seja,

dos sujeitos que estão por trás de sua produção, e “os pesquisadores que se

dedicam às análises político-ideológicas privilegiam os editoriais e artigos, que

constituem, por excelência, a parte opinativa do jornal.” (CAPELATO, 1988,

p.34).

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Uma análise mais aprofundada das características físicas e ideológicas do jornal será produzida na

monografia.

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Na análise do editorial do Paraná-Norte entre 1934 a 1936,

sobre a cidade de Londrina, identificamos duas cidades distintas, porém

intrínsecas: A Londrina “imaginária” e a cidade de Londrina que se misturam na

descrição dos redatores. A Londrina “imaginária” é uma cidade vista como

progressista, pacífica, civilizada, localizada no centro da “Terra da Promissão”,

da “Nova Canaã” 14, e a cidade de Londrina, tal qual como se constituía

estruturalmente, política e economicamente.

Na primeira edição, o editorial traz um sucinto histórico entre

1929 a 1934, referente ao número de habitações:

“Para se avaliar o progresso rapidíssimo e quasi inacreditavel de Londrina, vamos citar o seguinte: Em 1929, no local onde se ergue a cidade, não havia uma habitação. [...] Em 1932, a cidadezinha começava a desenvolver-se, possuía 12 casas, sendo a mais importante a do Hotel Luxemburgo. [...] Em 1933 passava a 400, para atingir 554 em outubro de 1934.” (PARANÁ-NORTE, p.1, 09.10.1934).

Aqui é possível identificar o discurso ideológico do progresso

vinculado aos dados estatísticos da cidade, como ao crescimento do número

de habitações nos primeiros cinco anos. Outro exemplo que demonstra este

vínculo pode ser verificado na edição de janeiro de 1935, ao se referir ao

número e tipo de edifícios existentes:

“Quem há anos tivesse visitado Londrina, poderia, talvez, ter duvidado de seu ascender. Hoje porém ante a evidencia dos factos, terá que se curvar e reconhecer em seus 550 prédios, suas pharmacias, casas commerciais, hospital, igrejas, hotéis e outras unidades do factor concorrente, o facto real. Verdadeiramente esta cidade progride vertiginosamente, podendo-se-lhe prever uma das melhores urbs do Paraná, mormemente

14

Termos analisados e discutidos pelos historiadores Sônia Adum e José Miguel Arias, citados na

bibliografia deste trabalho.

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por que já é sede de município”.(PARANÁ-NORTE, p.1, 01.01.1935).

As questões político-históricas também são enfatizadas pelo

jornal, como a elevação de Londrina a município ocorreu em 10 de dezembro

de 1934, através do decreto no 2.519 de 03 de dezembro de 1934, publicado

no periódico na segunda edição de dezembro e a fundação do Partido

municipal de Londrina em janeiro de 1935:

“ De conformidade com a aspiração de seus habitantes, foi elevado á categoria de município, o districto de Londrina, conforme o decreto que abaixo fielmente transcrevemos.[...] O Interventor Federal no Estado do Paraná, usando das atribuições que lhe são conferidas tendo em vista também o progresso e o elevado grau de desenvolvimento econômico a que atingiu o districto de Londrina e atendendo sobretudo, á conveniência do serviço público.”(PARANÁ-NORTE, p.1, 09.12.1934). “Com a elevação de Londrina à categoria de município, houve necessidade de crear-se aqui um diretório político que, filiado ao P.S.D, prestigiando os governos federal e estadual, cuidasse das necessidades desta generosa terra que é um dos mais legítimos orgulhos do Norte do Paraná , congregando todos os elementos em torno de um só ideal que é o engrandecimento da zona em que habitamos, sem preconceitos de raça e de limites estaduaes. E assim, foi fundado em 25 de Dezembro de 1934 o Partido Municipal de Londrina e aclamado o seu primeiro diretório.”(PARANÁ-NORTE, p.2, 01.01.1935).

Como dito anteriormente, o Paraná-Norte foi utilizado como

porta-voz da CTNP, principalmente nas questões econômicas e políticas. A

nomeação de Joaquim Vicente de Castro para primeiro prefeito foi um forte

impacto para o domínio político da Companhia, que esperava que o cargo de

prefeito fosse ocupado seu então diretor Willie da Fonseca Brabazon Davids.

Esta nomeação segundo José Arias Neto, foi

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“O que se pode depreender, pois, é que a postura de Manoel Ribas, ao nomear Joaquim Vicente de Castro, buscou, em primeiro lugar, garantir sua própria estabilidade política frente a Vargas. A indicação de Willie Davids ou mesmo de Carlos de Almeida, provavelmente, aparentaria a continuidade das relações existentes entre a CTNP e as oligarquias depostas.” (ARIAS NETO, p. 27).

Ainda sobre esta questão, Sônia Adum conclui que

“[...] o desacordo entre o prefeito nomeado e os homens da Companhia não era de caráter pessoal, mas sim político. Fora frustrada a primeira tentativa daquela empresa em assumir, de jure, o controle político do município.” (ADUM, 1991, p. 124)

A questão, contudo, não ficaria apenas no âmbito político. A

insatisfação da Cia. e pode ser confirmada, uma vez que a empresa arcaria

com a maioria dos impostos, já que a maior parte das terras de sua

propriedade ainda não tinha sido negociada. O aumento na cobrança de

impostos pela prefeitura pode ser verificada na edição de fevereiro de 1935:

“Tabellas Orçamentária - Si o digno snr. Prefeito municipal quizesse ouvir a classe dos pequenos commerciantes, dos modestos varejistas, barbeiros, proprietários de pensões, etc., se conveceria do mal que estão fazendo as suas tabelas orçamentaria, as quaes concretizam uma verdadeira ameaça de aniquilamento aos menos favorecidos da fortuna.[...] Reforme s.s as tabellas orçamentarias, ouça o clamor que se levanta, forme ao lado do povo bom, trabalhador e honesto, que saberá, amanhã, cobrir de flores o seu primeiro prefeito, o seu primeiro bemfeitor.”(PARANÁ-NORTE, p.1, 03.02.1935).

Apesar da primeira edição do periódico declarar que a política

não era a intenção de seus diretores, a partir do momento em que estas

questões começam a desfavorecer e ameaçar os domínios economicos e

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políticos, o jornal durante os anos de 1935 e 1936 publicou na maioria dos seus

editoriais, ataques a prefeitura e ao “abuso” das altas taxas de juros. Por meio

da análise do manifesto dos editores, é possível identificar algumas destas

características dos embates políticos e economicos ocorrido na cidade durante

este período.

Nas eleições municipais em 12 de setembro de 1935, o jornal

traz detalhes sobre o número de eleitores e boatos que ocorriam na cidade:

“Eleições Municipaes - Realisaram-se no dia 12 do corrente,

quinta feira, as eleições municipaes de Londrina. Apesar de vários boatos

espalhados pela cidade com o fim de estabelecer pânico e consequente

abstenção dos eleitores, as eleições se realizaram dentro da maior ordem. O

numero total de eleitores foi de 283, entretanto, devido ao temporal da tarde

compareceram á urna 221, embora tivessem sido distribuídas 244 senhas.”

(PARANÁ-NORTE, p.1, 15.09.1935).

Além das questões políticas e econômicas, alguns editoriais

abordam questões como a campanha feita na cidade no final do ano de 1936,

para a arrecadação de recursos para a construção da Santa Casa de Londrina

e o problema com os Correios na cidade:

“ Com os Correios – Appello a Directoria Regional Falta de sellos – Falta de empregados – Falta de casa – Publico prejudicado – A agencia postal de Londrina, na realidade, esta muito aquém de suas finalidades. Constantemente não despacha correspondência por que não tem sellos para franqueal-a. Não atende convenientemente o publico por que só dispõe de um funcionário, que é a própria agente. O público aglomera-se na rua, numa confusão diabólica, por que a casa é pequeniníssima e impropria. Muita correspondência urgente deixa de sair [...]” (PARANÁ NORTE, p.1, 20.09.1936)

Para finalizar esta análise geral sobre os editoriais entre 1934 a

1936, podemos compreender que além de suas características político-

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ideológicas, os editoriais fornecem uma grande quantidade e variedade de

dados, fatos e estatísticas que muitas vezes não estão presentes em outros

documentos que abordam características mais amplas. Assim os editoriais do

Paraná-Norte, apesar do grande enfoque político na maioria das edições,

trazem algumas características e especificidades de Londrina nos primeiros

anos.

A coluna “Sociaes” traz alguns elementos que constituem a vida

social na cidade em seu cotidiano. Segundo Capelato

“Os jornais oferecem vasto material para o estudo da vida cotidiana. Os costumes, as práticas sociais, o folclore, enfim, todos os aspectos do dia-a-dia estão registrados em suas páginas. Neste tipo de abordagem o pesquisador pode recorrer às colunas sociais, aos “faits divers”, às ilustrações, às caricaturas e as diferentes seções de entretenimento.” (CAPELATO, 1988, p. 34).

No Paraná-Norte são noticiados aniversários, editais de

casamentos, visitas, festas e eventos políticos e sociais. Os registros do jornal

apresentam um grande número de bailes realizados na cidade, e kermesses.

“Festeja seu aniversário natalício no dia 23, a interessante Miryan, filhinha do

snr. Deollindo Correa de Mello de Jathay. [...]Visitantes – Esteve em Londrina,

em visita a organização da Companhia de Terras, o dr. Schultz, diretor da

Comp. Viação São Paulo Mato Grosso [..] Festas e Bailes – Com o costumado

brilho e grande concorrência, realizou-se ontem um grande baile no salão de

festas do Hotel Luxemburgo. Alli notamos, no meio da alegria, a presença dos

melhores elementos da nossa sociedade.” (PARANÁ-NORTE, p.1,

18.11.1934).

“Grande Baile – A diretoria do Sport Club Londrina avisa aos seus consócios que por motivo de força maior, fica transferido para o dia 26 do corrente mez, o baile que deveria realizar-se hoje, dia 19, em comemoração da entrada da primavera, sendo nessa ocasião,

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coroada a “Rainha da Festa”. (PARANÁ- NORTE, p.3, 20.09.1936) “Kermesse – Necessitando a Matriz Local de um órgão, realizar-se-a hoje e amanhã uma kermesse para obtenção dos fundos para aquisição do mesmo, conforme esta anunciado em outro local deste jornal. A comissão espera que como sempre, os catholicos de Londrina saberão corresponder aos seus anseios, concorrendo mais uma vez com seu obulo para que a matriz tenha mais este melhoramento”. (PARANÁ-Norte, p.3, 05.01.1936)

Em última análise, por meio das propagandas e anúncios

podemos identificar como se estabeleciam as relações comerciais, e os tipos

de profissões e casas de comércio presente na cidade. Comparando os

anúncios e propagandas (Figuras 3 e 4) nos meses de outubro dos anos de

1934, 1935 e 1936, é possível perceber um aumento gradativo de

estabelecimentos comerciais em Londrina. Nestas edições existem anúncios

de bazares, armazéns, sorveterias, bares, lojas de brinquedos, alfaiatarias,

marcenarias, hotéis, lojas de roupas, farmácias, relojoarias, açougues, oficinas,

barbearias dentre outros estabelecimentos comerciais.

Para finalizar, podemos concluir que a fonte jornalística contribui

de forma significativa para o estudo das sociedades do passado. Entretanto,

através da analise de Maria Capelato, consideramos que o jornal não deva ser

estudado de forma isolada, mas como qualquer outra fonte, deve ser

relacionado a outras fontes que ampliem a sua compreensão. Capelato afirma

“A imprensa, ao invés de espelho da realidade passou a ser concebida como

espaço de representação do real, ou melhor, de momentos particulares da

realidade. Sua existência é fruto de determinadas práticas sociais de uma

época.” (CAPELATO, 1988, p.24).

Assim por meio do estudo crítico e analítico do documento-

jornal, podemos identificar alguns aspectos dos momentos históricos em que

foram produzidos. No caso da cidade de Londrina, o jornal Paraná-Norte está

inserido dentro do contexto de sua época, carregando de forma implícita seus

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interesses e ideologias, ao mesmo tempo, em que revela aspectos do cotidiano

de uma cidade recém-fundada, nos seus aspectos políticos, economicos e

sociais.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ADUM, Sônia Maria Sperandio Lopes. Imagens do progresso: civilização e barbárie em. Londrina – 1930/1960. Assis, 1991. Dissertação (Mestrado em História Social) – Faculdade de Ciências e Letras – Universidade Estadual Paulista, Dissertação de Mestrado. ARIAS NETO, José Miguel. O Eldorado: representações da política em Londrina, 1930- 1975. 2ª edição. Londrina: Eduel, 2008. CAPELATO, Maria Helena R. Imprensa e História do Brasil. São Paulo: Contexto/Edusp, 1988. COUTINHO, Humberto P. Londrina: 25 anos de sua história. São Paulo. Edição Comemorativa do Jubileu de Prata, 1959. FILHO & NETO, Marinósio. História da Imprensa em Londrina. Londrina: UEL, 1991. TOMAZI, Nelson D. Norte do Paraná: história e fantasmagorias. Curitiba. 1997. Tese (Doutorado em História) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes Universidade Federal do Paraná.