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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS GONÇALO MONIZ Curso de Pós-Graduação em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa DISSERTAÇÃO DE MESTRADO AVALIAÇÃO DA ACURÁCIA DO STRAIN PELO SPECKLE TRACKING PARA DETECÇÃO DE FIBROSE MIOCÁRDICA NA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA EM PORTADORES DE DOENÇA DE CHAGAS CAROLINA THÉ MACÊDO Salvador Bahia 2015

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS GONÇALO MONIZ

Curso de Pós-Graduação em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO AVALIAÇÃO DA ACURÁCIA DO STRAIN PELO SPECKLE TRACKING PARA

DETECÇÃO DE FIBROSE MIOCÁRDICA NA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA EM PORTADORES DE DOENÇA DE CHAGAS

CAROLINA THÉ MACÊDO

Salvador – Bahia 2015

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS GONÇALO MONIZ

Curso de Pós-Graduação em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa

AVALIAÇÃO DA ACURÁCIA DO STRAIN PELO SPECKLE TRACKING PARA

DETECÇÃO DE FIBROSE MIOCÁRDICA NA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA EM PORTADORES DE DOENÇA DE CHAGAS

CAROLINA THÉ MACÊDO

Orientadora: Profa. Dra. Milena Botelho Pereira Soares

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação em Biotecnologia em Saúde e Medic ina Invest igat iva , para o grau de Mestre .

Salvador - Bahia 2015

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Dedico essa dissertação ao meu amado marido Daniel, que como poucos

fariam, me acompanhou na realização do sonho de retorno à minha terra natal, abrindo mão da vontade de permanecer na sua própria cidade, junto com os seus, sendo minha força e segurança para continuar a crescer;

Aos meus filhos Eduardo e Isabela, responsáveis pela ressignificação da minha vida, com uma nova visão do mundo, definindo o que realmente é importante e o amor incondicional, sendo simplesmente a razão do meu viver;

Aos meus pais Absolon e Leila, sem os quais não teria conseguido realizar metade dos meus sonhos, sempre estando ao meu lado, estimulando-me a crescer, vibrando com minhas vitórias e ajudando a me reerguer nas derrotas, cuidando e amando os netos, sendo a base da minha vida;

Aos meus irmãos Michele e Lúcio, onde encontro apoio, carinho e união para momentos bons e ruins, ás vezes concordando e outras discordando, mas sempre juntos, fazendo-me entender a importância e a beleza de se ter irmãos, sabendo que nunca estarei só;

À minha amiga Ticiana, exemplo de caráter e lealdade, amiga há 14 anos, estimulando-me a crescer tanto na vida profissional quanto pessoal, sendo uma daquelas pessoas que entram na sua vida sem motivo aparente e quando você percebe torna-se parte da sua família.

Sou uma pessoa de muita sorte por ter todos vocês na minha vida. Obrigada.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora Profa. Dra. Milena Botelho Pereira Soares pelo modelo

de profissionalismo. Agradeço pela ajuda, incentivo, parceria durante todo o

processo de desenvolvimento desta pesquisa.

À minha co-orientadora Ticiana Ferreira Larocca, pela ajuda fundamental

para a concretização deste projeto, fraterna amizade, mas sobretudo por acreditar

no meu trabalho.

Aos colegas médicos assistentes, residentes e funcionários do Serviço de

Ecocardiografia, Cardiologia e Ressonância magnética do Hospital São Rafael,

pelo apoio que possibilitou a execução deste projeto.

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“ Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar para atravessar o rio da vida. Ninguém, exceto tu, só tu.

Existem, por certo, atalhos sem número, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio, mas

isso te custaria a tua própria pessoa: tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu

podes passar. Aonde leva? Não perguntes, siga-o! ”

– Nietzsche, em Assim falou Zaratustra.

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MACEDO, Carolina Thé. Avaliação da acurácia do strain pelo speckle tracking para detecção de fibrose miocárdica na ressonância magnética em portadores de doença de Chagas. Dissertação (Mestrado) – Fundação Oswaldo Cruz, Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, Salvador, 2015.

RESUMO

Um dos principais desafios na miocardiopatia chagásica é a detecção de alterações precoces na função ventricular esquerda. A avaliação do strain pelo speckle tracking na ecocardiografia bidimensional (2-D ST) é um novo método com aplicações em diversas doenças cardíacas, tendo sido validado para pacientes com infarto do miocárdio em comparação à ressonância magnética cardíaca (RMC). Neste estudo, avaliamos a hipótese de que o strain global longitudinal (SGL) possui um valor incremental à fração de ejeção (FE) pelo método de Simpson para predição de fibrose miocárdica na RMC, em pacientes portadores de doença de Chagas (DC). Métodos: Estudo observacional, com um total de 58 pacientes portadores de DC. Todos os pacientes foram submetidos à realização de ecocardiograma convencional e com strain pelo speckle tracking, além de RMC. Resultados: A análise da curva ROC mostrou que tanto a SGL (área sob a curva: 0,78, p = 0,001) quanto a fração de ejeção (área sob a curva: 0,82, p < 0,001) tiveram significância estatística na detecção de fibrose. Em relação á porcentagem de fibrose, uma alta correlação foi observada tanto com a FE pela ecocardiografia (r = - 0,70, p < 0,001) quanto com o SGL (r = 0,64, p < 0,001). Contudo, quando ajustado pela regressão linear múltipla, o SGL perdeu a significância estatística como preditor independente de fibrose miocárdica (p = 0.111). Conclusões: SGL não possui valor incremental em relação à FE na predição de fibrose miocárdica em pacientes portadores de DC. Palavras-chave: Doença de Chagas; Ecocardiografia; Strain; Speckle Tracking Ressonância Magnética; Fibrose miocárdica; Fração de ejeção.

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MACEDO, Carolina Thé. Assessment of speckle tracking strain accuracy for myocardial fibrosis in subjects with Chagas disease. Dissertação (Mestrado) – Fundação Oswaldo Cruz, Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, Salvador, 2015.

ABSTRACT

Introduction: One of the most challenging issues of chronic Chagas disease is to provide earlier detection of heart involvement. Two-dimensional speckle tracking (2-D ST) echocardiography, a new imaging modality with useful applications in several cardiac diseases, has been validated for subjects with myocardial infarction against cardiac magnetic resonance (CMR). Here we hypothesize that the longitudinal global strain (LGS) has an incremental value to ejection fraction for predicting myocardial fibrosis in subjects with Chagas disease. Methods: This observational study comprised 58 subjects with Chagas disease, confirmed by two positive serologic tests. All subjects underwent conventional Doppler echocardiogram plus speckle tracking strain, and cardiac magnetic resonance. Results: The ROC curve analysis revealed that both LGS (Area under the curve: 0.78, p = 0.001) and ejection fraction (Area under the curve: 0.82, p < 0.001) were significant predictors of myocardial fibrosis. Regarding the percentage of fibrosis, a high correlation was observed with both ejection fraction assessed by echocardiography (r = - 0.70, p < 0.001) and LGS (r = 0.64, p < 0.001). However, when adjusted through multiple linear regression, the LGS lost statistical significance as a predictor of myocardial fibrosis (p = 0.111). Conclusions: LGS has no incremental value to conventional ejection fraction measurement in the prediction of myocardial fibrosis in subjects with Chagas disease. Keywords: Chagas disease; Echocardiography; Strain; Speckle Tracking; Magnetic resonance imaging; Myocardial fibrosis; Ejection fraction.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Páginas

Figura 1: Ciclo evolutivo do T. cruzi. 14

Figura 2: Aumento em fibrose miocárdica com a classe funcional da New

York Heart Association. 24

Figura 3: Correlação entre a fração de ejeção do ventrículo esquerdo e

fibrose miocárdica. 25

Figura 4. Fração de ejeção do VE pelo método de Simpson (A) e strain global

longitudinal do VE (B) em indivíduos sem e com realce tardio

detectado pela ressonância magnética cardíaca.

37

Figura 5. Curva ROC (Receiver-operating characteristic) da fração de ejeção

ventricular esquerda (A) e do strain global longitudinal do

ventrículo esquerdo (B) para a predição de fibrose miocárdica.

38

Figura 6. Correlação entre fração de ejeção do VE pelo método de Simpson

(A) e strain global longitudinal do VE (B) com fibrose miocárdica

definida pela ressonância magnética cardíaca (regressão linear).

39

Figura 7. Modificações no strain global longitudinal entre os grupos clínicos,

de acordo com a severidade da doença. 41

Figura 8. Correlação entre fração de ejeção do VE pelo método de Simpson

(A) e strain global longitudinal do VE (B) com fibrose miocárdica

definida pela ressonância magnética cardíaca (regressão linear),

em indivíduos com fração de ejeção do VE normal.

42

Figura 9. Correlação entre fração de ejeção do VE pelo método de Simpson

(A) e strain global longitudinal do VE (B) com fibrose miocárdica

definida pela ressonância magnética cardíaca (regressão linear),

em indivíduos com fração de ejeção do VE abaixo de 55%.

43

Figura 10. Correlação entre o strain global longitudinal do ventrículo

esquerdo e a fração de ejeção do ventrículo esquerdo avaliada

por RMC (regressão linear).

44

Figura 11. Strain global longitudinal em pacientes sem disfunção ventricular

diagnosticada pela ecocardiografia convencional, com FE do VE <

55% (n = 6) or t 55% (n = 29) avaliada por RMC.

45

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LISTA DE TABELAS

Páginas

Tabela 1: Características clínicas e demográficas da população estudada 35

Tabela 2: Achados ecocardiográficos e de ressonância nuclear magnética 36

Tabela 3: Resultados da análise de regressão linear múltipla 40

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BB Betabloqueador

CCC Cardiopatia chagásica crônica

DC Doença de Chagas

DD Disfunção diastólica

2-D ST Speckle tracking pela ecocardiografia bidimensional

DT Doppler tecidual

ECG Eletrocardiograma

FE Fração de ejeção

FEVE Fração de ejeção do ventrículo esquerdo

IC Insuficiência cardíaca

ICH International Conference on Harmonization

IECA Inibidor de enzima de conversão de angiotensina

IFN-J Interferon-gama

IL Interleucina

IT Índice de Tei

MCP Miocardiopatia

NYHA New York Heart Association

PISA Proximal isovelocity surface área

RMC Ressonância magnética cardíaca

RNM Ressonância nuclear magnética

RT Realce tardio

SGL Strain global longitudinal

TNF-D Fator de necrose tumoral-alfa

VE Ventrículo esquerdo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 12

1.1 DOENÇA DE CHAGAS ................................................................................ 12 1.1.1 Aspectos gerais .................................................................................................... 12 1.1.2 Transmissão ......................................................................................................... 13 1.1.3 Fase aguda ........................................................................................................... 15 1.1.4 Fase crônica ......................................................................................................... 16 1.1.5 Diagnóstico da cardiomiopatia chagásica crônica ............................................ 18 1.1.6 Tratamento da cardiopatia chagásica crônica ................................................... 25

2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 27

3 OBJETIVOS .................................................................................................. 28 3.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................. 28 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................... 28

4 MÉTODOS ..................................................................................................... 29 4.1 POPULAÇÃO DO ESTUDO .................................................................................... 29 4.2 ASPECTOS ÉTICOS ............................................................................................... 30 4.3 AVALIAÇÃO CLÍNICA E COMPLEMENTAR ........................................................... 30 4.3.1 Ecocardiografia convencional .............................................................................. 31 4.3.2 Método de Speckle Tracking ................................................................................ 32 4.3.3 Ressonância Magnética Cardíaca ........................................................................ 32 4.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA ......................................................................................... 33

5 RESULTADOS ............................................................................................. 34 5.1 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E DE IMAGEM ..................................................... 34 5.2 PREDIÇÃO DE FIBROSE MIOCÁRDICA ................................................................ 37 5.3 ANÁLISE DE SUBGRUPO ...................................................................................... 40 5.3.1 De acordo com a apresentação clínica da doença ............................................. 40 5.3.2 De acordo com a fração de ejeção pelo método de Simpson ............................ 41 5.3.3 De acordo com a fração de ejeção pela ressonância nuclear magnética ......... 43

6 DISCUSSÃO .................................................................................................. 46

7 CONCLUSÃO ................................................................................................. 50

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 51

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1 INTRODUÇÃO

1.1 DOENÇA DE CHAGAS

1.1.1 Aspectos gerais

A doença de Chagas (tripanossomíase americana), descrita pela primeira

vez em 1909 pelo médico brasileiro Carlos Chagas (Chagas, 1909), é

desencadeada após a infecção pelo protozoário flagelado Trypanosoma cruzi, parasito pertencente à classe Kinetoplastidae, ordem Trypanosomatida, e família

Trypanosomatidae. A doença de Chagas, caracterizada por um grande

polimorfismo genético, tem um amplo espectro de apresentações clínicas

(Buscaglia e Di Noia, 2003; Macedo et al., 2004), podendo variar de forma

assintomática até formas graves da doença, com insuficiência cardíaca (IC)

terminal.

Apesar da intensificação dos esforços para o controle da infecção nos

últimos anos, pela Iniciativa do Cone Sul desde 1991 (Dias, Silveira e Schofield,

2002), a doença de Chagas ainda representa um grave problema de saúde

pública. Afeta de 7 a 8 milhões de pessoas no mundo, a maior parte na América

Latina, sendo que, no Brasil, o número de infectados pode chegar a 3 milhões de

indivíduos (Pereira Jr e Markman Filho, 2014). Estima-se que, nos países

endêmicos, cerca de 20.000 pacientes morram a cada ano, por complicações

associadas à cardiomiopatia chagásica crônica (Salvatella, 2006), para a qual

ainda não existe uma terapêutica suficientemente eficaz (Urbina e Docampo,

2003). Além disso, como consequência da migração global, aproximadamente

300.00 imigrantes residentes nos Estados Unidos e 100.000 no continente

europeu estão infectados pelo T. cruzi (García-Álvarez et al., 2011). A doença de Chagas em sua forma cardíaca tem um significativo impacto

socioeconômico, principalmente por manifestar-se na faixa etária mais jovem,

progredindo precocemente para o quadro de IC congestiva, o que restringe a

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capacidade funcional e laborativa dos indivíduos com a doença. Entre as diversas

etiologias de miocardiopatias, a miocardiopatia (MCP) chagásica possui o pior

prognóstico, tanto na fase crônica quanto na fase aguda (Mady et al., 1994; Rassi et al., 2005; Silva et al., 2008).

A prevenção está voltada primariamente ao combate ao vetor (Dias,

Silveira e Schofield, 2002), principal fonte de transmissão da doença. As medidas

preventivas incluem a melhoria das moradias rurais e das condições de higiene, o

afastamento dos animais das casas com a limpeza frequente das roupas e locais

que poderiam alojar o inseto. Além disso, os programas de prevenção vêm

intensificando o controle sorológico de forma mais efetiva nos bancos de sangue,

cujo mecanismo de transmissão é responsável por 5 a 20% dos casos,

contribuindo para uma redução significativa dos novos casos da doença de

Chagas (Nobre e Serrano Jr, 2005).

1.1.2 Transmissão

Em cerca de 80 a 90% dos casos de doença de Chagas, a transmissão

ocorre através de um inseto hematófago vetor, o triatomíneo, conhecido

popularmente como “barbeiro”. Atualmente são conhecidos 17 gêneros e 130

espécies de triatomíneos, sendo que os gêneros mais importantes para a

transmissão da doença são o Triatoma, o Panstrogylus e o Rhodnius (Carcanvallo et al., 2001).

Quando o inseto hematófago alimenta-se do sangue de um hospedeiro

infectado, ele ingere as formas tripomastigotas do T. cruzi, que se transformam

em epimastigotas no trato digestivo do vetor. Após três a quatro semanas, estas

formas multiplicam-se e transformam-se em tripomastigotas metacíclicos, que são

as formas infectantes eliminadas juntamente com as fezes do inseto no momento

em que ele pica o hospedeiro.

No ser humano, os tripomastigotas invadem diferentes tipos celulares,

onde se transformam em amastigotas. Ocorre então a multiplicação destas

formas no citoplasma, e a subsequente transformação em tripomastigotas, após o

que elas destroem as células e passam a circular na corrente sanguínea. A partir

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deste ponto, as formas tripomastigotas podem invadir outras células do

hospedeiro ou ser novamente ingeridas pelo triatomíneo hematófago (Brener,

1971). O ciclo evolutivo encontra-se resumido na figura 1.

Figura 1: Ciclo evolutivo do T. cruzi. Fonte:http://www.agencia.ac.gov.br/noticias/wp-content/uploads/2013/08/2013_agosto_infografico-

chagas-thennyson-passos.gif

As demais formas de transmissão são mais raras, a saber: a forma

laboratorial, devido à manipulação inadequada de material contaminado; o

transplante de órgãos infectados, principalmente coração e rins; a forma

transplacentária; e a forma oral, por aleitamento materno ou por ingestão de

alimentos contaminados pelo parasito, reportada em regiões não endêmicas do

Brasil (cana de açúcar e açaí). Existem relatos de casos agudos da doença em

áreas ditas livres do protozoário, demonstrando alta patogenicidade, inclusive

com IC aguda, com casos descritos em Santa Catarina, na região nordeste e na

região amazônica (Brito, 2008).

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O período de incubação da doença de Chagas (DC) varia de acordo com a

via de transmissão: de 5 a 15 dias, na vetorial; de 30 a 40 dias, na transfusional;

do quarto ao nono mês de gestação, na transplacentária; e cerca de 7 a 22 dias,

na via oral. A infecção é dividida temporalmente em fases aguda e crônica,

período onde a infecção recebe a classificação de forma indeterminada a qual

pertence a fase crônica, de comportamento ainda não bem esclarecido, podendo

o paciente permanecer assintomático nesta forma evolutiva durante toda a vida

(Ianni e Mady, 1997).

1.1.3. Fase aguda

A fase aguda inicia-se após o período de incubação (de 5 a 15 dias na

forma vetorial de transmissão) e se perpetua até o fim da parasitemia detectável.

Caracteriza-se principalmente pela presença de formas tripomastigotas do

parasito no sangue periférico e formas amastigotas multiplicando-se no interior

das células do hospedeiro. Durante este período, ocorre um importante

crescimento populacional do parasito e um intenso parasitismo no coração, em

torno do 12o dia após a contaminação (Melo et al., 2003; Fabrino et al., 2004).

Na fase aguda, citocinas associadas à resposta Th1, tais como a IL-2, o

IFN-γ e o TNF-α, são estimuladoras das atividades microbicidas dos macrófagos

e, consequentemente, estão relacionadas ao controle da parasitemia (Silva et al., 1995). O dano patológico ao miocárdio na fase aguda parece estar associado à

presença do parasito e à resposta imune desenvolvida (Tanowitz et al., 1992).

Nesta fase foram também descritas alterações em componentes do sistema β-

adrenérgico cardíaco de transdução de sinais, que incluem a redução da

concentração plasmática de catecolaminas, a diminuição de afinidade do agonista

pelo receptor β-adrenérgico cardíaco e a elevação dos níveis de AMPc na célula

cardíaca (Bustamante et al., 2003; Lo Presti et al., 2006)

Clinicamente, esta fase está associada a um conjunto de sinais e sintomas

de intensidade e quantidade variáveis, podendo existir chagoma de inoculação

(sinal de Romaña), hepatoesplenomegalia, linfadenopatias e sinais inespecíficos,

principalmente febre, com manifestação clinica em menos de 1% dos indivíduos

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infectados. A miocardite difusa é a principal manifestação cardíaca, manifestando-

se em cerca de 1 a 5% dos pacientes, podendo estar associada a derrame

pericárdico (Acquatella, 2007). Ao eletrocardiograma, pode ser observada

taquicardia sinusal, complexos QRS de baixa voltagem e/ou alterações da

repolarização ventricular (Brener, Andrade e Barral-Neto, 2000).

Em humanos, a fase aguda habitualmente regride de forma espontânea

após aproximadamente 6 a 8 semanas (Acquatella, 2007), com a redução do

percentual de parasitos no sangue e nos tecidos (Köberle, 1968; Marin-Neto,

Simões e Maciel, 1998) Observa-se, em menos de 5% dos pacientes, morte

súbita, devido à falência cardíaca associada à miocardite, ou meningoencefalite

(Zacks et al., 2005).

1.1.4. Fase crônica

De acordo com a I Diretriz Latino-Americana (Andrade et al., 2011), a fase

crônica pode ser subdividida em três formas: forma indeterminada, forma cardíaca

sem disfunção ventricular e forma cardíaca com disfunção ventricular.

Cerca de 50% da população infectada jamais desenvolve sinais e sintomas

clinicamente relevantes associados à infecção pelo T. cruzi. Os motivos pelos

quais este fenômeno acontece ainda não estão completamente esclarecidos

(Marin-Neto, Simões e Maciel, 1998; Marin-Neto, Simões e Sarabanda, 1999).

Estima-se que 2 a 5% dos pacientes evoluem da forma indeterminada para

uma forma com manifestação clínica por ano e que 20 a 40% desenvolvem algum

acometimento miocárdico (Barbosa et al., 2014), caracterizado

predominantemente por infiltrados inflamatórios focais e disseminados,

miocitólise, mionecrose e fibrose progressiva, alterações descritas desde a

década de 1950 (Andrade e Andrade, 1955; Andrade e Lopes, 1963; Köberle,

1968).

x Fisiopatologia

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A fisiopatologia da doença engloba quatro principais mecanismos: lesão

direta no tecido pelo parasita, reações imunológicas, disautonomia e lesão

microvascular.

Na forma indeterminada, foi observado que a regulação da função cardíaca

pela noradrenalina está comprometida, e, provavelmente, associada a

modificações no sistema adrenérgico. Além disso, a cepa do parasito, fatores

genéticos do hospedeiro e reinfecções podem agravar o comprometimento

cardíaco (Bustamante et al., 2002; Bustamante et al., 2003; Bustamante et al., 2007). De acordo com estudos prévios (Gironès e Fresno, 2003), a cronicidade da

lesão ao miocárdio decorre da ativação da resposta imune contra os antígenos

parasitários. Na realidade, o mimetismo molecular entre os antígenos do

hospedeiro e do parasito resultaria em resposta das células T e B efetoras contra

antígenos cardíacos, levando à lesão do miocárdio. Essa agressão crônica ao

coração culmina em dano progressivo às fibras miocárdicas e consequente

formação de cicatriz fibrótica.

Alguns autores demonstraram a importância direta da continuidade do

parasito no desenvolvimento da cardiopatia chagásica crônica (CCC), a partir da

observação de que reinfecções e exposição contínua ao agente etiológico

provocariam uma piora da doença em modelos experimentais e estudos clínicos

(Higuchi et al., 2003; Kierszenbaum, 2005). Além disso, foi demonstrado que os

tratamentos que reduzem a carga parasitária acarretam também amenização dos

sinais da doença (Garcia et al., 2005). Na CCC, a presença do parasita determina

reações inflamatórias e fibrose miocárdica, fenômeno que seria responsável no

futuro pela desorganização tecidual e perda da função do órgão (Marin-Neto et al., 2007).

Diante do intenso processo inflamatório no músculo cardíaco, associado ou

não à persistência de parasitos tanto na circulação quanto no miocárdio, fatores

como a autoimunidade contra antígenos cardíacos, a doença arterial coronariana

e a destruição do gânglio do sistema nervoso autônomo têm sido associados à

CCC (Soares et al., 2001; Engman e Leon, 2002; Kierszenbaum, 2005).

As lesões microvasculares na DC podem ser responsáveis pelo maior

acometimento das paredes inferior e ínfero lateral, além do ápice do ventrículo

esquerdo (VE). Essas áreas são regiões de overlapping e regiões distais aos

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leitos vasculares, com maior propensão a lesões microvasculares (Biolo, Ribeiro e

Clausell, 2010).

x Manifestações clínicas da cardiomiopatia chagásica crônica

Os sinais e sintomas característicos desta forma da doença podem ser

divididos em três grupos de síndromes: insuficiência cardíaca, arritmias cardíacas

e eventos tromboembólicos (Rassi Jr, Rassi e Marin-Neto, 2009). A insuficiência

cardíaca, geralmente biventricular, manifesta-se por dispneia progressiva aos

esforços físicos evoluindo para dispneia em repouso, ortopneia, dispneia

paroxística noturna, edema de membros inferiores, congestão hepática e estase

de jugulares (Marin-Neto, Simões e Sarabanda, 1999).

O paciente com CCC pode apresentar ainda palpitações e síncope,

decorrentes de arritmias graves, incluindo taquiarritmias ventriculares, bradicardia

e bloqueio atrioventricular, por destruição das fibras do sistema de condução pelo

processo inflamatório. Nestes casos, o paciente pode evoluir com morte súbita,

caso não seja implantado um marcapasso ou, eventualmente, um

cardiodesfibrilador (Gironès e Fresno, 2003; Gascón et al., 2007).

Os eventos tromboembólicos arteriais originam-se das próprias câmaras

cardíacas, pelo turbilhonamento e acúmulo de sangue em áreas com alterações

da contratilidade, acinesia ou aneurisma, levando não apenas a acidentes

vasculares cerebrais, mas também à isquemia de outros leitos arteriais, como, por

exemplo, a isquemia mesentérica e a de membros inferiores (Rosenbaum, 1964;

Oliveira et al., 1981). O tromboembolismo pulmonar, complicação frequente e

grave da CCC, geralmente decorre de trombose venosa profunda, ocasionada por

redução crônica do débito cardíaco (Marin-Neto, Simões e Sarabanda, 1999;

Rassi Jr, Rassi e Marin-Neto, 2009).

1.1.5. Diagnóstico da cardiomiopatia chagásica crônica

O diagnóstico da cardiomiopatia chagásica baseia-se em dados clínicos e

epidemiológicos, demonstração direta do parasita e dos seus antígenos (na fase

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19

aguda), além de testes sorológicos (imunofluorescência indireta, hemaglutinação

indireta, fixação do complemento e teste imunoenzimático). Fazem parte da

avaliação inicial o eletrocardiograma de 12 derivações, cujos achados mais

sugestivos incluem bloqueio atrioventricular, bloqueio completo do ramo direito e

bloqueio divisional anterossuperior do ramo esquerdo (Rosenbaum e Alvarez,

1955; Moia e Rosenbaum, 1960), e a radiografia de tórax, que pode evidenciar um

aumento de área cardíaca e congestão venocapilar pulmonar (Gascón et al., 2007).

Pela diretriz latino americana (Acquatella, 2007; Andrade et al., 2011), o

ecocardiograma é indicado na avaliação inicial dos pacientes com CCC, além do

holter 24 horas em pacientes com ECG de repouso alterado.

O teste ergoespirométrico vem ganhando cada vez mais espaço na

avaliação de pacientes portadores de CCC, principalmente para a avaliação

funcional, e pode demonstrar redução da capacidade funcional máxima, além de

propensão ao desenvolvimento de arritmias ventriculares esforço-induzidas (Mady et al., 2005).

1.1.5.1 Ecocardiograma transtorácico bidimensional com doppler

A ecocardiografia, uma importante área da cardiologia clínica, consiste em

um exame complementar que utiliza ultrassom para gerar imagens em tempo real

do coração e dos vasos da base. A ausência de efeitos colaterais, o relativo baixo

custo e a facilidade de manuseio tornaram o ecocardiograma um excelente

instrumento propedêutico, capaz de fornecer informações fundamentais sobre o

diagnóstico, a função miocárdica, o status hemodinâmico e a gravidade da

patologia estudada, auxiliando na condução clínico-terapêutica (Silva et al., 2003).

Em pacientes com doença de Chagas, sua aplicação é importante tanto na

fase aguda da doença, para afastar causas tratáveis de IC, como derrame

pericárdico e disfunção sistólica aguda, quanto na fase crônica, na qual podem

ser detectadas disfunções segmentares da contratilidade do VE, sendo as mais

comuns na paredes inferior, ínferolateral e apical. A discinesia apical do VE,

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formando o aneurisma, varia de 8,5% em pacientes assintomáticos a 55% em

pacientes com cardiopatia grave. Além desses achados, na CCC podem ser

detectados aumento das dimensões ventriculares e redução da fração de ejeção,

sendo estes últimos importantes fatores prognósticos de mortalidade (Acquatella,

2007).

Uma questão importante levantada por Silva e colaboradores seria se a

forma indeterminada consiste em um estágio sem qualquer dano miocárdico ou

se exames de rotina não tem sensibilidade suficiente para detectar alterações

incipientes (Silva et al., 2005).

Estudos prévios demonstraram que, em pacientes com a forma

indeterminada, as alterações de contratilidade ao ecocardiograma estão

associadas com a progressão para disfunção ventricular (Barbosa et al., 2014). Nestes pacientes, a função ventricular global é quase invariavelmente normal,

podendo porém apresentar alterações segmentares, já tendo sido detectadas

alterações em 13% de um total de 505 pacientes com boa fração de ejeção e

eletrocardiograma normal, conforme revisado por Acquatella (Acquatella, 2007).

Sendo a MCP chagásica uma das cardiopatias com pior prognóstico,

poderia trazer benefício o diagnóstico precoce da disfunção sistólica incipiente,

para o início da terapêutica que comprovadamente reduz a mortalidade nos

quadros de IC, como os inibidores da enzima de conversão da angiotensina

(IECA) e beta bloqueadores (BB) (Packer et al., 2001; Jong et al., 2003).

Contudo, a avaliação da contração ventricular através da fração de ejeção

pelo ecocardiograma, apesar de ter grande valor prognóstico, não possui a

sensibilidade necessária para detectar disfunções miocárdicas precoces, sendo

necessário para isto o uso de técnicas mais sensíveis e específicas (Nahum et al., 2010).

O surgimento de novas tecnologias permitiu o uso de outras técnicas para

aumentar a detecção de alterações incipientes, sendo uma delas o índice de Tei

(IT), que avalia a performance sisto-diastólica global do ventrículo esquerdo (VE).

Estudo prévio mostrou esse índice aumentado ou pior em pacientes chagásicos

sem cardiopatia diagnosticada em relação aos controles normais, sugerindo

assim uma perda global da performance cardíaca (Pinto et al., 2007). Em outro

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21

estudo, houve uma tendência a maiores valores deste índice em indivíduos

chagásicos, porém sem significância estatística (Pazin-Filho et al., 2007).

Outra técnica desenvolvida é o doppler tecidual, que permite medir a

mobilidade da parede do VE, realizando análises mais minuciosas da função sisto

diastólica e do tecido miocárdico, aferindo o gradiente de velocidade entre pontos

distintos dentro de regiões de interesse neste tecido. Um estudo de Barros e

colaboradores, em 2001, avaliou a capacidade do doppler tecidual na identificação

de anormalidades da contratilidade tanto segmentares quanto longitudinais do VE

em pacientes com a forma indeterminada da doença de Chagas e ecocardiografia

convencional normal. Esta técnica foi capaz de detectar precocemente

anormalidades da função ventricular nestes indivíduos (Barros et al., 2001).

Em artigo de revisão, Pereira Jr e Markman Filho mostraram que a

presença de anormalidades segmentares da contração do VE em pacientes

chagásicos assintomáticos, com ECG sem alterações e com função sistólica

normal, é um fator preditor de pior evolução clínica, com futura deterioração da

função cardíaca (Pereira Jr e Markman Filho, 2014).

A técnica do doppler tecidual (DT) tornou possível a determinação da taxa

de deformação tecidual (strain rate) e a sua integral, o strain. O strain e o strain rate são índices ecocardiográficos de deformação miocárdica regional ou global,

sendo o strain definido como a mudança fracional do comprimento de um

determinado segmento miocárdico na diástole final. Usualmente expresso em

porcentagem, pode ter valores positivos ou negativos, representando o

alongamento ou o encurtamento, respectivamente, do segmento em relação ao

seu tamanho original. Avalia os três padrões principais de deformação miocárdica

do eixo perpendicular durante a sístole: o encurtamento longitudinal, o

encurtamento circunferencial, e o espessamento radial (Almeida et al., 2013).

Estudo realizado por Silva e colaboradores em 2005 avaliou a deformação

miocárdica na DC usando o doppler tecidual, comparando o strain longitudinal e

radial em indivíduos com a forma indeterminada com controles normais e com

portadores de disfunção sistólica (FE< 50%). Indivíduos com função sistólica

normal tiveram maiores valores do strain global e radial em comparação com o

grupo com disfunção ventricular. Nos indivíduos com a forma indeterminada da

doença, em comparação com os controles normais, foi identificado um menor

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valor do strain radial no segmento médio da parede inferolateral, parede

classicamente acometida na MCP chagásica (15%, 95% IC: 12.8 a 38.2 vs 32%,

95% IC: 25.8 a 38.2, respectivamente, p < 0.001), sendo um possível indício de

lesão miocárdica incipiente (Silva et al., 2005). Contudo, o uso do doppler tecidual

para medidas destes índices deve seguir a premissa de alinhamento paralelo

entre o feixe de ultrassom e o eixo do movimento, sofre influência do ângulo de

intersecção e possui maior variabilidade inter e intra observador. Estes aspectos,

em última instância, contribuem para a redução da acurácia do método.

Um novo método desenvolvido para análise da deformação miocárdica,

com menor influência do ângulo e do observador, é a técnica de rastreamento de

pontos ou speckle tracking, que se baseia no fato de cada segmento do miocárdio

possuir padrões específicos de marcadores acústicos ou speckles.

Speckles são pontilhados característicos no miocárdio, advindos da

interface construtiva e destrutiva da onda de ultrassom, pela interação desta onda

com pequenas partículas inferiores ao comprimento de onda (Marin-Neto et al., 2007). Esses speckles formam um padrão pontilhado único como uma “impressão

digital” no miocárdio, sendo identificados e seguidos ao longo do ciclo cardíaco. O

software do aparelho de ecocardiografia rastreia e analisa a movimentação

desses speckles em todas as direções (longitudinal, circunferencial e radial),

sendo o strain calculado para cada segmento do miocárdio como a média relativa

da deformação entre dois pontos ao longo das direções acima citadas (Almeida et al., 2013). Além do strain e do strain rate, podem ser analisados outros

parâmetros como o deslocamento, a velocidade de deslocamento, e a rotação

dos níveis transversos ventriculares. O conjunto destas análises compõem a

dinâmica de contração do VE, uma forma mais completa e sensível de avaliação

da função sistólica ventricular esquerda.

O uso da avaliação do strain pelo speckle tracking tem vantagens em

relação ao doppler tecidual por não depender do ângulo de incidência do feixe de

ultrassom e por não estarem sujeitas à interferência do tracionamento segmentar

ou do movimento translacional do coração. Além disso, a análise da região apical

do VE é mais facilmente realizada com o speckle tracking do que com o doppler

tecidual, assim como a avaliação da deformação radial das paredes inferior e

anterior e circunferencial das paredes septal e inferolateral, que, por motivo da

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incidência perpendicular do feixe de ultrassom pelo doppler tecidual, não podem

ser analisadas através deste método.

O método do strain pelo 2D-ST vem se consolidando com resultados

consistentes em várias patologias cardíacas como a doença isquêmica, as

valvopatias, as dissincronias e as miocardiopatias (Nagel et al., 2000; Fuchs et al., 2004; Bansal, Leano e Marwick, 2008).

Em pacientes com insuficiência cardíaca, já foi demonstrado que o strain

global longitudinal pelo 2D-ST é um fator prognóstico superior à medida de fração

de ejeção e ao doppler tecidual, além de possuir maior correlação com a medida

da fração de ejeção pela RMC do que pelo método de Simpson ao

ecocardiograma bidimensional (Nahum et al., 2010).

Em pacientes com DC, um estudo de Barbosa e colaboradores comparou o

strain pelo 2D-ST entre 78 pacientes assintomáticos com DC e 38 controles

saudáveis. O valor do strain nos pacientes chagásicos foi menor do que nos

controles, sugerindo um possível potencial da nova técnica na detecção de

alterações ventriculares precoces em pacientes portadores de DC. (Barbosa et al., 2014).

1.1.5.2 Ressonância Magnética Cardíaca

A ressonância nuclear magnética (RNM) tem sido usada na avaliação de

patologias cardíacas há muitas décadas, sendo considerada o padrão ouro entre

os métodos de imagem não invasivos na quantificação da fração de ejeção do

ventrículo esquerdo. Além da avaliação anatômica cardíaca, estuda também a

função e caracterização tecidual, o que antigamente somente era possível através

da biópsia endomiocárdica (Rochitte et al., 2007).

A avaliação mais precisa de imagem é de suma importância em pacientes

com doença de Chagas, nos quais a diferenciação entre a forma indeterminada e

a forma cardíaca baseia-se no quadro clínico, alterações de ECG, aumento da

área cardíaca na radiografia de tórax e insuficiência cardíaca clássica. As

alterações causadas pelo T. cruzi no tecido miocárdico podem resultar

inicialmente em danos segmentares pequenos, não sendo detectados pelos

métodos menos sensíveis, mas que podem ser importantes para o prognóstico

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dos pacientes. Já está bem estabelecido que as anormalidades da movimentação

segmentar das paredes miocárdicas precedem sintomas, dilatação cardíaca e até

mesmo alterações eletrocardiográficas (Rochitte et al., 2005).

A técnica desenvolvida para RNM de realce tardio (RT) miocárdico, com o

uso do gadolíneo, surge como um excelente método para avaliação de fibrose

e/ou necrose miocárdicas, causadas por doenças cardíacas isquêmicas ou não

isquêmicas. Com o uso desta técnica, foram demonstradas diferenças entre a

fisiopatologia da MCC e das miocardiopatias dilatadas de outras etiologias, sendo

que na MCC existe um padrão de fibrose difuso, com dilatação arteriolar e

trombos organizados, tornando áreas miocárdicas de circulação terminal mais

vulneráveis à isquemia, com surgimento de fibrose mais acentuada em regiões

como o ápice do VE e o segmento basal inferolateral (Rochitte et al., 2007).

Em um estudo publicado em 2005, foi demonstrado que o grau de fibrose

miocárdica diagnosticada pela RNM em pacientes chagásicos aumenta

progressivamente de estágios mais leves aos mais graves da doença (Figura 2),

além de se correlacionar inversamente com a fração de ejeção e a classe

funcional pela NYHA (Figura 3).

Figura 2: Aumento em fibrose miocárdica com a classe funcional da New York Heart Association. MF: fibrose miocárdica. (Rochitte et al, 2005).

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25

.

Figura 3: Correlação entre a fração de ejeção do ventrículo esquerdo e fibrose miocárdica. LV: ventrículo esquerdo. LVEF: fração de ejeção do ventrículo esquerdo. MF: fibrose miocárdica. (Rochitte et al, 2005).

Em 2013, Regueiro e colaboradores publicaram um estudo no qual o

objetivo era caracterizar o padrão da ressonância magnética cardíaca (RMC) em

pacientes de áreas não endêmicas com as diversas formas da DC. A presença de

RT sugestiva de fibrose miocárdica foi mais frequente nos segmentos inferobasais

e apical do VE, com distribuição heterogênea pelo miocárdio, em concordância

com estudos realizados previamente. Além disso, a RMC mostrou-se alterada em

pacientes com discreta ou nenhuma alteração no ECG e/ou ecocardiograma, sem

sintomas, sendo uma importante ferramenta para detecção precoce de alterações

miocárdicas neste grupo (Regueiro et al., 2013).

1.1.6 Tratamento da cardiopatia chagásica crônica

O tratamento atual da síndrome de insuficiência cardíaca está direcionado

à interferência sobre os mecanismos neurohormonais que a perpetuam e

agravam ao longo do tempo. Além de cuidados relacionados aos hábitos de vida,

especialmente dietéticos, vários medicamentos tem a propriedade de interferir

used ordered logistic regression with standard errors ad-justed for clustering on patients to consider the non-independence of the segmental measurements. Interstudyreproducibility was measured by mean differences and re-peatability coefficient (2 SD). Stata 8.0 (Stata Corp., Col-lege Station, Texas) was used, and p 0.05 (two-tailed)considered statistically significant.

RESULTSMyocardial fibrosis was detected in 35 of 51 patients(68.6%), in all groups (Fig. 1), and with a progressivelyhigher proportion of patients with MF from IND to CHDand VT groups (Table 2). Similarly, themagnitude of MFincreased progressively (Table 2).Clinical status. Quantitative MF also increased progres-sively from NYHA functional class I to II and III patients(Fig. 2). Among patientswithout MF, only 12.5%(2 of 16)were in NYHA class I compared with 51.4%(18 of 35) ofthose with MF (p 0.012, by the Fisher exact test).

Global LV function. Patients with small areas of MFshowed preserved LV function, whereas patients with largeareas of MF had severe LV dysfunction (Fig. 3, Video 1[accompanying videoscan beviewed with theonlineversionof this article]). Patients with LVEF 40% had signifi-cantly less MF than those with LVEF 40%, with asignificant inverse correlation between MF and LVEF (Fig.4). End-diastolic and end-systolic volumes indices alsocorrelated directly with MF (r 0.57 and r 0.65, p0.001).Segmental LV function and MF. Segmental MF (269 of867) and dysfunction (290 of 867) were unequally distrib-uted (apex, inferior, inferolateral segments significantlymore involved; Fig. 5). Importantly, therewasno segmentaldysfunction in IND group, even in segments with MF,which tended to be of limited degree.Although atypical MDE patternswereobserved in 46.9%

of LV segments (126 of 269: subepicardial, 12.3%; midwall,34.6%), 53.1%were subendocardial or transmural, indistin-guishable from infarction caused by CAD. Small, hetero-geneous and diffuse MF patterns also were observed.Themoresevere thedegreeof segmental dysfunction, the

greater the percent area of LV segmental enhancementobserved (Fig. 6). Myocardial fibrosis increased progres-sively from segments with normal function to those withmild hypokinesia, severe hypokinesia, akinesia, and dyski-nesia (p 0.0001 byKruskal-Wallis test). Reanalysis, usingordered logistic regression with clustering on patients toadjust for the non-independence of the data, also showedstatistical differences for all groups(p 0.001) and betweeneach group (p 0.03 for all comparisons).Reproducibility and coronary angiography (VT group).Five patients with MDE had a second MRI examination1.5 to 6 months later. Myocardial fibrosismean differencebetween thesecond and first examination was 1.4 1.7%(18.5 11.2%vs. 17.0 10.5%, respectively, p NSby ttest). The repeatability coefficient was 3.4%, and MDE

Figure 4. Good correlation between left ventricular ejection fraction(LVEF) andmyocardial fibrosis (MF). Patientswith LVEF 40%had lessquantified MF than those with LVEF 40% (Student t test).

Figure 5. Left ventricular 17-segment model showing concentration on apex, inferolateral, and inferior segments (shaded area) of regional myocardialdelayed enhancement (MDE) (A) (51.3%, p 0.001 by theFisher exact test and p 0.002 by logistic regression) and wall motion abnormality (B) (51.7%,p 0.001 by the Fisher exact test and by logistic regression). Absolute number of segments and (percent values) are shown.

1556 Rochitte et al. JACC Vol. 46, No. 8, 2005Myocardial Fibrosis inChagas’ Disease October 18, 2005:1553–8

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favoravelmente no curso natural da doença e aumentar a longevidade de seus

portadores. Inibidores da enzima conversora da angiotensina, bloqueadores dos

receptores da angiotensina, bloqueadores da aldosterona e β-bloqueadores

proporcionaram novas perspectivas de vida a estes pacientes (Nobre e Serrano

Jr, 2005).

A terapia específica disponível para a doença de Chagas consiste no uso

de compostos nitroheterocíclicos (nitrofuran e nifurtimox) ou de derivado de

nitroimidazol (benzonidazol), medicamentos com atividade anti-T. cruzi, eficazes

na erradicação do parasito na fase aguda da doença (Marin-Neto, Simões e

Sarabanda, 1999). No entanto, sua eficácia na eliminação do parasito na fase

crônica é bastante discutida (Cançado, 1999; Caldas et al., 2008), apesar de

estudos experimentais apontarem para um efeito benéfico do uso do

benzonidazol na fase crônica, ao reduzir os distúrbios cardíacos característicos da

CCC (Garcia et al., 2005).

Em 2004 foi iniciado o BENEFIT, um ensaio clínico multicêntrico,

randomizado, duplo-cego, placebo-controlado, em andamento, com previsão de

inclusão de cerca de 3.000 pacientes. Este estudo tem o objetivo de avaliar se a

terapia antitripanocida com benzonidazol proporciona redução de eventos

cardiovasculares maiores e morte em pacientes portadores de cardiomiopatia

chagásica (Marin-Neto et al., 2008).

Na CCC, casos refratários à terapêutica clínica podem se beneficiar de

procedimentos intervencionistas não-farmacológicos. Neste sentido, o transplante

cardíaco ortotópico, procedimento complexo e de alto custo, é considerado o

padrão-ouro de tratamento. Embora se saiba que a sobrevida do paciente após

transplante cardíaco em portadores de cardiomiopatia chagásica seja mais longa

do que em pacientes com insuficiência cardíaca por outras etiologias (Bocchi e

Fiorelli, 2001), em portadores de CCC há o agravante de que o uso de

imunossupressores pós-transplante pode reativar a infecção devido ao

parasitismo tecidual persistente. Além disso, ainda hoje esta técnica cirúrgica

beneficia um pequeno número de indivíduos, por sua dependência de doadores

compatíveis, resultando em um número de transplantes bem menor que do que a

demanda.

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Outros procedimentos, tais como a cardiomioplastia e a ventriculectomia,

não demonstraram eficácia sustentada, em longo prazo, pois não modificaram ou

até aumentaram as taxas de mortalidade (Bestetti, Brasil e Bombonato, 1997;

Braile et al., 2000).

2 JUSTIFICATIVA

A doença de Chagas, ainda endêmica em muitos países, acomentendo 7 a

8 milhões de pessoas na américa latina, sendo 3 milhões delas no Brasil.

Atualmente, não existe terapia eficaz para o controle da doença em sua

forma cardíaca crônica, sendo a de o pior prognostico dentre as miocardiopatias

de diversas etiologias. É de fundamental importância a identificação do

acometimento cardíaco incipientes, visto que a introdução precoce de

medicamentos que comprovadamente reduzem mortalidade da miocardiopatia

possam ser capazes de trazer benefícios significativos para estes pacientes na

fase inicial da doença prevenindo a evolução para fases mais avançadas.

O strain pelo método de speckle tracking no ecocardiograma convencional

tem surgido como uma técnica capaz de detectar alterações precoces do

miocárdio em diversas situações clinicas.

Até o presente momento, não foi avaliada a capacidade preditora do strain

para a presença de fibrose miocárdica na ressonância magnética. A ressonância

magnética é considerada o padrão ouro para a avaliação da função ventricular

esquerda, além de ser o único exame não invasivo capaz de detectar fibrose

miocárdica, que está diretamente relacionada ao desenvolvimento de arritmias e

disfunção ventricular esquerda. Contudo, tem alto custo e acesso restrito à

população em geral.

A ecocardiografia é uma técnica de baixo custo e amplamente disponível

sendo de grande interesse para saúde pública seu uso para predição de fibrose e

introdução precoce de medicação para possível redução da mortalidade e

melhora do prognóstico.

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3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral deste trabalho foi avaliar se o strain global longitudinal pela

técnica do speckle tracking tem valor incremental à fração de ejeção pelo método

de Simpson para a detecção de fibrose miocárdica à ressonância magnética em

indivíduos portadores de doença de Chagas.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Os objetivos específicos foram:

x Determinar os valores de strain global longitudinal e de fração de ejeção do

VE pelo método de Simpson em indivíduos com e sem fibrose miocárdica à

ressonância magnética;

x Correlacionar os valores de strain global longitudinal e de fração de ejeção

do VE pelo método de Simpson com o percentual de fibrose miocárdica;

x Determinar a estatística C (área sob a curva) do strain global longitudinal e

da fração de ejeção do VE pelo método de Simpson para a identificação de

fibrose miocárdica, identificando valores de sensibilidade e especificidade

para diferentes pontos de corte;

x Identificar se o strain global longitudinal é preditor independente de fibrose

miocárdica à ressonância magnética, ajustando para outras variáveis

ecocardiográficas de disfunção sistólica ou diastólica do VE, através de

modelo de regressão linear múltipla;

x Determinar os valores de strain global longitudinal em indivíduos com as

diferentes formas de apresentação clínica da doença de Chagas;

x Estabelecer a correlação entre o strain global longitudinal do VE e a fração

de ejeção do VE pelo método de Simpson com o percentual de fibrose

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miocárdica em subgrupos de indivíduos com e sem disfunção ventricular

esquerda ao ecocardiograma;

x Correlacionar o strain global longitudinal com a fração de ejeção do VE pela

ressonância nuclear magnética, identificando os valores de strain global

longitudinal em subgrupos de indivíduos com e sem disfunção ventricular

esquerda à ressonância magnética cardíaca;

x Determinar os valores de strain global longitudinal em indivíduos com

fração de ejeção normal ao ecocardiograma, em subgrupos de indivíduos

com e sem disfunção ventricular esquerda à ressonância magnética

cardíaca.

4 MÉTODOS

4.1 POPULAÇÃO DO ESTUDO

A amostra de conveniência foi composta por indivíduos adultos atendidos

no ambulatório de doença de Chagas do hospital São Rafael foram convidados de

forma consecutiva a participar deste estudo, no período de Janeiro de 2011 a

Dezembro de 2013. Foram incluídos 58 pacientes com doença de Chagas, com

idade entre 18 e 70 anos, com diagnóstico baseado na confirmação

microbiológica por duas sorologias positivas (hemaglutinação indireta e

imunofluorescência indireta).

Os critérios de exclusão foram infarto agudo do miocárdio prévio ou

história de doença arterial coronariana, doença primária de válvulas cardíacas;

insuficiência renal crônica em hemodiálise, doença hepática em atividade;

doenças hematológicas, neoplásicas ou ósseas; e contraindicação à realização

de exame de ressonância magnética cardíaca.

Os pacientes foram classificados, no momento da sua inclusão no estudo,

de acordo com o consenso atual da doença de Chagas no Brasil (Andrade et al., 2011), como: forma indeterminada ou estágio A (nenhuma evidência de

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envolvimento cardíaco ou IC); forma cardíaca sem disfunção ventricular ou

estágio B1 (sem sintomas de IC e eletrocardiograma e/ou ecocardiograma com

alterações isoladas, com função ventricular normal); e forma cardíaca com

disfunção ventricular, incluindo estágios B2 (sem sintomas de IC, com disfunção

ventricular), C (IC sintomática) e D (IC em fase terminal).

4.2 ASPECTOS ÉTICOS

Este estudo, aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital São Rafael, foi

conduzido de acordo com a legislação vigente, a declaração de Helsinque e a

resolução do Conselho Nacional de Saúde 466/2012. Este estudo seguiu ainda os

padrões estabelecidos nas Boas Normas de Práticas Clínicas da ICH (1 maio de

1996) e Documento das Américas (2005).

Todos os participantes leram, compreenderam e assinaram o termo de

consentimento livre e esclarecido, que consta de informações sobre a preservação

da identidade e a manutenção do sigilo médico, dentre outras.

4.3 AVALIAÇÃO CLÍNICA E COMPLEMENTAR

Foram feitas as seguintes avaliações:

- Avaliação clínica e cardiológica detalhada;

- Avaliação laboratorial;

- Eletrocardiograma, para avaliação de bloqueios de ramo, bloqueios

atrioventriculares, arritmias, baixa voltagem do QRS;

- Radiografia de tórax, para avaliação de cardiomegalia e congestão

venocapilar pulmonar;

- Ecocardiograma transtorácico convencional, para avaliação de função

ventricular esquerda, volumes e diâmetros de cavidades atriais e

ventriculares, alterações da contratilidade segmentar;

- Ecocardiograma com a técnica do speckle tracking;

- Holter 24 horas, para avaliação de bradiarritmias e taquiarritmias;

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- Teste ergométrico, para avaliação da capacidade funcional e da presença

de arritmias induzidas por esforço;

- Ressonância nuclear magnética cardíaca, para avaliação da função

ventricular e do percentual de fibrose.

4.3.1 Ecocardiografia convencional

Os exames ecocardiográficos foram registrados em todos os pacientes

usando um aparelho de ultrassom Vivid 7 digital (GE Vingmed Ultrasound AS,

Horten, Noruega) por dois médicos ecocardiografistas experientes do serviço de

ecocardiografia do Hospital São Rafael, que também realizaram a análise do

strain. As dimensões do ventrículo e átrio esquerdos foram mensuradas de

acordo com as recomendações da Sociedade Americana de Ecocardiografia

(Lang et al., 2005).

A fração de ejeção do VE foi medida pelo método de Simpson biplano.

Velocidade sistólica S0 foi avaliada usando doppler pulsado tecidual no anel mitral

lateral. A função diastólica foi avaliada por meio da análise do fluxo de entrada

mitral, doppler pulsado tecidual no anel mitral lateral e velocidade de propagação

do fluxo mitral usando o modo M colorido.

A regurgitação mitral (RM) foi avaliada pelo método de PISA (proximal isovelocity surface area) ou método da convergência do fluxo. A função ventricular

direita foi avaliada pela velocidade sistólica S0 na parede lateral. A pressão

arterial sistólica pulmonar foi obtida a partir do refluxo tricúspide. Em pacientes

com imagens satisfatórias ao doppler da regurgitação mitral, o dP/dT foi

determinado de forma não invasiva, a partir da taxa de variação da velocidade

desta regurgitação, de acordo com as orientações da Sociedade Americana de

Ecocardiografia (Lang et al., 2005).

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32

4.3.2 Método de Speckle Tracking

Para aquisição das imagens bidimensionais para análise por speckle

tracking, o aparelho ecocardiógrafo foi ajustado para gravar 3 ciclos cardíacos

com período de gravação 100 ms antes e após o ciclo. Foi utilizada a imagem em

segunda harmônica, em escala de cinza, com taxa de enquadramento (frame rate)

ajustada entre 40-80 quadros/s, conforme preconizado pelo fabricante e seguindo

a maioria das publicações na literatura.

Esta taxa de enquadramento foi obtida tanto por ajustes indiretos, como por

meio da profundidade de imagem, abertura do feixe de ultrassom e resolução

(ajustes gerais para a qualidade de imagem), e também por ajustes diretos

permitidos pelos aparelhos ecocardiógrafos utilizados. O tempo “evento sistólico”

foi determinado ao início do exame por meio da marcação dos momentos de

abertura e fechamento da valva aórtica.

Subsequentemente foram obtidas imagens na janela apical do VE nas

incidências três ou longitudinal (APLAX), quatro (A4C) e duas câmaras (A2C).

Esta sequência seguiu a padronização do programa de análise, sendo a apical

longitudinal (3 câmaras), a utilizada para confirmação do momento do fechamento

da valva aórtica, ou seja, confirmação do tempo sistólico.

O ventrículo esquerdo foi dividido em 16 segmentos, e cada segmento foi

analisado individualmente. Strain global longitudinal e segmentar foram obtidos

pela janela apical como descrito anteriormente, sendo as médias dos mesmos

calculadas automaticamente pelo software.

4.3.3 Ressonância Magnética Cardíaca

Exames de ressonância magnética cardíaca foram realizados em todos os

pacientes com o equipamento General Electric Sigma HDX 1.5 T (Fairfield, CT,

Estados Unidos) e analisadas por um único médico experiente do serviço de

radiologia do Hospital São Rafael, cego em relação à classificação clínica do

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33

paciente. As imagens foram adquiridas e direcionadas pelo ECG durante apneia,

nos cortes de quatro câmaras, eixo curto e eixo longo do ventrículo esquerdo,

exatamente no mesmo local em diferentes sequências.

Os parâmetros utilizados nas seqüências dinâmicas foram tempo de

repetição de 3,5 ms, tempo de eco de 1,5 ms, ângulo de inclinação de 60°, largura

de banda de recepção de ± 125kHz, campo de visão de 35 x 35 cm, matriz de

256x148, resolução temporal de 35 ms, 8,0 mm de espessura do corte, sem

espaço entre os mesmos.

Após esta aquisição, uma dose de contraste à base de gadolíneo (0,1

mmol / kg) foi injetado. Foi utilizada a técnica de realce tardio miocárdico para a

investigação de fibrose do miocárdio, e a massa de fibrose foi estimada por um

método visual quantitativo.

4.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados categóricos foram apresentados como números (percentagens),

e os dados contínuos foram expressos como média r desvio padrão, ou mediana

(intervalo interquartil). As comparações de variáveis contínuas entre grupos foram

realizadas com o teste de análise de variância (ANOVA) ou teste de Kruskal-

Wallis, dependendo da presença ou não de normalidade avaliada pelo teste de

Shapiro-Wilk. Teste de qui-quadrado foi aplicado para as comparações de

proporções. As correlações entre variáveis contínuas foram avaliadas através dos

coeficientes de Pearson ou Spearman, dependendo normalidade.

Foi utilizada a curva ROC (Receiver-operating characteristic) para avaliar se

o strain global longitudinal acrescentaria acurácia à fração de ejeção para a

predição de fibrose miocárdica. A estatística C (área sob a curva) foi apresentada

como uma estimativa da sensibilidade e da especificidade de cada um dos

métodos.

Para a análise de preditores independentes de fibrose miocárdica, foi

utilizada a regressão linear múltipla, que incluiu o strain global longitudinal, a

fração de ejeção do ventrículo esquerdo, a relação E/E’, o índice de Tei, a

velocidade de propagação pelo modo M colorido e a velocidade sistólica no anel

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34

tricúspide. O método de regressão linear múltipla utilizado foi a entrada forçada,

no qual todos os preditores foram inseridos simultaneamente.

Adicionalmente, foram realizadas análises de subgrupos de indivíduos com

fração de ejeção normal e fração de ejeção baixa, de acordo com o método de

Simpson e de acordo com a ressonância nuclear magnética. Casos com dados

perdidos não foram incluídos na análise. As análises foram realizadas utilizando-

se o software SPSS versão 20.0 (IBM). Foi considerado estatisticamente

significativo o valor de p < 0,05 (bicaudal).

5 RESULTADOS

5.1 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E DE IMAGEM

Foram incluídos 58 indivíduos, 41% do sexo masculino, com média de

idade de 58 r 9 anos. A prevalência de hipertensão, diabetes, dislipidemia e

tabagismo foi de 72%, 14%, 47% e 26%, respectivamente.

Quanto às formas clínicas de apresentação, os indivíduos distribuíram-se

da seguinte forma: 17 (29%) com a forma indeterminada (sem evidência de

envolvimento cardíaco ou de insuficiência cardíaca), 16 (28%) com a forma

cardíaca sem disfunção ventricular esquerda, e 25 (43%) com a forma cardíaca

com disfunção ventricular esquerda.

Treze indivíduos (22%) apresentaram-se em classe funcional III ou IV da

New York Heart Association, e quinze (26%) apresentaram episódios de

taquicardia ventricular não sustentada ao holter de 24 horas. As principais

características clínicas e demográficas dos participantes estão descritas na

Tabela 1.

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35

Tabela 1. Características clínicas e demográficas da população estudada

Participantes (n = 58)

Sexo masculino 24 (41,4)

Idade (anos) 58 r 9

Forma indeterminada 17 (29,3)

Forma cardíaca sem disfunção de VE 16 (27,6)

Forma cardíaca com disfunção de VE 25 (43,1)*

IC CF III ou IV da NYHA 13 (22,4)

Hipertensão 42 (72,4)

Diabetes 8 (13,8)

Tabagismo 15 (25,9)

Hipercolesterolemia 27 (46,6)

Bloqueio de ramo direito 28 (49,1)**

Cardiomegalia 27 (46,6)

Taquicardia ventricular 15 (26,3)**

Hemoglobina (g/dl) 14,0 r 0,98

Creatinina (mg/dl) 0,86 r 0,17

Variáveis contínuas estão expressas como média r desvio-padrão. Variáveis categóricas estão

expressas como número de indivíduos (%). NYHA = New York Heart Association.). * Dados de 23

pacientes com disfunção ao ecocardiograma e RMC e 2 pacientes com disfunção somente pela

RMC e com clínica de IC ** Dado de um indivíduo não coletado para cada uma das variáveis

A média de fração de ejeção ventricular esquerda pelo método de Simpson

foi 54 r 15%, e a média do strain global longitudinal do VE foi -16,8 r 5,5%.

Fração de ejeção anormal ao ecocardiograma (< 55%) e strain global longitudinal

anormal (> -18%) foram encontrados em 39,7% e 52,7% dos indivíduos,

respectivamente.

Fibrose miocárdica (presença de realce tardio na ressonância nuclear

magnética) foi observada em 37 indivíduos (63,8%), sendo 23 deles entre os

indivíduos portadores da forma cardíaca com disfunção ventricular, e 7 entre os

indivíduos com a forma indeterminada da doença. Os dados ecocardiográficos e

de ressonância nuclear magnética estão descritos na Tabela 2.

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36

Tabela 2. Achados ecocardiográficos e de ressonância nuclear magnética Participantes

(n = 58) Ecocardiograma transtorácico Fração de ejeção do VE (%) 54,3 r 15,2

Fração de ejeção do VE < 55% 23 (39,7)

Volume sistólico final do VE (ml) 78,4 r 66,4

Volume diastólico final do VE (ml) 174,5 r 80,1

Strain global longitudinal do VE (%) -16,8 r 5,6

Strain global longitudinal do VE > -18% 29 (52,7)*

Strain global longitudinal do VD (%) -20,4 r 6,0

Razão E/E’ 10,3 r 5,8

Índice de Tei 0,54 r 0,14

Velocidade sistólica no anel tricúspide (cm/s) 11,3 r 2,8

Velocidade de propagação pelo modo M colorido (cm/s) 42,1 r 15,1

Ressonância nuclear magnética Fração de ejeção do VE (%) 55,8 r 20,0

Volume sistólico final do VE (ml/m2) 82,4 r 76,4

Volume diastólico final do VE (ml/m2) 161,9 r 73,1

Índice de massa do VE (g/m2) 121,5 r 49,6

Fração de ejeção do VD (%) 56,6 r 13,8

Volume sistólico final do VD (ml/m2) 52,6 r 33,2

Volume diastólico final do VD (ml/m2) 112,8 r 38,9

Fibrose miocárdica (%) 9,4 (3,4-18,2)**

Realce tardio 37 (63,8)

Variáveis contínuas estão expressas como média r desvio-padrão ou mediana (intervalo

interquartil), dependendo da normalidade da distribuição, determinada pelo teste de Shapiro-Wilk.

Variáveis categóricas estão expressas como número de indivíduos (%). *Dado de 3 indivíduos não

coletados.** Mediana obtida a partir do percentual de fibrose nos 35 pacientes que tiveram realce

tardio à ressonância magnética (2 pacientes com realce tardio, mas não calculado o percentual de

fibrose).

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37

5.2 Predição de fibrose miocárdica

A fração de ejeção pelo método de Simpson foi significativamente maior

em indivíduos sem realce tardio (64,5 r 6,7%) quando comparada a de indivíduos

com realce tardio (48,5 r 15,7%, p < 0,001; Figura 4A). Do mesmo modo, foi

identificada diferença com significância estatística nos valores médios de strain

global longitudinal entre indivíduos sem e com realce tardio, -20,3 r 3,2% e -14,7

r 5,6%, respectivamente (p < 0,001; Figura 4B).

A B

Figura 4. Fração de ejeção do VE pelo método de Simpson (A) e strain global longitudinal do VE (B) em indivíduos sem e com realce tardio detectado pela ressonância magnética cardíaca. VE = ventrículo esquerdo. *p < 0,001.

A análise da curva ROC (Receiver-operating characteristic) revelou que

tanto o strain global longitudinal (área sob a curva: 0,78, 95%IC 0,65-0,90, p =

0,001) quanto a fração de ejeção do VE (área sob a curva: 0,82, 95%IC 0,72-0,96,

p < 0,001) foram preditores de fibrose miocárdica à ressonância nuclear

magnética (Figura 5).

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38

A B

Figura 5. Curva ROC (Receiver-operating characteristic) da fração de ejeção ventricular esquerda (A) e do strain global longitudinal do ventrículo esquerdo (B) para a predição de fibrose miocárdica. A estatística C (área sob a curva) para os respectivos métodos foi: fração de ejeção: 0,82 (95%IC 0,72-0,96, p < 0,001); e strain global longitudinal: 0,78 (95%IC 0,65-0,90, p = 0,001).

Para o strain global longitudinal, os pontos de corte de -17,0%, -18,0% e -

19,0% tiveram os seguintes valores de sensibilidade e especificidade: 63% e 95%,

69% e 70%, e 77% e 60%, respectivamente. Para a fração de ejeção ventricular

esquerda, pelo método de Simpson, os pontos de corte de 49%, 55% e 60%

tiveram os seguintes valores de sensibilidade e especificidade: 49% e 95%, 57% e

90%, e 65% e 81%, respectivamente.

Considerando o percentual de fibrose como desfecho (variável

dependente), observou-se alta correlação tanto com a fração de ejeção (r = - 0,70,

beta = -0,55, 95%IC -0,70 a -0,40, p < 0,001; Figura 6A) quanto com o strain

global longitudinal (r = 0,64, beta = 1,36, 95%IC 0,91 a 1,82, p < 0,001; Figura 6B).

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39

A B

Figura 6. Correlação entre fração de ejeção do VE pelo método de Simpson (A) e strain global longitudinal do VE (B) com fibrose miocárdica definida pela ressonância magnética cardíaca (regressão linear). VE = ventrículo esquerdo. p < 0,001 para ambas as correlações.

Apesar da forte correlação do strain global longitudinal com a fibrose

miocárdica, quando ajustado para outras variáveis através da regressão linear

múltipla, o strain global longitudinal perdeu a significância estatística como preditor

independente de fibrose (beta = -0,90, 95%IC -2,0 a 0,24, p = 0,111).

A fração de ejeção, o índice de Tei e a razão E/E’ apresentaram-se como

preditores independentes de fibrose miocárdica (p = 0,003, p = 0,023 e p = 0,005,

respectivamente). Os resultados da análise de regressão linear múltipla (os

coeficientes estandardizados de regressão beta e a probabilidade p) estão

descritos na Tabela 3.

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Tabela 3. Resultados da análise de regressão linear múltipla

Coeficientes de regressão beta

Probabilidade p

Fração de ejeção do ventrículo esquerdo -0,905 0,003

Strain global longitudinal do ventrículo esquerdo -0,904 0,111

Razão E/E’ 3,29 0,005

Índice de Tei 39,49 0,023

Velocidade de propagação pelo modo M colorido 0,110 0,369

Velocidade sistólica no anel tricúspide 0,115 0,815

5.3 ANÁLISE DE SUBGRUPO

5.3.1 De acordo com a apresentação clínica da doença

Os indivíduos foram agrupados de acordo com a apresentação clínica da

doença. No grupo 1, foram alocados os indivíduos com a forma indeterminada da

doença (estágio A). No grupo 2, os indivíduos com a forma cardíaca sem

disfunção ventricular esquerda (estágio B1). No grupo 3, os indivíduos com a

forma cardíaca com disfunção ventricular esquerda (estágios B2, C e D).

O grupo 3 apresentou menor valor de strain longitudinal global do

ventrículo esquerdo (Figura 7). As medianas do strain longitudinal global nos 3

grupos foram -18.8 (IIQ: -21.3 a -17.9) para o grupo 1, -21 (IIQ: -22.5 a -18.6) para

o grupo 2, e -11.1 (IIQ: -14.2 a -7) para o grupo 3.

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Figura 7. Modificações no strain global longitudinal entre os grupos clínicos, de acordo com a severidade da doença (* p < 0.001 por análise de variância). Grupo 3 apresentou níveis mais baixos de strain longitudinal global do que os grupos 2 e 1 (teste de múltiplas comparações de Bonferroni: 1 vs. 2 p = 0.334; 2 vs. 3 p < 0.001; 1 vs. 3 p < 0.001).

5.3.2 De acordo com a fração de ejeção pelo método de Simpson

Analisando apenas indivíduos com a fração ventricular esquerda normal (n

= 33), foi encontrada uma fraca correlação com fibrose miocárdica, tanto da fração

de ejeção pelo método de Simpson (r = - 0,36, beta = -0,41, 95% IC -0,76 a –

0,06, p = 0,024) quanto do strain global longitudinal (r = 0,31, beta = 0,51, 95% IC

-0,02 a 1,04, p = 0,057; Figura 8)

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A B

Figura 8. Correlação entre fração de ejeção do VE pelo método de Simpson (A) e strain global longitudinal do VE (B) com fibrose miocárdica definida pela ressonância magnética cardíaca (regressão linear), em indivíduos com fração de ejeção do VE normal. VE = ventrículo esquerdo.

Em indivíduos com a fração de ejeção abaixo de 55%, também não foi

observada forte correlação com fibrose miocárdica da fração de ejeção (r = - 0,38,

beta = -0,60, 95% IC -1,37 a 0,17, p = 0,116) ou do strain global longitudinal (r =

0,06, beta = -0,14, 95% IC -1,5 a 1,2, p = 0,82; Figura 9). Nenhuma destas

correlações atingiu significância estatística.

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A B

Figura 9. Correlação entre fração de ejeção do VE pelo método de Simpson (A) e strain global longitudinal do VE (B) com fibrose miocárdica definida pela ressonância magnética cardíaca (regressão linear), em indivíduos com fração de ejeção do VE abaixo de 55%. VE = ventrículo esquerdo.

5.3.3 De acordo com a fração de ejeção pela ressonância nuclear magnética

A FE avaliada pela RMC apresentou alta correlação com o strain global

longitudinal avaliada pelo speckle tracking na ecocardiografia (r = - 0.79).

Pacientes com FEVE> 55% tiveram um strain global longitudinal

significativamente maior do que aqueles com FEVE <55% (p <0.001) (Fig.11).

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44

Figura

Figura 10. Correlação entre o strain global longitudinal do ventrículo esquerdo e a fração de ejeção do ventrículo esquerdo avaliada por RMC (regressão linear). FE = fração de ejeção. SGL = strain global longitudinal. RMC = ressonância magnética cardíaca. VE = ventrículo esquerdo.

Neste subgrupo de pacientes, indivíduos com função ventricular normal

pela RMC apresentaram maior strain global longitudinal (-20.2 ± 3.1%) em

comparação com indivíduos com disfunção ventricular pela ressonância (-11.4 ±

3.8%), com p <0,001.

Para avaliar se o strain global longitudinal avaliada por 2-D ST aumentaria

a acurácia na detecção de alterações ventriculares em relação à realizada através

da ecocardiografia bidimensional padrão, foram comparados o valor do strain global longitudinal em pacientes sem disfunção ventricular (pelo ecocardiografia),

com FE t 55% ou <55% avaliada por RMC (Fig. 12). As medianas de strain global

longitudinal foram, respectivamente, -20.3 (IIQ: -21.8 a -18) e -14.3 (IIQ: -16.6 a -

10.6).

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Figura 11. Strain global longitudinal em pacientes sem disfunção ventricular diagnosticada pela ecocardiografia convencional, com FE do VE < 55% (n = 6) or t 55% (n = 29) avaliada por RMC. * p < 0.001. FE = fração de ejeção. RMC = ressonância magnética cardíaca. VE = ventrículo esquerdo.

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6 DISCUSSÃO

O presente estudo avaliou, em um grupo de pacientes com diferentes

formas de doença de Chagas crônica, o valor incremental do strain global

longitudinal obtido pelo método do speckle tracking à fração de ejeção do

ventrículo esquerdo (FEVE) na ecocardiografia bidimensional para presença de

fibrose miocárdica na RMC. Na prática médica atual, a função ventricular é

avaliada com base na FEVE pelo método biplano de Simpson. No entanto, este

parâmetro não é sensível na detecção de alterações incipientes da contratilidade

ventricular, as quais primeiro atingem tanto as fibras miocárdicas responsáveis

pelo encurtamento longitudinal quanto o endocárdio. Além disso, a medida da

fração de ejeção é altamente dependente não só da experiência do operador, mas

também da pós carga, o que pode conduzir a resultados anormais sob situações

de pós carga alterada (Leitman et al., 2004; Marwick, 2004).

Neste contexto, a 2-D ST tem emergido como uma modalidade no exame

de imagem promissora para calcular a deformação miocárdica regional, menos

sujeita a artefatos, de dependência de boa visualização do endocárdio e a

alterações na geometria. Este método quantifica a deformação do miocárdio

através de rastreamento quadro a quadro de um pequeno bloco de marcadores

acústicos do miocárdio. Já aplicada a várias condições clínicas, esta técnica tem

se mostrado um método eficaz para avaliar a função do VE, independentemente

da experiência do operador (Marwick, 2004; Lang et al., 2005; Blessberger e

Binder, 2010).

Nahum e colaboradores demonstraram que o strain global longitudinal por

2-D ST é superior a FEVE e outras medidas do encurtamento longitudinal na

identificação de pacientes com pior prognóstico em uma população com

insuficiência cardíaca (Nahum et al., 2010).

Outro método para avaliar a função do VE é RMC, que tem se mostrado

como o método mais acurado, sendo considerado o padrão ouro (Sechtem,

Mahrholdt e Vogelsberg, 2007). No entanto, seu alto custo dificulta o uso da RMC

em larga escala na prática clínica de rotina.

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47

Estudos prévios validaram o 2-D ST para a quantificação da FE contra a

ressonância magnética, demonstrando a confiabilidade do método (Belghitia et al., 2008). Apesar de a deformação do miocárdio por 2-D ST já ter sido avaliada em

uma coorte de pacientes com diferentes formas de doença de Chagas (García-

Álvarez et al., 2011), os resultados não foram correlacionados com um método

padrão-ouro como a RMC. Garcia-Álvarez e colaboradores mostraram que o valor

médio de SGL para indivíduos com CCC foi - 16,5%, enquanto que, em nosso

estudo, a média foi - 11,0%, possivelmente configurando uma população de maior

gravidade.

Nosso estudo mostrou elevado percentual de indivíduos com realce tardio

nas três diferentes formas da doença: 41% para a forma indeterminada, 43% para

a forma cardíaca sem disfunção ventricular e 92% para indivíduos com disfunção

ventricular esquerda. Um estudo anterior demonstrou taxas de 7,4%, 15,8% e

52,4% para estes três grupos de indivíduos, respectivamente (Regueiro et al., 2013). Apesar desta diferença, a prevalência de realce tardio em nossa população

de pacientes com disfunção ventricular, estimada em 92%, é consistente com os

dados da literatura, uma vez que a prevalência de realce tardio seria de 84,6% a

100% nestes perfis de indivíduos (Rochitte et al., 2005).

Nós também demonstramos uma forte correlação entre a FE avaliada pelo

método de Simpson e o strain global longitudinal com a fibrose miocárdica

avaliada por ressonância magnética, ambos com significância estatística. No

entanto, apesar da correlação encontrada, não se demonstrou que o uso do strain

global longitudinal pelo 2-D ST tem papel incremental à fração de ejeção na

predição de fibrose do miocárdio, já que este parâmetro perdeu a significância

estatística quando ajustado para a fração de ejeção e para outras variáveis

ecocardiográficas de importância.

Do total de 35 indivíduos com FE normal ao ecocardiograma, seis (17%)

tinham FEVE< 55% na RMC e média de SGL de -11,4, valor significativamente

menor do que a média dos 29 indivíduos com FE normal à ressonância. Como a

RMC é o padrão ouro na avaliação da FEVE seria interessante avaliar a acurácia

do SGL para identificação de lesão subclínica nestes pacientes, contudo o número

reduzido deste grupo no nosso estudo não permitiu realizar análises estatísticas

adicionais.

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Ao contrário do strain global longitudinal, o índice de Tei (IT) e a relação de

E/E’ foram estatisticamente significativos como preditores independentes de

fibrose miocárdica.

O IT incorpora em um único valor as funções sistólica e diastólica

ventriculares, sendo por isso um parâmetro vantajoso, já que a função ventricular

depende tanto da sístole quanto da diástole, ambas com gasto de energia. Tei e

colaboradores encontraram boa correlação entre o IT e medidas invasivas da

contratilidade e relaxamento, dP/dT+ e Tau, respectivamente, demonstrando que

sua medida reflete a função global do ventrículo, independentemente de pré e pós

carga (Tei et al., 1997). O seu cálculo usa parâmetros da sístole (tempo de

contração isovolumétrica e tempo de ejeção) e da diástole (tempo de relaxamento

isovolumétrico). O IT eleva-se com a presença de disfunção miocárdica. Pinto e

colaboradores demonstraram que o IT foi capaz de identificar alteração precoce

da função miocárdica em ventrículos esquerdo e direito, em uma população de

pacientes chagásicos sem cardiopatia aparente (Pinto et al., 2007).

O doppler tecidual (DT) é uma técnica que permite a medida direta da

velocidade de contração e relaxamento do músculo cardíaco, com aplicação já

reconhecida na prática clínica para análise da função diastólica ventricular. Em

estudo realizado em 2001, Barros e colaboradores avaliaram alterações na

contratilidade longitudinal através do DT em pacientes com a forma indeterminada

da DC e controles normais, demonstrando que o DT foi capaz de detectar

alterações incipientes de contratilidade na população chagásica (Barros et al., 2001). A onda E’ da mitral medida pelo DT é um índice de relaxamento do VE e

sua relação com a onda E da mitral (razão E/E’) permite predizer a pressão capilar

pulmonar, sendo um valor da razão acima de 10 relacionada com pressão capilar

pulmonar acima de 15 mmHg. A razão E/E’ tem valor prognóstico a longo prazo

para morte e/ou hospitalização em diversas situações clínicas (Almeida ALC et al, 2009).

Estudo realizado em pacientes com MCC com e sem disfunção ventricular

demonstrou que valores da onda e medida pelo DT se correlacionam

inversamente com a piora da disfunção diastólica (DD). Por sua vez, a análise da

relação E/E’ mostrou boa correlação com a DD, discriminando padrões de

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disfunção, sendo o melhor índice neste estudo para detecção de DD avançada

(Barros M.V.L et al, 2003).

Em outro estudo de 2012, a relação E/E’ mostrou alto valor prognóstico

para mortalidade em pacientes portadores de MCC com disfunção de leve ou

moderada (Nunes MP et al, 2012).

Como a fibrose do miocárdio aumenta a pressão diastólica do ventrículo

esquerdo, levando a alterações no relaxamento ventricular esquerdo, estes

parâmetros podem ser indicativos de comprometimento cardíaco incipiente.

Uma limitação deste estudo foi a ausência de uma investigação mais

complexa visando descartar doença arterial coronariana. No entanto, os indivíduos

com história de infarto agudo do miocárdio ou artéria coronária doença crônica

foram excluídos. Adicionalmente, todos os participantes foram submetidos a um

teste ergométrico, um exame com um alto valor preditivo negativo para indivíduos

sem sintomas de doença cardíaca isquêmica, com resultado negativo em todos os

indivíduos incluídos no estudo.

Outro ponto importante a ser abordado é o fato de que o desenho do

estudo, sendo de corte transversal, permite apenas gerar hipóteses, não

permitindo a avaliação do ponto de vista prognóstico. Estudos longitudinais, com

coortes prospectivas, devem ser conduzidos de modo a avaliar o valor preditivo

prognóstico desta modalidade de imagem em pacientes com doença de Chagas.

Por fim, por questões técnicas e operacionais, não foram realizados o strain radial

e circunferencial.

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7 CONCLUSÃO

Foi estudado o papel do strain global longitudinal como um método capaz

de adicionar acurácia à fração de ejeção na predição de fibrose miocárdica, tendo

sido demonstrado que este novo método não tem valor incremental à medição da

fração de ejeção convencional em indivíduos com doença de Chagas. Uma vez

que cada nova técnica vem com um grande entusiasmo em seu uso, antes mesmo

de uma forte evidência científica confirmar a sua utilidade, é crucial que se

desenvolvam estudos testando um novo método contra outros já bem

estabelecidos, a fim de se ter uma visão crítica dos exames diagnósticos

disponíveis na prática clínica.

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