FUNDAMENTALISMO DEMOCRÁTICO DEMOCRÁTICO O ano eu acho que era 1961. As alpargatas já estavam...
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FUNDAMENTALISMO DEMOCRÁTICO
(A farsa)
Sérgio Clos
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Publicação digital
INDOLENTES
Uma pátria enraivecida
De uma inércia descabida
A contemplar estarrecida
Uma República apodrecida
Patológico não é o malfeito
Doentio é o aceitar calado
É tanto descalabro na corte
Talvez seja esta a nossa essência
A de ter infinita paciência
Que contraria até a ciência
Somos, todos, indolência.
Sérgio Clos (2013)
FUNDAMENTALISMO DEMOCRÁTICO
O ano eu acho que era 1961.
As alpargatas já estavam gastas e o sonho era ter um sapato
Vulcabrás e uma calça de tergal.
Íamos ao colégio, aqueles de tábua atravessada que o Brizola
construiu (muitos incultos diziam que era de tauba). Era como se fôssemos
para um grande evento, tanto que antes de entrar em sala de aula
cantávamos o Hino nacional. A professora era o nosso exemplo de
comportamento tal a sua importância. O clima na sala de aula sempre foi de
respeito e ai de nós s não nos comportássemos bem, nossos pais eram
chamados e a cinta descia no nosso lombo! E ainda nos passavam um pito:
- Onde já se viu não se comportar bem no colégio ou desrespeitar a
professora!
Aquela professora, formada no Curso Normal do Paulo da Gama ou
no Instituto de Educação, era o orgulho da sua família e a figura máxima no
Grupo Escolar.
Havia alguns rumores lá no centro. Na beira do Guaíba havia muitas
barracas montadas e cheias de brigadianos, todos armados. Lembro-me
vagamente.
A gente sabia que a coisa estava feia, pois o Briza (apelido do
Brizola) não parava de falar na rádio e toda hora tocava o hino da
Legalidade.
A vida corria sem muitos apuros, entretanto era um “diz que diz”
aqui, outro “diz que diz” lá, e eu não entendia bem o que estava
acontecendo.
Meu negócio era estudar para fazer o exame de admissão para o
ginásio. Meus pais exigiam que assim fosse e com naturalidade eu atendia.
A grana era curta e para conseguir algum dinheirinho, juntava osso e
vidro para vender para o “ferro Velho”. Quando ouvia o carroceiro gritar:
- Ferro Velho, garrafa vazia, osso e vidro quebrado!
Lá corria eu com um baita saco de linhagem nas costas cheio de
material que juntei durante a semana. Ele selecionava e pesava, com uma
balança de gancho e me alcançava dinheiro. Nem lembro se era muito ou
pouco, mas era o suficiente.
Consegui entrar no ginásio e era um dos melhores da cidade. A
tabuada eu sabia de cor e já estava até sabendo o que era “oração aditiva”.
Sinônimos eu já sabia uns quantos, também regra de três e um pouco de
álgebra. E foi por isso que eu passei no exame.
De vez em quando ia à casa do vizinho ver televisão. Tinha o
repórter Esso. Gostava mesmo era “As Aventuras do Rin Tin Tin” , “Bat
Masterson”, com a aquela musiquinha: No velho oeste ele nasceu,e entre
bravos se criou, seu nome em lenda se tornou, Bat Masterson, Bat
Masterson! Ah, tinha “O Vigilante Rodoviário”.
A televisão era “preto-e-branco” e o vizinho colocava um plástico
transparente e colorido grudado na tela daquele baita televisor. Ficava
bonito, parecia tevê a cores. Comprar uma televisão era para poucos, pois
era muito cara.
Quando passou a novela “O Direito de Nascer”, juntava a vizinhança
na sala desse vizinho.
As coisas não estavam tão desorganizadas, pois lembro bem quando
ia na “venda” comprar o pão de meio quilo, banha e açúcar ou um naco de
manteiga, não faltava nada. Estava tudo ali em sacos um do ladinho do
outro, arroz, feijão, etc. O leite era nos entregue pelo leiteiro que vinha de
carroça com os tambos e despejava nas nossas vasilhas. Era só ferver. Ou
senão, a gente comprava na “venda”. Nós chamávamos de “venda” o
armazém onde se comprava de tudo. Levava os litros de vidro vazios e
trocava pelos cheios, o leite era da marca Deal e vinha com uma tampinha
de alumínio que era só apertar que ele se soltava (Hoje uma garrafa
daquelas vale um bom dinheiro nas lojas de antiguidades, ah, se eu
soubesse!).
Pãozinho francês é coisa moderna, o pão era de meio quilo e um
quarto de quilo. E o papel do pão de meio quilo a gente usava para muitos
fins. Quando era dar um destino mais nobre para o papel de pão, se fazia
blocos para escrita ou para fazer conta.
Queijo fatiado, pacote de manteiga, pote de margarina, queijo ralado,
tudo isto é coisa mais recente. O queijo era comprado em pedaços, quando
ficava velho e duro, a gente ralava por sobre o macarrão, que, aliás, era
feito em casa.
Azeite de soja ainda nós lá em casa não usávamos, se usava banha de
porco. Tinha uma vizinha que criava porco bem perto da minha casa e
quando ia matar um animal, nos avisava, a gente encomendava e já deixava
lá na sua casa um latão para que ela enchesse de banha novinha.
Certa vez assisti o sacrifício de um porco, era coisa mais triste, o
bicho sofria, e quando o seu matador não era muito habilidoso o porco
sofria mais ainda. Coitado do animal.
A banha durava para nós um bom tempo. Servia para colocar no
feijão e na comida em geral.
Eu e gurizada, nos fins de semana, jogávamos bola num campinho
perto de casa. Descalço, e vez ou outra ao chutar a bola, abria um ferimento
do meio dos dedos por causa das guanxumas, aquela erva daninha que todo
mundo usava para fazer vassoura, muito boa por sinal para varrer o pátio.
Além da dor era o sangue que escorria. Corria para a casa para lavá-lo e
colocar iodo. Ficava uma semana sem jogar. Mas não tinha problema,
ainda tinha o carrinho de rolimã, a pandorga e o jogo de pião. Isso tudo se
a lição de casa estivesse em dia.
No ginásio, na Escola Técnica Parobé, deveria estudar mesmo, tinha
Álgebra, Caligrafia, Música, Estudos Sociais, Organização Social e Política
Brasileira, Ciências, História do Brasil, História Geral, Geografia, Religião,
Educação Física, como o ginásio que fiz foi Industrial, tinha mais Mecânica
de Automóvel, Fundição, Marcenaria, Artes Gráficas, Eletricidade e
Desenho Técnico. Estudava pela manhã e tarde. Tinha até refeitório. Ah!
Esqueci-me do Canto Orfeônico, Atletismo e da Banda Marcial do colégio!
E o bom mesmo era a competição que havia entre a banda do colégio e a
banda do Colégio das Dores. Do canto orfeônico o professor de música
montou um coral que de vez em quando se apresentava no Teatro São
Pedro.
Terminava o ginásio, ia direto para o curso Técnico, eram mais três
anos. Era realização de um sonho.
Formado no Curso Técnico, tinha emprego garantido na CRT
(Companhia Rio-grandense de Telecomunicações) ou ia para a Refinaria da
Petrobrás. Estes eram os melhores empregos. Todavia, muitas pequenas
empresas corriam atrás dos recém-formados oferecendo vagas.
Ainda durante o ginásio eu vi muita correria no centro, era o pessoal
do Exército a cavalo atrás dos estudantes e estes jogavam bolinhas de gude
para ver os cavalos e os milicos se estatelarem no chão da Avenida Borges
de Medeiros. De vez em quando eu recebia convite para ir lá perto do
Mercado Público para ver a arruaça. Uma coisa eu sabia, os milicos tinham
tomado conta do Brasil e estavam brabos. Eu já gritei muito: Abacate do
Governo! Mais tarde eu gritava (baixinho é claro) “pé de porco” para os
brigadianos, coisa de moleque.
A coisa ia bem. Curtindo Golden Boys, Renato e seus Blue Caps,
Beatles, etc. Sem contar com o inesquecível “My Sweet Lord” do George
Harrison, que embalava nossas rodinhas de violão. Havia outras músicas
mais tristes que embalavam a nossa “fossa”, não é aquela fossa que vocês
estão pensando, era uma pequena tristeza, quase depressão. Se bem que
depressão é coisa moderna e a bem da verdade a gente nem tinha tempo
para ficar deprimido: Televisão quase não tinha. Caminhávamos até o
armazém que era longe, esperar o pão ficar pronto na padaria, quando não
se possuía um forno de barro em casa; tínhamos que cortar lenha, molhar a
horta, como sobraria tempo para esta tal de depressão?
Certa ocasião, quando estava em São Paulo, eu dei uma escapadinha
até Campinas visitar uma menina japonesa com a qual eu mantinha
correspondência. E era assim a gente que se correspondia com as meninas
de longe, através de cartas, e existia uma expectativa no aguardo da
resposta que durava um mês. Quando o carteiro não aparecia lá em casa eu
ia até a “Posta Restante”, um setor do Correio onde estavam as cartas não
entregues. Ela morava numa fazenda na estrada em direção à Mogi alguma
coisa. Peguei carona num caminhão de Campinas até a entrada da fazenda.
Foi uma satisfação conhecê-la pessoalmente e foi um dia embalado com o
último long-play do Roberto Carlos, e a música era, entre outras: “Se você
pretende, saber quem eu sou, eu posso lhe dizer, ....eu prefiro as curvas da
estrada de Santos...”
Era uma brasa, mora!
Aqui em Porto Alegre os bondes já estavam saindo de circulação e
entrando os Trólebus, mas duraram pouco. O bom era pegar os bondes,
pois a gente subia com ele ainda em movimento, era perigoso, mas era uma
aventura.
Cabelinho Ronnie Von, chicletes, camisa “volta ao mundo”, um
relógio Seiko, perfume Lancaster, camisa de “banlon”, um cigarrinho
“Mistura Fina” entre os dedos e alheio ao que acontecia ao redor, esta era a
tônica da vida que a gente levava. De vez em quando tinha um “hora
dançante” na casa de algum vizinho, a gente ia para tentar dançar com as
guriazinhas, isto se a vergonha permitisse. Muitas vezes a gente ficava só
olhando e bebendo um Grapette ou Mirinda, ainda não tinha sido iniciado
na cerveja, mas quando senti o gostinho dela, foi um “Deus nos acuda”! Só
parei agora, depois de velho.
Mas a tal Revolução de 64 mostrou a que veio. Procurava não sei o
quê. Lembro que um vizinho teve a casa revirada pela polícia, mas não era
a policia lá da delegacia, eram uns caras estranhos.
O Jango tinha se mandado do Brasil.
A TV Gaúcha disse muito tempo depois que a Revolução aconteceu
na maior tranquilidade sem ter derramado uma gota de sangue.
Fui estudar na FAB lá em Minas, fui ser milico. Foram três anos que
passaram muito rápidos.
Quando voltei para a vida civil entrei numa baita empresa que era
comandada por um general, eu acho.
O que eu sei é que os coronéis e generais comandavam as empresas
estatais e espionavam tudo e todos. Coisa de milico.
De vez em quando entrava lá no meu trabalho uma camionete azul e
levava um colega e este nunca mais aparecia. Todo mundo ficava quieto
sem dizer uma palavra. Os mais corajosos falavam que era a Policia
Federal levando algum comunista. Eu nem sabia que tinha colega
comunista. Quis entender a situação.
Falava-se em falta de liberdade, e eu até então não tinha me dado
conta que eu não tinha liberdade. Fiquei perdido! Eu namorava, tomava
cachaça e cerveja, fumava, de vez em quando dava uma chegadinha ao
Dragão Verde, na Mônica e na Soninha. As gurias eram gente fina.
Às vezes passávamos a noite na gandaia tocando um “sambão” ou
“empernado” com alguma guria num hotelzinho do centro (motel é coisa
moderna).
Eu não sabia que eu não tinha liberdade!
Tive um colega que (depois fui saber que ele era de “esquerda”) dizia
para mim que eu não era livre e eu quis saber por quê. Ele explicou que nós
não tínhamos liberdade de opinião.
- Está bem, mas qual opinião?
E ele retrucava:
- Mas bah guri, tu és um alienado!
Acabou com a minha alegria. Eu pensei que a vida boa que eu levava
estava certa, e agora eu tenho que ter opinião. Não adiantava falar que eu
trabalhava bastante, estudava, e, de vez em quando ia para a noitada. Ainda
tinha que ter mais?
E ele continuava:
- Temos que lutar contra este capitalismo selvagem, lutar pelos
nossos direitos, entrar para o sindicato, colocar o patrão na parede e acabar
com a exploração!
Meu Deus! Fiquei mais perdido que “cusco” em dia de mudança.
O que é capitalismo selvagem? - Deve ser algum índio metido a
empresário que vem nos explorar. Pensei eu. - Não, deve ser culpa do
Projeto Rondon que está lá no mato metido com os índios ou dos irmãos
Villas Bôas que estão ensinando coisas para os índios.
A culpa é nossa. A gente só trabalha, só estuda, corre atrás das
gurias, sustenta a casa, compra moradia, só pensa em crescer como pessoa
humana e não tem tempo para ter opinião. Meu Deus! Eu acho que sou um
alienado mesmo!
- Abaixo o Capitalismo Selvagem! Abaixo a Ditadura! Viva a
Democracia!
- Ih, agora extrapolei, o que é Democracia mesmo?
- Bah guri, tu não sabe nada de nada mesmo! Capitalismo Selvagem
é a exploração do homem pelo homem e Democracia é liberdade! Tu não
vês que os militares não te deixam falar nada! Está tudo lá no livro “O
Capital” e os milicos odeiam este livro!
- “Para com isso, tche, eu gosto de ler gibi: O “Fantasma”, “ Pato
Donald”, “Recruta Zero”, “Super Homem”. O máximo que eu li foi “O
Conde de Monte Cristo”, “ O Morro dos Ventos Uivantes” . Quando eu era
mais novo, li quase toda a coleção do Monteiro Lobato. Este livro que tu
falas tanto, é estranho para mim e que milico? Não conheço nenhum
milico!
- Mas eles estão te vigiando e tem o DOPS que prende e dá uma sova
nos comunistas agitadores, e nem é de relho é com outras coisas. O troço
está feio para o lado dos comunistas.
- Quer saber de uma coisa, algo está errado, não conheço nenhum
milico raivoso e nenhum comunista, afinal de contas nem sei que bicho é
isso!
- Está certo, vou te apresentar um comunista: Está vendo aquele peão
da manutenção que vive falando em sindicato, de vez em quando aparece
com uns livrinhos de Materialismo Dialético e empresta escondido aí para
o pessoal. Pois então, ele é comunista.
- Aquilo ali é ser comunista? - Mas é um baita de um vadio, não quer
fazer nada, os outros que fazem para ele senão o chefe dá um gancho para a
equipe. Aquele ali não vale o que come e não quer nada com nada. É um
vagabundo e sem-vergonha!
E eu achando que era grande coisa, fiquei até meio acabrunhado por
não ser estudado em coisas soviéticas, por não saber muito sobre Cuba e
porque estas criaturas ficam pelos cantos falando sobre isto deixando a
chefia nervosa.
Pude notar que os que se dedicavam a estes assuntos e a fazer
propaganda do Sindicato, eram os mais vagabundos. Eles mesmos diziam
que o negócio deles não era trabalhar e sim divulgar a causa. Não entendi
bem o que era esta causa. Só se fosse da vagabundice!
Entretanto não me furtei em ir atrás desta corrente idealista que
estava em curso na Rússia. Li muito e até assinei uma revista, o nome era
“Em Foco” da editora Revan e exaltava as maravilhas do Comunismo.
Maravilhado fiquei eu. Todos eram iguais. Até então eu achava que todos
eram iguais, claro que havia alguns “mais iguais que os outros”. O Brizola
que já tinha voltado do Exílio, era o propagandista da revista, ele e o Oscar
Niemeyer. A revista exaltava que os médicos ganhavam o mesmo que
professor que ganhava igual ao funcionário público. As mulheres
trabalhavam fora e havia um monte de creches perto das fábricas. Pareciam
todos felizes. Todavia alguma coisa estava solta no ar. Havia cheiro de
propaganda naquela revista.
Depois de 68, os generais que comandaram o país foram arrochando
devagarzinho. Eu já era gente, trabalhava numa boa empresa e este arrocho
não me fazia nenhuma diferença, estava cumprindo com a minha
obrigação. Eu até acho que, o primeiro general que assumiu a presidência
do Brasil caiu na conversa fiada dos políticos da direita brasileira. Esses
eram os representantes diretos da casta empresarial que comandava o
Brasil.
Este negócio de dizer que político morre de amor pelo povo é
conversa para boi dormir.
Certa vez quando o General Figueiredo afirmou que gostava mais
dos seus cavalos, não era de nós que ele se referia, era das “gentinhas” que
o rodeavam. Essa mesma gentinha que ainda hoje continua viva e nos
fazendo sofrer.
Figueiredo deu uma aliviada, deixou os exilados voltarem e aqueles
que estavam escondidos por aí, apareceram também.
Os livros proibidos ressurgiram nas bancas, inclusive pequenas
publicações sobre a Guerrilha do Araguaia. Foi uma surpresa geral, pois
nem sequer se sabia que houve guerrilha. Eu sabia, porque quando estava
estudando numa escola da Aeronáutica lá no interior de Minas Gerais,
ficamos de prontidão porque havia guerrilheiros nas redondezas com o
intuito de roubar armas.
O tom das músicas que nos embalavam já não era mais o mesmo.
Era: “Pai, afasta de mim este cálice”, ou, “ Caminhando e cantando e
seguindo a razão”. A moda era ser de esquerda e eu já me bandeei para
esse lado. Comecei a achar que os militares eram todos “coisa ruim”.
Fui ao comício das “Diretas Já”, me empolguei e me emocionei.
Estava o Brizola, O Ulisses Guimarães, o Tancredo e outros, a maioria
aproveitadora. Tinha uma cantora paraense que embalava esses comícios,
chamava a atenção pela linda voz, pela risada e pelos bonitos peitos. Era a
Fafá de Belém.
Já nem me sentia mais um alienado, até me candidatei numa chapa
do meu Sindicato.
Comecei a estudar a língua russa. Lia “Socialismo”, comecei a ler “O
Capital”, achei chato e desisti. Já estava falando dasvidânia, spaciba,
rarachó, etc.
Lá no nordeste, terra de coronéis, o Sarney e o Antônio Carlos
Magalhães comandavam e já estavam ricos. Eram unha e carne com os
generais da ditadura, e por coincidência ganharam um monte de concessão
de rádio e televisão. Eram uns sortudos. O lugar onde eles mandavam e
desmandavam era uma pobreza só e continua até hoje. Seca no nordeste?
Para que se preocupar, o problema vem desde o império!
O Sarney, que era presidente do PDS, o partido da ditadura,
renunciou e passou para o PMDB, foi vice de Tancredo que morreu na
véspera de sua posse dando lugar ao Sarney. Coisas do destino. Lançou
dois planos econômicos que nos afundou, mas ele e sua família ficaram
mais ricos ainda. Homem de sorte.
O Collor, que combatia de mentirinha os marajás, era bom de papo e
foi sem maturidade para o planalto. As raposas velhas lhe puxaram o
tapete. Teve uma grande emissora de televisão que tinha o colocado no
poder, mas faz o caminho inverso, lhe tira do poder. A gente foi na onda,
pintou a cara e foi para rua: - Fora Collor!
Tinha um Sindicalista chamado Luis rondando o planalto. Ficou
famoso lá em São Bernardo do Campo, pois liderou uma greve de
metalúrgicos durante a Ditadura.
Na presidência o Sindicalista, este sim seria o nosso salvador. Mas
não emplacava. O Collor foi mais esperto, mas durou pouco. Veio Itamar e
depois o Sociólogo, chamado Fernando, que hoje eu sei, entregou tudo e
nos ferrou. Ai o Sindicalista finalmente emplacou. Até eu sai de
bandeirinha e dizia para mim mesmo: - Agora vai. E não foi.
Se o anterior nos ferrou esse nos ferrou para sempre.
A Rússia já tinha acabado e mostrou a verdadeira face do
comunismo: País sucateado, corrupção e privação do povo. Cuba parou no
tempo e está em ruínas. Fiquei com vergonha de mim mesmo pela minha
ingenuidade.
Aqueles que apanharam dos milicos “coisa ruim”, agora batem a
minha porta pedindo voto. Teve um que não apanhou, tinha um baita de um
bigode e dizia que as coisas boas seriam “espraiadas pelo Rio Grande”. Foi
eleito. Teve outro que falava muito em conteúdo programático do PT. (fala
até hoje neste tal de conteúdo programático e do jeito que as coisas andam
hoje, o conteúdo deste programa do PT deve ser pornográfico). Teve um
que dirigia o sindicato dos professores, foi para a política e foi eleito
vereador, de cara comprou um Audi, o mais completo e mais caro que
havia no Estado. Que empreguinho bom este de vereador de Porto Alegre!
Hoje ele é prefeito.
O Sindicalista Luis, ih, aquele nem se fala, me lembra do colega
comunista que trabalhava comigo, mais “enrolão” não havia igual. O
negócio dele era se dar bem sem ter que trabalhar. Tinha uma conversa de
mercador capaz de vender loteamento na Lua. Mais tarde, não o meu
colega, mas o “sem dedo” nos prometeu o céu e nos botou no inferno! O
Brizola já tinha nos alertado sobre este sapo barbudo chamado Luis e nós
não acreditamos.
Eu até acho que este senhor o Luis Sapo Barbudo da Silva
Sindicalista cortou de propósito o dedo numa máquina para provar que
estava trabalhando, do contrário quem acreditaria. Pelo que consta nunca
participou de movimento guerrilheiro, era apenas um vice alguma coisa
dentro do Sindicato dos Metalúrgicos. Agitou tanto que os milicos o
botaram de molho numa cadeia lá em São Paulo. Teve um advogado, seu
amigo, o tirou do xilindró, e por estas coisas do destino o doutor advogado
tornou-se milionário por causa destas “causas judiciais de Anistia”.
Pois então, o Sindicalista Luis se juntou com alguns que apanharam
de relho dos milicos. Alguns até levaram choque e “uns para te quieto”.
Um se borrou todo e entregou os parceiros do movimento guerrilheiro, é
uma mancha na sua carreira que provavelmente lhe tira o sono ainda. Este
cidadão dedo duro se envolveu com o malfeito e está condenado
atualmente pelo Supremo. Teve outra moça, mineira, revoltada que andava
armada com uma gang que matava e roubava. Às vezes usava o nome de
Estela ou Vanda, não lembro bem. Queixa-se até hoje que os militares a
torturaram, mas é assim mesmo filha, guerra é guerra. Os milicos deram
um corretivo nela para ver se a cabeça tomava juízo, mas não adiantou. É
duro mudar a cabeça de um comunista porque é difícil de acertar a ervilha
que tem dentro da caixa craniana.
No entanto, depois da anistia, esta senhora conseguiu um cargo de
secretária aqui na companhia de eletricidade aqui do estado.
Uma menina aqui na cidade, que está fazendo carreira no PC do B,
atualmente é Deputada Federal e apoia o maluco da Coréia do Norte. É
apaixonada por Fidel, pelo Guevara, pela Albânia antiga e comunista. Por
mais que a História conte para ela que estes, além de genocidas, afundaram
os seus países, ela faz vista grossa e tenta nos enrolar com retórica.
Comunista é assim, já nasce cego por natureza, não cego físico, mas cego
para a sensatez. Discutir com ele é perda de tempo. Deve ser alguma
doença! Com o salário que ela ganha lá em Brasília, logo, logo estará rica.
Quem diria uma comunista, ex-agitadora do grêmio estudantil de
uma famosa Escola Pública aqui na cidade, agora está cheia de
mordomia! Tem carro com motorista, avião de graça, um monte de
assessores em sua volta, defendendo os pobres, mesmo que na sua
juventude não tenha conhecido algum, pois era de classe média, não a
classe média de hoje para a qual os parâmetros mudaram radicalmente.
Hoje qualquer pé de chinelo é de classe média, antigamente tinha que
penar muito para alcançar a classe média. Hoje os comunistas nivelaram
por baixo: Tens uma geladeira, um fogão, uma lavadora e um celular,
parabéns, tu és da classe média, mesmo que more na favela e pegue dois
ônibus para chegar ao emprego.
Muitos anistiados se debandaram para o PT. Outros voltaram aos
seus partidos comunistas, alguns fundaram novos partidos para não dar
muito na vista.
Pelo que deu para ver, quando o general, aquele que só gostava de
cavalos, deu a abertura geral e irrestrita, os comunistas apareceram e eram
tão poucos que caberiam todos num ônibus!
Nunca vi o povo ir para a rua em defesa de comunistas em tempo
algum neste país. O povo brasileiro não quer saber de comunista e nunca
quis.
E a corrupção que já se encontrava instalada em Brasília mostrou a
sua cara.
Tenho a nítida impressão que durante a Ditadura deveria haver nos
porões lá de Brasília, alguma escola superior de falcatruas, pois não é
possível que tenha surgido tanto corrupto depois da abertura política. E são
todos eles juntos, tanto de esquerda quanto de direita. Deveria ter alguma
Universidade com a seguinte grade curricular:
1° ano: Ciência da Fraude I
2° ano: Como Fraudar uma Licitação Pública
3° ano: Ciência do enriquecimento ilícito
4° ano: Como desviar as Verbas Públicas
Curso intensivo de verão: Política da Enganação
Esta suposta Universidade da esperteza estava aberta para todas as
correntes partidárias. Até os petebistas e pedetistas correram para se
matricular!
Tenho certeza que os pedessistas foram os primeiros formandos.
Quando se formaram trataram logo de criar outros partidos para despistar.
Aqueles coronéis lá do nordeste vieram dos partidos apoiadores dos
militares.
E aquele escorregadio empresário paulista, dizem que é dono da
Eucatex, condenado em tudo que é instância, de onde veio? – Veio do
mesmo partido.
Eu até acho que eles, os antigos pedessistas, eram os que
ministravam as matérias naquela escola. São tão antigos na política que a
corrupção leva os seus nomes estampados na testa.
Teve um Sociólogo chamado Fernando, depois da abertura política,
tratou logo de organizar um Partido de Centro-Esquerda, o PSDB, que de
esquerda nunca teve nada, era um direitista e entreguista do patrimônio
público.
Lembro-me bem que numa greve geral na Petrobrás, paramos tudo.
As refinarias de todo o Brasil nada produziam e o desabastecimento
começou irritar a população. A Grande Emissora de Televisão toda hora
noticiava as pessoas nas filas de postos de gás e gasolina reclamando: - É
uma pouca vergonha esta greve dos petroleiros!
As superintendências das refinarias (era o nome dado ao diretor
geral) estavam na maior tranquilidade deixando as coisas acontecerem sem
mover um dedo.
Em Brasília, o Congresso reunia-se às pressas para votar a quebra do
monopólio do petróleo, que era o sonho do Sociólogo e sua turma. Foi uma
covardia, grande parte dos deputados votou a favor da quebra do
monopólio da Petrobrás. Foi uma greve encomendada para um fim
específico, onde governo e sindicatos em conluio enganaram toda a classe
petroleira, e de roldão ludibriaram o povo brasileiro, aquele que um dia foi
às ruas reclamar que o petróleo era nosso.
Depois deste episódio em que eu, junto com milhares de colegas, fui
massa de manobra para interesses escusos, desisti de confiar em sindicatos
e sindicalistas, e desisti de confiar naqueles políticos.
Todavia, o pior estava por vir, pois o sindicalista-político Luis foi
eleito o mandatário da nação. O que de ruim tem o Sociólogo, o outro tinha
pior. Só fui aprender depois.
Mas voltando um pouco, o Sociólogo Fernando vendeu tudo que era
nosso e aí eu me pergunto: - Se ele é um sociólogo e os milicos não
gostavam dele, quando voltasse, enquanto político deveria ajudar o Brasil,
mas ele entregou tudo para os empresários e para os banqueiros, fiquei sem
entender, como pode? - Como é que pode vender estatais por preço de
banana? - Eu acho que sou um alienado mesmo.
A única coisa que vejo são os antigos figurões da política ficar cada
vez mais ricos. Os bancos, nem se fala, foram os que mais faturaram.
Para aprovar a emenda da reeleição, que beneficiaria o Sociólogo
Fernando, os deputados e senadores forraram os bolsos, dizem que foram
comprados e eu até acredito. O Sindicalista sem dedo disse que eram
trezentos picaretas.
O Sindicalista barbudo aprendeu bem, pegou os trezentos picaretas e
os especializou.
Este Sindicalista também foi Deputado Federal e durante o seu
mandato, com certeza deve ter sido matriculado naquela Universidade da
Fraude que eu me referi antes.
Quando o Sociólogo criou o protótipo da bolsa Família, o
Sindicalista malhou sem parar, dizia que era para enganar o povo, fabricar
vagabundo e ganhar voto. Quanto chegou ao Poder, a primeira coisa que
fez foi dar um incremento na Bolsa Família. É muito cínico este barbudo!
Depois da eleição os seus apadrinhados ou aqueles que o ajudaram
na eleição correram ao Planalto atrás de cargos e mordomias. Foi o que
aconteceu. Qualquer pé de chinelo e sem instrução assumia cargos
importantes no governo. Antes estavam matando “cachorro a grito”, e
agora “tava tudu juntu com o cumpanhero”. Os desastres não tardaram em
acontecer.
Como era tudo morto de fome, quando viram todas aquelas
facilidades, não deu outra, se lambuzaram no mel. Foi corrupção de tudo
que era jeito. O Sindicalista sem dedo era o professor.
Como os empresários, os banqueiros e os empreiteiros estavam numa
boa, a torcida era para que assim continuasse. O povo que se lasque!
O Sindicalista, para acalmar os ânimos, dava um monte de bolsa,
bolsa disso, bolsa daquilo e prometia o céu para a população.
Um coronel do nordeste, que era Senador, violava o painel de
votação do Senado e para não ficar muito feio, renunciou. Todo mundo
sabe disto, e ele, o coronel Sarney voltou para a política novamente pelo
voto lá no Amapá. Fiquei sem saber muito bem como pode, ele maranhense
ser Senador em outro estado. O homem é poderoso!
O Collor ensaiava voltar.
Um dos irmãos do Sindicalista Presidente foi pego na contravenção.
E aí eu fico pensando, o cara quando é pobre, não adianta sair da
pobreza por que a pobreza não sai dele.
Foram oito anos de governo e um escândalo por mês. No total de
governo foi uma centena de escândalos, um recorde! A farra com o
dinheiro público tornou-se banal!
Os sindicalistas se deram bem. Os comunistas se deram bem. Só
“coisa ruim” se deu bem. E desta vez não são os “coisa ruim” militares que
eu achava que fossem lá atrás na Ditadura. Estes sofreram a vingancinha do
PT e foram relegados ao quase ostracismo. Culpa deles também que não se
impõe.
Eu até acho que eles foram enganados, lá no governo Figueiredo,
pelos políticos matreiros da época: Sarney, Ulisses, Tancredo e outros. A
pressão foi grande, porque estes representavam a casta superior brasileira e
traziam na bagagem as procurações dos empresários, banqueiros e
empreiteiros. Tenho certeza que não representavam o povo, pois “coronel”
representa somente os seus interesses, o povo é apenas massa de
manobra.
E milico é assim, de soldado a general, segue o rei, sem se
importar que rei seja este. Quem era o rei na época? A classe dominante.
Simples assim. Se havia interesse americano, não era relevante, porque ele
sempre esteve presente no ocidente e trocava figurinhas com alguns
políticos brasileiros e com alguns empresários.
O que acontece hoje? Nós vendemos laranja, milho, café e açúcar,
etc. para os americanos. O que acontecia antes? Vendíamos milho, café e
açúcar, etc. Antes a gente comprava petróleo dos árabes e ainda
continuamos comprando petróleo, pois esta história da autossuficiência é
balela.
Todos nós reclamávamos da dívida externa brasileira e o Barbudo
diz que quitou a dívida e que estávamos emprestando para o FMI! O pior
de tudo é que, com a maior cara de pau foi para a televisão e disse com
todas as letras: “É chique o Brasil emprestar para o FMI.”
Fez o que mais sabia fazer: mentir para o povo brasileiro.
Entretanto, nós não protegemos nossos produtos como fazem os
americanos. Aqui nós ficamos gritando ao vento sobre o protecionismo
americano, que ao meu sentir estão certos. Porque não fazemos o mesmo?
A resposta é simples: Temos complexo de inferioridade e somos uma
eterna colônia.
Existem muitas maneiras de romper a soberania de um país, uma
delas é o comércio.
Durante a Ditadura, em que pese todo o desenvolvimento que
tivemos, abrimos a porteira em demasiado. Quando digo que os milicos
servem ao rei, porque na sua cartilha assim está escrito, este rei pode ser
um sistema, um ditador, um dirigente, um tendência ou uma influência. Sou
capaz de apostar que os políticos da Arena e do MDB deram uma rasteira
nos milicos. Tanto é verdade que o Brizola, lá atrás, já havia convencido o
comandante do Terceiro Exército a apoiá-lo no movimento da Legalidade.
Quando estourou a “revolução” foi uma “peleia” ter que fugir de
Porto Alegre, pois sua cabeça estava a prêmio. Socialista e defensor da
Reforma Agrária, O Brizola tinha uma fazenda no Uruguai. Sou um
alienado mesmo, como é que pode um socialista e combatente feroz do
latifúndio ter uma fazenda?
Entretanto, nós, gaúchos gostávamos do tio Briza. Durante a
Legalidade a rádio Guaíba foi instalada no porão do Palácio Piratini e
transmitia para todo o país “A Voz da Legalidade”, conclamando o povo
para garantir a posse do Jango. O Jânio Quadros era vice e o gaúcho Jango
estava lá na China. A Direita brasileira estava com segundas intenções em
não deixar o homem assumir a presidência.
As coisas não aconteceram da noite para o dia. Havia um processo
em andamento deste a morte do Getúlio. E aqui cabe uma observação:
O Getúlio, homem do povo, morreu; o Juscelino, homem do povo,
morreu; o Jango, homem do povo foi defenestrado; um general, que era
bonzinho, morreu; o Tancredo, homem do povo, morreu; o Ulisses
Guimarães, homem bom e do povo, sumiu; todos eles morreram
precocemente. A morte tem paixão por gente boa e os “coisa ruim” estão
aí ainda, atazanando a nosso vida.
O Brizola, lá do palácio Piratini, bradava contra as forças que
queriam impedir a posse do Jango.
Jânio quando renunciou disse que foram forças ocultas que o fizeram
desistir e a sua famosa frase era emblemática: “Fi-lo porque qui-lo!”
O pessoal da Base Aérea de Canoas por pouco não largou umas
bombas no palácio, se não fossem alguns sensatos que impediram o banho
de sangue.
Quando tudo se resolveu, o negócio era desarmar as baionetas,
descarregar os fuzis, desmontar as barracas e ir para a casa.
Ufa, foi por pouco.
Bom mesmo era escutar os “Beatles”, e não era alienação não, a vida
estava correndo bem.
Havia dificuldade, havia sim, mas já era assim antes de todos estes
entreveros. O negócio era trabalhar porque emprego tinha a rodo, antes e
depois da “revolução”.
Vagabundo não tinha vez.
Aluno mal educado estava ferrado.
Jovem delinquente? Nem pensar!
Ah, mas uma coisa estava ruim, não havia pardal, bem-te-vi e sabiá
que chegasse. A gurizada fabricava fundas cada vez mais fortes e ia à caça.
A passarinhada já sabia e era um “salve-se quem puder” na fauna.
Matar passarinho era herança dos imigrantes italianos, pois quando
foram largados lá pelas bandas de Caxias. O cardápio era comer passarinho
com polenta.
Hoje passarinho é uma praga, no bom sentido é claro. E eles não
estão nem aí para nós, porque tem certeza que a gurizada de hoje não vai
incomodá-los. E eles têm razão, com que a gurizada de hoje se ocupa? -
Maconha e videogame.
Na época maconha era muito raro e vídeo game era inimaginável.
Os filhinhos de papai é que gostavam de maconha e foi um longo
caminho até a maconha chegar ao morro. Para ficar doidão era com
cachaça, conhaque e graspa.
De vez em quando tinha uns “rolos” com briga de facão ou um
quebra - quebra, mas fazia parte da cultura gaúcha.
O uso de faca é tradição dos gaúchos, por que nunca foram
bonzinhos. O lampião, Rei do Cangaço, foi café pequeno perto da
gauchada. Muita gente tinha medo dos gaúchos por causa da mania de
degolar os inimigos. Além de ruins, os gaúchos eram exibidos, porque
posavam para foto com a faca no pescoço do pobre coitado antes do
serviço.
A judiaria começou lá na Revolução Farroupilha quando os
Lanceiros Negros foram todos degolados. Foram eles que pagaram o preço
pela derrota e foram assassinados pelos seus próprios companheiros de luta
porque este foi o acordo com o Império. Foi uma pena porque foi lhes
prometido a liberdade depois desta guerra estranha.
Os Farrapos nada mais foram que massa de manobra para grandes
interesses. E assim é hoje.
Voltando à maconha. Era moda de alguns riquinhos, pois se
espelhavam no movimento hippie de paz e amor livre.
A gente copiava tudo, alias, sempre foi difícil para nós adquirirmos
uma identidade própria. Até calça Lee a gente pedia para alguém trazer de
fora porque era moda na América. Sinônimo de status era usar calça blue
jeans e ter um gravador de fita cassete.
Encomendávamos as muambas, às vezes pedia uísque e relógio. O
governo fechava os olhos.
Apenas como adendo. Cuba hoje, ano 2013, está igual a nós em
1965, mais ou menos. Esta ilha parou no tempo e está, no mínimo, com 50
anos de atraso! Para quem adora o comunismo, esta é uma de suas
aberrações. Se compararmos o Brasil com países desenvolvidos, estamos
no mínimo com 30 anos de atraso. Logo, comparar Cuba com os países do
primeiro mundo é algo em torno de 80 anos, isto é, a ilha ainda está na
revolução industrial!
Até os grandes traziam as mercadorias de fora na calada da noite ou
do dia. Uma emissora de televisão, unha e carne com a Ditadura trouxe da
América, não sei como, equipamentos ultramodernos e formou a maior
emissora de televisão do país. Deve ter pagado imposto, ainda não
sabemos. Se não pagou também não vem ao caso, pois quando adquiri a
minha primeira calça Lee, ninguém me cobrou imposto, então está tudo
bem!
O ano ainda é 1964, o jornal Última Hora aqui da cidade fechou as
portas e deu lugar para há Zero Hora. Não sei bem porque fechou, é
irrelevante.
O novo jornal, com cara nova, de uma família de judeus.
Em 1968, o pau comeu, a coisa estava feia, era milico de um lado e
estudantes do outro. Fui consultar à Zero Hora deste ano, pesquisar por
puro interesse histórico, nada achei, o que vi nas suas páginas foi: Uma
nova canção do “Rei”; um bombeiro herói que salvou um cachorrinho; uma
noticia de baile aqui e ali; algumas notícias da alta sociedade, etc., e nada
sobre revolução, golpe de estado, confronto de estudantes, nenhuma notícia
do exterior, nadica de nada. Aí eu pensei, pode este jornal estar apoiando a
Ditadura também, além daquela poderosa emissora de televisão. Ninguém
me respondeu. Deu-me um estalo:
Os empresários ficarão sempre do lado certo, pois precisam defender
os seus negócios.
Aleluia! Não sou mais um alienado total!
Aí eu entendi o porquê na década de 80 o Sociólogo Fernando ter
criado o PROER, foi para salvar os banqueiros que estavam falidos. Na
realidade nós que pagamos. Também vendeu as empresas de telefone e
outras estatais, vendeu, não, deu de mão beijada.
E o homem (o Sociólogo) tem tanta sorte e eu acho até que ele é um
abençoado, pois quando terminou o seu mandato, alguém muito rico lhe
deu de presente uma verdadeira fortuna para que fizesse uma fundação com
o seu nome. Eu tenho vergonha de dizer o valor porque é inacreditável a
quantia em dinheiro que este cidadão recebeu, e com certeza foi o nosso
dinheiro também.
Por que sou ainda um pouco alienado, fica difícil eu entender a razão
de entregar o patrimônio público sempre para os mesmos. Este senhor, por
alguma razão que a razão desconhece, mexeu de tal maneira na nossa
economia que a partir de então só patinamos.
Os índices são mascarados para não dar muito na vista.
Mostrou sobremaneira que o povo brasileiro tem complexo de
inferioridade: Fez um real valer um dólar. Ora, imaginem só um país como
os Estados Unidos, sendo a maior economia de planeta, tendo sua moeda
como referência no mundo, tê-la comparada ao Real, moeda de um país de
terceiro mundo? – É muita petulância mesmo!
O Brasil estava recém saindo de uma hiperinflação, crescimento do
PIB pífio, parque industrial ainda em processo de recuperação e
dependência de petróleo, como poderia fazer frente ao gigante? – Deu no
que deu! Teve que vender tudo que era possível e com o aval daqueles
políticos que fizeram curso de maldades na Universidade da corrupção lá
de Brasília.
E tudo era passível de venda no Brasil: Estrada, Portos, aeroportos,
rodovias, mineradoras, companhias elétricas, companhias de telefone,
Petrobrás, etc. Tudo que fosse do Estado iria para a iniciativa privada.
Para tratar do petróleo o Sociólogo colocou logo o seu genro para
administrar, afinal o seu genro era mais confiável do que o genro dos
outros.
Mas antes do Sociólogo tivemos o Coronel do Maranhão. Este sim
fez chover para cima aqui no Brasil. Foi ele, o vice de Tancredo que
morreu na véspera da posse.
O Coronel maranhense era presidente do PDS, que era a antiga
Arena, parceira da Ditadura.
De repente o Coronel se “estressou” com o seu partido e renunciou a
presidência e pediu para sair. A grande Emissora de televisão mostrou ao
vivo a renúncia do Coronel do Nordeste do PDS e a sua filiação ao PMDB,
antigo MDB. Tudo combinado.
No outro dia virou vice do Tancredo.
Entretanto, aquele baixinho que começo sua carreira política lá em
São João Del Rei, era um mineiro astuto. Tinha uma política particular de
ficar sempre em cima do muro. Durante a Ditadura, ele circulava nos dois
partidos antagônicos e todos o respeitavam. Os empresários devem ter
pensado que o mineirinho era bom para os negócios, e para garantir o
sucesso trouxeram também o coronel do nordeste.
Por estas trapaças da vida morreu o mineirinho e assumiu o Sarney
(coronel do nordeste).
Ele tentou nos salvar da inflação. O pior é que nos afundou mais
ainda. Até eu fui fiscal dele nos supermercados verificando se o
comerciante estava remarcando, o que era proibido. Coisa de coronel do
nordeste que mandava e desmandava. Só ele achava que mandava é claro.
Criou dois planos econômicos e trocou a moeda duas vezes.
Ferramo-nos totalmente e quem riu de nós foram os banqueiros,
como sempre.
Mas havia um ex-playboy em Alagoas “combatendo” os marajás do
serviço público, e a casta brasileira achou nele uma salvação, e nós
também. Doce ilusão!
Com tudo isto o Sociólogo Fernando aprendeu bem.
Tinha um sapo barbudo na cola do Sociólogo, querendo ser
presidente também, mas ele tirou de letra, ainda mais com todo o
empresariado nacional do seu lado.
Eu preferiria continuar sendo um alienado mesmo, mas foi muito
difícil, lá fomos nós recorrer à justiça para reaver perdas salariais de todos
estes desmandos. Alguma coisa a gente reviu, outras caducaram e algumas
continuam até hoje.
Dentro destes desmandos, o que nos deixou mais estressados foram
os juros imobiliários. A gente comprava um apartamento e depois de anos
pagando ainda estávamos devendo mais dois apartamentos! E como dizia o
Chico Anísio: “E o salário? Ó!”
Entretanto não tinha jeito, tinha que trabalhar e bastante. Para vencer
mesmo só trabalho e estudo e a gente “tocava ficha”, como se diz por aqui.
E o PT esta aí, firme, quer dizer, estava lá firme e nos prometendo
mundos e fundos.
O Sindicalista barbudo ia para a campanha presidencial e falava
igual um Estadista. Era, ou se fazia parecer um intelectual, embora muitas
vezes esquecesse que na língua portuguesa tem plural ou então quando
queria dizer “nós fomos”, ele dizia “nóis fumu”, mas graças a Deus nunca
falou “nóis vortemu”. Uma derrapada aqui e outra ali, ele dava o seu
recado.
O Sociólogo era mais imponente, afinal ele tinha curso superior e o
sapo barbudo, coitado, mal fez o curso no Senai de Torneiro Mecânico e
para o nosso azar ele parou de trabalhar na metalúrgica.
Felizmente ou infelizmente o Sindicalista tinha carisma e os
empresários passaram a achá-lo simpático. Até eu já estava com uma
quedinha pela figura. Já nem lembrava mais daquela implicância que tinha
contra os enrolões sindicalistas lá da empresa onde trabalhei. A minha
chefia, que era classe A, tinha horror daquela criatura. E como o chefe não
gostava, a gente gostava só para implicar!
O Sociólogo mostrou para o que veio: O roubo era livre.
A nossa soberania, que já era pouca, foi para o espaço. Já não
tínhamos mais nada.
De estatal mesmo só restou órgão do governo e mesmo assim era
colocado em postos chaves sempre alguém ligado a empreiteiras, bancos e
grandes empresas. E a gente da plebe rude só tinha que aceitar.
O PT começava a colocar suas “manguinhas de fora”. Elegia um
prefeito aqui, outro ali. Conseguia alguns governos de Estados e começa a
implantar seu modo de governar, ainda incipiente, mas o suficiente para
causar algum desconforto.
Todavia o objetivo era inchar as máquinas dos executivos somente
com petistas raivosos.
O Pc do B sempre ficava na carona do PT.
Em tempo: O Pc do B nem deveria existir, pois não serve para nada
e fica sempre parasitando o PT ou juntando as migalhas que sobram dos
petistas. Seu apoio ou desapoio nem faz cócegas!
Aqui na cidade a Secretária e ex-guerrilheira Vanda ou Diana, pelo
menos estes eram seus nomes, já estava montando a sua cama.
Aqui também teve um governador do PT que, a história não conta
direito, mas ele, ou é um ex-fujão da ditadura, ou urinou nas calças quando
a pua apertou.
Outro fez plástica no rosto e ficou por aí escondido nos matos, voltou
triunfante depois de ter combatido os mosquitos e foi ser ministro do sapo
barbudo, ficou riquíssimo sem nunca ter trabalhado.
O que me intriga é que estes comunistas nunca trabalham e estão
todos ricos, ou Deus é justo ou o Diabo é justo!
O sapo barbudo quando foi para o Planalto, foi só com a roupa do
corpo, quando saiu depois dos seus oito anos de mandato, foram precisos
onze caminhões para levar as suas “coisas” de volta para sua casa.
Homem de sorte e abençoado!
O outro, um negrão, e era assim que ele gostava de ser chamado,
apaixonado por Brizola, trabalhou nos Correios e Telégrafos e era coerente
com as suas ideias e ideal. É daqueles que sempre acreditou que a
Educação deveria ser a prioridade de um país.
Estes são “de fé”. O Brizola também tinha esta convicção e quando
foi Governador do Rio de Janeiro a colocou em prática, junto com Darcy
Ribeiro, a construção dos CIEPs, dando educação integral para as crianças
cariocas.
Brizola saiu, os CIEPs acabaram. Dar muito estudo é perigoso!
Aquele ginásio que eu fiz realmente ficou no passado. Na cabeça de
milico o estudo é coisa séria, tanto é que até hoje as escolas militares são as
melhores escolas do país. Quem não gosta de povo muito estudado é esta
corja de políticos que temos hoje. Foi mole para direita brasileira
convencer os militares para dar uma relaxada no ensino brasileiro.
Influenciados pelos americanos foi criado o acordo MEC-USAID que a
gurizada de hoje nem sabe o que foi. É uma pena que os milicos cederam.
Acabaram com o ginásio e o transformaram em Ensino Fundamental com
redução de um ano, e só um turno.
Pronto, nossos jovens ficam mais burros.
Duro é ver que depois da abertura política, aqueles mesmos que
combateram o “Acordo” continuaram com o mesmo processo de “quanto
mais burro, melhor”. E foi assim e é assim!
Quando o PT chegou ao poder aqui na cidade teve a luminosa
ideia de, no ensino Fundamental, o aluno passar de ano, mesmo que
rodasse nas provas, a tal de “progressão contínua”. Chegamos ao
cúmulo de ter alunos analfabetos na 5ª série! A desculpa era de que a
criança poderia ficar traumatizada se rodasse de ano!
Esta geração são os adultos de hoje que estão roubando,
matando, traficando ou se drogando. Culpa de quem? A resposta é
óbvia! É o sucateamento da Educação!
Outras reformas mais nocivas na Educação, por conta dos
esquerdistas, era o de o aluno ficar livre para desenvolver sua criatividade,
tudo muito moderno, mas tinha uma má intenção muito maior por detrás
desta liberdade.
Aplicar um método que deu certo nos países do primeiro mundo, não
quer dizer que daria certo num país atrasado como o Brasil. Não deu certo e
não está dando certo.
Em termos de Educação estamos atrás de muitos países de quinto
mundo, os índices internacionais estão aí para provar. A Educação no
Brasil nunca foi prioridade! O acordo feito lá atrás na Ditadura ainda vale
para hoje, e já se passaram 40 anos!
Logo após a abertura política, o PTB já não era mais do tio Brizola, a
filha do Getúlio tomou para si e o velho teve que fundar o PDT e levou um
monte de gente da esquerda trabalhista para dentro do partido.
A antiga Arena virou PDS. O antigo MDB virou PMDB.
O antigo Partidão, o PCB reabriu as portas depois da proibição, mas
não vingou, foi criado o PC do B. e daí em diante foram criados diversos
partidos, cada um mais esquisito do que o outro. Misturaram tudo sem
pudor, sem ética, incoerentes e vazios:
Partido Comunista Liberal
Partido de Direita Esquerdista
Partido Comunista Católico
Partido de Extrema Esquerda Moderada
Partido Socialista Católico
Partido Conservador Progressista
Claro não eram estes os nomes, entretanto em função de suas
atuações, bem que poderiam ser estes os nomes.
Depois do Coronel Sarney veio o Collor, quarentão, cheio de ideias,
disse que os nossos carros eram umas carroças e logo depois abriu as portas
do Brasil para as montadoras de automóveis.
Antes de ser eleito, durante a sua campanha à presidência, viajou
para a Europa e Estados Unidos. Deve ter ido pedir benção, o certo é que
depois de eleito, as montadoras vieram com fome de leão. Também, com
isenção fiscal e mão de obra barata, quem não queria esta mamata?
Era um gurizão exibido e até de caça da FAB ele voou. Passeava de
Jet Esqui, cabelo bem penteado, parecia eu quando era adolescente quando
passava Glostora no cabelo, ficava lisinho e brilhoso.
As más línguas dizem que ele se queimou por causa duma FIAT
ELBA. Mas então, o seu tesoureiro de campanha e sua namorada foram
mortos, seu irmão morreu e sua mãe morreu. Nossa Senhora, quanta
desgraceira. Ele ainda dizia que tinha “aquilo roxo”. Teve uma história de
dólar no Uruguai. O certo é que o Congresso pediu o seu impeachment. Ele
renunciou antes, mas foi caçado mesmo assim.
Durante o seu curto governo o estrago foi grande. Confiscou nosso
dinheiro e levamos muitos anos para reavê-lo. Entretanto mal ou bem a
indústria começou a produzir alguma coisa e até carro moderno a gente
podia comprar.
Ah, esqueci, teve o tal de Delfin antes, que inventou a Correção
Monetária para a alegria geral da nação bancária e empresarial.
Corria nos bastidores que esse senhor, com nome de golfinho, não
cobrava menos que 30% de propina quando era Ministro, mas tudo isto é
fofoca. Naquela gestão tinha somente gente honesta...
Collor foi alijado e o vice assumiu, era o homem do topete que até
relançou o Fusca. Não vingou, esse mineiro era um nostálgico. Itamar, o
seu nome, tinha um Ministro seu que fez algumas melhorias e se saiu bem
na mídia, era o Sociólogo Fernando. Logo seria eleito presidente.
Nesta altura dos acontecimentos, o congresso já tinha se
especializado em maldades, colocaram em prática tudo que aprendera na
Universidade da Corrupção. Para conseguir o diploma definitivo, teriam
que praticar e praticaram!
Havia uma pequena oposição no Congresso que criticava
diuturnamente a base aliada do Sociólogo. Era pura inveja.
Os escândalos financeiros eram colossais.
O Congresso legislava em causa própria.
Quem mandava no país eram os banqueiros que faziam e desfaziam.
O Supremo Tribunal Federal se transferiu para o céu, porque as
ações demandadas por cidadãos comuns demoravam tanto que este morria.
Lá no céu poderiam acompanhar as suas ações de perto.
Se você devia para o Estado o rigor da lei te atropelava, se o Estado
devesse para você, virava Precatório e para receber o que te era devido,
somente uma ou duas encarnações depois.
O Sociólogo vendeu tudo! Foi uma Feira de Liquidação!
Até o ar, que pensávamos que era nosso, já estava sendo explorado
por uma empresa estrangeira. Uma empresa chamada White Martins tinha
no seu prédio o idioma inglês falado. Brasileiro não subia do segundo andar
para cima.
Lembro que no antigo jornal “Última Hora”, predecessor da “Zero
Hora”, havia uma charge de um índio falando inglês lá na Amazônia, e já
se passaram mais de 40 anos, hoje eles não somente falam inglês, mas
também rezam a bíblia das ONGs estrangeiras.
Eu sinceramente não sei o que falta ao povo brasileiro, se é
autoestima, vergonha ou outra coisa qualquer. As coisas se arrastam num
desmando e entreguismo durante décadas e nada muda, parece doença!
Este mesmo Sociólogo, supostamente antipatizante com este tipo de
procedimento da gestão brasileira, fez muito pior depois.
Era um prato cheio para o PT que combatia ferozmente toda esta
subserviência.
O tio Brizola falava em “interésses” internacionais.
O Jânio falava em “forças ocultas”.
O baixinho Getúlio também se queixou destas forças e não aguentou
a pressão.
O Jango entrou em depressão e foi embora para o Uruguai. Morreu
lá.
Quem rezou a cartilha do novo sistema se deu bem, completaram os
seus mandatos e ficaram ricos, por agradecimento é claro.
Quisera eu não saber de tudo isto. Faz mal para o estômago.
Ver as coisas desandarem e a população a mercê destas forças dá
gastrite.
Bom mesmo seria voltar ao passado, mesmo com o fedor que a
Borregaard exalava aqui em Porto Alegre, que acreditávamos que um dia
iria parar, e parou. Os empregos eram bons para quem estudava e se
dedicava como em qualquer tempo.
Nós podíamos andar na Praça da Redenção de noite e nada de ruim
acontecia.
Abastecia com qualquer trocado o tanque do Fusca e ia para
Tramandaí pela São Vendelino, era uma aventura. Às vezes ia de DKW
Vemag ou de Simca Chambord, que carrão! - Pedágio, Que é isto? - Beber
um pouquinho e dirigir, qual é o problema?
As gurias, todas de vestido “tubinho” com laquê no cabelo, dançando
o “iê-iê-iê”, mascando chicletes e paquerando a gente ou a gente
paquerando elas, os sorrisos denunciavam as nossas tranquilidades.
Ninguém “ficava” e nem elas mostravam os fundilhos. Havia certa
formalidade misteriosa e instigante, o que dava sabor à conquista. As
músicas tinha sentido e os cantores tinham, no mínimo, uma voz agradável.
Certa ocasião um negrão amigo meu levou-me ao clube “Nós Os
democratas” onde só entravam negros. Não sou tão branco assim e como
dizia este meu amigo para mim: - Tu não colocas o retrato do teu avô na
sala. Era um racismo tratado com bom humor. Entramos, nós dois juntos
no Clube e todos me olhavam e ele dizia repetidamente: - Ele está comigo.
O que fui fazer lá? Fui atrás de uma negra que havia me enfeitiçado, tinha a
minha idade e nós nos conhecemos numa roda de samba. A propósito, em
toda a minha vida não conheci nenhum negro com depressão, não que não
houvesse, é que a raça negra tem uma maneira de levar a vida que os
“brancos azedos” deveriam aprender.
Quando a modernidade chegou e a ”democracia” se instalou, brincar
com os negros, mesmo que eles nem dessem bola, virou crime. Só não é
crime chamar os germânicos de “alemão batata”, os japoneses de “china”,
os árabes de “turcos”, os nossos vizinhos da América Latina de
“castelhanos”, os nortistas de “aratacas”, os catarinenses de barriga verde,
etcétera, etcétera.
Os negros viraram “afros descendentes” e não mais pessoa “de cor”.
Eu sempre achei que eles, os nossos “chucrutes”, comerciantes árabes
floristas, comerciantes “árabes”, fossem brasileiros, que os floristas e
pasteleiros de olhinhos puxados fossem também brasileiros. Na minha
cabeça todos que nascessem aqui e formou este grande país fossem
brasileiros.
Ah! Os negros devem resgatar o seu passado e nós devemos uma
gratidão e desculpas a eles pelo período de escravidão!
Devemos também aos índios por que foram dizimados e maltratados
pelos colonizadores e por nós desbravadores.
Meu Deus, quanta hipocrisia!
Os europeus sempre foram desbravadores e colonizadores
contumazes. Têm eles alguma dívida com os negros e índios?
A escravidão faz parte de um triste contexto histórico e não é nossa
culpa. Se assim fosse, esta deveria ser atribuída aos ingleses, espanhóis e
portugueses. Se nem sequer tínhamos sido sedimentados como nação,
como poderemos ter alguma culpa?
Quando foram os índios dizimados, ainda estávamos formando uma
nação.
Dizer que a terra é dos índios é muito para a minha cabeça. A terra
Brasil é dos brasileiros e entre eles estão os índios também.
Os negros, índios e europeus formaram uma grande nação e
ninguém deve nada a ninguém.
E para matar esta questão de vez, nosso ancestral comum tem berço
na África. Pronto, somos todos afros descendentes, independente da cor da
pele.
Mas o PT insiste no tema racismo por algum motivo que ainda não
consegui vislumbrar, pois a alienação ainda faz parte do meu ser.
Não posso mais chamar o meu amigo negrão de negrão. Não posso
mais dizer que aquela coisa que ele fez é coisa de negrão. Não posso mais
fazer nenhuma piada pesada para o meu amigo negrão e fazê-lo rir e me
devolver uma piada mais pesada ainda, sobre a cor da minha pele, e darmos
gargalhadas. De um dia para o outro isto tudo virou crime.
Quando eu via o meu amigo preto lá em Ipanema, sentado na areia
do Guaíba, eu gritava para ele não se queimar muito. Ninguém dava
pelota. Se for hoje, sempre terá algum fundamentalista que irá me
recriminar. Culpa da esquerda.
Nós também tínhamos o maior respeito pelos “guris alegres” e eles
também se davam o respeito. Aqui na cidade tinha a boate “Flower’s”, a
primeira boate gay do Estado que detinha o respeito de todos. Tudo era
muito tranquilo e tinha o apoio da sociedade.
Hoje parece que tem um surto psicótico no meio, uma mania de
perseguição infundada. A sociedade sempre tolerou este comportamento,
pois não vivemos num Estado Islâmico.
A “turma” vivia no seu mundo colorido, os enrustidos viviam
enrustidos, os que tinham tendências continuavam com suas tendências e
não precisavam de nenhum apoio psicológico, pois cedo ou tarde sairiam
do armário e vida correria tranquila.
Ninguém fazia campanha a favor da homossexualidade e nem
apologia. Este negócio de orgulho gay é coisa moderna. Travesti,
transformista, seja lá o que for o nome dado para este comportamento não
alterava em nada a preferência sexual, que, aliás, é mais antiga do que se
pensa. Alguns pseudosintelectuais acharam que a homossexualidade
deveria ser tratada academicamente. E aí surgiram uns mais gays que
outros e que na prática em nada mudou.
A violência contra os homossexuais é pontual e jamais uma prática
comum e quando há, sempre parte de alguém problemático.
Durante a Ditadura, quando o Sistema deu uma aliviada nos
costumes, surgiu na televisão uma apresentadora que fazia um programa
sobre sexo, com alguma restrição. Especialista em sexo, ela foi eleita pelo
PT e iniciou uma grande carreira política. Dizem que ela praticou alguns
atos ilícitos, um deles era dinheiro desviado para sua ONG. Depois de
longa carreira foi nomeada Ministra de alguma coisa. Numa grave crise nos
aeroportos com atrasos e cancelamentos, ela, a Ministra, nos mandou que
relaxássemos e gozássemos, relembrando a época que ensinava sexo para
todos nós. Era uma senhora loira casada com um Senador do PT, e esse
quando discursava nos fazia dormir tal como fôssemos picados pela mosca
“tsé-tsé”.
Direitos resguardados para minorias deveria ser uma prática comum
em qualquer democracia, no momento em que se oficializam quais as
minorias e com direitos especiais, acabou a igualdade. As cotas raciais são
o maior exemplo de discriminação. Este é o meu pensar.
As oportunidades é que tem que ser dadas para todos
indiscriminadamente.
Não há dívida com os negros ou com os índios. Uma nação
desorganizada tem dívidas com todos os cidadãos. A nação é brasileira, o
país é brasileiro, o Estado é brasileiro e a terra é brasileira.
Entretanto esta senhora loira insiste em tratar as questões sexuais
como questão de Estado, fazendo constante apologia à homossexualidade e
incentivando crianças e jovens a se assumirem gays ou lésbicas ainda na
mais tenra idade.
E não é só isto, além de interferirem em comportamentos individuais,
a cartilha destes esquerdistas reza a maneira com que se tratam questões
exclusivamente familiares.
Por mais redundante que pareça, o cerne de toda a problemática
social que vivemos hoje no país tem origem na falta de Educação e quando
menos, na Educação inadequada e tendenciosa. Tudo começou com o
acordo MEC-USAID e agravou-se sobremaneira com a abertura política.
As pessoas não entendem isto com clareza porque a sua falta de
entendimento é fruto exatamente da falta de Educação. E este é o objetivo
claro do Sistema!
Durante a Ditadura, apesar do ensino de Organização Social e
Política Brasileira (OSPB) ou Moral e Cívica no Ensino Fundamental, não
me consta que houvesse alguma propaganda positiva do Capitalismo ou
negativa do Comunismo. Bem diferente dos tempos atuais em que se
endeusa a esquerda Socialista. Havia sim uma campanha a favor das
maravilhas do Tio Sam. Entretanto, num contexto ideológico até certo
modo plausível, porque dependíamos muito destes e a nossa salvação
econômica e industrial ficaram atreladas por acordos passados.
Vamos analisar deste ponto: Será que, numa virada histórica,
dependêssemos da Rússia, nós poderíamos ter adquirido algum dia a nossa
autonomia? É evidente que não, porque a indústria soviética era
direcionada exclusivamente para a guerra fria enquanto no ocidente, havia
outros desenvolvimentos em todas as áreas, inclusive a guerra fria.
São culturas diferentes, enquanto uma ainda estava sob o domínio de
Tzars, a outra já se encontrava em pleno desenvolvimento industrial e com
uma democracia estável.
Quando a Revolução Socialista chegou em 1917 na União Soviética,
não era nada democrática e teve o custo de milhões de vidas.
Do outro lado do oceano, a nação mais potente do mundo nasceu
graças aos colonizadores europeus que tinham objetivos bem definidos e
entre eles a ideia de que a industrialização seria a chave para progresso, e
foi.
Na década de setenta muito se importou dos USA e antes muito se
importou da Inglaterra. Muito se importou também da Alemanha Ocidental.
Talvez até tenhamos contribuído para também sustentar a Guerra do
Vietnã.
Nas conversas de botecos, entre uma caipirinha e outra, alguns
exaltados falavam que navios americanos descarregavam mercadorias nos
portos brasileiros e, para fazer lastro na volta, os enchia de areia. Não era
qualquer areia, mas, uma chamada de areia monazítica que havia em algum
lugar da costa brasileira, principalmente no nordeste do país. Nunca
ficamos sabendo se ela ia de graça ou era vendida por preço vil. Quero crer
que, pelo caráter da turba entreguista, era vendida por preço de banana ou
retirada sem permissão.
Lá pelas tantas se falava também que as exportações do nosso café
para os EUA, deveriam, por força de contrato, ser embalados em sacas
como determinado tipo de linho. Estes sacos eram usados para fabricação
de uniformes para os militares americanos. Parecia lenda urbana ou delírio
de algum bebum. Na verdade, exportávamos mais café e se eles reciclavam
as sacas, faziam bem. Vender é sempre bom para quem produz. Se os
preços e as condições são desfavoráveis, aí então são outros quinhentos!
Certa ocasião, um piloto russo contrabandeou um avião de caça
soviético, o Mig 21, o mais moderno da época. Foi desmontado inteirinho
pelos americanos e o que eles encontraram foi uma tecnologia ainda
baseada na válvula eletrônica, pois os russos ainda não tinham acesso aos
novos avanços da eletrônica. Falava-se que os americanos fizeram chacota
da tecnologia, entretanto o Mig era o sonho de cobiça dos americanos. Já
tinham morrido de inveja porque Yuri Gagarin havia sido o primeiro
homem a subir no espaço, sem contar com a cadela Laika que orbitou a
Terra.
E para não deixar barato, os americanos foram logo para a Lua.
Esta tal de guerra fria serviu pelo menos para desenvolver a corrida
ao espaço e graças a ela, hoje eu tenho um forno micro-ondas em casa para
aquecer o meu arroz com feijão.
Era um zum-zum-zum. Os camaradas diziam que tinham tantas
armas atômicas e o Tio Sam dizia que tinha muito mais.
A China, durante a guerra da Coréia, na qual os americanos foram
corridos, dizia aos quatro ventos que poderia organizar um exército de
vinte milhões de homens para fazer medo aos americanos. Havia um clima
belicoso entre chineses e o mundo ocidental.
Os russos, ainda no embalo da segunda guerra se rearmavam.
Veio a Guerra do Vietnam, um duro teste para os americanos, criou
um clima de mais instabilidade no planeta.
A campanha aqui no ocidente foi intensa.
Nós, brasileiros fazíamos a nossa parte cantando a música: “Era um
garoto, que como eu, amava os Beatles e os Roling Stones... um
instrumento que sempre dá, a mesma nota, ratatata...mandado foi ao
Vietnam, lutar com Vietcong...
Na euforia da letra e da música muitos jovens nem se davam conta
que os Vietcongs eram comunistas e muito malvados. Os americanos não
ficavam atrás, estupravam, assassinavam civis e trucidavam, foi um horror.
Afinal, guerra de gentilezas não existe.
Entretanto muitos destes jovens que condenavam os Vietcongs
comunistas se tornariam também comunistas, por uma simples razão,
se o povo tem pouca memória, comunista não tem nenhuma.
O tio Sam levou um baile e um corridão dos norte - vietnamitas e o
saldo foi trágico para os americanos. Nem levo muito em conta as baixas
dos amarelos, pois eles nascem aos borbotões e a cultura do morrer é bem
diferente da nossa. Todavia é uma marca difícil de esquecer para ambos os
lados.
Na China, durante a Revolução Cultural, o genocídio foi mais
violento. Para implantar o regime comunista foi necessário dizimar em
torno de setenta milhões de pessoas.
No Camboja, logo após a Guerra do Vietnam, o Khmer Vermelho
dizimou vinte por cento da população em nome do regime comunista.
A Albânia, que sempre foi o orgulho dos comunistas, judiou muito
do seu povo, dizimou os católicos, assassinou seu povo em nome de um
regime que não vingou.
A Rússia, nem se fala, assassinava cidades inteiras, sem contar com
os campos de trabalhos forçados, um verdadeiro holocausto vermelho.
Todas estas informações chegavam até nós, no princípio como
propaganda anticomunista, através da mídia internacional e que a história
posteriormente traria a tona com todos os detalhes. Assim como hoje,
algumas verdades sobre a guerra do Iraque e do Afeganistão estão aos
poucos vindas à tona onde a participação americana foi determinante para
estabelecer o seu poderio na área.
Muito do que a gente comenta nas conversas de botequim, entre uma
cerveja e outra, na maioria das vezes a história vai mostrando em conta
gotas e depois de alguns anos, o que parecia uma bobagem acaba se
confirmando.
Mesmo com um pouco de alienação, sabemos que algo estava
acontecendo, embora desconhecendo a gravidade, e sabemos que algo de
muito ruim aconteceu e ficamos em dúvida muitas vezes se a imprensa nos
relatava os verdadeiros fatos, e estou falando de lá atrás na década de
setenta.
Sabíamos que o mundo era muito maior que os festivais de música
da Record. Sabíamos que, mesmo com as lindas musicas do Tim Maia,
havia algo de muito mais triste lá fora.
Do ano de 1964 até 1970, o alcance da nossa memória não
vislumbrou grandes escândalos. Embora houvessem, eram encobertos por
uma mídia censurada.
Letras de músicas, livros editados, jornais, revistas, teatro, televisão
eram censurados. Nas emissoras de rádio, o meio de comunicação mais
difundido, a mão de ferro da censura era mais pesada. Entretanto algum
escândalo não passava despercebido, como o escândalo do Adubo Papel,
embora tivesse levado algum tempo para ser descoberto.
Foi muito grave, mas comparado com o que veio nas décadas
posteriores, aquilo era coisa de criança sapeca.
Em que pese toda esta censura, sua lógica dizia respeito somente às
manifestações contrárias ao regime militar. E os militares se ofendiam
quando nós dizíamos que os seus atos eram de exceção. Tudo era
permitido, desde que não questionássemos as ações militares. Por isto a
vida seguia o seu curso normal e sem grandes atropelos, pois não havia um
fundamentalismo tão insensato como os, outrora perseguidos, esquerdistas
tanto inferem.
Evidentemente que muitos artistas naquela época provocavam os
militares e estes não davam conta de controlar constantemente. Muita coisa
passava incólume pelo crivo de alguns milicos desatentos. Muitas peças
teatrais, músicas, poesias e outras manifestações culturais mostravam o
descontentamento com a Ditadura, entretanto nenhuma tinha o cunho
comunista.
Lembro-me da primeira greve feita na Refinaria em Canoas na qual o
exército tomou conta do espaço, vigiando todos os cantos da área de
processo e administrativa. Eram soldadinhos bem novos e que tinha como
ordem revistar todos que chegavam. Certa ocasião num embate de palavras
entre um capitão e um funcionário mais exaltado, foi verbalizada pelo
funcionário que tal atitude era de exceção, para que foi dizer isto, quase foi
preso.
A música “Vida de gado... Povo marcado, Povo Feliz”, servia para
nós naquela época e serve para nós também no ano de 2013.
A Copa de Setenta nos deu o Tri Campeonato Mundial e nos fez
felizes e a música que nunca mais saiu da nossa cabeça: “Noventa milhões
em ação, Pra frente Brasil, Salve a Seleção” poderia ser repetida em 2014,
pois estamos na mesma condição de gado, povo marcado e povo feliz. E
por quê? – Porque votamos sempre nos mesmos corruptos.
Esta é uma herança maldita do governo do Sociólogo no qual um
sem números de escândalos e fraudes de toda a espécie assolaram o
país.
O coronel Sarney nos enfiou goela a baixo, dois planos econômicos
desastrosos. Deveu a ele o fato de o mesmo ter afiançado o estágio
probatório dos políticos mais corruptos que este país gerou.
Todos os mecanismos intrincados de corrupção e desvio de dinheiro
público foram testados e aprovados nesta gestão, para o horror dos
militares, que entregaram a nação para estes senhores na mais pura das
inocências. Quando perceberam o malfeito, já era tarde, a “democracia”
estava instalada sem condições de retrocesso.
Seus sucessores cumpriram o desserviço com maestria.
Collor foi com muita sede ao pote e tropeçou nos seus próprios
desmandos.
Itamar Franco apenas preparou a cama para o pior que estava por vir.
O Sociólogo quase terminou a primeira parte do serviço, e como não
deu tempo para concluir, comprou os deputados com a emenda da
reeleição. Foi uma festa. O dinheiro público jorrava das torneiras do
Congresso. Sem contar com as dezenas de fraudes e escândalos.
Durante a década de setenta, nós falávamos que pior que está não
pode ficar. Ficou mil vezes pior para o povo brasileiro.
Na década de noventa repetimos a mesma frase: Pior que está não
pode ficar. Ficou muito pior.
Todavia nem tudo é terra arrasada, os banqueiros multiplicaram seus
lucros. As montadoras passaram a lucrar mais, as Indústrias obtinham
incentivos fiscais. O superávit primário tinha seus valores acomodados ou
maquiados. O controle do dólar comia as reservas. A dívida externa nos
espoliava. A dívida interna só aumentava. Toda vez que tínhamos algum
ajuste na Economia, vinha aqui no Brasil um representante do FMI fazer a
fiscalização. Tudo tão estranho. Afinal, cadê a vergonha e a soberania do
país?
Para muitos a ficha caiu pela enésima vez: Continuamos uma
colônia.
Para tudo nós pedíamos benção e licença. Se não era para o FMI era
para o tio Sam e o nosso petróleo é negociado em dólar aqui e lá fora. A
nossa soja depende do valor ditado pela bolsa de Chicago. Não temos nem
capacidade de colocar preço nos nossos produtos, pois alguém de fora é
que faz isto. - O que foi que este Sociólogo aprendeu quando estava fora do
país? Ele não apita nada?
– É triste ter que responder esta pergunta, sim ele não apitava nada e
não tinha vontade própria.
Foi assim também durante a Ditadura.
O presidente Ernesto Geisel, homem simples e firme, disse certa vez
numa viagem que fez ao Japão, que gostaria de fazer muitas coisas em prol
do povo, mas não podia.
Eis o grande “X” da questão! O Sistema é o supremo comandante.
São estes entrelaçamentos do Poder é que impedem muitas
demandas.
Porque os generais que comandaram o Brasil durante a Ditadura não
enriqueceram? – Porque os brios que lhes eram inerentes assim não
permitiram, embora oportunidades não lhes faltassem.
Além de umas poucas mordomias que lhes eram suficientes, a
ganância nunca foi sua religião. Entretanto eles foram exceção.
Não me consta que os generais que comandaram o país saíssem com
um exército de seguranças como vemos os nossos presidentes atuais.
Evidentemente que ninguém seria louco o bastante para atentar contra
estes, e quando tentaram e represália foi imediata.
Os guerrilheiros, via de regra, atentavam contra soldados, sargentos e
estrangeiros desatentos.
Embora as más línguas tenham proferido que a morte de um ex-
presidente general tenha sido encomendada, com certeza não partiu da
guerrilha, e se partiu de alguém, partiu do Sistema.
Militares faziam cursos de especialização nos EUA e seus
antagonistas faziam curso de especialização em Cuba e na Rússia. É
evidente que o mais bem aparelhado teve a supremacia. Não é de bom juízo
culpá-los, pois afinal de contas estávamos em plena revolução.
E por estas obras do destino, se tivéssemos cedido o nosso país aos
comunistas, o que teria acontecido e em que patamar de desenvolvimento
estaria o Brasil?
Quando o general largou o osso e entregou o Brasil para a turma do
Tancredo, com certeza ele tinha esperança que estaria em boas mãos, afinal
mesmo tendo cabeça de milico ele achava que estava fazendo a coisa certa.
O Tio Sam bateu palmas, pois não era da índole americana ter uma de suas
“colônias” descontentes. Na filosofia americana a guerra é boa para os
negócios, mas tem que ter limite. O mais importante de tudo é a parceria
comercial.
Durante a Guerra do Vietnam, este país deixou de produzir café, e o
Brasil teve que suprir esta lacuna e vendemos café adoidado para os EUA.
Na época, os americanos já eram consumidores vorazes de petróleo, arroz,
milho, café, ferro, laranja, algodão, etc. quem produzia a maioria destes
itens? – O Brasil, é claro. Éramos um fornecedor de matérias primas e não
só para os EUA, mas também para a Europa.
Com um grande consumidor de grãos, os EUA tinham e tem a
regulação de estoques, uma estratégia que sempre deu certo. Grandes silos
e grandes depósitos de petróleo.
Aqui no Brasil muito se falava em controle de estoque e estoque
regulador, entretanto, a nossa capacidade de armazenagem era precária e
parte das safras era desperdiçada.
O Brasil era chamado de “O Celeiro do Mundo”, e ainda continua
um grande celeiro. Parece que as coisas no Brasil nunca se esgotam e é por
isto que desperta a cobiça dos estrangeiros. E ainda sofremos a “Síndrome
do Tupiniquim”, damos ouro em troca de espelho.
Tudo o que a gente tem, ou nós damos ou vendemos barato, está
no sangue, não tem jeito. A gente só é valente contra o Paraguai e
Uruguai.
Quantas vezes nós brincávamos que ao importar talheres da
Inglaterra, estávamos importando o nosso próprio ferro, o que não estava
longe da verdade. Era comum as madames trazerem calçados dos EUA nos
seus passeios à Nova York, e depois se davam conta que o sapato era daqui
de Novo Hamburgo. Nem notavam que a etiqueta estava escrito “Made in
Brazil”. E o que é pior, tirando a China, que até cocô embalado exporta,
ainda hoje a gente traz coisas do exterior que tiveram origem aqui.
Na década de setenta quem imaginaria que a China Comunista
estaria fazendo este papel de fornecedor para o mundo. Tínhamos medo da
China pela sua índole belicosa.
Mal e mal as nossas indústrias deram alguns passos adiante, vem a
China com seus produtos baratos e as quebram novamente. O Brasil não se
preparou para o mundo globalizado.
O “Milagre Econômico” durante a ditadura nos deu coisas boas
e coisas ruins, mas os esquerdistas só enxergaram as coisas ruins e uma
dela foi a concentração de renda na mão de poucos. Todavia a tal
concentração de renda se fez presente com muito rigor nos tempos do
Coronel Sarney e do Sociólogo, nada havia mudado.
Voltando um pouco na História do Brasil, a política “café com leite”
na qual os verdadeiros mandatários da Nação eram os ricos empresários de
São Paulo e Minas Gerais, tal fundamentalismo econômico perpetua-se
com novos agentes.
Os banqueiros e os empresários têm como base de sustentação
uma classe política que foi alçada ao Poder através de uma enxurrada
de verbas para suas campanhas eleitorais. Foi assim. É assim e será
assim. Mesmo na Ditadura esta troca de figurinha era bem visível.
Havia sempre uma conotação pejorativa para aquela turma que fazia
lobby no Congresso. Eram emissários e enviados especiais que
representavam os interesses de grandes empreiteiras, grandes empresas e
até empresas estrangeira a pressionarem de maneira incisiva os
parlamentares a votarem e aprovarem medidas que lhes favorecessem. A
gente olhava com maus olhos este “povo” e não é que esta atividade virou
uma profissão?! É evidente que estes não ficam lá no Congresso no cangote
dos senadores e deputados, pois o acerto já foi feito previamente. Ah, mas
não é bem assim, diria a “velhinha de Taubaté”, aquela que acredita
piamente em tudo que diz a classe política. Entretanto, um percentual
elevado de projetos de lei e emendas parlamentares diz muito sobre o que
estou inferindo. Eles não são tão bonzinhos assim e quando vemos da
tribuna algum parlamentar em um discurso inflamado, bradando:
É para o povo!
Em nome do povo!
O povo é o bem maior de uma nação!
Tudo pelo povo!
Eu fico me questionando que partido é este o “povo” que tantos os
políticos fazem referência?!
Quantos políticos do nada viravam fazendeiros, o que era moda na
época, mesmo sob as barbas dos generais. Se a “linha dura” não conseguiu
inibir estes malfeitos, imaginem hoje quando todos os Poderes estão
mancomunados. Hoje é uma faz de conta de independência de Poderes.
Para amenizar um pouco a ditadura econômica criada a partir
da abertura política, nossos atuais mandatários nos dão bolsas de tudo
e manipulam os índices econômicos. E para mascarar a desigualdade
social, nos tiraram da pobreza num canetaço. Dormimos pobres e
acordamos na classe média. Pronto, estamos felizes de novo!
Eu acho até que não fizemos a nossa parte, porque fomos inocentes
em 64 e continuamos inocentes quando o Figueiredo largou as rédeas.
Talvez não soubéssemos votar direito, pode ser, mas como saber o
comportamento do nosso representante?
Teve um Ministro da Fazenda no final da década de oitenta,
combatente feroz da gestão econômica do país na época, quando foi
nomeado para esta pasta mudou o discurso dizendo que não era bem assim
e que quando se está no Poder as coisas mudam.
Este comportamento é bem típico do político brasileiro que obedece
a um só Deus, o fundamentalismo econômico do Sistema vigente. O Plano
Econômico criado por este ministro deu uma surrupiada no nosso salário e
levamos muitos anos para reavê-lo na Justiça o que tínhamos perdido. Ele
como assalariado também entrou no Judiciário para reaver um grande valor
em dinheiro que o seu próprio plano lhe tirou. Em poucos meses embolsou
uma bolada e nós humanos mortais, levamos mais de dez anos, até que o
Supremo deu um “Chega Para Lá” em nós pobres assalariados e nunca
mais vimos a cor do dinheiro. Eu até acho que o Supremo Tribunal Federal
é somente para quem tem supremacia, pois a minha causa referente ao meu
imóvel financiado levou nada mais e nada menos do que vinte anos para ser
liquidada.
Sempre me causou espécie o fato de eu em condições exatamente
iguais ao meu colega de trabalho, a minha ação trabalhista não logrou êxito
diferente da dele que recebeu uns bons trocados por conta da medida
econômica equivocada deste ministro. E com referência a este fato, ouvi de
algumas “sumidades” é que cada Juiz tem uma maneira de interpretar a Lei
corroborando com o dito popular de que “cada cabeça, uma sentença”.
Quanto cinismo!
Depois que a empresa, uma grande estatal, deu um arrocho no
Judiciário, pois estava perdendo muito dinheiro por conta das indenizações
trabalhistas, de um momento para o outro, por um passe de mágica, as
ações foram todas julgadas improcedentes pelo Supremo Tribunal Federal.
Hoje, 2013, ouvi do presidente do Supremo que as decisões devem
também corresponder aos anseios da população, pois é ela que paga os seus
salários. Estava se referindo ao julgamento da Ação 470 que condena
políticos por corrupção e casualmente dois deles são aqueles que eu me
referi anteriormente que combateram a Ditadura, a sua maneira é claro, um
entregou os parceiros e o outro se escondeu no mato, “grandes heróis”!
Tenho a impressão que a nossa vida é muito curta mesmo. Esperar
que a nossa causa fosse um dia julgada no Supremo, esperar que o governo
nos pague os precatórios, o SUS faça a nossa cirurgia, o país do futuro
chegue finalmente, é necessário duas ou três encarnações aqui na terra.
Fomos um laboratório para Economistas sem escrúpulos durante a
Ditadura e depois dela. Foram tantos planos econômicos e tanta troca de
moedas e como consequência todos eles desembocaram num aumento
substancial da dívida pública e da dívida externa. E a conta sempre somos
nós que pagamos.
Se os serviços oferecidos estivessem à altura dos impostos que
pagamos, não teria sentido nós reclamarmos, entretanto se:
Para termos segurança, devemos contratar segurança privada;
Para termos boa escola, temos que contratar colégio particular;
Para termos pronto atendimento na Saúde, temos que ter um plano
de saúde privada,
Então, realmente os impostos são exorbitantes!
País de primeiro mundo tem altos impostos, mas oferecem uma
contrapartida equivalente.
Talvez mesmo não tendo uma identidade própria, o Brasil vai aos
tropeços e copiando tudo que tem no primeiro mundo, e que por tão forte
esta manifestação, às vezes fico refletindo sobre isto e concluo:
A falta de identidade do Brasil é a sua verdadeira identidade!
Não é possível que um país deste tamanho não tenha
autodeterminação, já passou da hora!
Não há filosofia que explique e não há mandinga que dê jeito.
Vivemos já há um século nas mãos de políticos malfeitores. Eu tenho
sessenta anos e quando eu era criança, as promessas já eram, há muito
tempo, acabarem com a seca no nordeste, e em cima desta promessa, quatro
gerações políticos se elegeram sem nunca terem esboçado um gesto sequer
para resolver o problema.
O presidente Luis sem dedo até iniciou uma construção controversa
de transposição do Rio São Francisco. Saiu os olhos da cara do contribuinte
e nem sequer foi concluída e aquele povo eternamente no sofrimento
depende da chuva para sobreviver.
É lá naquele ambiente árido em que a seca judia muito das pessoas,
que muitos políticos ficaram ricos desviando as verbas destinadas a acabar
com aquele sofrimento.
A seca do nordeste sempre foi uma torneira que jorrou votos
para aqueles safados e que infelizmente ainda estão por aí, impunes e
rindo dos pobres coitados.
No Japão, se planta nas pedras, pois a natureza do solo japonês é
difícil de lidar.
Em Israel se planta na areia do deserto.
No nordeste do Brasil não se planta porque só tem terra!
Ah, mas falta água! Ora, no deserto de Israel também faltava água e
mais, qualquer pessoa de inteligência mediana sabe que cavando no solo
nordestino a água aparece.
Um famoso apresentador de televisão cavou muitos poços no
nordeste e todos eles jorraram água, entretanto os políticos da área o
proibiram de continuar. Os carros pipas e as cisternas eram munição para
votos fartos, água em abundância, jamais!
É triste e lamentável que isto ocorra durante décadas e ninguém com
“aquilo roxo” dê uma solução.
As empreiteiras adoraram quando o Luis sem dedo prometeu a
transposição do rio São Francisco, pois embolsaram um bom dinheiro
antecipado e ainda querem mais para pensar em terminar a obra.
A função social desta transposição, em que pese às manifestações
contrárias dos ambientalistas, deveria ser a prioridade. Pelo que vemos a
função prioritária ainda é abocanhar um punhado de dinheiro público fácil.
A corrupção está no DNA brasileiro, ofenda-se quem quiser. Nossos
ancestrais foram os degredados de Portugal e depois os exploradores.
Ah, mas corrupção existe em todos os países! Sim é verdade e
também é verdade que a punição quase sempre é exemplar. Eu até gostaria
que o político corrupto que fosse pego com a mão na botija, cometesse
haraquiri pela vergonha do feito, mas não é possível, pois para cometer tal
ato extremo precisa, a princípio, ter vergonha, o que nunca é o caso dos
nossos políticos.
Em relação aos nossos economistas, dependentes de políticos
malfeitores e estes são dependentes dos economistas. Ora executam uma
política econômica voltada para o mercado externo, ora executam uma
política econômica voltada para dentro e ambas antagonizando-se entre si.
Política em longo prazo, nem pensar, o imediatismo é o que lhes rege.
Jamais alguém teve a ousadia de investir maciçamente no âmago da
problemática.
Em 1973, quando eu estava fazendo o curso de piloto militar no
Centro de Formação de Piloto Militar da FAB, o meu instrutor me
orientava sempre que eu deveria olhar para frente e ter sempre uma visão
radial, perceber o que estava nos lados sem mover a cabeça.
Infelizmente a visão econômica e política não são radiais. O Brasil
não se preparou para a globalização e não se preparou para os momentos de
crise interna e externa. Todos os feitos são imediatistas.
Durante a Ditadura, mesmo sob protestos, a Itaipu foi
construída. Aplausos para os militares, pois esta foi uma obra para o
futuro do Brasil e assim se confirmou. Dentre as “obras faraônicas”
(assim eram chamadas as obras realizadas no período militar) muitas
estão aí em pleno desenvolvimento.
Agora analisem a construção de estádios de futebol no ano de 2013 e
que, indubitavelmente, ficarão ociosos depois da Copa do Mundo,
desperdiçando milhões de dólares para realizar somente (pasmem) duas ou
três partidas de futebol. Daqui a trinta ou quarenta anos quando alguém ler
nos jornais “antigos” este fato, não acreditará e vai achar que é tudo
invenção da mídia. Para nós que estamos vivendo o fato já é um absurdo!
A impressão que fica (e não precisa ser muito observador para notar)
é que: o que Getúlio fez permanece, o que Juscelino fez permanece, o que
os militares fizeram ainda permanece. E, todos, com exceção do Juscelino,
eram ditadores. Opa, espera aí! Então os ditadores pensavam no futuro do
país? – É paradoxal, mas é verdade.
Porque o caminho entre a ideia e a execução era mais curto, apesar
da burocratização do Estado.
Tivemos sim no passado um ministro da desburocratização, mas
parece que as coisas voltaram à estaca zero no período democrático.
Hoje se paga o estudo do projeto, o projeto do estudo, a viabilidade
da obra, o estudo da viabilidade da obra, o projeto em si, a viabilidade
ambiental, etc. Se tem um ninho de coruja na coluna da ponte que custou
um milhão de dólares, a obra deve ser interrompida. Se algum passarinho
bonitinho resolveu fazer morada no terreno destinado para construir um
hospital, tal obra encontra resistência. Se uma barragem tem que ser
construída para resolver o problema energético de milhares de moradias e
pequenas indústrias e o terreno é um possível quilombola ou tem uma taba
com meia dúzia de índios, o projeto é inviabilizado, e coisa deste tipo.
No meio urbano as coisas são diferentes, se vai haver uma grande
obra e no terreno existem pessoas com suas humildes moradias, elas serão
reassentadas em outro lugar muito mais confortável. É um procedimento
comum que dá sempre certo.
Quando o Estado gasta um montão de dinheiro para salvar uma
espécie em extinção chamada de ararinha azul, entende-se, por um simples
silogismo, que o mesmo tratamento será dado para reformar um hospital ou
escola, e na verdade não é isto que acontece. É fácil e tendencioso ceder às
pressões de ambientalistas, que na maioria das vezes têm suas necessidades
básicas completamente resolvidas. Eu particularmente nunca vi um
ambientalista lutar pelos direitos básicos das pessoas carentes.
Salvem as baleias!
Salvem o mico leão dourado!
Salvem a ararinha azul!
Salvem as tartarugas!
Seria bonito ver todos estes ecochatos dizerem:
Salvem as crianças abandonadas!
Salvem as crianças famintas!
Salvem os idosos maltratados pelo SUS!
Salvem as mulheres da violência!
Não quero dizer que os bichos perigos de extinção não tenham o seu
devido valor, mas vamos e convenhamos, cada coisa no seu lugar e a
prioridade é evidente.
Este surto de tornar uma questão bem particular em universal parece
ser uma doença dentro de uma gestão desorganizada.
Há pouco tempo atrás aqui na praia de Torres, litoral norte do Rio
Grande do Sul, os festejos de ano novo tiveram que ser cancelados. No
local onde os fogos de artifício seriam explodidos na virada de ano
poderiam incomodar uma família de corujas que resolveu fazer morada
justo naquele lugar. Se a equipe de biólogos, que está sempre de plantão
no litoral gaúcho tratando de pinguins, leões marinhos e outros animais que
aparecem na costa, movesse esta família para outro lugar também
adequado, tudo se resolveria. Muitos criticaram o exagero e a comunidade
fez um sorriso amarelo, pois toda aquela expectativa do festejo foi por água
a baixo.
É assim mesmo, somos conduzidos por um Sistema midiático
imediatista. Somos incapazes de raciocinar e ponderar e é assim que o
Sistema nos quer. E por sermos incapazes de ponderar nos tornamos
fundamentalistas.
Hoje convivemos com um fundamentalismo ambiental.
Ficamos a mercê de um fundamentalismo econômico.
E por mais paradoxal que possa ser, vivemos num fundamentalismo
democrático!
Parece irreal existir uma democracia fundamentalista, mas ela existe!
Democracia fundamentalista é a inversão de valores, os mais básicos
e retumbantemente lógicos.
É onde os direitos se sobrepõem aos deveres.
Onde os deveres de cidadão não são mais deveres, são concessões
para com os outros cidadãos e para com o Estado.
Onde os direitos do cidadão são a obrigação do Estado sem a
contrapartida do cidadão para com o Estado.
Volto ao passado lá em 1994, e passa pela minha cabeça novamente
o cenário insólito (para mim) no hotel Plaza aqui e Porto Alegre quando
adentrou na portaria deste mesmo hotel um táxi Passat com um famoso
bandido foragido do sistema carcerário. A mídia da cidade estava em peso
no local acompanhando as negociações para a rendição do bandido. Foram
muitas horas de apreensão quando finalmente, depois de todo o estrago
material e emocional que o meliante fizera, um representante dos “Direitos
Humanos” leva um colete à prova de balas e entrega ao bandido para que
ele se proteja durante a prisão.
Poucos brigadianos usavam proteção, pois a Brigada já era carente
na época.
A proteção do bandido pelos representantes dos “Direitos Humanos”
foi emblemática.
Entendo claramente que o Estado o protegia, por força da lei.
Entendo que o Estado estava cumprindo o seu papel em proteger a vida de
qualquer cidadão, entretanto o carinho dado ao bandido famoso foi tão
visível, que despertou a ira de muitos curiosos presentes no local.
Esta situação de quando o bandido estivesse em apuros, recorresse
aos “Direitos Humanos” se tornou uma prática comum até hoje. Esta é uma
herança da cultura de violência dos tempos da Ditadura, uma cultura
animalizada que teve origem mais antiga ainda. Tal entidade de direitos
humanos veio para inibir este hábito de violência contra presos, meliantes,
jovens delinquentes, pedófilos e outras sementes do mal.
A lembrança da tortura é uma argamassa que sedimenta a cultura da
ação do grupo de Direitos Humanos.
Fomos ao extremo, o Grupo de Direitos Humanos fixou-se única e
exclusivamente na defesa dos agressores à sociedade.
Quando uma mulher é vítima de estupro, os Direitos Humanos não se
faz presente para lhe dar apoio.
Quando aquele que lhe estuprou sofre alguma represália, os Direitos
Humanos corre para protegê-lo.
Quando um bandido irrecuperável tira a vida de um pai de família,
esta não tem o apoio, psicológico pelo menos, dos Direitos Humanos.
Todavia, se alguém, um cidadão ou um agente do Estado lhe
dificulte a vida de algum meliante, instantaneamente aparece os Direitos
Humanos em sua defesa. É impressionante que em certas ocasiões algum
emissário dos Direitos Humanos materializa-se na frente do meliante para
protegê-lo com o temor de alguém lhe faça mal.
Estes exageros, não da minha parte, mas da parte desta cultura de
transformar os bandidos em coitadinhos é que denigrem a função nobre
desta entidade. Culpa de quem? – Culpa do fundamentalismo democrático,
este paradoxo que coloca de pernas para o ar toda e qualquer tentativa de
organizar um Estado.
Dentro desta nova cultura de que tudo pode nos remete um passado
tenebroso.
A euforia sempre precedeu um regime totalitário.
A nossa sociedade foi cortada em fatias.
As crianças e os adolescentes ficaram sob a égide do Estatuto da
Criança e do Adolescente.
Os idosos têm como proteção o Estatuto do Idoso.
Os negros estão sob a proteção da Lei Antirracismo.
Um braço desta Lei, mesmo que subjetivo, são as cotas raciais para
ingresso em Universidades.
Ora, todas as alegações para implantar as cotas raciais, em que pese
às manifestações a favor e contra, se baseiam em falsas premissas. Carência
e falta de oportunidade é a linha de argumentação mais importante.
Os cotistas nem sempre são aceitos com naturalidade, e não raro, os
negros, de cara, são rotulados, todos, como cotistas, mesmo que não o
fossem. As cotas, por si só, são discriminatórias, mesmos que seus
protagonistas tenham total competência.
Exaltar o racismo, comentar o racismo em nada contribui para que o
mesmo se extinga.
O ator americano “Morgan Freeman” em entrevista disse,
respondendo a pergunta do entrevistador sobre como acabar com o
racismo, disse que bastava parar de falar em racismo, quando o repórter
insistiu na questão, ele foi incisivo: - Pare de falar em racismo!
E é isto, dar ênfase ao tema constantemente e insistentemente não é o
melhor caminho. Certa ocasião eu mandei um email para um ex- colega
dizendo o seguinte: - E aí negrão, quando a gente vai se encontrar para
tomar uma cerveja e jogar conversa fora? A resposta foi automática: -
Negrão não, afro descendente! Éramos amigos de longa data e sempre nos
respeitamos, era negrão para cá, sarará para lá numa brincadeira sadia sem
maiores propósitos. O próximo convite que vou fazer a ele vai ser o
seguinte:
- Caro amigo afro descendente, tenho a honra de convidá-lo para
bebericar algumas cervejas e lançar palavras sem sentido ao vento.
Assinado: luso hispano ítalo tapuia afro descendente, seu amigo.
Quis-lhe fazer um agrado e ele ficou sem conversar comigo durante
um mês.
Insistindo mais pouquinho no assunto (perdoe-me Morgan Freeman).
Os negros não comemoram o dia 13 de Maio, embora um marco na
evolução do povo brasileiro, mas comemoram o dia 20 de Novembro em
que foi instituído o dia da Consciência Negra. E eu até hoje não entendo
direito o que vem a ser isto ou se foi somente por causa do Zumbi dos
Palmares. Toda a população brasileira sabe que Zumbi foi um herói, como
poucos que este país produziu. Foi um herói puro sem a mácula de algum
interesse escuso, um exemplo para todos nós. A consciência negra já está
implícita na cor e na cultura que formou a raça brasileira. Zumbi foi o herói
de todos nós. Ter orgulho de ser negro é uma redundância, assim com é ter
orgulho de ser branco, sarará, mestiço, mameluco e outros matizes da raça
brasileira.
Ponto final, não se fala mais em racismo!
Voltando a questão do orgulho, há de mencionar o Orgulho Gay, e eu
digo com convicção que o fato de ser gay não faz o cidadão mais cidadão
ou menos cidadão. - Em não diminuindo a cidadania fostes induzido por
uma visão sectária, a de que não tivestes mais os seus direitos
resguardados. Só isto meu filho. Tenho certeza que o seu pai e a sua mãe
não tem orgulho que você seja gay, eles têm orgulho que você seja filho,
pronto, está resolvido o suposto problema. Essas prerrogativas têm que ser
preservadas. Os esquerdistas, se sabem, escondem, têm horror ao que não
se encaixa nos padrões deles, e eles, numa atitude contraditória e num
processo de fatiamento da sociedade brasileira, tenta de todas as formas
criarem uma sociedade particular dentro da sociedade. Antes de dizer:
- Tenho orgulho de ser gay. Diga: - Sou gay e daí?
Existe uma apologia escancarada sobre a questão da
homossexualidade, patrocinada muitas vezes pela mídia, subliminarmente.
Vivemos num excesso contraditório.
Para o que tem importância dentro do tecido social lhe é dado ênfase
muito além da conta. São pequenos nichos de comportamento que fazem
parte da sociedade e a torna ímpar por ser liberal, tolerante e justa. Ir além é
procurar “ninho de cavalo” e “pelo em ovo”.
Procurar a causa do homossexualismo com tanta ânsia, só alimenta a
loquacidade de alguns psicólogos e engorda os textos dos evangélicos.
Destarte a esquerda faz apologia inequívoca e indiscriminada com
relação a este comportamento que faz parte também do “fundamentalismo
democrático”.
Depois de supostamente viver na clandestinidade durante a repressão
religiosa e militar, a homossexualidade veio à tona, não como um ar de
normalidade dentro da nossa cultura, assim como em diversas culturas pelo
mundo a fora, mas com um ar de pseudointolerância. Por causa desta
exposição tendenciosa, os gays achavam que eram perseguidos e nunca
foram!
Para acabar com o preconceito racial basta para de falar em racismo.
Para acabar com o preconceito sexual basta parar de falar em
homossexualismo.
Como eu disse anteriormente, a esquerda fatiou a sociedade:
Sociedade gay
Sociedade dos adolescentes
Sociedade dos bandidos
Sociedade dos políticos
Sociedade dos índios
Sociedade dos negros
Sociedades dos descendentes de imigrantes
Sociedade dos portadores de deficiências
Sociedade dos idosos
Sociedade dos brancos
Sociedade dos heterossexuais
Sociedades dos carentes
Sociedade dos “Sem Alguma coisa”
Discorrer sobre cada uma destas sociedades demandaria um longo
tempo e talvez entediante, todavia há que se levar em conta o grau de
repercussão de algumas delas.
A Sociedade dos Gays tem um braço que é o Movimento pela
Igualdade de Direitos, inócuo na sua essência, pois em sendo cidadãos, têm
os mesmos direitos assegurados pela Constituição. Em que pese a
oficialização da relação homo afetiva, a lei específica apenas corrobora
com a situação de fato. Se o preconceito existe, este não pode ser regulado
em Lei, pois é fruto de uma sociedade em formação.
A lei não alcança o preconceito, este é o papel da cidadania.
A Sociedade dos adolescentes, tal como foi praticada, tornou-se uma
excrescência que dá todos os privilégios para os adolescentes não lhes
cobrando nada em troca. O momento atual de violência praticada por
jovens adolescentes que estamos vivenciando no nosso país diz claramente
a respeito disto, de como a coisa desandou. Os adolescentes do Brasil
tornaram-se intocáveis e inimputáveis.
Os intelectuais esquerdistas chegaram ao cúmulo de afirmar, cobrar e
denunciar quando um pai dá uma palmada pedagógica no seu filho.
Chegamos a uma situação esdrúxula na qual o adolescente que
bate na sua mãe é protegido e quando a mãe bate no seu filho é
condenada.
Embora o cunho tenha sido inibir sobremaneira a violência contra
vulneráveis, tais procedimentos “legais” têm um objetivo muito mais
amplo e que transferiu para as escolas, quebrando a cadeia hierárquica
entre alunos e professores.
O que acontece na atualidade: Filho não respeita pais e por
extensão também não respeita professores.
Em quaisquer circunstâncias a violência contra crianças é
inadmissível e deve fazer parte de uma cultura esclarecida e desenvolvida.
Não precisamos ir muito longe. Olhemos os nossos índios onde as crianças
têm uma importância fundamental, respeito e liberdade dentro das tribos.
Somos tão “civilizados” e não conseguimos vislumbrar estes detalhes tão
importantes.
Entretanto isto faz parte de um conjunto que médio e longo
prazo esfacela a célula da sociedade. É uma manobra esquerdista de
desmantelamento da família.
Volto no tempo e me lembro de um filme que muito me emocionou,
cujo título era “Gritos do Silêncio” em 1984. A guerra se passava no
Camboja onde o Khmer Vermelho (comunista) cometia as maiores
atrocidades com o povo. Em uma das cenas, que chamou muito a atenção,
era um grupo de adultos e velhos sentados no chão de uma sala
improvisada. Havia um guerrilheiro ditando as novas normas e no quadro-
negro desenhou uma família estilizada, pai, mãe, e filho de mãos dadas.
Num determinado momento chamou uma criança que estava na sala e que
se vestia igual o guerrilheiro com lenço vermelho no pescoço, para que ela
viesse até o desenho e cumprisse o seu papel. A criança apanhou um giz
branco e fez um “X” onde a mão da mãe tocava a mão do filho,
demonstrando com isto claramente o rompimento entre pais e filhos na
nova ordem comunista do Camboja, acabando com a família tradicional. A
cena foi emblemática e muito mais violenta do que todas as atrocidades
apresentadas no filme.
Ao meu pensar a quebra da estrutura familiar nos moldes
comunistas é o maior retrocesso na cultura humana.
O Camboja pagou um preço muito caro, pois 20% da população foi
dizimada pelo comunista Pol Pot, configurando um dos maiores genocídios
comunistas do século vinte. Eu acho que os esquerdistas adoram isto.
Para implantar o regime comunista na União Soviética foi outra
desgraceira também.
Na China foi uma desgraceira maior ainda!
Em Cuba quando Fidel venceu a luta, ao chegar ao poder, falou que
tinha chegado a hora da Retribuição: Os inimigos foram para o “El
Paredón”. Os gays foram fuzilados e os religiosos foram perseguidos.
Proclamou um Estado Comunista e Ateu. (Eu até acho que a gurizada
comunista, ou é burra ou adora este tipo de coisas, e o que é mais surreal,
existem gays comunistas!)
No princípio era uma maravilha: Reforma Agrária, encampação de
tudo que é estrangeiro e estatização total e geral. E as retaliações
internacionais não tardaram em acontecer.
Hoje, o intercâmbio comercial da ilha é pífio e o seu povo vive as
amarguras que só um regime comunista ditatorial é capaz de fazer. Os
brasileiros apaixonados por Fidel teimam em não perceber as agruras dos
cubanos. É um povo eternamente vigiado pelo aparato do Estado.
Uma blogueira cubana que corre o mundo contestando o regime de
Castro, afirma que vizinhos vigiam vizinhos e quando há suspeita de
descontentamento com o regime, estes são denunciados e sofrem
represálias do Estado. Fidel e a sua teimosia estagnaram Cuba. Já se
passaram 54 anos e ainda se fala em revolução cubana e ainda se dão vivas
à “Revolucion”.,
O povo Cubano é incapaz de lutar contra este estado de coisas por
causa do aparelhamento do Estado ditatorial que tem seus tentáculos
presentes em cada metro quadrado da Ilha e em todas as repartições
públicas, em todas as instituições de ensino, em todas as unidades de saúde,
junto aos produtores, juntos aos distribuidores de alimentos, enfim, tudo
está sob vigilância dia e noite. E qual é a alternativa? – Fugir. Sim, é o que
fazem milhares de cubanos todos os anos numa travessia quase suicida
pelas águas do Caribe rumo aos Estados Unidos e outros países.
Aqui no Brasil durante os Jogos Pan-americanos, três lutadores
cubanos que participavam da competição desertaram, achando que o Brasil
lhes daria asilo, mas não foi o que aconteceu:
O Ministro da Justiça, aquele mesmo que lá atrás no golpe de 64,
urinou nas calças, rapidamente mandou a polícia localizá-los e os
enviou para Cuba. Sabe Deus o que aconteceu com eles.
Este mesmo mijão deu asilo para um comunista italiano
procurado pela Policia Italiana, pois tinha sido condenado em seu país
por quatro assassinatos na década de setenta. Embora alegasse crime
político, a Corte Italiana teve entendimento diverso e deu o veredicto. O
que aconteceu? – O condenado italiano fugiu e veio pedir ajuda ao mijão
esquerdista brasileiro.
O mija-pano logo saiu do Ministério e deu lugar para um advogado
que não durou muito.
Este, assim que largou o cargo de Ministro da Justiça foi ser
advogado de defesa do maior traficante de drogas do país. Coisa que só
num país como o Brasil sói acontecer.
O Brasil costuma proteger malfeitores, é histórico, por ser um
país livre e democrático.
Atualmente, ano de 2016, o sem dedo está em apuros.
A Vanda está em apuros.
O que fez plástica está preso.
O guerrilheiro que entregou seus comparsas foi preso e está em
casa aposentado.
O mijão foi governador e ainda defende o indefensável.
O play boy, agora ancião, está de novo envolvido em falcatruas.
O coronel está rico e aposentando-se.
Os comunistas estão ricos e continuam defendendo os pobres. E
sabem por quê? Os pobres, ao contrário do que dizem, se
proliferaram...
A corrupção é política de Estado.
Dito isto, só me resta fazer poesia:
Minha terra já não tem palmeiras
E nem o canto dos sabiás
As aves que aqui gorjeavam
Foram chorar em outro lugar
Aqui os gentios não são gentis
São vassalos do Senhor do Cupidez
Cobrem de lama com tamanha desfaçatez
A Mãe que lhe amparou com calentura.
Porto Alegre, 31 de março de 2016
Sérgio Clos