FUNDAMENTOS DE NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO COGNITIVA …...Este caderno de estudos tem como...
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Disciplina FUNDAMENTOS DE
NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO COGNITIVA DA APRENDIZAGEM
E DO COMPORTAMENTO EMOCIONAL HUMANO
Disciplina
FUNDAMENTOS DE NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO
COGNITIVA DA APRENDIZAGEM E DO
COMPORTAMENTO EMOCIONAL HUMANO
André Codea
www.avm.edu.br
Su
mári
o
05
Apresentação
07 Aula 1
Fundamentos Neurocientíficos
24 Aula 2
Neuroplasticidade e Aprendizagem
39 Aula 3
Processos Mentais I: a Atenção
54 Aula 4
Processos Mentais II: A Emoção e a Motivação
70 Aula 5
Processos Mentais III: a Memória
85 Aula 6
Processos Mentais IV: a Consciência
101 Aula 7
Processos Mentais IV: a Linguagem
117 Aula 8
Processos Mentais IV: a Cognição
132 Referências bibliográficas
Disciplina Fundamentos de Neurociência e Educação Cognitiva da Aprendizagem e do Comportamento Emocional Humano
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Esta disciplina trata dos fundamentos neurocientíficos e princípios que norteiam a aprendizagem e o comportamento emocional humano. Neste sentido, aborda o fenômeno da aprendizagem interrelacionado com os mecanismos do sistema emocional humano e com diversos mecanismos cognitivos, como a atenção, a sensação e a percepção, e como esses mecanismos influenciam no comportamento humano.
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s
Este caderno de estudos tem como objetivos:
Apresentar os fundamentos neurocientíficos e os princípios da educação cognitiva da aprendizagem.
Apresentar as bases neurocientíficas do comportamento emocional humano.
Abordar o comportamento como um resultado das interações cerebrais entre os sistemas emocional e cognitivo.
Ressaltar a importância do sistema emocional no fenômeno da aprendizagem.
Fundamentos Neurocientíficos André Codea
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Neste tópico, apresentaremos os fundamentos neurocientíficos do Sistema Nervoso Humano, que é responsável pela existência do Ser Humano e por sua interação com o meio ambiente.
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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Reconhecer a existência de um Sistema Nervoso no organismo
humano; Identificar os órgãos que o compõem, de forma a poder
entender as funções gerais de cada um;
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1.1. Como funcionamos?
Você está andando pela rua. Ao olhar para a
calçada do lado oposto, você vê uma senhora que
caminha, de forma um pouco encurvada, que lembra
sua avó. Instantaneamente, você lembra com carinho
de sua avó, lembra de um fato engraçado que
aconteceu entre vocês, e começa a rir sozinho.
Após chegar à esquina de sua calçada, ainda
pensando no fato engraçado com sua avó, você começa
a atravessar a rua, e um carro subitamente buzina e
freia próximo a você. Você fica extremamente
assustado, com o coração palpitante e a respiração
ofegante, e se desculpa com o motorista do carro pelo
descuido.
Com mais cuidado, você atravessa a rua e os
pensamentos do que poderia ter acontecido toma sua
mente, de forma repetitiva e constante. Suas pernas
tremem. Você vai se refazendo aos poucos, e então
chega ao seu destino: uma sorveteria, em que espera
saborear um delicioso sorvete de creme.
Este pequeno exemplo de uma situação
corriqueira permite que abordemos de forma rápida
várias questões que surgem baseadas na forma como
nosso sistema nervoso interage e reage com o
ambiente.
Você está andando pela rua, o que demonstra a
existência e o funcionamento de um sistema motor.
Com seu sistema visual, e baseado em seus
mecanismos de atenção, você vê a senhora do outro
lado da rua, que pela forma de caminhar elicia suas
memórias sobre sua avó. Instantaneamente, sua
memória traz à tona um fato engraçado, marcante, que
é influenciado e influencia o seu sistema emocional.
Aula 1 | Fundamentos Neurocientíficos 9
No incidente com o carro, que aconteceu por
você estar distraído (que faz parte do sistema de
atenção), ou seja, resultado da ação dos pensamentos
introspectivos com o fato engraçado vivido com sua
avó, e pelo fato de seu sistema motor, em linhas
gerais, não depender diretamente de sua cognição para
continuar funcionando, o que permite que você
continue andando, sua amígdala é intensamente
ativada pelo ambiente a partir de um sinal de perigo,
representado pela buzina e freada do carro próximo a
você. Então, subitamente, seu sistema de luta ou fuga,
um subsistema do Sistema Nervoso Autônomo
Simpático, é acionado, e você instantaneamente tem
uma infusão de adrenalina na corrente sanguínea, o
que faz com que seu coração entre em taquicardia, e
seus pulmões em taquipneia. Por meio dos seus
mecanismos de linguagem, você pede desculpas ao
motorista por seu descuido, e seu sistema motor é
novamente acionado para você atravessar a rua e
chegar ao seu destino. Enquanto isso, você volta à
calma, por meio de seu Sistema Nervoso Autônomo
Parassimpático, e as sensações do sorvete começam a
tomar conta de você, o que faz com que você comece a
ter percepções do sorvete (mesmo sem o ainda estar
tomando!), como o gosto, e começa a salivar, o que
indica que seu Sistema Digestório entrou em
funcionamento para se preparar para o ato de ingerir o
sorvete. Você ainda não sabe, mas seu estômago já
está secretando ácido hidroclorídrico (mais conhecido
como ácido gástrico), preparando o estômago para
digerir os componentes do sorvete. E do susto do quase
atropelamento, você começa a ser dominado pelo
prazer de tomar o sorvete, outro estado emocional.
Este exemplo simples ilustra, de forma também
simples, algumas interações entre os vários
subsistemas que compõem o nosso Sistema Nervoso e
como eles interagem entre si. A partir de agora, iremos
Aula 1 | Fundamentos Neurocientíficos 10
desvencilhar os caminhos e os locais em que ocorrem
as ações e interações cerebrais que influenciam e
determinam o nosso comportamento.
1.2 Nosso Sistema Nervoso
Toda a interação de um ser vivente com o
ambiente ocorre porque este ser tem um Sistema
Nervoso, mais ou menos rudimentar. Indo além,
podemos dizer que todo ser vivente vive porque ele
tem Sistema Nervoso. Então, para que possamos
compreender o comportamento humano, precisamos
entender o Sistema Nervoso. E para este fim temos a
Neurociência.
A base de estudo da neurociência reside na
observação das funções do sistema nervoso no
indivíduo sadio e também no doente, de forma a
determinar como o comportamento é gerado em
condições normais e o que acontece quando há algo
errado. Até bem recentemente, estudar lesões era a
principal forma de descobrir a função dos órgãos do
Sistema Nervoso.
Esquematicamente, divide-se anatomicamente o
Sistema Nervoso em duas regiões principais: o Sistema
Nervoso Central (SNC) engloba todas as estruturas
neurais dentro do crânio e da coluna vertebral, sendo
assim um sistema decisório. O Sistema Nervoso
Periférico (SNP) constitui-se dos nervos (cranianos ou
espinais), dos gânglios e das terminações nervosas,
sendo assim um sistema de comunicação. Com relação
ao SNC, temos a seguinte divisão:
• Encéfalo é a parte do SNC dentro do crânio,
sendo dividida em três partes: o cérebro, o
cerebelo e o tronco encefálico.
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• Medula espinal é a parte que continua a
partir do encéfalo (o ponto divisório é o
forame magno do osso occipital) no interior
do canal da coluna vertebral
1.2.1 O Cérebro
O cérebro é um dos componentes do encéfalo, e
é considerado o órgão responsável pelos processos
cognitivos, emocionais e racionais por excelência. Em
outras palavras, é onde todos os processos mentais são
gerados e inter-relacionados. Ele é anatomicamente
dividido em duas regiões, o telencéfalo e o diencéfalo
com funções distintas.
1.2.1.1 O Telencéfalo
O telencéfalo constitui os hemisférios cerebrais
direito e esquerdo, que são praticamente totalmente
separados pela fissura longitudinal do cérebro. Estes
são interligados por feixes de fibras nervosas chamadas
de comissuras, sendo a principal o Corpo Caloso, uma
extenso feixe de aproximadamente 300 milhões de
fibras axoniais.
A camada superficial dos hemisférios é chamada
de córtex cerebral, que mede de 2 a 6 mm de
espessura, e é predominantemente composta por um
tipo singular de agrupamento celular, chamado de
substância cinzenta, que é formada por agrupamento
de corpos celulares dos neurônios. Este tipo de
organização é responsável, entre outras coisas, pelos
processos conscientes e voluntários que geramos nas
múltiplas ações entre os nossos sentidos e os nossos
órgãos efetores.
Na estrutura cerebral em si, o córtex possui
giros (massa cerebral) e sulcos (espaços entre os giros)
Aula 1 | Fundamentos Neurocientíficos 12
que separam esses giros. Esta conformação foi
necessária para que todo o conteúdo e volume dos
aproximadamente 1,5 kg do cérebro pudesse caber
dentro da cavidade craniana. E o agrupamento de giros
e sulcos em determinadas regiões, por vezes separados
por sulcos mais profundos e pronunciados, foi o
responsável pela divisão anatômica destes segmentos
em lobos.
1.2.1.1.1 Os Lobos Cerebrais
O telencéfalo é dividido anatomicamente em
lobos, sendo determinados em número de cinco:
frontal, parietal, occipital, temporal e ínsula, tendo cada
hemisfério a mesma conformação. Apresentaremos de
forma resumida e esquemática os princípios gerais de
cada um destes órgãos
1.2.1.1.1.1 Lobo Frontal
O lobo frontal possui três áreas principais
distintas e complementares:
• Área motora primária e pré-motora (Áreas
Pré-Motora e Motora Suplementar)
• Motricidade voluntária
• Integração dos atos motores e sequências de
ações aprendidas
• Córtex pré-frontal
• Planejamento e análise de consequências das
ações futuras; escolha das estratégias
comportamentais em cada contexto
ambiental; manutenção da atenção e
controle do comportamento emocional
• Área da fala
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1.2.1.1.1.2 Lobo Parietal
O lobo parietal possui três áreas distintas:
• Área anterior – somatossensorial primária
• Recebe as sensações corporais, tais como:
• Tato
• Dor
• Temperatura
• Área posterior – somatossensorial de
associação
• Integração, interpretação e análise das
sensações
• Reconhecimento corporal, pela propriocepção
• Localização espacial, pela visão
• Área de Wernicke – compreensão da
linguagem
• Em parte no lobo parietal, em parte no lobo
temporal
• Agrupa palavras para formar um pensamento
coerente
1.2.1.1.1.3 Lobo Occipital
Embora o lobo occipital possua diversas áreas
especializadas, ele é normalmente dividido em duas
áreas:
• Área visual primária
• Recebe as informações visuais
• Área visual secundária
• Integra as informações com as existentes na
memória
• Busca compreender o que está sendo visto
• Áreas especializadas
• Reconhecimento da cor
• Integração das imagens em movimento
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• Estabelecimento da distância entre si e um
objeto ou entre objetos entre si
• Percepção visual da profundidade
1.2.1.1.1.4 Lobo Temporal
O lobo temporal possui funções bem diversas:
• Área auditiva primária
• Recebe as informações auditivas
• Área auditiva secundária
• Integra as informações com as existentes na
memória
• Busca compreender o que está sendo ouvido
• Área de Wernicke (parte)
• Área visual terciária
• Lembrança de rostos e objetos e
Processamento visual geral
• Memória
• Verbal e não-verbal, e de longo prazo
1.2.1.1.1.5 Ínsula
A ínsula é um lobo interno, visualizável
normalmente a partir do afastamento dos lobos temporal
e frontal/parietal, especialmente pelo sulco lateral. Apesar
de ainda ser um órgão com muitas funções
desconhecidas, possui funções relacionadas com:
• Correlações emocionais
• Associação de sons, cheiros ou sabores com
conteúdo emocional
• Percepção de estímulos (especialmente
estímulos desagradáveis ou angustiantes)
• Fome
• Dor
• Necessidade de se drogar (também
relacionado ao vício do fumo)
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1.2.1.2 O Diencéfalo
O diencéfalo é uma região profunda de
estruturas cerebrais que está interposto entre o tronco
encefálico e o telencéfalo, sendo formado por:
1.2.1.2.1 Tálamo
O tálamo é formado por duas massas ovoides,
localizadas anteriormente no diencéfalo, que são
parcialmente unidas pela massa intermédia. É formado
por vários núcleos mas, de forma geral, podemos dizer
que o tálamo funciona como uma estação
retransmissora, tanto sensorial (retransmitindo
impulsos sensoriais do tronco encefálico, cerebelo e
medula espinal) quanto motora, por meio de tratos
motores vindo do córtex cerebral.
1.2.1.2.2 Hipotálamo
O hipotálamo fica localizado abaixo do tálamo, e
tem menor tamanho. Também é formado por vários
núcleos, cujas funções são tão diversas que é
considerado o centro integrador e regulador
homeostático do corpo humano. Suas funções podem
ser assim resumidas:
a) Controle do Sistema Nervoso Autônomo, o
que inclui a regulação da frequência
cardíaca, a motilidade no trato
Gastrointestinal, a contração da bexiga
urinária, bem como a secreção de diversas
glândulas;
b) Regulação da Sede, da Saciedade e da Fome,
por meio de núcleos próprios para estes fins;
c) Controle da Glândula Hipófise, tanto por via
hormonal quanto por via neural, o que o
torna o grande controlador do Sistema
Endócrino;
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d) Controle da Temperatura Corporal, por meio
de mecanismos de feedback;
e) Regulação de Sentimentos e Comporta-
mentos, juntamente com o Sistema Límbico,
que controla nosso comportamento emo-
cional, regulando sentimentos como raiva,
prazer, agressão, dor e atividade sexual.
1.2.1.2.3 Epitálamo
O epitálamo é localizado posteriormente no
diencéfalo, e constitui-se de uma pequena região que
contém uma glândula, a glândula pineal, e um núcleo,
o núcleo das habênulas. No primeiro caso, há a
secreção da melatonina, hormônio que regula o ciclo
sono-vigília, regulando assim o ritmo biológico humano;
no segundo caso, ocorre a regulação das respostas
emocionais aos odores.
1.2.1.2.4 Subtálamo
O subtálamo é uma região localizada
inferiormente ao tálamo, sendo composta por um par
de núcleos subtalâmicos, que atuam na regulação do
movimento corporal, juntamente com os núcleos da
base, núcleos rubros, substâncias negras, cerebelo e o
córtex motor.
Resumidamente, podemos dizer que o cérebro
possui quatro funções básicas:
• Mobilidade
• Representado pelo Sistema Motor, ocupa
uma grande parte do Sistema Nervoso, e sua
função é comandar e controlar nossos 654
músculos esqueléticos de forma integrada,
além de proporcionar a necessária interação
com o meio ambiente.
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• Comunicação
• Ocupa também uma grande parte do sistema
nervoso, e é formado por três partes: inputs
sensoriais, respostas motoras na forma de
expressão de comportamento, e funções
psíquicas superiores, tais como fala,
pensamento, abstração e consciência.
• Manutenção Biológica
• Representada pelo Sistema Nervoso
Autônomo, em interação com nosso Sistema
Nervoso Somático. Nesta função, há o
controle do ciclo respiratório, ritmo cardíaco
e regulação da pressão arterial, motilidade
intestinal, metabolismo, filtração renal,
regulação endócrina, entre várias outras.
• Instinto de Sobrevivência
• Representado pelo Sistema Límbico, inclui a
procura por comida e um parceiro para
copular. É o nosso sistema emocional.
1.2.2. O Cerebelo
O cerebelo é um órgão localizado inferiormente
ao cérebro, na parte posterior da caixa craniana, atrás
do bulbo e da ponte (regiões do tronco encefálico),
sendo separado do cérebro por uma invaginação da
dura mater, chamada de tenda do cerebelo. Assim
como o cérebro, o cerebelo possui dois hemisférios,
direito e esquerdo, unidos por uma estrutura central
chamada de verme.
A estrutura do cerebelo é de uma massa globosa
folhada, ou seja, cada hemisfério possui um conjunto
de cristas paralelas denominadas de fólios ou folhas,
que constituem o córtex cerebelar. Em termos de suas
divisões, há dois lobos, anterior e posterior, que são
responsáveis pelos movimentos subconscientes dos
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músculos estriados esqueléticos, e o lobo flóculo-
nodular, cujas funções estão relacionadas ao equilíbrio.
Internamente, o cerebelo apresenta os núcleos
cerebelares, regiões profundas que interconectam o
cerebelo com o encéfalo e a medula espinal.
De forma geral, pode-se dizer que o cerebelo
compara os movimentos que se quer realizar com o que
está sendo realizado de fato, de forma a poder corrigir,
via feedback motor, tais movimentos para que se
aproximem do que se quer. Também é responsável por
regular a postura (estática e dinâmica) e o balanço,
especialmente no andar.
1.2.3. O Tronco Encefálico
O tronco encefálico é um órgão que se conecta
superiormente ao diencéfalo (parte do cérebro),
inferiormente à medula espinal, e posteriormente ao
cerebelo. Ocupa, portanto, posição estratégica entre
estes órgãos, sendo uma de suas funções a interligação
entre eles.
Ele é dividido em bulbo (também chamado de
bulbo raquidiano ou medula oblonga), ponte e
mesencéfalo, ordenando-se de baixo para cima.
Como um todo, o Tronco Encefálico apresenta
duas regiões de importância: o lemnisco medial, faixa
de axônios (substância branca) que estende-se pelas
três regiões transmitindo impulsos táteis,
proprioceptivos, de vibração e de pressão, até o tálamo
(uma região do diencéfalo). E a formação reticular, um
feixe neural em forma de rede, que se estende por todo
o tronco encefálico, projetando-se tanto para a medula
espinal quanto para o diencéfalo. Parte da formação
reticular contém o SAR (Sistema de Ativação Reticular),
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cuja função é ativar o córtex cerebral para vários tipos
de impulsos, como visuais, auditivos e táteis. Por outro
lado, possui também função motora, a de regulação do
tônus muscular.
1.2.3.1. O Bulbo
O bulbo é a região mais inferior, relacionada
diretamente com a medula espinal, sendo a
continuação desta. Portanto, possui os tratos
ascendentes e descendentes (sensoriais e motores)
também presentes na medula espinal. No entanto,
também possui núcleos responsáveis por funções
diversas, como a regulação da força e da frequência
dos batimentos cardíacos, a respiração, a regulação dos
vasos sanguíneos (vasodilatação e vasoconstricção),
coordenação da deglutição, tosse, vômito, soluço e
espirro.
O bulbo apresenta também a decussação das
pirâmides, um cruzamento de fibras do trato piramidal
(ou córticoespinal) que faz com que a maioria das
ordens motoras do hemisfério direito do cérebro
controle o lado esquerdo do corpo e vice-versa. Junto
às pirâmides, que são massas ovaladas na parte
anterior do bulbo, encontram-se as olivas, cujo núcleo
olivar inferior retransmitem impulsos proprioceptores
oriundos dos músculos e articulações para o cerebelo.
1.2.3.2. A Ponte
A ponte possui a função de interconectar as
áreas superior e inferior do tronco encefálico, bem
como o cerebelo, o que torna seu nome muito
apropriado; mas, além disso, possui núcleos que
participam do controle respiratório, juntamente com o
bulbo.
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1.2.3.3. O Mesencéfalo
O mesencéfalo é o órgão superior do tronco
encefálico, cuja função é interligar os órgãos inferiores
a ele com o cérebro, especialmente o diencéfalo. Em
sua parte anterior encontram-se os pedúnculos
cerebrais, uma região de intercomunicação motora e
sensorial com o cérebro. Em sua região posterior
encontra-se o teto, que possui quatro proeminências:
os colículos superiores, centros reflexos que regulam os
movimentos da cabeça, pescoço e olhos, em especial
em resposta a estímulos visuais, e os colículos
inferiores, cujas respostas motoras reflexas são
dirigidas à cabeça e ao tronco, a partir de estímulos
auditivos.
Outros núcleos existentes no mesencéfalo são as
substâncias negras, áreas de concentração de
neurônios enegrecidos que são responsáveis pela
produção do neurotransmissor dopamina, e cuja função
é controlar atividades musculares; e os núcleos rubros,
que apresenta neurônios com esta pigmentação, cuja
função é coordenar, juntamente com o cerebelo e os
gânglios da base, os movimentos musculares.
1.2.4. A Medula Espinal
A medula espinal é um órgão situado no canal
vertebral, um canal formado pela junção dos forames
espinais das vértebras. Basicamente, a medula é um
órgão de transmissão de impulsos nervosos sensitivos e
motores, uma via de comunicação entre o tronco
encefálico e estruturas superiores e os órgãos efetores
(músculos e glândulas), e entre os receptores
sensitivos e o tronco encefálico.
Uma das propriedades mais importantes da
medula espinal – e seu único comando decisório – é o
Aula 1 | Fundamentos Neurocientíficos 21
reflexo. Existem vários reflexos na medula, e
basicamente sua função é protetiva.
A medula espinal é envolvida por três meninges:
a pia-máter, mais interna, a aracnoide-mater,
intermediária, e a dura-máter, mais externa e espessa,
que envolve a medula como um todo. São envoltórios
de proteção que estão presentes em várias instâncias
do SNC.
A medula espinal se estende do forame magno
do osso occipital até aproximadamente a 2ª vértebra
lombar (L2) no adulto, não ocupando todo o canal
vertebral. Inferiormente a este ponto, estende-se o
cone medular e o filamento terminal. Esta característica
da medula espinal confere uma consequência prática:
punções lombares para retirada de líquido
cerebroespinal ou para injeção de anestesia são
possíveis porque não há mais medula espinal abaixo de
L2, embora ainda haja meninges e líquido
cerebroespinal nesta região.
Em corte transverso, a medula revela duas áreas
de coloração distinta, chamadas de substância branca
(mais externa) e substância cinzenta (mais interna e
que lembra a letra “H”, perfazendo o canal medular).
As projeções anteriores deste “H” medular são
formadas por corpos celulares dos neurônios motores, o
que torna as raízes nervosas daí decorrentes raízes
motoras ou eferentes; por outro lado, as raízes
nervosas posteriores são sensitivas ou aferentes.
Aula 1 | Fundamentos Neurocientíficos 22
EXERCÍCIO 1
Faça um esquema abordando as divisões do Sistema
Nervoso do ponto de vista anatômico, e discrimine
como essas divisões determinam as principais
estruturas estudadas neste capítulo.
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EXERCÍCIO 2
Indique quais são as divisões do cérebro (lobos
cerebrais) e quais suas funções gerais.
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RESUMO
Vimos até agora:
Temos um Sistema Nervoso que dirige nossas
ações;
Nosso Sistema Nervoso é composto por um
Sistema Nervoso Central e um Sistema
Nervoso Periférico;
Nosso Sistema Nervoso Central é formado por
um Encéfalo (Cérebro, cerebelo e tronco
encefálico) e por uma Medula Espinal.
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Neuroplasticidade e Aprendizagem André Codea
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Neste tópico, abordaremos o conceito de Neuroplasticidade e suas implicações para a reabilitação neural e para a aprendizagem. Também trataremos do fenômeno da Aprendizagem e quais são os seus componentes ou pressupostos.
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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
Compreender os conceitos de Neuroplasticidade e
Aprendizagem. Entender quais são os fatores influenciadores da aprendizagem.
Aula 2 | Neuroplasticidade e Aprendizagem 25
2.1 A Neuroplasticidade
Neuroplasticidade é a habilidade cerebral de se
reorganizar, pela nova formação de conexões neurais.
Também pode ser chamada de plasticidade cerebral ou
maneabilidade.
A neuroplasticidade permite aos neurônios
(células nervosas) no cérebro compensar lesões e
doenças, bem como ajustar suas atividades em
resposta a novas situações ou às mudanças
ambientais; em outros termos, à aprendizagem.
Durante toda a vida neurônios nascem e migram
a outras partes do córtex cerebral, onde promovem
novos circuitos e, portanto, novas funções ou reforçam
aquelas já existentes. Ao mesmo tempo, as conexões
neurais e neurônios que não são estimulados ou são
ineficientes morrem.
2.1.1 O Processo Neuroplástico
Todo processo se inicia a partir das células-
tronco cerebrais. Quando devidamente estimuladas,
elas podem se dividir e se especializar em neurônios e
células gliais, um processo conhecido como
neurogênese.
Um dos pontos-chave deste processo são as
neurotrofinas. As neurotrofinas são produzidas como o
resultado da atividade cerebral e possuem uma
importante função em certas áreas cerebrais, incluindo
o córtex frontal e o hipocampo.
Uma neurotrofina bastante conhecida é o Fator
Neurotrófico Derivado do Cérebro (FNDC). Esta
neurotrofina contribui não apenas para a criação de
novas conexões sinápticas, mas também para a
Aula 2 | Neuroplasticidade e Aprendizagem 26
neurogênese (neuroplasticidade) de novas células
cerebrais. O FNDC ajuda na formação cerebral desde o
nascimento até o final da vida.
Um aspecto importante no processo
neuroplástico é a necessidade da atividade física, seja
através de exercício formal ou recuperativos, bem
como de atividade mental para que possa acontecer de
forma ótima. Como a neurotrofina não pode ser
consumida de forma externa a única maneira de
estimular sua produção é através do exercício físico e
mental.
A neuroplasticidade é comumente associada à
capacidade do sistema nervoso de se recuperar de
lesões e doenças, seja pela criação de novos caminhos
neurais, seja pela estimulação do crescimento de novos
neurônios em áreas danificadas.
Porém, uma das consequências mais
importantes da neuroplasticidade está diretamente
relacionada ao processo de aprendizagem, ou da re-
aprendizagem (que ocorre no caso de lesões ou
doenças): a capacidade de criação de novas conexões
no cérebro está associada ao ato de aprender.
Em outras palavras, a neuroplasticidade está
intimamente relacionada ao processo de aprendizagem.
Devido ao fato de que sinapses que fazem a
comunicação dos neurônios entre si (interneurônios)
podem ser formadas e desconectadas de forma cíclica
durante a vida, e que este processo está intimamente
relacionado às neurotrofinas, sofrendo mediação
destas, temos então presente a ideia de que
neuroplasticidade e aprendizagem são processos
correlatos.
Aula 2 | Neuroplasticidade e Aprendizagem 27
2.2 A Aprendizagem
O fenômeno da aprendizagem é altamente
complexo e variado, mas está intimamente relacionado
a processos neurais, dos quais já existe um corpo
sólido de conhecimento.
Aprender, de forma geral, é um processo de
aquisição de novas informações e seu armazenamento
de forma mais ou menos permanente, de modo a
podermos recuperar estas informações posteriormente.
É um processo multifatorial e, desta forma, podemos
considerar como fatores influenciadores do processo de
aprendizagem: a Sensação, a Percepção, a Atenção, A
Emoção/Motivação, a Memória, a Consciência, a
Linguagem e a Cognição.
2.2.1 A Sensação
Pode-se definir sensação como sendo a
impressão sensorial que significa a detecção dos
estímulos pelos órgãos dos sentidos. Os órgãos dos
sentidos captam as informações, convertendo-as em
impulsos nervosos, sendo estes emitidos para o cérebro
e processados neste.
Além dos cinco sentidos principais, ou seja,
visão, audição, tato, olfato, paladar, já são classificados
mais de vinte sentidos humanos. Destes, e para os fins
deste tópico, ressaltamos os sentidos cinestésico e
vestibular.
O Sentido Cinestésico informa ao cérebro sobre
o posicionamento relativo das partes do corpo durante
o movimento, portanto dependem dos receptores dos
músculos, tendões e articulações.
O Sentido Vestibular, também chamado de
sentido de orientação ou equilíbrio, informa ao cérebro
Aula 2 | Neuroplasticidade e Aprendizagem 28
a respeito do movimento e da orientação de sua cabeça
e de seu corpo em relação à terra.
De uma forma geral, podemos identificar a
sensação como a soma de todos os estímulos captados
pelos órgãos dos sentidos, e que é continuamente
processada pelo cérebro. A mera recepção destes
dados não implica em seu processamento consciente ou
em seu armazenamento. Na verdade, a maioria das
sensações são descartadas ou utilizadas de forma
inconsciente pelo Sistema Nervoso.
2.2.2 A Percepção
A percepção pode ser definida como a
apercepção (apreensão) do objeto pelo organismo,
através dos sentidos, por meio de uma relação entre o
SNC e o objeto sentido, com influência da atenção,
memória, motivação, consciência e linguagem.
Considerando a multiplicidade de sensações
recebidas pelos órgãos dos sentidos a cada segundo,
pode-se inferir que a percepção é uma visão holística
da relação objeto, sujeito e contexto.
Porém, devido à incapacidade de nosso cérebro
de tornar perceptível todas as sensações, estabelece-se
que nem toda sensação é percebida; no entanto, pode-
se afirmar que tudo o que é percebido foi primeiro
sentido.
Com base neste princípio, podemos afirmar que
a percepção não é um “espelho da realidade”. Em
outras palavras, a partir do momento em que
consideramos a incapacidade cerebral de tornar
perceptíveis todas as sensações, estabelecemos que a
“realidade” é uma construção mental de cada indivíduo
baseada no que foi elegível como percebido dentre as
milhares de informações sensoriais disponíveis a cada
segundo.
Aula 2 | Neuroplasticidade e Aprendizagem 29
Esta incapacidade perceptiva é devida a diversos
fatores: em primeiro lugar, porque nossos sentidos não
respondem a muitos aspectos do ambiente que nos
cerca, o que significa que a “colagem” mental que
temos a cada momento é dependente dos estímulos
sensoriais que são selecionados para este fim; em
segundo lugar, porque às vezes percebemos estímulos
presentes devido a fatores, como doenças, estresse,
drogas etc; em terceiro lugar, porque nossa percepção
depende de expectativas, motivação, experiências
anteriores e outros fatores que são altamente variáveis
em cada momento vivencial.
2.2.2.1 Princípios Externos da Percepção
2.2.2.1.1 Contexto Sociocultural
A sociedade e a cultura se organizam a partir de
normas e regras que estão presentes em tudo o que se
percebe. Logo, a percepção de objetos e situações é
diferenciada de acordo com o contexto do indivíduo.
Por exemplo, para o mesmo aviso “NÃO PISE NA
GRAMA”, o Indivíduo “A” pisa, e o indivíduo “B” não
pisa, o que sugere uma diferenciação de valores e
conceitos estabelecidos culturalmente. Outro exemplo
são os estereótipos, ou seja, as generalizações ou
preconceitos feitos sobre pessoas, comportamentos,
objetos ou situações.
2.2.2.1.2 Características do Meio e do
Objeto
São as características próprias do objeto e do
meio em que está inserido. Um mesmo objeto pode
estar em locais diferentes, o que pode gerar diferentes
percepções sobre ele. São algumas das características
do meio e do objeto:
Aula 2 | Neuroplasticidade e Aprendizagem 30
• Luminosidade / Sombra
O estado de luz e sombra atribuídos a um objeto
pode alterar a forma como o percebemos. Para
entender como isto acontece, basta olhar para um
objeto em diferentes momentos do dia e perceber como
nossa percepção pode ser alterada.
• Som
Sons podem alterar a percepção de várias
formas. Por exemplo, você pode identificar o som de
um pássaro, mas só saberá que pássaro está cantando
se já tiver este registro em seu cérebro. Outro exemplo
está no estampido de uma bombinha e no som de um
tiro. Quem não é constantemente exposto a um som de
um tiro pode facilmente confundir o primeiro com o
segundo.
• Temperatura
A temperatura ambiente pode alterar a
percepção. Ambientes muito quentes, como desertos,
frequentemente criam ilusões perceptivas.
• Cor
Cores são um dos atributos que mais alteram a
percepção. As cores provocam diferenciais em nosso
cérebro que alteram o humor, a atenção e outras
variáveis perceptivas. Um clássico exemplo disso é a
cor de vestimentas e como isso afeta a percepção sobre
a pessoa que veste.
• Textura
A textura dos objetos afeta nossa percepção, de
forma que podemos, por exemplo, aceitar ou rejeitar
Aula 2 | Neuroplasticidade e Aprendizagem 31
um objeto com base na percepção de sua textura.
Prefere-se um tipo de caneta a outro muitas vezes pela
textura do corpo da caneta.
• Movimento
Movimentos podem alterar fortemente a
percepção, especialmente movimentos rápidos. Nosso
sistema visual consegue acompanhar e manter a
consistência visual de um objeto até certa velocidade e,
após isso, o objeto tende a perder esta consistência
para nossa percepção.
• Velocidade
Um fator relacionado ao movimento. Atingir um
alvo que se move pode causar um profundo impacto
em nossa percepção. Constantemente, atiradores têm
que fazer ajustes de mira baseados na velocidade do
alvo para que possam ter sucesso.
• Distância
A distância de um objeto, ou perspectiva,
representa uma profunda forma de alteração
perceptiva. O efeito linha do trem é um exemplo disso.
Ao olharmos uma linha de trem em uma reta, os dois
trilhos parecem ter uma distância quando estão
próximos a nós, e parecem se unir quando distantes.
• Tamanho
O tamanho de um objeto altera a percepção. O
mesmo objeto, de diferentes tamanhos, pode sugerir à
nossa percepção que estão mais próximos ou mais
distantes, um truque frequentemente usado por
mágicos. É um atributo perceptivo frequentemente
associado à distância.
Aula 2 | Neuroplasticidade e Aprendizagem 32
2.2.2.2 Princípios Internos da Percepção
2.2.2.2.1 Adaptabilidade
A percepção de um indivíduo é uma atividade
(processo) flexível, se adapta continuamente ao meio
que o cerca e às suas próprias condições
psicofisiológicas naquele dado momento. Ao fazermos
mudanças, realizamos toda uma série de adaptações
perceptivas necessárias para que possamos lidar com a
novidade inerente ao que mudou. Por exemplo,
mudança de escola ou de trabalho traz novas
interações sociais, novo espaço físico, novas
capacidades de flexibilidade sensorial, novos estímulos.
2.2.2.2.2 Aprendizagem
A interação com o mundo através da percepção
faz o indivíduo aprender a viver neste mundo, a partir
de observações, tentativas de acerto, erros e reflexões.
O fenômeno da percepção é mutável, assim como o é a
própria aprendizagem. Aprender significa, neste
contexto, a quantidade e a qualidade das interações
perceptivas que cada pessoa faz, o que confere um
caráter extremamente individual à aprendizagem.
2.2.2.2.3 Sociabilização
O indivíduo aprende a reconhecer e respeitar as
diferenças individuais e a importância do
relacionamento com o outro, objetivando a troca
construtiva e estruturante dos seres humanos em uma
sociedade, seja ela civilizada ou não. O processo de
sociabilização está intrinsecamente relacionado a outro
conceito, a cultura, e é extremamente variável de
acordo com o país e, mesmo internamente neste.
Aula 2 | Neuroplasticidade e Aprendizagem 33
2.2.3 A Atenção
Os mecanismos atencionais constituem um
estudo à parte no âmbito da neurociência. Portanto,
abordaremos aqui de forma introdutória e resumida,
para desenvolver mais tarde este conteúdo em capítulo
apropriado.
De uma forma geral, podemos dizer que a
atenção precede a percepção. Os fatores e estímulos
externos que chegam ao nosso córtex cerebral –
sensações – permitem que concentremos maior
atenção em determinados estímulos, que estão de
acordo com nossas necessidades, interesses e valores,
em detrimentos de outros, que não preenchem tais
requisitos, havendo, assim, uma seletividade.
Estas escolhas podem ser feitas tanto consciente
quanto inconscientemente. De qualquer forma, e como
ponto inicial de discussão, prestar atenção significa
sensibilizar de forma seletiva determinadas áreas
cerebrais em detrimento de outras, que são inibidas. E
isto tem tudo a ver com o processo de aprendizagem,
pois é necessário um determinado estado atencional
para que se possa aprender.
2.2.4 A Emoção/Motivação
Outro tema que merece um estudo à parte em
outro capítulo, a emoção é considerada um fator crucial
dentro do processo de aprendizagem, e por assim
dizer, da vida. Somos seres emocionais que pensam, e
não seres racionais que têm emoções, como quis nos
fazer crer o pensamento cartesiano.
A motivação, mais propriamente, se refere ao
significado que o estímulo, ou seja, a informação
sensorial recebida a partir dos órgãos dos sentidos e
Aula 2 | Neuroplasticidade e Aprendizagem 34
percebida pelo cérebro tem para o indivíduo, e é o que
o impulsiona a aprender. O estado motivacional é um
dos componentes essenciais da aprendizagem, e possui
muitas variáveis intervenientes. Por exemplo, são
fatores que interferem na motivação: a vigília, a fadiga
e outros estados fisiológicos e psicológicos (depressão,
ansiedade e medo, por exemplo).
2.2.5 A Memória
Mais um tema que merece estudo mais
aprofundado. A memória, em termos apropriados para
este tópico, pode ser definida como a influência de
experiências anteriores do indivíduo em relação àquele
objeto ou situação atual, ou seja, em como o
armazenamento de suas vivências e experiências
interfere em sua relação vivencial com cada contexto
com a qual interage.
Em termos da aprendizagem, a memória ocupa
um lugar principal, pois embora aprendizagem e
memória não sejam a mesma coisa, estão intimamente
relacionadas. Aprendizagem tem o objetivo de
memorização, e a memória depende da aprendizagem
para acontecer.
2.2.6 A Consciência
A consciência é um fenômeno tanto estudado
como ainda não compreendido em termos da
neurociência. Ser consciente significa ser ciente de si
próprio, e do que o cerca, e é contraposto ao estado de
sono, no qual perdemos a consciência. Constitui um dos
ritmos biológicos.
Por outro lado, consciência refere-se à
conscientização do indivíduo em relação a si e ao objeto
ao qual está relacionado, em um processo interativo.
Aula 2 | Neuroplasticidade e Aprendizagem 35
Este processo está relacionado à motivação, e
determina em grande parte o movimento de busca para
o qual somos determinados por nossa vontade.
Sendo um processo relacionado à motivação, a
consciência é um dos importantes fatores que não só
determina o interesse em aprender, mas princi-
palmente o que aprender.
São fatores que interferem na consciência:
interesse, vínculo afetivo, necessidade e estados
fisiológicos.
2.2.7 A Linguagem
Outro fenômeno de incrível complexidade, a
linguagem, no contexto deste tópico, refere-se ao ato
de se comunicar, estando implícitas nesta comunicação
a interpretação do estímulo e os diversos recursos
utilizados para expressão deste (jargões e gírias, por
exemplo, ou até mesmo a linguagem não-verbal).
Até certo ponto, a linguagem é um fator
determinado culturalmente, e envolve vários processos
neurológicos, pois é fundamentalmente dependente da
interação entre a recepção dos estímulos (visuais,
auditivos, táteis etc), a interpretação desses estímulos,
e a resposta dada a partir destas interpretações.
Grande parte, senão a totalidade dos processos
de aprendizagem está vinculada à linguagem, seja esta
verbal ou não. Portanto, o conhecimento dos processos
relacionados à linguagem é de grande importância.
2.2.8 A Cognição
Entender como pensamos é um dos grandes
desafios da neurociência. Os processos cognitivos são
Aula 2 | Neuroplasticidade e Aprendizagem 36
de extrema complexidade e de tal forma intrincados
com outros atributos que envolvem a aprendizagem,
que seu estudo constitui uma tarefa bastante
complexa.
Os mecanismos que estão envolvidos com a
compreensão dos processos cognitivos envolvem as
propriedades dos estímulos apresentados ao Sistema
Nervoso Central, os processamentos destes estímulos e
as respostas em nível de comportamento observável
que são emitidas.
Entender como ocorrem e quais as
consequências para a aprendizagem é o grande desafio
do estudo da neurociência cognitiva.
EXERCÍCIO 1
Qual é a relação entre a neuroplasticidade e a
aprendizagem?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 2
O que é aprendizagem e quais são seus componentes
ou pressupostos?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 2 | Neuroplasticidade e Aprendizagem 37
RESUMO
Vimos até agora:
A Neuroplasticidade é um processo natural e
ocorre durante toda a vida, e faz parte do
fenômeno da aprendizagem.
Aprender é reter, de forma mais ou menos
permanente, novas informações e ser capaz
de recuperá-las, e é também um processo
multifatorial e neuroplástico.
São fatores influenciadores do processo de
aprendizagem: a Sensação, a Percepção, a
Atenção, A Emoção/Motivação, a Memória, a
Consciência, a Linguagem e a Cognição.
38
Processos Mentais I: a Atenção André Codea
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Neste tópico, abordaremos o conceito de Atenção e sua importância para o fenômeno da aprendizagem.
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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
Entender o conceito de atenção Conhecer as estruturas neurais e os sistemas e subsistemas
que participam do complexo estado atencional Reconhecer a existência de distratores, e saber o que são Discutir sobre a atenção em sala de aula Entender que a atenção é treinável
Aula 3 | Processos Mentais I: a Atenção 40
3.1 A Atenção
Imagine que você precisa ler um capítulo de
livro. Isto será fundamental para a tarefa que seu
professor acabou de lhe passar. No entanto, há alguns
problemas. Primeiro, seu tempo é limitado: você terá
que concluir sua tarefa durante o tempo de aula, ou
seja, aproximadamente 1h. Nada de impossível. Porém,
há uma segunda e talvez mais desafiante dificuldade:
você terá que realizar esta tarefa juntamente com um
grupo de colegas de turma, em meio a barulhos,
conversas e todo tipo de distração. Como fazer isso?
A maioria das pessoas desistiria antes mesmo de
começar. Mas ocorre que existe dentro de você todo
um aparato de estruturas neurais prontas para permitir
que você realize com sucesso sua tarefa. Estas
estruturas neurais realizam algo que parece impossível:
colocar você em estado de atenção.
Para podermos definir atenção, temos que ter
em mente que somos capazes de eliminar
determinados estímulos de nosso campo perceptivo,
em favor daquilo que queremos focar.
Em outras palavras, atenção é a capacidade de
escolhermos um estímulo (ou conjunto de estímulos)
em detrimento de outros, de forma a dirigirmos nossos
sentidos para apreender o melhor possível aquilo que
elegemos como objeto de nossa atenção.
Em suma, é nossa capacidade de focalização.
Mas como será que ela acontece?
3.1.1 Estruturas neurais que participam do
processo de atenção
Em primeiro lugar, para falarmos de atenção, é
obrigatório reconhecer o status fundamental dos
Aula 3 | Processos Mentais I: a Atenção 41
mecanismos sensoriais que nos fornecem o input
interno e externo de informações para nosso
processamento. Claramente, é impossível ao nosso
cérebro processar toda a enormidade de informações
que chega a todo momento pelas vias sensoriais. Na
verdade, este volume de informações deve ser filtrado
e eliminado, por não ter relevância naquele dado
momento.
No entanto, como determina-se o que é
relevante ou não? Isto obviamente depende do
contexto em que estamos inseridos em determinado
momento, e como este contexto influencia e é
influenciado pelos mecanismos atencionais. Por outro
lado, há estímulos que, em si, capturam nossa atenção,
de forma que, mesmo momentaneamente, dirigimos
nossas estruturas perceptivas para eles.
Como ocorre este estado atencional tanto em
relação a nossos sentidos, como em relação a nossos
estados mentais internos (por exemplo, pensamentos
em que ficamos absortos, isolando-nos do meio
externo), podemos dizer a atenção seletiva pode se dar
em nível perceptivo ou em nível cognitivo.
No primeiro aspecto, ou seja, na percepção
seletiva, um dos sentidos que se destaca é a visão. Em
muitos casos, o foco da atenção é coincidente com o
foco visual, especialmente pelo fato de o mecanismo
ser automático: tendemos a focar a atenção na mesma
medida que focamos o olhar. Porém, também podemos
manter o foco da atenção diferentemente do ponto que
focamos o olhar. Neste caso, usamos a visão periférica
ou até outros sentidos combinados para podermos
focar a atenção.
Este estado de focar a atenção é comumente
chamada de alerta, e direciona nossos sentidos para
Aula 3 | Processos Mentais I: a Atenção 42
o(s) estímulo(s) que, por nossa vontade ou outro
estímulo direcionador, pode mudar a qualquer
momento, o que faz com que redirecionemos a todo
instante o foco de nossa atenção. Assim, podemos
constantemente mudar nosso foco de alerta, alternando
entre estímulos diversos baseados no que nos é
apresentados pelos órgãos dos sentidos.
De qualquer forma, aparentemente há um
mecanismo, um modelo que sugere que inicialmente,
há uma captura perceptiva que envolve registros
sensoriais, análise e codificação dos estímulos, que são
então cerebralmente selecionados e comparados com
os dados da memória, o processamento do raciocínio e
as estruturas emocionais para, então, haver uma
resposta em termos de comportamento observável.
No segundo aspecto, na cognição seletiva
utilizamos um conjunto de estruturas diretamente
relacionadas à razão, ou a como processamos
racionalmente nosso estado de atenção.
Em nível cerebral, o córtex cingulado parece ser
a região relacionada à atenção executiva, o modo de
atenção voluntário. Ele parece modular as informações
enviadas pelo córtex pré-frontal dorsolateral, que tem a
tarefa de selecionar as variadas informações sensoriais
dos órgãos dos sentidos, comparar com os dados
existentes na memória e integrar o resultado desta
comparação com os demais circuitos cerebrais,
especialmente aqueles relacionados à análise do
contexto atual e futuro.
3.1.2 Indo um pouco mais fundo: os
subsistemas atencionais
Ao aprofundarmos o estudo sobre os
mecanismos cerebrais da atenção, encontramos um
Aula 3 | Processos Mentais I: a Atenção 43
corpo de conhecimento já solidamente estabelecido, o
que não quer dizer totalmente compreendido. Por
exemplo, há uma enorme variação da utilização das
redes encefálicas envolvidas nos sistemas atencionais
entre indivíduos, o que sugere uma complexa interação
entre as características genéticas, epigenéticas e
ambientais no processamento da atenção. No entanto,
há informação suficiente para ampliarmos o
entendimento sobre este assunto.
Parece haver três subsistemas diferenciados e
integrados relacionados à atenção. O primeiro
subsistema, já abordado neste tópico, é o sistema de
alerta. Este sistema seria formado pela formação
reticular, uma extensa rede de neurônios existente em
nosso tronco encefálico. Mais particularmente, o
Sistema de Ativação Reticular Ascendente, ou SARA.
Esta rede estaria integrada a outro órgão, chamado
loco cerúleo, um grande produtor de noradrenalina, o
neurotransmissor mais associado ao estado de atenção.
O loco cerúleo fica localizado na ponte, sendo um
núcleo de massa cinzenta.
Quanto à atuação deste sistema, parece haver
respostas diferentes em cada hemisfério. O hemisfério
direito parece responder mais ao alerta sustentado ou
tônico, enquanto que o hemisfério esquerdo parece
responder mais aos alertas frequentes, tanto espaciais
quanto temporais.
O segundo subsistema da atenção é o sistema
de orientação, representado pela área de seleção visual
no córtex parietal posterior, o pulvinar e o colículo
superior; aparentemente, há um sistema dorsal que
inclui os campos visuais frontais (FEFs, na sigla em
inglês) e um sistema anterior, que inclui o córtex
frontal anterior e a junção temporoparietal (TPJ).
Aula 3 | Processos Mentais I: a Atenção 44
Este sistema permite a inferência de uma
extensa rede atencional relacionada à orientação
especial que envolve a visão e o córtex prefrontal,
sugerindo uma forte interação da razão e do controle
voluntário da atenção.
O terceiro subsistema atencional é o sistema de
controle executivo e atenção focal, representado por
duas redes distintas:
• rede frontoparietal anterior, composta
por: córtex pré-frontal dorsolateral; lobo
parietal inferior; córtex frontal dorsal; sulco
intraparietal; pré-cúneo; córtex cingulado
medial.
• rede cíngulo-opercular, composta por:
córtex pré-frontal anterior; ínsula
anterior/opérculo frontal; córtex cingulado
dorsal anterior/córtex frontal medial
superior; tálamo.
Um bom exemplo deste subsistema está no
comportamento de autocontrole, que exige
normalmente um forte controle comportamental
quando se está em situações desvantajosas, como ler
um livro em meio a uma multidão de pessoas, ou
conversar com alguém em um restaurante barulhento.
Neste processo, parece haver uma forte
estimulação do córtex cingulado e do córtex frontal
medial. No caso do córtex cingulado, há áreas
específicas relacionadas à cognição e ao estado
emocional, o que reforça as interações destes sistemas
com os sistemas atencionais.
Tanto no sentido de reforçar o estado
atencional, quanto no de dificultar ou suprimir, as
emoções desempenham um papel vital. Abordaremos
Aula 3 | Processos Mentais I: a Atenção 45
estas interações no capítulo sobre emoções. Vamos nos
conter, neste momento, a falar sobre as questões
cognitivas e emocionais associadas à falta ou
dificuldade de atenção.
3.2 Os Distratores
Uma das partes fundamentais no estudo da
Atenção é o estudo dos distratores, do que é capaz de
nos tirar o foco, a concentração e a atenção. Um
distrator nada mais é do que um estímulo ou conjunto
de estímulos que afeta os circuitos do sistema
atencional, provocando um comportamento disruptivo
em relação ao foco e atenção em algo.
Para fins deste tópico, podemos determinar duas
categorias básicas de distratores: os distratores
sensoriais e os distratores emocionais.
No primeiro caso, os distratores sensoriais
podem ser de vários tipos. Estímulos de cor são fortes
distratores, especialmente quando apresentados como
elementos-surpresa. Formas também podem distrair,
bem como fundos de ambientes (relação figura-fundo),
e sons (um dos mais potentes distratores).
No segundo caso, os distratores podem ser
emocionais, como parecer ouvir uma voz do filho, ouvir
um toque de celular associado a uma pessoa, ver a
chegada de alguém conhecido. Estes são os mais
poderosos, por justamente envolver de forma bastante
contundente os sistemas emocionais, que interferem
diretamente nas formas de expressão do
comportamento.
Tendo em vista que a desmotivação e a
indiferença são fortes expressões de distração, e que
estão totalmente relacionadas com nosso estado
Aula 3 | Processos Mentais I: a Atenção 46
emocional, podemos dizer que são potentes distratores,
pois é extremamente difícil focar a atenção nestes
casos.
3.2.1 Distratores no processo educativo
É cada vez mais comum a presença de
distratores no ambiente educativo. A era digital parece
ter trazido um forte componente de desinformação, ao
mesmo tempo que ampliou a oferta de conhecimento a
um número maior de pessoas.
Isto está presente também em sala de aula, de
forma que nas situações escolares, onde se exige alto
grau de concentração e de foco, há cada vez mais
distratores de toda ordem. Porém, com o advento
digital, e a ampla oferta de informação, a atenção
parece dispersar-se no mar de informações disponíveis,
de forma que o foco muda constantemente e parece
não durar mais do que alguns segundos.
Na sala de aula, que normalmente é um
ambiente tendente ao estatismo e à passividade por
parte do aluno, fica extremamente conflitante o
ambiente multidimensional e colorido da internet com o
ambiente monocromático do ensino tradicional.
Talvez a indiferença e a desmotivação tratadas
anteriormente tenham diretamente a ver com esta
situação, pois o ambiente de sala de aula não gera, via
de regra, a mesma descarga dopaminérgica causada
pela tv digital, pela internet e pelo videogame.
Já foi evidenciado que ambientes de novidade e
de surpresa, típicos da tv digital, internet e videogames
causam o que é chamado de erro de predição de
recompensa, e que está profundamente relacionado
com descargas dopaminérgicas. Sendo a dopamina um
Aula 3 | Processos Mentais I: a Atenção 47
neurotransmissor associado com prazer e com a
geração de recompensas a estímulos, não fica difícil
entender que a aprendizagem, tanto comportamental
como neuronal ocorre predominantemente quando se
tem erro de predição de recompensa no ato em si.
Outra evidência é a de que a rede de
recompensa cerebral reside em um circuito, o circuito
dopaminérgico mesolímbico. Esta via tem início do
sistema tegmental ventral, localizado no mesencéfalo, e
possui conexões com o núcleo accumbens, a amígdala
e o hipocampo, reconhecidamente estruturas
relacionadas com nossas emoções. Este circuito é
intensamente ativado em situações de recompensa, e
pode atuar como uma rede que vicia se for ativada com
frequência, causando dependência.
A dependência de estímulos digitais, em
contraste com a sala de aula, pode ser um importante
elemento distrator, gerando, como já vimos, a
desmotivação e a indiferença perante o ensino
tradicional.
3.2.1 Distração e dispersão
Embora sejam vistos como sinônimos em muitos
casos, a distração e a dispersão são processos diferentes.
No primeiro caso, como já visto, a distração é
uma fuga do foco de atenção, na qual há uma fuga
atencional de tarefa que se tem a cumprir. Seja por
pensamentos vagueantes, seja por realizar alguma
ação fora da tarefa, na distração há algo que se quer
evitar, e portanto, busca-se outro estímulo, externo ou
interno, para preencher os pensamentos e/ou ações.
No segundo caso, ou seja, na dispersão, o foco
atencional é constantemente rompido, o que
Aula 3 | Processos Mentais I: a Atenção 48
impossibilita a concentração, reduz a duração da
experiência em questão, e perde-se a consistência ou a
permanência em um dado objeto ou pessoa. Ou seja,
de certa forma independe de estar em uma tarefa
específica ou não.
3.3 Treinando a Atenção
Um dos aspectos mais interessantes sobre os
mecanismos atencionais é que eles podem ser
treinados. De fato, parece haver uma mudança, com o
simples passar do tempo, na forma como processamos
e classificamos os estímulos sensoriais, resultando em
mudança de interesses.
Tal fato pode ser explicado pela interação da
genética, epigenética e fatores ambientais a que somos
continuamente expostos, através do que há mudanças
de comportamento e da forma como aprendemos, toda
vez que tentativas são bem ou mal sucedidas, em um
processo de ensaio e erro.
Se este processo já ocorre naturalmente,
também pode ocorrer de forma direcionada. Assim, a
literatura possui uma série de técnicas para se ler
melhor, estudar melhor, melhorar a atenção, melhorar
a concentração, entre outras. Duas formas em
evidência têm uma série de estudos que as suportam.
A primeira envolve treinamentos das redes
atencionais, de forma que estudos revelaram um
aumento da atenção executiva e também mudanças
físicas nas áreas cerebrais relacionadas à atenção.
A segunda envolve a prática de diversas técnicas
de meditação, processo que tem ganho espaço no
ambiente de sala de aula. Embora estas técnicas ainda
sejam mais utilizadas como treinamento da atenção em
Aula 3 | Processos Mentais I: a Atenção 49
ambiente corporativo (como a mindfulness, por
exemplo), com resultados positivos já relatados, há
relatos ainda tímidos da aplicação destes métodos em
sala de aula, igualmente com resultados positivos. A
prática de formas de meditação tem sido usada para
mudar o estado cerebral, de maneira a melhorar a
atenção, reduzir o estresse, e ainda melhorar a
conectividade funcional entre o cingulado anterior e o
estriado.
Considerando que o melhor estado para a
aprendizagem envolve um equilíbrio entre o estado de
estresse e o estado de repouso, a meditação parece
surgir como uma possibilidade de melhorar o
rendimento dos alunos.
3.4 A Atenção na prática pedagógica
Uma contraposição interessante entre a atenção
polarizada, a concentração que se exige em sala de
aula é o excesso de informações e a facilidade de
acesso que se tem atualmente. De forma contraditória,
a facilidade de acesso às tecnologias parece estar
criando um ambiente de dispersão que têm atrapalhado
de forma consistente o estado de concentração
necessário para o estudo.
Um dos elementos que mais contribui para isso
são os aparelhos celulares, ou Smartphones, que se
tornaram um dos elementos mais viciantes atualmente,
agindo em áreas cerebrais dopaminérgicas ligadas à
recompensa e ao vício, como o Núcleo Accumbens, e
provocando enormes dificuldades ao estado de
concentração. Controlar o uso de aparelhos celulares
em sala de aula é um dos grandes desafios no
ambiente escolar.
Aula 3 | Processos Mentais I: a Atenção 50
Por outro lado, este uso parece ser maior em
ambientes nos quais a participação do aluno é menor,
ou seja, o aluno figura mais como um elemento passivo
do que ativo, não estando portanto integrado ao
“modus operandi” do processo da aprendizagem.
Este é um ponto, a nosso ver, crucial. O
aprender ativo, aprender fazendo ou estado ativo de
aprendizagem parece favorecer a atenção, a
concentração, ao mesmo tempo que reduz a dispersão
e as distrações. O aluno ativamente engajado não tem
tempo ou espaço mental para distrair-se ou dispersar-
se, pois se torna parte integrante do processo de
aprendizagem, ao invés de ser somente um espectador
passivo.
Portanto, um viés para a atenção em sala de
aula parece estar nos procedimentos metodológicos
adotados. Quanto mais ativa for a participação do
aluno, maior será seu estado atencional e, portanto,
melhor ficará sua aprendizagem.
Outro aspecto, que tem íntima relação com este
ora descrito, é o da personalidade do professor.
Professores passivos, com pouco interesse e pouca
variação de recursos metodológicos aparentemente
geram pouco interesse e atraem pouco a atenção de
seus alunos.
Na outra ponta do espectro, professores
motivados, que trabalham ativamente e com interesse
por seus alunos provavelmente geram mais interesse, o
que pode facilitar todo o processo e melhorar a
aprendizagem. Esta perspectiva significa,
invariavelmente, que o professor engajado está
emocionalmente envolvido com seus alunos, com o
processo e com a escola.
Aula 3 | Processos Mentais I: a Atenção 51
Os alunos, por sua vez, não são alheios a este
engajamento do professor, e não raro respondem de
forma positiva a esta postura profissional.
Desta forma, cria-se uma ambiência na qual os
alunos e o professor envolvem-se positivamente, e
muitas questões derivadas dos problemas atencionais
atenuam-se: o baixo rendimento escolar, a violência
verbal e física, o desrespeito, o desinteresse.
EXERCÍCIO 1
O que é atenção e o que são distratores e dispersores?
Quais as consequências para a prática pedagógica
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 2
Quais são os principais sistemas neurais relacionados à
atenção? Descreva.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 3 | Processos Mentais I: a Atenção 52
RESUMO
Vimos até agora:
Atenção é a capacidade de escolhermos um
estímulo em detrimento de outros, e depende
de uma intrincada rede neural que seleciona
os sentidos que iremos perceber em
detrimento daqueles que serão descartados.
Na sociedade atual, há diversos elementos
distratores e dispersores. No primeiro caso,
estão as situações em que há fuga do foco
atencional em determinada tarefa. No
segundo caso, há uma dificuldade em se ater
a um estímulo, alternando-se constantemente
a atenção entre vários estímulos, de forma a
não se ater em nenhum.
A atenção é treinável, ou seja, através de
técnicas específicas pode-se melhorar o
estado atencional. Porém, um dos fatores
preponderantes em sala de aula parece estar
ligado à personalidade do professor e como
este gerencia suas aulas, no tocante, em
especial, à metodologia de ensino.
53
Processos Mentais II: A emoção e a motivação André Codea
AU
LA4
Apr
esen
taçã
o
Neste tópico, abordaremos o conceito de Motivação, as Emoções e sua importância para o fenômeno da aprendizagem.
Obj
etiv
os
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
Entender os conceitos de emoção e motivação Compreender a relação entre a motivação e os estados
emocionais Conhecer as estruturas neurais e os sistemas e subsistemas
que participam do estado motivacional Reconhecer a relação entre atenção e motivação Discutir sobre a motivação e a emoção em sala de aula Entender que a motivação é, parcialmente, resultado da
interação entre o professor e o aluno.
Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação 54
4.1 A Emoção
Conforme já relatado no Capítulo II, a emoção é
um dos principais aspectos relacionados ao ser humano
e, especificamente, à aprendizagem. Embora seja
reconhecidamente presente, o estudo sobre as
emoções é um capítulo ainda a ser descortinado pela
neurociência. Muito já se sabe sobre os circuitos
emocionais no cérebro, mas muito ainda há que se
saber, pois ainda há lacunas a serem preenchidas sobre
como sentimos, percebemos e processamos as
emoções.
Podemos entender a emoção como um estado
mental subjetivo que envolve de forma inalienável os
estados fisiológicos autônomos, sentimentos e
pensamentos sobre o que provoca tal estado.
4.1.1 A experiência emocional
Um dos aspectos mais importantes do estudo
das emoções é relacionado a como as emoções são
expressas através do comportamento. As expressões
emocionais são fundamentalmente relacionadas ao
nosso estado emocional, de forma que estão integrados
aos nossos estados fisiológicos.
4.1.1.1 Charles Darwin
Um dos primeiros a lidar com esta afirmação foi
Charles Darwin, que em 1872, Darwin escreveu “A
Expressão das Emoções no Homem e Animais”. Este
trabalho tornou aparente a absoluta relevância de
estudar a emoção em modelos animais e identificou a
extrema semelhança entre manifestações emocionais
básicas em animais e no homem.
Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação 55
Ele também lançou a ideia de que respostas
autonômicas são parte intrínseca da experiência
emocional, estabelecendo a primeira conexão entre os
sistemas fisiológicos e as emoções. Ou seja, em sua
visão, os aspectos periférico, esqueletomotor e
autonômico da emoção têm funções importantes na
comunicação com os outros e em preparação para
respostas comportamentais.
4.1.1.2 William James e Carl Lange
Outro estudioso, William James, deu
continuidade aos estudos sobre a emoção, ao
referenciar a conexão entre a fisiologia (o que ele
chamava de “sentimento corporal”) do estado
emocional, colocando-os como indissociáveis.
De fato, ao final do século XIX, juntamente com
Carl Lange, William James desenvolveu uma teoria que
considerava dois aspectos principais sobre como
entender as experiências emocionais:
Respostas autonômicas são reações reflexas
que ocorrem rapidamente, iniciando e, às
vezes terminando, antes que ocorra uma
percepção consciente da emoção.
Experiência emocional é a percepção que
surge das alterações autonômicas. Em outras
palavras, a experiência emocional segue e
reflete a reatividade autonômica.
Em síntese, a teoria de James-Lange entendia
que a Emoção é uma resposta a mudanças fisiológicas
no corpo. No entanto, esta teoria não conseguia
explicar o fato de que sentimentos emocionais podem
se estender bem além do tempo de excitação
autonômica.
Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação 56
4.1.1.3 Walter Cannon e Philip Bard
A partir desta problemática, na década de 1920,
Walter Cannon e Philip Bard propuseram uma teoria
alternativa. Argumentaram que sensação visceral não
pode responder pela emoção, e que era necessário um
sistema cerebral central para a experiência emocional
que fosse separado do sistema da sensação visceral.
A teoria de Cannon-Bard sugeria que duas áreas
subcorticais, o hipotálamo e o tálamo, desempenhariam
um papel fundamental na mediação da emoção. Eles
defendiam que estas estruturas poderiam regular
aspectos periféricos da emoção (por exemplo,
respostas autonômicas), bem como fornecer
informações adequadas para o processamento cortical
cognitivo da emoção.
Bard, que era um estudante de Cannon, fez
transeções seriais, desconectando-se essencialmente o
córtex cerebral de vias descendentes em gatos.
Quando a transecção incluiu apenas o prosencéfalo,
uma variedade de comportamentos constitutivos de
raiva foi observada quando eram apresentados
estímulos inócuos ao gato. Estes comportamentos
incluíam o arqueamento das costas, a extensão das
garras, assoviar, cuspir, a dilatação das pupilas, o
aumento da pressão arterial, da frequência cardíaca e
da secreção adrenal.
Esta raiva foi chamada de “falsa raiva", porque
os animais mantinham respostas emocionais, mas as
respostas não tinham aspectos de comportamento
emocional que normalmente eram observadas durante
a raiva. Além de ser provocada por estímulos inócuos,
a falsa raiva diminuiu rapidamente após a remoção do
estímulo e era não direcionada; os animais se mordiam.
Bard realizou transeções progressivas, e quando o
Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação 57
hipotálamo posterior foi desconectado, foi observada
resposta não coordenada de raiva.
Estes achados os fizeram acreditar na mediação
das áreas subcorticais sobre os fenômenos das
experiências emocionais.
Em síntese, a teoria de Cannon-Bard estabelecia
que emoções podem ser independentes da expressão
emocional, sendo mais um processo cognitivo.
4.1.1.4 Stanley Schachter e Jerome Singer
Em continuidade aos estudos sobre a emoção,
Schachter e Singer desenvolveram uma teoria que era
uma complementação à teoria de James-Lange.
Assim, concordando com James e Lange,
estipulavam que a consciência de uma emoção ocorre
graças à consciência de reações emocionais. Neste
sentido, as reações são muito parecidas ao estímulo,
sendo praticamente impossível ao sujeito discriminar o
tipo de emoção que foi ativada especificamente pelo
estímulo emocional.
Sua teoria representou uma evolução à de
James-Lange na medida em que colocou na equação a
interferência do meio social. Desta forma, o indivíduo
adquire informações do seu meio social e rotula essas
reações emocionais. A existência deste rótulo emocional
é que diferencia esta teoria da de James-Lange.
De certa forma, a teoria parecia juntar as duas
anteriores, estabelecendo a importância das reações
autonômicas nas manifestações emocionais, mas
também que há uma interpretação, mediada pelo meio
social, dos estímulos emocionais. Em síntese, emoções
são diferentes dos outros estados mentais por causa
das reações físicas associadas.
Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação 58
4.1.1.5 Jack Panksepp
Após a teoria de Schachter-Singer, houve uma
certa estagnação nos estudos sobre a emoção, que
ganhou novo impulso após o advento das técnicas de
neuroimagem, ao final do século XX. Um destes
expoentes, que propôs uma nova compreensão sobre a
emoção foi Jack Panksepp.
Jack Panksepp, em 1998, ofereceu uma
definição funcional para o sistema emocional no
cérebro, identificando funções que variam de entradas
sensoriais incondicionadas ao controle da emoção pela
cognição.
Assim, Panksepp descreveu um conjunto de 4
sistemas fundamentais ‘conectados' da emoção
encontrados nos cérebros de mamíferos: a BUSCA, ou
seja, o se mover adiante, farejar, investigar; o MEDO,
ou seja, o gelar, assustar, escapar; a RAIVA, quer
dizer, atacar, morder, lutar; e o PÂNICO, relacionado à
agitação, sons de angústia.
Desta forma, ao descrever influências
excitatórias e inibitórias – como uma relação excitatória
entre medo e raiva – entre os 4 sistemas, estabeleceu
também três outros sistemas, neste caso “especiais”,
por só se aplicarem ao ser humano: LUXÚRIA,
CUIDADO, e JOGAR.
Para este cientista, as sensações de emoção não
podem ser estudadas em mamíferos não-humanos,
embora nós possamos fazer algumas suposições sobre
as experiências de sensações de outros mamíferos,
observando seus comportamentos.
Por outro lado, sentimentos emocionais podem
ser investigados em seres humanos: um estudo PET
Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação 59
(Tomografia por Emissão de Positrons) investigou
respostas cerebrais quando indivíduos autogeravam
emoções, tais como: alegria, tristeza, medo e raiva.
Foram observados diferentes mapas neurais para as
diferentes emoções em áreas corticais e subcorticais, o
que sugeriu a existência de sistemas emocionais
diferentes para cada tipo de emoção em diferentes
regiões cerebrais.
4.2 O comportamento motivado
A motivação se refere ao significado que o
estímulo, ou seja, a informação sensorial recebida a
partir dos órgãos dos sentidos e percebida pelo cérebro
tem para o indivíduo. O estado motivacional é um dos
componentes essenciais da aprendizagem, e possui
muitas variáveis intervenientes.
A fim de iniciarmos nosso entendimento sobre
motivação, há que se ressaltar que motivação tem a
ver com motivos. Em outras palavras, quer dizer que
para que nos movamos para algo, para que façamos
alguma ação, há que se ter um motivo para que se
faça, mesmo que este não seja consciente no indivíduo.
De forma similar, pode-se dizer que motivo
refere-se à necessidade. Neste ponto de vista,
movemo-nos para algo a partir do momento em que
temos uma necessidade a atingir, seja esta interna ou
externa.
Podemos também dizer que os motivos para
realizarmos alguma ação tem relação direta com o
valor. Se o valor é algo que preenche nossas
necessidades por estarmos carentes, privados ou em
vacuidade daquilo que pretendemos ter ou atingir,
podemos inferir que nosso estado motivacional tem
estreita relação com as coisas que damos valor.
Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação 60
O que também nos remete à questão de que
motivação é um estado eminentemente emocional e
que, portanto, envolve os vários circuitos neurais
relacionados à emoção (como a atenção, por exemplo),
que já tratamos previamente, e outros que trataremos
a seguir.
4.2.1 O Sistema Límbico
Experiências emocionais, e a capacidade de
refletir sobre nossas emoções, fazem parte integrante
de nossas vidas, guiando nossas ações e enriquecendo
o nosso sentimento de satisfação.
Recompensas, boas e más, desempenham um
papel integral na modulação das emoções e no
comportamento motivado.
As emoções são mediadas pelo sistema límbico,
que inclui o hipotálamo. O sistema límbico é um
complexo conjunto de áreas interconectadas do cérebro
que integram informações sobre estímulos sensoriais,
lembranças e planos cognitivos para produzir
aprendizagem emocional e experiência emocional.
Paul Broca, um neurocientista francês do século
XIX, descreveu em 1878 o Lobo Límbico, ou seja, um
anel de matéria cinzenta na face medial dos hemisférios
cerebrais. Uma região do córtex, formando um anel ao
redor do corpo caloso: lobo temporal superficial, giro
cingulado, hipocampo.
O trabalho de Broca foi posteriormente ampliado
por James Papez, que na década de 1930 definiu um
sistema límbico que estabelecia a relação subjacente
entre emoção e memória, o chamado Circuito de Papez.
O circuito dá uma ideia de Sistema, algo que não era
encontrado, por exemplo, na teoria de Cannon-Bard.
Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação 61
Neste circuito, Papez definiu que um conjunto de
estruturas límbicas, incluindo o córtex, estão envolvidas
na emoção. E ao dizer emoção, estamos tratando de
diversos aspectos: a fisiologia, o sentimento e o
comportamento, por exemplo).
O circuito de Papez foi posteriormente
rebatizado por Paul McLean como Sistema Límbico, em
alusão ao trabalho de Broca. Inicialmente, o circuito
original foi estabelecido com quatro estruturas
encefálicas: o córtex cingulado, o hipocampo e o fórnix,
o hipotálamo e os núcleos anteriores do tálamo. As
posições e as conexões destas estruturas sugeriam um
circuito. O hipotálamo, tratando da expressão
emocional; o córtex cingulado, da experiência
emocional; ambos mediados pelo tálamo e hipocampo.
E todo o circuito ligado ao Neocórtex, que dá o
“colorido” emocional.
A partir do trabalho de Papez, novas pesquisas
foram conduzidas em todo o mundo, o que ampliou o
sistema límbico. Uma das inclusões foi da estrutura
hoje reconhecida como o regulador-chave das
emoções: a amígdala cerebral. Por outro lado, outras
estruturas perderam importância ou não tiveram sua
atividade diretamente ligada ao sistema emocional. O
hipocampo ficou apenas relacionado à memória,
especificamente à memória relacionada ao conteúdo
emocional. Os núcleos anteriores do tálamo não foram
confirmados por alguns estudiosos como associados às
emoções, e estão sujeitos a controvérsia. O hipotálamo
continua sendo o centro regulador dos estados
fisiológicos, tanto neurais quanto endócrinos, ligados às
emoções.
Outras estruturas associadas foram os corpos
mamilares e o giro parahipocampal, que fazem parte
das conexões intrínsecas do sistema límbico.
Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação 62
4.2.2 O Sistema Límbico e o
Comportamento Motivado
É notório que estados emocionais alterados são
responsáveis pelo comportamento motivado, seja este
que leve em direção ao comportamento desejado ou
não. Por exemplo, já foi comprovado que indivíduos
submetidos à hipnose são capazes de gerar mais força
do que aqueles que gritam ao realizar uma tarefa
motora, e estes geram mais força do que aqueles que
simplesmente fazem a tarefa motora. No primeiro caso,
a hipnose inibe o receio do indivíduo de se lesionar; no
segundo caso, o grito parece induzir uma “força extra”
e, no terceiro caso, quando não há estimulação de
nenhum tipo, há a menor geração de força.
Experiências deste tipo sugerem que há alguns
componentes emocionais capazes de mudar o
comportamento. Alegria, medo, raiva, estresse,
felicidade, são estados emocionais que podem afetar
positivamente ou negativamente as experiências de
aprendizagem.
Vários autores consideram a existência de ao
menos três categorias de comportamentos motivados.
No primeiro caso, temos aqueles ligados aos impulsos
fisiológicos mais elementares, como a ingesta alimentar
e o controle da temperatura, nos quais temos
motivação para buscar alimentos a partir da fome e da
sede, e para regular a temperatura interna a partir da
temperatura ambiente. São os chamados
comportamentos regulatórios, com vital participação do
hipotálamo.
No segundo caso, temos aqueles ligados aos
impulsos biológicos, como por exemplo a busca por
sexo e pelo melhor parceiro para realizar este intuito (e
todo o comportamento que isso envolve, como cortejar,
Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação 63
estimular e envolver). Esta classificação faz parte dos
comportamentos não-regulatórios, pois é fortemente
estimulada por uma série de estímulos, especialmente
estímulos externos, e não fazem parte de nenhum
mecanismo de controle de regulação interno. Apesar do
sexo ter participação do hipotálamo, não constitui isso
um fenômeno regulatório.
Por último, temos aqueles comportamentos
relacionados à consumação de um ato desejado, ou
comportamentos concretizadores. Neste caso, são
aqueles que estão relacionados aos atos em si, e que
são normalmente automatizados.
Nos dois últimos tipos de comportamento
motivado, com ou sem a participação do hipotálamo,
temos grande participação de áreas corticais dos lobos
frontais e também do sistema límbico.
4.2.2.1 Estados emocionais e aprendizagem
4.2.2.1.1 Medo
O medo é, reconhecidamente, um dos estados
emocionais mais vivenciados, seja por homens, seja
por animais. Sua geração é associada à amígdala, que
é fortemente estimulada quando estímulos internos ou
externos de perigo são apresentados ao sistema
nervoso. A microestimulação da amígdala gera
sentimentos de medo e apreensão.
O medo pode tanto ser incondicionado (medos
não aprendidos, como o medo de altura e determinados
sons) ou condicionados (medos aprendidos, como o
medo gerado pelo som de um tiro de arma de fogo, que
se torna distinguível de outros tipos de estampido pela
experiência).
Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação 64
Reações de medo têm um forte componente
fisiológico associado, como o mecanismo de “luta ou
fuga” disparado pelo Sistema Nervoso Central através
da ação hipotalâmica de estimular por via hormonal a
glândula adrenal, para liberação de adrenalina na
corrente sanguínea, o que imediatamente eleva a
frequência cardíaca e respiratória, para suprir de
oxigênio e nutrientes as células musculares e nervosas,
primordialmente.
Em relação aos movimentos físicos e ao
comportamento, o medo pode se tornar um forte
inibidor ou um potente estimulador. Isto depende
fundamentalmente da forma que o indivíduo condiciona
as respostas através da exposição frequente. Os
“viciados” em adrenalina são aqueles que se sujeitam a
perigos constantemente em função de vivenciar a
experiência. Por outro lado, pode paralisar uma pessoa
submetida a um forte perigo ou estresse. Mas de uma
forma ou de outra, interfere no comportamento.
O medo não é, efetivamente, um aliado da
aprendizagem. Estímulos de medo podem inibir a
aprendizagem ou afetá-la, pois trata-se de um estado
emocional negativo, para a maioria das pessoas. Pode
inibir a formação de conexões neurais vitais para a
aprendizagem, afetar a capacidade de memorização ou
a capacidade de recuperação da informação.
4.2.2.1.2 Estresse
O estresse é outro componente negativo
associado à aprendizagem. Tanto o causado por medo,
quanto o causado por ansiedade, o estado de estresse
(especialmente o agudo) não é comumente um bom
estado emocional para a aprendizagem.
No estado de estresse, há um certo descontrole
de funções fisiológicas, de longo prazo e que causam
Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação 65
um estado fisiológico desconfortável, provocado por
taquicardia e taquipneia, associados com liberação
adrenérgica, e sudorese. Também há alterações
hormonais, especialmente associadas com o aumento
dos níveis de cortisol, que em determinados níveis e
intervalo de tempo, podem afetar o organismo ao
diminuir a resistência imunológica.
4.2.2.1.3 Raiva
A raiva é um comportamento agressivo que
pode ser ativado por medo, mas constitui uma emoção
diferente. As manifestações emocionais de raiva são
fundamentalmente diferentes, e os circuitos cerebrais
ativados também, embora a amígdala permaneça como
elemento central, da mesma forma que no medo.
Também da mesma forma que no medo, a raiva
ativa fortemente (e também é ativada) por hormônios.
4.2.2.1.4 Alegria e felicidade
Estados de alegria e felicidade são aqueles que
estão relacionados ao prazer. E são, efetivamente,
elementos altamente reforçadores e, não raro, que
causam a repetição do estímulo (ou estímulos)
causador(es), podendo inclusive levar ao vício.
Em muitas situações, os estados de alegria e
felicidade são vivenciados a partir da interrelação entre
um estado mental e estímulos externos, mas também
podem ser gerados unicamente por estímulos internos
(como uma lembrança, por exemplo, que faz uma
pessoa sorrir) que nada tem a ver com estímulos
externos naquele dado momento. Isto significa que
embora o córtex pré-frontal tenha efetiva participação
na adaptação do comportamento a partir dos estímulos
Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação 66
ambientais (quanto mais socializado o indivíduo, maior
sua massa cerebral no córtex pré-frontal).
Porém, é importante lembrar que emoções, em
geral, são sentimentos subjetivos, e alegria e felicidade
estão neste espectro. Entretanto, seja de que tipo
forem, toda emoção parece eliciar: a) respostas
fisiológicas autônomas; b) sentimentos subjetivos
apropriados; e, c) pensamentos ou planejamentos.
Sentimentos como alegria e felicidade parecem
repousar numa intrigante e ainda não totalmente
desvendada interação entre os córtices pré-frontais e o
sistema límbico (talvez mais propriamente, a
amígdala).
Estímulos recompensadores são especialmente
agradáveis, e tendem a levar à repetição. Inúmeros
estudos que tentaram mapear as conexões associadas
aos estímulos de recompensa tornam relevantes
algumas importantes áreas, como o hipotálamo lateral,
o feixe prosencefálico medial e o núcleo accumbens,
formam uma área conhecida como sistema
dopaminérgico mesolímbico, ou um dos circuitos de
recompensa, que também inclui o córtex pré-frontal.
Como o nome do sistema já diz, é um sistema que
inclui o neurotransmissor dopamina, fortemente
associado com estímulos que geram recompensas
emocionais. Outro neurotransmissor fortemente
associado com experiências emocionais positivas é a
serotonina, que faz parte de um dos sistemas
ativadores ascendentes (os outros três são o colinérgico
[acetilcolina], o dopaminérgico [dopamina], e o
noradrenérgico [noradrenalina]) e que está fortemente
associado à vigília e aos estados prazerosos.
Aulas dopaminérgicas e serotonérgicas devem
provocar intensas reações positivas no indivíduo,
Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação 67
especialmente em seu sistema de memória. Associar
experiências educativas com a alegria e a felicidade
parece ser um caminho próspero para a ampliação da
capacidade de aprender e de recuperar a informação.
Lembremos sempre que em termos do
funcionamento do nosso sistema buscador de
recompensas, tendemos a maximizar o contato com
estímulos que nos são agradáveis ou prazerosos, e
minimizar o contato com estímulos que são
desagradáveis ou dolorosos.
EXERCÍCIO 1
Como os estados mentais podem contribuir de forma
positiva e negativa para a aprendizagem?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 2
Como as teorias da emoção e o sistema límbico
explicam as emoções?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação 68
RESUMO
Vimos até agora:
Emoção é um estado mental subjetivo que
envolve de forma inalienável os estados
fisiológicos autônomos, sentimentos e
pensamentos sobre o que provoca tal estado;
Há várias teorias acerca dos mecanismos
emocionais, porém parecem estar associados
a determinados sistemas e subsistemas
neurais;
Motivação se refere ao significado que o
estímulo, ou seja, a informação sensorial
recebida a partir dos órgãos dos sentidos e
percebida pelo cérebro tem para o indivíduo;
Estados emocionais positivos e negativos,
como medo, raiva, estresse, alegria e
felicidade têm impacto na aprendizagem;
As experiências emocionais positivas parecem
nos fazer querer repeti-las, enquanto que as
experiências emocionais negativas nos
parecem querer repeli-las.
69
Processos Mentais III: a Memória André Codea
AU
LA5
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esen
taçã
o
Nesta aula, veremos o que é memória e como está relacionada com a aprendizagem. Estudaremos os mecanismos de memória e as variadas formas de armazenarmos informação.
Obj
etiv
os
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
Entender o que é memória e suas formas variadas; Compreender como memória e aprendizagem estão
relacionadas; Saber como armazenamos e recuperamos a informação.
Aula 5 | Processos Mentais III: a Memória 71
5.1 A Memória
Memória pode ser definida como uma
representação duradoura que se reflete no pensamento,
na experiência ou no comportamento. Aprendizagem,
por outro lado, pode ser definida como a aquisição
duradoura de tais representações, envolvendo uma
ampla gama de atividades e áreas cerebrais.
Armazenamento de memória é o que, acredita-se,
envolva alterações sinápticas generalizadas no córtex.
5.1.1 Neurociência da memória
Importantes estruturas cerebrais no estudo da
memória são os córtex mediais dos lobos temporais (da
sigla em inglês MTL – Medial Temporal Lobe), que
contêm os dois hipocampos e seu tecido circundante.
O MTL codifica informações em todos os
domínios sensoriais, tais como cheiro, visão e toque.
Ele é um cruzamento altamente interativo e integrativo
de múltiplas entradas cerebrais, através da
coordenação da aprendizagem e recuperação de dados
em partes variadas do córtex.
Isso faz do MTL uma das partes cruciais no
entendimento dos complexos mecanismos da memória
e do esquecimento. Todo o processo pode envolver pelo
menos três processos: experienciar, armazenar e
recuperar informação.
Em um primeiro momento, o processo de
experienciar envolve a percepção de diversos estímulos
sensoriais. Como exemplo, podemos usar a experiência
de experienciar um doce (um Donut, por exemplo).
Desta forma, os diversos sentidos associados
com o Donut são experienciados: a visão e o olfato,
Aula 5 | Processos Mentais III: a Memória 72
neste momento, são preponderantes. Neste momento,
o MTL é ativado para memórias relativas ao Donut. Se
você já viu e já experienciou antes, o MTL acessa as
associações possíveis e tende a recuperar vestígios do
objeto em sua memória (o que é conhecido como
traços de memória), o que envolverá inclusive reações
fisiológicas já vivenciadas. Se você ainda não viu e
experienciou, irá tentar aproximar das experiências que
já teve com doces.
A partir deste momento, ou se reforçará a
experiência com Donut na memória, ou se construirá
tal experiência, que será reforçada a partir do momento
que tiver mais experiências com o doce.
Fica claro então que o MTL é necessário para a
lembrança consciente de memórias episódicas de longo
prazo. Neste sentido, a aprendizagem funciona melhor
quando você presta atenção. Codificar um objeto na
memória significa armazenar, e a codificação de
sucesso requer um nível ótimo de atenção (que é
variável de acordo com o que se quer codificar e com o
contexto) e, presumivelmente, de consciência. De
qualquer forma, quanto mais interação (em termos dos
sentidos utilizados na percepção do objeto) tivermos
com o objeto a ser memorizado, mais associações
serão possíveis e maiores possibilidades de recuperação
estarão disponíveis.
5.1.1.1 “Locais” de Memória
Memória normalmente não se refere a locais
propriamente ditos, mas a estruturas neurais. Uma
dessas estruturas neurais que possui enfoque no
estudo da memória é o hipocampo.
O hipocampo é a região classicamente definida
como a responsável por armazenar memórias
Aula 5 | Processos Mentais III: a Memória 73
episódicas de longo prazo e, como já vimos, possui
conexões com o córtex cerebral.
Com o tempo, porém, as memórias são
armazenadas em redes distribuídas por áreas corticais
e tornam-se cada vez menos ligadas ao hipocampo.
O hipocampo parece ser fundamental para a
memória espacial, e possui células que disparam
quando o indivíduo ocupa uma localização particular no
ambiente (comumente referidas como células de
localização). As células de localização parecem
representar um componente cognitivo do ambiente,
pois se as células dispararem em um determinado
padrão, o indivíduo irá se comportar de uma certa
maneira naquele dado ambiente, naquele dado
contexto.
Assim, a importância do hipocampo parece estar
ligada a três tipos principais de experiências: aquelas
necessárias para fazer um mapa cognitivo do espaço
ambiente, aquelas que aprendem o significado de
combinação de estímulos, e aquelas que reconhecem a
relação entre objetos em um dado ambiente.
Um exemplo bastante contundente da
importância do hipocampo como sede da memória
espacial foi obtida a partir de estudos famosos com
taxistas londrinos. Estes foram escaneados, e
descobriu-se que seus hipocampos eram
significativamente maiores do que indivíduos normais.
Para explicar este fato, sugeriu-se que pelo fato desta
categoria profissional ter que possuir uma fantástica
memória de locais, trajetos, ruas e mecanismos de
localização, tudo estaria armazenado no hipocampo,
que guardaria estes dados de forma mais ou menos
permanente, de acordo com o uso destes locais,
trajetos, ruas e mecanismos de localização.
Aula 5 | Processos Mentais III: a Memória 74
Uma outra estrutura, desta vez relacionada à
emoção, a amígdala, também possui conexões com a
memória. Considera-se que a amígdala modula a
memória através da interligação de sistemas hormonais
e estímulos emocionais associados aos eventos a serem
armazenados.
Isto traz profundas implicações para a
aprendizagem, na medida em que estados emocionais
positivos podem favorecer o armazenamento de
informações na memória e sua posterior recuperação
ou lembrança.
5.1.2 Tipos de Memória
A maioria dos modelos de memória atualmente
considera a existência de uma memória de longo prazo
(como a organizada nos MTLs) e uma memória de curto
prazo. Neste último caso, esta memória é comumente
chamada de memória de trabalho, no que os córtices
frontais ventromedial e dorsolateral possuem
importância fundamental.
A memória de trabalho, ou armazenamento de
trabalho considera as entradas sensoriais como fonte
de informação e as armazena temporariamente e
manipula para processá-las.
O que for irrelevante naquele dado momento
será descartado, e o que for relevante será armazenado
em dois tipos bem diferentes de memória: a explícita
(ou declarativa) e a implícita (ou não-declarativa).
Memória explícita relaciona-se com memórias
perceptivas, memórias episódicas (eventos) e
memórias semânticas (fatos). É o conhecimento a que
temos acesso consciente, incluindo o conhecimento
pessoal (autobiográfico) e do mundo.
Aula 5 | Processos Mentais III: a Memória 75
Para memórias episódicas, é necessário recriar o
evento cada vez que se recupera as informações que
foram sobre ele armazenadas. Do ponto de vista
prático, isto significa que cada vez que lembramos
sobre um evento, tendemos a acrescentar ou retirar
detalhes, de acordo com o momento que estamos
lembrando. Para memórias semânticas, parece haver
uma espécie de “saber”, em que não se torna
necessário recriar ou remontar o fato. Com o tempo,
memórias episódicas podem se tornar semânticas.
Em termos hemisféricos, já foi demonstrado que
o hemisfério esquerdo mostrou maior atividade na
aprendizagem episódica (codificação), enquanto o
hemisfério direito mostrou mais atividade em
recuperação episódica.
Memória implícita relaciona-se com memórias
hábitos e habilidades motoras, com tarefas
condicionadas e com tendências e metas a serem
atingidas. É o conhecimento a que normalmente não
temos acesso consciente.
Uma forma de memória não-declarativa
bastante comum é a memória procedural. Ela envolve o
aprendizado de uma variedade de habilidades motoras
e cognitivas (por exemplo, andar de bicicleta, tocar
piano ou ler).
Como pessoas com amnésia não apresentam
perda de memória implícita, mas comumente
apresentam diferentes tipos de perda de memória
explícita, assume-se que estas devem ocupar diferentes
estruturas no tecido cerebral, além de serem
processadas de maneiras diferentes.
Sobre este processamento, aparentemente as
memórias implícitas e explícitas utilizam “vias” neurais
Aula 5 | Processos Mentais III: a Memória 76
diferentes, que são chamadas de vias baixas (ou de
baixo para cima) e vias altas (ou de cima para baixo).
Memórias implícitas usam as vias baixas, ou
seja, são armazenadas diretamente: por exemplo, uma
informação visual passa pelos órgãos visuais, pelo
núcleo geniculado lateral (uma área do tronco
encefálico relacionada à visão), pelo córtex occipital e
pelo lobo temporal inferior, que fará o reconhecimento
a partir do que já tem armazenado.
Já para as memórias explícitas, que usam a via
alta, tem-se o processamento destes dados, pois há
necessidade de reconhecimento, reorganização e nova
resposta a partir das informações processadas.
5.1.2.1 Circuitos de Memória
Talvez mais importante que os locais em si,
sejam os circuitos de memórias já identificados por
vários cientistas desde o século passado.
O circuito para memórias explícitas inclui uma
interconexão entre as seguintes estruturas: o MTL, que
atua como um centro integrador, trocando informações
com o Neocórtex como um todo, o tálamo anterior e o
córtex pré-frontal, e recebendo informações do tronco
encefálico. O córtex pré-frontal também troca
informações com o tálamo medial, que também recebe
informações do tronco encefálico. Estas informações do
tronco encefálico são, em geral, informações sensoriais
e motoras diversas para processamento. Existem vários
subsistemas para cada um desses sistemas, o que
torna a compreensão completa deste tipo de
armazenamento uma tarefa bastante complexa.
O circuito para memórias implícitas tende a ser
mais simples, pois envolve basicamente aferências:
Aula 5 | Processos Mentais III: a Memória 77
informações sensoriais e motoras para o Neocórtex e
da substância negra para os Núcleos da Base (que
também recebe do Neocórtex). Daí, o tálamo ventral
manda as informações para o córtex pré-motor, que as
armazena para futura utilização.
Influenciando e inter-relacionando cada uma
destas memórias, indica-se que exista uma memória
emocional, com a participação ativa da amígdala, como
já visto.
Assim, pode-se estabelecer que uma concepção
integrada da memória humana requer a participação de
várias regiões cerebrais: o MTL para memórias
episódicas explícitas, o córtex pré-frontal para
metacognição, manutenção e uso de memória, e regiões
sensoriais para memórias sensoriais e perceptivas (como
várias regiões do lobo parietal, por exemplo).
5.1.3 Mecanismos da Memória
Dentre vários mecanismos que tentam explicar
como memorizamos e recuperamos informação (ou
seja, como aprendemos) estão quatro que merecem
nossa atenção para os objetivos deste texto.
5.1.3.1 Memória e Plasticidade
5.1.3.1.1 Potenciação de Longa Duração
A Potenciação de Longa Duração (da sigla LTP,
em inglês – Long Term Potentiation) é um tipo de
plasticidade sináptica específica, que apresenta
aspectos associativos e ocorre em várias partes do
Sistema Nervoso Central.
Codificar uma informação na memória pressupõe
a existência de sinapses excitatórias e inibitórias em
Aula 5 | Processos Mentais III: a Memória 78
um dado circuito. Tanto a codificação quanto a
recuperação da memória parecem envolver neurônios
cujas sinapses se encontram no córtex e no hipocampo.
É exatamente a configuração ou organização dessas
sinapses excitatórias e inibitórias que parece estar
relacionada com o armazenamento permanente, ou de
longo prazo.
Em outras palavras, a manutenção e a
expressão de LTP envolvem alterações nos neurônios
pré-sinápticos e pós-sinápticos. A manutenção da LTP
envolve mudanças estruturais no cérebro, que
dependem da síntese de proteínas.
A descoberta de mudanças estruturais nos
neurônios após a indução de LTP estimulou uma busca
por um mecanismo pela atividade neuronal que poderia
mudar sua estrutura, o que significa que mudanças
sinápticas e neuronais estruturais são uma
consequência bem estabelecida da LTP.
5.1.3.1.2 Depressão de Longa Duração
A Depressão de Longa Duração (da sigla LTD,
em inglês – Long Term Depression) é semelhante à
LTP, porém é relacionada ao cerebelo e à memória
motora de uma forma geral. Também é um sistema de
plasticidade neuronal e sináptico, e a diferença é que a
estimulação causa estímulos cada vez menores nos
neurônios e nas sinapses relacionadas.
5.1.3.1.3 Habituação
A habituação é um processo relativamente
natural encontrado no reino animal e a ideia é que
estímulos repetitivos provocam perda de resposta com
o tempo. Desta forma, explica-se, por exemplo, porque
em princípio um estímulo chama a atenção, mas se
Aula 5 | Processos Mentais III: a Memória 79
formos submetidos durante muito tempo a ele, nos
habituamos e o estímulo não causa mais resposta
(como ficar exposto a um barulho repetitivo e depois de
um tempo não mais “escutá-lo).
5.1.3.1.4 Sensibilização
A sensibilização é basicamente a reação a um
estímulo que seja forte o suficiente para eliciar uma
nova resposta caso ocorra novamente, o que aumenta
a eficácia do processo, cada vez que é repetida,
contrariamente ao que ocorre na habituação. Embora
sejam contrários, ambos os processos (sensibilização e
habituação) são muito parecidos, embora a
sensibilização seja um pouco mais complexa.
5.1.3.1.5 Condicionamento
O condicionamento é talvez um dos mais
estudados e aplicados mecanismos de memória, e
representa um avanço em complexidade em relação à
habituação e sensibilização.
No condicionamento clássico, a forma mais
antiga, associa-se a mais de um estímulo a capacidade
de aumentar ou diminuir uma resposta, ou seja, a
transmissão sináptica decorrente do processamento do
estímulo.
Esta característica de associação é central para o
entendimento do condicionamento. Aplica-se um
estímulo inócuo (que não produz resposta) sobre o
animal. Após um intervalo curto de tempo, aplica-se
um segundo estímulo, eficaz (que produz reposta). Ao
se repetir várias vezes o processo, a resposta passa a
ser associada ao estímulo inócuo, que foi condicionado
ao estímulo eficaz.
Aula 5 | Processos Mentais III: a Memória 80
5.1.3.2 Memória e Alteração Sináptica
A partir do conceito de que a memória envolve
mudanças estruturais (portanto, físicas) no cérebro,
uma das formas de detectar essas mudanças é analisar
as modificações dendríticas, ou seja, isso significa
dizer, de forma geral, que aprendizagem pode ser
associada com crescimento de dentritos. A inferência
pode ser feita a partir do momento em que se sabe que
crescimento dendrítico significa maior número de
sinapses.
Isso pode significar, em outros termos, novas
conexões sinápticas sendo formadas com neurônios
anteriormente conectados, ou novas conexões
sinápticas com novos neurônios. De uma forma ou de
outra, isto significa que novos circuitos foram
formados, o que, no caso da memória, pode significar
por sua vez que novas memórias foram armazenadas.
Este mecanismo, em particular, pode explicar o porque
do hipocampo de taxistas ser maior do que pessoas
normais.
Já foi determinado, por exemplo, que o cérebro
de pessoas que possuíam nível universitário continha
mais neurônios em uma área da linguagem conhecida
como área de Wernicke, do que aquelas que só
estudaram até o ensino médio.
Porém, mais do que novos circuitos, o cérebro
pode formar novos mapas, o que significa dizer que
vias podem ser criadas e reformuladas, com profundas
alterações comportamentais.
Pode-se então estabelecer, com relativa
segurança, que a memória causa uma mudança física
no cérebro como resultado de armazenamento de
informações, e que estas mudanças são localizadas e
Aula 5 | Processos Mentais III: a Memória 81
diretamente relacionadas com o tipo de
armazenamento que se está realizando.
5.1.4 Memória e Aprendizagem
Já foi determinado neste tópico que memória e
aprendizagem são fenômenos profundamente
associados, já que memória é a representação mental
das informações armazenadas, e a aprendizagem
representa a aquisição duradoura destas informações.
Também já foi demonstrado que há uma
memória emocional que se associa aos processos de
armazenamento de informações, estabelecendo assim
uma importância das emoções nos processos de
codificação das informações.
Por outro lado, também se demonstrou que este
armazenamento de informações provoca mudanças
físicas na estrutura encefálica (especialmente em
estruturas cerebrais e no cerebelo), principalmente
quando tal armazenamento ocorre de forma mais
duradoura.
Igualmente foi dito que as sensações
representam a fonte primária do que será armazenado,
e que quanto mais informações forem associadas com a
aprendizagem, tanto mais efetiva esta será dentro do
exposto, parece razoável inferir que a aprendizagem
será mais eficaz se:
a) As informações forem associadas a múltiplos
sentidos e estímulos;
b) Se tais estímulos forem originados de
processos emocionalmente positivos;
c) Se estes estímulos forem convenientemente
repetidos de forma a proporcionar
Aula 5 | Processos Mentais III: a Memória 82
armazenamento duradouro, a chamada
memória de longa duração.
d) Se, quanto mais eficientemente forem
armazenadas as informações, melhor será a
capacidade de recuperá-las.
EXERCÍCIO 1
Relate quais são os tipos de memórias.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 2
Como os mecanismos da memória podem auxiliar a
compreensão da relação entre a memória e a
aprendizagem?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
Memória pode ser definida como uma
representação duradoura que se reflete no
pensamento, na experiência ou no
comportamento. Aprendizagem, por outro
lado, pode ser definida como a aquisição
Aula 5 | Processos Mentais III: a Memória 83
duradoura de tais representações,
envolvendo uma ampla gama de atividades e
áreas cerebrais.
Algumas áreas são de fundamental
importância para a memória: o Lobo
Temporal Medial, que engloba o hipocampo e
áreas associadas, o córtex pré-frontal, e o
cerebelo, reconhecendo a importância da
amígdala nos processos de armazenamento.
Há vários processos ou mecanismos
associados à plasticidade neuronal ou
sináptica que estão relacionados à memória:
a LTP (Potenciação de Longa Duração), a LTD
(Depressão de Longa Duração), a
Habituação, a Sensibilização e o
Condicionamento.
Armazenamento de Memória implica em
mudanças estruturais no encéfalo,
localizadas especificamente nas áreas
relacionadas àquele tipo específico de
armazenamento.
84
Processos Mentais IV: Consciência André Codea
AU
LA6
Apr
esen
taçã
o
Neste tópico apresentaremos a consciência, um conceito ambíguo que pode significar tanto o estado de vigília (contrariamente à perda de consciência característico do sono) quanto um estado de prontidão, ligado à atenção e à motivação.
Obj
etiv
os
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
Entender os conceitos de consciência Compreender como o estado de consciência é importante para
a aprendizagem Conhecer os circuitos neurais associados com o estado de
consciência
Aula 6 | Processos Mentais IV: a Consciência 86
6.1 A Consciência
Conforme já foi relatado sumariamente no
capítulo 2, a consciência é um fenômeno tanto
estudado como ainda não totalmente compreendido em
termos da neurociência, e as informações atualmente
presentes são, ora controversas, ora ainda pendentes
de estudos adicionais. Porém, com o quadro de
informações atuais, é possível se fazer algumas
inferências interessantes sobre a consciência e a
aprendizagem.
Por um lado, ser consciente significa ser ciente
de si próprio, e do que o cerca, e é contraposto ao
estado de sono, no qual perdemos a consciência.
Constitui um dos ritmos biológicos.
Por outro lado, consciência refere-se à
conscientização do indivíduo em relação a si e ao objeto
ao qual está relacionado, em um processo interativo e
dinâmico que em parte determina o quanto prestamos
atenção a um determinado aspecto de um ambiente.
Este processo está relacionado à motivação, e
determina em grande parte o movimento de busca para
o qual somos determinados por nossa vontade.
Sendo um processo relacionado à motivação, a
consciência é um dos importantes fatores que não só
determina o interesse em aprender, mas
principalmente o que aprender.
6.1.1 A consciência como ritmo biológico
O ritmo biológico, comumente chamado de ritmo
circadiano, está associado ao nosso ciclo vigília-sono.
Neste interim, uma gama enorme de configurações
fisiológicas e psicológicas ocorre em nosso organismo,
em grande parte ligadas ao período do dia.
Aula 6 | Processos Mentais IV: a Consciência 87
Embora circadiano seja uma palavra associada
ao ritmo que ocorre ao longo de um dia, há processos
fisiológicos que ocorrem várias vezes ao dia, e outros
que duram mais do que um dia. Por este motivo, o
nome ritmo biológico é mais adequado.
Ao falarmos em ritmo, sugere-se a existência de
alguma forma de controle sobre o tempo, ou seja, de
temporizadores. Estes sistemas existem em todos os
animais, e obviamente são muito variáveis de espécie
para espécie, e estão relacionadas com mudanças
comportamentais ligadas ao funcionamento orgânico.
O núcleo supraquiasmático, localizado (como o
nome sugere) acima do quiasma ótico é um dos
núcleos relacionados aos controles biológicos,
especialmente aos ciclos. O que lhe confere um papel
de temporizador, tanto relacionado a funções viscerais,
quanto relacionado a comportamentos.
Como o núcleo supraquiasmático tem uma
conexão com o hipotálamo, sugere-se que este órgão
atue como um marcapasso interno, que conta o tempo,
entretanto, com uma periodicidade um pouco acima
das 24 horas do dia.
No entanto, além do nosso controle temporal
interno, há claramente uma regulação cultural, que tem
muito a ver com a sociedade em que se vive. Por
exemplo, a hora de dormir é um fato amplamente
associado a isto. Pelo simples fato do homem ter
descoberto a luz artificial, ele alterou a hora de dormir,
que anteriormente era predominantemente associada à
escuridão, passando então a dormir mais tarde.
Praticamente todos os locais do mundo
atualmente têm luz elétrica. E as pessoas dormem em
horários diferentes, de acordo com fatores que não tem
Aula 6 | Processos Mentais IV: a Consciência 88
a ver diretamente com a existência de luz elétrica ou
não. Um outro aspecto cultural, então, emerge: os
estímulos. Para ilustrar este aspecto, utilizemos outro
exemplo: a partir da constatação de que pessoas
dormem em horários diferentes, pode-se inferir que
pessoas que têm acesso à internet ou televisão
durmam mais tarde do que aquelas que não têm. Isso
poderia ser associado aos estímulos que continuamente
estas mídias expõem, o que retém a atenção e prorroga
o estado de vigília.
Esta é uma das questões que possivelmente
afetam a aprendizagem. O horário de dormir mais
tardio em crianças e adolescentes, especialmente para
aqueles que acordam cedo para a escola, pode
prejudicar à aprendizagem, não conferindo o tempo
necessário para que o aluno repouse e o cérebro possa
efetuar as diversas operações reparadoras e de
consolidação que faz enquanto saímos do estado de
consciência. Na prática, isso quer dizer dias, semanas e
meses sem proporcionar o adequado repouso e as
condições neurais ótimos para a aprendizagem.
Outro aspecto a se considerar neste tópico é a
predileção de horários de estudo. Há pessoas que
estudam melhor de manhã, outros à tarde e outros à
noite. Segundo relatos destas pessoas, o rendimento é
melhor em um destes turnos, em comparação aos
outros.
Embora se saiba que pela manhã há um
aumento nos níveis dos hormônios cortisol e
noradrenalina, o que reforça o estado atencional, não é
ainda muito bem compreendido este mecanismo, pois
ele não é regular para todas as pessoas.
Portanto, aparentemente, horários de estudo
parecem estar mais propensos a serem regulados por
Aula 6 | Processos Mentais IV: a Consciência 89
fatores culturais e predileções pessoais do que por
mecanismos ligados ao ritmo biológico.
Toda esta discussão nos remete a outra
questão: porque dormimos e o que acontece com o
nosso cérebro enquanto estamos inconscientes?
6.1.2 O sono como mecanismo regulador
Por estarmos inconscientes, poderíamos supor
que nosso cérebro, juntamente com o nosso corpo,
está descansando. Nada mais impróprio. Na verdade,
aparentemente a única coisa que “desliga” quando
estamos dormindo é a consciência. O resto do cérebro
permanece profundamente ativo, mas mesmo esta
atividade se modifica durante a noite, através dos
vários estágios do sono.
Na verdade, mesmo o “desligar” da consciência
não é completo. Pode-se dizer que há uma clara
redução reativa a estímulos externos, mas barulhos e
acender de luzes podem interromper o sono, bem como
alguma dor visceral (como dor de cabeça ou dor de
barriga).
Outros fenômenos associados ao sono são a
redução da atividade motora, da atividade
cardiorrespiratória, da temperatura e da atividade
metabólica em geral.
O que se sabe, efetivamente, a respeito do ciclo
sono-vigília, é que há mecanismos neurais – ou
sistemas – para regular a atividade diária em vigília,
para dormir e para despertar. A estes sistemas se dá o
nome de sistemas reguladores, e envolvem uma série
de estruturas do encéfalo que alternam os níveis de
estimulação em determinados circuitos, o que modifica
o comportamento.
Aula 6 | Processos Mentais IV: a Consciência 90
Neste sentido, um dos órgãos claramente
associados à manutenção do estado de vigília é o
tálamo, que fica constantemente ativando o córtex
quando estamos acordados, em especial no repasse das
informações sensoriais. Este mecanismo é parcialmente
inoperante durante o sono.
Entretanto, há um segundo mecanismo também
responsável pela manutenção da vigília, que é
coletivamente chamado de vias ativadoras
ascendentes, que também atuam sobre o córtex.
Para dormirmos, portanto, além de se inativar
dois mecanismos diferentes, o circuito tálamo-cortical e
as vias ativadoras ascendentes, se faz necessário
também que se produza um estado fisiológico
adequado: o que ocorre a partir da intervenção do
hipotálamo, que “desliga” as vias ascendentes, do ritmo
talâmico, que se modifica para uma ativação menor,
sincronizada e regular, e pela atuação do hormônio
melatonina, secretado pela glândula pineal, que inicia o
processo de relaxamento orgânico e de adormecimento.
Há também a intensa participação da formação
reticular, uma intrincada rede neural situada no tronco
encefálico mas, neste caso, em especial a formação
reticular mesencefálica. Já se postulou que esta rede
neural controla ativamente o sono, tanto para iniciar a
fase de sono chamada de sono paradoxal (mais
conhecida como sono REM ou sono dos sonhos), quanto
para finalizá-la.
A necessidade de dormir provêm de vários
fatores: inicialmente, o sono serve para economizarmos
energia, o que ocorre a partir de vários fatores
fisiológicos combinados, associados à redução
metabólica característica do estado de sono; um
segundo aspecto pode estar relacionado ao sistema
Aula 6 | Processos Mentais IV: a Consciência 91
imunológico, pois há uma intensa atividade de
restauração celular que ocorre durante o sono; e, em
terceiro lugar, o sono seria um restaurador de
capacidade mental. Claramente, indivíduos com
privação do sono têm diminuídas suas capacidades de
concentração, de raciocínio e de memória. A situação é
tão delicada que após alguns dias sem dormir, o
cérebro consciente simplesmente desliga, mesmo que
momentaneamente, para que possa haver o necessário
reparo celular.
Este último aspecto tem profundas implicações
para a aprendizagem, como já foi postulado, pois
raciocínio, memória e atenção são, como já vimos,
essenciais para a aprendizagem.
Postula-se que a criança e o adolescente devem
dormir em torno de oito a doze horas, dependendo da
idade. Sem entrar especificamente no mérito de que se
deve dormir mais ou menos horas, entende-se que é
um período longo, que envolve grande parte, senão a
totalidade da noite.
Portanto, a privação do sono, mesmo que
parcial, pode ser inferida como prejudicial à
aprendizagem, e principalmente à aprendizagem
escolar. De fato, alunos sonolentos possuem menor
taxa metabólica, menor tônus muscular e, portanto,
são menos respondentes aos estímulos de sala de aula,
têm menor capacidade de concentração e atenção, e
provavelmente terão maior dificuldade de apreensão
dos conteúdos escolares. Isto se não dormem durante a
aula, ou seja, saem do estado de consciência.
O que nos leva a outro assunto polêmico, a
aprendizagem durante o sono. É um assunto
controverso, mas estudos recentes comprovaram que
há efetivamente a possibilidade de aprendizagem
Aula 6 | Processos Mentais IV: a Consciência 92
durante as fases de sono leve, em que se o indivíduo
for submetido a estímulos sonoros (barulhos, palavras),
acusa melhor retenção de memória sobre o assunto do
que em aqueles que não são submetidos ao estímulo.
Mas, é óbvio, não é o que se deseja em sala de aula.
6.1.3 A Consciência como Estado Atencional
O estado de consciência também pode ser
relacionado ao estado atencional. A chamada
“consciência alerta” é um estado de atenção no qual
nossos sentidos são constantemente monitorados e
dirigidos pelo nosso sistema perceptivo para
apreendermos, durante um período mais ou menos
longo, um determinado objeto que se queira aprender.
Esta característica do estado de consciência é
fundamental para a aprendizagem. Significa que o
indivíduo se coloca em um estado o mais pronto
possível para aprender.
Neste sentido, o córtex parietal posterior surge
como uma importante região detectora e identificadora
de estímulos que serão destacados, em detrimento a
vários outros que serão descartados.
Um dos aspectos razoavelmente bem estudados
na neurociência é a atenção visual. Quando se
seleciona um objeto de interesse, as células que
recebem os estímulos deste objeto no córtex visual são
mais disparadas, enquanto há um decréscimo naquelas
que representam estímulos ignorados. Isto sugere
fortemente, por exemplo, uma explicação para o
mecanismo de figura-fundo, no qual atenta-se para um
estímulo visual (figura) em detrimento dos demais
estímulos (fundo).
A atenção auditiva é outro aspecto
relativamente bem definido. É bem definido que o lobo
Aula 6 | Processos Mentais IV: a Consciência 93
temporal superior é a região responsável pelo
processamento do som, mas há áreas específicas para
sons complexos, como os da comunicação verbal;
outras para sinalizarem intensidade e duração de um
som, e outras para ecolocalização. Da mesma forma
que acontece na visão, somos capazes de localizar um
som específico no meio de outros sons (cacofonia),
bem como acompanhar um som específico ou
conhecido no meio de vários outros.
Tanto em um caso como em outro, a atenção
parece estar ligada a um estado de consciência
eletivamente acionado para que se possa perceber o
máximo de informações sensoriais de um dado objeto
ou estímulo em determinado período de tempo. Esta
noção tem implicações importantes para a
aprendizagem, pois um professor tem que estimular
constantemente o estado atencional de seus alunos
para si e para o que pretende ensinar.
É razoável supor que outros sentidos também
podem afetar fortemente o estado de consciência. De
fato, os sentidos olfatório e gustativo, por exemplo,
podem agir como estimuladores ou inibidores do estado
de consciência. Dois exemplos podem ilustrar esta
situação: um cheiro forte de comida, em um momento
em que estudantes estão com fome, pode ser um
importante elemento distrator da aprendizagem e
certamente irá afetar a eficácia do processo; por outro
lado, as ações olfatórias e gustatórias associadas ao ato
de se alimentar podem auxiliar a aprendizagem,
propiciando um ambiente interno ótimo em termos de
estado nutricional e ampliando positivamente o estado
de consciência para os estudos.
Outro sentido pouco referenciado ao estado de
consciência é o tato, que também pode ser aplicado
neste caso. Neste sentido, podemos ilustrar como
Aula 6 | Processos Mentais IV: a Consciência 94
exemplos de elementos que podem interferir no estado
de consciência aqueles relacionados à temperatura
ambiente, ou seja, ambientes muito quentes ou muito
frios podem interferir negativamente, pois o
desconforto gerado pode tornar-se um potente distrator
ou dispersor da atenção, e o estado emocional gerado
pode dificultar a aprendizagem. Outros exemplos
seriam o desconforto gerado pelo assento que
estudante usa, uma roupa desconfortável, um tênis
apertado.
Em suma, estados atencionais alterados pelos
sentidos podem alterar o estado de consciência dos
alunos, interferindo e dificultando o processo de
aprendizagem.
6.1.4 A Consciência e os Atributos da
Personalidade
A partir da constatação de que o estado de
consciência tem relação com o estado emocional,
infere-se que a personalidade do indivíduo também é
um poderoso fator influenciador do estado de
consciência.
Não fica difícil imaginar este cenário, tendo em
vista que os estados emocionais são determinantes do
comportamento característico de cada pessoa – ou
personalidade, ou seja, a qualidade de pessoa. De fato,
cada pessoa tem tendências, predileções e inclinações
que a fazem praticar determinado conjunto de ações,
bem como tem bloqueios, resistências e dificuldades
relacionadas a coisas que tende a evitar.
Este pequeno exemplo de conjuntos de
características da personalidade é suficiente para
entendermos que cada pessoa tem um conjunto próprio
de habilidades ou inabilidades, facilidades ou
Aula 6 | Processos Mentais IV: a Consciência 95
dificuldades que tem a ver com sua história de vida,
crenças, valores e expectativas que interferem
diretamente em seu estado de consciência. Para
entendermos como isso funciona, recorramos a outro
exemplo bem simples: um aluno tem dificuldades com
a aprendizagem de conceitos matemáticos. Analisando
mais detidamente sua personalidade, vemos que suas
predileções incluem mais atividades artísticas, ele é
mais linguístico e passional, e pouco afeto a atividades
de abstração. Ao mesmo tempo, é pouco organizado e
não demonstra ter interesse por matemática.
Então, torna-se claro que há um conjunto
determinante de características de personalidade que o
tornam pouco hábil e/ou pouco interessado para a
aprendizagem de matemática. Isto coloca um fator de
dificuldade bastante desafiador. Levando em conta que
nosso sistema de ensino não contempla as
individualidades (somente nas leis, mas não na
execução), este aluno estaria fadado a sempre estar à
margem, ou sendo reprovado constantemente devido à
disciplina de matemática, ou sendo aprovado por
conselhos de classe, ou ainda que consiga passar
decorando as respostas, no limite das médias de
aprovação.
E então, o que se poderia fazer para melhorar
ou atenuar este quadro? Um caminho seria identificar
quais os interesses deste aluno, e tentar aproximar o
que se quer ensinar a partir dos interesses dele, suas
habilidades e forma de raciocínio. E daí, possivelmente,
aumentar sua atenção e interesse pela matemática.
Mas, claramente, isto seria feito por um
educador que identificasse esta dificuldade e passasse a
agir, individualmente ou em conjunto com uma
coordenação pedagógica, a favor do aluno. Não é algo
que, rotineiramente, esteja dentro dos atributos dos
Aula 6 | Processos Mentais IV: a Consciência 96
sistemas de ensino. Somente vê-se alguma ação neste
sentido em casos isolados de instituições de ensino.
De qualquer forma, fica claro que, como as
características da personalidade não são facilmente
alteráveis (se é que o podem ser), é mais apropriado
tentar alterar outras variáveis que atingem o estado de
consciência que possam tornar o processo de
aprendizagem mais eficaz do que tentar uma
abordagem de mudança pessoal do aluno.
6.1.5 Consciência e Aprendizagem
Á medida que avançamos no estudo da
consciência, seja aquela relacionada ao ciclo sono-
vigília, seja a relacionada ao estado de consciência, nos
deparamos com diversas considerações relacionadas
direta ou indiretamente à aprendizagem. Neste tópico
iremos destaca-las, mesmo que já tenhamos tratado de
algum destes assuntos no decorrer do texto.
1 – Consciência tem a ver com estado de
atenção e motivação para aprender. Isto fica claro a
partir do fato de que os interesses e necessidades que
determinam ao que prestamos atenção e a que nos
motivamos para buscar em nossas vidas são baseados,
parcialmente, em nosso estado de consciência em dado
momento.
2 – Estado de consciência tem a ver diretamente
com nosso estado de vigília, o que significa dizer que o
sono é fundamental para a aprendizagem. Isto, em si,
tem diversos desdobramentos. Tanto na questão de
que o sono promove atividades cerebrais reparadoras e
de consolidação dos mecanismos de memória e,
consequentemente, de aprendizagem, quanto na
questão de que a privação do sono, total ou
parcialmente, pode influenciar negativamente na
Aula 6 | Processos Mentais IV: a Consciência 97
capacidade de aprender, justamente por dificultar o
estado atencional e a motivação.
3 – O constante estímulo ao estado de
consciência, e, portanto, aos estados atencionais do
aluno por parte do professor, em relação aos estímulos
que este dirige àquele, é um fator que não deve ser
menosprezado, conforme já foi visto no capítulo sobre
atenção. Especialmente em um momento no qual os
distratores e dispersores atuam fortemente no sentido
de dificultar o processo educativo, assume-se que o
professor deve utilizar recursos para atrair a
consciência do aluno para si e para a aula. Isto pode
envolver, entre outras coisas, mudanças de tom e de
timbre de voz, utilização de mecanismos visuais no
material exposto aos alunos para a aprendizagem
(cores, vídeos, sons e outras formas de estimulação
midiática) e até recursos de teatralização
(dramatização) e – especialmente – de concretização
do conteúdo a ser ensinado.
4 – Ainda referente ao tópico 3 acima, vimos
que este estado atencional alterado por distratores e
dispersores pode estar tanto externamente ao aluno,
ou seja, em elementos que interferem em seu estado
de consciência (como uso de celulares, turma agitada e
falante, ambiente pouco atrativo) quanto internamente,
através da distração e dispersão gerada por
desconfortos associados também ao ambiente, mas
mais propriamente à percepção dos sentidos
(temperatura ambiente, desconforto causado pelo
mobiliário).
5 – Quanto maior o valor atribuído pelo aluno ao
professor e à disciplina que está sendo ministrada,
tanto mais o estado de consciência do aluno estará
favoravelmente ativado, o que envolve conceitos como
vínculo afetivo, necessidade e prazer.
Aula 6 | Processos Mentais IV: a Consciência 98
6 – A estimulação à manutenção ótima do
estado de consciência do aluno não deve ser uma
tarefa única da escola e do professor. Este aspecto faz
parte da educação familiar, em que alunos que são
estimulados constantemente em casa à consciência do
que faz, à atenção e à motivação para cumprimento
das suas tarefas, assim o procedem também no
ambiente escolar.
7 – A personalidade do aluno é um fator
importante relacionado ao estado de consciência e à
sua predisposição para aprender. Entretanto, não é um
fator facilmente manipulável. Ao contrário,
normalmente não pode ser modificado. Uma saída
possível para os casos em que o estado de consciência
é diretamente afetado pela personalidade do aluno é
buscar, em seus atributos de personalidade, variáveis
que possam ser modificadas para que a aprendizagem
possa ser facilitada.
EXERCÍCIO 1
Relacione os dois tipos de conceitos de consciência com
o fenômeno da aprendizagem.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 6 | Processos Mentais IV: a Consciência 99
EXERCÍCIO 2
De que forma podemos manipular estados de
consciência de forma a otimizar o ambiente de
aprendizagem?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora: Consciência pode ter conceitos diversos,
estando em geral associada ao estado de
vigília ou a estados atencionais.
Estados de consciência podem afetar
diretamente a aprendizagem, dificultando ou
facilitando os processos.
100
Processos Mentais V: A Linguagem André Codea
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Neste tópico investigaremos os circuitos neurais associados aos tipos de linguagem utilizados pelo ser humano, e suas relações e consequências para a aprendizagem
Obj
etiv
os
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
Entenda o que é linguagem e quais as suas modalidades Compreenda os circuitos neurais envolvidos com as diferentes
formas de linguagem Estabeleça as relações entre linguagem e aprendizagem
Aula 7 | Processos Mentais V: a Linguagem 102
7.1. A Linguagem
A linguagem é um sistema simbólico pelo qual
sons, símbolos e gestos são usados para comunicação.
É um processo no qual, resumidamente, estímulos vêm
ao cérebro através de sistemas visuais e auditivos, o
sistema motor, em resposta, produz o discurso, a
escrita, e a sinalização, após o devido processamento
que ocorre entre os sistemas sensoriais e motor, que é
a essência do processo da linguagem.
A linguagem é a ferramenta mais importante do
pensamento humano e cultural, sendo também um dos
principais marcos do desenvolvimento da criança, sem
paralelo em outras espécies. No contexto deste tópico,
linguagem refere-se ao ato de se comunicar, estando
implícitas nesta comunicação a interpretação do
estímulo e os diversos recursos utilizados para
expressão deste (jargões e gírias, por exemplo, ou até
mesmo a linguagem não-verbal), bem como da
aprendizagem inerente a este processo.
Até certo ponto, a linguagem é um fator
determinado culturalmente, e envolve vários processos
neurológicos, pois é fundamentalmente dependente da
interação entre a recepção dos estímulos (visuais,
auditivos, táteis etc), a interpretação desses estímulos,
e a resposta dada a partir destas interpretações, que é
profundamente contextual em cada sociedade e mesmo
em regiões dentro de uma sociedade.
Grande parte, senão a totalidade dos processos
de aprendizagem está vinculada à linguagem, seja esta
verbal ou não. Portanto, o conhecimento dos processos
relacionados à linguagem é de grande importância.
Por exemplo, os processos de entendimento da
língua falada, tanto em termos do que se fala como do
Aula 7 | Processos Mentais V: a Linguagem 103
que se compreende do outro, envolve a adequada
compreensão dos fonemas, sílabas e palavras, bem
como da ordem em que são expressas, além de um
conjunto de fatores intervenientes, como a mímica
facial, as modulações de voz e a gesticulação, que
podem alterar profundamente o significado da
mensagem.
Em termos neurológicos, a linguagem tem seus
mecanismos praticamente concentrados no hemisfério
esquerdo do cérebro. Em termos gerais, podemos citar
as abstrações matemáticas, como os cálculos, a
linguagem falada, a identificação precisa de pessoas,
entre outros fatores relacionados. Porém, há algumas
funções que repousam no hemisfério direito,
especialmente aquelas relacionadas à percepção
musical, identificação de pessoas e objetos de uma
forma geral, e relações espaciais entre objetos distintos.
7.2 A Linguagem Falada
É considerada a principal forma de comunicação
entre seres humanos, sendo a principal forma de
aprendizagem em muitas culturas pelo mundo. De tão
antiga na espécie humana, a fala foi associada
geneticamente em circuitos cerebrais, de forma que já
nascemos com um aparato neural pré-fabricado
especificamente voltado para falar. A aquisição da fala
em crianças é tão espontânea que é natural em todas
as sociedades mundiais e já foi postulado que recém-
nascidos são capazes de discriminar fonemas.
Falar implica na interação e articulação de pelo
menos dois dos sistemas humanos: a fonação e a
audição. Estes dois sistemas interagem para produzir
os sons vocalizados que representam objetos e
conceitos mentais, e que são organizados em uma
ordem que atribui significado – as frases.
Aula 7 | Processos Mentais V: a Linguagem 104
Entretanto, um terceiro sistema participa
ativamente do processo da linguagem falada, e que
possui um papel fundamental na significação: o sistema
motor, que responde pela caracterização
comportamental existente quando se fala e se ouve,
em especial em relação às expressões faciais.
Em suma, para que façam sentido, as palavras
devem ser separadas por duas características da fala: a
entonação e as inflexões de voz que, acompanhadas da
gestualização e expressões faciais características,
produzem o que é conhecido como prosódia, ou seja, o
que dá a “coloração” ou tom emocional à fala. É neste
aspecto, em específico, que a mesma frase, dita de
forma diferente, pode mudar todo o sentido da
comunicação. Por exemplo, a frase “você é muito
bonita” pode soar para quem ouve como um elogio,
como uma provocação ou até mesmo como uma
ofensa.
Porém, mais importante é que para falar você
ativa uma área de planejamento da fala, em que se
consulta a memória e se utiliza um “dicionário” mental
com as palavras já conhecidas, o que parece também
incluir o contexto em que são usadas. Isto parece estar
ligado a uma rede semântica que organiza as palavras
e seus significados.
A linguagem falada é resultado de uma
complexa sobreposição biológica entre as fisiologias
vocal e auditiva. A linguagem não é unitária – existem
muitos níveis de análise e de produção. Cada nível é
altamente complexo, mas é processado em oradores
hábeis na maior parte inconscientemente e
rapidamente – em segundos.
Aula 7 | Processos Mentais V: a Linguagem 105
7.2.1 Entendendo o que se fala
Os sons da linguagem são chamados fonemas,
consistindo basicamente de consoantes e vogais.
Também adicionamos entonação a sílabas e frases para
adicionar ênfase ou para indicar uma pergunta ou um
comando.
Assim, os sons da linguagem incluem os
fonemas individuais, bem como sílabas, palavras,
frases e parágrafos. Apesar da complexidade desses
muitos níveis e fases do discurso, aprendemos a
produzir e perceber o discurso em uma idade muito
jovem, com pouco esforço consciente.
Muitos estágios e níveis de processamento são
pensamentos que fundamentam o planejamento e
produção da fala, incluindo o acesso às representações
conceituais, codificação dos aspectos gramaticais e
codificação fonológica (que se refere à estrutura do
som). Estudos que recorreram à imaginologia
revelaram um pouco do que acontece.
A área motora suplementar e a área motora do
giro cingulado são conectadas com o córtex motor
primário para formar parte da rede neural para a
produção do discurso. A ativação subcortical ocorre no
tálamo, nos núcleos da base, no núcleo rubro, e no
cerebelo. O giro temporal posterior é ativado em ambos
os hemisférios na produção do discurso, bem como no
tronco encefálico, áreas como o núcleo hipoglosso são
inervadas.
Homônimos (palavras com grafias diferentes,
mas com a mesma pronúncia) ativam o hemisfério
esquerdo, posteriormente ao sulco central e ao giro
frontal inferior. Já os sinônimos (palavras com
pronúncias diferentes e significados relacionados)
Aula 7 | Processos Mentais V: a Linguagem 106
ativam regiões mais amplas no lobo frontal e temporal
inferior.
Já a sintaxe – ou gramática, que diz respeito à
estrutura das palavras e frases – muitas vezes é tida
como o aspecto mais distintivo da linguagem. Uma
frase tem uma estrutura de “superfície”, que é a
palavra de ordem e estrutura que você vê quando você
ouve ou lê.
No que se refere às áreas cerebrais, é difícil
isolar que áreas estão especificamente envolvidas na
decodificação de sintaxe e não relacionadas a funções
de memória de trabalho e processos fonológicos e
semânticos. Resultados de estudos recentes de
neuroimagem mostram áreas cerebrais diferentes no
plano frontal e lobos temporais que estão envolvidos
nos diferentes aspectos do processamento sintático.
A prosódia, como já dito, é a 'melodia' da
linguagem – as mudanças de tom que transmitem
emoção, bem como informações linguísticas, como o
tom crescente indicando uma pergunta.
Cada língua não só tem entonações emocionais
e linguísticas, como também tem um ritmo que pode
ser bastante distintivo. Por exemplo, quando você ouve
um falante nativo do português de Portugal e compara
com um falante nativo de português do Brasil, você
percebe que, embora as duas línguas compartilhem
muitos aspectos da sintaxe e semântica, sua cadência é
bem diferente.
Não falamos em poucas palavras, mas em
proposições: declarações semanticamente significativas
sobre o mundo, mas cujo significado depende,
fundamentalmente, muito mais de quem recebe as
proposições do que realmente de quem as emite.
Aula 7 | Processos Mentais V: a Linguagem 107
De qualquer forma, música e linguagem são
exclusivos para os humanos – a prosódia ou a melodia
da linguagem parece intimamente entrelaçada com a
melodia da música e pode partilhar algumas raízes
biológicas.
7.2.2 As Áreas Cerebrais
Todas essas regiões neurais para vocalização e a
percepção da linguagem têm sido associada com
regiões nos lobos frontal e temporal, baseadas nos
trabalhos de Broca e Wernicke no século XIX.
Isto significa que, além de falar, temos também
que compreender o significado da fala, o que
escutamos. Disto se infere um poderoso e complexo
circuito de processamento cerebral que envolve,
basicamente, duas áreas cerebrais que se tornaram
fundamentais, desde o final do século retrasado, à
compreensão do fenômeno da linguagem falada: a área
de Wernicke e a área de Broca.
7.2.2.1 A Área de Wernicke
Carl Wernicke foi um neurologista alemão da
segunda metade do século XIX, e que foi responsável
por elaborar o primeiro modelo de neurolinguística. A
área cerebral que recebe seu nome, localizada na
região do giro temporal superior e posterior esquerda é
responsável pela compreensão da linguagem falada por
outra pessoa. E esta compreensão é diretamente
responsável pela articulação do que se vai falar, pois é
necessária para se conseguir estabelecer uma
comunicação coerente e articulada. Se houver uma
lesão nesta área, estabelece-se a afasia de Wernicke,
com a consequente falta de compreensão e articulação,
ocasionando um diálogo desconectado com o contexto.
Aula 7 | Processos Mentais V: a Linguagem 108
No entanto, mais recentemente houve a
necessidade de incluir as áreas dos giros angular e
supramarginal, no lobo temporal, bem como os giros
temporais médio e inferior como os locais mais
apropriados para a afasia de compreensão, pois a área
de Wernicke propriamente dita parece estar mais
relacionada à identificação das palavras.
7.2.2.2 A Área de Broca
A área de Broca, localizada no giro frontal
inferior esquerdo, foi estabelecida pelo neurologista
francês Paul Broca, também na segunda metade do
século XIX. Ela está relacionada com a emissão da fala
e, quando há lesão da área, estabelece-se a afasia de
Broca, o que pode deixar o indivíduo sem capacidade
de falar, ou falar de forma não-fluente. Com o avanço
das investigações, postulou-se que áreas corticais
anteriores e posteriores à área de Broca original
também estavam associadas a diversos tipos de
afasias, o que levou à ampliação desta área.
7.2.2.3 A interconexão das áreas de
Wernicke e Broca
Se há uma área em particular para compreender
a fala, e outra para expressá-la, parece coerente
pensar em uma conexão entre as duas áreas.
Na verdade, esta hipótese já havia sido
aventada pelo próprio Carl Wernicke, sendo
posteriormente descoberto um conjunto de feixes de
fibras nervosas axoniais, o feixe arqueado,
comprovando sua hipótese e estabelecendo-se uma
afasia para lesões neste feixe, chamada de afasia de
condução, na qual o indivíduo não consegue
estabelecer uma articulação coerente entre o que ouve
e o que diz em um diálogo.
Aula 7 | Processos Mentais V: a Linguagem 109
Este fato comprovou a interconexão entre a área
que compreende e articula uma resposta falada com
aquela que emite os sinais motores necessários para a
articulação das diversas musculaturas relacionadas com
o ato de falar, bem como da explicação acerca do
sequenciamento de ativações necessárias a todo este
processo.
7.2.2.4 Estudos Posteriores
Na metade do século XX, Geschwind propôs um
modelo neurológico para as regiões da linguagem no
hemisfério esquerdo, baseado nas descobertas do
século XIX e nas descobertas, então contemporâneas,
da neurologia. Tais achados foram confirmados pelas
tecnologias de neuroimagem do século XXI.
Modelos mais recentes, como o proposto por
Hickok-Poeppel, expandiram as regiões cerebrais que
subsidiam a linguagem, além das clássicas áreas de
Broca e Wernicke.
Este modelo, chamado de Modelo de
Transmissão Dupla da Fala e Linguagem sustenta que
há duas redes computacionais/neurais funcionais
distintas que processam informações da fala e da
linguagem: uma de redes sensoriais/fonológicas com
sistemas de semântica conceitual, chamada de rede
dorsal, e outra de redes sensoriais/fonológicas
articuladas com sistemas motores, chamada de rede
ventral.
A rede dorsal apresenta semelhanças com o
modelo proposto por Geschwind, e inclui regiões
posteriores do lobo temporal e frontal, bem como o giro
angular. Seu papel é relacionado tanto com a
construção da palavra quanto com a articulação da
mesma, o que é conhecida como via subléxica, mais
predominante no hemisfério dominante.
Aula 7 | Processos Mentais V: a Linguagem 110
A rede ventral, por outro lado, possui um
importante papel na compreensão e significado das
palavras, cujo processamento ocorre nas regiões dos
lobos temporal superior e médio, o que é conhecido
como via léxica, que ocorre nos dois hemisférios.
Esta diferença entre as duas redes parece ser
importante, por exemplo, em tarefas de fluência verbal.
Afasias em uma rede ou em outra implicaria, por
exemplo, em problemas na geração de palavras
específicas, que comecem com uma letra (rede dorsal)
ou problemas de geração de palavras de determinada
categoria (rede ventral).
Mais recentemente, mais rotas foram
discriminadas tanto na rede dorsal como na rede
ventral, sendo referenciado na rede dorsal o fascículo
arqueado como um elemento-chave para o
processamento sintático e o fascículo longitudinal
superior como um importante elemento para a
repetição e construção fonológica.
Na rede ventral, o fascículo uncinado foi
considerado importante para o processamento do
significado gramatical, e o fascículo fronto-occipital
inferior para a semântica verbal.
7.3 A Linguagem Escrita e a Leitura
A linguagem escrita e a leitura têm uma
dinâmica neurológica bastante diferente da linguagem
falada, embora em alguns casos utilizem as mesmas
áreas da fala. Cabe ressaltar que a linguagem escrita e
a leitura não possuem o aparato geneticamente
estabelecido para a linguagem falada, tendo o indivíduo
que construir as conexões neurais, como ocorre em
qualquer tipo de aprendizado.
Aula 7 | Processos Mentais V: a Linguagem 111
A escrita é aprendida a partir de padrões
motores que são criados a partir da repetição e da
associação com os sons falados, e estabelecem a
capacidade de repetir os símbolos para determinar e
formar as palavras, sempre a partir de um sentido
coerente e organizado.
Em termos neurais, a aprendizagem da escrita e
da leitura modificam permanentemente o cérebro, de
modo que toda a dinâmica de pensamento e
compreensão do mundo se tornam efetivamente
diferentes daqueles que não sabem ler e escrever. Isto
tem implicações tão profundas que pode até mesmo
reestruturar a personalidade do indivíduo.
A leitura utiliza bastante o córtex visual, pois a
visão é necessária para decodificar o que está escrito, e
várias outras áreas cerebrais, o que sugere uma
intensa tarefa cognitiva.
De fato, quando lemos, além dos córtices visuais
de ambos os hemisférios, parecem ser ativadas áreas
posteriores do lobo temporal inferior esquerdo, bem
como as áreas de Broca (para vocalização das palavras)
e de Wernicke (para identificação das palavras), além
dos giros angular e supramarginal (para compreensão
das palavras). Mais recentemente, o córtex cingulado
anterior também foi identificado como uma região
associada à leitura, especialmente na questão da
atenção executiva.
7.4 Lateralização Hemisférica
Embora o tema da Lateralização hemisférica seja
controverso e debatido, parece haver um certo
consenso sobre a divisão das tarefas entre os
hemisférios no que se refere à determinados aspectos
da linguagem.
Aula 7 | Processos Mentais V: a Linguagem 112
Abordando inicialmente este tema de uma forma
geral, parece haver uma tendência a considerar que o
hemisfério esquerdo é responsável por análise
sequencial, solução de problemas e linguagem. Por
outro lado, o hemisfério direito seria responsável por
análise simultânea, habilidades viso-espaciais, mapas
cognitivos, reconhecimento facial, desenho, funções
emocionais, reconhecimento de emoções, expressão de
emoções e música.
Neste sentido, quando foram realizados estudos
sobre processamento auditivo, verificou-se uma
vantagem da orelha direita na escuta dicótica,
provavelmente devido ao cruzamento inter-hemisférico
(haveria maior facilidade do som da orelha direita em
chegar ao hemisfério esquerdo). Por outro lado, foi
identificada uma tendência a se processar palavras no
hemisfério esquerdo, e música no direito, predileção
esta identificada principalmente em estudos de lesões e
de imagens. Apesar disso, processamento do tom ainda
foi relacionado ao hemisfério esquerdo. Tais achados
também foram evidentes em recém-nascidos,
sugerindo uma base inata na especialização cerebral
para a linguagem e discurso.
Em relação à maior parte do processamento
linguístico, parece ser evidente também que o domínio
da linguagem pertence ao hemisfério esquerdo, tendo o
hemisfério direito pouca participação. Embora haja
diferenças entre destros e canhotos neste
processamento, efetivamente parece não haver dúvidas
sobre a quase exclusividade da hemisfericidade
cerebral esquerda.
Ao hemisfério direito, ficaria a parte relacionada
a ler e entender os números, letras, e palavras curtas
(resposta não-verbal), ou seja, o hemisfério direito é
capaz de escrever, não de falar, ficando mais associado
aos desenhos, quebra-cabeças, e nuances sonoras.
Aula 7 | Processos Mentais V: a Linguagem 113
7.5 A Linguagem Não-Verbal
Outra forma de linguagem, no sentido de ser um
sistema simbólico utilizado para comunicação é a
linguagem não-verbal. Através deste tipo de
linguagem, estabelece-se a possibilidade de
complementar ou até de substituir a linguagem verbal e
escrita, tendo em vista que os gestos, expressões
faciais, orientações e posturas corporais, a distância
entre os indivíduos e até mesmo a organização corporal
no espaço podem ter profundo impacto sobre o
processo comunicativo. Por exemplo, uma pessoa pode
falar com outra sobre determinada questão que as
envolve e, ao mesmo tempo, sinalizar para uma
terceira pessoa negativamente, indicando que o que
está dizendo não é verdadeiro. Pode, inclusive, fazer
isso com uma forma específica de olhar.
Apesar de estilos de expressões faciais e gestos
terem uma conotação universal, infere-se que, assim
como acontece com a linguagem verbal e escrita, a
linguagem não-verbal tem uma forte influência cultural
que pode mudar os significados dos gestos e
expressões e, inclusive, cria-los de forma exclusiva ou
particular.
A própria expressão corporal pode indicar um
favorecimento ou uma recusa a algum processo
comunicativo: braços cruzados têm, não raro,
significação de rejeição ou resistência por parte de
quem está participando do diálogo comunicativo.
Tendo em vista que boa parte do controle de
nosso sistema motor ocorre fora do nosso controle
consciente, e que há uma forte participação neste
sentido do Sistema Nervoso Autônomo, e partindo
também do princípio que nosso sistema emocional – o
Sistema Límbico – participa ativamente do controle
Aula 7 | Processos Mentais V: a Linguagem 114
motor, não fica difícil imaginar o quanto das nossas
expressões corporais, traduzidas em linguagem não-
verbal afetam diretamente e indiretamente o processo
comunicativo, mesmo que aparentemente tal processo
esteja regulado pelo controle consciente do indivíduo.
7.6 A Linguagem e a Aprendizagem
Fica claro, ao analisarmos os princípios e
mecanismos neurais que regulam a linguagem, que os
processos de aprendizagem, em geral, passam todos
pelos mecanismos da linguagem, seja ela verbal,
escrita ou não-verbal.
O entendimento destes processos e,
especialmente, de suas falhas (as afasias em geral, as
dislexias e outras formas de mal funcionamento – que
não são objeto deste tópico) pode fazer profunda
diferença na identificação de problemas inerentes aos
processos de aprendizagem, em especial no ambiente
escolar.
Muitas dificuldades de aprendizagem podem
estar associadas a distúrbios e transtornos da
linguagem, e a correção ou o encaminhamento de um
aluno com dificuldades de aprendizagem podem estar
profundamente implicados com a solução do problema.
EXERCÍCIO 1
Relacione os tipos de linguagem e seu impacto sobre os
processos de comunicação humana.
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____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 7 | Processos Mentais V: a Linguagem 115
EXERCÍCIO 2
Como a linguagem não-verbal complementa ou até
substitui a linguagem verbal ou escrita em um processo
comunicativo? Explique.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
A linguagem é um sistema simbólico no qual
gestos, símbolos e expressões são utilizados
como parte do processo comunicativo.
Os processos da linguagem verbal ou falada,
escrita e não-verbal utilizam diferentes vias
neurais que, em alguns casos, são
compartilhados
No que se refere à linguagem verbal, parece
haver componentes genéticos que nos tornam
pré-habilitados à comunicação, o que parece
também ocorrer na linguagem não-verbal.
Mas na linguagem escrita, ou leitura, este
processo parecer ter que ser construído na
estrutura cerebral
116
Processos Mentais VI: a Cognição André Codea
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Neste tópico analisaremos a cognição como elemento central da função executiva no Sistema Nervoso, e como a cognição interfere nos mecanismos da aprendizagem.
Obj
etiv
os
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
Entender os mecanismos cognitivos e os processos de
pensamento. Compreender o que são funções executivas e sua importância
para o processo da aprendizagem Saber como a cognição está relacionada com os demais
processos mentais
Aula 8 | Processos Mentais VI: a Cognição 118
8.1 A Cognição
A neurociência cognitiva visa fornecer uma base
cerebral para os processos cognitivos (pensar,
perceber, recordar, etc.), por meio de avanços
tecnológicos no estudo do cérebro que são mais
seguros e menos empíricos do que métodos antigos,
como o método de Penfield, por exemplo.
Wilder Penfield foi um neurocientista que, entre
1928 e 1947, realizou uma série de estudos com
estimulação elétrica direta do córtex. Em tais estudos,
produzia-se sensações "mentais" do pensamento,
percepções, ao invés de um sentido real do cérebro
estimulado.
Conceitos cognitivos são baseados em
observações comportamentais consistentes. Conceitos
inferidos em neurociência cognitiva incluem áreas de
estudo tais como linguagem, aprendizagem, memória
ou visão.
Desta forma, a neurociência cognitiva procura
estabelecer correlações entre propriedades de
estímulos apresentados ao Sistema Nervoso Central,
medidas da atividade cerebral por meio de técnicas e
tecnologias diversas e propriedades mentais, por meio
do comportamento observável (relatos verbais e não
verbais, expressões de comportamento).
A neurociência cognitiva procura, portanto,
abordar e interrelacionar vários processos mentais,
muitos dos quais foram objetos de capítulos deste livro:
aprendizagem e memória; atenção; emoções e
motivação; sensação e percepção; consciência e
identidade pessoal (o “Eu”); pensamento e funções
executivas; linguagem e interpretação; motricidade e
planejamento motor.
Aula 8 | Processos Mentais VI: a Cognição 119
8.1.1 Entendendo os Processos Cognitivos
Todo processo cognitivo, assim como
basicamente todo processo neural tem ação direta dos
mecanismos sensoriais, que são processados em
paralelo pelos inúmeros centros cerebrais
processadores, que então transformam a todo
momento um conjunto de impressões sensoriais em
percepção.
Os responsáveis por estas fantásticas ações são
estruturas específicas dentro do encéfalo, em
combinação com o córtex cerebral e um incrível
emaranhado de redes neuronais que, interligando todas
estas estruturas, e mediadas por um conjunto bem
integrado de substâncias químicas – os
neurotransmissores, faz com que um processamento
sem igual em qualquer outra rede neural animal ou
cibernética.
Entender o que acontece entre esta torrente de
estímulos e o comportamento final observável é uma
tarefa hercúlea que vem ocupando os neurocientistas
desde mais de um século. Neste sentido, e para a
finalidade deste tópico, os estudos foram conduzidos
em duas vertentes básicas: o entendimento acerca do
sistema nervoso somático, que trata da percepção
própria do corpo, necessária para a geração do
movimento, especialmente a partir de sentidos como a
propriocepção e o tato; e a cognição, ou o
processamento de vários estímulos dos vários sistemas
sensoriais para a criação e regulação das variadas
funções cognitivas do corpo humano.
Importante salientar que há localizações bem
precisas das funções neurais no cérebro e nas demais
estruturas encefálicas, inobstante a complexidade que
muitas redes neurais assumem. Estas localizações
Aula 8 | Processos Mentais VI: a Cognição 120
permitem uma compreensão dos processos clínicos em
casos das diversas patologias que acometem o
encéfalo. Porém, o funcionamento integrado é que
explica realmente como é o funcionamento das diversas
estruturas e redes neurais no indivíduo são.
Neste tópico iremos abordar a cognição,
buscando o entendimento de como o processamento
cerebral pode criar e regular tais funções cognitivas.
Um dos primeiros aspectos que se salientam na
estrutura encefálica humana é a existência das áreas
de associação. Áreas de associação são aquelas
responsáveis por integrar as informações dos vários
sistemas sensoriais, de forma a formar os variados
processos cognitivos e de comportamento.
Em princípio podemos enumerar três principais
córtices de associação na estrutura neural humana: o
córtex temporoparietooccipital, o córtex pré-frontal e o
córtex límbico. No primeiro caso, temos uma área
basicamente dedicada às funções sensoriais e à
linguagem; no segundo caso, o córtex pré-frontal,
temos áreas dedicadas ao processamento motor e ao
funcionamento executivo; e no terceiro caso, temos
uma área dedicada à memória e ao comportamento
emocional.
8.1.2 A Cognição e a Aprendizagem
O termo cognição é intrinsecamente associado à
aprendizagem, de forma que é um sistema integrado e
coerente que engloba vários processos mentais, muitos
dos quais já abordados neste capítulo. No ser humano,
todos estes processos mentais são criados, regulados e
integrados para a função maior de aprender para
sobreviver e modificar o ambiente à sua volta. Esta
tarefa, para ser executada, pressupõe um intenso
Aula 8 | Processos Mentais VI: a Cognição 121
controle hierárquico funcional, uma homeostasia
adequada e adaptabilidade às novas situações.
Como todo esquema de processamento, com a
captação de entradas sensoriais ou de informação, o
processamento destas seguindo determinadas regras e
a execução do resultado por meio, no caso, do
comportamento observável, a aproximação com teorias
cibernéticas se torna inevitável. No entanto, mais do
que qualquer computador, o cérebro humano é um
sistema plástico e altamente adaptável, capaz de
realizar mais operações do que o mais rápido dos
computadores, e de forma simultânea executar bilhões
de atividades de processamento que o tornam sem
igual como aparato de aprendizagem.
Um dos aspectos mais importantes dentro deste
espectro é que todo este potencial de entrada sensorial,
processamento e resposta são mediados ou modulados
por um conjunto de estruturas subcorticais e corticais
responsáveis pelo comportamento emocional, o sistema
límbico.
Conforme já visto, emoções são potentes fatores
intervenientes do processo de aprendizagem, pois
interferem positiva ou negativamente nos vários
subprocessos mentais (memória, atenção, motivação,
linguagem, consciência) que são fundamentais para a
cognição, conforme já vimos.
Todo este campo de ações intervenientes,
reguladoras e modeladoras faz com que todo
processamento seja único para todo dado momento e
contexto, permitindo, porém, que se torne capaz de
prever o comportamento observável a partir de um
conjunto de percepções.
No último aspecto, o da execução e do
comportamento observável, o que se denomina
Aula 8 | Processos Mentais VI: a Cognição 122
normalmente como funções executivas da cognição – e
também da aprendizagem, podemos elencar as funções
que ocorrem em nível do córtex pré-frontal dorsolateral
como sendo aquelas que são as principais responsáveis
pela expressão do comportamento, bem como por
tarefas de comparação, adaptação e regulação de
diversos parâmetros, que vão desde o planejamento
estratégico ao controle social das condutas e
comportamentos motores, passando pela elaboração de
complexos estados mentais e comportamentais.
Neste sentido, o termo funções executivas
assume outra significação, a da competência executiva.
Aquilo que torna o ser humano capaz de tomar
decisões que são capazes de modifica-lo interna e
externamente, e que envolve todo tipo de
processamento mental.
O que anteriormente foi chamado de razão, se
torna, na verdade cognição, um termo mais amplo e
que engloba diferentes aspectos, mas principalmente
que confere um caráter emocional às decisões
executivas. Neste sentido, a expressão (já
anteriormente usada) “somos seres emocionais que
pensam” ganha sentido e significado, à medida que as
decisões executivas são entremeadas de aspectos
emocionais que podem modificar totalmente seu
conteúdo, de acordo com o estado emocional do
indivíduo.
8.1.4 Funções Executivas, Cognição e
Aprendizagem
Uma das questões fundamentais da neurociência
pedagógica atualmente é entender como é possível
melhorar as capacidades de aprendizagem dos alunos
de modo a torna-los participantes ativos do processo e
construtores do próprio aprendizado.
Aula 8 | Processos Mentais VI: a Cognição 123
Tornar o aluno um gestor da própria
aprendizagem não é tarefa fácil, especialmente se
levarmos em conta que os Sistemas Organizados de
Ensino são, em princípio, contrários aos princípios
elencados pela neurociência como fundamentais para
uma melhor aprendizagem.
Neste sentido, além de dotar o aluno das antigas
capacidades aprender o conteúdo das diferentes
disciplinas, trata-se de dotá-lo de capacidades de
articular este conteúdo com as exigências da vida
prática e de trabalho, e ainda o tornar um autogestor,
capaz de se autoconduzir pelos desafios da vida em
sociedade.
Mas, talvez o mais importante, seja fazer este
aluno tornar-se capaz de lidar emocionalmente com
todas estas variadas exigências dos sistemas de ensino
e da vida em relação. Um dos aspectos provavelmente
mais desafiadores atualmente em relação aos alunos
em idade escolar é fazê-los compreender como
enfrentar todas estas exigências com reduzidas
ferramentas e estímulos.
Da parte do educador, conhecer as propriedades
de todos estes sistemas de funções executivas, saber
trabalhar com elas de forma consciente e integrada,
dentro de sistemas de ensino que não auxiliam neste
aspecto, e fazer entender ao seu aluno que ele é capaz
de gerenciar sua vida a partir do momento que seja
capaz de entender seus processos mentais e de lidar
com eles, torna-se uma tarefa assaz difícil.
Tornar a interação docente e discente uma
realidade exige um planejamento bem elaborado e
eficaz, com todos os envolvidos em um processo
pedagógico. Isso exige, de fato, uma estrutura de
conhecimento dos processos cognitivos que evidencie
Aula 8 | Processos Mentais VI: a Cognição 124
ao educador quais são as suas possibilidades dentro de
seu contexto de trabalho, de forma a criar soluções
criativas e inteligentes dentro do que sua realidade
permite.
Os recursos das Metodologias Ativas de
Aprendizagem podem ser um caminho a ser trilhado,
especialmente aquelas que tornem o aluno um
elemento ativo de sua própria aprendizagem. Não há
mais espaço para aulas passivas meramente
transmissoras de conteúdo. Não há mais sucesso visível
neste tipo de ensino.
Tornar o aluno metacognitivo, ou seja, fazê-lo
aprender a aprender e, principalmente, aprender a
utilizar seus recursos cognitivos para ultrapassar o
mero conhecimento, retirando-o do paradigma
convencional do ensino jesuítico para abrir suas
possibilidades para novos hábitos executivos é, sem
dúvida, um grande desafio.
Porém, este desafio não pode mais ser adiado,
sob pena de sujeitarmos o trabalho educativo ao
fracasso antecipado, em que os alunos iniciam o ano
letivo já sabedores que estão fortemente sujeitos a não
serem promovidos para o ano escolar seguinte.
Utilizar o conhecimento já adquirido sobre o
córtex pré-frontal, o córtex temporoparietooccipital e o
córtex límbico para entender o complexo
funcionamento cerebral e, principalmente, utilizar este
conhecimento de forma prática em suas estratégias de
ensino é também, para o educador, uma forma de sair
de sua própria paralisia paradigmática para atingir um
estado metacognitivo, no qual saiba utilizar e se
apropriar de novos métodos e estratégias para elevar
seu trabalho a um novo nível.
Aula 8 | Processos Mentais VI: a Cognição 125
De fato, ensinar os estudantes a saírem do
estado meramente reativo para um estado proativo, em
que fique orientado a se concentrar nas questões futuras
e no desafio da solução de problemas (ao invés de ser
um mero “resolvedor” de problemas, quando consegue),
trata-se de parar de pensar no passado, e até viver nele,
para pensar no futuro, e até viver nele. É toda uma série
de transformações fundamentais que podem e devem
ser realizadas, para que não continuemos produzindo
toda uma horda de estudantes incapazes em termos de
conhecimento, incapazes em termos de decisões,
incapazes em termos de gerenciar a sua vida. Ou seja,
de estudantes que permanecerão no passado.
8.1.5 Funções Executivas e os Córtices Pré-
Frontais
São três os principais córtices pré-frontais: o
orbitofrontal, envolvido diretamente na tomada de
decisões e no comportamento social; o ventromedial,
envolvido na tomada de decisões morais; e o
dorsolateral, que regula os comportamentos motivados
e avalia os erros cometidos. Todos os três córtices são
intensamente interligados entre si e com outras
estruturas subcorticais e corticais, como por exemplo a
amígdala e o hipocampo.
A atuação destas três subdivisões do córtex pré-
frontal é, em grande parte, responsável pela
flexibilidade decisória que temos em todos os
momentos de nossa vida, e que psicologicamente pode
ser ativada por impulsos benéficos, como estimulação
educacional, resolução de problemas, reforço emocional
de aprender a lidar com erros e com o estresse, entre
outros fatores. Porém, também pode ser
psicologicamente inibida por ênfase nos erros, por
inibição da capacidade criativa e por desestímulo
emocional, entre outros fatores.
Aula 8 | Processos Mentais VI: a Cognição 126
E todo esse aspecto pode acontecer dentro da
escola, que é o locus primário da instrução institucional.
E, dependendo de como todo o processo educacional
for conduzido, a situação cerebral do aluno pode pender
tanto para um lado, quanto para outro.
8.1.6 Os Neurônios-Espelho
Neurônios-espelho são uma classe de neurônios
corticais, descobertos a partir de estudos em macacos
em 1992. Esta classe de neurônios dispara quando o
animal executa uma ação (apreende um objeto) e
quando vê outra pessoa a fazer uma ação semelhante
(macaco ou humanos).
Para que estes neurônios disparem o macaco
tem que ver uma ação orientada a objeto (objeto
sozinho ou movimento da mão sozinho não é
suficiente). A mera observação de um objeto fora de
contexto não evoca uma resposta também. De forma
idêntica, a recompensa não é relevante para disparar.
Os neurônios-espelho podem ser conduzidos não
só pela execução da ação e observação, mas também
pelo som produzido pela mesma ação, ou outro sentido
associado.
Cada vez que o macaco vê ação em outro
indivíduo, neurônios são ativados como se a mesma
ação fosse executada pelo próprio. Assim, o macaco
tem conhecimento da ação do outro, por sua própria
atividade.
Nos seres humanos o sistema de neurônios
espelho não pode ser estudado diretamente como nos
macacos, mas pode ser inferido indiretamente. De fato,
estudos já relataram que pessoas que escutavam frases
descrevendo ações tinham os mesmos neurônios-
Aula 8 | Processos Mentais VI: a Cognição 127
espelho ativados como se tivessem realizado as ações
ou as testemunhassem sendo executadas.
A rede de neurônios-espelho no homem envolve
e ativa a amígdala (emoções). Nós não podemos
compreender os sentimentos dos outros por analogia
ou processos de pensamento. Ao invés disso, a emoção
do outro é experimentada por nós mesmos e, portanto,
diretamente entendida. É um estado de corpo
compartilhado proporcionado pelos neurônios-espelho.
Sempre que você vir alguém fazendo algo (ou
mesmo começando a fazer alguma coisa), o neurônio-
espelho correspondente é acionado em seu cérebro,
permitindo assim que você "leia" e compreenda as
intenções do outro e assim desenvolva uma sofisticada
"teoria da mente alheia”.
8.1.7 Neurônios-Espelho e Funções
Executivas
Considerando que boa parte do comportamento
aprendido decorre da observação, os neurônios-espelho
assumem particular importância. Ao experimentar
cerebralmente uma ação alheia, pode haver
identificação com ela e, possivelmente, imitação. Isso
acontece com grande frequência em bebês e crianças, e
o mecanismo vai se aprimorando à medida que o córtex
pré-frontal dorsolateral vai amadurecendo, o que
praticamente ocorre ao início da adolescência.
Isto quer dizer que o comportamento imitativo
perdura, essencialmente de modo inconsciente, mas
pode ser conscientemente controlado à medida que
nosso centro de controle social, localizado no córtex
orbitofrontal e nossa capacidade de tomar decisões
morais, localizada no córtex pré-frontal ventromedial
vão se fortalecendo.
Aula 8 | Processos Mentais VI: a Cognição 128
Em termos práticos, isso significa que os
comportamentos socialmente aceitos e aqueles
valorizados socialmente (por exemplo, em sala de aula)
tenderão a ser imitados pelo aluno. Se o cômputo
destes comportamentos é positivo, ou se é incentivado,
os neurônios-espelho tenderão a reforçar a imitação de
tais comportamentos. Entretanto, o mesmo é
verdadeiro para comportamentos negativos.
As funções executivas, desta forma, são
fortemente afetadas pela ação dos neurônios-espelho,
muitas vezes de forma inconsciente por parte dos
alunos. Entender e direcionar este processo é uma
atividade que pode auxiliar em muito o trabalho do
educador.
8.1.8 Cognição e os Processos Mentais
Parece ter ficado claro ao longo deste capítulo
que toda a atividade que envolve a cognição na
verdade envolve todos os demais processos mentais
tratados ao longo deste capítulo.
Longe da cognição ser tratada simplesmente
como razão, na verdade a cognição surge como o
corolário de todas as demais funções mentais
integradas, como uma grande colagem que emerge sob
a forma de comportamento observável.
Mesmo os processos internos de pensamento, de
alguma forma, mesmo que subliminar, emerge na
forma do comportamento observável, de forma que as
funções executivas dependem dos demais processos
mentais para ocorrer de forma ótima.
Este entendimento integrado se torna
indispensável para que se possam tomar decisões de
maneira a tornar o processo ensino-aprendizagem mais
Aula 8 | Processos Mentais VI: a Cognição 129
eficaz e mais eficiente. Mas, além disso, trata-se, como
já dito, de tornar o aluno um elemento
substancialmente participativo deste processo como
elemento construtor da sua transformação, ao longo do
processo, de criança dependente e imatura, em um
adulto independente e maduro, preparado para as
exigências da vida.
Neste sentido, é fundamental o entendimento do
educador sobre as funções mentais, de como
funcionam em si e de forma integrada e,
principalmente, de como extrair aprendizados práticos
deste conhecimento para aplica-los aos alunos, de
forma a transformar o processo educacional atualmente
existente.
Usar a cognição para transformar os processos
cognitivos é, na verdade, aplicar a metacognição para
gerar transformações efetivas em todos os envolvidos
no processo, o que significa dizer, aplicar inicialmente
em si mesmo tais entendimentos para ser capaz de
transformar a educação atual em uma educação efetiva
e transformadora. Para melhor.
Esta talvez seja a principal contribuição de todo
este conteúdo abordado nesta disciplina de
Fundamentos de Neurociência e Educação Cognitiva da
Aprendizagem e do Comportamento Emocional
Humano.
Aula 8 | Processos Mentais VI: a Cognição 130
EXERCÍCIO 1
Relate e faça um texto resumo sobre as estruturas
neurais diretamente envolvidas no processamento
cognitivo.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 2
Como as funções executivas se tornam a expressão do
funcionamento integrado dos processos mentais que
interferem na aprendizagem?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
A cognição representa o resultado do
processamento de estímulos sensoriais
selecionados para a geração de um
comportamento observável.
De uma forma geral, três córtices interagem
nesta tarefa: o temporoparietooccipital, o
pré-frontal e o límbico.
Aula 8 | Processos Mentais VI: a Cognição 131
Em relação ao córtex pré-frontal, este pode
ser subdividido em três, que agem de forma
integrada: o córtex orbitofrontal, o córtex
dorsolateral e o córtex ventromedial. Estes
são o centro das funções executivas, e
possuem ligações com a amígdala e o
hipocampo.
Neurônios-espelho são outro componente
importante para as funções executivas, pois
os processos imitativos são amplamente
influenciadores da aprendizagem.
O conhecimento por parte dos educadores
dos princípios neurais pode se tornar uma
eficaz ferramenta para auxiliar e modificar o
processo de ensino-aprendizagem, de forma a
tornar o aluno um solucionador de problemas,
ativo e construtor de seu próprio processo de
aprendizagem.
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