Fundos Europeus 2014-2020

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FUNDOS EUROPEUS 2014/2020 IFSC/Manual do Autarca

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  • FUNDOS EUROPEUS2014/2020IFSC/Manual do Autarca

  • Autor: Jos Manuel FernandesPesquisa: Pedro Couto SoaresRevisores: Carlos Coelho, Pedro Couto Soares e Mrio FernandesApoio: Grupo Portugus do PPEInstituto Francisco S CarneiroTiragem: 2000 ex.Capa e paginao: Julio PisaImpresso: Cadaval GrficaDepsito legal:364612/13

    FICHA TCNICA

  • FUNDOS EUROPEUS2014/2020IFSC/Manual do Autarca

  • FUNDOS EUROPEUS 2014/2020

  • 5ndice ................................................................................................................................................................................................................................. 5ndice de Figuras ............................................................................................................................................................................................. 9ndice de Tabelas .............................................................................................................................................................................................. 9Nota prvia ............................................................................................................................................................................................................. 10PrEFCIo ................................................................................................................................................................................................................. 11

    INTroDUo .................................................................................................................................................................................................. 13

    A ESTrATGIA EUroPA 2020 ................................................................................................................................................. 15 Estratgia Europa 2020 ............................................................................................................................................................................................... 15 Prioridades, Iniciativas emblemticas e Objetivos ............................................................................................................ 16 3 Prioridades ............................................................................................................................................................................................................................ 16 7 Iniciativas emblemticas ................................................................................................................................................................................. 16 5 Grandes objetivos ....................................................................................................................................................................................................... 16 Crescimento Inteligente, Sustentvel e Inclusivo ................................................................................................................. 17 Crescimento Inteligente: as suas aes emblemticas e objetivos ........................................................ 17 Crescimento Sustentvel: as suas aes emblemticas e objetivos ..................................................... 19 Crescimento Inclusivo: as suas aes emblemticas e objetivos ............................................................. 21 Portugal e a Estratgia Europa 2020 ........................................................................................................................................................ 23 Emprego ........................................................................................................................................................................................................................................ 25 Educao ......................................................................................................................................................................................... 26 Investigao e Desenvolvimento (I&D) e Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC) ........................................................................................................................................................ 26 Agricultura e Pescas ................................................................................................................................................................................................... 26 Pobreza ............................................................................................................................................................................................................................................ 26 Ambiente e Alteraes Climticas ....................................................................................................................................................... 27 gua e Saneamento ..................................................................................................................................................................................................... 27 Resduos Slidos ............................................................................................................................................................................................................... 28 Transportes ............................................................................................................................................................................................................................... 28

    ndice

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    O QUADRO FINANCEIRO PLURIANUAL (QFP) ....................................................................................................... 29 O QFP e o Tratado de Lisboa .............................................................................................................................................................................. 29 As limitaes do QFP ..................................................................................................................................................................................................... 32 O QFP 2014/2020 .................................................................................................................................................................................................................. 32 A metodologia utilizada para elaborar o QFP 2014/2020 .................................................................................. 32 Estrutura do QFP 2014/2020 ......................................................................................................................................................................... 33 A deciso do Conselho Europeu de 7 e 8 de fevereiro de 2013 ................................................................... 33 Montantes ............................................................................................................................................................................................................................ 34 Rubricas Oramentais ...................................................................................................................................................................................... 34 Sub-Rubrica 1a Competitividade para o Crescimento e o Emprego .................................. 34 Sub-Rubrica 1b Coeso econmica, Social e Territorial ........................................................................ 35 Rubrica 2 Crescimento Sustentvel: Recursos Naturais ...................................................................... 36 Rubrica 3 Segurana e Cidadania .......................................................................................................................................... 37 Rubrica 4 A Europa Global ................................................................................................................................................................ 37 Rubrica 5 - Administrao ...................................................................................................................................................................... 38 Instrumentos financeiros e valor acrescentado ......................................................................................................... 38 Objetivo alteraes climticas ............................................................................................................................................................. 39 Simplificao .................................................................................................................................................................................................................. 40 Instrumentos e fundos que ficam fora do QFP .......................................................................................................... 40 O Acordo entre o PE e a presidncia irlandesa ................................................................................................................... 41 Flexibilidade ...................................................................................................................................................................................................................... 41 Iniciativa Emprego Jovem ........................................................................................................................................................................... 42 Reviso em 2016 .................................................................................................................................................................. 42 Fundo de auxlio s pessoas mais carenciadas ....................................................................................... 42 Recursos prprios ..................................................................................................................................................................................................... 42 Unidade do oramento ...................................................................................................................................................................................... 42 O QFP 2014-2020 e Portugal ........................................................................................................................................................................... 42

    POLTICA DE COESO ............................................................................................................................................................................................ 44Os Fundos da Poltica de Coeso ....................................................................................................................................................................... 46 Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional .......................................................................................... 46 Fundo Social Europeu (FSE) ......................................................................................................................................... 46 Fundo de Coeso ............................................................................................................................................................................................................... 47 O caso especfico das Regies Ultraperifricas ........................................................................................................... 48Decises do Conselho de 7 e 8 de fevereiro de 2013 .............................................................................................................. 49 Definies e elegibilidade .................................................................................................................................................................................. 49 Cooperao territorial .............................................................................................................................................................................................. 50 Mtodo de afetao para as regies .................................................................................................................................................... 50 Taxas de cofinanciamento ................................................................................................................................................................................. 50 Majorao da taxa de cofinanciamento ........................................................................................................................................... 51 Portugal e as taxas de cofinanciamento ......................................................................................................................................... 51

  • 7 Montantes para Portugal ....................................................................................................................................................................................... 51A Poltica de Coeso e a Estratgia Europa 2020 ........................................................................................................................ 51 Gesto partilhada ........................................................................................................................................................................................................... 52

    POLTICA AGRCOLA COMUM (PAC) .......................................................................... 53 Decises do Conselho de 7 e 8 de fevereiro de 2013 ............................................................................................................. 54 Taxas de cofinanciamento para o apoio ao desenvolvimento rural ......................................... 54 Majorao da taxa de cofinanciamento .............................................................................................................. 55 Uma nova reserva para crises no setor agrcola ......................................................................................... 55 Montantes para Portugal ...................................................................................................................................................................................... 55

    O MAR E OS OCEANOS - Uma prioridade para Portugal ............................................................................ 57A Regio do Atlntico .......................................................................................................................................................................................................... 58 Plano de Ao ............................................................................................................................................................................. 59 Instrumentos e programas de Financiamento .................................................................................................................... 59Portugal e o Mar ........................................................................................................................................................................................................................... 60

    QUADRO ESTRATGICO COMUM (QEC) ........................................................................................................................... 62 Contratos de parceria ................................................................................................................................................................................................. 63 Aumento do desempenho e condicionalidades ................................................................................................................ 64 As Estratgias RIS3 - uma condicionalidade ex-ante ................................................................................. 64 Condicionalidade macroeconmica .......................................................................................................... 65 Regra de execuo e reserva de desempenho ...................................................................................................................... 65 Apreciao .................................................................................................................................................................................................................................. 65 Metas e ambio ................................................................................................................................................................................................................ 65 Aplicao do princpio da concorrncia seleo dos projetos ................................................................ 65 IVA ....................................................................................................................................................................................................... 66 Apoiar a programao Integrada ............................................................................................................................ 66 Maior Utilizao de Instrumentos Financeiros .......................................................................................... 66 Regras de elegibilidade simplificadas e funcionais ............................................................................... 66 Instrumentos para a gesto do QEC ...................................................................................................................................................... 67 Investimento Territorial Integrado (ITI) ...................................................................................................................................... 67 Desenvolvimento Urbano Sustentvel Integrado .......................................................................................................... 68 Desenvolvimento Local Orientado para a Comunidade ..................................................................................... 68 Concluso sobre o Quadro Estratgico Comum (QEC) ....................................................................................... 69O QEC para Portugal ........................................................................................................................................................................................................... 69 QEC - Modelo de governao ....................................................................................................................................................................... 70A territorializao das polticas pblicas ................................................................................................................................................. 71 Prioridades de financiamento da Comisso ............................................................................................................................. 71

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    Condicionalidades ex ante relacionadas com a utilizao efetiva e eficaz dos fundos da UE ............................................................................................................................................................ 72

    O QEC e a Resoluo do Conselho de Ministros n. 98/2012 .................................................................................. 72 Prioridades da Cooperao Territorial Europeia ....................................................................................... 73 Estrutura dos programas ................................................................................................................................................. 73 Coordenao, complementaridade e sinergias ............................................................................................ 74 O Acordo de Parceria .......................................................................................................................................................... 74 Objetivos temticos ............................................................................................................................................................... 75 Simplificar e reformar .......................................................................................................................................................... 75 O QEC e a posio de Portugal ................................................................................................................................................................. 76 Estruturao operacional do QEC ............................................................................................................................................. 76 Programao e Aplicao dos Fundos do QEC ..................................................................................................... 77 Os Programas Operacionais e as Prioridades ......................................................................................................... 78

    CoNCLUSo ..................................................................................................................................................................................................... 82ANEXoS...................................................................................................................................................................................................................... 84Anexo I - PIB/per capita por regio da UE ........................................................................................................................................... 84Anexo II Programas geridos pela Comisso ............................................................................................................................... 88 Galileo ................................................................................................................................................................................................................................ 88 Copernicus/GMES ......................................................................................................................................................................................... 88 ITER ...................................................................................................................................................................................................................................... 88 Programa da UE para a mudana e a Inovao Social ............................................................................ 88 1 - Progress .............................................................................................................................................................................................................. 89 2 - EURES ....................................................................................................................................................................... 89 3 - Instrumento de microfinanciamento Progress ..................................................................... 89 A Europa Criativa ....................................................................................................................................................... 89 Life ............................................................................................................................................................................................ 89 A Europa para os cidados 2014/2020 . ................................................................................................... 90 Conhecimento do meio marinho 2020 .................................................................................................... 90 Sade em favor do crescimento ..................................................................................................................... 90 Erasmus + ............................................................................................................................................................................ 90 Iniciativa para o Emprego dos Jovens ..................................................................................................... 91 Programa dos Consumidores .............................................................................................................................91 COSME 2014-2020 ..................................................................................................................................................... 92 Horizonte 2020 ................................................................................................................................................................ 92Anexo III - Condicionalidades ex ante relacionadas com a utilizao efetiva e eficaz dos fundos da UE ................................................................................................................. 93Anexo IV - Prioridades de Financiamento .................................................................................................................................... 96Anexo V - Resoluo do Conselho de Ministros n.o 39/2013 .............................................................................. 120Anexo VI - Resoluo do Conselho de Ministros n. 98/2012 .............................................................................. 122Anexo VII - Resoluo do Conselho de Ministros n. 33/2013 ........................................................................... 125

  • 9Anexo VIII - Descrio dos Instrumentos Financeiros Inovadores no Quadro Financeiro De 2007 2013 ............................................................................................ 145Anexo IX Mapa das NUTS II, NUTS III, CIMS e Grupos de Ao Local .......................... 149Anexo X Esquematizao dos Fundos, Programas e Instrumentos Financeiros .......... 158Anexo XI Indicadores de Portugal e da UE relativos s 3 prioridades da Estratgia Europa 2020 ................................................................................................. 160

    ndice de Figuras:Figura 1 Esquema de resumo da Estratgia Europa 2020 ........................................................................ 17Figura 2 Portugal e o PIB per capita nas NUTS II ......................................................................................... 24Figura 3 Grfico comparativo em termos de crescimento do PIB nos ltimos anos

    (euro/habitante) ...................................................................................................................................................... 25Figura 4 Mapa das regies na UE e o PIB per capita ................................................................................... 45Figura 5 Esquema Resumo do QEC Posio da Comisso ............................................................... 63Figura 6 Ilustrao da construo de um ITI ...................................................................................................... 67Figura 7 Oportunidades de Financiamento ..................................................................................................... 158Figura 8 Instrumentos de Gesto ............................................................................................................................... 159Figura 9 Planos de Ao Conjunta. ........................................................................................................................... 159

    ndice de TabelasTabela 1 Objetivos de Portugal relativamente Estratgia Europa 2020 ............................... 23Tabela 2 gua captada vs. gua distribuda (2009) .................................................................................... 28Tabela 3 Evoluo dos indicadores relativos gua e saneamento ............................................... 28Tabela 4 Financiamento do oramento geral da UE em 2013

    por recursos prprios e Estados-Membros, 2013 ..................................................................... 30Tabela 5 Proposta do Conselho para o QFP - 2014-2020 ......................................................................... 34Tabela 6 Taxa de desemprego jovem por NUTS II (4 trimestre de 2012) .............................. 36Tabela 7 Montantes para 2014-2020 fora do QFP .......................................................................................... 40Tabela 8 PIB dos Estados-Membros na UE ........................................................................................................... 46Tabela 9 PIB das Regies Portuguesas e comparao

    com a mais rica e mais pobre da UE .......................................................................................... 49

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    NOTA PRVIA

    Os valores apresentados neste livro relativos ao Quadro Financeiro Plurianual 2014- -2020 (QFP) so provisrios, uma vez que as negociaes entre o Parlamento Europeu e o Conselho ainda no esto concludas. No entanto, no dia 27 de junho de 2013, a equipa de negociadores do PE e a presidncia irlandesa chegaram a acordo relativamente ao QFP. Ainda que seja necessrio que o plenrio do PE o vote formalmente, tudo indica que, at ao final de 2013, o PE e o Conselho cheguem a um acordo formal e definitivo. Acresce que o PE votou, no dia 03 de julho de 2013, por larga maioria (474 votos a favor, 193 contra e 42 abstenes), uma resoluo poltica que fazia uma avaliao positiva do acordo relativo ao QFP.

    Assim, considero que os montantes globais e os valores dos envelopes nacionais aqui referidos esto consolidados.

    A Estratgia Europa 2020 est consolidada, assim como os principais programas para o perodo 2014-2020.

    os regulamentos relativos aos programas e fundos esto, neste momento, em dis-cusso, implicando a aprovao de cerca de 60 atos legislativos.

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    PReFciO

    As Eleies de Setembro de 2103 abrem um novo ciclo do poder autrquico.

    Um ciclo determinado:- Pela alterao das prioridades do poder local (cada vez mais, a autarquia infra-estrutura

    d lugar a uma concepo mais exigente da autarquia como agente do desenvolvimento econmico e social);

    - Pela renovao significativa dos eleitos em todo o Pas ( normal evoluo, juntaram-se os efeitos das Leis de limitao dos mandatos e da reorganizao das Freguesias);

    - Pela emergncia de um novo ciclo de Fundos Comunitrios no mbito das Perspectivas Financeiras 2014-2020.

    Por tudo isto, pareceu-nos fundamental que o Manual do Autarca do Instituto Francisco S Carneiro no se limitasse importante componente de textos e Legislao (que integra o outro volume) mas comportasse uma edio prpria que destaca as questes ligadas aos Fundos Comunitrios.

    Todos os Autarcas precisam de saber o que esperar dos Fundos Comunitrios, per-ceber as linguagens, os objectivos, as prioridades os montantes e os novos paradigmas que condicionam a concepo dos Programas e a sua execuo.

    Infelizmente, alguns por ignorncia e outros por deliberada demagogia prometem in-vestimentos e apoios em reas onde isso no possvel ou referem-se a programas que j no existem.

    Esta publicao visa ajudar a compreender melhor esse novo ciclo de Fundos Comu-nitrios e deixa alguns recados quanto forma de os pensar e executar em Portugal.

    O autor, o Deputado Jos Manuel Fernandes, a personalidade chave neste debate no Parlamento Europeu. Destacou-se na Comisso de Oramentos e est na 1 linha do PPE (Partido Popular Europeu, onde o PSD est integrado) nos debates e decises sobre o novo Quadro Financeiro Plurianual. O facto de ter sido Presidente de Cmara (em Vila Verde) acentua a sua sensibilidade para a vertente da aplicao destes recursos no mbito do Poder Local.

    Agradeo-lhe este trabalho to importante como agradeo aos colegas do Grupo Europeu do PSD, coordenado pelo Deputado Paulo rangel, o apoio a esta edio.

    Carlos CoelhoPresidente do Instituto Francisco S Carneiro

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    A Unio Europeia (UE), com os seus 28 Estados-Membros e mais de 500 milhes de habi-tantes, corresponde a pouco mais de 7,1 % da populao mundial. Nem sempre olhamos para este mercado interno de 500 milhes de consumidores e para as suas oportunidades. Em simultneo, nem sempre percebemos que, afinal, somos apenas 7% da populao mundial.

    Mas a UE tem 19,4 % do PIB mundial, enquanto que os EUA tm cerca de 18.9%. A China representa 14,92%1.

    Juntos, a UE e os EUA tm cerca de 800 milhes de pessoas. Tal significa que a 11,5% da populao mundial2 corresponde quase 38,3% do PIB mundial! Assim, compreende-se o crescimento dos emergentes e a justia que tal representa.

    A UE pretende fazer face aos desafios polticos que enfrenta, manter o seu modelo social e garantir um crescimento econmico sustentvel.

    A UE s coletivamente e de forma articulada conseguir enfrentar a crise que a afeta e recuperar a sua competitividade e produtividade, de forma a conseguir uma trajetria ascendente de prosperidade. Neste caminho, a solidariedade entre os Estados-Membros e entre as regies fundamental e, por isso, a coeso econmica social e territorial deve ser uma pedra angular da estratgia de desenvolvimento a que a UE se prope.

    comum ouvirmos que a UE est doente, em declnio. Na verdade, o crescimento da UE na ltima dcada tem sido modesto. Mas costumo perguntar muitas vezes: onde que se vive com mais direitos sociais, melhor proteo do ambiente, melhor qualidade de vida e maior respeito pelos direitos humanos do que na UE?

    Recebo um silncio, seguido de respostas tmidas: Noruega, Sua, Canad.

    A UE foi ambiciosa ao definir e comprometer-se com a Estratgia Europa 20203. uma resposta para sairmos fortalecidos da crise e vencermos os desafios de longo prazo. Infelizmente, esta ambio no tem a devida correspondncia no acordo a que o Conselho chegou relativamente ao Quadro Financeiro Plurianual (QFP) 2014/20204. evidente que o oramento proposto para o perodo 2014/2020, no reflete a Estratgia Europa 2020.

    Os meios financeiros definidos no so suficientes para a ambio dos objetivos traados.

    1 De acordo com o FMI (World Economic Outlook de abril de 2013, dados referentes a 2012), em paridade de poder de compra.

    2 A populao mundial ronda os 7.100 milhes de pessoas, sendo que a UE e os EUA juntos ficam bem longe da China (1,3 mil milhes) e da ndia (1,2 mil milhes).

    3 Ver pgina 15.4 Ver pgina 29.

    intROduOJos Manuel Fernandes

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    FUNDOS EUROPEUS 2014/2020

    Tal significa que despesa resultante dos programas, fundos e instrumentos financeiros teremos de dar o mximo valor acrescentado5, sem que seja colocado em causa o prin-cpio da solidariedade, da coeso econmica, social e territorial.

    A qualidade da despesa, o financiamento concentrado e a condicionalidade so pala-vras e conceitos que ganham maior relevncia face escassez de recursos financeiros. Defende-se a simplificao da execuo, a flexibilidade e a nfase nos resultados6. Para se tirar partido dos recursos financeiros, defende-se a sinergia entre polticas, fundos e instrumentos financeiros, tirando-se partido da sua complementaridade.

    A Estratgia Europa 2020 vincula a UE e os Estados-Membros. Note-se que o oramento da UE corresponde apenas a 1% do PIB da UE e representa cerca de 2% da totalidade da despesa pblica. Tal significa que imperativo o estabelecimento de uma maior arti-culao entre o oramento da UE e os oramentos nacionais.

    Os fundos e os programas sero objeto de regulamentao. Para que o Quadro Financeiro Plurianual seja executado ser aprovado um acordo interinstitucional7.

    O QFP ter de respeitar ainda o regulamento financeiro8.

    Portugal tem uma tarefa dificlima: consolidar as contas pblicas e, em simultneo, convergir com os outros Estados-Membros e atingir os objetivos a que se prope no mbito da Estratgia Europa 20209.

    Mas temos de conseguir.

    Os prximos fundos, programas e instrumentos financeiros so mais uma oportunidade para ajudar ao crescimento econmico de Portugal.

    Temos muitos recursos nossa disposio. necessrio utiliz-los bem e, para tal, devemos simplificar os programas e a sua regulamentao, envolver os beneficirios.

    As regies e as Cmaras Municipais tm de ser envolvidas na definio da estratgia nacional para o perodo 2014/2020. crucial e fundamental que as autarquias participem na execuo dessa estratgia. Espero que este livro d um contributo para esse objetivo.

    5 Valor acrescentado: Este um conceito vago, considerando-se que na sua base esto os princpios da sub-sidiariedade e da proporcionalidade. Considero que o valor acrescentado europeu dever resultar de uma avaliao simultaneamente econmica e poltica:Por um lado, teremos as economias de escala, a reduo de custos comparativamente s aes a nvel dos EM, as externalidades, o trabalho em rede. Por outro lado, teremos a avaliao poltica que ter de verificar se as medidas ou a poltica previstas iro contribuir para os objetivos comuns europeus e para reforar a integrao e a cooperao europeia. Ter ainda de se verificar se contribui para a coeso econmica, territorial e social, se cria bens pblicos comunitrios, aproxima a UE dos seus cidados, proporciona uma boa participao dos agentes envolvidos em toda a Europa ou permite o reforo das capacidades institucionais.

    6 H um novo instrumentos que se foca nos resultados que o Plano de ao conjunta (PAC). Um (PAC) pode ser financiado atravs de programas operacionais e implementado por uma abordagem baseada nos resultados, com vista obteno de objetivos especficos acordados entre um Estado-Membro e a Comisso. Uma das reas previstas para esta ferramenta a do emprego para os jovens. Note-se que a gesto financeira do PAC baseia-se em exclusivo na produo e resultados, com reembolso efetuado por via de escalas norma-lizadas de custos unitrios ou montantes fixos aplicveis a todos os tipos de projetos.

    7 Acordo Interinstitucional. O acordo sobre a disciplina oramental e a boa gesto financeira (AII) celebrado entre o Parlamento Europeu, o Conselho e a Comisso e incide sobre a elaborao e a execuo do oramento da Unio Europeia (UE). Atravs deste acordo, as instituies europeias decidem organizar a sua colaborao, a fim de melhorar o processo oramental e garantir uma boa gesto das finanas europeias.

    8 o regulamento Financeiro o principal documento da regulamentao financeira da UE. Define os prin-cpios do oramento da UE e regula a forma como gasto. O novo regulamento, que entrou em vigor em 1 de janeiro de 2013, fornece aos beneficirios dos fundos da UE empresas, ONG, investigadores, estudantes, municpios e outros regras claras mais fceis e procedimentos simples.

    9 Ver pgina 15.

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    A Estratgia Europa 202010 foi aprovada pela Comisso Europeia, Estados-Membros e Parlamento Europeu. Substituiu a Estratgia de Lisboa e a guia e a condicionadora dos prximos fundos, programas e instrumentos financeiros da UE, coincidindo com o Quadro Financeiro Plurianual 2014/2020. Na verdade, a Estratgia Europa 2020 define as prioridades e objetivos da Unio Europeia at 2020. Pretende-se fazer face aos desafios polticos que a UE tem pela frente, superar coletivamente a crise econmica e social que se vive, recuperar a competitividade e estimular a produtividade para colocar a UE numa trajetria ascendente de prosperidade.

    Esta estratgia ter sucesso, se tiver recursos suficientes para as suas aes e se existir uma governao coordenada por parte dos Estados-Membros. A UE deve disponibilizar as verbas suficientes para as aes emblemticas e os Estados-Membros devem ter a mesma atitude nas respetivas aes nacionais.

    Portugal tem de fazer um esforo enorme para atingir os objetivos11 a que se prope, designa-damente no objetivo Emprego e na Educao, onde tem como meta a reduo das taxas de abandono escolar para nveis abaixo dos 10% e o aumento para, pelo menos, 40% da percenta-gem da populao na faixa etria dos 30-34 anos que possui um diploma do ensino superior.

    Estratgia Europa 2020

    A UE tem de fazer face a mltiplos desafios polticos. Alguns deles comuns a todo o planeta:Globalizao;Escassez de recursos naturais;Alteraes climticas.

    E outros que na UE tm maiores repercusses:Envelhecimento da populao;Gesto das migraes ;Aprovisionamento energtico.

    10 Em 2010, a Estratgia de Lisboa expirou sem que os seus objetivos fossem minimamente atingidos. Em 17 de junho de 2010, o Conselho Europeu, aps comunicao da Comisso de 3 de maro e vrias resolues do PE, aprovou a Estratgia Europa 2020.

    11 Ver Tabela 1 - Objetivos de Portugal relativamente Estratgia Europa 2020 na pgina 23.

    A estRAtgiA euROPA 2020

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    Pretende-se fazer face a estes desafios, tendo em vista a melhoria da competitividade global da Unio Europeia, a reduo das desigualdades e das disparidades regionais, a promoo do emprego e da incluso social.

    Para tal, a UE aprovou a Estratgia Europa 2020.

    A Estratgia Europa 2020 tem 3 prioridades, 7 aes emblemticas e 5 grandes ob-jetivos a atingir em 2020.

    Cada projeto financiado pela UE e pelas suas polticas dever, sempre que possvel, cumprir as 3 prioridades e atingir simultaneamente vrios objetivos.

    Prioridades, Iniciativas emblemticas e Objetivos

    3 PrioridadesCrescimento inteligente Crescimento sustentvel Crescimento inclusivo

    7 Iniciativas emblemticas:Agenda Digital para a Europa Unio da Inovao Juventude em movimento Uma Europa eficiente em termos de recursos Uma poltica industrial para a era da globalizao Agenda para Novas Competncias e Empregos Plataforma europeia contra a pobreza

    5 Grandes objetivos

    1. Emprego

    - Aumentar para 75% a taxa de emprego na faixa etria dos 20-64 anos

    2. I&D e inovao

    - Aumentar para 3% do PIB da UE o investimento (pblico e privado) em I&D e inovao

    3. Alteraes climticas e energia

    - Reduzir as emisses de gases com efeito de estufa em 20% (ou em 30%, se forem reunidas as condies necessrias) relativamente aos nveis registados em 1990, obter 20% da energia a partir de fontes renovveis e aumentar em 20% a eficincia energtica

    4. Educao

    - Reduzir as taxas de abandono escolar para nveis abaixo dos 10%

    - Aumentar para, pelo menos, 40% a percentagem da populao na faixa etria dos 30-34 anos que possui um diploma do ensino superior

    5. Pobreza e excluso social

    - Reduzir, pelo menos, em 20 milhes o nmero de pessoas em risco ou em situao de pobreza ou de excluso social

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    Figura 1 - Esquema de resumo da Estratgia Europa 2020

    Crescimento Inteligente, Sustentvel e Inclusivo

    Crescimento Inteligente: as suas aes emblemticas e objetivos

    Factos:

    - A Europa regista uma taxa de crescimento inferior dos seus principais concorrentes, o que tambm se explica por nveis inferiores de investimento em I&D e inovao e por uma utilizao insuficiente das tecnologias da informao e de comunicao;

    - As empresas europeias totalizam apenas 25% do mercado mundial das tecnologias da informao e comunicao;

    - A lenta introduo da Internet de alto dbito afeta a capacidade da Europa para inovar, divulgar o conhecimento e distribuir bens e servios, provocando o isolamento das zonas rurais;

    - Cerca de 25% das crianas europeias em idade escolar tm dificuldades de leitura.

    A Estratgia Europa 2020 pode ser resumida no seguinte quadro.

  • 18

    FUNDOS EUROPEUS 2014/2020

    - Um nmero muito elevado de jovens abandona o sistema de ensino e de formao sem diploma;

    - As qualificaes que os jovens obtm so muitas vezes inadequadas s necessidades do mercado de trabalho;

    - Menos de um tero dos europeus na faixa etria dos 25-34 anos possui uma licenciatura, contra 40% nos EUA e mais de 50% no Japo;

    - As universidades europeias ocupam lugares secundrios na classificao mundial, onde s duas se encontram entre as 20 melhores do mundo;

    - H cada vez menos pessoas no ativo para custear as penses de um nmero crescente de reformados, bem como para financiar as restantes necessidades do sistema de pro-teo social;

    - A partir de 2007, o nmero de pessoas com mais de 60 anos aumentou a um ritmo duas vezes mais rpido, totalizando cerca de dois milhes por ano, contra um milho anteriormente.

    Estes factos obrigam a que se invista no reforo das qualificaes adequadas, na inves-tigao e inovao e na utilizao de tecnologias de informao e comunicao. Assim, um crescimento inteligente pressupe melhores resultados a nvel da UE em matria de educao, investigao e inovao e sociedade digital.

    Tal conseguido, nomeadamente, mediante trs iniciativas emblemticas:

    1. Agenda Digital para a Europa

    Pretende:

    - criar um mercado nico digital baseado na Internet de banda larga rpida ou ultrarr-pida e na interoperabilidade:

    - at 2013 - acesso Internet de banda larga para todos;

    - at 2020 - acesso Internet de banda larga ultrarrpida (30 Mbps ou mais) para todos;

    - at 2020 - acesso de, pelo menos, metade dos agregados familiares europeus a ligaes ultrarrpidas Internet, com dbitos superiores a 100 Mbps.

    2. Unio da Inovao

    Pretende:

    - orientar a poltica de I&D e inovao para os grandes desafios da sociedade atual, tais como as alteraes climticas, a eficincia energtica, a sade e a evoluo demogrfica;

    - reforar cada elo da cadeia de inovao, desde a investigao fundamental at fase de comercializao.

  • 19

    3. Juventude em movimento

    Pretende:

    - ajudar os estudantes e formandos a estudar no estrangeiro;

    - preparar melhor os jovens para o mercado de trabalho;

    - melhorar o desempenho e a capacidade de atrao das universidades europeias;

    - melhorar os sistemas de educao e de formao a todos os nveis (excelncia acadmica, igualdade de oportunidades).

    Estas iniciativas emblemticas e as aes em cada Estado-Membro ajudam a atingir, sobretudo, os seguintes grandes objetivos:

    - Aumentar para 3% do PIB da UE o nvel conjunto do investimento pblico e privado na investigao e desenvolvimento (I&D) e na inovao, e melhorar as condies de crescimento do setor;

    - Aumentar para 75%, at 2020, a taxa de emprego na faixa etria dos 20 aos 64 anos, inserindo mais pessoas no mercado de trabalho, especialmente as mulheres, os jovens, os trabalhadores mais idosos ou pouco qualificados e os migrantes legais;

    - Aumentar os nveis de sucesso escolar, designadamente atravs de:reduodastaxasdeabandonoescolarparanveisabaixodos10%;

    aumentopara,pelomenos,40%napercentagemdapopulaonafaixaetriados30 aos 34 anos que conclui o ensino superior (ou equivalente).

    Crescimento sustentvel: as suas aes emblemticas e objetivos

    Factos:

    - A nossa dependncia relativamente ao petrleo, gs e carvo torna os consumidores e as empresas vulnerveis a choques de preos prejudiciais e onerosos, ameaa a nossa segurana econmica e contribui para o agravamento das alteraes climticas.

    - A concorrncia mundial em relao aos recursos naturais est a intensificar-se, aumen-tando a presso exercida sobre o ambiente.

    - O combate s alteraes climticas obriga a reduzir mais rapidamente as emisses de CO2 e a tirar partido de novas tecnologias, como as energias elica e solar e as tecno-logias no domnio da captura e armazenamento do carbono.

    - Os riscos climticos obrigam a reforar a nossa capacidade de preveno e de resposta a catstrofes.

    - A UE pretende, por razes de segurana e econmicas, reduzir em 60 mil milhes de euros a fatura europeia da importao de petrleo e de gs at 2020.

    - Uma maior integrao do mercado europeu da energia poder gerar um aumento do PIB entre 0,6% e 0,8%.

    - Suprir 20% das necessidades energticas da Europa, a partir de fontes de energia renovveis, poder conduzir criao de mais de 600.000 postos de trabalho na UE, e de 400.000 postos de trabalho adicionais se atingirmos a meta dos 20% em matria de eficincia energtica.

  • 20

    FUNDOS EUROPEUS 2014/2020

    Estes factos obrigam a:

    - criar uma economia mais competitiva, de baixo teor de carbono hipocarbonada e eficiente na utilizao sustentvel dos recursos. Defende-se assim, por exemplo, uma sociedade da reciclagem e da reutilizao;

    - proteger o ambiente, reduzir as emisses e impedir a perda da biodiversidade;

    - tirar partido da liderana da Europa no desenvolvimento de novas tecnologias ecolgicas e de novos mtodos de produo;

    - criar redes eltricas inteligentes e eficientes;

    - tirar partido das redes escala da UE para que as empresas (especialmente as peque-nas empresas da indstria transformadora) disponham de uma vantagem competitiva adicional.

    Tal conseguido, designadamente, mediante duas iniciativas emblemticas:

    1. Uma Europa eficiente em termos de recursos

    Pretende:

    - promover a transio para uma economia eficiente na utilizao de recursos e de baixo teor de carbono (devemos dissociar o crescimento econmico da utilizao dos recursos e da energia);

    - reduzir as emisses de CO2;

    - promover uma maior segurana energtica;

    - reduzir a intensidade de utilizao dos recursos que utilizamos e consumimos.

    2. Uma poltica industrial para a era da globalizao

    Pretende:

    - apoiar o empreendedorismo, com vista a melhorar o desempenho das empresas europeias e a torn-las mais competitivas;

    - contemplar todos os elementos de uma cadeia de valor cada vez mais internacional, desde o acesso s matrias-primas at ao servio ps-venda.

    Estas iniciativas emblemticas e as aes em cada Estado-Membro ajudam a atingir, sobretudo, os seguintes grandes objetivos:

    - reduzir em 20%, at 2020, as emisses de gases com efeito de estufa em relao aos nveis registados em 1990. A UE est disposta a aumentar essa percentagem para 30%, se os outros pases desenvolvidos assumirem compromissos equivalentes e se os pases em desenvolvimento contriburem de acordo com as suas possibilidades, no mbito de um acordo de mbito alargado escala mundial;

    - aumentar para 20% a quota-parte das energias renovveis no consumo final de energia;

    - aumentar em 20% a eficincia energtica.

  • 21

    Crescimento inclusivo: as suas aes emblemticas e objetivos

    Factos:

    - A mo de obra europeia est a diminuir, devido evoluo demogrfica, e tem que custear um nmero cada vez maior de reformados.

    - A taxa de emprego especialmente baixa no caso das mulheres (63% contra 76% de taxa de emprego masculino na faixa etria dos 20 aos 64 anos) e dos trabalhadores mais idosos, com idades compreendidas entre os 55 e os 64 anos (46% contra 62% nos EUA e no Japo).

    - O nmero de horas de trabalho dos europeus inferior em 10% ao dos americanos ou dos japoneses.

    - A taxa de desemprego juvenil ultrapassa na UE os 23,4%12.

    - A UE conta cerca de 80 milhes de pessoas pouco qualificadas, ou com competncias bsicas, que beneficiam menos da aprendizagem ao longo da vida do que as pessoas mais instrudas.

    - At 2020, haver mais 16 milhes de postos de trabalho do que hoje para trabalhadores altamente qualificados, enquanto a oferta de emprego para trabalhadores pouco quali-ficados registar uma diminuio de 12 milhes de postos de trabalho.

    - O nmero de pessoas em risco de pobreza de cerca de 100 milhes, onde esto includos mais de 20 milhes de crianas.

    - 8% dos trabalhadores no ganha o suficiente para sair do limiar da pobreza.

    Estes factos obrigam a:

    - Aumentar a taxa de emprego da Europa, criando mais e melhores empregos, especial-mente acessveis s mulheres, aos jovens e aos trabalhadores mais idosos;

    - Ajudar as pessoas de todas as idades a antecipar e a gerir a mudana, investindo na aquisio de competncias e na formao;

    - Modernizar os mercados de trabalho e os sistemas de proteo social;

    - Assegurar os benefcios do crescimento em todas as regies da UE.

    Tal conseguido, designadamente, mediante duas iniciativas emblemticas:

    1. Agenda para novas competncias e empregos

    Pretende:

    - ajudar as pessoas a adquirir novas competncias, a adaptar-se a um mercado de trabalho em mutao e a efetuar mudanas de carreira bem sucedidas;

    - modernizar os mercados de trabalho para aumentar as taxas de emprego, reduzir o desemprego, aumentar a produtividade do trabalho e assegurar a sustentabilidade do nosso modelo social.

    12 maro de 2013, Eurostat.

  • 22

    FUNDOS EUROPEUS 2014/2020

    2. Plataforma europeia contra a pobreza

    Pretende:

    - assegurar a coeso social;

    - garantir o respeito pelos direitos fundamentais das pessoas em situao de pobreza ou de excluso social para que possam viver dignamente e ter um papel ativo na sociedade;

    - mobilizar recursos para facilitar a integrao das pessoas nas comunidades onde vivem e ajud-las a encontrar trabalho e a ter acesso s prestaes sociais.

    Estas iniciativas emblemticas e as aes em cada Estado-Membro ajudam a atingir, sobretudo, os seguintes grandes objetivos:

    - Aumentar para 75%, at 2020, a taxa de emprego na faixa etria dos 20 aos 64 anos, inserindo mais pessoas no mercado de trabalho, especialmente as mulheres, os jovens, os trabalhadores mais idosos ou pouco qualificados e os migrantes legais;

    - Aumentar os nveis de sucesso escolar:

    reduzindoastaxasdeabandonoescolarparanveisinferioresa10%;

    aumentandopara,pelomenos,40%apercentagemdapopulaonafaixaetriados30-34 anos que obtm um diploma do ensino superior (ou equivalente);

    reduzir,pelomenos,em20milhesonmerodepessoasemriscoouemsituaodepobreza ou de excluso social.

  • 23

    Portugal e a Estratgia Europa 2020

    A compreenso da Estratgia Europa 202013 essencial, pois os fundos, os progra-mas, os acordos de parceria e o Quadro Estratgico Comum -QEC14 sero por ela guiados e condicionados.

    No contexto dos 5 objetivos da Estratgia Europa 2020, os Estados-Membros estabeleceram as suas prprias metas, definidas no quadro dos seus Programas Nacionais de Reformas.15

    Objetivos principais Europa 2020 Situao atual em PortugalObjetivo nacional para 2020 no PNR

    3% dos gastos consagrados investigao e ao desenvolvimento 1,59% 3%

    20% de reduo das emisses de gases com efeito de estufa (em comparao com os nveis de 1990)

    -16% (projees para 2020 nos setores no abrangi-dos pelo RCLE-UE15 em

    relao a 2005)

    - 5% (projees para 2010 nos setores no abran-

    gidos pelo RCLE-UE em relao a 2005)

    + 1% (meta vinculativa na-cional para os setores no abrangidos pelo RCLE-UE

    em relao a 2005)

    20% de energias de fontes renovveis 24,6 % (2010) 31 %20% de aumento da eficincia energtica 23% 20%75% da populao entre 20 e 64 anos devem ter emprego 69,1% (2011) 75%

    A taxa de abandono escolar precoce deve ser inferior a 10% 23,2% (2011) 10%Pelo menos 40% dos adultos entre 30- 34 anos devem ter concludo o ensino tercirio ou equivalente

    26.1% (2011) 40%

    Reduo mnima do nmero de pessoas em risco de pobreza ou de excluso para 20 milhes na UE (em comparao com os nveis de 2008)

    1 em cada 4 cidados por-tugueses encontrava-se

    em risco de pobreza ou de excluso social em 2010

    200.000

    Tabela 1 - Objetivos de Portugal relativamente Estratgia Europa 2020

    Os objetivos a que Portugal se comprometeu so extremamente ambiciosos e exigem uma utilizao otimizada dos prximos fundos. O desemprego e a pobreza tm aumentado e, apesar da evoluo na educao e na I&D, estamos ainda longe das metas acordadas na Estratgia Europa 2020. Para alm disso, Portugal no tem uma forte coeso econmica social e territorial, como prova a disparidade do PIB per capita entre a regio mais pobre de Portugal Norte (62,8%Pib/per Capita) e a mais rica de Portugal Lisboa e Vale do Tejo (110,7% Pib/per capita)16. Portugal no pode ser um pas duplamente inclinado: em direo ao litoral e a Lisboa.

    13 Ver pgina 15. 14 Ver pgina 62.15 Regime de Comrcio de Licenas de Emisses da Unio Europeia (RCLE-UE).16 Ver Anexo I - PIB/per capita por regio da UE, na pgina 84.

  • 24

    FUNDOS EUROPEUS 2014/2020

    Cerca de 71,6% da populao portuguesa vive nas denominadas regies menos desenvolvidas, Norte, Centro, Alentejo e Aores (PIB per capita inferior a 75% sendo a mdia da UE 100%). Lisboa e Madeira esto no grupo das regies mais desenvolvidas (PIB per capita superior a 90%) e o Algarve uma regio de transio (PIB per capita entre 75% e 90%).

    Figura 2 Portugal e o PIB per capita nas NUTS II

    Portugal no pode pregar a solidariedade na Unio Europeia e depois no a praticar no seu prprio territrio. Tal significa que Portugal tem de conseguir ser competitivo, sem esquecer a coeso territorial.

    Portugal ter a tarefa dificlima de atingir estes objetivos e, em simultneo, consolidar as contas pblicas, respeitar o Memorando de Entendimento assinado com a Troika e crescer de forma a que assegure a convergncia com os outros Estados-Membros, tendo para tal de aumentar a competitividade econmica.

  • 25

    Figura 3 - Grfico comparativo em termos de crescimento do PIB nos ltimos anos (euro/habitante)

    Portugal cumprir a Estratgia Europa 2020 se aumentar a competitividade da eco-nomia, conseguir a coeso territorial e atingir os objetivos a que se prope na rea do emprego, educao, combate pobreza, alteraes climticas e investigao e desenvolvimento.

    Para se atingir a coeso territorial, considero crucial que se definam objetivos regionais (NUTSII17) para se atingirem em 2020, em consonncia com a Estratgia Europa 2020.

    Os objetivos nacionais esto definidos. Sabemos para onde queremos ir. Para sabermos onde estamos, deixo aqui alguns dados e factos adicionais:

    Emprego

    - A taxa de emprego atingiu o pico em 2008, com 73,1%, e a partir da tem vindo a baixar. Em 2012 a taxa de emprego foi de 66,5%

    - Os nveis de desemprego juvenil e de longa durao tm vindo a aumentar substan-cialmente e so consideravelmente mais elevados do que a mdia da UE. A taxa de desemprego jovem (0-25 anos) em abril de 2013 foi de 42,5%.

    - Uma elevada percentagem de agricultores (46,7%) tem mais de 64 anos de idade; a reestruturao e a renovao geracional no setor continuam, por isso, a ser desafios importantes. Em 2010, a taxa de emprego no setor agrcola representava 8,8% do nmero total de empregados (a mdia da UE-27 era 4,8%)

    17 NUTS (Nomenclatura das Unidades Territoriais Estatsticas) consiste num sistema que divide e ordena hierar-quicamente o territrio econmico dos Estados-Membros em unidades territoriais com o objetivo da recolha, desenvolvimento e harmonizao das estatsticas regionais da Unio e da anlise socioeconmica dessas regies. O sistema NUTS tem trs nveis hierrquicos subdividindo cada Estado-Membro em regies NUTS 1 (principais regies socioeconmicas com 3 a 7 milhes de habitantes), cada uma das quais , por sua vez, subdividida em regies NUTS 2 (regies de base para a aplicao das polticas regionais com 800 mil a 3 milhes de habitantes) e NUTS 3 (pequenas regies para diagnsticos especficos). O nvel nacional do Estado-Membro encontra-se acima da NUTS 1. As regies elegveis para a receo de fundos estruturais (Objetivo 1) foram classificados no nvel NUTS 2, as zonas elegveis para objetivos prioritrios, tm sido principalmente classificadas no nvel NUTS 3. O relatrio sobre a coeso tem sido normalmente elaborado a nvel NUTS 2. In: Novo Dicionrio de Termos Europeus, Aletheia Editores. Ver mapa Anexo IX NUTS II, NUTS III, CIM s e Grupos de Ao Local na pgina 169.

  • 26

    FUNDOS EUROPEUS 2014/2020

    Educao

    - Os baixos nveis de qualificao e a falta de participao na aprendizagem ao longo da vida dificultam a empregabilidade e a adaptabilidade da mo de obra adulta. Alm disso, a economia no est a absorver os jovens mais qualificados e o desemprego entre os diplomados do ensino superior tem aumentado.

    - O nvel educativo dos jovens relativamente baixo em comparao com a mdia da UE. Apenas 27,2% dos jovens tm diploma de ensino superior, ou equivalente, em comparao com os 35,8% da mdia UE27.

    - A elevada taxa de abandono escolar precoce18 continua a ser um dos principais problemas. Em Portugal verifica-se uma taxa de abandono escolar de 20,8%, em comparao com os 12,8% da UE27.

    Investigao e Desenvolvimento (I&D) e Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC)

    - H uma discrepncia importante entre a criao de conhecimento, a transferncia de conhecimento e a sua traduo em valor econmico atravs da inovao.

    - A posio de Portugal na classificao da inovao na UE-27 melhorou quando alcanou o 15. lugar da tabela e se inseriu no grupo dos inovadores moderados. No entanto, o nmero de patentes registadas continua reduzido.

    - O nvel de utilizao das TIC pelas empresas em Portugal baixo quando comparado com o dos pases europeus mais avanados.

    Agricultura e Pescas

    - Os rendimentos da agricultura diminuem desde 2005, enquanto os salrios e os ordenados progridem noutros setores da economia.

    - O setor das pescas continua a enfrentar o grande desafio de alcanar a rendibilidade econmica, bem como o da sustentabilidade social e ambiental, apesar de Portugal ter desenvolvido durante anos um esforo para a renovao e a concentrao da frota, atravs de cessao ou suspenso das atividades de pesca.

    - No setor martimo, a falta de mobilidade prejudica a modernizao do setor e a sua capacidade de emprego. Existe um desfasamento entre os sistemas de educao e formao e o mercado de trabalho que, neste momento, procura recrutar nos nveis mais elevados e menos elevados das qualificaes.

    Pobreza

    - Em 2010, um em cada quatro cidados portugueses vivia em risco de pobreza. A atual crise econmica e social, a falta de crescimento econmico, o aumento do desempre-go e as medidas de austeridade tomadas no contexto do processo de ajustamento oramental criam um risco acrescido de pobreza e de excluso social.

    18 Populao europeia dos 18-24 anos com educao abaixo do ensino secundrio e que j no frequenta o ensino ou a formao.

  • 27

    - Em 2010, segundo o Eurostat, existiam em Portugal 25,3% de pessoas em Risco de Pobreza ou Excluso Social19.

    Ambiente e Alteraes climticas

    - Portugal continua a estar muito dependente da importao de combustveis fs-seis, essencialmente carvo e petrleo, no setor da gerao de eletricidade, no obstante o facto de a percentagem de fontes de energia renovveis (FER) presente no consumo total de energia (24,6%) ser o dobro da mdia da UE.

    - Portugal encontra-se entre os pases europeus com maior vulnerabilidade a fenmenos como a eroso costeira, a crescente desertificao, a degradao do solo, a ocorrncia de sismos, de cheias e inundaes, as secas e os incndios florestais.

    - H ainda desafios importantes no domnio da eficincia energtica, nomeadamente na construo, na indstria e nos transportes.

    - Portugal est longe de atingir o seu objetivo de Quioto. Em 2008, o nvel das emisses de gases com efeito de estufa em Portugal foi 30,3% superior aos nveis do ano de referncia de 1990. O Governo comprometeu-se a no aumentar at 2020 as emisses no abrangidas pelo RCLE-UE (construo, transportes rodovirios e agricultura) em mais de 1% em relao ao nvel observado em 2005.

    - Portugal contribui para a rede Natura 2000 com cerca de 21% da sua superfcie terres-tre. Apesar dos esforos, a perda de biodiversidade tem continuado. A deteriorao dos habitats deve-se principalmente fragmentao, intensificao da agricultura e ao abandono das terras.

    - A maioria das reservas de peixe objeto de sobre-explorao e desperdcio (de-volues), pelo que no se concretiza todo o seu potencial econmico. Portugal tem de avaliar e resolver os desequilbrios que existem entre frotas e recursos, e solucionar os problemas de controlo e recolha de dados. Alm disso, a preservao dos recursos naturais e a perda de biodiversidade so desafios permanentes. A uti-lizao sustentvel dos recursos marinhos, incluindo a preveno da sobrepesca, importante para o desenvolvimento da economia azul do pas.

    gua e Saneamento

    - A utilizao de gua para a agricultura muito elevada (72% da utilizao total de gua em 2008) e a reutilizao corresponde apenas a 20% das suas prprias necessidades.

    19 Juno dos 3 subindicadores: Subindicador I - Taxa de Risco de Pobreza: Diferena entre as crianas/jovens e a populao total, relativas vida em famlias com rendimentos abaixo dos 60% do rendimento mdio nacional disponvel (aps trans-ferncias sociais).Subindicador II - Taxa de privao grave de Material: Taxa grave considera-se a populao sem capacidades de completar 2 dos seguintes 5 itens:

    1. pagar as contas de hipotecas, rendas ou contas de servios pblicos;2. manter a casa razoavelmente quente;3. enfrentar despesas inesperadas;4. comer carne ou protenas regularmente;5. ir de frias ou adquirir uma televiso, um frigorfico, um carro ou um telefone.

    Subindicador III: Vivem em agregados familiares com intensidade de trabalho muito baixa, onde os adultos trabalham menos de 20% do seu potencial total de trabalho.

  • 28

    FUNDOS EUROPEUS 2014/2020

    - Da anlise da tabela seguinte, possvel identificar que 23% da gua captada no chega a ser distribuda.

    gua captada 837.469.000 m3

    gua tratada 756.132.000 m3

    gua distribuda 645.891.000 m3

    Tabela 2 - gua captada vs. gua distribuda (2009). Fonte: INE (fevereiro 2012)

    - A tabela seguinte demonstra uma boa evoluo dos indicadores relativos gua e saneamento:

    1994 2011Cobertura do servio de abastecimento de gua 82% 95%

    Percentagem de gua controlada e que apresenta boa qualidade 50% 98%

    Acesso ao tratamento de guas residuais urbanas 31% 78%

    Tabela 3 - Evoluo dos indicadores relativos gua e saneamento. Fonte: ERSAR - Entidade Reguladora dos

    Servios de guas e Resduos.

    Contudo, em algumas zonas a ligao rede pblica de esgotos e s estaes de trata-mento de guas residuais apenas de 50%.

    resduos Slidos

    - No se verificaram, desde 2007, grandes alteraes na taxa de deposio em aterro, bem como nos resduos urbanos gerados, que est agora acima da mdia da UE (518 kg/ano/habitante, em comparao com cerca de 487 kg, em mdia).

    Transportes

    - Apesar dos investimentos considerveis, o transporte ferrovirio tem vindo a perder a sua parte da repartio modal, tanto a nvel de passageiros como de mercadorias. Subsistem deficincias importantes neste setor, uma vez que a rede existente no tem grande qualidade nem extenso, exceto no centro e nas zonas costeiras entre Lisboa e Porto.

    A ausncia de ligaes ferrovirias adequadas com Espanha e o resto da Europa continua a constituir um importante fator de estrangulamento.

  • 29

    O QFP e o Tratado de Lisboa

    O chamado Quadro Financeiro Plurianual20 (QFP), tambm conhecido por Perspetivas Financeiras ou Oramentos Plurianuais, existe desde 1988, mas s passou a constar dos tratados com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa. No QFP so definidos, nome-adamente, os fundos estruturais, o fundo de coeso, os programas comunitrios, a Poltica Agrcola Comum (PAC) e os respetivos envelopes financeiros.

    o QFP um programa de despesas plurianual que traduz em termos financeiros, para o respetivo perodo de vigncia, as prioridades polticas da Unio. Estabelece limites de despesas da UE durante um determinado perodo impondo disciplina oramental. o QFP estabelecido por um perodo de pelo menos cinco anos21.

    O QFP fixa os montantes dos limites mximos anuais das dotaes para autorizaes por categoria de despesa e do limite mximo anual das dotaes para pagamentos22. As categorias de despesas, em nmero limitado, correspondem aos grandes setores de atividade da Unio.

    20 o Quadro Financeiro PlurianualArtigo 312, T.F.U.E.1. O quadro financeiro plurianual destina-se a garantir que as despesas da Unio sigam uma evoluo orde-

    nada dentro dos limites dos seus recursos prprios.O quadro financeiro plurianual estabelecido por um perodo de pelo menos cinco anos.O oramento anual da Unio respeita o quadro financeiro plurianual.2. O Conselho, deliberando de acordo com um processo legislativo especial, adota um regulamento que

    estabelece o quadro financeiro plurianual. O Conselho delibera por unanimidade, aps aprovao do Parlamento Europeu, que se pronuncia por maioria dos membros que o compem.

    O Conselho Europeu pode adotar, por unanimidade, uma deciso que autorize o Conselho a deliberar por maioria qualificada quando adotar o regulamento a que se refere o primeiro pargrafo.3. O quadro financeiro fixa os montantes dos limites mximos anuais das dotaes para autorizaes por

    categoria de despesa e do limite mximo anual das dotaes para pagamentos. As categorias de despesas, em nmero limitado, correspondem aos grandes setores de atividade da Unio.

    O quadro financeiro prev todas as demais disposies que sejam teis para o bom desenrolar do processo oramental anual.4. Se o regulamento do Conselho que estabelece um novo quadro financeiro no tiver sido adotado no final

    do quadro financeiro precedente, os limites mximos e outras disposies correspondentes ao ltimo ano deste quadro so prorrogados at adoo desse ato.

    5. Durante todo o processo que conduz adoo do quadro financeiro, o Parlamento Europeu, o Conselho e a Comisso tomam todas as medidas necessrias para facilitar essa adoo.

    21 Art. 312, n1, T.F.U.E.22 A estrutura do oramento da UE diferente do oramento nacional e prev:

    - A dotao de autorizao anual corresponde aos compromissos jurdicos para efetuar gastos que no tm necessariamente de ser desembolsados no mesmo ano mas que podem ser desembolsados ao longo de vrios exerccios.

    - A dotao de pagamento anual corresponde aos montantes definidos para pagamentos nesse ano.

    O QuAdRO FinAnceiROPluRiAnuAl (QFP)

  • 30

    FUNDOS EUROPEUS 2014/2020

    Desta forma, assegura-se paz e estabilidade oramental, pois os oramentos anu-ais ficam balizados. Mas tem o defeito de ser pouco flexvel e de difcil adaptao, incapaz de dar resposta a emergncias que possam surgir.

    A aprovao do QFP complexa dada a necessidade de unanimidade no Conselho, conforme o definido no Art. 312 do TFUE, o que permitiu a ameaa de bloqueio por parte do Reino Unido, que imps a reduo QFP 2014/2020, ou seja, dos oramentos para esse perodo.

    A esta complexidade no alheio o facto do oramento da UE no ter verdadeiros recursos prprios, sendo financiado em cerca de 85% pelos oramentos nacionais. Para alm disso, a Alemanha e a Frana so responsveis por cerca de 38% das contribuies do oramento da UE, como se pode verificar na tabela seguinte.

    Tabela 4 - Financiamento do oramento geral da UE em 2013 por recursos prprios e Estados-Membros, 2013

    Legenda:Recursos prprios tradicionais: consistem principalmente em direitos que so cobrados nas importaes de produtos provenientes de pases terceiros e representam aproximadamente 14% das receitas totais.

    Recursos prprios baseados no IVA e no RNB: O recurso baseado no IVA uma percentagem uniforme aplicvel s receitas do IVA de cada Estado-Membro (corresponde a 15% das receitas totais).

    - O recurso com base no RNB uma percentagem uniforme (0,73%) aplicada ao RNB de cada Estado--Membro. Tornou-se a fonte de receitas mais importante e corresponde atualmente a cerca de 69% das receitas totais.

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    Tal leva a que cada lder de cada Estado-Membro olhe para o oramento comparando o montante que paga com o que dele recebe (o que permitiu a alguns a considerarem-se contribuintes lquidos23 da UE) e levou criao de mecanismos de correo24 ou compen-sao incompreensveis e pouco transparentes, como exemplo o Cheque Britnico25. A inexistncia de verdadeiros recursos prprios leva ainda infeliz distino entre contribuintes lquidos e beneficirios lquidos.

    Da decorreu, nas negociaes para o QFP 2014/2020, a triste diviso entre os Estados--Membros Amigos da coeso e os Amigos da boa despesa (como se os amigos da coeso no fossem amigos da boa despesa). Acrescento um outro grupo: Amigos de si mesmos, liderado pelo Reino Unido, para quem a Unio Europeia acabava j hoje. Para estes, a nica dimenso da Europa que interessa exclusivamente a do mercado nico.

    23 Expresso com que frequentemente se designam os Estados-Membros da Unio Europeia cujas contribuies financeiras para o oramento da UE excedem, em valor, as verbas que dele recebem. Porm, o oramento da Unio Europeia no pode ser lido como um simples balano de deve e haver. Se os Estados-Membros que so contribuintes lquidos do efetivamente um contributo financeiro mais elevado para o oramento da UE, tambm verdade que as verbas atribudas aos Estados-Membros mais pobres acabam por beneficiar direta ou indiretamente os pases mais ricos atravs da existncia do Mercado Interno ou da mais-valia comunitria nos mercados e negociaes internacionais. In: Novo Dicionrio de Termos Europeus

    24 O Conselho Europeu de Fontainebleau de 1984 reconheceu que qualquer Estado-Membro suportando um encargo oramental excessivo em relao sua prosperidade relativa pode beneficiar, no devido momento, de uma correo. Estes princpios foram confirmados e sistematicamente aplicados nas sucessivas decises relativas aos recursos prprios. Desde ento, foram introduzidos diferentes mecanismos complexos de correo, nomeadamente:- Uma correo a favor do Reino Unido (abatimento para o pas);- A reduo da parte da Alemanha, Pases Baixos, ustria e Sucia no financiamento da correo a favor do Reino Unido (correo sobre a correo);- A reteno de 25 % a favor dos Estados-Membros a ttulo de custos de cobrana dos recursos prprios tradicionais (principalmente direitos aduaneiros), o que constitui uma correo oculta em benefcio de um grupo reduzido de Estados-Membros;- A reduo temporria das contribuies baseadas no IVA a favor da Alemanha, Pases Baixos, ustria e Sucia;- A reduo temporria das contribuies baseadas no RNB dos Pases Baixos e da Sucia.

    25 O cheque britnico, ou british rebate, como designado em ingls, foi negociado em 1984 pelo Reino Unido quando Margaret Thatcher era primeira ministra.Nos anos 80, o Reino Unido era o maior contribuinte lquido da Comunidade, sendo ao mesmo tempo um dos pases com baixos nveis de riqueza e desenvolvimento (90% da mdia comunitria). Com efeito, o Reino Unido tinha na altura uma economia mais industrializada, e pouco beneficiava das verbas da Poltica Agrcola Comum, que esgotavam mais de 70% do oramento da UE. Esta situao criava uma distoro inaceitvel quando comparada com a Frana, que, apesar de bastante mais rica, recebia montantes avultados de verbas europeias por ser a principal beneficiria da PAC.Na sequncia dos protestos britnicos celebrizados pela frase da primeira ministra Thatcher I want my money back , foi criado um mecanismo de correo oramental que permite ao Reino Unido recuperar cerca de dois teros da sua contribuio lquida financeira.No mbito das negociaes sobre as Perspetivas Financeiras (2007-2013), o cheque britnico foi objeto de crticas tanto da parte dos Estados Membros mais ricos, conhecidos por contribuintes lquidos, como por parte dos Estados Membros que mais recebem do oramento da UE. A permanncia do cheque britnico nas prximas perspetivas financeiras tornou se o verdadeiro n grdio das negociaes.Os principais motivos de crtica consistem no facto de que os fundamentos que originaram o cheque brit-nico foram desaparecendo com o tempo: o nvel de riqueza do Reino Unido aumentou significativamente e as verbas dedicadas PAC tm vindo sistematicamente a diminuir. Acresce ainda que, com o alargamento, a UE conta agora com 27 Estados Membros e impe se o cumprimento do princpio de solidariedade (artigo 3. 3 do Tratado), que obriga a que todos, na medida das suas possibilidades, contribuam para o desenvolvi-mento regional da UE, apoiando os Estados Membros menos ricos e reforando a coeso econmica e social.Dada a presso dos restantes 24 Estados Membros no decorrer das negociaes sobre as Perspetivas Fi-nanceiras (2007 2013), o Reino Unido acabou por prescindir de uma parte substancial do seu cheque (10,5 mil milhes de euros), visto como condio prvia para um acordo final sobre as Perspetivas Financeiras. In: Novo Dicionrio de Termos Europeus.

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    FUNDOS EUROPEUS 2014/2020

    Os Amigos da coeso, onde Portugal est, defendem a Poltica de Coeso e que o seu envelope financeiro no diminua. Os Amigos da boa despesa so os contribuin-tes lquidos e pretendem reduzir o oramento da UE, com o argumento que se pode reduzir prioridades e ser mais eficiente. Entenda-se que estes amigos o que querem reduzir as verbas da Poltica de Coeso, ou seja, dar menos s regies mais pobres, que so as que mais precisam. O grupo que acrescentei - Amigos de si mesmos - resume-se basicamente ao Reino Unido, sendo por vezes acompanhado por Holanda, Dinamarca e Sucia.

    As limitaes do QFP

    Quando falamos do QFP, estamos a falar dos fundos, dos programas, que constam dos oramentos anuais para esse perodo. bom recordar que o oramento anual corres-ponde, nas dotaes de pagamento26, a cerca de 1% do PIB da UE - aproximadamente 130 mil milhes de euros - e que , sobretudo, um oramento de investimento (94% para investimento e 6% para as despesas administrativas e de funcionamento de todas as instituies). Repare-se que o oramento federal dos EUA corresponde a cerca de 20% do respetivo PIB27.

    Os oramentos anuais da UE no podem ter dfice, segundo os tratados. Para alm disso, mantm-se o limite mximo de 1,23% do RNB28 para as despesas de pagamentos. Acresce que, j em 2003, Alemanha, Frana, Reino Unido, ustria, Sucia e Holanda, numa carta conjunta, propuseram o limiar do oramento da UE em 1%.

    O QFP 2014/2020

    O prximo QFP ter a durao de 7 anos, sendo guiado e condicionado pela Estratgia Europa 2020.

    A metodologia utilizada para elaborar o QFP 2014/2020

    A Estratgia Europa 2020 foi definida e aprovada por todos os Estados-Membros. Seria lgico que se definissem as verbas necessrias para que se alcanassem os objetivos propostos. Mas o que o Conselho fez foi colocar o QFP num valor inferior a 1% do PIB para as despesas de pagamento, dividindo o montante pelas polticas e programas da UE. Tal significa seguir o mtodo da subtrao29.

    26 Ver nota de rodap n 22, na pg. 29.27 O Produto Interno Bruto (PIB) de um pas o montante dos bens e servios por ele produzidos num dado ano.

    Esse valor refere-se produo efetuada no pas, independentemente de ser realizada por empresas nacionais ou estrangeiras. Se o critrio de contabilizao fosse a nacionalidade, tratar-se-ia de um outro conceito, o de Produto Nacional Bruto (PNB). O PIB um dos agregados macroeconmicos, ou seja, uma grandeza que representa o conjunto das operaes efetuadas, durante o ano, pelos vrios agentes dessa economia. Em termos de Contabilidade Nacional, considera-se o PIB (a preos de mercado) como a soma do consumo privado, do consumo pblico, do investimento das empresas e das exportaes lquidas (tica da despesa). In Infopdia [on line]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-04-25].

    28 O Rendimento Nacional Bruto (RNB) corresponde ao valor que fica no pas, que se obtm adicionando ao PIB os rendimentos primrios recebidos do resto do mundo e subtraindo os pagos tambm ao resto do mundo.

    29 Considero que, pelo menos para as aes emblemticas, dever-se-ia ter usado o mtodo da adio (definem-se as polticas e atribuem-se-lhes as verbas necessrias. uma estratgia bottom up).

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    Estrutura do QFP 2014/2020

    O QFP tem as despesas agrupadas em seis rubricas que visam refletir as prioridades polticas da Unio:

    - Rubrica 1 - Crescimento inteligente e inclusivo

    - Sub-rubrica 1a: Competitividade para o crescimento e o emprego, que incluir o Mecanismo Interligar a Europa;

    - Sub-rubrica 1b: Coeso econmica, social e territorial;

    - Rubrica 2: Crescimento sustentvel: recursos naturais, que incluir um sublimite mximo para as despesas relacionadas com o mercado e os pagamentos diretos;

    - Rubrica 3: Segurana e cidadania;

    - Rubrica 4: Europa Global;

    - Rubrica 5: Administrao, que incluir um sublimite mximo para as despesas administrativas;

    - Rubrica 6: Compensaes.

    Nota: na prtica, a estrutura corresponde a 5 rubricas, j que a rubrica das compensaes corresponde s despesas resultante dos alargamentos.

    A deciso do Conselho Europeu de 7 e 8 de fevereiro de 2013

    O Conselho Europeu, na cimeira de 7 e 8 de fevereiro de 2013, chegou a acordo sobre o Quadro Financeiro Plurianual (QFP) 2014/2020. Acontece que o Parlamento Europeu (PE) no tinha dado parecer favorvel ao acordo unnime do Conselho, como impe o Art. 312 do TFUE.

    O PE afirmou que no daria parecer favorvel a este acordo do Conselho, afirmando que os montantes deveriam ser revistos em alta, ou no mnimo se estabelecesse um compro-misso relativamente flexibilidade30. Os montantes no foram alterados mas o PE chegou a acordo com o Conselho conseguindo uma flexibilidade limitada31.

    30 A flexibilidade para o Parlamento Europeu (PE) devia ser entendida num sentido lato. Defende-se a possi-bilidade de transferncias entre rubricas desde que tal no afete a Poltica de Coeso. Uma reviso intercalar obrigatria do QFP outra forma de se promover a flexibilidade. Na verdade, esta reviso permitiria efetuar uma anlise quantitativa e qualitativa das despesas, e fazer as alteraes necessrias que adequassem o QFP s prioridades e situao econmica da UE reforando, por exemplo, os programas que melhor resultados tivessem ou criando novos programas. Flexibilidade significaria tambm a possibilidade de antecipar ou diferir as despesas no quadro da dotao plurianual da rubrica, de modo a permitir uma interveno contracclica.Mas a flexibilidade mais significativa a que resulta das margens no utilizadas e das dotaes anuladas e no utilizadas num determinado exerccio. Na prtica, estas margens e dotaes no utilizadas fogem do oramento da UE e regressam em cada exerccio aos oramentos de cada Estado-Membro na proporo da sua contribuio. Assim, o PE defende que as margens e dotaes no utilizadas num exerccio transitem para o oramento do exerccio subsequente. Num quadro financeiro plurianual 2007/2013 esta flexibilidade representaria cerca de 60 mil milhes de euros! O PE e o Conselho chegaram a acordo relativamente fle-xibilidade a partir de 2015. Para os anos 2018, 2019 e 2020 os montantes que podem ser transferidos para o ano seguinte foram limitados e so respetivamente 7 mil milhes, 9 mil milhes e 10 mil milhes de euros.

    31 Ver flexibilidade em O Acordo entre o PE e a presidncia irlandesa na pgina 41.

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    FUNDOS EUROPEUS 2014/2020

    Montantes

    O Conselho Europeu chegou a um acordo que fixa o montante mximo total das despesas para a UE-28 no perodo de 2014 a 2020, a preos de 2011, em 959.988 milhes de euros em dotaes para autorizaes32, o que representa 1,00% do RNB da UE, e em 908.400 milhes de euros em dotaes para pagamentos, o que representa 0,95% do RNB da UE.

    Tabela 5 - Proposta do Conselho para o QFP - 2014-2020

    rubricas oramentais

    Rubrica 1 - Crescimento Inteligente e Inclusivo

    Sub-rubrica 1a Competitividade para o Crescimento e o EmpregoO crescimento inteligente e inclusivo um domnio em que a ao da UE traz significativo valor acrescentado33.

    Os programas no mbito desta rubrica tm grandes potencialidades para contribuir para o cumprimento da Estratgia Europa 2020, em particular no que respeita promoo da investigao, inovao e desenvolvimento tecnolgico, ao especfica em prol da competitividade das empresas e das PME, ao investimento em competncias humanas atravs do programa ERASMUS +, e ao desenvolvimento da agenda social.

    32 Ver nota de rodap n.22, pg.29.33 Ver nota de rodap n5, pg. 14.

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    Tendo em conta o seu contributo especial para os objetivos da Estratgia Europa 2020, o financiamento dos programas Horizonte 202034 e ERASMUS+35 representar um aumento real em comparao com o nvel de 2013.

    A existncia de redes interligadas de transportes, de energia e comunicaes digitais importante para a realizao do mercado nico europeu. Alm disso, os investimentos da UE em infraestruturas essenciais com valor acrescentado podem promover a compe-titividade da Europa a mdio e longo prazo, num contexto econmico difcil, marcado por um crescimento lento e oramentos pblicos apertados.

    O envelope financeiro para a implementao do Mecanismo Interligar a Europa no perodo de 2014 a 2020 ser de 29.299 milhes de euros, incluindo 10.000 milhes de euros que sero transferidos do Fundo de Coeso.

    Os trs grandes projetos de infraestruturas, Galileo, ITER e GMES, sero financiados ao abrigo da sub-rubrica 1a, num montante de 12.793 milhes de euros.

    Sub-rubrica 1b - Coeso econmica, Social e TerritorialPoltica de Coeso

    A Poltica de Coeso o principal instrumento para reduzir as disparidades entre as regies da Europa e deve, portanto, concentrar-se nas regies e nos Estados-Membros menos desenvolvidos. constituda pelos dois fundos estruturais Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e Fundo Social Europeu (FSE) e pelo Fundo de Coeso.

    Traduz-se num considervel investimento pblico na UE, contribui para o aprofundamento do mercado interno e desempenha, por conseguinte, um importante papel na dinamizao do crescimento econmico, do emprego e da competitividade. Para Portugal, a Poltica de Coeso continuar a representar o volume mais significativo dos fundos que temos nossa disposio.

    A Poltica de Coeso ter de contribuir para a Estratgia Europa 2020 e visar os se-guintes objetivos:

    - Investimento no Crescimento e no Emprego nos Estados-Membros e regies, a apoiar atravs de todos os Fundos;

    - Cooperao Territorial Europeia, a apoiar atravs do FEDER. O Fundo de Coeso apoiar projetos no domnio do ambiente e das redes transeuropeias de transportes. O necessrio apoio ao desenvolvimento do capital humano ser assegurado atravs do FSE, no mbito da Poltica de Coeso.

    34 O Programa-Quadro Horizonte 2020 rene, pela primeira vez, todo o financiamento no domnio da investi-gao e da inovao da UE num nico programa. Incide mais do que nunca na transposio das descobertas cientficas para produtos e servios inovadores que proporcionem oportunidades empresariais e melhorem a vida quotidiana das pessoas. Ao mesmo tempo, reduz significativamente a burocracia, com a simplificao das regras e procedimentos a fim de atrair mais investigadores de alto nvel e uma gama mais vasta de empresas inovadoras.

    35 Erasmus +: De acordo com a proposta da Comisso, est previsto para o perodo 2014-2020 um novo programa na rea da educao, da formao, da juventude e do desporto. Este novo programa tinha como proposta de nome: Erasmus para Todos. Posteriormente o Parlamento Europeu e o Conselho concordaram chamar a este programa ERASMUS +. Est previsto que o programa de Aprendizagem ao Longo da Vida (Erasmus, Leonardo da Vinci, Comenius, Grundtvig), Juventude em Ao e Erasmus Mundus, Tempus, Alfa, Edulink e o programa de cooperao bilateral com os pases industrializados, sejam todos englobados no novo programa Erasmus +.

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    FUNDOS EUROPEUS 2014/2020

    Nvel global das dotaes

    O nvel de autorizaes na sub-rubrica 1b Coeso econmica, social e territorial no exceder 325.149 milhes de euros:

    Aes inovadoras para o desenvolvimento urbano sustentvel

    Sero destinados 330 milhes de euros para aes inovadoras no domnio do desenvol-vimento urbano sustentvel.

    Ajuda s pessoas mais carenciadas

    O apoio ajuda s pessoas mais carenciadas foi definido em 2.500 milhes de euros para o perodo 2014-2020, sendo retirado da dotao do FSE. Posteriormente, no dia 27 de ju-nho de 2013, a equipa de negociadores do Parlamento Europeu e a presidncia Irlandesa chegaram a acordo para o montante de 3.500 milhes de euros.

    Iniciativa para o emprego dos jovens

    A Iniciativa para o Emprego dos Jovens visa reforar o apoio pr