GABRIELA WÜRZIUS ZAMBENEDETTI - UniRitter€¦ · DIRETRIZES PARA ANÁLISE DE PROJETOS...
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DESIGN, EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO
GABRIELA WÜRZIUS ZAMBENEDETTI
O DESIGN E A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: PROPOSTA DE
DIRETRIZES PARA ANÁLISE DE PROJETOS EXTENSIONISTAS EM
COMUNIDADES DE BAIXA RENDA
Porto Alegre
2016
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GABRIELA WÜRZIUS ZAMBENEDETTI
O DESIGN E A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA
ANÁLISE DE PROJETOS EXTENSIONISTAS EM COMUNIDADES DE BAIXA
RENDA
Dissertação submetida ao Programa de Mestrado do Centro Universitário Ritter dos Reis como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Design. Orientador: Prof. Dr. André Luis Marques da Silveira
Porto Alegre
2016
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FOLHA DE APROVAÇÃO – LEMBRAR DE SUBSTITUIR APÓS A IMPRESSÃO
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AGRADECIMENTOS
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por apoiar
a realização do Mestrado em Design no Centro Universitário Ritter dos Reis.
Ao meu orientador Dr. André Luis Marques da Silveira pelas trocas e insights, pela
dedicação, confiança e paciência. E por me apresentar a extensão universitária.
Aos professores da banca de qualificação e defesa, Dr. Vinicius Gadis Ribeiro e Dra
Karine de Mello Freire, pelas contribuições e pela disponibilidade.
Aos estudantes, participantes e principalmente aos professores protagonistas dos
projetos Design Social Aplicado (Uniritter) e Design no Bairro (UFRGS) pela
contribuição para a realização desta pesquisa.
Aos professores e colegas de mestrado, pelos ensinamentos e inspiração,
especialmente à amiga para a vida Tâmisa Trommer.
As minhas amigas e brisas Ana Berger e Carol Eichenberg pelo apoio incessante e
por momentos incríveis de inspiração diária.
A minha família, pelo amor incondicional e pelo apreço ao conhecimento.
Ao Joel Silbermann, por inspirar-me a ser minha melhor versão.
Ao conhecimento e ao mistério da existência.
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“Water is fluid, soft, and yielding. But water will
wear away rock, which is rigid and cannot
yield. As a rule, what is fluid, soft, and yielding
will overcome what is rigid and hard. This is
another paradox: what is soft is strong.”
(Lao Tzu, Tao Te Ching)
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RESUMO
A extensão universitária é parte indissociável do ensino e da pesquisa, formando uma
tríade que sustenta a atuação da universidade. A extensão deve ser um processo
interdisciplinar e dialógico feito de trocas entre saberes acadêmicos e populares e
também espaço para que as instituições de Ensino Superior desempenhem sua
função social. Este trabalho propõe um quadro de diretrizes baseado no referencial
teórico para análise de projetos extensionistas, contemplando: princípios da extensão,
dimensões de ensino-aprendizagem na extensão e abordagens de design com
valores extensionistas. Em um segundo momento, com o intuito de confrontar a
prática com as diretrizes propostas pelo quadro de análise, investigou-se um projeto
extensionista de design em comunidade de baixa renda protagonizado por
professores e estudantes de graduação de uma instituição de Ensino Superior do Rio
Grande do Sul. A metodologia teve enfoque qualitativo e a coleta de dados se deu
sobretudo através de entrevistas semiestruturadas com docentes, discentes e
pessoas de uma instituição envolvidas nas ações. Nota-se que, em projetos
extensionistas realizados em comunidades carentes, estudantes e professores
conhecem dificuldades vividas por boa parte da população. Há um ganho pessoal que
ultrapassa as situações de aprendizagem na sala de aula e toca questões existenciais
importantes para formação profissional, convivência coletiva e exercício da cidadania.
Quanto às práticas participativas no design, percebe-se que o seu emprego enfrenta
certa falta de atenção, assim como limitações por vezes complexas devido aos
cenários problemáticos em que acontecem os projetos. Concluiu-se que as diretrizes
propostas se concentram mais fortemente nas trocas de conhecimento, nas questões
de participação e no impacto dos projetos extensionistas na vida dos estudantes, dos
professores e, em menor medida, dos participantes nas ações. Finalmente, ressalta-
se na extensão a oportunidade de professores e estudantes realizarem projetos na
área do design social, aumentando a potência para transformações sociais positivas
no mundo.
Palavras-chave: Educação para o Design. Design Social. Extensão Universitária.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Fontes para coleta de dados ................................................................... 22
Figura 2 – Desenho da pesquisa .............................................................................. 23
Figura 3 – Articulações para fortalecer ações de extensão universitária .................. 33
Figura 4 – Dimensões da aprendizagem discente na extensão universitária ........... 38
Figura 5 – Interdependência entre arte, produção e sociedade. .............................. 47
Figura 6 – Modelo de matriz de organização............................................................ 63
Figura 7 – Mapa de atores do DSA .......................................................................... 66
Figura 8 – Fluxo do projeto ....................................................................................... 67
Figura 9 – Registros de projetos do DSA ................................................................. 68
Figura 10 – Comunicação do DSA em rede social ................................................... 69
Figura 11 – Inputs de participação no processo do DSA .......................................... 99
Figura 12 – Palavras para a experiência extensionista no DSA ............................. 101
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Diretrizes orientadoras das ações na extensão universitária ................. 31
Quadro 2 – Tendências Pedagógicas ...................................................................... 34
Quadro 3 – Diretrizes gerais para ação de extensão para quadro de análise .......... 43
Quadro 4 – Diretrizes para o ensino-aprendizagem para quadro de análise ........... 44
Quadro 5 – Diretrizes para o design na extensão .................................................... 58
Quadro 6 – Especificação das entrevistas ............................................................... 61
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LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
ESPM Escola Superior de Propaganda e Marketing
FAE Faculdade Anglicana de Erechim
FAI Faculdade dos Imigrantes
FAL Faculdade América Latina
FEEVALE Federação de Estabelecimentos de Ensino Superior em Novo
Hamburgo/Centro Universitário Feevale
FSG Faculdade da Serra Gaúcha
IES Instituição de Ensino Superior
IFSUL Instituto Federal Sul-Rio-grandense
IPA Instituto Metodista de Porto Alegre/Rede Metodista de Educação do Sul
MEC Ministério da Educação
PPC Projeto Pedagógico de Curso
SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
UCPEL Universidade Católica de Pelotas
UCS Universidade de Caxias do Sul
UFPEL Universidade Federal de Pelotas
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
UNIJUÍ Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
ULBRA Universidade Luterana do Brasil
UNIFRA Centro Universitário Franciscano
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UNIRITTER Centro Universitário Ritter dos Reis
UNISINOS Universidade do Vale do Rio dos Sinos
UNIVATES Centro Universitário Univates
UPF Universidade de Passo Fundo
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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13
1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 14
1.2 QUESTÃO DE PESQUISA .............................................................................. 16
1.3 OBJETIVOS ..................................................................................................... 16
1.3.1 Objetivo Geral .......................................................................................... 16
1.3.2 Objetivos específicos ............................................................................. 17
1.4 PRESSUPOSTOS DA PESQUISA .................................................................. 17
2 METODOLOGIA .................................................................................................... 18
2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................ 18
2.1.1 Referencial teórico .................................................................................. 18
2.1.2 Estudo qualitativo ................................................................................... 19
2.2 COLETA DE DADOS ....................................................................................... 21
2.3 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................... 22
2.4 DESENHO DA PESQUISA .............................................................................. 23
2.5 ASPECTOS ÉTICOS ....................................................................................... 23
3 A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NO BRASIL ....................................................... 24
3.1 CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NO BRASIL 26
3.2 AS POLÍTICAS NACIONAIS DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA ..................... 30
3.3 PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA EXTENSÃO ........................ 34
3.3.1 Aprendizagem, trabalho comunitário e participação na extensão ..... 37
3.4 CATEGORIAS DA REVISÃO TEÓRICA .......................................................... 42
4 VALORES EXTENSIONISTAS NO DESIGN ......................................................... 46
4.1 DESIGN SOCIAL ............................................................................................. 47
4.2 DESIGN CENTRADO NO HUMANO E PRÁTICAS PARTICIPATIVAS DE
PROJETO .............................................................................................................. 51
4.2.1 Os papeis do designer em práticas participativas ............................... 56
4.3 DIRETRIZES DA REVISÃO TEÓRICA ............................................................ 58
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5 O ESTUDO QUALITATIVO ................................................................................... 60
5.1 DELIMITAÇÃO DA UNIDADE DE ANÁLISE ................................................... 60
5.2 COLETA, ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .................................... 60
5.3 RELATO DO ESTUDO QUALITATIVO ............................................................ 63
5.3.1 O Projeto Design Social Aplicado .......................................................... 63
5.3.2 Quanto às diretrizes gerais para ação na extensão universitária ....... 69
5.3.3 Quanto ao processo de ensino-aprendizagem na extensão ............... 79
5.3.4 Quanto às diretrizes para a prática extensionistas de design ............ 92
5.3.5 Palavras representativas da experiência extensionista .................... 101
5.4 OBSERVAÇÕES SOBRE O EMPREGO DO QUADRO DE DIRETRIZES .... 102
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 104
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 110
APÊNDICE A — Instrumento de coleta de dados para entrevista — Professores
................................................................................................................................ 115
APÊNDICE B — Instrumento de coleta de dados para entrevista — Estudantes
................................................................................................................................ 117
APÊNDICE C — Instrumento de coleta de dados para entrevista — Comunidade
................................................................................................................................ 118
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1 INTRODUÇÃO
O entendimento histórico da extensão universitária está ligado a sua função
social. Essa função se modificou ao longo das décadas, iniciando como transferência
de conhecimento e evoluindo para troca de saberes baseada em metodologias
participativas. No Brasil, um país marcado por desigualdades sociais, as atividades
extensionistas têm um papel fundamental ao buscarem estabelecer um diálogo e um
fazer relevante entre academia e comunidade.
Segundo Nogueira (2005), a extensão é uma prática que interliga ensino e
pesquisa com as demandas sociais, possibilita a formação de profissionais cidadãos
e facilita a produção de conhecimentos para a superação de desigualdades sociais.
Nesses termos, a atividade de extensão é considerada, em suas palavras, "um
instrumento incomparável de mudança" para a universidade e para a sociedade.
Este trabalho propõe a criação de um quadro de diretrizes de extensão
universitária para avaliar a atuação extensionista de graduações em design. Para
tanto, reflete sobre os princípios da extensão, as dimensões de ensino-aprendizagem
na extensão e o valor da ação extensionista no âmbito do design, a partir de uma
perspectiva dialógica para o desenvolvimento social e econômico de comunidades de
baixa renda.
O quadro de diretrizes para análise de projetos de extensão no design foi
proposto a partir de uma revisão teórica de literatura. Na sequência, procedeu-se com
o estudo de um projeto extensionista de design desenvolvido por uma instituição de
Ensino Superior do Rio Grande do Sul com o intuito de confrontar a prática
extensionista observada com as diretrizes identificadas.
A metodologia desta pesquisa é de natureza qualitativa e divide-se em duas
etapas: uma de construção do referencial teórico e do quadro de análise e outra de
estudo qualitativo. Apresenta-se a revisão teórica em duas grandes seções: na
primeira (capítulo 3), denominada Extensão Universitária no Brasil, abordam-se os
principais momentos da extensão no Brasil e discutem-se políticas extensionistas e
processos de ensino-aprendizagem de maior destaque nesse cenário. A segunda
seção da parte teórica (capítulo 4) busca Valores Extensionistas no Design,
apresentando abordagens de design que se aproximam dos valores da prática
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extensionista. No término de cada seção da revisão teórica apresentam-se categorias,
designadas como diretrizes no corpo do trabalho e respectivas subcategorias
adaptadas da teoria para a composição do quadro de análise.
A segunda parte da pesquisa (capítulo 5) trata do relato do estudo qualitativo,
estruturado conforme as diretrizes propostas no quadro de análise. Finaliza-se com
observações sobre o emprego do quadro de diretrizes. Como encerramento, o
capítulo 6 apresenta as considerações finais.
Esta dissertação vincula-se à linha de pesquisa Design, Tecnologia e Educação
do Programa de Pós-Graduação em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis –
rede Laureate International Universities. A linha investiga os processos cognitivos
empregados na geração de ideias em projetos, pesquisa possibilidades de articulação
entre as várias disciplinas que compõem a formação do designer e desenvolve novos
métodos e técnicas para o ensino de Design na modalidade presencial e à distância.
1.1 JUSTIFICATIVA
O modo sistêmico de perceber a realidade revelou uma conexão entre
diferentes campos do saber e entre os problemas que enfrentam. Os problemas de
design, em particular, foram reconhecidos como um modelo diverso e mais amplo do
que o de problemas técnicos, caracterizados por aceitar um processo linear de
definição e solução. Isso porque um problema de design é naturalmente
interdisciplinar e potencialmente universal em seu escopo: qualquer área da
experiência humana pode ser matéria para um projeto de design (BUCHANAN, 1992).
O design é uma atividade propositiva que atua por meio de projetos, sendo
consequentemente pragmático. Não se vincula só e necessariamente a objetivos
econômicos e empresariais, mas também apresenta habilidades úteis para projetos
de natureza social. Como afirma Bonsiepe (2012, p. 36), o designer não deve se
contentar apenas com uma postura crítica, mas deve ser capaz de "[...] traduzir sua
postura contra o status quo em uma proposta projetual viável", intervindo na realidade
com o propósito de mudá-la.
Ao considerar o design uma atividade projetual, capaz de contemplar práticas
participativas através das quais o designer socializa suas ferramentas, bem como um
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campo com atuações especialmente voltadas às questões sociais, revelam-se
cruzamentos interessantes entre o design e a extensão. Ressalta-se, pois, a
oportunidade de investigar a atuação do design em projetos extensionistas, sobretudo
com comunidades de baixa renda.
A extensão, destinada a socializar e construir conhecimento com a
comunidade, já está consagrada legalmente como uma das finalidades da
Universidade. No entanto, há um esforço a ser feito para tornar as práticas de
extensão cada vez mais coerentes com seus valores.
É apontado que a prática extensionista deva buscar o desenvolvimento da
autonomia ao invés do assistencialismo ou da prestação de serviços pontuais.
Posturas remediadoras geralmente não contemplam o desenvolvimento da autonomia
das populações menos favorecidas e suas ações não se estendem sobre a causa dos
problemas, trazendo apenas soluções paliativas. A esse respeito, Thiollent (2003, p.
62) afirma:
Hoje, estudantes e professores têm uma informação muito superficial sobre o que já representou, em décadas passadas, a extensão e o trabalho universitário extra muros em geral. A extensão é frequentemente vista como uma atividade simples e limitada — como, por exemplo, um cursinho avulso, uma consultoria em empresa privada, um atendimento comunitário imediato — para a qual não é preciso problematizar ou construir significados, discutir tendências ideológicas, nem conhecer metodologias específicas.
Destaca-se que a afirmação acima foi feita há mais de uma década; portanto,
seria adequado investigar se esse quadro de desconhecimento ainda persiste.
Acredita-se ser interessante para o desenvolvimento do eixo da extensão que
professores e estudantes conheçam seu significado histórico, conquista de um
processo de reflexão e esforços por parte de docentes, discentes e representantes do
poder público em favor da sua valorização.
Uma busca inicial no banco de periódicos da Capes revela uma escassez de
publicações sobre a temática na área do design. Nenhum resultado de publicação foi
obtido ao se utilizar a opção de busca avançada para título e as palavras-chave design
e extensão e então design e extensionista. Buscando-se em periódicos exclusivos da
temática extensão, identificaram-se alguns artigos que relatam experiências de
projetos extensionistas realizados por professores e estudantes de design.
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Considerando o cenário descrito, deseja-se contribuir para essa temática de
investigação através da proposta de um quadro de diretrizes para análise e reflexão
quanto à prática extensionista no Design.
1.2 QUESTÃO DE PESQUISA
Em uma perspectiva ampliada, questiona-se sobre como os cursos de Design
atuam em relação ao objetivo da prática extensionista (a troca entre os saberes
acadêmico e popular) bem como diante dos atuais desafios da extensão universitária.
Deseja-se investigar como tópicos importantes da extensão são considerados em
projetos extensionistas com a atuação do design.
Sendo assim, o presente trabalho busca subsídios para avaliar a atuação do
design na extensão universitária, mais especificamente nos projetos com
comunidades de baixa renda, delineando a questão de pesquisa:
Quais diretrizes para a atuação do design na extensão universitária devem ser
observadas?
1.3 OBJETIVOS
Nas subseções a seguir, o objetivo geral e os objetivos específicos da pesquisa
são apresentados.
1.3.1 Objetivo Geral
Conceber um quadro de diretrizes de extensão universitária referente aos
princípios da extensão, às dimensões de ensino-aprendizagem na extensão e, por
fim, às abordagens do design mais alinhadas à extensão. Refletir sobre a escolha das
diretrizes ao utilizar esse quadro para avaliar um projeto representativo da atuação de
professores e estudantes dos cursos de graduação em Design na extensão
universitária em comunidades de baixa renda na cidade de Porto Alegre, Rio Grande
do Sul.
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1.3.2 Objetivos específicos
1) Investigar a história e o papel da extensão universitária no Brasil com o intuito
de identificar seus princípios e orientações atuais;
2) refletir sobre o processo de ensino-aprendizagem, com o intuito de identificar
teorias alinhadas à extensão universitária;
3) identificar valores extensionistas presentes em abordagens teóricas de design;
4) descrever as diretrizes propostas para a pesquisa apresentando um quadro ao
término de cada capítulo da revisão teórica;
5) efetuar estudo qualitativo de um projeto extensionista, considerando o quadro
de diretrizes desenvolvido.
1.4 PRESSUPOSTOS DA PESQUISA
Pressupõe-se que o processo extensionista é dialógico, interdisciplinar e
pautado por metodologias participativas. A extensão se apresenta como um processo
diferenciado que amplia as possibilidades de ensino-aprendizagem da sala de aula
para um contexto que proporciona mais autonomia aos estudantes, priorizando a
construção de competências através de ações para resolução de problemas do
mundo real. Em especial quando trabalha com comunidades de baixa renda, a
extensão universitária torna-se um espaço para a construção da cidadania por meio
do contato com questões sociais relevantes.
Portanto, nos projetos extensionistas protagonizados por professores e alunos
das graduações em design, esses pressupostos devem estar presentes e refletidos
na escolha das abordagens projetuais e das estratégias de ensino.
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2 METODOLOGIA
A presente pesquisa visa investigar, a partir de um enfoque qualitativo, de
caráter descritivo, a atuação dos cursos de graduação em Design na extensão
universitária, particularmente em trabalhos com comunidades de baixa renda, com o
intuito de confrontar a prática com achados teóricos reelaborados em um quadro de
diretrizes de análise a ser validado.
A abordagem qualitativa é empregada quando não há controle das variáveis,
sendo que o fenômeno é complexo e acontece em um contexto real (FLICK, 2009). A
pesquisa qualitativa é apoiada por uma série de técnicas interpretativas e reflexivas e
seu resultado tende a variar de acordo com a lente e sensibilidade do pesquisador,
que busca compreender a dinâmica das relações sociais. Baseia-se em poucas, mas
significativas, amostras para aprofundar a compreensão do problema, e a coleta de
dados geralmente acontece por meio de observações, entrevistas e relações com o
campo (FLICK, 2009).
2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estudo é dividido em duas etapas principais: construção do referencial teórico
e estudo qualitativo. A seguir, descreve-se cada uma das etapas.
2.1.1 Referencial teórico
No primeiro momento do estudo foi construído o referencial teórico para a
elaboração de um quadro de diretrizes através da identificação de temáticas
importantes na extensão universitária e sua relação com a prática do design. Flick
(2009) considera a revisão de literatura uma oportunidade para obter inspiração e
utilizar o conhecimento fornecido para verificar afirmações, questões emergentes e
discussões atuais sobre o tema estudado.
Trata-se de uma pesquisa predominantemente bibliográfica de dados
secundários em que foram consultados livros, artigos, dissertações e teses. A principal
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fonte para a obtenção de artigos, dissertações e teses foi o portal de periódicos da
Capes, uma biblioteca virtual que reúne produções nacionais e internacionais.
Inicialmente, buscou-se um entendimento amplo sobre a Extensão
Universitária: histórico, legislação e seus principais fundamentos. Além das fontes do
portal de periódicos, foram consultados o documento da Política Nacional de Extensão
Universitária, desenvolvido pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições
de Educação Superior Públicas Brasileiras (FÓRUM..., 2012), bem como outras fontes
que abordam a temática (SILVA; CÂNDIDO, 2014; SÍVERES, 2013; NOGUEIRA,
2005; THIOLLENT et al., 2003; FARIA, 2001; FREIRE, 1977).
Logo após esse entendimento inicial, discorre-se sobre abordagens de design
cujas posturas de projeto, de acordo com o entendimento particular da temática, mais
se aproximam de valores extensionistas, tais como como a interação dialógica e a
interdisciplinaridade. O principal objetivo é identificar abordagens coerentes com o
fazer extensionista e, posteriormente, valer-se de tais dados para refletir sobre as
escolhas projetuais dos casos estudados.
Para tanto, são estudados conceitos de Design Centrado nas Pessoas
(KRIPPENDORFF, 2000), Design Social (MARGOLIN; MARGOLIN, 2004;
BONSIEPE, 2011; BRAGA, 2011), e Design Participativo (SANDERS; STAPPERS,
2008; SANDERS, 2008;). Por fim, discute-se os papeis do designer nesses contextos
diferenciados de projeto.
Ao término de cada capítulo da revisão teórica são apresentadas as diretrizes
encontradas na teoria, que compõem o quadro de análise proposto no trabalho. Os
tópicos explorados no referencial teórico que vieram a compor o quadro na forma de
diretrizes referem-se às principais dimensões destacadas na questão de pesquisa:
extensão, ensino-aprendizagem e design.
2.1.2 Estudo qualitativo
Maxwell (2005) observa que o estudo qualitativo é interativo e influenciado pelo
contexto de pesquisa. O seu planejamento, portanto, deve considerar a interação
constante entre diferentes componentes (teorias, questões de pesquisa, objetivos,
métodos).
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Um levantamento documental prévio foi realizado a fim de definir a instituição
para o estudo qualitativo. Conforme Sampieri et al. (2013), a análise documental serve
para que o pesquisador obtenha informações preliminares sobre um contexto de
estudo. A pesquisa bibliográfica e a documental fornecem instrumentos para
aprofundar a investigação.
Esse procedimento deu-se através de um mapeamento de dados sobre
projetos de design disponíveis para acesso público em sites de IES e pelo contato por
e-mail com as pró-reitorias dessas instituições. Foi feita uma busca no portal online
das instituições e em anais de eventos de Extensão promovidos por essas
universidades no ano de 2014. Também se acessou, na Plataforma Lattes, o currículo
dos professores responsáveis pelos projetos para cruzamento das informações. Os
dados foram organizados em uma planilha com as informações contendo título,
instituição, participantes, temática e descritivo.
A pesquisa incluiu as instituições de ensino superior situadas no Rio Grande
do Sul que ofereceram curso de design no ano de 2015, totalizando 21 instituições
identificadas como universo da amostra. São elas: UFRGS, UNISINOS, UNIRITTER,
ESPM, FEEVALE, UNIVATES, UNIJUÍ, UFPEL, UNIFRA, FSG, UCS, UFSM,
ULBRA, FACULDADE AMÉRICA LATINA, IFSUL, FAE, FAI, SENAC, IPA, UPF e
UCPEL. Destas, 17 instituições foram identificadas através do Ranking Universitário
Folha 2014 (FOLHA, 2014), uma avaliação anual do ensino superior do Brasil feita
pela Folha de S. Paulo. As demais (UCPEL, IPA, UPF e SENAC) foram adicionadas
por conhecimento da pesquisadora.
Dentre os projetos levantados através do mapeamento preliminar, escolheu-
se o projeto Design Social Aplicado: UniRitter & FGBS, do Centro Universitário Ritter
dos Reis (Uniritter) para o estudo qualitativo.
O critério de seleção da amostra é justificado principalmente pela conveniência
(FLICK, 2009), que prioriza a facilidade de acesso e a estratégia de menor esforço,
em caso de limite de tempo e de recursos. No entanto, cabe observar que esse projeto
também se mostrou representativo da atuação do design na extensão, pois teve o
maior número de relatos e publicações em eventos de Extensão Universitária no ano
de 2014, quando comparado aos demais.
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2.2 COLETA DE DADOS
A coleta de dados aconteceu a partir da pesquisa documental e de entrevistas
semiestruturadas com representantes de três grupos que atuam nos projetos:
professores, estudantes e integrantes da comunidade. Segundo Sampieri et al.
(2013), as entrevistas semiestruturadas seguem um roteiro de perguntas, mas
também permitem que o entrevistador proponha outras questões para obter maiores
informações sobre determinados conceitos.
O levantamento documental preliminar forneceu uma visão geral, bem como
serviu para identificar os casos a serem estudados. Foram fontes de dados: anais de
eventos de extensão disponíveis na Internet através das páginas das instituições
amostra; o currículo Lattes dos professores envolvidos; o e-mail respondido pelas pró-
reitorias. Além disso, foi feita uma análise dos documentos do projeto entregues à
Propex para endossar as informações obtidas nas entrevistas.
As entrevistas semiestruturadas aconteceram com participantes de três grupos
diferentes: professores, estudantes e comunidade. O objetivo foi coletar três pontos
de vista sobre a mesma vivência.
O principal objetivo desse procedimento é identificar sinais de como o design
atua em relação às diretrizes propostas pelo quadro de análise criado. No conteúdo
das entrevistas, buscam-se recursos para testar o quadro proposto com o conteúdo
estudado na revisão teórica.
Na figura 1 observam-se as fontes de evidência da coleta de dados.
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Figura 1 – Fontes para coleta de dados
Fonte: elaborada pela autora.
Os instrumentos para coleta de dados das entrevistas podem ser visualizados
nos apêndices A, B e C.
2.3 ANÁLISE DOS DADOS
Segundo Maxwell (2005), uma das opções para a análise de dados na pesquisa
qualitativa são as estratégias de categorização, ou criação de códigos. Através dessa
estratégia, os dados coletados podem ser “rearranjados” em categorias para facilitar
comparações e desenvolver conceitos teóricos.
Gibbs (2009) aponta que os códigos ajudam a pensar sobre o texto e interpretá-
lo. Por meio da codificação, é estabelecida “uma estrutura de ideias temáticas” em
relação ao texto que está sendo analisado. As categorias representadas pelos códigos
podem tanto estar baseadas em dados da investigação como também podem ser
construídas antes da coleta de dados através de estudos de conceitos teóricos.
No caso desta pesquisa, a codificação é baseada em conceitos que,
selecionados do referencial teórico, resultaram na proposta de um quadro de diretrizes
para análise. Dessa forma, os dados do projeto DSA são analisados sobretudo pelo
uso desse quadro.
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2.4 DESENHO DA PESQUISA
Apresenta-se, a partir das informações anteriores, um esquema que permite
visualizar um desenho da pesquisa (Figura 2):
Figura 2 – Desenho da pesquisa
Fonte: elaborada pela autora.
2.5 ASPECTOS ÉTICOS
A coleta de dados do presente trabalho apenas teve início após avaliação e
aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Ritter dos Reis1,
por envolver pessoas na investigação. Sendo assim, afirma-se com segurança a
privacidade dos sujeitos envolvidos e procede-se o estudo de maneira ética.
1 CAAE 48957215.0.0000.5309
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3 A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NO BRASIL
Esta seção aborda a extensão universitária no Brasil. Entenda-se, neste
estudo, o uso da palavra universidade, por vezes, como sinônimo de instituições de
ensino superior (IES).
Após uma breve introdução à tríade ensino, pesquisa e extensão, que
conceitualmente formam as bases da universidade brasileira, e às primeiras
manifestações da extensão universitária propriamente dita, é apresentado um
histórico dos momentos mais decisivos para a evolução do conceito, da legislação e
da prática de extensão no Brasil. Em seguida, destacam-se direcionamentos da
Política Nacional de Extensão Universitária (FÓRUM…, 2012) considerados subsídios
para o estudo qualitativo. Por fim, como tópicos considerados importantes e
observados como recorrentes na teoria a respeito da prática extensionista, discutem-
se a aprendizagem, o trabalho comunitário e a metodologia participativa na extensão.
As primeiras ideias de universidade como espaço de preservação e,
principalmente, de criação de conhecimento datam do século XIII. Nessa época,
reivindicava-se o direito do livre pensar, que se somou à ideia de universidade como
um bem público e democrático na época da Revolução Francesa, no século XVIII.
Atualmente, a universidade passa por um momento de transformação e de
necessidade de participar no desenvolvimento social através da abertura para os
fluxos crescentes de conhecimento que acontecem fora dos seus limites institucionais.
Panizzi (2006) aponta que "[...] a universidade não é somente uma instituição
social, mas também um bem público a serviço da sociedade (e que se afirma por sua
capacidade de representação cultural, intelectual e científica)". De fato, uma formação
que se pretende completa não pode estar isolada do social, pois o sujeito não se
constrói sozinho: vive em um conjunto de inter-relações e interações coletivas. Ao par
disso, Silva (2013, p.111) complementa que, embora a universidade faça parte da
realidade social, "[...] sua existência diz respeito muito mais ao futuro do que ao
presente", pois através de novos conhecimentos é capaz de criar outras realidades.
Em razão de constantes mudanças sociais, a universidade passou por algumas
adaptações, embora ainda hoje predomine um modelo pedagógico semelhante ao que
servia às necessidades do trabalho na época da Revolução Industrial. Mudanças
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aceleradas pelo aumento da complexidade e novos modos de trabalho, somadas a
um padrão demográfico de envelhecimento populacional e baixas taxas de
mortalidade e fecundidade desafiam a estabilidade da universidade como único local
de formação e acesso ao conhecimento (PANIZZI, 2006).
Frente a isso, propostas como a educação continuada, que oferece formações
aos indivíduos já no mercado de trabalho, e a extensão universitária ganham
relevância porque pressupõem um envolvimento maior da universidade com a
sociedade e oxigenam as práticas acadêmicas. A noção de universidade como um
bem público a serviço da sociedade, exposta por Panizzi (2006), conflui com o
propósito da atividade extensionista, a saber, a troca entre os saberes acadêmico e
popular quando a universidade atua fora de seus próprios muros.
A extensão universitária é parte de uma tríade que sustenta as atividades das
instituições de ensino superior, a chamada tríade ensino-pesquisa-extensão. Esses
três domínios, por sua vez, são marcados pelo princípio da indissociabilidade que tem
como papel mantê-los interligados buscando unidade entre teoria e prática.
Segundo Rays (2003), a indissociabilidade é um processo de relações múltiplas
que busca unir teoria e prática. Portanto, a extensão, "processo educativo interativo"
que faz uso da ação comunicativa, necessita interagir criticamente através do ensino
e da pesquisa; esses três elementos, por conseguinte, devem operar de forma
complementar.
A extensão universitária surgiu na Inglaterra, durante a segunda metade do
século XIX, como atividade ligada à educação continuada no formato de cursos
destinados à população que não frequentava a universidade. Logo foi adotada
também em instituições americanas, no formato de prestação de serviços para as
áreas rural e urbana. A exemplo desses dois modelos surge a extensão no Brasil entre
as décadas de 1910 e 1920 (NOGUEIRA, 2005).
No contexto da América Latina, a extensão universitária teve participação
marcante no Movimento Estudantil que ocorreu em Córdoba, na Argentina, a partir de
1918. Esse movimento, liderado pelos estudantes, foi responsável por difundir as
Universidades Populares, nas quais os jovens atuavam em atividades extensionistas
colocando em prática conhecimentos em prol da justiça social. Os estudantes
passaram a considerar as ações extensionistas como obrigações da universidade, de
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modo que esta deveria trabalhar para transformar a sociedade e para melhorar a vida
da população. No Brasil, as Universidades Populares foram vivenciadas a partir dos
anos 30, com a criação de salas de leitura em bairros populares e outras ações
culturais, atingindo seu auge com os movimentos estudantis dos anos 60 (ROCHA,
2001).
Em um país como o Brasil, marcado por desigualdades sociais, as atividades
extensionistas têm um papel fundamental ao buscarem dialogar e criar um fazer
relevante entre academia e comunidade, impulsionando melhorias sociais. O conceito
de extensão no contexto brasileiro foi construído a partir de uma série de eventos
históricos que culminaram em uma legislação própria e em políticas de apoio a essa
atividade.
3.1 CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NO BRASIL
O entendimento histórico da extensão universitária está ligado a sua função
social. Essa prática nasceu da necessidade de uma relação de reciprocidade entre a
universidade e a sociedade, levando o ensino e a pesquisa acadêmica aos interesses
da comunidade, inicialmente em formato de cursos e aulas oferecidos ao púbico
externo.
O surgimento de práticas de extensão no Brasil coincide com a criação do
ensino superior, no início do século XX. As primeiras atividades de natureza
extensionista aconteceram através de cursos e conferências na antiga Universidade
de São Paulo, em 1911, e de prestações de serviços da Escola Superior de Agricultura
e Veterinária de Viçosa na década de 1920. Essas atividades demonstram uma
preocupação, por parte da universidade, em difundir o conhecimento ali criado,
estendendo-o, dessa forma, para a comunidade (FÓRUM..., 2012).
A extensão é normatizada pela primeira vez pelo decreto 19.851 de 11 de abril
de 1931, no Estatuto da Universidade Brasileira e, em 1961, foi incorporada à primeira
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que regularizava o sistema de
educação brasileiro. Nesse período, a extensão era vista como difusão de
conhecimento a partir de cursos e palestras com o objetivo de aumentar o nível cultural
da população.
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O conceito de extensão universitária vem se modificando ao longo das
décadas. As suas concepções iniciais enfatizavam a transferência de conhecimento
das instituições de ensino superior para a sociedade, que aparece passiva com o
papel de receber o que a universidade oferece. Portanto, ao invés de construir junto
com a comunidade, a ideia inicial de extensão residia em construir para a comunidade.
Muitas atividades extensionistas foram (e ainda são) criticadas pelo seu caráter
assistencialista, pois ações pontuais e de duração limitada muitas vezes são vistas
como filantropia de caráter paliativo. Nogueira (2001) relata que após o golpe militar o
governo utilizou-se de propostas extensionistas de forma assistencialista para
promover ideais de desenvolvimento e segurança em projetos como os CRUTAC
(programa voltado a população rural, com alguns resultados positivos) e o Projeto
Rondon, instituído por decreto em 1968.
O objetivo central desses projetos era colocar os estudantes em contato com a
realidade brasileira para motivar seu engajamento no desenvolvimento social e
nacional. No projeto Rondon, um dos problemas relatados pelos participantes foi o
caráter pontual das ações e a falta de vínculo com as universidades, visto que os
estudantes retornavam com questões sobre a sociedade brasileira que estavam
distantes do conhecimento dos professores.
Naquele momento, há um retorno de discussões sobre a extensão
primeiramente como missão social e difusão cultural e, posteriormente, nos anos 70,
como instrumento de política social. Em 1968, com a promulgação da Lei Básica da
Reforma Universitária (Lei n. 5.540/68), instituiu-se a extensão universitária
obrigatória. O artigo 20 estabeleceu que “[...] as instituições de ensino superior
estenderão à comunidade, sob a forma de cursos e serviços especiais, as atividades
de ensino e os resultados da pesquisa que lhe são inerentes”. O artigo 40 determina
que as instituições de ensino superior, "[...] por meio de suas atividades de extensão
proporcionarão aos seus corpos discentes oportunidades de participação em
programas de melhoria das condições de vida da comunidade e no processo geral de
desenvolvimento” (NOGUEIRA, 2005).
No início da década de 1970, algumas medidas foram importantes para
institucionalizar e redefinir a extensão universitária. Uma delas foi a criação da
Coordenação das Atividades de Extensão (CODAE), em 1974, vinculada ao
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Departamento de Assuntos Universitários DAU/MEC. Com a criação da CODAE, o
MEC assume a coordenação nacional da extensão e, em 1975, apresenta o Plano de
Trabalho de Extensão Universitária, primeira política de extensão universitária
brasileira.
O Plano de Trabalho de Extensão Universitária foi influenciado pelas ideias do
educador Paulo Freire sobre a importância de valorizar a sabedoria popular e trazê-la
à universidade. Embora esse educador estivesse oficialmente censurado, suas ideias
eram representadas através de outros termos que as encobriam. Freire (1977)
problematiza o termo extensão, refletindo sobre o sentido de estender algo a alguém,
de transmitir, de doar, de invadir etc. O termo extensão expressaria um traço de
superioridade, pois estende e entrega um conhecimento pronto. Ao contrário dessa
origem, o termo Extensão deveria ser visto como comunicação, como intercâmbio
entre saberes e como processo dialógico entre sujeitos.
Freire (1977), portanto, afirma que o conhecimento só existe quando há uma
relação de comunicação em que ambas as partes são sujeitos. O conhecimento, pois,
é resultado da relação entre saberes, de confrontos e buscas e, portanto, de
comunicação. Assim sendo, a população não deve ser o objeto que recebe, e sim o
sujeito que participa de uma relação dialógica. Através dessas ideias centrais, a
Extensão Universitária passou a ser discutida como prática participativa de troca de
saberes entre universidade e sociedade.
A partir da década de 1980, então, a prática de extensão é repensada ao par
de uma outra ideia de universidade que redefine suas práticas e valoriza sua função
social. O caráter assistencialista foi questionado em favor da concepção de extensão
como um processo de troca de saberes que integra o ensino e a pesquisa e que apoia
os movimentos sociais (NOGUEIRA, 2005). Como consequência dessa
reestruturação foi criado, em 1987, o Fórum de Pró-Reitores de Extensão das
Universidades Públicas (FORPROEX), que trouxe um conceito que passou a fazer
parte do Plano Nacional de Extensão:
A Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre Universidade e Sociedade. A Extensão é uma via de mão-dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará na sociedade a oportunidade de elaboração da praxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido
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àquele conhecimento. Esse fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados, acadêmico e popular, terá como consequências a produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional, a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da Universidade. Além de instrumentalizadora deste processo dialético de teoria/prática, a Extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social. (Plano Nacional de Extensão, 2000).
Dentre os objetivos do Plano Nacional de Extensão estão: assegurar a relação
bidirecional entre universidade e sociedade para que se atendam aos problemas
sociais urgentes; estimular atividades de caráter interdisciplinar; valorizar os
programas de extensão em rede entre instituições; criar condições para a participação
da universidade na criação de políticas públicas; e incentivar inovação e
conhecimento, ampliando o acesso ao saber e o desenvolvimento tecnológico e social
do país (NOGUEIRA, 2005).
Conforme essa definição, a extensão tem o papel não somente de democratizar
o conhecimento, mas também de buscar uma participação da comunidade na troca e
produção de saberes, inserindo a pesquisa acadêmica na realidade brasileira e
permitindo que os cidadãos se tornem sujeitos na construção do conhecimento e não
sejam apenas objetos de estudo ou de transmissão de conhecimento. Assim, a
extensão deve ser uma prática que interligue ensino e pesquisa com as demandas
sociais, possibilite a formação de profissionais cidadãos e forneça as bases da
produção de conhecimentos para a superação de desigualdades sociais, sendo
considerada um instrumento incomparável de mudança para a universidade e para a
sociedade (NOGUEIRA, 2005).
Em consequência dessas definições, consta na Constituição de 1988 a
“indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (Art. 207), ficando estabelecido
que “[...] as atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão receber apoio
financeiro do poder público” (Art. 213, § 2º). A partir de tal reformulação, diversas
iniciativas se seguiram e, em 1996, em resposta à indissociabilidade entre Ensino,
Pesquisa e Extensão prevista na Constituição, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) (Lei n. 9.394/1996) determina a Extensão Universitária
como uma das finalidades da Universidade (Art. 43) e apresenta a possibilidade de
apoio financeiro do Poder Público, incluindo-se bolsas de estudo (Artigos 44, 52, 53 e
77) (FÓRUM..., 2012).
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Dando continuidade, o Plano Nacional de Educação 2001-2010 (Lei n. 10.172)
ressalta a tríade ensino, pesquisa e extensão e institui que "[...] no mínimo, 10% do
total de créditos exigidos para a graduação no ensino superior no país será reservado
para a atuação de estudantes em atividades extensionistas" (Meta 23) (FÓRUM…,
2012, p. 9).
Atualmente, a extensão já está consagrada legalmente como uma das
finalidades da Universidade, destinada a trocar conhecimento com a comunidade e a
atender demandas sociais. As políticas de extensão universitária visam propor
diretrizes e orientações para contornar as dificuldades de alinhar a prática à teoria
extensionista.
3.2 AS POLÍTICAS NACIONAIS DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
De acordo com Nogueira (2005), a extensão universitária teve três políticas
importantes ao longo de sua trajetória. A primeira delas foi o Plano de Trabalho de
Extensão Universitária, de 1975, influenciado pelas ideias de Paulo Freire, divulgado
pelo MEC e executado pelo CODAE. As outras duas foram criadas após a constituição
do Fórum de Pró-Reitores das Universidades Públicas (FORPROEX). São elas: o
Programa de Fomento à Extensão Universitária (PROEXTE) (primeira edição 1993) e
o Plano Nacional de Extensão Universitária (1998). Todas elas são apoiadas pelo
Ministério da Educação e Cultura (MEC).
Esta seção aborda principalmente a Política Nacional de Extensão
Universitária, redigida em 2012 pelo FORPROEX, que se apresenta como um
fortalecimento e um acréscimo ao Plano Nacional de Extensão Universitária. Também
se destacará o documento Extensão Universitária: Revisão e Sistematização
(FÓRUM…, 2007), em que se apresentam as áreas temáticas, as linhas e as ações
de extensão em maiores detalhes. O principal objetivo é conhecer diretrizes propostas
para a extensão universitária brasileira e derivar categorias para as análises
posteriores da etapa de pesquisa.
A Política Nacional de Extensão Universitária (FÓRUM..., 2012) apresenta
cinco diretrizes orientadoras para a criação e implementação de ações na extensão
universitária. São elas: Interação Dialógica, Interdisciplinaridade e
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Interprofissionalidade, Indissociabilidade Ensino-Pesquisa-Extensão, Impacto na
Formação do Estudante e Impacto e Transformação Social.
No Quadro 1 essas diretrizes foram sintetizadas conforme os eixos por que
(motivos pelos quais a diretriz existe) e como (formas indicadas para realizá-la), a fim
de facilitar a compreensão.
Quadro 1 – Diretrizes orientadoras das ações na extensão universitária
O que Por que Como
Interação Dialógica Superar o discurso da hegemonia acadêmica através de alianças com organizações sociais. Não estender, mas sim construir conhecimento com a sociedade.
Metodologias que estimulem a participação e a democratização do conhecimento, bem como a participação da comunidade em ações nos espaços das universidades.
Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade
Superar a dicotomia entre o holismo que generaliza e a especialização que fragmenta.
Integrar modelos, conceitos e metodologias de diversas áreas do conhecimento. Construir alianças interorganizacionais e interprofissionais.
Indissociabilidade Ensino-Pesquisa-Extensão
Vincular ações de extensão ao processo de formação de pessoas (ensino) e de geração de conhecimento (pesquisa).
Extensão e Ensino: Sala de aula como espaço em que se (re)constrói o processo histórico-social. No eixo pedagógico estudante-professor-comunidade o estudante exerce papeis de tutor, pedagogo e orientador.
Extensão e Pesquisa: Ações orientadas por metodologias participativas permitem a aproximação com as comunidades. Incorporar pós-graduação. Fortalecer a produção acadêmica.
Impacto na Formação do Estudante
Enriquecer a experiência discente em termos teóricos e metodológicos. Materializar os compromissos éticos das IES. Na extensão o estudante amplia referências e tem contato com grandes questões sociais.
Flexibilização curricular. Projeto pedagógico adequado com definição do orientador, dos objetivos e das competências envolvidas, bem como das formas de avaliação. Diálogo entre as instituições envolvidas.
Impacto e Transformação Social
Atuar pelos interesses da maioria da população, pelo desenvolvimento social e local. Evitar a mercantilização das atividades universitárias e a alienação cultural.
Privilegiar linhas de atuação. Considerar abrangência e relevância das ações. Atuar com efetividade na solução dos problemas.
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Fonte: elaborada pela autora com base em FÓRUM... (2012).
Apresentadas essas diretrizes, questiona-se até que ponto elas estão
presentes no planejamento das ações de extensão que são desenvolvidas pelas IES.
Embora o FORPROEX se dirija às universidades públicas, as demais IES são
chamadas a aderirem à política, pois isso denota um compromisso com a extensão
universitária.
Para que a extensão seja potencializada, é necessário que ela se torne
frequente no cotidiano da vida acadêmica e que as normas e políticas existentes
sejam efetivadas. O FORPROEX (FÓRUM…, 2012) cita três articulações que podem
contribuir para o fortalecimento da extensão universitária, bem como para o combate
à exclusão e à desigualdade social: articulação com as políticas públicas, o que pode
contribuir na sua implementação e avaliação, bem como para o fortalecimento de
programas e projetos sociais; articulação com os movimentos sociais que buscam
combater a desigualdade, através de uma relação horizontal; e articulação com os
setores produtivos, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social do país.
Tais articulações podem ser visualizadas na Figura 3, envolvendo fundamentalmente
interação dialógica, interdisciplinaridade e interprofissionalidade.
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Figura 3 – Articulações para fortalecer ações de extensão universitária
Fonte: elaborada pela autora com base em FÓRUM..., 2012.
Em acréscimo a tais determinações, a articulação com políticas públicas inclui
ainda três eixos integradores: Áreas Temáticas, Território e Grupos Populacionais. O
eixo Áreas Temáticas (FÓRUM..., 2007) orienta as ações extensionistas para oito
áreas que constituem a maior parte das políticas sociais: Comunicação, Cultura,
Direitos Humanos e Justiça, Educação, Meio Ambiente, Saúde, Tecnologia e
Produção e Trabalho. O eixo Território prioriza a integração espacial das ações de
extensão para combater efeitos negativos como a pobreza urbana e a desigualdade.
O eixo Grupos Populacionais, por fim, pretende integrar as ações em grupos
populacionais específicos, em especial os excluídos e em situação de vulnerabilidade
social.
Considerados os direcionamentos da Política Nacional de Extensão
Universitária, buscou-se um entendimento maior sobre tópicos importantes para este
estudo e recorrentes na literatura relacionada à prática extensionista. São eles:
processo de ensino-aprendizagem, trabalho comunitário e metodologias
participativas.
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3.3 PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA EXTENSÃO
Para muitos, a aprendizagem é um processo biológico que provoca uma
transformação qualitativa na estrutura mental daquele que aprende. Outros
consideram a aprendizagem um processo pelo qual competências (conhecimentos,
habilidades e atitudes) são adquiridas ou modificadas através do ensino (formal, não
formal e informal).
Levando isso em conta, a aprendizagem pode ser analisada a partir de
diferentes abordagens ou perspectivas. Libâneo (2002) apresenta abordagens que
chama de tendências pedagógicas, classificadas em liberais ou progressistas
conforme a relação da instituição com questões sociais e políticas. O autor propõe
abordagens pedagógicas organizadas em duas grandes tendências, sintetizadas no
Quadro 2.
Quadro 2 – Tendências Pedagógicas
TENDÊNCIA LIBERAL
Liberdade e interesses individuais; propriedade privada dos meios de produção; sociedade de classes. Propaga a ideia de igualdade de oportunidades, mas não considera a desigualdade de condições.
Tradicional Ensino para realização pessoal. Nenhuma relação com a realidade social. Preponderam as regras e o cultivo intelectual.
Renovada progressivista Ensino centrado no aluno, trabalho em grupo. Processos cognitivos valem mais que conteúdo. Aprender fazendo. Chamada também de escola nova, tem como maior expoente Anísio Teixeira. Atualmente apresenta-se como métodos ativos de ensino.
Renovada não-diretiva Os problemas psicológicos importam mais que os sociais; aula é uma terapia. Ensino centrado no aluno, trabalho em grupo. Conteúdos têm pouca importância.
Tecnicista Formar recursos humanos transmitindo informações objetivas. O conhecimento é apenas o observável, não a subjetividade. Ensinar é condicionar o comportamento.
TENDÊNCIA PROGRESSISTA
Através de uma análise crítica da realidade, defendem as finalidades sociopolíticas da educação.
Libertadora Educação é prática social; questiona a realidade. Baseada no
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diálogo, os conteúdos devem estar ligados à realidade dos educandos. Geralmente relacionada ao ensino não-formal, tem como maior expoente Paulo Freire.
Libertária O mais importante são as experiências do coletivo, em especial formas de participação crítica em discussões e cooperativas. Matérias são opcionais. Recusa qualquer forma de autoridade, sendo o professor um conselheiro.
Crítico-social dos conteúdos Os conteúdos são o mais importante; mas conteúdos concretos, ligados à realidade social. Aprender implica processar informações e entender as próprias experiências. Considera o conhecimento prévio dos alunos.
Fonte: elaborada pela autora com base em Libâneo (2002).
Tendo em vista o que foi exposto sobre a extensão universitária, percebe-se
uma maior identificação com as tendências progressistas, pois uma das
características do fazer extensionista é seu viés de atuação política e social. Não há,
na discussão sobre práticas de extensão, qualquer pretensão alheia aos interesses
coletivos e às formas de exercer a cidadania. Na medida em que a extensão defende
a relação horizontal entre sujeitos que, juntos, buscam melhorias sociais através da
participação e do diálogo, o seu processo de aprendizagem está mais relacionado
com a tendência progressista libertadora. Vale ressaltar o fato de a mudança
conceitual no significado dessa atividade dever-se às ideias de Paulo Freire, as quais
trouxeram uma nova visão à prática extensionista e ajudaram a moldar os seus valores
que persistem até hoje.
Anastasiou e Alves (2006) defendem que, em um mundo cada vez mais
complexo, feito de constantes mudanças no tecido social, não faz sentido manter as
mesmas práticas docentes do século passado, baseadas na memorização como
operação principal. Para enfrentar os desafios impostos por essa complexidade, deve-
se evoluir para meios de ensino participativo.
Ao planejar a aula, portanto, as autoras afirmam que o professor deve escolher
as ferramentas mais adequadas para que os estudantes se apropriem do
conhecimento. No processo de apropriação, efetivam-se diversas construções
mentais (como por exemplo comparação, observação, imaginação, interpretação,
críticas, planejamento, tomada de decisão etc.). Logo, a aprendizagem, aqui, não se
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limita ao conteúdo, mas também é um processo coletivo de construção de saberes
por meio de operações mentais desenvolvidas pelas ações.
Novas práticas e estratégias docentes implicam inserir evolução,
espontaneidade, criatividade e construção conjunta em ações de criação coletiva, de
experimentação e de reflexão em forma de oficinas pedagógicas que possibilitem a
construção coletiva da aula. Assim, pode-se transitar do assistir ao fazer aulas em um
desenvolvimento crescente da autonomia (ANASTASIOU; ALVES, 2006). Com efeito,
a ação extensionista pode ser espaço de experimentação de novas formas de ensinar
e aprender, bem como de articulações pedagógicas que enriquecem a aprendizagem.
As ações que fazem parte dessa ideia de processo coletivo de aprendizagem
através de operações mentais podem tanto abrir espaço para que se construam
conhecimentos, como também exigir a mobilização daqueles já existentes para a
interação em situações específicas. Nesse sentido, Perrenoud (1999) defende uma
abordagem de aprendizagem por competências, relacionadas à capacidade de
mobilizar recursos cognitivos (entre eles, conhecimentos) durante a vivência no
mundo real. São aprendizados construídos que permitem enfrentar diversas situações
complexas e inéditas.
Ou seja, competências são construídas com o uso do conhecimento na prática,
quando se multiplicam as situações de interação. Isso implica aprender a identificar
os conhecimentos pertinentes para uma determinada situação, mobilizando-os
através da capacidade de relacionar conhecimentos prévios com os novos problemas
enfrentados.
Isso posto, nota-se na extensão uma oportunidade de construir competências,
tanto por parte do estudante quanto do professor e até mesmo da comunidade, pois
vivencia-se uma situação na qual conhecimentos profissionais e pessoais são
mobilizados para resolver um problema real (social e/ou de projeto). Como afirma
Perrenoud (1999, p. 17), para desenvolver competências deve-se "[...] trabalhar mais,
correr novos riscos, cooperar, projetar-se e questionar-se". E a extensão pode ser o
momento ideal para isso.
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3.3.1 Aprendizagem, trabalho comunitário e participação na extensão
Síveres (2013) acrescenta à compreensão geral de extensão universitária a
importância de entendê-la também como um processo de aprendizagem, ressaltado
no princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, pois aprender é
uma constante em todos os elementos da tríade. Sobre o processo de aprendizagem
na extensão, reflete:
[...] situado nas fronteiras institucionais e sociais, abre horizontes para um conhecimento mais criativo e inovador, fortalecendo um percurso mais compreensivo que informativo, mais reflexivo que transferidor de conhecimentos, mais produtivo que armazenador, mais invenção que enquadramento, mais possibilidades que certezas, mais sentido que direção, mais interdisciplinaridade que disciplinaridade, mais complexidade que simplificação, mais sujeitos que expectadores, mais vivências que exigências (SÍVERES, 2013, p. 30).
Observa-se que considerar a extensão como uma possibilidade de
aprendizagem amplia os espaços formativos (na universidade restritos às salas de
aula, bibliotecas e laboratórios) e, consequentemente, as formas de aquisição de
conhecimento. Pode-se dizer que a experiência extensionista agrega uma dimensão
de autonomia e de pró-atividade, uma vez que os atores exercem papeis ativos nos
projetos, atuando como sujeitos do próprio processo de aprendizagem.
A partir de uma pesquisa realizada em 2012 com estudantes universitários
brasileiros envolvidos em atividades extensionistas, Costa et al. (2013) identificaram,
em suas falas, três categorias para a aprendizagem na extensão: aprendizagem para
a formação profissional (aprendizagem conceitual); aprendizagem para a convivência
coletiva e inclusão social (aprendizagem procedimental); e aprendizagem para
aquisição e/ou mudança de valores e construção cidadã (aprendizagem atitudinal).
Na aprendizagem para a formação profissional, os estudantes entram em
contato com a realidade da profissão, identificam novas áreas de atuação e,
principalmente, conseguem relacionar teoria e prática através de vivências
significativas também para o crescimento pessoal. A aprendizagem para a
convivência coletiva e inclusão social ressalta o trabalho em equipe, a colaboração, a
troca e a convivência com culturas diferentes; também apresenta possibilidades
concretas de encontrar soluções para os problemas diários. Por último, a
aprendizagem para aquisição e/ou mudança de valores e construção cidadã oferece
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espaço para o exercício da cidadania e atuação frente aos problemas sociais, e
também acrescenta o olhar da necessidade de se colocar no lugar do outro.
Figura 4 – Dimensões da aprendizagem discente na extensão universitária
Fonte: elaborada pela autora com base em Síveres (2013) e Costa et al. (2013).
A Figura 4, chamada de Dimensões da Aprendizagem Discente na Extensão
Universitária, apresenta uma síntese dos conceitos identificados. Afirma-se que a
experiência extensionista propicia essas três dimensões de aprendizagem em
especial na vivência com comunidades e culturas externas à instituição. Embora uma
experiência reforce as diferentes dimensões em maior ou menor grau, pode-se
considerar que acontecem em paralelo e não são excludentes entre si.
É interessante observar que uma atividade proposta pode enfatizar um ou outro
tipo de aprendizagem; por isso, a integração constante entre ensino e extensão deve
ser sempre consciente. Em relação aos projetos estudados, indaga-se como essas
dimensões são viabilizadas nos cursos de design, inclusive nos seus PPCs.
A formação acadêmica deve ser crítica e diversificada, ir além da forma
tradicional de transmissão de conteúdo em sala de aula e oportunizar ao estudante o
protagonismo na sua própria formação. Deve criar condições para que o estudante
possa desenvolver a capacidade de aprender de forma independente e permanente,
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pois o conhecimento na sociedade contemporânea está sempre em rápido
crescimento. Para tanto, é necessário um processo de aprendizagem que priorize a
interação com a realidade, o diálogo e as atitudes reflexivas. E observa-se que a
extensão universitária é uma forma de dar espaço a esse tipo de aprendizagem
(FÓRUM…, 2006).
No fazer extensionista conceitua-se a sala de aula como espaço em que se
participa do processo social em sua complexidade, o que valoriza novas formas de
aprender. Especialmente em trabalhos que envolvem atuação em comunidades
externas, um novo eixo pedagógico é observado:
O eixo pedagógico “estudante–professor” é substituído pelo eixo “estudante–professor–comunidade”. O estudante, assim como a comunidade com a qual se desenvolve a ação de Extensão, deixa de ser mero receptáculo de um conhecimento validado pelo professor para se tornar participante do processo. Dessa forma, ele se torna também o tutor (aquele que apoia o crescimento possibilitado pelo conhecimento), o pedagogo (aquele que conduz, de mãos dadas, o processo de conhecimento) e o orientador (aquele que aponta a direção desse processo) (FÓRUM…, 2012, p. 18).
Permitir aos estudantes que desenvolvam e protagonizem, junto com
professores, atividades para solução coletiva de problemas do mundo real ultrapassa
a formação técnica e inclui uma formação cidadã e humana. O contato e as relações
com pessoas e realidades diferentes através do trabalho em comunidades inspiram a
reflexão e o senso de justiça e igualdade.
Deste modo, Abranches (2014) ressalta o trabalho comunitário como uma das
possibilidades da extensão. Nesse tipo de projeto, busca-se intervir diretamente nas
comunidades para propor melhorias, partindo sempre de um conhecimento prévio
sobre a comunidade e sua cultura local através de diagnósticos e conversas com
moradores. As ações contínuas devem ser priorizadas em detrimento das pontuais,
com foco em ações educativas para o empreendedorismo, formação política, resgate
da cultura local, participação e desenvolvimento.
Além disso, a mesma autora sugere alguns parâmetros para a realização das
atividades, entre os quais destacam-se: as decisões em relação aos trabalhos devem
ser coletivas; a equipe deve procurar uma comunicação efetiva com a comunidade;
antes das atividades deve-se fazer uma apresentação sobre extensão universitária e
sobre a proposta, com espaço para sugestões e expectativas da comunidade; as
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ações realizadas devem ter continuidade por meio da criação de grupos locais
multiplicadores; etc.
Atualmente, priorizam-se práticas participativas através das quais os cidadãos
atuam como sujeitos na construção de saberes; deste modo, além da socialização do
conhecimento, é preciso também construi-lo em conjunto com a comunidade para que
ele se torne relevante (OLIVEIRA et al., 2012). Nesse ponto, Thiollent (2003) atenta
para a importância das metodologias participativas nos trabalhos de extensão com as
comunidades externas. Sobre a atividade extensionista e a metodologia participativa,
aponta:
A visão "comercial" da extensão universitária reduzida à prestação de serviços está sendo questionada. Principalmente nas universidades públicas, está em construção uma nova extensão posta a serviço da sociedade, dentro de uma visão compromissada de atuação, concretizada em iniciativas sociais e solidárias. Para isso, a elaboração de projetos de extensão requer subsídios da metodologia participativa (THIOLLENT, 2003, p. 65).
A ideia de extensão como prestação de serviços, ou seja, como ação pontual
para clientes externos tem sido repensada principalmente por conta da inexistência
de efeitos a longo prazo. Isso porque melhorias duradouras ultrapassam resultados
temporários e demandam envolvimento da comunidade e mudança de atitude,
somente possíveis através da participação.
Na metodologia participativa, uma das formas mais utilizadas é a pesquisa-
ação, na qual pesquisa e ação acontecem ao mesmo tempo e o pesquisador é agente
da mudança. Essa pesquisa reúne diversos métodos e técnicas da pesquisa social
com os quais se trabalha em um ambiente participativo para a coleta de informação,
cuja principal fonte é a fala dos interlocutores. Procura-se resolver um problema em
conjunto através da construção coletiva de modos de pensar e de estratégias de ação
(THIOLLENT, 2003).
No decorrer do projeto, a participação deve ser facilitada e fortalecida. É
importante que se crie um espaço de comunicação onde todos tenham voz, facilitando
a aceitação e estimulando a motivação dos participantes. Pode-se constatar uma
evolução na participação quando há alguma forma de empoderamento dos atores em
relação às ações, ou seja, quando as pessoas têm atitudes que mostram autonomia
e pró-atividade nas tarefas (THIOLLENT, 2003).
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Outra questão importante para as práticas participativas é estar atento ao
referencial cultural do projeto e aos efeitos das informações geradas durante o
percurso. O referencial cultural dá significado às atividades, então pensadas levando
em conta a participação de todos em ações que respeitam a sabedoria popular, a
cultura local e o diálogo. As informações e os resultados gerados no projeto, por sua
vez, devem fazer sentido dentro do referencial cultural e da vida dos participantes; os
condutores do projeto devem estar atentos a esse aspecto para evitar a alienação e a
ausência de sentido dos resultados (THIOLLENT, 2003).
O FORPROEX (FÓRUM…, 2012, p. 18) afirma que as metodologias
participativas são a principal base da extensão: "Apenas ações extensionistas com
esses formatos permitem aos atores nelas envolvidos a apreensão de saberes e
práticas ainda não sistematizados e a aproximação aos valores e princípios que
orientam as comunidades [...]", pois é na participação que se vivenciam novas
possibilidades de ação e se incorpora o conhecimento de atitudes criativas e pró-
ativas. A participação também dá sentido aos resultados, uma vez que estes são
alcançados através de um entendimento construído de forma coletiva.
Silva (2013) entende que o elemento de participação identifica o conceito de
cidadania em um cenário de qualificação dos processos democráticos. Entrevistas
com estudantes que participaram de projetos de extensão indicaram uma certa
dificuldade em definir a palavra cidadania. A cidadania tem relação com o:
[...] processo de participação do indivíduo na consolidação da ordem social, que ele almeja para si e para suas relações com os outros. Refere-se, então, ao dever de participar e ao direito de ser atendido por ter participado. Nesse sentido, a cidadania exige que os indivíduos conheçam a sociedade em que estão inseridos, que sejam capazes de criar interesses universais e que se motivem para a ação entre iguais e diferentes [...] (SILVA, 2013, p. 118).
O autor acrescenta, ainda, que a cidadania se desenvolve sobremaneira na
sociedade civil e nos movimentos que dela emergem; e é exatamente a sociedade
civil que deve ser o principal espaço de atuação da extensão universitária. Contribui-
se para o exercício da cidadania, então, quando o estudante extensionista tem a
oportunidade de protagonizar ações participativas na sociedade através de desafios,
de oportunidades e da interação com a cultura da qual faz parte.
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Alicerçada em metodologias participativas e no trabalho comunitário, a
extensão universitária pode ser uma oportunidade para o estudante vivenciar o
potencial social do conhecimento que adquire em sala de aula e nas aulas de projeto,
assim como um suporte para a motivação intrínseca nas atividades acadêmicas. Afinal
de contas, esse tipo de atividade traz um propósito maior do que a formação técnica
somente voltada ao mercado de trabalho, pois possui um sentido de relevância social
e autonomia que amplia a ideia de atuação profissional.
3.4 CATEGORIAS DA REVISÃO TEÓRICA
No decorrer do capítulo, foram identificadas duas categorias para a composição
do quadro de diretrizes proposto neste estudo. Acredita-se que essas categorias e
suas respectivas subcategorias contemplam os principais tópicos identificados na
revisão teórica deste capítulo. As categorias compõem o quadro por meio do qual são
analisadas as falas dos atores entrevistados na próxima etapa do estudo qualitativo.
Objetiva-se identificar, na fala dos atores, como os acontecimentos estão relacionados
a tais diretrizes durante os projetos.
O primeiro quadro baseia-se nas diretrizes orientadoras das ações de extensão
apresentadas no Quadro 1 (p. 31), sugeridas pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão
(FÓRUM…, 2012). Acredita-se que representam os principais valores da prática
extensionista. O conteúdo apresentado foi acrescido de uma interpretação particular
que reelaborou sua descrição.
Observa-se que nem todos os tópicos apresentados no primeiro quadro foram
contemplados como categorias (Quadro 3). O tópico impacto na formação do
estudante se sobrepõe a questões de ensino-aprendizagem que também serão
consideradas para a análise. Quanto ao tópico impacto e transformação social, trata-
se de uma dimensão complexa merecendo um estudo mais aprofundado que não se
inclui no escopo do presente trabalho. Na sequência, apresenta-se o segundo quadro
de diretrizes (Quadro 4) oriundo deste capítulo, que busca verificar o processo de
ensino-aprendizagem na extensão.
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Considerando o que foi visto até agora, sistematizado nas diretrizes propostas
nos Quadros 3 e 4, questiona-se: Quais práticas e abordagens de projeto melhor
traduzem e representam os valores da extensão universitária?
Quadro 3 – Diretrizes gerais para ação de extensão para quadro de análise
1) DIRETRIZES GERAIS PARA A AÇÃO EXTENSIONISTA
Esta categoria é adaptada das diretrizes orientadoras para a criação e implementação de ações na
extensão universitária, sugeridas pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão no documento Política Nacional
de Extensão Universitária (FÓRUM..., 2012). Trata-se de conceitos importantes para a prática
extensionista que representam seus principais valores.
O que Por que Como
1.1) Interação Dialógica
Deve-se superar o discurso da hegemonia do conhecimento acadêmico em favor de um posicionamento dialógico que proporcione espaços efetivos de comunicação e troca de conhecimentos acadêmicos e populares. O conhecimento não deve ser apenas estendido, mas construído junto com a sociedade em uma via de mão dupla. Privilegiar a troca e a continuidade das ações em vez do assistencialismo.
Dessa forma, o eixo de pesquisa é enriquecido com questões sociais, e igualmente o é o eixo de ensino a partir do contato dos estudantes com a realidade e diversidade social e cultural. Ao mesmo tempo, as comunidades têm a oportunidade do contato com conhecimentos que ficariam restritos aos participantes da vida acadêmica. Por último, as trocas pessoais entre todos os atores são aprofundadas pela interação oportunizada pela participação.
Utilizar metodologias que estimulem a participação e a democratização do conhecimento, bem como a apropriação da autoria dos atores sociais, assim como sua presença em ações nos espaços das universidades.
Promover momentos de troca de conhecimento como oficinas, eventos culturais, aulas, sessões de cocriação e seminários de discussão que envolvam igualmente universidade e comunidade. Construir espaços de diálogo e cocriação durante os projetos que permitam o entendimento dos propósitos de projeto e discussões conjuntas sobre possíveis soluções. Construir alianças com organizações sociais a fim de garantir a continuidade das ações.
1.2) Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade
É preciso ultrapassar a dicotomia entre o holismo que generaliza e a especialização que fragmenta, considerando a dimensão complexa e sistêmica da realidade. Enriquecer as vivências e os resultados dos projetos extensionistas com a integração de conhecimentos de diversas áreas. Integrar dimensões acadêmica, profissional e social.
Integrar modelos, conceitos e metodologias de diversas áreas do conhecimento. Construir alianças interorganizacionais e interprofissionais. Envolver estudantes e professores de diversos cursos nos projetos, permitir o contato com profissionais do mercado e do terceiro setor.
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1.3) Interação entre ensino, pesquisa e extensão
Buscando o princípio da indissociabilidade, deve haver um esforço para que se vinculem ações de extensão ao processo de formação de pessoas (ensino) e de geração de conhecimento (pesquisa). Isso permite que se alcance maior unidade entre teoria e prática. A articulação com o ensino e com a pesquisa promove a interação crítica do eixo extensão com a sociedade. A sala de aula é ampliada para um espaço em que se participa do processo histórico-social e essa atuação oportuniza aos estudantes o desenvolvimento de outras competências.
Existindo um eixo pedagógico composto por estudantes, professores e comunidade abre-se espaço para que o estudante também exerça papeis de tutor, pedagogo e orientador.
Promover ações orientadas por metodologias participativas permitem a apreensão de saberes e a aproximação com as comunidades. Incorporar pós-graduação em projetos de extensão. Fortalecer a produção acadêmica, relacionar prática com teoria.
Fonte: elaborada pela autora.
Quadro 4 – Diretrizes para o ensino-aprendizagem para quadro de análise
2) DIRETRIZES PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM NA EXTENSÃO
A partir da afirmação de que a extensão, como eixo vinculado ao ensino e à pesquisa, constitui um espaço
de protagonismo no processo de aprendizagem que possibilita aos sujeitos desempenharem papeis ativos
nos projetos (SÍVERES, 2013), esta categoria apresenta diretrizes a respeito do ensino-aprendizagem nas
ações extensionistas. Considerar a extensão como uma possibilidade de aprendizagem amplia os espaços
formativos e, consequentemente, as formas de aquisição de conhecimento. Três dos quatro tópicos tratam
da aprendizagem discente sobre formação profissional, convivência coletiva e exercício da cidadania,
derivados das categorias identificadas por Costa et al. (2013) em entrevistas com estudantes universitários
brasileiros que participaram de projetos de extensão. Ainda, o terceiro tópico, exercício da cidadania, vale-
se da ideia de trabalho comunitário na extensão posta por Abranches (2014) e também inclui a diretriz
orientadora impacto na formação do estudante, apresentada no Quadro 1 (p. 31), sugerida pelo Fórum de
Pró-Reitores de Extensão (FÓRUM…, 2012). O quarto tópico, por fim, baseado em Anastasiou e Alves
(2006), busca avaliar como os professores extensionistas conduzem o processo de aprendizagem nos
projetos e identificar estratégias de ensino adotadas.
O que Por que Como
2.1) Formação profissional (aprendizagem conceitual)
Dar ao estudante a oportunidade de entrar em contato com a realidade da profissão ao mesmo tempo em que vivencia o potencial social do conhecimento que adquire na sala de aula. Nesse processo ocorre a construção de competências pela mobilização de conhecimentos da graduação para a resolução de problemas reais. Identificar novas áreas de atuação e relacionar teoria e prática com vivências
Atividades devem estar relacionadas de alguma forma ao cenário profissional. Estabelecer parcerias com profissionais da área.
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significativas também para o crescimento pessoal.
2.2) Convivência coletiva
Oportunidade de trabalhar em equipe, vivenciar a colaboração e a convivência com culturas diferentes. Identificar possibilidades concretas de solução para problemas diários.
Fomentar o trabalho em equipe e momentos de diálogo. Explorar papeis durante os diferentes momentos dos projetos. Oportunizar a troca com o usuário e com profissionais de instituições parceiras.
2.3) Exercício da cidadania e inclusão social
Uma das principais características da ação extensionista é um viés político e social que leva em conta interesses coletivos e formas de atuação cidadã. Naturalmente, deve-se atentar para favorecer projetos que promovam o contato com grandes questões sociais e a resolução coletiva de problemas do mundo real. Ser cidadão é fazer valer seus direitos e ao mesmo tempo estar disposto a lutar pelos direitos do próximo. Conviver com a diferença, conhecer outras realidades sociais. Sentir-se parte atuante do mundo real. Dessa forma, além da formação técnica abre-se espaço para que aconteça uma formação cidadã e humana.
O trabalho com comunidades de baixa renda enseja uma atuação significativa frente a problemas sociais. O contato com pessoas e realidades diferentes inspira reflexões importantes para o senso de igualdade e justiça social. Nesse tipo de projeto, busca-se intervir nas comunidades para propor melhorias, partindo sempre de um conhecimento prévio da cultura local proveniente de conversas com os próprios moradores. As ações devem priorizar a continuidade e o desenvolvimento de atitudes empáticas, educativas e inclusivas.
2.4) Estratégias de ensino
Para enfrentar os desafios da complexidade, deve-se evoluir para meios de ensino participativo, pois não faz mais sentido manter as práticas baseadas principalmente em memorização e modelos expositivos. É necessária a compreensão da aprendizagem não apenas centrada no conteúdo, mas também baseada em um processo coletivo de construção de competências e saberes através de ações. A ação extensionista pode ser espaço de experimentação de novas formas de ensinar e aprender, bem como de articulações pedagógicas que enriquecem a aprendizagem.