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preço: 2 € Nº 1 Fevereiro / Março de 2002 Gais com orgulho Gais com orgulho agenda da antiglobalizaçom n acional i deias o piniom c ultura entrevistas com Luz Fandiño Bernardo Penabade

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preço: 2 €

Nº 1 Fevereiro / Março de 2002

Gais com orgulhoGais com orgulhoagenda daantiglobalizaçom

nacional ideias opiniom cultura

entrevistas com

Luz Fandiño Bernardo Penabade

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Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZAsegunda2

Todos lembramos as crises alimentaresproduzidas nos anos passados naEuropa, e sobre todo a referida ao sector

cárnico, as chamadas "vacas loucas" foi a querepercutiu mais negativamente na economiarural. Se algo ficou claro e demonstrado cientifi-camente foi a relaçom directa entre a enfermida-de da EBB nos humanos e a introduçom nacadeia alimentar dos bóvidos de proteínas deorigem animal, nomeadamente de subprodutose restos cárnicos de ovelhas.

Diante desta crise, e pola relaçom directa entre aalimentaçom dos bóvidos e a apariçom de casosde EBB em humanos, as autoridades europeiasdecidírom em Dezembro de 2000 a proibiçomtemporal das farinhas cárnicas para a alimen-taçom de qualquer animal de granja que for des-tinado ao consumo humano. Em Junho de 2001a UE prorroga indefinidamente a entom vigenteproibiçom. Será em Novembro do ano passado,2001, quando o Parlamento Europeu solicite daComissom que a proibiçom temporal indefinidapasse a ser considerada como definitiva e ina-pelável.

Seguindo este relato temporal situamo-nos jáem Janeiro deste ano. Será aqui quando ogoverno espanhol proponha às organizaçons

gadeiras, aos matadoiros, às fábricas de raçonse às distribuidoras o legalizar novamente o usode farinhas elaboradas com restos de porcos eaves para alimentaçom de vacas.

Algo que qualquer pessoa qualifica, depois dasexperiências vividas, de despropósito; ao gover-no espanhol parece-lhe normal. Será que maisumha vez claudica diante da pressom das multi-nacionais e das fábricas de raçons alimentícias(16.000 milhons de pts. som as perdas estima-das nas fábricas galegas). Ou seja, que aosgovernantes pouco lhes preocupa a saúde ali-mentar dos seus cidadaos e cidadás, tam só pre-ocupados por manter os custes de produçom dacarne industrial co abaratamento dos preços daraçom.

Depois encarregarám-se os médios de comuni-caçom de inculpar e incriminar deliberadamenteaos gadeiros e gadeiras dumha nova crise ali-mentar. Estes levarám as culpas dum hipotéticomal uso das raçons que compram às fábricas oucooperativas, quando na realidade nada podemfazer por alterar a fórmula desa raçom.

Pouco nos surprende a absoluta mentira e aarbitrariedade desta democracia. Mas, a ver sevale para algo estar na Europa e os espanhóis,como sempre, nom pasam de fazer o acostuma-do ridículo com esta nova pretensom. Polo bemde toda a populaçom e a segurança alimentar,que assim seja.

OpiniomCartas ao director

Voltarám as vacas loucasMª José Castinheira Dias

AOS GOVERNANTES POUCO LHESPREOCUPA A SAÚDE ALIMENTARDOS SEUS CIDADAOS E CIDADÁS

Ficçom sobre a reforma normativa

Agradecer a oportunidade que se me dá para exprimir o meuparecer. Quero também saudar e animar a toda a equipa de genteque desde há mais de dous anos está impulsionando este projectojornalístico.

Como enlaçar as redes políticas, coa normativa oficial do galego?E as votaçons na Academia da língua co isolamento do reintegra-cionismo? Remontemo-nos no tempo e entremos de cheio no terrenoda política. Começa-se a falar de um possível governo do BNG naautonomia depois das últimas eleiçons municipais e europeias(Junho 1999). Entom pola primeira vez atingem os nacionalistasalgumhas das câmaras municipais mais importantes do país com umtotal de 394.941 votos, e um parlamentário europeu com 347.874sufrágios. Será com este parlamentário que começa sobre o debatenormativo. Quando Camilo Nogueira, segundo os médios de comu-nicaçom (Setembro 1999), fala português no parlamento europeu,começa todo.

Pola primeira vez na história consinte-se um novidoso debate naimprensa galega de grande tiragem: o reintegracionismo ortográficoe a norma escrita para o idioma som o centro da polémica. O debatepúblico leva a um amplo abano de intelectuais a ver publicar as suasreflexons em "La Voz de Galicia" incluídos alguns reintegracionistas,respeitando-se-lhes a sua opçom ortográfica. A partir de Novembrodesse mesmo ano "La Voz de Galicia" por pressom directa dospoderes políticos e linguísticos, suprime todas as colaboraçons. Ficaclaro que quem paga manda.

A cousa pareceu morrer aí, mas aos políticos nacionalistasmostrou-se-lhes um ponto fraco para cando entrassem num hipotéti-co governo autonómico coaligados co PSOE. Como iam ter o temada norma sem resolver? Que passaria se "La Voz" volve abrir o prob-lema cumha Conselharia de Cultura em maos do Bloco? Nom sepodiam arriscar.

A estratégia para evitar isto estava clara: tinham dous anos paraactivar os seus contactos nas Universidades, na ASPG, certosescritores, etc. e trabalhar umha "reforma normativa" que seria pro-posta à Academia e aprovada ao entrar BNG-PSOE no governo.Desde ali como sempre seguiriam aplicando a política de acalar oreintegracionismo, e todo solucionado. Teríamos a Pax Normativalouvada pola "Real Academia Gallega". Havia demasiados interes-ses, os milhares de milhons de subsídios e o negócio editorial eramo suficientemente tentador. Devo salvar a honra de muitos indepen-dentes que sempre som utilizados polo conjunto BNG-UPG em todasas suas planificaçons estratégico-políticas; neste caso também oshouvo. Achegava-se o dia das eleiçons e todo estava preparado, areuniom decisiva da Real Academia seria um mês depois do diaeleitoral. Mas aconteceu o inesperável, que o eleitorado nom renovounem aumentou a sua confiança no Bloco, cousa que sinceramentelamento.

Como era de esperar a Academia, estando formada por quem oestá, e sabendo já o resultado das eleiçons, pensou: Como vou euestar contra o meu patrom? É quem me dá de comer, D. Manuel e oPP, e todo ficou em nada. Resolvêrom desestimar as pequenas mo-dificaçons propostas.

A campanha seguiu impulsionada polos organismos que controlao BNG-UPG, A Nossa Terra, ASPG, CIG. Destacar que entre todo oruído, o periódico A Nosa Terra, aproveita para, atraiçoando o seupassado e dizendo que já tem achegado bastante à causa do galego,adire-se à normativa oficial vigente e assi tem acesso aos subsídiosde Política Lingüística. Cousa que já vinha fazendo desde há anos,tendo como verdadeira fonte de ingressos: o negócio de publicarlivros de texto em castrapo. Como reintegracionista tam só lamentoque o conjunto BNG-UPG para os temas de língua obviasse comosempre deliberadamente o reintegracionismo. Mª Castinheira Dias

As cartas dirigidas a esta secçom nom devem exceder de 20 linhas. Emcaso de suceder Novas da Galiza reserva-se o direito a extractar os tex-tos que estime oportuno. Podes enviar as tuas cartas a:

[email protected].

Editora: Minho média S.LDirector: José M. Aldea, Chefa de redacçom: Marta Salgueiro, Redacçom: Ramom Gonçálvez, Joám Peres, Carlos Barros, Maurício Castro, Miguel Garcia

Correspondentes: Compostela, Ugio Caamanho / Vigo, Xiana González / Ponte-Vedra, Álvaro Franco / Lugo, Ramom Gonçalves / Corunha, Armando Rivadulha / Ferrol, M. Castro Ourense, Asier Rodrigues / Estrada, Rosa Vásques / Ribeiro, Brais Leiro / Barbança, Joám Evans / Marinha, André Outeiro / París, J.Irazola / Madrid, José R.Rodríguez

Opiniom: Elvira Souto, Ramom Chao, Carlos Taibo, Lupe Cês, Jorge Paços Meirol, Cultura: Xurxo Souto, Valentim Fagim, Tomé Martins, Jesus Serrano, Informática: Carlos Barros, JoséR.Pichel, Fotografia: Borxa Vilas, Rosa Veiga, Humor Gráfico: Suso Sam Martim, Pestinho +1, Conselho Assesor: Ramom Pinheiro, Beatriz Árias, Beatriz Salas

Publicidade: Maria Casar , Correcçom lingüística: P. F. Mebou, Imagem corporativa: Paulo Rico, Maquetaçom: XOLDAS.COMNovas da Galiza: Apartado dos correios nº 2-27600 Sárria. Galiza. Tel: 609 242112, E-Mail: [email protected]

Depósito Legal:

As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do jornalOs artigos som de livre reproduçom respeitando a ortografia e citando procedência. É proibido outro tipo de reproduçom sem autorizaçom expressa do grupo editor.

Encerramento de Ediçom: 15-02-2002

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Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZA na capa 3

P r i n c í p i o s f u n d a c i o n a i s

Já tés nas tuas maos o fruto. Nasce NOVASDA GALIZA.Conscientes de que a informaçom e a comuni-caçom som as bases da sociedade no século XXI,aparecemos como proposta alternativa de comu-nicaçom. Um espaço de liberdade e independên-cia no mercado actual da informaçom na Galiza.Integramos este projecto umha equipa humanaconscientemente coesionada arredor dumha ideiae dumha cultura, em definitiva de um país quequeremos conformar coa nossa achega in-telectu-al e material, voluntária, desinteressada e altruís-ta.Será difícil estabilizar umha publicaçom comoesta dentro da sociedade galega, sabemo-lo. Mascom outras experiências editoriais anteriores,como a Gralha, da que saíram à rua 19 números,já ficou demostrado que podemos gerar os nossospróprios fluxos de informaçom. Até criar cor-rentes gerais de conduta e de opiniom, como foi ocaso do “GZ” nas matriculas, distribuído desdeas páginas da mencionada publicaçom e continu-ada por muitos colectivos que chegárom a editar

arredor de vinte modelos posteriores de diversaprocedência. Eis entre outras a nossa aportaçom.Um dos nossos princípios fundacionais di quedaremos informaçom dos movimentos sociais queconformam a Galiza do século XXI. Nesteprimeiro número quigemos tratar a situaçom domovimento gai, pois pensamos que na sua formae fundo tem muito a dizer. O nosso trabalho te-lo entre as maos, de tidepende em parte, leitor e leitora umha longavida para estas Novas da Galiza. Busca o teulugar nel e achega a tua força a este projectocolectivo.

Os nossos próprios fluxos de informaçom

J.M. Aldea, director

sumário

Suso Sanmartim

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Antiglobalizaçomdesde Galiza

A presidência espanhola daUE trouxo à Galiza ministros,

eventos institucionais... eares de revolta por umha Eu-ropa mais justa e dos povos

EntrevistaBernardoPenabade

O presidente da Agal fala-nosdumha hipotética reformanormativa e do presente,

passado e futuro da asso-ciaçom que ele preside.

ideias

Nestas páginas de ideiasoferecemos secçons diver-sas: Gastromania, Periplos

tasqueiros, cultura, astro-nomia, e mais ...

Gais com orgulho

Milheiros de pessoas nompodem viver e divertir-selivremente numha Galizainçada de preconceitos. Masainda som poucas as que seorganizam para consegui-lo.

...e ademaisNotícias nacionais......................página 4

Opiniom......................página 12Luz Fandiño......................página 16

Em rede......................página 17Cultura........................página 18

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Nasce este periódico aoserviço da liberdade deexpressom, para defender odireito da cidadania à infor-maçom plural e veraz.

Nasce ao serviço da cultura,da literatura,das artes plásti-cas, da música, do cinema, doteatro, da ciência, da ética, dafilosofia, da saúde, da ecolo-gia, do desporto, do ócio, equantas manifestaçons, produ-to da imaginaçom e a inte-ligência humana contribuirempara a solidariedade e o bem-estar geral. Nas suas páginas,dedicarám-se espaços prefer-entes à informaçom e à refle-xom sobre o idioma galego-português que nos une aospaíses do mundo da lusofonia.

Novas da Galiza é um periódi-co apartidista. Informará dojeito mais rigoroso possível e apartir da independência dospartidos políticos, procurandoreflectir a pluralidade dasociedade.

O jornal denunciará as con-tradiçons do actual processode globalizaçom que se está adesenvolver com notórios abu-sos e desigualdades sociais anível local e internacional.Especial atençom será dedica-da aos sectores produtivos eao ambiente.

O nosso é um jornal nom con-fissional e laico. Nas nossaspáginas, dedicaremos especialatençom aos movimentos so-ciais que com os seus actos epropostas conformam a Galizado século XXI.Informaremos dos grandesreptos do novo milénio: eman-cipaçom nacional, justiçasocial e redistribuiçom dariqueza.

Nasce o jornal para fornecer àcidadania a informaçom veraz,objetiva e independente.Nasce também co fim decumprir umha funçom essen-cial do jornalismo: o exercíciodo contrapoder.

O jornal entende que a sobera-nia nacional reside no povogalego. Alentará o debate

social que conduza para a con-formaçom do nosso país comoumha naçom de pleno direitona Europa. Preside este meioo espírito nacionalista e deesquerda mais comprometidoe leal, entroncando o nossoideário com toda a tradiçompolítica do nacionalismos deesquerdas.

As pessoas que conformamoseste projecto comprometemo-nos com um jornalismo impul-sionador do galego-português,nacional, aberto, unificador,independente de organizaçonspoliticas e de instituiçons, pro-gressita, militante. Profissio-nal, positivo e actual.

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Grupo humano de Minho Média S.L.

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Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZAnacional4

INEM REGISTA NOVA SUBA DODESEMPREGO

cronologia

CALCULOS EDESEMPREGO

Duas som as principais fontes estatís-ticas utilizadas para calcular o

desemprego: o Inquérito à PopulaçomActiva (EPA) que trimestralmente ela-bora o INE e o desemprego registadomensalmente polo INEM. Ademais dediferir na sua periodicidade, existeumha importante diferença nos resulta-dos obtidos por cada umha destas esta-tísticas. Assim, os dados da EPA corres-pondentes ao terceiro trimestre do ano2001 indicam que o desemprego afectou144 mil pessoas enquanto o INEM regis-tou nos meses de Julho, Agosto eSetembro um volume de desempregopor volta das 120 mil pessoas.A explicaçom dessa divergência há quebuscá-la na própria definiçom dedesemprego utilizada por cada um des-tes organismos. Para o INE o desempre-go está formado polas pessoas que sendomaiores de 16 anos estám sem trabalho,disponíveis para trabalhar e buscandoactivamente emprego enquanto para oINEM o desemprego registado está com-posto polos demandantes de empregoinscritos no INEM, dos quais há queexcluir colectivos como trabalhadoresque querem mudar de emprego ou pes-soas que estám a cursar estudos regra-dos sempre que forem menores de 25anos ou demandantes de primeiroemprego (ver Ordem de 11 de Março de1985). Em todo o caso, a tendência expe-rimentada polo desemprego é similarnas duas fontes estatísticas: durante operíodo que abarca de Fevereiro aAgosto o desemprego diminui e aumen-ta durante os meses compreendidosentre Setembro e Janeiro.

Feminizaçom do desemprego e precariedade definem o mercado de trabalho

Segundo dados do INEM no mês deDezembro o desemprego afectou 138 milpessoas, o que supom umha suba de 4mil pessoas em relaçom ao mês anterior,situando-se a taxa de desemprego no12,1%. Enquanto ao género, as mulheresvoltárom ser as mais prejudicadas, emconcreto, dos 138 mil desempregados 83mil som mulheres; como resultado, a taxade desemprego feminina situou-se no17,0%, duplicando à sua homóloga mas-culina que tomou o valor de 8,4%. Doponto de vista do sector de actividade, 67mil desempregados provenhem do sectorserviços, 27 mil nom tinham empregoanteriormente, 25 mil trabalhavam naindústria, 16 mil na construçom e 3 mil nosector primário.

O desemprego é o principal problemado mercado laboral, mas nom é o único.Assim, entre os males que sofrem osocupados destacamos a elevada tempo-ralidade que caracteriza as contrataçons,temporalidade que a finais do ano 2001afectava a terceira parte dos assalaria-dos. Os dados do INEM relativos aos con-tratos realizados no mês de Dezembrodeixam poucas esperanças postas nareduçom da temporalidade: dos 42.896contratos realizados durante esse mês só3.643 (o 8,5% do total) fôrom de duraçomindefinida. O impacto positivo sobre aocupaçom foi um dos argumentos utiliza-dos para introduzir os contratos tempo-rais. Sem embargo, o aumento da contra-taçom temporal está-se a traduzir numincremento do número de contratos assi-nados anualmente por cada trabalhadortemporal e nom num auge da ocupaçom;por exemplo, no triénio 1995-97 regista-se, ao mesmo tempo, um aumento donúmero de con-tratos e umhadiminuiçom donúmero de ocu-pados.

Nem quedizer tem quetemporalidade ésinónimo de ins-tabilidade labo-ral, já que som ost r aba lhado resc o n t r a t a d o sbaixo um regimetemporal ospotencialmente ameaçados polo ajustedo quadro de pessoal da sua empresa,facto que incrementa a sua incerteza emrelaçom ao futuro, gerando em muitoscasos importantes pressons psicológicas.A maiores, a informaçom disponível ratifi-ca que os contratos temporais estámassociados a um salário menor que oscontratos fixos: segundo dados do INE noano 1995 os trabalhadores com contratotemporal ganhavam um 40% menos doque os trabalhadores com contrato fixo.

Pola sua parte, salários menores signifi-cam menor poder aquisitivo e menor con-sumo privado, tanto em termos quantitati-vos como qualitativos. Assim, na Galiza,no biénio 1993-94 diminui o desempregoe aumenta a contrataçom temporal aotempo que se reduz o consumo privadoem 2,9 pontos percentuais.

Tem-se afirmado com demasiada fre-qüência que o desemprego é, basicamen-te, um problema de qualificaçom dosdesempregados. Sem embargo, asdemandas de trabalho coincidem pratica-mente coas colocaçons registadasenquanto as ofertas de trabalho (pessoasque querem trabalhar) supera claramenteà demanda deste factor. Assim, segundodados do INEM, no mês de Novembro

houvo 134 mildesempregados etam só 57 milcolocaçons. Emconclusom, o pro-blema do des-emprego é, so-bretodo, um pro-blema de gera-çom de postos detrabalho.

Na Galizaesta situaçom émais preocupan-te, chegando nal-

gum ano a nossa economia a registar, aomesmo tempo, um crescimento do PIB eum aumento do desemprego. Dados doperíodo 1989-94 ratificam que na Galizahouvo umha variaçom interanual doemprego negativa, a pesar de que avariaçom interanual do PIB foi positiva, oque evidencia a grande dificuldade quemanifesta a economia galega para susci-tar um crescimento económico gerador deemprego.

Rosa Verdugo

“os contratos tempo-

rais estám associados a

um salário do 40%

menor que os contratos

fixos.”

15 DE DEZEMBRO:Trinta estudantes tomam oreitorado da universidade deCompostela e som espanca-dos e expulsos por parte dapolícia e co consentir do reitorDario Villanueva. As protestasestudantis enquadravam-sedentro das manifestaçons con-tra a LOU.

16 DE DEZEMBRO:Cem pessoas protestam con-tra os encoros no rio Lérez emPonte-Vedra,para manifestar oseu rejeitamento polas trêsminicentrais que Augas deGalicia tem previsto construirneste rio.

Encadeamento e corte detránsito na Corunha dentrodas protestas dos trabal-hadores de Claudio contra apolítica laboral desta empresa.

17 DE DEZEMBRO:Abre-se em Ourense um pro-grama de estudo da línguaportuguesa dentro das escolase que abrangerá setecentosescolares. Os coordenadoresdo programa de estudo deportuguês denunciam falta demeios e de material.

18 DE DEZEMBRO:Na Unversidade de Ourenseun grupo de estudantes fecha-se nalgumhas faculdades den-tro da campanha de protestascontra a LOU.

19 de DEZEMBRO:Um grupo de estudantes tomao Claustro da USC e pedem ademissom de Dario VIllanue-va. As protestas centravam-sena actuaçom da polícia diasatrás contra un grupo de estu-dantes fechados no edifícioreitoral, permitida polo reitor eque se resumiu em váriosestudantes mancados ehospitalizados.

21 DE DEZEMBRO:Encausam dous ex-alcaldesda Guarda por um delito con-tra o ambiente referido à com-bustom de lixo.

22 DE DEZEMBRO:Anunciam em Compostela oreforço da segurança poloincremento da violência políti-ca e a proliferaçom de pin-tadas dentro dum grande dis-positivo policial durante areuniom de ministros de inte-rior da UE que se celebrará osdias 13, 14 e 15 de Fevereirona capital galega.

28 DE DEZEMBRO:Estudantes fecham-se emVigo nas faculdades dePeritos, Ciências,Empresariais e Filologia den-tro das protestas contra aaprovaçom da nova lei orgáni-ca de universidades.

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Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZA nacional 5

cronologiaIndústria procura que 63% da energia em 2010 seja para consumo externo

Carta branca para que UniomFenosa, Endesa e Iberdrola aumentem250% em nove anos a extracçom deenergia galega cara ao exterior. Eis otrasfundo político do Plano Eléctrico2001-2010 elaborado pola Conselhariade Indústria, e co que o governo deFraga Iribarne pretende resituar o paísà cabeça do abastecimento energéticodo Estado.Trata-se dum plano destina-do a aumentar o excedente energéticogalego, dos 3000 MW actuais a 7500MW em 2010.

O Plano Eléctrico 2001-2010 pretendea construçom de mais de 125 parqueseólicos em diferentes pontos do país,assim como a de duas grandes térmicasde ciclo combinado, com turbina de gas,em Sabom e nas Pontes, e por volta de300 minicentrais na prática totalidade dosprincipais rios galegos.

O potencial energético unirá-se ao das

24 grandes centrais hidráulicas actual-mente em serviço, ao das térmicas decarbom de Meirama e as Pontes e ao queacrescentará o incremento de centrais deco-generaçom para abastecimento deindústrias, centrais de biomasa e centraisalimentadas com resíduos industriais.

No tocante a infraestruturas, aConselharia programa a construçom dumnovo gaseoduto entre Porto e Ribadeu, eumha central de regaseficaçom em Ferrol.Resulta, ademais, consubtancial aoPlano, a renovaçom e ampliaçom propor-cional da rede de evacuaçom necessáriapara a conduçom do excedente energéti-co para o exterior.

O Plano Electico é evidente que nomé para cubrir as necessidades energéticasdo país. Uniom Fenosa, Endesa eIberdrola som a dia de hoje grandes trans-nacionais espanholas, cujos principaisaccionistas som SCH, BBVA, La Caixa eCaja Madrid. Estamos pois, ante umha

decisom institucional que, obedecendointeresses económicos foráneos e procu-ras alheias, nom resposta às necessida-des da sociedade galega, e que de nen-gum ponto de vista redundará benefíciopara o país. Mas sim graves perjuízos.Intervençom agressiva sobre o meio,expropiraçom dos terrenos para a cons-truçom de infraestructuras, impactoambiental, social e cultural serám asconseqüências.

As alertas efectuadas pola ADEGA arespeito dos efeitos destrutivos das mini-centrais e do impacto sobre o leito dosrios e as espécies que neles habitam, oua alarma recentemente espertada ante oprojecto, concretizado por FENOSA, deerguer 48 moinhos aerogeradores noCorçám, semelham ser apenas as primei-ras expressons dos graves conflitosambientais, sociais e culturais que umplano pensado desde fora e para fora estádisposto a desatar na Galiza.

GALIZA, DESPENSA ENERGÉTICADA ESPANHA

Redacçom

30 DE DEZEMBRO:A esquadra de polícia deFerrol confessa a venda dedados segredos a bancos eagências de seguros. Estefacto vem somar aos casosde corrupçom da esquadrade Compostela que conlevoua demissom do chefe daesquadra.

6 de JANEIRO:Em Ourense umha espon-tánea rebeliom de cidadaosprotestou contra a perse-guiçom que imigrantes evendedores sofrem por parteda polícia local da cidade.

9 de JANEIRO:O subdelegado do governoespanhol na Galiza anunciaum operativo policial espe-cial para Compostela nosdias das juntanças de min-istros europeus nesta cidadeo 13 e 15 de Fevereiro.

Xosé Manuel Beiras jantacom Fraga Iribarne, iniciandoumha fase distensom entreas formaçons que lideram.

11 de DEZEMBRO:Em Lugo: concentraçom degadeiros frente à indústriacárnica Novafrigsa contra ataxa de carne. Na protestahouvo umha forte presençapolicial.

12 de JANEIRO:Umha concelheira de Sada,pertencente ao PP, denúnciao concelheiro de cultura doseu próprio partido pordesviar fundos de cultura eusá-los em benefício próprio.O concelheiro do PP emSada Alejandro Santos usoufundos públicos presunta-mente para ir ao solarium.

15 de JANEIRO:Festival de cinema "Olladasdo planeta" contra a globa-lizaçom em Ponte-Vedra

13, 14 e 15 de FEVEREIRO:Coincidindo coa celebraçomem Compostela da cimeirade ministros de Justiça eInterior da UE, milhares depessoas manifestam-se porumha Europa dos povos e ajustiça social. A PlataformaGalega por umha EuropaAlternativa organiza, ade-mais, umha contracimeiradurante a qual perto de 30intelectuais esponhem, dediferentes perspectivas, aslinhas dumha outra cons-truçom europeia. Duranteestes três dias, Santiago éocupado por milhares depolícias espanhóis, e o fortedispositivo limita as liber-dades de expressom e circu-laçom da cidadania. Váriaspessoas som detidas erecebem tratos vexatórios naesquadra.

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Total 135.726

Pessoas trabalhando no sectorpúblico Galego

Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZA6

Denunciada comercializaçom de

dados informáticos porparte da polícia

Bancos e asseguradoras entre os compradores

DADOS

Agravidade do caso projectado mediati-camente sobre a corrupçom nas

Esquadras da Polícia espanhola na Galizacomenta-se por si própria: dados da vidaprivada de centos de milhares de pessoas,relativos a aspectos que vam desde osmovimentos da nossa conta bancária até oexpediente sanitário de cada um, seriamobjecto de compra-venda entre defensoresda ordem pública e entidades privadas. Semdúvida algumha, estamos em boas maos.Com certeza, nunca saberemos os resulta-dos reais e últimos desta anunciada investi-gaçom porque a honorabilidade dos corpos

policiais e militares espanhóis nunca casoucoa transparência informativa. Muitomenos com qualquer inimaginável fiscali-zaçom civil das suas actividades. Mas oque si certificamos com esta notícia, porenéssima vez, é o carácter policial do Es-tado em que vivemos e a muito ténue linhade separaçom existente entre os mecanis-mos estatais de controlo cidadao e as enti-dades de todo tipo que têm no logro de umbenefício económico a sua razom de ser.Estado, Capital e os aparatos policiais deambos amalgamados numha unidade ondeas partes som a cada mais indiferenciáveis.

IMPERFEITO GRANDE IRMAO

nacional

Antia Ferreiro

As informaçons saiam a luz o passa-do 10 de Novembro. Segundo as mes-mas, o Ministério do Interior vem deabrir investigaçons nas esquadras dePonte-Vedra, Ferrol e Compostela apósserem detectadas “irregularidades”polos seus serviços internos. Para reali-zar a investigaçom fôrom despraçadosà Galiza vários agentes da Brigada deInterior. Fontes oficiais confirmárom aexistência destas investigaçons.

As pescudas na esquadra de Ferrol

afectariam como mínimo seis políciasentre sub-inspectores e agentes. Asinvestigaçons focariam-se sobre o aces-so “irregular” dos processados a Prepol-umha das mais importantes bases dedados da Polícia, que contém infor-maçom individualizada sobre milheirosde cidadaos e cidadás- e sobre acomercializaçom desta informaçom comentidades privadas. Bancos, diferentesempresas e companhias de segurosestariam entre os compradores.

A enfermidade do amianto tem um alto índice de letalidade

367 operários dosasteleiros enfermos de

asbestoseO governo espanhol admitiu publicamente que 367 trabalhadores de Izar , nas

fábricas de Fene e Ferrol estám contaminados pola asbestose. Umha afecçompulmonar produzida polo contacto continuado co aminato, um material utilizadocomo isolante térmico dos compartimentos dos buques que fabricam as antigasAstano e Bazám.

A enfermidade contraída polos 367 operários de Izar deriva directamente dascondiçons de trabalho, mas o asteleiro assegura ter cumprido sempre coa legislaçoma respeito e afirma que adiantando-se às normativas oficiais, deixou de utilizar oisolante tóxico na década de 80. Até esse momento, centos de trabalhadores estivéromem contacto co amianto. Os julgados do Social de Ferrol aguardam umha enxurradade demandas contra Izar por parte dos operários afectados. No mês de Junho, umcolectivo de 30 doentes apresentava a primeira demanda conjunta.

Umha enfermidade com um alto índice de morbilidadeO colectivo de operários afectados está conformado por trabalhadores reformados

ou que continuam em activo. Trata-se de pessoas que começárom já a advertir proble-mas respiratórios que podem derivar em afecçons pleurais. É freqüente nestes casosque a enfermidade evolua cara um engrossamento pleural ou algum tipo de cancro.Na actualidade, a asbestose carece de curaçom devido à impossibilidade técnica deextraer o amianto dos pulmons.

Responsabilidades institucionaisO Estado espanhol, junto co de Grécia e Portugal, tinha logrado da Uniom Europeia

umha moratória para retrassar até 2005 a directiva comunitária proibicionista doamianto. Foi o passado mês de Julho que a Ministra de Sanidade Celia Villalobosanunciava a proibiçom definitiva do amianto para 2002. Mas este material tóxico, con-tinua a venda em estado puro em qualquer estabelecimento de fontanaria ou cale-facçom da Galiza. Nos casos de demoliçom de edificaçons por empresas especia-lizadas, os concelhos galegos nom têm qualquer controlo institucional sobre estesprocessos, nem é verificado institucionalmente o destino dos escombros com amianto.

Eucaliptizaçom conta co apoio expresso de Manuel Fraga.

Caixa Galicia sondatransnacionais para

instalar papeleiraCaixa Galicia, primeiro accionista da já privatizada ENCE, cujo Conselho de

Administraçom compartilha com Bankinter e Banco Zaragozano, vem de assinarum protocolo de intençons com várias representaçons dos proprietarios flo-restais, para “potenciar o sector florestal galego”

Isto poderia supor o passo de um consumo anual de 2 milhons de metros cúbicosde eucaliptos a mais do duplo. Algo que traerá conseqüências sobre a política florestalnacional e sobre a utilizaçom de terras hoje sem aproveitamento agrário. Ademais dasentidades bancárias no projecto estaria implicados também Norfor, Foresgal e Silvanusco consentimento do governo de Manuel Fraga.

A denominada lógica do recurso, fudamentada no nosso caso na abundáncia demadeira de espécie australiana na Galiza, na alta qualidade da mesma e na poten-cialidade dos solos galegos para a sua produçom, daria pé ao projecto de CaixaGalicia. Pretenden fechar o ciclo produtivo da pasta de papel em papel. As negocia-çons entre capitalistas financeiros e indústria prevém-se longas e o projecto poderiaver a luz em dous anos.

O cerne da iniciativa empresarial encontraria-se em lograr umha aliança estratégi-ca estável com algum importante grupo transnacional capaz de introduzir o productono mercado mundial, descartando-se a possibilidade de que a própria celulosa ENCEproduza o papel. Teria que competir com grupos muito mais fortes. A entidade finan-ceira alvisca entre os candidatos a American Paper, as escandinavas Enso-Estora,Metsálitto e UPM-Kymena e a portuguesa Sonae. A pesar de o feche do ciclo produti-vo do papel na Galiza fazer parte das reivindicaçons históricas galegas, dificilmente sepoderia argumentar que o projecto de Caixa Galicia resposte aos interesses do país.A iniciativa da entidade financeira suporia a supeditaçom total da política florestalnacional aos projectos empresariais de um grupo norteamericano, escandinavo ou por-tuguês. Umha nova volta de porca na eucaliptizaçom da Galiza e a geraçom dum lucroeconómico que de nengum modo revertirá no país.

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Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZA na capa 7

Luitam no dia a dia das nossas cidades polo direito a viver e divertir-se em liberdade. Conformam o“ambiente” galego, a avançadinha social e cultural contra a homofóbia.

Gaiscom orgulho

CINCO COLECTIVOS CONFIGURAM, ATÉ O DEAGORA, O MOVIMENTO GAI ORGANIZADO NA

GALIZA. DESIGUAIS IDEÁRIOS POLÍTICOS, ETAMBÉM DIFERENTES FORMAS DE CHEGAR AS

CONQUISTAS, MAS UM SÓ PROPÓSITO:CONSEGUIR EQUIPARAÇOM DE DIREITOS,

CONQUISTAR A LIBERDADE.

TEXTO: MARTA SSALGUEIRO

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Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZAna capa8

28 dde JJunho, uumhadata dde rreferência

Todos os anos o 28 de Junho celebra-se o dia do Orgulho Gai, o próprio dia edurante a semana anterior som muitos osactos organizados polos colectivos homos-sexuais. O fim é reivindicar a igualdade coasparelhas heterossexuais e mostrar-se contraa homofóbia.

Como amostra, citaremos alguns dosactos do verao passado: Começárom coa "IISemana Lesbigai" organizada pola viguesaassociaçom Legais. O acto central é a con-vocatória dum prémio do mesmo nome quea associaçom, recaindo este ano no poetaAntom Fortes.

Cumha ampla e variada propaganda, osactos em Compostela começárom na terça-feira. Umha conferência foi o princípio, e con-tinuárom durante toda a semana coa pro-jecçom de várias curtametragens de temáti-ca homossexual o já tradicional campionatode "Mari-brilé" na carvalheira de SantaSusana. Na Corunha, a associaçom Mil-homes promulgou um manifesto onde solici-ta "solidariedade cumha comunidade que aolongo da história sofreu e ainda sofre situ-açons de discriminaçom e violência". A estemanifesto aderírom as outras associaçons eaté instituiçons como o Concelho de Ferrol.Também os concelhos de Ourense e Vigocolocárom no Consistório a bandeira doarco-da-velha, símbolo mundial da comu-nidade e das reivindicaçons homossexuais.

O acto central foi a Marcha Unitária emCompostela, convocada por todas as asso-ciaçons gais e lésbicas. Seguiu-lhe umhaceia-convívio denominada "Papadela" ondese degustárom diferentes pratos. Alí mesmo,na Praça do Irmao Gómez e depois das deze meia da noite, começárom as actuaçonsdas numerosas drag-queens. Cumpredestacar o muito público assistente e tam-bém o que os próprios organizadoresdenominárom música "super-petarda", queamenizou todo o festival.

Os homossexuais conquis-tárom já a nocturnidadesegum apontan dende Mil-

homes. Passo importante porque comele podem começar a relacionar-se enom encontrar-se na solidom. Mas restaconseguir também a normalizaçom navida quotidiana. O dia a dia apresenta-se mais difícil tomando em conta o con-texto galego pouco favorável. Um gover-no de direitas na Junta, um governo dedireitas no estado que pratica ahipocrisia social segue condicionando aliberdade individual e colectiva de mil-hares de pessoas na Galiza, tambémpola eleiçom sexual.

Desde a associaçom Mil-homes daCorunha, José Carlos Alonso explica adificuldade organizativa no país do movi-mento gai, assegurando que se trata

dum problema de visibilidade. Ainda, apresença como gai, "nom trai nengumbenefício, mas prejuízos tes a certezade que bastantes". Concretamente emMil-homes estám associadas entre 20 e30 pessoas mas som conscientes deque a hora de "dar a cara publicamente"ou simplesmente fazer umha gestomadministrativa o colectivo fica reduzido acinco ou seis pessoas. Em Santiago deCompostela pode resultar mais fácil,aponta Josá Carlos Alonso, porque amaioria das pessoas nom som dacidade, estám estudando ou trabalhan-do e nom tenhem que dar contas nemaàvizinhança nem à família. Galiza é umsítio difícil para os homossexuais segun-do o representante de Mil-homes.

O colectivo Gai de Compostela tem oseu germe em 1989 quando se reuníromumha série de amigos, estudantes da

Universidade porque estavam preocupa-dos pola chegada de Manuel Fraga àPresidência da Junta e tinham que fazeralgo diante do que se avizinhava. Desdeentom o colectivo funciona emCompostela, coa peculiaridade de nomadmitir dirigentes, trata-se dumha orga-nizaçom assemblear.

No caminho dum movimento gai galego

Na Galiza, nom se pode dizer queexista um movimento homossexualpróprio. Nesse caminho esta-se a trabal-har. Na actualidade os colectivos organi-zados desenvolvem a sua actividadesem ideário comum e bebendo de fontesque começárom a trabalhar muito antes.A intençom é andar na constituiçomdesse movimento próprio enraizado nasociedade galega atendendo a própriarealidade. Nom existe umha coorde-naçom a nível de ideário e cada associ-açom limita-se à sua cidade. Mas sim hátrabalho em conjunto. Sim há uniom àhora de mobilizar. Desde Mil-homesasseguram que as diferenças se limitama gradaçons, as reunions som escassase por qüestons concretas. No momentoem que se planejam campanhas co-muns "é muito díficil, quase impossível,que nom cheguemos a acordos" porquetenhem claro "polo que luitamos".

As reivindicaçons som singelas: aequiparaçom de direitos. Tanto a efeitosde parelhas como a nível pessoal. Nomse pretende umha normalizaçom darealidade unicamente no estabeleci-mento da parelha porque seria tantocomo "admitir que mentres sejamosumha pessoa que vive sem parelha nomtemos a mesma categoria humana queo resto".

A mbienteC O R U N H A

ALFAMAR/ Orçám 87 Boa música e decoraçom origi-nal. Ateigado de gente depoisdas 12 da noite.

FINISTERRER/ Orçám 137 Imprescindível na rota do fim-de-semana.

TELEFUNKENR/ Alcalde Folla Jordi Ambiente mixto.

PECCATA MINUTAR/ Orçám 28 Para petiscar e pecar. Cozinhaem miniatura. Depois das 12:00.

V. O.R/. Orçám 75 Antes Tomodachi. Acarom doAlfama; mais tranqüílo que oanterior.

O ALFAITECampo da Lenha 20 Aqui reune-se o colectivo "Mil-homes" as sextas-feiras contraas 21:00.

GORENCIAR/ Orçám 162, Tfne. 981226152 Fecha os domingos à noite e deterças a sábados no meio-dia.

5 COMENTARIOSAvenida de Arteixo 12 Lugar de engate até as 4:00.Abre todos os salvo segundas-feiras.

GLAMOURPerto da estaçom de Renfe Exclussivamente Gai. Quartoobscuro. Abre às 23:00 e fechaas terças.

O CABALIÑO DO DEMOR/ Alher Ulhoa 7, Tfne. 981572549 Café-bar e restaurante vege-tariano, coa bandeira do arco-da-velha na porta.

H.S.Rúa da Troia 6, Tfne. 981566302 Música gai dos ‘60 aos ‘80 efesta com drags umha vez aomês. Abre às 22:30.

O U R E N S E

FORUMRúa Travessa, Tfne. 981531344 Ambiente house/dance

ABASTOSR/ Abastos 8, Tfne. 981560421 Cafetaria durante o dia, músi-ca disco ao chegar a noite.

ULTRAMARINOSR/ Casas Reais, Tfne. 981582418 Dous andares, cafetaria.

A TRAMPA DE VENUSR/ Hernán Cortes (zona velha)Cafetaria cumha ampla gama dechás e infusons. Ambientetranquilo.

STARPraça do TrigoPub com música house, tecno, etc. Abre às 2:00.

3AR/ Valle Inclán Discoteca. Vai-se às 4:00 ou às5:00. Consumiçom obrigatória.

GLAMOURR/ CarriaricoDiscoteca, vai-se às 6:00 ou 7:00.Consumiçom obrigatória.

V I G O

C O M P O S T E L A

V I L A - G A R C I A

CAFETARIA REPÚBLICAAvenida da Marina 56Ambiente mixto.

PUB MILLENIUMPraça da ConstituiçomAmbiente mixto.

CAFÉ UNIVERSALR/ Afonso XII 32

Os colectivos em defesados dereitos das pes-soas homossexuais ver-tebram-se na Galizasobre o eixo atlántico.Santiago, Corunha, Vigosom as únicas cidadesonde existe associa-cionismo activo. Nasprovíncias do interior omovimento organizativoé menor. Em Ourense ePonte-Vedra nom existenengum colectivo men-tres que em Lugo estáem germe. Na cidade damuralha fam esforçospara consolidar umhainiciativa que se chama“ALAS” que está encon-trando com muitas difi-culdades para arrancar.Em Santiago existemagora dous colectivos,BOGA e Colectivo Gaide Compostela (CGC).LEGAIS, fai o trabalhonecessário da organiza-çom em Vigo e naCorunha funciona desdehá já mais de seis anosMil-homes.

Ondeacudo?

LEGAIS: Vigotelefone: 630-06-13-99 [email protected]

BO.GA: Colectivo de Lesbianas deGaliza Apdo.2169/15780Compostela [email protected]

Colectivo Gai deCompostela: Entremuros, 16-baixo.Compostelatelefone:696-81-92-97 [email protected]

MIL-HOMES: Colectivo Gai da Corunha Apdo 24/15080 A Corunha telefone 636-53-97-76

ALAS:Colectivo gai de Lugo Apartado 170/27080 [email protected]

MENLACEX:Guia gai-lésbica galega Apdo.133/36900 Marim telefone: 627-945-198 [email protected]

CAFETARIA PLAFFOlivia nº 8Ambiente mixto

POPPER`SSerafim Avendanho 12 baixoAmbiente agressivo, con quartoescuro

ROY BLECKPorto nº12Local gai de Vigo por direito

CAFÉ BANANARua PortoLugar de espectaculos e festas

SPACEArealAfter da cidade com bom ambiente

CAFÉ UNIVERSALAfonso XIII nº 32Ambiente variado

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Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZA na capa 9

Se desde Mil-homes na Corunha contavam que em Santigose calhar for mais fácil, desde o Comité Gai de Compostelaasseguram que a sua cidade “já nom é o que era” ou quan-

do menos nom o que foi há três anos. O HS é a actual referênciado ambiente da capital da Galiza. Nele NOVAS DA GALIZA faloucom Ivám, um moço corunhês de 25 anos que leva quatro estudan-do em Compostela, e que ao longo destes últimos anos foi relaxan-do a sua implicaçom militante no Colectivo Gai de Compostela.Assegura “colaborar” no que pode e sempre que pode, mas tam-bém assegura que “as circustáncias agora nom som as mesmasque havia quando eu cheguei”. Lourenço, um santiaguês de 28anos pontualiza que o que aconteceu “é que o de há uns anos aquifoi um boom”. Uns anos em que em proporçom co número de habi-tantes e de locais reconhecidos como de ambiente Compostelanom tinha nada que invejar a Vigo, que historicamente foi a cidademais aberta da Galiza. Logo a cousa foi vindo a menos, segundoLourenço, e sucedeu que locais claramente gais começárom aapostar pola ambiguidade, e isto abriu as portas à penetraçom“doutras movidas”, doutros ambientes.No ar respira-se certa decepçom por umha esperança truncada.Sem saber a causa exacta, tanto Ivám quanto Lourenço denúnciama renúncia dalguns locais à hora de permitir que a bandeira doarco-da-velha fosse deixando espaço a outro tipo de movida, maisligada coas modas musicais ou o consumo de drogas de desenhodo que coa funçom social que a comunidade homossexual deman-da. Os dous jovens apostam claramente polos locais de ambiente,isto é, polos locais explicitamente gais, como coluna vertebral damovida homossexual. Nom existe contradiçom segundo o seu crité-rio com apostar por umha maior toleráncia no conjunto dos locais,mas o ambiente cumpre umha funçom: tanto de reforço quanto deponto de encontro. Ivám explica que háduas Compostelas. Umha “tolerantee aberta”, que sai fundamental-mente pola zona velha, eoutra reacionária e conser-vadora, cuja movida sealicerça nas principaisdiscotecas doensanche. Oslocais de

Gais com orgulho

“Isto nomarmário gigante”

é um

ambiente suponhem um sitio seguro desde o queperder o medo, aceitar-te sem complexos tal ecomo es, e poder ligar “coa segurança de nomestares-lhe entrando a um homófobo”. A comple-mentariedade das duas estrategias pom-na emevidência a própria actividade do Colectivo Gai deCompostela, que desenvolveu umha campanhaem favor da toleráncia cara gais e lesbianas noconjunto dos locais da cidade ao tempo que ela-borava e impulsionava a Guia do AmbienteCompostelano. Mas isto foi há dous anos.Lourenço esta nom certo de que muitos doslocais que entom assinvam o figessem hoje. Namaioria deles o ambiente ficoureduzido à inércia da gente ou aorenome que conseguirom, maso certo é que cada vez seenchem de mais genteque “nom enten-de”. Fala-se deconquis-tar o ocio.De rela-cio-nar-seem liber-dade. Porisso Ivám

sentência que “nós necessitamos locais nos quepodermo-nos conhecer e relacionar sem proble-mas” lugares em que possitivizar a discriminaçomque “sofremos por parte da sociedade, conver-tendo-a em orgulho gai”. Como conclussom, nada melhor que o convenci-mento de Ivám: “eu nom sei se haverá por aimuitos supermanes dispostos a enfrentar-se emsolitário aos ódios e preconceitos que empapam asociedade, mas o comun dos homossexuaisnecessitamos divertir-nos e relacionar-nos semproblemas, ganhar confiança, conhecer pessoasna nossa mesma situaçom e unirmo-nos a elas,tirando da unidade a força para enfrentarmos atarefa de normalizar o resto da sociedade”. Deste

ponto de vista, os locais de ambiente baixonengum conceito som ghuetos.

Como nos dim no HS, “istonom é um armário

gigante: isto é umhabomba de relo-

jaria, umha olaa pressom”.

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Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZAopiniom10

Por razões fáciles de compreender, a atenção planetáriase tem concentrado nos últimos meses em um país daÁsia central: o Afganistão. Parece, porém, que, ao tempo,

e em outros cenários, se estão a desenvolver processos detanta ou maior importância que o citado. Dois deles destacamcomo claridade.

O primeiro não é outro que o que fala de medidas orien-tadas a acrescentar a repressão nas potências capitalistas

desenvolvidas. E falamos de acrescentar porque o fenómenoque nos ocupa não é, con toda evidência, novo. Antes mesmo do11 de setembro, e sem necessidade de ir muito para atrás, já sefizeram valer formidáveis fórmulas repressivas contra os movi-mentos contestatários da globalização neoliberal.

Os Estados Unidos são a ponta de lança da tendência men-cionada, que tem adoptado ante todo tres concreções. Em vir-tude da primeira, ums dias depois dos atentados de Nova Iorquee Washington o poder lexislativo renunciou a qualquer possibili-dade de controle das acções do executivo. Para além disso, eem segundo lugar, desde semanas atrás moram nos cárceresestadounidenses centenares de pessoas sem que contra elas seabrissem as preceptivas causas legais. Um derradeiro dato de

relevo sublinha a aparição duma legislação militar que, maisuma vez sem garantias, parece chamada a facilitar as accõescontra cidadãos não estadounidenses fora do próprio territórionorteamericano.

Mais, por menos visível, tal vez e maior a importância dosegundo processo. De forma silenciosa, em determinadoscenários de conflitos internacionais de longa trajetória se estão aproduzir mutações fundamentais. Os melhores exemplos são,probavelmente, os do Sahara occidental e a Chechênia. Noprimeiro desses dois casos, Nações Unidas parece decidida aretirar a sua missão e disposta a renunciar à organização doreferéndum de libre determinação previsto, desde muito tempohá, por uma resolução do Conselho de Segurança. O reino deMarrocos, beneficiado pelo silêncio internacional e pela necessi-dade estadounidense de premiar a colaboração dos aliados,parece en condições de fechar, sem disputas, uma crise que temjá mais de um quarto de século.

Não é muito diferente a situação na Chechênia. As autori-dades rusas conseguiram que as potências occidentais aban-donassem a sua actitude do pasado, moderadamente crítica doterrorismo de Estado desenvolvido por Moscova no Cáucasosetentrional. com a ajuda da propaganda oficial --que não dubi-da em identificar a toda a resistência chechena co discursoislamista mais radicalizado--, o presidente Putin parece pronto arematar com visíbel sucesso o genocídio que o conduziu, em1999, a um poder incontestado.

É preciso salientar que os dois exemplos invocados --emmodo nenhum são os únicos que satisfazem a condição quesegue-- estão a afortalar a posição de régimes manifestamenteimpresentáveis e alimentam poderosamente a lógica dosEstados frente às reivindicações de povos enteiros condenadosa desaparecer. Este é um dos vários feitos que obrigam a con-cluir que a direita mais conservadora está obtendo as maioresrendas da crise internacional deste outono.

Silenciosamente, A REPRESSÃO

Carlos Taibo

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Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZA analise 11

A N T I G LO B A L I Z A Ç O M

AGENDA INTERNACIONALPresidência da Uniom Europeia:

O 15 e o 16 de Março, cimeira de primavera dos chefes de Governo dos Quinze, em Barcelona.

Conselho de Ministros de Economia e Finanças (ECOFIN), protestos contra essa reuniom, em Oviedo, entre o 12 e o 14 de Abril.

16 de Abril, em Valência, Conferência Euromediterrânea com 27 ministros de Exteriores.

17 e 18 de Maio está convocada em Madrid a cimeira da UE com Latinoamérica e o Caribe, que concentrará 50 chefes de Estado.

O 21 e 22 de Junho voltará-se reunir em Sevilha, o Conselho Europeu.

Espanha deverá exercer a presidência de mais de 100 reunions.

Todas somos dacasa encantada

Simulamos hoje um campamento de refugiadas.Para nós é um único día (25 Novembro), umha vez aoano. Mas muitas mulheres levam anos (algumhas pas-sam toda a vida) coa casa às costas. Outras, de costasa sim mesmas, achárom nas suas casas o seu cárcere,muitas o seu silêncio, mesmo a sua tumba. As que maissorte tivérom fôrom aquelas que conseguírom sobrevi-ver contando historias, sonhando outros tempos e cons-truindo, nom apenas mas também coas palavras,utopias necessárias para continuar luitando. Nessas

narraçons costuma aparecer sempre umha casa dife-rente, um paraíso de liberdade onde nom existam asreixas, onde as portas sempre estejam abertas e ondeas armas sejam as palavras. Se há tempo em quemuitas mulheres já nom sonhamos com príncipes azuis,também rejeitamos as casas-castelo, casas-fortaleza,casas-segurança e casas-símbolo de bem-estar social eacomodo burguês. As mulheres sonhamos com outrascasas, sem lujos, sem apariências, casas das pequenascousas, onde o importante é a gente que vai e vem, oespaço e o ar, e sobretodo as cousas que se fam. Há jámais dum ano que tivemos a possibilidade de recupe-rarmos as palavras que o vento nos levou (como aPaula do conto que tivo que buscá-las para fazer a suaprópria história); o vento, esse elemento masculino quecoa força quer arrebatar-nos a razom, igual que há jáquase um ano, aproveitando a excusa do temporal, tirou

um muro que resistia o avançoo do tempo e funcionavacomo fronteira em que morriam as agressons e a vio-lência. Nessa pescuda, nesse processo de reencontrocon nós mesmas, buscando um outro mundo possível,essa utopia que nos fai avançar, a Coordendora Galegada Marcha Mundial de Mulheres foi objeto dumhaseduçom, dum encantamento, dum encontro coas suasraízes: a imaginaçom e a viagem, num caminho semretorno que seguiremos a OKUPAR coa nossa pre-sença. As mulheres sabem, sabemos muito de resistên-cia como maneira de luita. Mas neste caso cumpre algomais que resistir, é necessário acreditarmos no sonhoda Casa Encantada, o nosso próprio sonho.

Coordenadora Galega da Marcha Mundial dasMulheres.

Digérom que o presidência espan-hola da UE vai trazer a antigloba-lizaçom à Galiza. Leio-o nas pági-

nas dos periódicos habituais e imaginoauto-carros provenientes de Europaateigando Compostela da juventude e asconsignas de Seattle, de Praga, deGênova. Sei que nom acontecerá, mas aimagem nom deixa de ser curiosa. Qualé a distáncia exacta de Seattle aCompostela? Quem é que quer trazer aantiglobalizaçom à Galiza? E de onde éque quer trazê-la? Globalizaçom é uni-formizaçom de identidades, homo-geneizaçom de interesses, assimilaçomde diferenças. Alguém quixo insinuar quea antiglobalizaçom chegará à Galizaquando aterrem cá os antiglobalizadoresde estética globalizada e consignas eminglês?Durante demasiados anos houvo quemenarbolou a bandeira do internacionalis-mo sem atender à composiçom léxica dotermo. Inter-nacional é o que se dá entreas naçons, nom por riba ou à margemdelas. O contrário é imperialismo, quehoje se chama globalizaçom. O caráctermundial da antiglobalizaçom só poderesidir na coincidência de objectivos dapolicromia de luitas com identidades,estrategias, reivindicaçons e teorizaçonspróprias e genuínas. Nom na volta aomundo em 80 cimeiras dum movimentoinsensível à forma concreta como aglobalizaçom agrede às naçons deparagem. Se calhar há quem ansia ver a catedralde Compostela na CNN, como trasfundoépico do próximo enfrentamento entremonos-brancos e robocops. Nom sompoucos os que conhecem a trajectória deJ. Bové e ignoram a história dasComissons Labregas. Mas Galiza luitacontra a globalizaçom desde muito antesque Seattle fosse o nome dumha batal-ha. Desde há século e médio, contra aassimilaçom lingüística e cultural. Edesde que o nacionalismo existe comomovimento social, polos direitos dasminorias, contra o afastamento dos cen-tros de poder político e económico, emdefesa da terra, polos direitos das mul-

heres, etc. Algum galego com avoa podecrer que o posicionamento contra acomida-lixo seja umha inovaçom teóricada nova esquerda europeia? Tampoucoa acçom directa é património do movi-mento antiglobalizaçom, nem a defesado património florestal e a luita contra asmadeireiras nascêrom na Amazoniabrasileira. Na noite do 30 de Abril ao 1de Maio de 1988, umha acçom armadado EGPGC paralisou ENCE, ELNOSA eFINSA em Ponte-Vedra e Compostela.Nom me chistaria que a presidênciaespanhola da UE trouxesse a antigloba-lizaçom à Galiza. Gostaria de que omesmo acontecimento servisse paralevar ao mundo os ecos da nossa luitagenuína contra a globalizaçom, queantes se dizia imperialismo, e que aquise chama Espanha. Porque a globaliza-çom só é combatível desde o reforço daspróprias identidades culturais, económi-cas, políticas e sociais agredidas.Porque esse outro mundo nom é pos-sível desde a importaçom acrítica dosmovimentos e as luitas de moda.

Galiza por umha Europa alternativa,da classe trabalhadora, os povos e asmulheres.

A actual construçom europeia lideradapolos grandes estados sob a hegemoniaalemá, é contrária aos interesses da po-pulaçom excluída do controlo da riqueza(da classe trabalhadora, das mulheres, damocidade), dos povos, das naçons, dasculturas, do equilíbrio ecológico.

Este modelo de Uniom Europeiabenefícia basicamente as grandes empre-sas, as multinacionais, os bancos, o capi-tal financeiro e especulativo, as elites diri-gentes dos estados e as suas classes deapoio (burocracia funcionarial e a castapolítica gerada polas instituiçons). Aunidade económica e monetária emcurso, coa entrada do euro como moedaúnica e as cada vez maiores competên-cias do Banco Central Europeu, -respon-sável de dirigir umha política monetáriacomum carente de qualquer mecanismode controlo democrático-, vai-se traduzirno incremento do desemprego, noaumento da exclusom social, da pobreza,do trabalho eventual e precário, norecorte das liberdades e dos direitos cívi-cos, na reduçom da democracia e capaci-dade de controlo popular das decisonsadoptadas em Bruxelas, na perpetuaçomda opressom nacional e de género, anegaçom dos direitos colectivos dospovos, no aumento da xenofóbia e oracismo, na marginalizaçom da mocidadee na militarizaçom social.

O modelo em construçom pretendeconverter a UE na potência imperialistahegemónica do modo de produçom capi-talista, no principal motor da globalizaçom

capitalista e patriarcal que está conducin-do ao conjunto da humanidade face amiséria, o caos, e a sua auto-destruçompola grave crise ecológica e humana queestá destruindo o equilíbrio e supervivên-cia do planeta.

A UE tem acelerado a destruiçomda Galiza

A entrada do Estado espanhol na UEtem acelerado o processo de destruiçomdos sectores produtivos básicos daeconomia galega, traduzido socialmenteno incremento do desemprego, da pre-carizaçom laboral, no aumento dapobreza e na desapariçom dos modos devida tradicionais. As conseqüências dapertença da Galiza à UE tenhem sidonegativas para o nosso desenvolvimentoeconómico, aumentando a nossa tradi-cional dependência, convertendo-nosnum país marginalizado, subsidiado,envelhecido, numha imensa produtora decelulose, numha reserva energética(encoros e parques eólicos) e turística,cumha populaçom sem futuro, de pen-sionistas e opositores/as.

UMHA OUTRA EUROPA, UMOUTRO MUNDO, É POSSÍVEL

Galiza, 2002Plataforma Galega por umha EuropaAlternativa

A FENDA

ANTIGLOBALIZAÇOMDESDE GALIZA

Jorge Paços Meirol

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opiniom Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZA12

Eu tenho ouvido absoluto. Nota de piano, rasgada de guitarra, choque de pra-tos ou maçada de bombo que soe, distingo infalivelmente o nome da nota oua natureza do acorde. Sucessons, engarçamentos harmoniosos de sons nom

som para mim mais do que desfile de mínimas, semimínimas e colcheias. GarciaMarquez, grande melómano, revelou-mo graficamente de certa vez que lhe cantei oque eu julgava ser a sonata de Vinteuil de "À procura do tempo perdido" de Proust: asonata para Violino e piano de Cesar Franck, cujo começo é si dó# lá sol# fá# mi, dó#ré mi fá# sol# lá sol# fa# mi..! "Nom me amostres o esquelete da música"!, espetou-me o Gabo. Nom podia compreender que, igual que perante um Rubens os técnicosem pintura escrutam o grossor das pinceladas, eu indaguei a trama interna da divinaarte dos sons. De certo que instantes depois, tendo mudado de tema e instalados naliteratura, García Márquez contou os que e os cujo desbordantes num romance deautor esquecido.

Umha lenda do ouvido absoluto conta que Leopoldo Mozart levou certo dia o seufilho à Capela Sixtina escuitar o Miserere de Allegri. Durante o concerto, o meninhoprodígio escreveu a obra na aba do chapéu, burlando os mandamentos do Vaticano.Um outro compositor com ouvido absoluto foi o Camille Saint Saëns. Numha dassuas excursons polo Egipto, copiou na manga da camisa um canto de marinheiros doNilo, transformando-o na mais formosa melodia do seu Quinto concerto para piano eorquestra.

Nem todos os compositores nem intérpretes possuem esse dom dos deuses queé o ouvido absoluto. André Prévin e Nat King Cole ouviam umha nota isolada e ime-diatamente diziam "é um lá" ou "é um si bemol". E, polos vistos, também JessyNorman e Beethoven, o qual permitiu ao surdo genial continuar a compor apesar doseu achaque. Grandes músicos, comoVladimir Horowitz, esforçárom-se com obsti-naçom por atingi-lo, mas via de regra a cons-táncia apenas consegue o ouvido relativo. Umguitarrista pode discernir as notas da guitarra,um clarinetista as do clarinete e assim pordiante; enquanto que, como dixem, o ouvidoabsoluto percebe até as das buzinas de bici-cleta.

As posse do ouvido absoluto nom é garan-tia da qualidade de umha obra ou do mérito deum músico. A maioria e dos mais grandes,carecem dele. Di-se que o Arthur Honegger,notável compositor, invejava-o à sua mulher,boa pianista.

Para se declarar o ouvido absoluto, bastacom dous requisitos, ambos os dous indis-pensáveis: instrumento desde a meninice. Aonom saber música, muita gente ignora aposse de tal dom, pois se bem situa as notasno seu lugar certo, é incapaz de dar-lhesnome. Também nom basta com que ponhamalguém perante um teclado na idade idóneade cinco anos. Deste jeito, a criança podechegar a ser um exímio intérprete, como opianista que inclui Camille Saint-Saëns noCarnaval dos Animais, mas nom por isso atin-ge fatalmente a graça celestial do ouvidoabsoluto. A predisposiçom psicológica énecessária, mas nom suficiente. Do mesmomodo que o exercício físico quotidiano desen-volve a musculatura, esta faculdade inatapatenteia-se e aumenta coa prática intensivade um instrumento. E sobretodo coa aprendizagem de um código: o solfejo.Resumindo, que em você, leitor órfico ou musicalmente analfabeto, pode dorminharo ouvido absoluto sem você reparar.

Tenhem-se efectivado estudos relativos a este fenómeno. As estatísticas indicamque o instrumento que melhor o provoca é o piano, nomeadamente se for estudadoo método moderno de tocar e cantar notas ao mesmo tempo. Quer dizer, o solfejoaplicado e nom recitado, como em docências antiquadas.

A referência para o ouvido absoluto rumada para temperar vozes e instrumentos,é o diapasom universal, estabelecido em 1859. Consiste numha lámina de aço dobra-da em forma de forquilha com pé. Quando se fai soar a 20º de temperatura emite 440vibraçons por segundo, que correspondem ao lá da terceira oitava do piano; ou maissingelamente, ao som que se ouve ao ligar o auricular de um telefone. Orabém, mui-tos directores de orquestra, instrumentistas, cantantes, afinadores, co pretexto deretorno ao passado, brilhantez ou originalidade, dérom em mudar o diapasom.Sobem-no ou fam-no descer meio, ou inclusive um tom. Justificam que a música

barroca foi escrita baseando-se noutros diapasons. É certo, mas nos séculos XVII eXVIII os músicos viajavam pouco e nom existiam gravaçons. Cada compositor atin-ha-se ao diapasom do seu meio musical. E assim Bach, cujo sistema auditivo sofriapor tanto sarilho, transportava de tom as cantatas e outras partituras cada vez quemudava de protector e de cidade. Porque igual que nom se pode modificar a nature-za do metro (dezmilionéssima parte do quadrante do meridiano terrestre que passapor Paris, como nos ensinárom no bacharelato), e que nom podemos falar em pal-mos ou em toesas sem dar cabo do sistema métrico decimal, também nom se podealterar o diapasom sem graves conseqüências.

Em 1968, reuniu-se na Academia do Morzarteum de Salzburgo umha comissomformada por representantes de sete países europeus, musicólogos, intérpretes, fabri-cantes de instrumentos, representantes de rádio e televisom, bem como da indústriado disco. Decidiu-se ratificar a freqüência do diapasom em 440 Hz a 20º.Recomendou-se aliás que os governos adoptassem medidas destinadas à aplicaçomdesta decisom. Apesar de todo, por interesses conjuntos dos críticos literários comoo francês Réné Dumesnil e de alguns tenores famosos que por preservarem a vozpreconizam um diapasom mais baixo, reanudou-se o assalto contra o diapasom ofi-cial. Assim, embora a música barroca nom exista, senom que existe a clássica e pron-to, a Obertura de Dom Joám de Mozart sai em mi bemol maior. De modo que quan-do escuitarmos a Sonata de César Franck (o exemplo que dei antes), em lugar de si,do# lá sol# fa# mi... aos que temos ouvido absoluto sai-nos dó ré si bemol lá sol fá...o qual nom é para nada o mesmo, nom tem nada a ver, co que quijo exprimir CésarFranck nem coa melodia sine materia, por assim dizer, que tanto alargava a alma aoMarcel Proust.

Entom, a um entra-lhe a dúvida: estarei aperder o ouvido absoluto? E a perplexidadeestende-se a todo o repertório musical.Escuito umha obra nova, reconheço as notas.Mas serám as mesmas que escreveu o com-positor ou subírom-no-las ou figérom-no-lasdescer de tom? Reparám vocês de que nosestám a puxar do tapete e já nom nos pode-mos fiar nem da música? Segundo o professorChouard, chefe do serviço de otorrinolaringo-logia do Hospital Saint Antoine de Paris, certoscasos de vertigens paroxísticas e de pertur-baçons do ouvido interno podem provir damodificaçom de composiçons tam conhecidasque já as temos integradas no nosso sistemaauditivo e emocional.

Será possível que os sociólogos da globa-lizaçom, quando resumem umha quantidadede factos culturais ou quando prognosticamacontecimentos mais ou menos tremendos, ofagam sempre a partir de bases económicas,filosóficas ou, a mais pedir, literárias? Nuncase ocupam dos sintomas musicais, ignorandoque podem ser os mais decisivos.

Para os pré-socráticos, Deus é um som. Apartir desse primeiro elemento e ao surgir amúsica das esferas, estruturou-se o caos.Qualquer modificaçom desta ordem sideralcomporta conseqüências incalculáveis.

Seis séculos antes da nossa era, Pitágorasdescobriu que o som estava submetido a leise proporçons matemáticas e propujo queesses mesmos números ese aplicassem a

outras manifestaçons do universo, as marés, as quatro temporadas e inclusivamenteo equilíbrio e os conflitos da alma humana. Dixo-o pouco depois de Platom na"República": "O espírito revolucionário insinua-se muito facilmente através da músicasem que darmos por isso, como se fosse um jogo. Incrustando-se aos poucos, pene-tra gradualmente nos costumes, e dali, reforçando-se, passa aos assuntos privados,chega com grande insolência e enorme descaramento até as leis e à Constituiçompública, terminando por pôr o mundo ao revés".

Felizmente, nos conservatórios continua-se a ensinar a música co diapasom ofi-cial de 440 Hz, de maneira que surgirám novos ouvidos absolutos bem afinados. Ora,o que antes era um dom dos deuses, nom tornará numha desgraça que impida oselegidos de acederem a essa sensaçom que Leibniz definia como "o cálculo incons-ciente da alma"?

O que cabe exigir agora coas gravaçons, CD, discos e concertos, é que polomenos se indique em que diapasom é que estám gravados ou executados, como sefai coa data de caducidade dos iogurtes. Para sabermos a que ater-nos.

mudam-noso diapasom

TEXTO: Ramom Chao

ilustraçom: Xoán Carpente López

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Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZA14

A Associaçom Galega da Língua (Agal)cos seus 21 anos de trabalho, os manuaiseditados e os cursos e actos que organizoufoi decissiva para recolher e actualizar olegado reintegracionista. A ela devemos o"Estudo Crítico" o "Prontuário Ortográfi-co", a "Guia de Verbos", imprescindíveismanuais para quem deseje escrever correc-ta e cientificamente o nosso idioma. Nestaentrevista falamos co seu novo presidente,Bernardo Penabade Rei.

Quais som as razons que o levárom a impul-sionar umha nova directiva para a Agal?Foi um acaso de última hora. Pensamos apre-sentar umha alternativa para a renovaçom numacto de homenagem a Carvalho Calero cele-brado em Ferrol, isto foi um Sábado e naQuarta-Feira já tinhamos pronta a candidatu-ra. Esta iniciativa espontánea foi possível por-que existia coincidência geral na necessidadede introduzir mudanças no sistema organizati-vo da associaçom. Umha razom bem concreta.

Qual é o papel no presente e no futuro daassociaçom?Numha linguagem politicamente correcta,imagino que devera dizer com grandiloqüên-cia que "a Agal dispom-se a assumir adirecçom do movimento reintegracionista".Essa nom é a nossa pretensom. Hoje existemdiversos colectivos reintegracionistas comactividade regular e organizados segundovários critérios. Com todos eles -respeitando amútua independência- queremos um dialogoprofundo, para estabelecer acordos gerais epontuais. Nom temos nengumha vontadeexclusivista.Quanto aos objetivos fundamentais da Agal,

às suas publicaçons e actividades científicas,esta nova etapa nom vai supor nengumhamudança. A ediçom da revista Agália, a orga-nizaçom de congressos e a publicaçom deobras literárias e ensaísticas som umha priori-dade assumida unanimemente.

Estes meses falou-se do cámbio de rumo den-tro dos sectores oficialistas do galego. Poréma Agal nom foi convidada aos debates. Qualé a vossa posiçom a este respeito?A Agal nom foi convidada às negociaçons.Conheciamos alguns rumores, mas a consta-taçom tivemo-la só quando saltou à opiniompública, concretamente nos primeiros dias deSetembro.. Comunicaçom formal destesencontros ainda nom a tivemos hoje.Evidentemente este foi um grave erro de pro-cedimento, que implica umha minusvalori-zaçom do reintegracionismo. Em conseqüên-cia, nom chegou a produzir-se um debate emprofundidade e o que poderia ser um"Consenso" ficaria -de se ter aprovado- em"reforma". Nom é o mesmo, sem dúvida.Ainda nestas circunstáncias, reiteramos a totalpredisposiçom para o diálogo. Todas aquelasinstituiçons e colectivo sociais comprometidoscoa galeguizaçom tenhem na Agal um interlo-cutor firme. E nom me refiro só a grupos rein-tegracionistas. É possível -e necessária- acolaboraçom, com independência de que a suaorientaçom seja mais, menos ou nada reinte-gracionista. Por mais que, desde fora, se queraapresentar um distanciamento abismal, entreos colectivos sociais e instituiçons empenha-das coa causa da língua, as coincidências sommuito maiores que os desascordos.

Poderia Agal renunciar à sua opçom norma-tiva numha hipotética negocioaçom?Para que serve um processo de negociaçom, se

Bernardo Penabade Rei, Presidente da Associaçom Galega da Língua

"NOM TEMOS VONTADE EXCLUSIVISTA"Bernardo Penabade ReiLicenciado em Filologia Galego-Portuguesa pola Universidade deSantiago de Compostela, 37 anos,casado com dous filhos. Vive emBurela e imparte docência no I.E.S“Vilar Ponte” de Viveiro.

Associaçom Galega da LínguaAno de fundaçom: 1981Mais de trinta livros publicados. Des-tacam a ediçom do Estudo Crítico,obras de Guerra da Cal, CarvalhoCalero e Jenaro Marinhas del Valle,assim como a Revista Agália.

as partes nom estám dispostas a "renunciar" anada? Quando se der esse caso, que eu creioque terá que chegar, os reintegracionistas quenos representem serám tolerantes cos interlo-cutores e deverám ter o suficiente dinamismopara procurar os pontos de encontro. A onde sepoderia chegar? É dificil precisá-lo, sem con-hecer a predisposiçom dos representantes dooutro posicionamento.Olho que a "opçom normativa" nom é a nossareivindicaçom mais importante. Estám tam-bém em jogo a liberdade de expresom, o inter-cámbio bidireccional da produçom bibliográ-fica, o fomento das relaçons artísticas e asso-ciativas a nível galego-português e a elimi-naçom de fronteiras para os meios de comuni-caçom. Noutras palavras: se se suprime a cen-sura nos prémios literários e nas ajudas à pro-duçom editorial e se temos facilidades paranos formar com livros, revistas e meios danossa área cultural, evidentemente estamosobrigados "a mover peça". E faremo-lo commuito agrado. Teremos que renunciar ao usodos máximos em determinados ámbitos?Pois... nom seria o fim do mundo.

Como vés o futuro do idioma?Vejo-o com grande optimismo. Os colectivosmais dinámicos estám comprometidos co idio-ma e , particularmente, entre a mocidade urba-na está deixando de ser testemunhal.Nestes vinte anos o reintegracionismo trans-

formou-se notavelmente, atingindo umharepresentatividade social da qual careciamosnos oitenta. Que o espanholismo está mais"armado" que nunca? É certo, mas se somos

capazes de nos organizar e de procurar umhamínima unidade de acçom, tenho a certeza deque se reflictirá num importante avançosocial. Desde a nossa associaçom o seguirexistindo nas circunstancias de severa censuraem que trabalhamos, resistir todo este tempo éjá de por si umha pequena heroicidade. Hojesomos umha associaçom cívica com um míni-mo pratimónio económico, mas temos o regul-ho despossuir um extraordinário capital inte-lectual, grande parte do qual se deve ao entu-siamo e à firmeza de muita gente, nomeada-mente da nossa anterior presidenta, Maria doCarmo Henríquez.

"se se suprime a censura

nos prémios literários e

nas ajudas à produçom

editorial estamos obri-

gados a mover peça"

Texto: Ramom Gonçalves

colóquio

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Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZA 15ideias

A tradição hermética (I)

Texto: Tomé Martins

Os carros de vacas, espécie em extinçom? Pode-sedizer que sim. Quem roça hoje tojos e prepara duasjugadas de vacas? Quem carrega e preme um carrode tojos de quatro metros de alto?Que a sociedade mudou desde o 1900, é obvio.Nom seremos nós quem digamos que há que voltaraos jeitos de vida de há cem anos, más sim quere-mos propor esta estampa de um agricultor de princí-pio de século para admirar a sua actitude, a suavestimenta e o colossal do seu trabalho.Seleccionamos este postal histórico por todo opoder de evocaçom que possui umha imagem,naquela altura quotidiana, que conformou a idiossin-crasia produtiva do nosso agro.

memória

Postal propriedade da Fundaçom Mendinhooriginal a branco e preto, tamanho 105 x 145 mm,

datado apoximadamente em 1900

visual

Galiza sempre foi de interesse para os arqueologos da pre-história. No fundo dos seus vales, nos ciumes dos seus montesou a pé de costa, atopam-se algumas das testemunhas rupestres mais salientáveis da Europa; são os petroglifos.

Os petroglifos são gravuras feitasna superficie das lajes em temposprehistóricos. Se gundo alguns a

origem dos mesmos haveria que busca-lana idade do bronce. Seja como for, apósas investigações feitas polos pre-histo-riadores europeus, ainda não houvo con-senso respeito a datação desta manifes-tação. Mas, ainda que haja um valeironeste senso, a maioria dos especialistaspensam que os petroglifos pertencem auma data muito anterior à idade dobronce. Segundo esta concepção doproblema, os petroglifos europeios emgeral e os galegos em particular, haveriaque ubica-los entre o 6000 e o 3500 a.C;e dizer, entre o Mesolítico e o tempo dosmegalitos, ou Neolítico.

Muitos pesquisadores baseam estaconclusão nos estudos geológicos rela-tivos à erosão das rochas antigas.Supom-se que quanto maior seja aerosão dos sulcos, mais antigo é o acha-do rupestre. Sabe-se ademais que os pe-

troglifos tiverom um aspecto distinto aode hoje. Na sua origem, as gravaçõesdeverom de ter sulcos de maior profundi-dade. Só depois de passados váriosséculos a erosão encarregaria-se dedifumina-los ligeiramente chegando aténós sob a forma dum complexo rupestrecom sulcos suavizados por uma abrasãoambiental de miles de anos.

A mensagem oculta dos petroglifossegue a ser um mistério de dificil re-solução. Após mais dum século depesquisas, ainda desconhece-se oporque da semelhança dos petroglifosgalegos e europeios, com os americanos.Também desconhece-se qual é o signifi-cado dos mesmos, mas intue-se qual arazão de que os mesmos desenhos serepitam com asiduidade ao longo da his-toria da humanidade até bem entrada aIdade Meia. Possivelmente este feitodemonstra que na realidade ficamos pe-rante a perpetuação duma tradição her-mética na que os simbolos petroglificos

vem-se reproduzidos de novo no medioe-vo com seu significado original, possivel-mente de carácter mágico-esotérico. Eisa razão pola que os canteiros assinam aspedras das igrejas e catedrais comdesenhos iguais aos gravados séculosantes polos canteiros pre-históricos daGaliza.

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Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZA16 feminino

O teu achegamento ao nacionalis-mo produze-se na emigraçom.Como acontece?Todos os domingos, em Miramarescuitava Radio Carve de Monevideoo programa Sempre en Galiza. Essaaudiçom nom a perdia por nada domundo. Eu daquelas, únicamentenecessitava que alguém me desse oempurrom. Eu já era nacionalista, masninguém me nomeara como tal ainda.No ano 1959 trasladei-me a BuenosAires, lembro a data pola revoluçomcubana. No centro Galego encon-trei, por casualidade a Luís Ares, queera o bibliotecário. Foi o pai que euteria gostado de ter e um mestre queeu tivem. Mercê a ele tivem acesso aRosalía, a Cabanillas mas sobretodo aCastelao. Animou-me a escrever tam-bém em galego e começou a apresen-tar-me gente. Ali conhecim poetas,conhecim Blanco Amor, Suarez Picalloe também ali conhecim, o que logo foio meu companheiro Casal, umhomem que nom fazia partidismo,fazia nacionalismo. E realmente essefoi o meu despertar, esse golpe queche tenhem que dar.

Esse despertar na emigraçom cam-bia a vida de Luz?Fijo-me sentir importante. Sentim-mepessoa, sentim-me eu. Propugem-menom ler nada em castelhano mentreseu nom pensasse e sonhasse emgalego. A mim deu-me resultado.Tratava deste jeito de interiorizar oidioma que me estivérom negandodurante tanto tempo. Depois sim,depois lim muito, também em castel-hano, mas quando já pensava e son-hava em galego.

Quando voltache?Volvim à Galiza no ano 79. Eram tem-pos difíceis mas compensava. Eusaim da Argentina no 64 e fum a Paris.Desde ali vim de férias e trouxem oSempre en Galiza de Castelao. Passeio livro, mas também cumha image doapóstolo marcando a folha. Ateia con-vencida, mas as cousas eram assim.Pudem emprestar-lho a muita gente erecuperei-no porque para mim eraimportante, porque foi um refúgio naminha emigraçom. Quando chegasencontras-te sem amigos, semfamília... mas nom durou muito essasituaçom. Aginha comecei a encon-trar-me com muita gente que me sur-prendia, entre eles Roberto VidalBolaño que segue a ser um grande

amigo e quase um filho. No 78 volve omeu companheiro Casal que regressade USA onde estava. Quijo que eufosse com ele, mas USA é o útimopaís onde eu iria. Nom fum. Afortuna-damente regressou.

Na Galiza ja, começa a militámcia.Entrei na AN-PG, de seguido na UPG,mas pouco durámos. A mim quandoentrei na UPG, parecia-me que erapara toda a vida, mas no ano 81expulsárom-nos. Cada quem levou oseu. A uns expulsárom-nos por revi-sionistas, outros por espanholistas... Amim porque nom era avondo comu-nista, e agora ficam-me tam, tam adireita.Felizmente agora estám-se posicio-nando. Alegro-me, porque tirárom acarauta. E eu sei onde estou, e nomrenuncio ao independentismo, nem ànaçom galega, nem aos principioscomunistas. Nom lim o Capital nem oManifesto, mas a minha vida é real-mente a dos povos assobalhados, e avida fijo-me comunista.

E o futuro como o vê Luz?Tenho absoluta confiança na juven-tude. Temos uns moços e moças queestám trabalhando mui bem. A minhavisom é sempre optimista. Tenhomuita fé na juventude e sei que elafará da Galiza um país livre. Serámelas as que vejam o país libertado.

“Sei que a juventude faráda Galiza um país livre”

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Luz

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escritoraOs livros som e fôrom durante a emi-

graçom o refúgio de Luz Fandiño.Fôrom e som também o seu alimento eo seu motivo de viver. A escritura man-tém-na viva. Os seus trabalhos, todos

inéditos, mas cumha cuidada encader-naçom para ficarem para a memoria.

Através da poesia Luz expressa os seussentimentos íntimos.

livros inéditos“O espertar dunha ialma,

o rexurdir dunha patria”“Lingua de trapo”

“Na miña fala”“Nas azas do vento”

“Des épines et des pensèes”“Des épines et des pensèes II”

Luz Fandiño

Texto: Marta Salgueiro

Assim é Luz Fandiño. Militante da AN-PG, e da UPG, partido do que foi expulsa no ano 81 por “poucocomunista”, Luz vê agora que aqueles que a expulsárom ficam-lhe “tam à direita”. Actualmente mili-ta na FPG e na CUT. Emigrante na Argentina, esta mulher sabe bem o que significa para um país aemigraçom. Mas também no país do Río de la Plata Luz, conheceu Galiza. Na distáncia achegou-seao nacionalismo. No 79 regressa à Galiza definitivamente. Baixo o braço, um exemplar do Sempreen Galiza de Castelao, isso sim, cumha imagem do Apóstolo. Luz Fandiño acheganos as suas vivên-ciass e as suas inquedanças.

Nacionalista de coraçom, impulsiva, optimista e cumha forte crença no futuro

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Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZA 17em rede

Sabemos quanto custa a pobreza?Sabemos quanta tecnologia pode

absorber pola epiderme? Agora já sabe-mos. Se as regras dim que: "os portáteisnom podem habitar as castas baixas deCalecut nem toda Índia, nem Bangladesh,nem África inteira", entom troquemos asregras. Isto é umha lei da Microsoft, nadanovo, mas esta regra nom explicitada dique "se nom podes coas regras, troca-as"e parece que esta iniciativa usando a leimultinacional tem de se aproveitar destavantagem.

Com efeito o "Simputer" é umha alter-nativa portátil de custo baixo comparadocom os PCs e que som parte dum projec-to de educaçom que se está fazendo naÍndia, para integrar tecnologia e edu-caçom num todo. Tem um papel especialeste dispositivo ao contar com funçonsdos Palmtop ou computadores de palma,agendas pessoais. Como este dispositivoé curiosamente para a pobreza tambémintroduz o factor pobreza nas suasfunçons ao nom ter instaladas achamosque no próprio hardware todas as dosseus irmans ricos.

A chave na sua construçom foi querercriar um artefacto que sirva para construirumha ponte sobre o foxo digital entreNorte e Sul. Para isto os simputer permi-tem relaçons de usuário verdadeiramentesimples e naturais baseadas na vista, notoque e no áudio.

O Simputer contém um browser quetem umha língua de marcagem da infor-maçom (IML), mais um filho do estándarde marcagem de textos (SGML) que deulugar a novos padrons como o XML (deamplo uso na actualidade para desenvol-vimentos web), WML (para telemóveis),

etc. IML foi criado para fornecer umhaexperiência uniforme aos usuários e parapermitir o desenvolvimento rápido dassoluçons em toda a plataforma, co qual sepoderám fazer aplicaçons em menostempo. Tempo contra a pobreza.

O custo projectado do Simputer ésobre 9000 rúpias em volumens grandes.Mas mesmo isto é além dos meios damaioria dos cidadaos índios. Mas paraisso estám os cartons que permitem oSimputer de ser compartilhado por umhacomunidade. Umha comunidade local talcomo o "panchayat" da vila, a escola davila, um quiosque, um carteiro/a da vila,ou mesmo um empregado de loja devepoder emprestar o dispositivo a quemquiger.

A história do projecto Simputer foi con-cebido durante a organizaçom da "VILAGLOBAL", um seminário internacionalsobre a tecnologia da informaçom parapaíses do Sul e foi conduzida durante oevento de Bangalore IT.com em Outubrode 1998. Houvo umha discussom na quese pujo em destaque a necessidade dumdispositivo maciço de custo baixo quetrouxesse a educaçom a meio da tecnolo-gia a todo o mundo. Coa finalidade deestabelecer umha certa originalidade,criou-se um acrónimo ligeiramente maiscomplexo Simputer: Com-puter simples,barato, multilingual.

Eis o resultado, pobre computadorcontra pobreza absoluta, mas começo dorache tecnológico entre as camadas maispobres da Índia, porque nom esqueça-mos que a Índia é umha potência mundialem tecnologia, tecnologia de ricos, tecno-logia com funcionalidades ricas.

Tecnologia pobrepara a pobrezaJosé Ramom [email protected]

conselhosAbrimos esta secçom, num primeiro número no que oferecemos endereçoslusófonos para estarmos prontos a navegar na rede dentro da nossa comu-

nidade linguística e cultural

@

Associaçom Civil "Amigos doIdioma Galego" (Buenos Aires)http://www.adigal.org.ar/

Sítio da ADIGAL, umha associaçom deemigrantes na Argentina, que trabalhaimpartindo cursos de língua em BuenosAires. Dispom dumha biblioteca na Fe-deraçom de Sociedades Galegas e edi-ta o boletim linguístico-cultural ADIGAL.

Portal da Lusofoniahttp://portal.com.pt/

Completo portal que liga comunidadeslusófonas de todo o mundo. Dispom devárias canles para os países membrosda CPLP, e umha ligaçom à Galiza nacapa (conexom com Vieiros). Permite oacesso a jornais e rádios em português,assim como a outros portais temáticos.Pertence à agência de notícias por-tuguesa PNN.

República Cultural Lusófonahttp://www.terravista.pt/ilhadomel/1899/

Amplo sítio que tenta achegar-nos àrealidade da lusofonia, em defesa dasolidariedade. Inclui umha amplasecçom sobre a Galiza. Ofereceespaço para comunidades, foros dediscussom, notícias e umha interes-sante biblioteca.

Agora ou Nunca. Revista galegae portuguesa de literatura

http://www.terravista.pt/Enseada/6172

Dispom dumha ampla biblioteca de tex-tos de autores galegos e portugueses,permitindo liberdade normativa para aGaliza. Permite colaboraçons e tendepontes culturais. Dirigido por AntónioPedro Marques, aporta aliás recursosliterários para a rede.

NON! Cultura & Intervençãohttp://zonanon.com/entrada.html

Publicaçom portuguesa que se apre-senta como revista crítica de opiniom,artes e ideias. Aporta debates sobretemas de actualidade, informaçomalternativa, artigos de opiniom... Comparticipaçom galega na listagem decolaboraçons. Editada por Rui Bebiano,tem a sua sede em Coimbra e publica-se desde 1996.

Comunidade dos Países de LínguaPortuguesa (CPLP)http://www.cplp.org

Sítio oficial da CPLP. Inclui informaçomsobre os países membros, a sua histó-ria, umha base documental, infor-maçom a respeito das reunions, osdiferentes eventos, e a ediçom digitaldo seu boletim. A Galiza nom tem pre-sença, mas dispom dum correio elec-trónico para solicitar a nossa adesom àComunidade. Costumam responder àspropostas que lhe som enviadas.

Recursos linguísticosCursos básicos de língua

(http://members.es.tripod.de/lingua/escrita.htm)

Cursos de língua do Movimento Defesada Língua (MDL). Permite a aprendiza-gem tanto da normativa da AGAL quan-to do português padrom. Óptimo paraquem quiger iniciar-se na escrita dogalego reintegrado.

Ciberdúvidas da LínguaPortuguesa

(http://www.ciberduvidas.com/body.html)

Muito aconselhável. Orientado poloConselho Científico da Sociedade daLíngua Portuguesa. Dispom deaclaraçons a dúvidas comuns sobre alíngua, espaços próprios para os dife-rentes países lusófonos, e permite for-mular perguntas que som respondidasem breve.

Gramática da língua portuguesa(http://www.gramaticaportuguesa.com)

Estudo ameno de aspectos gramati-cais, numhas páginas orientadas peda-gogicamente. Desde o Brasil.

Dicionário Universal daLíngua Portuguesa

(http://www.priberam.pt/DLPO)

Útil dicionário que reconhece formasflexionadas, permite conjugar verbos,dispom de corrector integrado e podeser usado desde qualquer página.

Dicionário Porto Editora(http://www.portoeditora.pt/dol)

O dicionário que aporta maior léxico,com mais de 600.000 palavraspesquisáveis, perto de 235.000 defi-niçons, expressons e frases-exem-plo. Também permite conjugar ver-bos e aporta diferentes ferramentaslingüísticas.

Carlos Barros

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Fevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZA18 cultura

O CENÁRIOPraticamente toda amassa do SistemaSolar está concentra-da no Sol (99.85%).Os planetas contêmapenas 0.135%,mentres que 0.015%restante pertence asatélites, cometas,asteróides... Todosestes corpos giramem redor do Soltraçando órbitasaprox imadamenteelípticas - estas nãosão elipses perfeitasdevido às pertur-bações produzidasfundamentalmentepelos planetas,sobretudo pelo gi-gante Júpiter. Destarte, na vizinhançada Terra orbitam infinidade de aster-óides, meteoróides (objectos dediâmetro relativamente pequeno, uns10 m ou menos) e cometas que peri-odicamente atravessam a órbita daTerra.O efeito luminoso que se produzquando algum destes corpos entra naatmosfera denomina-se meteoro,mentres que o objecto que atinge asuperfície terrestre recebe o nome demeteorito.

COLISÕES NATURAISAté Julho de 1994, quando o cometaShoemaker-Levy 9 (SL-9), quebradoem vários fragmentos, bateu no plan-eta Júpiter, a discussão sobre estetipo de colisões estava restringida acírculos científicos. As imagenstomadas durante e depois doschoques, ao tornaren patentes seusdevastadores efeitos, fizeram pensara muitos na possibilidade de que algosimilar acontecesse na Terra.Não havia que ir muito atrás no tempopara achar uma colisão importante:em 30 de Junho de 1908 um cometade aproximadamente 50 m dediâmetro deslocando-se a uma veloci-dade de 30 Km/s explodia na regiãode Tungusca (Sibéria) assolando tudonum raio de 50 Km. Embora estefosse um impacto de muita menorenergia que o do cometa SL-9, aenergia liberada em Tungusca esteveentre 15 e 30 megatons, equivalenteà explosão de uma bomba atómicaactual - sem a radiactividade, é claro.Hoje identificam-se na superfície ter-restre várias crateras de diferentestamanhos originadas pelos impactosde asteróides e cometas recebidos aolongo da sua história. Assim, em 1990descubriu-se uma cratera emChixulub (México, perto da penínsulado Iucatão) resultado da queda, há 65milhões de anos, de um objecto de 10km de diâmetro que possivelmentedestruiu dois terços das espécies ani-mais, inclusive os dinossauros.Nos últimos anos foram-se desenvol-vendo diversos programas de procurade objectos celestes próximos à Terra

que poderiam chocar com ela algumdia, tais como SPACEWATCH,Spaceguard Foundation, NEAT, LIN-EAR e LONEOS.

LIXO ESPACIALEm 4 de Outubro de 1957 ahumanidade fez a sua humilde entra-da na grande dança dos corposcelestes ao pôr em órbita o primeirosatélite artificial, o Sputnik 1.Actualmente existem do ordem devários milheiros de objectos cataloga-dos que circundam o nosso planeta,muitos deles são apenas lixo espaciale, portanto, potencialmente perigosos.Na madrugada do passado 16 deSetembro de 2001 várias pessoasdesde diferentes lugares da Galizaavistavam um espectacular fenómenoluminoso. Num princípio tudo aponta-va para que elas tinham observadomais outro bólido, isto é, um mete-oróide de grande tamanho que sulca-va o céu de sudoeste a nordeste.Porém, no fim do mês de Dezembro,o professor José Ángel Docobo - doObservatório Astronómico R.M. Aller -, quem tinha levado a cabo apesquisa sobre a natureza destefenómeno, fez público um comunica-do em que se explicava a origem e atrajectória seguida: era a terceira fasedo foguete Soyuz FG que acoplou omódulo russo Pirs à estação espacialinternacional (ISS). O foguete foralançado às 01:35 (hora galega) do15/09/01 desde o cosmódromo deBaiconur (Cazaquistão). O que se viudesde a Galiza às 05:28 do dia 16durante 90 segundos foi a desinte-gração, provocada pelo atrito coaatmosfera, de um cilindro de dimen-sões 2.7x6.7 m e um peso de 2500Kg aproximadamente.Entrou no céu galego pela ria deMuros e Noia, passou entre Santiagode Compostela e Santa Comba, Sulde Ordens, Messia, Monte Salgueiroe Norte de Vilalva. Com uma trajec-tória muito horizontal, entre 30-40 kmde altitude, foi-se desintegrandodevagar. O último resto saiu cara aomar Cantábrico perto de Foz (vermapa).

NAS CORDAS

Pancho Álvarez (Do Fol, 2001)Há nomes que nunca serám suficiente-mente reconhecidos. Um deles é o dePancho Álvarez, que leva mais devinte anos trabalhando nas músicas deraíz do nosso país em agrupaçonscomo Na Lua, Matto Congrio, Tres oucomo componhente da banda deCarlos Núñez. Além de todo isso, temtempo para gravar-nos pequenaspeças em modestas produçons comofora Florencio, o cego dos Vilares, oucomo agora é o caso de Nas Cordas,onde Pancho é o protagonista quaseúnico dumha viagem que actualiza anossa tradiçom através dos instumen-tos de corda. Temas como o divertidoO cancinho do 127, ou a versom doMinué de Haendel podem ser se cal-har os mais impactantes dum muiinteressante disco.

HEPTA

Berrogüetto (Do Fol. 2001)Trabalho que pretende ser, muito maisque um disco, todo um trabalho cultu-ral assentado em três pilares:Berrogüetto, Sargadelos e GeorgesRousse, artista francês do que sepudo ver o passado ano umhaexposiçom no CGAC de Compostela.O grupo, convertido numha das maisimportantes referências da música deraíz do nosso país, continua a indagarna sua sonoridade, sem oferecergrandes diferenças respeito aos seusdous trabalhos anteriores, salvo empequenas excepçons como pode ser ofermoso Armenia, onde contam coaparticipaçom de Djivan Gasparian, umdos complementos à sonoridade dogrupo que Berrogüetto apresentaneste novo disco.

CONSTANTINO BELLÓN

X concurso de gaitas, Ateneo Ferrolán.2001A ediçom do ano 2000 de um dos maisimportantes concursos de gaita cele-brados no nosso país, "o Bellón", jáestá no mercado. Nele encontraremospeças de Pepe Vaamonde, ganhadordessa ediçom, do homenajadoHenrique Otero, acompanhado ao tam-boril por Fernando Dopico, e do restode finalistas do concurso, desde onovo Daniel Bellón, quem se impujo naediçom do 2001, até gaiteiros daArgentina e Venezuela

CONTRAVENTO

Fía na Roca (Ventura Discos. 2001)Umha das formaçons que menos sortetivérom na última década leva o nome

de Fía na Roca. Depois dumsoberbio álbum de debut egrandes críticas chegou umhaépoca obscura que provocou arenovaçom da formaçom. Nesteterceiro disco, publicado há jáuns meses, e reclamando o derei-to a realizar umha música dife-rente dentro da raíz galega, ecom identidade própria, encon-tramos a figura de SoniaLebedynski, à que conhecéramosco desparecido grupo Vai-teEmbora, e chamada a ser umhadas figuras da música na próximadécada. Novamente Xosé RamónVázquez é o responsavel damaioria dos arranjos e com-posiçons dos temas; entre os quepodemos sublinhar Baile dePandeiras, Indo eu, ou a popular-mente cantada en FerrolterraQuer que lle quer. Seria bonitoque a sorte fosse por umha vezjusta com esta formaçom.

RAIANOS

Trasmundi (Clave Records. 2001)Rosa Gayoso, Xosé ManuelFernández e Moisés Quintastardárom quase dous anos empublicar este disco desde omomento em que começáromeste trabalho, gravado, mestura-do e masterizado por JeanPhocas, o grande engenheiro dosestudos Elkar, que conseguereflectir um som cristalino nunstemas que recordam em determi-nados momentos as estéticasrealizadas a princípios dosnoventa por grupos do que entomse denominárom "novas músicas"co Meigallo que abre o disco ouVelocidade de Escape.

ALMA DE BUXO.

Susana Seivane (Do Fol. 2001)No nosso país nom se pode falardo mundo da gaita no passadoséculo sem incluir o nomeSeivane, e semelha que no actualpassará o mesmo depois de ver eescuitar o segundo disco dumhadas mais interessantes intér-pretes, no que Susana tambémse involucra no apartado da pro-duçom e no canto. Rumba paraSusi, Na terra de Trasancos, conKepa Junquera, ou a dobre ver-sión de Chao - Curuxeiras, a cár-rego de Susana e do seu avóXosé Manuel Seivane som algunsdos que se pode goçar no disco.

A STRONOMIA MÚSIC A

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Perigos do céunaturais... e artificiais!Manuel Andrade Valinho

Jesus Serrano

trajectória seguida polo foguete Soyuz FG

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ideiasFevereiro - Março 2002NOVAS DA GALIZA 19

Terra de músicos e navegantes, eisa melhor Corunha. Umha cidade for-mosa que este presente de cimentoprovinciano quer converter em clan-destina. Quer e nom pode. Corunha éum resumo da Galiza toda. As gentesde Antela e de Valdeorras parárom nobairro dos Malhos e da coirámia. Acosta da morte está na Agra doOrçám. O Ribeiro e a Terra Cháacham-se nos Castros.

Os melhores cantadores soltam agorja numha tasca de Monelos, OsBelés. Cesáreo, o dono, chegou coasua família há muitos anos da partede Peisaco, na terra de Bergantinhos.Os Belés -o melhor vinho da volta-, aresistir a especulaçom, entre grandesedifícios de cimento. Dentro osPeteras, mestres cascarilheiros,armam melodia até as seis da man-hám. E na parede pintada a figuradum gaiteiro dentrodum coraçom. Catorzevieiras rendem-lhehomenagem, às cos-tas a Torre de Hércu-lese, enquadrando o con-junto, a bandeira daGaliza. Pintou-na umrapaz há qua-rentaanos. Depois cruzou oAtlántico, botou meiavida na Argentina.Volveu a Monelos.Quando entrou polaporta e viu o seugaiteiro, molhou-se-lhea vis-ta. Só havia umcámbio, no sítio dabandeira da República,estava a branca e azul.

“Si canta mal nocante, si canta biencante fuera”. Esteletreito “espermicida de paixons”quijo expulsar a arte das tascas -can-tadores de Noia, Calexas deBetanços, funranchos de Vigo-, esubstitui-la por um presente provin-ciano de plástico e formica.

A formica nom deu entrado nosBelés. Os Peteras cantam comelegáncia e alegria: Pepe Repolotoca pandeiradas coas maracas(pode haver amostra maior de mesti-zagem?); os mestres Canosa, Vecese Fernando dam-lhe à guitarra; eNacho, Carlos e Alberte descobrem opoder das suas gorjas maravilhosas.Qualquer carnocho que por aqui paree pouse um chisco de sentimento,pode ser Petera também.

Cesáreo é o demiurgo, o druídaresponsável deste espaço deresistência das cousas bonitas. Apoçom mágica, as caldeiradas da suamulher Rosa, autêntico esplendorenxebre. Com tam grandes argumen-tos som quem de resistir as ofertasmilionárias dos construtores. “Euestou aqui bem, cantando cos meusamigos. Os milhons para os filhos, se

os querem”.Chamou-se antes bar República,

mas tivérom que cambiar o nome porum detalhe que aconteceu no 36, esubstituírom-no pola denominaçomda medida calé da bebida: o “belé”.

Cuncas de vinho para os velhos deMonelos que só che dam a maoesquerda. Vinho de elite para afinarbem as repicochas que chegárom daAmérica. Os Belés é também pontado icebergue do espírito rabudo doantigo concelho de Oça. Foi anexio-nado a Corunha em 1912 mas nuncarenunciou à sua identidade.

Contou-mo Jenaro Marinhas delValle. Em 1848 a raínha Isabel veu aCorunha pôr a primeira pedra da futu-ra estaçom do comboio. A obra esta-va na Cubela, já dentro dos límitesde Oça. A corporaçom municipal da Corunha

acudiu em pleno. “Iam vestidosimpecáveis com levita e chistera.segundo a moda de Paris. Chegou acomitiva real, erguerom-se as chis-teras, dobrárom-se as levitas emreverência, e súbito irrompeu umvelho com monteira, mandando fun-gueiraços a eito: Fora dai lambons!, aúnica autoridade no concelho de Oçasom-che os seus vizinhos”.

Era o alcalde de Oça que nom que-ria saber nem pouco nem muito desenhoritos. Tanta trifulca armou que omeninho que vinha a canda a raínha,o futuro Alfonso XII, começou achorar sem acougo. Só deu caladoquando o colheu no colo o crego deMonelos, que, por este detalhe, mar-chou a Madrid, como preceptor real.

Os Belés, tasca-resistente deMonelos, testemunho de cultura,elegáncia e vida. Poder “under-graund” abofé (a tasca ficou trêschanços por debaixo do nível daavenida). Revoluçom da gente. Rosae Cesáreo gaiteiros!, que nunca nosfalte o vosso alimento.

Rosa e Cesáreo:

Os BelésDemonstrar que a cozinha, o

bom gosto, a cultura culinária,o amor ao vinho e, em definiti-

va, por que nom, um certo hedonismogastronómico, é vital e nom é sóqüestom de poder adquisitivo, é opropósito desta secçom. Atendendo àdefiniçom dum conhecido meu queclassificava os comensais entre con-sumidores de produtos de "terreno" oude "curral", declaro-me já de entrada

como preferentemente de "terreno"com todo o que significa depredileiçom polos frutos da horta. Mastambém som pró-carne ou peixe, sóno único caso de serem de absolutaqualidade e libres de química na suaorigem. Certo é que nesta definiçom omeu conhecido, que nom amigo,esquecera os comensais que prefiremtodo o ano produtos do mar; essesque som capaces de diferenciardesde o primeiro bocado quandoumha pescada do pincho doCantábrico vem directamente da lonjaou passou algum tempo no frigorífico. Sentadas as necessárias premissas edeclaraçons de intençons; estamosnos meses de Fevereiro e Março,meses nos que a horta começa a des-pertar do seu necessário descansoinvernal. A ponto de se acabar osgrelos e as nabizas, diante nossaestá de novo o ciclo de vida, a pro-duçom na-tural cumha nova e incipi-ente primavera.O mês de Fevereiro está definido fes-tiva e gastronomicamente poloEntroido. Nas cozinhas reinam oscozidos a base de repolo, patacas eberzas, maridado com todos ossabores e produtos do porco. Querorecomendar e centrar-me especial-mente na combinaçom quase perfeitaque se dá no denominado nos guiasturísticos como triángulo do Entruido;por definiçom Verim, Laça, Viana doBolo, e Ginço conformariam os vér-tices hipotéticos desta figurageométrica. Nestas terras do leste ourensano àmagia da festa unem-se as excelên-cias gastronómicas do porco, reveren-ciado popular e paganamente emLaça na própria procisom de entruido.O frio essencial para curar e salgar umdos reis da nossa gastronomia, nomnos abandonará nestas festas e muito

menos nestes lugares. Baixas tempe-raturas que proponho sejam combati-das cumha boa Androia com cache-los; para estómagos resistentesestám as suas festas em Viana doBolo e Návia de Suarna, ambas cele-bram-se no Domingo de Entruido.Ainda que nos múltiplos restaurantesdeste triángulo festivo, poderá-sesaborear um bom cozido ou um apeti-toso cabrito assado, quase semprenumha boa relaçom qualidade-preço.Umha refeiçom resumo de todas as

festas gastronómicas dopaís nestes dous mesespoderia consistir em: repolocom cachelos e androia,cabrito com patacas as-sadas e, de sobremesa,orelhas de entroido ou quei-jo da Ulhoa com mel. Estaminha proposta culináriateria por força que ser rega-da cum bom vinho da D.O.Ribeira Sacra zona deChantada. Indispensável aposteriori umha boa sesta, apoder ser em companhia,para culminar, digerir erepousar tam suculento fes-tim. Ainda que eu, nomsendo home de sestas, anom ser em casa própria,tam só comeria o repolocom batatas e saboreariaum pequeno pedaço deAndroia; isso sim o bommencia nom o perdoaria. Já que todo prazer, incluído

o gastronómico, ao ser compartilhadoaumenta, fai-se imprescindível umbom e animado acompanhamento namesa, apropriado e à altura de tamfestivo mês e manjares.

G A STROMANIA

GA

ST

RO

MA

NI

A

Festa do Cozido. LalimDomingo anterior ao Entruido

Festa da Androia.Návia de Suarna

Domingo de Entruido

Festa da Androia.Viana do Bolo

Domingo de Entruido

Festa do Cabrito. Vilarinho de ConsoDomingo de Entruido

Feira do Grelo. As PontesDomingo de Entruido

Feira do Queijo da Ulhoa.Antas de UlhaÚltimo domingo de Fevereiro

Festa do Queijo.ArçuaPrimerio domingo de Março

Feira do Vinho. ChantadaSegundo domingo de Março

FESTAS

José M. Aldea

PE

RI

PL

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TA

SQ

UE

IR

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periplo tasqueiro

Xurxo Souto

ilustraçom: Celso Martinez Rodríguez

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