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Salvador Rosa A ninguém foge que o Partido Popular nom é umha associa- çom nom lucrativa que se man- tenha com as quotas da sua filiaçom, mas poucas vezes che- gam a desvendar-se os porme- nores do arrepiante sistema de financiamento irregular que o PP necessita para se perpetuar no poder. Entre relatórios e con- tra-relatórios, plasmaçom gráfi- ca do mediático conflito Palmou-Baltar, o realmente importante é a saúde do finan- ciamento. Após ter sido relega- do Cuinha, tudo indica que Rafael Louzán Abal é agora o principal financiador. E como sempre, as Deputaçons Provin- ciais som a via. PÁGINA 7 novas da Número 23, Outubro de 2004 Forças contrárias à Constituiçom Europeia organizam-se ENCE reconhece que a pressom social poderá impedir a insta- laçom da nova fábrica Pedem paralisar as expropriaçons de Porto Seco Reintegracionismo leva problemática galega ao Fórum Social Europeu Novas iniciativas juvenis no seio do independentismo galego Estado de Emergência, por Daniel Salgado Gerúndios, por Kiko Neves 23 número "Ainda nom aprendemos a deixar de ser racistas" A trama do financiamento irregular do Partido Popular Redacçom A aterragem da multinacional Carlyle no Estado espanhol pro- duzia-se em Julho de 2001. Desde entom fôrom muitas as vias de expansom financeira que estudou, conseguindo afinal adquirir a empresa galega Saprogal, fabri- cante de raçons da conhecida marca Biona. Nada do outro mundo se nom fosse Carlyle um importante grupo de investimen- tos no sector armamentista com familares de Bush e Bin Laden à cabeça. Para o NOVAS da GALI- ZA nom é motivo de orgulho que capital galego contribua para financiar os projectos genocidas de tam sinistros personagens, mesmo que fosse em troca de ser- mos nomeados no próximo docu- mentário do Michael Moore. PÁGINA 13 Sole Rei A Associaçom Galega de Antropologia (AGANTRO) nas- ceu em 1993, visando a difusom na Galiza de umha disciplina que fornece dados de enorme interes- se para o conhecimento das socie- dades que dificilmente seriam obtidos de outro modo. Este ano, nom podia ser menos, foi o do Xocas, ilustre etnógrafo ao qual esta associaçom quer restaurar a sua importáncia como alicerce das investigaçons antropológicas na Galiza. Também é o terceiro ano dos Obradoiros Abertos, que pretendem atender certas necessi- dades da sociedade do ponto de vista das achegas da Antropologia. Disto, da imigra- çom, da situaçom da mulher, da comunidade cigana e de mais cousas, fomos falar com Mariám Marinho, da AGANTRO. PÁGINA 15 Os Bush e os Bin Laden, no mercado galego com Carlyle Entrevistamos Mariám Marinho, da Associaçom Galega de Antropologia

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Salvador Rosa

A ninguém foge que o PartidoPopular nom é umha associa-çom nom lucrativa que se man-tenha com as quotas da suafiliaçom, mas poucas vezes che-gam a desvendar-se os porme-nores do arrepiante sistema definanciamento irregular que oPP necessita para se perpetuarno poder. Entre relatórios e con-tra-relatórios, plasmaçom gráfi-ca do mediático conflitoPalmou-Baltar, o realmenteimportante é a saúde do finan-ciamento. Após ter sido relega-do Cuinha, tudo indica queRafael Louzán Abal é agora oprincipal financiador. E comosempre, as Deputaçons Provin-ciais som a via.

PÁGINA 7

novas daNúmero 23, Outubro de 2004

Forças contráriasà ConstituiçomEuropeia organizam-se

ENCE reconheceque a pressomsocial poderáimpedir a insta-laçom da novafábrica

Pedem paralisaras expropriaçonsde Porto Seco

Reintegracionismoleva problemáticagalega ao FórumSocial Europeu

Novas iniciativasjuvenis no seio doindependentismogalego

Estado deEmergência,por Daniel Salgado

Gerúndios,por Kiko Neves

23número

"Ainda nom aprendemosa deixar de ser racistas"

A trama do financiamentoirregular do Partido Popular

Redacçom

A aterragem da multinacionalCarlyle no Estado espanhol pro-duzia-se em Julho de 2001. Desdeentom fôrom muitas as vias deexpansom financeira que estudou,conseguindo afinal adquirir aempresa galega Saprogal, fabri-cante de raçons da conhecidamarca Biona. Nada do outromundo se nom fosse Carlyle umimportante grupo de investimen-tos no sector armamentista comfamilares de Bush e Bin Laden àcabeça. Para o NOVAS da GALI-ZA nom é motivo de orgulho quecapital galego contribua parafinanciar os projectos genocidasde tam sinistros personagens,mesmo que fosse em troca de ser-mos nomeados no próximo docu-mentário do Michael Moore.

PÁGINA 13

Sole Rei

A Associaçom Galega deAntropologia (AGANTRO) nas-ceu em 1993, visando a difusomna Galiza de umha disciplina quefornece dados de enorme interes-se para o conhecimento das socie-dades que dificilmente seriamobtidos de outro modo. Este ano,nom podia ser menos, foi o doXocas, ilustre etnógrafo ao qualesta associaçom quer restaurar asua importáncia como alicercedas investigaçons antropológicasna Galiza. Também é o terceiroano dos Obradoiros Abertos, quepretendem atender certas necessi-dades da sociedade do ponto devista das achegas daAntropologia. Disto, da imigra-çom, da situaçom da mulher, dacomunidade cigana e de maiscousas, fomos falar com MariámMarinho, da AGANTRO.

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Os Bush e osBin Laden, nomercado galegocom Carlyle

Entrevistamos Mariám Marinho, daAssociaçom Galega de Antropologia

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segunda

Editora: Minho Media S.L.

Director: Ramom Gonçalves

Redactor-chefe: Carlos Barros G.

Conselho de Redacçom: MartaSalgueiro, Antom Santos, Antón Álvarez, Ivám Garcia, Alonso Vidal,Xiana Arias, Sole Rei

Colaboraçons: Maurício Castro,Inácio Gomes, Davide Loimil, JoámCarlos Ánsia, Santiago Alba Rico,Kiko Neves, José R. Pichel, RamomPinheiro, Carlos Taibo, IgnacioRamonet, Ramón Chao

Fotografia: Arquivo NGZ

Humor Gráfico: Suso Sanmartin,Pepe Carreiro, Pestinho +1,Xosé Lois Hermo, Gonzalo Vilas,Aduaneiros sem fronteiras

Publicidade: 639 146 523

Correcçom lingüística:Eduardo Sanches

Imagem Corporativa: Paulo Rico

Desenho gráfico e maquetaçom:Miguel Garcia e Carlos Barros

NOVAS DA GALIZAApartado 106927080 Lugo - GalizaTel: 639 146 [email protected]

As opinions expressas nos artigos nomrepresentam necessariamente a posi-çom do periódico. Os artigos som delivre reproduçom respeitando a orto-grafia e citando procedência. É proibi-do outro tipo de reproduçom sem auto-rizaçom expressa do grupo editor.

A informaçom continua periodicamenteno portal www.galizalivre.org

Fecho de Ediçom: 15.10.04

2 segunda Outubro 2004 novas da galiza

Estado de emergênciaDaniel Salgado

Do incêndio que supugérom asquatro maiorias absolutas con-secutivas de Fraga Iribarne na

Galiza haverá que ditar crónica algumdia. A terra arrasada polo lume diz-seque tarda dez anos a reverdescer. Seunicamente demorasse umha década,canto nos dentes. A respeito do relatodos quinze anos de regime fraguista,regressemos a Bertolt Brecht: “quecada quem fale da sua vergonha, eufalo da minha”. E a vergonha da qualnós falamos, a nossa vergonha, é umhavergonha que se constrói sob orelhasagachadas, a bordo de renúncias e deviradas de cabeça. Como em todas asvagas reaccionárias da história, umhavergonha que nasce também nas costasda responsabilidade colectiva e nom sóna ignomínia do fascismo fraco doPartido Popular. O fascismo simpático,que diz o Xulio Cid, de feira gastronó-mica e pista-poste, anulaçom da socie-dade civil e das próprias instituiçons dademocracia burguesa, listas negras dedesafectos ao Paço de Inverno, desver-tebraçom política, cultural, económica,nacional.Mas, com toda a terra nas unhas, a his-tória de um povo nom cabe inteira nahistória do poder. Bem triste é a senten-ça que outorga a cada país o governoque merece. Porém, apesar da potênciada superestrutura organizada poladireita neste cantinho da periferia euro-peia, os galegos e as galegas nom sou-bemos aproveitar as fendas do sistemapara o que importa, quer dizer, deitar-mos abaixo o governo da Galiza. Aoposiçom parlamentar, cada vez maismíope, acabou por pensar que a políti-ca tem lugar apenas durante o processoeleitoral e que a única legitimidadepossível provém das votaçons.Entretanto, umha sociedade galega quemostrou e demonstrou, umha vez eoutra, que pode andar umha miguinhapor diante da nossa pusilánime classepolítica, recua tam asinha como avan-ça. Tudo num contexto de liberdades,polo menos, tuteladas: democracia àtunisina, explicou algumha vez o pro-fessor Outeiriño. No lugar onde seesquece que nom enfrentamos o tópicoocidental do ‘reto da imigraçom’ por-que somos nós a emigrar. O mesmolugar em que um jornalista pode serexpulso de umha conferência deimprensa presidencial por perguntar oque nom deve. Onde o conselheiro doplantom passava a Fraga Iribarne listas

de nomes de jornalistas anotadas à mar-gem: “este é comunista; este, do Bloco;cumpre nom nos fiarmos deste, socia-lista”. Um país que sofre um genocídiocultural de baixa intensidade –entrammais galego-falantes na escola públicados que saem. A violaçom e o saqueambiental, sem precedentes e sem para-gem, atinge rios, fontes e regatospequenos, montes, costa, bosque, terre-nos protegidos –quem acredita a estasalturas do campeonato nos contos pro-teccionistas da Uniom Europeia, naRede Natura 2000 e no “caralho vinte enove”?- tudo em prol de umha indústriaque imita modelos coloniais de manual.Falta, de momento, a ocupaçom militar,mas um ensarilhado e corrupto magotede deputaçons e cámaras municipaisassentidoras fai funcionar o mecanismocerto para garantir os interesses dascorrespondentes empresas espanholas. Contra a desapariçom dos tecidos eco-nómicos, as soluçons de Sam Caetanoresidem em substituir o sector primáriopolo Jacobeu. O porto desportivo emlugar da pesca. O turismo rural “dequadro” com rios em curto-circuito,torres eólicas e património arqueológi-co ignorado, rebentado, em vez daexploraçom pequária e aqui paz edepois glória. A paisagem para logo dabatalha presume-se, sem dúvida, inte-

ressante: quilómetros quadrados noNoroeste da Iberian Paeninsulam entul-hados à base de massa florestal metadeeucalipto metade moinho propriedadede umha concessionária de UniomFenosa ou assim. No cerne, dous outrês gaiteiros com capa e tambor redo-brante, gaita-de-foles de três roncos egenuíno castelhano de Riego de Agua(La Coruña), que ao pôr-do-sol mon-tam no AVE e retornam às suas casas nameseta toledana. E como a realidadecostuma exceder a medíocre ficçom, eacontece que Mar adentro oferece umajeitado tratamento do presente lingüís-tico galego -!?-, o país dantes conheci-do com o nome de Galiza ainda há deficar tam ou mais riquinho do que NovaIorque naquela cousa d’O Planeta dosSímios.Nom a posiçom stand-by, que excla-maram vai já para sete anos os doFórum Luzes de Galiza, mas o estadode emergência. Porque, se calhar, osque tripamos a terra desta naçom cani-bal –porcos, cabalos, mulas, soldados-bem merecemos o governo que nosanda na pele. Mas, com todo o arrepen-dimento dos pecados de nosso, nin-guém ganhou, que se saiba, umhacadeira de braços em que se senta umpresidente que assassinou, em 1963,Juliám Grimau.

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editoriala

Outubro 2004novas da galiza 3

Aduaneiros sem fronteiras

sumário

FÓRUM SOCIAL PARA UM

NOVO ESTATUTO QUER QUE

A NOVA REDACÇOM "GARANTA

UM FUTURO MELHOR PARA

O PAÍS."

Iniciativa do BNG pretendeque no Novo Estatuto sereflictam os anseios de maiorautogoverno.

"NUNCA PERDEMOS O

CONTACTO NEM O

INTERESSE POLOS

GRUPOS PORTUGUESES."

Xesús Ron, actor e gerente da Sala Nasa

O PELOURINHO DO NOVAS

Se tens algumha crítica afazer, algum facto a denun-

ciar, ou desejas transmitir-nosqualquer inquietaçom,

este é o teu lugar.

MAIS DE UM LUSTRO DE

LOCAIS SOCIAIS EM PROL

DA LÍNGUA

Enquanto a FundaçomArtábria celebra o seu sexto

aniversário, nom para deanunciar-se a criaçom de maislocais sociais por todo o País. 5

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Nom é a primeira ocasiom em que Novasda Galiza se debruça sobre essa ampla

zona gris na que os poderes políticos hegemó-nicos procuram apoios e financiamento, tecemrelaçons de todo tipo com diversos blocos eco-nómicos e exercem umha corrupçom parcial-mente velada polo poderoso manto de silêncioque o obediente oficialismo mediático extendesobre os aspectos menos confessáveis do regi-me que habitamos.

Se numha passada reportagem ofereciamosa leitores e leitoras um completo repasso

de quais as fontes de financiamento de um PPestreitamente ligado a algum dos nomes maisconhecidos do narcotráfico galego, no númeroque hoje tés entre maos continuamos a des-montar a engrenagem da corrupçom que, demaneira secular, rege o funcionamento institu-cional e a vida de milhares de galegos e gale-gas. A escolha do tema nom é nem muitomenos casual. A actualidade mediática darecém fechada crise do PP no nosso País nommotivou, para a cidadania mais crítica e cons-ciente, apenas umha reflexom especulativasobre os futuros resultados eleitorais. Antesdisso, muito antes, pujo na mente de todosumha outra análise mais urgente e profunda: aque procura explicar as razons da preeminên-cia de uns esquemas de funcionamento políti-co-institucional nos que nem tam sequer estápresente o mínimo respeito às regras de jogo àtam louvada democracia formal. A Galizacomo recanto perdido e isolado de um Estado

que só a atende com desprezo para planificarinfraestruturas serôdias e nocivas, para se ali-mentar da sua emigraçom e para assegurar umférreo controlo político desde umha extendi-díssima rede de poderes locais tam alheios aqualquer projecto ideológico como aderidos aum espanholismo a ultrança e à lógica da suaprópria reproduçom desde o reparto de preben-das, essa é a Galiza que tantos descreviam ainícios do século XX. E é, por desgraça, tam-bém boa parte da Galiza de hoje que agoniza evegeta entre cacharros e baltares a carregar nolombo da memória histórica com os traumas daemigraçom, o servilismo, a desfeita de 1936 ea fugida sem pausa do rural que hoje agonizaentre eólicas, chapapotes e silveiras.

Novas da Galiza quer ajudar a desentran-har esta realidade e a apresentar com

nomes e cifras a lógica desta engrenagem: ados concelhos amordaçados, as deputaçonsconvertidas em promotoras e o tambaleantesector público ergueito como estandarte deenchufismo e corrupçom. E quer fazê-lo,como projecto mediático crítico e independen-te, nom para alimentar cábalas eleitorais nempara sonhar com futuras alternáncias. Paraapontar sobretodo, como nom há tanto tempofazia toda a esquerda nacionalista, que taisdoenças estruturais clamam por soluçons epolíticas de fundo que vam muito além dochoque virtual liberais-conservadores.Apontam à soberania e, hoje como onte, nomcabem neste Estado.

editorialCORRUPÇOM ESTRUTURAL

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INDEPENDENTISTAS DA

GALIZA, PAÍS BASCO E

PAÍSES CATALÁNS PROMOVEM

MANIFESTO CONJUNTO

NÓS-UP, Endavant e Batasuna apresentárom emconferência de imprensa omanifesto "PolaIndependência dos Povosnumha Europa dos Povos".

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4 notícias Outubro 2004 novas da galiza

notíciasA própria companhia vê como o projecto da fábrica de "papel tisu" corre perigo

Pressom social pode travar fábricade ENCE em Ponte VedraAlonso Vidal

As dificuldades com que está atopar ENCE na cidade do Leresvam em aumento. A actividadeconstante de grupos políticos,ambientalistas, da Associaçompola Defesa da Ria (ADPR), e aoposiçom clara da CámaraMunicipal, pode travar definitiva-mente o projecto de completar ociclo de papel que Celuloses idea-ra para Louriçám. O conflito vemde muito longe, mas a sua fasedefinitiva está-se a desenvolvernestes meses. O propósito daempresa , da qual é accionistaCaixa Galiza, é ampliar o comple-xo industrial duplicando a produ-çom e instalando umha fábrica depapel "tisu". Há já cinquenta anosque ENCE polui a ria de PonteVedra e o seu rasto está presentedesde entom na pituitária dos e daspontevedresas. A empresa foi jácondenada por delito ambientalcontinuado, mas isso nom impediuque a Junta da Galiza lhe facilitas-se a sua consolidaçom no espaçoocupado durante a ditadura fran-quista -esta ocupaçom deveriafinalizar em 2018-, por meio daconcessom da "supramunicipali-dade". O intuito parece ser o deeximir ENCE da preceptiva licen-ça municipal, que o grupo degoverno pontevedrês se recusa aconceder. Para a Cámara munici-pal, a soluçom passa pola negocia-çom por parte da empresa da suatransferência para outro lugar epola utilizaçom de tecnologiaactual que evite os grandes prejuí-zos ambientais. A ideia de recupe-rar a enseada de Louriçám conver-tendo-a num eixo limpo que dirijao crescimento da cidade paraMarim é compartilhada pola cida-dania pontevedresa.

Mobilizaçons preocupam ENCE

A pressom social fijo com que aempresa reconhecesse as dificul-dades numha junta de accionistasem Madrid. O seu presidente, JoséMéndez, que também dirige CaixaGaliza, ameaçou com a transferên-cia da planta para Huelva ou Náviase a Cámara Municipal continua aparalisar licenças. Para ENCE oproblema tem a ver com a parali-saçom da licença municipal para aCentral de Tratamento de

Resíduos necessária para a fábricade "tisu". Admitem que quantomais se demorarem as licenças,maior perigo corre o projecto,entre outros motivos porque osatrasostambém dificultam o acordo alcan-çado com Xesgalicia e GeorgiaPacific (GP) para o desenvolvi-mento da fábrica. Para Méndez oprojecto é vantajoso para a zona -em que ele, infelizmente, nomreside- ao supor um investimentode cerca de duzentos milhons e acriaçom de vários centos deempregos.

A luita deve continuar

Neste momento a situaçom é deum certo impasse, segundo decla-rou ao NOVAS da GALIZAAntom Massa, da Associaçompola Defesa da Ria. No ámbitojudicial estám à espera da resolu-çom do Supremo Tribunal deJustiça da Galiza no que diz res-peito à decisom da Junta de apro-var o projecto da empresa median-te a "supramunicipalidade".Porém, mostra-se relativamenteoptimista perante o resultado dapressom popular se esta se manti-ver. Várias pistas informam dopossível insucesso do projectoindustrial: Por umha parte,comentários de pessoas próximasde ENCE-Caixa Galiza e de mem-bros de CCOO, que se manifes-tam pessimistas sobre este parti-cular. Além disso temos a firmeoposiçom do Presidente daCámara municipal pontevedresa eo mutismo absoluto da GeorgiaPacific, principal sócio do projec-to "tisu de Louriçám". Massa estáconfiante em que ENCE vê quaseperdida a hipótese da papeleira deLouriçám e utiliza a chantagem delevar a empresa fora da Galizacomo último recurso, e mesmofala do encerramento em 2018.Segundo Massa, CC.OO. parecedisposta a mobilizar, junto com oPP, os empresários e trabalhadoresdas empresas auxiliares de ENCE,actuando na prática como braçosocial da empresa. Neste sentido,mesmo valoriza positivamente aatitude do PSOE recusando-se adesafectar os terrenos de ENCE ea fixar como definitiva a data de2018 para a caducidade da con-cessom dos terrenos de domínio

público. Para a Georgia Pacific(G.P.), que já regista conflitos umpouco por todo o mundo, nomseria cómodo instalar umha fábri-ca num lugar onde se verificaumha forte oposiçom.

Associaçom Pola Defesa da Riacontinuará a pressionar

No passado dia 22 de Outubro,trabalhadores dirigidos por mem-bros de CCOO ocupárom o plená-rio da Cámara Municipal de ponte

Vedra reclamando umha viragemde rumo do Governo municipal norespeitante à Papeleira, solicitan-do a concessom das licenças paraa instalaçom do complexo, vendo-se obrigado o Presidente daCámara a encerrar a sessom.Perante esta situaçom, a"Associaçom Pola Defesa da Ria"entende fundamental manter ograu de contestaçom social emesmo aumentá-lo para conseguirenfrentar as campanhas deCC.OO. e ENCE e contribuir para

o abandono do projecto por partede G.P.. À espera da resoluçompolo TSJG do seu recurso contra adecisom da Junta de aprovar apapeleira por meio da incidênciasupramunicipal, nom descartanovas denúncias judiciais.Também preparam novas acçonsde denúncia na rua, que aguardammanter de forma contínua aolongo de vários meses e que com-binarám com entrevistas comdiferentes sectores sociais e com oGoverno espanhol.

Redacçom

É conhecida a oposiçom radicalque as forças independentistasmostrárom ao texto constitucionaleuropeu que parte da populaçomdo Continente submeterá a refe-rendo no próximo ano. NÓS-UPe a FPG já se tenhem manifestadocontra um projecto político consi-derado contrário aos direitosnacionais e que consagra o neoli-beralismo. Tampouco faltáromalusons à nova arquitectura insti-tucional da UE no acto que nopassado 25 de Julho convocaramas Bases Democráticas Galegas,onde se fijo um chamamento aaderir a iniciativas popularessuprapartidárias e conjuntas quevisem manifestar na rua a oposi-çom galega ao projecto.

Transcorridos mais de dousmeses, este sentir comum calhouna constituiçom em Compostelada Plataforma Galega polo Nomà Constituiçom Europeia, forma-da por Adiante-MRG, AMI,BRIGA, Ceivar, CUT, FPG,NÓS-UP, PCPG, Redes Escarlatae as próprias BDG. A recém cria-da estrutura já manifestou a suavontade de organizar actos de ruacoincidindo com a assinatura doTratado de Roma o dia 29 deOutubro.Por seu turno, a central naciona-lista CIG já declarou com toda anitidez à cidadania galega as suasrazons para o nom a um texto querecorta direitos sociais e nomreconhece naçons nem línguas,mostrando o seu propósito deimpulsionar campanhas informa-

tivas e mobilizadoras contra aConstituiçom.É o BNG que parece ter as cousasmenos claras no que diz respeito aeste particular. Enquanto vozesligadas à extinta Unidade Galegaou a Esquerda Nacionalista se defi-niam por um si crítico, argumen-tando que o nom suporia perder ocomboio da nova política institu-cional que se prepara no ámbitoeuropeu, sectores da UPG e damilitáncia mais ligada ao mundosindical apostam em secundar avasta corrente social que defende onom rotundo. Tendo em conta afalta de um pronunciamento oficialda organizaçom política, há quemdiga que a estrutura frentista daformaçom permitirá a vitória dasteses dos e das opostas ao vigentemodelo europeu.

Constitui-se a Plataforma Galega polo Nom á Constituiçom Europeia

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notíciasOutubro 2004novas da galiza 5

Independentismo defende reconhecimento do direito de autodeterminaçom

FundaçomArtábriacelebrou sextoaniversário

Novas jornadas e obradoiros de antropologia da AGANTRO

NGZEnquanto em diversas comarcasdo País os locais sociais dam osseus primeiros passos, e noutrascomo Ourense e Corunha seestám a pôr em andamento inicia-tivas semelhantes, em Ferrol cele-bravam no passado mês deSetembro o sexto aniversário daprimeira e mais audaz iniciativade local social autogerido emdefesa da língua. Nom por acasofoi numha das cidades maisespanholizadas da naçom, ondeum pequeno grupo de activistasdava espaço físico a umha asso-ciaçom pola língua com anos detrabalho às suas costas.Neste mês de Setembro, com anova sede do bairro de Esteiro jáem andamento, a Fundaçom orga-nizou umha série de actividadesque se prolongárom durante vintedias. Actuaçons de músicas comoMaria Manuela, exposiçonshumorísticas como a do colectivoAduaneiros sem Fronteiras, pro-jecçom de diapositivos sobre asactividades da Fundaçom ou jor-nadas gastronómicas abertasfôrom algumhas das iniciativasdeste sexto aniversário.

NGZA Associaçom Galega deAntropologia (AGANTRO) voltaa realizar este ano ObradoirosAbertos. "Entre as instituiçonspúblicas e a sociedade civil.Iniciativas de integraçom social eparticipaçom cidadá" é o títulodas jornadas deste ano, que ten-tam articular-se como um espaçodinámico que permita a aproxi-maçom da sociedade da antropo-logia. Por isso, para além das con-ferências incluídas no programa,o que destaca som as actividadesde grupo numha proposta de tra-balho participativo. Após as reali-zadas na sexta-feira dia 8 e nosábado dia 9, que tratárom temáti-cas como as drogas, a comunida-de cigana ou a sida, a organiza-çom mostra-se muito satisfeitacom o desenvolvimento dos obra-doiros como espaços interdiscipli-nares que permitem a qualquerpessoa exprimir-se do seu pontode vista concreto. Obradoiros IIIconclui no sábado 23 com umhaaproximaçom da realidade dasprisons e do colectivo imigrante.

Alonso Vidal

O Fórum Social para um NovoEstatuto, constituído oficialmenteno passado 25 de Setembro, a ini-ciativa do BNG, esta a trabalharnum projecto que pode converter-se no modelo que o nacionalismomaioritário defenda numha futuranegociaçom de reforma estatutá-ria. O debate sobre o modelo deEstado que se está a produzir noPaís Basco e na Catalunha reflec-te-se na Galiza em duas correntesque parecem irreconciliáveis. Porum lado, o BNG aposta nesteFórum, criado para "reflectirsobre como pode reformar-se oEstatuto da Galiza para quegaranta um futuro melhor para oPaís". Segundo os promotores,pretende-se que a proposta de umnovo estatuto seja umha alternati-va construída pola sociedadegalega, e nom apenas um projectodo BNG. Por palavras da adjuntaporta-voz do BNG, "o NovoEstatuto tem que ser o reflexo dasaspiraçons de maior autogovernoque tem a imensa maioria doscidadans e cidadás deste país". OProfessor Villares, coordenadorde ensino e investigaçom noFórum criado, opina que "esta-mos numha fase que se pode con-siderar constituinte e a Galiza tem

que participar neste debate com asua própria voz, diferente da daCatalunha, do País Basco ou daAndaluzia".Por outro lado, o independentis-mo mantém a ideia básica, com-partilhada outrora por todo o arconacionalista, de que sem se exer-cer o direito de autodetermina-çom nom é possível a mudançaefectiva das condiçons sociais epolíticas do País. Assim, paraNOS-UP, "Galiza e o seu povotrabalhador nom superarám aactual situaçom de marginaliza-çom, opressom, empobrecimento,precarizaçom, sem mudar o actualquadro jurídico-político do capi-talismo espanhol. Os problemasnunca poderám ser solucionadossem exercermos o direito de auto-determinaçom, dotando-nos deum Estado independente para contruirmos a alternativa socialista àactual barbárie do capitalismo eimperialismo espanhol". Nestesentido, esta organizaçom políticaacabou de assinar umha declara-çom, com Endavant e a Batasuna,a favor da independência e criti-cando qualquer reforma do mode-lo de Estado que nom reconheçaesse direito básico. Neste docu-mento, intitulado PolaIndependência dos Povos numhaEuropa dos Povos manifesta-se

claramente que "as organizaçonspolíticas independentistas e socia-listas das naçons sem Estado sub-metidas à dominaçom do Estadoespanhol afirmamos contundente-mente que qualquer possívelreforma do Estado espanhol quenom inclua o reconhecimento dodireito de autodeterminaçom dosnossos povos por meio de consul-tas populares estará abocada aomais rotundo fracasso". A iniciati-va, que foi apresentada emBarcelona por Maurício Castro,Francesc Armengol e AinaraArmendáriz, fica aberta à adesomde novas forças e será divulgadanas três naçons e nas três línguas.Por sua vez, a FPG partilha tam-bém a ideia da autodeterminaçomcomo eixo sobre o qual basearqualquer hipótese de futuro.Ambas as forças já tinham parti-cipado sob esta premissa na mani-festaçom conjunta convocadapolas Bases DemocráticasGalegas no passado Dia da Pátria. Apresenta-se portanto um pano-rama incerto onde o nacionalis-mo pode defender posicionamen-tos diversos no debate sobre aorganizaçom do Estado quecomeça a produzir-se. A unidadede critérios também nesta ques-tom parece difícil. O debate ficaaberto.

Fórum Social para um NovoEstatuto abre debate sobre modelo de Estado

Redacçom

Na manhá do dia 7 de Outubro, oporto desportivo de Vigo acor-dou sobressaltado. O condutordo autocarro com que a armadaespanhola fazia campanha derecrutamento entre a juventudeda cidade olívica chamava apolícia ao ter detectado ao pé deumha das rodas do veículo umhamochila de montanha. À chega-da dos TEDAX e à vedaçom daárea seguiu-se a explosom con-trolada de um artefacto incendiá-rio de fabricaçom caseira queproduziu um pequeno ruído,como um tiro ou um petardo,segundo testemunhas presen-ciais. O autocarro nom sofreuprejuízos ao ter sido previamen-te afastado do explosivo poragentes policiais.

Para a Delegaçom do Governo, aacçom terá sido levada a cabopor independentistas. Ainda quealgumhas fontes policiais apon-tassem a proximidade do Dia daHispanidade e o desejo de noto-riedade como causa da sabota-gem, outras vinculavam-na aodécimo quarto aniversário damorte de Lola Castro e José

Vilar numha acçom armada emCompostela. Enquanto os vigi-lantes da zona de segurança doporto desportivo afirmárom nomter visto nada estranho durante anoite anterior, os operários quetrabalham na zona dixérom queo artefacto tivo que ser colocadoantes de eles chegarem ao seuposto.

Atacam em Vigo autocarro derecrutamento do exército espanhol

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6 notícias Outubro 2004 novas da galiza

Pedem paralisaçom do processode expropriaçom de Porto Seco

Redacçom

Precisamente foi esta força políti-ca a que convocou o acto maisconcorrido na jornada do dia 9 deOutubro. Ainda que estritamente adata seja o dia 11, na qual se lem-bra a queda de Lola Castro Lamase José Vilar Regueiro numhaacçom do EGPGC contra os inte-resses do narcotráfico, a concen-traçom foi marcada para o sábadoanterior, para facilitar a assistên-cia da filiaçom e simpatizantes.Sob a ameaça do temporal que naaltura sacudia boa parte do País,NÓS-UP reuniu perto de um centode pessoas no seu acto político, naPraça do Toural do bairro viguêsde Teis, proferindo palavras deordem como "PSOE-PP, a mesma

merda é" ou "adiante a luita operá-ria e nacional". Alberto Moço,representante da organizaçom emVigo, fijo um chamamento a lem-brar o emblema colectivo querepresenta este bairro, significadopola sua rebeldia nas décadas de30 e 70, e ainda hoje envolvidoem conflitos de grande entidade,como a luita contra o porto des-portivo. Por seu turno, MiguelGonçalves, representante daPermanente Nacional, vincou aimportáncia de assumir o legadocombativo de Vigo e realizou nasua arenga umha comprida revi-som da conjuntura política nacio-nal, advertindo contra a tentaçomde voltar a acreditar nas promes-sas do PSOE e na falsa soluçomda reforma estatutária. NÓS-UP

aproveitou também o acto pararepartir maciçamente o seuDecálogo a respeito do debateautonómico, no qual nega qual-quer utilidade e legitimidade a umhipotético novo estatuto e chama àconstruçom de um amplo movi-mento soberanista.A organizaçom juvenil AMI deci-diu reajustar a celebraçom do 11-O e deu um salto qualitativo aopassar a dedicar cada ano esta jor-nada a umha figura destacada danossa história de luita nos campossindical, político ou militar,enfrentando assim a tentaçom deassociar exclusivamente a causagalega ao culturalismo. José VeloMosqueira, que fora líder celano-vense da FMN, representante dasua linha arredista e fundador da

organizaçom armada DRIL, foi apessoa escolhida. Fôrom realiza-das quatro conferências sobre asua figura em Compostela,Ourense, Vigo e na EscolaSecundária de Cela Nova, e foieditado um caderno com a suabiografia. A homenagem culmi-nou com umha arenga frente aomonumento a Curros Enriques navila natal de Velo e com a coloca-çom de umha placa comemorati-va. Miguel Garcia, em nome daorganizaçom juvenil, dirigiu-se aomeio centenar de moças e moçosassistentes chamando-os a seguira valentia, combatividade e hete-rodoxia do homenageado. Aoacto, que rematou com a queimada bandeira espanhola, assistíromparentes do próprio José Velo.

Redacçom

A primeira reuniom com as promo-toras para pedir umha nova parce-laria e a demissom de CesáreoNovoa, presidente de Xestur, reali-zou-se no passado dia 15 deOutubro. Os afectados e afectadasmanterám a reuniom definitiva nodia 25 deste mesmo mês e, se nomse cumprissem todas as reclama-çons, nom haverá acordo e retoma-rám as mobilizaçons. AAssociaçom de Afectados eAfectadas pola PlataformaLogística Industrial de Salvaterrado Minho e Neves (Plisan) -popu-larmente, Porto Seco- tinha decidi-do acometer acçons de protesto,após nom ter respondido Xestur àmaioria das alegaçons apresenta-das polos proprietários e proprietá-rias dos terrenos expropriados.Seiscentos membros da associa-çom possuem umha superfície de 2milhons e meio de metros quadra-

dos, mais de metade da superfíciesobre a qual se instalará o PortoSeco, dos quais a directiva da asso-ciaçom assinala que uns 2000, qua-renta por cento, nom som reconhe-cidos na parcelaria realizada portécnicos das três promotoras: oInstituto Galego do Solo, aAutoridade Portuária de Vigo e aZona Franca. A empresa Xesturgere o solo de que precisa PortoSeco ou Plisan, siglas da árealogística de transporte por estrada ecaminho-de-ferro situada entreVigo e o Porto e promovida polosExecutivos de Madrid eCompostela. Plisan será situadapróxima de infra-estruturas comoos portos e aeroportos das duascidades, a A-9 e as auto-estradas donorte português, respondendo aosinteresses do Grupo PSA-Citroen eàs principais empresas da áreametropolitana de Vigo.A exigência básica é a paralisaçomdo processo de expropriaçom até

que sejam atendidos os seus pedi-dos, já que, por palavras da direc-çom "aqui nom se fijo parcelarianem se fijo inventário de bens, fijo-se umha desfeita". O acordado naúltima assembleia de afectados eafectadas foi a reivindicaçompública da demissom de CesáreoNovoa, presidente de Xestur, eainda que seja rescindido o contra-to às empresas que elaborárom otrabalho, Norcontrol e Etixsa.Assim também, decidiu-se porunanimidade a nom aceitaçomdesse quadro de pessoal na possibi-lidade de as promotoras cumpriremcom a realizaçom de umha novaparcelaria. Segundo a direcçom"nom há volta atrás, senom reto-maremos as mobilizaçons". Osafectados e afectadas mantivéronno dia 15 de Outrubro umha reu-niom em Compostela com JoséAntonio Redondo, director doInstituto do Solo, Julio Pedroso,presidente da autoridade portuária

de Vigo e o presidente de Xestur,Cesáreo Novoa. A direcçom daassociaçom indicou que foi expli-cado o ponto da situaçom e lem-brou as alegaçons apresentadascom rigor, condiçom indispensávelpara um acordo. Assinalárom tam-bém a sua decepçom ao comprova-rem que López Peña, delegado daZona Franca, nom acudiu à junta.O acordado foi a criaçom de umhacomissom de técnicos designadospolas promotoras e polos afectadose afectadas para estudar a realiza-çom de umha outra parcelaria ondese faga um inventário de bens. Aesta reuniom, a Zona Francaenviou delegados que se compro-metêrom a estudar de novo as ale-gaçons.A dia do fecho de ediçom o acorda-do era a realizaçom de umha novareuniom para a segunda-feira vintee cinco de Outubro em Salvaterrado Minho, onde a vizinhança espe-ra chegar a um acordo.

Adiante e Briga,novas iniciativasno movimentojuvenil galego

NGZO mês de Outubro foi o escolhidopor duas das correntes do indepen-dentismo galego para constituíreme tornarem públicas as suas estrutu-ras políticas juvenis. As grandescoincidências político-ideológicase progamáticas nom ocultam, mes-mo assim, as diferentes fidelidadespartidárias e as profundas diver-gências na orientaçom do trabalhoquotidiano que explicam tal proli-feraçom de siglas. A 9 de Outubrotinha lugar em Compostela a fun-daçom oficial de Adiante (Mocida-de Revolucionária Galega), organi-zaçom que já tinha feito a sua apa-riçom no passado primeiro deMaio, e que já tinha apoiado no Diada Pátria a iniciativa das BasesDemocráticas Galegas. Numcomunicado de imprensa recebidonesta redacçom, Adiante (MRG)declara-se organizaçom "indepen-dentista, revolucionária e autóno-ma" e expom parte dos conteúdosdas suas teses, que abrangem ostemas mais clássicos de umhaorganizaçom destas características,para além de outros como a ques-tom das drogas, a libertaçomsexual ou o ambientalismo. Comonovidade a respeito da tradicionaladesom ao reintegracionismo damocidade independentista galega,Adiante (MRG) aposta na defesada norma ILG-RAG para o galego,talvez a prova mais visível da suaproximidade das teses da FPG.Por seu turno, foi Ferrol a localida-de escolhida por moços e moçasmilitantes ou simpatizantes dePrimeira Linha para a posta emandamento de Briga, organizaçomque se pretende aglutinante de todaa juventude do MLNG. Em sentidocontrário ao nascimento de Adiante(MRG), que se vinhera fraguandodiscretamente durante váriosmeses, as origens desta estruturaencontram-se na acesa polémicaque durante os meses do Veraomantivo a AMI com jovens dePrimeira Linha, e que concluiunum documento público em que sedenunciava "o sectarismo da AMI eo seu desinteresse por se converterno referente juvenil unitário doMLNG", dada a recusa da organi-zaçom juvenil a aceitar a entradanesta formaçom de alguns militan-tes e simpatizantes da organizaçomcomunista.A AMI participara nesta polémicavincando a sua fidelidade "à linhahistórica do independentismo querepresentárom a APU e o EGPGC"e considerando positiva "a plurali-dade de expressons do movimentojuvenil galego", concluindo portan-to esta organizaçom que "o únicoreferente unitário é a própria luita".

NÓS-UP e AMI comemoram Dia da Galiza CombatenteO movimento independentista deu começo aum novo ano político com a comemoraçom dochamado “Dia da Galiza Combatente”, ofi-cializado por NÓS-UP desde 2001 com o

intuito de dar cabimento numha jornada rei-vindicativa à lembrança daquelas figurasdestacadas na defesa dos direitos nacionaisgalegos e da causa da esquerda.

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reportagemOutubro 2004novas da galiza 7

reportagem

Salvador Rosa

Tudo isto, graças à inestimávelajuda dos 'novos arrecadadores',que substituem o relegado JoséCuinha, que no seu dia fora omaior financiador do PartidoPopular na Galiza. Esta publicaçom tivo acesso anumerosos dados que provamque um destes arrecadadores éRafael Louzán Abal, presidenteda Deputaçom de Ponte Vedra,íntimo amigo de Mariano Rajoy eum dos seus homens fortes naGaliza. Rafael Louzán começoua sua andadura política comocontínuo na Cámara Municipalde Ribadúmia (Salnês) da mao docontrabandista José RamónBarral, 'Nené', de que também foisócio quando 'Nené' era o presi-dente da Cámara da localidadearouçana polo Partido Popular.Louzán está vinculado mediante

terceiras pessoas a várias empre-sas construtoras, imobiliárias,florestais, agrícolas e vinícolasque nos últimos anos aumentá-rom o seu valor de ventas emmais de 100 % graças em parteaos subsídios e concessons de

obras por parte da Deputaçomque ele próprio preside. Empresários vinculados ao PPgalego reconhecêrom no seu diaà revista basca de investigaçom edenúncia social 'Kalegorria' que"parte dos benefícios que se

obtenhem dessas operaçons vamparar, como sempre, às arcas dopartido [o PP]. Recorde você ocaso Naseiro", em referência àtrama de financiamento ilegal doPartido Popular que se descobriuem meados de 1990 quando

Rosendo Naseiro era responsávelpolas finanças do PP.

Numerosas empresasUmha das mercantis a que estávinculado Rafael Louzán éAdegas Agnusdei, de que é sóciomaioritário Horacio Gómez, pre-sidente do conselho de adminis-traçom da SAD Celta de Vigo eex-vereador do Partido Popularna cidade de Vigo. AdegasAgnusdei está administrada ofi-cialmente por José CastroMougán e Oscar Mininho Otero,companheiro sentimental esteúltimo de umha antiga secretáriade Louzán. Esta empresa criou-se, aliás, com um empréstimo de500 milhons de pesetas (3 mil-hons de euros) que a Junta daGaliza doou a fundo perdido. A 3 de Agosto de 2002, AdegasAgnusdei recebeu em Cambadoso segundo prémio num concursode vinho alvarinho. Ao acto, queestivo presidido por ManuelFraga, assistírom, entre outros, aentom ministra da Saúde espan-hola, Ana Pastor, e o conselheiroda Justiça da Junta, XesúsPalmou, curiosamente dous dospolíticos de confiança de Rajoyna Galiza. Horacio Gómez rece-beu o galardom em represen-taçom de 'Adegas Agnusdei'.Obras e Construçons Sisán(OCS) e Pavimentos de Meanho,ambas dedicadas à construçom eà extracçom de pedra, terám sidooutras duas mercantis vinculadasa Louzán que nos últimos anosrecebêrom indirectamente con-cessons milionárias por parte daempresa pública GestomUrbanística de Ponte Vedra(Xestur Ponte Vedra), dependen-

Em anteriores trabalhos jornalísticospublicados por NOVAS da GALIZA recolhíamoscomo nos anos 80 o actual presidente doPartido Popular, Mariano Rajoy, costumavareunir-se em Ponte Vedra com conhecidoscontrabandistas de tabaco para lhe darem

conta do dinheiro numerário e em letrasde cámbio que arrecadavam para o partidoentre os contrabandistas, operaçons emque também participou pessoalmente opróprio Fraga Iribarne. Na actualidade o PP continua receber receitas de

centos de milhons de euros de forma irregular,agora mediante empresas que apresentamcontratos por obras inexistentes, facturando 300por cento mais do que custam as obras querealizam ou triplicando os preços na aquisiçom deparcelas subvencionadas com dinheiro público.

Descoberto o actual sistema definanciamento irregular do PP na Galiza

Esta publicaçom tivo acesso a numerosos dados que provam que um dos arrecadadores irregulares é Rafael Louzán Abal (no centroda fotografia), presidente da Deputaçom de Ponte Vedra, íntimo amigo de Mariano Rajoy e um dos seus homens fortes na Galiza

O presidente da Deputaçom de Ponte Vedra, Rafael Louzán Abal, controla umha redeempresarial mediante a qual os 'populares' obtenhem receitas de centos de millons de euros

graças às adjudicaçons outorgadas polo organismo provincial a sociedades afins

Louzán está vinculadomediante terceiras

pessoas a váriasconstrutoras,

imobiliárias, florestais,agrícolas e vinícolas

que nos últimos anosaumentárom o seuvalor de ventas em

mais de 100% graçasem parte aos subsídios

e concessons daDeputaçom que preside

Bono utilizado polo PP para canalizar o dinheiro que narcos e contrabandistas entregárom aopartido durante a campanha eleitoral de 1999. O número de série foi ocultado por segurança.

Óscar MininhoOtero, companheirosentimental da ex-

-secretária deLouzán, foi quem

vendeu as luxuosasresidências de Verao

aos rebeldes‘populares’ José

Luis Baltar e JoséCuinha

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8 reportagem Outubro 2004 novas da galiza

te da Conselharia da PolíticaTerritorial, Obras Públicas eHabitaçom e administrada poraltos cargos do PP galego, entreeles o próprio Rafael Louzán. Tal e como difundiu recentementea estaçom Cadena Ser, só duranteo passado Verao a Deputaçom quepreside Louzán pagou mais de trêsmilhons de euros a estas duassociedades em conceito de obras econtratos de subministro. Obras eConstruçons Sisán, do mesmomodo que Adegas Agnusdei, estágerida por Óscar Mininho Otero,companheiro sentimental da ex-secretária de Louzán. Esta pessoa,que segundo desvendou a estaçomradiofónica trabalhou até há pou-cos anos como comercial de umhaimobiliária, foi quem vendeu assuas luxuosas residências deVerao aos rebeldes 'populares'José Luis Baltar e José Cuinha. Quanto a Pavimentos de Meanho,esta sociedade foi criada polomotorista pessoal do presidente dainstituiçom provincial ponteve-

dresa, Marcos Galinhanes Varela,embora quem se encontra hoje emdia à frente desta sociedade sejaum tio seu, Jesús Pombo Vidal.Pavimentos de Meanho está admi-nistrada actualmente por PatriciaPombo Varela e conta como apo-derados com Lourdes VarelaCousido e Jesús Pombo Vidal.Este último incorporou-se à cons-trutora depois de ter trabalhadodurante vários anos como empre-gado de maquinaria naDeputaçom de Ponte Vedra.OCS e Pavimentos de Meanhofôrom subcontratadas em 1999pola empresa Construçons deObras e Viais (COVSA) paraampliar o parque empresarial deVila Garcia da Arouça. COVSAtinha sido reabilitada anos antescom dinheiro público e subcontra-tou as empresas de Louzán apóster recebido umha adjudicaçommilionária de Xestur Ponte Vedra.Cabe destacar que COVSA temtambém participaçons no Celta deVigo de Horacio Gómez.

Outras das empresas vinculadasa Louzán que citou a estaçomCadena Ser como receptoras deadjudicaçons por parte daDeputaçom pontevedresa somTransportes, Obras eConstruçons Fonte Fria e ÁridosCurro. A primeira delas, admi-nistrada pola família do motoris-ta de Louzán, recebeu este anotrês concessons de maquinariapara o organismo provincial. Asegunda, que também foi desti-natária de umha concessom demaquinaria, é propriedade deJuan Luis Abal Pinheiro, parentedirecto da mae de RafaelLouzán. As adjudicaçons referi-das somam perto de 30 millonsdas antigas pesetas e fôrom fei-tas em Janeiro deste ano e reno-vadas há poucos meses.O certo é que Louzán já tivoque enfrentar anteriormentediferentes acusaçons de preva-ricaçom. Assim, a 6 de Julho de2001, o Grupo Socialista daDeputaçom de Ponte Vedra

solicitou a demissom do máxi-mo responsável da instituiçomprovincial, na altura presidentedo PP na Galiza e vice-presi-dente do Governo provincial,porque adjudicou "irregular-mente" trabalhos a empresascom que mantinha algum vín-culo familiar.Nesse mesmo ano o PartidoSocialista da Galiza-PSOEpediu a comparência de RafaelLouzán na DeputaçomProvincial de Ponte Vedra paraque explicasse a sua relaçomcom a empresa Limvial, de queera administrador o irmao de'Nené', Feliciano Barral, que foidetido na mesma operaçom como ex-presidente da Cámara deRibadúmia. Ainda que o pedidotivesse sido rejeitado pola maio-ria do PP na instituiçom provin-cial, 'Kalegorria' confirmou queumha das administradoras destasociedade é Maria Teresa CoresFernández, companheira senti-mental de Louzán.

Diferentes acusaçonsde corrupçom

Transportes, Obrase Construçons

Fonte Fria,administrada pola

família do motoristade Louzán, recebeu

este ano trêsconcessons de

maquinaria para aDeputaçom. ÁridosCurro, que tambémfoi destinatária de

umha concessom demaquinaria, épropriedade deJuan Luis Abal

Pinheiro, parentedirecto da mae de

Rafael Louzán

Louzán já tivo que enfrentar anteriormente diferentes acusaçons de prevaricaçom. Em 2001 solicitavam a sua demissom poradjudicar "irregularmente" trabalhos a empresas com que mantinha algum vínculo familiar.

Fraga e Rajoy dirigírom o financiamento irregular do PP durante os anos ‘80. A diade hoje, o PP ainda se vale do dinheiro sujo para manter a sua rede de poder.

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9reportagemOutubro 2004novas da galiza

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O ex-conselheiro da PolíticaTerritorial, Obras Públicas eHabitaçom José Cuinha foi até hápouco o mais importante financia-dor dos 'populares' galegos. Dasua conselharia dependia directa-mente Xestur Pontevedra, cujasobras adjudicadas superam os1.000 milhons de pesetas (6 mil-hons de euros). Parte deste capitalfoi desviado indirectamente parasociedades de militantes do PP,que por sua vez ofereciam parte dapilhagem ao partido.Umha das empresas galegas pon-teiras na construçom, à qualXestur adjudicou obras por centosde milhons das antigas pesetas, éConstruçons Taboada e Ramos,

que tem participaçons, entreoutras, em ACS Projectos, Obras eConstruçons, da qual por sua vez édono Florentino Pérez, presidentedo Real Madrid e um dos maisimportantes empresários doPartido Popular. Outra sociedade beneficiada comquantidades importantes de din-heiro público é ConstruçonsParano, mais conhecida comoCopasa. Segundo fontes próximasdo PP da Galiza, por detrás destamercantil estariam José Cuinha, opresidente da Deputaçom deLugo, Francisco Cacharro Pardo,um dos 'barons' que continua aapoiar Cuinha, e o senador popu-lar Victorino Núñez.

O ocaso dofinanciador Cuinha

Barreiro e Feijooasseguram a lealdade decaciques e empresários

Marta Salgueiro

Mas o grande cacique deOurense também tem os seurelatórios. Chamam-se redeclientelar e votos. Baltar apre-sentou na noite de 13 de Junhoo melhor resultado do PP nasquatro circunscriçons galegas:55,86% dos votos, 10 pontosacima de Ponte Vedra, feudo doPresidente do PP espanhol,Mariano Rajoy. Com eles e comas sondagens que manejavaJosé Cuinha sobre a eventualperda da Junta, mesmo comFraga de candidato, apresentou-se o de Nogueira na residência

oficial de Monte Pio. O deVilalva dixo-lhe que tivesse cui-dado, que "Barreiro Rivas tinhasido umha das cabeças melhorformadas deste país e acaboupoliticamente fracassado", eBaltar respondeu "é possível,mas Barreiro Rivas nom era umcacique nem tinha a presidênciade umha deputaçom e mais de55 concelhos com ele".No 14 de Novembro de 2004começou também o afundamen-to do PPdG. Enquanto a Galizaestava a padecer a pior das suascatástrofes ambientais, e aindalamentando o abandono dogoverno galego, começavam

Os vice-presidentes já mexem os cordelinhos: Barreiroapoiando-se na rede caciquista e oferecendo prebendas,Núñez Feijoo reunindo-se com as grandes empresas galegas

No NOVAS da GALIZA de Maio de 2004publicamos umha reportagem sobre anomeaçom dos vice-presidentes da Juntada Galiza, onde já nos debruçamos sobre avelha fenda aberta no Partido Popular. Osrelatórios e contra-relatórios som, nosúltimos tempos, o mais destacável dapolítica galega. O primeiro a sair foi o deCuinha, mas Baltar é consciente de que nosgabinetes de Génova há muita maisinformaçom que pode levar os dousbarons, que partilham por outro ladoempresas comuns, à ruína política. Oúltimo a se aderir ao debate por meio dosrelatórios foi Rivas Fontán, que com o seudossier contra Louzán, Presidente daDeputaçom de Ponte Vedra, se apresentavaem Sam Caetano perante Manuel Fraga

Iribarne. O Presidente nom evitou assinalarRivas Fontán como o responsável polo queFraga qualificou de "calúnias". Juan Miguel Diz Guedes, José CuinhaCrespo, José Luis Baltar, este ultimoatravés do seu filho José Manuel,partilham vários negócios na comarcado Deça, algo de que som conscientesno PPdG. Disto falava o conselheiroda Pesca Henrique López Veiga, aoacusar "de enriquecimento paraleloa actividade política de alguns".Afinal, um presidente de um partidoreconhece publicamente a política derelatórios e um conselheiro de umgoverno reconhece publicamente quecompanheiros de partido e de governoenriquecêrom com a política.

No 14 deNovembro de 2004começou também o

afundamento doPPdG. Enquanto a

Galiza estava apadecer a pior das

suas catástrofesambientais,

começavam tambémas fendas no

partido no governo

Até há pouco o mais importante financiador dos'populares' galegos. Da sua conselharia dependiadirectamente Xestur Pontevedra, cujas obrasadjudicadas superam os mil milhons de pesetas

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10 reportagem Outubro 2004 novas da galiza

também as fendas no partido nogoverno. A rede caciquista monta-da pola direita galega ia rachandoperante a impossibilidade deManuel Fraga controlar o queestava a acontecer. A cidadaniagalega, em cheio na rua, e oPartido Popular de Madrid toman-do posiçons no PP galego, rele-gando e desautorizando cada umdos seus dirigentes. EnquantoFraga rogava em Madrid que lhedeixassem agarrar o boi polos cor-nos, José Cuinha e Mariano Rajoytravavam a batalha definitiva queacabou com a falência política deCuinha propiciada polo actualsecretário geral do PPdG, JesúsPalmou. A cabeça política dePalmou voltou a ser umha das rei-vindicaçons dos ourensanos nestareediçom daquela batalha. O porta-voz do GrupoParlamentar do BNG, XoséManuel Beiras espetou a Fraga nodebate sobre o "Estado daAutonomia" -esse em que o presi-dente da Junta desmaiou- oseguinte: "Na emergência doPrestige, você demitiu-se, deixoude exercer como Presidente daJunta e deixou que Rajoy ocupas-se o espaço institucional .Sacrificou você a unidade cole-giada do governo galego à sober-ba instrusista de Aznar, e a Juntafendeu em dous pedaços: o grupoque queria que você e a Juntaexercessem as suas responsabili-dades em defesa dos cidadaos ecidadás, e o grupo que se infiltrouna Junta para servir Madrid e nomo povo galego, quer dizer, Aznar eRajoy. Ao grupo autóctone pediuvocê obediência e silêncio, e obe-decêrom e calárom, e prometeu-lhes recompensa com a vice-pre-sidência. E de facto recompensou-os, porém, nom com a vice-pre-sidência, mas com a decapitaçomdecretada por Aznar e comunica-da por Rajoy". De todos e todasas presentes no Parlamento,Fraga, apesar do desmaio dessamanhá, e José Cuinha Cresposabiam melhor do que ninguém deque estava a falar Beiras.

Que quer Baltar?José Luis Baltar nom pede orça-mentos para Ourense, tampoucoumha quota de poder ou "nomsó" como dizem fontes muitopróximas do presidente do PPourensano. Baltar está "a exigirprotecçom" para ele e para osseus. Mariano Rajoy está prestes,

com os seus sequazes na Galiza,Xesús Palmou, Ana Pastor,Nunhez Feijoo e ManuelCabezas, a acabar de vez com opoder dos chamados "da boina".Após a perda das principais cida-des galegas, Madrid entende queé o momento de "matar a velhaguarda" e "impor o seu critérioeconómico e especulativo deluva branca para o qual os velhoscaciques nom servimos."Baltar está a pedir protecçomfrente a esses relatórios em que oPartido Popular começa a pôr luzsobre 15 anos de "governo e dereparto". O de Nogueira e o deLalim, de momento, acalmáromcom a "promessa feita polo velhode que nom havia mais cabeças acortar". Manuel Fraga tambémconseguiu aplacar a cissom que"desta feita se estava a planeartotalmente a sério". Perante asreunions do mestre e do filho domoleiro com o "patrom", Génovaenviou um mensageiro para "daraviso a navegantes" por palavrasdo Conselheiro de Pesca HenriqueLópez Veiga. Trouxo o encargo deMadrid de "avisar Baltar eCuinha" de que o partido tinhaprovas suficientes sobre "o enri-quecimento de alguns deputados edirigentes políticos paralelamenteà sua vida política". OConselheiro evitou dar nomes enom fijo falta, ninguém se quijosentir aludido, mas todos apanhá-rom a mensagem: "a partir deagora vale tudo".

Feijoo e Barreiro acumulam méritos para a sucessom ao assegurar as fontes de poder da rede caciquil. O vice-presidente de Madride o que pretende amarrar os caciques trabalham a fundo para perpetuar o PP no governo da Junta.

[email protected]@terra.es

Baltar nom pedeorçamentos para

Ourense, tampoucoumha quota de

poder ou "nom só".Baltar está "a exigirprotecçom" para ele

e para os seus.Madrid entende que

é o momento de"matar a velha

guarda" e "impor oseu critério económico

e especulativo deluva branca"

Alberto Nuñez Feijoo foi númerodous de Romay Becaria na suapassagem pola gestom sanitáriada Galiza e de Madrid. Sabe bemem que lado está situado, é ambi-cioso e é a aposta mais clara doschamados do "birrete". Contacom o apoio expresso de MarianoRajoy, que "está claro que confianele para limpar o partido",segundo um militante popularourensano. Pouco depois deentrar na executiva espanhola doPartido Popular, Alberto NuñezFeijoo acudiu a umha reuniom emOrtigueira onde se encontráromos principais empresários daGaliza e o grupo de "pressom daCorunha", onde está o presidenteda Cámara Paco Vázquez, CaixaGaliza, Inditex e La Voz deGalicia, entre outros. Perante eles,Alberto Nuñez Feijoo dixo ter acerteza de que seria o próximopresidente do Partido Popular daGaliza e de que viria a ocupar aresidência de Monte Pio.José Manuel Barreiro é o actualvice-presidente segundo, paraalém de Conselheiro doAmbiente e Presidente do PP de

Lugo. Apadrinhado por CacharroPardo, no início estava posiciona-do ao lado dos da "boina". Hojejoga um outro papel dentro dopartido, estando ligado a JesúsPalmou de quem se está a pedir a"cabeça política". Barreiro tam-bém está a mexer os seus corde-linhos. É profundo conhecedorda rede caciquista sustentada poladireita galega. o vice-presidentesegundo da Junta reuniu-se "comvários grupos municipais" paralhes oferecer "o que quigessem". Alberto Nuñez Feijoo move o"capital" galego, José ManuelBarreiro o "potencial de voto".

Os vice-presidentesrepartem favores

Nuñez Feijoo acudiua umha reuniomcom os principaisempresários da

Galiza e o grupo de"pressom da

Corunha", ondeestá o presidente da

Cámara PacoVázquez, Caixa

Galiza, Inditex e LaVoz de Galicia.

Perante eles dixoter a certeza de que

seria o próximopresidente da Junta

Nas últimassemanas, Barreiro

reuniu-se "comvários grupos

municipais" paralhes oferecer "oque quigessem"

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14 de Novembro de 2002Há dous anos afundou o Prestige nasnossas costas. O governo galegodesaparece. O governo espanholentra no sistema caciquista montadopola direita galega deixando os caci-ques sem tempo nem margem demanobra. Começa a crise no PPdG.

16 de Janeiro de 2003Cuinha é demitido após ter-secomprovado que empresas da suapropriedade vendêrom materialpara recolher o piche do Prestigepor valor de 45.000 euros.

Janeiro de 2003Dirigida da sua casa de Lalim,Cuinha tenta promover umha revol-ta de presidentes de cámara afins edirigentes do PP contra XesusPalmou. Jose Luis Baltar ordena aoseu filho José Manuel Baltar e a qua-tro parlamentares de Ourense che-fiar a revolta conhecida como "a daquinta do Nene". Exigem de Aznar ede Fraga a destituiçom de Palmoucomo Secretário Geral do Partido.

25 de Agosto de 2004Fraga anuncia que volta a apresentar-

-se como candidato do PP. Rajoy dizque lhe dá um cheque em branco.

10 de SetembroSom nomeados os dous vice-pre-sidentes, Alberto Nunhez Feijoo eXosé Manuel Barreiro. Baltardeclara, perante estas nomeaçonsque "nom há lutas no PP, mas osourensanos esperamos que aca-bem os défices históricos".

10 de SetembroJosé Miguel Diz Guedes demite-se por surpresa do seu cargo comoConselheiro da Agricultura.Enxerga-se a primeira conseqüên-cia da crise.

12 de SetembroRomaria do Monte do Gozo.Manuel Fraga diz no seu discursoque "nem todos podem ser consel-heiros" e pede unidade. Baltar eCuinha nom assistem aos discur-sos, chegando para o jantar, masnom houvo "trombom", ainda queManuel Fraga visitasse a carpa deOurense assegurando: "eu tam-bém som de Ourense, ainda queseja de Lugo."

17 de SetembroExplode a segunda crise.Presidentes das Cámara fieis aBaltar começam em Ourense aameaçar com abandonar oPartido. José Manuel Baltarcomeça a mobilizar "os da quintado Nene".

20 de SetembroBaltar propom a Fraga numha ceiaem Compostela a ruptura com opartido garantindo a maioria noParlamento até as próximaseleiçons. Manuel Fraga ameaçacom um adiantamento eleitoral.

23 de SetembroO vice-presidente Alberto NúnhezFeijoo acode a Ourense para servirde intermediário na crise mas asua tentativa é considerada umhaprovocaçom.

24 de SetembroCacharro Pardo apoia Baltar nassuas críticas a Madrid e diz que"alguém que sabe que é o próxi-mo tem que defender-se". Baltarmantém as suas posiçons eMadrid opta por expulsá-los do

partido pondo em questom aautoridade de Fraga.

27 de SetembroManuel Fraga tem que suspendera sua agenda por causa de umhagastrenterite.

5 de OutubroFraga entra na sede do PP emCompostela assegurando que "seDeus e Baltar quigerem isto temsoluçom". Reúne-se 20 minutosem Monte Pio com Baltar. Obarom ourensano acode a Luintraà ceia de antigos militantes deCentrista da Galiza, mas perante apresença de jornalistas dá a volta.No entanto, o seu filho JoséManuel Baltar nom tem maioresproblemas e deixa-se fotografar.

6 de OutubroAntes do começo do "DebateSobre o Estado da Autonomia" umsucinto comunicado do PP dá porencerrada a crise em Ourense.Manuel Fraga sofre um esvaeci-mento enquanto pronunciava odiscurso de abertura do debate doEstado da Autonomia.

reportagemOutubro 2004novas da galiza 11

Baltar e Fraga cenificam um acordo que recupera a Cuinha na executiva do PP e mantém o poder dos ‘líderes provinciais’,com licença para manter ‘à sua maneira’ a imprescindível rede caciqil do PP.

Cronologia de umha criseO desencontro entre os ‘populares’ chegou a ameaçar a actual maioria parlamentar do PP

Manuel Fraga sofre um esvaecimento enquanto pronunciava o discurso de aberturado debate do Estado da Autonomia, no passado 6 de Outubro.

Cacharro Pardoapoia Baltar nassuas críticas a

Madrid e diz que"alguém que sabe

que é o próximo temque defender-se".Baltar mantém asposiçons e Madridopta por expulsá-losdo partido pondo emquestom a autoridadede Fraga. Em pouco

tempo, as águascalmam em

aparência, mas asdiferenças de

critério auguram umfuturo tenso após a

morte de Fraga

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Nas novas geraçons do indepen-dentismo existe umha naturalcuriosidade por conhecer a sua his-tória e a bibliografia é escassa: a demaior interesse é o livro A esquer-da independentista galega de NoaRios Bergantinhos e alguns dos tra-balhos (entre eles um meu) da obracolectiva Para umha Galiza inde-pendente. Ainda, há umha série deartigos em revistas e jornais quesom muito de agradecer. No núme-ro 32 de Abrente Maurício Castropublicou um artigo a que fizemumha série de apostilas que entre-guei a Primeira Linha rogando fos-sem publicadas, ou –caso contrá-rio- pedindo umha resposta justifi-cada. Apesar dos meus reiteradospedidos nom obtive mais do quesilêncio. Nom desejo polemizarcom Maurício Castro, já há bastan-tes polémicas no seio do indepen-dentismo, mas quero esclareceralguns pormenores que no seu arti-go, de muito interesse, continhamalgumhas inexactidons e/ou insufi-ciências: precisamente para infor-mar as novas (e em ocasions nomtam novas) geraçons de indepen-dentistas.Castro falava de umha nova pro-posta unitária de carácter eleitoralno campo do nacionalismo em1979: Unidade Galega formadapolo Partido Obreiro Galego, oPartido Socialista Galego, o PartidoGaleguista e militantes do PartidoGalego do Proletariado (PGP), queatingiu uns bons resultados naseleiçons municipais.A realidade é que nenhum militan-te do independentista PGP formouparte da Unidade Galega. Aposiçom do PGP perante aseleiçons municipais de 79 foi comoa do cuco: pôr ovos em diferentesninhos: consistiu em que haviamilitantes do PGP nom apenas nal-gumhas candidaturas municipaisde Unidade Galega mas tambémnalgumha do BN-PG. Aliás, o PGPtambém apoiou candidaturas inde-pendentes como ocorreu emMelide, localidade onde o PGP, eulteriormente Galicia Ceibe, tivoumha grande influência. Esta polí-tica nom tinha nada a ver com ofamoso “entrismo”, já que nem overeador de Santiago, FranciscoTorrente, nem o tenente alcaide deMonforte, Antom Árias, ocultavam

aos seus companheiros de candida-tura a sua militáncia.Castro fala também da fractura emGalicia Ceibe-OLN, em finais de83, afirmando que “ante a propostade autodissoluçom apresentada naVI Assembleia Nacional por umsector que resulta minoritário(encabeçado por Méndez Ferrín) eque abandona a organizaçom man-tendo a publicaçom do vozeiroEspiral”. O grupo nom era minori-tário mas para ser dissolvida aorganizaçom exigia-se umha maio-ria qualificada de dous terços. Osliquidacionistas nom conseguírompor falta de um voto; curiosamenteesse voto seria o de Nemésio Varjaque nom era partidário de continuarcom a organizaçom mas queria dei-xar umha possibilidade aberta aosque desejavam fazê-lo. Poucodepois, Nemésio seria expulso deGalicia Ceibe (OLN). Também dizque a partir desta altura, GaliciaCeibe-OLN passaria a denominar-se Galiza Ceive-OLN. Nada maisinexacto: até a VIII AssembleiaNacional de Galicia Ceibe (OLN),celebrada em Vigo nos dias 23 e 24de Fevereiro de 1985, a organi-zaçom nom adoptou a normativahistórica, mudando, conseqüente-mente, o seu nome polo de GalizaCeive (OLN).Quando fala do processo decriaçom da primeira FPG, MaurícioCastro esquece o ColectivoNacionalista de Compostela (ondemilitava, entre outros, RamiroOuviña Parracho).Quero dizer que a expulsom doPCLN (e de outros colectivos) doBNG, assim como a nom admissomde Galiza Ceive (OLN) está ligadaàs eleiçons europeias de 1987. Estescolectivos criárom comités deapoio à candidatura da HerriBatasuna, sendo esta a razom oficialda sua expulsom ainda que as ver-dadeiras razons fossem outras,como afirmava o colectivo deFerrol, que sob o nome de Comitéde Avance Popular escrevia a 25 deJulho de 87: “As razons som outras.Porque senom se impidiu a entradade Galiza Ceive no BNG, dando lar-gas (larguíssimas) à sua inte-graçom? Porque se provocou o assé-dio político do PCLN, sendo utiliza-da para isto a INTG quando se con-siderou oportuno?” (Texto adaptado

à ortografia moderna por NGZ)Com efeito, as razons reais tinham aver com importantes diferenças polí-ticas e, nomeadamente, com oapoio à luita armada do EGPGC.O mais grave é que Maurício Castrofala de derrota militar do EGPGCsem fazer nenhuma referência à criseque vivia a organizaçom militarpolas diferentes linhas que havia namesma, crise que também contri-buiu para a sua “derrota”. As dife-renças dentro do E.G.P.G.C.começam quando em Maio de 1988se produzem umha série dedetençons que atingem a cúpula domesmo, que deve ser reorganizada.As contradiçons agudizam-se commotivo da desafortunada acçom deIrijoa em Fevereiro de 89. Isto levou a um dos episódios maisdesagradáveis na história do inde-pendentismo galego: a injustadenúncia de colaboraçom com asforças repressivas contra JesusIrago Pereira. Isto provocou umhasérie de graffitis em Compostelaacusando-o de traiçom e umhacampanha contra ele que causouum importante ostracismo. Inácio Martínez Orero conta-oassim no trabalho que publicou emPara umha Galiza independente:O EG acusou internamente ummembro da direcçom da APU decolaborar com o inimigo. Esta acu-saçom vai causar fortes tensons edeserçons dentro do movimentopolítico. Há um sector que passa adesconfiar da capacidade doEGPGC para dirigir o projecto e háoutro sector que, mantendo-se nalealdade irmandinha, assume a acu-saçom que o tempo demonstrou sertotalmente falsa.Jesus Irago Pereira começou a mili-tar desde bem novo na U.P.G., passa-ria depois polo P.C.L.N. e os G.I.GA.Ao se fusionarem os G.I.GA, poucodepois da fundaçom da F.P.G., comGaliza Ceive (OLN) adopta-se estenome para a organizaçom unificadae Suso Irago é eleito para aDirecçom Nacional da nova GalizaCeive (OLN). A4 de Fevereiro de 89é detido, levado a Madrid e torturadopola Guarda Civil. A DirecçomNacional de Galiza Ceive (OLN)emite o mesmo dia um comunicadode imprensa solidarizando-se com oseu camarada e denunciando as bru-tais condiçons da sua detençom.

Suso Irago passaria quase três anosnos cárceres do Estado espanhol,dali lançaria a ideia da constituiçomda Mesa pola Transferência à Galizae a liberdade dos independentistasgalegos.Perante este historial, é evidente que

o independentismo galego, ou polomenos um certo sector do mesmo,tem umha importante dívida sempagar com Jesus Irago Pereira.

Luís Gonçáles Blasco (Foz)

12 vários Outubro 2004 novas da galiza

O Pelourinho do Novas

O Novas da Galiza tem o propósito de ocupar um lugar na informaçom alternativadesvinculada das dependências políticas e económicas a que está ligada a imprensa donosso país. Nasceu para informar de outra forma, de outro ponto de vista, dandoatençom a temas que nos interessam, muitos deles mal tratados polos media politica-mente correctos. Mas o NGZ também quer dar voz àqueles grupos ou indivíduos quedesejam compartilhar informaçons, opinions ou debates com todos os leitores e leito-ras. O PELOURINHO é umha coluna levantada numha praça pública, onde outroraeram expostos os criminosos e as criminosas. O PELOURINHO do NOVAS é,

porém, para expor a tua voz à opiniom pública. Se tens algumha crítica a fazer,algum facto a denunciar, ou desejas transmitir-nos qualquer inquietaçom,comentário ou mesmo algumha opiniom sobre qualquer artigo aparecido noNGZ ou noutros meios, este é o teu lugar. Para fazeres uso dele envia o textojunto ao teu nome completo, localidade, número de bilhete de identidade,correio electrónico ou telefone de contacto. NOVAS GZ reserva-se o direito dedescartar as cartas que ostentarem algum género de desrespeito pessoal ou promove-rem condutas antisociais intoleráveis. Tu tens a palavra... Todos e todas te escutamos.

Notas sobre a história do independentismo

Capas de Para umha Galiza independente e A esquerda independentista galega da Abrente Editora

Nestes últimos anos, no Courel,embora protegido oficialmente,está-se a levar a cabo umha "políticadissimulada" de despovoaçom edevastaçom que visa favorecer olucro de empresas sem escrúpulos. Por isso, queremos denunciar acatástrofe ambiental que percorre aságuas do Lor, do Sil e do Minho atéo Atlántico. Aconhecida louseira ile-gal da Campa explorada por CUPI-RE PADESA SL, líder mundial nacomercializaçom de lousa avança àsolta, com a cumplicidade das admi-nistraçons, por entre os núcleospovoados do Courel: Campa, Val doMir, Pendelha, Touçom, Folgoso eSanta Eufémia. Estám a trabalhar amenos de 300 metros do rio Lor,onde desagua o rio que desce deSanta Eufémia, afectado polo"entulho" da louseira e polos trabal-hos de extracçom. O terreno nomregenera, ocupando o entulho toda asuperfície da exploraçom e jazendoa terra vegetal a dezenas de metrosde profundidade. O uso de explosi-vos e o caótico e temerário avançoda exploraçom estám a produzir fen-das nas paredes das casas e nasladeiras dos montes e, decerto, aca-barám por provocar umha grandedesgraça. Após quase duas décadasde "surpreendente currículo de res-peito à lei, à natureza e às pessoas",esta empresa está a processar agoraa legalizaçom e o alargamento dasua actividade. A recente conse-cuçom da categoria de "exploraçomde recursos C ", permitirá-lhe no

futuro, prévia concessom da licençamunicipal, a ampliaçom e expro-priaçom forçosa das leiras e casas davizinhança. A situaçom implicará adesvalorizaçom das propriedades,a cessaçom da actividade turística eagropequária e a despovoaçom totaldo Concelho. No Courel tenhem-seaplicado investimentos de fundoseuropeus, através de sucessivas ini-ciativas LEADER para o desenvol-vimento rural sustentável, totalmen-te incompatível com este modo deexplorar os recursos naturais.A zona de Ancares-Caurel foi decla-rada Zona de Especial Conserva-çom, e devia ser portanto umha obri-gaçom institucional a promoçom deumha zona habitável, promovendo oemprego alternativo nos campos daregeneraçom ambiental, da conser-vaçom da paisagem, do patrimóniocultural, da silvicultura, da agrope-quária de qualidade (carne, castan-has, mel, horta, etc.) e do turismosustentável, evitando-se assim achantagem das empresas que des-truem sob o pretexto dos empregos.Já agora denunciamos também oproblema humanitário: com o isola-mento e a marginalizaçom que pro-voca a ausência da maioria dos ser-viços básicos e a obrigaçom de emi-grar, de pouco serve que umha can-teira que tem umha produçom bruta20 vezes superior à soma do orça-mento do Cámara Municipal e dasdespesas educativas e sanitárias.

S.O.S. (Courel)

Denunciam desastre ambiental no Caurel

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Outubro 2004novas da galiza 13

A multinacional norte-americanaCarlyle anunciou há semanas aoperaçom de compra da firmaSaprogal (Sociedade Anónima deProdutos Galegos), fabricante deraçons da conhecida marca Biona,com sede na Corunha e possuidorade umha fábrica em Oleiros e outrano Porrinho.Fora dos círculos económicos, naGaliza o nome de Carlyle dizia-nos pouco mais do que nada. Masas últimas declaraçons do multifa-cetado Michael Moore no festivalde cinema de Cannes, em que cla-ramente pujo o ponto de mira nesteconglomerado financeiro, fizéromcom que crescesse a curiosidadepor conhecer o que há por detrásdo novo proprietário da empresaque fabrica as conhecidas raçonsBiona.Dentro do caótico organigrama deCarlyle, possuem ou posuírom car-gos de responsabilidade o ex-pre-sidente dos EEUU George Bush, oex-primeiro ministro británicoJohn Major, o ex-secretário daDefesa dos EEUU Frank Carlucci,e mesmo três irmaos de BinLaden.Eric Leser afirmava num artigopublicado no jornal francês LeMonde intitulado O ImpérioCarlyle, que este grupo é o maiorinvestidor privado do mundo,enraizado profundamente no sec-tor armamentista e identificava-ocomo "um conglomerado mercan-til que trabalha discretamente,estabelecendo relaçons comhomens influentes no plano políti-co e dando lugar a um complexomilitar-industrial". Outras fontes aprofundam maisainda nas teorias conspirativas echegam a suster que a famíliaBush saiu beneficiada do 11- S (jáque teria dado o motivo para justi-ficar a guerra do Iraque) e afirmamque na realidade nom existe o maismínimo interesse de capturarOsama Bin Laden, irmao de trêsdos seus parceiros. Estas opinionsfôrom recolhidas no livro The IronTriangle. Inside The Secret WorldOf The Carlyle Group, escrito polojornalista Dan Brody.

Na própria Carlyle defendem-se aargumentar que relacionar aCarlyle com o 11- S ou com inte-resses armamentistas no Iraque "émesmo um exagero" e esclarecemque George Bush pai nom trabalhasenom como conferencista.A filosofia de The Carlyle Group

(nome oficial da firma) foi expos-to num comunicado de apresen-taçom. Nele explica-se como gereum montante superior aos 18.000milhons de dólares. O seu objecti-vo é gerar rendimentos extraordi-nários para o seus investidores,"empregando umha prudente, dis-

ciplinada e já verificada focagemno investimento". A companhiainvestiu 10.500 milhons de dólaresdesde a sua fundaçom no ano1987. Tem 550 empregados nosseus 22 escritórios, sediados em 14países, um deles no Estado espan-hol.Umha notícia publicada no WallStreet Journal a 28 de Novembrode 2001 desvendava que Bush paimantivo duas reunions, em 1998 eem 2000, em qualidade de consel-heiro de Carlyle, com familiaresde Bin Laden e com outros impor-tantes empresários árabes, os BinMahfouz.The Carlyle Group é a maior com-panhia do mundo de investimentosde private equity, umha espécie depasso intermédio entre o financia-mento de capital risco e o investi-mento na Bolsa. Actualmente, ofundo investidor participa emempresas de aeronáutica e defesa(como United Defense Industries),alimentaçom (Dr. Pepper / SevenUp), industriais (Terreal) ou detelecomunicaçons (Aprovia), entreoutras muitas. Carlyle dispom desete escritórios na Europa:Barcelona, Frankfurt, Londres,Luxemburgo, Munique, Milám eParis fôrom as cidades escolhidaspolo grupo multinacional como

base de operaçons para o seudesembarco na Europa. A chegadaao Estado espanhol de Carlyle pro-duziu-se em Junho de 2001.Aproveitando a apresentaçom em

Madrid e Barcelona, realizou-se areuniom anual do ConselhoAssessor na capital dos PaísesCataláns. Entre os assistentes encon-travam-se Major, Carlucci e Karl OttoPohl, ex-presidente do Bundesbank.Desde entom, Carlyle, dirigida noEstado espanhol por Pedro deEsteban e Alex Wagenberg, teimouna compra de Retevisión, entrou nocapital de empresas como KeyPlastics, Terreal, MediMedia ouAprovia e, finalmente, conseguiuadquirir Saprogal.

Grupo multinacional Carlyle compra Saprogal

Bush pai mantivo

duas reunions, em

1998 e em 2000,

em qualidade de

conselheiro de

Carlyle, com fami-

liares de Bin Laden

Familiares de Bush e Bin Laden ocupam cargos nesta sociedade,

que participa em empresas do sector armamentista

Redacçom

reportagem

reportagem

Fontes chegam asuster que afamília Bush

saiu beneficiadado 11- S

Manifestantes contra a actividade do grupo financeiro Carlyle, comprador de Saprogal

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Houve quase duplo de rapazes erapazas que escolherom Português.O resultado ultrapassou as maisoptimistas previsons do centro jáque, apesar dos prejuízos iniciaisexistentes, deu resultado a campan-ha de informaçom que o centro deensino fez entre as crianças e osseus pais.

14 cultura Outubro 2004 novas da galiza

portal galego da língua

Luso-reintegracionistas representam aGaliza no Foro Social Europeu

PGL

As organizaçons galegas AAG-P,AGAL e MDL participárom, noForum Social Europeu que se cele-brou em Londres no mês deOutubro. Neste encontro tambémassitirom colectivos de defesa dalíngua de Euscádi, Catalunha,Gales e o povo curdo, para recla-mar os direitos linguísticos detodos eles no quadro da UniomEuropeia. A representaçom dos trêscolectivos luso-reintegracionistas -única representaçom do nosso paísno FSE- participárom no forosobre "Identidade e DireitosLinguísticos na Europa". Assimapresentou-se um breve resumo dasituaçom linguística do nosso paíse dos problemas que enfrenta ogalego-português no quadro legalespanhol. Os representantes deEuscádi, Catalunha, Gales e oCurdistám explicárom as dificul-dades e possibilidades das suaslínguas no âmbito da UniomEuropeia.Igualmente, as três organizaçonsacordárom assinar um comunica-do conjunto em que, todas as enti-dades de defesa da língua partici-pantes no encontro, reclamam dasautoridades da U.E. acçons eficazes

na defesa dos direitos linguísticosde todos os seus habitantes, aotempo que reconhecem oficial-mente a unidade da língua portu-guesa na Galiza e dos diferentesdialectos do catalám. Também sedefende que seja permitido a todosos cidadaos comunitários o relacio-namento com as administraçons daU.E. nas suas línguas respectivas. Do mesmo jeito, os três colectivosgalegos estarám representados namanifestaçom que vai ter lugar emLondres o próximo domingo,dezassete de Outubro, presididapor uma faixa na que poderá ler-se,em vários idiomas: "Todas as lín-guas, oficiais numa Europa livre".

Professorado do Norte de Portugal conhece emMondonhedo ''o mundo de Álvaro Cunqueiro''

PGL

O conhecimento da vida e a obra deÁlvaro Cunqueiro foi o motivo davisita dum grupo de quarenta profis-sionais do ensino secundário e darede de bibliotecas da regiom Nortede Portugal. O programa iniciou-seem Vilalva, com umha comida, econtinuou com a viagem aMondonhedo e com visitas à FonteVelha, à casa natal de Cunqueiro eao bairro dos Moínhos. Tambémefectuaram visita à botica do pai doescritor, à Praça da Catedral assimcomo a outros lugares relacionadoscom a vida do autor do Merlim efamília. Durante a sua estada emMondonhedo, a delegaçom lusa foi

visitada por Ramom Reimunde eBernardo Penabade, que entrega-ram aos coordenadores do eventoexemplares das Actas do Congressoorganizado pola AGAL (celebradoem Mondonhedo em Abril de1991). Cada um dos assistentesrecebeu também cópias de diversosartigos relacionados com a obra deCunqueiro, nomeadamente um daautoria do poeta Manuel Maria.

O encontro, coordenado por XavierSenín -da Consellaria de Cultura-contou com o apoio científico daprofessora Isabel Soto e do escritorLino Braxe, que se encarregou daleitura dos textos narrativos e dorecitado dos poemas de Cunqueiro.

O projecto “Cultura semFronteiras” veu dar continuidade aojá longo trabalho de parceria e inter-cámbio institucional entre as admi-nistraçons políticas galega e portu-guesa. Em 2003 realizou-se oCaminho do Douro, dedicado a Eçade Queirós, João Araújo Correia eMiguel Torga. Da parte galega asactividades estiveram dedicadas aRosalia de Castro. Neste ano 2004,o primeiro dos encontros –celebra-do em Amarante em 12 e 13 deMarço- honrou a figura de Teixeirade Pascoães. No mês de Setembroumha delegaçom galega estiveraem Portugal para estudar mais emprofundidade a obra de CamiloCastelo Branco.

Comunicado conjunto reclamará o reconheceminto oficial da unidade da língua portuguesa na Galizae dos diferentes dialectos do catalám

Os colectivos luso-reintegracionistas galegos participárom activamente no Foro.

Ministradas aulas de português noliceu de Bande

José Manuel Ribeira

Aulas de português estám já a serministradas no Liceu "AquisQuerquernis" de Bande (Ourense).No presente curso 2004-05 ofertou-se aos rapazes por vez primeira em3º curso do ESO (14 a 15 anos deidade) esta cadeira como 2º LínguaEstrangeira (sic), a escolheremcomo optativa à par do Francês.

Editora Crisálidalança no Brasil

antologia bilínguede poemas de

Rosalia de Castro

Rui MendesAndityas Soares de Moura

Sob o título “A Rosa dosClaustros” a Editora Crisálidaestá lançando uma antologiabilíngüe de poemas da escritoragalega Rosalía de Castro. Olançamento aconteceu naPrimavera dos Livros, que oco-rreu nos dias 17, 18 e 19 desetembro no Rio de Janeiro(Jóquei Clube). Após a apresentaçom na feira, aantologia estará nas melhoreslivrarias, ou seja, naquelas queainda dedicam um cantinho àpoesia. A data de lançamentodesta obra em Belo Horizonteestá ainda sendo pensada.

As entidades parti-cipantes no encon-

tro reclamamacçons eficazes nadefesa dos direitos

linguísticos detodos os habitantes

da U. E.

Os dias 15 e 16 de Outubro as cidades de Mondonhedo e Lugo foram cenário dos terceiros

encontros do projecto “O Caminho das Letras”

Aprender línguasaumenta o volume

do cérebroPiquim

As pessoas que falam duas línguas têmmais matéria cinzenta na zona cerebraldestinada à linguagem. O cérebro,contrariamente ao que se pensava atéhá pouco tempo, é como um músculoque, treinado, aumenta de volume econsistência. Som afirmações do Dr.italiano Andrea Mechelli, do Institutode Neuro-ciências Cognitivas deLondres, que leva cinco anos investi-gando sobre a matéria.

''Planeta dos Macacos'', nas ondas

PGL

A voz de Vítor Manuel LourençoPeres guia "Planeta dos Macacos"um dos primeiros programas decriaçom própria para estaçomradioGaliza.net. Este "coquetelradiofónico", como o definem osresponsáveis polo programa, éuma ideia original de Miguel R.Penas, e visa abrir novas janelas edebater acerca da actualidadeinternacional, sempre com uma

visom "alternativa" e desde aGaliza. Ainda, o "Planeta" acolhemais duas pequenas secções alémda "Debate e reflexom", e elas som"Histórias", na que Raquel Peresdramatiza lendas e histórias lusó-fonas, e o "Noticiário da Língua",secçom que fez parte em seu dia do"Falares sem Cancelas" e queagora, da mão do seu responsável,passa para este novo programa.

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Outubro 2004novas da galiza 15

antropologia

Fala-nos da actividade de AGAN-TRO.Realizamos actividades de diferentesgéneros. Por um lado, temos activida-des dirigidas aos e às profissionais dadisciplina, como a organizaçom decongressos. Nos últimos anos dedica-mo-nos também a outras cousas, paraalém das informaçons que proporcio-namos no web. Este ano também é odo desenvolvimento de umha propos-ta vinculada à figura do Xocas com opretexto das Letras Galegas, mercê deum acordo com a Cámara Municipalde Compostela. O Xocas foi umhafigura muito relacionada com a antro-pologia, pois umha das linhas maisimportantes desenvolvidas por esteautor multifacetado é a da etnografia,tendo-se tornado um alicerce dainvestigaçom antropológica daGaliza, tanto polos seus métodos detrabalho e dados que recolheu sobreproduçons materiais da cultura e dasociedade tradicional galega comopolas suas investigaçons. Ainda, esta-mos a apostar nos ObradoirosAbertos, em que estamos a trabalharagora.

Pois, três ediçons de ObradoirosAbertos. Em que consiste esta ini-ciativa?Pensamos neles como umha fórmularelacional das achegas da antropolo-gia para atender as necessidades quese estám a produzir em ámbitos comoa educaçom, a saúde, as comunidadesurbanas, o património ou as insti-tuiçons. Os primeiros Obradoirosfôrom no ano 2002 e tratárom sobrequestons religiosas. Nesse momento oensino secundário estava propondoumha alternativa à religiom que fosseministrada por professorado das ciên-cias humanas, e surgiu umha propos-ta para articular este obradoiro de umponto de vista antropológico. Osseguintes Obradoiros tratárom sobre opatrimónio cultural. Nesse momento

fôrom ampliados e fizérom-se convi-tes para pessoas implicadas em ques-tons de gestom do património, pesso-al da Junta e pessoas vinculadas aodesenvolvimento e à revalorizaçompatrimonial… E agora estamos comObradoiros III. Ainda, tenho que dizerque o Museu do Povo Galego colabo-ra em todo o que fazemos desinteres-sadamente, igual que toda a gente quecoordena ou que vem a título de cola-boradora às actividades. Venhem semnada em troca, e isso deve ser tido emconta, porque diz muito delas e senom tivéssemos a sua ajuda, nompoderíamos fazer o que fazemos.

Quanto à comunidade cigana, exis-te umha espécie de barreira invisí-vel que fai com que a existência depaios e ciganos discorra paralela,sem se chegarem a misturar asduas comunidades. A que pensasque se deve?Eu vejo que, como todos os grupossociais, a comunidade cigana temumha história. A comunidade ciganacomeçou a ser nómada no século XV.Antes estavam assentes na Índia, masé muito complicado encontrar dadosconcretos, pois cumpre ter em contaque foi uma história construída a par-tir de um contexto de marginali-zaçom. Começárom a emigrar paraocidente, e é nesse momento em queaparece umha das suas característicasactuais, e onde a antropologia temmuito a dizer. Aí aparece a definiçomde etnocentrismo, que referida aOcidente é umha atitude que conside-ra a sociedade ocidental, industrial ecapitalista como sendo amelhor. Assim, conforme os ciganosse iam assentando pola Europa torna-va-se evidente que os seus costumeseram diferentes, vestiam diferente, asua religiom era diferente…Começou a proibir-se a sua língua efôrom-lhes impostos costumes comoo matrimónio. A comunidade cigana,

evidentemente, nom pode agradecer.É umprocesso em que agem aquelesque nom deixam ser essa comunidadetal e como é. A cultura e a sociedadeocidental é etnocêntrica, situa-seacima das outras e estabelece ummodelo de indivíduo. O que ficar foradisso, o diferente, passa automatica-mente a ser considerado inferior.

Como vês a situaçom do colectivoimigrante?Enquanto nom formos capazes de nosapercebermos de que todas as pessoastemos algo a ver com os desequilí-brios e desigualdades, continuando aapropriar-nos de recursos e de cultura,vai ser difícil solucionarmos nada. Háque entender que simplesmente ten-hem outros códigos e outros costumesdiferentes, mas isso nom quer dizerque estejam mais perto da animalida-de. E também convém ter em conta o

grau de responsabilidade que tem anossa sociedade na situaçom dos paí-ses de que provenhen os colectivosimigrantes, pois do ponto de vistaeconómico, se existe imigraçomagora é porque dantes a indústria oci-dental deixou esses países sem recur-sos.Pensas que a sociedade galega é,polo menos em parte, racista?É, porque ainda nom aprendemos adeixar de ser. É racista, patriarcalista eclassista. Existe a eterna mania derejeitar o diferente.

Achas que as instituiçons e grupospolíticos deviam ter mais em contaeste tipo de questons?Com certeza. Polo menos deviamestar mais sensibilizados para a edu-caçom, para que certas questons sefocassem adequadamente no ensino.E também deviam ser postas emquestom as ajudas que se dam, poissom unicamente do tipo assistencial.Creio que as políticas que existemnom fomentam a integraçom, e deviarealizar-se um esforço muito maiornesse sentido. Aliás, quando é precisoque existam colectivos como Chavósou PreSOS, que servem de interme-diários entre determinados grupos e asociedade, é evidente que as insti-tuiçons nom estám a fazer as cousascomo deviam.

Quanto à situaçom das mulheresna sociedade, como vês o panora-ma actual?

Eu penso que as mulheres sempreestivemos no mercado laboral. Se tensem conta as actividades agrárias, aspiscatórias, e tantas outras que desdesempre fôrom realizadas por mulhe-res, vê-se que sempre trabalhamos.Hoje continuámos a viver numhasociedade patriarcal em que somosmedidas pola forma do corpo durantetoda a vida e fam-se distinçons entrefêmeas e machos. Tem-se avançadoem questons como o acesso àUniversidade, mas tarefas como as decasa ou o cuidado das crianças conti-nuam a considerar-se exclusivamentefemininas, e continuam a ser muitodifíceis de combinar. Por outro lado,cada vez há mais famílias monopa-rentais, compostas quer pola figuramaterna quer pola paterna. E o temado trabalho tornou-se mais complica-do, pois nom sabemos integrar bem ascrianças nesse aspecto. Teríamos querepensar a questom, com projectosdiferentes, como infantários. Com asETTs as raparigas continuam a tersalários mais baixos do que os rapa-zes. A violência contra as mulheres éalgo descarado, assim que algumhacousa terá que acontecer, na edu-caçom por exemplo. O que sim vejoimportante som as redes internacio-nais, que a raiz de que os grupos femi-nistas tenham a possibilidade de rela-cionar-se se reconheça por fim que asmulheres temos direitos. Fiquei muitocontente na Marcha Mundial de Vigo,pois vi muitas raparigas novas impli-cadas.

AGANTROAntropologia fornece dados de interesse para o conhecimento das sociedades que nom poderiam obter-se de outra forma”

cultura

“A cultura e sociedade ocidental estabelece ummodelo de indivíduo e o diferente passa a ser

considerado inferior”

Sole Rei

A Associaçom Galega de Antropologia (AGANTRO) nas-ceu em 1993, após umha reuniom de um grupo de profis-sionais e estudantes de antropologia com interesse nodesenvolvimento e na difusom desta disciplina na Galiza.Sediada no Museu do Povo Galego, foi concebida para dara conhecer diversas produçons da antropologia cultural esocial. NOVAS da GALIZA conversou com MariámMarinho, membro deste colectivo.

Continuámos aviver numha socie-dade patriarcal emque somos medidas

pola forma docorpo durante toda

a vida

À esquerda, Adriana Blach, (ponente dos Obradoiros), no centro Fátima Braña (Presidenta de AGANTRO)

e à direita Mariám Marinho (Coordenadoras dos Obradoiros III)

Page 16: ngz23 - Novas da Galizanovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz23.pdf · cabeça. Para o NOVAS da GALI-ZA nom é motivo de orgulho que capital galego contribua para financiar os projectos

Xiana ÁriasHá que ir morrendo,Manolo,há que ir morrendo, berra-vam naquela folia simpáticadas mobilizaçons do NuncaMais aquele. E ei-lo, DomManuel, morrendo devaga-rinho, esmigalhado e fedo-rento. Como sempre. Ele, avanguarda do franquismoconstante, do caciquismoautóctone, apodrece semdespir aquelas peúgas usa-das que estreou quando eraum senhorinho do pós-gue-rra, quando fora tantas vezesnúmero um em concursos,aquelas em que os professo-res –exilados, retaliados,assassinados- foram substi-tuídos por frades e ainda amaior parte dos alunos desa-pareceram. Bonito cadáverem vida. Entretanto, revoltam-se osvermes do corpo ferido, osmesmos que, com a razomda fé nos corpos corruptos,reclamam a transubstanciali-zaçom ao contrário: a con-versom em pam e vinho docorpo e do sangue doPatrom. Fôrom muitos anosa engordar o capom deVilalba para agora ficaremsem festa gastronómica porcausa desses fode-chinchosde cidade e os seus cateringsde “tira-e-pom”.Em morrendo, morrendo,vivemos na Galiza do gerún-dio: no efeito de continuida-de, no carácter durativo e naextensom da acçom, queassim dizem nos manuais.Entom, é precisa a morte devez dessa Galiza pandémica,doida e murcha. Mas, certo,já sabemos, nom é novidade,sempre na mesma. Pois tal,que mais dá? Quando sommaus tempos para o tiranicí-dio continuaremos como oscans da Terra Chá, a outra, ado Manuel Maria, “ladrandopor ladrar”. E aguardando,mas cogitando, subvertendo,reagindo, revoltando... quesom gerúndios.

novas da

"Somos mais do que um projecto deresistência"

a entrevista Xesús Ron, actor e gerente da Sala Nasa de Compostela

Gerúndios

Kiko Neves

Xesús Ron é o comandante da Sala Nasa, um espaço alternativo de teatro, música e dança que foi crescendo apesarde todas as dificuldades que acompanham um projecto semelhante levando em conta as actuais políticas culturais

do País. Um exemplo de resistência, e muito mais, que neste Outono fai doze anos.

Novidades como as jornadas anti-proibicionistas, com espectáculosconsolidados como as “ultranoi-tes”, e de novo umha aposta naPortu-Galiza… Quais som asprincipais linhas de programaçomda Nasa para este ano?Nas jornadas antiproibicionistas deNovembro a Nasa é sobretudo umhareceptora, quer dizer, quando umgrupo actua aqui é porque nos fijochegar a sua proposta, aliás, tentamosdar resposta a propostas nom só doámbito artístico, musical e teatralcomo também às geradas por qual-quer outro colectivo da sociedade.Quanto às linhas da programaçomdeste ano tínhamos vários objectivos.O de Portu-Galiza é um programaque desenvolvemos nos anos 95 e 96e que naquela altura contara com oapoio da Cámara Municipal, poissem ela seria quase impossível demanter, embora nunca perdêssemoso interesse e os contactos com gruposportugueses. Para o ano temos o pro-pósito de voltar a abrir um espaço emque a presença de grupos de teatro emúsica portugueses seja mais regu-lar, mas ainda estamos a negociar acolaboraçom da Cámara Municipalde Santiago. Outra das linhas em quetambém apostamos este ano tem aver com a consolidaçom deCompostela como ponto chave doteatro contemporáneo ao nível estatale europeu. Por outro lado, queremosmanter o vínculo com o teatro gale-go, com as pessoas que continuam afazer teatro na Galiza, que é bastantemilagroso, através de companhiasconsolidadas. Já começamos no mêsde Setembro, com a presença deBerrobambám, por exemplo, e conti-nuamos agora em Outubro com umciclo que chamado Os Novos, que éumha porta aberta a toda a gente quecomeça a fazer teatro ou dança e queainda nom apresentou nenhum tra-balho em público. Mantém-se o das“Ultranoites”, que é o lugar deencontro do teatro e da música, eoutra das linhas a seguir vai ser con-tinuar com um programa que esta-mos a elaborar desde há já dous anoschamado Cabo Jam Lourenço, que

queremos desenvolver mais aindaincluindo novas secçons. E estas somalgumhas das linhas planificadaspara além dos concertos de músicahabituais e dos seraos na Nasa, dedi-cados à música e à dança tradicionaissem esquecermos o cinema.

A Sala Nasa foi pioneira na Galizaao contar desde o começo comumha companhia de teatro asso-ciada como foi e continua a serChévere...Pode dizer-se que foi. Quandocomeçamos, no ano 1992, a Nasaabriu com um espectáculo deChévere que estivo durante um mêsem cartaz. Seguramente, foi umhadas primeiras experiências destegénero que se acometia naquelemomento. Agora mesmo, no míni-mo, há já mais umha, a Sala Galán,que está ligada a Matarile, e aindaque poda ser algo diferente, oCinema Yago, com umha companhiade Títeres e outra de Teatro. Mas tal-vez fôssemos nós que com maisregularidade mantivemos esse tipode funcionamento. Por exemplo,tivemos Rio Bravo dous meses emcartaz. A presença da companhia vê-se também nas “Ultranoites”, pois acontinuidade deste projecto durante13 anos tem a ver com o facto dehaver umha companhia por detrás, eainda, logicamente, com muitíssimamais gente.

Quanto ao que comentavas dasvossas relaçons com a CámaraMunicipal, achas que melhoroudepois de alguns anos escuros?Nos primeiros anos da Nasa, a cola-boraçom com a Cámara deCompostela foi fundamental, porquehavia muito boa receptividade porparte de algumhas pessoas que tin-ham responsabilidades na Cámara,nomeadamente com Xosé ManuelVillanueva, que era o vereador decultura e de economia e fazenda. Istomostra bem como era importante aaposta cultural na cidade naquelesanos. Mas em 1997 deixamos decontar com esse apoio, e até hojenom voltou a existir umha colabo-

raçom activa e operativa que estamosconfiantes em recuperar a partir de2005. Estamos a falar desde hámeses, estamos a ver como podemoschegar a um acordo e tudo indica quese voltará a fazer algum projecto emcomum. Para nós, a Cámara, arelaçom institucional, é mesmoimportante, porque significa sermospartícipes de um projecto comum decidade que nom depende exclusiva-mente da instituiçom. Com a nossaparticipaçom nos planos de políticacultural, estamos a incidir em queseja diferente, e um dos objectivos daNasa também era que a nossa activi-dade conseguisse transformar dealgumha maneira a nossa sociedadepor meio da cultura. Em definitivo,nessa relaçom de proximidade com aCámara podem ser conseguidas mui-tas cousas. Noutro plano, as relaçonscom o Ministério da Cultura ou coma Junta som de outra índole, digamosque com estoutras instituiçons émesmo impossível interagir ou che-gar a compartilhar absolutamentenada.

Neste Outubro a Nasa fai 12 anos.Como avalias as diferentes épocase mudanças que sofreu o projecto?Embora houvesse algumhas som-bras, em geral o projecto tem muda-do muito, tanto a equipa que o impul-sionou como o “habitat” em que se

foi desenvolvendo a Nasa, isto é,Compostela, que mudou radicalmen-te nestes doze anos no que diz respei-to ao plano cultural. Também as pes-soas, as nossas biografias, poissomos 12 anos mais velhos e velhas,e mesmo o público, tam diferente dode há umha década. Quer dizer,exceptuando Fraga, o restante foimudando bastante. A valorizaçomque fazemos é, no entanto, positiva,porque estamos aqui nom só comoum exemplo de resistência, tambémconstatamos que a Nasa foi crescen-do continuamente apesar de todas asdificuldades existentes hoje na cultu-ra galega, e ainda que em diferentesmomentos pensamos que estávamosa tocar as extremas, que nom haviamaneira de conseguirmos que umprojecto deste tipo crescesse mais,acabávamos sempre por encontrarumha via mediante a qual conseguía-mos ultrapassar umha nova baliza,um novo limite. O projecto tambémse foi profissionalizando, pois no iní-cio trabalhávamos quase por volunta-rismo.Agora trabalhamos melhor do queantes e damos melhor serviço ecobertura aos grupos que chegamaté nós, e creio que também àassistência. A valorizaçom definiti-va é portanto muito positiva aindaque nos tenha custado muito levartudo avante.

Xesús Ron é gerente da Sala NASA de Compostela