Galiza continua a emigrar em pleno século XXI -...

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NÚMERO 29 DE 15 DE ABRIL A 15 DE MAIO DE 2005 1 Galiza continua a emigrar em pleno século XXI RADIOGRAFIA DO MUNDO DO TRABALHO PERANTE UM NOVO 1º DE MAIO No total, a Junta calcula que a populaçom galega emigrada é de 1.400.000 habitantes, o que nos coloca nos primeiros postos dos países europeus que ainda sofrem este drama. E, como defendia o nacionalismo galego dos séculos passados, pouco tem a ver esta sangria com o espírito aventureiro do nosso povo. Os contratos precários na Galiza atingem a percentagem de 60%. Do sector naval à siderurgia, das instalaçons eléctricas à telefonia, e do sector agro-pecuário e pis- catório à construçom, a eventua- lidade, as longas jornadas labo- rais e os baixos salários som a tónica dominante. E nada disto serve para favorecer a contrata- çom. Polo contrário, em finais do ano 2004 o desemprego aumen- tou na Galiza em 4.705 pessoas, ao mesmo tempo que se reduzia no conjunto do Estado espanhol. Esta realidade, como já tínhamos destacado no número anterior, agudiza-se especialmente entre as mulheres, que acedem a con- tratos a tempo parcial como única opçom para conseguirem um emprego, recebendo 26% menos do salário que um homem com idêntico contrato, 34% menos que outra mulher com contrato efectivo e 42% menos que o salário médio. É o pano de fundo da celebraçom de um novo 1º de Maio. / Pag. 10 Dramático balanço nos primeiros meses de 2005: mais de cinco mil incêndios desde Janeiro / 04 E AINDA... VIZINHANÇA DE VIGO manifesta-se contra o Plano Geral de Ordenaçom Municipal (PGOM), apoiado polo PP e o BNG. / 07 O POVO BASCO ridiculariza a Lei de Partidos numhas eleiçons em que se redistribui de novo o voto nacionalista. / 08 Há que botá-los já, agora, sempre por Séchu Sende / 2 XIANA ÁRIAS / As Ilhas Canárias, as Baleares, Madrid ou Barcelona som, no ano 2005, o destino de milha- res de jovens que fogem da precariedade que lhes oferece o nosso mercado laboral. O êxodo anual é de cerca de 60.000 pessoas, e nom som contabiliza- das neste número as pessoas destinadas polas suas empresas para longínquas exploraçons petrolíferas ou mineiras. “Precisamos de colectivos desligados das subvençons com que os poderes locais tencionam calar as vozes discordantes com o seu projecto de cidade” Miguel Doval, presidente do colectivo cidadao Anacos da Cidade de Ourense. PÁGINA 16 Corrupçom em Mugia, dous anos depois da catástrofe do Prestige Centros sociais de várias localidades avançam na sua coordenaçom nacional Depois de 14 anos de Casa Encantada em Compostela e de 6 de Artábria em Ferrol, a abertura de mais locais sociais impulsiona coordenaçom de ámbito nacional. / 14 CARLOS BARROS / Muito se tem falado desta pequena localidade costeira. Primeiro, como símbolo mediático da maior catástrofe ambiental da história galega, e logo, como exemplo da capacida- de do PP para comprar o silêncio de algumhas das suas gentes com efémeras ajudas. E o caciquismo continua. Com o Plano Geral de Ordenaçom Municipal em exe- cuçom, vam ser construídas em Mugia mais de 900 habitaçons, entre andares e casas luxuosas. Enquanto a vizinhança descon- hecia quem poderia vir a adquirir os imóveis, pessoas muito próxi- mas do autarca, Alberto Blanco, soubérom com antecedência onde comprar os terrenos que mais tarde seriam requalificados. Tampouco o património parece interessar muito aos políticos locais, que nom se importam de permitir a construçom de gal- pons e prédios de vários andares ao pé de valiosas igrejas románi- cas, enquanto som recusadas as licenças para os agricultores construírem estábulos ou fossas sépticas. Mas os casos que neste número relatamos parecem só um pri- meiro capítulo de umha história que poderá vir a desvendar-se completamente nos próximos meses, e que nom obviará os pri- vilegiados beneficiários das gran- des obras construídas ao abrigo do Plano Galiza, nem o facto de as ajudas solidárias se terem tor- nado, para alguns, negócio. / 13 A Cámara Municipal sente-se à vontade para fazer e desfazer em benefício de amizades e familiares.

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NÚMERO 29 DE 15 DE ABRIL A 15 DE MAIO DE 2005 1 €

Galiza continua a emigrar empleno século XXI RADIOGRAFIA DO MUNDO DO TRABALHO PERANTE UM NOVO 1º DE MAIO

No total, a Junta calcula que apopulaçom galega emigrada é de1.400.000 habitantes, o que noscoloca nos primeiros postos dospaíses europeus que aindasofrem este drama. E, comodefendia o nacionalismo galegodos séculos passados, pouco tema ver esta sangria com o espíritoaventureiro do nosso povo. Oscontratos precários na Galizaatingem a percentagem de 60%.Do sector naval à siderurgia, das

instalaçons eléctricas à telefonia,e do sector agro-pecuário e pis-catório à construçom, a eventua-lidade, as longas jornadas labo-rais e os baixos salários som atónica dominante. E nada distoserve para favorecer a contrata-çom. Polo contrário, em finais doano 2004 o desemprego aumen-tou na Galiza em 4.705 pessoas,ao mesmo tempo que se reduziano conjunto do Estado espanhol.Esta realidade, como já tínhamos

destacado no número anterior,agudiza-se especialmente entreas mulheres, que acedem a con-tratos a tempo parcial comoúnica opçom para conseguiremum emprego, recebendo 26%menos do salário que um homemcom idêntico contrato, 34%menos que outra mulher comcontrato efectivo e 42% menosque o salário médio. É o pano defundo da celebraçom de umnovo 1º de Maio. / Pag. 10

Dramático balanço nos primeirosmeses de 2005: mais de cinco milincêndios desde Janeiro / 04

E AINDA...

VIZINHANÇA DE VIGO manifesta-se contra o Plano Geral de Ordenaçom Municipal(PGOM), apoiado polo PP e o BNG. / 07

O POVO BASCO ridiculariza a Lei de Partidosnumhas eleiçons em que se redistribui denovo o voto nacionalista. / 08

Há que botá-los já, agora, sempre por Séchu Sende / 2

XIANA ÁRIAS / As Ilhas Canárias, as Baleares, Madridou Barcelona som, no ano 2005, o destino de milha-res de jovens que fogem da precariedade que lhesoferece o nosso mercado laboral. O êxodo anual é

de cerca de 60.000 pessoas, e nom som contabiliza-das neste número as pessoas destinadas polas suasempresas para longínquas exploraçons petrolíferasou mineiras.

“Precisamos de colectivos desligados das subvençons com que os poderes locaistencionam calar as vozes discordantes com o seu projecto de cidade”Miguel Doval, presidente do colectivo cidadao Anacos da Cidade de Ourense. PÁGINA 16

Corrupçom em Mugia,dous anos depois da catástrofe do Prestige

Centros sociais de váriaslocalidades avançam nasua coordenaçom nacionalDepois de 14 anos de Casa Encantada emCompostela e de 6 de Artábria em Ferrol, aabertura de mais locais sociais impulsionacoordenaçom de ámbito nacional. / 14

CARLOS BARROS / Muito se temfalado desta pequena localidadecosteira. Primeiro, como símbolomediático da maior catástrofeambiental da história galega, elogo, como exemplo da capacida-de do PP para comprar o silênciode algumhas das suas gentes comefémeras ajudas. E o caciquismocontinua. Com o Plano Geral deOrdenaçom Municipal em exe-cuçom, vam ser construídas emMugia mais de 900 habitaçons,entre andares e casas luxuosas.Enquanto a vizinhança descon-hecia quem poderia vir a adquiriros imóveis, pessoas muito próxi-mas do autarca, Alberto Blanco,soubérom com antecedênciaonde comprar os terrenos quemais tarde seriam requalificados.

Tampouco o património pareceinteressar muito aos políticoslocais, que nom se importam depermitir a construçom de gal-pons e prédios de vários andaresao pé de valiosas igrejas románi-cas, enquanto som recusadas aslicenças para os agricultoresconstruírem estábulos ou fossassépticas.Mas os casos que neste númerorelatamos parecem só um pri-meiro capítulo de umha históriaque poderá vir a desvendar-secompletamente nos próximosmeses, e que nom obviará os pri-vilegiados beneficiários das gran-des obras construídas ao abrigodo Plano Galiza, nem o facto deas ajudas solidárias se terem tor-nado, para alguns, negócio. / 13

A Cámara Municipal sente-se à vontadepara fazer e desfazer em benefício deamizades e familiares.

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NOVAS DA GALIZA15 de Abril a 15 de Maio de 200502 OPINIOM

1Porque levamos toda a his-tória aguardando um por-vir que nunca chega, hoje

estou contra o Futuro. O futuronom existe, ainda nom existe,já nom existe. Passará o tempoe sempre será presente. Serásempre agora. O futuro é umtempo criado para a esperança,para esperar. E nom podemosviver a esperar. Passarám osdias, passarám os anos, e conti-nuaremos a viver o presente.Nom podemos tocar, ver, sentirnem viver o futuro. O futuro éumha crença, umha ficçom.Pensamos que cada cousa, ideiaou emoçom que mude agora,

mudará o futuro. Pensamos quecada passo que damos agora,muda o porvir. E nom.Esquecei-vos. Só é possívelmudar e construir o presente.Ninguém virá do porvir paradar-nos umha mao. Nenhumaluz virá iluminar o caminhodesde o dia de amanhá. Nadachegará nunca do futuro.Porque tudo sucede agora.Tudo está a mudar agora. O diada libertaçom sempre é hoje.Levamos tantos séculos aguar-dando que demasiada gente sesentou a esperar. Uns conti-nuam a crer na redençom,outros deixárom de acreditar

polo caminho, como se o futurofosse um deus. O futuro é umdeus que nom existe e tem osseus próprios sacerdotes. Ofuturo é o nosso inimigo,seduz-nos como a grande eva-som da vida depois da morte.Pensamos que no futuro tudopode ser melhor, mais livre ejusto. Mesmo temos a palavraoxalá, deus o queira. Nenhumdeus existe. E porque tudo estáa mudar, agora é o momento.Sempre agora. Nom há nada

mais triste que pensar "Algumdia todo mudará, Algum dia…"Porque ninguém di "Algum diate amarei." Dizemos Amo-te.Estou canso de viver num paísde frustraçons onde as pessoassofrem aguardando cousas quenom chegam. Que estamos aesperar? Deixemos de aguardar.

2. Porque levamos toda a his-tória aguardando, hoje necessi-to sonhar. A Galiza é um país degente que sonha, um povo de

sonhadores e sonhadoras.Levamos séculos sonhandooutras Galizas. Somos especia-listas. Nom se pode colonizar omundo dos sonhos. Podemossonhar com um manual de ins-truçons para sermos livres.Sonhar é um direito e um deverdos cidadaos e cidadás da Terra.Na Galiza já escrevemos mil-hons de poemas com os nossossonhos. Parece que a poesia foihistoricamente o nosso princi-pal depósito de sonhos. A lite-

Há que botá-losjá, agora, sempre

O PELOURINHO DAS NOVAS

Se tens algumha crítica a fazer, algumfacto a denunciar, ou desejas transmi-tir-nos algumha inquietaçom oumesmo algumha opiniom sobre qual-quer artigo aparecido nas NGZ, este éo teu lugar. As cartas enviadas deve-rám ser originais e nom poderámexceder as trinta linhas digitadas acomputador. É imprescindível que ostextos estejam assinados. Em casocontrário, NOVAS DA GALIZA reserva-seo direito de publicar estas colabora-çons, como também de resumi-las ouextractá-las quando se consideraroportuno. Também poderám ser des-cartadas aquelas cartas que ostenta-rem algum género de desrespeitopessoal ou promoverem condutasantisociais intoleráveis. Endereço: [email protected]

SÉCHU SENDE

“PENSAMOS QUE CADA PASSO QUE DAMOS AGORA,MUDA O PORVIR. E NOM. ESQUECEI-VOS. SÓ ÉPOSSÍVEL MUDAR E CONSTRUIR O PRESENTE.

NINGUÉM VIRÁ DO PORVIR PARA DAR-NOS UMHAMAO. NENHUMA LUZ VIRÁ ILUMINAR O CAMINHO

DESDE O DIA DE AMANHÁ. NADA CHEGARÁ NUNCADO FUTURO. PORQUE TUDO SUCEDE AGORA. TUDO

ESTÁ A MUDAR AGORA. O DIA DA LIBERTAÇOMSEMPRE É HOJE.”

DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL?Parece ser que o devir dassociedades só se pode encami-nhar para umha direcçommarcada precisamente polasnecessidades de expansom docapital (crescimento económico)num mercado livre e altamentecompetitivo. Cumpre salientar,em primeiro lugar, que dar maiorprotagonismo ao mercado nom éboa ideia, já que só se tem emconta aquilo que tem valormonetário, ficando à margem detoda a consideraçom todo o quenom o tem, incluindo todos osprocessos ambientais quesustentam a vida. Assim, algopode ser rentável economi-camente mas desastrosoambiental e socialmente. O pro-blema é o seguinte: a naturezanom entende de economia, masa economia sim que deveriaentender de natureza, dado queas sociedades e a própriaeconomia dependem dela.

Em segundo lugar, esse cres-cimento económico que tantodefendem como "a única viapossível", denota tanto o seugrande conhecimento dos planosneoliberais sobre economiacomo a sua grande ignoránciasobre ecologia. Os actuais níveisde consumo da actividadeeconómica de materiais eenergia, e a quantidade deresíduos gerados excedem acapacidade de regeneraçom doplaneta. A única via quedefendem estes senhores é a viaque nos conduz direitinhos edireitinhas ao colapso ambiental.Os problemas actuais nomtenhem a ver com a falta de bensmateriais, mas com a suadistribuiçom e acesso, questonsmais relacionadas com a políticae com os modelos de consumodo que com a expansom daeconomia.Ninguém com dous dedos detesta poderia pensar que épossível crescer de formasustentável num mundofisicamente limitado. É curiosoque a própria tecnologia mo-

derna, dentro deste mesmocontexto produtivista -culpávelda crise ambiental-, podaapresentar-se como 'causadora' ecomo futura 'soluçom' de ummesmo problema (creio quenom temos os suficientesconhecimentos de 'futurologia'para ser tam pouco prudentes econfiar em que sempre haverátecnologia que solucione osproblemas derivados das nossasatitudes irresponsáveis).

David Pérez, economista e mem-bro do grupo político-mmusical'Skárnio', e Daniel Vázquez, eco-nomista e membro do colectivoambientalista 'Coto do Frade'

PARA ALÉM DO FUTEBOL...

Gostaríamos de dar os parabéns àsecçom de desportos, mas nompodemos. Decepcionou-nos bas-tante, já que o futebol é conside-rado o desporto por excelência…mas é o desporto só futebol? Polomenos essa é a sensaçom que

tivemos no número 28, já que sóse fala de futebol, e o que anun-ciam para o seguinte numeroapenas é futebol.Na imprensa, e sobretudo nostelejornais, o único desporto queaparece é o futebol, e depoispinceladinhas de outros. E nóspensávamos que isto nom acon-teceria nas Novas. Por isso, nóspropomos que isto mude, queessa secçom seja diferente, quetrate mais desportos. Aqui, naGaliza, temos muitos e muitasdesportistas de elite: no atletis-mo, ginástica, nataçom, ténis,canoagem, triathlon...A nossa intençom é que comesta secçom se deem a conhecerdesportistas galegos e galegas deoutros desportes que nom sommuito conhecidos. Através deentrevistas, artigos, notícias.Nós, como desportistas, estamosdispostas a colaborar com estasecçom para fazê-la mais com-pleta, mas sem cair no tópico deque o futebol é o desporto quemais interessa às pessoas.

Alva e Mariana Ánsia Calvinho

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ratura, o nosso armazém pre-ferido da imaginaçom. Estábem. Mas eu hoje estou cansoda poesia. Nom podemos con-finar os nossos sonhos na rimaou no verso livre.Necessitamos revelar os nos-sos sonhos fora das páginasimpressas. Sonhemos as for-mas de publicar um jornal,sonhemos as vias de construircooperativas e rede social,sonhemos com empresas decomunicaçom, de agriculturaecológica ou de brinquedos.Ao sonhar forjamos chavespara portas que nom existemainda e que nos conduzem aosnovos territórios necessários.Porque sonhar é umha dasnecessidades para construir-mos o nosso presente.

3. Às vezes temos medo deque acabem com o nosso país,com a nossa língua e connos-co. Mas eles também tenhemmedo de que ergamos o nossopaís, a nossa língua, entre nós.

Tenhem medo dos livrosque escrevemos, das fotosque publicamos, e temem anossa música, e deixar-noscantar livremente, e nom nosdeixam os teatros nem falarna televisom, e tenhem medode que podamos fazer o nossocinema, rádio e de que tenha-mos um jornal. Temem onosso trabalho nas escolas,nas fábricas, nos escritórios.Tenhem medo de que nosjuntemos e temem as nossasmanifestaçons de amor, deliberdade. Tenhem medo de

que nos organizemos nasaldeias, nas vilas, nas cidades.Tenhem medo de que nosdemos conta de que podemoschegar a fazer muito mais doque estamos a fazer se nosjuntamos, se empreendemosprojectos comuns, se lhes per-demos o medo. Receiam decada pessoa que poda imagi-nar um país diferente a este.Temem cada aceno, cadaesforço, cada impulso quefagamos para libertar este paísdas suas maos.

4. "Há que botá-los" é umdesses sonhos que se está aconverter em realidade, empresente. "Há que botá-los" éum filme de mais de 20 curtasque vários centos de pessoasestám a elaborar -a filmar, aactuar, a escrever, a editar, ainformar, a distribuir…- coo-perativamente. HQB quermostrar à cidadania a Galizado PP como o presente que énecessário converter em his-tória. Precariedade laboral,atentados ecológicos, censura,emigraçom, subdesenvolvi-mento, opressom da mulher,assimilaçom lingüística…HQB é produto de um esforçocomum aberto também à tuaparticipaçom. Porque aos queenriquecem com a miséria dagente há que botá-los já, agorae haverá que botá-los sempre.Ainda que amanhá será outrodia e o futuro pode esperar.Em www.arredemo.info háumha porta aberta para ti. Háque botá-los!

NOVAS DA GALIZA15 de Abril a 15 de Maio de 2005 03EDITORIAL

Depois de mais de duas décadas de aplicaçomdo mais ortodoxo receitário neo-liberal, asconseqüências descarnadas de um sistema

económico que parece gravitar sobre e contra as pes-soas som difíceis de disfarçar. Na Galiza, afeitos porumha inércia intemporal a sermos vítimas propicia-tórias de um progresso que sempre reservou para asperiferias toneladas de lixo e idílicas perspectivasdesrespeitadas, esta consciência de pioramento eprecariedade ganha umha nitidez especial. Nomestranha, entom, essa coincidência omnipresente:os meios oficialistas inçam as suas páginas com rela-tórios sobre o atraso, as convergências impossíveis ea emigraçom em alta; o sindicalismo de gestominsiste em grossos dossiers sobre direitos sociais emretrocesso, voracidade patronal e porvires invivíveis;a partidocracia do politicamente correcto, com osseus vernizes diversos, assume em público a exten-som do precariado com a veemência de quem queresconjurar um andaço castigador ou um mau tempoincontrolável; recentemente, foi o próprio FMI quechamou às e aos europeus a prescindirem com rea-lismo do estado-providência, ainda que melhorfosse que primeiro explicasse aos galegos como sedemole umha estrutura ruinosa que aqui nunca pas-sou de edifício a meio construir.Este consenso pessimista apregoa-se aos quatroventos com a prevençom inteligente de aquele quesabe mais útil explicitar umha doença conhecida por

todos, afazendo-nos a aturar passivamente as suasdores, do que lançar-se à tarefa impossível de silen-ciar um padecimento incrustado no mais profundoda existência colectiva. E, com efeito, assim está aacontecer: em poucas etapas da nossa históriarecente a consciência da falta de perspectivas, adegradaçom social e a perda de quase todo o espaçode segurança e bem-estar real se combinou comumha resignaçom mais sólida, um cepticismo maispermanente e umha imersom mais decidida na frus-traçom atomizada e presentista.A reportagem que este número das NOVAS DA

GALIZA apresenta, revisando escrupulosamente adelicada saúde da nossa economia nacional e asituaçom do mundo do trabalho, nom vai quebrarpor si só este perigoso impasse em que o mal-viver seimpom e avança com oposiçons desarticuladas eescassas; mas sim que vai demonstrar que as resis-tências existem e perduram para fazer possíveis,desde aqui e agora, cenários de futuro alternativos.A imprensa crítica que, como a nossa, refuga a prá-tica das pinceladas soltas e as análises isoladas decontexto, deve fazer que o rigor e a visom globaldesvendem interesses ocultos e ao mesmo tempoestimulem projectos colectivos. Porque é o consen-so na vontade de construçom de futuro o único queserve, nestes tempos neo-liberais de desconcerto,contra a hegemonia actual dos que já se contentamcom partilhar lamentaçons.

FAZER O FUTURODISTINTO DO PASSADO

TÓPICOS MACHISTAS

A nova etapa do NOVAS DA

GALIZA é digna de ser parabeni-zada: nom só pola sua entradanos quisques, mas também polonovo desenho e a ampliaçom desecçons que contribuem para oconverter, sem dúvida, num pro-duto jornalístico mais atractivo eprofissional.Porém, a apresentaçom destanova jeira, com o número 28, estálamentavelmente sujada com asconsideraçons que DanielGudim fai na secçom NOVAS

CONFIDÊNCIAS. O seu descobri-mento dos “chanchulhos” naCRTVG desprende desde ocomeço umha série de tópicosmachistas que nom devessem terlugar na “informaçom crítica”que abandeira o NGZ.Com efeito, o articulista criticaCarmen Mella com pseudo-insultos e consideraçons que sópodem ser reprovadas e/ouempregadas com objectivo des-

qualificatório por quem conservae manifesta umha mentalidadeprofundamente machista. Que avizinhança de Melide “suspeita-ra” e “acusara” Carmen Mella de“devoradora de homens” ou“Femme fatale” dava, mais quepara um artigo contra esta mul-her, para toda umha reflexomsobre os tópicos patriarcais queainda pervivem no seio da socie-dade galega. Mas que nas páginasdo próprio NOVAS DA GALIZA, avida sexual de Carmen Mella sejaapresentada como o primeirodado da “vergonha dentro daCRTVG”, é um sintoma alar-mante de que na esquerda donosso país ainda há muito trabal-ho feminista por fazer.Vejo que Daniel Gundim nom faiparte da Redacçom do periódico,e confio em que a inclussom detais consideraçons no seu artigopassou inadvertida para as e osresponsáveis do NGZ. Aguardoque a partir de agora se ponhamaior atençom neste tipo dequestons.

Luzia Matos Buxám

SUSO SANMARTIM

As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçom respeitando aortografia e citando procedência. A informaçom continua periodicamente no sítio web www.novasgz.com e no portal www.galizalivre.org

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FECHO DA EDIÇOM: 15/04/05

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NOVAS DA GALIZA15 de Abril a 15 de Maio de 2005

NOTÍCIAS

04 NOTÍCIAS

Pressom social evita construçomde umha minicentral no rio Outom

REDACÇOM / O projecto de cons-truçom de outra minicentraleléctrica, desta vez promovidopor ENGASA no rio Outom, nosconcelhos de Carvalho e Tordoia,foi declarado nom viável polaDirecçom Geral de Qualidade eAvaliaçom Ambiental daConselharia do Meio Ambiente.A intervençom e a pressom exer-cida pola Plataforma em Defesada Fêrveda de Entre-Cruzes, dogoverno municipal e dos vizin-hos e vizinhas da comarca deBergantinhos em geral, juntocom a da Associaçom para aDefesa Ecológica da Galiza(ADEGA), foi definitiva paraevitar a destruiçom de outro riogalego por causa de um aprovei-tamento hidroeléctrico.A Fêrveda de Entre-Cruzes pos-sui um elevado valor ambiental,paisagístico e mesmo histórico-patrimonial, que foi tido emconta no relatório elaborado polaDirecçom Geral, que assinalavaos prejudiciais efeitos que aminicentral teria sobre a vegeta-çom específica da zona, comotambém na vistosidade do salto,que diminuiria em 60% nosmeses de Inverno. A escassaenergia eléctrica que seria extra-ída e o impacto que produzirianas terras dos arredores a cons-truçom dos novos acessos preci-sos para se realizar o projecto,também fôrom tidos em contapolo executivo meio ambientalda Junta.No entanto, o governo galegocontinua sem contar com umhanormativa específica e estrita emmatéria ambiental e, mais con-cretamente, para a protecçomdos ecossistemas fluviais. Nestesentido, a Iniciativa Legislativa

Popular promovida por diversoscolectivos já recolheu um totalde 7.271 assinaturas no primeiromês.Para que a I.L.P. poda ser levadaa debate no Parlamento da Galizaé preciso o apoio de 15.000 assi-nantes, que deve ser conseguidonum prazo de quatro meses,ampliáveis noutros três caso nomtenha sido atingido. Mas depoisdos resultados obtidos neste pri-meiro mês, os responsáveis daproposiçom de lei mostram-seoptimistas perante a possibilida-de de conseguirem que esta sejatida em conta. Destacam no texto apresentado aconsideraçom dos ecossistemasfluviais como "prioridade de inte-resse geral", e a intençom de queesses espaços sejam geridos com

os mesmos critérios que os queformam parte da Rede Natura2000. Ainda, a I.L.P. estabelece aparticipaçom cidadá em ques-tons relativas ao ambiente emgeral, e aos recursos hidráulicosem particular, assinalando comonorma a seguir o ConvénioInternacional de Aahrus eincluindo o direito ao referendopara as povoaçons locais afecta-das por qualquer novo planodeste tipo. A proposiçom tam-bém estipula a paralisaçomdaqueles projectos que estejamjá aprovados, ou mesmo em anda-mento, até o momento em quese elaborem e entrem em vigornovos planos hidrológicos que secorrespondam com as directrizesda Directiva Marco da Água ecom as da mesma proposiçom.

Quase metade das assinaturas precisas para a I.L.P. ser debatida noParlamento fôrom recolhidas no primeiro mês

A construçom de minicentrais supom um dano irreparável para os rios e os seus entornos / ARQUIVO NGZ

Um incêndio inicia-se na localidade das Neves / ARQUIVO NGZ

REDACÇOM / O Fiscal doPatrimónio do TribunalSuperior da Justiça da Galiza(TSJG), Antonio Roma, deci-diu finalmente a abertura dediligências informativas a fimde avaliar a possível existênciade um delito penal na comprade um prédio da rua corunhesade Tabernas por parte da famí-lia do presidente autárquico.O referido imóvel foi compradopor Vázquez à ONCE em 1997por 130 milhons de pesetas.Um ano depois da compra, oPlano Geral de OrdenaçomMunicipal (PGOM) rebaixou ograu de protecçom do edifício,de integral a estrutural, factoque permitiu à família do presi-dente da Cámara a realizaçomde umhas obras que incremen-

tárom em 247 metros quadra-dos a superfície útil da casa,remodelaçom até entom proi-bida.Para o TSJG, se afinal se verifi-casse que se produziu estaactuaçom ilegal, poderíamosestar perante um delito de trá-fico de influências, "ao se terfavorecido um particularmediante umha decisom admi-nistrativa". Neste sentido, aoposiçom municipal insistiuem denunciar o alegado "favori-tismo" e reclamou para o restodos cidadaos e cidadás as mes-mas 'facilidades' para realiza-rem obras deste tipo. ParaFrancisco Vázquez as acusaçonspretendem apenas pôr emquestom "a minha honradez ehonorabilidade."

Cinco catedráticos dasuniversidades galegas fizérompúblico um manifesto em quedeclaram a sua postura con-trária à vigente políticaambiental da Junta da Galiza.O texto, redigido por Pedrodel Llano, catedrático deTeoria e Representaçom daArquitectura da UdC,Eduardo García Rodeja, cate-drático de Edafologia da USC,Javier Guitián, catedrático deBotánica da USC, AugustoPérez Alberti, catedrático deGeografia da USC e Victo-riano Urgorri, catedrático deZoologia Marinha da USC, dáumha visom negativa quantoa umha política que conside-

ra propagandística e auguraum futuro pessimista emrelaçom à situaçom ambien-tal galega, contra a imagemreflectida ultimamente polaimprensa, que mostra "umpanorama tranquilizador".O estado dos solos, do litoral,das comunidades biológicasmarinhas, a desapariçom dosbosques autóctones e asobre-exploraçom dos riossom postos em relevo nomanifesto, como também adestruiçom de elementostradicionais da paisagemgalega, como a rede parcelá-ria, a rede ancestral decaminhos, as sebes ou osmuros.

Paco Vázquez investigadopor tráfico de influências

REDACÇOM / No que levamosde ano registárom-se no País5.000 incêndios, 2.000 deles naprovíncia de Ourense. Da parteda ADEGA assinala-se nova-mente que a prevençom temde ser o eixo da luita contra ofogo e pedem umha mudançana política contra incêndios daJunta, umha política onde segastárom mais de 500 milhonsde euros sem nenhum êxito. APlataforma sindical de agentesflorestais da Galiza reiterou umano mais a "desídia", imprevi-som e ocultaçom da realidade,escassez de meios e ausênciade diálogo por parte da admi-nistraçom autonómica.O obscurantismo do departa-

mento que dirige José ManuelBarreiro evidenciou-se no factode que nom se poda conhecerquantos hectares ardêrom. Sóno fim de semana do dia 19 deMarço fôrom queimados 3.100

hectares de monte, dos quais1.625 se localizam nas comar-cas da província de Ourense.Só entre Ponte Areias eMondariz ardiam nestas datas400 hectares florestais numincêndio planificado com 14focos de lume em diferentesparóquias próximas.Enquanto a Galiza vive a secamais importante dos últimos30 anos, o governo de ManuelFraga oculta a sua incompetên-cia na luita contra os fogos comdeclaraçons inculpatórias. Defacto, no último encerramentodo governo galego, oPresidente relacionava osincêndios com o 'retiro daJunta'. Assegurava Fraga que"se a nossa presença aqui trou-xo algum vándalo desses,algum terrorista, pois eu nom osei, mas nom é de estranharnada conhecendo algumhatropa da que nos rodeia".

Mais de 5.000 incêndiosflorestais desde Janeiro

Elaboram manifesto para outra política ambiental galega

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NOVAS DA GALIZA15 de Abril a 15 de Maio de 2005 05NOTÍCIAS

14.03.04

TSJG suspende registo de VIH.Derroga-se o decreto que o crioue é qualificado como “evidenteperigo” para a privacidade daspessoas.

15.03.04

Confrarias denunciam queda de30% na produtividade após oPrestige. Perdas de 35.000 tone-ladas calculadas sobre dados dePesca.

16.03.04

Paralisam obras em Corujo.Vizinhos detenhem a constru-çom de pistas para a prova mun-dial de Mountain Bike. As obrasaterram jazigos arqueológicos.

17.03.04

70 pessoas solidarizam-sse emOurense com Rubém L. Q.Convocatória da AMI mostra oseu “reconhecimento e solida-riedade” ao processado, acusadode desordens e ataques a bancosem 2002.

Iberdrola ocupa posiçons naGaliza. A multinacional bascavende na CAG em 2004 899%mais energia do que em 2003 eaposta na energia nuclear.

18.03.04

Mobilizam-sse a favor de Ence.Convocadas por CCOO e UGT,com o apoio do PP e a CEP,12.000 pessoas manifestam-se afavor da empresa condenada pordelito ecológico.

19.03.04

Manifestam-sse contra o PGOMcanguês. 7.000 pessoas mobili-zam-se contra o plano do PP ePSOE que “vende o termomunicipal a imobiliárias e com-plexos turísticos”.

Sabotagem contra carro deTeleminho. Desconhecidosincendeiam carro da TV localourensana.

CRONOLOGIA

REDACÇOM / Nem JoámPeres Lourenço nemRubém Lopes Quintáns'Rucho' ingressarám final-mente em prisom. O pri-meiro dos activistas, mem-bro do portal de informaçomalternativa galizalivre.org,foi finalmente condenado aum ano de prisom e a umhamulta de 240 euros por'atentado contra agente daautoridade'. Fora detidonum protesto em Lalimdurante a visita do ministroÁlvarez Cascos à Galiza, e acondena nom resultará naentrada do militante em pri-som por carecer de antece-dentes penais.Por seu turno, RubémQuintáns foi absolvido dasacusaçons que o envolviamem acçons de sabotagemcontra entidades bancárias

durante a grande manifesta-çom de Nunca Mais de 1 deDezembro de 2001. O juizlimitou-se a condená-lo por'desordens públicas' a seismeses de cadeia, 30 eurosde multa e umha indemni-zaçom à Cámara Municipalde Compostela pola queimade contentores. Ao nom tertampouco antecedentespenais, continuará na rua,ficando três anos em liber-dade provisória.Mas nem todos os casosfôrom ainda fechados: setevizinhos de Ferrol, todoseles militantes de NÓS-UP,aguardam um julgamentopor presumidas 'agressons'ao vereador Juan Fernándezdurante a mobilizaçom con-tra a reconversom que trans-correu em Trás-Ancos nopassado mês de Setembro.

Activistas julgados nomingressarám em prisomSete militantes ferrolanos de NÓS-UP estámainda a aguardar polo julgamento

REDACÇOM / Na Galiza há, nomomento actual, 17.897 explo-raçons lácteas (há 15 anos eram96.000), mas oitenta por centodestas exploraçons contamcom umha assinaçom de quotainferior à média de Espanha.Mantemos 53% das explora-çons pecuárias do Estado com55 por cento da quota. O Ministério da Agriculturapromoveu um decreto em quese proíbe a compra e venda dequota láctea entre ganadeirosparticulares.A partir de agora, o Ministériocomprará toda a quota leiteirae os ganadeiros que quigeremcomprá-la terám que fazê-lodirectamente ao Estado.No novo decreto estabelecem-se como prioritárias, na hora deadquirirem a quota, aquelasexploraçons que estiveremabaixo da quota média doEstado, quer dizer, 80 porcento das galegas.Há já muito tempo que os sin-dicatos agrários -com a excep-çom de Jovens Agricultores-vinham reclamando que oEstado tomasse as rendas dasquotas lácteas, já que o preçoque alcançavam no mercadoimpossibilitava que as explora-çons médias e pequenas (aimensa maioria das galegas)pudessem pagar o preço e atin-gir umha renda digna para asganadeiras e ganadeiros.

As medidas do Ministério,assegura o SLG, "nascem mor-tas" ao caducarem em Marçode 2006. Nom é suficienteumha única campanha leiteirapara ordenar um sistema quese encontra desde há anosimerso no caos.O sindicato agrário indica que"recebeu com esperança asreformas introduzidas no siste-ma de gestom da quota láctea",embora entendam que os direi-tos de produçom deveriam sergratuitos e nom ter valor demercado. Venhem exigindodesde há já tempo a supressomdo mercado da quota já que oactual sistema propiciou a apa-riçom de máfias e especulaçomcom o direito para produzir. Acentral sindical valoriza "comoum avanço importante asmedidas anunciadas pologoverno espanhol face à situa-çom caótica que impera naactualidade".Para o sindicato todas as medi-das anunciadas serám inúteis"se só estiverem vigentesdurante um ano", tal e comoestabelece o decreto. A problemática do sector lác-teo é tam profunda que"necessita de planos a longoprazo que assegurem, quandomenos, a viabilidade de todasas exploraçons que actual-mente estám activas", man-tém o SLG.

Sindicato Labrego Galegoinsiste na supressom daquota láctea

REDACÇOM / Duas sabota-gens tivérom lugar nas últi-mas semanas em dous pontosda Galiza. Em Ourense, umcarro da empresa TeleminhoS.L. foi totalmente calcinadocom artefactos incendiáriosna madrugada do dia 17 deMarço. A explosom afectouparte do prédio situado ao pédo veículo e vários dos carrosestacionados ao redor. O'modus operandi', junto àeleiçom do objectivo (a tele-visom local relaciona-se como grupo 'La Región', relacio-nado com o PP ourensano)fijo concluir à brigada deinformaçom da polícia espan-hola que se trata de um 'aten-tado de um grupo radical'.

Em Compostela, na madru-gada do dia 7 de Abril, várioscoquetéis molotov danifica-vam seriamente o prédio do'Instituto Social das ForçasArmadas', organismo depen-dente do Ministério daDefesa e sediado na RuaRamom Pinheiro. As chamas,avivadas por pneus empapa-dos em gasolina, rebentáromas portas e penetrárom nolocal, afectando as equipasinformáticas e obrigando aparalisar a sua actividadedurante vários dias. A acçompoderia relacionar-se com aoposiçom ao desfile que oExército espanhol preparapara o vindouro mês de Maiona cidade da Corunha.

Sabotagens em Ourensee CompostelaFontes policiais apontam em ambos os douscasos a autoria independentista

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NOVAS DA GALIZA15 de Abril a 15 de Maio de 200506 NOTÍCIAS

21.03.04

Aumenta a sinistralidade labo-ral. Segundo o Ministério deTrabalho, em 2004 produzírom-se na Galiza administrativa47.369 acidentes laborais comlicença, com aumento de 2.6%.

22.03.04

UE renuncia ao “pleno empre-go”. Rectifica a Estratégia deLisboa dirigida a fazer da UE a1ª potência económica mundialem 2010. O “Pleno emprego” ea “coesom social” desaparecemda agenda dos estados.

23.03.04

Condenados sindicalistas daCIG. “Indemnizarám” La Unióne Gómez de Castro com 37.592� e multas de 7920 � por danifi-caçons produzidas nos autoca-rros num conflito laboral.

28.03.04

Julgamento a militante da AMI.Pedem dous anos de prisom epor volta de 30.000 � paraRubém L. Q. pola suposta parti-cipaçom em ataques incendiá-rios a bancos na crise doPrestige. Mobilizam-se 70 pes-soas.

30.03.04

Despejo ilegal de hidrocarbone-tos entre as Cies e Ribeira.Afecta a costa de Aldám até oVilar. Desconhece-se a identida-de da embarcaçom e quantidadedespejada.

31.03.04

Junta a favor do corte salarial.J.A. Orza, titular de Economiadesde 1989 e sectário da OpusDei, aposta em congelar saláriose aumentar a produtividade paragarantir a competitividade.

Galiza sem tecnologia contradespejos ilegais. Dous dias apósa última ‘sentinada’, o Executi-vo espanhol comunica que onosso país continuará sem a tec-nologia necessária até 2007.

01.04.04

3000 vizinhos de Teis contra oPGOM. Mais de 3.000 pessoasmanifestam-se contra o PGOMpactuado por PP e BNG.Denunciam o avanço de ummodelo de “cidade antisocial”.

03.04.04

8.000 cangueses contra oPGOM. Denunciam projectosespeculativos, destruiçom da

Caixa Galicia ganha posiçons nocorpo de accionistas de Fenosa

REDACÇOM / As principais cai-xas operantes na Galiza, CaixaGalicia e Caixanova, preten-dem conseguir o controlo de15% da Uniom Fenosa antesdo próximo dia 6 de Maio, datada próxima Junta deAccionistas da eléctrica. Comeste objectivo investirám maisde 280 milhons de euros, quefortalecerám a presença dasfinanceiras na companhia,nomeadamente a de CaixaGalicia, que contava comumha participaçom de 567milhons (8,05% do capital).Com a actual operaçom, aentidade dirigida por José LuisMéndez passará a possuir 10%de Fenosa, consolidando a suasegunda posiçom, só superadapolo Santander CentralHispano (SCH), que controla20,34%. Caixa Galicia eCaixanova preparam-se assim

para negociar com o SCH acompra de parte do seu pacoteaccionarial. José Luis Méndezé já o vice-presidente da eléc-trica, enquanto a financeira doSul contará com presença noConselho de Administraçom apartir de Maio.Este processo dirige-se a con-trolar a médio prazo o capitalda eléctrica, de forma semel-hante à construçom do 'hol-ding' de La Caixa ou à fortepresença desta financeira eCaja Madrid em Endesa, querepartem entre si 14% damaior eléctrica do Estado. Umcaso equivalente acontececom os bancos procedentes doPaís Basco em relaçom aIberdrola.

Os tentáculos de FenosaUniom Fenosa está a experi-mentar um incremento dos

seus valores na Bolsa com asnovas participaçons. A empre-sa que domina o abastecimen-to eléctrico da Galiza dispomde um capital social declaradode 914 milhons de euros e pos-sui um império que se estendepola América Latina, ondeconta com 74% da Distribui-dora Dominicana de Electri-cidade, 95% da EmpresaNicaraguana de Electricidadeou 45% da Rede EléctricaNacional da Bolívia. Tambémnesta área tem participaçonsem vários aeroportos e contro-la entidades como a irlandesa'Clover Financial and TreasuryServices LTD', a británica'Ufacex UK Holding PLC' oua 'Caribe Capital BV' dosPaíses Baixos, entre outrasentidades creditícias e socie-dades de carteira.Presidida por Antonio Basagoi-

ti Garcia, tem entre o seucorpo de accionistas represen-tantes do grande capital gale-go e espanhol como o BancoPastor, e também tubarons docapitalismo como o 'ChaseManhattan Bank'. Um dosseus accionistas é o tristemen-te conhecido FernandoFernández Tapias, presidentede Remolcanosa e amigo pes-soal de Marc Rich, que no pas-sado mês de Outubro recebiao prémio ao 'EmpresárioEspanhol Universal' daCámara de Comércio deEspanha em Miami, galardomque tinha recebido no anoanterior José Maria Aznar.'Fefé' possui actualmente3.000 acçons da UniomFenosa, umha quantidade sig-nificativa mas muito inferior àque deterám as Caixas a partirdo mês que vem.

As Caixas preparam-se para conseguir o controlo da companhia eléctrica

REDACÇOM / Os vizinhos evizinhas de Tominho e o Rosallevam muitos meses já de pro-testos e mobilizaçons à procu-ra de umha resposta positivapor parte da Direcçom Geralde Obras Públicas exigindo amodificaçom do traçado da Viade alta capacidade Tui - aGuarda. Os vizinhos apostamnum traçado que circule polomonte, mais afastado do rio,numha zona de menor impactoambiental.Os afectados reunírom-se emGoiám a 9 de Abril para boico-tar com gritos, assobios e fai-xas, o acto de inauguraçom da

Mostra de Cultivos do BaixoMinho, por parte do conselhei-ro da Política agro-alimentar,Santiso Miramontes. Depoisdo acto, os concentrados econcentradas quigérom evitarque o conselheiro pudesseabandonar o local, deitando-seno chao da estrada para impe-di-lo de sair com o veículo dazona. As forças policiais actuá-rom carregando contra osmanifestantes e como resulta-do, três vizinhos feridos apre-sentárom o correspondentelaudo médico. Um políciarecebeu, ao que parece, umhamordida numha perna.

Com unhas e dentes contraa Via de Alta Capacidade

REDACÇOM / A Assembleia deMulheres do Condado conti-nua a sua dinámica de tra-balho feminista nesta comar-ca, neste caso organizandopor segundo ano consecutivoum concurso literário decaracter reivindicativo e dedenúncia. Com o patrocínioda Cámara municipal deMondariz, de três livrariasda zona e do periódico APeneira, as mulheres de todaa Galiza, e sem limite deidade, fôrom convocadas aparticiparem nesta iniciativa

apresentando obras de qual-quer género literário e temá-tica livre, sempre que tiverumha relaçom genérica coma opressom da mulher eintegramente escritas nonosso idioma. O júri, que fal-hará o prémio a partir do dia30 de Junho, estará formadopor várias mulheres signifi-cadas nos campos da luitafeminista, a investigaçomhistórica e a docência, parti-cipando também represen-tantes das diferentes entida-des patrocinadoras.

Assembleia de Mulheresdo Condado organiza IICertame Literário

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NOVAS DA GALIZA15 de Abril a 15 de Maio de 2005 07NOTÍCIAS

vila e turistificaçom. PP recusa-se a retirar o plano.

04.04.04

Saturaçom dos cárceres naGaliza. Instituiçons Penitenciá-rias reconhece que alojam 1.196pessoas além da capacidade real.

07.04.04

PP paralisa PGOM de Cangas.Após duas mobilizaçons vicinaismaciças, o PP paralisa o plano ereabre o processo de elabora-çom.

Atacado imóvel do Exército nacapital. Pessoas desconhecidasincendeiam sede do ISFAS.

08.04.04

Militante da AMI condenado aprisom. Rubém Lopes é senten-ciado a 6 meses de prisom por“desordens públicas” durante acrise do Prestige.

09.04.04

Polícia de Choque rebentamprotesto na Corunha. Um deti-do e dez feridos e feridas no pri-meiro acto da Assembleia Abertacontra o Desfile Militar.

10.04.04

80.000 galegos e galegas emigrá-rom em 2003. A média anual éde 60.000 pessoas.

Junta triplicará potência eólicainstalada no horizonte de 2010.O excedente produzido seráevacuado integramente paraEspanha por REE.

11.04.04

Beiras demite da presidência doConselho Nacional. O líder doBNG tampouco participará nascandidaturas autonómicas.

12.04.04

Julgados suspendem acordomunicipal sobre o topónimo. Onome espanholizado “LaCoruña” nom poderá ser utiliza-do junto ao topónimo oficial.

13.04.04

Vigo mobiliza-sse contra o urba-nismo selvagem. 9.000 pessoasmanifestam-se contra o PGOMaprovado por PP e BNG.

14.04.04

Auto-ddenúncia colectiva. 31pessoas auto-inculpam-se nosjulgados por terem retirado um-ha placa franquista em Lalim.

Gerente de Jardim das Burgas possui65 empresas com só 8 trabalhadores

REDACÇOM / Há já cinco anosque Manuel Cabezas Enriquezquijo promover na zona nobreda cidade um hotel Balneárioao pé da fonte das Burgas naantiga Casa de Banhos. O pro-jecto começou a vendê-lo opróprio presidente da Cámarade Ourense, Manuel Cabezas,fora do controlo da omnipre-sente Fundaçom Sam Rosendode Benigno Moure. A inten-çom era construir um pequenohotel com treze andares, onzesobre terra, numha zona histó-rica, e aproveitar para cons-truir apartamentos com altovalor no mercado no centro dacidade. Cabezas envolveu-sedesta maneira na conhecidaem Ourense como a "guerrados balneários", entre os doussectores do PP local que lui-tam polo controlo das águastermais.Após vários fracassos comempresas multinacionais quenom apreciárom o negócio daexploraçom balnear há quatroanos, a Cámara adjudica a obraà empresa Jardins das Burgas,com a previsom de construir

um segundo complexo termalem Mende, acompanhado deumha zona residencial. Aadjudicaçom à empresa pro-prietária do solo deixa fora ocírculo de empresas que gere amaior parte dos balneários, daórbita de Benigno Moure e deJosé Luís Baltar. Passados qua-tro anos, a empresa nom apre-sentou o projecto básico noPelouro de Urbanismo, embo-ra o governo local promovessea requalificaçom dos terrenosque se encontram no contornodas Burgas e aumentasse a edi-ficabilidade prevista para estazona que limita com a ZonaHistórica ourensana. No último documento apre-sentado por Jardim das Burgas,manifestam a intençom deconstruírem um complexohoteleiro com 81 quartos e 65apartamentos.

65 empresas e 8 trabalhadoresBasilio Martínez Serodio é oresponsável pola empresaJardim das Burgas S.A. Tem aoseu nome 65 sociedades cons-tituídas depois de desembol-

sar o capital mínimo que exigea lei e unicamente oito trabal-hadores nestas empresas.Sociedades, na sua maioriacom domicílio social emMadrid e Ponte Vedra, que sededicam à actividade imobiliá-ria de compra e venda deterrenos e lotes, e à constru-çom de edifícios para a vendaou aluguer. Destaca o facto de que aempresa que há de construir ocomplexo de Ourense nomtem ao seu nome nem umha sópessoa a trabalhar.Basilio Martinez Serodio, emnome da firma Jardim dasBurgas, é também o adjudica-tário da restauraçom doBalneário do Íncio para con-vertê-lo num hotel.

Xestur e Xoán CarlosCabanelasO projecto do Hotel Balneáriodas Burgas é gerido adminis-trativamente por Xoán CarlosCabanelas, um arquitectoourensano que conhecem bemem Bemposta, já que ele, atra-vés de Xestur Ourense, onde

ocupa a gerência, é tambémquem dirige a operaçom espe-culativa do campo de futebolem Bemposta para aproveitar oactual estádio como zona resi-dencial, junto às delegaçonsprovinciais da Junta.Cabanelas foi um dos artíficesda construçom do CentroComercial Ponte Velha. Somdous dos projectos estrela deManuel Cabezas à frente dogoverno de Ourense. XoanCarlos Cabanelas relaciona-semuito bem com o sector urba-no do Partido Popular.Depois de começar as obrascom a empresa Jardim dasBurgas, produzia-se o dano aosaquíferos das fontes. A tor-menta desatada quer aprovei-tá-la José Luis Baltar pararecuperar o controlo dosmananciais. Embora Baltar,presidente da Deputaçom evereador na Cámara Municipalde Ourense, vote com o seugrupo nos plenários, está a pro-mover a expropriaçom daempresa e umha nova adjudi-caçom. Benigno Moure sóaguarda.

REDACÇOM / O Plano Geral deOrdenaçom Municipal apoia-do polo PP e o BNG em Vigoestá a receber umha forteoposiçom por parte de dife-rentes sectores auto-organiza-dos dos bairros e das paró-quias, associaçons vicinais, deoposiçom à Rolda de Vigo eoutros colectivos. No passadodia 13 de Abril, mais de 9.000pessoas manifestárom-se nacidade pola paralisaçom ime-diata do Plano Geral, apoiadaspor umhas trinta entidadespopulares.As únicas organizaçons políti-cas que secundárom estamobilizaçom fôrom IU-EU eNÓS-Unidade Popular, en-quanto as forças com repre-sentaçom institucional man-tenhem o apoio unánime aoprojecto em geral. A referidaformaçom independentistaquestiona o processo deaprovaçom do projecto que,

considera, foi feito "de costasao povo e responde a umhaconcepçom mercantilista,especulativa e predadora,que promove e apoia ummodelo de município ao ser-viço do capital industrial,comercial e financeiro".O PGOM do governo munici-pal prevê a construçom de123.000 novas habitaçons nos109 quilómetros quadradosdo ámbito municipal e umhapromoçom do turismo de luxocombinado com a construçomde portos desportivos.

Adiam execuçom do PGOMde CangasO Plenário da CámaraMunicipal de Cangas apro-vou umha moçom do BNGpara "retrotrair os trabalhosdo PGOM", suspendendo-seassim a sua aprovaçom ini-cial. Nom obstante, o presi-dente da Cámara, Enrique

Sotelo, recusou a palavra, noPlenário, a um representantedo Fórum Social em Defesado Povo, o organismo queaglutina a resposta peranteum Plano de Ordenaçomaltamente questionado. Porvolta de 500 vizinhos e vizin-

has tomárom os Paços doConcelho, forçando os verea-dores do PP e PSOE a saíremescoltados. A paralisaçom doPlano é, no entanto, tempo-rária e estám por se conheceros traços que definirám anova proposta.

Manuel Cabezas utiliza empresas "disfarce" promovendo a especulaçom urbanística naZona Histórica da cidade de Ourense

Forte oposiçom vicinal ao Plano deOrdenaçom Municipal de Vigo

A pressom social conseguiu a paralisaçom do PGOM de Cangas

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NOVAS DA GALIZA15 de Abril a 15 de Maio de 200508 INTERNACIONAL

INTERNACIONAL

NUNO GOMES / Apesar daimpressão generalizada de queexiste um declínio do uso dalíngua portuguesa no mundo,surgem notícias que mostramuma realidade diferente. Umestudo recente mostra que oportuguês nunca foi tão utiliza-do em Moçambique como agora,e que desde a revolução de 1974houve um aumento de 30% nonúmero de falantes. Em Angolaum interesse renovado na lín-gua dos antigos colonos levou aum incremento do número deescolas de português. Estas sãopromovidas pelas NaçõesUnidas e uma associação jesuí-ta, para crianças entre os 7 e os17 anos. Muitos dos alunos des-tas novas escolas são refugiadosque apenas agora regressam aAngola, e sentem-se desenqua-drados num país cuja língua ofi-cial é o português, o que podeimplicar dificuldades em ter-mos sociais e de inserção nomercado de trabalho.

Os projectos transfronteiriçosentre o Norte de Portugal e aGaliza têm tido um forte desen-volvimento. A Valimar(Comunidade Urbana que englo-ba os municípios ribeirinhos dorio Lima e ainda Esposende eCaminha) apresentou recente-mente um projecto de coopera-ção com a zona de Ourense, coma qual faz fronteira, e que diz res-peito a um investimento de 10milhões de euros. Destes, 1,6milhões referem-se à instalaçãode pólos empresariais, e 92 mildizem respeito ao funcionamen-to da Comunidade Territorial deCooperação Valimar/Ourense.Existem ainda 1,1 milhões para osubprograma Estaciones (para arecuperação do elevador deSanta Luzia, em Viana doCastelo) e 696 mil para projectosde turismo no litoral. Um dosprojectos mais reivindicados pelaValimar é a ligação da A28 (auto-estrada que ligará o Porto aCaminha) à Galiza, através duma

nova ponte entre Caminha e AGuarda. Está também prevista acriação da Uniminho, uma socie-dade de municípios portuguesese galegos limítrofes do rioMinho. Outros projectos actuaisimplicam a instalação de estaçõ-es de tratamento de águas no rioMinho (Deputrans), o apoio amigrantes em Ponte Vedra(Cidade Mais), e a recuperaçãoda via romana entre Lugo eBraga (Vias Atlânticas). Todosestes projectos estão inseridosna euro-região Norte dePortugal/Galiza, e são subsidia-dos pelo programa Interreg, daUnião Europeia, que visa o des-envolvimento das zonas frontei-riças. No investimento privado,tem relevância o projecto da pla-taforma logística e industrial'Porto Seco', entre Salvaterra doMinho e as Neves. O investi-mento estimado é de 190 milhõ-es de euros, e terá uma influên-cia que poderá ir de Santiago deCompostela até ao Porto.

NOVAS DE ALÉM MINHO

JON ETXEANDIA / Há triunfos que, porinsuficientes, sabem a derrota. Algoassim aconteceu à coligaçom nacio-nalista PNB-EA que, apesar da suavitória eleitoral, ficou longe de con-seguir a ambicionada maioria abso-luta. A sua estratégia de anteciparas eleiçons autonómicas pensandoem beneficiar da ilegalizaçom deBatasuna nom deu os frutos apete-cidos. Os resultados eleitorais ofe-recem um empate técnico entre asforças que apoiárom o anteriorgoverno tripartido de Gasteiz,PNB-EA-EU, com um hipotéticoapoio de Aralar, que consegue umhaacta de deputada, e as chamadasforças constitucionalistas espanho-las, PP-PSOE, que contariam com33 mandatos, e isto provocará umhasituaçom de bloqueio. Nesta tessi-tura, entraria dentro do possívelalgum tipo de pacto de legislatura

entre o PNB-EA e o PSOE, algoque nom seria impensável conside-rando antecedentes históricos quejá recolhem um pacto similar emmeados dos anos 80, mas que, comcerteza, alongaria o conflito, afas-tando-nos de um cenário de nego-ciaçom.Após umha campanha eleitoralmarcada pola ilegalizaçom e a per-seguiçom policial das opçons inde-pendentistas e de esquerda, osresultados das eleiçons ao parla-mento basco, com a irrupçom deEHAK -Partido Comunista dasTerras Bascas-, opçom que foiapoiada por Batasuna, com novemandatos obtidos, tornárom mani-festo como é absurdo pretendermarginalizar um amplo sector doPovo Basco que se expressa emchave autodeterminista e deesquerda e que, por causa da distri-

buiçom de mandatos no parlamen-to basco, paradoxalmente, vaiadquirir um papel de árbitro e seráreferência ineludível na próximalegislatura. A campanha desenvolvi-da por EHAK sob parámetros deautodeterminaçom, democracia esuperaçom do conflito, garantindo apresença da esquerda abertzale noParlamento Basco, foi premiada porum amplo sector do eleitorado. Oque vai estar em jogo durante ospróximos quatro anos, tal e comopreviu o dirigente de BatasunaArnaldo Otegi, vai ser o modelo denegociaçom para a resoluçom doconflito armado e político: optar porum modelo de negociaçom resolu-tiva entre todas as forças políticasou, polo contrário, repetir o esque-ma de há 25 anos e enquistar o pro-blema. Os próximos meses serámchaves para enxergar o porvir.

ANA LAURA PEREIRA / A vitóriaeleitoral de Chávez abriaumha política estrutural demudanças a longo prazo queincomodou os poderes econó-micos. Em 2002 cumpriu-se odito popular venezuelano,"cada 11 tem o seu 13", e o dia11 de Abril produzia-se osequestro do Presidente, pro-vocando um confronto armadonas ruas. Em poucas horas osvelhos empresários tomavamo poder e mudavam o nome daRepública. Mas o dia 13 deAbril, Caracas era ocupadapolo povo indignado e revolu-cionário; as bases militarescobriam-se de rostos queberravam pola volta do seupresidente, até que finalmen-te um sector leal das ForçasArmadas foi em busca deChávez. Este dia 13 começavaumha nova etapa no processorevolucionário, agora commais medo dos núcleos traido-res do exército, e tambémcom a necessidade da acçomrápida e eficaz. O governocomeça a promover planoscom objectivos revolucioná-rios, com umha mínima buro-cracia que actua directamentenas necessidades da popula-çom. Surgem as missonsSucre, Robinson e Ribas; somalfabetizados mais de dousmilhons de pessoas e abrem-

se as portas do ensino secun-dário e superior. A MissomBairro Dentro, em colabora-çom com Cuba, leva a medici-na pública às favelas. As leisde terras e de pesca som ime-diatamente posteriores aogolpe de Estado, pretendendobeneficiar a produçom nacio-nal, as cooperativas campone-sas e a pesca artesanal, proi-bindo a prática do arrasto.Em Dezembro de 2003 a'greve geral' do empresariadoameaçava o Governo durantedous meses, mas o povo resis-tiu e o comandante resistiu. Oprocesso revolucionário conti-nuava na Venezuela, levando aesperança à América Latina. Eem 2004 o resultado do refe-rendo revogatório apontava,mais forte que nunca, para umnom rotundo à volta atrás, àdominaçom empresarial e àrevogaçom presidencial.Venezuela tem hoje um presi-dente eleito e reeleito demo-craticamente. Enfrenta umprocesso com pressons cons-tantes e com a consciência deque o próprio sistema temmuito por limpar e melhorar,mas caminha na direcçomaprendida dos velhos liberta-dores. "Alerta, alerta, alerta,que caminha a espada deBolívar pola América Latina",berram as ruas.

Eleiçons ao Parlamento Basco: cálculoserrados dos jogadores da política

Desesquecendo o golpeda Venezuela A três anos do dia 11 de abril de 2002

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O1º de Maio representapara o conjunto dostrabalhadores do

Planeta, umha data referen-cial do Movimento OperárioInternacional, em que secombina a luita diária pormelhorar as condiçons labo-rais e salariais, com a alterna-tiva estratégica de um mundosolidário, sem exploradoresnem explorados.

Situados na realidade eco-nómica e laboral da Galiza, oPatronato continua com odeterioro das condiçons detrabalho, temos 150.000 des-empregados, os salários maisbaixos do Estado, as pensonsmais cativas, índices de pre-cariedade de 92%, alta sinis-tralidade laboral: imigrantesna mais completa indefen-

som, e 20.000 emigrantespor falta de trabalho e dedesenvolvimento integral daeconomia galega.

Esta política de agressomcapitalista, continua a ser favore-cida polo pacto social permanen-te em que estám situados algunsdos sindicatos do Sistema, quecolaboram na perda do poderaquisitivo dos salários, situandoos incrementos 2005 em 2%, ouna destruiçom de postos de tra-balho, como no Sector Naval,favorecendo a privatizaçom dossectores públicos.

Por outro lado, o neo-capita-lismo continua a ser a bandeirado Governo ZP, sem que sejaproposta a derrogaçom de nen-hum dos últimos Decretos anti-operários, ao mesmo tempo queas medidas antidemocráticas e

repressivas continuam a afectaro conjunto dos trabalhadores, ea Junta de Fraga persiste nadesertizaçom industrial e nocaciquismo mais aberrante.

Tampouco andam as cousasbem para os trabalhadores deoutras partes do Estado, nemdessa Uniom Europeia dosmercadores; cada dia o movi-mento sindical europeu estána rua a mobilizar-se e emgreve para a defesa, em muitoscasos, de conquistas e direitoslaborais e sociais que a rapinacapitalista tenta por todos osmeios fazer desaparecer.

A ofensiva depredadora docapitalismo é tal que nada temque invejar dos séculos XVIII-XIX. Os mercenários das gue-rras e as tropas de ocupaçomdo Imperialismo tenhem pre-

visto maiores intervençons emtodos aqueles países nom sub-missos à sua OrdemInternacional. Mas ao mesmotempo a resistência frente àespoliaçom capitalista avançana luita por umha sociedademais justa e igualitária.

Pola parte da Central Unitáriade Trabalhadores (CUT), faze-mos um chamamento neste 1ºde Maio a manter viva a luitados "Mártires de Chicago", dasgrandes luitas proletárias emcada canto do Mundo, dos nos-sos mártires de "10 de Março de72", e a recuperar a mobiliza-çom e a defesa dos interesses danossa classe trabalhadora.

NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2005 09OPINIOM

FOI D

ITO

“O MUNDO PERDEUUM CAMPIOM DALIBERDADE HUMANA”George W. BushApós a morte do Papa. 02.04.05

“PAUL ESTÁ COMPROMETIDOCOM O DESENVOLVIMENTO.É UM HOMEM COMPASSIVOE DECENTE” GeorgeW. BushSobre o seu candidato à presi-dência do BM. P. Wolfowitz é odesenhador da guerra no Iraquee representa a extrema-direitana Casa Branca. 16.03.05

“A ESPANHA PLURAL É'UMHA HORTERADA'”Francisco Vázquez18.03.05

“MARBELHA NOM É O QUEERA. SÓ FICA A PANTOJA”Um paparazzi27.03.05

“FRANCO ERA MUITODIVERTIDO COMIGO ECONTAVA-ME PIADASE MEXERICOS”Aline Romanones Condessa de idem. 27.03.05

“O PREÇO DODESPEDIMENTO É UMFACTOR PURAMENTEPSICOLÓGICO”Fernando MorenoDirector de Relaçons Laboraisda CEOE. 09.04.03

“IGUAL DO QUE EU,A GALIZA PODE-A AMARMUITA GENTE; MAS MAIS,NINGUÉM”Stgo. Rey Fernández-LatorreVice-presidente primeira doParlamento da CAG. 03.04.05

“IREI A ROMA. É OMÍNIMO QUE PODE FAZERUM OPERÁRIO POR OUTROOPERÁRIO”Lula da SilvaPresidente do Brasil. 03.04.05

“SOMOS O PARTIDO DA GENTE”Antón LouroEm referência ao PSOE. 24.03.05

“AS COUSAS MELHORÁ-ROM EM ESPANHA, MAS OMELHOR ESTÁ POR VIR”ZP13.04.05

Para frear opatronato,

luita sindical

....MANOLO CAAMAÑO......

Nota: Como é prática habitual, aortografia deste artigo, cujo originalseguia as normas ILG-RAG, foi adaptadapor NGZ com a autorizaçom do autor.

O NEO-CAPITALISMOCONTINUA A SER A

BANDEIRA DOGOVERNO ZP, SEM

QUE SEJA PROPOSTAA DERROGAÇOM DE

NENHUM DOSÚLTIMOS DECRETOSANTI-OPERÁRIOS, AOMESMO TEMPO QUE

AS MEDIDASANTIDEMOCRÁTICAS

E REPRESSIVASCONTINUAM A

AFECTAR OCONJUNTO DOS

TRABALHADORES

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200510 A FUNDO

A FUNDO

Exploraçom e emigraçom dominama realidade da situaçom laboral

A SITUAÇOM LABORAL É ESPECIALMENTE GRAVE PARA JOVENS, MULHERES E DESEMPREGADOS

A Galiza continua a ser um dos países europeus com maior número de trabalhadoresfora dos seus limites geográficos. Segundo os cálculos da Junta, a populaçom emigranteé de quase 1.400.000 habitantes, sem contabilizar as segundas geraçons. A falta deexpectativas laborais, junto à precariedade, a exploraçom e as baixas prestaçons sociais

que recebem os trabalhadores e as trabalhadoras, provocam um êxodo anual de 60.000pessoas. A juventude, as mulheres e os desempregados maiores de 45 anos som naGaliza os sectores mais afectados pola grave situaçom do trabalho. A nossa problemáticaevidencia a desfavorável situaçom da classe trabalhadora a nível mundial.

XIANA ÁRIAS / As moças e os moçosgalegos encontram-se numhasituaçom especialmente precária.As opçons consistem em ficar nopaís, com um contrato a prazo malpago, ou partirem para a emigra-çom. Segundo as estatísticas, unstrinta mil rapazes e raparigasabandonárom Galiza o ano passa-do à procura de trabalho. As IlhasCanárias e as Baleares e, numsegundo plano, Madrid eBarcelona, recebem os principaiscontingentes migratórios. Mas osdados nom contabilizam, porexemplo, a saída para as platafor-mas petrolíferas, onde trabalhamentre quinze e vinte mil moçosque nem sequer quotizam para aSegurança Social. Por parte daCIG-Emprego, Manuel Currásaponta outro grupo nom contabili-zado que poderia engrossar aindamais este número: os jovens comcontrato em exploraçons mineirasque as empresas enviam a trabal-har para o estrangeiro.

A prática da contrataçom pre-cária entre a mocidade chega nonosso país a 60 por cento. Estajuventude assina contratos atempo parcial que cobrem ilegal-mente a jornada completa semdia de folga semanal. Acabada aetapa de formaçom, veem-se naobrigaçom de exercer os contra-tos de práticas que nom chegamao salário mínimo interprofissio-nal. Nos pavilhons de automó-veis, as únicas incorporaçons aoquadro de pessoal som moçoscom contratos de temporalidade,de umha média de 10 horas diá-rias, e o excesso de tempo nom sepaga ou compensa-se escassa-mente. Nos sectores da lousa, domármore e da pedra, os operáriossom menores de 30 anos e oscontratos de duraçom indefinidanom atingem 40% dos quadrosde pessoal. Os moços ocupampostos temporários, prevalecen-do o contrato por obra em cir-cunstáncias freqüentementeirregulares com jornadas de 45horas semanais.

A hotelaria é um dos sectorescom taxas mais elevadas de sobre-exploraçom. Estima-se que ao

redor de 15% da mao-de-obrahoteleira trabalha de maneirainformal. Quase 70% da contrata-çom na hotelaria é eventual e 25%trabalha com contratos fraudulen-tos. A maioria dos trabalhadoressom menores de trinta anos.

Mao-dde-oobra barata femininaAs mulheres acedem a contratos atempo parcial como única opçompara conseguirem um posto de tra-balho. 62% do desemprego galegocorresponde a mulheres. A maioriadesenvolve o seu trabalho em con-diçons especialmente precárias.Elvira Patinho, da CIG-Mulher,assinala que, nos contratos a prazo,as mulheres costumam receber26% menos do salário que umhomem com idêntico contrato,34% menos que outra mulher comcontrato sem prazo (indefinido) e42% menos que o salário médio.As mulheres som mais de setentapor cento do conjunto dos trabal-hadores nos sectores da indústriada alimentaçom, de confeitarias epastelarias, e da conserva. A con-trataçom estável a tempo inteironom supera 55% do total.

O sector do têxtil, que ocupano nosso país 17.800 trabalhado-ras e trabalhadores, é a actividadeque concentra os dados de preca-

riedade e sobre-exploraçom maisextensivos e intensivos. No sub-sector da confecçom concentra-se 85% do total da actividadetêxtil na Galiza. A mao-de-obrafeminina ocupa 92%.

O comércio da alimentaçomocupa 25.200 trabalhadores e tra-balhadoras, agrupados nas princi-pais cadeias de supermercados eno qual 93% som mulheres, maio-ritariamente com idades inferio-res aos 30 anos. 53% dos contratossom sem prazo e os restantes con-trataçons a prazo por acumulaçomde tarefas, aprendizagem e obra.Nalgumhas empresas as primeirascontrataçons a prazo, como nocaso de DIA, podem ser a tempo

parcial por seis horas, mas comunha jornada real de onze horasdiárias. O sector de limpeza dátrabalho a 22.500 galegos, dosquais 87% do pessoal é mao-de-obra feminina. Regista-se um ele-vado número de casos de mulhe-res que com 65 anos de idade nompodem reformar-se, já que unica-mente quotizárom para aSegurança Social por jornadas par-ciais, que nom se correspondemcom as jornadas reais trabalhadas.

Para Manuel Currás, há princi-palmente três colectivos quesofrem as conseqüências da des-regulaçom do mercado: a mocida-de, as mulheres, e as pessoas demais de quarenta e cinco anos.Estas últimas, desempregadas,despedidas de outras ocupaçonse com dificuldades de inserçomno mundo do trabalho por causada idade, contam com escassassaídas laborais. Por parte da CUT,Manolo Caamanho assinala que oPaís vai no "vagom de terceiraclasse" do Estado espanhol, comumha elevada contrataçom tem-porária. Se nesse contexto situa-mos a problemática das pessoasde avançada idade, de quarenta asessenta anos, que nom se encon-tra ainda no limiar da reforma,damos com a realidade do plu-riemprego, com o emprego parale-lo ou mesmo com a procura de viasde escape na emigraçom. No rela-tório sobre a precariedade da CIG,aponta-se que na actualidade seregista a incorporaçom de maioresde 45 anos às actividades de vendaao domicílio e na telemercadotéc-nia. Contudo, a maioria destasempresas cobrem o seu quadro detrabalho com setenta e dous porcento de mao-de-obra femininamenor de 30 anos. Estas activida-des correspondem-se com a ter-ceirizaçom do mercado laboral,que se serve da subcontrataçompara baratear e precarizar a mao-de-obra. Segundo a CIG, o perfildos desempregados de longa dura-çom na comunidade galega é o deumha muller maior de 45 anos.Estas mulheres desempregadas hámais de dous anos que nom rece-bem umha oferta laboral.

Galiza vai no "vagom de terceira classe" do Estado espanhol, com umha elevada contrataçom temporária.No último ano, perto do 92% dos contratos fôrom a prazo.

EM DADOS...

PANORAMA LABORALDADOS...

- Sessenta mil pessoas abandonam anualmente o País pormotivos laborais.- Entre quinze e vinte mil moços galegos trabalham ile-galmente em plataformas petrolíferas.- A contrataçom a prazo em 2004 foi de cerca de 92%.- O perfil dos desempregados de longa duraçomcoincide com o de umha mulher maior de 45 anos.- 62% do desemprego é feminino.

62% do desempregogalego correspondea mulheres. Amaioria desenvolveo seu trabalho emcondiçonsespecialmenteprecárias.

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2005 11A FUNDO

Precariedade caracteriza mercado de trabalhoOS TRABALHADORES DA FROTA COSTEIRA REALIZAM JORNADAS DE DEZASSEIS A DEZOITO HORAS

A problemática galega evidenciaa desfavorável situaçom da classetrabalhadora a nível mundial. Ocolapso do bloco soviético emfinais dos anos oitenta significoua queda do último impedimentopara o triunfo da revoluçom con-servadora iniciada por MargaretTatcher e Ronald Reagan. O con-senso neo-liberal imposto na faseactual do capitalismo baseia-seno fetiche falso do adelgaçamen-to do Estado. Porém, o gasto dosestados centrais do sistema capi-talista nom só nom minguou,como atingiu quantias inéditasna história. Mas nos dias de hojeo bolo distribui-se doutro jeito. Ointervencionismo estatal esque-ceu a protecçom e as prestaçonssociais dos trabalhadores própriasdos modelos social-democratasestabelecidos no Ocidente após aII Guerra Mundial, e reorientou-se para a estratégia militarista daguerra global permanente. Assim,os direitos laborais passam às fol-has prescindíveis das agendasgovernamentais e os ministériosda repressom (Defesa, Interior eJustiza) engordam os seus fun-dos. Dos dous mil e oitocentosmilhons de trabalhadores que háno mundo, mil e quatrocentosmilhons ganham menos de dousdólares diários e quinhentos ecinquenta milhons ganhammenos de um dólar por dia. Noano 1993 o número de trabalha-dores desempregados era decento e quarenta milhons e em2003 esta quantidade ascendeu acento e oitenta e seis milhons (ElViejo Topo, número 205-206).

No enquadramento daComunidade autónoma, o des-emprego nom deixou de crescer.Em finais de 2004 o desempregoera de 9% mais que no ano ante-rior. No total do Estado espanhol,no mês de Dezembro de 2004registava-se umha descida dadesocupaçom de 12.432 pessoas.Polo contrário, na Galiza registá-rom-se 4.705 novos desemprega-dos, 3,14% mais. Em nenhumacomunidade se produziu umincremento tam importante e amaior parte dos desempregadoshá mais de dous anos que seencontram na mesma situaçom.O sector agro-pecuário sofreu origor do desemprego de formaacusada. Das aproximadamentecem mil exploraçons recensea-das em 1990 ficam menos decatorze mil, o qual quer dizerque se destruírom mais de85.000 postos de trabalho. Nomse produziu reconversom algum-ha: simplesmente, desaparecê-rom sem gerar outras alternati-vas laborais. Além disso, a perdade capacidade aquisitiva dos edas trabalhadoras galegas nomtem feito mais do que aumentar.

A precariedade e a sobre-explora-çom som umha prática maioritáriano País. Entre os objectivos daJunta da Galiza nom figura nenhu-ma política destinada a acabar comas lamentáveis condiçons que pre-dominam no mercado laboral. Osdados demonstram a escravaturaque sofre a classe trabalhadora. Aestatística assinala que no sectornaval galego, nos momentos álgi-

dos de trabalho na construçom oureparaçom, o quadro de pessoaldirecto, fundamentalmente nosestaleiros privados, nom supera15% da mao-de-obra total. Ashoras extraordinárias apresentamcarácter obrigatório nos contratosa prazo e a negativa a realizá-lassignifica a nom renovaçom do con-trato. Nas instalaçons eléctricas ena canalizaçom, apesar de serem

actividades profissionalizadas,mantém-se umha relaçom de con-trataçom eventual superior a 60%.A jornada laboral oscila entre 10 e11 horas diárias, igual que no sec-tor siderúrgico galego, que ocupaactualmente 42.300 trabalhadorese trabalhadoras, e a contrataçom -segundo os dados do INE- registaumha média de eventualidade de40 por cento. No ramo da instala-çom de telefonia fixa e móvel,que multiplicou a sua actividadenos últimos anos com a liberaliza-çom e a apariçom dos novos ope-radores, a jornada trabalhadaoscila entre 11 e 12 horas diárias.

O mar dá trabalho a 35.100pessoas, segundo os dados deque dispom a CIG. Uns 59% dostrabalhadores som eventuais. Hácasos nos quais o contrato aprazo, por períodos de 3 ou 6meses, é ultrapassado repetida-mente por embarques e desem-barques que nom som compensa-dos. Na frota de pesca costeira ajornada é de 16 a 18 horas diáriasde trabalho, às quais deve somar-se o deslocamento à zona depesca e o regresso ao porto.

Na frota de pesca em alto marou industrial, a precariedade tra-duz-se na realizaçom de jornadaslaborais infinitas, que amiúdepodem ocupar a totalidade do dia,em condiçons extremas de tempe-ratura e onde a vida do marinheiroestá em constante perigo. Assim, aanálise específica de cada sectornom fai mais que revelar a gravesituaçom que enfrenta o País.

Contratos a prazo na construçomOs dados mais escandalosos regis-tam-se no sector da construçom,que ocupa 85.000 trabalhadores etrabalhadoras. O modelo de con-trataçom dominante no sector é ode obra, numha percentagem quesupera oitenta e três por cento dototal. Este ramo regista o maiornúmero de contratos temporais.O quadro laboral está formado porhomens, excepto nalgumhas tare-fas de administraçom.

As empresas de tamanhomédio, com quadros de pessoalde entre 10 e 35 trabalhadores,costumam regular a jornada detrabalho "a obra feita" comsobressaturaçom do tempo labo-ral e com jornadas diárias supe-riores às 11 horas, mesmo aossábados e domingos. Na actuali-dade, a construçom, junto com ahotelaria, representa um sectorde recepçom de mao-de-obraimigrante, incorporados comopedreiros independentementedos seus conhecimentos e for-maçom. A precariedade no sec-tor está também determinadapola alta sinistralidade que éprova dos escassos meios emedidas de prevençom.

O modelo de contrataçom dominante no sector é o de obra, numha percentagem que supera oitenta e três por centodo total. Este ramo regista o maior número de contratos temporais.

87 galegos perdem a vida nos seus empregos em 2004A Galiza continua a ocupar acabeça do Estado espanhol e daUniom Europeia em sinistrali-dade laboral. Para além das 87vítimas mortais, registárom-se1.083 sinistros de gravidadedurante a jornada de trabalho emais de 46.000 com o qualifica-tivo de "leves" no ano passado.Segundo fontes do Ministériodo Trabalho e Assuntos Sociais,o índice de acidentes no trabal-ho atinge no nosso país 11,06%,apenas excedido, no enquadra-mento estatal, por Cantábria. Amédia do Estado espanhol, noentanto, situa-se em 6,72%. Emnúmeros absolutos, unicamen-te a Catalunha, a Andaluzia e aComunidade Autónoma deMadrid, com maior populaçomactiva do que a Galiza, superama mortalidade laboral galega.

O sector dos serviços, os trabal-hadores do mar e a construçomconformam os estratos maisafectados polas taxas de sinis-tralidade laboral nacional. Astrês quartas partes dos operá-rios falecidos no ano 2004, 67,pertencem a estas três camadasda realidade do mercado laboralgalego. O maior número dos1.083 acidentes graves, quasetrinta por cento, contam-seentre os operários da constru-çom, enquanto que o sectorserviços é o que mais acidentesregista, 16.079 de um total de47.369. A acidentalidade pro-duz-se maioritariamente nosempregos de menos estabilida-de e com modalidades contra-tuais a prazo (temporárias).

A situaçom laboral e socialnos territórios que integram o

actual Estado espanhol apre-senta-se muito distante da dostrabalhadores noutros países daUniom Europeia. A mortalida-de diferencial por classe socialatinge, no quadro estatal espan-hol, um dos índices mais eleva-dos. Dados revelados polo pro-fessor de Políticas Públicas naUniversidade Pompeu Fabra deBarcelona, Vicenç Navarro,referentes ao Estado espanhol,mostram que entre a esperançade vida de um burguês e a deum trabalhador nom qualifica-do no desemprego há dez anosde diferença em prol do bur-guês. No que di respeito à pro-tecçom social e segundo dadosdo Eurostat, o Estado espanholsó gasta mais, dentro da UniomEuropeia, que Portugal, aHungria e a Eslováquia.

A precariedade ea sobre-exploraçomsom umha práticamaioritária noPaís. Entre osobjectivos daJunta da Galizanom figurampolíticas destinadasa acabar com aslamentáveiscondiçons quepredominam nomercado laboral.

Das 100.000 exploraçons agrárias de 1990 ficam menos de catorze mil.

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200512 A FUNDO

Mitilicultura: o caminho da bonança à crise

O GANHO DO SECTOR MEXILHOEIRO TEM-SE ESTANCADO NOS ÚLTIMOS TEMPOS

50% da produçom mundial de mexilhom e 94% da do Estado espanhol provém daGaliza. As 3.242 bateias existentes na costa galega produzem anualmente ao redor deumhas 280.000 toneladas deste bivalve, com uns benefícios económicos médios de17.000 milhons das antigas pesetas no mesmo período de tempo, e proporcionam11.500 postos de trabalho num sector muito estruturado, com cooperativas e organizaçons

de produtores, centrais de vendas e órgaos para a gestom, regulaçom e melhor comer-cializaçom do produto. Sem embargo, toda esta aparente vertebraçom nom está aevitar os numerosos problemas actuais. Assim, o ganho gerado polo sector mexilhoeiro,até a década de 80 em aumento, tem-sse estancado nos últimos tempos, e mesmo sepode perceber certa tendência à diminuiçom.

SOLE REI / As toxinas que afec-tam os bivalves estám a ser umproblema muito grave. Se bemque estas marés vermelhasinfluíssem desde sempre naaquicultura, nos últimos anosparecem ter-se incrementado, ebiólogos e membros do sectormitilícola assinalam os efeitosdo Prestige como causa daactual situaçom do mexilhom,que tem perdido capacidade dereproduçom, pois a mesma cria"nem agarra nem engorda comoantes", segundo declaraçons dopresidente do ConselhoRegulador do Mexilhom daGaliza, Ramón Dios.

Além disso, a normativa refe-rente às provas de toxicidadepara a comercializaçom dosbivalves europeus mudou, pas-sando de abranger um tempo deobservaçom de 12 horas, nosbio-ensaios com ratos, a 24horas. A mudança, apresentadacomo umha medida europeiapara garantir a salubridade noconsumo de mexilhom proce-dente de outras latitudes, ondeexistem toxinas que nom sedetectam antes desse tempo,está, no entanto, a ser causa dedesbarates e problemas para osprodutores galegos. Polígonosde bateias da Arouça,Cambados, Ribeira, Vigo,Cangas ou Baiona permanecemfechados actualmente, enquan-to que os mercados que anteseram fornecidos por eles estám

a ser ocupados por centrais deoutros países, como o Chile, queestá a ver favorecido o desenvol-vimento do seu sector mitilícolaà custa do retrocesso do galego.

A possível perda do mercadoOs colectivos de mexilhoeirosdo País mostram-se em desacor-do e nom escondem a suainquietaçom: "Se nom voltarema pôr as doze horas e se nommelhorarem os reparqueamen-tos, está claro que o sector vai à

falência. Nom duramos nemcinco anos", declarava MarcosCastro, presidente da cooperati-va ogrobense Amegrove. A situa-çom poderia provocar, aliás, umdesabastecimento dos merca-dos, o qual, para os produtoresgalegos, implica o risco de umhafutura perda dos mesmos. Alémdisso, a inquietaçom aumentaperante o sentimento de umhafalta de apoio por parte dos exe-cutivos tanto galego comoespanhol. Assim, o conselheiro

da Pesca e dos AssuntosMarítimos, López Veiga, decla-rava recentemente o seu opti-mismo perante umha crise que,segundo ele, nom existe.

Os baixos preços de vendacom que outros países estám aincorporar-se aos mercados somtambém um problema, que estálevando alguns bateeiros gale-gos a comercializarem mexil-hom "fora", a preços mais baixosdo estabelecido polas centrais,gerando fortes tensons.

Polígonos de bateias da Arouça, Cambados, Ribeira, Vigo, Cangas ou Baiona permanecem fechados actualmente,enquanto que os mercados que antes eram fornecidos por eles estám a ser ocupados por centrais de outros países

Se a situaçomnom mudar, osector mexilhoeirovai à falência.Nom duramosnem cinco anos.

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A situaçompoderia provocar,aliás, umdesabastecimentodos mercados.Além disso, ainquietaçomaumenta peranteo sentimento defalta de apoio porparte dos governostanto galego comoespanhol.

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2005 13A FUNDO

REPORTAGEM

Mugia, couto da dominaçom caciquistaCORRUPÇOM, CLIENTELISMO E IMPUNIDADE NA 'ZONA ZERO'

A vila que foi símbolo da catástrofe do Prestige é também símbolo do férreocontrolo das estruturas caciquistas capitaneadas polo PP e legitimadas polo PSOElocal. Umha pequena localidade costeira sem postos de trabalho nem perspectivasde futuro sustentável, cujo silêncio e assentimento foi comprado com dinheirorápido e ajudas que dérom para cobrir certas necessidades e mesmo para que

pessoas próximas do PP comerciassem com elas. A realidade da Mugia de hojemostra-nnos um povo com medo, que cala perante as injustiças, como as controvertidasconstruçons irregulares em frente a duas igrejas románicas, a requalificaçom deamplos terrenos para moradias que ninguém sabe quem ocupará, ou os clarosexemplos de nepotismo e abuso de poder.

C. BARROS / O Plano Geral deOrdenaçom Municipal de Mugiaestá hoje em processo e temcomo beneficiárias pessoas próxi-mas do governo local, abrindonovas zonas urbanizáveis para aconstruçom de casas de luxo emoradias geminadas. Enquantoas vizinhas e os vizinhos descon-hecem quem irá ocupar estasvivendas, os cunhados e umsobrinho de Alberto Blanco, pre-sidente da Cámara, soubéromcom antecedência onde compraros terrenos que estám agora paraser requalificados. Tambémentram no pacote urbanizávelespaços dos Montes deChorente, sob protecçom paisa-gística, a maior parte deles pro-priedade de Ramón García, com-panheiro sentimental da verea-dora da Cultura. Só neste espaçoserám construídas 200 habita-çons em 230.000 m2, para alémdas 740 previstas noutras quatrozonas requalificadas, principal-mente em Enfesto. Intui-se queumha parte dos destinatáriosdestas novas construçons estámvinculados ao crescente negóciodo narcotráfico na zona, assuntoque tem saltado em várias oca-sions às páginas dos diários.

Enquanto numerosos campo-neses tenhem problemas para aconstruçom de estábulos ou fos-sas sépticas, outras pessoasgozam de via livre para edifica-rem onde for preciso, como a

irmá de Alberto Blanco, que estáa construir umha vivenda numhaintersecçom entre dous camin-hos, ficando estes bloqueados.Apesar das denúncias formuladaspor residentes afectados da zona,a obra continua em execuçom.

Em frente a igrejas románicasA igreja da paróquia de Leis foirestaurada numha primeira etapae atravessa agora a segunda fasede reabilitaçom por parte daConselharia da Cultura. O altovalor patrimonial desta igreja

románica do século XII e as des-pesas da sua reabilitaçom nomimpedírom que José Bello Bellolevantasse um galpom em frenteà fachada principal, coroado porum tecto de uralita que superaem mais de um metro o muroque linda com o caminho quesepara a obra da igreja. A irregula-ridade foi denunciada por umvizinho do mesmo lugar perantediferentes instituiçons sem obteraté o momento resposta. OProvedor da Justiça (Valedor doPovo) está a analisar o caso,

enquanto Património, que rece-beu a primeira queixa no ano2000, ainda nom empreendeuacçons. Os motivos entendem-seouvindo as declaraçons de umhaprofissional que trabalha paraeste organismo dependente deCultura, que manifestou, peran-te um vizinho indignado, que aobra nom podia ter sido realiza-da, mas que este era um caso noqual "a política anda por aí". Etanto é assim que as sete pessoasvinculadas à casa de José Bellosom fiéis votantes do PP, apoioagradecido por parte do governolocal. Actualmente a obra estárealizada, com fossa de purinaincluída, mas tem impedido oseu uso até que se resolvam oslitígios pendentes.Paralelamente, a também igrejarománica de Sta. Maria de Mugiatem à sua frente um edifício queconta com rés-do-chao, trêsandares e aproveitamento sobcoberta, para cuja construçombastou a licença municipal. Noentanto, a legislaçom vigente deprotecçom arquitectónica impe-de a execuçom deste tipo deobras sem conhecimento e apro-vaçom por parte de Património.

Do piche às grandes obrasA nova aposta da Junta paraMugia está em grandes constru-çons com beneficiários privile-giados. Está prevista a implan-taçom de um porto desportivocom perto de duzentas amarra-çons, e ainda um enorme esta-belecimento de piscicultura noCabo Tourinhám, um espaço dealto valor paisagístico quePescanova comprou por valoresque oscilam entre 50 cêntimos eum euro por m2, graças à ajudado Presidente da Cámara, queincitou os vizinhos a colabora-rem com a empresa. Como rela-tamos no número 22 destapublicaçom, Pescanova receberáimportantes subsídios para estaconstruçom ao abrigo do PlanoGaliza. Ainda que as obras nomcomeçassem, está previsto umespectacular movimento deterras para umha estaçom depiscicultura que será três vezesmaior do que a do Cabo Vilám.

Frente à fachada da igreja románica de Léis, José Bello Bello levantou um galpom (à direita na fotografia) coroado porum tecto de uralita que supera em mais de um metro o muro que linda com o caminho que separa a obra da igreja.

O brutal impacto do fuel nestavila da comarca de Bergantinhosfijo com que as ajudas destinadasàs zonas afectadas se centrassemespecialmente nela. Os donati-vos enchêrom Mugia de recursose alimentos, mesmo de formadesproporcionada. Do excessochegou o aproveitamento inte-ressado de pessoas que, segundoratificam vários vizinhos, com-prárom a baixo preço produtosprocedentes da solidariedadepara depois vendê-los. Existe aconstáncia de que desaparecê-rom latas de produtos nom pere-

cíveis e material de limpeza,entre outros donativos.

Um caso paradigmático girou àvolta de um carregamentoimportante de presuntos, conhe-cidos como 'jamons', dos quaisumha parte foi parar ao volunta-riado, "outra parte para casasamigas e outra repousa numarmazém". A gestom das ajudascorrespondeu ao governo local,enquanto que Tragsa era a enca-rregada de vigiar os galpons ondese guardavam os donativos.

Tragsa é também acusada defalsear dados documentais em

relaçom às obras realizadas,como a apresentaçom de relató-rios pola abertura de pistas qui-lométricas que nom superaramalguns centos de metros. Estaempresa da Junta centralizouas contrataçons de emergênciaem Mugia, junto à ProtecçomCivil, e os postos de trabalhofôrom cobertos por pessoas 'deconfiança'. Também os alugue-res de locais fôrom realizadosem imóveis de pessoas próxi-mas do Partido Popular.

As coplas do Entruido deMugia nom fôrom indiferentes à

corrupçom, acusando directa-mente o governo local. Diziam:'Ao cabo de poucos dias / já secomeçou a notar / como você eos seus vassalos / começavam aengordar', 'O destino de algunsquartos / é mui difícil sabê-lo,como tampouco se soubo / dosda ONG de Castelo', 'O quenegociou comigo / foi um da cor-poraçom / e bem carregado deazeite / de vinho e algum'jamom', 'Contou-me que aindatinham / muitos produtos guar-dados / para pagar nas eleiçons /os votos hipotecados'.

Fazendo negócio com as ajudas do Prestige

Está prevista aconstruçom de 940vivendas em cincozonas requalificadas,das que sebenefíciarám‘sócios’ do PP

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200514 REPORTAGEM

REPORTAGEM

UNINDO ESFORÇOS POR UMHA GALIZA MELHORHá seis anos, nascia na Terra de Trás-AAncos aFundaçom Artábria em defesa da língua. Umha ini-ciativa que dava um espaço físico a um colectivo quevinha trabalhando pola promoçom do idioma e a cul-tura nacionais desde muito tempo atrás. Artábria foi,sem duvida, o primeiro passo dado por um movimen-

to que enraíza no País com a criaçom nas cidadesgalegas de centros e locais sociais.Há catorze anos, em Compostela, começava a funcionara primeira Casa Encantada, depois, e também produto,de outras ocupaçons. A Casa Encantada foi e é umexemplo de autogestom, acçom e convívio.

Duas experiências diferentes e necessárias dentro domodelo de centros sociais autogeridos, aos quais seunem nos últimos anos outras iniciativas nas cidadesgalegas, que agora procuram um nexo através de umhacoordenadora de centros sociais. Encontrar a acçom localcom visom de País é o objectivo da futura rede.

FUNDAÇOM ARTÁBRIA

MARTA SALGUEIRO / Se tudocaminhar como está previsto, nopróximo dia 25 de Julho apresen-tará-se oficialmente a Rede deCentros Sociais da Galiza. Demomento, a Coordenadora pro-motora desta iniciativa está con-formada pola Fundaçom Artábriaem Ferrol, Atreu na Corunha, aRevolta em Vigo, a Reviravoltade Ponte Vedra, a Esmorga dacomarca de Ourense, Alto Minhoem Lugo e a Gentalha do Pichele a Casa Encantada emCompostela. Participam tambémda configuraçom desta comissoma Deriva na Corunha e o colecti-vo Treme a Terra. Como prova

do muito que já significam parao País os locais sociais começa-rám por promover a celebraçomdo Dia das Letras, junto com oMDL, a Agal, a SociedadeCultural e Desportiva doCondado e Galeguiza, centran-do-se no Plano deNormalizaçom Lingüística. Osobjectivos desta coordenaçomem que todos os locais sociaisconsultados confiam, centram-se na defesa da língua, no apoiomutuo, na optimizaçom derecursos e na troca de experiên-cias que enriquecerám o tecidoassociativo e social galego embusca de umha Galiza melhor.

A coordenaçom dos locais sociais galegos começa a dar os primeiros passos

Celebrava no passadomês de Setembro osexto aniversário da pri-

meira iniciativa de local socialautogerido em defesa da lín-gua. Véu a dar espaço físico aumha associaçom polo idiomacom anos de trabalho às suascostas. Tenhem a nova sede nobairro de Esteiro. A experiên-

cia de Artábria serviu de refe-rência para os locais sociaisque se criárom depois.

Há três anos que realizam oFestival da Terra e da Línguapara contribuir para a aberturade novos espaços alternativos àglobalizaçom neo-liberal, àguerra e ao imperialismo.

Para além dos habituais cur-

sos e obradoiros ministradosem Artábria, figura dentro dasua programaçom de activida-des a participaçom no RoteiroHistórico no Monte Róis nosdias 14 e 15 de Maio. Para odia das Letras, a 17 de Maio,Artábria promove umha con-centraçom na Praça de Rosália"Na defesa da Nossa Língua".

A REVOLTA

Há dous anos nascia emVigo um projecto queconseguiu implicar 150

pessoas. Recolhêrom a expe-riência de Artábria. Era umhanecessidade que na comarca deVigo existisse um lugar físicoque aglutinasse diferentescolectivos e pessoas. Depois de

dous anos, a avaliaçom que famé muito positiva. A Revolta,para além de oferecer um espa-ço para a cultura, a língua e olazer, trabalhou para recuperarumha figura do Entruido viguêsque já estava perdida, ou reali-zou actos comemorativos dafigura de Suso Vaamonde, como

umha homenagem e umha inau-guraçom simbólica da Rua SusoVaamonde em Alcabre. O pro-jecto da Revolta aposta na cria-çom de novos espaços monolín-gües em galego que potenciali-zem e dinamizem a nossa cultu-ra, mantendo sempre um ideá-rio crítico e progressista.

No próximo dia 25 de Julho apresentará-se oficialmente a Rede de CentrosSociais da Galiza. Na fotografia, imagem de umha reuniom da Coordenadora.

A Revolta conseguiu implicar 150 pessoas em Vigo. Na foto, acto de homenagem a Suso Vaamonde.

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2005 15REPORTAGEM

Os objectivosdos locais sociaispartem da defesada língua, doapoio mutuo, daoptimizaçom derecursos e datroca de expe-riências queenriquecerám otecido associativoe social galego.

Os locais sociaiscomeçarám porpromover acelebraçom doDia das Letras,junto com outroscolectivosde base.

CASA ENCANTADA

Exemplo de local autogeri-do em Compostela desdehá 14 anos.

Primeiro em ocupaçom, e, naúltima temporada, depois dosdespejos, encontra-se na ruaBentanços. A Casa Encantada

mantém o carácter aberto, par-ticipativo e de acçom socialque a caracterizou nos seusmuitos anos de trabalho, sendoo abrigo de muitos colectivosque encontrárom nela um lugarde acolhimento.

A REVIRA

Abria as portas a 5 deDezembro de 2003 emPonte Vedra. Com os

princípios fundacionais da defe-sa da língua, a cultura e os direi-tos históricos da Galiza, ARevira converteu-se já numlugar referencial na cidadecriando umha dinámica muitopositiva de trabalho e uniomentre colectivos sociais e pesso-as. Estám já a preparar a Festa

da Língua, como todos os anos,por ocasiom da qual realizarámum concerto que traspassará asparedes do local social para che-gar até a Praça da Verdura. Nodia 17 de Maio, de manhá, rea-lizarám, como todos os anos,umha festa em que haverá detudo: títeres, conta-contos,música... A Reviravolta oferecetodos os meses um amplo pro-grama de actividades.

A GENTALHA DO PICHEL

Olocal que a associaçom aGentalha do Pichel está a cons-truir em Compostela já se con-

hece, a brincar, como a "Cidade daCultura" dos centros sociais. Obras paraum local onde trabalharám, entreoutros colectivos, Burla Negra, oCineclube de Compostela e a própriaassociaçom promotora do centro social.

No mês passado realizou-se umha jor-nada de "portas abertas" na qual pude-mos ver o estado de umhas obras quevam polo bom caminho e que sem dúvi-da tornarám este centro em referentecompostelano. Para além dos espaçospara colectivos, conta com zonascomuns como auditório, biblioteca, salade reunions e salom social.

A ESMORGA

Nascia o Centro Social em finais doano 2004, celebrando o fim deano com a festa do "muito abriga-

dinho" e dando em Ourense a possibilida-de de receber o ano 2005 com um tom dehumor. A Esmorga tenta, na cidade dasBurgas, aglutinar todas as pessoas que,com diferentes inquietaçons sociais e cul-turais, foram ao longo dos anos ficando

sem um lugar de referência onde compar-tilhar experiências. No local realizarám-seem breve umhas jornadas feministas,organizadas polas sócias do centro, pales-tras e actos comemorativos da Revoluçomdos Cravos. Tratando-se de Ourense,andam já metidos na preparaçom da festados Maios, onde nom faltarám as constru-çons nem as tradicionais coplas.

ALTO MINHO

Em Lugo, este local socialretomava a actividadecontínua com espaço físi-

co a partir do mês de Setembrode 2004, algo que nom querdizer que durante o tempo emque estivo fechado a associaçomdeixasse de realizar o seu trabal-ho em prol da língua e culturanacionais. Como projecto deCentro Social parte da iniciativadesinteressada de pessoas deamplo espectro social que decideconstituir em Fevereiro do ano

2001 umha organizaçom enca-minhada a dinamizar a culturaem Lugo e comarca.

Tivo Alto Minho nestes últi-mos meses umha actividadecontínua. Festa pola Selecçomgalega, jornadas da classe tra-balhadora ou palestras sobre aconstituiçom europeia queacolhêrom numeroso publico. O25 de Abril será celebrado comumha festa e várias palestras, ejá se prepara um intenso progra-ma para a semana das Letras.

Primeiro em ocupaçom, e agora na rua Bentanços, a Casa Encantada mantém o carácter aberto, participativoe de acçom social que a caracterizou nos seus muitos anos de trabalho.

O passado mês de Setembro, Artábria celebrava o sexto aniversário daprimeira iniciativa de local social autogerido em defesa da língua.

Visom geral dos dous tanques já levantados e parte doOs locais sociais contam com bibliotecas e videotecas, espaços para olazer, a criaçom cultural e a intervençom social a partir da autogestom.

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NOVAS DA GALIZA15 de Abril a 15 de Maio de 200516 CULTURA

CULTURA

Como nasceu a associaçom?Nasceu no ano 2003, quando umgrupo de pessoas que participá-vamos nas associaçons vicinaisexistentes na cidade de Ourense,percebemos a necessidade decriar um colectivo vicinal alterna-tivo a Limiar, independente dasinstituiçons, crítico e desligadodas subvençons com que ospoderes locais tencionam calar asvozes discordantes com o seuprojecto de cidade. Nestes últi-mos anos o movimento vicinalnom tem experimentado mudan-ça algumha, convertendo-senumha estrutura incapaz de inci-dir nos problemas reais das pes-soas. A participaçom social davizinhança é um instrumentochave para mudar a situaçomactual.

Que alternativa propondes aomodelo urbanístico do governomunicipal?Nós defendemos um modelo decrescimento ordenado e decididoentre todos os agentes sociais dacidade, respeitoso com oambiente e as áreas rurais adja-centes. Apostamos no fomentodo transporte público e na dota-çom de serviços públicos dignosem todos os bairros da cidade eparóquias, e pomos como priori-dade a soluçom de graves proble-mas como o saneamento daságuas dos cursos fluviais.

Qual é a vossa proposta de actua-çom na velha fábrica de farinhasLa Molinera?Conscientes do estado ruinosoem que se encontram os restosdesta antiga fábrica e do valorsimbólico que tivo para a nossacidade, a nossa associaçom temestado a reclamar através denumerosas propostas e activida-des que o velho prédio seja reabi-litado e convertido num museuhistórico-cultural. O governomunicipal quer derrubar todo oprédio para construir, mas devidoà pressom exercida temos conse-

guido, em certa medida, umhamudança de postura, que condi-ciona a reabilitaçom do prédio aofacto de que a empresa que pos-sui licença para as vivendasfinancie as despesas da obra.

Como pensas que se deveriamarticular as respostas cidadás?O estado geral de desmobiliza-çom vicinal em que nos encon-trámos é evidente, e em muitasocasions som as próprias associa-çons de cada bairro que contri-buem para fomentar esta situa-çom. A cidadania deve tomar ainiciativa na hora de construirum modelo de cidade adaptadoàs necessidades reais da maioriada populaçom. O PGOM, por exemplo, deveser um documento básico quecontenha as linhas básicas dedesenvolvimento da cidade emharmonia com o seu ambiente, epara isso devem entrar em con-senso todos os agentes sociaisque trabalham pola melhoria danossa cidade.

“A cidadania deve tomar a iniciativapara construir um modelo de cidadeadaptado às necessidades da maioria”

Miguel Doval, presidente do colectivo Anacos da Cidade.

ALEXANDRE RAMOS / Presidente do colectivocidadao Anacos da Cidade de Ourense, MiguelDoval há já quinze anos que está a trabalhar noenfraquecido movimento vicinal ourensano, deumha óptica crítica e mobilizadora perante osproblemas reais da populaçom afectada em cadabairro da cidade, em contraste com as posiçons quemantém Limiar, a federaçom vicinal maioritária,

ligada permanentemente à defesa dos interessesurbanísticos do governo do PP na cidade. A defesado património histórico-ccultural, nomeadamenteno caso concreto da velha fábrica de farinhas LaMolinera, e a participaçom activa do colectivo quepreside dentro da Plataforma cidadá em defesa dasBurgas, som as principais frentes de trabalho quemantém abertas na actualidade.

Oúltimo filme deAlejandro Amenábar,galardoado no Estado

espanhol e na festa dos óscaresde Hollywood, insere-se narotina e convençons da indús-tria actual do cinema ao maispuro estilo EUA. Hoje em dia, avalia de um filme é directa-mente proporcional aos rendi-mentos económicos que deletiram os gigantes da indústriado cinema. Trata-se da comprae venda de sentimentos, deemoçons. Um sorriso, um euro;umha bágoa dous. Daquela, umfilme alagado em bágoas teráum valor (económico) incalcu-lável.

Mar adentro defende o direitoà eutanásia, certo. Mas, seguin-do as normas da comercialida-de, cumpre que o espectador seidentifique com o protagonista.E nós nom vemos um tetraplé-gico na reivindicaçom dos seusdireitos legítimos. Vemos oBardem simulando umha iden-tidade que, sabemos, nom é asua. Nós podemos pôr-nos napele de Bardem, mas, fariaAmenábar ‘Mar adentro’ comum tetraplégico real no papelde Ramom Sampedro?

Todo ‘Mar adentro’ ficadaquela na postal. Um concur-so de acenos (que diria o direc-tor francês Robert Bresson) eespaventos com umha músicacondutista que nos di quandorir, quando chorar. Em lugar decriar com as armas do cinema-tógrafo, Amenábar fai uso doecrám como simples meio dereproduçom de um plano pré-vio estudado que nom agridenem um só dos mandamentosdo filme comercial.

Para nós, galegos e galegas,‘Mar adentro’ possui conotaçonsacrescentadas. A representa-çom que tira Amenábar daGaliza nas viagens em helicóp-tero que realiza o Bardem poloBarbança, temperadas commúsica de Ana Kiro e moinhoseólicos de Fenosa, é ofensiva,abofé. Mas o suposto bilingüis-

mo do filme reclama a nossaatençom. Um filme, quandoficcional, funciona como abs-tracçom da realidade querepresenta. Daquela, ‘Maradentro’ tenta reflectir a norma-lidade galega no tocante aosusos lingüísticos. Mas no filmeapenas se emprega o galego,nem sequer na sua funçomfamiliar no mundo rural, fican-do o seu uso reduzido a expres-sons íntimas, involuntárias,inclusive indesejadas (rifas,desqualificaçons...)

A surpresa cresce –e vira sus-peita- se virmos os documentosaudiovisuais filmados em vidade Ramom Sampedro (difundi-dos no programa do segundocanal da TVE ‘Linha 900’). Ogalego é o idioma único e exclu-sivo de comunicaçom entretodos os membros da família deSampedro, e o comum nas rela-çons vicinais no agro doBarbança.

Mesmo surgem distinçonsdicotómicas injustificáveis notratamento lingüístico das per-sonagens de ‘Mar adentro’. Nofilme, a cunhada de Ramom,‘Manuela’, mulher bondosa eaberta emprega o espanhol,enquanto ‘José’, o seu homem,caracterizado como fechado,ignorante e ancorado no agro éo único que fala galego de jeitocontínuo.

Esta manipulaçom da reali-dade do país nosso alicerçadaem tópicos seculares nom éválida se atendermos ao realrepresentado, mas tampoucoserve como generalizaçom dasituaçom lingüística galega (1).Nom é preciso ser académicoda língua para deduzirmos queumha mulher labrega doBarbança, de uns cinqüentaanos (Manuela), fala, aindahoje, a língua da Galiza.

(1) Sobre os usos lingüísticos de Maradentro: “Línguas de mar adentro:Universalidade e hierarquias linguísticas”de Celso Alvarez Cáccamo, emhttp://www.udc.es/dep/lx/cac/escritos/maradentro.htm

Mar adentro, diglosia imperial

“NO FILME APENAS SE EMPREGA O GALEGO,NEM SEQUER NA SUA FUNÇOM FAMILIAR NO

MUNDO RURAL, ”

XAN GÓMEZ VIÑAS

ENTRE LINHAS

“Defendemos ummodelo de cresci-mento ordenado edecidido entretodos os agentessociais da cidade,respeitoso com oambiente e as áreasrurais adjacentes”.

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Recolhe os melhores artigos e reportagens da primeira etapa do NOVAS DA

GALIZA. Inclui um CD-Rom com todos os números em PDF.

NOVAS DA GALIZA15 de Abril a 15 de Maio de 2005 17CULTURA

ALONSO VIDAL / O periódico Novasda Galiza cumpriu três anos.Umha nova e esperançosa etapacomeçou a percorrer-se no númeroanterior. Novo desenho -muitobem acolhido por leitores eleitoras-, mais páginas, melhorqualidade e mais compromisso eindependência. Sempre de umhaperspectiva crítica com a realidadesocial, política e económica nonosso país. Somos conscientes danecessidade de melhorarmosmuitos aspectos, alguns deles denom pouca importância, mas onovo sendeiro está desbravado.

Coincidindo com este avançosignificativo do projecto dasNovas, A Fenda Editora, vinculadaao jornal, tira à rua neste mês deMaio umha publicaçom que recol-he alguns dos melhores artigos deopiniom e reportagens da primeiraetapa. Um livro que quer ser teste-munha da homenagem ao labor demuitas pessoas que acreditáromdesde logo no início na aventurainformativa alternativa e urgente.Colaboradores, articulistas novos,veteranos prestigiosos no campoda informaçom e escritores, figé-rom com que em cada número asNGZ lograssem apresentar umhavisom diferente da desenhada emempresas mediáticas dirigidas porpoderes fácticos e interesses parti-distas.

O País na Janela -esse é o títulodo livro- recolhe as opinions quena altura fôrom publicadas de pes-soas tam comprometidas como

Santiago Alba, Xosé Estévez,Marcial Gondar, Daniel Salgado,Claudio Lopez Garrido, CarlosTaibo, Ignacio Ramonet, CarlosQuiroga, Kiko Neves, X. CarlosÂnsia, Marco Valcárcel, J.M. Aldea,Ramom Chao, Bieito Rubido, RafaVillar... entre outros e outras mui-tas, tocando aspectos relacionadoscom a actualidade do momento.Assuntos como o do Prestige, a glo-balizaçom, o ambientalismo, aquestom de género, o conflito lin-güístico, a discriminaçom docolectivo homossexual, estudossobre o império Inditex, reflexonssobre música galega, Nunca Mais,a Banda desenhada na Galiza, oscárceres ou a exploraçom indiscri-minada dos rios... tenhem cabi-mento, ao lado de análises sobrepersonalidades da vida culturalgalega desaparecidas nestes trêsanos, como Borobó, Manuel Mariaou Ricardo Flores. As experiências

vividas noutros lugares recolhem-se também na luz de espelhos pos-síveis onde nos podemos verreflectidos: Palestina, Timor, o 25de Abril; sem esquecer as palavraspedidas em forma de entrevistasque nos deixaram Manu Chao,Michel Collon, Estraviz...

Mais de cinquenta artigos,reportagens e entrevistas seleccio-nadas para oferecê-las aos leitoresneste volume de 220 páginas e 27ilustraçons correspondentes àscapas de todos os números da pri-meira etapa. Inclui, além disso, umCD-ROM com a totalidade dosnúmeros do Jornal em PDF. Paracompletar esta oferta, a equipa dasNovas contactou com prestigiososnomes do campo da cultura com-prometida com o País para solici-tar-lhes umha colaboraçom espe-cial para O País na Janela. Assim,pode-se encontrar especialmentepara este volume, opinions deCarme Adán, Camilo Nogueira,Celso A. Cáccamo, BernardoPenabade, Luca de Tena, MaurícioCastro, Miguel Garcia, RaquelMiragaia, Santiago Alba, X AntónDobao e Rui Pereira tratandodiversos temas actuais, comomeios de comunicaçom, língua,globalizaçom e ambientalismo...

Enfim, um intenso trabalho decompilaçom, selecçom, e análiseque oferecido aos leitores e leito-ras por apenas 12 euros. Que aacolhida seja tam favorável comoestá a ser a nova etapa das NOVAS

DA GALIZA.

O País na janela, à venda em MaioALVA RIOS / Há anos, umha pin-tada nas paredes de Lugo apre-goava um lema significativo davida democrática da vila. “EmLugo todos os gatos somPardos”, referenciando a omni-presença do presidente daDeputaçom, Francisco CacharroPardo. O certo é que este ins-pector de educaçom, nascidoem Guarramom (e podo-lhesassegurar que o nome nom ébrincadeira), converteu-se naimagem tópica do caciquismona Galiza.

Nom há em Lugo nenhumnegócio de benefícios destacá-veis (legal ou ilegal) que os boa-tos cidadaos nom achaquem aoamigo Cacharro. De canteiras anegócios do tijolo, e até ‘casasde citas’ som atribuídas polosboatos à mao do Presidente. Defacto, já se dérom casos demanifestaçons em que as pesso-as, por nom acabarem diante daCámara Municipal ou daSubdelegaçom, ao entenderemque estas instituiçons eramfiguras decorativas, se encamin-havam à Deputaçom para faze-rem das suas reivindicaçons algoreal.

Numha ocasiom em que osvizinhos protestavam por algumpagamento, perguntei-lhes por-que nom haviam de acabar naCámara, como estava previsto, ea resposta foi clarinha: “Total,esses nom tenhem um cam,vimos aqui que é onde se damos cartinhos”.

Outra muito badalada foiaquela em que transcenderampublicamente umhas facturasculturais da Instituiçom. Querdizer, culturais depende; por-que pagar uns 2 milhons depesetas por uns lacons com gre-los pareceu abusivo a muitaspessoas. E meio milhom porbatatas cozidas também nom é‘moquinho de pavo’. Bom, poisfinalmente a Deputaçom des-viou vinte milhons numha festagastronómica e a cousinha nomtem desperdício, porquehomem, nós queremos a terrin-ha e os seus produtos, mas tantopesinho por umhas batatas e porvinho é demais. A gente há seteanos, ficou divertida quando aalgum comerciante assisado lhedeu por abrir umha loja de tudoa 1 euro diante da Deputaçom.Total, que ao nosso amigo nego-ciante, nom lhe ocorre nadamais que pôr na montra umanúncio clarinho que dizia“Vendo Cacharrinhos a 100pesetas”.

Doutra desaparecem quin-hentos milhons, e nada, a oposi-çom (inocente) apresenta umhasérie de protestos. Chacharrorespondeu que a Deputaçomfornecia o presidente dessaquantidade anual para distribui-la a dedo. Nom é interpretaçommaligna. ‘A dedo’ foi a frase quepublicárom os jornais como clí-max apoteótico. A dedo, a dedo,a dedo, repete-se na mente doscidados dia após dia.

Histórias infames do caciquismo

NOVAS CONFIDÊNCIASNOVAS FOLHAS

MIGUEL BURROS / Ingredientes (6 pes-soas): 4 colheres (de chá) de azeite. 2 cebo-las grandes. 1 quilo de abobrinhas (caba-cinhas). 1 quilo de tomates. 4 dentes dealho. 4 colheres (de chá) de cominho moído.120ml. Vinagre de Módna.Sal e pimenta.

Picam-se as cebolas e levam-seao azei te sobre um lume lento atéestarem douradas. Entretantopicam-se os alhos e apartam-se.

Partem-se em bocadinhos ostomates e cortam-se as abobrinhasem meias-luas. Quando as cebolasestiverem douradas, adiciona-se oalho e o cominho.

Cozem-se durante 30 segundos eacrescentam-se os demais ingre-dientes. Cozem-se até que a abo-brinha esteja muito tenra.

Salgar e apimentar. Serve-se fria.

ARROZ COM CHÍCHAROS

Salada de abobrinha e tomate

Capa do livro O País na janela.

A estrela na palabra. Novas conversascon Xose Manuel Beiras Francisco Pillado e Miguel AnxoFernan –VelloLaiovento-Espìral Maior

Era na Selva de EsmXosé Luis Mendez FerrinEspìral Maior

Portugal, Hoje - O Medo de ExistirJosé GilRelógio D’Água

A Ruiva Fialho de AlmeidaEditor: Assírio & Alvim

Escolma de Poesia Berciana en linguagalegaAAVVEdicións Positivas

Livrarias colaboradoras:Ler Devagar (Lisboa), Siena(Ponferrada), Torga (Ourense),Sisargas (Corunha), A PalavraPerduda (Compostela)

TABELA DE LIVROS

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NOVAS DA GALIZA15 de Abril a 15 de Maio de 200518 E TAMBÉM...

Nove anos de vida nom som pou-cos para umha associaçom sustidano trabalho voluntário e na vonta-de militante. Som, até agora, osanos de existência da AssociaçomBerbés de Burela, que antes de teresse nome e um estatuto legal jáorganizava actividades com oesclarecedor lema ‘Goza com osaber do povo’. Os entrevistadoslembram os momentos iniciais enom querem deixar de vincar oimportante papel de BernardoPenabade, um burelao de adop-çom nom tam novo mas presenteem inúmeras iniciativas culturaisde base. Insistem em que o únicovínculo ‘político’ que unia as e osmembros fundadores era a neces-sidade ‘quase fisiológica’ de dar àvila umha oferta cultural até aaltura ausente, possibilitando adiversom da juventude na própriacultura e a promoçom de gruposda comarca. E assim estám a fazer,vencendo com um apego solidíssi-mo à terra natal numerosas ‘migra-çons interiores’ que dispersárompola Galiza adiante, por motivoslaborais, parte do núcleo fundador.A estreia do colectivo na I Festa daMarosa foi todo um sucesso.

A organizaçom é possível “gra-ças à continuidade de um grupoinicial que felizmente se vai alar-gando”, comenta-nos Dores; “omais importante é que se está aatingir umha fusom de três gera-çons, devida em parte à vontadede organizarmos actividades emque caibam todos, dos velhos aosnovos. O mais gratificante é ver-mos como chega a colaboraçomdesinteressada de gente que sesoma por própria vontade”.Enfatizam que, para além do tra-balho voluntário, a colaboraçom da

hotelaria da zona se torna elemen-to fundamental, e aproveitam parareivindicarem o seu papel. Albanocomenta-nos que, ainda valorizan-do-se enormemente o trabalhoque realizam e a transcendênciadeste festival musical no norte daGaliza, continua a prevalecerumha visom da cultura do faustoque em nada favorece as dinámi-cas de base: “nom pode ser que sepaguem apenas 300 euros a umhaassociaçom de jovens que reúne2.000 pessoas durante vários anosconsecutivos”, afirma; “logo háfortunas para as gaiteiradas e actossimilares”. Manolo subscreve avisom do seu companheiro e,achegando a sua perspectiva,entende que “nom se pode pre-tender que umha cultura sobrevi-va exclusivamente graças às sub-vençons”. De política e apoiosmediáticos também falamos comos moços de Berbés. Manololamenta o localismo ainda reinan-te no panorama mediático galego:“há excepçons, claro, e tanto aRádio Galega como umha emisso-ra local de Foz dam um tratamen-

to mais do que correcto à festa daMarosa, mas em geral a atençomdeveria ser muito maior”. A faltade suporte mediático e a fraquezarelativa de um associativismo“onde sempre trabalham os mes-mos”, como nos comenta Albano,nom desanimam em absolutoestes activistas da cultura: comapoios ou sem eles, “existe umassociativismo implícito galego”,afirma Manolo, “que se manifes-tou com um vigor especial após oafundamento do Prestige”. Etodos fam umha ênfase especialreferindo os companheiros de via-gem espontáneos que levam péri-plos semelhantes: as associaçonsque organizam os festivais demúsica galega em Pardinhas,Cerzeda, Couso, Mós, Malpica,Bandeira, Hio ou Narom. Nelesestá a prova evidente, para osmoços de Berbés, de que “háumha cultura galega universalpotente e perfeitamente exportá-vel”. A que promoverá a próximaFesta da Marosa, como todos osanos coincidente com a celebra-çom do Dia das Letras.

Associaçom juvenil Berbés: ‘A culturanom pode viver só de subvençons’

Horizontais:1.- Erros / falta de rigor (no plural). // 3.-Diz-se do produto usado, à mao oumáquina, para pôr suave a roupa; 3b.-Arreio de cavalgadura que constituiassento sobre o qual monta o/a ginete.// 5.- Último livro de poemas deCarvalho Calero / nome do sinal gráficode pontuaçom “...”; 5b.- Rio dosAncares. É um dos máis espectacularese fotogénicos vales galegos, banhadospolo Návia, e ameaçado de morte polapeste das minicentrais.// 7.- Apelidocomum ao cantor brasileiro deTropicália e ao cantor português dePorto Sentido // 8.- Apelido do cantorque popularizou o tema Quem puideramamorá-la, da autoria de A. Cunqueiro.// 9.- Impressom produzida no olfatopolas emanaçons voláteis dos corpos/cheiro (no plural). // 11.- Designaçomgenérica de espécies como limoeiro,laranjeira e semelhantes (no plural). //13.- Autor ferrolano de A Gente daBarreira e Da Fala e da Escrita; 13. b.-Mamífero da família dos bovídeos quehabita o Sul da África / nom se escrevecom ñ (enhe), (no plural). // 15.- Som-no bastantes defensores da doutrinachamada reintegracionista / iludidos;15 b.- Que tem forma de rolo / gordo,cheio de carnes.

Verticais:2.- Escritor madeirense, autor de Já osgalos pretos cantam, tamém apelidadoMoutinho; 2 b.- Foi ministro daRepública espanhola no exílio noGoverno Giral em 1946. // 4.- Estar oudispor em linha recta; 4b.- Cova deferas / toca. // 6.- 12 ª constelaçom e 12ºsigno do zodíaco ; 6b.- Erva rasteira dafamília das labiadas (mentha viridis) deque se extrai um óleo que contémmentol (no plural). // 8a.- Informaçom,indicaçom ou conselho; 8b.- Profissomque Castelao nom exerceu “por amor àHumanidade”. // 10.- Instrumentomusical, espécie de órgao portátil, cujofole e teclados som accionados pormeio de manivela / idem de sopro, depalhetas metálicas livres tamém cha-mado gaita-de-beiços. //11.Representaçom de formas sobre umhasuperfície, por meio de linhas, pontos,manchas,... //12.- Ilha atlántica quevemos de Bueu. // 13.- Animal mitoló-gico que aparece na heráldica galegamedieval (Escudo d’os Marinho), e ins-pirou Castelao o escudo-emblema daGaliza (no plural). // 14.- Contém enxo-fre / Qualquer sal derivado do ácido sul-fúrico e que se encontra em produtosde higiene // 15.- Derradeira produçomnarrativa de Carvalho Calero

PALAVRAS CRUZADAS, por Alexandre Fernandes.

DESCOBRE O QUE SABES..., por Salva Gomes.

1. 1. Como se chamava o boletimquinzenaldasescritoraseescritoresantifascistas galegos em Barcelonaem 1937?-Nova Galicia -Galicia Roxa -GaliciaLibre

2. De quem é a cançom Sectornaval?-Os Resentidos -Siniestro total -Xenreira

3. Onde vive o povo Chole?--Peru -Chiapas -Paraguai

4. Quem dixo O verdadeiro heroís-mo consiste em trocar anseios porrealidades, ideias por factos?-Daniel Castelao -Fidel Castro -BenignoÁlvarez

5. Em que ano aparece publica-mente o EGPGC?-1987 -1989 -1990

6. De onde é a vídeo-aartista ShirinHeshat?-Iraque -Paquistám -Irám

PALAVRASCRUZADAS:Horizontais:imprecisons; amaciador; sela; Reticências; Rao; Veloso; Batalhám; odores; citrinos; carval-ho; gnus; ilusos/as; roliço. Verticais:Viale; Castelao; alinhar; covil; Peixes; hortelás; dica; médico; reale-jo; desenho; Ons; sereias; sulfato; Scórpio. DESCOBREOQUESABES:1.Nova Galicia 2.Os Resentidos 3.Chiapas 4.Castelao 5.1987 6.Irám

DE BASE TEMPOS LIVRES

ANTOM SANTOS / Na vila marinhá de Burela há anosque um grupo de moças e moços está a ensaiar, comentrega e voluntarismo, um modelo de culturaautogerido, aberto às inquietaçons mais diversas dajuventude local, e empenhado em oferecer música ecultura a partir de coordenadas galegas e afastadas doscircuitos comerciais. Nom som um exemplo isolado.Dúzias de associaçons trabalham em todo o país demaneira espontánea na mesma direcçom: umha

resposta evidente a gritantes vazios institucionais noque à política juvenil diz respeito, mas também umhamostra eloqüente da solvência e profissionalidade quese pode alcançar a partir do voluntariado e dadedicaçom à cultura popular. Deste associativismoimplícito que agita tantas vilas galegas, especialmentenotável nos meses de Verao, falamos com quatromoços da Associaçom Berbés. Manolo, Dores, Albanoe Sofia opinárom para NOVAS DA GALIZA

Membros da Associaçom juvenil O Berbés.

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro ao 15 de Março de 2005 19DESPORTOS

DESPORTOS

REDACÇOM / O recente augedas equipas galegas nom se temverificado em nenhum avançosubstancial no que diz respeito àpromoçom de futebolistas natu-rais do País e muito menos naimplicaçom de jogadores galegosnas equipas autóctones.

Os números falam: a Galizaestá inçada de clubes de futebolque, da mais pequena paróquiaao bairro mais populoso, congre-gam aos fins-de-semana boaparte da vizinhança ao redor docampo e monopolizam centos deconversas. Há um total de 2.188equipas inscritas na FederaçomGalega e nem mais nem menosque 28.000 licenças concedidasno futebol de base.

Estes números (que só secorrespondem com a Galizaadministrativa) contrastam comos futebolistas na elite do des-porto rei: só nove galegos jogamna divisom de honra do futebolespanhol, e desses nove muitopoucos podem gabar-se de alcan-çar os níveis de popularidade deum Ronaldinho ou Cañizares.

Fran González ou MíchelSalgado som os dous co-nacionaismelhor assentes na elite despor-tiva e, do mesmo modo queNacho Novo, o ferrolano que seganhou um lugar de privilégio nataça escocesa, gozam de umhafortuna reservada a muito pou-cos.

Causas ocultas e pouco analisadasQual pode ser a explicaçom?Em primeiro termo, desportiva.Há já mais de dez anos queFernando Vasques, o galego deCastro Feito que hoje dirigeum Celta de Vigo que acaricia asubida de categoria, advertiacontra os pés de lama do fute-bol galego: por muito que seaposte num nível elevadíssimode Celta, Desportivo e Compos(na altura estreando presençana divisom de ouro), os clubesnom tenhem interesse real emapoiar os rapazes.

Com efeito, todos lembramosprometedoras figuras daquelesanos hoje relegadas para o reti-ro, o anonimato ou para postosmuito secundários em funçomda sua qualidade: os casos doex-desportivista Óscar Vales,do sigüeirês Juanito, cujacarreira na primeira divisom

asinha se cortara, ou das expec-tativas que defraudara o boirêsChangui desde a sua partidapara o Desportivo.

Rafa Sáez, sucedido treina-dor do Celta B, augura umfuturo 'canteirano' para a pri-meira equipa da cidade olívica,algo em que podemos acreditarse continuar a linha que hojereina em Balaídos. Porém, nomé esta a filosofia predominante.A Galiza carece de umha escolade futebol, pública ou privada,que canalize as sinergias quevenhem da base; e ainda que aideia foi sugerida em váriasocasions, o poder políticonunca decidiu atendê-la.

Num sector económico ali-mentado de grandes cabeçalhose amplificador de auto-comple-xos colectivos já crónicos, osgrandes nomes do mercadointernacional podem mais doque a vontade paciente da for-maçom de umha canteira ou odesejo de promoçom dos fute-bolistas da Terra: veja-se o caso

de Paulo Coira, hoje noRecreativo de Huelva, aManuel Castinheiras eCorredoira, no Eibar, ouRoberto Losada, no Valhadolid.

A política está presenteNom podemos esquecer nesteponto que no futebol convergemtambém motivaçons políticas. Eque estas, na Galiza, apontam nadirecçom do poder hegemónico.

O empresariado que represen-tam Lendoiro, Silveira ou Gómeztem, sem mais matizes, umha fide-lidade: o Partido Popular. No nossopaís nenhum sector das elitesdirectivas concebe o futebol comoum recurso nacionalizador nem umgerador de orgulho colectivo.

Antes, um acendido localismoprovinciano dirige as actuaçons enegócios deste empresariado moti-vado por acumular fortunas e subirpostos nos organigramas da direitaespanhola. Foram muito badaladasaquelas declaraçons de HorácioGómez, presidente do Celta, quevincavam a necessidade de que a

equipa da cidade arrastasse o apoiode Vigo e a sua área de influência,descartando à partida qualquerincidência no ámbito galego.

Julio Meana, presidente daFederaçom, preside umha enti-dade que tem muito pouco adizer sobre estas e outras ques-tons: a que cala quando todos osNatais se organizam jogos detodas as selecçons autonómicasexcepto a galega, ou a que man-tém um fantasmagórico sítio webquase sem actualizar e exclusiva-mente escrito em espanhol.

E, porém, como acontece tan-tas vezes, a gente comum vai àfrente dos dirigentes. Desde queas últimas bandeiras espanholasforam desterradas de Riaçor polatorcida galega no final da décadade 80, as partes mais vivas dasbancadas do nosso país contes-tam a dinámica rançosa das tribu-nas, exibem simbologia nacionale reivindicam selecçons próprias.Quique, dos Siareiros Galegos,lembra como toda a iniciativaneste sentido partiu do volunta-rismo das penhas e se organizousem receber um peso de nenhu-ma directiva: 'concertos polaselecçom, apoios de intelectuaise desportistas, ediçom da cami-sola da Galiza... foi um trabalhoplenamente militante que nosdiz como está a cousa no futeboldeste país e de quem podemosaguardar ajuda real', manifesta.

Da última paróquia do País àcidade mais dinámica, a Galizatem futebol. Os 'fundos' enchem-se aos Domingos em Ponte Vedra,Ferrol ou Ourense, e com certezaem Vigo e na Corunha, com ban-deiras galegas e simbologia inde-pendentista, e ninguém logrouapagar da memória a potenteassobiada que milhares de galegase galegos dedicárom ao hinoespanhol quando o Desportivoganhou a Taça do Rei em Madridnaquele Verao de 1995. O tradi-cional vínculo galego com o fute-bol nom deriva numha maiorpotência desportiva do País

A frustraçom de um evidentepotencial desportivo e a falta deinteresse por favorecer a cantei-ra aponta à responsabilidade dosde sempre. Ainda aguardamospor títulos realmente ganhospolos nossos e apoiados noesforço de canteiras que éimprescindível atender.

Que acontece com a ‘canteira’?O TRADICIONAL VÍNCULO GALEGO COM O FUTEBOL NOM DERIVA NUMHA MAIOR POTÊNCIA DESPORTIVA DO PAÍS

Fran, na fotografia, ou Míchel Salgado, hoje no Madrid, som os dousco-nacionais melhor assentes na elite desportiva

O empresariadoque representamLendoiro, Silveiraou Gómez temumha fidelidade:o Partido Popular.Nenhum concebeo futebol comoum recursonacionalizador.

O empresariadoque representamLendoiro, Silveiraou Gómez tem,sem mais matizes,umha fidelidade:o Partido Popular.

Carecemos deumha escola,pública ouprivada, quecanalize assinergias quevenhemda base; e aindaque a ideia foisugerida emvárias ocasions,o poder políticonunca decidiuatendê-lla

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Morreu o Papa. Em vias de seconverter em "Santo súbito",um outro fantasma percorre omundo inteiro. A Galiza nomhá de ficar isolada; situa-sedesde já à cabeça da quendados movimentos paranormais.Leio no jornal El País(09.04.2005) que no jantaroferecido à comitiva espan-hola na Embaixada de Roma oBorbom se posicionou emprol de Paco Vázquez comofuturo Papa. Verídico.Chegam sons da Apocalipse. As vagas de frio nem se ache-gam ao nosso país. Havemosde ser os eleitos. O próprioManuel Fraga Iribarne sabealgo; é vizinho do Rouco,outro papável, actualmenteem conexom directa com oEspírito Santo. Com o corpoainda quente do polaco (deCracóvia, lembremos, a capi-tal da outra Galiza), o nossoPresidente tomou folgos arre-distas e convertido em upe-galho da linha proletária cha-mou ladrons aos do governode Madrid. Galiza Ceive,Partido Popular. Já nom éretranca: é a revoluçom atra-vés de autos de fé. Se calharnom som tempos de aposta-sia. O futuro do País passapola política do cilicio.Martirizemo-nos todos naluita final. Deito umha ideia para rece-bermos bem as mudançasque venhem, para nos adian-tarmos ao futuro. O DoutorMichael First, daUniversidade de Columbia(Nova Iorque), vem deadiantar à imprensa as suasinvestigaçons sobre oTranstorno de Identidade daIntegridade Corporal. Ospacientes que sofrem estadoença psicológica autolesio-nam-se para conseguiremamputaçons cirúrgicas. Somgente normal, sá, mas preci-sam da amputaçom das per-nas, um falar, para curarem oseu transtorno. Pois isso, umha ideia defundo calado político. Cortarpolo sao. Entretanto, sopesoo meu apoio ao PartidoConsumista de Terras Gauda.

OPINIOM 2EDITORIAL 3NOTÍCIAS 4INTERNACIONAL 8

A FUNDO 10REPORTAGENS 13CULTURA 16DESPORTOS 19

KIKO NEVES

P.C.T.G.

“O papel do intelectual mingua fronte aodaqueles e aquelas que luitam de verdade”

- AAo contrário de muitos emuitas intelectuais de esquerda,nom centras tanto a tuadenúncia do capitalismo nosdados quantificáveis como nosseus efeitos 'niilistas' napercepçom e na linguagem.- Sobretudo a partir do 11-S, dou-me conta de que este sistema, ali-cerçado na imagem-mercadoria,tem como suporte umha contem-plaçom insensível na qual tudopode ser visto, porque todo o realé considerado ficçom, como acon-teceu posteriormente com atransmissom televisiva dos bom-bardeamentos de Bagdad. Alémdisto que chamo 'niilismo doolhar', a permanente destruiçompropagandística da linguagem porparte do poder acaba por fazerquase impossível a transmissomde verdades com efeito real.

- SSignificas-tte por 'rebaixares'o papel dos intelectuais.- Os intelectuais significárom-se historicamente polo seuservilismo aos diferentespoderes e hoje o capitalismoque os mantém vende-os fal-samente como guias do livrepensamento. Mesmo emmomentos históricos trans-cendentais, a imensa maioriados pensadores esquerdistasescondeu-se ou alinhou com opoder, como aconteceu duran-te a Comuna de Paris.

- MMas nom vos correspondeum papel de primeira ordemna elaboraçom de paradigmassócio-ppolíticos alternativos?- Acho que nom. Os novosparadigmas sócio-políticos,como a Venezuela está a

demonstrar, constroem-sedesde baixo e com a participa-çom democrática directa. Osintelectuais podemos, no máxi-mo, supervisar o produto final eassinalar contradiçons ou fen-das. Pessoalmente, até rejeito otermo 'intelectual' e prefirodefinir-me como 'agitador lite-rário-propagandístico'.

- Como se contempla, estandono 'centro', a reivindicaçomnacional da periferia?- Estabelecendo as necessáriasdistinçons, apoiando activamen-te. Face ao 'nacionalismo univer-salista' de Kagan e Bush cumpreum nacionalismo que parta doterritório próprio e desmonte omito do êxodo e o cosmopolitis-mo que seduz certa esquerda,sempre com orientaçom declasse e fugindo da ideia erradado choque de civilizaçons ou deculturas. Com Eagleton, pensoque só há um problema maiordo que ter umha identidade:nom ter nenhuma.

- CChega que a esquerdaocidental denuncie a violênciaimperialista ou teria que ir

além disso e pronunciar-ssesobre a legitimidade deviolências defensivas?- Temos recuado até posi-çons inconcebíveis há só trêsdécadas, quando estava cla-ríssima a legitimidade dadefesa face às agressons. Otabu e a perseguiçom jurídi-ca tenhem-nos feito calar atéabrirmos umha fenda quenos afasta da esquerda nomocidental, que nos contem-pla com justa desconfiança.

Está na hora de passar do'nom à guerra' ao 'sim à resis-tência' se queremos tapar asgretas e construirmos umanti-imperialismo realmenteinternacionalista.

- O que é que falta à esquerdados nossos dias?- Entre outras cousas, nota-sea falta de rigor terminológicoe certa austeridade na lingua-gem, porque esta costumaimitar a inflamaçom inútilda propaganda. E muitaimaginaçom para ser, comonos tempos da revoluçomrussa, realmente criativa evanguardista.

ANTOM SANTOS / Presente em numerosos fóruns da esquerda e cola-borador assíduo de projectos mediáticos e políticos impulsionados-nas naçons da periferia, o filósofo Santiago Alba está-sse a revelarcomo um dos escritores mais incisivos quanto à denúncia da desor-dem mundial vigente. Complementa lucidez na escrita com clarida-de na conversa para atacar um capitalismo 'que o devora tudo'. Faium chamamento à esquerda para utilizar a imaginaçom e recuperaro sentido da linguagem a linguagem. Desconfia dos intelectuais ereclama as pessoas do comum para construírem algo diferente.

SANTIAGO ALBA RICO FILÓSOFO