Garoto Fantasma - Laços

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Garoto Fantasma Laços Humberto Lima 1

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Cinco garotos presenciaram juntos um evento sobrenatural e pensavam que suas vidas seguiram normalmente depois disso. Mas oque eles não sabem é que tudo havia mudado.

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DEREK TEM UM SONHO: Sua mãe está disposta a nunca realiza-lo.LEO SE SENTE UM PALERMA: Por mais que deseja expressar o que sente ao amigo.ANDREW ESTÁ EM PERIGO: Sua irmã está decidida a inferniza-lo o resto de sua vida.TYSON ESTÁ SEM CAMINHO: O mundo em que decidiu entrar, talvez não haja mais volta.ASHTON NÃO TEM ESCOLHA: Sua mãe e seu irmão cadeirante são os únicos no mundo a qual está disposto para arriscar a vida.

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Parte um“A amizade e a lealdade residem numa identidade de almas raramente

encontrada”.

Epicuro de Samos

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Antes

Leo Devito havia anotado em um pedaço de papel oque ele iria dizer na cerimônia naquela noite. Ele segurava o pequeno pedaço rasgado de seu caderno contra o peito, suas mãos suadas manchavam a folha, mas Leo não se importava. Estava mais inseguro do que uma vez foi capaz de ficar. Ele encarrou seu melhor amigo Derek com frieza e ressentimento, pensando a todo o momento no que seu amigo iria pensar dele a diante.

– Eu só gostaria de dizer o quanto amo todos vocês. – ele olhou para a pequena rodinha de cinco crianças (incluindo ele), de braços laçados um ao pescoço do outro. Leo apenas encarava Derek como se suas palavras fossem seu lamento.

Estavam no chalé nove do acampamento de verão. Leo girou em pensamentos o quanto aquele lugar significava para ele enquanto encarrava Derek. O momento em que os cinco passaram juntos bons tempos de infância…

– Diga logo Leo! – cismou Ashton sempre em tom rude.Leo se soltou dos ombros de Tyson e Andrew e abriu o pequeno

pedaço de papel em sua mão, onde espremeu palavras de incentivo e compreensão.

– Isso era para ser apenas um ritual de iniciação a amizade eterna. Mas agora sei que isso é muito maior do que eu imaginava. Ashton: você é uma pessoa insuportavelmente chata, mas eu o amo mesmo assim. Tyson: sua habilidade na pesca ainda me surpreende cara! Você é o cara. Andrew: eu encontrei minha essência no dia em que você deu sua opinião sobre a gostosa da Julia Margarete e agora eu sei o quanto você vale. E por último Derek: Um verdadeiro amigo que nas horas mais sombrias e tristes pelo que passei se tornando meu refúgio, meu aconchego, meu lar. Não quero perdeu você – sua voz falhou – eu te amo. Amo todos vocês, meus irmãos!

Ele teria parado de tremer se seu melhor amigo não tivesse rido.– Isso foi meio deprimente. – comentou Derek, seu sorriso

alargando o rosto. Ele tinha covinhas em ambas às bochechas, perto dos lábios. – fiquei até com vergonha de dizer oque eu planejava. – Derek amaçou um pequeno papel que escondia no bolço. Ao contrário de Leo, ele tinha vergonha de não memorizar a fala, jogou por cima do ombro.

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– A partir de hoje, de agora em diante. Do amanhã a eternidade, nossa amizade de tornara o princípio dos tempos. Seremos os melhores amigos que um dia alguém no planeta foi. Do primórdio a eternidade depois da vida. – Derek esticou o punho e todos esticaram os seus ao encontro do dele. – A partir de hoje e de todos os dias que viram. Seremos amigos para sempre, nunca vamos quebrar essa corrente, morreremos juntos se assim possível for, e nada nos impedira de nos amar para o resto de nossas vidas. – seus olhos correram aos amigos até fixarem os de Leo. – Nunca esconderemos nossos segredos, nunca mentiremos, nunca trairemos nossos amigos e sempre guardar o que for dito entre nós para nós mesmos, até o fim dos dias.

– Até o fim dos dias! – disse todos juntos.Leo tentou dormir mais tranquilo aquela noite, o pior já havia

passado. Ele não imaginava que poderia deixar Derek sem palavras, mas aquilo que disse era verdade, então como seria deprimente? O pior de tudo era não saber oque Derek estava pensando naquele momento.

Eles fizeram um pacto de amizade. Seriam amigos para sempre assim que Leo abrisse os olhos pela manhã. Ele veria o sol brilhando na outra margem do rio logo pela manhã, tomaria café da manhã com os outros campistas, passaria o dia inteiro em atividades e explorações na floresta, e a noite, depois que todos estariam em volta de uma fogueira, Derek talvez cantasse um pouco para eles. Tudo seria como foi nos últimos anos, tudo estaria outra vez normal.

– Vamos Leo. Acorde!Foram as palavras de Tyson que o despertou naquela madrugada.

Leo acordou perdido em pensamentos e com muito calor, um calor abafado que preenchia todo o chalé onde dormiam.

– Oque houve? – perguntou Leo apreensivo.– É fogo. – berrou Tyson o puxando pela gola da camisa. – É fogo

Leo! O chalé está em chamas.Leo pode ver as chamas que subiam ao teto. Não viu os outros.– Espere. – gritou para que Tyson pudesse ouvi-lo.Leo se soltou do amigo e correu para dentro do chalé. As chamas

estavam por todos os lugares, sobre a cama, sobre os armários. Envolvia tudo que fosse fácil de atear fogo. Ele localizou o pequeno pedaço de papel intacto que Derek jogara por cima dos ombros “ele jogou suas palavras”. Leo se agachou para pegar o embrulho quando algo explodiu e um garoto apareceu nas chamas.

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“A promessa é digna de confiança Devito? Os amigos são melhores que a morte? A promessa não cumprida arrecada grandes afeições aos amigos, não desminta o proposito de sua vida, não se alie a traidores confessos, um dia a de vir para cá, assim como todos neste mundo obscuro”. Leo ouvia os sussurros nas chamas: “O pecado é não sair machucado, a mente invade o corpo e o destrói em segundos, a vida é sempre tão alheia a nós. O pecado mais mortal é viver”.

Leo correu para a saída disposto a chegar ao ar livre. Ele protegeu o pequeno papel contra o peito e saltou para fora. Uma massa de fogo atingiu-o nas costas e ele caiu. Caiu com um baque surdo e doloroso na grama chamuscada. Leo rolou no chão até apaziguar o fogo. Suas costas queimavam.

– Seu louco! – Derek foi o primeiro a chegar. – porque você vez isso?! – berrou.

Leo escondeu o papel dele. Umas das coisas que mais queria saber de Derek. Aquele papel era importante para si. Talvez jamais Derek tocasse naquele assunto.

– Chamem os paramédicos. – gritou Tyson com as mãos na cabeça.– A alguém lá dentro. – berrou Andrew. – eu vi. Ainda tem um

garoto lá dentro…Derek apoiou a cabeça de Leo em seu colo.– Idiota, podia ter morrido.– Uma das prioridades da vida é a morte iminente. – Leo estava

fraco. – o fogo é uma classe virtuosa de condensação e espiritualidade. O fogo é a mais pura de todas as mortes.

– Do que você está falando…?Leo não sabia e nem em outro dia qualquer poderia saber.Apenas as vozes falavam em sua mente.As vozes das chamas.As vozes…

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Oito anos depois

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Derek

Derek Morino estava desgostoso, por parte porque não comera nada desde o almoço naquele dia, pois uma garota chamada Nina Bons vomitara toda a sua refeição numa espécie de vômito pastoso esverdeado. Depois de presenciar toda aquela cena, Derek perdeu todo o apetite. Ele poderia ter almoçado tranquilo como alguns dos outros estudantes que não se importaram com o ocorrido. Mas Derek tinha estômago fraco e suas tradições vindas de família empregavam a ele que um ambiente limpo é um ambiente aceitável. Às vezes Derek tentava ser como todos os outros estudantes a sua volta, mas ao ver que alguns estavam se retirando do refeitório sem terminar de comer, viu uma oportunidade para fazer o mesmo e não se sentir tão horrível. Derek acreditava que se espelhando nas pessoas a sua volta, poderia ser como elas e não um objeto educado e ensinado de uma maneira rígida pelos pais.

Ele desceu do carro do motorista da família às pressas e quase tropeçou em uma pedra que atrapalhava o caminho até a porta de entrada de sua casa. Derek mal ouviu oque o motorista gritou quando saiu do carro. Ele escancarou a porta e subiu correndo as escadas para seu quarto, a fim de usar o banheiro. Ele fechou a porta do quarto com o pé e correu para o banheiro. Tudo que imaginou naquele momento atingiu a têmpora do estômago. Ele vomitou no vazo sanitário tudo que não havia comido. Um gosto estranho e horrível preencheu sua boca. Ligou a torneira da pia e se lavou.

Ele não se sentia mal, mas sentia fome. E vomitar àquela hora não o deixou mais apreensivo do que já se encontrava. Ele retirou a camisa grudada de suor do corpo com dificuldade e jogou-a contra a parede, zangado consigo mesmo por suar daquela forma. Tentou com dificuldades desprender o cinto da calça. E quando finalmente venceu a luta, jogou a calça bem longe. Retirou a cueca sem grande esforço e se contemplou nu diante do enorme espelho do banheiro. Ele se lembrou do que Leo dissera para ele no refeitório assim que Nina Bons havia vomitado: “Como pode vomitar tanto? ela é pura magreza!”. Derek se via agora ali, magro como Nina Bons. Ele não era doente como ela. Todos sabiam na escola que Nina sofria de leucemia aguda e que ultimamente estava se sentindo mal. Derek não queria parecer assim, lembrou-se do que disse Sheila Bell, sua namorada: “Não é porque ela está magra, que não vai vomitar!”. Derek sorriu ao pensar na namorada dando uma bronca em Leo, sabia que eles não se davam bem.

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Com seus dezesseis anos, Derek achava que estava em boa forma física. Fazia musculação e deixava aos poucos de ser o mais magrelo do grupo. Mostrava os bíceps para ele sempre que ficava nu diante de si mesmo. Era quase mórbido. Ele tinha olhos em um tom azul claro herdados do pai. Tinha um rosto flácido e uma pequena barba crescendo no queixo. Seus cabelos completamente negros caiam sobre a testa e rodeavam a sua cabeça, algumas vezes os fios caiam no olho tapando sua visão. Mas Derek não estava a fim de corta-lo, pois gostava dele grande, assim como Sheila.

Ele entrou no banho para pensar se realmente tudo aquilo que presenciou fosse mesmo necessário interferir em sua cabeça em relação a ele mesmo. Não chegou a nenhuma conclusão, apenas a voz da mãe surgiu em sua cabeça: “Aquele lugar é imundo!”. Ele não achava certo que a mãe achasse todas as pessoas imundas. Sua mãe sempre acreditou que as pessoas que não fossem da família eram algum presságio ruim, porque mesmo não tendo qualquer tipo de intensão contra ele, as pessoas sempre iriam o magoar. Não importa o quanto de tempo fosse necessário para Derek perceber a verdade. Mas não acreditava na mãe.

Quando desligou o chuveiro, pegou uma toalha para enxugar seu cabelo, fazendo movimentos repetidos para frente e para trás, desaliando os fios lisos e controlados. Ele adorava o cabelo e sentia uma forte ligação com o mundo do rock, oque tanto amava. Ao abrir a porta do banheiro para se dirigir ao quarto completamente nu, não esperava que fosse encontrar uma garota lá.

A menina deu um grito agudo e virou de costas. Era Mellie, a filha da Dona Maria, a empregada da casa. Derek ficou parado tentando entender o porquê a menina havia gritado, até sentir o vento quente que entrava pela janela em direção as suas pernas, ele rapidamente abaixou a toalha até seu membro intimo e sentiu seu rosto corar.

– Me desculpe! – Mellie tinha uma voz suave, e disse como um sussurro. – Eu só vim entregar a você sua mochila do colégio. O motorista disse que você esqueceu no banco de trás do carro.

– Não precisa pedir desculpar. Eu que fui descuidado. – sorriu Derek indo em direção à menina. – pode se virar.

Ela olhou para ele envergonhada, estendeu a mochila e Derek pegou-a, colocando na cama. Sua mão ainda firma segurando a toalha.

– Me desculpe por entrar assim, eu achei que estivesse no banheiro…

– Eu estava no banheiro. – disse Derek.

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– Não. – ela colocou uma mecha atrás da orelha. Derek nunca havia avaliado seu jeito, na verdade eles nunca se falavam muito. – Eu quero dizer, no banho…

– Eu estava…– Olha me desculpe. – ela sorriu. – mas, não conte a sua mãe. Não

quero arranjar problema com a minha.– Contar oque? Que você viu meu pênis?– Eu não sabia que era tão difícil conversar com você.Derek sorriu.– Não conto se você não contar. Agora pode me dar licença. Eu

ainda estou pelado.Mellie olhou para o peito nu de Derek e piscou algumas vezes como

um tique nervoso, ela se afastou para trás e abriu um sorriso.– Claro.– Ah, e obrigado.Ela sorriu antes de desaparecer no corredor.Derek já estava acostumado a encontros nus em seu quarto, foram

tantos ocorridos que já não se importava mais. Maria cruzava com ele sempre que entrava em seu quarto, quando não estava nu, usava apenas uma cueca. Derek tinha sua liberdade em estar no seu quarto da forma que desejar, ele não se importava com Maria, porque ela cuidava dele desde que nasceu e não havia nada do que já não tenha visto. Ele achava aquilo natural, embora soubesse que essa não era uma ação comum de um adolescente comum na puberdade, quando começa a entender a realidade da sexualidade e quando os pelos finalmente começam a crescer. Mas não ligava de Maria desse sua opinião, mas ela evitava e respeitava quando o flagrava, deixando-o a vontade.

Ele se vestiu e penteou o cabelo para não ouviu repreensão de sua mãe. Ela estava ultimamente muito remorada porque o filho não fazia o que ela mandava. Cortar o cabelo era uma das muitas dessas coisas. Ele não se importava de ouviu a mãe berrando, mas fingia não dar atenção para ela quando berrava. Não gostava de tanta atenção vinda da mãe. Ela era uma mulher que discutia sempre quando algo dava errado, em geral não se dizia respeito a Derek, mas o culpava por ele estar por perto.

Um dia, não muito tempo sua mãe o havia levado para um passeio familiar. – apenas Derek e ela – nesse passeio ela simplesmente queria reconciliar com o filho, ganhar a confiança que Derek já havia perdido.

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– Eu gosto muito de você. – eram palavras fofas, se ela não continuasse. – mas às vezes você passa dos limites, chega a dar vontade de te pendurar pelo pescoço.

– A, valeu mãe. Eu também te amo.A reconciliação não aconteceu naquele dia, pelo menos por parte de

Derek.Quando as coisas ficavam pesadas demais era recorria aos amigos.

Leo Devito era seu melhor amigo desde que se lembrava em vida e ele entendia tudo que Derek falava, letra por letra, avaliava e dava a melhor opinião. Os dois viviam unidos desde a infância. Sheila, namorada de Derek sempre achou que Leo fosse meio apegado a Derek e avaliava isso como uma atração perante o garoto. Mas Derek sabia que Sheila falava aquilo porque sentia ciúmes do amigo ser tão importante assim para ele e discordava de tudo que Leo falava na hora do almoço.

– Eu vi o vice-diretor acariciando a bunda da professora Elia. – comentou Leo certa vez enquanto abria um pacote de bolacha no refeitório.

– Fala sério Leonard! O vice-diretor trata a professora como uma irmã. Todos sabem disso. – reclamava Sheila.

– Os meus olhos não mentem. – queixou-se o garoto.– Mas a boca sim. – disse Sheila.Os três riram, embora Derek achasse que o sorriso da namorada

era um tanto forçado demais. Ele não gostava de entrar nas discussões dos dois. Era sempre melhor não escolher um dos lados a apoiar.

Derek desceu para comer alguma coisa e enquanto descia as escadas para o piso inferior topou com a empregada Maria no pé da escada. Ela usava um avental e touca na cabeça, suas mãos cobertas de faria, ela as limpava com uma toalha de mesa. Era uma mulher jovem, porém já tinha rugas nos olhos e era corpulenta.

– Bom tarde, senhor. – ela disse.– Maria, quantas vezes eu já lhe pedi para me chamar apenas de

Derek. – disse Derek sorrindo. – a final, estou com uma fome enorme. Tem algo para comer na cozinha.

– Antes do jantar senhor? – Maria franziu a testa.– Eu não comi nada desde o almoço.– Por quê?Derek não gostava de falar nesses assuntos. Porque não se sentia

bem em dizer que tinha problemas em relação a coisas nojentas feita por outras pessoas. Derek sabia que ninguém gostava de ver alguém

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vomitando. Mas oque mais o deixava aflito era que outras pessoas continuaram comendo, e ele, não.

– Eu não estava com fome.Maria riu pelo canto da boca.– Eu sempre disse a você desde pequenininho que mesmo quando

não estamos com fome no momento da refeição, a gente precisa comer algo para deixar o estomago trabalhando e para evitar conflitos futuros.

– Eu devia ouvir mais os seus conselhos, Maria.– Vamos. – ela indicou o caminho da cozinha com a mão, mesmo

Derek sabendo exatamente para onde ir. – tem algo sim para você comer.A cozinha da casa de Derek não era tão grande quanto ele pensava.

Há muitos dias, meses na verdade que não tocara em seu solo. Praticamente tudo que queria eram os empregados da casa que faziam por ele.

Ele se sentou na bancada que separava a cozinho no meio e cruzou os braços a frente do corpo e olhou em volta tentando memorizar cada espacinho que lhe apresentava, tendo certeza que demoraria muito tempo a retornar aquele lugar.

– Alguém já lhe disse que sua comida é um máximo! – disse Derek esfregando as mãos uma na outra.

– Você sempre diz. – riu Maria. Ela depositou o prato a frente de Derek e lhe serviu os talheres. – agora coma, eu não quero ver você passando fome outra vez. De volta ao quarto, Derek finalmente teve tempo para pensar em um discurso de cinquenta linhas que leria para toda a escola na manhã seguinte. Ele era candidato a presidente do grêmio da escola de Spike Novans, a qual estudava. Havia se candidatado porque simplesmente adorava ser assediado pelo público. Uma de suas características era o carisma que tinha com as pessoas. Tudo que envolvia uma área que envolvesse pessoas em excesso chamava a atenção de Derek, e ele adorava isso desde pequeno, quando se sentava na roda da fogueira para cantar e tocar violão para a turma da classe no acamamento. Ele se lembrava da turma de outra sala querendo se sentar com ele.

Ele se sentou na cadeira e se debruçou sobre a escrivaninha. Pegou um pedaço de papel e tentou alcançar as palavras fundas em sua mente. Aquelas a qual dizer e emocionar todos. O problema era que Derek não tinha forças suficientes para elaborar um discurso, nem palavras suficientes para atingir corações tranquilos e inertes.

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Seus pensamentos levaram a Sheila e sobre oque ela pensaria quando o visse em cima de um pódio pronto para recitar. Não se esquecera de que fora ela quem mais o motivou a subir lá. Levava sua vida dedicada a ela e seus amigos, nada que fosse dizer no dia seguinte seria em vão. Ele tinha que bolar algo, não por ele, mas pelos amigos.

Alguém havia batido a porta.– Pode entrar! – ele gritou virando o corpo.Era Maria novamente.– Sheila está lá em baixo. Quer ver você. – disse ela.– Mande-a subir. – disse Derek e Maria saiu.Todas as vezes que Sheila era mencionada naquela casa era uma

sensação de liberdade. A garota cujo amava era a sua saída de todos os problemas. Eles tinham um laço mais que unidos de amizade, era um verdadeiro amor. Derek se lembrava de Sheila aos quinze anos, quando se esbarrou nela no corredor do colégio, quando ela olhou furiosa para ele e logo perdeu o foco. Ele se desculpou e ela sorriu. Um sorriso que significou alguma coisa. Derek estava apaixonado.

Quando as pessoas se apaixonam perdidamente por alguém ela é capaz de fazer loucuras. Boas e más. Porém sempre encontra um lugar em seu coração que dedique a apenas conquista-la. Todos amam de alguma forma. Todos sabem que amam é algo notório, um sentimento bom que nos leva a outro mundo. Uma coletânea de sensações e liberdades, que é amar e viver. Derek jamais trocaria essa sensação por nada neste mundo.

Derek poderia sorrir mais com cada bom sentimento que emanava de Sheila, mas conhecia os fatos: Tudo que é bom demais o santo desconfia. Ele não era religioso e nem chegava perto de ser. Mas conhecia bem cada mistura de alma que envolve as outras a sua realidade mental. Derek era pessimista e sabia que nada disso influencia-o.

Quando Sheila chegou a sua porta, ele soube na hora que todos esses sentimentos estavam nulos. Porque a garota estava a lágrimas.

– Shei. – ele se levantou as pressas até a namorada. – Oque houve?Sheila a abraçou e o apertou firme. Derek envolveu seus braços em

seu pequeno corpo e sentiu sua mão tocar seu próprio cotovelo. Sheila era uma menina magra e pequena, oque não a deixava menos bonita, afinal as baixinhas são lindas.

– Precisamos conversar. – sua voz em geral agradável e perceptiva, agora estava fraca.

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Derek encostou a porta e a levou até a cama, sentaram lado a lado de uma maneira que desse para Derek ver o rosto vermelho da sua namorada.

– Se for aquele papo novamente de Leo ter grudado chiclete no seu cabelo, eu já pedi desculpas. Tyson não devia tê-lo desafiado. – disse Derek na defensiva. Sheila se sentiu mal com tudo isso, era uma história ainda recente.

– Não é isso seu bobo. – ela forçou um sorriso, mas não conseguiu. – Eu só estou preocupada.

– Tudo bem, pode estou ouvindo. – Derek abraçou a namorada pela lateral do corpo e deu um beijo de leve em seu ombro.

Sheila olhou para ela, um olhar desconhecido.– Eu tenho que contar isso. – ela disse. – não posso mais guardar

comigo. Uma hora ira saber. Todos vão saber.– saber oque?Derek tinha medo, pavor de pensar em um dia Sheila terminar com

ele. Ele sabia que não viveria sem ela e que para ele, Sheila era todo, o seu ar, o seu solo, o seu mundo, a própria vida. Antigamente achava isso meloso e tedioso, mas conheceu o amor que mereceu ter.

– Sabe… - Sheila entrou em pânico e começou a chorar descontroladamente. Ela fungou e suspirou, limpou o nariz num lenço que carregava e tentava encontrar forças para retomar a fala. – eu não queria que chegasse a esse ponto…

– Está terminando comigo? – perguntou Derek apreensivo.– Seu bobo. – dessa vez Sheila pareceu dar um sorriso. – Minha mãe

vai me matar! Derek eu estou com medo.Derek não sabia oque dizer. Paralisou mesmo sem saber a notícia.

Ficara pensando oque levava uma garota sempre tão tranquila a um desespero total. Ele sabia que não viriam coisas boas.

– Tudo bem. – ele a apertou contra si. – pode falar. Eu estou aqui.Ela respirou fundo.– Eu sempre soube que algo assim aconteceria um dia. – ela olhava

para Derek profundamente. – eu me lembro de como nos conhecemos, naquele corredor e tal. Eu sabia que queria algo sério com você, porque sempre te achei um máximo e muito lindo. Quando você cantava e fazia todos ao seu redor entrarem em coro e aprenderem a letra da música apenas para canta-la com você. Eu te amei a todo o momento e em todos os dias que se seguiram.

Não era uma coisa boa. A notícia que não se vaio já o atingia.– Eu também te amo. Mas você está me deixando tenso.

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– Derek. Temo que esse amor não seja barrado, que não seja destruído… eu estou meio enjoada ultimamente. E fiz um teste. E ele deu positivo.

Até Derek começar a entender oque Sheila havia dito, todos os seus planos futuros estavam sendo jogados numa lata de lixo. Sabia que se isso fosse verdade, seus pais não bancariam uma criança com o dinheiro deles e Derek teria que ralar muito para cuidar da criança. E nada que faria poderia dar a ele o futuro que sempre buscou.

– Você está querendo dizer…– Eu… estou grávida Derek!Derek sentiu um puxão na barriga. Sentiu o mundo o engolir. Se

aquilo fosse realmente verdade, ele era um garoto perdido. Não era a primeira vez que tiveram relações sexuais, isso vinha acontecendo desde um tempo. Derek nunca deixou de usar preservativo, a não ser que tenha dava errado de alguma forma e um dos espermatozoides atravessou a barreira de plástico fecundando o óvulo. O maldito óvulo.

Sheila ligou para a mãe dizendo que iria passar a noite na casa de Derek e ela não disse nada. Talvez essa confiança toda tivesse certa culpa pelo que aconteceu. Derek aprontou a cama e se deitou com Sheila. Tinham tempo para conversarem sem fazer muito barulho e tinha tempo suficiente para saber oque fariam na manhã seguinte quando Sheila teria que enfrentar seus pais e Derek enfrentar sua mãe, a pessoa mais horrível da face da terra.

Foi só mais tarde, debaixo dos cobertores quentes e confortáveis foi que Derek se lembrou de seu grande discurso.

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