Gastos com a casa e - Universidade de Coimbra · Além de habitação e consumos relacionados, o...

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orçamento s despesas PESO DE CADA TIPO DE GASTO EM Mo Variação na década 52096 IS 2016 Habitação, água, eletr., gás e outros comb. 5) Alimentos e bebidas não alcoólicas Transportes 11E6 Restaurantes e hotéis . Bens e serviços diversos Saúde 11/1 Lazer e cultura Numa década, os portugueses cortaram a fundo nos gastos com restaurantes, hotéis, cultura e lazer ( -0,6) Nacional Ganhes e perdas Corrida ao crédito para compra de carro em máximo desde 2012 O novo crédito ao consumo subiu 15,1% em maio para 572,237 milhões de euros, em termos homólogos, com os empréstimos para compra de carros a superarem os 250 milhões de euros, valores máximos desde, pelo me- nos, 2012. Segundo o Banco de Portugal, o valor total emprestado em maio (de 572,237 milhões de euros) si- gnifica mais 25,8% do que em abril e mais 15,1% face ao 'mesmo mês do ano anterior. Inquérito INE mostra que, pela primeira vez em muito tempo, famílias travaram a fundo nas suas despesas. Habitação ganha peso Gastos com a casa e a educação disparam Luís Ruis Ribeiro [email protected] Na última década (2006 a 2016), as famílias portuguesas cortaram em restaurantes, hotéis, cultura e lazer para conseguir aguentar a subida vertiginosa das despesas com habitação, água, luz e gás e com o ensino. Nos últimos cinco anos, período marcado pelo ajus- tamento da troika, esse movi- mento de substituição é mais evi- dente. Os portugueses tiveram de cortar ainda mais a fundo de modo a conseguir manter a casa e os mínimos de conforto. De acordo .com dados definiti- vos do Inquérito às Despesas das Famílias 2015/2016 divulgado ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), entre 2006 (an- tes de começar a crise) e 2016, a despesa total anual média (por fa- mília) aumentou 16%, para 20 363 euros anuais. No entanto, manter uma casa tornou-se mui- to mais dispendioso. Este custo disparou 39% na década em aná- lise (9% nos anos da troika e até 2015), estando agora em 6500 eu- ros anuais. O custo com a casa e os respe- tivos consumos fixos foi a parce- la mais pesada nos orçamentos familiares, mas nos últimos anos a sua importância ampliou-se. A casa, que no início do milénio (2000) pesava apenas 20% na des- pesa total média, vale agora qua- se um terço, observa o INE. Neste período, a despesa associada mais do que duplicou. E acrescenta: "Em conjunto, as três principais componentes da despesa (habitação, alimentação e transportes) concentravam 60,3% da despesa total anual média das famílias residentes em Portugal em 2015/2016, ou seja, mais 3,3 pontos percentuais (p.p.) relativa- mente ao inicio da década (57%)". Além de habitação e consumos relacionados, o maior agrava- mento da década acontece na educação, com as famílias a nota- rem uma subida impressionante da respetiva fatura na ordem dos 56%, segundo cálculos do IN/Di- nheiro Vivo com base no INE. Efeito tronca José Reis, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universida- de de Coimbra, considera que houve um "movimento de substi- tuição". "Na última década, mas sobretudo nos últimos cinco anos, marcados pelo duro ajustamento da troika, podemos dizer que a maioria das famílias passou um mau bocado. O desemprego subiu e as expectativas das pessoas caí- ram a pique. Mesmo quem con- servou o emprego, passou a ter medo. Isto gera enorme pressão sobre as decisões de consumo". Assim, explica o professor cate- drático, "custos relacionados com habitação ou alimentação são sempre muito mais rígidos do que, por exemplo, a despesa em lazer. Sempre que há constrangimentos, as pessoas tendem a compensar dessa forma". Cortam no lazer ou nas férias, por exemplo. Foi o que aconteceu. O 1NE mostra que a quebra nessa despe- sa (lazer e cultura) foi de 15% na década que termina em 2016; se olharmos apenas para o período marcado pelo programa de ajus- tamento, esse gasto afundou 21%. Economias significativas tam- bém aconteceram nas idas a res- taurantes e estadias em hotéis. Menos 6% na década e menos 16% desde 2011. O INE informa ainda que as fa- mílias com crianças dependentes gastam, em média, cerca de 25 254€ por ano), mais 44% do que a despesa dos agregados sem crianças (gasto anual de 17494C). Diz que as famílias de Lisboa e das áreas urbanas são mais gasta- doras do que as restantes. "Ape- nas o valor da despesa anual mé- dia da Área Metropolitana de Lis- boa (23148€) ultrapassava a mé- dia da despesa nacional (20 363€)". O valor médio mais baixo surge nos Açores, com 16 856€. No Norte é 19 928€, no Centro 18 875€, no Alentejo 17798C e na Madeira 18 204C. São valores médios de despesa total inferiores à média global. • Acess. para lar, «pilo. domes. e manu. da casa 4,8 Vestuário e calçado 4,1 3,5 Comunicações 3 3,2 Ensino I1.7 1112,3 Bebidas alcoólicas, tabaco e narcóticos 1,6 FONTE: INE INFOORAFII. IN 0.8 -0,6 ( 0,6 7 'N -0.7,

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orçamento s despesas

PESO DE CADA TIPO DE GASTO EM Mo Variação na década

52096 IS 2016

Habitação, água, eletr., gás e outros comb.

5)

Alimentos e bebidas não alcoólicas

Transportes

11E6

Restaurantes e hotéis

. Bens e serviços diversos

Saúde

11/1 Lazer e cultura

Numa década, os portugueses cortaram a fundo nos gastos com restaurantes, hotéis, cultura e lazer

(-0,6)

Nacional

Ganhes e perdas

Corrida ao crédito para compra de carro em máximo desde 2012 O novo crédito ao consumo subiu 15,1% em maio para 572,237 milhões de euros, em termos homólogos, com os empréstimos para compra de carros a superarem os 250 milhões de euros, valores máximos desde, pelo me-nos, 2012. Segundo o Banco de Portugal, o valor total emprestado em maio (de 572,237 milhões de euros) si-gnifica mais 25,8% do que em abril e mais 15,1% face ao 'mesmo mês do ano anterior.

Inquérito INE mostra que, pela primeira vez em muito tempo, famílias travaram a fundo nas suas despesas. Habitação ganha peso

Gastos com a casa e a educação disparam Luís Ruis Ribeiro [email protected]

► Na última década (2006 a 2016), as famílias portuguesas cortaram em restaurantes, hotéis, cultura e lazer para conseguir aguentar a subida vertiginosa das despesas com habitação, água, luz e gás e com o ensino. Nos últimos cinco anos, período marcado pelo ajus-tamento da troika, esse movi-mento de substituição é mais evi-dente. Os portugueses tiveram de cortar ainda mais a fundo de modo a conseguir manter a casa e os mínimos de conforto.

De acordo.com dados definiti-vos do Inquérito às Despesas das Famílias 2015/2016 divulgado ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), entre 2006 (an-tes de começar a crise) e 2016, a despesa total anual média (por fa-mília) aumentou 16%, para 20 363 euros anuais. No entanto, manter uma casa tornou-se mui-to mais dispendioso. Este custo disparou 39% na década em aná-lise (9% nos anos da troika e até 2015), estando agora em 6500 eu-ros anuais.

O custo com a casa e os respe-tivos consumos fixos foi a parce-la mais pesada nos orçamentos familiares, mas nos últimos anos a sua importância ampliou-se. A casa, que no início do milénio (2000) pesava apenas 20% na des-pesa total média, vale agora qua-se um terço, observa o INE. Neste período, a despesa associada mais do que duplicou.

E acrescenta: "Em conjunto, as três principais componentes da despesa (habitação, alimentação e transportes) concentravam 60,3% da despesa total anual média das famílias residentes em Portugal em 2015/2016, ou seja, mais 3,3 pontos percentuais (p.p.) relativa-mente ao inicio da década (57%)".

Além de habitação e consumos relacionados, o maior agrava-mento da década acontece na educação, com as famílias a nota-rem uma subida impressionante da respetiva fatura na ordem dos 56%, segundo cálculos do IN/Di-nheiro Vivo com base no INE.

Efeito tronca José Reis, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universida-de de Coimbra, considera que houve um "movimento de substi-tuição". "Na última década, mas sobretudo nos últimos cinco anos, marcados pelo duro ajustamento da troika, podemos dizer que a maioria das famílias passou um mau bocado. O desemprego subiu e as expectativas das pessoas caí-ram a pique. Mesmo quem con-

servou o emprego, passou a ter medo. Isto gera enorme pressão sobre as decisões de consumo".

Assim, explica o professor cate-drático, "custos relacionados com habitação ou alimentação são sempre muito mais rígidos do que, por exemplo, a despesa em lazer. Sempre que há constrangimentos, as pessoas tendem a compensar dessa forma". Cortam no lazer ou nas férias, por exemplo.

Foi o que aconteceu. O 1NE mostra que a quebra nessa despe-sa (lazer e cultura) foi de 15% na década que termina em 2016; se olharmos apenas para o período marcado pelo programa de ajus-tamento, esse gasto afundou 21%.

Economias significativas tam-bém aconteceram nas idas a res-taurantes e estadias em hotéis.

Menos 6% na década e menos 16% desde 2011.

O INE informa ainda que as fa-mílias com crianças dependentes gastam, em média, cerca de 25 254€ por ano), mais 44% do que a despesa dos agregados sem crianças (gasto anual de 17494C). Diz que as famílias de Lisboa e das áreas urbanas são mais gasta-doras do que as restantes. "Ape-nas o valor da despesa anual mé-dia da Área Metropolitana de Lis-boa (23148€) ultrapassava a mé-dia da despesa nacional (20 363€)". O valor médio mais baixo surge nos Açores, com 16 856€. No Norte é 19 928€, no Centro 18 875€, no Alentejo 17798C e na Madeira 18 204C. São valores médios de despesa total inferiores à média global. •

Acess. para lar, «pilo. domes. e manu. da casa

4,8

Vestuário e calçado

4,1

3,5

Comunicações

3

3,2

Ensino

I1.7

1112,3

Bebidas alcoólicas, tabaco e narcóticos

1,6

FONTE: INE INFOORAFII. IN

0.8

-0,6

( 0,6

7 'N -0.7,

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1970 ouros O rendimento total líquido anual médio dos agregados familiares portugueses foi de 23 635 euros, ou seja, uma média de 1970 eu-ros mensais, de acordo com o INE, reportando-se a 2014.

20 mil ouros O valor anual da despesa média nacional situou-se em 20 363 euros em 2015/2016. Esse valor só foi superado pela média da Área Metropolitana de Lisboa (23 148 euros).

flash: leão Duque Economista e professor do ISEG

Poupança das famílias é negativa Alertou para o facto de que as famílias portu-guesas tiveram no primeiro trimestre de 2017 um rendimento disponível bruto mais baixo do que as despesas de consumo. Qual o risco de estarem a gastar mais do que ganham?

No trimestre inicial de 2016 foi a primeira vez que se registou uma poupança bruta negativa das famílias, na ordem dos 85 milhões, valor que um ano depois já está nos 624 milhões. Au-mentou muito. Isto nota um cenário muito preo-cupante. Apesar de tudo, tínhamos ao nível das famílias uma capacidade de poupança baixa, mas positiva. A taxa de poupança andava nos 4% e até subiu nos anos de crise. As pessoas poupa-ram mais durante a crise, contraíram o consumo mais do que era necessário. Ficaram com medo e começaram a poupar mais. Gerou-se um sen-timento de poupança. E agora parece que mu-dou e é "toca a andar". No primeiro trimestre de cada ano, por norma, a capacidade de poupança das famílias é sempre menor. Em 2012, era posi-tiva (457 milhões), em 2013 e 2014 também (1385 milhões e 317 milhões, respetivamente), e em 2015 (457 milhões). Em 2016, registou-se uma poupança negativa de 85 milhões e agora, em 2017, de 624 milhões.

Que leitura faz dos orçamentos familiares , de acordo com os últimos números do INE? Neste momento, há um excesso de confiança das famílias. Houve recuperação de rendimen-tos, mas, em vez de as famílias aproveitarem para fazerem poupança, não o fizeram. É uma recuperação de rendimentos para consumir mais do que aquilo que de facto recuperam. É absurdo. Acham que está tudo maravilhoso e isso é perigoso. O índice de confiança está em níveis máximos, o mercado imobiliário também está a reanimar. O problema é o excesso de en-dividamento das famílias. E depois quem finan-cia a economia? Se não forem as famílias, nem as empresas nem o Estado, o financiamento tem te vir do estrangeiro.

O que podem fazer as famílias para reverter este cenário? Para reverter este cenário, as famílias podem e devem poupar. Ao Governo dá muito jeito o au-mento do consumo das famílias, por causa do IVA. O IVA no consumo é fantástico, mas coleti-vamente vai pagar-se caro de outra maneira. BÁRBARA SILVA

àà No primeiro trimestre de cada ano, por norma, a capacida-de de pou-pança das famílias é sempre me-nor. Em 2017 regis-tou-se uma poupança negativa de 624 milhões.

Para reverter este cenário, as fandlias podem e de-vem poupar. Ao Governo dá muito jei-to o aumento do consumo das famílias, por causa do IVA. •

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