Gazeta de longbourn

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Até onde alcança a memória, sei que sempre gostei de ler, escrever e inventar ‘moda’, como costuma dizer a senhora minha mãe. Não é, pois, surpresa alguma que tenha começado esse jornal, inspirada nas fantásticas histórias escritas pela srta. Jane Austen – exceto para vocês, queridos leitores, que foram mantidos na ignorância deste grande empreendimento enquanto corríamos atrás das cortinas para que tudo ficasse pronto a tempo e contento. Não entendo como até agora, nada do estilo tivesse sido feito. Afinal, o mundo gira, aperfeiçoa-se, evolui – e faz parte de ser uma moça realmente prendada (como bem nos lembra a Srta. Bingley em entrevista nesta edição) ser capaz de acompanhar estas transformações, manter-se sempre bem informada. Ao mesmo tempo, não podemos depender exclusivamente da capital e do bom tempo para que diligência e cartas cheguem ao nosso condado. Quando as notícias finalmente nos chegam dessa forma, elas estão ultrapassadas. Não obstante, embora os acontecimentos em Londres sejam interessantes, sem dúvida que aquilo que acontece ao nosso redor e nos afeta diretamente também têm seu grau de importância. Eis, portanto, qual seja o objetivo do nosso recém-nascido projeto, o GAZETA DE LONGBOURN: que possamos saber das coisas que acontecem ao nosso redor, sem rodeios e com muito bom humor, ao mesmo tempo em que cultivamos nossa visão de mundo com notícias da metrópole e do continente. Que não precisemos esperar pelo fim da estação de chuvas para que as estradas se tornem novamente transitáveis a fim de descobrir se a moda é mangas longas ou curtas, quais são os grandes partidos da season e a maneira correta de flertar com seu leque sem causar escândalos e enfim assegurar um bom casamento. Para tanto, convidamos vocês, queridos leitores, todos vocês, a compartilharem conosco nosso sonho. Convidamos para que, mais que leitores passivos, sejam colaboradores ativos, participando do processo, da notícia, desta é que uma grande missão: espalhar, compreender e se divertir com esse maravilhoso mundo que nos foi legado pela srta. Jane Austen. 1

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Até onde alcança a memória, sei que sempre gostei de ler, escrever e inventar ‘moda’, como costuma dizer a senhora minha mãe. Não é, pois, surpresa alguma que tenha começado esse jornal, inspirada nas fantásticas histórias escritas pela srta. Jane Austen – exceto para vocês, queridos leitores, que foram mantidos na ignorância deste grande empreendimento enquanto corríamos atrás das cortinas para que tudo ficasse pronto a tempo e contento.

Não entendo como até agora, nada do estilo tivesse sido feito. Afinal, o mundo gira, aperfeiçoa-se, evolui – e faz parte de ser uma moça realmente prendada (como bem nos lembra a Srta. Bingley em entrevista nesta edição) ser capaz de acompanhar estas transformações, manter-se sempre bem informada.

Ao mesmo tempo, não podemos depender exclusivamente da capital e do bom tempo para que diligência e cartas cheguem ao nosso condado. Quando as notícias finalmente nos chegam dessa forma, elas já estão ultrapassadas. Não obstante, embora os acontecimentos em Londres sejam interessantes, sem dúvida que aquilo que acontece ao nosso redor e nos afeta diretamente também têm seu grau de importância.

Eis, portanto, qual seja o objetivo do nosso recém-nascido projeto, o GAZETA DE LONGBOURN: que possamos saber das coisas que acontecem ao nosso redor, sem rodeios e com muito bom humor, ao mesmo tempo em que cultivamos nossa visão de mundo com notícias da metrópole e do continente. Que não precisemos esperar pelo fim da estação de chuvas para que as estradas se tornem novamente transitáveis a fim de descobrir se a moda é mangas longas ou curtas, quais são os grandes partidos da season e a maneira correta de flertar com seu leque sem causar escândalos e enfim assegurar um bom casamento.

Para tanto, convidamos vocês, queridos leitores, todos vocês, a compartilharem conosco nosso sonho. Convidamos para que, mais que leitores passivos, sejam colaboradores ativos, participando do processo, da notícia, desta é que uma grande missão: espalhar, compreender e se divertir com esse maravilhoso mundo que nos foi legado pela srta. Jane Austen.

Mande-nos suas cartas, suas receitas, seus conselhos, suas dicas de moda. Anunciem seus talentos. PARTICIPEM. Vocês também fazem parte da notícia!

E, enquanto isso, esperamos que se divirtam com essa nossa primeira (de muitas que virão, certamente) edição. Nós a preparamos com todo o carinho, antegozando a alegria que lhes (e nos) proporcionaria.

Longa vida à Gazeta!

Srta. Luciana DarceEditora

O GAZETA DE LONGBOURN é feito por:

Srta. Jane Austen (editora-chefe)Srta. Julia Tabosa (editora e diagramadora)

Srta. Luciana Darce (editora e revisora)

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Os Darcy estão em festa! Depois de uma linda menina, Pemberley ganhou um herdeiro. O nome da criança tão esperada ainda não foi divulgado oficialmente, mas essa autora soube por fontes confiáveis que o senhor de Pemberley pretende agraciar sua senhora dando o nome de Bennet à criança. Não seria essa uma linda prova de amor para silenciar as más línguas das senhoras?

Cara leitora, você estava no baile de Lady de Bourgh noite passada? Se não, que vergonha! Você perdeu de testemunhar o casal mais notável desta season! Lord Byron e Srta. de Bourgh foram vistos dançando duas, repito, duas vezes a contredanse! Essa autora se pergunta o que a implacável senhora de Rosings Park achou ao ver sua querida Anne dançar com um rapaz tão... singular. Será que as leitoras da Gazeta de Longbourn em breve estarão lendo sobre um casamento?

Os sinos da paróquia de Hertfordshire bateram na manhã do dia 07 de agosto! A sra. Bennet, de Longbourn, conseguiu o que estaria fora do alcance de qualquer outra mãe casadoira: a até então Srta. Mary Bennet contraiu núpcias com um respeitável funcionário de seu tio, Sr. Philips.

Chegou aos ouvidos dessa autora que o casal Bennet e a última Srta. Bennet foram convidados para o baile dos Thompson. Se você, caro leitor, é um rapaz em idade e fortuna para se casar, fuja para as colinas! Não há nada que reste entre a Sra. Bennet e o seu sonho de ver todas as filhas bem casadas.

Se pudesse voltar no tempo, o caro Sr. Bingley provavelmente não teria exposto ao público o retrato de sua bela esposa. Desde então, nosso amável colega não tem tido mais sossego. Sra. Bingley foi consagrada a beldade da sociedade londrina e é a razão de declarações diárias de amor, seja em bailes, em teatros e até mesmo na Santa Igreja!

Syllabub

(Adaptado de O Livro de Receitas Jane Austen por Maggie Black e Deirdre Le Faye)

Ingredientes

5 xícaras (chá) de creme de leite2 xícaras de vinho branco seco1 xícara de açúcar1/2 xícara de conhaque1/3 xícara de suco de limãoraspas de limão para decorar

Modo de fazer

Bata na batedeira em velocidade lenta o creme de leite até espumar. Adicione aos poucos os ingredientes restantes, com exceção as raspas de limão, até que estejam bem misturados. Divida em copos, leve a geladeira e sirva bem gelado.

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A verdade por trás de Orgulho e Preconceito“Ela roubou o meu noivo!”

“Nenhuma mulher pode realmente ser considerada completa se não se elevar muito acima da média. Uma mulher deve conhecer bem a música, deve saber cantar, desenhar, dançar e falar as línguas modernas, a fim de merecer esse qualificativo, e, além disso, para não o merecer senão pela metade, é preciso que possua um certo quê na maneira de andar, no tom de voz e no modo de exprimir-se”.

O tempo estava ensolarado quando Srta. Bingley, 20 anos, entrou no Pump Room com um certo quê de quem possui a todos naquele lugar. Com um vestido de musseline vermelha da mais fina costura francesa, ela bem que poderia. Ao notar nossa presença em uma mesa alguns metros adiante, ela esboçou um meio sorriso como só as mais prendadas das moças conseguem.

Srta. Caroline é um raro exemplo de mulher prendada dos dias atuais, em que a palavra é utilizada sem a menor discrição por mães casadoiras e rapazotes apaixonados. O que 'poucas' pessoas sabem é que, recentemente, nossa querida entrevistada esteve envolvida em um dos romances mais comentados nos bailes desta season. Mas não nos preocupemos, pois, como disse certa vez um senhor muito sábio, o que uma moça mais aprecia depois do casamento é um desgosto amoroso de tempos em tempos!

Depois das saudações e cumprimentos exigidos pela etiqueta, Srta. Caroline declarou, sem medo ou hesitação, estar preparada para as nossas perguntas. Eu e minha colega nos entreolhamos, animadas com a oportunidade, e começamos, como o combinado, com perguntas mais fáceis.

Gazeta de Longbourn – Fale-nos um pouco sobre você.

Srta. Bingley – Sou, claro, uma pessoa de posição – por berço, por educação, por fortuna. Sem falsas modéstias, sei que possuo uma figura bastante apreciada em todos os círculos que freqüento e ninguém poderia me acusar de falta em qualquer ponto.

GL - Seu irmão, Sr. Bingley, recentemente casou-se com uma beldade de Hertfordshire até então desconhecida para a sociedade londrina. Como é sua relação com a nova Sra. Bingley? É verdade que você tentou impedir a união?

Srta. Bingley – A despeito do que possam dizer as más línguas, não sou uma pessoa tola. Quero muito bem ao meu irmão e se, a princípio, não concordei com a união dele com Jane, foi pensando única e exclusivamente no bem de ambos. Ela é, claro, uma moça adorável, mas eu não acreditava que Charles, ou mesmo ela se beneficiariam de uma união. Agora, contudo, que os vejo juntos, sei que não poderia haver mais ninguém para Charles e estou contente por eles terem superado os obstáculos que suas respectivas posições representavam ao casamento.

GL – De fato, não gostar da adorável Sra. Jane Bingley é uma tarefa árdua, mas e quanto às demais Bennets?

Srta. Bingley – Como já deixei claro, nunca desgostei de Jane. Suas irmãs, por outro lado, são tolas, mesquinhas, sem qualquer classe ou o mínimo de bom-senso. Que elas sejam consideradas belas é quase uma ofensa; que sejam o que melhor pode oferecer Hertfordshire, diz

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muito sobre a pequenez e ignorância de seus habitantes.

GL – Vamos pular esse tópico [Eu digo, um pouco constrangida]! Você e sua irmã são grandes defensoras da aristocracia britânica e são conhecidas por não travaram relações com qualquer pessoa. Os boatos lhes fazem jus?

Srta. Bingley – Você convidaria seu açougueiro para o chá? O limpador de chaminés? Sua modista? Não é uma questão de preconceito, minha cara, mas de compreender a posição que cada um ocupa na sociedade. No momento em que se perde a noção de hierarquia, resta apenas o caos. Veja o que aconteceu na França. A Revolução só foi possível porque se permitiu que as massas fossem educadas, que aspirassem a um lugar ao qual não tinham direito.

GL -E como a senhorita concilia essa imagem com a origem da fortuna de sua família. De certo que a senhorita não nega que os Bingley enriqueceram através do comércio!

Srta. Bingley – É diferente, claro. Minha família pode ter feito fortuna no comércio, mas meu pai era um cavalheiro que soube investir de forma inteligente. E, realmente, é necessário que existam empreendedores, não? Do contrário, como se pode esperar que a sociedade cresça? Discutir dinheiro não é de bom-tom, de forma que simplesmente não inicio uma conversa informando aos meus interlocutores de minha fortuna pessoal ou como cheguei a ela.

GL – E quais são os seus conselhos para as moças que desejam debutar na sociedade?

Srta. Bingley – Mantenham sempre a classe e a elegância, saibam se expressar mantendo o recato. Aproveitem todas as oportunidades que puderem para expor sua silhueta à sua melhor vantagem.

GL – Vamos para um tópico delicado. Está pronta? [Srta. Bingley assente com aquele olhar gélido que todas nós conhecemos] Alguns meses atrás, a Srta. foi protagonista de um pequeno escândalo ao tomar conhecimento de um certo noivado. O que a senhorita tem a dizer sobre esse incidente?

Srta. Bingley – Creio que seus informantes tenham se enganado. Não sou o tipo de mulher que perde a fleuma, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Os vasos quebrados foram um acidente, um... tropeço, se me permite. Não podemos manter a graça sempre, especialmente quando defrontadas com notícias tão... surpreendentes.

GL - Os leitores da Gazeta estão ávidos para saber o que a senhorita realmente pensa

desse casal. Seja franca, Srta. Bingley, não há espaço para pudores neste jornal!

Srta. Bingley – Creio apenas que um ‘belo par de olhos’ pode ser enganoso ao coração de um homem.

GL – Se a senhorita pudesse dizer o que pensa dessa determinada senhora, sem que ninguém soubesse, o que diria?

Srta. Bingley – Toda felicidade é passageira. Mais cedo ou mais tarde, seus olhos não poderão mais encobrir as muitas e variadas faltas que ele primeiro encontrou.

GL – E para esse senhor? Eu tomei conhecimento de que a senhorita ainda frequenta bastante Pember... [Ops!] O lar deste casal.

Srta. Bingley – Creio que não há mais nada a fazer neste caso. Mas espero que ele goste de sua tão gentil sogra.

GL – Depois dessas declarações mais do que surpreendentes, vamos fazer um jogo rápido! Diga-nos uma frase que a define.

Srta. Bingley – “As línguas têm sempre veneno para verter”, de Molière.

GL – Alguém em que você admire e se inspire. [Não, Srta. Bingley, não pode ser você].

Srta. Bingley – Mr. Darcy, obviamente. A despeito de seus recentes erros de julgamento.

GL – Um livro?Srta. Bingley – Pamela, de Richardson.GL – Uma música?Srta. Bingley – Qualquer uma das

sonatas de Haydn para o pianoforte.GL – Se você pudesse levar alguém a uma

ilha deserta, quem seria?[Resposta censurada pela Editora-Chefe]

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