Gazeta_Russa_september

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NOTAS De acordo com relatório do departamen- to regional do Ministério do Interior da Rússia, Ustina Chernishoff foi encontra- da no distrito de Turukhansk, em uma aldeia de seguidores da seita religiosa dos Velhos Crentes (uma corrente religiosa cristã ortodoxa). A brasileira, que era pro- curada pela mãe, partiu voluntariamen- te para a região. A mulher não tinha do- cumentos que lhe garantissem o direito de residir em território russo e seu visto estava vencido. Em conversa com a equi- pe da Interpol, ela disse que pretende vol- tar à Rússia para ficar legalmente na mesma comunidade de crentes. A moça é descendente de uma família de imigrantes russos que partiu para a Amé- rica do Sul durante a Revolução Socialista de 1917. Ela mudou-se para a região de Tu- rukhansk junto com o pai e o irmão, que acabou retornando ao Brasil. Depois de viver por algum tempo com a filha na comuni- dade de velhos crentes, o pai a abandonou e partiu para o Canadá. Aleksandr Korolkov Interpol encontra brasileira desaparecida na Sibéria Apesar de a primeira tenta- tiva da Marcopolo, em 2006, em cooperação com o Grupo GAZ não ter tido sucesso, a empresa firmou uma nova parceria com um grupo rus- sos. A joint venture, que deve iniciar as operações em 2012 com um volume inicial de 250 unidades comercializadas, tem perspectivas de atingir, até 2016, um volume de 3 mil unidades anuais. Na Rússia, os ônibus são usa- dos regularmente por 60% dos habitantes. O mercado do país, “Diretor-geral – vaga para pessoas com idade inferior a 40 anos. Diretor do departa- mento de vendas – abaixo dos 35 anos. Diretor-administra- tivo – abaixo dos 30 anos”. No site de recrutamentos Super- job.ru é assim: 54% dos em- pregos anunciados incluem idade como pré-requisito para os candidatos. O padrão se repete por outros sistemas de busca de vagas. No Rabota.ru, o corte por idade aparece em 75% dos anúncios. “Mesmo que não es- tejam explicitadas na descri- ção da vaga, estão, na maio- ria dos casos, subentendidas”, ressalta a gerente de projetos do site, Evguênia Chatilova. “Tenho três diplomas diferen- tes – em pedagogia, em direi- to e em administração. Em 2002, era diretora do depar- tamento de RH de uma em- presa e estava constantemen- te aperfeiçoando minhas qualificações”, conta a desem- pregada Ludmila F., 55. Veículos Empresa brasileira vai fabricar microônibus de padrão premium com chassi russo Trabalho Profissionais experientes ficam de fora na disputa por cargos gerenciais na Rússia Fabricante brasileira de ônibus firma joint venture com montadora russa de caminhões Kamaz para tentar conquistar parte da demanda de novas unidades, que chega a 14 mil por ano. Pouco habituados ao capitalismo, russos com menos de 19 e mais de 50 anos têm dificuldade para encontrar emprego. precisa, para atender a de- manda, de 12 mil a 14 mil ve- ículos novos por ano. Em 2006, quando firmou uma joint venture com o Grupo GAZ (a maior mon- tadora de ônibus da Rússia), os planos da Marcopolo foram frustrados com a crise financeira de 2008 e o anún- cio, no ano seguinte, do fim de contrato. Agora, a brasileira estabe- leceu uma co-produção com a Kamaz, a maior montado- ra russa de caminhões de grande porte. “Trata-se de ônibus de clas- se premium, de 8 metros de comprimento, com 21 lugares sentados e capacidade para transportar até 45 passagei- ros”, explica o diretor-geral da Kamaz, Serguêi Kogóguin. Segundo ele, o plano é pro- duzir, em curto prazo, cerca Marcopolo está de volta à Rússia Microônibus da joint ven- ture exibido na ComTrans, maior feira do setor na Rússia Patriota: busca de parceria em tecnologia ANTON MAKHROV GAZETA RUSSA ALEKSÊI BOIÁRSKI KOMMERSANT de mil veículos por ano. O primeiro protótipo, de acordo com a Marcopolo, será um microônibus mo- derno, com carroceria da brasileira, chassi Kamaz Euro 4 e componentes de diz Kogóguin. A Kamaz só se encarregará do chassi. Concorrentes A Kamaz já tem sua própria fábrica de ônibus, a Nefaz, que, entretanto, não partici- pará do projeto brasileiro. Se- gundo Azat Timerkhanov, analista da agência Avtostat (que fornece estatísticas da in- dústria automotiva russa), o objetivo da Kamaz é ampliar sua linha de ônibus, e não con- verter a produção existente. “Aos ônibus de grande porte da Nefaz serão acrescentados os ônibus de pequeno porte”, explica Timerkhanov. Os russos conhecem os pro- dutos da Marcopolo no seg- mento de ônibus de turismo, que marcou sua entrada no mercado. CONTINUA NA PÁGINA 5 CONTINUA NA PÁGINA 2 CONTINUA NA PÁGINA 5 OPINIÃO SOCIEDADE Novo modelo econômico Táxis “ciganos” banidos Descrédito das agências de risco pede respostas Contra resquício socialista de motoristas de ocasião, capi- tal quer frota profissional ECONOMIA E NEGÓCIOS Agricultores, uni-vos! Setor renasce com altos salários, mas poucos se dispõem à vida no campo PÁGINA 6 PÁGINA 7 PÁGINA 3 NESTA EDIÇÃO grandes fabricantes mun- diais - como motor Cum- mins, transmissão ZF, eixos Daimler e sistema de freios Knorr-Bremse, entre outros fornecedores. O veículo terá uma “aparência brasileira”, Idade, o critério número um SEGUNDA-FEIRA, 26 DE SETEMBRO DE 2011 Em Foco Vida noturna moscovita tem opções para toda as tribos P.8 Esporte Petrov e Senna estreiam parceria na Lotus Renault P.7 Política Sem cotas, poucas mulheres disputam cargos públicos P.8 Publicado e distribuído com The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Folha de S.Paulo (Brasil), The Economic Times (Índia), Clarín (Argentina), Süddeutsche Zeitung (Alemanha) e outros grandes diários internacionais gazetarussa.com.br PRODUZIDO POR RUSSIA BEYOND THE HEADLINES Diplomacia Ministro brasileiro discute balança comercial e alinhamento sobre Líbia e Síria Ministro Antônio Patriota reuniu-se com o chanceler russo Serguêi Lavrov em Moscou. Presidente Dilma Rousseff deve visitar o país em novembro. Diante de uma vasta pauta de discussão, uma das prin- cipais decisões anunciadas pelos chanceleres russo e brasileiro, reunidos em Mos- cuou, foi a intenção de aban- donar o dólar na prática de pagamentos recíprocos em importação e exportação. A visita do chanceler brasi- leiro foi mais uma prova da intensificação das relações russo-brasileiras nos planos político e diplomático. “Os dois países mantêm in- tensos contatos tanto no plano bilateral quanto no plano multilateral, em par- ticular no âmbito da ONU, do grupo Brics (Brasil, Rús- sia, China, Índia e África do Sul) e do G-20”, disse ao jor- nal “Nezavissimaia Gaze- Relações bilaterais buscam alinhamento IÚRI PANIEV NEZAVISIMAIA GAZETA ta” Boris Martinov, doutor em ciências políticas e vice- diretor do Instituto de Amé- rica Latina da Academia de Ciências da Rússia. O ex- presidente Fernando Hen- rique Cardoso já afirmou que o Brasil é uma Rússia tropical e que os países têm muito em comum. A identidade não se restrin- ge a parâmetros como exten- são territorial e população, mas também está presente nos principais indicadores macroeconômicos. Na política externa, os ob- jetivos também coincidem: a construção de uma nova ordem internacional poli- cêntrica e o aprofundamen- to dos processos de integra- ção em nível regional. Durante as negociações em Moscou, os ministros das Relações Exteriores dos dois países também discutiram o alinhamento de posição sobre a situação política na Líbia e na Síria. País tem hoje 75,3 milhões de desempregados na faixa mé- dia dos 34 anos. A taxa de de- semprego é de 7,6% LAIF/VOSTOCK-PHOTO SERVIÇO DE IMPRENSA PHOTOXPRESS ALAMY/LEGION MEDIA RUALN SUKHUSHIN RIA NOVOSTI NIYAZ KARIM REUTERS/VOSTOCK-PHOTO Veja slide show em www.gazetarussa.com.br

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Gazeta Russa

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NOTAS

De acordo com relatório do departamen-to regional do Ministério do Interior da Rússia, Ustina Chernishoff foi encontra-da no distrito de Turukhansk, em uma aldeia de seguidores da seita religiosa dos Velhos Crentes (uma corrente religiosa cristã ortodoxa). A brasileira, que era pro-curada pela mãe, partiu voluntariamen-te para a região. A mulher não tinha do-cumentos que lhe garantissem o direito de residir em território russo e seu visto estava vencido. Em conversa com a equi-pe da Interpol, ela disse que pretende vol-tar à Rússia para ficar legalmente na mesma comunidade de crentes.A moça é descendente de uma família de imigrantes russos que partiu para a Amé-rica do Sul durante a Revolução Socialista de 1917. Ela mudou-se para a região de Tu-rukhansk junto com o pai e o irmão, que acabou retornando ao Brasil. Depois de viver por algum tempo com a fi lha na comuni-dade de velhos crentes, o pai a abandonou e partiu para o Canadá.

Aleksandr Korolkov

Interpol encontra

brasileira desaparecida

na Sibéria

Apesar de a primeira tenta-tiva da Marcopolo, em 2006, em cooperação com o Grupo GAZ não ter tido sucesso, a empresa firmou uma nova parceria com um grupo rus-sos. A joint venture, que deve iniciar as operações em 2012 com um volume inicial de 250 unidades comercializadas, tem perspectivas de atingir, até 2016, um volume de 3 mil unidades anuais. Na Rússia, os ônibus são usa-dos regularmente por 60% dos habitantes. O mercado do país,

“Diretor-geral – vaga para pessoas com idade inferior a 40 anos. Diretor do departa-mento de vendas – abaixo dos 35 anos. Diretor-administra-tivo – abaixo dos 30 anos”. No site de recrutamentos Super-job.ru é assim: 54% dos em-pregos anunciados incluem idade como pré-requisito para os candidatos. O padrão se repete por outros sistemas de busca de vagas. No Rabota.ru, o corte por idade aparece em 75% dos anúncios. “Mesmo que não es-tejam explicitadas na descri-ção da vaga, estão, na maio-ria dos casos, subentendidas”, ressalta a gerente de projetos do site, Evguênia Chatilova.“Tenho três diplomas diferen-tes – em pedagogia, em direi-to e em administração. Em 2002, era diretora do depar-tamento de RH de uma em-presa e estava constantemen-te aperfeiçoando minhas qualifi cações”, conta a desem-pregada Ludmila F., 55.

Veículos Empresa brasileira vai fabricar microônibus de padrão premium com chassi russo

Trabalho Profissionais experientes ficam de fora na disputa por cargos gerenciais na Rússia

Fabricante brasileira de

ônibus firma joint venture

com montadora russa de

caminhões Kamaz para

tentar conquistar parte da

demanda de novas unidades,

que chega a 14 mil por ano.

Pouco habituados ao

capitalismo, russos com

menos de 19 e mais de 50

anos têm dificuldade para

encontrar emprego.

precisa, para atender a de-manda, de 12 mil a 14 mil ve-ículos novos por ano. Em 2006, quando firmou uma joint venture com o Grupo GAZ (a maior mon-tadora de ônibus da Rússia), os planos da Marcopolo foram frustrados com a crise fi nanceira de 2008 e o anún-cio, no ano seguinte, do fi m de contrato.Agora, a brasileira estabe-leceu uma co-produção com a Kamaz, a maior montado-ra russa de caminhões de grande porte. “Trata-se de ônibus de clas-se premium, de 8 metros de comprimento, com 21 lugares sentados e capacidade para transportar até 45 passagei-ros”, explica o diretor-geral da Kamaz, Serguêi Kogóguin. Segundo ele, o plano é pro-duzir, em curto prazo, cerca

Marcopolo está de volta à Rússia

Microônibus

da joint ven-

ture exibido

na ComTrans,

maior feira

do setor na

Rússia

Patriota: busca de parceria em tecnologia

ANTON MAKHROVGAZETA RUSSA

ALEKSÊI BOIÁRSKIKOMMERSANT

de mil veículos por ano. O primeiro protótipo, de acordo com a Marcopolo, será um microônibus mo-derno, com carroceria da brasileira, chassi Kamaz Euro 4 e componentes de

diz Kogóguin. A Kamaz só se encarregará do chassi.

ConcorrentesA Kamaz já tem sua própria fábrica de ônibus, a Nefaz, que, entretanto, não partici-pará do projeto brasileiro. Se-gundo Azat Timerkhanov, analista da agência Avtostat (que fornece estatísticas da in-dústria automotiva russa), o objetivo da Kamaz é ampliar sua linha de ônibus, e não con-verter a produção existente. “Aos ônibus de grande porte da Nefaz serão acrescentados os ônibus de pequeno porte”, explica Timerkhanov. Os russos conhecem os pro-dutos da Marcopolo no seg-mento de ônibus de turismo, que marcou sua entrada no mercado.

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CONTINUA NA PÁGINA 5

OPINIÃO

SOCIEDADE

Novo modelo econômico

Táxis “ciganos” banidos

Descrédito das agências de risco pede respostas

Contra resquício socialista de motoristas de ocasião, capi-tal quer frota profissional

ECONOMIA E NEGÓCIOS

Agricultores, uni-vos!

Setor renasce com altos salários, mas poucos se dispõem à vida no campo

PÁGINA 6

PÁGINA 7

PÁGINA 3

NESTA EDIÇÃO

grandes fabricantes mun-diais - como motor Cum-mins, transmissão ZF, eixos Daimler e sistema de freios Knorr-Bremse, entre outros fornecedores. O veículo terá uma “aparência brasileira”,

Idade, o critério número um

SEGUNDA-FEIRA, 26 DE SETEMBRO DE 2011

Em Foco

Vida noturna moscovita tem opções para toda as tribos

P.8

Esporte

Petrov e Senna estreiam parceria na Lotus Renault

P.7

Política

Sem cotas, poucas mulheres disputam cargos públicos

P.8

Publ icado e d ist r ibu ído com The Washington Post (EUA) , The Dai ly Te legraph (Re ino Unido) , Le F igaro (França) , La Repubbl ica ( I tá l ia) , E l Pa ís (Espanha) , Fo l h a d e S . Pa u l o ( B ra s i l ) , Th e Eco n o m i c Ti m e s ( Í n d i a ) , C l a r í n (A rg e n t i n a ) , S ü d d e u t s c h e Ze i t u n g (A l e m a n h a ) e o u t ro s g ra n d e s d i á r i o s i n te r n a c i o n a i s

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PRODUZIDO POR RUSSIA BEYOND THE HEADLINES

Diplomacia Ministro brasileiro discute balança comercial e alinhamento sobre Líbia e Síria

Ministro Antônio Patriota

reuniu-se com o chanceler

russo Serguêi Lavrov em

Moscou. Presidente Dilma

Rousseff deve visitar o país

em novembro.

Diante de uma vasta pauta de discussão, uma das prin-cipais decisões anunciadas pelos chanceleres russo e brasileiro, reunidos em Mos-cuou, foi a intenção de aban-donar o dólar na prática de

pagamentos recíprocos em importação e exportação. A visita do chanceler brasi-leiro foi mais uma prova da intensifi cação das relações russo-brasileiras nos planos político e diplomático. “Os dois países mantêm in-tensos contatos tanto no plano bilateral quanto no plano multilateral, em par-ticular no âmbito da ONU, do grupo Brics (Brasil, Rús-sia, China, Índia e África do Sul) e do G-20”, disse ao jor-nal “Nezavissimaia Gaze-

Relações bilaterais buscam alinhamento

IÚRI PANIEVNEZAVISIMAIA GAZETA

ta” Boris Martinov, doutor em ciências políticas e vice-diretor do Instituto de Amé-rica Latina da Academia de Ciências da Rússia. O ex-presidente Fernando Hen-rique Cardoso já afirmou que o Brasil é uma Rússia tropical e que os países têm muito em comum. A identidade não se restrin-ge a parâmetros como exten-são territorial e população, mas também está presente nos principais indicadores macroeconômicos.

Na política externa, os ob-jetivos também coincidem: a construção de uma nova ordem internacional poli-cêntrica e o aprofundamen-to dos processos de integra-ção em nível regional.Durante as negociações em Moscou, os ministros das Relações Exteriores dos dois países também discutiram o alinhamento de posição sobre a situação política na Líbia e na Síria.

País tem hoje 75,3 milhões de

desempregados na faixa mé-

dia dos 34 anos. A taxa de de-

semprego é de 7,6%

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GAZETA RUSSAWWW.GAZETARUSSA.COM.BRPolítica e Sociedade

Legislação Iniciativa do governo visa incentivar o aumento demográfico no país ao beneficiar famílias com três ou mais filhos

As regiões onde mais

nascem crianças - Moscou e

Krasnodar - são também as

que têm valores de terrenos

mais elevados em todo o

país.

A iniciativa do Estado de en-tregar gratuitamente terre-nos a famílias numerosas foi adiantada pelo presidente russo Dmítri Medvedev ainda em 2010. Mas apenas neste ano se transformou em lei.Com a nova legislação, re-

cém-promulgada, famílias numerosas poderão receber lotes de terra para construir suas residências e eventu-a l m e n t e t o c a r s e u s negócios. Em 2009, segundo dados do Fundo de Previdência Social, nasceram na Rússia 1,6 mi-lhão de crianças, das quais apenas 140 mil eram o ter-ceiro fi lho da família – 54,5 mil já tinham três ou mais irmãos.No ano passado, nasceram cerca de 2 milhões de crian-ças na Rússia. A capital Mos-cou se mantém na lideran-

requisitos do governo, o lo-teamento para estabeleci-mento de residência fixa deve fi car dentro das fron-

teiras do perímetro urbano, possuir uma boa infraestru-tura de transporte, corres-ponder à categoria de ter-r e n o s d e s t i n a d o s a o

assentamento habitacional individual, ter acesso às redes comunitárias urbanas e estar distante do local de trabalho entre uma e uma hora e meia no trajeto de ida, em transporte público.Se os municípios não pos-suírem terrenos disponíveis para serem entregues às fa-mílias interessadas, de acor-do com a nova lei, as auto-ridades municipais poderão propor aos órgãos de poder federal competentes que dis-ponibilizem lotes de proprie-dade federal localizados no município.

Estado entrega terrenos a famílias numerosas

Mais de 2 milhões de crianças nasceram no país em 2010

NATÁLIA BARANÓVSKAIAGAZETA RUSSA

ça desse indicador, seguida da região de Krasnodar. Essas são também as regiões com os preços de terras mais altos no país. Na capital, o preço dos imóveis está entre os maiores do país Em Moscou, por exemplo, nasceram, no ano passado, 123.600 crianças. No resto da região administrativa da ca-pital, esse número atingiu 80 mil.Em termos nacionais, cerca de 12% das crianças nascidas, ou seja, 25 mil, já t i n h a m doi s ou m a i s irmãos.Para corresponder aos pré-

no âmbito do Mercosul”, con-f o r m e e x p l i c a B o r i s Martinov. Os ministros discutiram tam-bém a possibilidade da vinda à Rússia da Presidente do Bra-sil, Dilma Rousseff. Sua visi-ta poderia ser realizada já em novembro. Os países analisam a agenda das autoridades.

“Registramos um elevado grau de consonância das po-sições na análise da situação, assim como o desejo recípro-co de contribuir para o fi m da violência e o estabelecimento de um diálogo político”, disse o ministro russo, Serguêi La-vrov, sobre a primavera árabe. Os países do Brics que atual-mente gozam de assentos no Conselho de Segurança das Nações Unidas assumiram uma posição especial em re-lação à questão líbia, absten-do-se durante a votação da Resolução 1973 – a qual foi interpretada pelo Ocidente como permissão para o em-prego ilimitado de força no território líbio. No plano da cooperação eco-nômica e comercial, o Brasil é o maior parceiro comercial da Rússia na América Latina

desde meados da década de 1990.No ano passado, as trocas co-merciais do Brasil com a Rús-sia ultrapassaram US$ 6 bi-lhões, segundo relatório do Ministério do Desenvolvimen-to, Indústria e Comércio do Brasil. Aparentemente, não há razões para preocupação. No entanto, nem tudo é cor-de-rosa na parceria. As trocas comerciais com a Rússia representam apenas 1,5% do comércio exterior do Brasil. A pauta de exporta-ções brasileiras para a Rússia é restrita e não acompanha a relação de mercadorias bra-sileiras exportadas para pa-íses desenvolvidos – que se tor-naram, há muito tempo, consumidores de produtos manufaturados de origem brasileira. A Rússia não deixa de enca-rar o Brasil como país forne-cedor de comoditties agríco-

las: café, açúcar, frango e carne. Esses produtos repre-sentam mais de 90 % das im-portações russas com origem no Brasil. Não raro, os fabricantes dos produtos exportados sofrem

prejuízos por causa da falsi-fi cação, como no caso de café solúvel, ou de restrições e em-bargos de toda a espécie, como, para usar um exemplo atual, com a carne suína e bovina. Na avaliação do chanceler brasileiro, o Brasil e a Rússia são países com economias em rápido crescimento e que se recuperaram da crise, poden-

do registrar um crescimento econômico considerável já neste ano.Patriota manifestou a espe-rança de que, até o final de 2011, a Rússia faça parte da OMC (Organização Mundial do Comércio). Entre outras vertentes da re-lação bilateral que ainda podem se desenvolver estão a cooperação no investimento d a á r e a c i e nt í f i c a e tecnológica.Moscou e Brasília apostam em uma aliança tecnológica so-bretudo na área aeroespacial, tendo celebrado o Acordo Sobre Proteção Mútua de Tec-nologia Associada à Coope-ração na Exploração e Uso do Espaço Para Fins Pacífi cos. Os brasileiros estão interes-sados na tecnologia russa de produção de combustível lí-quido para seus veículos de lançamento.Menos explosivo que seu con-

gênere sólido, esse tipo de combustível pode evitar tra-gédias como a ocorrida, em 2003, na base de lançamentos brasileira de Alcântara, que acabou matando 21 pessoas. O ministro das Relações Ex-teriores russo, Serguêi Lavrov, assinalou também a impor-tância de os dois países ela-

borarem um esquema de pa-gamentos recíprocos em suas moedas nacionais.“É uma prova do abandono gradual do dólar como meio de pagamento universal, tanto mais que o Brasil e a Argen-tina já se servem de suas moedas nacionais na realiza-ção de pagamentos recíprocos

Moscou e Brasília estreitam laços

Chanceler brasileiro Antônio Patriota (esq.) e ministro do Exterior russo Serguêi Lavrov

No ano passado, as trocas comerciais entre os países ultrapassaramUS$ 6 bilhões

Pré-requisitos do governo para elegibilidade de lotes incluem distância máxima do trabalho

CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

Gênero Sociedade patriarcal, ausência de cotas instituídas por Lênin e queda demográfica impedem ascensão política das russas

Com papel reduzido desde a

era soviética, mulheres

buscam espaço na política e

criaram até uma ONG com o

intuito de eleger a primeira

presidenta do país em 2018.

Não existe espaço para as mu-lheres na política da Rússia atual. A famosa frase de Lênin dizia que “toda cozinheira deve saber administrar o Es-tado” e realmente permitiu que as mulheres fossem re-presentadas nos órgãos do poder na União Soviética. Esse direito, garantido por cotas especiais, é defi nitiva-mente coisa do passado.Podem-se contar nos dedos as mulheres que estão no topo da cena política, como Valen-tina Matvienko, ex-governa-dora de São Petersburgo que na úlitima quarta-feira (21) foi nomeada presidente do Conselho da Federação (Câ-mara Alta do Parlamento Russo).“É a única com real impor-tância política, além de ser uma administradora extre-mamente efi caz e experiente”, afi rma a pesquisadora do Ins-tituto de Sociologia da Aca-demia de Ciências, Olga Krichtanovskaia. Matvienko chegou onde está por mérito próprio e ela mesma não gosta de questões que girem em torno de gêne-ro. Na coletiva de imprensa de despedida em São Peters-burgo, a ex-governadora as-sumiu que nunca gostou de responder a perguntas sobre mulheres e política.Quando as eleições se torna-ram livres e as cotas de gêne-ro soviéticas foram abolidas, no início dos anos 1990, as mu-lheres desapareceram da cena política. “Elas não se apresen-tam mais como candidatas e, assim, as pessoas não veem razões para votar no sexo ‘mais fraco’”, acredita Krichtanovskaia.

Maternidade x políticaHoje, o sistema sociopolítico está, de um modo geral, ba-seado na tradicional visão das relações de gênero. O fenôme-no é intensifi cado pela cres-cente preocupação, em nível federal, de um desastre de-mográfi co, e pela urgente ne-cessidade de ter mais crian-ças no país para evitá-lo. Torna-se cada vez mais difí-cil ser mãe e trabalhar ao mesmo tempo, considerando o número reduzido de creches e pré-escolas disponíveis e o custo das instituições parti-culares. As novas normas do direito de família tendem a trancafiar as mulheres nos lares em vez de conduzi-las

ao trabalho. Somado a isso, a mentalidade machista triun-fa. “Uma mulher, independen-te de seu status ou das quali-dades e aptidões que possua, estará sempre sujeita à des-confi ança”, explica a política Irina Khakamada. Figura emblemática da par-ticipação feminina na políti-ca da Rússia pós-soviética e candidata presidencial em 2004, Khakamada se aposen-tou dos assuntos governamen-tais. “Durante 13 anos, gastei 70% do meu tempo e energia provando ser uma política com direitos iguais aos dos homens. Só restou 30% para realmen-te aprovar leis”, confi denciou à rádio Eco de Moscou.

Khakamada se opõe feroz-mente às cotas, que, segundo ela, são humilhantes e discri-minatórias para as mulheres e não representam um pro-gresso real. “O que precisa-mos alterar é a mentalidade e o ambiente”, acredita.Em um sistema mais basea-do em camaradagem que em princípios democráticos, até mesmo o carisma e o talento de um homem são menos im-portantes do que sua aliança com o poder e o apoio garan-tido em troca. As mulheres então têm que se esforçar em dobro quando se trata de cau-sar impressão.Os 12% de deputadas na Duma (câmara dos deputados

na Rússia) não ajudam a des-fazer o preconceito que cerca as mulheres na política do país. No geral, propõem leis apenas sobre família, infân-cia, educação, esportes e saúde. “Elas não são políticas no real sentido da palavra, com uma ideologia e visão ampla, mas sim profi ssionais contratadas”, diz Krichtanovskaia. Ainda assim, algumas se des-tacam na multidão, como é o caso da ex-campeã olímpica de patinação de velocidade Svetlana Jourova, membro dos comitês de família, educação, cultura, educação física e ju-ventude e vice-porta-voz da Duma, além de membro do comitê olímpico. “As mulheres são capazes de negociar e cooperar, mirando o impacto de suas decisões em parcelas concretas da socie-dade”, afi rmou Jourova à re-vista alemã Neue Zeiten, cla-mando que as colegas do sexo feminino participem mais ati-vamente das principais defi -nições do governo.

Elas para presidentasKrichtanovskaia não só de-senvolve teorias sobre o lugar das mulheres na política como também é uma fi gura públi-ca ativa, membro do partido governante Rússia Unida desde 2009 e presidente de uma nova ONG chamada “Otlitchnitsi” (“a primeira da classe”, em português), cujo objetivo é eleger uma mulher presidente nas eleições de 2018.A candidatura de Matvienko em 2012 já tem apoio. Mas a batalha será difícil. Uma re-cente pesquisa do VTsIOM, órgão de estatísticas ofi cial do governo, revelou que um quar-to dos russos acredita que já existe uma quantidade abun-dante de mulheres na políti-ca. Além disso, segundo os en-trevistados, uma candidata à presidência poderia perder as eleições simplesmente devido ao gênero.

Poder para as mulheres

Valentina Matvienko, presidente do Conselho da Federação e ex-governadora de São Petersburgo, é um dos poucos destaques femininos na política do país

VERONIKA DORMANGAZETA RUSSA

FRASE

“Os homens na política

russa costumam ser apá-

ticos porque, para eles, o

sistema funciona.

Ainda que sejam desinteres-

santes, tornam-se líderes. Já

as mulheres devem se fazer

notar. Elas têm que ser

extraordinárias.”

Irina KhakamadaPOLÍTICA, MEMBRO DA

COALIZÃO «OUTRA RÚSSIA»

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GAZETA RUSSAWWW.GAZETARUSSA.COM.BR Política e Sociedade

ANNA NEMTSOVAESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Algumas operações acabam em mortes e torturas, o que diminui a confiança nas autoridades

Radicalismo Explosões, assassinatos e abusos de autoridade por parte da polícia impedem apaziguamento do conturbado sul da Rússia

Cáucaso, paz que nunca chega

Assassinato de moderados

impossibilitam ponte entre

comunidade islâmica e

autoridades no Daguestão.

A cidade de Khassaviurt, no Daguestão, derretia com o calor do verão enquanto ati-vistas locais se preparavam para protestar numa praça no centro, em julho deste ano. Quando os manifestantes es-tavam prestes a se reunir, uma explosão levou aos ares a co-lorida barraca de frutas e ver-duras, abrindo uma cratera de cinco metros de profundi-dade na rua. As ambulâncias correram para levar oito civis e policiais feridos aos hospitais locais. Uma multidão de curiosos se juntou no local e, em seguida, foi sumindo à medida que as orações da sexta-feira, dia sa-grado para o islamismo, co-meçavam. Depois, centenas de pessoas se reuniram novamen-te determinadas a realizar o protesto, mas foram rapida-mente cercadas e dispersadas por policiais. A tensão foi con-tida, e a rua, coberta de lixo e de sangue, fi cou vazia.Ataques com bombas não são raros nessa cidade que faz fronteira entre as repúblicas do Daguestão e da Tchetchê-nia, no sul da Rússia. Mesmo depois de ter sido palco do

Acordo de Khassaviurt - que pôs fim à Primeira Guerra Tchetchena. Nos primeiros seis meses de 2011, o número de ataques ter-roristas aumentou 35% em re-lação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o presidente do Comitê de In-vestigação da Procuradoria Geral, Aleksandr Bastríkin.Simboliza esse aumento o as-sassinato de Maksud Sádikov, reformador islâmico e reitor do Instituto de Teologia e Re-lações Internacionais Sheikh Mammadibir ar-Rotchi. Morto a tiros em julho no cen-tro da capital do Daguestão, Makhatchkalá, o reitor con-cedeu uma entrevista à Ga-zeta Russa há exatamente um ano. Foi quando assumiu o cargo - uma espécie de emis-sário entre educadores mu-çulmanos, estudantes, socie-dade civil e Estado.

Precedente moderadoDurante seu último ano de vida, Sádikov passou grande parte do tempo estimulando e coordenando diálogos entre políticos e líderes religiosos. Em junho, ele ajudou a orga-nizar a primeira grande ro-dada de discussões intitulada Conselho pela Sociedade Civil e Direitos Humanos. O even-to reuniu ofi ciais do Kremlin e l íderes comunitários locais.

Poucos dias depois, Sádikov foi morto por dois homens ar-mados. Ele é um dos 12 líde-res religiosos moderados mor-tos no Cáucaso do Norte nos últimos 18 meses. Para o pre-sidente do Daguestão, Mago-medsalam Magomedov, Sádi-kov era um “elemento-chave nas negociações de paz”.“Esses assassinatos são come-tidos por grupos radicais da

região que destroem o signi-ficado pacífico do islã”, diz Magomedov. Seu sofrimento está estampa-do no rosto. Diversos colegas e amigos de Magomedov, como seu assessor de imprensa, Garun Kurbanov, também morreram em ataques. Como ele, Kurbanov se pronuncia-va abertamente contra o ex-tremismo e a intolerância religiosa.O coronel Abdurachid Bibu-latov afi rma que o assassina-to de Sádikov foi a resposta dos militantes ao processo de pacificação. “Levando em conta a cronologia dos fatos, a morte de Sádikov foi uma

reação às negociações de paz no qual estava envolvido”, acredita.Se no verão anterior policiais eram baleados por atiradores sobre telhados, neste ano os agressores se aproximaram de investigadores e do coman-dante de polícia. Os ofi ciais levaram tiros na cabeça, dian-te de parentes e amigos.

Ameaça nos correiosMunidos de laptops e acesso à internet mesmo na fl oresta, os extremistas deixaram re-centemente cartões de memó-ria contendo vídeos ameaça-dores e exigências de resgate em caixas do correio. O pre-

sidente Magomedov tenta agora encorajar os daguesta-neses vítimas de tais mensa-gens a denunciar as ameaças às autoridades locais.Em Khasaviurt, ativistas acreditam que a polícia tam-bém seja responsável pelo au-mento da violência. O repre-sentante da ONG local Alternativa Civil, Rasul Is-laimov, diz que policiais lan-çaram granadas dentro de uma mesquita no vilarejo de Uzun-Otar no início de agos-to e mataram Nariman Ali-gadjiev. Pai de quatro crian-ças , A l igadjiev hav ia construído a pequena mes-quita para os muçulmanos da vila que praticavam o wahhabismo, uma das for-mas mais conservadoras do islamismo. Enquanto os ati-vistas da região tentavam protestar, o ataque à bomba os impediu e a polícia se en-carregou de dispersar o grupo. “Vemos os esforços do presi-dente e de sua equipe para acalmar a situação crítica do Daguestão neste ano, mas, in-felizmente, algumas opera-ções policiais acabam em mor-

tes, torturas e desaparecimento de civis pacífi cos, o que dimi-nui a confi ança das pessoas nas autoridades”, diz a pes-quisadora da ONG Human Rights Watch em Moscou, Ta-tiana Lokchina.

Mudando de ladoMagomedov demonstra em-penho para desenvolver as co-munidades e fortalecer o tu-rismo. Continua construindo hotéis, resorts e escolas. A agenda do presidente inclui até encontros semanais com uma comissão criada para es-timular a aderência de anti-gas guerrilhas ao processo de pacifi cação. Até agora, cerca de 30 ex-combatentes concor-daram em deixar as armas em troca de apoio do Estado, em-prego e educação. Durante o encontro do mês passado, o combatente Zai-pulla Gazimagomedov rece-beu o direito de cumprir sua pena de dez anos em casa, no Daguestão. “Os jovens fogem de uma vida injusta para se juntarem a nossas tropas. A principal razão para ir à luta é o desespero”, afirma Gazimagomedov.

Estudantes rezam em universidade de Makhatchkalá, onde Maksud Sádikov era reitor; tentativa de protesto de líderes comunitários é frustrada pela polícia

Maksud Sádikov, um reformador visionário silenciado

O reitor Maksud Sádikov era

considerado um dos heróis do

Daguestão por todos que o co-

nheciam. Amado pelos estu-

dantes na universidade islâmi-

ca onde era reitor, também era

amigo do presidente do Da-

guestão e de outros políticos e

líderes que acreditavam no fu-

turo pacífico da região.

Sádikov nasceu em 1963 na ci-

dade local de Artchid e se for-

mou em administração públi-

ca na Universidade Estatal de

Moscou. Ele poderia ter ficado

em Moscou, onde se formou,

para seguir uma carreira no

governo.

Em vez disso, o sunita Sádi-

kov resolveu voltar para o Da-

guestão. Tornou-se reitor do

Instituto de Teologia e Rela-

ções Internacionais, na capital,

Makhatchkalá, em 2003. Em

2010, começou a trabalhar pa-

ra o Kremlin, quando o gover-

no resolveu auxiliar a difusão

do islamismo moderado no

Cáucaso do Norte.

Sádikov foi morto a tiros em

junho por agressores até agora

não identificados.

Veja entrevista com o presidente do Daguestão em www.rbth.ru/13291

ANTON MAHROVGAZETA RUSSA

Principais vítimas de

restrições russas serão

pequenos comerciantes.

População se diz a favor,

mas não acredita que

medidas tenham efeito.

Guerra atrasada ao cigarro

Legislação mais de 20 anos depois do Canadá, Rússia busca restringir o fumo

O parlamento russo pretende examinar nos próximos meses um projeto de lei anti-taba-gismo. Sempre branda, a le-gislação permite hoje o fumo e a comercialização quase sem restrições.Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 40% dos russos são fuman-tes. Na Grã-Bretanha, esse número atinge 34 %, no Brasil, pouco mais de 17%. A Rússia é o quar-to maior consumidor mundial de cigarros (cerca de 400 bilhões de unidades por ano), per-dendo apenas para China, Índia e Indoné-sia - países que supe-ra m a Rú ss ia em população. Além disso, artigos de tabacaria são muito mais acessíveis na Rús-sia do que na Europa. Um maço de cigarros russo custa no máximo um euro, contra os quatro euros míni-mos dos europeus. Cerca de 400 mil russos morrem anu-almente em decorrência de doenças causadas pelo taba-

gismo, de acordo com o Mi-nistério da Saúde.A nova lei, que deve entrar em vigor em 2013, banirá os cigarros de quiosques de rua. O produto só poderá ser ad-quirido em lojas de grande porte e a publicidade será res-trita: no lugar das vitrines de tabaco surgirão listas de pre-

ços e marcas de cigarros.“O governo quer simplesmen-te apreender a mercadoria. Bebidas alcoólicas e cigarros têm grande saída, e os cigar-ros representam 50 % das vendas desses pequenos co-merciantes”, afi rma o repre-sentante da associação em-presar ia l “A mparo da

Rússia”, Aleksêi Kanevski.Também será proibido fumar nas estações ferroviárias cen-trais, aeroportos e paradas de transporte público, assim como em bares e restaurantes. Quem quiser fumar na escada ou cor-redor de prédios residenciais, como é costumeiro hoje, pre-cisará de permissão escrita de todos os proprietários de apar-tamentos. As restrições abar-cam não só cigarros mas todos os produtos que contenham ni-cotina, como narguilé, tabaco de mascar e rapé. “É passado o tempo que o consumo exces-sivo de bebidas alcoólicas e o tabagismo eram vistos como fatores de crescimento da eco-nomia russa”, afi rma o presi-dente da Confederação Inter-nacional de Associações de Consumidores, Dmítri Ianin. “Se as pequenas empresas vivem da receita obtida com a venda de cerveja e cigarros a crianças, a re-forma de tais empresas terá, pelo contrário, efeito positivo para a economia russa. Que se fundam ou mudem o perfil de suas

atividades.”Mas algumas particularida-

des, especialmente referentes ao aumento do preço do pro-duto, dividiram os entrevis-tados: cerca de 55% conside-ram que dobrar o preço do maço não será sufi ciente para r e du z i r o nú me r o de fumantes.

Brasil e Rússia entre os últimos Desde o dia 1° deste mês, uma nova lei obriga que os táxis ciganos, como são chamados os carros clandestinos na Rússia, deixem as ruas da ca-pital. Até então, quem pre-cisava do serviço só tinha que estender o braço, esperar um motorista comum parar e ne-gociar a corrida.Atualmente existem mais de 40 mil motoristas de táxis clandestinos somente na ca-pital, segundo a União de Transporte de Moscou. “A anarquia dos táxis priva-dos, com motoristas sem ex-periência e sem conhecimen-to da língua russa ou da cidade, chegará ao fi m”, diz o diretor da Companhia Novo Transporte, Félix Margarian, referindo-se aos imigrantes que compõem boa parte da frota de irregulares.A nova lei exige que os mo-toristas de táxi privados pos-suam uma licença e que os seus carros sejam equipados com taxímetro, luz laranja

Transporte Só na capital são mais de 40 mil carros ilegais

Nova lei quer restringir a

atividade a profissionais

regulamentados, que

atualmente são minoria.

Ilegais contestam a medida.

sobre o capô e faixas listra-das pintadas nas laterais. Os carros também deverão pas-sar por uma inspeção a cada seis meses, e cada região tem o direito de defi nir qual a cor de seus táxis.

Do contraDesde que foi anunciada, a regulamentação tem gerado calorosas discussões. Taxis-tas promoveram protestos nas principais cidades da Rússia e enviaram petições ao governo. Aleksêi Krikunov, que tra-balha há 20 anos ilegalmen-te e não tem planos para se regularizar, diz que a polí-cia difi cilmente irá conseguir apreender um táxi ilegal: “Eu geralmente pego passageiros que estão indo para a minha

região. Se um policial de trânsito me parar, digo que é um parente.”Estima-se que esses táxis ile-gais faturem mais de 1 bi-lhão de rublos anualmente, obviamente sem recolher im-postos. Enquanto isso, exis-tem hoje somente 9 mil táxis ofi ciais na capital. “Os ilegais que ocupam as áreas próximas aos terminais aéreos, estações de trem e shopping centers irão gradu-almente se legalizar ou terão que sair do mercado”, acre-dita Magarian.Segundo motoristas de táxi privado, o grande problema da lei é que as licenças só serão concedidas a quem usar carros próprios, quando é comum que motoristas usem automóveis de terceiros.

Táxis “ciganos” são banidos de Moscou

Hoje basta estender o braço e partir com qualquer motorista

DÁRIA KÓSTINALARA MCCOY ROSLOFGAZETA RUSSA

G E O R G I A

Ossétia do Sul

MOSCOW

Khanty-Mansiysk

Mar Negro

Mar

Cáspio

G E O R G I A

G E Oo

A B E C Á S I A

MOOSCCOOW

Khanty-Mansiysk

JURY KO

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GAIA RUSSO

Page 4: Gazeta_Russa_september

GAZETA RUSSAWWW.GAZETARUSSA.COM.BREconomia e Mercado

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Dúvidas? Ideias? Fale com a gente!

NOTAS

Foi criado neste mês, em Moscou, o Comitê Nacional de Pesquisa do grupo Brics. O novo organismo represen-ta uma parceria não lucra-tiva e foi criado pela Funda-ção Mundo Russo e pela Academia de Ciências da Rússia. “A criação dessa instituição é uma necessidade neste mo-mento”, afi rmou o ministro das Relações Exteriores russo, Serguêi Lavrov.Juntos, os países do grupo concentram cerca de 30 % da superfície do planeta e 45% da população mundial e, segundo o chanceler, re-presentam um elemento-chave da política externa da Rússia. O embaixador itinerante da diplomacia russa, Vadim Lukov, também falou, na ocasião da inauguração, sobre o interesse da Rússia na criação de um sistema de moedas de reserva.

Itar-Tass

O vice-primeiro-ministro russo, Dmítri Kozak, des-mentiu notícias sobre um su-posto aumento de custo do projeto das Olimpíadas de inverno de 2014 em Sôtchi. Depois de acompanhar uma missão do COI (Comitê Olím-pico Internacional) durante visita às instalações olímpi-cas, o vice-premiê disse que o custo do projeto se man-tém na faixa de cerca de US$ 6,6 bilhões (R$ 11,3 bi-lhões), dos quais cerca de R$ 6 bilhões serão provenien-tes de investidores de varejo e o resto por conta do Esta-do.Ainda de acordo com Kozak, já foram entregues cerca de 80% das obras.

Ria Nóvosti

Comitê de

Pesquisa BRICS

Projeto

“Sôtchi-2014”

vai custar R$

11,3 bilhões

A empresa brasileira Fras-le, uma das maiores da Amé-rica Latina no setor de com-ponentes automotivos, começou a operar no merca-do russo neste ano, expor-tando peças. Fabricante de materiais de fricção, a empresa mantém a liderança mundial na pro-dução de pastilhas de freio e lonas de freio para veícu-los comerciais pesados. Seus produtos são exportados para 80 países.Na Rússia, os produtos da Fras-le serão representados pelo grupo Omega, uma das maiores distribuidoras locais de componentes automotivos para caminhões das marcas Renault, Iveco, Man, Merce-des-Benz, Volvo, Scania e Daf.O grupo tem 18 lojas em toda a Rússia, incluindo um ar-mazém de distribuição por atacado em Moscou, e vende produtos de mais de 75 mar-cas. A Fras-le possui repre-sentações oficiais em nove países e produção própria no Brasil, EUA e China.

Auto-Vesti

Brasileira Fras-

le entra no

mercado de

autopeças russo

Reação Organização tenta varrer golpistas do mercado financeiro, mas faltam leis e fiscalização

Esquecidas no Ocidente desde o caso “Dona Branca”, em Portugal, nos anos 1990, as “pirâmides” fi nanceiras vol-taram à pauta do dia com Ber-nard Madoff. O esquema pelo qual investidores – na reali-dade, vítimas – são remune-rados com os recursos de novas aplicações fez com que o americano fosse julgado e condenado a 150 anos de pri-são em 2009. A fraude foi ape-lidada de “maior esquema Ponzi da história” – em refe-rência ao criador do método, o italiano Charles Ponzi, que

Para ex-presidente de

reguladora do mercado de

ações, proteger pequeno

investidor é principal tarefa

para sucesso da bolsa.

BEN ARISGAZETA RUSSA

morreu falido no Rio de Ja-neiro depois de cumprir pena nos Estados Unidos e ser deportado.Mas existe um lugar do mundo onde essa e outras fraudes nunca viveram dias inglórios: a Rússia. “Tão importante quanto criar um centro fi nan-ceiro internacional é construir uma relação de confi ança com os pequenos investidores, e isso ainda está faltando. Aqui as pessoas investem uma vez, são roubadas e não voltam a fazer aplicações”, afi rma o ex-presidente da agência regu-ladora do mercado de ações da Rússia Ígor Kóstikov.Em fevereiro deste ano ele criou a União dos Consumi-dores de Serviços Financei-ros (em russo, FinPotreb-Soiuz), que tem como objetivo ajudar quem sofreu golpes de

fundos de investimentos.De acordo com Kóstikov, esses esquemas são comuns em todo o país, e não só inexistem leis para impedir as fraudes como não existe órgão no governo responsável pela supervisão desses fundos.Apesar da necessidade de de-senvolver uma base de inves-tidores mais ampla, as recen-tes reformas na infraestrutura de investimento russa não conseguiram gerar confi ança nas pessoas que poderiam in-vestir diretamente em ações.

Esquema em açãoNas pirâmides russas, um clube de investimentos anun-cia na imprensa retornos pro-missores e atrativos para pe-q u e n o s i nv e s t id o r e s . Seduzidos, esses entram em contato com o escritório cor-respondente e assinam um contrato. Quando voltam para retirar o dinheiro, são informados de que clube cometeu alguns erros e perdeu toda a quantia

investida. Se os investidores começam a questionar por que o fundo foi à falência, porém, rapidamente percebem que não há u ma respos ta convincente.“O investidor não pode pro-cessar o escritório russo, já que, no fim das contas, não tem ligação formal com o clube. Está agindo apenas como uma espécie de agente, e revendendo os serviços de um fundo registrado no Chi-pre, nas Ilhas Virgens ou em qualquer outro lugar”, expli-ca Kóstikov. “O clube, por sua vez, não é mais do que uma caixa de cor-reio e é fechado logo após ar-recadar dinheiro sufi ciente. Para a maioria das pessoas, ir atrás de uma empresa no exterior é um processo muito caro e, ainda que não fosse, o contrato assinado na Rússia provavelmente não teria va-l id ade fora do pa í s”, completa.Ninguém sabe ao certo quan-to os investidores de varejo têm nesses fundos. De acordo com o jornal econômico russo Kommersant, os fundos mú-tuos russos começaram a res-gatar dinheiro na primeira metade de 2011 pela primei-ra vez em quatro anos. Mas, até agora, só retomaram posse de irrisórios US$ 200 mil do total de ativos em questão. Kóstikov diz que não existem números ofi ciais, mas estima que o valor total de negócios de investimento em varejo gire em tor no de US$ 300 milhões.

Segundo ele, os golpes estão gerando dezenas de milhões de dólares de prejuízo. Além da já citada falta de tipifi ca-ção penal, não existe um órgão para supervisionar e conce-der licenças aos clubes de in-vestimento. Enquanto isso, fraudadores estão livres para agir com impunidade e podem até promover grandes campa-nhas publicitárias na impren-sa local. O que torna esses golpes tão capciosos é que os operado-res não prejudicam todos os investidores. Os maiores clu-bes fazem alguns retornos reais e pagam boa parte de seus investidores, mas incre-mentam os resultados eco-nômicos roubando alguns deles - e usando seu dinhei-ro para pagar o restante. A prát ica é amplamente difundida.

Fraude institucionalizadaUm pouco menos escancara-dos são os vendedores de cré-ditos em bancos populares. Comercializando produtos mais tradicionais, como cré-ditos imobiliários e de auto-móveis, eles se aproveitam da ausência de regulamentação para empurrar os produtos mesmo a clientes que não serão capazes de pagá-los ape-nas para ganhar comissões. Até o banco estatal Sberbank teve problemas, segundo Kóstikov.“O Sberbank é um dos pou-cos bancos que têm colabora-do plenamente conosco. O cliente faz uma reclamação

Ranking dos fundos de pensão

Em defesa do investidor

Kóstikov liderou, entre 2000 e

2004, a Comissão Federal de

Mercado de Valores Mobiliários

– como era conhecida então a

agência reguladora do merca-

do de ações.

Em fevereiro desse ano, criou

a União dos Consumidores de

Serviços Financeiros. A organi-

zação não tem respaldo oficial

e é financiada por alguns pa-

trocinadores privados.

Seu objetivo é auxiliar vítimas

de golpes de fundos de inves-

timentos.

Ígor

Kóstikov

IDADE: 53

CIDADE: LENINGRADO

(SÃO PETERSBURGO)

FORMAÇÃO: ECONOMISTA

RAIO-X

União dos Consumidores de Serviços Financeiros foi criada em fevereiro deste ano

Entidade busca evitar que esquemas como o de Bernard Madoff continuem prosperando

Golpes diversos povoam

as aplicações russas e minam

a confiança dos pequenos

investidores

para a agência local e, se o problema não é resolvido, é encaminhado para nós. Acom-panhamos os casos junto com o escritório central, aqui em Moscou. De qualquer modo, o cliente é ressarcido em uma questão de dias”, conta.Entretanto, se o empréstimo é considerado “irrecuperá-vel”, os bancos geralmente acabam vendendo-os a uma agência de cobrança de dívi-das. “Não existe nenhum item na lei de falências pes-soais que se refira a essas agências. Elas são completa-mente ilegais, mas quase nin-guém tem consciência disso”, diz Kóstikov. O aumento do nível de consciência é outro desafi o que a organização de Kostikov espera assumir na sociedade.

O crescimento está desacele-rado no mundo ocidental e a Europa enfrenta a possibili-dade real de uma segunda crise bancária, enquanto os Estados Unidos estão lutan-do contra uma enorme dívida externa. Os investidores estão procu-rando abrigo, mas há poucos lugares aonde se possa recor-

Investimento Aumento do consumo interno e crescimento do setor de construção melhoram perspectivas russas

Reservas russas em moeda

forte foram recuperadas e

país pode ser um dos

mercados mais seguros

do mundo.

rer. Os preços do ouro subi-ram a níveis recordes e o fran-co suíço seguiu o mesmo caminho, de modo que ambos os ativos estão exageradamen-te caros.Enquanto isso, a Rússia, que vem sendo de um modo geral ignorada, é provavelmente um dos mercados mais seguros do mundo atualmente, de acor-do com alguns especialistas. “A economia russa está cada vez melhor, mas os mercados têm pouca confi ança no ce-nário macro russo, e vêm ig-norando-a profundamente”, diz o analista do Alfa Bank, Aleksêi Deviatov.

Embora a economia do país esteja sendo afetada pela evi-dente desaceleração dos mer-cados desenvolvidos nos últi-mos meses, sua economia se recupera, sobretudo com o crédito e no setor de constru-ção. Os créditos tanto para as companhias quanto para os consumidores tiveram altas astronômicas em julho e sobem até 18% e 27%, respec-tivamente, todo ano, tornan-do os bancos rentáveis.Embora o orçamento da Rús-sia ainda seja extremamente dependente do preço do pe-tróleo, o consumo se tornou a principal força motriz da eco-

nomia nos últimos anos.Além disso, o setor de cons-trução sofreu aceleração ines-perada em julho, representa-da por um aumento anual de 17,8% no volume de obras, se-gundo o Alfa Bank. O setor de construção no pe-ríodo pré-crise foi o segundo mais importante motor da economia depois do consumo, mas a atividade permaneceu estagnada na maior parte dos últimos dois anos. Entretanto, o que realmente assustou os investidores foi o rebaixamento da nota de risco dos Estados Unidos pela agên-cia classifi catória Standard &

Poor’s no início de agosto. En-quanto os soberanos títulos norte-americanos tiveram sua imagem arranhada, a dívida da Rússia parece cada vez mais controlada. As reservas

de moeda forte recuperaram quase todas as perdas duran-te o pior momento da crise – e o país está entre as nações com menor probabilidade de negligenciar sua dívida.

Porto seguro em tempos de crise

BEN ARIS GAZETA RUSSA

" O lucro dos bancos

durante os sete primei-

ros meses deste ano

já chegou perto do resultado

FRASE

Mikhail KovríguinVICE-DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE REGULAMENTAÇÃO E

SUPERVISÃO DO BANCO DA RÚSSIA

obtido durante todo o ano de

2010. Creio que esse índice

será ultrapassado até o fim de

setembro.”

no Brasil

ILIA WARLAMOW

KOM

MER

SAN

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PHOTOSHOT/VOSTOCK-PHOTO

INVESTFUNDS.RU

Page 5: Gazeta_Russa_september

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Mais de um terço dos desempregados recorre ao Estado por ocupação

Falta trabalho

entre os jovens

Homem procura emprego em jornal especializado. Limite de idade para setor financeiro é de 35 a 38 anos

Ela não quis ter o sobrenome divulgado. “Agora estou pro-curando um novo emprego, e mandei meu currículo para 34 empresas. Não especifi -quei minha idade e recebi retorno de 19 empregadores. Mas quando descobriram que eu tinha 55 anos, 14 deles admitiram abertamen-te que havia limite de idade para as vagas”, conta.O diretor-administrativo do escritório de recrutamento Antal Russia, Michael Ger-mershausen, admite que as vagas para profissionais qualifi cados e gestores são raras para quem tem entre 45 e 50 anos. “Os emprega-dores realmente preferem os especialistas mais jovens para a maioria das funções. O limite de idade não decla-rado para profissionais de nível médio no setor fi nan-ceiro é, em média, de 35 a 38 anos”, diz. Segundo Germershausen, as pessoas das gerações mais antigas têm difi culdades de se adaptar ao novo ritmo do mercado de trabalho. “Os mais velhos costumam ter compreensão limitada dos princípios da economia mo-derna, pouco conhecimento de línguas estrangeiras e di-fi culdade para se adaptar à cultura coorporativa e aos es-tilos de gestão atuais”, diz.A diretora de RH do Grupo Financeiro BCS, Olga Sa-vosko, acredita que poucos podem desenvolver uma car-reira na meia-idade. “Em um ou outro caso, o indiví-duo é um especialista ou tem bons contatos, relevantes para a empresa. Mas, fora isso, as chances de conse-guir um emprego no merca-do são bem pequenas”, afi rma.Para a gerente de projetos da consultoria de RH Con-sort Group, Olga Ribakova, existe também uma imatu-ridade dos diretores mais jo-vens na hora de lidar com a geração anterior. “Eles não sabem se relacionar com os

mais velhos. Além disso, confundem a atividade pro-fi ssional com confl itos pes-soais mal-resolvidos que têm com seus pais, então acham mais fácil lidar com pesso-as mais novas”, diz.

Velha guarda ativaMas quem está acima da idade não deve desistir de conseguir um bom empre-go. Existem, sim, cargos nos quais a idade é uma grande vantagem, ressalta o vice-diretor de desenvolvimento de negócios da Companhia

de Finanças e Investimento Solid, Aleksêi Zaikin. “Essas pessoas geralmente têm muita experiência em áreas específi cas, e um profi ssio-nal de 50 anos que se can-didate a uma vaga de gestor de ativos, por exemplo, pode trazer consigo toda uma car-teira de clientes”, diz. Os especialistas destacam que, nos países desenvolvi-dos, o movimento costuma ser inverso. “Muitas empre-sas estrangeiras, especial-mente as alemãs e japone-sas, costumam preferir

candidatos mais maduros”, completa Germershausen. “Numa seleção, uma multi-nacional estipulou a idade mínima de 36 anos para os candidatos à função de con-sultor jurídico sênior, mesmo considerando que uma po-sição similar em outras em-presas é ocupada por pes-soas em torno dos 29 anos”, conta.

Problema russoNo geral, existem dois ca-minhos principais que levam ao sucesso profi ssional e fi -

nanceiro: o do gestor e o do profi ssional qualifi cado. Na Rússia, porém, esse concei-to de carreira não é muito desenvolvido. A maioria das empresas é or-ganizada de forma que pro-fi ssionais altamente qualifi -cados sejam desnecessários. Na ausência de real competi-tividade em uma economia corrupta, o que um gestor pre-cisa é de pessoas satisfeitas com suas atribuições. Desse modo, o teto máximo de qua-lifi cações exigidas para exer-cer funções não gerenciais é

atingido entre os 30 e 35 anos. Caso o funcionário não se torne um gestor até essa idade, é improvável que ele c o n t i n u e a v a n ç a n d o profi ssionalmente. Segundo dados do Superjob.ru, a média salarial tende a crescer de acordo com a faixa etária até atingir o pico aos 40 anos. Depois disso, permanece estável, e, em alguns casos, chega até a diminuir.Ainda que no Ocidente tam-bém seja mais difícil para

uma pessoa de 50 anos con-seguir emprego que outra de 30, empresas de todos os ramos precisam de funcio-nários com diferentes níveis de experiência. Enquanto as companhias russas continuarem dando as costas para a inovação e só recompensarem pessoas que fazem apenas o que se espera delas, indivíduos de meia-idade procurando em-prego continuarão ouvindo: “Nós temos uma equipe jovem – e você não está no perfi l.”

Preteridos pela data de nascimento

Exportação Marca Baltika chega a diversos países da região, inclusive nos maiores mercados: Brasil e México

“Quer uma cerveja russa?”, perguntam meus amigos. Não pude esconder a surpresa. Onde poderíamos encontrar uma cerveja russa no Méxi-co? Fomos ao “Soriana”, um dos grandes supermercados da capital. Ali nos depara-mos com uma caprichada fi -leira de garrafas da russa Ar-senalnoe, bem ao lado de um esplêndido cartaz no qual uma loira de cabelos longos e olhos azuis nos estendia uma cerveja e convidativa-mente dizia: “Baltika: conhe-ça a cerveja russa.” Na América Latina, os rus-sos têm fama de serem for-necedores de armas e vodca,

e até pouco tempo atrás ne-nhum latino poderia citar um produto concreto “made in Russia”. Uma das pioneiras na área é a Baltika, um complexo de fábricas cervejeiras de São Petersburgo, pertencente ao grupo Carlsberg. Na Rússia, a empresa tem recebido anu-almente o título de Exporta-dora do Ano, já que mais de 60% de toda cerveja russa exportada sai de suas linhas de produção.Atualmente mais de 70 paí-ses já comercializam a Bal-tika e representantes expres-sam interesse no mercado americano desde o início dos anos 2000. A conquista do continente começou pelo norte, com a exportação das primeiras levas de cerveja russa para os EUA e para o Canadá.

Hermanos russosEm maio de 2008, Anton Ar-

cado como bastante promis-sor”, destaca a diretora de ven-das para os países americanos, Elena Volgucheva.Apesar da distância em re-lação à Rússia, a América La-tina apresentou estabilidade e crescente demanda de con-sumo. Por ser a primeira cer-veja russa a desbravar esse mercado, a Baltika acabou levando uma vantagem adi-cional - sua procedência “exótica”.

Loira é alma do negócioO aparecimento das cervejas russas Arsenal e Baltika-7 nos mercados de Santiago, Brasília e Cidade do México recebeu um respaldo publi-citário de peso, ao serem as-sociadas a lindas loiras e olhos azuis, tipicamente russas.Entre os contratempos que a companhia enfrenta, Volgu-cheva destaca a distância, o longo processo de certifi cação

e as difi culdades burocráticas para obtenção de documen-tos. Sobre as peculiaridades dos mercados locais, ela acres-centa ainda o alto grau de mo-nopolização. Como resultado, a produção de Baltika se en-contra atualmente na catego-ria Premium, o que pressupõe um valor bastante elevado para fabricação. No mercado mexicano uma garrafa de Baltika deveria custar cerca de 30 pesos novos mexicanos (aproxima-damente R$ 4). Na prática, uma garrafa da linha Pre-mium sai para os consumi-dores locais pelo dobro do preço. Em 21 anos de existência, a Baltika tornou-se uma das três maiores cervejarias da Rússia. “Um dos objetivos es-tratégicos da companhia é transformar a Baltika em líder mundial no segmento”, resume o diretor de expor-tação Dmítri Kistiev.

Cervejaria russa descobre a América Latina

Procedência exótica e propaganda impulsionam vendas

ANNA PROTSENKOESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

país, a Baltika apostou na ex-pansão das vendas em novos e promissores mercados. No outono de 2008, a empre-sa anunciou o início da ex-portação para Guatemala e Uruguai. Depois disso, os li-mites continuaram a se ex-pandir: Honduras, El Salva-dor, Haiti, Cuba, Panamá, Costa Rica e Chile, entre ou-tros. Em agosto, fez exata-mente um ano que a Baltika foi ofi cialmente introduzida nos principais mercados da região, México e Brasil.O volume de vendas na re-gião superou a marca dos dois milhões de litros de cerveja em 2010. Só no México foram 40 mil litros em um ano. “Quatro anos atrás, a parti-cipação da América Latina no volume geral de vendas do continente americano não su-perava os 5%. Ele já ultrapas-sou os 50%, levando em conta os resultados de 2010, o que nos permite avaliar esse mer-

témiev, o presidente da em-presa, notou que a produção da Baltika quase não tinha representação na América Latina. Naquele momento, de fato, só haviam sido realiza-dos alguns testes de expor-tação, com os primeiros 15 mil litros da cerveja russa

enviados ao México em 2007.Em 2009, o mercado russo de cerveja demonstrou uma inesperada queda de 8,3%, pela primeira vez desde 1998, após 11 anos de crescimento ininterrupto. Em condições nada fáceis em seu próprio

No segmento de veículos de médio porte, a empresa bra-sileira terá de concorrer com os sul-coreanos Hyundai e os russos Paz e Kavz, construí-dos pela nacional “Ônibus da Rússia”. Nos primeiros anos pós-sovi-éticos, a Paz (cuja sigla, em português, signifi ca “fábrica de automóveis de Pavlovsk”) detinha o monopólio desse mercado. Seus ônibus, em ver-são atualizada, continuam a ser usados extensivamente ainda hoje em algumas regi-

ões da Rússia. Essa versão do Paz não difere muito do pro-tótipo brasileiro da Marcopo-lo, chamado de “Real”, nem dos modelos Hyundai. “O fator decisivo na luta pelo mercado será o preço”, acre-dita o analista da empresa de investimento Globus Nikolai Módin. O ônibus mais barato no momento é o Paz, avalia-do em cerca de um milhão de rublos (cerca de R$ 56 mil). O preço do Hyundai County chega a R$ 84 mil. “A Kamaz tem que se norte-ar por um preço acima do mais baixo, porque é praticamente

impossível construir um ôni-bus mais barato do que o Paz clássico do período soviético”, assinala Módin.

MercadoNem Kamaz, nem Marcopo-lo adiantam o preço de seu produto. Serguêi Kogóguin posiciona o novo ônibus no segmento premium, mas al-guns especialistas questionam a classifi cação. “O mercado para veículos desse tipo não é muito grande. Além disso, o arranjo interior anunciado, prevendo lugares de pé, difi -cilmente corresponde aos cri-

térios da classe premium”, sa-lienta o analista da empresa Finam Aleksêi Zakharov. O modelo também poderia gerar maior interesse em em-presas especializadas em transporte urbano. “Esse tipo de transporte tem maior de-manda”, afi rma o analista da empresa Investkafe Kirill Márkin.“Moscou está desenvolvendo sua infraestrutura de trans-portes, disponibilizando fai-xas especiais de trânsito para os veículos de transporte co-letivo e buscando soluções para a diminuição de conges-

Segunda tentativa da Marcopolo mira renovação da frota russa

Joint venture terá concorrência de russos e coreanos

CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

R$ 56 mil é o preço do Paz, concorrente mais barato do projeto.

70% do parque automo-bilístico coletivo rus-so está defasado.

3 mil unidadesé a meta de ônibus comercializados da Marcopolo em 2016.

NÚMEROS

tionamentos. Tudo isso impli-ca a ampliação do parque de veículos com capacidade de serem integrados ao serviço público”, completa. Segundo o Ministério dos Transportes da Rússia, a taxa de depreciação do parque de veículos do transporte coleti-vo em posse das empresas é superior a 70%. Se a Kamaz e a Marcopolo conseguirem se enquadrar no processo de modernização desse setor, sua joint venture saberá provar, já num futuro próximo, sua competitivida-de e lucratividade.

CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

Idade é barreira para emprego?DOIS TERÇOS DOS ENTREVISTADOS

DIZEM TER SIDO VÍTIMAS DE

DISCRIMINAÇÃO POR IDADE AO

PROCURAR UM EMPREGO NA

RÚSSIA, SEGUNDO ENQUETE ON-

LINE DO PERIÓDICO KOMMERSANT

DÊNGUI QUE DUROU UMA SEMANA,

EM AGOSTO DESTE ANO. MAIS DE

2 MIL LEITORES PARTICIPARAM.

PESQUISA

Em outra enquete, do site E-

executive.ru, 87% dos res-

pondentes entre 30 e 35 anos

afirmaram nunca ter sofrido

nenhum tipo de discriminação

por idade. O número caiu para

23% quando se tratava de pes-

soas com mais de 50 anos –

desses, 41% dizem ter sofrido

“algumas” situações discrimi-

natórias e 36% afirmaram que

a discriminação é um aconteci-

mento “bastante frequente”.

Há quatro anos a

participação latino-

americana no total de

vendas para as Américas era

de 5%. Atualmente, está em

50%.

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NIYAZ KARIM

Page 6: Gazeta_Russa_september

GAZETA RUSSAWWW.GAZETARUSSA.COM.BREspecial

HEIDI BEHAGAZETA RUSSA

Vacas solitárias, kolkhózi

arruinadas e campos

abandonados estão sendo

substituídos por

investimentos milionários.

Campo fértil para crescimento

DEPOIS DE CRISE DOS ANOS 1990, SETOR

VIVE RETOMADA DE INVESTIMENTOS

AGRONEGÓCIO

Entre guerras e kolkhózi, a agricultura russa desde 1900

Pastagens, campos de giras-sóis e grãos prontos para a co-lheita margeiam uma esbu-racada estrada no sudoeste da Rússia, a 100 quilômetros de Kursk. Uma solitária vaca branca e preta pasta junto à estrada, pela qual os agricul-tores Klaus John e Serguêi Ia-rovôi estão a caminho da fa-zenda onde trabalham, pertencente à empresa Prodimex.John aponta para o animal e diz: “Essa é a imagem da in-dústria de laticínios na Rús-sia.” A observação pode soar como brincadeira, mas não está longe da realidade. Mui-tos russos produzem leite para o próprio consumo, e também plantam verduras e batatas em suas datchas (casas de campo).Mais da metade da carne bo-vina da Rússia é proveniente de abatedouros privados, e mais de 90% das batatas são cultivadas nos jardins das casas.Nos vilarejos, as crianças dia-riamente reúnem as vacas antes de levar o rebanho para o pasto. “Como Pedro, o me-nino pastor, que caminha com as cabras pelos Alpes. Parece

uma cena idílica, mas isso não alimenta um país de 147 mi-lhões de pessoas”, explica John.

Crédito x subsídiosA Rússia precisa importar um milhão de toneladas de carne suína só dos Estados Unidos a cada ano. Por isso, a autossufi ciência no setor foi instituída como um dos pontos principais dos Princípios de Segurança Ali-

mentar do Estado. Segundo foi estabelecido, até 2020 85% da carne e 90% do leite devem ser produzidos internamente. Isso signifi ca um aumento de 20% da produção local. O auxílio do governo vem na forma de créditos a baixo custo – sobretudo para man-ter os animais. Antes, cerca de 7 bilhões de euros saíam dos cofres de Moscou com des-tino ao setor agrário, número signifi cativamente menor do que os valores observados na União Europeia. O bloco dis-tribui 100 bilhões de euros aos agricultores anualmente. Mas, segundo John, “na Rússia, já se pode produzir a preços de mercado mundial”.

O país é atualmente um dos maiores importadores agríco-las do mundo. Embora os pas-tos russos sejam povoados por 11 milhões de vacas, o cená-rio ainda está distante dos 42 milhões de vacas leiteiras quando do colapso da União Soviética.A importação de leite, soja e carne bovina ainda devem se estender por um longo perío-do. Mas a Rússia pretende se tornar capaz de suprir a de-manda interna de carne de porco em dez anos. Essa pro-dução aumentou 8,6% nos úl-timos anos, enquanto a de aves subiu 10%.Os grãos e a canola já produ-zem excedentes que são ex-portados. Em 2008, foram co-lhidas 108 mi lhões de toneladas de grãos. Embora em 2010 a colheita tenha caído para 60 milhões de toneladas devido à seca e aos incêndios, uma boa colheita é novamen-te esperada para 2011. Em comparação, a Alemanha pro-duz cerca de 45 milhões de t o n e l a d a s d e g r ã o s anualmente.

Valorização de 400%Quem investe atualmente no setor agrário russo espera uma grande valorização do mercado. Em julho, um grupo tcheco-holandês comprou a empresa RAV Agro-Pro, que detém 160 mil hectares na re-gião econômica de Tcherno-ziômni (em português, “de

A plantação de chá mais setentrional do mundo, em Krasnodar, na Rússia

Aos poucos o setor agrícola se profissionaliza, mas ainda há sérios desafios a superar

Meta para 2020 é que 90% do leite seja produzido no país

terra negra”), um dos tipos de solo mais férteis do mundo. O grupo acredita em uma valo-rização de 400% nos próxi-mos anos. Há investimentos em empre-sas novas e já instaladas. Em 2008, cinco produtores ale-mães de sementes se uniram para formar a Aliança Alemã de Sementes, focada na Rús-sia. No entanto, grande parte das zonas rurais da Rússia ainda não é aproveitada. “A maioria das empresas é ine-fi ciente. A área de Tchernozi-

ômni poderia gerar um adi-cional de 40% ou mais à produção atual”, afirma o agricultor Serguêi Iarovôi. Os sinais de que o potencial é enorme estão por todos os lados. Não é raro que ele e John, ao se embrenhar pelas fazendas, encontrem farta produção mesmo nas áreas onde caminhões de pesticida deixaram de pulverizar a plantação. No horário do al-moço, a ceifeira, instrumento de colheita, permanece imó-vel por horas. Além de só co-

Por volta de 1900 a Rússia era

o maior exportador de grãos

do mundo. Quase um terço da

exportação mundial provinha

do Império Russo. A Primeira

Guerra Mundial, a revolução e

anos de guerra civil levaram à

queda do contingente popu-

lacional dos campos e a gran-

des interrupções na produção

agrícola.

Foi somente na segunda me-

tade dos anos 20 do século

passado que as safras come-

çaram a render novamente.

Em 1929, Stálin decidiu cole-

tivizar todo o setor agrário.

Muitos agricultores, contudo,

preferiram abater seus cava-

los, vacas e porcos a entregá-

los para os kolkhózi (“fazen-

das coletivas”) que estavam

em formação por todos os

cantos. Isso gerou uma nova

interrupção na produção ru-

ral, sobretudo na produção

pecuária.

Em 1940, com o aumento do

uso de máquinas, a produção

de grão novamente atingiu os

níveis pré-crise. Porém, a Se-

gunda Guerra Mundial cortou

a produção de carne e grãos

pela metade.

lher, em média, metade da produção, o custo para adqui-rir uma colheitadeira é con-sideravelmente maior na Fe-deração Russa quando comparado à Europa Central. Esse tipo de perda de produ-tividade faz diferença. Mas ainda assim o negócio conti-nua a valer a pena.

IneficiênciaOutra razão para a inefi ciên-cia é a estrutura do agrone-gócio. As plantações de agri-cultores autossufi cientes são muito pequenas, enquanto os conglomerados agrícolas exis-tentes são muito grandes. Para um conjunto de empre-sas com campos tão vastos quanto cidades inteiras da Alemanha, é difícil controlar cada divisão ou gerenciar grandes variações de receita. Além do mais, as sociedades anônimas distribuem seus ga-nhos entre os acionistas. Logo, não existe uma reserva para as épocas de difi culdade. Isso fi cou claro com a crise fi -nanceira de 2008 e suas re-percussões. Alguns conglome-rados não puderam pagar salários durante meses. É por isso que especialistas agríco-las sugerem a estabilização a partir da camada mais baixa. A ideia é que pequenos agri-cultores constituam empresas familiares de médio porte e c o m e r c i a l i z e m s e u s produtos.

Mão de obraMuitos pais, porém, como Olga Iuiúkina, não veem o futuro dos fi lhos na plantação. O fi lho de Iuiúkina cresceu em meio a tratores, feno e vacas. Agora ele irá para a cidade estudar. “Ele deve virar um adminis-trador”, diz a mãe.Já os agrônomos de grandes empresas se queixam da idade avançada dos trabalhadores rurais. “Não conseguimos en-

No início dos anos 80, a

União Soviética era a maior

produtora de trigo, centeio,

cevada e algodão do mundo,

com os kolkhózi e sovkhózi

(“fazendas soviéticas”) sob

comando do Estado.

Depois da queda da União So-

viética, esse tipo de produção

entrou em colapso. Em 1998,

a Rússia produziu apenas me-

tade da quantidade de grãos

cultivados na década de 1990.

Só recentemente houve recu-

peração. Em 2008, primeiro

ano de fôlego, a safra foi de

108 milhões de toneladas.

milhões de dólares de recursos

estrangeiros injetados em 2010

milhões de hectares foram usados

como áreas de cultivo em 2010

milhões de toneladas de grãos foi

a safra de 2008. Seca diminuiu

para 60 milhões a safra de 2010.

Nesse ano a criação de aves

aumentou 10% em comparação

ao ano anterior.

446

77,9

108

2010

NÚMEROS

contrar um número sufi cien-te de pessoas que sejam qua-lifi cadas e possam trabalhar com as tecnologias mais novas”, diz o agrônomo Alek-sandr Musnik, que trabalha em uma empresa de agrone-gócios perto de Kursk cha-mada Soldatskaia. Depois dos estudos, poucos querem vol-tar à terra natal. “Não existem nem salas de cinema e só uns poucos res-taurantes, e todos os nossos amigos vivem na cidade”, ex-plica Serguêi Iarovôi, que é graduado. Ele trabalha na ci-dade de Voronej e só volta para a cidade natal aos fi ns de se-mana. Mesmo os profi ssionais formados em universidades agrárias não se sentem ten-tados a deixar as cidades e seguir para o campo em bus-cade salários mais altos. Aque-les que vivem em vilarejos são depreciativamente chamados de caipiras. Por isso, a busca por profi s-sionais qualifi cados tem ul-trapassado fronteiras. “Sair do país não é algo que com-pense fi nanceiramente para os russos bem instruídos”, diz John. Por outro lado, é inte-ressante para os estrangeiros trabalhar na Rússia, e não apenas pelo dinheiro. “Vim porque considero a vida mais emocionante aqui”, diz o sueco Torbjörn Karlsson.Ele não é o único. À noite, pro-fi ssionais agrícolas da Alema-nha, África do Sul e Suíça se encontram para tomar cerve-ja depois do trabalho em Vo-ronej, onde estão localizadas suas empresas. Falam do preço de grãos, níveis de umi-dade do solo e experiências turbulentas com a polícia russa. Todos trabalham para diferentes conglomerados, mas, ainda assim, a concor-rência não é grande. Por en-quanto, as terras e os lucros bastam para todos.

Na pecuária, o declínio foi

ainda mais drástico. Em mui-

tos lugares, empresas intei-

ras tiveram que abater o gado

para gerar lucro rápido.

O setor ainda não se recupe-

rou. Hoje, existem apenas 11

milhões de vacas nos cam-

pos do país, isto é, 31 milhões

a menos do que na década

de 80.

O agronegócio emprega 10%

da população atualmente. A

receita gerada pelo setor em

2009 chegou a 1,53 bilhões

de rublos (o equivalente a R$

85,68 milhões).

A notícia de que o piloto Bruno Senna, sobrinho de Ayrton Senna, seria parcei-ro do piloto russo Vitáli Pe-trov foi anunciada às vés-peras da 12ª etapa do campeonato de Fórmula 1, o G r a n d e P r ê m io d a Bélgica. Em um comunicado ofi cial, a Lotus Renault confi rmou que Bruno, piloto de testes da equipe e candidato a nova estrela do automobilismo brasileiro, iria substituir Nick Heidfeld no posto de piloto titular. Sempre sor-ridente, o paulistano Bruno terá que trabalhar duro na disputa com pilotos inter-nacionalmente reconheci-dos, mas já deu uma mostra do que é capaz nas corridas do GP2 e GP2 Ásia, na ca-tegoria de juniores. Além de provar suas habi-lidades, Bruno também terá

Inaugurando parceria no GP

da Bélgica, Bruno Senna e

Vitáli Petrov chegaram no 13°

e 11° lugar, respectivamente.

que bater seu companheiro de equipe, o russo Vitáli Pe-trov, único piloto do cam-peonato a correr em um carro completamente igual ao s eu e m t e r mo s de velocidade. O primeiro teste para o so-brinho de Senna foi a prova de classifi cação no circuito de Spa-Francorchamps, onde seu tio alcançou a vi-tória cinco vezes - quatro delas como piloto mais rá-p i d o d a s e t a p a s classifi catórias.A chegada de um piloto apa-rentemente inexperiente a uma equipe tão forte como a Lotus Renault, que está disputando com a Mercedes o 4 º lugar no Campeonato de Construtores, tornou-se para muitos uma verdadei-ra surpresa. Em sua primei-ra entrevista coletiva como piloto neste ano e titular da equipe, Bruno disse ter fi -cado feliz ao receber a pro-posta e prometeu fazer o possível para conseguir um bom resultado no Grande Prêmio da Bélgica. O russo Petrov foi mais pru-

dente ao avaliar as perspec-tivas de seu parceiro brasi-leiro: “Bruno está presente em todas as reuniões, mas nos falamos pouco. É claro que nos cumprimentamos e pedimos carona um ao outro,

mas não posso dizer se ele é bom ou mau corredor. Ele é uma pessoa boa e não tem nenhuma arrogância por ter u m s o b r e n o m e t ã o famoso.”Não são só seus adversários

que sentem o peso de seu so-brenome. Bruno, mais do que todos, sente a pressão por ser sobrinho de Ayrton Senna. “Estou acostumado a lidar com isso desde o iní-cio. O nome Senna é uma

Sobrinho de Senna vira parceiro de piloto russo

Pilotos da Lotus Renault Vitáli Petrov (esq.) e Bruno Senna (dir.)

IÚRI OSSÓKINESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

razão para ter um grande orgulho, é uma grande ins-p i r a ç ã o p a r a m i m”, declarou. “A pressão e a exigência estão presentes, assim como as comparações, mas eu aprendi a administrá-las. Isso me fez um piloto mais completo. Desde que come-cei, foi importante ser inde-pendente e ter certeza de que não estava tentando ser Ayr-ton ou me comparar a ele. Sei que se for eu mesmo e bom o bastante, serei bem-sucedido como piloto”, com-pletou Bruno. No primeiro treino classifi -catório, depois de uma chuva de curta duração, o brasi-leiro conseguiu melhorar seu resultado, terminando a prova com dois décimos de segundo de vantagem sobre Petrov. Bruno fi cou feliz e, ao mesmo tempo, surpreso por ter passado ao terceiro segmento da classifi cação, dizendo que a direção da equipe não esperava vê-lo na sétima posição, à frente de seu companheiro de equipe.

“Felizmente, o carro estava bom e me ajudou. Sabia que tinha um bom desempenho no molhado e que poderia conseguir uma boa posição, mas fi quei um pouco mais nervoso com a pista secan-do. Mas tudo deu certo e o carro teve bom desempenho bem tanto no seco quanto no molhado”, disse Bruno. “Seu ponto mais fraco é a falta de prática, por isso ele precisa de mais tempo para ter confi ança para dirigir. Seus pontos fortes são san-gue frio, velocidade e uma boa relação com os enge-nheiros. Ele se adaptou fa-cilmente ao trabalho com eles e ao ambiente na equi-pe”, disse, após a corrida, Eric Beaulieu, chefe da Lotus Renault. Assim como o russo, a dire-ção da equipe acredita em Bruno, porém com cautela. Na primeira provação, no GP da Bélgica, um acidente na largada levou Senna à 13° posição. Petrov fi cou em 9°. Já no GP da Itália, Senna ultrapassou Petrov (9° e 10° lugares).

ESPORTE Promessa russa das pistas Vitáli Petrov e par brasileiro Bruno Senna correm juntos na Lotus Renault

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Page 7: Gazeta_Russa_september

GAZETA RUSSAWWW.GAZETARUSSA.COM.BR Opinião

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RÚSSIA ESPERA PORSUA EVITA PERÓN

Anna

ScherbakovaCIENTISTA POLÍTICA

Nos idos de 2006, a man-chete de um popular jor-nal russo me chamou a atenção: “Presidente Vla-

dímir Pútin se reuniu com presi-dente chileno Michel Bachelet.” O fato de que o autor deste título simplesmente não sabia que no comando do Estado chileno esta-va uma mulher diz muito sobre as posições ocupadas pelas repre-sentantes do sexo feminino na po-lítica russa.Na opinião unânime dos futuró-logos, este século será “a era das mulheres” em todas as esferas da vida. Mas as mudanças mais evi-dentes ocorrem na política.O tradicional domínio masculino nunca havia sido posto em ques-tão, sempre encarado com natu-ralidade. Talvez seja por isso que o autor da curiosa manchete tenha confundido o gênero da ex-pre-sidente do Chile. Nos últimos tempos, pode-se dizer que a representação feminina no poder mudou substancialmente. Na própria América Latina, só nos últimos 5 anos, quatro mulheres venceram as eleições e passaram a ocupar os assentos presidenciais de seus respectivos países: no Chile, a já mencionada Michelle Bachelet; na Argentina, Cristina Fernández de Kirchner; na Costa Rica, Laura Chinchilla; e no Bra-sil, Dilma Rousseff. Infelizmente, as russas não podem se orgulhar de semelhantes êxi-tos. O país continua sendo con-servador quando se trata da pre-sença feminina no âmbito da política pública e do poder. Por que na América Latina, uma re-gião que sempre foi caracteriza-da pelo machismo, as mulheres têm alcançado altos cargos do poder e na Rússia continuam no final da fila do feminismo mundial?

Essa irrevogável constatação é ainda mais surpreendente quan-do voltamos ao passado.Historicamente, tanto a Rússia como a América Latina sempre foram sociedades patriarcais, onde as mulheres ocupavam posições inferiores. No período pré-revo-lucionário do Império Russo, a de-sigualdade entre os sexos era parte da realidade. O “doméstico” era um conceito fi xo na mente dos russos, e a de-sigualdade estava presente tanto nas tradições quanto na vida cotidiana. Mulheres exemplares deviam ater-se ao espaço reservado a elas dentro de casa e raramente apa-reciam para os convidados e vi-zinhos. Quando o faziam, era pre-

ciso receber permissão prévia do marido. Uma situação semelhante tam-bém era observada na América Latina, onde os conquistadores espanhóis impunham um estilo similar de clausura – herdado, por sua vez, dos mouros que domina-ram a Península Ibérica durante séculos. As senhoras e senhoritas da nobreza só saiam de casa para ir à igreja. Em ambos os continentes, a polí-tica pública continuou sendo du-rante um longo período uma es-pécie de “clube do Bolinha”, para o qual o ingresso era vetado às mulheres. Na Rússia e na maio-ria dos países da América Lati-na, as ideias de emancipação fe-minina só foram difundidas muito tempo depois. Nesse aspecto, fi camos extrema-mente atrasados em relação à es-

clarecida e progressista Europa e aos Estados Unidos. Para nós, o movimento chegou apenas no primeiro trimestre do século passado. Na União Soviética, a ala femi-nina teria de agradecer a Lênin pelas conquistas obtidas na luta por seus direitos. As teses do líder sobre “a necessidade de todas as cozinheiras aprenderem também a conduzir o Estado” contribuí-ram para a efetiva incorporação das mulheres na vida social e, pos-t e r ior me nt e , à at iv id ade política. A preocupação com “o papel po-lítico da mulher na sociedade” re-velou-se na grande quantidade de mulheres que passaram a ocupar cargos em órgãos representativos do poder. Na Rússia, lamentavelmente, esse sistema foi deixado para trás, en-quanto na América Latina pas-sou a funcionar com plena efi ci-ência. Nesse conjunto de 14 países existem cotas legais que reservam de 20% a 40% das candidaturas para quaisquer cargos elegíveis a mulheres.Na URSS, a incorporação das mu-lheres na vida sociopolítica foi feita num modelo vertical, de cima para baixo. Entretanto, os “de-partamentos femininos” criados dentro das estruturas partidárias já existentes ainda se ocupavam de tarefas estritamente domésti-cas e triviais. No mesmo período, diversas mu-danças continuaram a tomar es-paço na América Latina. Na Ar-gentina, por exemplo, os homens foram submetidos à “rainha dos desamparados e líder dos desca-misados”, Eva Perón, que contri-buiu para o feminismo latino-americano mais que qualquer outra. Evita colocou as mulheres no mesmo patamar dos homens, con-cedendo-lhes direito ao voto. E, embora agisse pelo desejo de ga-rantir o eleitorado do marido, Juan

Perón, sua defesa aos mais neces-s i t a d o s n ã o c a i u e m esquecimento.Atualmente, uma imponente es-tátua dela decora a fachada do edifício onde funciona o ministé-rio da Saúde e do Desenvolvimen-to Social, em Buenos Aires.Ao inaugurar a escultura, a atual presidente Cristina Kirchner disse que Evita foi “não só uma fi gura política, mas também o símbolo mais expressivo das mudanças ocorridas no país”. Pode-se dizer, sem exageros, que o surgimento de Eva Perón promoveu trans-formações não somente no pró-pr io país , mas em todo o continente.Tanto a presidente Cristina, como outras mulheres que ocupam altos cargos em países da Amé-rica Latina são fi guras consoli-dadas que seguem as mesmas re-gras adotadas no universo masculino. Quem as ensinou o caminho para lidar com esse mundo foi a pequena e carismá-tica loira, que é considerada uma das mulheres mais importantes do século 20.No já iniciado “século das mulhe-res”, os políticos russos do sexo masculino apelam para o estere-ótipo conservador e patriarcal com frequência cada vez maior. A ima-gem da mulher que deve desem-penhar apenas o papel de mãe e senhora do lar ainda é muito forte na consciência da maioria dos russos. O cenário atual não contribui para uma maior integração das russas aos ambientes tradicionalmente “masculinos” da vida social. Na história da Rússia não existiu ne-nhuma Evita, e nossas mulheres fi caram às margens do panorama político.

Anna Scherbakova é pesquisado-ra colaboradora do departamento de investigações políticas do Ins-tituto Latino-Americano da Aca-demia de Ciências da Rússia.

Sem exemplo forte ou cotas nas eleições, mulheres do país ainda estão presas ao papel de mães e senhoras do lar

Stanislav

MacháguinEMPRESÁRIO

Fiódor

LukianovANALISTA POLÍTICO

O sistema global de classi-ficação de risco já não funciona mais. Durante anos, os rankings dissu-

adiram os países da excessiva to-mada de empréstimos, os levaram a reduzir programas sociais e gas-tos públicos e encorajaram os Es-tados a aumentar os impostos. O recente rebaixamento das notas de risco dos Estados Unidos pela agência Standard & Poor’s, entre-tanto, não surtiu o efeito esperado. Desde o anúncio do rebaixamento, em vez de diminuir, a demanda por títulos norte-americanos aumen-tou, enquanto a taxa de juros caiu.O maior benefi ciário dessa última mudança nas regras do jogo foram os próprios Estados Unidos. Está claro agora que o Departamento do Tesouro dos EUA pode conti-nuar pedindo quantos empréstimos quiser e imprimindo dinheiro, já que nem a classifi cação de risco, nem a legislação ou qualquer re-ceio de prejuízos dos credores im-pedirão que os players dos merca-dos globais continuem comprando dólares e títulos americanos.Em primeiro lugar, eles dependem do dólar para estimar valores e pa-gamentos. Além disso, os títulos do Tesouro norte-americano represen-tam dinheiro para as instituições fi nanceiras e para os principais pro-tagonistas do mercado – são líqui-dos, denominados em dólares e pro-porcionam juros. Concordo com a simples teoria do investidor e industrialista Warren Buffet de que a classifi cação dos EUA ainda é “AAA” e não há mo-tivo algum para alterá-la, já que os títulos do Tesouro dos Estado Unidos devem ser pagos em dóla-res americanos, e estes, por sua vez, podem ser impressos em qual-quer quantidade pelo Federal Re-

A queda de Muammar Ga-ddafi pode não ser o fi m, mas o início de uma ver-dadeira crise líbia. A mu-

dança do regime ocorreu de fato e ninguém duvidava de que o obje-tivo era justamente esse quando a Otan lançou a operação “Aurora da Odisseia”. Agora que a missão está cumprida, é tempo de fazer-mos um balanço preliminar. Para a Otan, essa foi a maior cam-panha após operações na Iugoslá-via, em 1999, e no Afeganistão, onde os combates continuam. Mesmo que Gaddafi tenha perdido o direito moral de liderar a Líbia ao usar armas contra a população civil (se-gundo versão ofi cial), por que os países da Otan, persuadidos pela França e aplaudidos por alguns pa-íses do Golfo, conferiram poderes aos rebeldes de Bengazi, abrindo um precedente emblemático de mé-todos coloniais?O esquema é simples: um grupo de países proclama uma das partes do confl ito como legítima. Em segui-da, abre linhas de ajuda fi nanceira e militar para o novo governo e lhe passa os ativos congelados. Depois procede à conclusão de contratos no setor de petróleo e outros.As grandes potências reconhece-ram o Conselho Nacional de Tran-sição (CNT) muito antes da queda de Trípoli. Agora outros países se apressam em fazer o mesmo para não serem os últimos na corrida. Enquanto isso, não são claros se-quer os princípios em que foi for-mada a nova e já universalmente aprovada estrutura governante, nem por quanto tempo ela sobre-viverá sendo tão heterogênea.Seria engraçado ver, num futuro próximo, como as companhias de petróleo das “potências vencedo-ras” - França, Grã-Bretanha e Itá-

O NOVO MODELO ECONÔMICO

INTERVENÇÃO NA LÍBIA TEM RAZÕES COLONIALISTAS

serve, o banco central do país.Existe uma incerteza quanto ao custo desses dólares, mas podemos prever o que está por vir uma vez que o valor da moeda está mudan-do rapidamente. O processo inicia-do pelos EUA levará China, Euro-pa, Rússia e outros Estados a uma corrida de desvalorização monetá-ria, caso eles queiram manter a c omp e t i t iv id ade de s u a s economias.Essa notícia é, ao mesmo tempo, boa e ruim. Boa porque o atual mo-delo fi nanceiro e econômico pode sobreviver por um longo período sem grandes reviravoltas. Ruim

lia - vão dividir o prêmio. Paris e Roma já reclamaram para suas em-presas petrolíferas uma posição de liderança na Líbia. A British Pe-troleum (BP) também pretende rei-vindicar seu quinhão. Os países do grupo Brics que se abstiveram na votação da Resolu-ção do Conselho de Segurança, não têm nenhuma chance, como já de-clararam as novas autoridades lí-bias, o que é completamente lógi-co. Os objetivos humanitários inicialmente proclamados poderão ser esquecidos em discussões sobre o negócio do petróleo.A queda do ditador odioso será a grande conquista no currículo de Nicolas Sarkozy, David Cameron,

Anders Fogh Rasmussen e Barack Obama. O motivo de especial or-gulho da Europa é ter carregado quase sozinha o fardo da operação, deixando os EUA na sombra. E o que dizer da posição da Rússia em relação à Líbia? Em última aná-lise, Moscou fi cou sem nada. Não usou seu único recurso, o poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, nem se pôs ao lado dos opo-sitores da tirania. Quem abdica de seus princípios em uma coisa, não pode esperar vê-los observados em outra. Todavia, a julgar pela lógica da atual política externa da Rússia, voltada para a minimização de pre-juízos e o impedimento de confl itos, na medida do possível, a decisão do país foi completamente lógica.

Fiódor Lukianov é redator-chefe da revista “Russia in Global Affairs”

Descrédito das agências de risco, disputas cambiais e relações de consumo sustentáveis pedem novas respostas

Parte escolhida recebeu apoio financeiro e militar e agora concede exploração de petróleo a seus colaboradores

porque você e eu teremos que pagar por essa estagnação. Ao desvalori-zar sua moeda, os Estados gradu-almente diminuem os rendimentos reais (obtidos após desconto da in-fl ação), prejudicando todos – prin-cipalmente os mais pobres.Pode ser válida qualquer ideia para mudar a infraestrutura do mundo das fi nanças – tal como a criação de um “banco central dos bancos centrais” ou a substituição do dólar como moeda universal pelo ouro ou por um conjunto de cinco moe-das principais. Mas todas essas pro-postas são utópicas, não só devido à resistência da elite norte-ameri-

cana, mas também pelas posições desiguais de outros países importantes. Recentemente, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, disse que tempos difíceis da eco-nomia mundial estão por vir. “O mundo está passando por uma mu-dança do sistema fi nanceiro inter-nacional, com países como a China vindo à tona”, afi rmou. Embora a China não tenha tanta importância isoladamente, ela e os Estados Unidos são dois lados da mesma moeda: ou ambos afunda-rão ou sairão juntos da crise. E a China ainda tem uma margem de

segurança: está, fi nalmente, levan-tando restrições à titularidade de suas dívidas para investidores es-trangeiros por meio de Hong Kong e parece afrouxar a ligação entre o yuan e o dólar americano. Isso pode oferecer aos players mundiais uma medida de valor alternativa e um instrumento de poupança antes do fi m deste ano. Mas o mais importante é que os economistas e conselheiros de todos os países olhem para as causas da turbulência econômica no mundo todo.O conceito moderno de desenvol-vimento econômico e de progresso científi co e tecnológico se esgotou. Não há mais necessidade de criar nada novo, e quanto mais se con-some determinado produto, menos importante ele se torna e mais ba-rato fi ca. Enquanto não formos capazes de desenvolver um novo modelo de de-senvolvimento, não haverá cresci-mento legítimo. O surgimento de novas ideias e a criação de uma nova economia são possíveis em algu-mas áreas, como a medicina, a eco-logia e a exploração espacial. En-tretanto, é preciso fazer com que elas se tornem interessantes e, assim, estimulem o envolvimento das pessoas. O economista Mikhail Kházin diz que a situação atual “condena as pessoas mais ativas e impetuosas a um cenário bastante desolador. Cada vez mais, a mente das pesso-as é infi ltrada pela ideia de que não existe espaço para elas nessa realidade”. Para o mundo continuar se desen-volvendo economicamente, é neces-sário mudar a sociedade, criando novos valores e motivações que, por si só, forneçam a base para o cres-cimento econômico.

Stanislav Machágin é vice-diretor geral da consultoria de investi-mentos Ursa-Capital.

NIY

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KA

RIM

Page 8: Gazeta_Russa_september

GAZETA RUSSAWWW.GAZETARUSSA.COM.BREm Foco

RECEITA

Conserve o verão em uma compota

Em uma datcha (casa de

campo), cada um faz seu pa-

pel. Os homens se levantam

cedo para consertar as coi-

sas: martelam, serram e pin-

tam, despertando a ira dos

vizinhos que ainda dormem.

As mulheres cuidam do jar-

dim, preparam as refeições e

arrumam a casa.

Já os mais velhos, quan-

do não estão sentados lem-

brando de quão melhor era

o passado, caminham len-

tamente pelo território com

uma cesta, colhendo qual-

quer fruta que possa ser en-

latada e conservada para o

inverno.

A conservação de alimentos

em compotas e geleias de

frutas (varênie, em russo) é

uma obsessão nacional. Nas

regiões mais pobres, trata-

se de uma questão de eco-

nomia. Mas até nas datchas

mais suntuosas as florestas

estão cheias de apanhadores

de frutas.

Em um país que já presen-

ciou a fome por diversas vezes,

sempre vale a pena pensar no

futuro, especialmente quando

o clima é quente e a comida,

abundante.

Frutas como framboesa, mo-

rango e amoras são geral-

mente as mais usadas, mas

pode-se fazer varênie de pra-

ticamente tudo: de ameixas e

maçãs a cascas de melancia e

pétalas de rosa. Elas contêm

pedaços das frutas das quais

foram feitas e são conservadas

à base de açúcar.

Assim como diversos pratos

russos, o varênie é conhecido

por suas propriedades medici-

nais – netinhos com febre cos-

tumam tomar chá com varênie

de framboesa, pois suas avós

acreditam que isso os faça su-

ar e se curar da doença. Doen-

te ou não, aproveite!

Irákli

IosebashviliGOURMAND

Ingredientes:

• 2 kg de framboesas frescas recém-colhidas (podem ser compradas no supermercado também)• 1,3 kg de açúcar• Diversos potes de vidro, es-terilizados em água fervente (as tampas também devem ser esterilizadas)Modo de preparo:

Lave as framboesas.Em uma tigela, faça várias ca-madas de framboesa e açúcar e deixe a mistura descansar até que as frutas comecem a produzir suco. Isso pode levar de 4 a 8 horas, dependendo da temperatura do ambiente

(quanto mais alta for, mais rápi-do será o processo). Coloque a mistura em fogo baixo e aqueça até dissolver o açúcar; em segui-da, aumente o fogo e deixe fer-ver por mais 1 ou 2 minutos.Deixe esfriar e depois transfira a mistura para os potes. Certifi-que-se de que não há mais va-por sendo liberado. É também importante que o interior dos potes esteja completamente se-co, pois a umidade poderá pro-duzir mofo. Feche os potes e coloque-os em uma panela de água fervente por 10 minutos.Quando estiverem frios, armaze-ne os potes em um lugar escu-ro e seco.

Para

anunciar

aqui

[email protected]

Tel.: +7 (495) 775 3114

Re

ce

ba

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eta Russa pela internet

www.gazetarussa.com.br/assine

CALENDÁRIO CULTURALE EMPRESARIAL

COLÉGIO FRANCISCANO SÃO MIGUEL ARCANJO (SÁB.) E NA RUA TOBAIARAS (DOM.), SÃO PAULOAniversário do bairro de tra-

dições do Leste europeu terá

concertos, show com artistas

da filial do Bolshoi no Brasil,

comida típica e artesanto, en-

tre outros.

www.grupovolga.com.br ›

PHARMTECH 2011 -

TECNOLOGIAS PARA A

INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

DE 22 A 25 DE NOVEMBRO, CROCUS EXPO INTERNATIONAL CENTER, MOSCOUEm sua 13° edição, a feira atrai

especialistas de diversos ramos

da indústria farmacêutica. No

ano passado, o evento contou

com público de 8 mil visitantes

e expositores de mais de 20

países. O fórum promovido du-

rante a feira, de 22 a 24 de no-

vembro, reúne produtores de

matérias-primas, embalagens e

equipamentos.

› www.pharmtech-expo.ru

TARDE DE AUTÓGRAFOS

COM PAULO BEZERRA

6 DE OUTUBRO, 19H30, NA LIVRARIA DA VILA, SÃO PAULOJá bem conhecido dos leito-

res de Dostiévski, o tradutor

Paulo Bezerra tem encontro

marcado com o público para

o lançamento do mais novo

trabalho, “O duplo”.

É a primeira tradução direta

do russo de uma das obras

mais significativas do escri-

tor do século 19.

www.livrariadavila.com.br ›

RIDÍCULOS AINDA

E SEMPRE

ATÉ 23 DE NOVEMBRO, SÁB., 21H E DOM., 20H, NO ESPAÇO PARLAPATÕES, SÃO PAULOAdaptação da obra do sur-

realista russo Daniil Kharms

traduzida por Tatiana Be-

linky, conta história de cin-

co pessoas que vivem situ-

ações aparentemente sem

conexão.

www2.uol.com.br/parlapatoes ›

FESTA DE ANIVERSÁRIO

DA VILA ZELINA

DE 29 A 30 DE OUTUBRO, SÁB., ÀS 19H E DOM., DAS 10 ÀS 21H, NO

CONFIRA

CALENDÁRIO COMPLETO EM: www.gazetarussa.com.br

Sábado, meia-noite. Uma tí-pica madrugada de junho em frente à luxuosa casa notur-na Rai (em português, “para-íso”), instalada no antigo ter-reno da lendária fábrica de chocolate Krásni Oktiabr. À beira do rio Moscou, aparece uma carreata de BMWs de alta cilindrada e Ladas em péssi-mas condições. Modelos sobre saltos altíssimos, muitas das quais recém formadas no co-légio, desfi lam em direção à maior boate de Moscou. Na porta, Vladímir, o leão de chácara responsável pelo fa-migerado “face control” (o controle dos frequentadores de acordo com a beleza, a ves-timenta ou a carteira), barra uma garota. “Onde você quer ir?”, pergunta. “Eu e minha amiga temos que entrar na área VIP”, diz, segura de si e com a cabeça erguida. “Vocês podem ir, mas desde que te-nham reservado uma mesa”. No dia anterior, o namorado da moça pagou o equivalente a R$ 3 mil pela reserva. Assim, ela tem permissão para en-trar, junto com a amiga e sua minúscula saia de oncinha e salto alto. As casas noturnas faturam entre R$ 460 e R$ 11,6 mil por pessoa com reservas de mesas em áreas VIP.

Domingo, 4h38Amanhece. Em frente à Rai, clientes negociam o preço da corrida com taxistas ilegais, enquanto na Rooftop a festa ainda está para começar. A locação é semelhante: uma fábrica abandonada à mar-gem do rio Moscou. Porém, lá dentro reina um ambiente completamente diferente. Em vez do “face control” existem listas de presença. No lugar do estilo kitsch clássico, os fre-quentadores se deparam com velhos muros de tijolo. Quan-to à música, são batidas arranhadas. Os clientes são, em média,

Vida noturna Extravagantes e exclusivas ou jovens e descoladas, baladas da capital atendem a todos

Salto alto, álcool, pouca

roupa e um improvável

controle de entrada. Boates

de Moscou escancaram a

face consumista do país.

ALEXEI KNELZGAZETA RUSSA

Funcionando desde 1997, é

um restaurante durante o dia

e, a partir das 23h, sem as

mesas, vira uma pista onde

se dança até cair todas as

noites. O controle na entrada

é imparcial e o preço das

bebidas, acessível.

Localizado perto do Rai, tem

público completamente dife-

rente – jovem e descolado – e

shows quase todas as sextas-

feiras. As paredes escuras são

forradas de capas da revis-

ta que dá nome ao local. Uma

atração são as garotas dançan-

do sobre o balcão do bar.

À margem do rio Moscou, a

balada tem excelente música

e público descontraído. A pis-

ta fica aberta até tarde e os

preços são bem salgados (um

coquetel não sai por menos

de R$ 35). Quem já virou os

bolsos do avesso ganha um

bis gratuito do barman.

CLUBE: ROOFTOP

MÚSICA: MINIMAL TECHNO

CLUBE: ROLLING STONE BAR

MÚSICA: DEPENDE DA FESTA

CLUBE: PROPAGANDA

MÚSICA: FESTAS DIVERSAS

No reduto dos modernos, jo-

vens de 18 a 22 anos revivem

toda a cena do século 20, de

músicas manjadas a hard tech-

no, e o público se diverte co-

mo se não houvesse amanhã.

Glamour e brilho proibidos.

CLUBE: SOLIANKA

MÚSICA: DE NEW WAVE A

HARD TECHNO/SCHRANZ

Instalada em uma antiga fá-

brica de latas, é a casa notur-

na mais europeia de Moscou,

com entrada paga e face con-

trol. Os djs de techno Marco

Carola (Itália) e Ricardo Villa-

lobos (Chile) são habitués nas

pickups, e o prédio vibra com

o sistema Funktion-One.

CLUBE: ARMA 17

MÚSICA: HOUSE, TECHNO

A casa faz jus ao estereótipo

da vida noturna de Moscou:

riquinhos, loiras oxigenadas e

caviar negro ao som de euro-

house. O face control é seve-

ro: se você não parecer rico,

esqueça! Um copo de vodca

custa o equivalente a R$ 46.

CLUBE: SOHO ROOMS

MÚSICA: HOUSE-POP

cerca de dez anos mais velhos que os frequentadores da Rai. A maior parte tem mais de 30 anos. As mulheres são mais

elegantes: saias de oncinha e saltos exagerados são raros. A vodca com Red Bull custa o equivalente a R$ 30, e hoje é dia da dupla alemã de tech-no Pan-Pot comandar a pista. Um pouco antes das cinco, o dj Tassilo Ippenberger se po-siciona diante das pickups. A multidão toda suspira e acompanha a batida minima-lista. É a segunda vez que Tas-

Nos primeiros clubes era comum que anjas ou tigresas dançassem em gaiolas sobre a pista

do público deixou de frequen-

tar casas noturnas de Moscou

devido ao aumento dos preços

na entrada e das bebidas, se-

gundo dados comparativos de

2007 e 2010.

dos moscovitas vão para a ba-

lada na capital mais de uma

vez por semana, enquanto 17%

não saem nunca ou muito ra-

ramente.

5%

8%

NÚMEROS

DJs que ditam as paradas de sucesso, ícones

da cultura, personalidades da vida pública,

jovens em busca de diversão.

A cena noturna russa está sempre cheia de

novidades e os clubes são o retrato dessa

nova vida, que mescla tendências ocidentais

e regionais. Analisada sob a ótica dos clubes,

entretanto, a sociedade atual pouco ou nada

lembra a soviética e seus costumes,

que há 20 anos caíam para dar espaço

ao novo Estado russo.

Dos excessos de luxo de novos ricos que

acumularam grandes fortunas com as

privatizações à falta de pretensões de uma

juventude que só quer ser feliz, uma palavra

define esse cenário: reinvenção.

A Gazeta Russa relata uma viagem cheia de

surpresas pelas baladas de Moscou.

Mil e uma noites, versão Moscou

Varenie de Framboesa

silo toca nessa noite. “A cena techno russa é relativamente nova, mas está se desenvol-vendo rapidamente. Moscou e São Petersburgo estão na moda!”, diz ele. No fi m dos anos 1990, foram inaugurados os primeiros me-gaclubes nos moldes das bo-ates ocidentais. A clientela consumista e ávida por vida noturna não deixava escapar nenhuma oportunidade de se divertir. Dançar até o fi m da manhã era moda, todas as festas de médio porte contavam com a presença de dançarinas e MCs (mestres de cerimônia). O pú-blico era constantemente sur-preendido por anjos glamou-rosos ou tigresas dançando em gaiolas sobre a pista. Estabilidade era um conceito desconhecido pela cena na

época. Clubes brotavam como cogumelos e fechavam um ou dois anos depois. Alguns aca-baram até em chamas: no iní-cio de 2008, um incêndio tomou conta do Diáguilev, uma espécie de Studio 54 de Moscou que abriu como l’Opera dois anos depois.Hoje, as festas perderam um pouco da extravagância. O de-sejo de exagerar a qualquer custo quase não existe mais, e as pessoas preferem curtir a noite de forma discreta. Em vez de seguirem as pro-postas dos clubes, agora são os clientes que ditam as re-gras. Por meio de redes sociais e meios informativos, selecio-nam as festas que desejam fre-quentar a cada noite. “Antes as festas eram mais coloridas, extremas e impensadas”, re-fl ete Andrêi Sailer, produtor musical do Solianka.Nome tirado de uma sopa re-gional, Solianka signifi ca exa-tamente o que os brasileiros costumam chamar de “sala-da russa”: uma mistura im-provável de diferentes elemen-tos. “Como já se subentende pelo nome Solianka, somos exatamente como a sopa russa, para onde acaba indo tudo que se encontra na despensa”, brinca Andrêi. O clube, que atualmente tra-duz as novas tendências entre os jovens formadores de opi-nião e o público descolado, continua aberto mesmo depois de um ano de existência por-que, enquanto outros lugares exageram nos preços, no So-lianka prevalece outro prin-cípio. “A coisa mais importan-te é a música, e é com ela que queremos atrair um público legal”, explica Sailer. O que o Solianka quer é trazer gente inteligente e bem-humorada, e a moda é um fator à parte.A meta dos proprietários, a longo prazo, não é modesta. “Queremos reconhecimento em nível internacional”, afi r-mam. Para eles, o Rai e ou-tros paraísos da noite mosco-vita não são uma competição no mesmo patamar: “Para eles só interessa dinheiro e pouca roupa. Aqui estamos preocu-pados com quem busca coisas diferentes.”

PROGRAMA

VOZ DA RÚSSIA

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