Genealogia-Genética Uma breve introdução Por Aaron Salles Torres*

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  • 7/24/2019 Genealogia-Gentica Uma breve introduo Por Aaron Salles Torres*

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    Guia Prtico de Genealogia Gentica

    Uma breve introduoPor Aaron Salles Torres*

    *Aaron Salles Torres diplomado em Cinema, Vdeo e

    Novas Mdias pela School of the Art Institute of Chicago epossui um MBA com nfase em Marketing pela LoyolaUniversity Chicago. escritor, cineasta, e um dos pioneirosentusiastas da Genealogia Gentica no Brasil. Administra os

    seguintes projetos genticos na Family Tree DNA:I2b1/M223, I1 Ibrico e R1b1a2 Ibrico, alm de vrios

    projetos genealgicos, incluindo os das famlias Braga, Costa,Fernandes, Ferreira, Freitas, Gomes, Gonzalez, Martinez,

    Mendes, Oliveira, Pires, Ribeiro, Rocha, Rodrigues, Salles,Silveira, Souza e Torres.

    Que genealogista nunca encontrou um obstculo aparentemente intransponvel

    na pesquisa de uma linha de sua famlia, um mistrio que a pesquisa documental

    continua a deixar insolvel? A mesma curiosidade que leva o genealogista a se

    debruar sobre montanha aps montanha de documentos antigos para organizar o

    quebra-cabeas de sua histria familiar, essa curiosidade existencial tambm o leva a

    buscar novas formas de conquistar as maiores barreiras a sua pesquisa. Assim nasceu

    a Genealogia Gentica, com o intuito de solucionar as mais complexas questes

    familiares utilizando-se da maior e mais duradoura das enciclopdias: o DNA.

    A Genealogia Gentica consiste da aplicao de conceitos e mtodos da

    biologia e gentica pesquisa histrico-documental praticada pela genealogia

    tradicional, complementando dados ou cobrindo lacunas documentais que, de outra

    forma, permaneceriam em aberto. O conceito bsico pode ser explicado da seguinte

    maneira: dois indivduos que possuem um ancestral em comum compartilharo

    passagens de DNA idnticas, que herdaram desse ancestral1. descoberta dessas

    passagens comuns de DNA que se dedicam as empresas que realizam os testes de

    genealogia gentica, adotando padres uniformes de forma que os resultados possam

    ser comparados entre si, em vrias plataformas. Com seus exames em mos,

    1Em seu uso prtico, entretanto, este conceito complica-se um pouco, pois quanto maior a distncia - em geraes de um ancestral comum, menor a passagem contnua de DNA herdada dele que ser preservada em seusherdeiros, como ser explicado a seguir.

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    genealogistas ento optam por se utilizar da internet para conectar suas enciclopdias

    particulares de DNA, criando uma imensa base de dados onde evidente o

    entrelaamento originado pelos ancestrais comuns dos indivduos testados. Uma coisa

    certa: documentos podem faltar, por serem perdidos ou destrudos; entretanto, a

    passagem de um indivduo pela terra sempre ser marcada pelo rastro de DNA

    deixado em seus descendentes - essa marca gentica nunca ser apagada.

    Conceitos

    Nosso DNA2possui trs componentes, distintos na forma em que so passados

    de pais para filhos, que so teis aos genealogistas: o DNA autossmico, o

    cromossomo Y (sexual) e o DNA mitocondrial.

    Uma clula humana composta de vrias estruturas, entre as quais o ncleo

    onde se concentram os 23 pares de cromossomos humanos, 22 somticos e 1 sexual

    e a mitocndria, responsvel pela respirao celular, como pode ser visto na figura aseguir:

    Figura 1 estrutura de uma clula animal tpica (Wikipdia): 1. Nuclolo; 2. Ncleocelular; 3. Ribossomos; 4. Vesculas; 5. Ergastoplasma ou Retculo endoplasmtico rugoso

    2O cido desoxirribonucleico (DNA) um composto orgnico cujas molculas contm as instrues genticasque coordenam o desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos e alguns vrus. Fonte: "cidoDesoxirribonucleico." Wikipdia, a Enciclopdia Livre. Web. 01 Mar. 2011. .

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    (RER); 6. Complexo de Golgi; 7. Microtbulos; 8. Retculo endoplasmtico liso (REL); 9.Mitocndrias; 10. Vacolo; 11. Citoplasma; 12. Lisossomas; 13. Centrolos.

    Concentrados no ncleo, os cromossomos humanos podem ser representados

    como no seguinte caritipo:

    Figura 2 caritipo com os cromossomos humanos (Wikipdia): 22 pares decromossomos somticos, em que um cromossomo de cada par herdado do pai e outro, dame (nmeros de 1 a 22); e 1 par de cromossomos sexuais (XY no caso de um indivduo do

    sexo masculino, ou XX no caso de um indivduo do sexo feminino). No caso de um homem, ocromossomo Y sempre herdado do pai. No caso de uma mulher, herda-se um cromossomoX da me e um cromossomo X do pai.

    DNA Autossmico

    O DNA autossmico refere-se aos 22 pares de cromossomos somticos

    encontrados no ncleo celular. So assim chamados porque so encontrados em igual

    nmero de cpias em indivduos do sexo masculino e feminino, e herdados em igual

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    quantidade tanto do pai, quanto da me um cromossomo em cada par recebido de

    cada um. Assim, um indivduo possui !do DNA de um pai e, teoricamente, "do

    genoma de um av, 1/8 do material gentico de um bisav, 1/16 do DNA de um

    trisav e assim consecutivamente. Entretanto, a realidade no to exata. Na

    transmisso de cromossomos somticos de pai para filho atua um dos mais

    importantes dispositivos preservao das espcies: a recombinao cromossmica.

    Durante a produo de gametas3, os cromossomos somticos so

    embaralhados, criando diversidade gentica essencial vida. O processo de

    recombinao cromossmica ocorre durante a etapa Prfase I, a mais longa da

    meiose, em que o pareamento de cromossomos homlogos permite a troca aleatria

    de material gentico entre os mesmos, criando um novo cromossomo que nico em

    sua configurao:

    3Gametas so clulas reprodutivas haplides, ou n (23 cromossomos), que se unem na fecundao para formar ozigoto, 2n (46 cromossomos).

    Figura 3 meiose(wereyouwondering.com): durantea etapa Prfase I ocorre a permuta(recombinao cromossmica).

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    necessrio notar que a permuta de material gentico entre cromossomos

    afeta no somente os cromossomos somticos, como tambm os cromossomos

    sexuais X e Y este ltimo em menores propores e somente em locais especficos,

    passagens estas que tm seu uso descartado para os fins discutidos aqui. Para o

    genealogista, a relevncia da recombinao cromossmica se torna evidente com o

    passar das geraes, como pode ser notado no quadro seguinte:

    Neste exemplo, fica claro que o filho do casal possui uma maior quantidade de

    material gentico da av materna (indivduo nmero 4) que do av materno

    (indivduo nmero 3, da esquerda para a direita), ressaltando a maneira aleatria

    Figura 4 herana de cromossomos somticos, levando-se em considerao arecombinao cromossmica.

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    como dados genticos so herdados por descendentes. Ao aplicarmos este conceito a

    um nmero maior de geraes, conclui-se que o DNA transmitido por um ancestral

    remoto pode ser perdido em um indivduo contemporneo, ou reduzido a passagens

    mnimas que so difceis de serem reconhecidas. De fato, a dificuldade de se

    identificar passagens recebidas de um ancestral distante em especfico evidencia a

    necessidade de cooperao na genealogia, pois somente atravs do cruzamento dos

    dados de diversos descendentes de um dado ancestral longnquo que se torna possvel

    estabelecer a distribuio de sua carga gentica nos dias atuais. Mtodos para a

    utilizao do DNA autossmico em genealogia sero discutidos adiante.

    Cromossomo Y

    O cromossomo Y um cromossomo responsvel pela determinao do sexo

    masculino na maioria dos mamferos, incluindo os seres humanos. Assim sendo,

    considerado um cromossomo sexual e somente pode ser transmitido de pai para filho,

    no estando presente em indivduos do sexo feminino. Por estar presente em uma

    nica cpia (o outro cromossomo sexual o X, formando XY em machos), o

    cromossomo Y limita a recombinao cromossmica com seu parceiro X a passagens

    especficas, o que significa que a maior parte de sua estrutura preservada. Assim, o

    cromossomo Y passado intacto de pai para filho. Conclui-se portanto que, a excluir

    mutaes4ocorridas em seu interior durante a produo do gameta que origina cada

    gerao seguinte, o cromossomo Y encontrado em um indivduo contemporneo ,

    em sua maior parte, o mesmo encontrado em um ancestral pela linha paterna direta

    4Mutaes so variaes na sequncia de pares de bases de um indivduo. As mutaes que ocorrem durante aformao das gametas so passadas de pais para filhos. Mutaes no so sempre negativas, pois geram maior

    diversidade gentica, o que importante sobrevivncia das espcies. Diferentes reas do DNA possuemdiferentes tendncias a mutao. A propenso de uma certa passagem do DNA a mutao constitui a taxa demutao dessa sequncia.

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    que viveu h 1.000 ou 4.000 anos. Por esse motivo, o cromossomo Y uma

    ferramenta preciosa investigao desse tipo de linha.

    Em sua aplicao Genealogia Gentica, o cromossomo Y discutido em

    termos de passagens especficas5. Por exemplo, o DYS391 um segmento do

    cromossomo Y caracterizado pela repetio do cdigo AGAT. O nmero de

    repeties pode variar de 9 a 17. Assim, quando um laboratrio de genealogia gentica

    confere o valor 9 ao DYS391 de um certo indivduo, a configurao de seu DYS391 a

    seguinte: AGATAGATAGATAGATAGATAGATAGATAGATAGAT. Caso esse

    mesmo indivduo possua um parente pela linha paterna direta que apresente o valor 10

    no DYS391, esse parente pode ter possudo uma mutao que aumentou seu nmero

    de repeties do cdigo AGAT de 9 para 10, configurando seu marcador DYS391

    assim: AGATAGATAGATAGATAGATAGATAGATAGATAGATAGAT.

    Somente a testagem de outros parentes pela linha paterna direta, ou o contraste com

    5O DNA formado por quatro bases (adenina A, citosina - C, timina T, e guanina - G), que se sucedem emcadeia e se unem a outros ingredientes para formar a dupla hlice que conhecemos. Segmentos especficos podemser reconhecidos devido repetio de cdigos. Por exemplo, um segmento pode ser caracterizado pelas bases A,C, T e G, organizadas da seguinte maneira: GATTACA , e repetidas 5 vezes, formando:GATTACAGATTACAGATTACAGATTACAGATTACA. Esse segmento (microssatlite) diferencia-se domicrossatlite anterior, que pode ser TTATTATTATTATTATTATTA e do posterior, que pode serCAGTTCAGTTCAGTTCAGTT. Uma vez que o DNA humano foi sequenciado, tornou-se possvel estabelecer alocalizao precisa desses microssatlites (Short Tandem Repeats, ou STR na sigla em ingls) em seus devidoscromossomos. Os microssatlites (STRs) do cromossomo Y recebem o termo DYS (ou DNA Y-chromosomeSegment, na sigla em ingls) e um nmero, indicando sua posio nesse cromossomo por exemplo, o DYS464.

    Tambm h microssatlites com nomes especficos, como YCAII, Y-GATA-H4 e CDY, todos no cromossomo Y.Uma vez que esses segmentos tenham recebido sua terminologia e numerao, tambm podem ser chamados demarcadores por exemplo, o marcador DYS464 tem sua posio e configurao marcada no cromossomo Y.

    Figura 5 herana do cromossomo Y: somente os descendentes masculinos pela linhapaterna direta herdam o cromossomo Y do Ancestral Comum Mais Recente (MRCA) e podemtransmiti-lo a seus descendentes.

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    outros indivduos de um grupo prximo, pode determinar qual dos dois indivduos

    apresentou a mutao desde que as linhagens deles se separaram de seu ancestral

    paterno direto mais recente (Most Recent Common Ancestor, ou MRCA na sigla em

    ingls). A comparao de dados poderia demonstrar que o valor ancestral provvel

    para o marcador DYS391 fosse 9, por exemplo, indicando que o segundo indivduo foi

    mesmo quem apresentou a mutao - criando mais uma repetio do cdigo AGAT.

    Para os fins da Genealogia Gentica, 67 marcadores so geralmente testados

    para se estabelecer, com confiana, o nmero de mutaes apresentada por cada um

    dos descendentes, assim como a distncia cronolgica entre eles e o Ancestral Comum

    Mais Recente e os provveis valores desse ancestral em todos os marcadores testados.

    Resultados individuais so apresentados da seguinte maneira:

    Figura 6 resultados de 67 marcadores de indivduo pertencente ao haplogrupo I1. Oconjunto de resultados de um indivduo chamados de haplotipo (haplotype, em ingls).

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    Alm dos marcadores utilizados para a distino entre indivduos

    descendentes de um ancestral comum mais recente, utilizam-se testes para identificar

    mutaes nicas em pares de bases. Tais variaes, chamadas de Polimorfismo de

    Nucleotdeo Simples (Single-Nucleotide Polymorphism, ou SNP na sigla em ingls),

    ocorrem em frequncia muito menor que mutaes em microssatlites e, uma vez que

    tenham ocorrido, no se revertem, sendo passadas para todos os descendentes

    masculinos diretos do indivduo afetado. Por exemplo, uma mutao pode causar a

    substituio de citosina por timina no segmento AAGCCTA, criando AAGCTTA.

    Tal mutao cria um SNP e passa a diferenciar um indivduo e seus descendentes de

    toda a espcie humana a partir de ento, e pode ser representada assim:

    A importncia das mutaes que originam SNPs reside no fato de criarem

    famlias de cromossomo Y, uma vez que, ao serem transmitidas pelas geraes

    atravs dos milnios, criam um grande conjunto de indivduos que possuem SNPs e

    tambm valores de marcadores em comum. Essas famlias so chamadas de

    haplogrupos. Por exemplo, uma mutao na posio M253 originou uma subdiviso

    do haplogrupo I*(marcado pelo SNP M170) e a fundao do haplogrupo I1 entre

    Figura 7 exemplo de mutao deSNP (Wikipdia): um indivduo passaa apresentar T em vez de C nosegmento AAGCCTA, criandoAAGCTTA. Essa mutao sercarregada por seus descendentes,enquanto o restante da espcie humanacontinuar a apresentar AAGCCTA. Amutao em C leva a uma troca da basecorrespondente, que passa de G para A

    pois C somente pode se ligar a G e Tsomente pode se ligar a A no DNA.

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    15.000 e 20.000 anos atrs. O grfico a seguir demonstra as subdivises do

    haplogrupo I, sendo as mais maiores o haplogrupo I1 e o haplogrupo I2:

    Figura 8 subdivises do haplogrupo I (Family Tree DNA): o haplogrupo I1 marcado pelo SNP M253, entre outros, e o haplogrupo I2 marcado pelo SNP P215. Assubdivises desses haplogrupos so marcadas por SNP especficos, como o haplogrupo I2b1,

    originado pelo SNP M284. Um indivduo pertencente ao haplogrupo I2b1 possui o SNPM223 (seu ancestral na rvore) mas no possui o SNP M379 (seu irmo), que marca ohaplogrupo I2b2. Da mesma maneira, um indivduo do haplogrupo I2b2 possui o SNP M223(seu ancestral), mas no possui o SNP M284 (seu irmo).

    \

    Para o genealogista gentico, essencial ter conhecimento do haplogrupo (ou

    sub-haplogrupo) exato a que pertence a linhagem estudada. Isso porque, mesmo que

    dois indivduos possuam resultados idnticos em seus haplotipos (marcadores

    testados), o que indicaria um ancestral comum recente pela linha paterna direta, essa

    semelhana pode ser mera coincidncia caso os indivduos pertenam a haplogrupos

    diferentes. Por exemplo, caso dois indivduos com os mesmos resultados em 67

    O haplogrupo I se insere da seguinte maneira na rvore dos haplogrupos:

    Figura 9 rvore dos haplogrupos (ou haplotree, em ingls): cada subdiviso gerada peloaparecimento de um novo SNP. No topo da rvore, encontra-se o chamado Ado do cromossomoY. Esse Ado o ancestral comum mais recente de todos os haplogrupos existentes hoje, e no

    necessariamente o rimeiro homem a andar sobre a face da Terra.

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    marcadores testados pertenam um ao haplogrupo I1 e o outro, ao haplogrupo I2b1, a

    anlise isolada dos marcadores poderia levar incorreta concluso de que os dois

    possuam um ancestral comum pela linha paterna direta no mximo 3 geraes atrs.

    No entanto, considerando-se que o haplogrupo I1 se separou do haplogrupo I* por

    volta de 20.000 anos atrs, e que o haplogrupo I2 se separou do haplogrupo I* por

    volta de 17.000 atrs, o fato que o ltimo ancestral comum pela linha paterna direta

    desses dois indivduos viveu h ao menos 20.000 anos. Ancestrais comuns recentes

    erroneamente atribudos a dois indivduos pertencentes a haplogrupos diferentes so

    chamados de ancestrais fantasmas. Coincidncias em resultados de marcadores so

    comuns e costumeiramente levam genealogistas a erros em suas investigaes. A

    correta verificao dos haplogrupos a nica maneira de evitar esse problema.

    Outra informao contida na determinao de haplogrupo de um certo

    indivduo a posio geogrfica e cronolgica de seu ancestral remoto. Cruzando

    informaes a respeito da localizao geogrfica de indivduos pertencentes a um

    dado haplogrupo com a variao de resultados de marcadores em localidades

    especficas, o que indica diversidade gentica, possvel ter-se uma ideia da

    localizao geogrfica e poca de origem desse haplogrupo. Por exemplo, o indivduo

    que apresentou o SNP M253 pela primeira vez e foi o fundador do haplogrupo I1 teria

    vivido na Pennsula Ibrica, de acordo com o Genographic Project. A variao

    gentica de seus descendentes data a existncia desse indivduo entre 16.000 e 20.000

    anos atrs, durante o ltimo Mximo Glacial, como citado anteriormente.

    DNA Mitocondrial

    A mitocndria uma organela responsvel pela respirao celular, passada de

    uma me para seus filhos. Uma vez que a mitocndria encontra-se no vulo as

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    mitocndrias do espermatozide so destrudas quando da fertilizao, ela no pode

    ser transmitida pela linha masculina. Por esse motivo, e tambm por a mitocndria

    no sofrer recombinaes genticas com outras organelas no interior da clula, a

    mesma pode ser utilizada para a investigao da linha direta feminina assim como o

    cromossomo Y usado para a pesquisa da linha paterna direta. Diferentemente do

    cromossomo Y, no entanto, a presena da mitocndria independe do sexo. Assim, um

    indivduo do sexo masculino poder testar sua mitocndria para obter maiores

    informaes sobre a linhagem de sua me embora, como acima explicado, esse

    homem no possa transmitir a mitocndria herdada de sua me para seus filhos.

    O primeiro sequenciamento do DNA mitocondrial foi realizado pela

    Cambridge University em 1981 e constituiu o pontap inicial ao Projeto Genoma

    Humano. O resultado foi o chamado Cambridge Reference Sequence (CRS, na sigla

    em ingls), que ento passou a ser utilizado como padro para o sequenciamento do

    DNA mitocondrial de outros indivduos. Nesse modelo, somente as diferenas entre o

    indivduo testado e o CRS so anotadas. Tais diferenas provm de mutaes, que

    podem estar presentes em um pequeno nmero de indivduos (descendentes de uma

    ancestral relativamente recente) ou em um grande nmero de indivduos, que

    descendem de uma ancestral remota e formam, assim, um haplogrupo de DNA

    mitocondrial. Resultados individuais so apresentados da seguinte maneira:

    Figura 10 resultados de DNA mitocondrial de um indivduo pertencente aohaplogrupo mitocondrial A (Family Tree DNA): os valores anotados correspondem sdiferenas entre o DNA mitocondrial testado e o CRS. Por exemplo, 16111T indica que na

    posio 16111 da mitocndria o indivduo possui uma base (timina, ou T) diferente da baseapresentada pela CRS. Essa diferena indica uma mutao. Algumas das diferenas indicam

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    que o indivduo pertence ao haplogrupo A6. Outras so apresentadas somente pordescendentes de uma ancestral comum mais recente, e no constituem um haplogrupo.

    Mais tarde, aprendeu-se que o indivduo testado pela Cambridge University

    pertencia ao haplogrupo denominado H2a2a. A rvore dos haplogrupos de DNA

    mitocondrial possui a seguinte configurao:

    Uma das particularidades da aplicao do DNA mitocondrial na pesquisa

    genealgica tem a ver com a taxa de mutao dessa parte de nosso genoma, que

    muito mais baixa que a taxa de mutao do cromossomo Y, por exemplo. Para o

    6As diferenas que definem o haplogrupo mitocondrial A so: 152C, 235G, 663G, 1736G, 4248C, 4824G, 8794T,16290T e 16319A. Fonte: https://www.familytreedna.com/mtDNA-Haplogroup-Mutations.aspx .

    Eva (DNA Mitocondrial)

    Figura 11 rvore dos haplogrupos mitocondriais (GeneBase): o haplogrupo A doindivduo representado na figura 10, acima, foi originado por uma mulher pertencente aohaplogrupo N. O haplogrupo H, utilizado no CRS, tambm pode ser visto. A ancestral comummais recente de todas as mitocndrias humanas hoje em existncia chama-se Eva do DNAmitocondrial.

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    genealogista, a implicao que exames de DNA mitocondrial no possuem a mesma

    exatido cronolgica que os do cromossomo Y. Resultados idnticos nos painis

    geralmente utilizados para a testagem do DNA mitocondrial (HVR1 e HVR2)

    indicam uma probabilidade de 50% de uma ancestral comum ter vivido at 700 anos

    atrs. Dessa forma, so necessrios exames mais profundos, um sequenciamento total

    do DNA mitocondrial, para se determinar a poca exata da existncia desse ancestral.

    Assim como ocorre com o cromossomo Y, entretanto, a determinao do

    haplogrupo mitocondrial uma rica fonte de informaes sobre as origens remotas da

    linha materna direta. O haplogrupo A citado acima, por exemplo, originou-se entre

    30.000 e 50.000 anos atrs no leste da sia, e nos dias atuais encontrado com maior

    frequncia entre os nativos das Amricas. De fato, no Brasil, 33% da populao

    considerada branca possui DNA mitocondrial amerndio (haplogroups A, B, C, D e

    X)- o DNA mitocondrial africano representa outros 28% do total, e o europeu, os 39%

    restantesi. Essa frequncia contrasta com o cromossomo Y encontrado nos homens

    brancos no pas, que em sua grande maioria de origem europeia 98%, para ser

    mais exato.

    Sob o ponto de vista da sade, o sequenciamento do DNA mitocondrial

    tambm oferece um vasto potencial, uma vez que determinadas mutaes na

    mitocndria possuem ligao direta com doenas genticasii. Por esse motivo, exames

    como este estaro cada vez mais em voga atravs da medicina molecular, que tende a

    ser a medicina do futuro.

    Mtodos

    Um dos avanos tecnolgicos mais importantes tambm para os genealogistas

    nas ltimas dcadas foi a internet, que permitiu a fcil compartilhao de dados e

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    mais rpido progresso nas pesquisas atravs do trabalho conjunto. A chave para o

    sucesso na genealogia gentica tambm reside na partilha de bases de dados, mas de

    DNA. Ao realizar seus exames de DNA, um genealogista pode optar por ser avisado

    pelo laboratrio sobre resultados similares conforme outros indivduos so testados e

    seus dados entram no sistema. H tambm bases de dados pblicas que permitem que

    indivduos testados por empresas diferentes comparem seus resultados com os de

    outros usurios. Uma vez que haplotipos semelhantes sejam encontrados, ento

    possvel contactar os outros pesquisadores e contrastar registros documentais,

    possibilitando progresso mtuo. Sem o compartilhamento de dados, no h

    genealogia gentica, pois somente as origens remotas e questes mdicas podem ser

    deduzidas sem trabalho em conjunto com outros genealogistas. Os mtodos discutidos

    por este artigo partem da suposio de que a informao compartilhada.

    Que Laboratrios Utilizar

    Ao realizar uma pesquisa em um motor de buscas por laboratrios de

    genealogia gentica, um genealogista poder se surpreender com a grande quantidade

    de resultados - de fato, h inmeras empresas que oferecem esses servios. Entretanto,

    poucas possuem bases de dados grandes o suficiente, ou o correto foco em

    genealogia, de forma a oferecer um produto realmente atraente ao genealogista. No

    momento presente, as duas empresas mais recomendadas aos fins da genealogia so a

    Family Tree DNA e a 23andMe.

    A empresa Family Tree DNA (FT DNA) nasceu em 1999, com a misso de

    aplicar a gentica genealogia. No ano de 2009, a empresa j havia testado mais de

    500.000 kits em parceria, entre outros, com o Genographic Project. A empresa

    tornou-se famosa por seus testes de cromossomo Y e DNA mitocondrial, criando

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    padres posteriormente copiados por outras empresas. Recentemente, a FT DNA

    passou a oferecer tambm testes de DNA autossmico, e pretende permitir a

    importao a sua base de dados de resultados de testes deste tipo que foram

    realizados por outras empresas. Por sua vez, a 23andMe foi fundada em 2006 com o

    objetivo de permitir a seus clientes uma maior compreenso de seu genoma. A

    empresa sempre focou na sade e no futuro da medicina molecular atravs do

    oferecimento de exames de SNP do DNA autossmico, tendo sido adotada por

    genealogistas desejosos por obter informaes sobre seus diversos ancestrais por

    linhas que no as diretas, paterna e materna.

    Ainda hoje, a Family Tree DNA mantm a dominncia nos testes de

    cromossomo Y e DNA mitocondrial, oferecendo produtos eficazes e facilmente

    aplicveis genealogia. Seu avano nos testes autossmicos promete roubar clientes

    da 23andMe, principalmente os genealogistas, uma vez que a grande maioria do

    pblico desta ltima no pratica a genealogia e, assim, no possui informaes teis

    s pesquisas familiares ou o desejo de participar das mesmas. O tamanho da base de

    dados de DNA autossmico da Family Tree DNA deve, assim, rapidamente

    ultrapassar o de sua competidora, dando ainda mais motivos para que genealogistas

    utilizem-se dela para todos os seus exames. A 23andMe, entretanto, deve manter sua

    liderana na testagem gentica para fins de medicina molecular.

    Testes de DNA Autossmico

    O principal propsito da aplicao da testagem do DNA autossmico

    genealogia encontrar passagens herdadas de um ancestral obscuro, passagens estas

    que o genealogista descobre possuir em comum com outro pesquisador, que pode

    possuir maiores infomaes sobre o dado ancestral ou passar a colaborar na pesquisa

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    a respeito do mesmo. Abaixo encontra-se um exemplo real das passagens

    autossmicas em comum entre um indivduo, seu pai, seu av e seu bisav:

    Figura 12 sequncias autossmicas em comum entre um filho, seu pai, seu av eseu bisav (yourgeneticgenealogist.com): possvel notar que o filho possui exatamente 50%de seu genoma em comum com seu pai (em azul claro), ou seja: 1 cromossomo de cada par.

    Nesses cromossomos, a quantidade em comum com o av paterno (em verde abacate) menor que a quantidade em comum com o pai. A quantidade em comum com o bisavpaterno, em azul escuro, menor ainda. A quantidade de DNA herdada de um dado ancestral menor quanto mais distantes as geraes.

    A unidade utilizada para medir distncia em um cromossomo o centiMorgan

    (cM). Para a empresa Family Tree DNA, a existncia de um segmento comum entre 5

    e 10 centiMorgans sugere parentesco entre dois indivduos. J qualquer segmento

    maior que 10 centiMorgans significa certeza de um ancestral em comum

    iii

    . J aempresa 23andMe considera somente segmentos maiores que 7cM. Uma vez que um

    segmento comum desse tamanho ou maior seja encontrado entre dois indivduos, a

    empresa tambm aponta os segmentos de, no mnimo, 5cM entre esses indivduos.

    Segundo a empresa 23andMe, a quantidade de DNA compartilhada entre um

    indivduo e seus primos a seguinte: primo em primeiro-grau 12.5%; primo em

    segundo-grau 3.13%; primo em terceiro-grau 0.78%; primo em quarto-grau

  • 7/24/2019 Genealogia-Gentica Uma breve introduo Por Aaron Salles Torres*

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    0.20%; primo em quinto-grau 0.05%; primo em sexto-grau 0.01%; primo acima

    do stimo-grau menor que 0.01%. Isso se deve maneira aleatria como o DNA

    autossmico passado de pais para filhos e reombinao. Veja nos quadros abaixo

    exemplos reais de DNA compartilhado entre um indivduo e membros de sua famlia:

    Figura 13 sequncias autossmicas emcomum entre um indivduo e seu tio-

    bisav (irmo da av paterna de seu pai).

    Figura 14 sequncias autossmicas emcomum entre um indivduo e sua tia-av(irm da me de sua me).

    Figura 15 sequncias autossmicas emcomum entre um indivduo e sua av

    paterna. As passagens em cinza foram,ento, herdadas do av paterno. Asfiguras 13 e 15 podem ser sobrepostas,

    pois encontram-se na mesma metade dopar de cromossomos.

  • 7/24/2019 Genealogia-Gentica Uma breve introduo Por Aaron Salles Torres*

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    A maneira aleatria como os cromossomos somticos so transmitidos de pais

    para seus filhos responsvel por uma das maiores dificuldades na utilizao do DNA

    autossmico na genealogia gentica: a correta identificao do ancestral comum do

    qual dois indivduos herdaram a mesma sequncia de DNA. Somente atravs da

    pesquisa documental isso se faz possvel, a partir da comparao entre as rvores

    genealgicas inteiras dos dois indivduos para a seleo de linhas candidatas.

    necessrio que ambos os pesquisadores tenham conhecimento de suas rvores, assim

    como interesse em compartilhar as informaes.

    Uma vez que uma sequncia em comum tenha sido encontrada com outro

    indivduo, tambm possvel utilizar-se o que se sabe sobre o prprio DNA de forma

    a encontrar o ancestral comum que originou a similaridade com o outro pesquisador.

    Tomando por exemplo o indivduo das figuras 13, 14 e 15, acima, na dvida sobre a

    origem de um parentesco, ele pode descartar o que conhecido. Digamos que

    tampouco a av paterna, o bisav paterno ou a tia-av materna possuam passagens em

    comum com o recm-descoberto parente. Isso nos deixa duas possibilidades: o

    parentesco com o outro pesquisador pode provir do bisav pela linha paterna direta

    (que casou-se com a irm do tio-bisav paterno representado na figura 13) ou do av

    materno (que casou-se com a irm da tia-av materna representada na figura 14).

    Aqui fazemos uma inferncia: certamente herdamos um pouco mais de DNA de um

    av ou bisav que o que possumos em comum com o irmo ou irm deles;

    entretanto, muito baixa a probabilidade de, justamente nessas minsculas passagens

    a mais, possuirmos uma passagem em comum com outro indivduo, sem que os

    resultados dos prprios tios apontem qualquer parentesco. De forma a simplificar a

    questo, podemos sobrepor as figuras 13 e 15, que representam a mesma metade dos

    pares de cromossomos que foi herdada pelo lado paterno. D-se o seguinte grfico:

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    Poderamos, ento, sobrepor as passagens em comum com o outro pesquisador

    a este grfico. Caso as mesmas se encaixem perfeitamente nas passagens em cinza

    herdadas do bisav paterno direto, podemos investigar esse lado da rvore

    genealgica em busca do ancestral comum. Caso as passagens no se sobreponham

    com os blocos herdados desse bisav, podemos, ento, investigar a rvore

    genealgica do av materno e as passagens do novo parente se encaixaro, ento,

    nos blocos em cinza da figura 14 acima. Em qualquer caso, a colaborao por parte do

    outro pesquisador essencial para que se possa obter maiores informaes sobre o

    ancestral especfico que originou o parentesco.

    Testes de DNA Mitocondrial

    Diferentemente da testagem do DNA autossmico, ou mesmo de testes do

    cromossomo Y, a investigao genealgica atravs do DNA mitocondrial no deixa

    Figura 16 sequncias autossmicas das figuras 13

    e 15 so sobrepostas, revelando passagens em cinzaherdadas do bisav pela linha paterna direta, almde pequenas partes adicionais herdadas da bisav

    paterna (esposa do dito bisav): com asinformaes em mos, no possvel distinguirexatamente as passagens adicionais herdadas da

    bisav, mas presume-se que a maior parte em cinzaseja do bisav, pois a herana gentica da bisav jfoi parcialmente representada por seu irmo.

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    tanto espao para a interpretao. Comparado com o restante de nosso genoma, na

    mitocndria ocorrem ainda menos mutaes, o que significa que no fcil

    diferenciar entre parentes prximos ou afastados quando possuem resultados

    idnticos. Dois indivduos com os mesmos valores no painel bsico, chamado de

    HVR1, possuem somente 50% de chances de possurem uma ancestral direta comum

    nos ltimos 1.300 anos. Caso essa semelhana nos resultados se confirme no painel de

    alta resoluo (HVR2), as chances passam a ser de 50% de que a ancestral comum na

    linha materna direta dos dois indivduos tenha vivido nos ltimos 700 anos. Por outro

    lado, resultados dspares no deixam sombra de dvida: sua ancestral comum viveu

    h milnios.

    Por motivos como estes e tambm pelo machismo que permeia nossa

    sociedade-, poucos pesquisadores se aventuram a se guiar pelo DNA mitocondrial em

    suas pesquisas genealgicas. Assim, muitos acabam se contentando com testes de

    haplogrupo que trazem informaes sobre as origens remotas da linha materna - se a

    mesma possui razes nas Amricas ou na Europa, etc... Entretanto, no se pode

    esquecer que uma pioneira da genealogia gentica a doutora Ann Turner comeou

    suas investigaes na rea ao contrastar o seu DNA mitocondrial com o de uma

    prima. Tambm no se pode ignorar o papel da mitocndria em nossa sade, uma vez

    que mutaes nessa organela so a causa de inmeras doenas genticas descobrir

    se somos portadores ou no dessas doenas pode ser essencial s decises que

    tomaremos no futuro. Ademais, recentemente tornou-se acessvel aos consumidores o

    mapeamento inteiro do DNA mitocondrial que pode ser muito til tanto

    genealogia, quanto medicina.

    O exame, disponibilizado pela empresa FT DNA sob o nome mtDNA Full

    Sequence, coloca a testagem do DNA mitocondrial altura do cromossomo Y ou do

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    DNA autossmico em sua aplicao na gentica. De fato, resultados idnticos neste

    teste significa que h 91% de chances de a ancestral comum mais recente de dois

    indivduos ter vivido nos ltimos 600 anos. Trata-se de uma cronologia bastante

    razovel, especialmente ao considerarmos que ser possvel chegar a essa ancestral

    por meio de, no mnimo, dois caminhos documentais na pesquisa tradicional.

    Testes de Cromossomo Y

    O padro criado pelo time da Family Tree DNA para testes de cromossomo Y

    se tornou modelo para toda a indstria. A empresa oferece quatro painis de testes de

    marcadores 12, 25, 37 e 67-, alm do teste de Deep Clade (haplogrupo),

    formulados de forma a se obter taxas mdias de mutao que so especficas para

    cada painel. Isso possvel porque sabido que determinados marcadores possuem

    taxas de mutao maiores que outros. Por exemplo, o marcador DYS388 possui taxa

    de mutao de apenas 0.00022. O DYS724 (ou CDY), por outro lado, possui

    mutaes muito mais frequentes, com uma taxa de 0.03531 ou seja, uma mutao a

    cada 28 geraes. Assim, pode-se agrupar marcadores de forma que as taxas de

    mutao de cada painel sirvam a uma funo prpria na investigao genealgica iv.

    (Os marcadores e sua distribuio nos painis da Family Tree DNA podem ser vistos

    na figura 6, acima).

    12 marcadores

    O teste de 12 marcadores da FT DNA foi criado de forma a incluir

    microssatlites com menor taxa de mutao. A taxa mdia de variao desses

    marcadores de .002 (0.001870.00028, de acordo com John Chandlerv). Ao

    multiplicarmos essa taxa por 12 marcadores, temos uma taxa de .024 para o total do

    painel. Para obtermos a quantidade de geraes para cada mutao, dividimos 1

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    mutao por .024 e obtemos 41.6, ou seja, aproximadamente 41 geraes para que

    haja uma mutao neste painel. Uma vez que, historicamente, a idade mdia para

    procriao pode ser considerada como sendo de 25 anos, multiplicamos 41 por 25 e

    obtemos 1.025 anos ou seja, uma nica diferena nesse painel representa,

    aproximadamente, uma distncia cronolgica de 1025 anos entre o nascimento dos

    dois indivduos em questo e seu ancestral comum mais recente.

    Como conhecido, a adoo de sobrenomes na Europa passou a se

    popularizar a partir do ano 1.300 d.C.. Assim, na tradio anglo-germnica, mais

    rgida na manuteno de sobrenomes nas linhas paternas que a tradio luso-

    brasileira, caso dois indivduos possuam o mesmo sobrenome e possuam resultados

    idnticos nos primeiros 12 marcadores, bem provvel que descendam do primeiro

    indivduo que adotou esse sobrenome. No Brasil e em Portugal, em que uma maior

    rigidez quanto a sobrenomes no foi adotada at mais recentemente, necessrio uma

    semelhana tambm em outros painis de forma que se possa tirar concluses sobre a

    relao entre sobrenomes e ancestrais comuns sem a ajuda de registros documentais.

    Por esses motivos, o painel de 12 marcadores deve ser sempre utilizado

    juntamente a outros paineis na investigao gentico-genealgica. A nica

    circunstncia em que o uso isolado do painel de 12 marcadores aconselhvel em

    projetos de famlia em que vrios indivduos j tiveram seus 67 marcadores testados,

    sendo conhecido o comportamento gentico dos indivduos descendentes de um dado

    ancestral e estando os registros documentais em completa ordem. Neste caso, o painel

    de 12 marcadores serve apenas como uma confirmao do que j conhecido.

    25 marcadores

    O painel de 25 marcadores adiciona 13 marcadores aos 12 previamente

    testados. Esses treze novos marcadores possuem uma taxa de mutao mdia de

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    0.0029vi (ou 0.002780.00042, de acordo com John Chandler). A taxa de mutao

    mdia destes 25 marcadores passa a ser, ento, 0.0027. Ao multiplicarmos esse valor

    por 25, obtemos 0.0675, ou seja, uma mutao a cada 15 geraes, aproximadamente.

    Esse valor nos indica que resultados idnticos entre dois indivduos em todos os 25

    marcadores nos leva a um ancestral comum nascido aproximadamente 375 anos antes

    dos dois indivduos comparados, ou seja, provavelmente no sculo XVI ou XVII. Na

    tradio anglo-saxnica, muito certamente isso significa que, possuindo dois

    indivduos o mesmo sobrenome, eles ento descendem do mesmo ancestral paterno

    direto uma vez que so raros os casos de mudanas de sobrenome nas linhagens

    paternas aps essa poca. Na tradio luso-brasileira, em que trocas de sobrenome ou

    heranas por vias maternas so comuns, o painel de 25 marcadores permite, ao

    menos, um avano a uma poca que mais fcil de ser verificada por meio de

    registros documentais.

    37 marcadores

    Aps mudanas implementadas no ano de 2010, 37 o nmero mnimo de

    marcadores disponvel venda pela FT DNA a indivduos que no esto devidamente

    enraizados em projetos de famlia atravs de registros documentais. A medida foi

    tomada de forma a evitar interpretaes errneas de resultados por pesquisadores

    novatos na rea de genealogia gentica. Os 12 marcadores adicionados no painel de

    37 marcadores possuem taxa de mutao alta, a 0.0071, trazendo a taxa de mutao

    mdia do painel a 0.004920.00074, segundo John Chandler. Resultados idnticos

    neste painel indicam um ancestral comum pela linha paterna direta que pode ter

    vivido h cinco geraes. De fato, a alta taxa de mutao neste painel funciona como

    uma peneira bastante exigente, deixando passar somente parentes relativamente

    prximos. Pode-se dizer que, dado o nmero de marcadores, o painel de 37

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    marcadores aquele em que mais se encontra diferenas entre haplotipos

    relacionados.

    Por tais motivos, esse painel extremamente til a genealogistas portugueses

    e brasileiros, uma vez que as leis que regem o uso de sobrenomes em Portugal e

    Brasil somente se tornaram mais rgidas no sculo XIX ou incio do sculo XX,

    dificultando as trocas frequentes que costumavam marcar os nomes de famlia nesses

    pases. Assim, indivduos com resultados idnticos neste painel e que possuem o

    mesmo sobrenome, tm grandes chances de possuir um ancestral comum mais recente

    (MRCA) que utilizava esse nome. Mesmo que seus sobrenomes sejam diferentes, a

    proximidade gentica significa que mais fcil encontrar o ancestral comum atravs

    da pesquisa documental conjunta, pois o perodo cronolgico curto e mais preciso.

    67 marcadores

    A criao do painel de 67 marcadores teve como funo tornar a aplicao da

    gentica genealogia uma tarefa ainda mais exata. Aos 37 marcadores anteriores, so

    adicionados 30 marcadores com taxas de mutao mdia ou baixa. A taxa mdia de

    mutao dos marcadores no painel de 0.003332 de acordo com Kaye N.

    Ballantynevii, excluindo-se os marcadores YCAIIa, YCAIIb, DYS607, CDYa,

    CDYb, DYS395S1a, DYS395S1b, DYS406S1, DYS413a e DYS413b. Isso significa

    um valor de .189918 no total de marcadores, ou seja, resultados idnticos em todos os

    microssatlites confirmam um ancestral comum pela linha paterna direta at cinco

    geraes atrs. Estas projees so seguras e conservadoras, pois na prtica comum

    encontrar indivduos que possuem um ancestral comum h somente quatro ou cinco

    geraes e que, mesmo assim, apresentam uma ou duas mutaes no painel de 67

    marcadores.

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    Na verdade, recomenda-se sempre adquirir a testagem dos 67 marcadores. O

    mapeamento do genoma humano um fenmeno recente, portanto o verdadeiro

    comportamento dos microssatlites do cromossomo Y ainda est sendo observado em

    eventos de trasmisso entre pai e filho atravs da comparao de marcadores entre

    pais e filhos para a medio do nmero mdio de mutaes quando da gametognese.

    A participao de genealogistas neste processo oferece uma grande contribuio aos

    cientistas, uma vez que permite a observao de um nmero muito maior de eventos.

    Por exemplo, um estudo da Family Tree DNA de 2004 apontou que a taxa mdia de

    mutao de marcadores cromossmicos pode ser o dobro do que se acreditava,

    chegando a .004, ou 0.4%. Assim, de forma que a aplicao da gentica genealogia

    seja confivel e sem erros, recomendvel a coleta da maior quantidade de dados

    possvel, tanto em se tratando da quantidade de marcadores testada, quando do

    nmero de indivduos participantes que descendam de um ancestral comum.

    Ao serem publicados os resultados de 67 marcadores e a definio do

    haplogrupo, pode-se iniciar tanto a pesquisa genealgica, quanto a organizao de

    dados de indivduos que compartilham um ancestral comum recente. aconselhvel a

    participao em bases de dados pblicas, como a ysearch.org, de forma que seja

    possvel encontrar primos testados por outras empresas. Uma vez que os resultados de

    indivduos relacionados sejam agrupados e suas mutaes analisadas, pode-se montar

    um quadro como o seguinte, de maneira a mais facilmente empregar as informaes:

    Figura 17 quadro do programa Excel com resultados de 67 marcadores (haplotipos)de seletos indivduos pertencentes ao haplogrupo I1 que possuem um ancestral comum pelalinha paterna direta.

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    Nos resultados, pode-se notar que o indivduo na linha 4 a mesma pessoa

    cujos resultados se encontram na figura 6, acima. O indivduo na segunda linha

    compartilha com ele um ancestral comum mais recente nascido em meados do sculo

    XIX mas, mesmo assim, possuem uma diferena no marcador CDY, em que a

    linhagem do segundo indivduo apresentou uma mutao aps a separao. Os

    indivduos nas linhas 1, 3 e 5 separaram-se dos indivduos na linha 2 e 4

    relativamente cedo. Pouco depois, separou-se o indivduo 1 dos indivduos da

    linhagem de 3 e 5. A proximidade genealgica dos indivduos nas linhas 3 e 5

    provavelmente parecida existente entre os indivduos nas linhas 2 e 4, e suas

    linhagens devem ter se separado no final do sculo XVIII ou incio do sculo XIX.

    Estima-se que o ancestral comum mais recente de todos os indivduos acima tenha

    vivido por volta dos anos 1300 a 1500 no noroeste da Pennsula Ibrica. Algumas das

    linhas de pesquisa histrico-documentais j esto prximas desse perodo, e para os

    pesquisadores ser uma questo de tempo at que esse ancestral seja encontrado.

    Concluso

    A Genealogia Gentica um campo em constante desenvolvimento, assim

    como as cincias biolgicas que a guiam. Descobertas no ramo da gentica so feitas

    a cada dia e recebem imensas contribuies de genealogistas de todo o mundo, que

    fornecem dados, casos para estudo, e seus prprios insights. A genealogia tambm

    possui muito a ganhar com a gentica, que capaz de cobrir as imensas lacunas

    documentais que so comuns na histria de pases como o Brasil, em que grande parte

    dos colonizadores veio de outros pases, deixando suas histrias para trs. A gentica

    igualmente til pesquisa de linhagens no europeias amerndias ou africanas ,

    que muitas vezes nunca foram devidamente documentas mas que podem ter suas

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    histrias desvendadas atravs da desconstruo biolgica das camadas de

    miscigenao. Assim, a Genealogia Gentica acessvel e democrtica, possuindo

    tambm o enorme papel de confirmar rvores traadas no passado, muitas vezes sem

    o devido cuidado ou embasamento documental. A Genealogia Gentica a

    genealogia do futuro, futuro este que j chegou.

    Referncias

    iAlves-Silva, Juliana, Magda Da Silva Santos, Pedro E. M. Guimares, Alessandro C. S. Ferreira, Hans-Jrgen

    Bandelt, Srgio D. J. Pena, and Vania Ferreira Prado. "The Ancestry of Brazilian MtDNA Lineages." TheAmerican Journa l of Human Genetics. Web. 07 Mar. 2011..ii"Types of Mitochondrial Disease." United Mitochondrial Disease Foundation. Web. 07 Mar. 2011..iiiFonte: Family Tree DNA https://www.familytreedna.com/faq/answers/default.aspx?faqid=17#608ivKerchner, Jr., P.E., Charles F. "DNA Mutation Rates - An Overview and Discussion."Index Page. Web. 08 Mar.2011. .vChandler, John F. "Estimating Per-Locus Mutation Rates."Journal of Genetic Genealogy. 2006. Web. 08 Mar.2011. .viAthey, Whit. "Editors Corner: Mutation Rates Whos Got the Right Values?"Journal of Genetic Genealogy.Web. 08 Mar. 2011. .viiBallantyne, Kaye N. "AJHG - Mutability of Y-Chromosomal Microsatellites: Rates, Characteristics, MolecularBases, and Forensic Implications." Cell. The American Journal of Human Genetics, 02 Sept. 2010. Web. 08 Mar.

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