Geografia e Mercados Turísticos –...

37
Carolina Beja, DGH1A Nº 4239 Geografia e Mercados Turísticos – 09/10 1 A. Enquadramento geral 1) As relações entre o turismo e a geografia A geografia é um dos principais suportes do conhecimento para a análise do sector do Turismo pois é esta ciência que permite reunir as estatísticas e entender os fluxos turísticos. A reflexão geográfica sobre o turismo envolve, directa ou indirectamente, vários temas, tais como: Desenvolvimento sócio-espacial do turismo (local, regional, nacional, internacional), turismo e espaço (rural, costeiro, urbano), Lazer, Desenvolvimento sustentável, Impactos turísticos (ambientais, sociais, culturais, económicos), Alterações paisagísticas, Qualidade de vida e de estada, Geração de emprego e ocupação de áreas, Preservação do património (natural, cultural), Mobilidade e transportes. A abordagem a estes temas tem permitido a elaboração de estudos pontuais que contribuem para o planeamento turístico, integrando acções do sector publico e privado e da comunidade em geral, atendendo a que a actividade turística não ocorre de forma isolada. A construção do saber turístico, além de recente, requer o suporte de outras áreas do conhecimento, sendo a geografia um dos mais importantes alicerces para sua descrição e análise. De facto é esta ciência que permite entender melhor os diversos fluxos turísticos – internacionais, inter-regionais e internos – e os respectivos padrões de viagens em diferentes escalas (nacional, regional, local) e regiões (áreas urbanas, rurais, costeiras, insulares).

Transcript of Geografia e Mercados Turísticos –...

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

1

A. Enquadramento geral

1) As relações entre o turismo e a geografia

A geografia é um dos principais suportes do conhecimento para a análise do sector do Turismo pois é esta ciência que permite reunir as estatísticas e entender os fluxos turísticos.

A reflexão geográfica sobre o turismo envolve, directa ou indirectamente, vários temas, tais como:

Desenvolvimento sócio-espacial do turismo (local, regional, nacional, internacional), turismo e espaço (rural, costeiro, urbano),

Lazer, Desenvolvimento sustentável, Impactos turísticos (ambientais, sociais, culturais, económicos), Alterações paisagísticas, Qualidade de vida e de estada, Geração de emprego e ocupação de áreas, Preservação do património (natural, cultural), Mobilidade e transportes.

A abordagem a estes temas tem permitido a elaboração de estudos pontuais que contribuem para o planeamento turístico, integrando acções do sector publico e privado e da comunidade em geral, atendendo a que a actividade turística não ocorre de forma isolada.

A construção do saber turístico, além de recente, requer o suporte de outras áreas do conhecimento, sendo a geografia um dos mais importantes alicerces para sua descrição e análise. De facto é esta ciência que permite entender melhor os diversos fluxos turísticos – internacionais, inter-regionais e internos – e os respectivos padrões de viagens em diferentes escalas (nacional, regional, local) e regiões (áreas urbanas, rurais, costeiras, insulares).

2) Mitos e realidades do turismo

Mitos: 1. A maioria do turismo é internacional2. A maioria das viagens internacionais são por via aérea3. O turismo diz respeito apenas às actividades lazer durante as férias4. Os empregos no turismo implicam viagens e deslocações5. O turismo de ‘sol e mar’ está ultrapassado (massificado)6. O turismo induz importações superiores ao benefício 7. O desenvolvimento depende da iniciativa do sector privado

Realidades:

1. O turismo no mundo é maioritariamente interno (mais de ¾)

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

2

2. O turismo internacional faz-se por via terrestre (automóvel) 3. O turismo inclui todas as motivações excepto quando se pretende ficar no pais

acolhedor mais de um ano ou se tiver em vista remuneração4. A maioria do emprego no turismo não envolve deslocações 5. Turismo de ‘sol e mar’ – 2/3 dos europeus preferem o litoral devido a este tipo de

turismo e o turismo massificado pode ser de qualidade6. Estudos portugueses revelam que o consumo induzido é inferior a 20% ao beneficio 7. Importância do Estado no turismo:

o Na criação de produtoso Enquanto reguladoro Enquanto planeador

3) A noção de sistema turístico

Sistema Turístico: conjunto de elementos inter-relacionados, coordenados de forma unificada e organizada, para alcançar determinados objectivos. Consideramos o Turismo um sistema uma vez que as suas componentes estabelecem conexões interdependentes entre si de carácter funcional e espacial como sejam as zonas de proveniência dos visitantes (emissores), as zonas de destino (receptoras), as rotas de trânsito e todas as actividades que produzem bens e serviços turísticos. (ver imagem pág. 114)

Leiper sugere um modelo que caracteriza o sistema turístico -

3 Elementos básicos: Turistas: são os actores do sistema Elementos Geográficos: o autor define 3 elementos geográficos em seu sistema:

o Região geradora de viajantes o Região de destino do turista o Região de rotas de trânsito

Indústria do Turismo: conjunto de todas as empresas, organizações e instalações destinadas a servir as necessidades dos turistas

Beni

4) Os grandes grupos de intervenientes nos sistemas turísticos

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

3

Não existem dúvidas de que o desenvolvimento do turismo deve atender à conciliação dos interesses correspondentes aos quatro grandes grupos de actores do sistema, numa base de partilha de responsabilidades e de complementaridade de intervenções.

Os grandes grupos que intervêm no sistema turístico são: Empresas – dinâmicas e modernas com capacidade de internacionalização e assim

retirar poder aos operadores internacionais, evitando a dependência dos mesmos Sector Público – Através de políticas sectoriais e inter-sectoriais, o Estado deve actuar

como regulador e planeador. Turistas – pretendem que a Oferta corresponda à expectativa. Tendência para

continuarem a procurar produtos e serviços turísticos segmentados e personalizados. População residente – Geram riqueza e bem-estar essenciais na atracção turística que

o local exerce

5) Definições do turismo baseadas na procura e na oferta turística

Procura –

Visitantes: é toda a pessoa que se desloca a um local fora do seu ambiente natural durante um período inferior a 12 meses consecutivos e cujo motivo principal da visita é outra que não seja o de exercer uma actividade remunerada no local.

o Internacional: Turistas - é todo o visitante que passa pelo menos uma noite num

estabelecimento de alojamento colectivo ou num alojamento privado no local visitado. Os motivos turísticos podem ser qualquer um excepto quando se visa a obtenção de remuneração.

Visitante do dia - em substituição do termo ‘excursionista’, é todo o visitante que não passa a noite no local visitado (menos de 24 horas no local).

o Interno Turistas Visitante do dia

Oferta – Leiper sugere que "a indústria turística consiste no conjunto de todas as empresas, organizações e instalações destinadas a servir as necessidades e os desejos dos específicos dos turistas"

O principal problema relacionado com as definições baseadas na oferta, reside na dificuldade que existe em isolar algumas actividades dedicadas aos turistas, daquelas que de um modo indiscriminado também servem os residentes e outros mercados/sectores;

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

4

Neste sentido, e visando a avaliação económica das actividades turísticas no seio de uma economia, a OMT desenvolveu uma classificação padronizada, a qual serve de plataforma à elaboração da Conta Satélite do Turismo.

Conta Satélite do Turismo: (CST) é um instrumento desenvolvido pela Organização das Nações Unidas e Organização Mundial do Turismo (OMT) para medir o impacto efectivo do turismo nas economias mundiais, é indispensável para que governos definam políticas e estratégias para o sector. "Sem dados e informações seguras, é praticamente impossível para governos, ministérios e departamentos nacionais de turismo conseguirem benefícios ou lei que melhorem o sector", resumiu Dale Honeck, o principal conselheiro da Divisão de Comércio de Serviços OMT. Foi desenvolvida para medir a amplitude de sectores económicos que não estão definidos como ramos de actividades nas contas nacionais. O turismo surge como a primeira actividade a utilizar as normas mundiais da conta satélite, aprovadas pelas Nações Unidas em Março de 2000.

Em resumo, a CST oferece aos decisores um instrumento que permite:

a fundamentação para a elaboração das políticas; a produção de dados fiáveis; a avaliação do turismo interno e receptor e do emprego associado; a comparação com outros sectores económicos; o estabelecimento no futuro de comparações internacionais, além da possibilidade de

aprofundamento dentro do próprio país através da desagregação regional de dados.

Exemplos: Hotéis e serviços de Alojamento Serviços de residência secundária Restauração Transportes Agências de viagem Rent-a-Car

6) Importância e efeitos do turismo

Turismo enquanto:

1. Actividade Estratégica cujos benefícios reflectem-se na economia, património, território e na sociedade

2. Gerador de infra-estruturas, equipamentos, bens e serviços, emprego (é uma verdadeira cadeia de riqueza)

3. Sector com maior taxa de crescimento4. Essencial no desenvolvimento regional e nacional5. Valorização do património cultural e natural6. Efeito multiplicador

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

5

7. Necessário para minimizar fenómenos de deslocalização

7) Perspectivas qualitativas e quantitativas para o futuro do turismo

Quantitativas:

O turismo cresce ao dobro do ritmo de toda a economia mundialPrevisão para 2020 – Turismo Mundial gerados de 2 biliões de dólares - taxa de crescimento médio anual de 6 a 7%; dobro do ritmo evolutivo previsto para a economia mundial - patamar máximo de 3,3% ao ano

Qualitativas:

O turista procura toda a informação sobre o destino, para fazer a sua escolhaA indústria turística deverá primar pela diversificação e qualidade dos serviçosDeverá debruçar as suas atenções sobre:

Marketing – agressivo e directo Inovação na comercialização Contactos personalizados Serviços de maior qualidade (com uma boa relação qualidade/preço) Bom saneamento financeiro

Deve ser levada a cabo:1. Uma promoção de segmentos prioritários dirigida aos mercados internos e externos2. Um desenvolvimento dos produtos turísticos existentes e criação de novos3. Uma regulamentação administrativa, legal e financeira, bem como o aumento de

parcerias com o sector privado 4. Um equilíbrio ambiental e protecção do património (protecção dos recursos naturais e

culturais que atraem visitantes)

8) Modalidades e formas de turismo

Turismo: a actividade ou actividades económicas decorrentes das deslocações e permanências dos visitantes

o Internoo Receptor (inbound)o Emissor (outbound)o Turismo interioro Turismo nacional – agrupa o turismo interno e turismo emissor – movimentos

dos residentes de um país tanto no seu interior como noutro país.o Turismo internacional - abrange todas as deslocações que impliquem a

travessia de fronteiras

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

6

Visitante, viajante, turista, visitante do dia (acima)

o Tipos de Turismo : Turismo de Recreio – as pessoas deslocam-se por motivos de curiosidade,

desfrutar das paisagens, distracções das grandes cidades, tomar banhos de sol, etc.

Turismo de Repouso – as pessoas deslocam-se por motivos de relaxamento físico e mental, beneficio para a saúde, recuperar dos desgastes provocados pelo stress. Health resorts, Spas, etc.

Turismo Cultural – dada a impossibilidade de separar a cultura da historia, incluímos no turismo cultural as viagens provocadas pelo desejo de ver coisas novas, de aumentar conhecimentos, conhecer hábitos e historia de outros povos, civilizações e culturas diferentes, do passado ao presente, ou ainda satisfação de necessidades espirituais.

Turismo Étnico – viagens que têm por fim observar as expressões culturais ou modos de vida dos “povos exóticos”.

Turismo de Natureza – manifesta-se de duas maneiras diferentes, o turismo ecológico e o turismo ambiental. O ambiental relaciona-se com os vários aspectos da terra, do mar e do céu e com o seu estado de pureza; o turismo ecológico inclui viagens a áreas naturais com o fim de observar e compreender a natureza e a história tendo o cuidado de manter inalterável a integridade do ecossistema.

Turismo de Negócios – deslocação de grande numero de pessoas por razoes ligadas aos negócios e ao exercício de profissões. Participar em reuniões, congressos, missões, exposições, etc. O que faz uma cidade atractiva para este tipo de turismo são as suas boas infra-estruturas de negócios, as boas acessibilidades, boas acomodações de classe elevada e atracções para oferecer nos tempos livres.

Turismo Desportivo – quando uma pessoa se desloca para assistir a manifestações desportivas.

B. A estruturação territorial do turismo em Portugal

O turismo tem-se revelado ao nível mundial, como o sector de actividade com maiores

taxas de crescimento nas últimas décadas do século XX. De acordo com as previsões da

OMT, irá manter esta tendência nos dois primeiros decénios do século XXI, assumindo-se

mesmo como a principal actividade económica no globo, superando em termos de

exportações os sectores ligados à produção petrolífera e ao comércio de automóveis e

peças e veículos a motor.

Sob o ponto de vista qualitativo, estão também desenhados os traços gerais que

caracterizam o turista actual e do futuro, o qual sentirá uma necessidade absoluta de

informação, para orientar as suas escolhas em função da qualidade, da necessidade de

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

7

desenvolver férias activas e de se deslocar preferencialmente para locais com pouca

densidade turística e seguros. Paralelamente, existem factores e influências determinantes

de carácter económico, tecnológico, político, demográfico e social, que conduzirão a uma

crescente globalização do turismo, expressa num maior poder das forças económicas e de

mercado de carácter internacional. Paralelamente, a indústria turística deverá continuar a

enveredar por uma busca de diversificação e qualificação dos seus serviços, conferindo

particular atenção a determinadas acções que poderão influenciar positivamente os

movimentos turísticos, como sejam:

marketing mais agressivo e directo;

inovação na comercialização dos produtos turísticos;

contactos personalizados para a promoção dos produtos turísticos;

oferta de serviços de maior qualidade (diferentes e com boa relação

qualidade/preço);

manutenção das empresas com bom saneamento financeiro.

Tudo aponta no sentido de um reforço da concorrência internacional, o que também

obrigará os Governos a adoptarem um conjunto de procedimentos de modo a

influenciarem positivamente os movimentos turísticos. Assim, constituirão eixos

fundamentais da actuação das Administrações de Turismo:

A acentuação da promoção dirigida aos mercados interno e externo (com selecção

de segmentos prioritários);

O desenvolvimento dos produtos turísticos existentes e a criação de novos;

O reforço das parcerias com o sector privado;

A regulação administrativa, legal e financeira;

A aposta na formação profissional;

O investimento no equilíbrio ambiental e na valorização do património cultural.

Deve reconhecer-se a forte importância do papel desempenhado pelas empresas turísticas

no processo de dinamização do turismo ao nível regional. E, se neste plano, os

intervenientes da parte pública devem garantir o ordenamento adequado do território, a

qualificação urbana, a infra estruturação básica desejável e a valorização do património

cultural e natural, só com o contributo da actividade empresarial é que será possível

contribuir para o aumento da riqueza das várias regiões.

A incidência dos movimentos turísticos tem consequências inequívocas nos planos

económico e social, mas também acarreta reflexos que recaem nos níveis cultural e

ambiental. De facto, os hábitos de vida da sociedade moderna induzem comportamentos

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

8

específicos para os turistas como para as populações acolhedoras desses fluxos turísticos,

tornando-se indispensável analisar as consequências nos vários contextos.

Torna-se imperioso assegurar o planeamento, atender às necessidades futuras e criar as

condições para uma utilização racional e eficaz do espaço turístico. Neste domínio, as

entidades com responsabilidades no sector turístico, quer ao nível nacional, como aos

níveis regional ou local, devem participar num processo integrado de planeamento, tendo

sempre presente a necessidade de compatibilizar o desenvolvimento turístico com a

salvaguarda dos recursos turísticos primários.

O planeamento do desenvolvimento turístico exige uma óptica compreensiva que engloba

os diversos aspectos do turismo, segundo os seus efeitos e as suas interacções nas

actividades turísticas, bem como a influência recíproca que existe entre o turismo e a

sociedade, a economia e o ambiente, considerados no seu contexto nacional, regional e

local.

É indiscutível que as comunidades locais podem usufruir de vários benefícios do turismo, já

que o seu desenvolvimento equilibrado e durável deve proporcionar uma efectiva

melhoria da qualidade de vida dos próprios residentes.

Contudo, é essencial que os residentes da comunidade estejam envolvidos nas tomadas de

decisões a nível de planeamento e de gestão do turismo, recebendo benefícios equitativos

deste sector.

De facto, através da cooperação e intervenção produtiva entre as empresas turísticas, os

defensores do ambiente e a comunidade, é viável criarem-se condições para que todos

possam obter benefícios e alcançar uma melhor qualidade de vida.

Como está plenamente demonstrado, o turismo é fortemente dinamizador de actividades

económicas locais, face ao excelente grau de apropriação potencial dos seus efeitos

multiplicadores pelos sistemas regionais e locais.

Paralelamente, e face às suas características, o turismo surge como um conjunto de

actividades económicas que pode preservar o carácter local ou regional, sem perigo de

deslocalização de actividades e, consequentemente, de postos de trabalho.

O turismo é o sector por excelência das parcerias, sem as quais não será possível gerar os

consensos que permitam o desenvolvimento sustentável. E, se as boas estratégias

empresariais são fundamentais para o turismo, também a coerência das políticas se

afigura como primordial, tendo o poder público um papel importantíssimo neste domínio.

De facto, quando se abordam os aspectos determinantes da competitividade de um

destino turístico, não se ignorando os factores nevrálgicos como as condições factoriais

(recursos naturais, culturais, de capital, de infra-estruturas, de recursos humanos, etc.), a

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

9

qualidade e a estrutura da oferta, a estrutura do mercado e a correspondente dimensão

empresarial, e as características da procura, deve incluir-se adicionalmente uma referência

ao papel do sector público, que no turismo é co-produtor, desempenhando um papel

activo na criação dos produtos turísticos.

Obviamente que no turismo, o papel do sector público é imprescindível, quer no plano

nacional, como nos níveis regional e local. A tendência para a descentralização da

Administração do Turismo no sentido das autoridades locais e regionais e a necessidade

crescente de reforço das parcerias públicas-privadas entre todos os agentes do turismo

justificam a importância de aprofundamento da abordagem integrada dos destinos

turísticos.

Cada vez mais as Administrações Nacionais do Turismo têm a sua actuação centrada nas

acções de carácter mais aglutinador - política e estratégia, planeamento e ordenamento,

estudos e investigação, relações internacionais e sistemas de informação, remetendo para

a escala regional o controle administrativo dos projectos do sector.

Apesar do facto da movimentação das pessoas poder ocorrer entre países ou grandes

regiões, os ímpactes gerados pelo turismo, são na maior parte dos casos, sentidos numa

escala local. De facto, é a este último nível, que são criados postos de trabalho e que a

melhoria dos rendimentos das famílias pode ocorrer; é ainda no plano local que têm que

ser equacionadas as necessidades adicionais criadas pelo desenvolvimento turístico em

áreas, tais como, o abastecimento de água e de electricidade, o saneamento básico, a

recolha e o tratamento de lixos, etc.

No plano local ou municipal, as apostas podem ser diversificadas e consentâneas com as

apetências e recursos de cada zona, mas sempre numa lógica clara de integração com as

políticas definidas no “patamar” de nível imediatamente superior (regional e nacional).

Por outro lado, do ponto de vista de estruturação da oferta turística e da acção

promocional, é desejável dispor de organizações regionais em destinos mais

dimensionados, com integração adequada de produtos locais e com capacidade de

afirmação em mercados.

Turismo de Massas e de Minorias (ver apontamentos de IT)

C. Sistema de Estatísticas do Turismo (ver apontamentos – estatísticas)

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

10

1. Tendências marcantes do turismo no contexto internacional

Particularidades recentes: Crescimento muito forte do turismo mundial na segunda metade do século XX; A perturbação da lógica de crescimento entre 2001 e 2003; A recuperação após 2004 (relançamento da economia mundial; alta dos preços do

petróleo parcialmente absorvida pelas economias sem prejudicar a confiança dos consumidores; diminuição dos aspectos psicológicos ligados à insegurança);

A primazia do turismo interno (segundo a OMT, deverá representar actualmente 10 vezes mais do que o turismo internacional);

Recuperação do turismo de negócios, o qual continua contudo a evoluir mais lentamente que o turismo de lazer;

Desenvolvimento da Internet como canal privilegiado para reservas e vendas; Penetração crescente do denominado fenómeno das viagens aéreas a baixo custo; Redução das estadas e multiplicação das pausas; viagens independentes e férias por

tema; reservas tardias e forte sensibilidade aos preços; O turismo de longa distância revigorou-se igualmente, o que produziu um forte

crescimento do tráfego aéreo (tarifas de baixo custo, expansão da rede de linhas aéreas para o Leste Europeu e aumento das companhias aéreas nas ligações inter-regionais).

2. Perspectivas internacionais:

Globalização e concorrência internacional acrescida; O aparecimento de novos destinos incitará outros a repensarem a concepção dos seus

produtos e a apostarem na qualidade e na diversificação da oferta; A forte concorrência entre destinos e produtos turísticos continuará a gerar uma

flexibilidade acrescida por parte dos operadores turísticos na concepção e na apresentação dos seus produtos, de forma a garantirem uma adaptação mais rápida face às eventuais mutações bruscas do mercado;

Acentuar-se-ão as transformações no transporte aéreo, através do aumento do papel das low cost no curto e médio curso, da diminuição do papel dos charter’s e da alteração do papel dos grandes operadores que irão adequar-se à nova realidade;

A fórmula do package completo tenderá a ser preferencialmente ultrapassada, face ao efeito dos websites que permitem reservas e pagamentos directos;

Continuação das estratégias de integração de empresas - alianças, fusões e aquisições; Reforço da influência dos grupos mais pujantes nos sectores do transporte e da

distribuição, sobretudo nos destinos com ofertas mais fragmentadas.

3. Tendências gerais dominantes ao nível do lazer e do turismo

Modificação na estrutura do lazer decorrente em parte da nova era tecnológica;

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

11

A redução lenta/estagnação do tempo médio de trabalho, a subida da esperança média de vida e a incorporação mais tardia dos jovens no mercado de trabalho, originarão na globalidade um aumento de tempo livre;

A globalização e os novos modelos de organização das empresas, com apelo à flexibilização dos processos, poderão permitir a introdução de novas formas de trabalho, a tempo parcial, o que aumentará o tempo para o lazer, embora por períodos mais curtos

A modificação nos hábitos de férias, com a tradicional concentração num único período a fragmentar-se em várias paragens ao longo do ano, de duração mais curta;

O gozo de fins-de-semana fora da residência habitual e as visitas com regresso no próprio dia acompanharão a maior repartição de férias ao longo do ano, criando um cenário que obrigará a rever posicionamentos e estratégias;

O uso do tempo de lazer tenderá a ser pluralmente motivado, numa óptica de utilização múltipla do tempo para a qual contribuem fortemente as modernas tecnologias de informação e comunicação;

A esta dinâmica devem juntar-se outros factores de mudança, designadamente as rápidas e profundas inovações tecnológicas nos transportes, nas acessibilidades, na informação e na comunicação;

A previsível redução/estagnação da jornada laboral não acarretará menores exigências no plano profissional. Pelo contrário, a intensidade do exercício da actividade profissional poderá ainda ser mais forte, o que conduzirá inevitavelmente à valorização dos períodos de descanso físico e psíquico e ao recurso às práticas de lazer e de turismo para fugir ao “stress” quotidiano e à rotina dos mecanismos repetitivos da vida – mesmo que por curtos períodos de tempo;

Pelas características atrás expostas, tudo indica que o turismo interno poderá ser uma das modalidades que mais lucrará com o novo enquadramento.

4. Futuro do Turismo no Mundo:

Tendências Marcantes: Enquadramento económico favorável (maiores rendimentos disponíveis nas famílias) Movimentos de harmonização monetária Novas tecnologias de informação e comunicação Progresso da tecnologia nos transportes Liberalização dos transportes e de outros sectores Globalização da economia e das forças do mercado Conflitos no processo de desenvolvimento de alguns países, nomeadamente entre

identidade e modernidade Reforço da consciência social e ambiental Marketing sofisticado com forte apelo à tecnologia electrónica Novos paradigmas associados ao turismo e ao lazer

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

12

Cenários Previsíveis:

Crescimento significativo do turismo (1ª actividade económica mundial) Reforço da concorrência internacional Aparecimento de novos destinos e mercados emissores a pontificarem no contexto

mundial Diversificação de produtos turísticos e de alternativas regionais Rotação das características dos turistas

Férias dos portugueses – Notas relevantes

- Grande progressão na taxa de gozo de férias fora da residência pós-1997 (passou de 27% para 42% em 1998, 49% em 1999 e estabilizou posteriormente à volta dos 50% (52% em 2003).

- Este crescimento foi generalizado aos vários factores de segmentação – regiões de residência, dimensão do habitat, nível etário, sexos e estratos sócio-económicos; contudo, os traços gerais evidenciam a prevalência dos maiores índices de gozo de férias na grande Lisboa e Grande Porto, nos grandes centros urbanos, nos escalões etários mais jovens (sobretudo nos grupos “15-34” e “35-44”; no sexo masculino (67% contra 65%) e nos estratos alto e médio alto e alto superior.

- Apenas ¼ passou uma parte das férias no estrangeiro (2003).

- Principais motivos para gozo de férias: descanso/recuperação e actividades de praia.

- Procura reprimida: Motivos económicos (63%), profissionais (21%), de saúde (10%) e familiares (5%).

Fraco fraccionamento de férias: apenas 31% dos que gozaram férias fora da residência repartiram férias em 2003, contra 29% em 2002.

Forte sazonalidade: Agosto (63,1% em 2003 contra 62,8% em 2002 e 60,6% em 2001), Julho (24,4%) e Setembro (18,6%); condicionalismos: escalas de serviço (37%), negócios e afazeres profissionais (34%) e Férias escolares (20%).

Agravamento da sazonalidade se não existissem condicionalismos: dos que tiveram condicionalismos (945 mil) teriam escolhido Julho (41%) e Agosto (31%);

Dos 3990 milhares que gozaram férias fora da residência (52% da população maior de 15 anos), 17% foram para a Região Centro (680 mil), 31% para o Algarve, 24,2% para Lisboa e Vale do Tejo, e 19,6% para o Porto e Norte de Portugal.

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

13

Ao nível geral do país, dos que não gozaram férias no local planeado, 29% teriam escolhido o Algarve, 16% a Espanha e 11% o Brasil.

Predomínio dos alojamentos privativos: 48% ficaram em meios particulares (35% em casas de familiares/amigos e 13% na 2.ª residência), seguindo-se a hotelaria (30%), casa alugada fora de empreendimento turístico (14%), 12% no campismo, 8% num apartamento alugado dentro de um empreendimento turístico e 2% alugaram parte de uma casa.

O ambiente de praia é o mais seleccionado: 65% dos que gozaram féria fora de casa consideram esta preferênciam seguindo-se o campo (24%) e a cidade(5%).

Fraca recorrência às agências de viagens: 21% dos que tiveram férias fora de casa (853 mil) em 2003 e 2002, contra 18% em 2001.

Gozo de fins de semana fora da residência – reforço progressivo e estabilização nos últimos anos – 35% em 2003 (2,7 milhões) e 36% em 2002; Motivações predominantes: visitas a familiares/amigos (39%9, descanso (39%), distracção (30%) e mudança de ares (21%); por outro lado, 76% utilizaram casas de familiares/amigos (57%) e 19% as 2.ª s residências.

Gasto médio por pessoa/dia em férias fora da residência e no Continente:22€ (23% em 2002); no estrangeiro: 66€ nos dois últimos anos.

Em 2003, 2,9 milhões de portugueses acederam à Internet para organizarem as suas férias (38% da população maior de 15 anos); no tocante a reservas através da Internet, estas incidiram sobretudo na parte do alojamento (79%, menos 8 p.p. do que em 2002).

Como decorre dos documentos produzidos pela Secretaria de Estado do Turismo, nomeadamente através das “Linhas orientadoras para a política do turismo em Portugal” (1998) e do “Plano estratégico para o turismo interior alargado Portugal/Espanha” (1999), bem como dos últimos estudos efectuados pela Direcção-Geral do Turismo sobre a situação das férias dos portugueses no triénio 1999/2003, existe um quadro de diagnóstico que se consubstancia nos seguintes elementos gerais:

- Mercado com dimensão ainda reduzida;- Forte concentração sazonal;- Preponderância pelas férias de sol e praias dirigidas preferencialmente para Algarve;- Potencial de extensão e de maior penetração da oferta turística;- Mercado passível de alargamento da base de motivações da procura num sentido de diversificação e acréscimo de valor.

Em termos de objectivos de desenvolvimento, foram fixadas especificamente as seguintes orientações:- Alargamento do mercado efectivo;

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

14

- Redução da sazonalidade;- Desconcentração geográfica das estadas;- Diversificação de motivações.

Por outro lado, foram delimitados os domínios estratégicos sobre os quais se deveria actuar:a) Penetração e extensão no mercado - focando os produtos na área dos short-breaks;b) Extensão de produtos - desenvolvendo-se produtos compósitos regionais, com abordagem e cruzamento definido com as Regiões de Turismo que integram as áreas promocionais;c) Focalização de produtos - lançando-se propostas para aumento de valor do produto sol, mar e praia e para programas nacionais de golfe, caça turística e termas;d) Focalização de segmentos - propondo-se programas coerentes dirigidos aos segmentos senior e juvenil;e) Diversificação - criando-se condições para o lançamento de novos produtos para novos segmentos (por exemplo, turismo cultural, turismo de natureza).

D. A procura turística

1) Factores que influenciam a procura turística:

Conceitos de procura turística potencial e procura turística real.

A diferença entre a procura potencial e a procura real constitui um campo de acção do marketing.

De um ponto de vista quantitativo, é razoável admitir que quanto maior for a dimensão da população do país emissor, maior será a possibilidade de existirem turistas vocacionados para viajarem para o estrangeiro, se o rendimento e as condições sócio-políticas não forem condicionantes.

Existem outros factores importantes que contribuem para a delimitação da procura potencial, como a proximidade e a acessibilidade.

2) Comportamento do Consumidor:

Os factores que influenciam a procura turística estão ligados aos modelos de comportamento do consumidor;

Não existem dois indivíduos iguais, pelo que as diferenças de atitude, percepções, imagens e motivações têm uma influência importante nas decisões sobre viagens.

A motivação é um conceito com dimensão variável, sendo que no caso do turismo inclui: A ideia de que as viagens surgem preliminarmente relacionadas com necessidades, as

quais posteriormente passam a configurar um desejo, o qual, por sua vez, dá origem à acção (no caso vertente, à viagem);

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

15

A motivação é baseada em factores irracionais (pessoais) – onde pontificam aspectos sociológicos ou psicológicos de condutas, atitudes, culturas e percepções adquiridas, a par com a imagem dos destinos turísticos criada através dos canais de comunicação.

A decisão final sobre uma viagem, comporta um processo que envolve várias fases:1) Estímulos de viagem (propaganda e promoção; recomendações pessoais e

comerciais);2) Determinantes sociais e pessoais (estatuto sócio-económico, características da

personalidade, influências, aspirações sociais e atitudes/valores);3) Variáveis externas (envolvem a confiança no operador turístico, a imagem do destino,

a experiência adquirida e as restrições ao nível do custo e do tempo);4) Características e aspectos da oferta do destino turístico (recursos turísticos primários,

como o património natural e cultural e os grandes eventos; os equipamentos turísticos; os transportes e as acessibilidades; os procedimentos nas fronteiras; a atitude da população residente face aos turistas; o enquadramento ambiental; o ordenamento turístico).

3) Aspectos determinantes da procura (óptica do consumidor)

A. Ligados ao estilo de vida Rendimento e emprego; direito a férias pagas Tipo de habitat; educação Mobilidade pessoal; raça e sexoB. Ligados ao ciclo de vida (idade) Infância – férias escolares ou em grupos sociais; Adolescente/jovem adulto – alta propensão à viagem; uso de transportes de superfície;

hospedagem alternativa; limites derivados da componente financeira; Casamento – viagens organizadas e familiares; a importância da chegada dos filhos; “Meia-idade” – a independência em relação aos filhos aumenta a propensão à viagem; o

mercado de cruzeiros é típico desta fase; Idosos – grupo activo e móvel da população; férias mais “fixas” e baseadas no alojamento.

4) Padrões Globais da procura turística

1. Factores de forte incidência (STEP):

S… sociais – os níveis de crescimento da população, o seu desenvolvimento, a sua distribuição e a sua densidade, afectam a propensão à viagem;T… tecnológicos – forte efeito nos transportes e nas tecnologias de informação e comunicação;E… económicos – diferente situação do turismo nos países subdesenvolvidos, em vias de desenvolvimento e subdesenvolvidos;P… políticos – a estabilidade política de um destino turístico é um factor de atractividade, fortemente associado ao conceito de segurança.

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

16

2. Características marcantes Elasticidade Sazonalidade Sensibilidade

5) Síntese dos factores que influenciam a procura turística

1. FACTORES IRRACIONAIS (Motivações pessoais):

Círculo de relações e ligações familiares Atitudes de prestígio Imitação e moda Preferências pessoais Sentimentos religiosos Relações públicas e publicidade turística Publicidade informativa e institucional sobre o turismo Condições económicas

2. FACTORES RACIONAIS

Oferta turística/recursos turísticos (património natural e cultural, eventos e acontecimentos sociais, etc.)

Infra-estruturas e estruturas turísticas (organização da hotelaria, transportes internos, acessos, procedimentos nas fronteiras, etc.)

Condições da envolvente (atitude da população face aos turistas estrangeiros, hospitalidade, estrutura demográfica, urbanização, etc.)

6) Características da Procura Turística:

Crescimento Constante – no sentido em que é uma característica geral da procura turística que corresponde a uma expansão global e universal. É o único sector que tem mantido os níveis de crescimentos tão altos, atravessando períodos de crise intensa. Nos últimos 50 anos a procura turística internacional aumentou de 25 milhões para 842 milhões (dados de 2006).

Heterogeneidade – as situações que levam as pessoas a viajar são extremamente diversificadas, o que conduz a situações díspares.

Concentração – Com efeito a procura concentra-se no tempo (épocas altas e épocas baixas), no espaço (destinos turísticos tidos como preferenciais) e em atractivos (embora se verifique uma maior diversificação na procura turística, os maiores atractivos continuam a ser praia, as montanhas e grandes cidades).

Modo de transporte

Objectivo/ /natureza da deslocação

(férias, negócios, etc.)

Fiabilidade(nível de

segurança)

Distância a percorrer

Número de pessoas

envolvidasCusto

(disponibili-dade

económica)

Urgência//rapidez da deslocação

Tempo disponível

para a deslocação

Conforto (necessidade

de descansar e de trabalhar)

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

17

7) Procura Turística Reprimida

Principais razões que podem contribuir para as pessoas não viajarem:

Falta de recursos financeiros; o lazer pode ser preterido por outros consumos básicos; Falta de tempo, sobretudo por razões profissionais ou familiares; Limitações físicas e problemas de saúde; Circunstâncias derivadas de obrigações familiares; Restrições governamentais em alguns países ( controlo de moeda e de “vistos”); Sentimentos religiosos podem conduzir à eliminação de determinados destinos; Medo de viajar (psicológico ou ditado por situações de instabilidade nos destinos,

normalmente associadas a conflitos bélicos ou à possibilidade de propagação de doenças contagiosas).

8) A importância dos transportes

A evolução do conceito de distância (distância absoluta ► distância relativa, onde os novos parâmetros variam em função do tempo e do custo);

Factores que interferem na decisão da escolha do modo de transporte:

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

18

Tomada de decisão – escolha do modo de transporte que se afigura mais conveniente face à natureza da deslocação e aos factores condicionantes

9) Competitividade dos meios de transporte em Portugal

Transporte Rodoviário:

VANTAGENS DESVANTAGENS

Mobilidade e flexibilidade nos itinerários Ocupa grandes espaços pelas estradas e seus acessos

Rede ramificada Pode ter impactos territoriais negativos (separação de propriedades agrícolas e aglomerados populacionais; isolamento de populações)

Prático e económico, especialmente para distâncias curtas e médias

Impactos ambientais negativos (poluição sonora, atmosférica, dos solos e das águas)

Ampliação da rede de auto-estradas proporciona maior rapidez

Grandes consumos de energia (combustível), com efeitos na dependência externa

Especialização crescente e maior capacidade de carga ao nível dos veículos pesados

Congestionamentos das vias de comunicação nas áreas mais urbanizadas e povoadas

Investimentos não muito elevados, sobretudo ao nível do custo dos veículos

Dificuldades de estacionamento nas zonas urbanas

Aumento do conforto nos transportes rodoviários de passageiros

Elevada sinistralidade em Portugal, associada a uma crescente insegurança resultante da circulação indisciplinada

Preços competitivos em relação ao caminho-de-ferro

Controlo constante por parte das autoridades

O transporte individual proporciona independência e conforto

Reduzida capacidade de carga face aos transportes marítimos e ferroviários

A estrutura empresarial rodoviária baseia- Elevados investimentos de manutenção na

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

19

se na livre concorrência, o que permite a prática de preços competitivos.

rede de estradas

Transporte ferroviário:

VANTAGENS DESVANTAGENS

Mobilidade e flexibilidade nos itinerários Ocupa grandes espaços pelas estradas e seus acessos

Rede ramificada Pode ter impactos territoriais negativos (separação de propriedades agrícolas e aglomerados populacionais; isolamento de populações)

Prático e económico, especialmente para distâncias curtas e médias

Impactos ambientais negativos (poluição sonora, atmosférica, dos solos e das águas)

Ampliação da rede de auto-estradas proporciona maior rapidez

Grandes consumos de energia (combustível), com efeitos na dependência externa

Especialização crescente e maior capacidade de carga ao nível dos veículos pesados

Congestionamentos das vias de comunicação nas áreas mais urbanizadas e povoadas

Investimentos não muito elevados, sobretudo ao nível do custo dos veículos

Dificuldades de estacionamento nas zonas urbanas

Aumento do conforto nos transportes rodoviários de passageiros

Elevada sinistralidade em Portugal, associada a uma crescente insegurança resultante da circulação indisciplinada

Preços competitivos em relação ao caminho-de-ferro

Controlo constante por parte das autoridades

O transporte individual proporciona independência e conforto

Reduzida capacidade de carga face aos transportes marítimos e ferroviários

A estrutura empresarial rodoviária baseia-se na livre concorrência, o que permite a prática de preços competitivos.

Elevados investimentos de manutenção na rede de estradas

Transporte Marítimo:

VANTAGENS DESVANTAGENS

Elevada capacidade de carga; transporta todo o género de mercadorias

Fraco desenvolvimento tecnológico nas infra-estruturas e nos equipamentos, o que impõe limitações ao transporte combinado

Preços concorrenciais em termos de transporte de mercadorias

Áreas de influência portuária reduzidas por questões de acessibilidade, especialmente no respeitante às ligações ferroviárias

È um transporte vantajoso para médias e Os portos portugueses apresentam custos

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

20

longas distâncias, com um custo médio baixo por unidade de carga transportada

demasiado elevados face aos concorrentes

Descongestiona as vias terrestres rodoviárias

Reduzida atractividade e fraca competitividade como resultado do baixo dinamismo das políticas comercial e de marketing

Importância dos cruzeiros turísticos em modernos transatlânticos (Lisboa e Funchal, portos de escala importantes)

Baixa eficiência do trabalho portuário

Meio de transporte pouco poluente È um transporte lento com necessidade de transbordo adequado

Importância nas ligações entre o Continente e as Regiões Autónomas

Tem custos muito elevados para viagens turísticas

Navegação de cabotagem (junto à costa) e transporte fluvial de passageiros

O tempo gasto nas viagens não permite o transporte de certos produtos delicados, apesar da existência de contentores refrigerados

Portugal dispõe de portos com condições naturais para navios de médio e grande calado (distância entre a linha de água e a quilha da embarcação)

È um potencial agente poluidor dos mares e das áreas litorais

Transporte Aéreo:

VANTAGENS DESVANTAGENS

É o modo de transporte que veio dar resposta à crescente mobilidade das pessoas e bens

Evidencia custos operacionais muito elevados em resultado do preço das infra-estruturas, dos aviões e da sua manutenção

A vulgarização deste modo de transporte tem possibilitado o desenvolvimento turístico de lugares outrora dificilmente alcançáveis

O preço das deslocações ainda é limitativo da utilização deste tipo de transporte, apesar das descidas de preço que se têm vindo a registar

A elevada oferta tem contribuído para o estabelecimento de preços mais competitivos, atraindo um número crescente de utentes

Apresenta um impacto ambiental elevado (poluição sonora e atmosférica) especialmente na descolagem e aterragem

È o transporte mais económico para passageiros (tempo e custo) para longas distâncias, especialmente em viagens intercontinentais

A capacidade limitada de transporte de mercadorias não permite uma amortização desejável dos elevados custos por unidade de carga transportada

Conforto e rapidez A saturação dos corredores aéreos torna, por vezes, difícil o escoamento do tráfego

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

21

aéreoÉ geralmente um transporte seguro A localização problemática dos aeroportosGrande relevo nas ligações entre o Continente e as Regiões Autónomas, entre estas e o seu interior

A localização dos aeroportos no interior de cidades/áreas urbanas

Condições favoráveis no transporte de bens perecíveis e na evacuação de doentes ou sinistrados

Grande vulnerabilidade face à insegurança motivada por acções terroristas, o que leva a maiores formalidades de controlo de segurança e a um maior consumo de tempo, originando possíveis atrasos

Novo aeroporto de Lisboa, apesar do seu afastamento em relação ao centro da cidade

Atraso nos voos, particularmente nas situações que necessitam de transbordo

O preço deste modo de transporte ao nível das linhas internacionais tem registado baixas sucessivas em resultado de uma concorrência crescente praticada essencialmente pelos voos de baixa tarifa (low coast), o que tem vindo a permitir a vulgarização e a democratização deste tipo de transporte

Concorrência futura por parte do transporte ferroviário de alta velocidade (TGV); deficiente funcionamento dos terminais de carga dos aeroportos de Lisboa e do Porto, devido à elevada intensidade de tráfego e à desadequação das estruturas; limitações da capacidade, a médio prazo, do aeroporto de Lisboa; concorrência do aeroporto de Madrid devido ao seu bom posicionamento ao nível de escalas internacionais

C. Oferta Turística 1. Elementos e características da oferta Turística

Oferta Turística: “… o conjunto de todas as facilidades, bens e serviços adquiridos ou utilizados pelos visitantes bem como todos aqueles que foram criados com o fim de satisfazer as suas necessidades e postos à sua disposição e ainda os elementos naturais ou culturais que concorrem para a sua deslocação.”

Oferta turística primária (ou básica) e oferta turística secundária (ou derivada)

Características da Oferta Turística 1.Os bens produzidos não podem ser armazenados

Os bens e serviços turísticos são produzidos para o momento em que são consumidos e não pode haver formação de stocks. No turismo tal não acontece: se num dado momento não existe procura também não pode haver produção.

2.O consumo turístico é condicionado pela presença do clienteO cliente desloca-se para o local onde os bens e serviços são produzidos, havendo uma intima relação entre o consumo e a presença do cliente. É este que se desloca para onde os bens e serviços são produzidos e não o contrario.

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

22

3.Simultaneidade (espaço/tempo) da produção e do consumoSó há produção turística quando há consumo: uma cama só produz quando alguém a ocupa. A produção e o consumo ocorrem no mesmo local e ao mesmo tempo o que tem consequência que só há produção turística quando há consumo.

4.A oferta turística é imóvelNão há deslocalização das actividades turísticas (e.g., uma praia não pode deslocar-se).

5.O produto turístico é compósitoQualquer viagem comporta um número mínimo de bens e de serviços: transporte, alojamento e alimentação.

6.IntangibilidadeOs produtos turísticos são imateriais, apenas podem ser observados e experimentados no acto do consumo não podendo ser testados, nem observados, a não ser por fotografia, antes da decisão de compra.

Componentes da Oferta TurísticaSão as condições para sucesso, possibilitam a satisfação da procura

I. Componente Primária Recursos Culturais Recursos Naturais

II. Componente Secundária Acolhimento Restauração Infra-estruturas básicas Animação Turística Transportes

III. Componente Especial Hospitalidade

2. Recursos Turísticos

Recurso turístico: todo o elemento natural, actividade humana ou seu produto, capaz de motivar a deslocação das pessoas, de ocupar os seus tempos livres ou de satisfazer as necessidades decorrentes da sua permanência.

A importância de se possuir um Inventário de Recursos Turísticos.

1. Recursoso Primários a. Património - natural e cultural (monumental, artístico, etnográfico e

complementar)

b. Actividades - desportivas, culturais e recreativas

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

23

c. Equipamentos - culturais, desportivos, recreativos, negócios

d. Eventos - religiosos, culturais, desportivos, de animação, negócios e mega-eventos

2. Recursos secundários

a. Actividades - gastronomia, circuitos turísticos, etc

b. Equipamentos - do turismo (ex: estabelecimentos hoteleiros, parques de campismo, termas, rent-a-car, estabelecimentos de restauração e de bebidas, agências de viagens, unidades do turismo no espaço rural); de animação (ex: centros comerciais, mercados periódicos); dos transportes (ex: terminais rodoviários, ferroviários, marítimos, aeroportos); e, infraestruturas sociais (ex: estradas, portos, marinas, telecomunicações)

Sistema de Informação de Gestão de Recursos Turísticos:

Base de dados sistematizada sobre a oferta turística nacional com associação de um modelo de exploração informático visando vários tipos de utilizadores

* Fonte de informação para os agentes do sector e para os próprios turistas em geral, com possibilidades de uso múltiplo * Planeamento e ordenamento turístico * Estudo da criação de novos produtos turísticos * Classificação dos sítios e locais de turismo * Orientação dos investimentos a realizar * Definição da vocação das regiões de turismo * Promoção dos produtos turísticos nacionais

3. Produto Turístico

Produto Turístico - Define-se como qualquer coisa que pode ser oferecida no mercado para atenção, aquisição ou consumo, o que inclui objectos físicos, serviços, personalidades, lugares, organizações e ideias.

Nesta visão ampla, o produto turístico é uma mistura de tudo quanto uma pessoa pode consumir, utilizar, experimentar, observar e apreciar durante uma viagem ou estada.

O produto turístico é global, sendo que muitas vezes o seu conceito identifica-se com o de subproduto. Na prática, quando se referem, por exemplo, o "sol e mar" ou o "turismo religioso" como "produtos turísticos", estamos na verdadeira acepção da palavra a referenciar subprodutos.

Na óptica mais restrita, o produto turístico pode ser definido como o conjunto de bens e serviços unidos por relações de interacção e interdependência, que o tornam complexo.

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

24

Segundo esta concepção, o produto turístico resulta da junção de :

CARACTERÍSTICAS DOS PRODUTOS E SERVIÇOS TURÍSTICOS

Estáticos - os turistas vão ao seu encontro; Intangíveis - não podem ser testados antes do consumo; Abstractos - só fica a imagem depois do consumo; Inseparabilidade - obrigam à presença do cliente e são condicionados por este; Perecibilidade - não podem ser armazenados; Variabilidade - o mesmo produto depende de quem e onde se oferece o serviço; Diversificação - engloba vários subprodutos ou serviços, que podem ser substituídos entre

si; Complementaridade das componentes - a qualidade é avaliada globalmente; Alguns bens turísticos podem ser inelásticos, relativamente pouco adaptáveis às

modificações na procura.

CICLO DE VIDA DOS PRODUTOS TURÍSTICOS

Fases típicas:

1. Nascimento (Introdução) - desenvolve a atenção; estimula o consumo

2. Crescimento - desenvolve a preferência por marcas; beneficia a penetração na distribuição

3. Maturidade - mantém preferência, desenvolve novas utilizações

4. Declínio - perde a penetração no mercado e a rendibilidade

Factores críticos de sucesso

O ciclo de vida do produto turístico depende:

Do acerto da prévia identificação e caracterização dos consumidores;

Da qualidade da concepção do produto;

Produto turístico (concepção restrita)

AcessibilidadesFacilidadesAtractivos

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

25

Das condições técnico-económicas de produção;

Das adequadas campanhas de publicidade;

Das adequadas redes de distribuição e venda;

Do sistemático e atempado acompanhamento da evolução das vendas e do grau de satisfação dos consumidores;

Dos retoques na imagem do produto que permitam renová-lo perante os consumidores;

De alterações substanciais no produto, de modo a adaptar-se a novas ou diferentes necessidades objectivas dos consumidores.

4. A noção de destino turístico

O conceito de Destino Turístico, muito embora tenha sido alvo de diversas definições e de um esforço de investigação por parte da comunidade académica nas últimas décadas, encontra ainda algumas dificuldades em termos de identificação e de delimitação. Neste contexto, realçam-se três contributos importantes para a referenciação do conceito.

O primeiro é-nos dado por Silva (1992), a partir da caracterização que Gunn (1988) e Travis (1989) desenvolveram sobre o assunto. De acordo com o autor, uma área de Destino Turístico deveria ser entendida como um instrumento baseado numa lógica coerente e integradora que incluiria recursos naturais, população, transportes, atracções, imagem e equipamentos e infra-estruturas turísticas.

Mais recentemente, Davidson (1997), depois de reafirmar as dificuldades em obter consenso à volta da definição, aponta, como características partilhadas por todos os destinos, o complexo e multidimensional “produto turístico total”, outras actividades económicas, uma comunidade hospedeira, uma ou várias autoridades locais eleitas e um sector privado activo.

Os trabalhos editados pela Comissão Europeia (1999) sobre a qualidade nos destinos urbanos, costeiros e rurais, realçam dois elementos interdependentes na caracterização do conceito de destino. Um elemento interno, que delimita um espaço dotado de coerência e de autonomia de decisão, e uma realidade externa do destino, que se relaciona com questões de percepção e de imagem.

Da análise comparativa das perspectivas apresentadas pode-se retirar a noção de que o destino turístico assenta numa estrutura de oferta de produtos e serviços turísticos, coerente e baseada numa determinada zona geográfica, que tem associada uma

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

26

determinada imagem de conjunto, normalmente comercializada de uma forma integrada e sob uma marca distintiva.

Não sendo uma realidade abstracta, o destino é uma entidade em tudo semelhante a uma

organização complexa e, como tal, constitui um caso paradigmático de um sistema que é preciso gerir em consonância com expectativas de diversos interessados, de um grande leque de organizações com objectivos nem sempre claramente identificados, numa óptica de maximização das áreas de convergência possíveis, num cenário interactivo de competição interna e externa (Silva, J. J. Mendes e M. Guerreiro; 2001).

Admite-se, como questão de princípio, que o desempenho de um Destino Turístico será sempre um reflexo das relações de complementaridade que se estabelecem entre os diversos tipos de contributos - com os mais variados sentidos – provenientes, tanto de organizações públicas como de privadas, directa e indirectamente relacionadas com a prestação de serviços do sector.

Um Destino arquitecta-se sempre à volta de um produto central, que lhe confere identidade e imagem, e que está na base do seu posicionamento em termos comparativos internacionais. Os produtos centrais estão muito relacionados com o tipo de estrutura geográfica e social que lhes está subjacente (urbanos, rurais e costeiros).

UNIAO EUROPEIA

5. A comercialização do produto turístico

Entre as vantagens comparativas e pontos fortes do turismo português, podem-se identificar aqueles que permitem classificar o território nacional como detentor de uma dotação favorável ao nível de recursos turísticos primários. Podemos enquadrar neste domínio:

o clima favorável; a extensão e diversidade da faixa costeira e do sistema fluvial; a diversidade fisiográfica, com paisagens, ambientes e culturas que podem

corresponder a diferentes motivações sem que se percorram grandes distâncias; a variedade da oferta turística básica, com elementos de diferenciação evidentes

(património natural e histórico-cultural, gastronomia, artesanato, etc.)

Neste contexto, Portugal tem condições para assegurar a diversificação da sua oferta turística, onde é possível organizar e hierarquizar produtos susceptíveis de corresponderem às motivações dos turistas de hoje e do futuro.

Produtos Estratégicos – para os quais Portugal tem manifestas vantagens competitivas ou que apresentam um forte potencial de crescimento, assim como produtos que se dirigem a segmentos de maior qualificação económica ou cuja sazonalidade não coincide com os

Carolina Beja, DGH1A Nº 4239Geografia e Mercados Turísticos – 09/10

27

“picos” sazonais da procura turística para Portugal. Como por exemplo o Golf e o turismo equestre (turismo desportivo).

(PENT)