Geoparque Uberaba
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UFRJ
Rio de Janeiro
Janeiro de 2014
GEOPARQUE UBERABA - TERRA DOS DINOSSAUROS DO BRASIL
Luiz Carlos Borges Ribeiro
Tese de Doutorado submetida ao Programa de
Ps-graduao em Geologia, Instituto de
Geocincias, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro UFRJ, como requisito necessrio
obteno do grau de Doutor em Cincias
(Geologia).
Orientador:
Ismar de Souza Carvalho
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Rio de Janeiro
Janeiro de 2014
GEOPARQUE UBERABA - TERRA DOS DINOSSAUROS DO BRASIL
Luiz Carlos Borges Ribeiro
Orientador: Ismar de Souza Carvalho
Tese de Doutorado submetida ao Programa de Ps-graduao em Geologia, Instituto de
Geocincias, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos
necessrios obteno do ttulo de Doutor em Cincias (Geologia).
Aprovada por:
____________________________________________
Presidente: Antonio Carlos Sequeira Fernandes, UFRJ
____________________________________________
Ktia Leite Mansur, UFRJ
____________________________________________
Ccera Neysi de Almeida, UFRJ
____________________________________________
Cssio Roberto da Silva, CPRM
____________________________________________
Norma da Costa Cruz, CPRM
-
iii
Ribeiro, Luiz Carlos Borges
Geoparque Uberaba Terra dos Dinossauros do Brasil.
xvii, 214 p. (Instituto de Geocincias UFRJ, D.Sc., Programa de Ps-Graduao em Geologia, 2014).
Tese de Doutorado Universidade Federal do Rio de Janeiro, realizada no Instituto de Geocincias.
1. Geoparque Uberaba, patrimnio geolgico, Terra dos Dinossauros do Brasil, fssil, stios histricos e culturais,
Centro Paleontolgico Price, Museu dos Dinossauros
I IG/UFRJ II - Ttulo (srie)
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iv
Dedico este trabalho minha filha Luiza de 7 anos, representando aqui toda uma gerao
futura, na qual tenho grande esperana. Que possam se apropriar do Patrimnio Geolgico,
como maneira de garantir desenvolvimento sustentvel e equidade social e econmica
sociedade. A minha esposa Bia, pela pacincia e compreenso nos meus diversos momentos de
ausncia. A minha me Ana Maria, pelo constante incentivo ao meu desenvolvimento
profissional como gelogo. Que esta pequena contribuio venha auxiliar a cincia no
cumprimento do seu papel maior que o de servir a sociedade.
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v
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Dr. Ismar de Souza Carvalho, pela pacincia, motivao,
compreenso, determinao, objetividade e ensinamentos, nestes 4 anos de desenvolvimento
da tese. No teria chegado ao final deste trabalho sem o seu auxlio.
Ao bilogo Francisco Macedo Neto, pelo apoio constante e incondicional em todos os
momentos e situaes da elaborao da tese e preparao de apresentaes, em que foi chamado
a participar com leitura crtica, sugestes, confeces de pranchas e formatao final durante o
desenvolvimento e concluso do texto final.
Ao coordenador do Complexo Cultural e Cientfico de Peirpolis CCCP/UFTM, Prof.
Dr. Vicente de Paula Antunes Teixeira, pela compreenso, motivao e total demonstrao de
interesse para que eu conclusse da melhor forma possvel este estudo, me resguardando de
situaes adversas que pudessem me desviar a ateno dos estudos e consolidao do resultado
final.
professora Dra. Ktia Leite Mansur pelas constantes correes e sugestes para que
este trabalho pudesse ter a consistncia que lhe necessria a outros colegas que o utilizaro
como fonte de consulta.
Ao paleontlogo Agustin Guillermo Martinelli pelo profissionalismo e presteza no que
lhe foi solicitado, notadamente no que tange ao captulo da assembleia fssil.
Aos professores doutores Leonardo Borghi e Antnio Carlos Sequeira Fernandes, pelos
valiosos comentrios e sugestes, em especial durante as apresentaes do seminrio e
qualificao do doutorado respectivamente.
Aos gelogos Carlos Schobbenhaus, Andre Trevisol e Lcio Anderson Martins do
Servio Geolgico Brasileiro CPRM, pelo grande incentivo na elaborao do projeto
Geoparque Uberaba Terra dos Dinossauros, bem como no cadastramento e quantificao dos geosstios.
Ao paleoartista Rodolfo Nogueira Soares Ribeiro pela capacidade profissional e gentileza
na elaborao e cesso das ilustraes.
toda equipe de funcionrios e colegas do Centro de Pesquisas Paleontolgicas
Llewellyn Ivor Price e Museu dos Dinossauros, que de maneira incansvel, nestes 22 anos, me
auxiliaram na conduo das atividades necessrias consolidao da proposta de criao do
Geoparque Uberaba Terra dos Dinossauros. Aos colegas de trabalho do Complexo Cultural e Cientfico de Peirpolis/UFTM que
desde o final de 2009 tem promovido aes fundamentais na potencializao da pesquisa,
ensino e extenso, proporcionando novos horizontes de crescimento e ganho socioeconmico
ambiental atravs do geoturismo.
os moradores da Comunidade de Peirpolis por participarem como atores na construo
da histria e desenvolvimento dos projetos atribudos ao patrimnio geolgico local nestes
ltimos 24 anos, e que de certa forma delinearam o escopo desta tese.
diretora do Museu do Zebu, Leila Borges de Arajo, e ao historiador Thiago que
disponibilizaram textos, informaes e imagens acerca da epopia do Zebu e sua
representatividade econmica para Uberaba e Brasil.
Marlia Caetano Borges Castro, proprietria da Fazenda Cassu, e seu filho Oscar Jos Caetano de Castro, neta e bisneto do Coronel Jos Caetano Borges, pelas valiosas e fidedignas
informaes acerca da historicidade, pioneirismo e relevncia no desenvolvimento do Zebu
realizados naquela localidade.
Universidade Federal do Tringulo Mineiro (UFTM) e Fundao de Ensino e Pesquisa
de Uberaba (FUNEPU) por me conceder o tempo necessrio realizao desse estudo.
Ao professor Dr. Luiz Alberto Fernandes pela colaborao no captulo de geologia.
-
vi
irm dominicana ngela Maria Silva, responsvel pelo Museu da Capela, pelas
valiosas informaes acerca da histria e colees nele existentes.
Ao Prof Dr. Thiago da Silva Marinho pelas sugestes dadas na reviso bibliogrfica.
Ao Sr. Eurpedes Humberto Higino dos Reis, filho adotivo de Francisco Candido Xavier,
herdeiro e administrador da Casa de Memrias e Lembranas Chico Xavier (Casa Museu Chico
Xavier), pelas informaes verbais prestadas e doaes de exemplares de livros, folders e
matrias diversos relativos vida e a obra de Chico Xavier.
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vii
Atualmente a humanidade sabe proteger a sua memria: seu patrimnio cultural. Apenas recentemente comeou-se a proteger o
ambiente imediato, o nosso patrimnio natural. O passado da Terra no
menos importante que o passado do Homem. Chegou o momento de
aprendermos a proteg-lo, e protegendo-o aprederemos a conhecer o
passado da Terra. Essa memria antes da memria do homem, que um
novo patrimnio: o patrimnio geolgico.
Declarao Internacional dos Direitos Memria da Terra
Digne-les-Bains, Frana 1991
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viii
Rio de Janeiro
Janeiro de 2014
RESUMO
GEOPARQUE UBERABA - TERRA DOS DINOSSAUROS DO BRASIL
Luiz Carlos Borges Ribeiro
Orientador: Ismar de Souza Carvalho
Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Ps-graduao em Geologia,
Instituto de Geocincias, da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Doutor em Cincias (Geologia).
O municpio de Uberaba, no Tringulo Mineiro, tem sido palco desde a dcada de 1940 de
importantes investigaes paleontolgicas. De seus stios provm diversos fsseis de
vertebrados dos quais os dinossauros tm destacada importncia e representatividade. A
implantao, em 1991, do Centro de Pesquisas Paleontolgicas Llewellyn Ivor Price e Museu
dos Dinossauros possibilitou avanos na pesquisa, ensino, difuso e preservao do patrimnio
paleontolgico que transformaram a realidade de Peirpolis por meio do turismo. Possui ainda
valores histricos e culturais de expresso nacional com destaque para a pecuria zebuna e
religiosidade. Visando realizar uma reflexo de viabilidade para a implantao do Geoparque
Uberaba - Terra dos Dinossauros do Brasil, este estudo objetivou determinar a rea da poligonal
de insero do geoparque; identificar, descrever e valorar os geosstios e stios histricos e
culturais de destacado interesse; assim como mensurar as aes em andamento atribudas ao
conceito de geoparque, embasados na significncia do patrimnio paleontolgico. Definiu-se
como rea para o geoparque todo municpio de Uberaba totalizando 4.540,51 km. Foram
inventariados e descritos 12 stios, sendo 7 geosstios e 5 stios histricos e culturais. Concluiu-
se que os elementos avaliados, apoiados na importncia do patrimnio geolgico notadamente
paleontolgico, e nas diversas aes atribudas aos valores histricos e culturais esto em total
consonncia com o que a UNESCO prope para um geoparque. Este conjunto possibilita
compor um produto que d ao territrio do Geoparque Uberaba - Terra dos Dinossauros do
Brasil uma identidade mpar, onde o patrimnio geolgico torna-se elemento de sustentao
socioeconmico e cultural, promovendo o desenvolvimento regional sustentvel.
Palavras-chave: Geoparque Uberaba, patrimnio geolgico, Terra dos Dinossauros do Brasil,
fssil, stios histricos e culturais, Centro Paleontolgico Price, Museu dos Dinossauros
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ix
Rio de Janeiro
Janeiro de 2014
ABSTRACT
UBERABA GEOPARK DINOSAUR LAND FROM BRAZIL
Luiz Carlos Borges Ribeiro
Orientador: Ismar de Souza Carvalho
Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Ps-graduao em Geologia,
Instituto de Geocincias, da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Doutor em Cincias (Geologia).
The city of Uberaba, in Tringulo Mineiro, has developed since the 1940s very important
paleontological investigations. From its sites come many vertebrate fossils in which the
dinosaurs have much importance and representativeness. The establishment, in 1991, of the
Centro de Pesquisas Paleontolgicas Llewellyn Ivor Price e Museu dos Dinossauros enabled
progresses in research, education, dissemination and preservation of paleontological heritage
that transformed the conditions of Peirpolis through tourism. It also has historical and cultural
values of national expression highlighting the Zebu cattle breeding and religiosity. Aspiring a
reflection on the feasibility of deploying Geoparque Uberaba Terra dos Dinossauros do Brasil, this study aimed to determine the area of the polygonal insertion of the geopark; identify,
describe and estimate the geosites and historical and cultural sites of considerable interest, as
well as to measure ongoing actions assigned to the geopark concept, based on the significance
of the paleontological heritage. The whole city of Uberaba, 4.540,51 km, was determined as
Geopark area. Twelve sites were inventoried and reported, being 7 geosites and 5 historical and
cultural sites. It was concluded that the elements assessed, based on the importance of
geological heritage pointedly paleontological, and the various actions attributed to historical
and cultural values are entirely consistent with what is proposed by UNESCO for a geopark.
This set makes it possible to make up a product that gives the territory of the Geoparque
Uberaba Terra dos Dinossauros do Brasil, a unique identity, where the geological heritage becomes element of socioeconomic and cultural promotion, enabling sustainable regional
development.
Key-Words: Geopark Uberaba, geological heritage, Land of the Dinosaurs of Brazil, fossil,
cultural and historical sites, Price Institute of Paleontological Research, Dinosaur Museum
-
x
SUMRIO
AGRADECIMENTOS................................................................................................................v
RESUMO.................................................................................................................................viii
ABSTRACT.................................................................................................................................ix
LISTAS DE FIGURAS.............................................................................................................xii
LISTA DE TABELAS.............................................................................................................xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIMBOLOS.........................................................................xv
1 INTRODUO .................................................................................................................. 1
2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 4
2.1 OBJETIVOS GERAIS ................................................................................................... 4
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ......................................................................................... 4
3 JUSTIFICATIVAS ............................................................................................................. 6
4 LOCALIZAO ................................................................................................................ 8
5 GEOPARQUE CONCEPO, CONCEITOS E CARACTERIZAO ...................... 9 5.1 GEOPARQUES PANORAMA NO BRASIL ........................................................... 13
6 CARACTERIZAO DO GEOPARQUE ...................................................................... 16
6.1 GEOLOGIA REGIONAL ............................................................................................ 16
6.2 GEOLOGIA DO GEOPARQUE.................................................................................. 19
6.2.1 Formao Serra Geral ........................................................................................... 20
6.2.2 Formao Uberaba ................................................................................................ 21
6.2.3 Formao Marlia ................................................................................................. 22
6.2.4 Coberturas Cenozoicas Formao Nova Ponte ................................................. 25 6.2.5 Depsitos Quaternrios......................................................................................... 25
7 CARACTERIZAO SOCIOECONMICA................................................................. 26
7.1 INFRAESTRUTURA, ECONOMIA E NDICES DE DESENVOLVIMENTO ........ 26
8 PALEONTOLOGIA EM UBERABA.............................................................................. 29
8.1 HISTRICO ................................................................................................................. 29
8.2 A ASSEMBLEIA FSSIL DE UBERABA ................................................................ 30
9 AES RELEVANTES PARA A CONSOLIDAO DO GEOPARQUE .................. 43
9.1 HISTRICO ................................................................................................................. 43
9.2 A PESQUISA E A SIGNIFICNCIA DO PATRIMNIO GEOLGICO ................ 43
9.3 PROGRAMAS EDUCACIONAIS .............................................................................. 45
9.4 A DIFUSO E POPULARIZAO DA PALEONTOLOGIA E O GEOTURISMO 47
9.5 GEOCONSERVAO - POLTICAS PBLICAS DE PROTEO
GEODIVERSIDADE ............................................................................................................... 50
-
xi
9.5.1 rea de Proteo Ambiental (APA) Rio Uberaba ................................................ 50
9.5.2 Monumento Natural de Peirpolis - Lei municipal N 10.339 ............................ 51
9.6 AES DE VALORAO DO PATRIMNIO GEOLGICO ............................... 52
9.7 OS VALORES HISTRICOS E CULTURAIS .......................................................... 53
9.7.1 Zebu Historicidade e Impacto no Desenvolvimento Social, Econmico e Turstico de Uberaba ............................................................................................................ 53
9.7.2 Religiosidade: As Igrejas Catlicas e a Expressividade de Chico Xavier ............ 58
10 MATERIAIS E METODOLOGIA .................................................................................. 65
10.1 A CARACTERIZAO DOS GEOSSTIOS ............................................................. 67
10.1.1 Critrios para quantificao dos Geosstios (conforme ficha PROGEO(1) adaptada
para software Geossit). ......................................................................................................... 67
11 RESULTADOS ALCANADOS .................................................................................... 71
11.1 DEFINIO DA POLIGONAL DO GEOPARQUE .................................................. 71
11.2 DESCRIO DOS GEOSSTIOS ............................................................................... 72
11.2.1 Geosstio No 1: Ponte Alta ................................................................................... 73
11.2.2 Geosstio No 2: Caieira......................................................................................... 75
11.2.3 Geosstio No 3: Peirpolis .................................................................................... 78
11.2.4 Geosstio No 4: Univerdecidade ........................................................................... 84
11.2.5 Geosstio No 5: Serra da Galga ............................................................................ 86
11.2.6 Geosstio No 6: Santa Rita.................................................................................... 89
11.2.7 Geosstio No 7: Vale Encantado ........................................................................... 91
11.2.8 Stio Histrico e Cultural No 1: Museu da Cal ..................................................... 92
11.2.9 Stio Histrico e Cultural No 2: Museu da Capela ............................................... 94
11.2.10 Stio Histrico e Cultural No 3: Museu do Zebu .............................................. 96
11.2.11 Stio Histrico e Cultural No 4: Fazenda Cassu ............................................. 100
11.2.12 Stio Histrico e Cultural No 5: Casa Museu Chico Xavier ........................... 103
11.3 LOGOMARCA .......................................................................................................... 106
11.4 ANTEPROJETO DO GEOSSTIO PEIRPOLIS .................................................... 107
11.4.1 Exposies Vida Pr-histrica e Fsseis do Brasil ............................................. 107
11.4.2 Criao do Parque O Cretceo em Uberaba .................................................... 108 11.4.3 Implantao do Jardim Paleobotnico ................................................................ 110
12 SNTESE CONCLUSIVA ............................................................................................. 111
13 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................... 117
14 ANEXOS ........................................................................................................................ 124
14.1 Geoparque Uberaba Terra dos Dinossauros do Brasil............................................. 124 14.2 TERRA DOS DINOSSAUROS: LA CONSTRUCCIN E IMPLEMENTACIN DEL
TURISMO PALEONTOLGICO EN EL BARRIO RURAL DE PEIRPOLIS, UBERABA
(MG, BRASIL) ....................................................................................................................... 133
14.3 GEOPARQUE UBERABA TERRA DOS DINOSSAUROS DO BRASIL (MG) . 157 14.4 O PATRIMNIO PALEONTOLGICO COMO ELEMENTO DE
DESENVOLVIMENTO SOCIAL, ECONMICO E CULTURAL: CENTRO
PALEONTOLGICO PRICE E MUSEU DOS DINOSSAUROS, PEIRPOLIS, UBERABA
(MG) 192
14.5 GEOPARK UBERABA: RELEVANCE OF THE GEOLOGICAL HERITAGE ..... 202
14.6 Modelos de Fichas GEOSSIT (CPRM) ...................................................................... 212
-
xii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Mapa de localizao do geoparque proposto. .............................................................. 8
Figura 2 Propostas de Geoparques apresentadas no Brasil (Schobbenhaus & Silva, 2012). ... 14
Figura 3 Modelo esquemtico de evoluo tectnica para a Bacia Bauru (Fernandes, 1998). 17
Figura 4 Mapa geolgico da Bacia Bauru no Brasil, modificado de Fernandes, 1998 ............ 18
Figura 5 Mapa geolgico do municpio de Uberaba - rea do Geoparque Uberaba - Terra dos
Dinossauros do Brasil (Ribeiro et al., 2012). ........................................................................... 19
Figura 6 Perfis estratigrficas do Grupo Bauru nos geosstios Caieira e Serra da Galga
(Modificado de Novas et al., 2008). ......................................................................................... 24
Figura 7 Mapa de localizao de Uberaba em relao aos principais centros urbanos do pas.
.................................................................................................................................................. 26
Figura 8 Llewellyn Ivor Price com fssil de dinossauro encontrado na regio de Mangabeira.
.................................................................................................................................................. 30
Figura 9 Reconstruo paleoambiental retratando a aridez climtica da regio de Uberaba no
final do Cretceo h 70 milhes de anos mostrando Uberabasuchus terrificus em primeiro
plano. Imagem: Rodolfo Nogueira. .......................................................................................... 31
Figura 10 Fssil de Uberabasuchus terrificus durante as escavaes em setembro de 2000. . 31
Figura 11 Reconstruo digital de Uberabatrachus carvalhoi. Imagem: Rodolfo Nogueira. . 33
Figura 12 Crnio de Uberabasuchus terrificus. ....................................................................... 33
Figura 13 Reconstruo em vida de Pristiguana brasiliensis (Escultura de Jorge L. Blanco).34
Figura 14 Reconstruo em vida e fssil de Cambaremys langertoni ..................................... 35
Figura 15 Escavaes de Uberabatitan ribeiroi no km 153 da BR 050 - Geosstio Serra da
Galga. ........................................................................................................................................ 36
Figura 16 Reconstruo de Uberabatitan ribeiroi na regio de Uberaba h 65 milhes de anos.
Imagem: Rodolfo Nogueira. ..................................................................................................... 37
Figura 17 Garra fssil do Maniraptora de Peirpolis. .............................................................. 37
Figura 18 Reconstruo em vida do Maniraptora de Peirpolis .............................................. 38
Figura 19 Vrtebra lombar e dente de Abelisauridae. .............................................................. 39
Figura 20 Reconstruo em vida do Abelissauro. Escultura: Northon Fenerich. ..................... 39
Figura 21 Escavaes de fsseis de Eremotherium laurillardi na cidade de Uberaba em 2006.
.................................................................................................................................................. 41
-
xiii
Figura 22 Ovo de Titanosauria (esquerda) e coprlito (direita). .............................................. 42
Figura 23 Escavaes no Geosstio Caieira, conhecido tambm como Ponto 1 do Price em
Peirpolis Uberaba MG. ........................................................................................................ 44
Figura 24 Atividades de escavaes no PROTEU. .................................................................. 46
Figura 25 Atividades realizadas durante a XVII Semana dos Dinossauros Peirpolis 2010. .................................................................................................................................................. 47
Figura 26 Sala principal da exposio do Museu dos Dinossauros. ......................................... 48
Figura 27 Mapa de localizao da rea do Monumento Natural de Peirpolis. ....................... 51
Figura 28 Folha de rosto da descrio do Stio 28 do SIGEP (Winge et al., 2009). ................ 52
Figura 29 Ilustrao do touro Lontra em 1889. (Borges, 2012) .............................................. 54
Figura 30 Delegao uberabense de importadores de gado na ndia em 1906 (Borges 2012). 55
Figura 31 Julgamento de animais durante a Expozebu 2013. Fonte: ABCZ. .......................... 57
Figura 32 Entrada do Parque Fernando Costa, sede da ABCZ, Expozebu e Museu do Zebu. . 58
Figura 33 Igreja Santa Rita, 1934. ............................................................................................ 59
Figura 34 Entrada principal do Colgio Nossa Senhora das Dores, 2014. ............................... 60
Figura 35 Vista da Capela Nossa Senhora das Dores, sede do Museu da Capela. ................... 60
Figura 36 Esquerda Igreja de Nossa Senhora da Abadia, Direita Igreja de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa ................................................................................................................... 61
Figura 37 A significncia de Chico Xavier no espiritismo. ..................................................... 62
Figura 38 Tmulo de Chico Xavier no Cemitrio So Joo Batista em Uberaba. ................... 63
Figura 39 Maquete digital acima e obras do Memorial Chico Xavier abaixo. ......................... 64
Figura 40 Mapa de localizao e rea de abrangncia da poligonal proposta para GUTDB. .. 71
Figura 41 Mapa de localizao dos geosstios e stios histricos e culturais do geoparque..... 72
Figura 42 Geosstio Ponte Alta. ................................................................................................ 75
Figura 43 Vista panormica do afloramento principal do Geosstio Caieira. .......................... 76
Figura 44 Escavaes realizadas no Geosstio Caieira. ............................................................ 77
Figura 45 Atividades educacionais desenvolvidas no Geosstio Caieira. ................................ 78
Figura 46 Ovos de dinossauros encontrados no Geosstio Peirpolis pelo Sr. Langerton Neves
da Cunha. .................................................................................................................................. 79
-
xiv
Figura 47 Estao Ferroviria de Peirpolis na dcada de 1980. ............................................. 80
Figura 48 Centro Price e Museu dos Dinossauros em 2014. .................................................... 81
Figura 49 Fachada principal da sede do CCCP/UFTM. ........................................................... 81
Figura 50 Saguo principal contendo rplicas da fauna fssil de Uberaba e Argentina. ......... 82
Figura 51 Vista panormica dos jardins do CCCP/UFTM onde se observa, ao fundo, o Museu
dos Dinossauros. ....................................................................................................................... 83
Figura 52 Vista panormica de Uberaba a partir do Geosstio Univerdecidade. ..................... 85
Figura 53 Geosstio Univerdecidade - Afloramento Fm. Uberaba (Esquerda) e esfoliaes
esferoidais nos basaltos da Fm. Serra Geral (Direita). ............................................................. 86
Figura 54 Geosstio Serra da Galga Km 153 BR 050............................................................ 87
Figura 55 Escavaes paleontolgicas no Geosstio Serra da Galga no ano de 2005. ............. 88
Figura 56 Escavaes paleontolgicas para a retirada de fsseis de Uberabatitan ribeiroi em
2006. ......................................................................................................................................... 88
Figura 57 Museu de Arte Sacra Santa Rita............................................................................... 90
Figura 58 Cachoeira Vale Encantado (Esquerda) e Vistas da rea do restaurante (Direita). ... 91
Figura 59 Vista geral do Stio Histrico e Cultural Museu da Cal onde se insere a Caieira do
Meio em 2012. .......................................................................................................................... 93
Figura 60 Carroes utilizados para o transporte do calcrio at os fornos para a produo da
cal.............................................................................................................................................. 94
Figura 61 Vista panormica lateral da capela Nossa Senhora das Dores onde se insere o Museu
da Capela. ................................................................................................................................. 95
Figura 62 Vista parcial da exposio Loreto (esquerda) e estilo arquitetnico neo-romnico de seu interior (direita). ............................................................................................................ 96
Figura 63 Entrada principal do Museu do Zebu localizado no Parque Fernando Costa. ......... 97
Figura 64 Uma das salas da exposio atual do Museu do Zebu. ............................................ 98
Figura 65 Atividade prtica, do Projeto Zebu na Escola, realizada durante a Expozebu. ........ 99
Figura 66 Mostra de gado Induberaba na fazenda Cassu, em 22/4/1940. Getlio Vargas de
chapu e a sua direita Slvio Caetano Borges, filho de Jos Caetano e herdeiro da fazenda. 101
Figura 67 Fachada e lateral da Fazenda Cassu 2010. .......................................................... 102
Figura 68 Chico Xavier, prximo aos seus 90 anos. .............................................................. 104
-
xv
Figura 69 Vista externa da Casa Museu Chico Xavier e Livraria Francisco Cndido Xavier,
2013. ....................................................................................................................................... 104
Figura 70 Dependncias da casa mostrando o quarto e mobilirios de Chico Xavier. .......... 105
Figura 71 Logomarca criada pelo paleoartista Rodolfo Nogueira para o GUTDB. .............. 106
Figura 72 Perspectiva do Geosstio Peirpolis e seus diversos subprojetos. Imagem: Rodolfo
Nogueira. ................................................................................................................................ 107
Figura 73 Perspectiva do subprojeto Cretceo em Uberaba. Imagem: Rodolfo Nogueira. 109
-
xvi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Empreendimentos relacionados ao Geoturismo em Peirpolis. ............................... 50
Tabela 2: Cadastramento e quantificao dos geosstios com base no aplicativo GEOSSIT
(CPRM). ................................................................................................................................... 72
-
xvii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIMBOLOS
ABCZ: Associao Brasileira dos Criadores de Zebu
ACIU: Associao Comercial e Industrial de Uberaba
APA: rea de Proteo Ambiental Rio Uberaba
APE: rea de Proteo Especial
CCCP: Complexo Cientfico Cultural de Peirpolis
CDL: Clube de Diretores Logistas
CITUR: Centro de Informaes Tursticas, Qualificao e Comercializao de Produtos Rurais
CONPHAU: Conselho do Patrimnio Histrico e Artstico de Uberaba
CPPLIP: Centro de Pesquisas Paleontolgicas Llewellyn Ivor Price
CCCP: Complexo Cultural e Cientfico de Peirpolis
CPRM: Servio Geolgico do Brasil
DGM: Diviso de Geologia e Minerao
DNPM: Departamento Nacional de Produo Mineral
DRM-RJ: Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro.
FCU: Fundao Cultural de Uberaba
FEB: Federao Esprita Brasileira
FIEMG: Federao das Indstrias do Estado de Minas Gerais
FUNEPU: Fundao de Ensino e Pesquisa de Uberaba
GA: Geopark Araripe
GGN: Global Geoparks Network
GUTDB: Geoparque Uberaba - Terra dos Dinossauros do Brasil
MACN: Museo Argentino de Cincias Naturales
MAS: Museu de Arte Sacra
MCT: Museu de Cincias da Terra
MCTI: Ministrio de Cincia, Tecnologia e Inovao
MD: Museu dos Dinossauros
MNP: Monumento Natural de Peirpolis
PIB: Produto Interno Bruto
PROTEU: Programa de Treinamento de Estudantes Universitrios
PUCMINAS: Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais
RPPN: Reserva Particular do Patrimnio Natural
SBU: Stony Brook University
SIGEP: Comisso Brasileira de Stios Geolgicos e Paleobiolgicos
SNUC: Sistema Nacional de Unidades de Conservao
SRU: Sindicato Rural de Uberaba
SRTM: Sociedade Rural do Tringulo Mineiro
UERJ: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFMG: Universidade Federal de Minas Gerais
UFOP: Universidade Federal de Ouro Preto
UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFTM: Universidade Federal do Tringulo Mineiro
UFU: Universidade Federal de Uberlndia UNC: Universidade Nacional del Comahue
UNESCO: Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura
UNESP: Universidade Estadual Paulista
UNIRIO: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
UNISINOS: Universidade do Vale do Rio dos Sinos
UNPSJB: Universidad Nacional de la Patagnia San Juan Bosco
USP: Universidade de So Paulo
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1 INTRODUO
O municpio de Uberaba, no Tringulo Mineiro, tem se revelado como uma das principais
localidades fossilferas do Cretceo continental brasileiro. De seus diversos stios provm
inmeros txons, notadamente de vertebrados, nicos no registro paleontolgico. Ainda que as
primeiras descobertas tenham ocorrido no ano de 1945 na localidade conhecida por
Mangabeira, norte da cidade de Uberaba, foi em Peirpolis, bairro situado 20 km ao leste da
cidade, que a paleontologia teve sua maior expresso.
A histria, o desenvolvimento e a relevncia dos estudos dos fsseis no municpio esto
intimamente associados s atividades empreendidas nessa localidade, em especial no seu incio,
graas s atividades da minerao. Peirpolis teve no perodo entre os anos de 1889 a 1960
como suas principais fontes de sustentao econmica: a agricultura, a pecuria e a minerao
do calcrio para o fabrico da cal. Neste perodo viviam na localidade mais de 600 pessoas e a
ferrovia consolidava-se como fio condutor do desenvolvimento do povoado com a
movimentao de produtos e pessoas. O declnio da produo agrcola, a desativao das
caieiras e a paralisao da ferrovia, na dcada de 1980, geraram o colapso da economia local e
logo o bairro rural se viu abandonado aps grande parte dos moradores ter migrado para a
cidade. A redeno da economia e do desenvolvimento, e por no dizer, da prpria existncia
de Peirpolis, teve incio com as primeiras escavaes paleontolgicas sistemticas realizadas
pelo paleontlogo Llewellyn Ivor Price.
Atrado pelas rochas sedimentares associadas minerao de calcrio, Price deu incio,
em 1946, s suas investigaes, no stio nominado Caieira, nos arredores de Peirpolis.
Trabalhou anualmente na regio em diversas localidades at 1974, tendo os exemplares
coletados sido depositados no Rio de Janeiro no Museu de Cincias da Terra (MCT) do Servio
Geolgico do Brasil (CPRM). Suas escavaes revelaram centenas de exemplares, e seus
estudos da poca resultaram na descrio de diversas espcies. Deixou ainda um legado
paleontologia nacional j que suas descobertas, ainda hoje, vem sendo estudadas por
pesquisadores, o que tem propiciado a identificao de novas espcies.
Em 1992, com a implantao, em Peirpolis, do Centro de Pesquisas Paleontolgicas
Llewellyn Ivor Price (CPPLIP) e Museu dos Dinossauros (MD), atravs da Prefeitura de
Uberaba, tem incio um novo ciclo de desenvolvimento da paleontologia regional. A partir de
ento, uma srie de aes vem consolidando a pesquisa, ensino, proteo do patrimnio
geolgico e popularizao da cincia dos fsseis, potencializado pela magia e apego que as
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pessoas tm pelos dinossauros. Estas atividades transformaram a realidade local, e hoje o
geoturismo a principal atividade econmica da comunidade.
Estas iniciativas possibilitaram o resgate da identidade entre os moradores locais, com a
composio de um acervo temtico acerca dos fsseis descobertos. Buscava-se desta forma
valorar a identidade local, educar sobre a importncia dos estudos paleontolgicos e, por
conseguinte, realizar a geoconservao atravs de polticas pblicas municipais.
Dentre os espcimes existentes, os dinossauros tem destacada relevncia, seus espcimes
ocorrem excepcionalmente bem preservados, em quantidade e diversidade singulares. J foram
identificados e descritos vrios novos txons posicionando Uberaba como centro de referncia
nacional no contexto dos estudos e divulgao deste grupo no pas.
Fsseis nicos de outros grandes vertebrados descritos no municpio, bem como
afloramentos chaves para compreenso da histria geolgica regional, so sem dvida
importantes elementos coadjuvantes para a ampliao do interesse pelos temas associados
geodiversidade regional.
Em Peirpolis o patrimnio paleontolgico ganhou uma nova aplicao e valor que
transcende sua prpria relevncia cientfica, elemento de revitalizao econmica e cultural
que vem possibilitando melhoria na qualidade de vida de seus 300 moradores graas
atratividade turstica alicerada na magia que os dinossauros exercem nas pessoas.
Como boa parte do municpio dispe de outros geosstios de grande importncia
paleontolgica e stios de valores histricos e culturais, passveis de serem incorporados dentro
do contexto do geoparque, torna-se imperioso a extenso das aes empreendidas em Peirpolis
para os demais pontos de interesse, tornando-se desta forma um projeto de expresso regional
seguindo as diretrizes estabelecidas pela Organizao das Naes Unidas para a Educao,
Cincia e Cultura (UNESCO) e Servio Geolgico do Brasil (CPRM).
Concomitante a conveno de Digne-les-Bains (Frana), considerado o ponto de partida
para a formulao do conceito de Geoparque pela UNESCO, a conduo dos trabalhos pelo
Centro Price e Museu dos Dinossauros em 1991, foi pioneira no Brasil. Nesta ocasio ficou
explcito o valor e a significncia do Patrimnio Geolgico como mecanismo desenvolvimento
calcado nos atributos do meio fsico, em especial da importncia dos fsseis e da paleontologia.
Em 2010 o CPPLIP e MD passaram a integrar a Universidade Federal do Tringulo
Mineiro (UFTM), que somado extinta Rede Nacional de Paleontologia compem o Complexo
Cientfico Cultural de Peirpolis (CCCP). Esta nova insero tcnico administrativa tem
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possibilitado uma reflexo mais ampla acerca da temtica geoparque junto sociedade
organizada de Uberaba e instituies federais afins, como o Servio Geolgico Brasileiro -
CPRM, possibilitando o aprofundamento das discusses e as tomadas de decises que
apontaram para a formulao da proposta do Projeto Geoparque Uberaba - Terra dos
Dinossauros do Brasil (GUTDB), objeto desta tese.
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2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVOS GERAIS
O projeto vem ao encontro vocao local, dada pelo Patrimnio Geolgico, cujo vis
principal a singularidade dos registros fossilferos, nomeadamente a relevncia dos achados
atribudos a dinossauros provenientes dos diversos geosstios distribudos ao longo do
municpio de Uberaba.
Tem como premissa maior, propor uma rea de delimitao do geoparque, identificar e
descrever os geosstios, os stios de interesse histrico e cultural e as atividades e possibilidades
condizentes e previstas no mbito da pesquisa, programas educacionais, aes de divulgao,
geoconservao, e que resultem na promoo social, econmica e ambiental atravs do
geoturismo. Objetiva o estudo terico atravs de uma reflexo abrangente acerca das
potencialidades da geodiversidade e outras vocaes locais pertinentes a consolidao da
proposta em tela.
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
Determinar a rea global do Geoparque cujas dimenses e peculiaridades estejam em
sintonia com projetos similares. Nela devero estar ciscunscritos todos os Geosstios e Stios
Histricos e Culturais que contemplem locais chaves onde possam ser colocadas em prtica
aes normalmente adotadas em projetos da Rede Global de Geoparques.
Propor a logomarca para utilizao no plano de comunicao e marketing do geoaparque.
Identificar, descrever e quantificar os Geosstios de maior importncia cientfica, sejam
focados nos aspectos paleontolgicos ou/e geolgicos, de reais interesses para a visitao, que
demonstrem de forma didtica e clara as informaes a serem assimiladas pelo visitante.
Identificar Stios de valores Histricos e Culturais de interesses e projees locais e
nacionais, patrimnios materiais e imateriais que, em conjunto com os Geosstios possam
constituir roteiros onde a integrao das vrias temticas possibilitem desenvolvimento e
sustentabilidade socioeconmico-ambiental atravs do turismo.
Fortalecer o desenvolvimento da cultura de preservao e sustentabilidade atravs do
turismo cientfico, com base principalmente nos jazigos fossilferos e stios geolgicos de
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interesse existentes na regio, assim como fazer o resgate da histria da minerao e suas
relaes com a pesquisa paleontolgica.
Inventariar o Patrimnio Paleontolgico de Uberaba atravs da descrio da Assembleia
Fssil de Uberaba.
Descrever as atividades de pesquisas desenvolvidas na regio que alimentam o
desenvolvimento e a produo cientfica e, por conseguinte, projetam os Geosstios e seus
fsseis.
Descrever e valorar as atividades educacionais, notadamente relacionadas construo
do conhecimento nas reas de geologia e paleontologia, que, de certa forma, possibilitam a
popularizao destas cincias e contribuem para a formao de uma conscincia crtica voltada
geoconservao dos stios paleontolgicos e preservao dos recursos naturais.
Elencar e descrever os projetos e modelos utilizados na difuso e popularizao da
paleontologia no municpio de Uberaba e suas relaes para o incremento do Geoturismo como
maneira de garantir a sustentabilidade e viabilidade econmica do projeto.
Inventariar e descrever as aes de polticas pblicas adotadas pela municipalidade,
instituies federais afins e sociedade civil organizada visando a garantia da geoconservao e
efetiva proteo do Patrimnio Geolgico.
Propor projetos para a potencializao das aes nos Geosstios mais relevantes gerando
maior atratividade e afluxo turstico.
Descrever os Geosstios de forma a aproveitar ao mximo a sua Geodiversidade,
compondo com a biodiversidade um panorama que demonstre ao expectador todas as
informaes acerca do local, visando aes de difuso, educao ambiental e em geocincias.
Dar subsdios e sustentao terica de forma a consubstanciar um projeto executivo que
possibilite a implantao do geoparque, e que tenha exequibilidade, atratividade e transmita
segurana para as instituies gestoras sobre o sucesso do empreendimento.
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3 JUSTIFICATIVAS
O municpio de Uberaba concentra um grande nmero de stios paleontolgicos onde
notrio o grau de preservao e quantidade de fsseis associados a dinossauros.
Historicamente, toda regio vem sendo investigada desde o sculo passado, o que
possibilitou reunir em colees sediadas no Rio de Janeiro no MCT/CPRM e em Uberaba
milhares de espcimes, oportunizando a descrio de vrios txons atribudos a dinossauros e
outros vertebrados de grande porte e de interesse popular.
O Complexo Cultural e Cientfico de Peirpolis/UFTM atravs do Centro de Pesquisas
Paleontolgicas Llewellyn Ivor Price e Museu dos Dinossauros, atualmente referncia
mundial para o estudo da fauna continental que existiu durante o perodo Cretceo superior (80
a 65 milhes de anos) abrigando, em seu repositrio, boa parcela dos fsseis de dinossauros
descritos no pas.
Consubstanciado pelas diversas iniciativas j empreendidas ao longo destes ltimos 23
anos, em especial a partir das atividades executadas pelo CPPLIP e MD, a regio de Uberaba,
em especial Peirpolis, tem realizado de maneira sistmica atividades no mbito da proteo e
preservao do patrimnio geolgico, utilizando-se de aes educativas, cientficas e de difuso
da informao, o que tem possibilitado o desenvolvimento scio-ambiental sustentvel atravs
do geoturismo.
Estas aes, por si, corroboram na caracterizao de um geoparque, ainda que para tal
faz-se necessria a expanso destas iniciativas atravs de um nmero maior de Geosstios e
Stios Histrico-Culturais distribudos por todo municpio de Uberaba, estendendo as atividades
confinadas a Peirpolis, o que oportunizar a sustentabilidade econmica ao projeto.
Dentro deste escopo, o que se prope que as aes j em desenvolvimento, centradas na
paleontologia e no patrimnio geolgico, possam se integrar a outros valores locais e de
expresso nacional, como o da pecuria ligado ao gado Zebu e o universo da religiosidade,
calcado nos monumentos musealizados da igreja catlica e na expresso do nome Chico Xavier
no campo da espiritualidade. A integrao do patrimnio geolgico a estes outros valores
histricos e culturais podero, em conjunto, contriburem para a construo de uma identidade
singular para este territrio em consonncia aos propsitos previstos para os geoparques dentro
do conceito da UNESCO.
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H uma necessidade crescente de se aproveitar todo o potencial cientfico-histrico e
cultural ainda timidamente explorados, face aos parcos esforos e iniciativas empreendidas at
o momento. A otimizao de seus usos podero impactar sobremaneira o bem estar de toda a
comunidade atravs da implantao do geoparque.
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4 LOCALIZAO
A rea de estudo compreende o municpio de Uberaba. O topnimo "Uberaba" origina-
se do termo tupi "Y-berab" que quer dizer "gua clara" ou "rio brilhante". O municpio est
situado no sudeste do Brasil, no estado de Minas Gerais, mais especificamente na regio
conhecida como Tringulo Mineiro.
Constitui uma das oito maiores cidades do estado, est localizada a cerca de 470 km a
oeste da capital Belo Horizonte. A rea do municpio de 4.540,51 km que tambm a rea
proposta para o Geoparque Uberaba Terra dos Dinossauros do Brasil GUTDB (Figura 1),
limita-se ao sul com os municpios de Delta, Igarapava, Aramina, Miguelpolis e gua
Comprida, ao oeste com Conceio das Alagoas e Verssimo, ao norte com Uberlndia e
Indianpolis e ao leste com Sacramento, Nova Ponte e Conquista.
Figura 1 Mapa de localizao do geoparque proposto.
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5 GEOPARQUE CONCEPO, CONCEITOS E CARACTERIZAO
Iniciada na revoluo industrial e ampliada nestas ltimas dcadas, as prticas adotadas
pela sociedade vm inexoravelmente assolando os ecossistemas e por conseguinte colocando
em risco diversas formas de vida na Terra.
A natureza est muito prxima da sua capacidade mxima de produo. Cada vez mais
pessoas e instituies tem debatido acerca da ocorrncia de mudanas climticas globais
atribudas ao antrpica que, para alguns, compromete de forma irreversvel o equilbrio
ambiental do planeta.
Estas manifestaes propem a adoo de um modelo eficiente de desenvolvimento
sustentvel, ou seja, aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade de as geraes futuras atenderem a suas prprias necessidades (CMMAD, 1991).
H premncia na quebra dos paradigmas de que notadamente a indstria, o comrcio e a
minerao, so as melhores formas de gerao de postos de trabalho, renda e qualidade de vida,
possibilitando a equidade socioeconmica s populaes. momento de se propor novas
diretrizes, utilizando-se dos valores intrnsecos do meio fsico.
Assim, o manejo adequado da biodiversidade aliado potencializao racional do meio
natural onde se insere a geodiversidade atravs das paisagens, rochas, minerais e fsseis, pode
ser a chave para as geraes futuras. Reuni-las em reas singulares, onde esses atributos do
patrimnio geolgico possuem valores cientfico, pedaggico, cultural e turstico que se
sobrepem mdia, configurando projetos sustentveis, poder garantir longevidade ao planeta
e ao homem. Esse modelo de desenvolvimento nominado Geoparque.
Nascido no contexto das geocincias, em duas dcadas os geoparques se apropriaram dos
patrimnios naturais, histricos e culturais de ordem material e ou imaterial, o que lhes
garantiram uma pluralidade de projetos com identidades prprias, gerando atratividade e
multiplicando-se em quase todos continentes.
O conceito de Geoparque ou Geopark (em ingls) teve como ponto de partida a
Conveno de Digne-les-Bains, na Frana, onde a Declarao dos Direitos Memria da
Terra, assinada por mais de 30 naes em junho de 1991, apontava que era chegado a hora de
proteger o nosso patrimnio natural registrado nas rochas e paisagens, ou seja, o nosso
patrimnio geolgico.
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Para a Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura (UNESCO),
geoparque uma rea onde stios do patrimnio geolgico representam parte de um conceito
holstico de proteo, educao e desenvolvimento sustentvel. Deve gerar atividade
econmica, notadamente atravs do turismo, e envolve um nmero de stios geolgicos de
importncia cientfica, raridade ou beleza, incluindo formas de relevo e suas paisagens.
Aspectos arqueolgicos, paleontolgicos, ecolgicos, histricos ou culturais podem representar
importantes componentes de um Geoparque (Schobbenhaus & Silva, 2009).
Em 2004, foi criada pela UNESCO a Global Geopark Network (GGN) ou Rede Global
de Geoparques que estabelece a herana geolgica da Terra como objeto de proteo a ser
integrado a uma estratgia de fomento ao desenvolvimento social e econmico sustentvel nos
territrios. Concede tratamento equnime entre Reserva da Biosfera, Patrimnio da
Humanidade e Geoparques, gerando um impacto positivo aos Geoparques nas estratgias de
conservao internacionais para a sustentao social e econmica das comunidades locais
(Decreto Normativo N 12.897, 2009). O intuito dessas aes de promover e proteger o
patrimnio geolgico juntamente com o desenvolvimento sustentvel local, atravs de uma rede
global de territrios que possuam um valor geolgico e paleontolgico destacado.
A responsabilidade de preservao desse patrimnio levou necessidade de sua
conservao. Nesse sentido, a geoconservao conceitualmente o termo atribudo s
iniciativas para manter os valores do Patrimnio Geolgico, que compreende elementos da
geodiversidade com valores cientfico, pedaggico, cultural, turstico ou outros que se
sobrepem mdia. Um geoparque no uma unidade de conservao, nem uma nova categoria
de rea protegida, contudo a ausncia de seu enquadramento legal a razo de seu sucesso a
nvel mundial.
A geodiversidade, dentro da percepo da Royal Society for Nature Conservation,
consiste na variedade de ambientes geolgicos, fenmenos e processos ativos que do origem
a paisagens, rochas, minerais, fsseis, solos e outros depsitos superficiais que so o suporte
para a vida na Terra (Brilha, 2005).
Outro conceito que merece ser destacado o de geosstios que constituem um ou mais
elementos da geodiversidade, delimitados geograficamente, que apresentem algum tipo de
valor cientfico, educativo, cultural, turstico, etc. Assim sendo, o patrimnio paleontolgico,
geolgico, hidrolgico, petrolgico, mineralgico, entre outros, integram ou podem fazer parte
de um geosstio (Brilha, 2005).
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Quanto aos valores atribudos geodiversidade, das vrias propostas j colocadas, a de
Gray (2004), comentada por Brilha (2005), a mais completa. Nela so relacionadas 6
categorias:
a) valor intrnseco: carregado de subjetividade, reflete um valor prprio, de existncia,
algo que inerente aos elementos abiticos independente de ter utilidade ou no para
o homem;
b) valor cultural: revela-se nas inmeras relaes que existem entre a sociedade e o
mundo natural que a rodeia, no qual ela est inserida e ao qual ela pertence;
c) valor esttico: possuem este valor aquelas paisagens geolgicas/geomorfolgicas que
causam um deslumbramento de seu pblico, que so alvo de atividades de lazer,
contemplao ou inspirao artstica, independentemente da forma como se
relacionam com a biodiversidade;
d) valor econmico: est ligado total dependncia do homem perante os materiais
geolgicos para atividades como produo de energia, construo civil, fabricao
de uma infinidade de produtos, extrao de gua subterrnea, gemas para joalheria,
etc.;
e) valor funcional: a utilidade que a geodiversidade tem para o homem enquanto
suporte para a realizao de suas atividades e como substrato para a sustentao dos
sistemas fsicos e ecolgicos da Terra;
f) valor cientfico e didtico: talvez estes sejam os valores mais preciosos atribudos
geodiversidade. A investigao de certos aspectos do meio abitico permite delinear
a longa histria da Terra, desenhar os cenrios futuros de uma regio e prevenir-se
diante de situaes de risco, como em reas ativas de vulcanismo ou tectonismo. A
educao em geocincias requer um contato prtico com o conhecimento geolgico
para a melhor formao de alunos e profissionais e a garantia de que uma vez que se
conhea este patrimnio ele seja preservado.
Para a UNESCO um geoparque deve envolver diversos geosstios inseridos numa rea
bem delimitada geograficamente, constituindo um territrio que seja suficientemente grande
para gerar atividade e sustentabilidade socioeconmica-ambiental atravs do turismo. A
importncia da gerao dos geosstios uma estratgia para a conservao dos elementos que
o constituem, informando o pblico em geral sobre temas ambientais, sendo tambm
ferramentas de desenvolvimento sustentvel em uma comunidade. Os geoparques oferecem a
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possibilidade de associar a proteo da paisagem e dos monumentos naturais em conjunto com
o geoturismo e o desenvolvimento regional (Brilha, 2009; Schobbenhaus & Silva, 2009). Desta
maneira constituem eficazes mecanismos de gesto territorial.
Um fator relevante dentro do conceito proposto pela UNESCO e que particularmente
pode ser estendido e aplicado para a proposta desta tese, que um geoparque representa plano
de desenvolvimento regional interativamente integrado com a realidade local, em que
continuam ocorrendo atividades normais da economia da vida cotidiana das pessoas. Este dado
vem ao encontro proposta do Geoparque Uberaba, tendo-se em vista as atividades geradas em
Peirpolis atravs do geoturismo, assim como advindas do agronegcio, focado na pecuria
zebuna e valores da religiosidade local de expresso nacional.
Para a UNESCO, terrenos que so de interesse geolgico-paleontolgico, mas que no
tem pblico permanente, ou se localizam em regies muito remotas para gerar atividade
econmica, no deveriam receber a indicao como geoparques. O conceito de geoparque
elaborado para relacionar as pessoas com o seu ambiente natural e por no dizer histrico e
cultural, essa caracterizao pode mudar com a evoluo scio-econmica da regio no tempo.
Para Schobbenhaus & Silva (2009) geoturismo essencialmente entendido como
turismo geolgico e se centra na geodiversidade como atrativo turstico. uma forma de
turismo de interesse especial focado na geologia e na formao das paisagens. Significa visitar
geosstios, aprender, valorizar, conservar e se envolver. o geoturismo que deve dar
sustentabilidade econmica aos geoparques.
Os Geoparques representam uma iniciativa em nvel mundial bem sucedida, no ano de
2000 eram 4, em 4 pases europeus, formando a Rede Europeia de Geoparques, atualmente so
100 espalhados em 30 pases formando a Rede Global de Geoparques - GGN, criada em 2004
(Schobbenhaus & Silva, 2012). A GGN opera em estreita sinergia com o Centro do Patrimnio
Mundial da UNESCO, o Homem e a Biosfera (MAB), Rede Mundial de Reservas da Biosfera,
as empresas nacionais e internacionais e organizaes no governamentais para a
geoconservao (Schobbenhaus & Silva, 2009).
Por questes de padronizao e uniformizao da nomenclatura nesta tese, denominar-
se- Geosstio, segundo os conceitos da UNESCO, somente os stios onde o principal atributo
presente no local est relacionado diretamente aos aspectos geolgicos e paleontolgicos do
patrimnio geolgico senso estrito. Para os locais onde h um ntido predomnio dos valores
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essencialmente ligados historicidade e atividades culturais derivados das manifestaes para
a preservao da memria da sociedade, adotar-se- a denominao Stio Histrico e Cultural.
5.1 GEOPARQUES PANORAMA NO BRASIL
At o momento s existem 3 geoparques reconhecidos pela GGN nas Amricas. O
Geopark Araripe (GA) (Cear), o primeiro, criado em 2006, o Stonehammer Geopark no
Canad e o ltimo, Grutas del Palacio aprovado no Uruguai em 2013.
O GA uma iniciativa do Governo do Estado do Cear em parceria com a Universidade
Regional do Cariri (URCA). Est localizado ao sul do estado, na poro cearense da Bacia
Sedimentar do Araripe, e abrange seis municpios da regio do Cariri. Possui uma rea de
aproximadamente 3.441 km e que corresponde ao contexto territorial das cidades de Crato,
Juazeiro do Norte, Barbalha, Misso Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri.
Aps a sua implantao e reconhecimento como patrimnio natural da humanidade pela
UNESCO, o GA tem passado por readequaes de maneira a melhor incorporar todos os
atributos da geodiversidade, assim como as questes histricas, artsticas e culturais (Lima,
2008, Lima & Freitas, 2011). formado por nove geosstios, definidos pela relevncia
geolgica, paleontolgica, histrica, cultural e ecolgica. So eles: Geosstio Colina do Horto,
Cachoeira de Misso Velha, Floresta Petrificada do Cariri, Batateiras, Pedra Cariri, Parque dos
Pterossauros, Riacho do Meio, Ponte de Pedra e Pontal da Santa Cruz (Mochiutti et al. 2012).
No mbito do patrimnio geolgico, a pluralidade dos fsseis, destacada pela quantidade,
diversidade e grau de preservao, faz de seus diversos geosstios, reas nicas de ocorrncias
paleontolgicas reconhecidas internacionalmente. De fato o conjunto da histria geolgica ali
presente, atravs dos diversos depsitos sedimentares, somada ao registro paleobitico, fazem
desta localidade rea singular na compreenso da evoluo da vida e da histria da abertura do
oceano Atlntico no perodo Cretceo.
Merece destaque o Projeto Caminhos Geolgicos realizado pelo Departamento de
Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro (DRM RJ). So interessantes projetos
associados geodiversidade, os quais resultaram em contribuies significativas na divulgao
e geoconservao do patrimnio geolgico de localidades do estado do Rio de Janeiro (Mansur
& Silva, 2011; Mansur & Carvalho, 2011).
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No ano de 2012, o Servio Geolgico Brasileiro CPRM, com o propsito de induzir a
implementao de novos geoparques no pas, deu importante contribuio na consolidao de
futuros projetos ao publicar o livro Geoparques do Brasil Propostas Volume I, onde se inserem
17 propostas (Schobbenhaus & Silva, 2012) (Figura 2). Para o estado de Minas Gerais esto os
geoparques Quadriltero Ferrfero (Ruchkys, 2007) e Uberaba Terra dos Dinossauros do
Brasil, estando este primeiro j submetido apreciao da UNESCO, porm aguardando ajustes
no projeto para a efetiva chancela e incluso no GGN, e o segundo sendo o objeto de estudo
desta tese.
Figura 2 Propostas de Geoparques apresentadas no Brasil (Schobbenhaus & Silva, 2012).
A implantao do Geoparque Uberaba Terra dos Dinossauros do Brasil tem como forte
vis a paleontologia, face aos relevantes depsitos fossilferos associados ao Cretceo
continental brasileiro, onde a paleobiota se mostra muito bem preservada e diversificada. A
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possibilidade de novos achados muito grande j que muito pouco dos diversos stios foi
prospectado. Os dinossauros aparecem como principal atributo da geodiversidade e principal
elemento do patrimnio geolgico, agregando valor cientfico face ao fascnio que exercem no
imaginrio das pessoas, o que gera atratividade para o turismo receptivo. At o momento o
geoturismo encontra projeo a nvel municipal, contudo uma possvel implantao do
geoparque possibilitaria a potencializao deste atrativo a nvel nacional e internacional.
Importante fator de viabilizao desta atratividade pode ser complementada pela
relevncia que Uberaba apresenta em dois segmentos de expresses internacionais atrelados
predominantemente a histria e aos aspectos culturais do desenvolvimento da sociedade
organizada. O da zebuinocultura, fazendo da cidade a capital mundial do Zebu, e o universo da
religiosidade, tendo nos museus associados igreja catlica e notadamente no nome do mdium
Chico Xavier, expresso mxima do espiritismo no pas.
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6 CARACTERIZAO DO GEOPARQUE 6.1 GEOLOGIA REGIONAL
A geologia da rea do Geoparque Uberaba insere-se dentro do contexto da Bacia Bauru
(Fernandes & Coimbra, 1996) que se compem, dentro do territrio brasileiro, de uma rea com
aproximadamente 370.000 km e espessura mxima preservada de 300m, distribuindo-se pelo
Tringulo Mineiro, oeste de So Paulo, noroeste do Paran, leste do Mato Grosso do Sul,
sudeste do Mato Grosso e sul de Gois. Estende-se ainda para o nordeste do Paraguai onde
ocupa cerca de 2000 km. Tem como limites a noroeste a Antclise de Rondonpolis, a nordeste
o Alto do Paranaba, a leste a Serra do Mar, a sudeste o alinhamento do Paranapanema, o
alinhamento do Piquiri a sudoeste e o Arco de Assuno a oeste.
A Bacia Bauru teve sua gnese associada reativao Sul-Atlantiana iniciada a partir do
Cretceo Inferior (com os derrames da Formao Serra Geral) a ruptura do megacontinente
Gondwana e a posterior evoluo da Plataforma Sul-Americana. A regio interiorana
continental sofreu intensas manifestaes tectnicas resultando no modelamento do
embasamento pr-Bauru com forte controle estrutural do tipo rifte como resposta lenta
subsidncia termo-mecnica do substrato, configurando uma depresso do tipo continental
interior (Barcelos, 1984; Fernandes & Coimbra, 1996; Coimbra & Fernandes 1995). Seu
assoalho, do qual se separa por discordncia erosiva, constitudo por basaltos da Formao
Serra Geral, sendo seu limite superior erosivo, demarcado pela Superfcie Sul Americana de
King (1965). Dentro desta concepo de evoluo tectono-sedimentar, o mecanismo
controlador da subsidncia anteriormente interpretado como de carter mecnico passa a
apresentar, tambm, o componente termal simples (Figura 3).
O contedo litolgico constitui sequncia siliciclstica notadamente psamtica depositada
em bacia endorreica de drenagem assimtrica com desertificao gradual para o depocentro,
sendo composta pelos grupos crono-correlatos Bauru e Caiu. O primeiro compreende
depsitos arenosos acumulados em ambiente elico, enquanto que o segundo possui sequncias
associadas ambientes fluvial e de leques aluviais. Para Coimbra & Fernandes (1995) o Grupo
Caiu est composto pelas formaes Santo Anastcio, Rio Paran e Goio Er (reconhecida
apenas no estado do Paran). J o Grupo Bauru rene as formaes Adamantina, Marlia,
Uberaba (com distribuio restrita a Minas Gerais) e Analcimitos Taiva. Esses ltimos
constituem rochas efusivas de carter alcalino ocorrendo intercalados Formao Adamantina,
verificados apenas em perfuraes de poos em municpios do estado de So Paulo. Batezelli
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17
(2003) concluiu que o Grupo Bauru, na regio do Tringulo Mineiro, constitudo pelas
formaes Adamantina, Uberaba e Marlia. Barcelos (1984) subdivide a Formao Adamantina
em membros Araatuba e So Jos do Rio Preto. Segundo Manzi (1999), Fernandes (1998)
apresentou em amplo trabalho de cunho estratigrfico e tectono-sedimentar para a poro
oriental da Bacia Bauru uma nova proposta estratigrfica, mantendo a subdiviso em dois
grupos, porm, parcialmente cronocorrelatos, nele o Grupo Caiu mantem-se inalterado, sendo
que o Grupo Bauru estaria composto pelas formaes Uberaba, Vale do Rio do Peixe (indita),
Araatuba e So Jos do Rio Preto (retomadas de Suguio, 1980), Presidente Prudente (indita),
Marlia e Analcimitos Taiva. Quanto idade, esta sequncia suprabasltica acumulou-se no
intervalo Coniaciano Maastrichtiano no Cretceo Superior (88,5 65 Ma). Este intervalo foi
definido pelos fsseis de vertebrados (Huene, 1939) encontrados nas formaes Adamantina e
Marlia, datao absoluta de analcimitos da regio de Taiva (Coutinho et al., 1982), e pela
correlao com estdios da sedimentao na Bacia de Santos (Fernandes, 2004). Dias Brito et
al. (2001) sugeriram atravs de minucioso estudo micropaleontolgico que, a sequncia
Neocretcea suprabasltica teria dois intervalos temporais de sedimentao, Turoniano
Santoniano, idade na qual se insere a Formao Uberaba e Maastrichtiano atribuda a Formao
Marlia, no mbito do Tringulo Mineiro.
Figura 3 Modelo esquemtico de evoluo tectnica para a Bacia Bauru (Fernandes, 1998).
Mapeamento litoestratigrfico da poro oriental da Bacia Bauru realizado por Fernandes
(2004) e trabalho de reviso geolgica da Bacia do Paran realizado por Milani et al. (2007),
considera a Bacia Bauru como Supersequncia Bauru e mantm as mesmas unidades
estratigrficas apresentadas por Fernandes (1998). Nesse sentido, e dentro da concepo
atualizada, o Grupo Caiu composto pelas formaes Rio Paran, Goio Er e Santo Anastcio
e o Grupo Bauru pelas formaes Uberaba, Vale do Rio do Peixe, Araatuba, So Jos do Rio
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Preto, Presidente Prudente e Marlia, incluindo os Analcimitos Taiva. Ainda que recebam
interpretaes, hierarquias e nomenclaturas estratigrficas distintas, Bacia Bauru e
Supersequncia Bauru, no contexto geral os dois trabalhos so bastante similares. Para a regio
do Tringulo Mineiro a grande distino em relao aos trabalhos prvios de Fernandes &
Coimbra (1994; 1996), Coimbra & Fernandes (1995) e Fernandes (1992) que a denominao
Adamantina suprimida e em seu lugar passa ocorrer a Formao Vale do Rio do Peixe, dentro
desta concepo, esta nova unidade ocuparia mais de 70% de toda sedimentao da Bacia Bauru
na regio (Figura 4).
Figura 4 Mapa geolgico da Bacia Bauru no Brasil, modificado de Fernandes, 1998
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19
Figura 5 Mapa geolgico do municpio de Uberaba - rea do Geoparque Uberaba - Terra dos Dinossauros do
Brasil (Ribeiro et al., 2012).
6.2 GEOLOGIA DO GEOPARQUE
O arcabouo geolgico no qual se insere a rea proposta para o Geoparque Uberaba
Terra dos Dinossauros do Brasil traduz uma simplicidade litoestratigrfica dado nomeadamente
0102
03
04
05
06
07
01
0203
04
05
Rede de Drenagem
Rodovias
Corpos dgua
reas urban izadas
Litologia
Cobertura Cenozica
Formao Marlia
Formao Uberaba
Formao Serra Geral
Stios Histricos e Culturais
01- ;Museu da Cal
02- ; Museu da Capela03- Museu do Zebu;
04- ; Fazenda Cassu
05- .Casa Museu Chico Xavier
05- Serra da Galga;
04- Univerdecidade;
Legenda
Geosstios:
01- Ponte Alta;
02- Caieira;
03- Peirpolis;
0 - S 6 anta Rita;
0 - 7 Vale Encantado;
5 0 5 102,5 km
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pela presena de rochas das formaes Serra Geral, Uberaba e Marlia (Membros Ponte Alta e
Serra da Galga). Nas pores elevadas de cotas superiores a 980 m, compondo relevos bastante
planos conhecidos regionalmente como chapades (Superfcie de Cimeira atribuda ao ciclo de
denudao Sul Americano, King, 1965), ocorrem sedimentos atribudos Formao Nova
Ponte do Palegeno. Os seus escassos afloramentos confinam-se aos vales fluviais dissecados
pela eroso atual onde afloram no leito dos canais e vertentes proximais. Ainda observam-se
depsitos arenosos inconsolidados, quaternrios, restritos aos vales de drenagens (Figura 5).
Mais recentemente foram encontrados fsseis relacionados Eremotherium laurillardi, em
sedimentos pleistocnicos da malha urbana de Uberaba, mostrando que a geodiversidade
paleobitica no restringe-se aos notveis depsitos cretcicos de relevncia internacional.
6.2.1 Formao Serra Geral
A Formao Serra Geral, constitui o embasamento regional da Bacia Bauru nos domnios
do municpio de Uberaba, estando em contato direto atravs de discordncia erosiva com a
Formao Uberaba onde nos raros afloramentos como, na interseo da BR 050 com a ferrovia
a 3 km ao sul da cidade sentido So Paulo. Observa-se conglomerado basal de espessura no
superior 0,30m composto por clastos, angulosos a subarredondados de basalto, arenito e
quartzo. Seus litotipos dominantes so basaltos negros a cinza escuros, macios, com textura
fanertica fina afantica. s vezes apresentam nveis vesiculados com cavidades preenchidas
por calcita, zelitas, calcednia e quartzo. Em afloramento marcante a quantidade de diclases
e fraturas dispostas horizontal e verticalmente. Outro dado que corrobora a grande
susceptibilidade ao fraturamento em profundidade, pode ser comprovado atravs da anlise
hidrogeolgica em uma srie de poos produtivos graas a porosidade e permeabilidade quando
esta unidade geolgica seccionada por fraturas. Os basaltos apresentam ainda disjuno
colunar com poliedros pentagonais e hexagonais. No rara a presena de rochas em avanado
processo de intemperismo marcadas por cores ocre-avermelhadas, em face oxidao dos
minerais com ferro e formao de limonita. Nesses casos torna-se evidente o processo de
esfoliao esferoidal.
A espessura da Formao Serra Geral para a regio de Uberaba da ordem de 460 m, tal
valor pode ser estimado a partir de dados de poos tubulares profundos perfurados para gua
na malha urbana da cidade. Com base na presena de lentes de arenito interestratificadas aos
derrames e nveis de basalto vesicular, podem ser reconhecidos mais de dois derrames para a
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regio de Uberaba, a exemplo do que ocorre respectivamente na cachoeira do Ribeiro Ponte
Alta ao sul do bairro homnimo, bem como na Univerdecidade, prximo ao Rio Uberaba.
6.2.2 Formao Uberaba
Est representada na rea do geoparque por bancos de arenitos mtricos, com matriz
argilo-siltosa, esverdeada, e laminaes sub-milimtricas plano-paralelas. Intercalado ocorrem,
siltitos, argilitos, arenitos conglomerticos a conglomerados arenosos, derivados do
retrabalhamento de rochas vulcnicas pr-existentes associadas a sedimentos de outras fontes
no vulcnicas. Cimentao carbontica ocorre de forma indiscriminada por toda sequncia
composta por pelitos, arenitos e nveis rudceos. Para Hasui (1968) a cor verde dos sedimentos
se deve presena da esmectita, enquanto as pores avermelhadas derivam da oxidao do
ferro.
As melhores exposies esto no vale do Rio Uberaba (BR 050 e Univerdecidade), na
mancha urbana da cidade dispersa por dezenas de afloramentos em meio s edificaes e vias
e na localidade de Peirpolis. Sees afastadas entre si dezenas de metros no so
correlacionveis em virtude do carter lenticular dos estratos. Ocorrem com certa frequncia
estratificaes cruzadas acanaladas de pequeno, mdio e grande porte.
Com base nos dados do poo tubular profundo citado no item 6.2.1 e anlise de
afloramentos ao longo do vale do Rio Uberaba, estima-se que sua espessura mxima para a
cidade de Uberaba seja de 75m. Seu ambiente deposicional est caracterizado por trs tipos:
depsitos de canais ativos, de canais inativos e de plancie de inundao (Ferreira Junior, 1996).
Estudos petrolgicos, litoestratigrficos e de paleocorrentes sugerem, preliminarmente que, a
Formao Uberaba caracterizada por um sistema fluvial do tipo braided e estudos de
paleocorrente apontam que a sua rea fonte foram os altos estruturais dentro da Formao Serra
Geral.
O seu contato com a unidade sobrejacente raramente observado, ocorrendo sempre com
o Membro Ponte Alta dentro do municpio de Uberaba. Estudos recentes utilizando-se da
associao de microfsseis de carfitas e ostrcodes, apontam uma idade de 83 milhes de anos
(Dias Brito et al., 2001).
O contedo paleontolgico da Formao Uberaba compe-se essencialmente de uma
assembleia associada notadamente a dinossauros, onde esto registrados ovos e elementos
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22
sseos variados provenientes de obras civis construes como fundaes de edifcios e pistas
de rolamento dentro da malha urbana. Dentre estes, merece citao especial, 3 ovos alongados
descobertos no bairro de Peirpolis Uberaba, recuperados ao acaso durante a escavao
manual de um poo dgua. Inicialmente foram descritos por Campos & Bertini (1985) como
pertencentes a dinossauros Ceratopsdeos, em associao a morfologia de centenas de ovos
provenientes da regio do deserto de Gobi na Monglia. Posteriormente, estudos realizados por
Kellner et al. (1998) correlaciou-os a dinossauros terpodes. Estes exemplares esto hoje
depositados no repositrio do Museu de Cincias da Terra no Rio de Janeiro da CPRM.
Adicionalmente, uma placa esternal incompleta e uma vrtebra caudal anterior, foram
reportados por Goldberg (1995), foram descobertos no bairro de Lourdes, dentro de Uberaba,
durante escavaes de uma adutora pelo CODAU. At onde se sabe, este foi o maior achado,
em nmero de exemplares, registrada at o momento na Formao Uberaba cujos espcimes
fsseis esto depositados no repositrio do Centro Paleontolgico Price. A ltima descrio
cientfica sobre este conjunto de fsseis revelados nas obras do CODAU foi recentemente
publicado por Santucci (2008), que descreve duas vrtebras caudais pertencentes a dois
distintos Titanosauria. Ainda que apresentassem feies morfolgicas e assinaturas totalmente
diferentes a qualquer outro Titanosauria j descrito, o autor no props txons novos em face
aos poucos elementos sseos disponveis.
Recentemente uma nica vrtebra caudal atribuda a Megaraptora (Martinelli et al. 2013)
foi descrita, aportando importante dado para o aumento da diversidade de dinossauros em
Uberaba, nomeadamente atribudos ao clado dos terpodes.
6.2.3 Formao Marlia
Para a grande maioria dos trabalhos j publicados, a Formao Marlia est subdividida
nos membros Ponte Alta e Serra da Galga, embora Andreis et al. (1999) assinalaram que esta
formao seria indivisa, e que o nveis carbonticos teriam origem fretica. As relaes de
contato da Formao Marlia com a Formao Uberaba variam de gradacional a interdigitado,
principalmente entre as localidades de Peirpolis, Uberaba e imediaes de Verssimo. A
integrao de dados e das anlises de perfis, petrografia, associao paleontolgica e do
mapeamento litofaciolgico em Uberaba realizadas por Capilla (1995) correlacionam o
Membro Ponte Alta fcies carbontica e o Serra da Galga fcies clsticas, para estas duas
fcies prope um modelo deposicional de leques aluviais dominados por canais fluvias
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23
entrelaados (braided), submetido a um clima semi-rido em plancies extensas, com presena
de pequenos lagos e lagoas, com amplas reas susceptveis a formao de paleossolo e crostas
carbonticas. Com o predomnio dos perodos secos, os cursos dgua estariam restritos aos
seus leitos rasos, assim como os corpos lacustres tenderiam a secar parcialmente, expondo suas
margens e favorecendo o ressecamento dos sedimentos das bordas. Dento desta concepo,
Capilla (1995) e Godberg & Garcia (1995), interpretaram que durante estes perodos secos
ocorria ou iniciava-se a formao de solos (pedognese) calcrios na plancie aluvial e nas
margens dos lagos. Com a chegada da estao chuvosa os leitos fluviais eram aumentados e se
avolumavam, transbordando as fcies clsticas, bem como alimentaria os corpos lacustres.
O Membro Ponte Alta nos domnios do municpio de Uberaba est muito bem
representado nas pedreiras de calcrio de Ponte Alta, Peirpolis, rodovia BR 050 na localidade
conhecida como Cinquento, e, ainda, na regio de Mangabeira e BR 050 - Km 153 na regio
da Serra da Galga. Economicamente, representa a mais importante unidade estratigrfica
regional, e para suas rochas carbonticas j foram atribudos usos como o fabrico da cal,
notadamente no sculo passado, produo do cimento no bairro de Ponte Alta (empresa
Lafarge), como corretivo de solo na agricultura e at como rocha ornamental (lavra piloto na
pedreira Partezam no Cinquento). O seu contato com o Membro Serra da Galga bastante
questionvel por vrios autores, j que diversos deles o interpretam como eventos cclicos de
calcretizao sendo desta forma difcil individualizao entre estas duas subunidades.
Para os trabalhos de cunho paleontolgico, especialmente os desenvolvidos nos dois
principais stios: Peirpolis a 2 km ao norte da comunidade e Serra da Galga, no km 153 da BR
050 (Figura 6), considera-se como Membro Ponte Alta, os depsitos de calcretes e
conglomerados intensamente cimentados, sotopostos aos arenitos e conglomerados do Membro
Serra da Galga, onde so frequentes as ocorrncias fossilferas.
O Membro Serra da Galga representa sequncia siliciclsticas compostas por sucesses
cclicas de conglomerados clasto-suportados e arenitos mdios e grossos, com frequentes
estratificaes cruzadas acanaladas. Aparecem ainda depsitos pelticos definidos como fcies
de abandono de canal e depsitos arenosos com contribuio peltica, gerados por discretos
fluxos de detritos.
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Figura 6 Perfis estratigrficas do Grupo Bauru nos geosstios Caieira e Serra da Galga (Modificado de Novas et
al., 2008).
Formao Nova Ponte
N
Formao Nova Ponte
Crr. V
eadi
nho
0 21
km
LEGENDA ESTRATIGRAFICA
ESTRATIFICAO CRUZADA ACANALADA
ESTRATIFICAO CRUZADA PLANAR
INTRACLASTOS ARGILOSOS
CALCRETE
SILTITO/ARGILITO
ARENITO FINO
ARENITO GROSSEIRO
GEOSSTIO CAIEIRA GEOSSTIO SERRA DA GALGA
GEOPARQUE UBERABA
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6.2.4 Coberturas Cenozoicas Formao Nova Ponte
A Formao Nova Ponte foi definida por Ferrari P.G. em 1989, datada como ps-
cretcea, constituda em quase toda sua totalidade por extensas cascalheiras com nveis
arenosos, friveis, que atingem at 50 metros de espessura. A nica estrutura sedimentar
presente nesta unidade o acamamento. Os seixos so oriundos dos Grupos So Bento, Bauru
e Arax.
As cascalheiras so formadas por seixos bem arredondados de dimetros variando de
centimtricos decimtricos, sua matriz avermelhada, com textura argilo-arenosa e contm
grande quantidade de magnetita. Devido ao grau de arredondamento dos seixos possvel dizer
que provm de depsitos de segundo ciclo, ou seja, proveniente de eroso dos conglomerados
do Grupo Bauru.
Pode ser encontrada sobre o basalto da Formao Serra Geral ou mesmo sobre micaxistos
do Grupo Arax. Seus afloramentos so bastante raros e o que normalmente ocorre so
materiais pedogenizados, constituindo cascalheiras em superfcie e espessa capa de solos
argilosos.
6.2.5 Depsitos Quaternrios
Recentemente foi identificado um nvel de sedimentos arenosos, pouco consolidados, de
cor cinza, com clastos arredondados de quartzo e angulosos de arenitos da Formao Uberaba
(Grupo Bauru). s vezes esses depsitos possuem abundante presena de material orgnico na
forma de fragmentos de vegetais. Foi identificada a presena de nvel fossilfero com espessura
entre 0,60 e 1,70 metros, com registros da megafauna Pleistocnica/Holocnica, preenchendo
discordantemente o paleorelevo, composto de arenitos verdes da Formao Uberaba, que
constitui o leito atual da drenagem. A jusante, sentido rio Uberaba, esses depsitos sobrepem
discordantemente os basaltos da Formao Serra Geral. Esse contexto geolgico possivelmente
constitui uma haloformao at ento no descrita na bibliografia, possuindo distribuio local.
Recobrindo o nvel fossilfero, h uma capa argilosa negra turfcea que varia de 2 4 m.
Anlises palinolgicas dos sedimentos turfceos apontam para vegetais do bioma Cerrado atual.
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7 CARACTERIZAO SOCIOECONMICA 7.1 INFRAESTRUTURA, ECONOMIA E NDICES DE DESENVOLVIMENTO
Figura 7 Mapa de localizao de Uberaba em relao aos principais centros urbanos do pas.
Em um raio de 500 quilmetros em torno de Uberaba esto cerca de 2.100 municpios,
que juntos detm mais de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, com um mercado
consumidor de mais 50 milhes de pessoas (Figura 7). O municpio interliga-se com os
principais centros consumidores do pas por meio de uma estrutura privilegiada, com uma boa
malha viria, aeroporto, terminal rodovirio, tima logstica hoteleira e gastronmica. Esta
infraestrutura e logstica possibilitam o afluxo turstico de maneira sistmica compreendendo
fortes componentes para o funcionamento adequado do geoparque em razo da facilidade de
acesso que vem estimular a visitao aos geosstios e stios de valores histricos e culturais
dispersos em todo o municpio.
A vocao para o agronegcio faz de Uberaba o principal polo de melhoramento da
gentica zebuna no pas. A histria do desenvolvimento da cidade se confunde com a prpria
histria da criao e expanso do gado Zebu que, desde o incio do sculo passado at a dcada
de 1970, foi o responsvel maior pelo desenvolvimento social e econmico de Uberaba. Nas
ltimas trs dcadas o municpio se tornou um dos maiores produtores de gros do Estado de
Minas Gerais, haja vista s boas condies pedolgicas e geomorfolgicas.
Uberaba tem recebido um nmero expressivo e crescente de visitantes e turistas que a
procuram com objetivos diversos. Desde o turismo de negcios, ligados principalmente ao
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agronegcio e movimentados pelas grandes exposies de gado realizadas no Parque Fernando
Costa, perpassando pelo turismo religioso, focado em grande parte na expressividade do nome
Chico Xavier, e, mais recentemente, o Geoturismo, atravs das aes empreendidas em
Peirpolis pelo Museu dos Dinossauros.
O Municpio de Uberaba integra o Circuito Turstico dos Lagos e o Circuito Turstico do
Tringulo Mineiro que tm por misso fomentar o desenvolvimento do turismo sustentvel,
estabelecer e fortalecer parcerias para a gerao de negcios, promover a melhoria da qualidade
de vida da comunidade, preservando e potencializando as vocaes locais.
Uberaba o maior municpio em exportao avcola de Minas Gerais para o Oriente
Mdio. Seu parque Agroindustrial responsvel por 30% da produo nacional de fertilizantes,
sendo o primeiro produtor de adubos fosfatados da Amrica Latina.
Uberaba possui boa infraestrutura, com acesso a educao, sade, lazer e servios bsicos
de gua, luz e esgoto que garantem qualidade de vida ao cidado. De acordo com os dados
divulgados pela Prefeitura de Uberaba, intitulado Uberaba em Dados, edio 2009, ano base
2008, da Secretaria de Desenvolvimento Econmico e Turismo, o ndice de Desenvolvimento
Humano Municipal IDHM de 0,834, medido pelo Programa das Naes Unidas para o
Desenvolvimento, posicionando Uberaba na 4 melhor colocao em todo estado de Minas
Gerais. Entre os anos de 1991 e 2000 a renda per capita mensal na cidade foi elevada de
R$274,75 (duzentos e setenta e quatro reais e setenta e cinco centavos) para R$400,40
(quatrocentos reais e quarenta centavos), sendo que no ano de 2000 a renda per capita anual
de R$4.804,80. A taxa de longevidade medida em 2008 de 73,93 anos, de alfabetizao de
98,70% e de mortalidade infantil de 9,51% (Prefeitura de Uberaba www.uberaba.mg.gov.br,
2013).
Com base em contagem estimada do IBGE, em 01/07/2009, a populao de Uberaba era
de 296.261 habitantes, com os seguintes dados: mulheres: 153.759 51,90 %, homens: 142.502
48,10 %. Estando 287.077 habitantes - 96,9% na parte urbana e 9.184 habitantes - 3,1%
compondo a populao rural. A Densidade Demogrfica de 65,25 habitantes/km, sendo que
a Densidade Urbana compe 1.121,39 hab./km e a rural 2,14 hab./km (Prefeitura de Uberaba
www.uberaba.mg.gov.br, 2013).
Segundo a Secretaria Municipal de Agricultura, Pecuria e Abastecimento Junho 2009,
o agronegcio ocupa destacada posio na economia da cidade, com significncia em nveis
estadual e nacional. Constitui o maior PIB da Agropecuria no Estado de Minas Gerais e 5
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maior PIB da Agropecuria no Brasil. Na safra 2007/2008, a produo total de gros do
Municpio foi de 701.000 toneladas, sendo que em 2008 teve a maior produo de milho e 2
na produo de soja no estado de Minas Gerais e o 5 lugar no Brasil na produo de milho -
Fonte: IEA. Uberaba o 2 maior produtor de cana de Minas Gerais 54.500 ha na safra
2008/2009 - produo de 3.910.500 t (Prefeitura de Uberaba www.uber