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    ECONOMIA E MERCADO – EAD

    Módulo 1- Questões Básicas da Economia

    1.1. Conceito de Economia

    Todos nós temos uma série de necessidades. Precisamos comer, precisamosnos vestir, precisamos estudar, precisamos nos locomover, etc. Estasnecessidades são cre scentes e ilimitadas. No entanto, para conseguir suprirtodas estas necessidades, em geral dispomos de uma renda que é insuficientepara conseguir todos os bens e serviços desejados para satisfazer estasnecessidades. Da mesma forma como os indivíduos, a sociedade possui necessidades queprecisam ser satisfeitas coletivamente, como por exemplo, estradas, defesa, justiça, escolas, hospitais, etc.Assim como ocorre com as pessoasindividualmente, a sociedade em geral possui mais necessidades do que meiosde satisfazê-las. Os fatores produtivos disponíveis para a produção não sãosuficientes para atender todas as necessidades desta sociedade.

    Sendo assim, em qualquer sociedade, as necessidades humanas sãoilimitadas, ao passo que os recursos produtivos são escassos. É preciso,portanto, definir como empregar estes fatores produtivos escassos na produçãode bens e serviços, de forma que eles possam contribuir da melhor maneirapara a satisfação das necessidades não apenas dos indivíduos, mas tambémda sociedade.

    A economia estuda a maneira como se administram os recursos escassos, como objetivo de produzir bens e serviços e distribuí-los para seu consumo entre osmembros da sociedade. Isto significa tentar compreender como os indivíduosdeveriam empregar sua renda para ter o maior aproveitamento possível, e decomo a sociedade alcançaria o maior nível de bem-estar material possível apartir dos recursos disponíveis.

    1.2. Os Problemas Econômicos Fundamentais

    No nosso dia-a-dia nos deparamos, a todo momento, com diversos problemaseconômicos com os quais temos de lidar, seja através dos jornais, rádio,televisão, ou até mesmo nas questões mais rotineiras de nosso cotidiano,como por exemplo:

    a) Por que o nordestino possui uma renda muito inferior à do paulista?

    b) Até que ponto os juros altos reduzem o consumo e estimulam os preços? c) Por que está tão difícil conseguir um emprego nos dias atuais? d) Por que o aumento no salário mínimo provoca uma deterioração nas contasdo governo? e) Por que a carga tributária brasileira está tão elevada? f) Como são definidos os preços dos produtos? g) Como são definidos os aumentos de salários? h) Como são definidas as taxas de juros do Banco Central?

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    Todas estas questões trazem implícitos diversos conceitos importantes, quesão a base e o objeto do estudo da Ciência Econômica: escolha, escassez,necessidades, recursos, produção, distribuição. Mas para respondê-las épreciso entender os problemas econômicos fundamentais.

    Em primeiro lugar é preciso decidir o que produzir e em que quantidadesproduzir, dado que os recursos de produção são escassos e as necessidadeshumanas ilimitadas, como já mencionamos no tópico anterior. Essas escolhasdependem de vários fatores, como a perspectiva de lucro (do ponto de vistados empresários) ou opções de política econômica e as necessidades dasociedade (do ponto de vista da sociedade).

    Depois é preciso definir como produzir, onde a sociedade terá de escolher,dado o conhecimento tecnológico existente, quais recursos produtivos serãoutilizados para a produção de bens e serviços. Em outras palavras, a decisãode como produzir implica a escolha das técnicas, e dentre os métodos maiseficientes, em geral se escolhe aquele mais barato, ou seja, com o menor custopossível.

    Posteriormente é preciso decidir para quem produzir. Ou seja, é preciso definirpara quem se destinará a produção e também definir como os indivíduosparticiparão da distribuição dos resultados de sua produção. Esta distribuiçãodepende fundamentalmente de como foi instituída e dividida a propriedadeprivada numa determinada sociedade, e de como esta propriedade setransmite por herança. A distribuição da renda dependerá também domecanismo de preços que atua por meio do equilíbrio entre oferta e demandapara a determinação dos salários, das rendas da terra, dos juros e dosbenefícios de capital.

    Poderíamos nos perguntar quais as questões econômicas fundamentais de umindivíduo que recebe uma renda, mas não é empresário. Neste caso, osindivíduos devem decidir como vão gastar sua renda entre os diferentes bens eserviços ofertados para satisfazer suas necessidades, ou se escolherão pouparparte de sua renda ao invés de consumir todo o montante recebido. Na hora desuas decisões de consumo, o indivíduo levará em conta não apenas as suasnecessidades, mas os preços dos bens e suas preferências, inclusive entreconsumo presente ou consumo futuro (representado pela poupança). É preciso ter em mente que estas questões: o que, quanto, como e para quemproduzir, e até mesmo o que consumir não seriam problemas se os recursosprodutivos disponíveis fossem ilimitados. Sendo assim, a economia e seusproblemas fundamentais originam-se da carência de recursos produtivos

    escassos. 1.3. A lei da escassez de recursos

    Na economia tudo está pautado na busca de produzir o máximo de bens eserviços com os recursos limitados disponíveis, pois como já destacamosanteriormente, não é possível a produção de uma quantidade infinita de cadabem capaz de satisfazer completamente os desejos humanos. Isto porque osnossos desejos materiais são virtualmente ilimitados e insaciáveis, e os

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    recursos produtivos são escassos. Desta feita, não podemos ter tudo o quedesejamos e, portanto, é imperativo que o homem faça escolhas.

    Portanto, o objeto da ciência econômica é oestudo da escassez, porque estaconsiste no problema econômico por excelência. Conseqüentemente, aescassez de recursos de produção resulta na escassez dos bens. Dizer que osbens são econômicos quer dizer que eles são relativamente raros ou limitados.Ora, mas o fato de existir um bem em pouca quantidade não o define comoescasso. É preciso para isto que este bem seja desejado, portanto,procurado. A escassez só existe se houver procura (ou demanda) para aobtenção do bem.

    Ora, mas poderíamos nos perguntar porque um determinado bem é procurado(ou demandado). Um bem é demandado porque tem a capacidade desatisfazer uma necessidade humana, ou seja, tem utilidade. Um bem éprocurado porque é útil. Sendo assim, os bens econômicos são aquelesescassos em quant idade, dada sua procura, e apropriáveis. Os benseconômicos têm como característica a utilidade, a escassez e a possibilidadede transferência. Os bens livres, por outro lado, são aqueles disponíveis emquantidade suficiente para satisfazer a todo o mundo; são, portanto, ilimitadosem quantidade ou muito abundantes e não são apropriáveis.

    Mas o que seriam então as necessidades humanas? Este poderia ser umconceito relativo vago e filosófico, já que os desejos dos indivíduos não sãofixos. Mas para a economia as necessidades humanas relevantes são aquelesdesejos que envolvam a escolha de um bem econômico capaz de contribuirpara a sobrevivência ou para a realização social do indivíduo.As necessidades podem ser classificadas em:

    a) Básicas ou primárias: são aquelas indispensáveis para nossa sobrevivênciaou que sem as quais nossa vida seria insuportável. Exemplo: alimentação,saúde, habitação, vestuário, entre outras.

    b) Necessidades secundárias: são aquelas desejadas pelo convívio social.Exemplo: educação, transporte, lazer, turismo.

    1.3.1. Tipos de Bens Econômicos

    Como já vimos, os bens econômicos são aqueles que possuem uma raridaderelativa, ou seja, possuem um preço.Estes bens econômicos, quando se destinam à satisfação direta de

    necessidades humanas são chamados bens de consumo ou bens finais. Sãotodos aqueles bens que já estão aptos a serem consumidos sem que hajanecessidade de qualquer outra transformação. Os bens de consumo podem serdivididos em bens de consumo durável, que podem ser utilizados por umperíodo mais prolongado – automóvel, geladeira-; e os bens de consumo nãodurável, que devem ser consumidos imediatamente ou são utilizados apenasuma vez ou poucas vezes, como alimentos e roupas.

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    Os bens que são destinados à fabricação de outros bens e que são absorvidospelo processo de produção são chamados de bens intermediários. Estes benssofrem novas transformações antes de se converterem em bens de consumoou de capital, e possuem um ciclo curto no processo produtivo, sendototalmente consumidos no processo produtivo. São exemplos de bensintermediários as matérias-primas, material de escritório, insumos, barras deferro, peças de reposição, etc. Os bens de capital também são utilizados na geração de outros bens, mas nãose desgastam totalmente no processo produtivo, ou seja, não são absorvidosno processo de produção. Uma característica importante destes bens é quecontribuem para a melhoria da produtividade da mão-de-obra. São exemplosde bens de capital as máquinas, equipamentos e instalações. Os bens decapital, como não são consumidos no processo de produção, também são bensfinais.

    1.4. Os Recursos ou Fatores de Produção

    Para que se obtenha a satisfação das necessidades humanas é necessárioproduzir bens e serviços. E a produção exigiria o emprego de recursosprodutivos e bens elaborados.Os recursos de produção ou fatores de produção da economia são aquelesutilizados no processo produtivo para obter outros bens e serviços, com oobjetivo de satisfazer as necessidades dos consumidores.

    Os fatores de produção são: a terra, ou recursos naturais, incluindo água,minerais, madeiras, solo para fábricas; recursos humanos, englobando otrabalho enquanto faculdades físicas e intelectuais dos seres humanos queintervêm no processo produtivo, e a capacidade empresarial, que se constituidaqueles indivíduos que reúnem os capitais para adquirir recursos produtivos eproduzir bens e serviços para o mercado; capital, que engloba os bens eserviços necessários para a produção de outros bens e serviços, comomáquinas, equipamentos, instalações, dinheiro, ferramentas, capital financeiro;e tecnologia.

    É importante ressaltar que para cada fator de produção corresponde umaremuneração. Ao trabalho corresponde o pagamento de salários. O juro paga ouso do capital. O aluguel constitui a remuneração da terra. A tecnologia é pagacom royalties. À capacidade empresarial corresponde o lucro.

    FATOR DE PRODUÇÃO TIPO DE REMUNERAÇÃO

    TRABALHO SALÁRIO CAPITAL JURO TERRA ALUGUEL TECNOLOGIA ROYALTIES CAPACIDADE EMPRESARIAL LUCRO

    A produção, portanto, seria o processo de transformar matérias-primas emprodutos acabados utilizando para tanto os bens de capital, os bensintermediários e a mão-de-obra.

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    Módulo 2- Custos de Oportunidade e Curva de Possibilidade s deProdução

    2.1. Custo de Oportunidade

    Conforme vínhamos analisando, os recursos produtivos são escassos e asnecessidades humanas ilimitadas, e porque existe a escassez os agenteseconômicos têm que decidir onde e como aplicar os recursos disponíveis.Fazemos isso todo o tempo no nosso dia-a-dia, no supermercado, em nossasdecisões de compras. Isto porque como os fatores de produção são limitados,só é possível satisfazer uma necessidade abrindo mão da satisfação de umaoutra. Não há capital, nem trabalho, nem terra, nem tecnologia suficientes paraproduzir tudo aquilo que se deseja. A remuneração destes fatores também érestrita, restringindo as possibilidades de consumo.

    A escassez força os indivíduos, as famílias, as empresas e até os governos afazer escolhas. Os indivíduos, por exemplo, têm de decidir como gastar suarenda e que necessidades devem priorizar. As empresas têm de decidir seampliam o capital produtivo ou investem no mercado financeiro. Os governosprecisam decidir se pagam uma parcela de suas dívidas ou fazeminvestimentos em educação e saúde.

    Mas uma vez que um destes agentes econômicos tome uma decisão, estarãonecessariamente abrindo mão de outras possibilidades. Assim, em um mundode recursos limitados, a oportunidade de produzir um bem significa deixar deproduzir outro. Como toda escolha, a escolha de satisfação de certasnecessidades em detrimento de outras envolve ganhos e perdas. Por isso,quando decidem gastar ou produzir, empresas, governos ou famílias estarãorenunciando a outras possibilidades. A opção que se deve abandonar parapoder produzir ou obter outra coisa se associa ao conceito de custo deoportunidade.

    O custo de oportunidade de um bem ou serviço é a quantidade de outros bensou serviços a que se deve renunciar para obtê-lo. Em outras palavras, o custode oportunidade é o sacrifício do que se deixou de produzir, o custo ou a perdado que não foi escolhido e não o ganho do que foi escolhido. O custo deoportunidade também é chamado custo alternativo, por representar o custo daprodução alternativa sacrificada.

    2.2. Curva de Possibilidades de Produção

    Dada a escassez de recursos da economia, os agentes econômicos sãoobrigados a fazer escolhas. Quando um bem é escasso, os indivíduos sãoforçados a escolher como usá-lo. Em conseqüência passa a haver uma troca –satisfazer uma necessidade significa a não satisfação de uma outra.A curva de possibilidades de produção mostra as trocas que os indivíduos, asempresas, ou os governos são obrigados a fazer por causa da escassez derecursos.

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    Suponhamos uma determinada sociedade, onde exista um certo número deindivíduos, uma tecnologia dada, uma quantidade definida de empresas,instrumentos de produção e de recursos naturais. Como os fatores produtivossão limitados, a produção total desta sociedade tem um limite máximo a quechamaremos de produto de pleno emprego. Neste nível de produção, todos osrecursos disponíveis estão empregados, todos os trabalhadores que queremestão trabalhando, todos os instrumentos de produção estão sendo utilizados,todas as fábricas estão a pleno funcionamento e os recursos naturais estãosendo plenamente aproveitados.

    Vamos supor ainda que esta economia produza apenas alimentos e roupas.Haverá sempre uma quantidade máxima de alimentos produzidos mensalmente quando todos os recursos forem destinados à sua produção, semque nenhum se destine à produção de roupas. Haverá também umaquantidade máxima de roupas produzidas mensalmente quando todos osrecursos forem destinados à sua produção, sem que nenhum se destine àprodução de alimentos. Entre as quantidades máximas de roupas e alimentosque podem ser produzidas, existem uma série infinita de possibilidades decombinações de quantidades de roupas e alimentos que podem ser produzidosnaquela sociedade, com aquele nível de tecnologia e aqueles recursosdisponíveis, com todos os recursos sendo plenamente utilizados. Suponhamosque as alternativas de produção de roupas e alimentos sejam as colocadas natabela abaixo.

    Alternativas deprodução

    Alimentos(toneladas) Roupas (milhares)

    1 10 160 2 20 150 3 30 130 4 40 100 5 50 60 6 60 0

    FIGURA 1 – CURVA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO

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    A essa curva que ilustra essas possibilidades de combinações intermediáriasentre roupas e alimentos eu vou chamar de curva de possibilidades deprodução ou curva de transformação. Ela indica todas as possibilidades deprodução de alimentos e roupas nessa construção econômica hipotética. Acurva de possibilidades de produção é um conceito teórico para ilustrar acapacidade produtiva de uma sociedade.

    Através desta curva podemos perceber claramente que numa economia empleno emprego, ao produzir um bem estaremos sempre desistindo da produziruma certa quantidade de um outro bem. Em outras palavras, Para

    conseguirmos uma quantidade constante adicional de um bem (alimentos),precisaremos renunciar a quantidades crescentes do outro bem.Tendo em vista que cada uma das combinações sobre a curva depossibilidades de produção é tecnicamente eficiente, a sociedade escolheráuma delas em função dos preços dos produtos e das quantidades desejadasde cada um deles.

    Para as firmas também é possível construir uma curva de possibilidades deprodução semelhante ao exemplo que elaboramos acima. Mas no lugar dosbens produzidos pela sociedade, construiremos a curva de possibilidades deprodução contrapondo os produtos a serem produzidos por essa firma. Umaempresa precisa sempre decidir quais produtos produzir e em que quantidadeproduzir. Será a interação entre preços e quantidades de mercado que darãoessa resposta, supondo -se que os empresários são agentes racionais eprocuram sempre economizar os fatores escassos com o objetivo de maximizarlucros. Observemos a figura abaixo:

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    De acordo com o gráfico acima, se houver uma expansão dos fatores deprodução, ou se houver um melhor aproveitamento dos recursos produtivos jáutilizados, ou ainda se a tecnologia utilizada sofrer algum avanço, haverácrescimento econômico naquela sociedade e a curva de possibilidades deprodução se deslocará para cima e para a direita. Isto significa que a economiapoderá dispor de maiores quantidades tanto de alimentos quanto de roupas.

    A expansão dos fatores produtivos ou a melhora no seu aproveitamento, bemcomo os avanços tecnológicos dependem significativamente de um aumentonos investimentos. Isto significa que os agentes econômicos – famílias,empresas e governo – precisam reduzir o seu consumo atual e direcionar partede seus recursos para a poupança, a fim de que ela esteja disponível parainvestimento. Um outro elemento importante para o crescimento econômico,tanto quanto o investimento, é a divisão do trabalho. Um aumento da divisão dotrabalho permite que os trabalhadores se tornem mais produtivos, com umaumento da especialização do trabalho, elevando também os volumesnegociados no comércio.

    2.3. Análise Marginal

    Diante do que foi exposto, como então a população poderia alocar seusrecursos escassos de modo a obter o maior proveito possível? A fim deresponder a esta pergunta fundamental da economia, os economistas utilizama chamada análise marginal. Esta técnica é amplamente utilizada na tomadade decisão das firmas, onde se faz a análise dos custos e benefícios de umaunidade adicionada de um bem ou insumo para o montante da produção, achamada unidade marginal.Em qualquer situação, os indivíduos querem maximizar os chamados

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    benefícios líquidos. O benefício líquido seria o benefício total subtraídos oscustos totais.

    BENEFÍCIO LÍQUIDO = BENEFÍCIO TOTAL – CUSTO TOTAL

    A fim de maximizar seus benefícios, pode-se alterar alguma das variáveisenvolvidas no processo, como a quantidade de um produto que compram ou aquantidade que produzem. Essa variável seria chamada de variável decontrole. A análise marginal identifica se a alteração da variável de controleproporciona um aumento do benefício total e de quanto seria esse aumento; ouse a alteração da variável de controle ocasiona um aumento do custo total, eem que medida esse custo aumenta.Sendo assim, é preciso primeiro identificar a variável de controle. Feito isto,deve-se determinar qual seria o aumento do benefício total se fosseacrescentada uma unidade da variável de controle. O aumento do benefíciototal decorrente doaumento de uma unidade da variável de controledeterminaria o chamado benefício marginal da unidade adicional.

    Por outro lado, devemos identificar a variável de controle, para depoisdeterminar também qual seria o aumento do custo total se houvesse umaelevação de uma unidade desta variável de controle. O custo marginal seria justamente o aumento no custo total decorrente do aumento de uma unidadeda variável de controle.

    Se o benefício marginal da unidade adicional da variável de controle for maiorou igual ao custo marginal, teremos uma variação positiva do benefício líquido.Portanto, o benefício líquido aumenta e a unidade marginal da variável decontrole deve ser adicionada, pois desta elevação resulta um impacto positivo,de maximização de benefício líquido.

    BENEFÍCIO MARGINAL = AUMENTO DO BENEFÍCIO TOTAL

    É preciso ter em mente que apenas as alterações do benefício total e do custototal devem ser analisadas, porque o benefício marginal representa o aumentodo benefício total, enquanto que o custo marginal representa o aumento docusto total.

    CUSTO MARGINAL = AUMENTO DO CUSTO TOTAL

    Portanto, teremos que a variação do benéfico líquido é dada pela diferençaentre benefício total e custo total.

    VARIAÇÃO DO BENEFÍCIO LÍQUIDO = BENEFÍCIO MARGINAL – CUSTOMARGINAL

    Em uma firma, o benefício líquido ao atuar nos negócios é o lucro. O benefíciototal corresponderia à receita total auferida pela empresa, e os custos totaisteriam a mesma denominação. Assim, a análise marginal estudaria asrepercussões sobre o lucro total, a partir dos efeitos sobre a receita total(preços x quantidades) e o custo total (custo médio x quantidades). A decisão

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    do empresário dependerá da análise marginal que efetuar, a partir de umaequação fundamental, derivada daquelas que construímos acima. Sendoassim, numa empresa, a fórmula acima apresentada seria modificada para:

    LUCRO = RECEITA TOTAL – CUSTO TOTAL

    A variação do lucro total seria dada pela diferença entre receita marginal ecusto marginal. A receita marginal seria a receita proporcionada pela venda deuma unidade adicional do produto. O custo marginal seria o custo da produçãode uma unidade adicional de produto.

    VARIAÇÃO DO LUCRO TOTAL = RECEITA MARGINAL – CUSTOMARGINAL

    A firma continuará a produzir unidades adicionais do produto até o ponto emque o custo marginal for igual ao preço. O ponto de equilíbrio da produção deuma firma, para a teoria econômica, é justamente quando o custo marginaliguala o seu preço.

    Módulo 3- O Sistema Econômico

    3.1. O que vem a ser um sistema econômico?

    Sabe-se que a economia de cada país funciona de maneira distinta, no entantopodemos dizer que, em linhas gerais, a maior parte dos países no mundopossuem o mesmo sistema econômico. Mas afinal o que viria a ser um sistemaeconômico? Ora, se as questões fundamentais da economia giram em torno dadecisão de o que, quanto, como e para quem produzir de forma eficiente, numcontexto de necessidades ilimitadas, mas com recursos produtivos e tecnologialimitada, é necessário que uma sociedade se organize para tal. As atividadescomuns a qualquer sistema econômico são a produção, o consumo e as trocas.E a forma de adoção das trocas é diferente em cada sistema econômico.

    O sistema econômico seria a forma como a sociedade organiza a suaprodução, distribuição e consumo de bens e serviços, para que seja alcançadonesta sociedade o maior nível de bem-estar possível. Essa organizaçãoenvolve a dimensão econômica, mas também a dimensão social e política de

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    uma sociedade. No entanto, é preciso ter em mente que as comunidades nãosimplesmente “escolhem” um sistema econômico, mas ele é fruto de umprocesso histórico de lutas, guerras, disputas de interesses que acabamdefinindo a forma da sociedade se organizar política, social e economicamente.Umsistema econômico seria então o conjunto de relações técnicas, básicas einstitucionais que caracterizam a organização econômica, social e política dasociedade. Essas relações condicionam as decisões fundamentais dasociedade e quais as atividades que serão as mais importantes dentro daquelacomunidade.

    Tradicionalmente, classificam-se os sistemas econômicos em:

    a) sistema capitalista ou economia de mercado: a base deste sistemaeconômico é a propriedade privada dos bens de produção e do capital, ondepredomina a livre iniciativa. Numa economia de mercado, as decisões de oquê, como e para quem produzir seriam definidas a partir da concorrência e dosistema de preços, regulado pelo mecanismo de oferta e demanda, com poucainterferência do Estado. O que produzir seria definido pela demanda dosconsumidores no mercado; quanto produzir seria determinado pela interaçãoentre consumidores e produtores no mercado, com o devido ajustamento dospreços; como produzir seria determinado pela concorrência entre osprodutores; e o para quem produzir seria determinado pela oferta e demandano mercado de fatores de produção. A produção se destina a quem tem rendapara pagar.

    b) Economias mistas: surgem a partir da década de 30 do século XX, quandoainda prevalecem a livre iniciativa, a propriedade privada e as forças demercado, mas há grande participação do Estado, não apenas na produção debens e serviços, mas também na alocação e na distribuição de recursos. OEstado também atua nas áreas de infra-estrutura, energia, saneamento etelecomunicações.

    c) Economias socialistas ou economia planificada: nestas economias, asdecisões sobre o que, quanto, como e para quem produzir são determinadaspor órgãos de planejamento do governo, e não pelo sistema de preços e pelaconcorrência inter-capitalista. Os meios de produção – máquinas,equipamentos, matérias-primas, instrumentos, terras, minas, bancos, etc – sãoconsiderados propriedade de todo o povo (propriedade coletiva ou social). Osmeios de sobrevivência como roupas, automóveis, eletrodomésticos, móveis,etc pertencem aos indivíduos. As residências pertencem ao Estado.

    O que seria então o “mercado”? Como já vimos, numa economia de mercadoos preços dos produtos a serem vendidos são em geral estabelecidos pela livreconcorrência entre os produtores e os consumidores, e pelo mecanismo depreços, onde há a compra e venda de bens e serviços, mas também de fatoresde produção. O mercado seria toda instituição social na qual bens, serviços efatores de produção são trocados livremente, troca esta mediada pela moeda.Na economia de mercado os consumidores tentarão maximizar o seu bem-estar e os produtores tentarão maximizar o seu lucro.

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    Como vimos, as unidades familiares fornecem recursos produtivos para asempresas e as empresas fornecem bens e serviços finais para as unidadesfamiliares. A interação entre as famílias e as empresas é feita através domercado de bens e serviços e do mercado de fatores de produção.Destainteração, resultam dois fluxos:

    a) Fluxo real da economia ou circulação real: quando houver deslocamentofísico do bem; pode ser definido a partir do fornecimento de recursos deprodução, do uso destes recursos e de sua combinação na produção de bens eserviços intermediários e finais. Há emprego efetivo de fatores produtivos e dosprodutos gerados. Há troca material de recursos produtivos e de bens eserviços. Engloba o mercado de recursos de produção e o mercado de bens eserviços. O fluxo real da economia, no entanto, só torna-se possível com apresença da moeda, que é utilizada para pagar os bens e serviços e os fatoresde produção. Paralelamente ao fluxo real temos o fluxo monetário daeconomia.

    GRÁFICO 1 – FLUXO REAL DA ECONOMIA

    Fonte: VASCONCELOS (2000, p.06)

    b) Fluxo monetário da economia: quando há apenas transferência depropriedade, representada pelos pagamentos monetários efetuados pelosprodutos (bens e serviços) e pelos fatores de produção. Também vai englobaro mercado de recursos ou fatores de produção e o mercado de bens eserviços.

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    Tanto o fluxo real quanto o fluxo monetário vão envolver as famílias e asempresas, bem como os mercados de recursos e de bens e serviços.

    No mercado dos recursos de produção serão transacionados recursosnecessários às atividades de produção, tais como mão-de-obra, matérias-primas, tecnologia, formação de capital, capacidade administrativa, entreoutros. Neste mercado quem oferta recursos são as famílias e a demanda érepresentada pelas empresas. Neste mercado, as unidades produtoras, ouseja, as empresas, pagam às famílias uma remuneração pelos fatores deprodução de sua propriedade, na forma de salários, aluguéis, jurose lucros.

    As famílias (ou os indivíduos que as compõem) vão até o mercado de fatores

    de produção e oferecem seus “produtos” ou “serviços”, em busca de uma renda(oferta de fatores). As empresas, por sua vez, precisam destes fatoresprodutivos a fim de combiná-los na produção de seus produtos e vão aomercado de fatores com o objetivo de comprá-los (demanda de fatores). Ospreços dos fatores (salários – trabalho, aluguéis – terra, juros – capital, lucros –capacidade empresarial) serão determinados pela interação entre a oferta e ademanda. A soma dos salários, aluguéis, juros e lucros formam a renda daeconomia. Ao receberem essa renda, as famílias têm condições de comprarprodutos ofertados pelas empresas no mercado de bens e serviços.

    Assim, as empresas combinam os fatores de produção adquiridos no mercadode fatores e produzem bens e serviços e vão ao mercado de bens e serviços

    oferecê-los para as famílias, que estão de posse de suas respectivas rendas.Os preços de cada bem ou serviço vai ser determinado a partir da interaçãoentre a oferta e a demanda de cada um deles. A nossa hipótese inicial foi a deque não haveria um setor financeiro, portanto os consumidores gastam toda asua renda neste mercado. As empresas acabam absorvendo essa renda. Ao sedirigirem ao mercado de fatores, as empresas acabam distribuindo esta rendana forma de salários, aluguéis, juros e lucros.

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    No mercado de bens e serviços são transacionados bens e serviçosnecessários à satisfação humana, tais como alimentação, saúde, vestuário,habitação, calçados, transportes. Quem representa a oferta neste mercado sãoas empresas, na condição de produtores, e quem representa a demanda sãoas famílias, na condição de consumidores. Aqui, as famílias ou osconsumidores acabam transferindo os pagamentos recebidos das empresaspelo uso dos fatores de produção, para essas mesmas empresas, como formade pagamento monetário dos bens e serviços adquiridos.

    O fluxo circular da renda é constituído pela união dos fluxos real e monetário,onde em cada um dos mercados atuam conjuntamente as forças da oferta e dademanda, determinando o preço.

    GRÁFICO 3 – FLUXO CIRCULAR DE RENDA

    Como podemos observar, famílias e empresas exercem um duplo papel. Nomercado de bens e serviços, as famílias demandam bens e serviços enquantoas empresas ofertam estes mesmos bens e serviços; no mercado de fatores deprodução, as famílias é que oferecem os serviços dos fatores de produção, desua propriedade, e as empresas vão demandar estes mesmos fatores.

    No equilíbrio, então, teremos o seguinte esquema:

    FLUXO REAL = FLUXO MONETÁRIO

    FLUXO REAL DE FATORES = RENDA

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    FLUXO REAL DE BENS E SERVIÇOS = FLUXO MONETÁRIO DOMERCADO DO PRODUTO

    É necessário fazer uma observação importante. Para a teoria econômica, tantoos consumidores, na figura das famílias, como os produtores, representadosacima pelas empresas, são racionais nas suas decisões. O que isto significa?Significa que os indivíduos, enquanto consumidores, buscam obter o máximode produtos gastando o mínimo possível. Já as empresas, ou os produtores,buscam obter o maior lucro possível, e para isto quer diminuir custos e venderos seus produtos o mais caro possível. Cada um dos agentes que interferemno processo econômico agem buscando o seu próprio interesse, a partir deuma racionalidade meramente econômica.

    É importante ressaltar que estes fluxos sofrem algumas alterações com aintrodução do setor público (governo) e das transações com o setor externo.

    Com a incorporação do setor público ao fluxo anterior, teremos o impacto dosimpostos e dos gastos públicos no fluxo da renda. Ao se incluir o governo, esteimpõe sobre empresas e famílias impostos, que diminuem tanto o poder decompra das unidades familiares, como o lucro das empresas. Por outro lado,ao conceder subsídios[1], que nada mais é do que uma ajuda do governo adeterminados setores produtivos ou parcelas da sociedade, aumentam aspossibilidades de investimentos das empresas.

    Por outro lado, se eu introduzo no esquema acima o comércio internacional, háum aumento da demanda por produtos no mercado de bens e serviços, namedida em que parte dos bens e serviços disponibilizados pelas empresas irãoser exportados. Há também um aumento na oferta neste mesmo mercado,através das importações, o que acaba por elevar a concorrência, podendoocasionar uma queda nos preços destes produtos e uma melhoria naqualidade.

    3.3. Divisão do Estudo Econômico

    Quando pensamos ou discutimos a economia podemos definir se queremos teruma visão mais ampla ou mais restrita dos fenômenos econômicos. Paraanalisar o sistema econômico podemos nos concentrar no estudo das unidadesfamiliares e produtivas, ou podemos trabalhar com os grandes agregados.

    Neste sentido, sobretudo por razões didáticas, costuma-se dividir a economiaem quatro ramos de estudo fundamentais: microeconomia, macroeconomia,desenvolvimento econômico e economia internacional.

    A microeconomia ou teoria de formação de preços estuda a formação depreços em mercados específicos, ou seja, como consumidores e empresas serelacionam no mercado, por meio da ação conjunta de oferta e demanda, edefinem os preços para que as necessidades tanto dos consumidores quantodos produtores sejam satisfeitas ao mesmo tempo. Em outras palavras, a

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    microeconomia ocupa-se da análise do comportamento das unidadeseconômicas, como as famílias, os consumidores ou as empresas. Para amicroeconomia, as diferentes unidades econômicas atuam como se fossemunidades individuais, e estuda a racionalidade dos indivíduos (consumidores eempresas) diante do problema da escassez de recursos, bens e serviços.

    A macroeconomia estuda o funcionamento da economia em seu conjunto,ocupando-se da determinação e do comportamento dos grandes agregadosnacionais, como o produto interno bruto (PIB), que mede o total do que éproduzido no país, investimento agregado, a poupança agregada, o emprego, oconsumo agregado, o nível geral de preços, os juros da economia, os índiceseconômicos. O objetivo da macroeconomia é oferecer uma visão simplificadada economia, mas que forneça condições para o conhecimento e atuaçãosobre o nível de atividade econômica de um país, através das políticasgovernamentais. A análise macroeconômica trabalha com as condições deequilíbrio estável entre a renda e a despesa nacionais, e com as políticaseconômicas de intervenção que procuram estabelecer este equilíbrio.

    Os estudos do desenvolvimento econômico se concentram no entendimentodos processos econômicos e na busca de melhorar as condições de vida dasociedade ao longo do tempo, através da acumulação de recursos escassos eda geração de tecnologia capazes de aumentar a produção de bens e serviçosdaquela sociedade. Para isto, o desenvolvimento econômico discute medidasque devem ser adotadas pelos países no longo prazo, a fim de que umasociedade obtenha um crescimento econômico equilibrado, auto-sustentado ecom uma distribuição de renda mais eqüitativa. Busca, portanto, entender comose processa a acumulação de recursos escassos e a geração de tecnologiaque resultariam no aumento da produção de bens e serviços para a sociedade.

    A economia internacional por sua vez procura compreender as relaçõeseconômicas internacionais, através do estudo dos fluxos comerciais efinanceiros que interligam os países e os indivíduos habitantes em cantosdistintos do globo. É o ramo da economia que estuda, portanto, as condiçõesde equilíbrio entre importações e exportações, e os fluxos de capital entre asnações do mundo. Ocupa-se, portanto, das relações econômicas entreresidentes e não-residentes do país, sejam elas transações de bens e serviçosou de capital.

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    [1] Auxílio concedido pelo governo de um país a determinados setores ou

    empresas (públicas ou privadas), tecnicamente definido por: benefícios pagos,sem contrapartida em produtos ou serviços; transferênciade recursos de umaesfera do governo em favor de outra; despesas governamentais para cobrirprejuízos de empresas; benefícios a consumidores, sob a forma de preçosinferiores aos níveis normais do mercado; benefícios a produtores evendedores mediante preços mais elevados. Disponível em:http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&q=o+que+s%C3%A3o+subs%C3%ADdios&meta=. Acesso em 20 jun.2006.

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_2/BR&q=o+que+s%C3%A3o+subs%C3%ADdios&meta=http://www.google.com.br/search?hl=pt-

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    Módulo 4- As Origens do Pensamento Econômico

    As escolas de pensamento econômico constituem um conjunto sistematizadode idéias, valores e princípios teóricos, mas sempre vinculadosàs questõespolíticas, sociais e éticas. Sendo assim, os pressupostos e conclusões de cadacorrente de pensamento econômico, bem como os resultados de suasinvestigações científicas estão inteiramente condicionados por sua matrizideológica.

    Durante muito tempo a economia constituiu um conjunto de soluções aproblemas específicos e orientava-se por princípios gerais de ética, justiça eigualdade. As justificativas dos conceitos eram muito mais de natureza moral,não existindo, até Smith, um estudo sistemático das relações econômicas.

    4.1. O Pensamento Econômico na Antiguidade

    Na Antiguidade Clássica, a maior parte da população era composta deescravos, que trabalhavam em troca do básico para a sua subsistência (roupase alimentos). Todo o produto excedente a essas necessidades básicas dostrabalhadores era apropriado pelos senhores de escravos. A economia eraeminentemente rural e as cidades desenvolveram-se com o avanço das trocascomerciais. Estas cidades eram politicamente independentes umas das outras,e a navegação desenvolveu-se com a expansão do intercâmbio comercial.

    Os autores da Antigüidade, tanto na Grécia, quanto em Roma, não possuíamum pensamento econômico geral e independente. Havia o domínio da Filosofiae da Política sobre o pensamento econômico.

    Neste sentido, embora o termo “economia” (oikosnomos[1]) tenha surgido naGrécia, a predominância da Filosofia sobre a sociedade não favorecia odesenvolvimento da análise econômica.

    Existem algumas reflexões de ordem econômica em Platão (427-347 a.C.) eXenofontes (440-335 a.C.), mas muito incipientes. Aristóteles apresentoualgumas contribuições interessantes às teorias do valor, dos preços e damoeda, mas tratava sobretudo de aspectos das transações comerciais e dasfinanças públicas.

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    Os grandes pensadores gregos partiam da premissa que o trabalho era indignodo homem e que deveria ser reservado aos escravos, considerados inferiores.Assim, Platão e Aristóteles faziam a defesa da escravidão argumentando quealguns homens eram naturalmente inferiores a outros. Defendia-se a igualdadeentre os cidadãos (homens livres, nascidos na Cidade-Estado e proprietáriosde terras) e havia um certo desprezo pela riqueza e o luxo. Isto dificultavaodesenvolvimento das relações econômicas, e assim, portanto, do própriopensamento econômico. Sendo assim, na Grécia apareceram poucas idéiaseconômicas, fragmentadas em estudos filosóficos e políticos.

    O pensamento romano também não deu uma grande contribuição aodesenvolvimento das idéias econômicas. Os romanos não desprezavam ariqueza e o luxo, e havia uma economia de trocas muito mais intensa em Romaque na Grécia, com o desenvolvimento de companhias comerciais esociedades por ações. Mas o pensamento de Roma centrou-se nas questõesda política, e o desenvolvimento da sociedade romana estava centrado emtorno de objetivos muito mais políticos do que econômicos, o que anulou a suacontribuição ao pensamento econômico.

    4.2. O pensamento econômico na Ida de Média

    Com o declínio do Império Romano e as invasões bárbaras, surgiu ofeudalismo, cuja base era o trabalho dos servos nas terras dos senhores.Apesar do servo não ser livre, por estar ligado à terra e a seu senhor, não erapropriedade do senhor, comoo escravo na Antigüidade.

    Existia também uma hierarquia dentro da classe de senhores feudais. Umsenhor devia lealdade a um senhor mais poderoso, e este a outro, e a outro,até chegar ao rei. Os vassalos recebiam a terra de seus senhores para cultivá-las em troca de dinheiro, alimentos, trabalho e lealdade militar. Emcontrapartida, o senhor oferecia proteção militar a seu vassalo.

    Ao longo da Idade Média há um amplo desenvolvimento das trocas nascidades, ampliando-se a atividade econômica regional e inter-regional atravésdo surgimento das feiras periódicas. O avanço das trocas propiciou odesenvolvimento da divisão do trabalho: surgem as corporações de ofício eocorre uma ampliação crescente das trocas entre as áreas urbanas e rurais.Com as Cruzadas expande-se o comércio através do Mediterrâneo, fazendosurgir grandes centros comerciais como Gênova, Veneza, Pisa e Florença.

    Assim como na Antiguidade Clássica, o pensamento econômico medieval não

    constituía um corpo teórico independente e sistematizado,e tinha um carátereminentemente prático. Ao invés de estar pautado por questões filosóficas epolíticas, a moral cristã orientava e subordinava o pensamento econômico naIdade Média, através da dominação exercida pela Igreja Católica em todas asdimensões da sociedade.

    Neste sentido, a teologia católica, ao subverter a ética do trabalho, não apenasdefendendo a dignidade do trabalho, mas o colocando como meio de expiação

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    dos pecados do homem, revoluciona as relações econômicas, dando a elas umgrande impulso de desenvolvimento.

    A ética paternalista cristã, no entanto, condenava a aquisição e acumulação debens materiais. A Igreja condenava a busca desenfreada pelo interesseindividual, e tentava moralizar as ações econômicas dos indivíduos e a condutahumana, inclusive com a instituição de leis paternalistas, como a Lei dosPobres. Permitia-se a propriedade privada, mas esta deveria ser usada commoderação. Surge a partir desta idéia de moderação dos agentes econômicosa concepção de justiça nas trocas, onde buscava-se o “justo preço” e o “justosalário”.

    E o que vinha a ser o justo preço?Seria o preço baixo o bastante para que oconsumidor pudesse comprar, sem extorsão, e aquele elevado o suficientepara que o vendedor tivesse interesse em vender para poder viver de maneiradecente. O justo salário seria aquele que permitiria ao trabalhador e sua famíliaviver dignamente. Havia também a noção de justiça nas trocas, onde o lucro

    não deveria permitir aos comerciantes enriquecer (já que a riqueza eracondenada), mas apenas viver de forma decente. Dessa concepção de justiçanas trocas advém também a condenação do empréstimo a juros, já que odinheiro reembolsado ao emprestador seria maior que o dinheiro tomadoemprestado.

    No entanto, com o desenvolvimento do comércio e das trocas, e com odesenvolvimento das atividades manufatureiras, estas concepções caem porterra, e a subordinação da economia à teologia é substituída pela buscadesenfreada de acumular metais preciosos.

    4.3. O Mercantilismo

    A partir do século XV, uma série de transformações intelectuais, religiosas,políticas associadas ao desenvolvimento das trocas e do comércio e àexpansão ultramarina e aos grandes descobrimentos impulsionaram o avançoda atividade econômica de forma significativa.

    A Reforma Protestante abre as portas para o individualismo, ao exaltar aatividade econômicae o sucesso material, e ao justificar a busca do lucro, osempréstimos a juros e o enriquecimento. Não mais se condenava a riqueza,

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    mas o pecado agora era a ociosidade. O enriquecimento era sinal da salvaçãode Deus e o trabalho não era mais um meio de expiação de pecados, masinstrumento para alcançar a graça divina e o êxito material.

    Há neste período o enfraquecimento dos feudos e a centralização da políticacom o surgimento dos Estados Nacionais. O Estado passa a coordenar asforças materiais e os recursos humanos, fazendo de cada país um organismoeconômico integrado. O Estado nacional passa a assumir o lugar da Igreja desupervisionar o bem-estar da sociedade.

    É neste contexto que surge o mercantilismo, considerada por algunsestudiosos como a primeira escola econômica, apesar de não representar umconjunto teórico e técnico homogêneo e sistematizado. No entanto, omercantilismo já apresenta algumas preocupações explícitas com acumulaçãode riquezas de uma nação.

    Para os mercantilistas, o governo deum país seria mais forte e poderosoquanto mais rico ele fosse e esta riqueza seria tanto maior quanto fosse o seuestoque de metais preciosos (ouro e prata).

    No sentido de garantir um aumento no saldo de ouro e prata, os mercantilistasdefendiam uma política de aumento das exportações, a proibição da saída demetais preciosos e redução significativa, senão a proibição da entrada demercadorias estrangeiras em seu país.

    Para desenvolver a industrialização interna, exportar mais e reduzir asimportações ao mínimo possível, os mercantilistas defendiam uma políticaintervencionista na indústria e o protecionismo alfandegário, efetivamenteimplantados em alguns países. Há também um controle e proteção dasatividades de comércio internacional, já que o comércio e as navegações eramas principais fontes de riqueza nacional neste período. Assim, os mercantilistaseram entusiastas da ampla intervenção do Estado nos negócios privados e daimposição de barreiras ao comércio internacional como forma de promover umsaldo comercial positivo.

    A política colonial mercantilista também foi fundamental para odesenvolvimento da economia mundial neste período. O “pacto colonial” entreas metrópoles européias e suas respectivas colônias no além-mar foiestabelecido para elevar o saldo comercial e o fluxo de metais preciosos paraas metrópoles. As colônias só poderiam consumir produtos da metrópole, sópoderiam exportar para a metrópole, que controlava também o transporte das

    mercadorias. Os níveis de preços dos produtos a serem importados pelascolônias eram fixados pelas metrópoles em níveis os mais altos possíveis;enquanto que os produtos exportados pelas colônias tinham seus preçosestabelecidos em níveis bem baixos. Isso permitiu um aumento significativodos saldos comerciais das metrópoles e uma ampliação do fluxo de metaispreciosos.

    Embora o mercantilismo tenha uma contribuição pouco significativa para aconstituição da análise econômico-científica, foi fundamental para o surgimento

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    do capitalismo. O mercantilismo teve uma contribuição significativa parafortalecer a economia nacional, ampliar as relações comerciais, na expansãodos mercados, para desenvolver o sistema manufatureiro, na formação dosgrandes capitais que financiaram a revolução industrial e no surgimento dotrabalho assalariado. Todos esses elementos foram fundamentais para aconsolidação posterior do capitalismo.

    4.4. A Fisiocracia

    As primeiras tentativas de sistematização da ciência econômica remontam aotrabalho dos fisiocratas. A fisiocracia é um movimento econômico que surgiu noséculo XVIII como uma reação às distorções do mercantilismo: a excessivaregulamentação e intervenção do Estado nos negócios privados e o abandonoda agricultura em benefício da indústria. Sua principal preocupação era acirculação ou distribuição do produto social.

    A fisiocracia acredita que a economia, como o universo de Newton, é regidapor leis naturais, absolutas, imutáveis e universais estabelecidas por um entedivino para a felicidade do homem. Caberia ao homem, por meio da razão,descobrir esta ordem e trabalhar no sentido de respeitar as leis que regulam aordem natural. Sendo assim, os fenômenos econômicos deveriam fluirlivremente, seguindo estas leis naturais.

    Portanto, os fisiocratas consideravam desnecessária e até mesmo prejudicialqualquer intervenção do Estado nas relações econômicas, pois criariaobstáculos à ordem natural, inibindo a circulação de pessoas e de bens. Afunção da autoridade governamental era entender esta ordem natural e servirde intermediário para que as leis da natureza pudessem ser respeitadas ecumpridas. O Estado não deve intervir na economia mais do que o necessáriopara assegurar a vida, a propriedade e para manter a liberdade.

    Um dos grandes pensadores desta corrente de pensamento, François Quesnay(1694-1774), defendeu alguns princípios que serviriam mais tarde de base paraa construção da análise econômica posterior. A principal obra deste autor é Oquadro econômico. Quesnay elaborou o princípio utilitarista de busca daobtenção de máxima satisfação com um mínimo de esforço, que seriadesenvolvido amplamente pelos economistas da escola marginalista no séculoXIX. Ele é precursor também da idéia de que a busca do interesse individualnuma economia competitiva originaria uma compatibilidade de interessespessoais, levando a sociedade à harmonia e ao bem-estar coletivo. Além disso,Quesnay evidencia a interdependência entre as atividades econômicas,

    desenvolvendo pela primeira vez uma análise dos fluxos de rendas e de bensde uma nação, e suas variações.

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    Os fisiocratas não acreditavam que a riqueza de um país dependia de seusestoques de metais preciosos, como defendiam os mercantilistas. Para afisiocracia, a riqueza de uma nação dependia de sua capacidade de produção,mais especificamente no setor agrícola.

    A agricultura era a única atividade realmente produtiva, pois somente aatividade agrícola é capaz de gerar excedentes; portanto era a única atividadeque gerava valor – só a terra tinha capacidade de multiplicar a riqueza. Osdemais setores da economia, como a indústria e o comércio eram apenasdesdobramentos da agricultura, pois apenas transformam e transportam bens.Dependiam, assim, dos excedentes gerados na agricultura. Portanto, eraprimordial para os fisiocratas o incentivo à agricultura para elevar o produtosocial.

    Os fisiocratas propunham, além da redução da intervenção estatal naeconomia, a eliminação das barreiras ao comércio interno e internacional, tãocaracterísticas do mercantilismo, uma política de promoção das exportações.Também sugeriam políticas de combate aos oligopólios (mercado controlado

    por poucos vendedores) e o fim das restrições às importações.

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    [1] Existem controvérsias entre os autores da História do PensamentoEconômico sobre quem utilizou pela primeira vez o termo “economia”. Paraalguns, este termo foi utilizado pela primeira vez por Xenofontes, se referindoaos princípios de gestão dos bens privados. Para outros, Aristóteles teriacunhado o termo oidosnomos em seus estudos sobre aspectos daadministração privada e sobre finanças públicas.

    Módulo 5- A Construção da Ciência EconômicaHá um consenso entre os cientistas econômicos de que o marco inicial de umateoria econômica sistematizada remonta à publicação da obra de Adam SmithA riqueza das nações em 1776. Até o surgimento da teoria de Smith, aeconomia era tratada e estudada como um ramo da Filosofia Moral, da Ética edo Direito.

    5.1. Escola Clássica

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    O pensamento econômico clássico opõe-se aos fisiocratas franceses, namedida em que preconizavam que nãoapenas a agricultura era produtora deexcedentes e de valor, mas também a indústria criaria valor. A economiaclássica é pautada pelo individualismo, liberdade pessoal, tanto econômicaquanto política, e crença no comportamento racional dos agentes econômicos.Defendiam a propriedade privada, a iniciativa individual e o controle individualda empresa. Estes seriam princípios básicos capazes de harmonizar interessesindividuais e coletivos e gerar o progresso social.

    O Estado, tal qual na teoria fisiocrata,deveria atuar somente na defesa, na justiça e na manutenção de algumas obras públicas, sem intervirsignificativamente na atividade econômica nem no funcionamento do mercado.

    Mantém-se aqui a visão de um mundo regido por leis naturais e harmônicas,que se refletia na economia, a qual deveria ser deixada livre de intervenções, afim de chegar a um equilíbrio que proporcionaria o bem-estar de todos.

    O pensamento clássico surge em meio à revolução industrial, onde a economiaapresenta um avanço significativo de produtividade, refletindo-se numamudança na estrutura política e social do mundo. Há um crescimentoestrondoso da urbanização, um amplo êxodo rural, a consolidação dos Estadosnacionais e da democracia representativa como sistema político. A partir da contribuição dos economistas clássicos, a economia passa a formar um corpoteórico próprio e a desenvolver um instrumental de análise específico para asquestões econômicas. Busca-se sobretudo encontrar leis gerais eregularidades no comportamento econômico, e o interesse primordial passa aser a análise abstrata das relações econômicas. Não mais são priorizados ospressupostos morais e as conseqüências sociais das atividades econômicas,como antes.

    Os clássicos acreditam que o valor dos bens é determinado pela quantidade detrabalho neles incorporada, e assim, o elemento crucial para a determinaçãodos preços seria o custo de produção. A análise é centrada, portanto, na oferta.A grande preocupação destes primeiros economistas é a determinação dascausas do desenvolvimento da riqueza.

    É preciso ter em mente que o liberalismo econômico característico da escolaclássica se manteve muito mais no plano da retórica, pois na prática houvemuito dirigismo estatal na sociedade capitalista desde o seu surgimento.

    5.1.1. Adam Smith

    Adam Smith (1723-1790) é o grande precursor desta corrente de pensamentoeconômico, sendo considerado por muitos o “pai da economia”, já que na suaobra A riqueza das nações de 1776 ele desenvolve a teoria econômica com umcorpo teórico próprio, como um conjunto científico sistematizado.

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    Para Smith, os indivíduos, na busca da satisfação de seus próprios interessese de maximização de seu bem-estar, acabariam contribuindo para a obtençãodo máximo bem-estar da sociedade. Isto porque o indivíduo se esforça paraempregar o seu capital da maneira mais vantajosa, e isto o conduziria, naturalmente, a preferir o emprego de capital mais vantajoso para a sociedade.

    Para promover o bem-estar o melhor caminho seria o estímulo a buscaindividual do próprio interesse e à concorrência. Se todos os indivíduos sãoassim deixados livres, haveria como que uma “mão invisível” orientando todasas decisões da economia, sem necessidade de atuação do Estado. Através dalivre concorrência, a sociedade chegaria à harmonia e à maximização do bem-estar de todos.

    O mercado seria então o regulador das ações econômicas e traria benefíciospara a coletividade independente da ação do Estado. Smith postulava que osgovernos são ineficazes e têm a tendência de favorecer alguns em detrimentoda maioria da sociedade, portanto sua interferência no mercado tende aprovocar distorções e ampliar desigualdades. Se o governo não interferir nos

    assuntos econômicos, a ordem natural poderia ser alcançada através do usoda razão. Seus argumentos baseavam-se na livre iniciativa e no laissez-faire.

    Smith acreditava que a origem da riqueza não estava na agricultura ou noacúmulo de metais preciosos, mas sim no trabalho humano produtivo. Este simseria o elemento essencial da riqueza e gerador de valor. Sempre que umamercadoria é vendida a um preço superior a seu custo de produção, temosgeração de valor, mesmo fora da agricultura.

    Para Smith a divisão do trabalho e a especialização de tarefas é um elementoessencial para aumentar a habilidade pessoal, para promover o aumento deprodutividade, para ampliar o desenvolvimento tecnológico e,conseqüentemente, elevar a produção. O aprofundamento da divisão dotrabalho decorre da expansão das trocas e dos mercados. Assim, parapromover o aumento da produtividade e da riqueza é preciso ampliar osmercados e a iniciativa privada.

    Smithacreditava que os lucros dos empresários, ao se converterem emmaquinaria e expansão produtiva, permitiria a ampliação da divisão do trabalhoe da produção, o que impulsionaria o crescimento da riqueza. Portanto, para

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    ele a acumulação de lucros pelos empresários era algo essencial parapromover o desenvolvimento da sociedade.

    5.1.2. David Ricardo

    Este pensador clássico acreditava que o crescimento demográfico exerce umefeito negativo sobre a economia. Sua obra principal é Princípios de economiapolítica e tributação. Segundo Ricardo (1772-1823), o aumento da populaçãoacompanharia a expansão econômica, e isto faria com que as necessidades dealimentos aumentassem. Estas necessidades só poderiam ser satisfeitas acustos mais altos.

    Assim, o aumento da população geraria um crescimento da demanda dealimentos, que provocaria um aumento de preços. Isto ocasionaria umaelevação dos salários industriais e uma redução da taxa média de lucro daeconomia. Assim, haveria uma conseqüente redução dos investimentos, comredução do emprego e da produção. Com esta análise, Ricardo mostra que oprocesso de desenvolvimento econômico poderia minar suas próprias bases. O problema central residia na incapacidade da agricultura de produziralimentos baratos para o consumo dos trabalhadores, pois possuíarendimentos decrescentes. À medida que aumentava a população, a produçãoampliava-se em terras cada vez piores, o que provocaria aumento de custos,aumento de salários e redução de lucros. Isto inibiria os investimentos e aprodução na agricultura, o que se refletiria posteriormente em toda a economia.

    Defendia como possíveis soluções para tais problemas o controle da natalidadee a livre importação de alimentos para o consumo dos trabalhadores.

    Ricardo também desenvolveu a teoria das vantagens comparativas. Eledefendia que cada país deveria se especializar naqueles produtos quetivessem os custos comparativos mais baixos, e importar aqueles cujo custocomparativo fosse maior. Cada país deveria, assim, dedicar-se à produção quese mostra comparativamente mais lucrativa. A conseqüência disto seria que otrabalho seria distribuído com maior eficiência, a produção geral se elevaria, epromoveria-se o bem-estar geral e a harmonia de interesses dos diferentespaíses a nível internacional.

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    5.1.3. Thomas Malthus

    Malthus (1766-1834) coloca-se contra a visão otimista dos outros pensadoresclássicos. As instituições sociais não seriam as responsáveis pelas misérias evícios dos indivíduos, mas o próprio instinto de reprodução humana os teriamgerado. Em sua obra An essay on the principle of population, Malthus propugnaque a população, quando não controlada, cresce em proporções geométricas(1,2,4,8,...) enquanto que a produção de alimentos (subsistência) quando muitocresce a taxas aritméticas (1,2,3,4,...). A conseqüência disto é que maisinevitavelmente o número de habitantes ultrapassaria a quantidade dealimentos necessária para mantê-los.

    Assim, o crescimento da população depende da oferta de alimentos: sempreque os salários nominais estiverem acima do salário de subsistência, haveráincentivo para o casamento e para o aumento no tamanho das famílias,provocando o aumento populacional.

    Malthus sugeria uma série de políticas para conter o avanço populacional como

    o adiamento dos casamentos, a limitação voluntária de nascimentos nasfamílias. Tudo isto a fim de evitar uma crise na produção de alimentos. Malthustambém reconhecia que as guerras, os vícios, a miséria e as doenças seriamobstáculos importantes para limitar o crescimento da população, e portantodeveriam ser aceitos como soluções para interromper o crescimentopopulacional.

    No entanto, é preciso destacar que Malthus não levou em conta o ritmo e oimpacto do progresso tecnológico para a elevação da produtividade e doproduto total da agricultura, que representam uma resposta importante para odescompasso natural entre a produção de alimentos e o crescimentopopulacional. Malthus também não poderia prever a revolução nas técnicas delimitação da fertilidade, que representam um passo importante para deter oavanço populacional.

    5.1.4. John Stuart Mill

    John Stuart Mill (1806-1873) sistematizou e divulgou o corpo teórico dopensamento econômico de sua época. Eleavança na teoria ao incorporar emsua obra elementos institucionais, e ao definir de forma mais precisa asrestrições, vantagens e o funcionamento de uma economia de mercado. Ele

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    introduz nas suas análises a preocupação com a justiça social, e com asconseqüências sociais da industrialização em sua época. Sua principal obra é olivro Princípios de Economia Política.

    Mill percebe que o instrumental teórico deixado pelos clássicos, baseado nospressupostos de harmonia de interesses, de ordem natural e de um mercadoregulado para atender o bem-estar de todos não se confirmava na prática emsua época. Se por um lado o crescimento industrial propiciou de fato aumentoda produção, do volume de comércio internacional e crescimento daacumulação de capital, por outro lado gerou a deterioração do padrão de vidada classe trabalhadora, com reduzidos salários,longas jornadas de trabalho,ausência de legislação trabalhista, péssimas condições de moradia, entreoutras coisas.

    Para Mill era evidente que a economia capitalista, em expansão, nãoapresentava um sistema de distribuição de renda que funcionasse bem, e não

    gerava o bem-estar geral da coletividade como preconizavam os outrospensadores clássicos. Para Mill, era necessário políticas de promoção do bem-estar geral, especialmente voltadas para a classe trabalhadora.

    Além disso, Mill percebe que o sistema capitalista não possui uma tendência aoequilíbrio, pelo contrário, há uma tendência do sistema à instabilidade, comtaxas de lucros decrescentes, queda do nível de atividade econômica eelevadas taxas de desemprego entre a população trabalhadora.

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    Módulo 6 - A Evolução da Ciência Econômica

    6.1. Os Socialistas

    O pensamento socialista surge em meio à revolução industrial, com suasgrandes fábricas. Os trabalhadores possuíam condições precárias de trabalhoe de vida, com salários de subsistência, sem direitos políticos nem sociais, emcondições de miséria e abandono. Deste contexto histórico surge anecessidade de despertar a consciência da sociedade para a situaçãoeconômica das classes desfavorecidas.

    Os socialistas rejeitam a idéia de livre mercado ede harmonia de interessesentre as diferentes classes sociais. Não acreditam que a busca egoísta edesenfreada dos indivíduos pelos seus próprios interesses levará a sociedadeà maximização de seu bem-estar.

    O grande teórico desta corrente de pensamento econômico é Karl Marx (1818-1883). Tal como Stuart Mill, Marx se preocupa com as conseqüências sociaisda industrialização e do desenvolvimento capitalista. O objetivo de Marx eradescobrir a estrutura e o funcionamento da economia capitalista e suas leis demovimento. Seu objetivo era demonstrar que o capitalismo explorava a classetrabalhadora, e como essa exploração conduziria necessariamente àdestruição desse sistema econômico.

    Assim como Smith e Ricardo, Marx também acreditava no trabalho comodeterminante do valor, e que a origem da riqueza estava no trabalho humanoprodutivo. A apropriação do excedente econômico produtivo era a origem daacumulação de capital e riqueza.

    O excedente econômico no capitalismo surge do fato do capitalista pagar aotrabalhador uma quantidade igual ao valor de sua força de trabalho (insumosnecessários à subsistência e reprodução do trabalhador), mas esse pagamentoequivale somente a uma parte daquilo que o trabalhador produz para ocapitalista em sua jornada de trabalho. O valor das mercadorias produzidaspelos trabalhadores em um dado período de tempo é superior ao valor da forçade trabalho vendida aos capitalistas que a contratam. A diferença destesvalores é a chamada mais-valia – o valor que excede o valor da força de

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    trabalho e que é apropriado pelos capitalistas. Seria esta, para Marx, a origemdos lucros, juros e aluguéis neste sistema econômico.

    Isto ocorre porque os trabalhadores só possuem sua força de trabalho paravender, não possuindo outra fonte de renda alternativa, sendo obrigados aaceitar as condições impostas pelos capitalistas, detentores não apenas dosmeios de produção, mas também dos meios de subsistência. A propriedadeprivada dos meios de produção seria então a chave para compreender aexploração no capitalismo.

    6.2. A Escola Neoclássica

    No final do século XIX fez-se necessária uma reava liação da teoria econômica,dadas as transformações estruturais das economias das naçõesindustrializadas. No lugar de um capitalismo concorrencial, surge um sistemaeconômico com forte tendência monopolista. Há uma intensa concentração decapitais, o queimplicou em uma concentração de renda, e uma intenso êxodorural, decorrentes dos processos de industrialização.

    Além disso, evidencia-se nesta época que a atividade econômica tende aapresentar-se cada vez menos competitiva. É o período do surgimento econsolidação dos movimentos operários e dos sindicatos, que buscamdefender os interesses dos trabalhadores frente à exploração capitalista.

    O Estado passa a intervir significativamente no campo econômico,especialmente após a crise das bolsas de valores na década de 1930.Evidencia-se neste período que a idéia clássica de uma economia emconstante equilíbrio, onde ofertas e procuras reagiriam automaticamente diantedas alterações de preços não necessariamente verificadas na prática.

    No entanto, os economistas da escola neoclássica, apesar de avançaremsignificativamente na elaboração dos princípios teóricos fundamentais daCiência Econômica, e a despeito das evidências em contrário, continuavam areproduzir a crença cega nos mecanismos reguladores do mercado. Reafirmama tendência do sistema ao equilíbrio pela ação das forças do mercado, e quequalquer interferência nestas forças gera custos e reduz o bem-estar social.

    Os pensadores da escola neoclássica propugnam suas idéias como umareação aos movimentos socialistas, reafirmando a crença na economia demercado e na sua capacidade auto-reguladora, mas se contrapondo à idéiaclássica de que a fonte geradora de riqueza é o trabalho (teoria do valor-

    trabalho). Os neoclássicos combatiam também a idéia de que a renda da terranão era socialmente justa.

    Estes pensadores deslocam a análise econômica da determinação das causasdo desenvolvimento da riqueza, para buscar a determinação da alocação dosrecursos escassos entre usos alternativos, com o objetivo de maximizar asatisfação, seja de consumidores, seja de produtores. A economia passa entãoa trabalhar na análise das necessidades dos indivíduos, sua satisfação e aatribuição subjetiva de valor aos bens. Passa-se a privilegiar os aspectos

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    microeconômicos, onde o indivíduo e a firma estão no centro da análise. Aoinvés de considerar globalmente a economia, suas análises estão centradasnas decisões dos agentes econômicos individuais e nas condições e preços domercado.

    Para os neoclássicos, o homem procura o máximo prazer, com um mínimo deesforço. Sendo assim, a base para a elaboração de seu arcabouço teórico é odesejo dos indivíduos de maximizarem sua satisfação – consumidores estariamem busca de maximizar sua utilidade (satisfação no consumo), e produtoresestariam em busca de maximizar seus lucros.

    Partem do pressuposto de que a economia é “atomizada”, ou seja, formada porum grande número de produtores e consumidores, que isoladamente sãoincapazes de influenciar os preços dos produtos e as quantidades no mercado.Admitiam a existência dos monopólios, mas este seria uma exceção à regra deum mercado onde predominava a concorrência pura. A demanda passa a ser oelemento crucial para a determinação dos preços.

    Introduz-se a análise marginal, onde a decisão de produzir ou consumirdepende do custo ou benefício proporcionado pela unidade adicional de fatorde produção ou de bem a ser consumido. Assim, o valor de um bem não édeterminado pela quantidade de trabalho nele incorporado, mas adeterminação do valor de um bem dependeria da sua utilidade marginal(utilidade que gera a última unidade consumida). A demanda dependeria entãoda utilidade marginal. Assim, um produto será mais demandado e terá umpreço maior quanto mais raro e útil ele for. Os custos incluem o sacrifício e afadiga, que supõem a criação e a administração de uma empresa e aacumulação do dinheiro para constituir o capital.

    Os indivíduos atuam racionalmente, calculando as utilidades marginais dosdiferentes bens, calculando prazer e dor, e estabelecendo um equilíbrio entreas necessidades presentes e futuras.

    Os principais pensadores desta escola são Alfred Marshall, William Jevons,Leon Walras, Eugene Böhm-Bawerk, Vilfredo Pareto, Francis Edgeworth,Joseph Schumpeter e Arthur Pigou.

    6.3. O Pensamento Keynesiano

    A Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão da década de 1930abalaram seriamente as economias dos países industrializados do mundo

    ocidental. Os níveis de investimento e de produção caíram vertiginosamente,gerando uma queda nos níveis de emprego sem precedentes na história, o queacabou por atingir as economias dos países de todo o mundo.

    A teoria econômica prevalecente na época propugnava que as distorções queporventura aparecessem no sistema seriam automaticamente corrigidas pelosmecanismos automáticos de regulação do mercado. Portanto, os economistasacreditavam que a crise econômica era passageira. No entanto, o desemprego já atingia níveis elevadíssimos e a economia não dava indicações de que a

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    situação estaria se autocorrigindo.Era necessário identificar as causas dodesemprego. E explicação estaria no mau funcionamento das instituições domercado capitalista, o que justificaria a ampliação da intervenção do Estado naeconomia.

    Neste contexto, John Maynard Keynes publica sua Teoria geral do emprego,dos juros e da moeda em 1936, rompendo com a tradição neoclássica. Keynesprocurou entender os problemas de instabilidade de curto prazo e determinaras causas das flutuações econômicas. Keynes preocupava-se também com adeterminação dos níveis de emprego e renda das economias industriais, eidentificou uma importante inter-relação entre a renda nacional e os níveis deemprego.

    Segundo este pensador, um dos principais fatores responsáveis pelo nível deemprego é explicado pelo nível de produção nacional de uma economia, o qualseria determinado pela demanda agregada. Keynes vai assim refutar a teoriade um dos pensadores clássicos consagrados, Jean Baptiste Say, queacreditava que a oferta cria sua própria procura, onde o aumento da produçãose transformaria em renda de trabalhadores e empresários, a qual seria gastana compra de outras mercadorias e serviços. Para Keynes, a oferta édeterminada pela demanda e não o contrário.

    Para Keynes, os principais determinantes da renda e do emprego são osgastos com consumo e investimento, sendo o gasto público uma importantevariável componente do gasto total. Para cada nível de renda, o gasto emconsumo é uma proporção dada da renda, proporção esta que cai quando arenda aumenta. O nível de consumo varia então com a renda. E a renda variaporque o investimento ou o gasto público varia. O gasto com investimento seriapor sua vez determinado pela taxa de juros e pela taxa de retorno esperadasobre o custo dos novos investimentos (a que Keynes chamava eficiência

    marginal do capital). Keynes acaba mostrando que não existem forças de auto-ajustamento daeconomia, sendo necessária a intervenção governamental através de umapolítica de gastos públicos para garantir melhores níveis de emprego,colocando em xeque o princípio do laissez-faire, consagrado pelo pensamentoeconômico clássico e neoclássico. Isto porque quando os gastos com consumoe investimento são insuficientes para manter o pleno emprego, o Estado deveestar disposto a aumentar o fluxo de renda por meio de gastos financeiros.

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    A teoria de Keynes influenciou sobremaneira a política econômica dos paísescapitalistas no período pós-guerra e estas políticas mostraram-se eficientes aponto de se considerar este período os “anos dourados” do capitalismo, que seencerra com a crise do sistema monetário no início da década de 1970.

    6.4. O Pensamento Econômico no período recente

    Após a publicação da Teoria Geral de Keynes, a teoria econômica apresentouum desenvolvimento significativo. Instituiu-se um amplo debate sobre aspectosdo trabalho de Keynes, incorporando modelos matemáticos e estatísticos, quecontribuíram para formalizar a ciência econômica e sistematizar ainda mais osseus conceitos.

    Várias correntes de pensamento surgiram então. Os monetaristas, cujoprincipal expoente é Milton Friedman, defendem uma mínima intervenção doEstado na economia e um amplo controle da moeda. Os fiscalistasrecomendam o uso de políticas fiscais ativas e uma elevada intervenção doEstado nas atividades econômicas, e têm como principais destaques JamesTobin e Paul Samuelson. Os pós-keynesianos fazem uma releitura da obra deKeynes, destacando o papel da especulação financeira no sistema capitalista,defendendo também uma maciça participação do Estado na condução daatividade econômica. Seus principais economistas são Hyman Minsky, PaulDavidson e Alessandro Vercelli.

    Na década de 1970 o mundo assistiu a duas graves crises no abastecimentode petróleo, além de uma crise no sistema financeiro internacional e daeconomia dos Estados Unidos. A teoria econômica acaba por apresentaralgumas transformações importantes. Amplia-se a consciência das limitações epossibilidades de aplicação da teoria, consolidam-se as contribuições dosperíodos anteriores e aprofundam-se as análises empíricas, o que permite umaaplicação prática maior.

    Módulo 7- Demanda, Oferta e Equilíbrio de mercado

    Como vimos, a microeconomia ou teoria dos preços analisa comoconsumidores e empresas interagem no mercado, e como essa interaçãodetermina o preço e a quantidade de um bem específico.A microeconomia preocupa-se, então, com a formação dos preços de bens eserviços e de fatores de produção em mercados específicos, através do estudodo funcionamento da oferta e da demanda na formação do preço no mercado –da interação entre consumidores e produtores obtém-se preços e quantidades

    produzidas num dado mercado.Para fazer a análise do comportamento da demanda e da oferta precisamospartir de alguns pressupostos básicos que são estabelecidos pelamicroeconomia. Em primeiro lugar, para analisar um mercado específico, a microeconomiaparte da hipótese coeteris paribus (tudo o mais permanece constante). Ao seadotar essa hipótese, pode-se estudar um mercado específico selecionandoapenas as variáveis cuja influência sobre consumidores e produtores

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    desejamos analisar neste mercado, independentemente da influência de outrosfatores ou de outros mercados. Por exemplo, se queremos avaliar o efeito dopreço sobre a demanda, supomos a renda constante (mesmo sabendo que arenda também afeta a demanda de um bem), e se eu quero analisar o efeito darenda sobre a demanda, passo a considerar o preço constante (coeterisparibus).

    Uma outra hipótese importante é aquela que supõe que os indivíduos atuamcomo agentes econômicos e são guiados pelo princípio da racionalidade.Segundo este princípio, empresários estão sempre em busca de maximizarlucros condicionados pelos custos de produção, consumidores procurammaximizar sua utilidade, trabalhadores procuram maximizar seu lazer e assimpor diante.

    Assim, os consumidores são aqueles que se dirigem ao mercado a fimde obterum conjunto de bens e serviços com o objetivo de maximizar a sua satisfação(utilidade). A firma corresponde à combinação organizada feita pelo empresáriode fatores de produção (capital, trabalho, recursos naturais e tecnologia) a fimde produzir o máximo possível ao menor custo. Busca-se a maximização daprodução e a minimização de custos nas empresas. Uma empresa escolhe oque e quanto produzir em função dos preços e das preferências dosconsumidores, já que o empresário produz um bem para vender no mercado.

    A teoria microeconômica procura, portanto, explicar como se determina ospreços dos bens e serviços, e dos fatores de produção, procurando responderquestões como: por que quando o preço de uma mercadoria aumenta, a suaprocura deverá cair, consideradas as demais variáveis constantes? O livre jogo da oferta e demanda é um elemento fundamental para ofuncionamento da economia de mercado, pois é da interação entreconsumidores e produtores que obtemos preços e quantidades de equilíbrio.Portanto, faz-se necessário analisar os mecanismos de demanda e oferta debens e serviços individuais em um mercado competitivo, com um grandenúmero de produtores e consumidores, para compreender como seriam entãoestabelecidos os preços dos produtos e as quantidades produzidas.

    7.1. A Demanda

    As mercadorias são demandadas porque o seu consumo proporciona algumprazer ou a satisfação de alguma necessidade dos consumidores, ou seja, umbem possui demanda porque possui utilidade. A utilidade é a capacidade quepossuem os bens econômicos de satisfazer necessidades humanas. Segundo

    a teoria do Valor-Utilidade, o valor de um bemé formado pela satisfação que obem proporciona ao consumidor, e não pelo custo do trabalho embutido nestebem. Em outras palavras, o valor de um bem se forma pela sua demanda.

    A demanda seria a quantidade de uma mercadoria ou serviço que osconsumidores desejam adquirir em um determinado período de tempo. Isto vaidepender significativamente do preço desta mercadoria ou deste serviço.Quanto menor o preço de um bem, maior será a quantidade demandada;quanto maior o preço, menor a quantidade que cada um estará disposto a

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    comprar. Além do preço, existem, para cada indivíduo, diversas variáveis quecondicionam as suas escolhas enquanto consumidor, tais como: a sua renda, opreço dos outros bens relacionados, seus gostos e preferências. Para analisara influência de cada uma dessas variáveis sobre a decisão dos consumidorestemos de nos valer da hipótese coeteris paribus e avaliar o impacto de cadauma separadamente.A curva de demanda do mercado mostra a relação entre as quantidades de umbem ou serviço que todos consumidores estariam dispostos a adquirir adiferentes preços, mantendo constantes outros fatores, tais como gosto, rendae preço de bens relacionados. Há uma relação inversa entre a quantidadedemandada e o preço do bem, tudo o mais permanecendo constante. Esta é aLei Geral da Demanda. Vamos considerar um mercado de bananas, com muitos compradores e muitosvendedores, onde nenhum dos agentes econômicos deste mercado possui ocontrole sobre o preço. O quadro abaixo representa a relação existente entreos preços de venda das bananas e a quantidade em quilos demandadas pelosconsumidores por semana.

    QUADRO 1 – DEMANDA DE BANANAS

    1) Preço P(R$ por quilo) (2) Quantidade Q demanda(milhares dequilos de banana por semana)

    A R$ 10,00 50 B R$ 8,00 100 C R$ 6,00 200 D R$ 4,00 400

    Assim, se o preço da banana for R$ 10,00, serão demandados 50 quilos nasemana; se o preço for R$ 8,00, serão demandadas 100 quilos de bananas nasemana. A tabela acima mostra que quanto maior o preço de um bem, menor aquantidade desse bem que os consumidores estarão dispostos a adquirir. Poroutro lado, quando menor o preço, maior quantidade do bem será demandada.

    Uma outra forma de apresentar essas diversas alternativas seria através dacurva de demanda. Utilizamos, então, um gráfico com dois eixos, colocando noeixo vertical os vários preços P, e no horizontal as quantidades demandadas Q.Para cada preço há uma certa quantidade de bananas que os indivíduos estãodispostos a comprar. A curva de demanda tem inclinação negativa, ou seja, édecrescente, uma vez que os indivíduos compram mais à medida que o preço

    se reduz. GRÁFICO 1 – CURVA DE DEMANDA DE BANANAS

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    A redução das quantidades demandadas de bananas decorrente do aumentodos preços pode ser explicada por duas razões. Ou os consumidores passam asubstituir as bananas por outros bens, como maçãs ou mamões, cujos preçospermaneceram constantes; ou os outros consumidores deixam de consumir asbananas porque o aumento dos preços ocasionou um encarecimento relativodas bananas em relação a outros bens e uma redução do poder aquisitivo desua renda, que permanece constante. A redução do poder aquisitivo de suarenda fará com que o consumidor reduza sua demanda de todos os bens, emparticular a demanda de bananas.

    Matematicamente, a relação entre a quantidade demandada e o preço de umbem pode ser expressa pela função demanda ou equação da demanda, quesignifica que a quantidade demandada Q é uma função dopreço P, isto é, depende do preço:

    Qd = f(P)

    Onde:

    Qd = quantidade demandada de um bem ou serviço em determinado períodode tempo; P = preço do bem ou serviço

    Como havíamos destacado anteriormente, a demanda de um bem ou serviçonão é condicionada apenas pelo seu preço. A renda dos consumidores, o preçode bens substitutos (bem similar que satisfaça a mesma necessidade), o preçodos bens complementares e as preferências dos consumidores também afetamsignificativamente a demanda dos consumidores.

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    A relação da renda dos consumidores com a demanda de umproduto vaideterminar a classificação deste produto como bem normal, bem inferior oubem de consumo saciado. Quando a demanda de um bem aumenta com oaumento da renda dos consumidores, dizemos que esse bem é um bemnormal. Se, por outro lado, o aumento da renda dos consumidores provocar aredução da demanda de um bem, teremos um bem inferior (o consumo decarne de segunda se reduz com o aumento da renda). Existem ainda os bensde consumo saciado cuja demanda não é influenciada pela renda dosconsumidores (arroz, feijão, farinha, sal, etc).

    Se a demanda de um bem aumenta devido ao aumento dos preços de umoutro bem, dizemos que este é um bem substituto ou concorrente, pois há umarelação direta entre o preço de um bem e quantidade de outro (carne e frango,por exemplo). Quando, por outro lado, a demanda de um bem se reduz devidoao aumento do preço de um outro bem, denotando a existência de uma relaçãoinversa entre o preço de um e a quantidade demandada do outro, eles sãochamados bens complementares (carros e gasolina, por exemplo). Benscomplementares são, portanto, bens que são consumidos conjuntamente. Para influenciar os hábitos e preferências dos consumidores, as empresasinvestem pesado em publicidade e propaganda tentando influenciar estaspreferências com o objetivo de elevar a procura de certos bens ou serviços.

    7.1.1. Elementos que Deslocam a Curva de Demanda

    Alguns dos fatores que influenciam a demanda podem ser responsáveis por umdeslocamento da curva de demanda.Uma variação positiva nos gostos ou preferências de um consumidor por umcerto produto significa que mais unidades do produto serão demandadas acada preço. A demanda aumenta e a curva desloca-se para a direita. Umavariação desfavorável desloca a curva da demanda para a esquerda.A introdução de um produto novo também altera a demanda, deslocando acurva de demanda para a esquerda.

    Um aumento no número de consumidores num mercado também provoca umdeslocamento positivo da curva de demanda, já que provoca um aumento nademanda. Da mesma forma, como vimos acima, para bens normais, quando a rendaaumenta, a demanda também aumenta provocando um deslocamento da curvade demanda para a direita. Isto significa que coeteris paribus, aos mesmospreços, o consumidor estaria disposto a adquirir maiores quantidades doproduto com a elevação de sua renda.

    As expectativas dos consumidores quanto aos preços dos produtos, àdisponibilidade dos produtos e à sua renda no futuro podem também deslocar ademanda. Expectativas de elevação de preços no futuropodem induzir oconsumidor a comprar mais agora, para evitar os aumentos esperados depreços, aumentando a demanda hoje e deslocando a curva de demanda para adireita. É preciso ter em mente a diferença entre demanda e quantidade demandada. Ademanda é toda a curva que relaciona os possíveis preços a quantidades

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    determinadas. A quantidade demandada diz respeito a um ponto específico dacurva de demanda, relacionando um preço a uma quantidade.

    7.2. A Oferta

    Enquanto a demanda reflete uma relação que descreve o comportamento deconsumidores, a oferta exprime o comportamento dos produtores, mostrandoquanto estes empresários estariam dispostos a vender a um determinadopreço. Assim, as diferentes quantidades que os produtores desejam vender nomercado em um determinado período de tempo constituem a oferta.

    Vários são os fatores que condicionam a oferta: o preço do produto a serofertado, os preços do