Gerenciamento de risco financeiro em empresas nao financeiras

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO GERENCIAMENTO DE RISCO FINANCEIRO EM EMPRESAS NÃO FINANCEIRAS A PARTIR DO MERCADO FUTURO DE DI Thiago Brandão da Cunha Rio de Janeiro 2011

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Hedge de DI

Transcript of Gerenciamento de risco financeiro em empresas nao financeiras

  • UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE ENGENHARIA

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL CURSO DE GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO

    GERENCIAMENTO DE RISCO FINANCEIRO EM EMPRESAS NO

    FINANCEIRAS A PARTIR DO MERCADO FUTURO DE DI

    Thiago Brando da Cunha

    Rio de Janeiro

    2011

  • Thiago Brando da Cunha

    GERENCIAMENTO DE RISCO FINANCEIRO EM EMPRESAS NO FINANCEIRAS A PARTIR DO MERCADO FUTURO DE DI

    Projeto de Graduao submetido Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ, como requisito parcial obteno do grau de Engenheiro de Produo.

    Orientador: Prof. Hlcio Rocha

    Rio de Janeiro

    2011

  • Thiago Brando da Cunha

    GERENCIAMENTO DE RISCO FINANCEIRO EM EMPRESAS NO FINANCEIRAS A PARTIR DO MERCADO FUTURO DE DI

    A presente monografia de concluso do Curso de Graduao em Engenharia de Produo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ, elaborada como requisito parcial obteno do grau de Engenheiro de Produo.

    Aprovado em: Dezembro de 2011.

    Banca Examinadora:

    _________________________________________

    Prof. Hlcio Rocha (Orientador) Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    _________________________________________

    Prof. Andr Ribeiro de Oliveira Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    Rio de Janeiro

    2011

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus por me permitir a chegar a mais essa etapa

    de minha vida.

    Agradeo a minha famlia pelo apoio em mais uma projeto a ser concludo.

    E, agradeo ao prof. Hlcio, por abraar a idia do meu projeto final e me

    ajudar a conclu-lo

  • RESUMO

    A integrao dos mercados globais acarretou uma srie de mudanas entre as quais est a necessidade das empresas de conviverem com adversidades provenientes de questes no mais restritas s suas atividades principais. A possibilidade de perdas financeiras gerada por incertezas ligadas a ndices financeiros fizeram empresas no financeiras recorrerem a uma forma de medir e limitar a chance de tais perdas ocorrerem. O presente trabalho destina-se a explicar o que vem a ser o risco financeiro a que essas empresas incorrem, bem como formas e estratgias de se gerir tal risco, e, os benefcios e motivaes que tais organizaes tm em faz-lo. Uma vez ciente disso, feita a apresentao dos mercados de derivativos como um ambiente utilizado para este fim focando-se no mercado futuro de DI para a realizao de um estudo quanto a simulao do gerenciamento de risco financeiro relacionado taxa de juros no Brasl, nos ltimos dez anos.

    Palavras-chave: risco, gerenciamento de risco, gesto de risco, risco financeiro, derivativos, proteo, hedge, estratgias, taxa de juros, mercado futuro.

  • ABSTRACT

    Global market integration has brought about a series of changes among which lies the need for enterprises to coexist with adversities stemming from issues not exclusively restricted to their core activities. The probability of losses generated by uncertainties linked to financial indexes has caused non-financial enterprises to appeal to a manner of measuring and limiting the chance of such losses to occur. The present work aims to explain what comprises the financial risk which these enterprises are faced with as well as manners and strategies to manage such risk and the benefits and motivations that these organizations bear in doing so. Once aware of this circumstance, presentation of derivative markets is made as an environment used for this purpose focusing the DIs future market to study and simulate the financial management risk aplication related to interest rates in Brazil on the lasts ten years.

    Keywords: risk, risk management, financial risk, derivatives, protection, hedge, strategies, interest rates, future market.

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Ferramentas para identificao e anlise de riscos......................................26

    Quadro 2 - Diferenas entre contratos a termo e futuro................................................. 44

    Quadro 3 - Cdigos de vencimentos dos contratos futuros na BM&F ............................54

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Classificao dos riscos empresariais............................................................19

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Imposto Progressivo Esperado .................................................................... 31

    Grfico 2 - Retornos de contratos a termo ..................................................................... 41

    Grfico 3 - Evoluo da Taxa Selic Diria ..................................................................... 65

    Grfico 4 - Evoluo da Taxa Selic Diria no perodo 1 ................................................ 66

    Grfico 5 - Evoluo da Taxa Selic Diria no perodo 2 ................................................ 69

    Grfico 6 - Evoluo da Taxa Selic Diria no perodo 3 ................................................ 71

    Grfico 7 - Evoluo da Taxa Selic Diria no perodo 4 ................................................ 73

    Grfico 8 - Evoluo da Taxa Selic Diria no perodo 5 ................................................ 75

    Grfico 9 - Evoluo da Taxa Selic Diria no perodo 6 ................................................ 77

    Grfico 10 - Evoluo da Taxa Selic Diria no perodo 7 .............................................. 79

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Perodos de anlise da taxa Selic Diria ...................................................... 64

  • LISTA DE SIGLAS

    Anbid Associao Nacional dos Bancos de Investimento

    CDI Certificado de Depsito Interbancrio

    IGP ndice Geral de Preos da Fundao Getlio Vargas

    TBF Taxa Bsica de Juros

    TJLP Taxa de Juros de Longo Prazo

    TR Taxa Referencial

  • SUMRIO

    INTRODUO ............................................................................................................... 13 1 O QUE GESTO DE RISCO EMPRESARIAL ........................................................ 15 1.1 O que risco ........................................................................................................ 15 1.2 O risco e suas diferentes perspectivas ................................................................. 17 1.3 A natureza dos riscos ........................................................................................... 19 1.4 A origem do Risco Financeiro ............................................................................... 22 1.5 A problemtica do Gerenciamento de Risco ......................................................... 23 1.5.1 O gerenciamento do risco financeiro .............................................................. 25 2 O GERENCIAMENTO DO RISCO FINANCEIRO, SEUS BENEFCIOS E MOTIVAES ............................................................................................................... 27 2.1 Risco financeiro, como gerenci-lo .................................................................... 27 2.2 Os desafios e benefcios/motivaes da gesto de riscos financeiros em empresas no financeiras .............................................................................................. 32 2.2.1 Teorias da gesto de risco para empresas no financeiras ......................... 34 2.2.1.1 Maximizao de Valor ao acionista ........................................................ 35 2.2.1.1.1 Custos de falncia ........................................................................... 35 2.2.1.1.2 Tributao ........................................................................................ 36 2.2.1.1.3 Assimetria informacional o problema do sub-investimento ........... 38 2.2.1.2 Maximizao da utilidade do gestor ....................................................... 40 2.2.1.2.1 Reduo dos custos dos stakeholders Custos de Agncia.......... 40 3 DERIVATIVOS E GESTO DE RISCO FINANCEIRO EMPRESARIAL ..................... 42 3.1 Mercado de derivativos ...................................................................................... 43 3.1.1 Definio ...................................................................................................... 43 3.1.2 Diferentes agentes e estratgias presentes no mercado de derivativos. .... 44 3.2 Precaues na gesto de riscos financeiros ...................................................... 45 3.3 Principais derivativos utilizados para gerenciamento de risco ........................... 48 3.3.1 Contrato a Termo ......................................... ................................................ 48 3.3.2 Contrato Futuro ............................................................................................ 51 3.3.3 Mercado de Opes ..................................................................................... 55 3.3.4 Swaps .......................................................................................................... 57 3.4 Exemplos do uso de derivativos para fins de hedge .......................................... 58

    4

    CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................... 63 REFERNCIAS ............................................................................................................. 65

  • INTRODUO

    A globalizao da economia e a crescente integrao dos mercados globais por ela ocasionada acarretaram a remoo de entraves s relaes comerciais bem

    como ao fluxo de capitais que muitas vezes agiam de certa forma como uma

    maneira das empresas se protegerem tanto da concorrncia como da falta de

    investimentos, j que estes se restringiam anteriormente ao mercado interno.

    Diante desse novo ambiente, as empresas tiveram que se adaptar, e, para

    isso, como citado por Wakamatsu (2006), diversas foram as estratgias por elas

    adotadas visando a obter vantagens competitivas, entre as quais podem ser citados

    os investimentos em tecnologia, a busca por produtividade e a procura de recursos

    naturais diferenciados.

    Contudo, nesta nova conjuntura econmica as adversidades a que as

    empresas se deparam no se restringem quelas ligadas a suas atividades

    principais. Tauk (2005) ao discriminar esse grupo de adversidades aborda os

    diferentes valores de taxas de juros, os preos das commodities, os riscos

    envolvendo o descasamento de moedas entre outros.

    Sendo assim, a fim de evitar impactos negativos sobre o fluxo de caixa,

    gerados por essas variveis, e, sua conseqente interferncia nos resultados da

    firma, muitas organizaes, que apesar de no verem no gerenciamento de riscos

    uma novidade, passaram a implementar estruturas de gesto do mesmo para lidar

    com os maiores nveis de incertezas trazidos pelas mudanas ocorridas.

    Escorado por esse ambiente de riscos e incertezas, o presente trabalho

    destina-se a apresentar, ilustrar , discutir e entender o como fazer, quais os

    benefcios, motivaes e instrumentos utilizados na gesto dos riscos financeiros a

    que uma empresa no financeira nacional est suscetvel dando especial ateno ao

    risco associado oscilao da taxa de juros da economia. Alm disso, busca-se

    ilustrar os resultados obtidos por parte de empresas que recorrem utilizao da

    gesto de risco financeiro e seu impacto sobre o fluxo de caixa das mesmas.

    Para isso, utilizar-se- do mtodo dedutivo para o qual seu ponto de partida

    ser uma viso geral do vocbulo risco, as diversas concepes, naturezas e

    classificaes que giram em torno do mesmo. Em seguida, o estudo abordar o

    risco financeiro propriamente dito. Isso posto, passar gesto do mesmo por

    empresas no financeiras. Continuar com a apresentao do mercado de

  • derivativos para fins de gesto do risco financeiro focando-se naqueles voltados

    para proteo contra a oscilao da taxa de juros. Por fim, ser feito um estudo

    avaliando-se a adoo de uma poltica de hedge de taxa de juros nos ltimos dez

    anos para uma empresa no financeira no Brasil.

    Esse contedo ser distribudo ao longo dos captulos da seguinte forma: O

    captulo um abordar desde a origem etimolgica da palavra risco, passar pelas

    suas diferentes conceituaes, particularidades e classificaes at chegar ao que

    vem a ser risco financeiro. O captulo dois ser responsvel por apresentar o

    gerenciamento do risco financeiro em empresas no financeiras: como faz-lo, seus

    desafios, benefcios, motivaes e precaues. O captulo trs apresentar e

    esclarecer a importncia das operaes de derivativos na gesto do risco

    financeiro. Continuando, o captulo quatro ir ater-se as operaes desse tipo

    voltadas para a proteo contra a volatilidade da taxa de juros. E, por fim, o captulo

    cinco ir apresentar um balano dos resultados obtidos por empresas que adotaram,

    e empresas que no adotaram medidas para reduzir sua exposio a esse ndice no

    horizonte dos dez ltimos anos no Brasil.

    Como limitaes do mtodo, h que se dizer que constitui um trabalho em

    mbito exclusivamente brasileiro e que compreende apenas a realidade de tal pas

    para os ltimos dez anosfoco predominante no mercado futuro de DI.

  • 1 O QUE GESTO DE RISCO EMPRESARIAL

    1.1 O que risco

    Segundo a etimologia das palavras, o vocbulo risco tem sua origem no termo

    resecare que em latim significa cortar. E, segundo Schwabb (2009), tal palavra era

    utilizada para descrever o perigo de geografias submersas durante viagens

    martimas, dando uma conotao da possibilidade de algo ruim vir a acontecer

    durante tais percursos. J no idioma italiano, riscare, vocbulo correspondente

    palavra que em portugus significa risco, significa ousar, trazendo consigo uma

    conotao diferente do caso mencionado acima e que pode nitidamente ser

    transmitida atravs de uma frase de Bernstein (1997, p. 8): ..., risco uma opo e

    no um destino. Pode-se ainda ir mais longe se idia de ousar associar-se o

    conceito de oportunidade, pois no haveria motivo para arriscar-se caso no

    houvesse a oportunidade de um prmio pela posio assumida.

    Essas divergncias surgem na tentativa de atribuir-se um significado

    palavra risco e estendem-se tambm para a busca de sua definio quando levada

    para o ambiente corporativo. Dentre as diversas definies pesquisadas observam-

    se contradies a seu respeito. Alguns autores defendem que basta que os

    resultados sejam indeterminados para que esteja presente a idia de risco. Para

    Vaughan (1997, p. 8), por exemplo, o risco uma condio sob a qual h a

    possibilidade de um desvio adverso da expectativa de resultado associado

    esperana.

    H, contudo, autores que acreditam na idia de risco como algo associado

    possibilidade de perda ou ganho inferior ao estimado. Gitman (1997, p.202) defende:

    o risco, em seu sentido fundamental, pode ser definido como a possibilidade de

    prejuzo financeiro [...]. Da mesma maneira, Hoji (2001, p.223) define: [...] o risco

    est associado a algum fator negativo que possa impedir ou dificultar a realizao do

    que foi planejado.

    Existem ainda autores que enfocam sob a condio de risco presente, no s

    a ocorrncia de resultados ruins para a empresa, como tambm a presena de

    eventos inesperados que venham trazer ganhos para a mesma. Um desses

    Goulart (2003, p. 74) que afirma que h risco tanto de ocorrncia de resultados

    inferiores, quanto de ocorrncia de resultados superiores ao esperado.

  • Independente da definio aceita, existem tambm alguns conceitos

    intimamente ligados a palavra risco que so defendidos pelos estudiosos para um

    melhor entendimento do assunto. O primeiro deles a diferena entre risco e

    incerteza, pois como afirma Guimares (2006, p. 33), embora a existncia do risco

    seja em funo de ocorrncias futuras, e o futuro ser incerto, os conceitos de risco e

    incerteza se diferenciam. Embasando essa afirmao Pindyck e Rubinfeld (1994)

    descrevem incerteza como a possibilidade de inmeros resultados para uma

    determinada posio que foi adotada, sendo que para todos eles a possibilidade de

    ocorrncia desconhecida. J o risco designado para casos em que os possveis

    resultados podem ser designados, bem como a possibilidade de ocorrncia de cada

    um deles. Outro a compartilhar da mesma opinio Sanvicente (1997) ao afirmar

    que uma situao de incerteza torna-se uma situao de risco quando as

    probabilidades de ocorrncia de determinados eventos podem ser feitas. Duarte Jr

    (2001, p. 103) complementa ainda: qualquer medida numrica dessa incerteza pode

    ser chamada de risco.

    Outra sutil diferena a ser apresentada advm de uma ltima definio no

    mencionada antes junto com as demais, propositalmente, presente na obra de

    Horcher (2005). De acordo com a autora, risco a base da oportunidade. Para ela,

    os termos risco e exposio possuem uma sutil diferena. O risco est associado

    probabilidade de perda, enquanto a exposio a possibilidade de que essa perda

    ocorra. Desta maneira, o risco cresce como um resultado da exposio.

    Assim, a exposio ao mercado financeiro afeta a maioria das instituies de

    uma forma direta ou indireta. Quando essa surge, ocorre no s a possibilidade de

    perdas como tambm a de ganhos. Sendo assim, pode-se concordar com a opinio

    de Horcher (2005) de que a exposio ao mercado financeiro pode proporcionar

    benefcios estratgicos e competitivos.

    1.2 O risco e suas diferentes perspectivas

    Desta forma, identificar exposies e riscos constitui a base para uma

    estratgia de gesto de risco financeiro apropriada. Para isso, faz-se necessrio

    entender, dentro do perfil especfico de riscos de cada organizao, as diferentes

    perspectivas sob as quais tais riscos podem ser vistos. Segundo Padoveze (2003),

    essas perspectivas dividem-se em: ameaa, incerteza e oportunidade.

  • Para ele, o risco como fator de ameaa corresponde viso mais comum,

    relacionada a eventos negativos e perdas potenciais. Representa a viso do gerente

    de riscos da empresa. Engloba prejuzos financeiros, fraudes, roubos, furtos, danos

    imagem da empresa, falhas de sistemas, quebras de sigilo ou demandas judiciais.

    As medidas para sua mitigao incluem a fixao de pontos de controle na tentativa

    de diminuir a probabilidade de acontecimento de eventos que venham a acarretar

    danos sem, contanto, trazer grande nus ou burocracia.

    J o risco como fator de incerteza ainda sob a viso de Padoveze (2003)

    refere-se a todas as possibilidades de resultados para a firma, sejam eles positivos

    ou negativos. Sua gesto fundamenta-se na busca por uma reduo na varincia

    entre resultados projetados e reais.

    Finalmente, o risco sob a perspectiva de oportunidade pode ser visto como

    um fator positivo relacionado a ganhos potenciais. Padoveze (2003) afirma que tais

    riscos esto intimamente relacionados ao retorno, sendo tanto maior o primeiro

    quanto maior for o segundo. E o desafio maior da administrao da firma o

    equilbrio entre tirar proveito das oportunidades de ganho minimizando impactos

    adversos. Uma colocao interessante que gira em torno desse ponto de vista

    feita por Guimares (2006, p. 36): A perspectiva voltada para o risco como fator de

    oportunidade pode tornar a gesto proativa e agressiva ao invs de passiva e

    reativa.

    E, ainda com outra passagem de Guimares (2006, p. 36), pode-se transmitir

    o objetivo maior de se ter em mente as trs vises explicitadas acima: Esses conceitos constituem-se no risco contnuo do negcio. Um mesmo

    evento pode ser a princpio, uma ameaa. Na busca de administr-lo em

    funo da incerteza da ocorrncia de perdas, pode-se deparar com

    situaes oportunas, que podem ser transformadas em possveis retornos

    positivos.

    1.3 A natureza dos riscos

    Uma vez entendida a definio e as diferentes opinies que giram em torno

    da palavra risco, a diferena a respeito de conceitos que a acompanham, e, as trs

    diferentes perspectivas cabveis para ela, o momento de passar para uma

  • segunda etapa mais objetiva e tcnica do estudo que se inicia com a classificao

    dos riscos empresariais.

    O entendimento das naturezas que o risco pode assumir e sua devida diviso

    objetiva conduzir um mapeamento, priorizar e alocar recursos para monitoramento.

    No existe uma padronizao na classificao de riscos, mas observa-se que entre

    os autores pesquisados existe preponderncia para trs categorias: estratgicos,

    financeiros e operacionais. Jorion (2001) um daqueles que compartilha dessa

    categorizao. Mas h outros que como Marins (2004) que alm de apresentar uma

    classificao diferente adiciona ainda riscos soberano e sistmico.

    A comear pelos riscos estratgicos, estes so oriundos de ameaas externas

    organizao e, apesar de estarem fora do seu controle, podem comprometer o

    valor dos ativos ou a ela toda. A ttulo de exemplificao podem-se citar os riscos de

    concorrentes que advm da perda de clientes por ocasio de estratgias bem

    sucedidas da concorrncia.

    Os seguintes so os riscos operacionais, tais riscos, conforme Wakamatsu

    (2006, p. 46), referem-se [...] possibilidade de perdas resultantes da falta de capacidade das

    instituies para detectar, conhecer, mensurar, controlar e administrar os

    riscos existentes em suas posies. Este risco pode ser dividido em trs

    grandes reas: risco organizacional, risco de equipamentos e risco de

    pessoal.

    Duarte Jr. (2001, p. 105) descreve-os como estando relacionado a possveis

    perdas como resultado de sistemas e/ou controles inadequados, falhas de

    gerenciamento e erros humanos. Para ilustr-los podem-se citar os riscos legais,

    definidos como a possibilidade de perdas ocasionadas por irregularidades legais

    provenientes de documentao inadequada, proibio de se operar com

    determinada contraparte, ou de se realizar operaes especficas.

    Em terceiro lugar, os riscos financeiros surgem como a possibilidade de

    perdas resultantes da oscilao de ndices financeiros. H autores como Tostes

    (1997) que subdividem os riscos financeiros em riscos de mercado, crdito, liquidez

    e legal e operacional. Neste estudo, ser seguida a distribuio onde riscos

    operacionais e financeiros esto separados, estando estes ltimos subdivididos

    apenas em riscos de mercado, de crdito e de liquidez como mostrado na Figura 1.

  • Figura 1 Classificao dos riscos empresariais

    Fonte: Guimares (2006)

    O risco de crdito advm da exposio gerada por pagamentos a que se tem

    direito gerados por operaes de desembolso temporrio de recursos, ou como o

    prprio nome sugere, por posies credoras assumidas que prevem a entrada de

    recursos futuros e que podem ou no ser recebidos dentro ou fora do prazo previsto.

    J o risco de liquidez a possibilidade de haver um descasamento nas

    operaes passivas e ativas com relao a seus vencimentos resultando num

    desequilbrio de caixa e conseqente incapacidade de arcar com desencaixes

    previstos.

    H ainda o risco de mercado que resulta da possibilidade de perdas advindas

    da variao dos preos do mercado ocasionadas por posies adotadas pela

    instituio que vo de encontro variao dos mercados. Esse risco engloba quatro

    grandes modalidades de operaes, so elas: aes, cmbio, juros, commodities.

    Por fim, atentando para as duas categorias de risco includas por Marins

    (2004) conforme dito anteriormente, h tambm o risco soberano decorrente da

    possibilidade de no se honrar com o pagamento referente dada posio, mas no

    por incapacidade de ambas as partes de liquidar a operao, e sim, por deciso

  • tomada por governos que venham prejudicar ou adiar tal liquidao conforme

    prevista inicialmente. E tambm, o risco sistmico residente na possibilidade da

    inadimplncia de uma instituio contagiar as outras participantes do mercado.

    1.4 A origem do risco financeiro

    Apesar da discusso referente ao risco financeiro ter aumentado

    significativamente nos dias atuais, o risco e sua gesto no so questes que

    surgiram recentemente.

    A crescente integrao do mercado global tem trazido como conseqncia a

    possibilidade do risco originar-se de um evento ocorrido do outro lado do mundo, e

    que nada tenham a ver com o mercado domstico. A informao passa a ser

    avaliada instantaneamente, o que faz com que a subseqente reao do mercado

    ocorra muito rapidamente.

    O surgimento do risco financeiro surge para Horcher (2005) atravs de

    incontveis transaes de natureza financeira incluindo compras e vendas,

    investimentos, emprstimos e vrias outras atividades. Ele pode surgir como um

    resultado de transaes legais, novos projetos, fuses e aquisies, financiamento

    da dvida ou atravs das atividades de gerenciamento, dos acionistas, de

    concorrentes, de governos estrangeiros, ou climticas.

    Isso porque quando os preos mudam drasticamente, pode trazer

    incrementos nos custos, reduzir receitas, ou de outra maneira impactar

    adversamente a lucratividade da organizao.

    Segundo Horcher (2005) existem trs principais fontes de risco financeiro, so

    eles:

    O proveniente da exposio da organizao para mudanas nos preos de

    mercado. Tais como taxas de juros, taxas de cmbio, e preos das commodities.

    O proveniente de aes de, e transaes com, outras organizaes como

    vendedores, clientes, e contrapartes em transaes com derivativos.

    O resultante de medidas internas ou falhas da organizao, de pessoas em

    particular, de processos e sistemas.

    Vale observar que as falhas apresentadas por Horcher (2005) como terceira

    fonte de risco financeiro no ltimo sub-item acima, apareceria segundo a

  • classificao dos riscos adotada no presente trabalho, no como fonte de risco

    financeiro, mas sim operacional.

    1.5 A problemtica do Gerenciamento de Risco

    O conceito de gerenciamento de risco pode ser entendido atravs de diversas

    definies abordadas por diferentes autores em suas obras.

    O primeiro deles Bernstein (1997, p. 1) que afirmou que a idia

    revolucionria que define a fronteira entre os tempos modernos e o passado o

    domnio do risco [...].

    J nas palavras de Brito (2000), o processo de identificao, mensurao e

    controle das diversas exposies ao risco pode ser designado como gesto de risco.

    Vaughan (1997, p. 91) corrobora a opinio anterior expondo-a como a

    minimizao dos efeitos adversos do risco a um custo mnimo por meio da

    identificao, mensurao e controle do mesmo.

    Tambm Guimares (2006, p. 60) afirma que o gerenciamento de risco possui

    na identificao de riscos uma de suas etapas cruciais, pois tem como premissa a

    anlise do ambiente interno e externo em que a empresa est inserida, e conclui

    dizendo: Antes de tomar qualquer medida preventiva, fundamental que se

    conhea cada risco e como ele pode evoluir, para que, na etapa seguinte, possa

    efetuar a correta avaliao de seu impacto e probabilidade de ocorrncia.

    importante que se note um ponto em comum nessas definies: a gesto

    de risco no consiste em atividade voltada eliminao dos riscos, mas sim, sua

    identificao, mensurao e controle.

    Numa perspectiva de empresas no-financeiras, estas devem estar expostas

    a riscos provenientes de sua atividade fim e no de fatores derivados delas. Dessa

    forma, o gerenciamento de risco surge como uma ferramenta a ser utilizada para

    mitigar as incertezas provenientes desses fatores permitindo a essas empresas

    destinar maior ateno ao seu setor de atuao.

    Estes dentre outros autores conduzem no s a uma idia semelhante a

    respeito da conceituao de gerenciamento de risco, como tambm concordam que

    a administrao do mesmo uma realidade cada vez mais consolidada no ambiente

    empresarial e que j pode ser encarado como parte do processo de planejamento da

    administrao. O crescimento da importncia desse tipo de planejamento advm de

  • uma elevao nos padres de governana corporativa, e, tambm da necessidade

    de adequao s exigncias de reguladores como Sarbanes Oxley (SOX)1.

    Perante as informaes at aqui conjugadas visando chegar ao entendimento

    do que vem a ser a gesto de riscos pode-se agora com base nelas traar seu

    objetivo. E este, como sugere Guimares (2006), consiste na identificao dos

    fatores de risco que podem afetar resultados e coibir os efeitos de eventos negativos

    ligados a eles, trazendo para o negcio maior flexibilidade estratgica.

    1.5.1 O gerenciamento do risco financeiro

    Particularizando um pouco o gerenciamento do risco, Tauk (2005, p. 21)

    define o gerenciamento de risco financeiro como

    [...] a prtica de criar valor para uma empresa, usando instrumentos que

    possam controlar exposies a riscos de diversas naturezas. Similar ao

    gerenciamento de qualquer tipo de risco, requer a identificao de fontes de risco,

    avaliao do risco existente e determinao dos planos para tratamento do risco.

    J Horcher (2005) coloca a questo da gesto de riscos financeiros como

    sendo o processo pelo qual se lida com as incertezas decorrentes dos mercados

    financeiros. Isso, segundo a autora, envolve a percepo de riscos avaliando a

    organizao e desenvolvendo estratgias consistentes de gerenciamento com

    prioridades e polticas internas. Abordar de forma proativa pode proporcionar

    organizao vantagem competitiva. Isso tambm assegura que a gerncia, o corpo

    operacional da organizao, os acionistas e o quadro de diretores estejam de acordo

    com as questes chaves de risco.

    Ainda seguindo a opinio de Horcher (2005), gerenciar o risco financeiro

    exige a tomada de decises organizacionais sobre risco, e, a escolha por no adotar

    nenhuma ao nesse sentido, significa uma estratgia passiva de aceitao de

    todos os riscos.

    1 A Lei Sarbanes-Oxley, conhecida tambm como SOX, uma lei americana promulgada em 30/06/2002 pelos Senadores Paul Sarbanes e Michael Oxley. O objetivo desta lei aperfeioar os controles financeiros das empresas e apresentar eficincia na governana corporativa.A lei visa garantir a transparncia na gesto financeira das organizaes, credibilidade na contabilidade, auditoria e a segurana das informaes para que sejam realmente confiveis, evitando assim fraudes, fuga de investidores, etc. (Tribuna do Direito)

  • Para Horcher (2005), existe uma variedade de produtos e estratgias para

    lidar com o risco financeiro, e, importante entender como esses produtos e

    estratgias trabalham para reduzir risco no contexto de tolerncia aos riscos da

    organizao e seus objetivos.

    Tais produtos e estratgias, como por exemplo o uso de derivativos que ser

    mostrado ao decorrer do trabalho, utilizados pelos participantes de mercado

    segundo Horcher (2005) para gerenciar risco, so os mesmos utilizados por

    especuladores para aumentar a alavancagem e risco. E, apesar do uso

    indiscriminado dos mesmos ser questionado, a existncia de derivativos permite que

    os agentes os quais desejem reduzir o risco, distribuam-nos aqueles que procuram

    risco e as oportunidades associadas a eles.

    Dando continuidade a questo, Horcher (2005) afirma que a capacidade de se

    prever uma perda financeira altamente desejvel, entretanto, teorias de

    probabilidade freqentemente falham na anlise dos riscos de mercado. Estes de

    uma forma geral no existem isoladamente, e a interao de vrias exposies pode

    ter que ser considerada no desenvolvimento e entendimento de como o risco

    financeiro aumenta. s vezes, essas interaes so de difcil predio, j que afinal

    dependem do comportamento humano.

    Concluindo a discusso, Horcher (2005) qualifica o processo de

    gerenciamento de risco financeiro como algo sempre contnuo, pois suas estratgias

    necessitam ser implementadas e refinadas conforme as mudanas e requisitos

    correntes no mercado. Redefinies podem refletir mudanas de expectativas

    relativas s taxas do mercado, mudanas no ambiente de negcios, ou mudanas

    nas condies de poltica internacional, por exemplo.

  • 2 O GERENCIAMENTO DO RISCO FINANCEIRO, SEUS BENEFCIOS E MOTIVAES.

    Aps uma cuidadosa definio do conceito de risco empresarial e das

    diferentes perspectivas e particularizaes que giram em torno do mesmo, faz-se

    necessrio conhecer as formas de se lidar com ele, bem como o que se esperar da

    sua utilizao e as motivaes que levariam a ela.

    2.1 Risco financeiro, como gerenci-lo

    consenso entre os autores at aqui mencionados que antes de ser tratado,

    o risco deve ser reconhecido. Para isso, algumas tcnicas foram desenvolvidas.

    Panhoca (2000) participa dessa questo dividindo a gesto de risco num

    conjunto de trs etapas a serem cumpridas: planejamento de riscos, seleo dos

    parceiros e fornecedores e mitigao do risco. A primeira delas, o planejamento, por

    sua vez, subdivide-se em trs processos: identificao dos riscos, anlise da

    probabilidade de sua ocorrncia e priorizao dos possveis impactos nos resultados

    esperados.

    Feito isso, cada risco deve ser enfocado de acordo com seu grau de

    importncia para que as possveis alternativas de deciso possam ser estudadas, e,

    a que melhor atenda os objetivos seja adotada conforme sugere Panhoca (1991).

    Panhoca (2000) tambm que analisa os riscos segundo dois aspectos

    primrios: a gravidade dos seus danos e a probabilidade de que de maneira no

    excludente possam ocorrer simultaneamente. Sua anlise quanto gravidade dos

    riscos deve ocorrer de forma concomitante sua identificao, e, para isso, faz-se

    necessrio estabelecer uma escala de gravidade para a ocorrncia de eventos:

    i. Crtico: O programa ser inviabilizado.

    ii. Grave: O custo ou cronograma do programa sofrer um acrscimo

    significativo.

    iii. Moderado: O custo ou cronograma do programa sofrer um acrscimo

    moderado.

    iv. Pequeno: O custo ou cronograma do programa sofrer um acrscimo

    pequeno.

    v. Desprezvel: No ter significativo impacto sobre o programa.

  • J a probabilidade de cada risco pode ser classificada segundo Padoveze

    (2003) da seguinte forma:

    i. Impacto: alto, moderado ou baixo.

    ii. Probabilidade de ocorrncia: alta, moderada ou baixa.

    importante se dizer que no h um critrio especfico ou consenso que

    definam e padronizem o conceito de alto(a), baixo(a) e moderado(a), o que ir

    requerer profundidade na anlise e depender de cada caso em estudo.

    Indo um pouco mais alm da identificao e anlise dos riscos, mas tambm

    enfatizando a importncia deste passo, Horcher (2005), em seu trabalho, divide o

    processo de gerenciamento de risco em etapas da seguinte maneira:

    i. Identificar e priorizar riscos financeiros chave

    ii. Determinar um nvel apropriado de tolerncia;

    iii. Implementar uma estratgia de gerenciamento de risco de acordo com

    a poltica;

    iv. Medir, reportar, monitorar, e, redefinir conforme necessrio.

    Padoveze (2003), por sua vez, ainda mapeia os riscos da empresa de forma

    mais especfica dividindo-os em: planos de curto prazo e em andamento, que

    constituem o risco do que j existe e est em operao, e, fluxos futuros de longo

    prazo, que constituem os riscos do que ainda vir a existir.

    Para Padoveze (2003), os riscos relacionados ao longo prazo esto

    intimamente ligados ao planejamento estratgico. Uma fonte de identificao de tais

    riscos seria os pontos fracos da empresa e ameaas. A ttulo de exemplificao ele

    cita: manuteno, criao ou perda de clientes; os mercados internos e externos; a

    manuteno, perda ou criao de tecnologia produtiva, comercial e administrativa;

    os concorrentes atuais e potenciais; a manuteno, perda ou criao de

    fornecedores; etc.

    Ainda em seu trabalho, Padoveze (2003) afirma ser mais fcil identificar os

    riscos do que j existe, e que grande parte deles pode estar evidenciada em

    demonstrativos como Balano Patrimonial e Demonstrativo de Resultado de

    Exerccio. Novamente para exemplificar so mencionados: riscos associados aos

    valores em moedas estrangeiras e sua exposio volatilidade das taxas de

    cmbio, perdas com inadimplncia, fraudes, etc.

  • Entretanto, para se chegar, na prtica, a esse detalhamento, diversos so os

    mtodos enumerados por Guimares (2006) como instrumentos para identificao e

    anlise de riscos, mas assim como no trabalho desta autora, no tambm o

    objetivo deste abordar o funcionamento de cada um deles. Entretanto, o Quadro 1

    retrata algumas dessas tcnicas.

    Identificao dos Riscos Anlise de riscos

    Entrevistas Pesquisas de mercado

    Workshops Testes de marketing

    Brainstorming Pesquisa & Desenvolvimento

    Mapeamento de processos Anlise de impactos do negcio

    Anlise de cenrios Anlise de impactos do negcio

    Controle Oramentrio Anlise da rvore de falhas

    Control Self Assessment Anlise de rvore de eventos

    Benchmarking Planejamento da continuidade do negcio

    Questionrios Inferncias estatsticas

    Auditoria e inspeo

    Quadro 1 Ferramentas para identificao e anlise de riscos

    Fonte: Guimares (2006)

  • Aplicando as teorias at aqui sugeridas por diversos autores, e, estando-se

    ciente dos riscos a que se est suscetvel, Batista (2008) d um passo adiante ao

    abordar, na prtica, as medidas a serem tomadas para a gesto de riscos

    financeiros. Dentre as alternativas citadas pelo autor ressaltam-se a diversificao,

    baixa alavancagem e alta posio de caixa:

    A primeira, a diversificao, consiste no investimento por parte da empresa

    em outros segmentos e/ou indstrias beneficiando-se de fluxo de caixas no

    perfeitamente correlacionados. Desta forma, consegue-se diminuir a varincia dos

    resultados e conseqentemente do patrimnio lquido.

    A segunda, a baixa alavancagem, considera que o aumento da alavancagem

    financeira eleva o retorno esperado como forma de compensao aos maiores

    nveis de riscos assumidos (altos custos de juros, concordata e falncia); observa-se

    que empresas buscando polticas alternativas de segurana, apenas evitam o

    financiamento de terceiros.

    Por ltimo, e em terceiro, a alta posio de caixa adotada para garantir uma

    forma de financiar todos os projetos com o valor presente lquido positivo e superar

    eventuais turbulncias de mercado.

    Uma ressalva a ser feita a respeito do trabalho anteriormente citado que,

    Batista(2008) busca dissociar as alternativas ento mencionadas da utilizao de

    instrumentos financeiro especficos para se reduzir o grau de exposio ao risco da

    empresa.

    A utilizao de instrumentos financeiros especficos a qual o pargrafo

    anterior aborda, refere-se utilizao de derivativos que surge como uma

    ferramenta importante dentre as formas disponveis para gerenciamento de risco.

    Esta, entretanto, por hora, no ser apresentada uma vez que este o objetivo do

    prximo e ltimo captulo.

    Esta seo apreciou de que maneira o risco anteriormente conceituado pode

    ser gerenciado, bem como as etapas para que isso seja feito (Padoveze, 2003;

    Panhoca, 2000; Horcher, 2005). Abordou-se ainda os mtodos para se alcanar tais

    etapas da gesto do risco (Guimares, 2006) e os instrumentos utilizados para este

    fim (Batista, 2008). Cabe ainda investigar o porqu das empresas se dedicarem a

    esse objetivo maior chamado de gerenciamento de risco financeiro.

  • 2.2 Os desafios e benefcios/motivaes da gesto de riscos financeiros em empresas no financeiras

    Um dos principais desafios enfatizado por Marshall C. (2002), propostos s

    empresas no financeiras e conseqentemente aos seus administradores, devido

    existncia do fator risco a interferncia do mesmo no sentido de reduzir o valor das

    organizaes limitando a capacidade dos gestores de atingirem seus objetivos. Ao

    se administrar tais riscos, o que se busca superar essa limitao aumentando o

    valor da empresa.

    Nesse mesmo caminho, vrios autores entre eles Barbosa (2003), Ferraz

    (2003), Perobelli (2004) e Smith e Stulz (1985) corroboram a tese da gesto de risco

    em empresas no financeiras como sendo o aumento do valor da empresa

    especificamente pelo aumento do valor dos fluxos de caixa esperados. Considere:

    Ferraz (2003, apud Guimares, 2006, p. 53) argumenta que [...] o foco do gerenciamento do risco nas empresas no-financeiras deve

    ser o controle da volatilidade dos fluxos de caixa futuros. Para o autor a

    melhor utilidade da gesto de riscos o valor da empresa, que pode ser

    modelado como o valor esperado de seus fluxos de caixa futuros, trazidos

    a valor presente por seu custo mdio de capital.

    Barbosa (2003, p. ) aponta a reduo dos custos de dificuldades financeiras,

    a reduo de assimetrias de informao e a reduo da carga de impostos como

    potenciais benefcios decorrentes da gesto de riscos. Segundo ele, uma poltica de

    riscos ir criar valor se reduzir os mencionados custos, aumentando,

    conseqentemente, o valor presente do fluxo de caixa esperado da empresa.

    Seguindo ainda essa linha, Perobelli (2004) v o gerenciamento do risco

    nestas empresas como algo relevante e que vai alm do controle da volatilidade dos

    fluxos de caixa ao passo que esto presentes as imperfeies do mercado. Para ela,

    tais imperfeies alteram o fluxo de caixa das empresas aps os impostos e surgem

    principalmente atravs dos custos de agncia, dos custos de falncia, benefcios

    advindos da alavancagem, existncia de progressividade tributria e incapacidade

    dos investidores de diversificar seus riscos a um custo baixo.

    Ainda Smith e Stulz (1985, apud SAITO; SCHIOZER, 2005) defendem que na

    presena das imperfeies de mercado, como custo de falncia e alquota crescente

    de imposto de renda, a reduo na volatilidade dos lucros e fluxos de caixa pode

    aumentar o valor da empresa.

  • A fim de entender melhor a interferncia do risco no valor da empresa,

    atentar-se- na seo que se segue para os custos gerados pelas imperfeies de

    mercado mencionadas acima por mais de um dos autores citados.

    2.2.1 Teorias da gesto de risco para empresas no financeiras

    importante que se diga antes de se determinar os riscos a serem

    protegidos, que na ausncia de imperfeies de mercado, dentre as quais esto

    tributos, assimetria de informaes, custos de transao e de agncia, no haveria

    demanda para os instrumentos de hedge (Modigliani e Miller (1958), o que vai de

    encontro existncia de um enorme volume de operaes com derivativos deixando

    claro que tais imperfeies existem.

    A fim de justificar esse fato, e a da gesto do risco por empresas no

    financeiras, existem duas frentes tericas que justificam a utilizao de tais

    instrumentos afirma Batista (2008).

    Uma baseia-se na hiptese de maximizao de valor ao acionista que

    defende a elevao do valor da firma atravs da diminuio dos custos de falncia,

    da soluo de problemas de sub-investimentos e de ganhos advindos da otimizao

    tributria (Batista, 2008).

    A outra "concentra-se na hiptese de maximizao da utilidade gerencial

    (teoria de agncia)", segundo esta, sero os motivos privados dos prprios

    executivos da instituio que levaro a adoo da gesto de risco pela mesma

    (Batista, 2008, p. 15).

    A seguir sero descritas brevemente essas teorias que caracterizam

    diferentes motivaes para o gerenciamento do risco financeiro por parte das

    empresas no financeiras.

    2.2.1.1 Maximizao de Valor ao acionista

    2.2.1.1.1 Custos de falncia

    No caso da falncia, existem custos associados, como indenizaes, custos

    legais, etc., que so deduzidos do valor da empresa. A eliminao da

    possibilidade de falncia pela menor volatilidade do fluxo de caixa, aumenta

  • o valor da empresa por reduzir a possibilidade deste evento. (TAUK, 2005,

    p. 27)

    Limeira, Ness, Pinto (2005) argumentam que o custo de captao dos

    recursos diretamente proporcional possibilidade de falncia de uma instituio.

    Adimite-se que o custo de capital de terceiros uma funo crescente da

    probabilidade de falncia Tauk (2005, p. 25).

    Dito de outra forma, Batista (2008) coloca que, uma vez que se busca maior

    alavancagem, ultrapassa-se o nvel timo de endividamento e como conseqncia

    eleva-se o nvel de estresse financeiro.

    Sendo assim, a gesto de riscos busca reduzir esse custo ao diminuir a

    volatilidade dos fluxos de caixa, o que, por sua vez, estar diminuindo a

    possibilidade de ocorrncia de resultados que conduzam a empresa falncia, e,

    ser to mais eficiente quanto for o nvel de estresse envolvido citado por Batista

    (2008) e mencionado no pargrafo anterior. Isso minimizar seu peso morto e

    elevar a capacidade de endividamento, que ainda poder reduzir o lucro tributvel

    ou garantir a melhor administrao do excesso de caixa.

    Um indicador a ser sugerido como medida dos custos esperados de falncia

    por Tauk (2008, apud DOLDE 1995; HAUSHALTER 2000) a razo dvida/ativo.

    2.2.1.1.2 Tributao

    consenso entre os estudiosos da questo que a carga tributria incidente

    sobre uma empresa uma funo convexa dos seus lucros. Sendo assim, o

    gerenciamento de riscos, com a reduo da volatilidade do resultado tributvel, pode

    diminuir o valor esperado dos tributos a pagar como mostra a Figura 2.

    Contudo, caso a alquota de imposto de renda seja linear, no haver nenhum

    ganho proporcionado pela gesto de riscos a menos que ocorra uma alternncia

    entre lucro e prejuzo caracterizando uma convexidade natural da curva.

  • Figura 2. Imposto Progressivo Esperado

    Fonte: Smith e Stulz (1985)

    Como colocado por (Smith e Stulz, 1985), reduzindo-se a volatilidade da

    receita, diminui-se a ocorrncia de picos de receita, perante aos quais os tributos

    so mais elevados.

    Graham e Smith (1999) afirmam que o uso de hedge em empresas norte

    americanas que possuem convexidade na funo impostos a pagar versus lucro

    pode reduzir os impostos a serem pagos em uma faixa que varia de 5,4% a 40%.

    E(Imp(x)/no H): Valor mdio esperado de imposto, quando no se adota gesto de risco

    E(Imp(X)/H): Valor esperado de imposto, quando se adota gesto de risco

    V(x/H): Valor da empresa, considerao adoo de gesto de risco

  • No Brasil h incidncia de alquota de 15% de imposto de renda para pessoa

    jurdica sobre o lucro real com incidncia de alquota adicional de 10% quando o

    mesmo superar vinte mil Reais por ms ou duzentos e quarenta mil Reais por ano.

    Batista (2008) atenta para este fato informando que poucas so as empresas

    contidas em seu estudo com lucro entre R$0 e R$240.000,00 de forma a conseguir

    uma convexidade no imposto de renda, fazendo com que a convexidade do imposto

    acabe no sendo uma varivel muito relevante na deciso de fazer hedge.

    2.2.1.1.3 Assimetria informacional o problema do sub-investimento

    Dependendo do nvel de conhecimento que um agente possui sobre

    uma determinada empresa, este far sua avaliao da mesma.

    Nveis distintos de conhecimento implicam em avaliaes

    diferenciadas. (TAUK, 2005, p. 23)

    Os fluxos de caixa gerados internamente pela empresa muitas vezes no so

    suficientes para que a empresa invista em todos os projetos de VPL positivos que

    deseje. Para isso, ela deve recorrer ao mercado a fim de captar tais recursos.

    Contudo, diante da assimetria informacional, o mercado incorre em custos para

    assegurar-se da qualidade dos projetos de investimento e monitorar a atividade

    destes, e, para isso, cobrado um prmio. Acontece, todavia, que muitas vezes,

    esse prmio acaba sendo maior que a remunerao gerada pelos projetos, tornando

    essa captao invivel.

    A conseqncia disso para, Batista (2008), que acaba-se por abandonar

    muitos projetos com VPL positivo na medida em que seus custos de captao

    excedem o benefcio marginal do projeto e/ou que a maior parte do valor incremental

    do projeto destina-se ao pagamento da dvida.

    DeMarzo e Duffie (1995, p. 23) introduzem nesse contexto a gesto de risco e

    suas estratgias como uma maneira de reduzir o rudo no contedo informacional

    que ocasiona a avaliao das empresas. O hedge entra como uma forma de

    restringir a variao de algumas variveis analisadas, reduzindo a assimetria de

    informaes e agregando valor para a empresa.

    Segundo Lameira, Ness, Pinto (2005), um programa de gerenciamento de

    risco mostra-se cada vez mais valioso ao passo que garante o acesso a projetos

    com VPL positivo. Tauk (2005) complementa dizendo que tal programa

  • especialmente importante para empresas na medida em que seu valor agregado

    deve-se aos investimentos futuros.

    Batista (2008, p. 16) ratifica o importante papel da gesto de risco para esse

    tipo de ocasio na seguinte passagem: [...] num cenrio como esse onde o fluxo de caixa das atividades

    correntes de uma empresa incerto, a gesto de risco garante a

    previsibilidade dos recursos disponveis, viabilizando diretamente os

    projetos mais valiosos a companhia e aumentando automaticamente

    seu valor.

    Por fim, Batista (2008, apud. FROOT, SCHARFESTEIN E STEIN, 1993)

    conclui que sem a gesto de risco, alm da questo do sub-investimento, a empresa

    pode passar por problemas de liquidez no s, caso o cenrio pessimista se

    concretize, como tambm ressalta a possibilidade de gerao de excesso de caixa,

    o que de forma alguma eficiente, caso o cenrio otimista se materialize.

    2.2.1.2 Maximizao da utilidade do gestor

    2.2.1.2.1 Reduo dos custos dos stakeholders Custos de Agncia

    A teoria da Agncia estuda a influncia das diferentes partes interessadas no

    sucesso da empresa e os efeitos sofridos pela mesma. Isso porque agentes tais

    como acionistas, empregados, fornecedores, clientes e o quadro gerencial possuem

    diferentes interesses, o que conseqentemente pode acarretar conflitos. Kimura

    (2002) defende que ao se tentar maximizar a utilidade individual de cada agente,

    pode-se incorrer em decises que divergem do objetivo terico de uma empresa que

    a maximizao de riqueza do acionista.

    Para exemplificar esses conflitos de interesse, Nance, Smith e Smithson

    (1993) citam casos como o de empregados que podero requerer uma maior

    remunerao, reduzir seu esforo (falta de motivao) ou sua lealdade, conforme

    aumentar a possibilidade de sua demisso; Ou ainda, empresas em que o risco de

    insolvncia ou a dificuldade de financiamento maior, podem fazer com que seus

    gestores demandem uma maior remunerao ou uma participao nos resultados;

    Fornecedores podem recusar-se a em realizar contratos com prazos maiores.

  • Ocorre que na verdade esses tipos de comportamento nada mais so,

    segundo Smith (2005), do que uma tentativa de compensar a ausncia do

    gerenciamento de risco. Dessa forma, a gesto do mesmo surge como uma maneira

    de medio e controle dos riscos assumidos pela empresa que ter seus custos

    relacionados ao conflito de agentes reduzidos.

    Kimura (2002) menciona ainda um conflito de agncia o qual afirma ser

    comum, a averso ao risco dos administradores, que consiste na rejeio de

    projetos com VPL positivo pelo seu nvel de risco uma vez que o grau de averso ao

    risco dos administradores exagerado. Lameira, Ness, Pinto (2005) afirmam que

    uma poltica de hedge excessiva leva ao gerenciamento do risco diversificvel, o que

    segundo eles no o objetivo dos acionistas na medida em que estes podem

    diversificar o prprio risco de maneira mais barata e eficiente diretamente no

    mercado.

    Diante dos benefcios e motivaes em realizar-se o gerenciamento do risco

    financeiro, vejamos a seguir algumas das principais ferramentes utilizadas para esse

    fim.

  • 3 DERIVATIVOS E GESTO DE RISCO FINANCEIRO EMPRESARIAL

    Com a abolio dos entraves referentes mobilidade de capital decorrente do

    processo de globalizao e a conseqente integrao dos mercados de capitais, as

    empresas passaram a lidar com a variao dos preos de commodities, taxas de

    juros, taxas de cmbio entre outros fatores, como sendo um fator intrnseco em sua

    poltica de gerenciamento de riscos. Buscando suprir as necessidades dessa poltica

    provenientes da oscilao de tais indicadores, o uso dos derivativos ganha fora

    tambm em meio a empresas no financeiras, que de acordo com Saito e Schiozer

    (2007), em 2001, do volume total de derivativos transacionados no mundo, as

    empresas no financeiras j eram responsveis por cerca de 20% do volume de

    contratos de cmbio, 10% dos contratos de taxas de juros e 25% dos derivativos

    ligados a commodities.

    Tal constatao, defendida por diferentes autores, podem tambm ser

    evidenciada para a realidade brasileira por dados fornecidos pela bolsa de

    mercadorias e futuros brasileira, BM&FBOVESPA. De acordo com o stio desta, o

    nmero de contratos de derivativos negociados no perodo que vai de janeiro a

    dezembro de 2002 foi de 105.790.938, sendo o valor financeiro envolvido nessas

    operaes para o ms dezembro do mesmo ano de R$591.387.711.000,00. J para

    o ano de 2008, o nmero de contratos negociados entre janeiro e dezembro foi de

    391.622.925, sendo o valor financeiro envolvido nessas operaes para o ms de

    dezembro deste ano de R$1.821.110.058.000,00. Tal comparao expressa o

    considervel aumento da utilizao do mercado de derivativos, entretanto, os dados

    obtidos no deixam clara a quantidade direcionada a empresas no financeiras

    especificamente.

    Sendo assim, uma vez constatada a importncia deste tipo de artefato no

    contexto de gerenciamento de risco a que se destina esse trabalho, o presente

    captulo tem por objetivo elucidar as principais diferentes operaes caracterizadas

    como derivativos, apresentar as precaues que devem ser tomadas para que o

    processo de gesto do risco em empresas no financeiras seja o mais eficiente

    possvel.

  • 3.1 Mercado de derivativos

    3.1.1 Definio

    Os derivativos so definidos por Hull (1998) e Figueiredo (2005) como ttulos

    cujos valores so provenientes dos valores de outras variveis consideradas mais

    bsicas que os referenciam.

    De outra forma, essa definio colocada pelo Group of Thirty

    (http://www.group30.org), grupo consultivo internacional sobre assuntos econmicos

    e monetrios, como um contrato bilateral ou um acordo de troca de pagamentos

    cujo valor deriva, como seu nome indica, do valor de uma ativo ou objeto

    referenciado em uma taxa ou ndice. E, para isso, ainda de acordo com o

    grupo,uma contraparte exposta a um risco indesejado pode transferir este a outra

    contraparte, assumindo assim um risco diferente do original, ou pagando para se

    livrar daquele risco.

    Enfim, segundo Chieh e Rocha (2003, p.3), os derivativos prestam-se para a

    troca de um resultado financeiro obtido por meio da aplicao da variao do valor

    de ndices ou projees de preos, em um determinado perodo de tempo, sobre um

    montante terico inicial.

    Ao contrrio do que se pensa essa ferramenta no possui nada de recente, e,

    seu surgimento como ser visto adiante, remonta Idade Mdia. Contudo,

    necessidade de reduzir incertezas, motivo pelo qual os derivativos foram criados, e

    que est cada vez mais presente no dia-a-dia das empresas faz da sua utilizao

    algo to perseguido hoje pelos gestores.

    3.1.2 Diferentes agentes e estratgias presentes no mercado de derivativos

    Apesar dos derivativos terem em sua criao, como visto na seo anterior, o

    objetivo de proteo contra a oscilao de preos, sua utilizao no se restringe a

    essa meta, e, diferentes estratgias podem ser alcanadas dependendo da maneira

    como so utilizados.

    Para estas diferentes estratgias, e, para os resultados que com elas se

    busca, atribui-se diferentes classificaes aos agentes que as empregam. Trs so

    qualificaes atribudas a esses diferentes agentes de mercado: Hedgers,

    Especuladores e Arbitradores. Ser visto abaixo de acordo com a viso de Hull

  • (2002), como cada um se comporta, bem como as devidas expectativas para o

    resultado de suas operaes.

    i. Hedgers: Este grupo representa a parcela de investidores a que esse

    trabalho se destina, estes por sua vez podem ser definidos como os

    que utilizam derivativos com o objetivo de fixar valor ou determinada

    faixa de valores para certo ativo. Com isso, impede-se que a

    volatilidade do mercado financeiro afete o valor, o portflio de uma

    empresa indeterminadamente.

    ii. Especuladores: Diferente do hedge, a especulao consiste no uso de

    derivativos apostando-se em uma determinada tendncia buscando-se

    potencializar os ganhos sobre o mercado onde se encontra o ativo

    adjacente. O especulador tenta maximizar o ganho que teria com a

    posio assumida. Assim como o risco, a perda na posio contratada

    pode ser igualmente potencializada.

    iii. Arbitradores: Arbitragem significa travar um lucro sem risco abrindo-se

    posio em dois mercados distintos simultaneamente, e, para isso, so

    utilizados os derivativos.

    Ciente do que consiste um derivativo e dos diferentes objetivos a que se pode

    almejar com a utilizao do mesmo, faz-se necessrio saber, antes de passar s

    operaes propriamente ditas, as precaues a serem tomadas quando da utilizao

    desse instrumento.

    3.2 Precaues no uso do mercado de derivativos

    O uso de derivativos uma importante ferramenta na gesto de riscos

    financeiros utilizada por empresas no financeiras, todavia, a utilizao dos mesmos

    sem seu perfeito entendimento e o das suas possveis conseqncias sobre o fluxo

    de caixa da empresa, pode conforme Glaum (2000), no s reduzir, como tambm

    aumentar o risco da instituio gerando desagregao de valor.

    Apesar disso, o uso de operaes com derivativos tem evoludo bastante em

    termos financeiros, e ao decorrer dessa evoluo podem-se ver perdas

    espetaculares ocasionadas pela utilizao dessa ferramenta. Os mais recentes

    acontecimentos relacionados ao tema, e de amplo conhecimento do mercado

    financeiro brasileiro, foram os casos das empresas Sadia e Aracruz. Tais fatos

  • podem corroborar a tese da utilizao de derivativos na poltica hedge como um

    fator de gerao de risco e que sua utilizao deve focar-se apenas em

    contrabalanar exposies conhecidas e que so custosas.

    De forma a tentar evitar esses tipos de acontecimentos que em muito podem

    prejudicar a empresa, Froot, Scharfstein e Stein (1994) sugerem algumas

    precaues para que a utilizao dos derivativos tenha mximo aproveitamento:

    i. Companhias, ainda que atuem no mesmo setor, ou com estruturas

    financeiras similares, no necessariamente devem aplicar a mesma

    poltica de gerenciamento de riscos. Apesar de possurem pontos em

    comum, empresas podem possuir oportunidades distintas de

    investimentos, utilizando-se ou no de hedge para garantir o fluxo de

    caixa que financiar tais investimentos.

    ii. Ainda que haja grandes investimentos nas plantas de produo e

    equipamentos, as empresas podem utilizar-se do gerenciamento de

    risco a fim de superar dificuldades referentes a endividamento.

    iii. preciso reconhecer, no caso de multinacionais, que taxas de cmbio

    afetam no somente o fluxo de caixa, como tambm as oportunidades

    de investimento. Como o valor dos investimentos varia conforme a

    variao das moedas utilizadas para custe-los, o hedge pode garantir

    a no desistncia de um investimento ou permitir a gerao de caixa

    para a empresa.

    iv. Deve haver, por parte da empresa, uma ateno especial na poltica de

    gerenciamento de risco de suas concorrentes. O que se prope aqui

    no o igual uso de derivativos por parte da empresa pelo fato de seus

    competidores estarem utilizando, mas sim entender que a concorrncia

    pode revelar fontes de risco e situaes de desvantagem competitivas

    a serem corrigidas.

    v. Sob hiptese alguma, a utilizao de um ativo por parte da empresa

    deve ser delegada a um especialista no assunto, pois esses tipos de

    operaes independem do seu grau de complexidade e deve ainda

    estar de acordo com a estratgia geral da companhia bem como sua

    poltica de investimentos. Sendo assim, a alta gerncia deve estar

    ciente das operaes e seus possveis resultados.

  • Entendidas as diferentes formas de gerenciamento o risco, os benefcios e

    motivaes em se adotar esse procedimento e as precaues necessrias para se

    lidar com ele. chegado o momento, aps inmeras referncias a respeito das

    operaes com derivativos para fins de hedge, de se aprofundar um pouco mais

    nessas operaes entendendo no que consistem e como podem ser utilizadas para

    limitar a exposio de uma empresa.

    3.3 Principais derivativos utilizados para gerenciamento de risco

    Dos produtos do mercado de derivativos, os principais so: contratos a termo,

    contratos futuros, opes e swaps.

    3.3.1 Contrato a Termo

    Esse tipo de operao muito antigo e foi inicialmente criado a fim de

    satisfazer s necessidades dos produtores agrcolas e comerciantes de produtos

    provenientes da agricultura. Pode-se ainda de acordo com Bessada, Barbedo e

    Araujo (2005) remeter-se ao emprego de negociaes a termo em perodos

    anteriores civilizao greco-romana, onde recibos de arroz com especificaes de

    pagamento, qualidade, quantidade e prazo de entrega futura no Japo em 1730 j

    eram transacionados.

    Muitas vezes as necessidades mencionadas acima para o fechamento do tipo de contrato em questo estavam relacionadas proteo e mitigao de riscos. Isso

    se dava, por exemplo, atravs de um produtor rural que, a fim de garantir a venda de

    sua produo, comprometia-se a entregar determinada quantidade de certo produto

    ao preo especificado a um comprador que muitas das vezes era posio assumida

    por um comerciante de produtos agrcolas que buscava garantir seu preo de

    compra no futuro, ainda que o preo do produto na data da entrega estivesse menor.

    Sendo assim, um contrato a termo um acordo de compra ou venda de um ativo em determinada data futura, por preo especificado Hull (2001, p.1). Ainda

    segundo Hull (2001), o acordo pode ser estabelecido entre duas instituies

    financeiras, ou entre uma instituio financeira e um de seus clientes, no sendo, na

    maioria das vezes, negociados em bolsa.

  • No momento em que a operao estabelecida, uma das partes assume a

    posio chamada de compradora na qual concorda em comprar determinado ativo

    objeto na data especificada por determinado preo fixado previamente. Enquanto

    isso, a parte responsvel pela posio denominada vendedora obriga-se a entregar

    o mesmo ativo, na mesma data, recebendo por este o preo fixado quando da

    abertura do contrato (Hull, 2001).

    Como visto no pargrafo anterior, existe um preo a ser respeitado ao longo

    da durao do contrato. Preo este que ser a base para o montante pago na data

    de vencimento do contrato. Esse preo como j foi dito pr-estabelecido na

    abertura das posies, e, permanece invarivel ao longo da vigncia do acordo. A

    ele d-se o nome de Preo de entrega.

    Uma questo importante a ser esclarecida nos contratos a termo a diferena

    entre o preo de entrega e o preo a termo. Diferente do primeiro, o segundo pode

    variar e resultado da adio do valor do preo do ativo objeto no mercado a vista

    a uma parcela que corresponde aos juros, fixados pelo mercado em funo do prazo

    do contrato (Bovespa).

    O preo a termo de um contrato tambm definido por Hull (2001, p.2) como

    o preo de entrega que o levar a ter valor zero. Por causa disso, ainda segundo

    Hull (2001, p.2): Tanto o preo a termo quanto o preo de entrega so iguais no momento

    em que o contrato realizado. No decorrer do tempo, o preo a termo

    passvel de mudanas, enquanto o preo de entrega, naturalmente,

    permanece o mesmo. Logo, os dois no so iguais a qualquer tempo,

    depois de iniciado o contrato, a no ser por acaso. Geralmente, o preo a

    termo, a qualquer tempo, varia em funo do vencimento do contrato.

    Isso porque, conforme o vencimento se aproxima menores so as incertezas

    referentes ao preo na data de entrega, e, conseqentemente, menor ser o custo

    de oportunidade embutido sobre o preo a vista para se chegar ao preo a termo,

    fazendo com que haja uma convergncia entre o preo a termo e o preo a vista

    quando fixado um vencimento.

    Entendida a invariabilidade do preo de entrega, em cima dela que o

    balano final da operao a termo feito na data de liquidao do contrato. Nesta

    data o preo acordado pago e a avaliao do retorno obtido feita comparando-se

    o preo de entrega (K) com o preo a vista do ativo (St). De acordo com Hull

  • (2001) essa avaliao de retorno difere de acordo com a posio assumida na

    operao, sendo St K para a posio compradora que obrigada a comprar por K

    um ativo que vale St, e, K St para a posio vendedora que obrigada a vender

    pelo preo K um ativo que vale St. Essa avaliao desses retornos pode ser mais

    bem visualizada atravs do Figura 3.

    Figura 3 Retornos de contratos a termo

    Fonte: Hull (2001)

    3.3.2 Contrato Futuro

    Pode-se dizer que os contratos futuros so um aperfeioamento dos contratos

    a termo. Isso porque nessas operaes, assim como nas operaes a termo, o

    investidor compromete-se contratualmente a comprar ou vender determinado ativo,

    em certa data futura, a um preo previamente estipulado Figueiredo (2005, p. 5).

    Tambm no mercado futuro, assim como visto no mercado a termo, observa-

    se a convergncia entre o preo futuro e o preo a vista conforme o vencimento do

    contrato se aproxima.

    Entretanto, apesar de em um primeiro momento os mercados de termo e

    futuro parecerem bastante similares, existem algumas particularidades dos contratos

  • futuros que os diferenciam. Neste tpico buscar-se- explicar as operaes no

    mercado futuro enfatizando tais diferenas.

    A primeira delas como explica Hull (2001) o fato de contratos futuros serem

    padronizados. Segundo ele, isso ocorre porque diferente dos contratos a termo, os

    futuros so negociados em bolsa, e, para que isso ocorra, a prpria bolsa especifica

    algumas caractersticas para o contrato. Neste caso, as partes no mais precisam

    necessariamente conhecer-se, uma vez que ser tambm a bolsa que garantir a

    ambas o cumprimento compromisso estabelecido.

    Outra diferena colocada por Hull (2001, p.4) entre um contrato a termo e um

    a futuro a no-especificao de uma data exata de entrega. Segundo o autor: [...] o contrato conhecido por seu ms de vencimento, com a bolsa

    especificando o perodo do ms em que a entrega dever ser feita. Para

    commodities, o perodo de entrega costuma cobrir todo o ms. O titular de

    uma posio vendida tem o direito de escolher o horrio, durante o perodo

    de entrega em que far a entrega.

    Ainda nesse contexto, mas voltando questo da padronizao por parte da

    bolsa Hull (2001, p.4) complementa: Em geral, contratos com diferentes meses de vencimentos so negociados

    a qualquer tempo. A bolsa especifica a quantidade do ativo a ser entregue

    por contrato; a forma de cotao do preo; e, possivelmente, os limites

    dentro dos quais o preo futuro pode oscilar num dia. No caso de uma

    commodity, a bolsa tambm especifica a qualidade do produto e o local de

    entrega.

    A questo relativa data de entrega do produto estipulado em contrato

    colocada no pargrafo anterior gera um ponto importante a ser esclarecido na

    diferenciao entre operaes a termo e a futuro. Esse ponto a diferena entre

    encerramento de uma posio e liquidao de uma operao. Deve-se ter em mente

    que numa operao do mercado futuro o encerramento de uma posio pode

    ocorrer a qualquer momento desde a abertura da posio at a data de vencimento

    do contrato. Esse encerramento se d atravs da realizao de uma operao

    oposta original (Hull, 2001, p. 19) quando da abertura da posio. Se um

    investidor comprou certo nmero de contratos, para encerrar sua posio dever

    vender a mesma quantidade de contratos, do mesmo ativo objeto, para o mesmo

    vencimento. Se em vez de comprar o investidor vendeu certa quantidade de

    contratos, para encerrar a posio dever comprar a mesma quantidade de

  • contratos, do mesmo ativo objeto, para o mesmo vencimento. Isso, de acordo com

    Hull (2001) faz com que a maioria dos contratos futuros iniciados seja assim

    encerrada, sendo a entrega do objeto de negociao na liquidao do contrato

    relativamente rara. Entretanto, essa liquidao s poder ocorrer na data do

    vencimento.

    J nas operaes a termo, de acordo com Hull (2001), como o que se tem

    um acordo entre duas partes, a data de liquidao estipulada para o vencimento da

    operao poder ser antecipada se esse for interesse comum s duas partes

    envolvidas, entretanto, no h neste mercado a possibilidade de encerramento de

    uma operao como descrito para o mercado futuro.

    Por fim, talvez a mais conhecida das diferenas entre esses dois mercados,

    enquanto nos contratos a termo o ajuste dos ganhos ou perdas auferidos na

    operao feito na sua liquidao, no mercado futuro esse procedimento ocorre

    diariamente. Ou seja, os ganhos e perdas obtidos pelos investidores em determinado

    prego so recebidos ou pagos em dinheiro em D+12, por meio de crdito

    ou dbito em conta na corretora pela qual foi feito o negcio. O valor em

    que a Bolsa se baseia para calcular esses ganhos e perdas, nos diversos

    contratos, obtido atravs de uma mdia ponderada dos negcios que

    acontecem com esses contratos nos ltimos 15 ou 30 minutos do prego

    (ou outro tempo qualquer especificado no contrato) (Figueiredo, 2005, p.8).

    Ainda conforme Figueiredo (2005, p.8), o objetivo principal desses acertos

    dirios de ganhos e perdas reduzir o risco do mercado. Isso porque ao abrir uma

    posio no mercado futuro, o investidor deve depositar garantias que venham a

    cobrir perdas potenciais por dois ou trs dias teis. Desta forma, caso o investidor

    no tenha como pagar uma eventual perda proveniente de ajuste dirio, a Bolsa usa

    as margens de garantias depositadas e encerra sua posio.

    Diante do que foi visto at ento, no que diz respeito s operaes de

    contratos a termo e futuros, pode-se agora resumir atravs do Quadro 2 suas

    diferenas a fim de se ter uma melhor idia a respeito de cada uma delas.

    2 D representa a data de referncia. No texto, a data em que os ganhos ou perdas foram auferidos. E, D+1refere-se ao dia til seguinte a D.

  • Contrato a Termo Contrato Futuro

    Contrato particular entre duas partes Negociado em bolsa

    No padronizado Padronizado

    Sem a possibilidade de encerramento da

    posio

    Com possibilidade de encerramento da

    posio

    Com possibilidade de antecipao da

    liquidao Sem possibilidade antecipao da liquidao

    Entrega ou liquidao financeira final Geralmente encerrado antes do vencimento

    Ajuste na liquidao da operao Ajuste dirio

    Quadro 2 Diferenas entre contratos a termo e futuro

    Fonte: Elaborao prpria do autor

    3.3.3 Mercado de Opes

    As opes so derivativos que representam um direito para seu comprador e uma obrigao para seu vendedor.

    Para um melhor entendimento desses direitos e deveres importante

    primeiramente que se saiba que existem dois tipos de opes: opo de compra,

    tambm chamada de call, e opo de venda tambm conhecida como put.

    As opes de compra representam para seu comprador, tambm chamado

    titular, o direito de comprar certo ativo em determinada data por determinado preo,

    preo esse conhecido como preo de exerccio ou strike. Figueiredo (2005). A esse

    preo pago pelo titular da opo para o mesmo adquiri-la d-se o nome de prmio.

    Em contrapartida, o agente responsvel pela venda da opo tambm conhecido

    como lanador, ao execut-la recebe o prmio ao passo que assume a obrigao de

    vender o ativo-objeto da opo.

  • As opes de venda tm um significado diferente, pois nessas, seu titular

    paga o prmio para ter direito a vender determinado ativo em certa data por um

    dado preo de exerccio. Enquanto isso, o lanador da opo de venda que a

    vendeu assume a obrigao de comprar o mesmo ativo em determinada data pelo

    mesmo preo fixado. Figueiredo (2005).

    Dessa forma, Hull (2001) cita as quatro operaes possveis no mercado de

    opes: compra de opo de compra, venda de opo de compra, compra de opo

    de venda e venda de opo de venda.

    Outra diferenciao feita entre as opes est relacionada sua data de

    exerccio, ou seja, a data em que seu titular pode exercer o direito adquirido.

    Figueiredo (2005) apresenta dois tipos de opes no que diz respeito a essa

    classificao. O primeiro deles so as opes europias, segundo as quais seu

    exerccio s ser possvel na data de vencimento da opo. O segundo tipo so as

    opes americanas, e, de acordo com estas seu exerccio pode ocorrer a qualquer

    momento durante o prazo que vai desde a abertura da srie da opo em questo

    at seu vencimento.

    As opes so divididas em sries, como mencionado no final do pargrafo

    anterior, que so formas de identificar as caractersticas desse ativo. Uma srie de

    opo especifica o ativo a que essa opo se refere, se a mesma uma call ou uma

    put, o ms de seu vencimento e seu preo de exerccio.

    No tocante ao preo de exerccio a que cada srie se destina, existe ainda

    outra classificao mencionada por Hull (2001), a saber. Essa compara o preo de

    exerccio de uma opo com o preo vista corrente no mercado do seu ativo

    objeto. Uma vez que o preo vista deste ativo objeto da opo de compra seja

    superior ao strike da mesma, dito que esta uma opo dentro do dinheiro (in-

    the-money). Caso o preo vista do ativo objeto da opo de compra esteja prximo

    ao seu preo de exerccio, esta chamada de opo no dinheiro (at-the-money).

    Por ltimo, se o preo vista do ativo objeto da opo de compra estiver abaixo do

    seu preo de exerccio, esta classificada como uma opo fora do dinheiro (out-

    of-the-money).

    Nas opes de venda essa classificao feita de maneira inversa, ou seja,

    preo de exerccio inferior ao preo vista do ativo objeto caracteriza uma opo

    fora do dinheiro (out-of-the-money), preo de exerccio prximo ao preo vista do

  • ativo objeto caracteriza uma opo no dinheiro (at-the-money), e, por fim, quando o

    preo de exerccio superior ao preo vista do ativo objeto a opo considerada

    dentro do dinheiro (in-the-money).

    3.3.4 Swaps

    Swaps so acordos privados entre duas empresas para a troca de fluxos de

    caixa numa data futura, podendo ser considerados carteiras de contratos a termo.

    Portanto, a anlise de swaps uma extenso natural do estudo de contratos futuros

    e a termo Hull (2001, p.121). Figueiredo (2005, p. 3) define a mesma operao como um contrato derivativo no qual as partes trocam indexadores de operaes passivas e ativas sem

    trocar o principal.

    Outra definio est presente na Resoluo n 2.138 do Banco Central do

    Brasil que define operaes de swap como [...] as consistentes na troca dos

    resultados financeiros decorrentes da aplicao de taxas ou ndices sobre ativos ou

    passivos utilizados como referenciais. (Risktech).

    O que ambas as definies transmitem que diante das expectativas futuras

    de uma empresa, caso esta queira, pode-se utilizar deste tipo de derivativo para

    transformar tanto um passivo que esteja vinculado a uma taxa pr-fixada em ps-

    fixado e vice-versa, como tambm possvel transformar um ativo que esteja

    atrelado a uma taxa pr-fixada a uma taxa ps-fixada e vice-versa.

    Buscando ilustrar os motivos que levariam uma firma a realizar uma operao

    de swap, considere uma empresa que possua dvida corrigida pelo CDI. Temendo-

    se uma alta de juros iminente, esta resolve trocar o indexador do passivo por uma

    taxa pr-fixada a fim de se proteger. Dessa forma, se houver a elevao da taxa de

    juros esperada, a perda obtida pela empresa com a alta do CDI ser compensada

    com o ganho financeiro obtido na operao de swap.

    A situao simulada anteriormente apenas uma das possibilidades de swap

    existentes. Inmeras so as alternativas de trocas de indexadores a que se pode

    recorrer. Figueiredo (2005) apresenta as taxas mais comuns em swaps negociados

    no mercado financeiro brasileiro: dlar comercial, Taxa Referencial (TR), Taxa da

    Associao Nacional dos Bancos de Investimentos (Anbid), Taxa Bsica Financeira

  • (TBF), Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP) e ndice Geral de Preos da Fundao

    Getlio Vargas (IGP).

    H ainda uma figura importante a ser apresentada nas operaes de swap

    que so os intermedirios financeiros como explica Hull (2001). Estes surgem

    porque em geral duas empresas no entram em contato diretamente para fechar

    uma operao de swap. Para isso, elas recorrem a um banco ou instituio

    financeira que far o papel de intermediador da operao entre as duas partes

    estruturando-a, e, naturalmente, cobrando por este servio. importante ressaltar,

    como colocado por Hull (2001, p.126), [...] dificilmente duas empresas iro contatar uma instituio financeira

    exatamente ao mesmo tempo e que queiram tomar posies opostas

    exatamente no mesmo swap. Por isso, a maioria das grandes instituies

    financeiras est preparada para assumir o risco de contraparte. Isso

    significa realizar um swap com o interessado e hegdear o risco da taxa de

    juro, at que seja encontrada uma contraparte que queira tomar a posio

    oposta.

    Uma vez apresentado os quatro principais tipos de derivativos existentes,

    importante que se diga que cada um destes pode ser aplicado para um determinado

    fator de risco de mercado como cmbio, juros e etc.

    No captulo a seguir sero estudadas as diferentes utilizaes dessas

    ferramentas quando aplicadas s taxas de juros.

  • 4. MERCADO DE DERIVATIVOS DE TAXA DE JUROS NO BRASIL

    A economia brasileira de uma forma geral pode ser caracterizada pela

    constante utilizao da poltica monetria como uma tentativa de fomentar o

    aquecimento da atividade econmica, ou de fre-la para evitar perodos de inflao.

    No Brasil, o principal instrumento utilizado para estes fins a taxa de juros cuja

    variao resulta em perodos de mais ou menos investimentos acompanhados por

    consequentes endividamentos maiores ou menores, respectivamente.

    Ocorre que quando se tem uma reduo da taxa de juros, os produtores de

    bens e servios, de uma forma geral, ficam mais propensos a investirem uma vez

    que o custo da dvida diminui. Por outro lado, com o aumento da taxa de juros, alm

    do custo do emprstimo ter aumentado encarecendo sua dvida, o custo de

    oportunidade de novos investimentos tornam-se maiores, pois o ato de poupar torna-

    se cada vez mais atrativo uma vez os juros pagos pelos ttulos da dvida pblica

    tornam-se maiores, sendo estes os menores riscos do mercado.

    Dessa forma, a taxa de juros tem um papel muito importante no dia-a-dia das

    empresas no financeiras, principalmente no que diz respeito s empresas de mdio

    e grande porte que possuem garantias para nveis maiores de alavancagem.

    Agora imaginemos, por exemplo, que uma empresa contrate um emprstimo

    a uma determinada taxa de juros para financiamento de um determinado projeto e

    que durante o decorrer deste emprstimo essa taxa seja corrigida por uma eventual

    elevao na taxa de juros que referencia tal emprstimo. Neste caso, a empresa

    estaria incorrendo em um custo adicional inerente ao xito do projeto que apesar de

    inesperado dever ser pago.

    Como uma alternativa para esse tipo de situao e uma maior previsibilidade

    do fluxo de caixa da companhia em questo, existe a possibilidade de fixao da

    taxa de juros atravs da utilizao conjugada de uma estratgia de hedge no

    mercado financeiro, utilizando para isso as ferramentas at aqui apresentadas.

    E dentre esses diferentes tipos de derivativos h pouco abordados, uma

    mesma classe deles pode ser utilizada como instrumento de proteo contra a

    oscilao de diversas variveis econmicas. Por exemplo, os contratos futuros

    podem ser usados para tentar suprimir os impactos tanto da variao cambial, como

    tambm o da variao da taxa de juros e etc.

  • Da mesma forma, diferentes tipos de derivativos podem ser utilizados de

    forma individual ou combinada visando erradicar os riscos de um mesmo indicador

    econmico. Como exemplo podemos citar as operaes de swap e o mercado

    futuro, que embora bem diferentes, cada uma delas pode ser utilizada caso se

    queira evitar as oscilaes do cmbio, da taxa de juros e etc.

    A partir da presente sesso nos ateremos a oscilao da taxa de juros. Sendo

    assim, faz-se necessrio entender quais derivativos podem ser utilizados para

    minimizar os impactos dessa variao e quais as vantagens e desvantagens da

    utilizao de cada um deles.

    4.1 Comparao entre derivativos de taxa de juros

    Dentre os derivativos de taxa de juros disponibilizados para operao pela

    Bolsa de Valores de So Paulo (Bovespa) podemos destacar inicialmente os swaps.

    Nesta operao, conforme citado por Figueiredo (2005 , p. 137) as partes

    envolvidas trocam os indexadores de operaes passivas e ativas sem trocar o

    principal. Ainda segundo o autor, caso uma empresa com dvida corrigida pelo CDI

    taxa mdia pela qual so registrados os emprstimos entre instituies financeiras

    e referncia para demais contratos temendo uma alta de juros, pode trocar o

    indexador do passivo por uma taxa pr. Assim, se as taxas de juros subirem no

    perodo, a perda que a empresa ter com a alta do CDI ser compensada por um

    ganho financeiro na operao de swap.

    Apesar de extremamente simples, essa operao realizada diretamente

    entre as partes, ou seja, pertence ao mercado de balco, o que limita a sua liquidez.

    Tanto para o registro da abertura do acordo, como no seu encerramento, faz-se

    necessrio encontrar uma contraparte interessada, normalmente um banco, e

    depende-se do comum acordo das duas pontas para que a operao seja liquidada

    antes da data de vencimento.

    H tambm o mercado futuro de DI, onde possvel negociar-se no presente

    uma determinada expectativa de custo do capital entre o perodo que vai da abertura

    da posio neste mercado at o vencimento do contrato negociado. Este sem

    dvida o tipo derivativo mais negociado na bolsa de mercadorias e futuros e

    mercado de balco brasileiro, sendo responsvel por 67,35% do volume financeiro

    negociado em outubro segundo o ltimo relatrio mensal divulgado pela instituio

  • em seu portal na internete. Trata-se de uma das formas mais comuns de proteo

    da remunerao do capital, e como diz respeito ao objeto central do presente

    estudo, ser discriminado mais cuidadosamente nas sesses seguintes.

    Como vantagem desse tipo de contrato sobre os demais derivativos

    destacam-se as caractersticas j apresentadas no quadro dois do captulo trs

    quando da comparao entre contratos futuros e contratos a termo.

    Outra ferramenta utilizada a opo sobre ndice, chamada de IDI. Estas

    funcionam como uma opo onde seu ativo-objeto um ndice que replica um ttulo

    de renda fixa valorizado diariamente pela Taxa Mdia de Depsitos Interfinanceiros

    de Um Dia (DI). Atravs do IDI so negociadas as expectativas da taxa de juro

    mdia compreendida entre a data de negociao e a de vencimento do contrato.

    Sua desvantagem que alm da precificao deste tipo de ttulo ser extremamente

    complexa, no h um consenso sobre a validade dos mtodos de apreamento.

    Bovespa (2011).

    Um outro instrumento tambm utilizado que aparece como uma variao do

    derivativo acima o mercado futuro de cupom cambial sujo (DDI). Este negocia o

    diferencial entre a taxa CDI e a variao do dlar. E tem como pblico alvo

    empresas com ativo em dlar mais taxa fixa e passivo em CDI, que correm o risco

    de que a variao do CDI no espao de tempo observado venha a ser maior do que

    a variao cambial mais a taxa fixa a que o ativo est sujeito (Figueiredo 2005 , p.

    137). Ou seja, o dlar (ativo) cair e o CDI (passivo) subir. Uma desvantagem desta

    ferramenta que seu manuseio, clculo e estruturao da operao adequada

    poteo da exposio de determinada empresa no simples. Alm disso, sua

    utilizao s vivel quando a empresa a ser hedgeada possui posio indexada ao

    dlar, o que foge um pouco do escopo do presente trabalho.

    Por fim, podemos citar tambm as operaes denominadas de FRA Foward

    Rate Agreement, ou ainda Mercado Futuro de Cupom Cambial Limpo. De maneira

    similar ao cupom cambial sujo, o FRA negocia o diferencial da taxa de juros a termo

    e a variao cambial para um perodo. Esta operao consiste no em um contrato,

    mas sim em uma estruturao composta por operaes que combinam dois

    contratos futuros de cupom cambial sujo com vencimentos distintos. Seu objetivo

    expurgar a distoro causada pela variao da taxa de cmbio do dia anterior para o

    dia da operao recorrente