GERMINAÇÃO, ARMAZENAMENTO E TRATAMENTO FUNGICIDA DE SEMENTES DE SERINGUEIRA

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GERMINAÇÃO, ARMAZENAMENTO E TRATAMENTO FUNGICIDA DE SEMENTES DE SERINGUEIRA (Hevea brasiliensis MUELL. ARG.) 1 ANICE GARCIA 2 e ROBERVAL DAITON VIEIRA 3 Revista Brasileira de Sementes, vol. 16, n o 2, p. 128-133, 1994 RESUMO. Inicialmente, foram realizados estudos sobre o efeito de tipos de substratos (areia, pó-de-serra, vermiculita e rolo de pano e de papel) e de temperaturas (25, 30, 30/escuro, 35, 20-30°C e temperatura ambiente) sobre a germinação. Em seguida foi avaliado o armazenamento em sacos de polietileno e do tratamento fungicida (captan, benomyl e thiran) de sementes armazenadas por até cinco meses. As sementes foram acondicionadas em sacos de polietileno, com capacidade de 10kg e espessura de 0,3mm. Os sacos foram cheios até 2/3 de sua capacidade, amarrados e perfurados com uma agulha pequena. Para a avaliação da qualidade fisiológica das sementes foram determinados o teor de água, a germinação, o índice de velocidade de emergência e a altura da parte aérea e o peso da matéria seca de plântulas. Com base nos resultados concluiu-se que: 1) o teste de germinação pode ser realizado usando-se areia e/ou vermiculita sob temperaturas de 30 a 35°C; 2) na faixa de 30 a 35°C a avaliação final do teste de germinação deve ser feita no 20° dia; 3) considerando-se que a semente de seringueira é recalcitrante, os resultados após cinco meses de armazenamento permitiram concluir que a metodologia utilizada foi eficiente; sendo que os maiores valores foram apresentados pelas sementes que não sofreram tratamento fungicida. Termos para indexação: Hevea brasiliensis, semente, vigor, temperatura, substrato GERMINATION, STORAGE AND FUNGICIDE TREATMENT OF RUBBER TREE (Hevea brasiliensis MUELL. ARG) SEEDS ABSTRACT. Initially, studies were conducted on germination substrates (sand, dust saw, vermiculite, and paper and fabric rolls), and temperatures (25, 30, 30/dark, 35, 20-30°c and environmental temperature - laboratory). It was also studied the effect of seed storage (up to 5 months) in plastic bags and fungicide treatment (captan, benomyl, thiran). The seeds were placed, separately, in poliethilene bags, filled up, fastened and pierced with a little needle. To reach the objectives moisture content, standard and speed germination, and height and dry matter weight of seedlings were studied to evaluate physiological seed quality. Based on the results it can be concluded that: 1) the germination test should be run using sand or vermiculite as substrate; 2) under temperature varying from 30 to 35°C the final count of germination test should be done at the 1 Aceito para publicação em 11.11.94. Trabalho desenvolvido pelo primeiro autor com bolsa de aperfeiçoamento da FAPESP, e apresentado no VIII CBS, Foz do Iguaçu, PR 2 Eng. Agr., aluna do Curso de Pós-Graduação em Agronomia - Área de Concentração em Produção Vegetal. FCAV/UNESP, 14.870-000 - Jaboticabal/SP 3 Professor Adjunto, Departamento de Fitotecnia - FCA/UNESP, 14.870-000 - Jaboticabal/SP

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GERMINAÇÃO, ARMAZENAMENTO E TRATAMENTO FUNGICIDA DE SEMENTES DE SERINGUEIRA (Hevea brasiliensis MUELL. ARG.)1

ANICE GARCIA2 e ROBERVAL DAITON VIEIRA3

Revista Brasileira de Sementes, vol. 16, no 2, p. 128-133, 1994

RESUMO. Inicialmente, foram realizados estudos sobre o efeito de tipos de substratos (areia, pó-de-serra, vermiculita e rolo de pano e de papel) e de temperaturas (25, 30, 30/escuro, 35, 20-30°C e temperatura ambiente) sobre a germinação. Em seguida foi avaliado o armazenamento em sacos de polietileno e do tratamento fungicida (captan, benomyl e thiran) de sementes armazenadas por até cinco meses. As sementes foram acondicionadas em sacos de polietileno, com capacidade de 10kg e espessura de 0,3mm. Os sacos foram cheios até 2/3 de sua capacidade, amarrados e perfurados com uma agulha pequena. Para a avaliação da qualidade fisiológica das sementes foram determinados o teor de água, a germinação, o índice de velocidade de emergência e a altura da parte aérea e o peso da matéria seca de plântulas. Com base nos resultados concluiu-se que: 1) o teste de germinação pode ser realizado usando-se areia e/ou vermiculita sob temperaturas de 30 a 35°C; 2) na faixa de 30 a 35°C a avaliação final do teste de germinação deve ser feita no 20° dia; 3) considerando-se que a semente de seringueira é recalcitrante, os resultados após cinco meses de armazenamento permitiram concluir que a metodologia utilizada foi eficiente; sendo que os maiores valores foram apresentados pelas sementes que não sofreram tratamento fungicida. Termos para indexação: Hevea brasiliensis, semente, vigor, temperatura, substrato

GERMINATION, STORAGE AND FUNGICIDE TREATMENT OF RUBBER TREE (Hevea brasiliensis MUELL. ARG) SEEDS

ABSTRACT. Initially, studies were conducted on germination substrates (sand, dust saw, vermiculite, and paper and fabric rolls), and temperatures (25, 30, 30/dark, 35, 20-30°c and environmental temperature - laboratory). It was also studied the effect of seed storage (up to 5 months) in plastic bags and fungicide treatment (captan, benomyl, thiran). The seeds were placed, separately, in poliethilene bags, filled up, fastened and pierced with a little needle. To reach the objectives moisture content, standard and speed germination, and height and dry matter weight of seedlings were studied to evaluate physiological seed quality. Based on the results it can be concluded that: 1) the germination test should be run using sand or vermiculite as substrate; 2) under temperature varying from 30 to 35°C the final count of germination test should be done at the

1 Aceito para publicação em 11.11.94. Trabalho desenvolvido pelo primeiro autor com bolsa de

aperfeiçoamento da FAPESP, e apresentado no VIII CBS, Foz do Iguaçu, PR 2 Eng. Agr., aluna do Curso de Pós-Graduação em Agronomia - Área de Concentração em

Produção Vegetal. FCAV/UNESP, 14.870-000 - Jaboticabal/SP 3 Professor Adjunto, Departamento de Fitotecnia - FCA/UNESP, 14.870-000 - Jaboticabal/SP

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20th day; 3) considering that rubber tree seed is recalcitrant the results up to five storage months allowed to conclude that the methodology used was efficient; being that the highest values were shown by seeds that didn’t suffer fungicide treatment. Index terms: Hevea brasiliensis, seed, vigor, temperature, substrate

INTRODUÇÃO

A seringueira (Hevea brasiliensis Muell. Arg.), originária do continente americano entre as latitudes 3° Norte e 15° Sul, é hoje comercialmente cultivada entre os paralelos 25° Norte, no Sul da China e 25° Sul, no litoral sul do Estado de São Paulo (Hua-Sun, s.d.; Padirac, 1986; Ortolani, 1986).

Embora o governo tenha procurado incentivar o cultivo da seringueira a partir de 1972, a nossa produção ainda está muito aquém das necessidades internas do país, com a situação agravando-se nos últimos anos, em razão, principalmente, da política governamental.

Apesar de ainda insatisfatória, a expansão desta cultura vem ocorrendo, principalmente nas regiões de “escape” (considera-se região de “escape” aquela em que as condições ambientais -temperatura e umidade relativa do ar - não favorecem o desenvolvimento do fungo causador do mal das folhas), e nota-se que a produção de sementes não ocorre em quantidade e qualidade desejáveis (Cícero et al., 1987). Embora a propagação vegetativa seja um processo amplamente utilizado na formação das mudas, faz-se necessário o uso de sementes para a formação dos porta-enxertos (Chin, 1980).

Sabendo-se dos problemas encontrados com sementes dessas espécies, faz-se necessário, nas regiões de “escape”, o desenvolvimento de tecnologias que permitam manter um padrão satisfatório de viabilidade por um período de 5 a 6 meses, de modo a ultrapassar o período de inverno, para serem semeadas logo que a temperatura começar a elevar-se novamente.

A germinação de sementes de seringueira, pode cair para menos de 45% em um mês, e mesmo perder quase toda a viabilidade em 50 dias após a queda do fruto (Dijkman, 1951, apud Pereira, 1980; Berjak, 1989). Porém, Pereira (1980) conseguiu manter a germinação em até 64% após 135 dias de armazenamento em sacos de polietileno “meio cheios” e à temperatura ambiente (27°C), e Cícero (1986) observou germinação de 61% com 180 dias de armazenamento, sob condições similares de armazenamento.

Ainda em relação ao armazenamento de sementes de seringueira, tem sido estudado o uso de tratamento fungicida das sementes, pois vários fungos patogênicos já foram constatados em sementes dessa espécie (Urben et al., 1982; Cícero et al., 1987). Pereira (1980) recomenda a imersão de sementes em soluções de benlate a 0,1% ou captan a 0,2%, durante 10 minutos. Por outro lado, Cícero et al. (1986) observaram redução na germinação, utilizando-se os mesmos produtos e as mesmas doses, sendo que o efeito mais fitotóxico foi verificado com o benlate. Efeitos fitotóxicos do benlate foram observados, também, sobre a germinação e o vigor (índice de velocidade de emergência) imediatamente após o tratamento, desaparecendo com o armazenamento (Bergamaschi et al., 1991).

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Além disso, alguns padrões de laboratório, como substrato, temperatura, período de germinação, precisam ser melhor conhecidos e identificados, para maior precisão nos estudos da qualidade fisiológica de sementes de seringueira.

O presente estudo foi realizado com o objetivo de estudar o efeito do armazenamento em sacos de polietileno e do tratamento com fungicidas sobre a germinação e o vigor de sementes de seringueira, bem como determinar condições de germinação em laboratório, tais como substrato, temperatura e período para a germinação.

MATERIAL E MÉTODOS

As sementes foram coletadas em seringais instalados na Fazenda Santa Helena, no município de Nipoã (SP), em 1991, e na Fazenda Alvorada, no município de Jaboticabal (SP), em 1992.

Uma vez feita a coleta, as sementes foram encaminhadas ao Laboratório de Análise de Sementes do Departamento de Fitotecnia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal - FCAVJ/UNESP, onde foram realizadas todas as determinações de laboratório.

O projeto foi realizado em duas fases: na primeira - realizaram-se estudos comparativos de tipos de substratos e temperatura para o teste de germinação. Foram utilizadas sementes coletadas entre fevereiro e março de 1991 e 1992, período de maior concentração na deiscência dos frutos (Bastos, 1986, e Vieira et al., 1989).

Foram utilizados sete tipos de substratos (areia, pó-de-serra, vermiculita, solo + areia, areia coberta com pó-de-serra, solo coberto com pó-de-serra e rolos de pano e de papel), dependendo do ano de coleta. Uma vez identificados os melhores substratos, estes foram usados para se estudar o comportamento da semente em diferentes temperaturas (25, 30, 30-escuro, 35 e 25-30°C e ambiente). O efeito do substrato e da temperatura foi avaliado, sobre a germinação e o vigor da semente. Os tratamentos foram dispostos num delineamento em blocos casualizados, com quatro repetições.

Para avaliação da qualidade fisiológica determinaram-se o teor de água - utilizando-se o método de estufa a 105 ± 3°C, por 24 horas (Brasil, 1980), antes da instalação dos testes; a percentagem de germinação - utilizando-se quatro subamostras contendo 25 sementes cada, colocadas para germinar em caixas plásticas, contendo os diferentes substratos e mantidas em germinador (25°C) e temperatura ambiente do laboratório (mín: 22,1°C e máx: 23,5°C), sendo que a percentagem de germinação foi determinada com base no número de plântulas normais, conforme Oliveira e Pereira (1987), obtidas no final do teste; o índice de velocidade de emergência (IVE) - no mesmo material em que se determinou a percentagem de germinação, foi realizada a contagem das plântulas emergidas, a cada dois dias, até o final da realização do teste de germinação, sendo esses dados aplicados em fórmula proposta por Maguire (1962) para obter-se o IVE; a altura de plântulas, em cm, considerando-se o comprimento entre a inserção dos cotilédones e o ápice, usando-se apenas as plântulas normais, conforme descrição de Oliveira e Pereira (1987); o peso da matéria seca de plântulas, em g, em que as plântulas normais obtidas no

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teste de altura foram colocadas para secar em estufa com circulação de ar, à temperatura de 70°C durante 48 horas, sendo a seguir pesadas.

Numa segunda fase do estudo, avaliou-se o efeito do armazenamento em sacos de polietileno e do tratamento fungicida de sementes de seringueira sobre a germinação e o vigor. As sementes foram coletadas em março e armazenadas por até cinco meses. Para cada mês de armazenamento, as sementes foram colocadas, separadamente, em sacos de cristal de polietileno brancos, com capacidade de 10kg e espessura de 0,3mm, sendo sem e com tratamento fungicida (thiran-auran, benomyl e captan). Os sacos foram cheios, utilizando-se apenas 2/3 de sua capacidade, amarrados, e perfurados com seis furos, usando-se uma agulha fina, para permitir pequena troca com o meio externo.

A partir do início do armazenamento e depois mensalnente, foram avaliados os seguintes parâmetros: o teor de água antes da instalação dos testes; o número de sementes por kg - determinado em quatro amostras de 1kg cada; a percentagem de germinação - no qual quatro subamostras de 25 sementes cada, foram colocadas para germinar em caixas plásticas, contendo areia esterilizada e/ou vermiculita, mantidas em germinador (± 30°C) e temperatura ambiente. A percentagem de germinação foi determinada com base no número de plântulas normais (Oliveira e Pereira, 1987), obtidas no final do teste; o IVE, a altura e o peso da matéria seca de plântulas, foram realizados conforme descrito anteriormente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados de germinação e vigor (índice de velocidade de emergência - IVE), usando-se diferentes substratos, são apresentados na Tabela 1. Os mais altos valores para a germinação e vigor ocorreram utilizando-se areia e/ou vermiculita. Em 1992, a germinação em rolos de pano e de papel foi estatisticamente igual à germinação em areia e vermiculita. Pó-de-serra foi o pior substrato para a germinação (13%).

Tanto o substrato areia lavada de rio como vermiculita mostraram-se viáveis para a realização de teste de germinação com sementes de seringueira (Tabela 1). Dentre esses dois substratos, o que pode favorecer o uso de areia em relação à vermiculita é o fator econômico, já que seria bem mais barato realizar os testes com areia. Além disso, a areia permite reutilização por um período mais prolongado do que a vermiculita, bastando apenas proceder a esterilização em estufa a 120°C ou mais, por 24 horas, após cada uso.

O uso de rolo de pano (RO) e de papel (RP), apresentaram inviabilidade técnica, uma vez que as raízes penetram na malha do tecido, dificultando a avaliação da germinação no RO. No caso do RP, em virtude do prolongado período exigido para completar o teste, o material entra em processo de decomposição, dificultando o seu manuseio no final do período, que chegou a 30 dias (Tabela 1), inclusive ocorrendo grande incidência de microrganismos.

Nas Tabelas 2 e 3 são apresentados os dados de efeito da temperatura sobre a germinação e o vigor (IVE) de sementes de seringueira, em 1991 e 1992, respectivamente. No primeiro ano, os melhores resultados foram obtidos a 30 e 35°C.

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Em 1992, estudou-se o efeito da temperatura, usando-se dois tipos de

substratos, areia e vermiculita, cujos dados são apresentados na Tabela 3. O maior valor de germinação em areia ocorreu na temperatura ambiente e foi semelhante estatisticamente a 30/escuro e 35°C. Em vermiculita, a porcentagem mais alta de germinação também ocorreu na temperatura ambiente, mas só foi diferente estatisticamente da temperatura de 20-30°C.

No que diz respeito à temperatura, os resultados mostraram (Tabelas 2 e 3) que as sementes de seringueira germinaram melhor em temperaturas de 30 e 35°C, mesmo no escuro, embora o mais alto valor tenha sido obtido na temperatura ambiente (Tabela 2). Entretanto, a germinação à temperatura

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ambiente é mais demorada, chegando a 30 dias, enquanto que a avaliação final da germinação feita a 30 e 35 pode ser feita no 20º dia após a instalação do teste. No caso da germinação no escuro, ocorreu uma clorose generalizada das plântulas, devido à ausência de luz para o processo fotossintético, o que deixa de ser uma condição normal para a realização do teste, embora não tenha sido possível identificar maiores alterações através dos parâmetros avaliados (Tabela 3).

Os dados de germinação e IVE, em função do período de armazenamento

e tratamento fungicida, são apresentados na Tabela 4. Verificou-se redução na germinação à medida que se prolongou o armazenamento, tanto em areia como em vermiculita. A germinação a 30°C no início do trabalho (sem armazenamento) foi inferior à da temperatura ambiente, embora essas diferenças não tenham sido estatisticamente diferentes. Comportamento similar foi observado para o vigor avaliado pelo IVE (Tabela 4), exceto que no início não houve diferença entre 30°C e temperatura ambiente.

Como é de conhecimento geral, as sementes de seringueira, caracteristicamente recalcitrantes, apresentam grande sensibilidade à desidratação e baixa temperatura (Roberts, 1973), o que foi enfatizado também por Cícero (1986). Portanto, recomenda-se que ao armazenar sementes de seringueira essas devem apresentar teor de água superior a 30% (Cícero, 1986; Pereira, 1980), como ocorreu no presente estudo (Tabela 6), onde, em geral, esteve acima de 30%. Os resultados iniciais de germinação das sementes foram relativamente baixos, entre 59 e 71% (Tabela 4). À medida que se prolongou o período de armazenamento houve uma redução na viabilidade das sementes, ficando entre 38 e 52%, no quinto mês de armazenamento. Esse é um fato normal para qualquer tipo de semente, mas é mais evidente nas recalcitrantes que apresentam, naturalmente, um período de

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viabilidade menor do que as sementes ortodoxas (Roberts, 1973; Roberts & King, 1980).

A qualidade fisiológica da semente, no início do processo de

armazenamento é um fator preponderante para que se consiga manter a sua viabilidade em nível desejado e por um período mais prolongado (Barrueto et al., 1980). Os resultados desse trabalho permitiram inferir que, partindo-se de sementes com viabilidade acima de 90%, poder-se-ia, ao final de cinco meses de armazenamento, obter sementes com viabilidade acima do que foi observado no início do trabalho.

No que diz respeito ao tratamento fungicida, os maiores valores de germinação e sem diferença estatística foram obtidos para as sementes tratadas com captan e para as sementes sem tratamento. Em areia, o benomyl também não apresentou efeito tóxico sobre o vigor da semente. Por outro lado, verificaram-se os menores valores quando se utilizou thiran (auran) para tratamento das sementes, mostrando assim que o thiran apresenta fitotoxicidade em sementes de seringueira, bem como o benomyl, em menor intensidade.

O tratamento de sementes com benomyl, recomendado por Pereira (1980), não mostrou ser um procedimento eficiente para se manter a viabilidade das sementes. Os melhores resultados foram obtidos em sementes

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sem tratamento, embora o tratamento com captan não tenha apresentado fitotoxicidade (Tabela 4).

Entre os produtos utilizados, os piores resultados ocorreram com o uso de thiran e benomyl, mostrando a ocorrência de fitotoxicidade. Parece que houve, também, uma interação produto x temperatura, já que de modo geral, os valores da germinação foram superiores na temperatura ambiente (22-23°C), em relação a 30°C e 35°C.

O vigor, avaliado pelo índice de velocidade de emergência (IVE), apresentou comportamento similar à germinação, ou seja, o IVE foi reduzido à medida que se prolongou o armazenamento (Tabela 4) e foi superior para as sementes sem tratamento fungicida e para aquelas tratadas com captan. Embora os valores do IVE para o benomyl não tenham sido diferentes estatisticamente do captan, eles foram sempre menores, mostrando, que esse produto, dependendo das condições de armazenamento, pode apresentar problemas de fitotoxicidade, como foi realçado por Cícero et al. (1986). O menor valor para o IVE, também, ocorreu quando as sementes foram tratadas com thiran (auran). Na comparação entre 30°C e temperatura ambiente, o IVE foi sempre superior quando o teste foi realizado a 30°C.

Os dados de comprimento da parte aérea (CPA) e do peso da matéria seca de plântulas (PMS) são apresentados na Tabela 5. Tanto o CPA como o PMS, foram reduzidos à medida em que aumentou o período de armazenamento, sendo a redução mais evidente no caso do PMS. O efeito fitotóxico do thiran (auran), também, foi evidenciado através do CPA e PMS (Tabela 5). Os dados de CPA e de PMS (Tabela 5), também, apresentaram as mesmas tendências em relação aos parâmetros avaliados anteriormente.

Deve-se mencionar ainda que, ao final de 30 dias, no tratamentos em que as sementes foram colocadas para germinar a 30°C, aquelas que não haviam germinado até aquele momento já apresentavam-se deterioradas, enquanto que, à temperatura ambiente, ainda encontravam sementes emitindo a radícula ou no estádio de pata de aranha e que ainda estavam abaixo da superfície do solo.

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CONCLUSÕES

- O teste de germinação de sementes de seringueira podo ser realizado utilizando-se areia e/ou vermiculita, com temperatura de 30 e 35°C;

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- O teste de germinação pode ser realizado sob condições ambientais (22-24°C), com período mais prolongado, para avaliação (30 dias);

- Sob condições de 30 e 35°C, a avaliação final do teste de germinação pode ser feito no 20° dia;

- O armazamento de sementes pode ser feito por cinco meses, sem tratamento fungicida.

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