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(83) 3322.3222 [email protected] www.generoesexualidade.com.br GLEISI HOFFMANN E A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM POLÍTICA FEMININA NO INSTAGRAM Nadjaria Kalyenne de Lima Antero Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: [email protected] Vivianne de Sousa Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: [email protected] Raphaella Ferreira Mendes Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: [email protected] Resumo: Partindo do pressuposto de que estamos inseridos (ainda) em uma conjuntura política majoritariamente formada pelo sexo masculino, o presente estudo tem como objetivo identificar como acontece a construção da imagem política feminina da senadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT) do Paraná (PR) Gleisi Hoffmann a partir das questões de gênero, mídia e da política brasileira. Para a compreensão da imagem política feminina, foi adotada como instrumento metodológico uma revisão bibliográfica como forma de norteamento para a discussão de assuntos pautados em grupos minoritários em termos de representação nos espaços de poder como o de mulheres. Por meio desses cenários, foi possível identificar o posicionamento político da Gleisi, na internet, bem como afirmar que esses elementos contribuem para a construção da senadora enquanto figura pública no cenário digital. Palavras-Chave: Política; Feminino; Imagem; Mídia; Gleisi Hoffmann. INTRODUÇÃO A educação para todas as mulheres foi uma das principais lutas embarcadas pelas feministas no Brasil. A ideia é que através da educação, a mulher pudesse ter independência e autonomia (também conhecido como a emancipação política). Em seguida, a conquista pelos direitos políticos e civis, como foi o caso do direito ao voto feminino, oficialmente reconhecido em 1932. Os avanços foram significativos como o direito de casar e divorciar-se, assumir o papel o de dona do lar e trabalhar ao mesmo tempo, assim como o de assumir postos importantes na política exemplo notório da ex-presidente da República, Dilma Rousseff. Para introduzir a discussão, pode-se começar afirmando que os espaços políticos são locais de observação no tocante a desigualdades em cargos de chefia entre homens e mulheres. Na Câmara dos Deputados, em Brasília, dos 513 deputados federais, 50 mulheres 1 ocupam o cargo na condição de suplentes/titulares. No Senado Federal, de 81 senadores somente 13 vagas 2 são ocupadas pelo sexo feminino. A partir dos dados expostos, foi escolhida como foco da análise a página oficial da 1 Os dados podem ser consultados no site: http://www2.camara.leg.br/deputados/pesquisa 2 Os dados podem ser consultados no site: http://www.25.senado.leg.br/web/senadores/em-exercicio

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GLEISI HOFFMANN E A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM POLÍTICA

FEMININA NO INSTAGRAM

Nadjaria Kalyenne de Lima Antero Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: [email protected]

Vivianne de Sousa Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: [email protected]

Raphaella Ferreira Mendes Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: [email protected]

Resumo: Partindo do pressuposto de que estamos inseridos (ainda) em uma conjuntura política

majoritariamente formada pelo sexo masculino, o presente estudo tem como objetivo identificar como acontece a construção da imagem política feminina da senadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT)

do Paraná (PR) Gleisi Hoffmann a partir das questões de gênero, mídia e da política brasileira. Para a

compreensão da imagem política feminina, foi adotada como instrumento metodológico uma revisão bibliográfica como forma de norteamento para a discussão de assuntos pautados em grupos

minoritários – em termos de representação nos espaços de poder – como o de mulheres. Por meio

desses cenários, foi possível identificar o posicionamento político da Gleisi, na internet, bem como afirmar que esses elementos contribuem para a construção da senadora enquanto figura pública no

cenário digital.

Palavras-Chave: Política; Feminino; Imagem; Mídia; Gleisi Hoffmann.

INTRODUÇÃO

A educação para todas as mulheres foi uma das principais lutas embarcadas pelas feministas

no Brasil. A ideia é que através da educação, a mulher pudesse ter independência e autonomia

(também conhecido como a emancipação política). Em seguida, a conquista pelos direitos políticos

e civis, como foi o caso do direito ao voto feminino, oficialmente reconhecido em 1932. Os avanços

foram significativos como o direito de casar e divorciar-se, assumir o papel o de dona do lar e

trabalhar ao mesmo tempo, assim como o de assumir postos importantes na política exemplo

notório da ex-presidente da República, Dilma Rousseff.

Para introduzir a discussão, pode-se começar afirmando que os espaços políticos são locais

de observação no tocante a desigualdades em cargos de chefia entre homens e mulheres. Na Câmara

dos Deputados, em Brasília, dos 513 deputados federais, 50 mulheres1 ocupam o cargo na condição

de suplentes/titulares. No Senado Federal, de 81 senadores somente 13 vagas2 são ocupadas pelo

sexo feminino. A partir dos dados expostos, foi escolhida como foco da análise a página oficial da

1 Os dados podem ser consultados no site: http://www2.camara.leg.br/deputados/pesquisa 2 Os dados podem ser consultados no site: http://www.25.senado.leg.br/web/senadores/em-exercicio

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senadora Gleisi Hoffmann3 no Instagram (@gleisihoffmann) que contribuiu para a discussão das

questões de gênero nos cenários políticos e midiáticos. Dentre muitos nomes femininos

representativos na política brasileira, escolheu-se o da senadora – que atualmente também assume o

cargo de presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) – diante da constante atualizada em seu feed

com fotografias, vídeos e textos que circulam na internet. O conteúdo expõe leituras de

posicionamentos políticos, partidários e ideológicos marcados pela esquerda4 brasileira, que tem

como principal objetivo defender os interesses de grupos sociais, disseminando o igualitarismo e

das ideias progressistas.

A partir dessa explicação, buscaremos aprofundar as reflexões em torno desses

posicionamentos expostos pela senadora Gleisi Hoffmann, através das redes sociais, e como eles

estão atrelados a sua imagem pública política. De antemão, é notório que a participação dos

internautas – seja através de curtidas ou comentários nas imagens – tem dividido opiniões, de modo

que, independente das posições partidárias, reforçam a visibilidade e crescimento da representação

da imagem da Gleisi enquanto mulher, política e defensora dos grupos minoritários. As imagens

publicadas (ora publicadas com famosos, ora com pessoas invisibilizadas na sociedade) serão

analisadas simultaneamente.

Discutir sobre as questões de gênero na política, especificamente, os novos assentos

ocupados por mulheres no Congresso Nacional Brasileiro, é uma forma de compreender como esse

processo evolutivo, ou seja, a inserção da mulher na política, ainda é um assunto muito recente. Se

formos resgatar informações da antiguidade, como nos detalha Strey, Cabeda e Prehn (2004),

teremos a noção de como o feminino foi (ou é?) visto nos durante esses anos.

A maneira androcêntrica de identificar a humanidade e de fazer das mulheres seres

menores, a meio passo das crianças, é muito antiga, remonta à cultura grega. Para os gregos, a mulher era excluída do mundo do pensamento, do conhecimento, tão

3 Gleisi Helena Hoffmann nasceu em Curitiba em 6 de setembro de 1965. Advogada formada pela Faculdade de Direito

de Curitiba, possui especialização em gestão pública e administração financeira. Integrante dos quadros do PT desde

1989, exerceu os cargos de secretária de Estado no Mato Grosso do Sul e de secretária de Gestão Pública da Prefeitura

de Londrina (PR). Em 2002, integrou a equipe de transição do governo do presidente Lula e se tornou diretora financeira da Hidrelétrica de Itaipu. Foi candidata ao Senado em 2006 e à Prefeitura de Curitiba em 2008, mas não

venceu. Foi eleita ao Senado Federal em 2010 juntamente com Roberto Requião (PMDB). Chefiou, entre 2011 e 2014,

a pasta da Casa Civil durante o governo da presidente Dilma Rousseff (PT). 4 A origem dos termos esquerda e direita remete ao período em que ocorreu a Revolução Francesa, entre os anos de

1798 e 1799. Naquela época, essas designações refletiam a posição que os políticos sentavam-se no parlamento da

França. Os que ficavam à direita do presidente representavam a situação e os da esquerda eram os insatisfeitos. A

utilização do termo esquerda ganhou mais notoriedade depois que a monarquia foi restaurada na nação francesa. Tempo

depois, o termo aplicou-se a uma variedade de movimentos, notavelmente o anarquismo, o socialismo e o comunismo.

Acesso em: https://www.infoescola.com/politica/esquerda-politica/

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valorizado pela sua civilização. Com os romanos, em seu código legal, é legimitada

a discriminação feminina, através da instituição jurídica do paterfamílias, que

atribuía ao homem todo o poder: sobre a mulher, os filhos, os servos e os escravos.

(STREY; CABEDA; PREHN (2004, p. 14).

Portanto, faz-se necessário problematizar, resgatar e visibilizar esses assuntos, como forma

de compreensão e empoderamento5 para que cada vez mais aumente o número significativo de

mulheres nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. É para responder essas questões que o

artigo foi elaborado.

GÊNERO, POLÍTICA E MÍDIA: QUESTÕES COMPLEMENTARES

Embora haja notícias de que a igualdade de gênero tem sido pauta frequente nos espaços

públicos e universitários, ainda são muitos os desafios vistos pela frente. O “Retrato das

Desigualdades de Gênero e Raça” disponibiliza informações sobre a situação de mulheres, homens,

negros e brancos em nosso país. A exposição desses dados nos ajuda a compreender e dimensionar

as distâncias que ainda separam homens e mulheres, negros e brancos.

Para além do arquivo disponibilizado pelo “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça”

em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ONU Mulheres (Entidade das

Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres) e a Secretaria de

Políticas para as Mulheres do Ministério da Justiça e Cidadania (SPM), o “Dossiê Mulheres

Negras” discute de forma aprofundada as vivências de mulheres, sobretudo, as negras. “[...] São

ainda mais diferenciadas se inseridas na análise as categorias de classe, geração, regionalidade ou

orientação sexual, por exemplo [...]”, (NERI, M. C, 2013 p. 07).

Sabe-se que o recorte do presente objeto de estudo, isto é, a figura representativa de Gleisi

Hoffmann (mulher e branca) condiz com outra realidade. No entanto, é obrigatório que ao citar as

discussões de gênero seja perpassado pelas áreas, mesmo que através de referências, pelas áreas de

classe e raça. Em outro momento, obviamente, daremos espaço e a devida importância para esses

assuntos que não são menos importantes do que qualquer outra temática. A tabela, abaixo, faz o

recorte diante as questões de sexo, cor/raça em uma escala do mercado de trabalho.

5 Empoderamento feminino é o ato de conceder o poder de participação social às mulheres, garantindo que possam estar

cientes sobre a luta pelos seus direitos, como a total igualdade entre os gêneros, por exemplo. Acesso em:

https://www.significados.com.br/empoderamento-feminino/

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Fonte: Retrato das desigualdades de gênero e raça – 4ª edição

Quando partimos para a análise das desigualdades de gênero na política brasileira, a

realidade fragmenta e direciona as relações existentes entre o campo político e o midiático. Em uma

de suas conferências, Pierre Bourdieu comenta sobre o conceito de campo político, de maneira

progressiva, pedagogicamente:

“[...]é um microcosmo, isto é, um pequeno mundo social relativamente autônomo

no interior do grande mundo social. Nele se encontrará um grande número de

propriedades, relações, ações e processos que se encontram no mundo global, mas

esses processos, esses fenômenos, se revestem aí de uma forma particular. É isso o que está contido na noção de autonomia: um campo é um microcosmo autônomo

no interior do macrocosmo social”, (BOURDIEU, 2011, p. 195).

Assim, a noção de campo político permite que tenhamos a construção de maneira rigorosa a

realidade que é a política. Buscando como ponte de referência esse conceito de campo político,

Bourdieu, ainda, vai dizer que se é preciso entender o que faz um político, então, é preciso conhecer

a sua base eleitoral, origem social e a posição ocupada nesse campo. Tendo como objeto de estudo a

figura pública da senadora Gleisi Hoffmann, é evidente que a bandeira levantada pela petista é a de

agente promotora de mudanças na vida dos trabalhadores da cidade e do campo, militantes de

esquerda, intelectuais e artistas.

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A mídia eletrônica, especialmente, o Instagram da senadora Gleisi Hoffmann, aponta o tipo

de campo em que essa mulher-política está inserida e sua militância diária, através de imagens

compostas de ações coletivas, participação em seminários e reuniões com diversas categorias, que

buscam priorizar a democracia brasileira. O Instagram enquanto mídia digital e aplicativo de

captura e tratamento de imagem carregam características diferenciais como a própria estética visual,

a possibilidade de compartilhamentos e instantaneidade nas redes. A seguir, compreenderemos um

pouco da plataforma e suas maneiras de uso no cenário digital.

De maneira breve, a plataforma Instagram é uma rede social de fotografia que possui um

aplicativo para captura e compartilhamento de fotos para iPhone e Android. Criado em 2010,

derivado do Burbn, outro aplicativo de captura de fotos desenvolvido pelos mesmos 28 criadores, o

Instagram atingiu a marca de 1 milhão de usuários nos primeiros três meses e foi eleito pela Apple

como melhor aplicativo do ano no iTunes, em 2011. Com a escolha dessa plataforma, já se pode

justificar o porquê da escolha: em tempos de uma sociedade pós-moderna, as leituras tem sido mais

imagéticas do que escritas. As pessoas tem uma forte apreciação por imagens e vídeos, assim, o que

nos direciona para um público antenado e mais participativo no ciberespaço6.

CONSTRUÇÕES IMAGÉTICAS DE GLEISI HOFFMANN

O homem como um ser simbólico sempre se utilizou de imagens para norteá-lo em sua

existência, assim, consideramos que todo esse pensamento imagético acabam reforçando imagens

que geram ideias e permitem a construção do conhecimento (LEAL; LINS, 2017). Assim,

reafirma-se a importância das imagens e suas implicações no ambiente virtual e tecnológico.

Neste primeiro momento, analisaremos como acontece a produção de conteúdo da senadora

Gleisi Hoffmann, através das imagens compartilhadas no aplicativo Instagram, conforme

apresentado como um dos aplicativos mais utilizados nos dispositivos móveis. O foco é observar as

imagens e as discussões repercutidas na página e como isso reflete na imagem política feminina da

senadora. Para realização da coleta dos dados, foi preciso a imersão das autoras na plataforma

escolhida. Embora as mesmas já sejam usuárias ativas da rede social, foi necessário um

6 O ciberespaço é definido como um mundo virtual porque está presente em potência, é um espaço desterritorializante.

Esse mundo não é palpável, mas existe de outra forma, outra realidade. O ciberespaço existe em um local indefinido,

desconhecido, cheio de devires e possibilidades. Fonte: O Ciberespaço: o termo, a definição e o conceito (Silvana

Drumond Monteiro).

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acompanhamento prévio de várias postagens. Posteriormente, foram feitos recortes das seis últimas

imagens publicadas na conta pessoal de Gleisi Hoffmann para a análise observatória e exploratória.

A primeira imagem composta pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado da deputada

estadual Manuela d’Ávila e o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto

(MTST), Guilherme Bouolos, é a de união. Na perspectiva de perceber o modo em como as

imagens são reproduzidas e transmitidas para o público, recorre-se ao autor Gilbert Durand (2012)

que em sua obras “As estruturas antropológicas do imaginário” vai abordar o conceito de símbolos

ascensionais.

Figura 01: Reprodução de tela extraída do Instagram @gleisihoffmann

No caso das imagens 4, 5 e 6 que seguem representadas pela Gleisi Hoffmann cercada de

pessoas, o foco é para os mesmos tipos de imagens representacionais: sequência de braços

direcionados para o alto, com expressões faciais de felicidade e bravura. Identificar essas imagens

representativas de figuras públicas condiz à possibilidade de conhecermos mais profundamente

quem são essas pessoas – no caso, qual o tipo de construção imagética de Gleisi – e de como, e em

que medida, acontece essa composição.

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Dessa forma, o pensamento ocidental, desde Aristóteles, passando por Galileu, Descartes,

Newton, e chegando ao positivismo e à psicologia clássica, condenou a imaginação a uma posição

inferior. Ele vai objetivar mostrar como os símbolos são elementos importantes na história da

humanidade. “[...] Esforçamo-nos, no decurso deste trabalho, em mostrar que, muito longe de ser

semiologia na qual o sentido, ou a matéria, está dissociado da forma, a imagem simbólica é

semântica”, (DURAND, 2012, p. 394).

“[...] Ou seja, a sua sintaxe não se separa do seu conteúdo, da sua mensagem,

enquanto o recalcamento reduz sempre a imagem a um simples signo do recalcado.

Para Lacroze, como para a psicanálise freudiana, como para Sartre ou Barthes", a

imagem é sempre reduzida a um signo duvidoso e empobrecido”, (DURAND, 2012, p. 394).

Dessa forma, é possível dizer que para esses tipos de posições demarcadas nas fotografias

pela Gleisi, são vistos símbolos ascensionais, então entendidos como símbolos de poder, elevação

ao céu, postura ereta do indivíduo (DURAND, 2012). Uma das interpretações possíveis é que,

beirando a um período eleitoral, a figura da política bem como das pessoas que a acompanham nas

imagens, é significada por confiança, gratidão e um caminho supostamente de vitórias no cenário

político. As próximas imagens da plataforma Instagram trarão novos olhares da ressignificação da

mulher na política.

Figura 02: Reprodução de tela extraída do Instagram @gleisihoffmann

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O segundo recorte de imagem extraído do Instagram da Gleisi foi escolhido, dentre vários

motivos, por estar composto de diversos elementos pela comunicação não-verbal. Além dos

símbolos ascensionais, como é o caso do braço levantado da Gleisi, conotando uma ideia de força e

poder, é notório captar imagens de aplausos, gritos, olhares fixados no público, etc. Ao lado da

imagem, um comentário é destaque: “@gleisihoffmann mulher digna, inteligente, revolucionária e

grandiosa”. As palavras revolucionária e grandiosa, de certa forma, condizem com os momentos

capturados pelas lentes fotográficas, reforçando a importância da imagem coincidir com a narrativa.

Ao relacionar a postura da mulher política com as nossas interpretações que, naturalmente,

já carregam símbolos, signos e significados, os conceitos de Durand (2012) além de contribuírem

para a construção do imaginário, remetem a uma problematização do quanto essas denominações

estão intrinsecamente relacionadas. Por isso, as práticas tanto coletivas como individuais também

podem ser consideradas como fruto das construções imagéticas dos atores sociais.

Nesse aspecto, refiro-me a todo tipo de imagens: cinematográficas, pictóricas,

esculturais, tecnológicas. Há um imaginário parisiense que gera uma forma particular de pensar a arquitetura, os jardins públicos, a decoração das casas, a

arrumação dos restaurantes, etc. O imaginário de Paris faz Paris ser o que é. Isso é

uma construção histórica, mas também o resultado de uma atmosfera e, por isso mesmo, uma aura que continua a produzir novas imagens. (MAFFESOLI, 2001,

p.76).

Figura 03: Reprodução de tela extraída do Instagram @gleisihoffmann

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Voltando para as postagens mais antigas no Instagram da Gleisi, é possível observar a

presidente do PT ao redor de mulheres que seguram uma faixa intitulada “mulheres da resistência”.

Participando do Fórum Social Mundial, Gleisi nitidamente confirma o seu apoio solidário a esse

grupo de mulheres que lutam pela inclusão de todas as mulheres (conforme a imagem descreve).

Embora a postagem seja carregada de esperanças e apoio mútuo, os discursos negativos são

marcados na página virtual, de modo que os usuários tem acesso ao conteúdo publicado. Uma das

frases destacam “mulheres ignorantes dandi6 força pra ladrões r corruptos”.

A contramão dessa livre circulação de informação na internet é que os usuários, por vezes,

acreditam na invisibilidade de suas posições e que serão impunes diante da reprodução de seus

discursos. É a partir de muitos casos, assim, que geram-se conflitos e a banalização do discurso de

ódio nas redes sociais.

Figura 04: Reprodução de tela extraída do Instagram @gleisihoffmann

Nessa outra imagem, dessa vez, da senadora Gleisi Hoffmann realizando um discurso, internautas

utilizaram sua página para reproduzir mensagens negativas em desfavor da sua imagem pública

enquanto mulher atuante política. As frases reproduzidas atrelam à ligação da blusa usada por

Gleisi, em que contém o rosto do ex-presidente Lula, e supostamente um envolvimento de ambos de

forma as que afirmações publicadas na rede foram insinuativas e pejorativas.

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Embora foi explicado, nesta pesquisa, que os estudos buscaram contemplar as compreensões

da construção imagética da senadora Gleisi Hoffmann na plataforma Instagram, o que se distancia

da sua verdadeira imagem pessoal, é comum que esses tipos de discursos sejam propagados nas

redes sociais. O fato da internet ser um meio quase que totalmente livre e gratuito possibilidade a

grande manifestação de pessoas e, infelizmente, sem a verdadeira confirmação dos fatos.

Essas considerações apresentadas reúnem-se distintas informações, tanto positivas quanto

negativas, demonstrando as diversas possibilidades de participação pública e como elas direcionam

(des)qualificação de um político no Brasil. Foram escolhidas algumas imagens, tendo em vista a

repercussão das mesmas e os significados entrelaçados nas postagens. A sugestão é a de que essas

análises possam ser realizadas, em um outro momento, de forma mais aprofundada já que

apresentam conteúdos para maiores interpretações e análises.

REFERÊNCIAS

BOURDIEU, P. Revista Brasileira de Ciência Política. O Campo Político. Brasília, nº 5, 2011, pp.

193-216.

DURAND, G. As estruturas antropológicas do espelho: introdução à arquetipologia geral. 4ª

ed. São Paulo, Martins Fontes, 2012.

LEAL, Z. S; LINS, E. S. Telejornalismo e Imaginário: Uma Análise Mitocrítica da Transposição do

“Velho Chico”. Revista Memorare. Tubarão, v. 4, n. 2, 2017.

MAFFESOLI, Michel. A Transfiguração do Político: A Tribalização do Mundo. Porto Alegre:

Sulina, 2001.

NERI, M. C. Apresentação Ipea. Dossiê Mulheres Negras: retrato das condições de vidadas

mulheres negras no Brasil. Orgs: MARCONDES, M. M. [et al.]. Brasília: Ipea, 2013

STREY, M. N; CABEDA, S. T. L; PREHN, D. R. Gênero e Cultura: Questões Contemporâneas.

Coleção Gênero e Contemporaneidade. Porto Alegre, 2004.